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Análise das

Demonstrações
Financeiras

Reinaldo Luiz Lunelli


Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 2

Reinaldo Luiz Lunelli

ANÁLISE DE BALANÇO E
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Uma contabilidade diferenciada


As melhores técnicas para análise financeira
Abordagem essencial da contabilidade

Curitiba - PR

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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 


Autor: Reinaldo Luiz Lunelli

Distribuição: Caderno de Negócios

IMPORTANTE:
Este material já contempla as alterações trazidas pela Lei nº 11.638/2007 e pela Lei
11.941/2009; no entanto neste material, ainda são tratados alguns tópicos inerentes às
contas hoje extintas, justamente por tratar-se de um material aplicável inclusive às
demonstrações anteriores à atualização legal da Lei nº 6.404/1976.

SOBRE O AUTOR E A OBRA

Reinaldo Luiz Lunelli é Contabilista, Especialista em Planejamento e Gestão de


Negócios, auditor, consultor de empresas com experiência contábil, tributária e
societária. Experiência acumulada em controladoria, planejamento tributário e
recuperação de créditos tributários extemporâneos, é professor universitário, palestrante
e membro da redação dos sites Portal Tributário e Portal de Contabilidade. Autor de
diversos artigos técnicos e obras eletrônicas atualizáveis, tais como o Manual Prático de
Contabilidade, o Manual de Obrigações Tributárias Acessórias, ISS - Incidências e
Retenções, Contabilidade Pública, SPED - Sistema Público de Escrituração Digital,
Plano de Contas e Contabilidade IFRS para Pequenas e Médias Empresas.

As outras obras deste autor podem ser adquiridas pelo contato direto através da área de
contato do site Caderno de Negócios (www.cadernodenegocios.com.br).

Importante: Este material está em constante ampliação e atualização.

Direitos autorais REGISTRADOS. A cópia, reprodução, distribuição ou


comercialização por qualquer meio somente será permitida mediante autorização POR
ESCRITO do detentor de direitos autorais.

Esta publicação é obra intelectual protegida pela Lei de Direitos Autorais


(Lei 9.610/1998).

Observar que todos os exemplos são meramente ilustrativos. Em situações reais,


verificar a adequação dos cálculos à efetiva realidade fiscal do contribuinte e legislação
vigente à época.

CADERNO DE NEGÓCIOS – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

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SIGLAS UTILIZADAS

CLT: Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei 5.452/43)


CNAE: Classificação Nacional de Atividades Econômicas
COFINS: Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (Lei
Complementar 70/1991)
CPMF: Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (Lei 9.311/1996)
CSL ou CSLL: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (Lei 7.689/1988)
EPP: Empresa de Pequeno Porte
FCPJ: Ficha Cadastral da Pessoa Jurídica
ICMS: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (Lei
Complementar 87/1996)
GPS: Guia da Previdência Social
IN: Instrução Normativa
INSS: Instituto Nacional de Seguridade Social
IR: Imposto de Renda
IRF: Imposto de Renda na Fonte
IRPF: Imposto de Renda – Pessoa Física
IRPJ: Imposto de Renda – Pessoa Jurídica
ISS: Imposto sobre Serviços (Lei Complementar 116/2003)
LALUR: Livro de Apuração do Lucro Real
LC: Lei Complementar
LCMEPP: Lei Complementar do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de
Pequeno Porte – Lei Complementar 123/2006
ME: Microempresa
OS: Ordem de Serviço
PIS: Programa de Integração Social (Lei Complementar 7/70)
RF: Região Fiscal
RIPI: Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados (Decreto 4.544/2002)
RIR/99: Regulamento do Imposto de Renda (Decreto 3.000/1999)
RPS: Regulamento da Previdência Social (Decreto 3.048/1999)
SRF: Secretaria da Receita Federal
SRRF: Superintendência Regional da Receita Federal
TJLP: Taxa de Juros a Longo Prazo

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Sumário

Introdução ........................................................................................................................ 7

1. Conceitos Introdutórios ............................................................................................... 8


1.1. Finanças ................................................................................................................. 8
1.2. Mercado Financeiro ............................................................................................... 8
1.3. Dados ..................................................................................................................... 9
1.4. Informações ........................................................................................................... 9
1.5. Análise Financeira ............................................................................................... 11
1.6. A Importância da Análise Financeira de Balanços .............................................. 11

2. A Função Financeira nas Empresas ........................................................................ 13


2.1. Conceitos Fundamentais Básicos ........................................................................ 13
2.2. Finanças Empresariais ......................................................................................... 13
2.3. Principais Atribuições do Administrador Financeiro .......................................... 14

3. Estrutura e Divulgação das Demonstrações Contábeis ........................................... 21


3.1. Balanço Patrimonial ............................................................................................ 22
3.2. Demonstração do Resultado do Exercício ........................................................... 25
3.3. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido .......................................... 29
3.4. Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados ........................................... 31
3.5. Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos .......................................... 36
3.6. Demonstração do Fluxo de Caixa........................................................................ 41
3.7. Demonstração do Valor Adicionado ................................................................... 45

4. Relatórios e Informações Auxiliares ........................................................................ 47


4.1. Relatório da Administração ................................................................................. 47
4.2. Notas Explicativas ............................................................................................... 49
4.3. Parecer de Auditoria ............................................................................................ 51

5. Preparando-se Para a Análise .................................................................................. 53


5.1. Utilização da Análise Econômico-Financeira ..................................................... 53
5.2. Tipos de Análise Contábil ................................................................................... 54
5.3. Processos e Métodos de Análise Contábil ........................................................... 54
5.4. Aspectos das Demonstrações Passíveis de Análise ............................................. 55
5.5. Condições das Demonstrações Financeiras Utilizadas para Análise................... 56
5.6. Ajustes das Demonstrações Contábeis para Efeito de Análise............................ 56

6. Metodologias de Análise das Demonstrações Contábeis ......................................... 58


6.1. Análise Vertical ................................................................................................... 58
6.2. Análise Horizontal ............................................................................................... 60
6.3. Análise de Indicadores e Quocientes ................................................................... 62
6.4. EBITDA .............................................................................................................. 63

7. Análise Através de Indicadores ................................................................................. 67


7.1. Índices de Liquidez (Solvência) .......................................................................... 67
7.2. Índices de Estrutura ............................................................................................. 70

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7.3. Índices de Eficiência (Atividade) ........................................................................ 71


7.4. Índices de Rentabilidade...................................................................................... 74
7.5. Sistema DuPont de Análise ................................................................................. 78

8. Estudo da Alavancagem ............................................................................................ 80


8.1. Alavancagem Operacional ................................................................................... 81
8.2. Ponto de Equilíbrio (Break Even Point) .............................................................. 82

9. Necessidade de Capital de Giro ................................................................................. 85


9.1. Capital de Giro .................................................................................................... 85
9.2. Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro ................................................................. 86
9.3. Cálculo da Necessidade de Capital de Giro......................................................... 88
9.4. Capital de Giro e Tesouraria ................................................................................ 89
9.5. Efeito Tesoura...................................................................................................... 89
9.6. Overtrading e Undertrading ................................................................................. 90

10. Análise de Investimentos ......................................................................................... 93


10.1. Terminologia Básica .......................................................................................... 93
10.2. Métodos de Avaliação ....................................................................................... 94
10.3. Payback.............................................................................................................. 94
10.4. Payback Descontado .......................................................................................... 96
10.5. Valor Presente Líquido - VPL ........................................................................... 97
10.6. Taxa Interna de Retorno - TIR ........................................................................ 100

11. Outros Fatores de Análise Financeira ................................................................. 102


11.1. Conciliação do Risco, Retorno e Lucratividade .............................................. 102
11.2. Natureza da Relação entre Risco e Retorno .................................................... 103
11.3. Análise do Ponto de Equilíbrio, Custos e Alavancagem ................................. 104
11.4. Alavancagem sobre os Resultados .................................................................. 105
11.5. O Valor do Dinheiro no Tempo....................................................................... 106

12. Elaboração do Relatório de Análise ..................................................................... 108


12.1. Estrutura do Relatório...................................................................................... 108
12.2. Outras Considerações ...................................................................................... 109

13. Estudo de Caso....................................................................................................... 110


13.1. Empresa Miska Indústria de Calçados Ltda. ................................................... 110
13.2. Demonstrações Contábeis................................................................................ 110
13.3. Análises Iniciais ............................................................................................... 112
13.4. Análise dos Indicadores ................................................................................... 116
13.5. Outras Análises ................................................................................................ 127

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Introdução

Mais uma vez tenho o orgulho e a satisfação de prover aos interessados na ciência
contábil, profissionais que a utilizam diariamente e à comunidade em geral mais uma
publicação especial, que oferece aos seus interessados o estudo da Análise das
Demonstrações Contábeis, sua importância e limitações.

Neste material são abordadas as demonstrações contábeis obrigatórias e não obrigatórias


e demais informações complementares. São objetos de estudo as etapas do processo de
análise, iniciando com conceitos de padronização, consolidação e qualidade das
demonstrações contábeis, sugestões das principais metodologias e indicadores a serem
utilizados para a elaboração da melhor ferramenta de suporte ao analista financeiro.

O material é inovador no sentido de optar pela inclusão de um estudo de caso resolvido,


já que a proposta é mostrar ao leitor, a partir da teoria apresentada, como funciona a
prática da análise financeira, seguindo os roteiros constantes nos capítulos desta obra.

Acreditando que o material possa se constituir em relevante recurso didático no


desenvolvimento do conteúdo programático da disciplina de análise contábil e
contabilidade gerencial, procurou-se contemplar os principais tópicos desta técnica
contábil, tais como: conceituações, importância, objetivos, finalidades, funções, tipos,
processos, metodologias, condições e ajustes essenciais das demonstrações contábeis;
um aprofundamento no estudo dessas demonstrações e de vários indicadores
econômico-financeiros.

Esta obra está atualizada de acordo com a nova legislação contábil, que alterou a Lei das
Sociedades por Ações e prevê a internacionalização dos informes contábeis.

Desde já, coloco-me à disposição dos interessados para debater, receber sugestões e
críticas ou esclarecer eventuais dúvidas, com o objetivo de aperfeiçoar o material e
agregar conhecimentos correlatos. Jamais ousaria no sentido de buscar o esgotamento
de tão importante tema do conhecimento contábil e humano, restringindo-me, apenas,
ao básico desta relevante técnica da Ciência Contábil.

O Autor

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1. Conceitos Introdutórios

A análise das Demonstrações Contábeis constitui-se num processo de meditação sobre


os mesmos, objetivando uma avaliação da situação da empresa em seus aspectos
Econômicos, Patrimoniais e Financeiros.

A análise de balanços deve ser entendida e estudada de maneira abrangente, isto é, deve
ser designada mais propriamente como “Análise Contábil” ou “Análise das
Demonstrações Financeiras”, vez que a mesma tem como objeto de estudo, análise e
interpretação, não apenas o Balanço Patrimonial, como também todas as demais
demonstrações contábeis ou financeiras, elaboradas pela empresa e prescritas nos textos
legais.

1.1. Finanças

É a arte e a ciência de se administrar fundos, isto é, aplicar princípios econômicos,


contábeis e conceitos do valor do dinheiro no tempo às tomadas de decisões em
negócios. A palavra “arte” implica que existem algumas oportunidades para ser criativo
na administração de dinheiro. E a palavra “ciência” implica que existem alguns fatos
comprovados subjacentes às decisões financeiras.

Praticamente todos os indivíduos e organizações obtêm receitas ou levantam fundos,


gastam ou investem. O processo, as instituições, os mercados e os instrumentos
envolvidos na transferência de fundos entre pessoas, empresas e governos, formam os
fundamentos do estudo das Finanças.

Tradicionalmente, os tópicos de finanças são agrupados em quatro áreas principais:

a) Finanças Empresariais (Corporate Finance).


b) Investimentos
c) Instituições Financeiras
d) Finanças Internacionais

As Finanças estão estreitamente relacionadas com algumas áreas em especial, onde se


destacam o Marketing, a Contabilidade e a Administração.

1.2. Mercado Financeiro

O mercado financeiro, assim como qualquer mercado (de peixe, barraquinhas, etc.), é
apenas uma forma de reunir compradores e vendedores. Nos mercados financeiros, os
produtos vendidos e comprados são títulos de dívida e ações. Os mercados financeiros,
no entanto, são diferentes entre si em alguns detalhes.

Os mercados financeiros funcionam tanto como mercados primários quanto como


mercados secundários para títulos de dívidas e ações.

O mercado primário refere-se à venda original dos títulos por governos e empresas. O
mercado secundário é aquele onde os títulos são comprados e vendidos após a venda

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original. Existem dois tipos de mercado secundário: bolsas organizadas e mercados de


balcão.

Em termos gerais, os distribuidores no mercado de balcão compram e vendem a seu


próprio risco. Um distribuidor, ou revendedor de carros, por exemplo, compram e
vendem automóveis. Já corretores e agentes procuram casar compradores e vendedores,
e não necessariamente possuem a mercadoria que será comprada ou vendida. Um
corretor de imóveis, por exemplo, normalmente não compra e vende casas, ele apenas
intermédia uma ação entre as duas pontas.

O mercado de distribuidores de ações e dívidas a longo prazo é denominado mercado de


balcão. A maior parte dos negócios de títulos de dívida acontece no mercado de balcão.
A expressão mercado de balcão refere-se aos tempos antigos, quando os títulos eram
literalmente comprados e vendidos em balcões de escritórios por todo o país. Hoje, uma
parcela significativa do mercado de ações e quase todo o mercado de dívidas a longo
prazo não têm localização central; os distribuidores estão ligados eletronicamente.

As bolsas de valores diferem dos mercados de balcão de duas maneiras. Em primeiro


lugar, a bolsa de valores possui uma localização física (como, por exemplo, Wall
Street). Em segundo lugar, no mercado de balcão, a maior parte da compra e venda é
realizada por distribuidores.

O primeiro objetivo de uma bolsa de valores, por outro lado, é juntar os que desejam
vender àqueles que desejam comprar. Os distribuidores desempenham papel limitado.

A maior bolsa de valores do mundo é a Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE = New
York Stock Exchange). No Brasil, a maior é a BOVESPA (Bolsa de Valores de São
Paulo).

Além das bolsas de valores, existe um grande mercado de balcão para negociação de
ações. A NASDAQ (National Association of Securities Dealers Automated Quotations)
que tem um número de empresas três vezes maior do aquele registrado na NYSE, mas o
valor total das ações do NASDAQ corresponde a apenas 20% do valor total das ações
da NYSE.

1.3. Dados

Tecnicamente, são os itens básicos de informação, antes de serem processados por um


sistema, ou seja, alimentam, dão entrada no sistema.

Representam algo puro cujo conteúdo não permitirá a compreensão e nem mesmo o
julgamento sobre determinado assunto e consistem em qualquer elemento identificado
em sua forma bruta, que por si só não conduz a uma compreensão de determinado fato
ou situação.

1.4. Informações

São os relatórios, os resultados do processamento dos dados. As informações são


produzidas, saem do sistema, seja este manual ou computacional. Este conjunto de

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dados sobre algo ou sobre alguém, servirá de base para a tomada de alguma decisão ou
a execução de algumas ações;

A representação gráfica apresentada abaixo demonstra como acontece o processo


contábil dentro das organizações. Da análise da mesma, pode-se perceber que a análise
de balanços, portanto preocupa-se, em coletar junto às demonstrações contábeis os
dados, processá-los e fornecer informações para os mais variados tipos de decisões que
envolvem a empresa.

Estas informações podem ser de caráter e utilização interna ou externa e podem


esclarecer, por exemplo, se a empresa merece ou não crédito, se está em situação de
solvência, se suas atividades estão sendo eficientes, se é ou não lucrativa, dentre outros.

Fatos Processo Técnicas de Informações


Demonstrações
Econômicos e Base para de
Finaceiras
Financeiros Contábil Análise Financeira Decisões

Eventos Dados Resultado

É importante destacar que muitos dos usuários que utilizam estas informações, são
leigos, sendo assim, vários cuidados devem ser tomados quando da sua execução e
apresentação. Entende-se que dois pontos merecem ser referenciados:
a) O grau de excelência da Análise de Balanços é dado exatamente pela qualidade e
extensão das informações que conseguir gerar;
b) Os relatórios devem estar dotados de uma linguagem simples e descomplicada,
como se fossem dirigidos a leigos e, sempre que possível, estarem acompanhados de
gráficos.

A ideia então é utilizar-se do raciocínio científico, ou seja, se o fim pretendido pela


análise é fornecer informações para tomada de decisão, então é preciso conhecer como
se dá o processo de tomada de decisão.

Na maioria das ciências, ainda que cada uma tenha as suas especificidades, a sequencia
do processo decisório tem as seguintes etapas:
a) Escolha dos indicadores;
b) Comparação com padrões;
c) Diagnósticos ou conclusões; e
d) Decisões.

Para a realização da análise financeira de balanços pode-se adaptar a mesma sequencia,


isto é:
a) Apuram-se os índices junto às demonstrações contábeis;
b) Comparam-se os índices com os padrões do mercado e com a concorrência;
c) Ponderam-se as diferentes informações obtendo um diagnóstico a conclusão; e
d) Tomam-se decisões.

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Enfim, quando se procede à análise de balanços, os relatórios provenientes desta análise


podem estar compostos de informações do tipo:
a) Situação financeira e causas das alterações;
b) Situação econômica e causas das alterações;
c) Desempenho;
d) Eficiência e eficácia na utilização dos recursos;
e) Adequação das fontes às aplicações de recursos;
f) Evolução, tendências e perspectivas;
g) Pontos fortes e fracos;
h) Etc.

As formas para se realizar a análise é o que será visto a partir de agora. Neste estudo,
serão discutidas as análises vertical, horizontal, através de índices e através da taxa de
retorno sobre investimentos.

1.5. Análise Financeira

Podemos definir análise de balanço como a aplicação do raciocínio analítico dedutivo


sobre os valores dos elementos patrimoniais e suas inter-relações, expressos nas
demonstrações contábeis de uma entidade, com a finalidade de conseguir uma avaliação
econômico-financeira da sua situação e do andamento das suas operações. O objetivo
geral é obter elementos para o processo de avaliação da continuidade financeira e
operacional da entidade analisada.

Em outras palavras, a análise de balanço ou análise financeira consiste em um processo


meditativo sobre os números de uma entidade, para avaliação de sua situação
econômica, financeira, operacional e de rentabilidade.

Da avaliação obtida pelos números publicados, o analista financeiro extrairá elementos


e fará julgamentos sobre o futuro da entidade objeto de análise.
Portanto, é parte conclusiva da análise de balanço o julgamento do avaliador sobre a
situação da empresa e suas possibilidades futuras.

A metodologia da análise de balanço foi desenvolvida primeiramente tendo em vista as


necessidades dos usuários externos, ou seja, pessoas e empresas com algum interesse na
empresa analisada, mostrando-se um instrumento extremamente útil para os fins a que
se destina. Da mesma forma, a mesma metodologia pode e deve ser utilizada pelos
usuários internos, ou seja, os responsáveis pela gestão da empresa. Em termos práticos,
a metodologia de análise de balanço aplicada pela própria empresa torna-se mais rica
em utilidade, uma vez que as informações apresentam-se com maior grau de
detalhamento e há um conhecimento mais objetivo, específico e direto das relações de
causa e efeito das transações dos seus eventos econômicos.

1.6. A Importância da Análise Financeira de Balanços

Tanto a prática como a literatura tem revelado que a análise financeira e de balanços é
uma das tarefas mais difíceis e complexas entre as inúmeras que os contadores possuem
na missão de contribuir para o desenvolvimento das empresas.

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Ora, talvez se pudesse questionar: a análise financeira e de balanços não se constitui


numa mera apuração de índices cujas formas já se encontram montadas ou
formalizadas? Onde reside, então, a complexidade e a dificuldade?

A resposta é extremamente simples. Apurar ou calcular índices é uma tarefa bastante


simplista, tendo em vista que as fórmulas já se encontram padronizadas. O que se
precisa é meramente um conhecimento de matemática básica ou financeira e saber
classificar e extrair as contas das demonstrações a fim de se aplicá-las às fórmulas,
atividades estas estudadas em qualquer curso técnico ou superior de Contabilidade. O
grande desafio do problema em questão é justamente a análise ou interpretação destes
cálculos ou dos índices extraídos. Calcular é muito simples, mas não é uma atividade
que se encerra em si. Indispensável é reforçar a necessidade de bem interpretar os dados
e informações.

Partindo-se da hipótese de que parte do elenco de informações que as empresas utilizam


para tomar decisões está nas demonstrações contábeis, especialmente no suplemento de
análise destas demonstrações, há que se afirmar que a importância em se proceder a
análise financeira e de balanços é de um grau de relevância extremamente alto.

Portanto, ainda sobre a questão de importância da análise e talvez com um desejo de


eliminar as ideias de dificuldades e complexidades anteriormente discutidas fica um
alerta:

É mais interessante e válido utilizar-se de uma quantidade limitada e direcionada de


índices e quocientes apurados período a período e compará-los com os padrões do
mercado atual e concorrente para expressar quais são os reais problemas merecedores de
especial atenção, do que apurar dezenas de indicadores sem qualquer inter-relação e
sem bases comparativas com significados absolutos e teóricos.

Enfim, é possível sintetizar ainda uma série de razões para realçar quão importante é
esta análise para as empresas:
 Se bem manuseada, pode se constituir num excelente e poderoso "painel de
controle" da administração;
 Se não for feita a partir de uma contabilidade "manipuladora" ou "normatizante",
pode trazer resultados bastante precisos;
 É uma poderosa ferramenta à disposição das pessoas que se relacionam ou
pretendem relacionar-se com a empresa, ou seja, os usuários da informação contábil
ou financeira, sejam eles internos ou externos;
 Permite diagnosticar o empreendimento, revelando os pontos críticos e permitindo
apresentar um esboço das prioridades para a solução dos problemas;
 Permite uma visão estratégica dos planos da empresa, bem como estima o seu
futuro, suas limitações e suas potencialidades.

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2. A Função Financeira nas Empresas

2.1. Conceitos Fundamentais Básicos

A Administração Financeira diz respeito às responsabilidades do administrador


financeiro numa empresa.

Os administradores financeiros gerenciam ativamente as finanças de todos os tipos de


empresas, financeiras ou não financeiras, privadas ou públicas, grandes ou pequenas,
com ou sem fins lucrativos. Eles desempenham uma variedade de tarefas, tais como
orçamentos, previsões financeiras, administração do caixa, administração do crédito,
análise de investimento e captação de recursos.

Qual o principal objetivo da Administração Financeira? O principal objetivo da


Administração Financeira é o de maximizar a riqueza dos sócios ou acionistas. Para
tanto, as atribuições do Administrador Financeiro podem ser sintetizadas em três
atividades básicas:
a) Realização de análise e planejamento financeiro;
b) Tomada de decisões de investimentos; e
c) Tomada de decisões de financiamento.

As atividades empresariais envolvem recursos financeiros e orientam-se para a obtenção


de lucros. Os recursos investidos na empresa pelos proprietários (capital próprio –
Patrimônio Líquido) e por terceiros (capital de terceiros – Passivo Exigível) encontram-
se aplicados em ativos empregados na produção e/ou comercialização de bens ou na
prestação de serviços.

As receitas obtidas com as operações devem ser suficientes para cobrir todos os custos e
despesas incorridos e ainda gerar lucros. Paralelamente a esse fluxo econômico de
resultados, ocorre uma movimentação de numerário que deve permitir a liquidação dos
compromissos assumidos, o pagamento de dividendos e a reinversão da parcela
remanescente dos lucros.

Nesse contexto, a função financeira compreende um conjunto de atividades relacionadas


com a gestão dos recursos (tanto o numerário movimentado pelas empresas, quanto os
direitos e obrigações decorrentes das transações realizadas a crédito) movimentados por
todas as áreas da empresa. Tal função, que possui um papel muito importante no
desenvolvimento de todas as atividades operacionais, é responsável pela obtenção dos
recursos necessários e pela formulação de uma estratégia voltada para a otimização da
aplicação desses recursos, contribuindo significativamente para o sucesso do
empreendimento.

2.2. Finanças Empresariais

A administração financeira está concentrada na manutenção e criação de valor


econômico ou riqueza. Consequentemente, este material focaliza a tomada de decisão
com os olhos voltados para a criação de riqueza.

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Para ilustrar, considere duas empresas, a Merck e a General Motors (GM). No final de
1998, o valor de mercado total da Merck, uma grande empresa farmacêutica, era de
$153 bilhões. Durante a vida do negócio, os investidores da Merck investiram cerca de
$30 bilhões no negócio. Em outras palavras, os administradores criaram $123 bilhões
adicionais em riqueza para os acionistas.

A GM, por outro lado, estava avaliada em $ 67 bilhões no final de 1998; mas durante os
anos, os investidores da GM investiram realmente $85 bilhões - uma perda no valor de
$17 bilhões. Portanto, a Merck criou riqueza para os seus acionistas, enquanto a GM
perdeu riqueza dos acionistas.

Ao introduzir as técnicas de tomadas de decisões, enfatizaremos a lógica por detrás


daquelas técnicas, com isso podemos garantir que nós não perderemos a visão dos
conceitos quando tratarmos com os cálculos.

Para o estudante de finanças pela primeira vez, isto pode soar um pouco preocupante.
Entretanto, como veremos, as técnicas e ferramentas introduzidas neste curso são todas
motivadas pelos princípios subjacentes que nos guiarão através dos processos de tomada
de decisão.

Para poder sobreviver e prosperar, uma empresa precisa satisfazer seus clientes. Ela
deve, também, produzir e vender produtos e serviços obtendo um lucro. Para poder
produzir, ela precisa de muitos ativos - fábrica, equipamentos, escritórios,
computadores, tecnologia, etc. A empresa precisa decidir quais ativos comprar e como
pagar por eles.

Em ambas as decisões o administrador (ou gestor) financeiro tem uma função


importante. A decisão de investimento, isto é, a decisão para investir em ativos do tipo
fábrica, equipamentos e conhecimentos práticos, é, em grande parte, responsabilidade
do gestor financeiro. As decisões financeiras, a escolha de como pagar esses tais
investimentos, também são de responsabilidade do gestor financeiro.

Não devemos nos esquecer ainda das atividades financeiras cotidianas, como cobrança e
pagamento a fornecedores. A administração destas atividades chama-se administração
de capital de giro.

As Finanças Empresariais consistem, em linhas gerais, no estudo destas decisões.

2.3. Principais Atribuições do Administrador Financeiro

As funções do administrador financeiro na empresa podem ser avaliadas em relação às


demonstrações contábeis básicas da empresa. Suas três atribuições primordiais são:

a) análise e planejamento financeiro: esta função envolve: 1) transformação dos dados


financeiros em uma forma que possa ser utilizada para orientar a posição financeira da
empresa e promover a sua continuidade; 2) avaliação da necessidade de aumento ou
redução da capacidade produtiva; e 3) determinação de que tipo de financiamento
adicional deve ser realizado. Essas três atividades são sustentadas pelas decisões de
natureza estratégica, tática e operacional. Os demonstrativos contábeis, principalmente o
Balanço Patrimonial e a Demonstração do resultado do Exercício, são importantes

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fontes de informações para elaboração de análise e planejamento financeiro. Cabe


ressaltar que o enfoque do caixa é essencial para o gestor financeiro. Assim, a utilização
dos Fluxos de Caixa também é imprescindível, destacando a principal diferença entre a
ótica do contador e a do administrador. Enquanto o primeiro gera informações com base
no regime de competência, o segundo precisa aplicá-las com base no regime de caixa,
denotando a importância dos Fluxos de Caixa nesta atividade;

b) Administração da estrutura de ativo da empresa (Decisão de Investimento): o


administrador financeiro determina a combinação e os tipos de ativos que fazem parte
do Balanço Patrimonial da empresa. Essa atividade está relacionada ao lado esquerdo do
Balanço. A composição refere-se ao montante de recursos aplicados em Ativos
Circulantes e em Ativos Permanentes (fixos). Depois que a composição estiver definida,
o administrador financeiro deve fixar e tentar manter níveis ótimos para cada tipo de
Ativo Circulante. Deve também decidir quais são os melhores Ativos Permanentes a
adquirir e saber quando os ativos existentes se tornarão obsoletos e precisarão ser
modificados, substituídos ou liquidados. A determinação da melhor estrutura de ativo
para a empresa não é uma tarefa simples; requer o conhecimento das operações
passadas e futuras das empresas e a compreensão dos objetivos que deverão ser
alcançados a longo prazo. Existem várias técnicas para avaliação dessas decisões, como
a Taxa Média de Retorno, Payback (Prazo de Retorno), VPL (Valor Presente Líquido) e
TIR (Taxa Interna de Retorno).

c) Administração da estrutura financeira da empresa (Decisão de Financiamento):


relaciona-se com o lado direito do Balanço Patrimonial da empresa e envolve as fontes
de recursos. Dois enfoques sustentam esta atividade do administrador financeiro: 1) a
decisão de qual a composição mais apropriada entre financiamento a curto e a longo
prazo a ser estabelecida, o que é bastante importante, pois afeta tanto a lucratividade da
empresa como sua liquidez global; e 2) o juízo de quais as fontes individuais de
financiamento, a curto ou a longo prazo, são as melhores, em dado momento. Algumas
decisões dessa natureza exigem uma análise profunda das alternativas disponíveis, de
seus custos e de suas implicações a longo prazo. O Custo Médio Ponderado de Capital é
uma medida eficaz para este tipo de decisão.

As atividades Financeiras podem ser assim sintetizadas:

Levantamento e Alocação de Recursos


a) Levantamento de recursos: relacionado à terceira função descrita acima, envolve o
suprimento dos recursos necessários às operações normais da empresa e captação de
vultosos valores para investimentos em projetos com longos períodos de maturação. As
fontes de recursos à disposição de uma empresa podem ser classificadas de várias
formas:
 Recursos próprios (capital integralizado, reservas e lucros retidos) e recursos de
terceiros (compromissos assumidos e dívidas contraídas);
 Recursos permanentes (recursos próprios e dívidas a longo prazo) e recursos
temporários (compromissos e dívidas a curto prazo); e
 Recursos onerosos (provocam despesas financeiras) e recursos não onerosos.

É importante a adequação entre as fontes e as aplicações de recursos em termos de


prazos e custos. A compra de um equipamento, cujo valor investido somente será
recuperado em alguns anos por meio das receitas de vendas, deverá ser financiada com

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recursos permanentes. Se forem utilizados recursos provenientes de um empréstimo


com prazo inferior ao da maturação financeira desse investimento, a empresa poderá
enfrentar dificuldades para liquidar a dívida no vencimento do contrato.

Os juros e demais encargos incidentes sobre os empréstimos e financiamentos oneram o


resultado econômico, reduzindo a parcela de lucro que restará aos acionistas. Além
disso, os emprestadores de recursos podem exigir garantias reais e impor condições
contratuais que reduzam a flexibilidade de gestão da empresa. Mesmo os créditos
obtidos junto aos fornecedores envolvem custo financeiro, representado pelo desconto
para pagamento a vista que deixou de ser desfrutado. Observa-se a existência de custos
explícitos, perfeitamente mensuráveis em termos de valor e taxa. Somente umas poucas
fontes de recursos de curto prazo não provocam custos financeiros, como salários,
impostos a pagar, contribuições a recolher, etc.

Os recursos próprios envolvem um custo implícito que corresponde à expectativa de


lucros dos acionistas que não deve ser frustrada, sob pena de haver desinteresse em se
continuar participando do negócio. Assim, os recursos adicionais a serem fornecidos
pelos acionistas por meio de novas integralizações de capital e os lucros reinvestidos
envolvem um custo de oportunidade. Esse custo corresponde ao retorno que os
acionistas obteriam com tais recursos em outras aplicações com o mesmo grau de risco
suportado por seus investimentos na empresa.

b) Alocação de recursos: relacionada à segunda função descrita acima, envolve a


constante busca da otimização na aplicação dos recursos para que seja alcançada a
rentabilidade desejada e preservada a capacidade da empresa de pagar seus
compromissos nos vencimentos. Essa responsabilidade amplia bastante os limites da
gestão financeira, obrigando os executivos da área a conhecer todas as fases de
funcionamento da empresa e a analisar profundamente os novos projetos de
investimento. Alguns ativos são essenciais para o desenvolvimento das operações,
denominados ativos operacionais, constituídos por Ativos Fixos e Ativos Circulantes
(estoques, duplicatas a receber e disponibilidades), enquanto outros poderão estar ou
não relacionados com as atividades básicas do empreendimento, formados por ativos de
natureza operacional ou não (créditos diversos a curto e longo prazo, participações
societárias em outras empresas, imóveis alugados a terceiros, determinadas aplicações
financeiras, etc.).

Os recursos aplicados nos ativos não são encontrados em abundância e envolvem custos
financeiros e custos de oportunidade. Assim, é de se esperar que cada ativo contribua
direta ou indiretamente para a geração de receitas e, consequentemente, de lucros.

Meta da Administração Financeira

Quando alguém se dispõe a investir sua poupança em uma empresa, em vez de aplicá-la
em alternativas mais seguras, está disposto a assumir certo risco em troca de um
aumento no seu patrimônio ou riqueza pessoal. Assim, pode-se admitir que o objetivo
principal da empresa, e, por conseguinte, de todos os administradores e empregados, é o
de maximizar a riqueza de seus proprietários. A riqueza dos proprietários de uma
sociedade anônima é medida pelo preço da ação, representado pelo valor de mercado da
empresa, ou seja, pelo valor que seria alcançado na venda dos direitos de participação
no seu capital.

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Cada decisão financeira deve ter como meta o aumento do valor da ação. Nessa busca,
duas variáveis conduzem as decisões: o retorno e o risco. São dois elementos
diretamente proporcionais: quanto maior o retorno esperado, maior o risco. Como
exemplo, podemos citar os investimentos em Caderneta de Poupança e em Ações.
Enquanto o primeiro tem menor retorno e menor risco, o segundo deve apresentar maior
retorno em função do risco maior.

Maximização do Preço da Ação

Em um mercado de capitais, plenamente desenvolvido, as cotações alcançadas pelas


ações nas bolsas de valores devem refletir o valor de mercado das empresas. Nos
momentos de desequilíbrio, tais cotações podem apresentar-se superavaliadas ou
subavaliadas, porém a médio prazo os preços das ações demonstram quanto o mercado
está disposto a pagar pelas frações do capital de cada empresa.

O fato de uma empresa não ter ações cotadas em bolsa não constitui impedimento na
determinação de seu valor de mercado. Resumidamente, pode-se dizer que o valor de
mercado de uma empresa corresponde ao valor atual de seus lucros futuros. Desse
modo, o valor de mercado de uma empresa é determinado pela sua capacidade de gerar
lucros mediante o uso dos ativos, pela sua tecnologia e competência gerencial e pelo seu
conceito junto aos credores e clientes.

A meta da Administração Financeira coincide com o objetivo básico dos proprietários


ou acionistas. As decisões financeiras são orientadas para o aumento do valor de
mercado da empresa. A meta da administração financeira é a maximização da riqueza
dos acionistas, que constitui algo mais amplo e profundo do que a maximização dos
lucros. A maximização da riqueza envolve os seguintes aspectos:

a) retorno do capital próprio: os acionistas esperam ser remunerados por intermédio


de dividendos e, principalmente, pela valorização de suas ações. O proprietário de uma
ação possivelmente espera receber seu retorno sob a forma de pagamentos periódicos de
dividendos ou por meio de valorizações no preço da ação, ou ambos. O preço de
mercado de uma ação reflete um valor de dividendos futuros esperados, bem como de
dividendos correntes; a riqueza do acionista (proprietário) na empresa em qualquer
instante é medida pelo preço de mercado de suas ações. Se um acionista numa empresa
desejar liquidar sua participação, irá vender a ação ao preço vigente no mercado ou bem
próximo a dele. Uma vez que o preço de mercado da ação, e não os lucros, é que reflete
a riqueza do proprietário numa empresa, num dado momento, a meta do administrador
financeiro deve ser maximizar essa riqueza;

Exemplo: quatro anos atrás, o Sr. JK comprou uma ação da Cia. Alfa e uma ação da
Cia. Beta, cada uma ao preço de $100. Ambas as empresas operam no mesmo ramo de
negócio. Durante o período de quatro anos, cada uma das empresas pagou um dividendo
anual de $1 por ação. A Alfa obteve um lucro anual de $2 por ação, ao passo que o
lucro anual da Beta foi $3 por ação. Atribui-se a diferença nos lucros ao fato de que a
Alfa despendeu uma grande importância para desenvolver um produto inovador,
portanto baixando seus lucros. A ação da Alfa está atualmente sendo vendida por $130
enquanto a da Beta está sendo negociada por $110. Essa situação não é incomum,
reflete o fato de que, apesar dos maiores lucros da Beta, a ação da Alfa tem preço maior,

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atribuído à expectativa de que a venda bem sucedida do novo produto gerará maiores
lucros futuros, o que mais do que compensará os baixos lucros experimentados durante
o período de desenvolvimento. A riqueza do Sr. JK na Cia. Alfa é maior do que sua
riqueza na Beta, apesar de os lucros da Beta serem maiores.

b) perspectiva de longo prazo: a empresa deve ser perpetuada e, para tanto, tem de
realizar investimentos em tecnologia, novos produtos, etc., que poderão sacrificar a
rentabilidade atual em troca de maiores benefícios futuros. A maximização do lucro é
uma abordagem de curto prazo; a maximização da riqueza considera o longo prazo. Do
exemplo anterior, deve-se depreender que o maior preço da ação da Cia. Alfa resultou
do fato de que suas decisões de curto prazo relacionadas com o desenvolvimento de
novo produto, embora baixando os lucros a curto prazo, produzirão maiores retornos
futuros.

Uma empresa que deseja maximizar lucros poderia comprar maquinaria de baixa
qualidade e usar materiais também de baixa qualidade, ao mesmo tempo em que faria
um tremendo esforço de vendas dos seus produtos por um preço que rendesse um
elevado lucro por unidade. Essa estratégia de curto prazo poderia resultar em lucros
elevados para o corrente, porém, em anos subsequentes, os lucros declinariam
significativamente, pois os compradores constatariam a baixa qualidade do produto e o
alto custo de manutenção associado à maquinaria de baixa qualidade.

O impacto das vendas decrescentes e custos crescentes tenderiam a reduzir os lucros a


longo prazo e, se não combatido, poderia resultar na eventual falência da empresa. As
consequências potenciais da maximização do lucro a curto prazo provavelmente estejam
refletidas no preço corrente da ação, que talvez seja menor do que se a empresa tivesse
perseguindo uma estratégia de prazo mais longo;

c) valor do dinheiro no tempo: os projetos de investimento envolvem fluxos de


desembolsos e de entradas de caixa. Existem diversas técnicas para avaliar tais projetos,
e algumas delas transformam os fluxos futuros de caixa em valores atuais, por meio da
aplicação de determinada taxa de desconto. Essa taxa de desconto deve refletir um custo
de oportunidade dos recursos a ser investidos. Tal custo de oportunidade corresponde a
uma taxa mínima de retorno exigida do projeto para que o valor de mercado da empresa
não se altere. Considerando o valor do dinheiro no tempo, a seleção dos projetos a ser
implementados visará a aumentar ou, pelo menos, manter o valor de mercado da
empresa;

d) risco: o retorno deve ser compatível com o risco assumido. Maior risco implica a
expectativa de maior retorno. A maximização do lucro não considera o risco, porém a
maximização da riqueza considera explicitamente diferenças no risco. Uma premissa
básica na Administração Financeira é de que existe uma relação entre risco e retorno; os
acionistas esperam perceber maiores retornos de investimentos de maior risco, e vice-
versa. Os administradores financeiros precisam, portanto, levar em conta o risco ao
avaliar investimentos potenciais;

Tendo em vista que os acionistas exigem maiores retornos para maiores riscos, é
importante que o administrador financeiro considere adequadamente o impacto do risco
sobre os retornos deles. A abordagem da maximização da riqueza considera o risco,

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enquanto a maximização do lucro o ignora. A maximização da riqueza é, portanto, a


abordagem preferível.

e) dividendos: deve ser adotada uma política de distribuição regular de dividendos,


independentemente das flutuações dos lucros, minimizando os efeitos negativos que
possam afetar as cotações das ações. A empresa não deve desapontar aqueles acionistas
que apreciam receber dividendos periódicos. Os administradores financeiros devem
reconhecer que a política de dividendos da empresa afeta a atratividade de sua ação para
tipos particulares de investidores. Acredita-se que, se o retorno que os acionistas
esperam receber for assegurado, tal fato terá um efeito positivo sobre o preço das ações,
garantindo o sucesso de futuros lançamentos de novas ações no mercado.

Áreas de Decisões Financeiras

De uma maneira bastante abrangente, podemos identificar três áreas de decisões


financeiras:

a) decisões de investimento: referem-se tanto à administração da estrutura do ativo


quanto à implementação de novos projetos. A grande concorrência existente nas
modernas economias de mercado obriga as empresas a se manter tecnologicamente
atualizadas. Nenhuma empresa pode sentir-se segura em boa posição conquistada, pois
a qualquer momento algum concorrente poderá surgir com um produto melhor e mais
barato. Assim, as empresas são obrigadas a desenvolver continuamente novos projetos e
a tomar decisões sobre a sua implantação. Normalmente, isso significa a necessidade de
vultosas somas adicionais de recursos e elevação no risco do empreendimento, uma vez
que investimentos em novos tipos de ativos fixos têm efeitos prolongados sobre a vida
da empresa, e uma decisão inadequada poderá comprometer irremediavelmente o seu
futuro;

b) decisões de financiamento: enquanto as decisões de investimento envolvem


importantes aspectos de natureza não financeira, as decisões de financiamento
constituem responsabilidade exclusiva do administrador financeiro. As decisões de
financiamento visam a montar a estrutura financeira adequada às operações normais e
aos novos projetos a ser implantados na empresa. As questões envolvidas nas decisões
de financiamento referem-se à composição das fontes de recursos, que exigem análise
profunda das alternativas existentes e de suas implicações futuras. São questões do tipo:
 Qual deveria ser a proporção entre recursos permanentes e temporários?
 Quanto de recursos próprios e quanto de financiamentos a longo prazo?
 O reinvestimento de lucros seria suficiente para atender às necessidades de recursos
próprios?
 O mercado reagiria bem ao lançamento de novas ações?
 Qual seria o impacto dos custos financeiros provocados pelos financiamentos a
longo prazo e pelos empréstimos a curto prazo?
 Em vez de comprar ativos fixos, não deveríamos arrendá-los?

c) decisões relativas à destinação do lucro: o lucro obtido em cada exercício social


representa a remuneração do investimento dos proprietários da empresa. Quanto desse
lucro deveria ser distribuído aos acionistas e quanto seria retido para financiar a
expansão dos negócios? Tal indagação revela que a política de distribuição de
dividendos está diretamente relacionada com as decisões de financiamento. Distribuindo

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somente uma pequena parcela dos lucros, a empresa ficará menos dependente das fontes
onerosas de recursos e ampliará a participação do capital próprio na estrutura financeira.

Quando a empresa pertence a reduzido número de pessoas, essas decisões são tomadas
por consenso ou por imposição do sócio majoritário. A dificuldade surge quando existe
grande número de acionistas, e as ações são negociadas nas bolsas de valores. Nesse
caso, a política de dividendos estará orientada para a maximização das cotações,
devendo basear-se na avaliação das expectativas do mercado acionário, que são
influenciadas por diversos fatores conjunturais.

Se a rentabilidade da empresa for satisfatória, pode-se supor que a maioria dos


proprietários prefira abrir mão dos dividendos. Porém, não deve ser desconsiderado que
sempre existirão acionistas desejosos de realizar, pelo menos, parte dos lucros. Uma
empresa bem sucedida sempre terá novos planos de investimentos que implicam a
necessidade de recursos adicionais. Parte dessas necessidades poderá ser atendida com a
retenção de lucros, e o restante terá de ser financiado por meio de outras fontes. Uma
política de dividendos adequada favorece a manutenção dos preços das ações em níveis
elevados, e isso poderá garantir o sucesso de futuros lançamentos de novas ações no
mercado.

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3. Estrutura e Divulgação das Demonstrações Contábeis

De acordo com o artigo 176 da Lei 6404/76, as demonstrações contábeis obrigatórias


até 31/12/2007 eram: o balanço patrimonial, a demonstração dos lucros ou prejuízos
acumulados, a demonstração do resultado do exercício, a demonstração das origens e
aplicações de recursos e as notas explicativas.

Para as companhias abertas, segundo o § 8 da Deliberação CVM nº 488/05, é composto


pelo balanço patrimonial, demonstração das mutações do patrimônio líquido,
demonstração do resultado, demonstração do fluxo de caixa ou, alternativamente,
enquanto requerida pela legislação societária, a demonstração de origens e aplicações de
recursos, demonstração do valor adicionado, se divulgada pela entidade; notas
explicativas, incluindo a descrição das práticas contábeis.

Percebe-se que a Deliberação CVM 488, buscou a aproximação com as normas


internacionais, pois, de acordo com o IAS 1, o conjunto de demonstrações financeiras
que deverão ser emitidos pelas companhias são: balanço patrimonial (balance sheet);
demonstração do resultado (income statement); outras demonstrações que evidenciem
todas as mudanças no patrimônio líquido, ou as mudanças no patrimônio líquido, exceto
as modificações no capital e as distribuições para os proprietários; demonstração do
fluxo de caixa (cash flow statement); políticas contábeis e outras notas explicativas
(explanatory notes).

Pelas novas normas brasileiras existe a possibilidade de apresentar a demonstração do


fluxo de caixa, buscando a harmonização ao IAS 7, ou, alternativamente, enquanto
requerida pela legislação societária, a demonstração de origens e aplicações de recursos
e a demonstração do valor adicionado, se divulgada pela entidade. A demonstração das
origens e aplicações de recursos, ainda obrigatória para as empresas não atingidas pela
Deliberação CVM 488, tem por objetivo apresentar de forma ordenada e sucinta as
variações ocorridas no capital circulante líquido da entidade, ou seja, a movimentação
relativa às operações de financiamento (origens) e investimento (aplicações) da
entidade.

Segundo Santos e Schmidt (2002), o termo recurso é utilizado para expressar a


diferença entre os ativos circulantes e os passivos circulantes e não somente a variação
ocorrida nas disponibilidades, que é apresentada na demonstração de fluxos de caixa. A
demonstração do valor adicionado, segundo as normas brasileiras de contabilidade,
busca evidenciar de forma concisa, os dados e as informações do valor da riqueza
gerada pela entidade em determinado período e sua distribuição. A Demonstração do
Valor Adicionado deve evidenciar os seguintes componentes: a receita bruta e as outras
receitas; os insumos adquiridos de terceiros; os valores retidos pela entidade; os valores
adicionados recebidos (dados) em transferência a outras entidades; valor total
adicionado a distribuir; e distribuição do valor adicionado.

Com a publicação das novas normas contábeis por força da Lei 11.638/2007, foi
alterado, dentre outros, o artigo 176 da Lei das S/A, sendo que desta forma as
demonstrações contábeis obrigatórias a partir de 01.01.2008 são: o balanço patrimonial,
a demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados, a demonstração do resultado do

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exercício, a demonstração do fluxo de caixa e a demonstração do valor adicionado,


complementadas pelas notas explicativas.

Assim, serão discutidas com maior profundidade as principais convergências existentes


entre a legislação societária brasileira, (Lei 6404/1976), a nova lei contábil (Lei
11.638/2007) e as normas internacionais, especialmente os seus reflexos no Balanço
Patrimonial, na Demonstração do Resultado, e nas mais novas obrigatoriedades de
publicação, a DFC – Demonstração do Fluxo de Caixa e a DVA – Demonstração do
Valor Adicionado.

3.1. Balanço Patrimonial

No balanço patrimonial, as contas deverão ser classificadas segundo os elementos do


patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da
situação financeira da empresa.

As empresas obrigadas a publicar seus demonstrativos financeiros devem estar em


consonância com o disposto no § 1º do art. 176 da Lei nº 6.404/76, que estabelece a
publicação das demonstrações de cada exercício com a indicação dos valores
correspondentes nas demonstrações do exercício anterior.

Procedimentos Iniciais para Elaboração do Balanço

No balancete são relacionadas todas as contas utilizadas pela empresa, sejam


patrimoniais ou de resultado, demonstrando seus débitos, créditos e saldos.

As contas do balancete levantado no fim do exercício, nem sempre representam, os


valores reais do patrimônio, naquela data, nem as variações patrimoniais do exercício,
porque os registros contábeis não acompanham a dinâmica patrimonial no mesmo ritmo
em que ela se desenvolve.

Desta forma, muitos dos componentes patrimoniais aumentam ou diminuem de valor,


sem que a contabilidade registre tais variações, bem como muitas das receitas e
despesas, recebidas ou pagas durante o exercício, não correspondem realmente aos
ingressos e ao custo do período.

Daí a necessidade de se proceder ao ajuste das contas patrimoniais e de resultado, na


data do levantamento do balanço, para que elas representem, em realidade, os
componentes do patrimônio nessa data, bem como suas variações no exercício.

Para elaboração do balanço patrimonial devem ser efetuados vários ajustes na contas
patrimoniais, entre os quais citamos os mais comuns:

1. Na data da elaboração do balanço, geralmente 31 de dezembro, prepara-se o


balancete de verificação, da mesma forma ao que se faz mensalmente;
2. Elabora-se o inventário dos materiais, das mercadorias, dos produtos manufaturados,
dos móveis e utensílios, das máquinas e equipamentos, das duplicatas a receber e a
pagar, e de outros componentes suscetíveis de serem inventariados;

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3. Confronta-se o saldo de cada conta do razão com os livros e documentos auxiliares


tais como: boletim de caixa, extratos bancários, registros de duplicatas, registros de
inventário, controles do ativo imobilizado, etc.;
4. Após confrontar os saldos das respectivas contas e dos registros específicos de cada
conta, caso seja constatado divergências, e apurada suas causas, deve-se proceder
aos ajustes necessários;
5. Efetuam-se os cálculos de depreciação dos bens, procedendo-se aos respectivos
lançamentos. Nas empresas que apuram custos mensais, as depreciações são
apropriadas mensalmente;
6. Procede-se a regularização das contas de despesas e receitas antecipadas;
7. Apurar o resultado da conta mercadorias, calculando o custo da mercadoria vendida
e transferindo-o para a conta de resultados.
8. Encerram-se as contas de despesas e receitas, transferindo seus saldos para a conta
de resultados no patrimônio líquido;
9. Após essas operações, estão encerradas as contas de resultado, restando somente as
contas patrimoniais;
10. Elabora-se novo balancete de verificação, no qual aparecerá, em lugar das contas de
despesas e de receitas, a conta lucros ou prejuízo, que resume todo o resultado do
exercício;
11. Efetua-se a destinação do resultado do exercício de acordo com o previsto nos atos
constitutivos, ou seja, se for lucro poderá ser destinado à formação de reservas ou
ser distribuído aos sócios ou acionistas, se for prejuízo deverá ser absorvido por
lucros/reservas de exercícios anteriores;
12. Elabora-se a demonstração do resultado do exercício, demonstrando as receitas e
despesas, bem como o destino dado ao lucro;
13. Após os ajustes mencionados, as contas remanescentes, são apenas as contas
patrimoniais, que serão separadas e classificadas no balanço patrimonial, sendo o
saldo do ativo igual ao do passivo, da seguinte forma:

a) No Ativo as contas são dispostas em ordem decrescente do grau de liquidez dos


elementos registrados, ou seja, as contas com maior liquidez aparecem antes. Assim,
obedecendo ao prescrito no Art. 178, desde 01.01.2009 o ativo divide-se em circulante e
não circulante.

De acordo com o artigo 179 da Lei das S/A, no Ativo as contas serão classificadas do
seguinte modo:

 Ativo Circulante: as disponibilidades, os direitos realizáveis no curso do exercício


social subsequente e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte;
 Ativo Realizável a Longo Prazo: os direitos realizáveis após o término do exercício
seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a
sociedades coligadas ou controladas (artigo 243), diretores, acionistas ou
participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na
exploração do objeto da companhia;
 Investimentos: as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de
qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulante, e que não se destinem à
manutenção da atividade da companhia ou da empresa;
 Ativo Imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à
manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa

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finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os


benefícios, riscos e controle desses bens;
 Intangível: os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à
manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de
comércio adquirido.

b) No Passivo as contas são dispostas em ordem decrescente de grau de exigibilidade


dos elementos registrados, ou seja, as contas com maior exigibilidade aparecem antes.
Como no ativo, observado o Art. 178, desde 01.01.2009 o passivo também é dividido
em circulante e não circulante, com a particularidade de ainda receber o saldo das
contas do patrimônio líquido.

De acordo com o artigo 180 e seguintes da Lei nº 6.404/76, no passivo as contas são
classificadas da seguinte forma:

 As obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do


ativo não circulante, serão classificadas no passivo circulante, quando se vencerem
no exercício seguinte, e no passivo não circulante, se tiverem vencimento em prazo
maior, observado o disposto no parágrafo único do art. 179.

Para efeitos de registro contábil das obrigações, a empresa deve obedecer ao princípio
contábil da competência de exercícios e serão avaliados de acordo com os critérios
estabelecidos no artigo 184 da Lei nº 6.404/76, ou seja:

a) As obrigações, encargos e riscos, conhecidos ou calculáveis, inclusive Imposto


sobre a Renda a pagar com base no resultado do exercício, serão computados pelo
valor atualizado até a data do balanço;
b) As obrigações em moeda estrangeira, com cláusula de paridade cambial, serão
convertidas em moeda nacional à taxa de câmbio em vigor na data do balanço;
c) as obrigações, encargos e riscos classificados no passivo não circulante serão
ajustados ao seu valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito
relevante.

Dentro do ativo, outra mudança proposta pela Deliberação 488 e que busca a
aproximação da contabilidade internacional, é a classificação no circulante. Para ser
circulante, se espera que o ativo seja realizado, ou mantido para venda, negociação ou
consumo dentro dos 12 meses seguintes à data do balanço; ou, quando é um ativo em
dinheiro ou equivalente, cuja utilização não está restrita.

Essa classificação busca a convergência à normatização internacional, pois,


diferentemente da Lei 6.404, a CVM não adota a expressão “até o término do exercício
seguinte”, mas sim “doze meses”, o que acaba com uma discussão antiga sobre as
reclassificações para curto prazo, nas demonstrações contábeis intermediárias. Assim,
de acordo com a CVM o prazo para a classificação de um ativo como circulante é
sempre de doze meses, exceto quando o ciclo operacional for maior. Essa classificação
em doze meses está de acordo com o procedimento adotado internacionalmente.

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3.2. Demonstração do Resultado do Exercício

O artigo 187 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (Lei das Sociedades por
Ações), instituiu a Demonstração do Resultado do Exercício.

A Demonstração do Resultado do Exercício tem como objetivo principal apresentar de


forma vertical e resumida, o resultado apurado em relação ao conjunto de operações
realizadas num determinado período, normalmente compreendido de doze meses.

De acordo com a legislação mencionada, as empresas deverão na Demonstração do


Resultado do Exercício, discriminar a receita bruta das vendas e serviços, as deduções
das vendas, dos abatimentos e dos impostos e a receita líquida das vendas e serviços.

Critério Adotado

Na determinação da apuração do resultado do exercício serão computados em


obediência ao princípio da competência:

a) As receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente de sua


realização em moeda; e
b) Os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas
receitas e rendimentos.

Definição dos Títulos da DRE

1. Receita Bruta das Vendas e Serviços

Nesta conta registra-se a receita bruta das vendas de bens e serviços prestados em
operações realizadas pela empresa.

Na legislação do Imposto de Renda, o conceito de receita líquida é o mesmo da Lei nº


6.404/76, no entanto, em relação ao conceito de receita bruta, o artigo 279 do RIR/99
define que, "na receita bruta não se incluem os impostos não cumulativos, cobrados do
comprador ou contratante (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do qual o
vendedor dos bens ou prestador dos serviços seja mero depositário. Dessa forma para
fins de Imposto de Renda, o ICMS faz parte da receita bruta, mas o IPI não.

Assim sendo, em função do problema apresentado, pode-se adaptar a demonstração do


resultado do exercício da seguinte forma:

I - Faturamento bruto

(-) IPI faturado

II - Receita bruta de vendas e serviços

2. Deduções das Vendas

I - Vendas Canceladas

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Nesta conta, de natureza devedora, são registradas as devoluções de vendas relativas a


anulação de valores registrados como receita bruta de vendas e serviços. Assim sendo,
as devoluções não devem ser deduzidas diretamente da conta de vendas, mas registradas
nessa conta devedora.

II - Abatimentos sobre vendas

Nessa conta serão registrados os descontos concedidos aos clientes relativos às vendas e
serviços que devem ser excluídos da Receita Bruta.

III - Impostos e Contribuições Incidentes sobre Vendas

A receita bruta deve ser registrada pelos valores totais, incluindo os impostos sobre ela
incidentes (exceto IPI), que são registrados em contas devedoras. Desta forma os
valores dos impostos incidentes sobre as vendas, tais como: ISS, ICMS, ISS, PIS,
COFINS, serão diminuídos da receita bruta.

3. Custo das Mercadorias Vendidas e Serviços Prestados

Estas contas registram os custos de produção de bens ou serviços vendidos,


compreendendo o seguinte:

a) custos diretos e indiretos da produção de bens ou de realização de serviços, inclusive


encargos de depreciação, amortização e exaustão dos bens aplicados ou relacionados na
ou com a produção;

b) custos até o ponto de venda das mercadorias entregues a clientes.

A apuração dos custos dos produtos vendidos está diretamente relacionada aos estoques
da empresa, pois representa a baixa efetuada nas contas dos estoques por vendas
realizadas no período. Nas empresas comerciais a apuração dos custos pode ser feita
através da seguinte fórmula:

CMV = EI + C - EF
Onde:
CMV = Custo das Mercadorias Vendidas
EI = Estoque de Mercadorias no Início do Período
C = Compras ou Entradas no Período
EF = Estoque de Mercadorias no Final do Período

No caso das empresas industriais, é necessário um sistema de contabilidade de custos,


cuja complexidade vai depender da estrutura do sistema de produção e suas
necessidades internas de controle.

Fazem parte deste grupo as receitas e despesas operacionais, as despesas com as vendas,
as despesas financeiras, deduzidas das receitas financeiras, as despesas administrativas e
outras despesas enquadradas como operacionais.

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4. Despesas de Vendas e Administrativas

I - Despesas com vendas

As despesas de vendas representam os gastos de promoção, colocação e distribuição dos


produtos da empresa, bem como os riscos assumidos pela venda, tais como:

a) Despesas com o pessoal da área de vendas: salários, gratificações, férias, 13º salário,
encargos sociais, assistência médica, comissões sobre vendas;
b) Propaganda e publicidade;
c) Gastos com garantia de produtos
d) Utilidades e serviços: transporte, depreciação e manutenção de bens, energia
elétrica, telefone, água.

II - Despesas administrativas

As despesas administrativas representam os gastos, pagos ou incorridos, para direção ou


gestão da empresa, tais como:

a) Despesas com o pessoal: salários, gratificações, férias, encargos, assistência médica,


transporte;
b) Utilidades e serviços: energia elétrica, água, telefone, fax, correio, seguros;
c) Despesas gerais: material de escritório, material de limpeza, viagens, alimentação,
jornais e revistas, despesas legais e judiciais, serviços profissionais contratados,
depreciação e manutenção de bens;
d) Impostos e taxas: IPTU, IPVA, ITR, Contribuição Sindical.

5. Receitas e Despesas Financeiras

Nesse grupo são incluídos os juros, os descontos e a atualização monetária pré-fixada,


além de outros tipos de receitas ou despesas, bem como aquelas decorrentes de
aplicações financeiras.

As atualizações monetárias ou variações cambiais de empréstimos são registradas


separadamente no grupo variações monetárias.

I - As receitas financeiras englobam:

a) Descontos obtidos, decorrentes de pagamentos antecipados de duplicatas de


fornecedores ou outros títulos;
b) Juros recebidos referente aos juros cobrados pela empresa de seus clientes, por
atraso de pagamento e outras operações similares;
c) Receitas de aplicações financeiras que engloba as receitas decorrentes de aplicações
financeiras, correspondente a diferença entre o valor aplicado e o valor resgatado;
d) Outras receitas de investimentos temporários;

II - As Despesas financeiras abrangem:

a) Descontos concedidos aos clientes pelo pagamento antecipado e outros títulos;


b) Juros de empréstimos, financiamentos, descontos de títulos e outras operações;

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c) Comissões e despesas bancárias cobradas pelos bancos nas operações de desconto,


de concessão de crédito, etc.
d) Correção monetária prefixada de empréstimos.

III - Variações monetárias de obrigações e créditos englobam:

a) Variação cambial incorrida pela atualização periódica de obrigações ou créditos a


serem pagos ou recebidos em moeda estrangeira;
b) Atualização monetária que registra as atualizações sobre obrigações ou créditos
sujeitos à cláusula de atualização monetária.

6. Outras Receitas e Despesas Operacionais

Engloba outras receitas e despesas operacionais decorrentes de atividades acessórias do


objeto da empresa, tais como:

a) Lucros e prejuízos em participações societárias;


b) Vendas de sucatas ou sobras de estoques.

7. Resultados Não Operacionais

Nesse grupo são segregados os resultados não operacionais, ou seja, aqueles decorrentes
de outras operações não ligadas às atividades principais ou acessórias da empresa, tais
como:

a) Ganhos e perdas na alienação de investimentos permanentes;


b) Ganhos e perdas na alienação de bens e direitos do ativo imobilizado;
c) Ganhos e perdas por desapropriação, baixa por perecimento, extinção, desgaste,
obsolescência de bens do ativo imobilizado.

8. Imposto de Renda e Contribuição Social Sobre o Lucro

Nessas contas devem ser registrados o valor relativo à Contribuição Social Sobre o
Lucro e do Imposto de Renda devido sobre o resultado.

9. Participações e Contribuições

Essas participações e contribuições devem ser contabilizadas na própria data do


balanço, mediante débito nas contas de participações no resultado e crédito nas contas
de provisão no Passivo Circulante.

De acordo com o artigo 189 da lei das S/A, do resultado do exercício serão deduzidos,
antes de qualquer participação, os prejuízos acumulados e a provisão para o imposto
sobre a renda.

Dessa forma, toma-se o lucro líquido depois do imposto de renda e contribuição social,
antes das participações e dele se deduz o saldo eventual de prejuízos acumulados,
apurando-se assim a base inicial de cálculo das participações.

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Ressalte-se que o cálculo das participações não é feito sobre o mesmo valor. Deve ser
calculado extra contabilmente, primeiramente a participação das debêntures, do lucro
remanescente se calcula a participação dos empregados, do lucro remanescente desse
cálculo, se calcula a participação dos administradores e do saldo, a participação das
partes beneficiárias.

Exemplo:

Considerando-se que determinada empresa tenha definido no seu estatuto, que as


debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias tenham direito a
participação de 5% do lucro do exercício. A empresa tem um saldo de prejuízos
acumulados no valor de $ 20.000,00, e o seu resultado do exercício após o Imposto de
Renda e Contribuição Social corresponde a $ 100.000,00, teremos:

Descrição Valor - $
Lucro após Imposto de Renda e Contribuição Social 100.000,00
(-) prejuízo acumulado 20.000,00
(=) Base de cálculo das participações 80.000,00
(-) Debêntures = 5% de $ 80.000,00 4.000,00
(=) Nova base de cálculo 76.000,00
(-) Empregados = 5% de $ 76.000,00 3.800,00
(=) Nova base de cálculo 72.200,00
(-) Administradores = 5% de $ 72.200,00 3.610,00
(=) Nova base de cálculo 68.590,00
(-) Partes beneficiárias = 5% de $ 68.590,00 3.429,50
(=) Lucro líquido após as participações 65.160,50

10. Lucros Por Ação

O artigo 187 da Lei nº 6.404/76, determina a indicação do montante do lucro ou


prejuízo líquido por ação do Capital Social, o que possibilita melhor avaliação pelos
investidores dos resultados apurados pela companhia em relação às ações que possui.

O lucro por ação é apurado, pela divisão do lucro líquido de exercício pelo número de
ações em circulação do capital social:

a) Lucro por ação = lucro líquido


b) Nº de ações

3.3. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

A elaboração da demonstração das mutações do Patrimônio Líquido é facultativa e, de


acordo com o artigo 186, parágrafo 2º, da Lei das Sociedades Anônimas, a
demonstração de lucros ou prejuízos acumulados poderá ser incluída nesta
demonstração.

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Por ser uma demonstração mais completa e abrangente, uma vez que evidencia a
movimentação de todas as contas do patrimônio líquido durante o exercício social,
inclusive a formação e utilização das reservas não derivadas do lucro, observam-se,
anualmente, em virtude desse aspecto positivo, que a maioria das empresas opta pela
sua elaboração.

1. Mutações nas Contas Patrimoniais

As contas que formam o Patrimônio Líquido podem sofrer variações por inúmeros
motivos, tais como:

I - Itens que afetam o patrimônio total:

a) Acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício;


b) Redução por dividendos;
c) Acréscimo por reavaliação de ativos;
d) Acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos;
e) Acréscimo por subscrição e integralização de capital;
f) Acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações
integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor nominal;
g) Acréscimo pelo valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição;
h) Acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures;
i) Redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda;
j) Acréscimo ou redução por ajuste de exercícios anteriores;

II - Itens que não afetam o total do patrimônio

a) Aumento de capital com utilização de lucros e reservas;


b) Apropriações do lucro líquido do exercício reduzindo a conta Lucros Acumulados
para formação de reservas, como Reserva Legal, Reserva de Lucros a Realizar,
Reserva para Contingência e outras;
c) Reversões de reservas patrimoniais para a conta de Lucros ou Prejuízos acumulados;
d) Compensação de Prejuízos com Reservas.

2. Procedimentos a Serem Seguidos

A elaboração da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido é relativamente


simples, pois basta representar, de forma sumária e coordenada, a movimentação
ocorrida durante o exercício nas diversas contas do Patrimônio Líquido, isto é, Capital,
Reservas de Capital, Reservas de Lucros, Reservas de Reavaliação e Lucros ou
Prejuízos Acumulados.

Deve-se utilizar um papel de trabalho, utilizando uma coluna para cada uma das contas
do patrimônio da empresa e abrindo uma conta total, que representa a soma dos saldos
ou transações de todas as contas individuais. Essa movimentação deve ser extraída das
fichas de razão dessas contas.

As transações e seus valores são transcritos nas colunas respectivas, mas de forma
coordenada. Por exemplo, se temos um aumento de capital com lucros e reservas, na
linha correspondente a essa transação, transcreve-se o acréscimo na coluna de capital

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pelo valor do aumento e, na mesma linha, as reduções nas contas de reservas e lucros
utilizados no aumento de capital pelos valores correspondentes.

3.4. Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados

Esta demonstração possibilita uma avaliação precisa das alterações ocorridas no saldo
da conta de lucros ou prejuízos acumulados em relação aos dois últimos exercícios
sociais.

De acordo com o artigo 186, parágrafo 2º da Lei nº 6.404/76, a companhia poderá, à sua
opção, incluir a demonstração de lucros ou prejuízos acumulados nas demonstrações das
mutações do patrimônio líquido.

"A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá indicar o montante do


dividendo por ação do capital social e poderá ser incluída na demonstração das
mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela companhia."

Deve-se lembrar que a referida demonstração é também obrigatória para as sociedades


limitadas e outros tipos de empresas, conforme a legislação do Imposto de Renda.

A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá discriminar:

a) O saldo do início do período e os ajustes de exercícios anteriores;


b) As reversões de reservas e o lucro líquido do exercício; e
c) As transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao
capital e o saldo ao fim do período.

Ajustes Contábeis de Exercícios Anteriores

1. Conceito

Os registros dos fatos contábeis são suscetíveis de erros, que poderão ou não interferir
na apuração do resultado e, consequentemente, na base imponível do Imposto de Renda
relativo ao exercício em determinado período.

Partindo do pressuposto de que a escrituração contábil é a fonte de informações para a


apuração do lucro ou prejuízo fiscal, qualquer erro no registro de um fato, via de regra,
poderá provocar o aumento ou diminuição do imposto devido em determinado
exercício.

2. Critério para Utilização da Conta "Ajustes de Exercícios Anteriores"

Segundo a Lei da S/A, o lucro líquido do exercício não deve estar influenciado por
efeitos que pertençam a exercícios anteriores, ou seja, deverão transitar pelo balanço de
resultados somente os valores que competem ao respectivo período.

Como ajustes de exercícios serão considerados apenas os decorrentes de efeitos da


mudança de critério contábil, ou da retificação de erro imputável a determinado
exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a fatos subsequentes.

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a) Mudança de Critério Contábil

A modificação de métodos ou critérios contábeis poderá ter ou não efeitos relevantes e,


também, poderão influenciar ou não a apuração do lucro líquido do exercício.

Observe-se que quando a modificação de métodos ou critérios contábeis afetar a


apuração do lucro líquido do exercício, o efeito correspondente deverá ser lançado,
conforme o caso, a débito ou a crédito da conta de "Lucros ou Prejuízos Acumulados".

São exemplos de alterações de critérios contábeis que afetam a apuração do lucro


líquido do exercício:

 A alteração do método de avaliação dos estoques, quando se utiliza o custeio direto


e altera-se para o custeio por absorção;
 Utilização do regime de caixa para o regime de competência, na contabilização do
Imposto de Renda ou outros passivos;
 Mudança no método de avaliação dos investimentos deixando de utilizar o método
do custo para aderir à equivalência patrimonial.

b) Retificação de Erros de Exercícios Anteriores

A retificação de erros de exercícios anteriores poderá afetar, também, o lucro líquido do


exercício. Nesse caso, o valor correspondente à retificação será lançado, conforme o
caso, a débito ou a crédito da conta de "Lucros ou Prejuízos Acumulados". Note-se que
os ajustes são aqueles resultantes de efeitos na retificação de erro imputável a
determinado exercício anterior e que não possam ser atribuídos a fatos subsequentes.

É necessária bastante cautela e prudência para registrar ajustes por erros de exercícios
anteriores diretamente na conta de Lucros Acumulados, não oferecendo esse tratamento
a pequenos valores.

3. Erros com Contas Patrimoniais

Regra geral, os erros cometidos com contas patrimoniais, tais como inversão de
lançamento, contrapartida a débito em conta indevida ou contrapartida a crédito em
conta indevida, não provoca influência na determinação do lucro e, por inferência, no
resultado tributável do exercício.

O reflexo na determinação do resultado do exercício, via de regra, só ocorre quando a


contrapartida das contas patrimoniais transitar pelo balanço de resultados e,
consequentemente, se traduz em aumento, redução ou postergação do pagamento do
Imposto de Renda.

4. Aumento Indevido do Resultado na Escrituração Contábil

Os erros contábeis mais comuns que se traduzem em aumento indevido do resultado


podem ocorrer devido a:

a) Despesa lançada a menor do que a efetivamente paga ou incorrida;

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b) Receita lançada a maior ou manutenção na contabilidade de valor de receita, cuja


nota fiscal já foi objeto de cancelamento;
c) Falta de registro referente a baixa de bens do ativo imobilizado.

Fora os casos retro descritos, é óbvio, existem outros que podem causar distorções na
determinação do resultado.

5. Procedimento Contábil para Regularização do Erro

Supondo-se que os erros que provocam aumento indevido do resultado tenham sido
detectados após o encerramento do período, o procedimento contábil a ser seguido pela
empresa será o seguinte:

a) Lançamento de ajuste a débito da conta "Ajustes de Exercícios Anteriores";


b) Transferência do valor do ajuste da conta "Ajustes de Exercícios Anteriores" para a
conta "Lucros ou Prejuízos Acumulados";
c) Diminuir do valor a ser retificado a parcela correspondente ao Imposto de Renda.

Exemplo:

Imaginemos que no ano-calendário de XXX1 a empresa, inadvertidamente, não efetuou


o registro contábil referente ao cancelamento de uma nota fiscal no valor de $
60.000,00, ocorrendo a sua regularização no período subsequente.

Os ajustes contábeis, no exemplo proposto, serão efetuados da seguinte forma:

D - Ajustes de Exercícios Anteriores - (Patrimônio Líquido)


60.000,00
C - Duplicatas a Receber - (Ativo Circulante)

Histórico: Valor relativo baixa da duplicata nº ..... referente a nota fiscal nº ..... de ........,
cancelada.

D - Lucros ou Prejuízos Acumulados - (Patrimônio Líquido)


60.000,00
C - Ajustes de Exercícios Anteriores - (Patrimônio Líquido)

Histórico: Transferência referente ajustes efetuados no período de XXX1:

D - Provisão para Imposto de Renda - (Passivo Circulante)


9.000,00
C - Lucros ou Prejuízos Acumulados - (Patrimônio Líquido)

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Histórico: Valor relativo Imposto de Renda calculado sobre o valor contido no resultado
do ano-calendário de XXX1 ($ 60.000,00 x 15%).

Caso não haja saldo na conta de provisão para Imposto de Renda, em virtude da
empresa já ter efetuado o pagamento do mesmo, o ajuste deverá ser efetuado, tendo
como contrapartida a conta de impostos a recuperar no Ativo Circulante.

6. Redução Indevida do Resultado na Escrituração Contábil

Por sua vez, os erros de natureza contábil que implicam redução indevida do resultado,
via de regra, são ocasionados por:

a) Registro em conta indevida referente ao recebimento de uma duplicata;


b) Subavaliação do estoque final de mercadorias, resultando em aumento excessivo do
CMV;
c) Inobservância do regime de competência na escrituração da receita, rendimento,
custo ou dedução;
d) Registro a débito em conta de resultado referente conserto de bens do ativo
imobilizado, que resulte em aumento da vida útil superior a um ano em relação a sua
(s) data (s) de aquisição;
e) Constituição da provisão para férias em desacordo com a legislação;
f) Constituição de outras provisões ou excesso em relação ao limite fiscal previsto na
legislação.

7. Procedimento Contábil para Regularização do Erro

Supondo-se que os erros que provocam a redução indevida do resultado tenham sido
detectados após o término do exercício, o procedimento contábil a ser seguido pela
empresa será o seguinte:

a) Lançamento de ajuste a crédito da conta "Ajustes de Exercícios Anteriores";


b) Transferência do valor do ajuste da conta "Ajustes de Exercícios Anteriores" para a
conta "Lucros ou Prejuízos Acumulados";
c) Diminuir do valor a ser retificado a parcela correspondente ao Imposto de Renda.

Exemplo:

Imaginemos que determinada empresa tenha desembolsado a importância de $


10.000,00 na reforma de um veículo e, em decorrência dessa reforma, houve um
aumento de vida útil superior a um ano.

O registro contábil foi feito erroneamente, da seguinte forma:

D - Despesas de Conservação de Veículos - (Resultado)


10.000,00
C - Fornecedores - (Passivo Circulante)

Histórico: Valor relativo nota fiscal nº .... de ......... da ............Ltda.

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No exercício seguinte, o erro foi detectado e o ajuste contábil foi procedido da seguinte
forma:

D - Veículos - (Ativo Permanente)


10.000,00
C - Ajustes de Exercícios Anteriores - (Patrimônio Líquido)

Histórico: Valor relativo nota fiscal nº .... de ....... da ........... Ltda. referente a reforma do
veículo marca.....tipo.....motor......

D - Ajustes de Exercícios Anteriores - (Patrimônio Líquido)


10.000,00
C - Lucros ou Prejuízos Acumulados - (Patrimônio Líquido)

Histórico: Transferência referente ajustes efetuados no ano-calendário de XXX1.

D - Lucros ou Prejuízos Acumulados - (Patrimônio Líquido)


1.500,00
C - Provisão para Imposto de Renda - (Passivo Circulante)

Histórico: Valor relativo a IR incluso no valor retificado ($ 10.000,00 x 15%)

Reversões de Reservas

Representa as alterações ocorridas nas contas que registram as reservas, mediante a


reversão de valores para a conta Lucros Acumulados, em virtude daqueles valores não
serem mais utilizados.

Lucro ou Prejuízo Líquido do Exercício

É o resultado líquido do ano apurado na Demonstração do Resultado do Exercício, cujo


valor é transferido para a conta de Lucros Acumulados.

Transferências Para Reservas

São as apropriações do lucro feitas para a constituição das reservas patrimoniais, tais
como: reserva legal, reserva estatutária, reserva de lucros a realizar, reserva para
contingências.

Substituição pela Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

De acordo com o § 2º do artigo 186 da Lei nº 6.404/76 a Demonstração de Lucros ou


Prejuízos Acumulados poderá ser incluída na demonstração das mutações do patrimônio
líquido, se elaborada e divulgada pela companhia, pois não inclui somente o movimento

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da conta de lucros ou prejuízos acumulados, mas também o de todas as demais contas


do patrimônio líquido.

3.5. Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos

A demonstração das origens e aplicações de recursos não é mais uma demonstração de


publicação obrigatória, pois fora substituída pela DFC, através da edição da Lei nº
11.638 de 28 de dezembro de 2007, no entanto foi obrigatória até o encerramento das
demonstrações em 31/12/2007. Ela indica a ideia de movimentação de recursos
financeiros e algumas empresas tendem a continuar utilizando-a internamente.

Segundo o TEIXEIRA, Paulo Henrique, em sua obra Fechamento de Balanço - Edição


Eletrônica Atualizável, 2005-2009 - Portal Tributário Editora, origens e aplicações de
recursos indica as modificações na posição financeira da companhia. Não se pode
considerar como tais os valores resultantes de ajustes por correção monetária e cambial,
receitas ou perdas derivadas de participações societárias avaliadas por equivalência
patrimonial, custos ou despesas comportadas no resultado sem que tenha havido
desembolso de caixa ou geração de direitos ou obrigações a curto prazo.

Em virtude das normas do artigo 188 da Lei das Sociedades por Ações não preverem
um número bastante amplo de ajustes do Resultado Líquido do Exercício de elementos
que não influenciam o Capital Circulante Líquido, exceto depreciação, amortização,
exaustão e variações nos resultados de exercícios futuros, muitas empresas têm
apresentado a DOAR de forma incorreta, afetando sua finalidade na análise financeira.

Forma de Apresentação

A demonstração das origens e aplicações de recursos indicará as modificações na


posição financeira da companhia, discriminando:

I - as origens dos recursos, agrupadas em:

a) Lucro do exercício, acrescido de depreciação, amortização ou exaustão e ajustado


pela variação nos resultados de exercícios futuros;
b) Realização do capital social e contribuições para reservas de capital;
c) Recursos de terceiros, originários do aumento do passivo exigível a longo prazo, da
redução do ativo realizável a longo prazo e da alienação de investimentos e direitos
do ativo imobilizado.

II - as aplicações de recursos agrupadas em:

a) Dividendos distribuídos;
b) Aquisição de direitos do ativo imobilizado;
c) Aumento do ativo realizável a longo prazo, dos investimentos e do ativo diferido
(vigente até 04.12.2008);
d) Redução do passivo exigível a longo prazo.

III - o excesso ou insuficiência das origens de recursos em relação às aplicações,


representando aumento ou redução do capital circulante líquido.

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IV - os saldos no início e no fim do exercício, do ativo circulante e passivo circulante, o


montante do capital circulante líquido e o seu aumento ou redução durante o exercício.

Origens de Recursos

As origens de recursos são representadas pelos aumentos no Capital Circulante Líquido,


e as mais comuns são:

a) Das próprias operações, quando as receitas (que geram ingressos de capital


circulante líquido) do exercício são maiores que as despesas, ou seja, resultam do
lucro líquido apurado exclusivamente das operações regulares da empresa. Assim,
se houver lucro, teremos uma origem de recursos, se houver prejuízo, teremos uma
aplicação de recursos.
b) Dos acionistas, pelos aumentos de capital integralizados pelos mesmos no exercício,
já que tais recursos aumentaram as disponibilidades da empresa e,
consequentemente, seu capital circulante líquido.
c) De terceiros, por empréstimos obtidos pela empresa, pagáveis a longo prazo, bem
como dos recursos oriundos da venda a terceiros de bens do Ativo Imobilizado, ou
de transformação de Realizável a Longo Prazo em Ativo Circulante.

Os empréstimos feitos e pagáveis a curto prazo, não são considerados como origem de
recursos para fins dessa demonstração, pois não alteram o Capital Circulante Líquido.
Nesse caso há um aumento de disponibilidades e, ao mesmo tempo, do Passivo
Circulante.

Enfatize-se que a depreciação, amortização ou exaustão, por representarem uma


recuperação de fundos, devem ser adicionadas ao lucro líquido apurado no exercício,
para efeito de elaboração da demonstração das origens e aplicações de recursos.

Aplicações de Recursos

As aplicações de recursos são representadas pela redução do Capital Circulante Líquido


entre o início e o término de determinado período.

As aplicações de recursos mais comuns que implicam na variação do Capital Circulante


Líquido são as seguintes:

a) Imobilizações

Ocorrendo a aquisição de bens para o Ativo Imobilizado, investimentos permanentes ou


aplicação de recursos no Ativo Diferido (vigente até 04.12.2008), tais fatos representam
aplicação de recursos e, consequentemente, refletem numa variação líquida negativa do
Capital Circulante Líquido.

b) Redução do passivo exigível a longo prazo

A amortização de empréstimos a longo prazo significa, em princípio, uma redução do


passivo exigível a longo prazo e, representa uma aplicação de recursos. Por outro lado, a
obtenção de um novo financiamento representa uma origem de recursos.

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Tendo em vista que o conceito de recursos é o de Capital Circulante Líquido, a mera


transferência de um saldo de empréstimo do Exigível a Longo Prazo para o Passivo
Circulante, por vencer no exercício seguinte, representa uma aplicação de recursos, pois
reduziu o Capital Circulante Líquido.

c) Remuneração de dividendos

A remuneração de acionistas, decorrente de dividendos, representa uma aplicação de


recursos, refletindo numa variação negativa do Capital Circulante Líquido.

Conceito de Capital Circulante Líquido

Na linguagem simplista, conceitua-se o Capital Circulante Líquido como sendo a


diferença entre o ativo circulante (disponível, contas a receber, estoques e despesas
pagas antecipadamente) e o passivo circulante (fornecedores, contas a pagar e outras
exigibilidades do exercício seguinte) em determinada data.

Capital Circulante Líquido = Ativo Circulante - Passivo Circulante

Quando o Ativo Circulante é maior do que o Passivo Circulante, tem-se um Capital


Circulante Líquido próprio.

Quando o Ativo Circulante é menor do que o Passivo Circulante, tem-se um Capital


Circulante Líquido negativo ou de terceiros.

Quando as operações consomem Capital Circulante Líquido, isso representa uma


aplicação e, como tal, deve ser apresentado na demonstração, no grupo de aplicações,
como o primeiro item do grupo.

Isso ocorre quando a empresa está operando com prejuízo. Entretanto, se a empresa está
com prejuízo, mas em decorrência dos ajustes citados, as operações próprias apresentam
uma origem de recursos (lucro), a apresentação do prejuízo e de seus ajustes deve ser no
agrupamento das origens.

No caso da empresa apresentar lucro, mas os ajustes evidenciarem uma aplicação de


recursos (prejuízo), a apresentação do lucro e seus ajustes deve ser no agrupamento de
aplicações.

Transações Que Não Afetam o Capital Circulante Líquido

Além das origens e aplicações relacionadas anteriormente, há inúmeros tipos de


transações efetuadas que não afetam o Capital Circulante Líquido, mas são
representadas como origens e aplicações simultaneamente, como por exemplo:

a) Aquisição de bens do Ativo Não Circulante (Investimentos ou Imobilizado)


pagáveis a Longo Prazo. Nesse caso, há uma aplicação pelo acréscimo do Ativo Não
Circulante e, ao mesmo tempo, uma origem pelo financiamento obtido pelo

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 39

acréscimo no Exigível a Longo Prazo no exercício, como se houvesse entrado um


recurso que fosse imediatamente aplicado.
b) Conversão de empréstimos de longo prazo em capital, caso em que há uma origem
pelo aumento do capital e, paralelamente, uma aplicação pela redução do Exigível a
Longo Prazo, como se houvesse ingresso de recurso de capital aplicado na
liquidação da dívida.
c) Integralização de Capital em bens do Ativo Imobilizado, situação também sem
efeito sobre o Capital Circulante Líquido, mas representada na origem (aumento de
capital) e na aplicação (bens do Ativo Imobilizado recebidos), como se houvesse
essa circulação do recurso.
d) Venda de bens do Ativo Imobilizado recebível a Longo Prazo, operação que
também deve ser demonstrada na origem, como se fosse recebido o valor da venda
e, na aplicação, como se houvesse o empréstimo sido feito para recebimento a longo
prazo.
e) Depreciação, amortização e exaustão, tais valores lançados como despesa do
exercício, diminuem o resultado, mas não reduzem o capital circulante líquido;
representam redução no Ativo Não Circulante e redução no Patrimônio Líquido,
mas não alteram os valores de Ativo e Passivo Circulantes. Desta forma, o valor
desses itens registrados no ano deve ser adicionado ao lucro líquido para apuração
do valor efetivo dos recursos gerados pelas próprias operações.
f) Variação nos resultados de exercícios futuros, representa lucros que, pelo regime de
competência, pertencem a exercícios futuros, porém, já afetaram o CCL, ou seja, se
o saldo de Resultados de Exercícios Futuros tem um aumento no exercício, significa
que a empresa já o recebeu, aumentando o CCL, mas sem que o tenha registrado
como receita. Assim, como se trata de recebimento originário pelas operações da
empresa, deve ser agregado ao resultado do exercício. Se houver redução do saldo
desse grupo, deve ser diminuído do lucro líquido.
g) Lucro ou prejuízo registrado pelo método da equivalência patrimonial para
investimentos em coligadas ou controladas, esse resultado, que afeta o lucro da
investidora, não afeta o seu capital circulante líquido. Por isso, na apuração da
origem de recursos das operações, esse valor deve ser diminuído do lucro líquido, se
for receita; ou a ele acrescentado, se for despesa.
h) Ajustes de exercícios anteriores: esses ajustes são registrados diretamente na conta
de Lucros ou Prejuízos Acumulados, não afetando, portanto, o lucro líquido do ano.
Neste caso, os ajustes são efetuados nos saldos iniciais do balanço, nas contas a que
se refere, como se já houvesse sido registrado nos anos anteriores, assim sendo, as
origens e aplicações de recursos do ano já ficarão expurgadas desse efeito.
i) Variações monetárias de dívidas de longo prazo: essas despesas afetam o lucro mas,
por reduzirem o Patrimônio Líquido e aumentarem o Exigível a Longo Prazo, não
alteram o capital circulante líquido. Devem, por isso, também ser adicionadas ao
lucro líquido do exercício.

Tratamento Aplicável no Caso de Prejuízo

As considerações acima foram feitas na situação em que as operações geram recursos,


partindo do pressuposto de lucro líquido no exercício. Entretanto, se a situação é
inversa, ou seja, quando as operações consomem capital circulante líquido, isso
representa uma aplicação e, como tal, deve ser apresentado na demonstração, no grupo
de aplicações, como o primeiro item do grupo. Isso ocorre quando a empresa está
operando com prejuízo. Entretanto, se a empresa está com prejuízo, mas em decorrência

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 40

dos ajustes citados, as operações próprias apresentam uma origem de recursos (lucro), a
apresentação do prejuízo e de seus ajustes deve ser no agrupamento das origens.

No caso da empresa apresentar lucro, mas os ajustes evidenciarem uma aplicação de


recursos (prejuízo), a apresentação do lucro e seus ajustes devem ser no agrupamento de
aplicações.

Modelo do Demonstrativo

Devemos ressaltar que esse modelo, não deve inibir a apresentação de demonstração
mais detalhada e melhor adaptada ao segmento de negócio da empresa. Caso a empresa
julgue necessária, poderá apresentar essas informações também em notas explicativas às
demonstrações contábeis.

Descrição Valor - $
1. Origens de Recursos
Das Operações
Lucro Líquido do Exercício
(+) Depreciação, Amortização e Exaustão
(+) Variações Monetárias de Empréstimos a Longo Prazo
(+) Perda por Equivalência Patrimonial
(+) Prejuízo na Venda de Bens do Ativo Permanente
(+) Recebimentos no Período Classificados como REF
(-) Ganhos por Equivalência Patrimonial
(-) Lucro na Venda de Bens do Ativo Permanente
(-) Transferência de REF para o Resultado do Exercício
(±) Outras Despesas e Receitas que não afetam o CCL
Dos Proprietários
(+) Realização do Capital Social
De Terceiros
(+) Redução do Ativo Realizável a Longo Prazo
(+) Valor de alienação de Bens do Ativo Permanente
(+) Aumento do Passivo Exigível a Longo Prazo
2. Aplicações de Recursos
Dividendos Pagos, Creditados ou Propostos
Aumento do Ativo Realizável a Longo Prazo
Aquisição de Bens do Ativo Permanente
Redução do Passivo Exigível a Longo Prazo
3. Variação do Capital Circulante Líquido

Após o encerramento do demonstrativo é feita uma conferência simples através dos


elementos patrimoniais circulantes, sendo que o valor da variação apontada na DOAR
deve ser exatamente igual à variação apurada na tabela de conferência:

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 41

Elementos Início Fim Variação


+ Ativo Circulante 0,00 0,00 0,00
- Passivo Circulante 0,00 0,00 0,00
= Capital Circulante Líquido 0,00 0,00 0,00

3.6. Demonstração dos Fluxos de Caixa

A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), ao contrário da DOAR, passou a ser um


relatório obrigatório pela contabilidade para todas as sociedades de capital aberto ou
com patrimônio líquido superior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Esta
obrigatoriedade vigora desde a publicação da Lei nº 11.638 de 28/12/2007 e desta forma
torna-se mais um importante relatório para a tomada de decisões gerenciais.

De forma condensada, esta demonstração indica a origem de todo o dinheiro que entrou
no caixa em determinado período e, ainda, o Resultado do Fluxo Financeiro. Assim
como a Demonstração de Resultados de Exercícios, a DFC é uma demonstração
dinâmica e também está contida no balanço patrimonial.

A Demonstração dos Fluxos de Caixa irá indicar quais foram às saídas e entradas de
dinheiro no caixa durante o período e o resultado desse fluxo.

As Principais Transações que Afetam o Caixa

A seguir, relacionaremos em dois grupos as principais transações que afetam o caixa.

a) Transações que Aumentam o Caixa (Disponível)

 - Integralização do Capital pelos proprietários em dinheiro;


 - Empréstimos bancários e financiamentos oriundos das instituições financeiras;
 - Vendas de Ativos Permanentes;
 - Outras entradas (juros recebidos, indenizações de seguros, etc.).

b) Transações que Diminuem o Caixa (Disponível)

 - Pagamento de dividendos aos acionistas;


 - Pagamento de juros, correção monetária de dívidas;
 - Aquisição de itens do Ativo Não Circulante;
 - Compra à vista e pagamento de fornecedores;
 - Pagamentos de despesas/custo, contas a pagar e outros.

c) Transações Que Não Afetam o Caixa

Dentre as transações realizadas pela empresa, algumas não afetam o caixa, isto é, não há
encaixe e nem desencaixe de dinheiro, como por exemplo: - Depreciação, amortização e
exaustão; - Provisão para devedores duvidosos; - Correção monetária de balanço; -

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 42

Acréscimo ou diminuições de investimentos avaliados pelo método de equivalência


patrimonial, sem significar que houve vendas ou novas aquisições.

Apresentação do Relatório de Fluxo de Caixa

Seguindo as tendências internacionais, o fluxo de caixa pode ser incorporado às


demonstrações contábeis tradicionalmente publicadas pelas empresas. Basicamente, o
relatório de fluxo de caixa deve ser segmentado em três grandes áreas:

I - Atividades Operacionais;

II - Atividades de Investimento;

III - Atividades de Financiamento.

As Atividades Operacionais são explicadas pelas receitas e gastos decorrentes da


industrialização, comercialização ou prestação de serviços da empresa. Estas atividades
têm ligação com o capital circulante líquido da empresa.

As Atividades de Investimento são os gastos efetuados no Realizável a Longo Prazo ou


no Ativo Imobilizado, bem como as entradas por venda de ativos imobilizados.

As Atividades de Financiamento são os recursos obtidos do Passivo não circulante e do


Patrimônio Líquido. Devem ser incluídos aqui os empréstimos e financiamentos de
curto prazo. As saídas correspondem à amortização destas dívidas e os valores pagos
aos acionistas a título de dividendos, distribuição de lucros.

Montagem do Fluxo de Caixa

a) Método Direto

Pelo Método Direto a empresa fará o confronto direto entre as contas da Demonstração
de Resultado e as contas do Balanço Patrimonial, detalhando as entradas e saídas de
caixa.

Agora é só uma questão de ordenamento das entradas e saídas de caixa, conforme a


estrutura internacional pelo Método Direto. Para os ingressos de recursos, considerar os
valores positivos, para as saídas, negativos.

A seguir mostraremos um modelo simplificado de DFC pelo método direto, baseado no


modelo FAS 95, ou seja, fazendo uma segregação dos tipos de atividades:

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Descrição Valor - $
1. Das Atividades Operacionais
(+) Recebimentos de Clientes e outros
(-) Pagamentos a Fornecedores
(-) Pagamentos a Funcionários
(-) Recolhimentos ao Governo
(-) Pagamentos a Credores Diversos
2. Das Atividades de Investimentos
(+) Recebimento de Venda de Imobilizado
(-) Aquisição de Ativo Permanente
(+) Recebimento de Dividendos
3. Das Atividades de Financiamentos
(+) Novos Empréstimos
(-) Amortização de Empréstimos
(+) Emissão de Debêntures
(+) Integralização de Capital
(-) Pagamento de Dividendos
4. Aumento/Diminuição Nas Disponibilidades

b) Método Indireto

O Método Indireto é aquele pelo qual os recursos provenientes das atividades


operacionais são demonstrados a partir do lucro líquido, ajustado pelos itens
considerados na contas de resultado, porém sem afetar o caixa da empresa. O Método
Indireto é feito com base nos ajustes do lucro líquido do exercício que se encontra na
Demonstração de Resultado.

Primeiro passo: Os itens operacionais que não usaram dinheiro, mas foram deduzidos
como despesas devem ser acrescentados de volta ao lucro do exercício. Exemplo:
depreciação.

Segundo passo: As alterações ocorridas no Capital Circulante Líquido (AC e PC)


também devem ser ajustadas, porque estão relacionadas com as atividades operacionais.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 44

Descrição Valor - $
1. Fluxo de Caixa Operacional Líquido
Lucro Líquido
(-) Aumento de Estoques
(+) Depreciação
(-) Aumento de Clientes
(+) Pagamento a Funcionários
(+) Contas a Pagar
(+) Pagamentos de Impostos e Tributos
(+) Aumentos de Fornecedores
2. Das Atividades de Investimentos
(+) Recebimento de Venda de Imobilizado
(-) Aquisição de Ativo Permanente
(+) Recebimento de Dividendos
3. Das Atividades de Financiamentos
(+) Novos Empréstimos
(-) Amortização de Empréstimos
(+) Emissão de Debêntures
(+) Integralização de Capital
(-) Pagamento de Dividendos
4. Aumento/Diminuição Nas Disponibilidades

Quando há um aumento nos ativos circulantes (estoques, contas a receber), o raciocínio


é que foi usado dinheiro do caixa, para comprar estoques ou conceder crédito a clientes.
De maneira inversa, se os estoques ou clientes diminuírem é porque a empresa está
tendo receita ou recebimento de clientes.

Os aumentos do AC usam caixa, as diminuições produzem caixa.

Os aumentos do Passivo Circulante têm o efeito oposto sobre o caixa. Quando os


fornecedores concedem créditos, o caixa é liberado para outras atividades. Quando a
empresa diminui a conta de fornecedores, é que ela está usando caixa para solver
compromissos.

Os aumentos do PC produzem caixa, as diminuições usam caixa.

Todos estes ajustes fazem parte das atividades operacionais. As demais atividades de
investimento e de financiamento serão elaboradas nos mesmos moldes do Método
Direto, usando-se para tanto os dados do Balanço Patrimonial.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 45

Conclusão

A demonstração é uma ferramenta que permite ao administrador financeiro melhorar o


planejamento financeiro da empresa, conseguindo, com isso, que o Caixa fique livre de
excessos e que a empresa conheça antecipadamente as suas necessidades de dinheiro.

Dessa maneira, deverá sempre ser comparada com o efetivo desempenho de Caixa da
empresa para poder alcançar toda a sua utilidade nas previsões orçamentárias e de
investimentos, assim como ser aperfeiçoada para tornar-se cada vez mais objetiva e
próxima da realidade.

3.7. Demonstração do Valor Adicionado

Outra demonstração de publicação obrigatória para as sociedades de capital aberto, por


força da Lei nº 11.638 de 28/12/2007. A riqueza gerada pela empresa, medida no
conceito de valor adicionado é calculada a partir da diferença entre o valor de sua
produção e o dos bens produzidos por terceiros utilizados no processo de produção da
empresa.

A atual e a potencial aplicação do valor adicionado mostram o aspecto econômico e


social que o seu conceito envolve: (a) como índice de avaliação do desempenho na
geração da riqueza, ao medir a eficiência da empresa na utilização dos fatores de
produção, comparando o valor das saídas com o valor das entradas, e (b) como índice de
avaliação do desempenho social à medida que demonstra, na distribuição da riqueza
gerada, a participação dos empregados, do Governo, dos Agentes Financiadores e dos
Acionistas.

O valor adicionado demonstra, ainda, a efetiva contribuição da empresa, dentro de uma


visão global de desempenho, para a geração de riqueza da economia na qual está
inserida, sendo resultado do esforço conjugado de todos os seus fatores de produção.

O Valor Adicionado constitui-se da receita de venda deduzida dos custos dos recursos
adquiridos de terceiros. É, portanto, o quanto a entidade contribuiu para a formação do
Produto Interno Bruto (PIB) do país.

A Demonstração do Valor Adicionado, que também pode integrar o Balanço Social,


constitui desse modo, uma importante fonte de informações à medida que apresenta esse
conjunto de elementos que permitem a análise do desempenho econômico da empresa,
evidenciando a geração de riqueza, assim como dos efeitos sociais produzidos pela
distribuição dessa riqueza.

Desde 1992, a CVM tem apoiado e estimulado a divulgação da DVA, por meio do
Parecer de Orientação CVM nº 24/92. No Ofício Circular CVM/SNC/SEP/ no 01/00, a
CVM sugeriu a utilização de modelo elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisa
Contábeis, Atuariais e Financeiras da USP (FIPECAFI).

Considerando a obrigatoriedade que as companhias abertas têm na divulgação desta


demonstração e objetivando orientar e incentivar as demais empresas que ainda não são
obrigadas e por isso não aderiram a ela é que apresentamos um modelo simplificado de
Demonstração do Valor Adicionado com instruções para o seu preenchimento.

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Modelo do Demonstrativo

Devemos ressaltar que esse modelo não deve inibir a apresentação de demonstração
mais detalhada e melhor adaptada ao segmento de negócio da empresa. Caso a empresa
julgue necessária, poderá apresentar essas informações em notas explicativas às
demonstrações contábeis.

Descrição Valor - $
1. Receitas
1.1. Vendas de mercadorias, produtos e serviços
1.2. Provisão para Credito de Liquidação Duvidosa
1.3. Não Operacionais
2. Insumos Adquiridos de Terceiros
2.1. Materias Primas Consumidas
2.2. Custo da Mercadoria e dos Serviços
2.3. Materiais, Energia, Serviço de Terceiros e Outros
2.4. Perda / Recuperação de Valores Ativos
3. Valor Adicionado Bruto (1-2)
4. Retenções
4.1. Depreciação, Amortização e Exeustão
5. Valor Adicionado Líquido Produzido (3-4)
6. Valor Recebido em Transferência
6.1. Resultado de Equivalência Patrimonial
6.2. Receitas Financeiras
7. Valor Adicionado Total a Distribuir (5+6)
8. Distribuição do Valor Adicionado
8.1. Pessoal e Encargos
8.2. Impostos Taxas e Contribuições
8.3. Juros e Aluguéis
8.4. Juros sobre o Capital Próprio e Dividendos
8.5. Lucros Retidos / Prejuízo do Exercício
Obs: O valor apurado a distribuir (item 7), deve ser totalmente distribuido (item 8).

Pode-se verificar a utilização do critério de cálculo do valor adicionado com base nas
vendas, o que torna mais simples a elaboração da DVA e mais fácil seu entendimento,
uma vez que, assim, o valor adicionado fica relacionado com os princípios contábeis
utilizados nas demonstrações contábeis tradicionais, possibilitando sua conciliação com
a demonstração do resultado. Parte-se, desse modo, das receitas brutas e subtrai-se o
valor dos bens adquiridos de terceiros que foi incorporado ao produto final alienado ou
serviço prestado, para que se conheça o valor efetivamente gerado pela companhia.
Deve-se destacar, ainda, que a depreciação de ativos avaliados pelo custo de aquisição
deve ser subtraída do valor adicionado bruto para se calcular o valor adicionado líquido,
não devendo ser classificados tais valores como retenções do lucro do período.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 47

4. Relatórios e Informações Auxiliares

4.1. Relatório da Administração

De acordo com a Lei 6.404/76, o relatório da administração deve ser publicado


juntamente com as demonstrações financeiras do encerramento do exercício social, mas
de maneira geral os relatórios de administração não têm sido apresentados na forma
mais adequada e com suficiente divulgação.

Em razão disso, a CVM pronunciou-se através do Parecer da Orientação nº 15 de


28.12.87, recomendando que este relatório contenha informações sobre:

a) Aquisição de debêntures de sua própria emissão (art. 55, § 2º da Lei 6.404/76);


b) Política de reinvestimento de lucros e distribuição de dividendos constantes de
acordo de acionistas (art. 118, § 5º da Lei 6.404/76);
c) Negócios sociais e principais fatos administrativos ocorridos no exercício (art. 133,
inciso I da Lei 6.404/76);
d) Relação dos investimentos em sociedades coligadas e/ou controladas evidenciando
as modificações ocorridas durante o exercício (art. 243 da Lei 6.404/76).

Desde o advento da Lei nº 6.404/76, a CVM vem examinando o conteúdo dos relatórios
apresentados anualmente pelas companhias abertas, e tem sido expressivo o número de
empresas que o apresentam de modo sucinto utilizando diversas justificativas, dentre as
quais a de que os informes necessários para análise de todos os aspectos, estão contidos
nas notas explicativas.

Este procedimento, além de infringir a lei, não é compatível com a postura que se espera
de uma companhia aberta, acarretando a perda de uma valiosa oportunidade da
companhia ser mais bem conhecida e avaliada pelo público investidor, por seus clientes,
fornecedores e credores.

Outro ponto que deve ser observado na confecção dos relatórios diz respeito ao
conteúdo. Não é válida a simples apresentação de percentuais que podem ser obtidos
por qualquer leitor das demonstrações financeiras, visto que as informações realmente
relevantes ao usuário são os comentários e apreciações dos fatores que influenciaram as
variações ocorridas.

Somente neste exercício foi determinada a republicação de centenas de relatórios por


não atenderem o mínimo requerido pelas disposições legais. Na maior parte desses
relatórios os administradores se limitaram tão somente a apresentar as demonstrações
financeiras agradecendo a colaboração de funcionários, credores, etc. e se colocando à
disposição dos acionistas para maiores esclarecimentos. Outros relatórios apresentavam
informações incompletas ou não condizentes com as demonstrações publicadas.

A divulgação de informações úteis, fidedignas e detalhadas, que possibilitem o


conhecimento da companhia e de seus objetivos e políticas, é um direito essencial do
acionista. O relatório da administração não pode ser excluído dessa premissa, assim,
tanto a falta de informações quanto a inclusão de estudos e fatos genéricos que não

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 48

dizem respeito à situação particular da companhia constituem desatendimento ao


interesse e ao direito do investidor.

O relatório, como peça integrante das demonstrações financeiras, deverá complementar


as peças contábeis e notas explicativas, observadas a devida coerência com a situação
nelas espelhada, formando um quadro completo das posturas e do desempenho da
administração na gestão e utilização dos recursos que se encontram a ela confiados.

Deve ser redigido com simplicidade de linguagem para ser acessível ao maior número
possível de leitores, devendo ser evitados adjetivos e frases tais como "excelente
resultado", "ótimo desempenho", "baixo endividamento", "excelentes perspectivas", a
menos que corroborado por dados comparativos ou fatos.

A complexidade crescente dos negócios e a instabilidade do ambiente econômico e o


seu reflexo inevitável na vida das companhias, exige uma postura cada vez mais
profissional das administrações e o relatório pode e deve se transformar num valioso
elemento de comunicação entre a companhia, seus acionistas e a comunidade em que
está inserida.

A Lei nº 6.385 de 07.12.76, dá competência à CVM para estabelecer normas sobre o


relatório da administração. Com base nessa competência está sendo estudado, e deverá
ser emitido parecer de orientação específico contemplando as informações mínimas a
serem divulgadas no relatório. Entretanto, é requerido, no mínimo, a apresentação das
informações determinadas pela Lei das Sociedades por Ações.

A título de recomendação e exemplo, apresentamos a seguir relação dos itens que


constituem informações que atendem às linhas gerais e que já foram apresentadas por
muitas companhias no Brasil (e comumente em alguns outros países):

a) Descrição dos negócios, produtos e serviços: histórico das vendas físicas dos
últimos dois anos e vendas em moeda de poder aquisitivo da data do encerramento
do exercício social. Algumas empresas apresentam descrição e análise por segmento
ou linha de produto, quando relevantes para a sua compreensão e avaliação.
b) Comentários sobre a conjuntura econômica geral: concorrência nos mercados, atos
governamentais e outros fatores exógenos relevantes sobre o desempenho da
companhia.
c) Recursos humanos: número de empregados no término dos dois últimos exercícios e
"turnover" nos dois últimos anos, segmentação da mão de obra segundo a
localização geográfica; nível educacional ou produto; investimento em treinamento;
fundos de seguridade e outros planos sociais.
d) Investimentos: descrição dos principais investimentos realizados, objetivo,
montantes e origens dos recursos alocados.
e) Pesquisa e desenvolvimento: descrição sucinta dos projetos, recursos alocados,
montantes aplicados e situação dos projetos.
f) Novos produtos e serviços: descrição de novos produtos, serviços e expectativas a
eles relativas.
g) Proteção ao meio-ambiente: descrição e objetivo dos investimentos efetuados e
montantes aplicados.
h) Reformulações administrativas: descrição das mudanças administrativas,
reorganizações societárias e programas de racionalização.

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i) Investimentos em controladas e coligadas: indicação dos investimentos efetuados e


objetivos pretendidos com as inversões.
j) Direitos dos acionistas e dados de mercado: políticas relativas à distribuição de
direitos, desdobramentos e grupamentos; valor patrimonial das por ação, negociação
e cotação das ações em Bolsa de Valores.
k) Perspectivas e planos para o exercício em curso e os futuros: poderá ser divulgada a
expectativa da administração quanto ao exercício corrente, baseada em premissas e
fundamentos explicitamente colocados, sendo que esta informação não se confunde
com projeções por não ser quantificada.

Em se tratando de companhia de participações, o relatório deve contemplar as


informações acima mencionadas, mesmo que de forma mais sintética, relativas às
empresas investidas.

Convém observar que essas são apenas sugestões coletadas em publicações diversas e
de grande importância, mas elas não devem inibir a criatividade da administração em
elaborar um relatório próprio e personalizado.

4.2. Notas Explicativas

As Notas explicativas - (NE) contêm informação adicional em relação à apresentada nas


demonstrações contábeis, elas oferecem descrições narrativas ou segregações e
aberturas de itens divulgados nessas demonstrações e informação acerca de itens que
não se enquadram nos critérios de reconhecimento nas demonstrações contábeis,
portanto são necessárias e úteis para melhor entendimento e análise das demonstrações
contábeis, ou seja, aplicáveis em todos os casos que forem pertinentes.

A Resolução do CFC 1.185/09 - NBC TG 26 que trata da apresentação das


demonstrações faz menção a forma de como se fazer e estruturar as referidas Notas
Explicativas.

Com base na legislação contábil e profissional vigente e de acordo com os novos


entendimentos do próprio CFC, podemos afirmar que desde a implantação do IFRS no
Brasil, não existe mais Demonstrações Contábeis que não devam ser complementadas
por Notas Explicativas, que passam a ser de elaboração obrigatória para todas as
entidades, independentemente de porte, atividade ou forma de tributação.

As notas explicativas são normalmente apresentadas na seguinte ordem, que ajuda os


usuários no entendimento das demonstrações contábeis e na comparação com as de
outras entidades:

a) Contexto operacional;
b) Declaração quanto à base de preparação das demonstrações contábeis;
c) Menção das bases de avaliação de ativos e passivos e práticas contábeis aplicadas;
d) Informações adicionais para itens apresentados nas demonstrações contábeis,
divulgadas na mesma ordem.
e) Outras divulgações, incluindo:
 Contingências e outras divulgações de caráter financeiro; e
 Divulgações não financeiras, tais como riscos financeiros da entidade, as
correspondentes políticas e objetivos da administração, que não se confundam

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 50

com as informações a divulgar no relatório da administração, incluindo, mas não


se limitando, a políticas de proteção cambial ou de mercado, hedge etc.

Em algumas circunstâncias, pode ser necessário ou desejável modificar a sequencia de


itens específicos dentro das notas explicativas. Por exemplo, informações sobre taxas de
juros e ajustes a valor de mercado podem ser combinadas com informações sobre
vencimento de instrumentos financeiros apesar de os primeiros serem divulgações de
demonstração do resultado e os últimos referirem-se ao balanço. Não obstante, uma
estrutura sistemática para as notas explicativas deve ser mantida sempre que praticável.

Nota sobre Operações

A nota explicativa inicial que geralmente inicia a lista das notas trata das operações ou
do contexto operacional e declara o objetivo social da empresa. O objetivo declarado
nas notas deve manter coerência com os objetivos declarados no estatuto social da
empresa, que estabelece a relação contratual entre os acionistas e é o principal
documento sobre as regras de governança da sociedade. A nota sobre o contexto
operacional deve incluir aspectos que sejam relevantes sobre a continuidade normal dos
negócios e da utilização da capacidade de produção e/ou prestação de serviços.

Critérios de Avaliação

Deverão ser divulgados os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais,


especialmente dos estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de
constituição de provisões para encargos ou riscos e dos ajustes para atender a perdas
prováveis na realização de elementos do ativo.

A nota explicativa sobre as principais práticas contábeis tem evoluído ao longo do


tempo e o seu objetivo é informar sobre a escolha de políticas e práticas contábeis feita
pela empresa. Essa divulgação permite que se possa depreender sobre a influência
dessas práticas sobre os números apresentados pela empresa e tem grande importância
na inferência sobre a sua situação patrimonial, ou seja, a situação do balanço
patrimonial, da posição financeira e dos resultados das operações. Essa nota deve
também divulgar os critérios contábeis de transações típicas da indústria, na medida em
que esses critérios são específicos e podem variar de um tipo de indústria para outro.

Diferenças entre os Procedimentos Nacionais e Internacionais

Considerando a referência internacional alcançada pelo IASB (IFRS/IAS) e o


compromisso e o esforço dos órgãos reguladores e emissores de normas de buscar a
convergência com as mesmas, recomenda-se que as companhias abertas divulguem em
nota explicativa a conciliação das diferenças entre as práticas contábeis adotadas no
Brasil e as práticas contábeis internacionais. Entretanto, não existe impedimento para
que seja preparada em relação às normas contábeis de outros países em que a
companhia aberta divulgue, obrigatoriamente, ao mercado suas demonstrações
contábeis, em função da obtenção de registro para negociação dos títulos de sua
emissão.

Ao decidir pela divulgação da conciliação, a administração da entidade deverá observar


o quão equivalentes são essas práticas. As demonstrações contábeis preparadas

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conforme uma determinada prática contábil, podem ser consideradas equivalentes às


preparadas de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil quando ambas as
análises, de ambos os conjuntos de demonstrações, possibilitarem aos investidores
decisão similar em termos de investimento ou alienação de investimento anteriormente
detido. Se as práticas contábeis de ambos os conjuntos forem equivalentes e, portanto,
não indicarem a falta de similaridade nas decisões do investidor, não haverá necessidade
de inclusão de nota explicativa, conciliação ou reclassificações de números. A questão
surge, então, se os princípios e/ou as práticas não forem equivalentes e, portanto,
indicarem falta de similaridade nas decisões do investidor.

Neste último caso, a apresentação da conciliação das diferenças entre as práticas


contábeis adotadas no Brasil e outras práticas contábeis deve ser quantitativa e
qualitativa. Assim, a divulgação da conciliação requer a preparação e a divulgação, no
mínimo, das seguintes informações:

a) Conciliação entre os lucros (prejuízos) líquidos do período e/ou exercício;


b) Conciliação entre os patrimônios líquidos na data do balanço;
c) Explicação da natureza dos principais itens de conciliação.

Em determinados casos, é possível que as divergências sejam de tal magnitude que


apenas a preparação de novas demonstrações contábeis segundo outro conjunto de
princípios contábeis que não os prevalentes no Brasil seja a solução. Em outros casos,
poderão existir algumas instâncias de parcial equivalência que podem ser resolvidas ou
remediadas, dependendo da natureza das divergências. Essas divergências podem
incluir divulgações adicionais, reconciliações etc. Esse julgamento deverá ser feito pela
administração e anuído pelos auditores independentes da companhia aberta, e deverá
estar apoiado em procedimentos aceitos por órgãos reguladores e emissores de normas
contábeis.

Diante do exposto, verifica-se que existe uma extensa gama de informações que devem
constar de Notas Explicativas e que precisam, portanto, ser cuidadosamente analisadas
por ocasião da elaboração das demonstrações financeiras; é necessário verificar que
tipos de informações devem constar dessas notas, não se restringindo apenas aos
requisitos mínimos da Lei das S/A, mas considerando ainda informações
complementares necessárias a um melhor esclarecimento da posição patrimonial e
financeira e dos resultados das operações da empresa, particularmente no que se refere à
práticas contábeis específicas no ramo de atividades da empresa.

4.3. Parecer de Auditoria

O parecer dos Auditores Independentes é o documento mediante o qual o auditor


expressa sua opinião de forma clara e objetiva, sobre as demonstrações contábeis quanto
ao adequado atendimento, ou não, a todos os aspectos relevantes.

O parecer emitido pelo auditor independente compõe-se basicamente, de três


parágrafos, como se segue:

a) Parágrafo referente à identificação das demonstrações contábeis e à definição das


responsabilidades da administração e dos auditores;
b) Parágrafo referente à extensão dos trabalhos;

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 52

c) Parágrafo referente à opinião sobre as demonstrações contábeis.

O parecer deve expressar, claramente, a opinião do auditor sobre se as demonstrações


contábeis da entidade representam, em todos os aspectos relevantes:

a) Sua posição patrimonial e financeira;


b) O resultado de suas operações para o período a que correspondem;
c) As mutações de seu patrimônio líquido para o período a que correspondem;
d) As origens e aplicações de recursos para o período a que correspondem.

O auditor deve ter como base e fazer referência aos Princípios Fundamentais de
Contabilidade como definidos e aceitos em nosso país.

O auditor deve, no seu parecer, declarar se o exame foi efetuado de acordo com as
normas de auditoria. Normas de auditoria significam aquelas emitidas ou aprovadas
pelo Conselho Federal de Contabilidade. Na ausência de disposições específicas,
prevalecem as normas já consagradas pela Profissão Contábil, formalizadas ou não
pelos seus organismos próprios.

O parecer deverá, ainda, conter a descrição concisa dos trabalhos executados pelo
auditor, compreendendo: planejamento dos trabalhos; avaliação do sistema contábil e de
controles internos da entidade; execução dos exames com base em testes; avaliação das
práticas e das estimativas contábeis adotadas, bem como da apresentação das
demonstrações contábeis tomadas em conjunto.

O parecer deve ser datado, visando informar ao leitor que o auditor considerou o efeito,
sobre as demonstrações contábeis e sobre seu parecer, de eventos ou transações da
entidade, dos quais ele teve conhecimento, ocorridos entre a data de encerramento do
período a que se referem às demonstrações contábeis e a data do parecer.

Tipos de Parecer

O parecer sem ressalva é emitido quando o auditor está convencido sobre todos os
aspectos relevantes dos assuntos tratados no âmbito de auditoria, O parecer do auditor
independente deve expressar essa convicção de forma clara e objetiva.

O parecer com ressalva é emitido quando o auditor conclui que o efeito de qualquer
discordância ou restrição na extensão de um trabalho não é de tal magnitude que
requeira parecer adverso ou abstenção de opinião.

O auditor dever emitir parecer adverso quando verificar que as demonstrações contábeis
estão incorretas ou incompletas, em tal magnitude que impossibilite a emissão do
parecer com ressalva.

O parecer com abstenção de opinião é emitido quando houver limitação significativa na


extensão de seus exames que impossibilitem o auditor expressar opinião sobre as
demonstrações contábeis por não ter obtido comprovação suficiente para fundamentá-la.

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5. Preparando-se Para a Análise

Cada empresa tem as suas peculiaridades próprias, o que leva o analista a partir de
processos ou aspectos gerais no seu trabalho, tendo-se a cautela em considerar:

a) A natureza jurídica da organização (S/A., LTDA., etc.);


b) O ramo de negócio da empresa;
c) A dimensão e alcance da empresa;
d) As condições de giro do negócio;
e) O processo de formação do resultado;
f) As condições legais (leis que atingem para restringir ou incrementar as atividades);
g) As condições econômicas (conjunturas gerais dos negócios);
h) A localização da empresa (mercado no qual atua).

5.1. Utilização da Análise Econômico-Financeira

Antes de detalharmos o processo para a realização da análise das demonstrações


contábeis e financeiras, gostaria de esquematizar a utilização da análise econômico-
financeira, para facilitar o entendimento e sua real aplicabilidade, conforme segue:

Caracterização da Análise
Econômico-Financeira

Conhecimento da Situação
Exame dos Dados e
Julgamento da Realidade

Verificar a Capacidade Situação


de Solvência Financeira

Indicadores da Análise Conhecer a Estrutura Situação


Econômico-Financeira Patrimonial Patrimonial

Apontar o Potencial de Situação


Geraçaõ de Lucros Econômica

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5.2. Tipos de Análise Contábil

No que se refere ao tipo de análise, ela poderá se classificada da seguinte forma:

Análise por série temporal


É aquela desenvolvida com a finalidade de mapear ou acompanhar a evolução de
determinado elemento patrimonial ou de resultado da empresa em determinados
períodos de tempo, isto é, pode avaliar a evolução, por exemplo, das vendas líquidas em
três, quatro ou mais exercícios sociais.

Análise comparativa
É aquela desenvolvida com a finalidade de estabelecer comparações dos índices ou
elementos apresentados pela empresa com dados históricos, orçamentos e outros da
mesma natureza, visando a definição de um juízo de valor.

5.3. Processos e Métodos de Análise Contábil

Processos de análise são as técnicas, materializadas por procedimentos e cálculos, com a


utilização de papéis de trabalho, adotados pelo analista para desenvolver os vários tipos
de análise, podendo ser:

Análise vertical (De estrutura) é o processo onde é analisada a estrutura de composição


de um grupo ou subgrupo de determinados elementos patrimoniais ou de resultado em
determinado período, calculando a participação de cada elemento em relação ao todo,
como por exemplo, a participação percentual dos estoques em relação ao ativo total ou
ao grupo do circulante, ou do lucro operacional bruto em comparação com o valor das
vendas líquidas;

Análise horizontal (De evolução), é o processo desenvolvido com a finalidade de


calcular a variação de um ou mais elementos em determinados períodos, buscando
estabelecer tendências, se houve crescimento real ou não desse elemento, como por
exemplo, as vendas do exercício cresceram, em termos reais, X% em relação ao ano
anterior;

Análise por quociente, é o processo implementado para calcular a relação numérica


entre dois elementos patrimoniais ou de resultado, como exemplo, o valor do ativo
circulante representa 2,50 em relação ao valor do passivo circulante do mesmo período.
Métodos de análise são as formas de decompor ou calcular os resultados dentro dos
processos de análise, permitindo a formação de avaliações parciais e globais sobre o
patrimônio, os seus resultados e tendências, podendo ser:

Valores diretos, é o método das diferenças absolutas, sem se preocupar com eventuais
variações decorrentes de índices inflacionários;

Valores percentuais, é o método dos coeficientes, encontrados mediante a divisão do


percentual encontrado por 100;

Quocientes, é o método dos índices financeiros, que demonstra a relação numérica entre
dois elementos;

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Matricial, é método pelo qual se busca estabelecer uma correspondência ou vinculação


entre os elementos ativos, aplicações de recursos, com os elementos passivos, origens
de recursos, podendo, por exemplo, medir até quanto os recursos próprios (patrimônio
líquido) financiam as aplicações no ativo não circulante, ou quanto do exigível a curto
prazo está investido em valores circulantes do ativo da empresa.

5.4. Aspectos das Demonstrações Passíveis de Análise

Ao longo do trabalho do analista devem ser adotados vários instrumentos de análise,


todos visando à interpretação e formulação de conclusões relativas aos diversos
aspectos que envolvem a situação geral da empresa, quais sejam:

Aspecto da estrutura patrimonial (análise estrutural), dividido em:


Estrutura de capitais, onde são evidenciadas as origens dos recursos colocados à
disposição da empresa, com o mapeamento das participações destes recursos no
empreendimento, se próprios ou de terceiros, bem como as aplicações dos recursos, suas
classificações na estrutura patrimonial, as participações dos valores circulantes e não
circulantes no investimento total, etc.;

Endividamento, onde é analisada a composição do seu endividamento perante


terceiros, com mapeamento das participações dos recursos fornecidos por terceiros, se a
curto ou longo prazo.

Aspecto financeiro (análise financeira), dividido em:


Liquidez, onde são elaborados indicadores que demonstram a capacidade da empresa
liquidar seus compromissos para com terceiros, em termos restrito ou global;

Solvência, onde se pode, com a composição ou junção de vários tipos de índices,


avaliar a capacidade de solvência do empreendimento a médio e longo prazos, com a
previsão da possibilidade da empresa experimentar um processo de concordata ou
falência;

Aspecto econômico (análise econômica), dividido em:


Rentabilidade, onde é avaliada a capacidade da empresa remunerar o capital investido,
mediante a geração de lucros, isso em termos da atividade operacional e não
operacional;

Produtividade, onde é avaliado o potencial dos elementos ativos da empresa em


produzir elementos de receitas e de ganhos, podendo ser evidenciado, por exemplo, o
que cada unidade monetária de ativo operacional produziu, em unidades monetárias, de
vendas líquidas no período analisado;

Rotatividade, onde são elaborados índices capazes de medir a capacidade de giro ou


rotação de certos elementos patrimoniais, cujos resultados podem provocar alterações
na rentabilidade da empresa, podendo ser evidenciada, por exemplo, a rotação ou giro
dos estoques ou contas a receber ou a pagar.

Para alguns estudiosos desta técnica contábil, as demonstrações financeiras de


determinada empresa podem ser analisadas sob apenas dois aspectos, financeiro e

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econômico, onde os indicadores relativos à estrutura de capitais são considerados dentro


do aspecto financeiro, sem prejuízos nos resultados do trabalho do analista.

5.5. Condições das Demonstrações Financeiras Utilizadas para Análise

Para que se constituam em base válida e permitam ao analista atingir seu objetivo, as
demonstrações financeiras devem contar com as condições naturais e fundamentais
preconizadas pela ciência contábil, destacando-se as que seguem:

Exatidão, cuja condição é essencial para permitir o maior grau de confiabilidade


possível ao analista;

Clareza, condição essencial que permita ao analista a total inteligibilidade das


informações patrimoniais ou de resultado;

Técnica, condição fundamental para evidenciar que a demonstração foi elaborada de


acordo com as técnicas (tecnicidade), normas e princípios que norteiam a ciência da
contabilidade, permitindo melhor entendimento e padronização de procedimentos pelo
analista;

Essas condições naturais e essenciais têm sido prejudicadas por fatores voluntários,
onde o empirismo sobrepõe a ciência, em função do despreparo do profissional em
muitas ocasiões, e por fatores compulsórios, onde se assiste a uma forte interferência da
legislação tributária na implementação das técnicas de escrituração e evidenciação dos
fatos econômicos produzidos pelo patrimônio da empresa.

5.6. Ajustes das Demonstrações Contábeis para Efeito de Análise

Para que as demonstrações financeiras se constituam, efetivamente, em boa matéria-


prima no trabalho do analista, este deve manter uma estreita relação de intimidade com
as demonstrações da empresa, de modo a que essa familiaridade com o estudo das
contas facilite suas interpretações, além de lhe permitir a implementação de alguns
ajustes nas demonstrações, priorizando-se os seguintes:

Simplificação, ajuste voltado para a adoção de procedimentos capazes de apresentar as


informações contábeis da maneira mais simples possível, com agrupamento de contas
ou elementos de uma mesma natureza, por exemplo, de modo a facilitar a sua
decomposição e interpretação;

Padronização, ajuste implementado com vista a preparar as demonstrações para a


análise, onde devem ser feitas:
a) Conversões dos valores para uma única moeda e de uma mesma data, cuja
uniformização é necessária para efeito de comparações;
b) Agrupamento de saldos de contas e transferências de certas contas de um grupo ou
subgrupo para outro, em função da natureza de seus saldos;
c) Apresentação dos valores de forma reduzida, em milhares ou milhões de unidades
monetárias, para facilitar os cálculos;

Reclassificação de contas, por este ajuste o analista deve buscar atingir um alto grau de
precisão nas classificações de contas, evitando classificações de elementos fora de seus

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grupos ou subgrupos originais, o que pode causar distorções nos resultados da análise,
como por exemplo, investimentos permanentes classificados no ativo circulante;
despesas do exercício classificadas em despesas do exercício seguinte, ativo diferido
(vigente até 04.12.2008) que deveria ser despesa prontamente apropriável ao resultado;
e empréstimos a curto prazo classificados no longo prazo, etc.;

Identificação de erros, aqui o analista deve buscar o descobrimento de erros nas


demonstrações, principalmente aqueles relacionados com valores, vez que existe a
possibilidade de ocorrência de algumas distorções, como exemplo, os valores dos
estoques iniciais e finais do balanço, aliados ao valor das compras, não conferem com o
valor de custo das mercadorias vendidas na demonstração do resultado do exercício; o
valor da provisão para devedores duvidosos no balanço não coincide com o valor do
respectivo encargo inserido na demonstração do resultado; e dificuldade de conciliar o
valor do patrimônio líquido final com o resultado do exercício mais o valor do PL
inicial, etc.

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6. Metodologias de Análise das Demonstrações Contábeis

Os vários grupos de interessados buscam examinar as demonstrações financeiras das


empresas, e cada um deles tem interesses específicos nesta análise.

Os acionistas, por exemplo, estão interessados na capacidade da empresa em gerar


lucros, já os bancos querem saber da sua capacidade de pagar seus empréstimos e os
fornecedores precisam saber se a empresa poderá honrar seus compromissos. Além do
governo que visa à arrecadação dos impostos, há também os funcionários, sempre
preocupados com o seu futuro profissional querendo avaliar a solidez da empresa, sem
contar as pessoas preparadas para identificar novas oportunidades de negócios, os
chamados investidores.

Geralmente, esses grupos de interesse e possíveis outros procuram respostas para


algumas perguntas, tais como:

 Qual é a situação econômico-financeira da empresa?


 Qual sua capacidade de gerar lucros?
 Como estão sendo gerenciados seus ativos?
 Como a empresa está financiando suas atividades?
 Quais são seus pontos fortes e fracos, se comparados com outras empresas?
 Como a empresa está evoluindo, em termos de desempenho, ao longo do tempo?

Na análise das demonstrações é dada maior atenção ao balanço patrimonial e ao


demonstrativo de resultados, para a obtenção das informações básicas, e que poderão, se
necessário, serem complementadas pela análise dos demais relatórios e demonstrativos.

6.1. Análise Vertical

Esta análise visa avaliar a composição de itens em relação a um todo considerado como
100% onde cada conta contribui para a formação de todo o investimento. Procurando-se
focar as contas com saldos mais representativos deste percentual. É realizada sobre o
balanço patrimonial e o demonstrativo de resultados de um período.

Para o balanço patrimonial, cada item é expresso como uma porcentagem do total do
ativo ou do passivo ou como uma porcentagem de seu grupo, de acordo com a seguinte
fórmula:

Elemento Patrimonial do Ativo (Passivo)


AVBP = x 100
Ativo (Passivo) Total

Para o demonstrativo de resultados, de modo geral, cada item é expresso como uma
porcentagem em relação à receita operacional líquida (receita líquida de vendas), e pode
ser assim obtido:

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Elemento da Despesa (Receita)


AVDR = x 100
Receita Operacional Líquida

A fim de facilitar o entendimento do assunto relatado, elaboramos uma análise vertical


dos demonstrativos apurados na “Empresa Miska Industrial Ltda.”.

Salientamos que para a elaboração deste exemplo, utilizamos apenas as contas sintéticas
dos demonstrativos contábeis, o que não significa que as contas analíticas não devam
ser cuidadosamente analisadas, até porque é através da apuração destas que poderemos
identificar mais precisamente onde estão as grandes discrepâncias.

Balanço Patrimonial da Empresa Miska Industrial Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Ativo 51.600,00 100,00% 55.800,00 100,00%
Circulante 16.512,00 32,00% 13.950,00 25,00%
Realizável a Curto Prazo 7.224,00 14,00% 10.044,00 18,00%
Imobilizado 24.252,00 47,00% 26.226,00 47,00%
Diferido 3.612,00 7,00% 5.580,00 10,00%

Passivo 51.600,00 100,00% 55.800,00 100,00%


Circulante 18.576,00 36,00% 22.320,00 40,00%
Exigível a Longo Prazo 9.288,00 18,00% 5.580,00 10,00%
Resultado de Exercícios Futuros 2.580,00 5,00% 2.790,00 5,00%
Patrimõnio Líquido 21.156,00 41,00% 25.110,00 45,00%

Demonstração de Resultados da Empresa Miska Industrial Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Receita Bruta de Vendas 84.000,00 113,64% 79.800,00 113,64%
( - ) Deduções das Vendas (10.080,00) -13,64% (9.576,00) -13,64%
( = ) Receita Oeracional Líquida 73.920,00 100,00% 70.224,00 100,00%
( - ) Custo dos Produtos Vendidos (37.800,00) -51,14% (39.900,00) -56,82%
( = ) Resultado Bruto 36.120,00 48,86% 30.324,00 43,18%
( - ) Despesas Operacionais (21.000,00) -28,41% (11.970,00) -17,05%
( = ) Resultado Operacional 15.120,00 20,45% 18.354,00 26,14%
( - ) Despesas Não Operacionais (5.040,00) -6,82% (6.384,00) -9,09%
( = ) Resultado antes do IRPJ 10.080,00 13,64% 11.970,00 17,05%
( - ) Provisão para o IRPJ (1.680,00) -2,27% (1.596,00) -2,27%
( = ) Resultado Líquido do Período 8.400,00 11,36% 10.374,00 14,77%

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Fatores que Interferem na Análise Vertical

Alguns valores podem prejudicar a correta visualização e comparação da análise


vertical, como por exemplo, valores significativos que foram incorporados nos ativos ou
passivos da empresa, ou eventuais resultados provocados por eventos específicos e não
comuns na atividade da empresa, como por exemplo:

 Reavaliações realizadas nos ativos permanentes;


 Reestruturação de passivos financeiros;
 Baixas de bens de valor relevante;
 Novas integralizações de capital de valor expressivo;
 Realização ou resgate de mútuos eventuais;
 Realização de eventos não operacionais específicos;
 Ajustes realizados em exercícios anteriores, etc.

Provavelmente estes itens serão detectados na análise horizontal ou em algum dos


indicadores e quocientes apurados da forma descrita no próximo capítulo deste livro.

O principal fator que pode prejudicar a análise vertical da demonstração de resultados e


a estrutura de custos e despesas é a evolução das receitas de vendas quando ocorrem
sem proporcionalidade com a evolução dos custos e despesas. É necessária atenção
especial neste caso, pois pode ser oriunda de receitas esporádicas que com certeza irão
prejudicar a conclusão se analisadas de forma a não contemplar tais eventos.

6.2. Análise Horizontal

A finalidade principal da análise horizontal é apontar a evolução de itens dos balanços


assim como de outros demonstrativos através dos períodos, a fim de verificar
tendências. Antes de tudo para qualquer análise é preciso fazer uma padronização das
contas. Depois são as diretrizes peculiares de cada tipo de análise.

Por exemplo, a critério da análise horizontal, toma-se como período base, o exercício
mais antigo do intervalo que se queira analisar. Nesse momento lhe é atribuído um fator
de 100% que através de cálculos financeiros mostrará um percentual de aumento ou de
redução em cada conta e em relação a períodos distintos. Assim apurado na fórmula:

Elemento Patrimonial (Resultado) no período X2


AH =
Elemento Patrimonial (Resultado) no período X1

O resultado obtido estará na forma decimal; caso se deseje apresentá-lo na forma de


percentual, basta multiplicá-lo por 100, conforme realizamos no exemplo a seguir.

Em um simples exemplo podemos verificar, um possível fator de aumento de custo de


vendas que esteja implícito nos resultados financeiros de uma empresa. Uma situação
deste tipo pode acarretar numa estagnação do lucro bruto na mesma.

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Para se ter uma ideia mais clara é preciso levar em consideração os vários tipos de
índices, antes de serem tomadas conclusões antecipadas. O contador ou analista com
seus conhecimentos procurará auxiliar o diretor financeiro a como proceder em toda
essa sistemática.

Balanço Patrimonial da Empresa Miska Industrial Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Ativo 51.600,00 100,00% 55.800,00 108,14%
Circulante 16.512,00 100,00% 13.950,00 84,48%
Realizável a Curto Prazo 7.224,00 100,00% 10.044,00 139,04%
Imobilizado 24.252,00 100,00% 26.226,00 108,14%
Diferido 3.612,00 100,00% 5.580,00 154,49%

Passivo 51.600,00 100,00% 55.800,00 108,14%


Circulante 18.576,00 100,00% 22.320,00 120,16%
Exigível a Longo Prazo 9.288,00 100,00% 5.580,00 60,08%
Resultado de Exercícios Futuros 2.580,00 100,00% 2.790,00 108,14%
Patrimõnio Líquido 21.156,00 100,00% 25.110,00 118,69%

Demonstração de Resultados da Empresa Miska Industrial Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Receita Bruta de Vendas 84.000,00 100,00% 79.800,00 95,00%
( - ) Deduções das Vendas (10.080,00) 100,00% (9.576,00) 95,00%
( = ) Receita Oeracional Líquida 73.920,00 100,00% 70.224,00 95,00%
( - ) Custo dos Produtos Vendidos (37.800,00) 100,00% (39.900,00) 105,56%
( = ) Resultado Bruto 36.120,00 100,00% 30.324,00 83,95%
( - ) Despesas Operacionais (21.000,00) 100,00% (11.970,00) 57,00%
( = ) Resultado Operacional 15.120,00 100,00% 18.354,00 121,39%
( - ) Despesas Não Operacionais (5.040,00) 100,00% (6.384,00) 126,67%
( = ) Resultado antes do IRPJ 10.080,00 100,00% 11.970,00 118,75%
( - ) Provisão para o IRPJ (1.680,00) 100,00% (1.596,00) 95,00%
( = ) Resultado Líquido do Período 8.400,00 100,00% 10.374,00 123,50%

Fatores que Interferem na Análise Horizontal

Para que haja fidedignidade aos parâmetros da análise horizontal, a base escolhida é de
alta relevância, o componente deve ser “100” ou “1,00”. Se acaso for feita a opção por
um período com base a evidenciar crescimentos nos períodos seguintes, cujos dados não
tenham suficiente representatividade, todo o processo de análise fica comprometido.

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Sendo assim, se o período escolhido (mês ou ano), estiver baseado em um período


totalmente atípico na vida da empresa, a grande maioria dos dados e índices obtidos
estará distorcida e não apresentará a conclusão exata de crescimento ou queda.

A inflação, quando existente, também interfere diretamente na apuração destes


indicadores e deve ser considerada para cálculo do resultado, onde o valor da análise
horizontal obtido será ainda dividido pelo índice da variação da inflação apurada no
período da análise.

6.3. Análise de Indicadores e Quocientes

Os indicadores utilizados devem estar de acordo com a visão da alta administração da


companhia e deverão acompanhar as atividades, rentabilidade e situação patrimonial
desta, no entanto sempre serão escolhidas por gestores ou responsáveis financeiros, não
existindo forma básica para apresentação destes.

Assim, cada grupo de interessados pode solicitar as informações conforme lhe convêm.
O acionista vai precisar de um tipo de informação, como rentabilidade e retorno do
capital investido, já as instituições financeiras necessitam avaliar outros pontos de vista
e resultados apurados para decidir sobre as linhas de crédito, enquanto os fornecedores
necessitam das informações sobre a capacidade de pagamento. É por isso que quando se
trata de licitações, os órgãos licitantes definem não só os indicadores a serem avaliados,
mas também o índice mínimo desejável para cada operação.

Os indicadores econômico-financeiros são os elementos que representam o conceito


tradicional de análise de balanços. Eles são apurados através de cálculos matemáticos
efetuados levando em conta valores extraídos das demonstrações contábeis e financeiras
em busca de números que auxiliem no processo de decisão e entendimento da real
situação da empresa em seus aspectos patrimoniais, financeiros, de rentabilidade e giro,
dentre outros.

O objetivo básico dos índices que serão apurados nesta etapa da análise é de evidenciar
a posição da empresa no cenário atual e ao mesmo tempo projetar cenários que
refletirão a situação da empresa nos períodos subsequentes se a situação assim
permanecer ou se decisões estratégicas interferirem o andamento dos negócios.

Assim os analistas devem não só calcular os resultados matemáticos, como também


utilizá-los na projeção dos eventos futuros e dos atos reais presentes que afetarão os
resultados empresariais e as atividades desenvolvidas pela empresa a fim de elaborar e
apresentar um relatório onde as mais diversas possibilidades foram tratadas.

Caso os indicadores e as perspectivas apontem problemas de continuidade, a


administração terá condições de deter a deterioração da situação patrimonial, financeira
e de rentabilidade da empresa e procurará reverter à situação com decisões estratégicas
e gerenciais.

Da mesma forma se os números apresentarem excesso de liquidez, rentabilidade ou


estrutura patrimonial, decisões precisam ser tomadas para promover o ajuste à realidade
da necessidade de recursos para a operacionalização e financiamento das atividades.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 63

6.4. EBITDA

Um indicador financeiro bastante utilizado pelas empresas de capital aberto e pelos


analistas de mercado é o chamado EBITDA, cujo conceito ainda não é claro para muitas
pessoas. A sigla corresponde a “Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and
Amortization”, ou seja, lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização.

a) Conceito

Em linhas gerais, o EBITDA representa a geração operacional de caixa da companhia,


ou seja, o quanto a empresa gera de recursos apenas em suas atividades operacionais,
sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos. Difere do Ebit,
conhecido como o lucro na atividade, no que se refere à depreciação e amortização, pois
o Ebit considera estes efeitos contábeis.

A utilização do EBITDA ganha importância, porque analisar apenas o resultado final da


empresa (lucro ou prejuízo) muitas vezes tem sido insuficiente para avaliar seu real
desempenho em um dado período, já que muitas vezes é influenciado por fatores
difíceis de serem mensurados.

b) Cálculo do EBITDA

Um primeiro passo é calcular o lucro operacional, que, de acordo com o critério


utilizado no Brasil, é obtido como a subtração, a partir da receita líquida, do custo dos
produtos vendidos (CPV), das despesas operacionais e das despesas financeiras líquidas
(despesas menos receitas com juros e outros itens financeiros). Vale lembrar que a
definição de lucro operacional em boa parte do mundo exclui o resultado financeiro.

Já para calcular o EBITDA, é preciso somar do lucro operacional a depreciação e


amortização inclusas no CPV e nas despesas operacionais. Isso porque essas contas não
representam saída de caixa efetiva no período. Em resumo, a depreciação de um
equipamento quantifica a perda de sua capacidade produtiva graças ao uso ou tempo, e,
portanto, a perda de seu valor para a empresa. Essa perda, vale ressaltar, é econômica e
não financeira, ou seja, não há um desembolso efetivo de recursos no período.

Outra conta que deve ser acrescentada no EBITDA é a despesa financeira líquida, que
foge do escopo de análise do indicador, ou seja, de efetivo desempenho operacional. Ou
seja, para o cálculo do EBITDA, adicionam-se os juros, depreciação e amortização ao
Lucro Operacional Líquido antes dos impostos.

Vale lembrar que muitas empresas já publicam diretamente o indicador, que não é de
divulgação obrigatória de acordo com as regras da CVM. Isso tende a facilitar a análise,
embora muitos analistas critiquem as diferentes metodologias adotadas, principalmente
em relação a itens extraordinários.

No exemplo a seguir utilizamos a demonstração de resultados da empresa Miska


Industrial de Calçados Ltda., que será ajustada para o efetivo levantamento do EBITDA.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 64

Demonstração de Resultados da Empresa Miska Industrial Ltda.


2006 2007
Contas
R$ R$
Receita Bruta de Vendas 84.000,00 79.800,00
( - ) Deduções das Vendas -10.080,00 -9.576,00
( = ) Receita Operacional Líquida 73.920,00 70.224,00
( - ) Custo dos Produtos Vendidos -37.800,00 -39.900,00
( = ) Resultado Bruto 36.120,00 30.324,00
( - ) Despesas Operacionais -21.000,00 -11.970,00
Despesas Administrativas -18.000,00 -7.850,00
Despesas Comerciais -3.000,00 -4.120,00
( = ) Resultado Operacional 15.120,00 18.354,00
( - ) Outras Receitas e Despesas -5.040,00 -6.384,00
Despesas Financeiras -7.000,00 -8.900,00
Receitas Financeiras 1.960,00 2.516,00
( = ) Resultado antes do IRPJ 10.080,00 11.970,00
( - ) Provisão para o IRPJ -1.680,00 -1.596,00
( = ) Resultado Líquido do Período 8.400,00 10.374,00

Com base nesta demonstração de resultados veja como ficaria o cálculo do EBITDA:

EBITDA da Empresa Miska Industrial Ltda.


2006 2007
Contas
R$ R$
Receita Bruta de Vendas 84.000,00 79.800,00
( - ) Deduções das Vendas -10.080,00 -9.576,00
( = ) Receita Operacional Líquida 73.920,00 70.224,00
( - ) Custo dos Produtos Vendidos -37.800,00 -39.900,00
( = ) Resultado Bruto 36.120,00 30.324,00
( - ) Despesas Operacionais -21.000,00 -11.970,00
Despesas Administrativas -18.000,00 -7.850,00
Despesas Comerciais -3.000,00 -4.120,00
( = ) Resultado Operacional 15.120,00 18.354,00
( - ) Outras Receitas e Despesas -5.040,00 -6.384,00
Despesas Financeiras -7.000,00 -8.900,00
Receitas Financeiras 1.960,00 2.516,00
( = ) Resultado antes do IRPJ 10.080,00 11.970,00
( + ) Depreciação 1.500,00 2.000,00
( + ) Despesas Financeiras 7.000,00 8.900,00
( - ) Receitas Financeiras -1.960,00 -2.516,00
( = ) EBITDA 16.620,00 20.354,00

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 65

Note que a DRE fora reproduzida até o resultado apurado antes dos impostos e só então
foram registrados os valores que alteram este indicador para a apuração final. Neste
nosso caso consideramos que as depreciações estavam registradas dentro no grupo de
despesas administrativas nos valores de R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00 para os anos de
2006 e 2007, respectivamente.

Enfim, existem outras maneiras de se demonstrar este indicador, como por exemplo,
partindo do resultado operacional e retirando somente as depreciações e amortizações
apuradas. Alguns autores demonstram o EBITDA onde o resultado financeiro aparece
depois do indicador, juntamente dos valores econômicos para só então apontar então o
verdadeiro resultado líquido antes dos impostos.

Acabei optando por esta forma um pouco mais repetitiva para facilitar a visualização e o
entendimento deste importante índice financeiro.

c) Aplicação do EBITDA

O indicador pode ser utilizado na análise da origem dos resultados das empresas e, por
eliminar os efeitos dos financiamentos e decisões contábeis, pode medir com mais
precisão a produtividade e a eficiência do negócio.

Como percentual de vendas, ou margem EBITDA, pode ser utilizado para comparar as
empresas quanto à eficiência dentro de um determinado segmento de mercado. Além
disso, a variação do indicador de um ano em relação a outro mostra aos investidores se
uma empresa conseguiu ser mais eficiente ou aumentar sua produtividade.

Por outro lado, como ressalva, vale lembrar que o EBITDA pode dar uma falsa ideia
sobre a efetiva liquidez da empresa. Além disso, o indicador não considera o montante
de reinvestimento requerido (pela depreciação), fator especialmente crítico nas
empresas que apresentam ativos operacionais de vida curta. Assim, o EBITDA é um
indicador financeiro muito relevante, mas que deve ser utilizado combinado com outros
indicadores de desempenho para fornecer uma visão mais apropriada da performance da
empresa. Ainda assim, é certamente o mais acompanhado pelos analistas e acaba
ganhando bastante importância também na análise de crédito e nos múltiplos de
avaliação de empresas.

Tratando-se de uma medida popular entre alguns analistas e investidores, importa


refletir um pouco sobre o que ela representa de fato, ou como deve ser interpretada. A
circunstância de uma empresa apresentar um EBITDA mais elevado do que outra, ou
mais alto do que no ano anterior, significa, forçosamente, um melhor desempenho e,
consequentemente, um bom sinal para o mercado? Provavelmente, não...

Há quem encare o EBITDA como indicador da capacidade de uma empresa gerar


“dinheiro”, antes de reembolsar o capital alheio (“pagar juros”) e de pagar impostos. Se
estiver de acordo com esta definição, reflita nas seguintes deficiências do EBITDA:
a) Ignora os investimentos (em equipamentos, na aquisição de outras empresas, etc.)
efetuados pela empresa. Estes investimentos podem corresponder a desembolsos
incomparavelmente superiores ao propalado montante do EBITDA para um
determinado ano;

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b) Não tem em conta a capacidade de a empresa cobrar as suas dívidas (isto é, para o
seu cálculo não interessa saber se os clientes pagam à empresa – não constituirá
grande novidade dizer que “vender é fácil; já receber é mais difícil”);
c) Não considera os níveis de estoques existentes na empresa (quanto mais estoques
existirem, maior o capital “empatado”, o que pode ser sintoma de dificuldades
comerciais e, mais tarde ou mais cedo, de tesouraria);
d) Em sentido inverso, esquece que as empresas podem gerar fundos pela simples
negociação de melhores condições de pagamento com os seus fornecedores (este
ponto é especialmente importante no caso dos “hipermercados” que, como se sabe,
tendem a receber a vista e a pagar a prazo).

No cenário descrito, uma empresa pode apresentar um EBITDA verdadeiramente


“astronômico” e nem sequer ter dinheiro para pagar os salários (basta que tenha vendido
a clientes que não pagam, ou que tenha efetuado avultados investimentos). A famosa
Worldcom é um bom exemplo disso: um investidor que se tenha deixado “guiar” pelo
EBITDA, foi enganado pelas “manipulações contábeis” efetuadas.

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7. Análise Através de Indicadores

Uma empresa utiliza, para sustentar seu processo produtivo, recursos ditos permanentes
que têm um período de renovação mais lento, tais como imóveis, máquinas, instalações
e também recursos de renovação mais acelerada, como os estoques, disponibilidades
financeiras e as contas a receber que formam o seu capital circulante.

A análise dos circulantes está relacionada diretamente com o ativo circulante e o


passivo circulante que registram estes recursos e obrigações de curto prazo. Assim
capital de giro líquido ou capital circulante líquido, como é mais comum ser chamado, é
igual ao ativo circulante menos o passivo circulante, assim representado:

Capital de Giro Líquido = Ativo Circulante - Passivo Circulante

Quando o capital circulante líquido – CCL é positivo, significa que o maior valor está
localizado no ativo circulante e portando os bens de curto prazo são maiores que as
obrigações, também de curto prazo. Neste caso a empresa está financiando parte de seu
capital de giro com recursos de longo prazo.

Por outro lado, quando o CCL é negativo, as obrigações sobrepõem-se aos recursos de
curto prazo, então denota uma situação em que a empresa está financiando parte de seus
ativos permanentes com a utilização de recursos de curto prazo.

7.1. Índices de Liquidez (Solvência)

Esses indicadores medem a capacidade da empresa em pagar suas dívidas dentro do


vencimento e mostram sua estrutura de endividamento. Tais indicadores são extraídos
tão somente do balanço patrimonial, razão pela qual são considerados indicadores
estáticos, já que qualquer pequena mudança no momento imediatamente posterior ao do
cálculo acarretara na alteração sumária do resultado apurado. Quer dizer que o simples
fato de comprar uma mercadoria a vista ou para pagamento a curto prazo, bem como o
recebimento de qualquer valor, irá alterar o resultado ora obtido.

De modo geral, as alterações se processam de forma gradual, razão pela qual estes
indicadores devem estar sempre atualizados, pois o acompanhamento sistemático destes
sinalizadores é de vital importância para a alta administração. Lembrando sempre que
acontecimentos extraordinários podem afetar estes indicadores fazendo com que a
situação evidenciada não reflita a normalidade da empresa e acarrete mudanças bruscas.

a) Liquidez Corrente

O principal objetivo deste indicador é verificar a capacidade de pagamento que a


empresa tem dos valores a curto prazo. Assim se o índice apurado for de “2,30”
significa que para cada R$ 1,00 de dívidas a curto prazo a empresa dispõe, neste

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 68

momento de R$ 2,30 de recursos imediatos (circulantes) para pagar as dívidas


constantes no passivo circulante (obrigações de curto prazo).

A fórmula utilizada para a apuração deste indicador é:

Ativo Circulante
Liquidez Corrente =
Passivo Circulante

O ponto de parâmetro é que o resultado obtido da aplicação desta fórmula deve ser
sempre superior a “1,00” sendo classificado, na maioria dos casos, como ótimo o índice
a partir de “1,50”. É importante lembrar a qualidade dos valores apurados a receber,
bem como a relevância dos saldos em estoque.

Quando o valor foi inferior a “1,00”, significa que está faltando recursos para cumprir as
obrigações de curto prazo. Por exemplo, se o resultado for de “0,80”, a empresa dispõe
de apenas 80% do valor das dívidas vencíveis a curto prazo, faltando então R$ 0,20 para
cada R$ 1,00 de dívida assumida.

b) Liquidez Seca

Este indicador tem o mesmo objetivo do anterior, no entanto para este cálculo é
excluído o valor dos estoques do total do ativo circulante. Este indicador é um pouco
mais rigoroso que a Liquidez Corrente, no sentido de que a exclusão dos estoques
transforma a parcela restante do ativo apenas em valores recebíveis, considerando que
nada mais será comercializado pela empresa.

A forma de cálculo é igual a anterior, apenas deduzindo o valor dos estoques do ativo
circulante, ficando assim representada:

Ativo Circulante - Estoques


Liquidez Seca =
Passivo Circulante

A questão central deste indicador está na análise da capacidade de realização dos


estoques, por isso não há um claro referencial para o cálculo. Assim, uma empresa onde
os estoques predominantes são os de produtos em processo (inacabados), tem sua
realização mais demorada do que uma empresa comercial que normalmente tem estoque
de mercadorias com grande facilidade de venda e alta rotatividade.

Para empresas industriais é conveniente um indicador superior a “0,70” analisado


sempre em conjunto com a liquidez corrente. Para as empresas comerciais este índice
poderia chegar até “0,50” e ser considerado normal, desde que, os estoques formem
liquidez corrente superior a “1,00”.

c) Liquidez Imediata

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A liquidez imediata também tem o objetivo de verificar a capacidade de pagamento dos


valores a curto prazo, mas é um índice altamente pessimista e considera que além de
nenhuma mercadoria mais ser comercializada, ainda sugere que não sejam utilizados os
valores contabilizados como a receber. Desta forma são utilizados somente os valores
disponíveis em caixa ou instituições financeiras de uso imediato para dar a quitação
destes valores.

Então, para este cálculo são excluídos os estoques e demais valores a curto prazo,
restando somente às disponibilidades para serem confrontadas com as obrigações de
curto prazo, da seguinte forma:

Disponibilidades
Liquidez Imediata =
Passivo Circulante

Assim, o indicador aqui localizado indicará apenas quanto a empresa possui de recursos
financeiros disponíveis de forma imediata para o pagamento das contas a curto prazo,
não existindo um referencial para este indicador, já que inúmeros fatores alteram estes
valores diariamente e numa velocidade que muitas vezes foge do controle da
administração da empresa.

d) Liquidez Geral

Também objetiva verificar a capacidade de pagamento, no entanto, analisa agora as


condições totais dos valores a receber e a realizar em confronto com os valores a pagar,
considerando tanto os valores de curto como os de longo prazo.

O índice apurado significa quanto a empresa possui de bens e direito para saldas todas
as suas dívidas de curto e longo prazo e é assim calculada:

Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo


Liquidez Geral =
Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo

Não há um referencial para tal indicador, apesar de alguns entenderem que é


interessante ser sempre acima de “1,00”. É claro que se o indicador for superior ao
limite de 1 para 1, significa que a empresa está em condições de saldar todas as suas
obrigações, se é claro todos os valores se realizarem, conforme provisionados.

Assim, torna-se o ponto especial deste indicador, além do que já tratamos na liquidez
corrente e seca, a qualidade dos itens de longo prazo, bem como o perfil do exigível a
longo prazo. Se o exigível a longo prazo é apurado para os próximos 2 anos, a análise é
diferente de, se por outro lado, ele for resgatado, por exemplo, em dez anos. O que irá
validar um resultado inferior a “1,00” é a capacidade de geração de lucros da empresa
que deve ser analisada paralelamente a este indicador.

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e) Endividamento

A finalidade deste indicador é medir a estrutura de financiamento da empresa. O


número resultante evidencia o reflexo das políticas de alavancagem financeira utilizadas
pela empresa e o financiamento do capital de giro ao final de cada período. É assim, um
parâmetro de garantia dos credores.

Em outras palavras, significa quanto a empresa tem de capital de giro próprio para
garantir as dívidas contratadas e os financiamentos, por isso o confronto dos valores a
pagar é realizado diretamente com o patrimônio líquido da sociedade:

Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo


Endividamento =
Patrimônio Líquido

Neste caso um ponto referencial é que este indicador deva ser sempre inferior a “1,00”,
pois valores superiores a este limite sugerem excesso de endividamento da empresa
através de empréstimos e financiamentos já assumidos.

O excesso de endividamento pode não trazer problemas em situações normais de


demanda, mas obviamente temos que analisar também o perfil do endividamento de
longo prazo juntamente com a capacidade de geração de lucros através das vendas.

7.2. Índices de Estrutura

Os índices de estrutura mostram a participação relativa das contas que constituem o


capital de giro em relação ao valor total do ativo circulante. Esses indicadores podem
ser analisados por intermédio de sua evolução temporal, comparando-se os balanços de
períodos sucessivos, ou também por comparação com empresas ligadas ao mesmo setor.

Aliás, a análise de comparabilidade com empresas do mesmo setor é sempre


recomendável, já que um indicador abaixo do padrão recomendado pode ser comum em
determinado ramo de mercado, o que poderá ser facilmente detectado pela análise
comparativa. Importante salientar que quanto mais afins forem os negócios das
empresas comparadas, melhor será a análise dos resultados.

a) Participação das Disponibilidades

O índice de participação das disponibilidades financeiras mostra qual a participação dos


recursos de liquidez imediata na estrutura atual do capital de giro. Sua fórmula de
cálculo é:

Disponibilidades
Indice de Participação das Disponibilidades =
Ativo Circulante

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 71

b) Participação dos Estoques

O índice de participação dos estoques mostra o peso desse item em relação ao capital de
giro. Um índice elevado pode indicar uma má gestão dos estoques.

Estoques
Indice de Participação dos Estoques =
Ativo Circulante

c) Participação de Contas a Receber

Outro indicador da estrutura do capital de giro é o índice de participação de contas a


receber. Este indicador mostra qual o peso das contas a receber sobre o total do ativo
circulante.

Quando este indicador é muito elevado, pode indicar uma política de concessão de
crédito muito flexível o que aumenta o risco de inadimplência.

Contas a Receber
Indice de Participação do Contas a Receber =
Ativo Circulante

d) Financiamento

O índice de financiamento informa qual o percentual do capital de giro é financiado por


empréstimos bancários de curto prazo. Um resultado alto é indicador de forte
dependência de empréstimos de curto prazo e que irão pressionar o caixa da empresa.

Para a apuração deste indicador é importante salientar que se entende por


financiamentos todos os empréstimos bancários de curto prazo, registrados no passivo
circulante.

Financiamentos
Indice de Participação dos Financiamentos =
Ativo Circulante

7.3. Índices de Eficiência (Atividade)

Esses índices estão relacionados com as contas resultantes da operação da empresa,


obtidos tanto no balanço patrimonial quanto no demonstrativo de resultados do
exercício e buscam evidenciar a dinâmica operacional da empresa. Os indicadores são
calculados inter-relacionando o produto das transações da companhia e o saldo
constante ainda no balanço patrimonial.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 72

De modo geral, os indicadores devem refletir as políticas que norteiam a administração


do fluxo de caixa, bem como da capacidade da empresa em manter um fluxo de caixa
contínuo. Além disso, evidenciam ainda a produtividade dos ativos da sociedade.

a) Giro de Estoques

O indicador de giro dos estoques mostra o número de vezes ao ano que o estoque girou
por causa das vendas. Sempre que ocorrer uma venda, há uma saída do estoque, e esse
valor transforma-se em custo dos produtos vendidos.

A princípio, quanto maior o giro dos estoques, maior a eficiência da empresa no


gerenciamento deste ativo. Este é um dos indicadores de produtividade operacional e da
eficiência dos valores empatados em estocagem de materiais e produtos.

Custo dos Produtos Vendidos


Giro de Estoques =
Estoque Médio

O estoque inicial é o valor da conta estoques no balanço do ano (período) anterior ao da


análise e o estoque final compreende ao montante no balanço do ano atual.

Estoque Inicial + Estoque Final


Estoque Médio =
2

O prazo médio de renovação dos estoques mostra o número de dias entre a entrada da
matéria-prima (ou mercadoria a ser revendida) e sua venda no mercado.

b) Giro de Contas a Receber

Este índice indica quantas vezes ao ano a empresa gira suas contas a receber, ou seja,
está relacionada ao tempo médio que uma duplicata emitida pela empresa fica em
cobrança.

Em princípio, quanto mais alto esse índice, melhor. Ele deve ser apurado da seguinte
forma:

Receita Operacional Líquida


Giro do Contas a Receber =
Contas a Receber Médio

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O valor das contas a receber inicial corresponde às contas a receber (duplicatas) no


balanço do ano anterior e o contas a receber final é o valor dessa conta no balanço do
ano atual.

Contas a Receber Inicial + Contas a Receber Final


Contas a Receber Médio =
2

O prazo médio de recebimento indica o número de dias que a empresa consome, em


média, para receber o valor fruto de suas vendas. Normalmente quando calculamos este
indicador baseado em dados anuais com valores obtidos das demonstrações contábeis, o
dado obtido tende a ser pouco significativo, portanto recomendamos que sejam
realizados mensalmente, para isto basta adaptar a fórmula a seguir para o período que se
deseja calcular.

360
Prazo Médio de Recebimento =
Giro do Contas a Receber

Da mesma forma que nos indicadores anteriores, é importante a comparação com o


setor e com a concorrência, par tentar vislumbrar como a empresa analisada se encontra
no contexto setorial, bem como se as políticas de crédito adotadas internamente estão
surtindo efeito em comparação com as demais empresas.

c) Giro de Contas a Pagar

A finalidade desse indicador é mostrar o prazo médio que a empresa consegue para
pagar seus fornecedores de materiais e serviços. Para esta análise a empresa depende da
política de crédito adotada pelos seus fornecedores.

Quanto maior é o giro de conta a pagar, menores os tempos médios que ela utiliza para
pagar seus fornecedores.

Compras
Giro do Contas a Pagar =
Contas a Pagar Médio

O valor de contas a pagar inicial está registrado em contas a pagar no balanço do ano
anterior, e o contas a pagar final é o valor dessa conta no balanço do ano atual. Compras
é igual ao custo dos produtos vendidos apurado na DRE somados ao estoque final e
deduzido do estoque inicial.

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Contas a Pagar Inicial + Contas a Pagar Final


Contas a Pagar Médio =
2

O prazo médio de pagamento indica o número de dias que a empresa gasta, em média,
para pagar seus fornecedores. Considera-se como o tempo decorrido entre a compra da
matéria-prima ou mercadoria e o efetivo pagamento da fatura do fornecedor.

360
Prazo Médio de Pagamento =
Giro do Contas a Pagar

É importante salientar que tanto a análise do giro de contas a receber como de contas a
pagar pode ser realizada individualmente, por cliente ou fornecedor, se a empresa
necessitar de uma análise mais detalhada para rever ou renegociar as políticas de crédito
com cada grupo de interessados.

d) Posicionamento Relativo

O posicionamento relativo, como o próprio nome já diz, é a relação direta entre o prazo
médio de recebimento e o prazo médio de pagamento.

Esse índice deve, preferencialmente, ser inferior a “1,00”, para não comprometer de
maneira negativa o fluxo de caixa da empresa, gerado pelo descompasso entre os
recebimentos e os pagamentos efetuados. É apurado utilizando-se a seguinte expressão:

Prazo Médio de Recebimento


Posicionamento Relativo =
Prazo Médio de Pagamento

7.4. Índices de Rentabilidade

É importante para o administrador financeiro analisar a lucratividade das operações,


assim como a rentabilidade do negócio como um todo. Os investidores esperam que a
empresa seja capaz de gerar lucros, e mais ainda, que estes lucros atinjam um
determinado nível mínimo de rentabilidade. Muito embora a lucratividade e
rentabilidade apareçam frequentemente como sinônimos, cabe definir com mais clareza
esses termos:

 Lucro (ou Prejuízo) – Pode-se dizer que seja o valor que sobra das receitas, depois
de abatidos todos os custos, despesas e os impostos.
 Índices de Lucratividade – Fornecem uma medida comparativa desses lucros.
 Rentabilidade – Está associada aos ganhos obtidos pela empresa e seus investidores
pela aplicação de recursos no negócio.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 75

O lucro é apurado através do demonstrativo de resultados do exercício, enquanto a


rentabilidade considera o lucro em proporção a certos itens do balanço patrimonial.

a) Margem de Lucro Bruto

A margem de lucro bruto mede o percentual da receita operacional líquida que sobra
após o pagamento dos custos dos produtos comercializados. Quanto mais alto for este
indicador, melhor, pois menor será o custo relativo dos produtos analisados.

Lucro Bruto
Margem de Lucro Bruto =
Receita Operacional Líquida

O lucro bruto e a receita operacional líquida (conhecida como receita de vendas) serão
obtidos diretamente no demonstrativo de resultados emitido pela contabilidade.

b) Margem de Lucro Operacional

É a proporção do lucro operacional (também intitulado de resultado operacional) sobre a


receita operacional líquida. Este item representa o percentual de lucro que a empresa
obteve, depois de pagos os custos dos produtos vendidos e as despesas operacionais,
mas antes do pagamento dos juros sobre os empréstimos e do imposto de renda. Para
este indicador, quanto mais elevadas forem as taxas, melhores são os resultados.

Lucro Operacional
Margem de Lucro Operacional =
Receita Operacional Líquida

O lucro operacional também é obtido no demonstrativo de resultados do exercício em


análise.

c) Margem de Lucro Líquido

É considerada a medida de sucesso da empresa, pois a margem de lucro líquido indica


qual o percentual da receita operacional líquida que restou após a dedução de custos,
despesas, impostos e juros.

O valor percentual aceitável está relacionado com o setor de atuação da empresa e é


apurado mediante utilização da seguinte relação:

Lucro Líquido
Margem de Lucro Líquido =
Receita Operacional Líquida

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O valor do lucro líquido é obtido diretamente no demonstrativo de resultados do


exercício que está sendo realizada a análise.

d) Lucro por Ação

O lucro por ação – LPA indica, em unidades monetárias, o quanto realmente rendeu
cada ação para o acionista. Deve-se notar que o lucro por ação não significa dinheiro
efetivamente repassado aos acionistas, mas sim a quantia que estaria disponível para
isso. Os valores efetivamente pagos aos detentores de ações são registrados como
dividendos por ação.

Lucro Líquido
Lucro por Ação =
Número de Ações em Circulação

Ações que não pagam dividendos continuadamente ou em valores reduzidos tendem a


perder atratividade no mercado, porque grande parte dos investidores deseja a
disponibilidade de rendimentos financeiros e de preferência com fluxo contínuo.

e) Retorno sobre o Ativo Total

O (return on total assets - ROA) é também conhecido como retorno sobre o


investimento (return on investment – ROI), e é o item que mede o desempenho
gerencial na geração de lucros com os ativos disponíveis, através do percentual obtido
pela divisão do lucro líquido pelo valor total dos ativos da empresa.

Lucro Líquido
Retorno Sobre o Ativo Total =
Ativo Total

O lucro líquido vem do demonstrativo de resultados do exercício e o valor do ativo total


é extraído do balanço patrimonial.

Um número geralmente aceito como mais exato, considera no denominador, o valor do


ativo médio total que é obtido pela média aritmética dos ativos totais registrados nos
balanços dos dois últimos exercícios ou dos últimos doze meses do período de apuração.

O resultado, apresentado na forma decimal, deve ser lido sob a forma de porcentagem
(multiplicando o resultado por cem). Quanto mais alto o valor, melhor o resultado.

O ROA pode ser decomposto, para que se possa examinar a influência da margem
líquida e do giro do ativo na formação do retorno sobre os ativos. Para isso é preciso
conhecer o índice de giro dos ativos, que não é um indicador de lucratividade, mas sim
de eficiência.

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Receita Operacional Líquida


Giro do Ativo =
Ativo Total

O giro do ativo é um dos principais indicadores da atividade da empresa. Essa relação


mostra a eficiência com que a administração empresarial utilizou seus ativos para gerar
receita, ou seja, a velocidade com que o investimento total se transforma em volume de
vendas. O número obtido comprova, em unidades monetárias, quanto foi realizado de
vendas para cada unidade de ativo.

Um indicador elevado demonstra que a empresa usou seus ativos com eficácia para
gerar vendas. Um índice baixo pode indicar que a empresa não está utilizando toda a
capacidade de seus ativos e deve aumentar esforços de vendas ou então desfazer-se de
alguns de seus ativos.

Normalmente, as empresas comerciais devem ter indicadores de giro do ativo maiores


que as empresas industriais, que por sua vez, são diferenciadas também entre si pelo
ciclo de produção. Ciclos mais longos tendem a refletir necessidade de mais ativos e,
portanto, o giro apurado deverá ser menor.

Assim, vamos reescrever a fórmula do ROA utilizando o conceito de giro do ativo:

Lucro Líquido Receita Operacional Líquida


ROA = x
Receita Operacional Líquida Ativo Total

Então: ROA = Margem de Lucro Líquido x Giro do Ativo.

Ao analisar o ROA decomposto desta forma, o administrador financeiro terá mais


clareza para identificar os pontos fracos ou os pontos fortes disponíveis na sua taxa de
retorno sobre os ativos.

f) Retorno do Capital Próprio

Apelidado de ROE - return ou common equity, este indicador mede o retorno obtido no
investimento do capital dos acionistas da empresa, que é o capital próprio e está
representado contabilmente nas contas do patrimônio líquido no balanço patrimonial.

Também nesse caso, para se obter maior precisão no resultado, deve-se utilizar o valor
do patrimônio líquido médio, considerando-se dois exercícios seguintes ou doze meses
consecutivos para o primeiro ano de análise.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 78

Lucro Líquido
Retorno do Capital Próprio =
Patrimônio Líquido

O resultado, apresentado na forma decimal, deve ser lido sob forma de porcentagem
(multiplicado seu resultado por cem). E o resultado deve ser o maior possível.

O ROE também pode ser decomposto, para facilitar a análise do índice obtido, de tal
forma que se possa identificar a influência do retorno sobre os ativos (ROA) e da
utilização de capital de terceiros para a formação do retorno sobre o patrimônio líquido.

No entanto, para isso é necessário que se conheça um indicador intitulado de


Multiplicador de Alavancagem Financeira – MAF, que mostra o efeito do uso de capital
de terceiros sobre a formação dos ativos, já que esse resultado indica quantas unidades
monetárias existem em dívidas para cada unidade monetária de capital próprio. O MAF
é obtido através da seguinte relação:

Ativo Total
Multiplicador de Alavancagem Financeira =
Patrimônio Líquido

Assim podemos reescrever a fórmula do ROE como sendo: ROE = ROA x MAF,
representado da seguinte maneira:

Lucro Líquido Ativo Total


ROE = x
Ativo Total Patrimônio Líquido

7.5. Sistema DuPont de Análise

As fórmulas modificadas de ROA e ROE são conhecidas como sistema DuPont de


análise, e podem ser melhor compreendidas pela ilustração apresentada na figura a
seguir.

O objetivo da decomposição dos componentes que propiciam a maximização da


rentabilidade do capital próprio é possibilitar o estudo de quais componentes ainda
eventualmente carecem de adequações corretivas.

Os três caminhos fundamentais para se maximizar o lucro do capital próprio são:

a) A eficiência/produtividade do investimento, evidenciada pelo giro do ativo total, ou


seja, a capacidade que a empresa tem de faturar mais vezes com a mesma estrutura e
quantidade de recursos (ativos) a sua disposição;

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 79

b) A lucratividade sobre vendas, ou seja, o quanto a empresa consegue obter para cada
valor faturado, evidenciando a estrutura ótima de despesas e custos;
c) A estrutura ótima de passivo, ou seja, o mínimo de recursos próprios utilizado para
financiar os ativos, obtendo o máximo rendimento do capital próprio investido.

Graficamente o sistema de análise DuPont, fica assim representado:

Esta figura é como uma espécie de “mapa do lucro”, auxiliando o analista financeiro a
identificar os componentes chaves na formação do lucro e suas contribuições ou
problemas para a formação dos resultados obtidos.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 80

8. Estudo da Alavancagem

Alavancagem, segundo o dicionário Aurélio é o ato ou efeito de alavancar. Segundo as


ciências econômicas seria a utilização de recursos de terceiros no capital de uma
empresa, com a finalidade de aumentar os lucros com consequente aumento da
rentabilidade do capital próprio.

A alavancagem, ainda na área econômica, também pode ser definida como importante
ou elevada parcela de recursos financeiros de terceiros, utilizada na estrutura de capital
de uma empresa, tal como a captação de recursos no mercado de capitais efetuado pelas
sociedades anônimas de capital aberto.

Optar pela alavancagem financeira e operacional é passo decisivo no gerenciamento de


qualquer tipo de empreendimento. Essa decisão pode ser perigosa, porque tanto pode
levar ao crescimento lucrativo como à falência.

A alavancagem operacional inicialmente reivindica capital próprio. Ou seja, para que se


possa aumentar a produção é preciso investimentos em bens móveis e imóveis ou em
recursos humanos. Para que se faça esse investimento, não basta querer crescer, é
preciso ter mercado. É preciso que existam consumidores querendo o produto que se
está fabricando e que só não está sendo produzido porque se encontra esgotada a
capacidade de produção da unidade fabril, a capacidade de venda da unidade comercial
ou a capacidade de atendimento da unidade prestadora de serviço.

Quando não há capital próprio e não se consegue os sócios capitalistas necessários à


alavancagem do empreendimento é preciso buscar dinheiro no sistema financeiro
nacional e internacional. Mas, os grandes empresários não cometem essa loucura. Eles
geralmente procuram empréstimos governamentais, que são mais baratos. Até os ditos
investidores que compraram as empresas estatais privatizadas fizeram isto: pegaram
dinheiro do governo brasileiro e não dos banqueiros. É aquela máxima da privatização
dos lucros e da socialização dos prejuízos. Se o negócio der certo, o lucro é dos
empresários "investidores"; se der errado, o prejuízo é assumido pelo governo.

Por isso podemos dizer que a alavancagem financeira e operacional é uma faca de dois
gumes. Tanto pode trazer o sucesso como a falência. O principal exemplo desse
insucesso oriundo da alavancagem financeira e operacional é a VARIG e outro exemplo
foi o Banco Santos.

A maioria das pequenas e médias empresas fecha nos seus dois primeiros anos de vida
justamente por essa razão de inconsequente alavancagem financeira e operacional sem
os necessários controles contábeis para se saber se o negócio está dando lucro ou
impingindo prejuízo.

Porém, muitos aventureiros, que iniciaram seus negócios sem dinheiro, pedindo
emprestado, ficaram ricos. Estes são minoria. Desses aventureiros, os que faliram,
deixaram o prejuízo para quem lhe emprestou o dinheiro. É o que está acontecendo com
algumas empresas estatais privatizadas, que em pouco tempo mudaram de proprietários
várias vezes e algumas estão sobrevivendo com a obtenção de recursos governamentais.

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8.1. Alavancagem Operacional

Alavancagem operacional é a variação obtida no lucro operacional, a partir de uma


variação no volume das receitas, considerando-se o efeito dos custos fixos. De modo
geral, um aumento no volume das receitas será acompanhado por um aumento no
volume dos custos variáveis. Entretanto, os custos fixos vão se manter inalterados.
Logo, a variação do resultado operacional será mais que proporcional à variação das
receitas operacionais líquidas.

Grau de Alavancagem Operacional é a capacidade que a empresa possui, de acordo com


a sua estrutura de custos fixos, para implementar um aumento nas vendas e gerar um
incremento ainda maior nos resultados, ou, para diminuir as vendas e produzir uma
redução maior nos resultados. O Grau de Alavancagem Operacional é determinado pelo
montante de Custos Fixos existentes na estrutura de resultados dos vários departamentos
operacionais da empresa.

O grau de alavancagem operacional – GAO, entre dois períodos é apurado através da


aplicação da seguinte fórmula:

Variação % do Lucro Líquido


Grau de Alavancagem Operacional =
Variação % da Receita Operacional Líquida

Sempre que essa relação resultar em um número maior que “1,00”, há alavancagem
operacional. O lucro operacional irá aumentar na razão do aumento percentual da
receita operacional líquida multiplicado pelo GAO.

Quanto maior for o Grau de Alavancagem Operacional, maiores serão os riscos, pois o
Resultado Operacional ficará muito sensível a qualquer variação na Receita Bruta, tanto
para mais como para menos. Em épocas de dificuldades de vendas, a empresa sentirá
fortemente os reflexos.

Grau de Alavancagem Negativa: Ocorre quando um aumento na Receita Bruta provoca


uma queda no Resultado Operacional. Isso acontece nas seguintes situações: a Margem
de Contribuição é negativa ou o crescimento da Receita Bruta é acompanhado pelo
aumento das despesas fixas.

Grau de Alavancagem Modesta: É registrado quando a empresa opera no prejuízo e


quando os seus Custos Fixos estão acima do dobro da Margem de Contribuição. Nesse
caso, um aumento na Receita Bruta de x% colabora para diminuir o prejuízo, mas em
uma porcentagem menor.

Grau de Alavancagem em Equilíbrio: Ocorre quando a empresa opera no prejuízo e


quando os seus Custos Fixos são exatamente o dobro da Margem de Contribuição.
Nesses casos, um aumento na Receita Bruta de x% colabora para diminuir o prejuízo, na
mesma proporção.

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Grau de Alavancagem Operacional: É o que ocorre na maioria dos casos, ou seja, um


aumento ou uma diminuição da Receita Bruta de x% gera um aumento ou uma
diminuição do Resultado Operacional num porcentual sempre maior.

Dependendo do Grau de Alavancagem Operacional, o Distribuidor pode identificar as


áreas de negócio mais sensíveis aos aumentos de vendas, as quais devem, portanto,
receber mais atenção.

Outra forma de calcular o GAO, para um dado nível de referência de receita operacional
líquida, é a seguinte:

Receita Operacional Líquida - Custos Variáveis


GAO =
Receita Operacional Líquida - Custos Variáveis - Custos Fixos

O grau de alavancagem operacional permite que se estime o impacto sobre o lucro


operacional resultante de um esforço de aumento das vendas, ou, por outro lado, a
queda do lucro operacional que resultaria de uma diminuição de vendas.

Deve-se ter em mente que o valor do grau de alavancagem operacional não é uma
constante. De fato, ele se altera conforme são alterados os valores das receitas
operacionais líquidas; quanto mais se elevarem as receitas, menor ficará o GAO.

Receita Oper. Custos Lucro


GAO
Líquida Variáveis Fixos Operacional
100.000,00 60.000,00 30.000,00 10.000,00 4,00
110.000,00 66.000,00 30.000,00 14.000,00 3,14
121.000,00 72.600,00 30.000,00 18.400,00 2,63
133.100,00 79.860,00 30.000,00 23.240,00 2,29
146.410,00 87.846,00 30.000,00 28.564,00 2,05
161.051,00 96.630,60 30.000,00 34.420,40 1,87
177.156,10 106.293,66 30.000,00 40.862,44 1,73
194.871,71 116.923,03 30.000,00 47.948,68 1,63
214.358,88 128.615,33 30.000,00 55.743,55 1,54

Mantida a estrutura de custos fixos, naturalmente sua capacidade de alavancagem


diminuirá para cada nível mais elevado de receitas. Deve-se observar também que, a
partir de determinado ponto de crescimento das receitas, poderá ser preciso recompor a
estrutura de custos fixos, já que não parece razoável que as receitas possam crescer
infinitamente com os mesmos custos fixos.

8.2. Ponto de Equilíbrio (Break Even Point)

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Vale lembrar que, para obter lucro, qualquer empresa precisa gerar um volume de
receitas operacionais líquidas que ultrapasse a soma dos custos, despesas e impostos.
Então, somente a partir de um determinado volume de receitas é que obterá lucro.

A análise do ponto que equilíbrio operacional permite a determinação do valor das


receitas operacionais líquidas necessárias para igualarem-se à soma dos custos e
despesas ocorridas no processo de produção, ou seja, o ponto de equilíbrio operacional é
aquele no qual a receita operacional líquida produz um lucro operacional igual a zero.

Para se determinar esse ponto de equilíbrio, o primeiro passo é identificar na estrutura


de custos e despesas:

 A parte fixa (custo fixo), que é aquela cujos valores não são influenciados pelo
volume de vendas, ou seja, que não alteram com o aumento ou redução da
quantidade comercializada;
 A parte variável (custo variável), que está diretamente relacionada ao volume de
vendas. Se este sobe, a parte variável dos custos também sobe; se o volume de
vendas cai, a parte variável dos custos também sobre uma queda.

Identificados os componentes fixos da estrutura de custos, determina-se o seu valor.


Naturalmente, esse valor pode sofrer alterações como em qualquer despesa ou custo, no
entanto estas variações não serão nunca ocasionadas em função do volume de vendas.

Outro conceito importante é o de margem de contribuição, que nada mais é que o valor
que sobra da receita operacional líquida após serem deduzidos os custos e despesas
variáveis. É o valor que resta para fazer frente aos custos e despesas fixas. Assim temos:

Margem de Contribuição = Receita Operacional Líquida - Custos Variáveis

Se formos colocar esta fórmula em termos percentuais teremos uma nova fórmula,
assim representada:

Margem de Contribuição
Margem de Contribuição % =
Receita Operacional Líquida

Levando em consideração que para o cálculo do ponto de equilíbrio operacional,


devemos considerar que o valor do lucro obtido é igual a zero teremos:

(Receita Operacional Líquida x Margem de Contribuição %) - Custos Fixos = 0

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Então, transformando esta equação de forma matemática teríamos:

Receita Operacional Líquida x Margem de Contribuição % = Custos Fixos

E finalmente, o ponto de equilíbrio operacional será representado por:

Custos Fixos
Receita Operacional Líquida =
Margem de Contribuição %

O gráfico a seguir ilustra o conceito de ponto de equilíbrio operacional. São


apresentados, para diversos níveis de receita operacional líquida, os custos variáveis e
também os custos fixos, assim como a margem de contribuição calculada para estes
valores. Salientamos que os valores utilizados são hipotéticos e foram utilizados
somente com fins de exemplificação.

90.000

80.000
70.000

60.000
50.000
40.000

30.000

20.000
10.000

-
1 2 3 4 5 6 7

Receita Operacional Líquida 50.000 55.000 60.000 65.000 70.000 75.000 80.000
Custos Variáveis 35.000 38.500 42.000 45.500 49.000 52.500 56.000
Custos Fixos 21.000 21.000 21.000 21.000 21.000 21.000 21.000
M argem de Contribuição 15.000 16.500 18.000 19.500 21.000 22.500 24.000

Assim, para uma receita de $ 50.000,00, a margem de contribuição foi de $ 15.000,00,


insuficiente para cobrir os custos fixos; o resultado operacional seria então negativo. Já
para uma receita de $ 70.000,00 a margem de contribuição é de $ 21.000,00, valor igual
ao dos custos fixos; este é o nosso ponto de equilíbrio, pois o resultado operacional
neste caso será igual à zero já que serviu somente para cobrir os custos. Neste exemplo
a margem de contribuição percentual é de 30% (ou 0,30).

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9. Necessidade de Capital de Giro

A necessidade de capital de giro é função do ciclo de caixa da empresa. Quando o ciclo


de caixa é longo, a necessidade de capital de giro é maior e vice-versa. Assim, a redução
do ciclo de caixa - em resumo, significa receber mais cedo e pagar mais tarde - deve ser
uma meta da administração financeira.

Entretanto, a redução do ciclo de caixa requer a adoção de medidas de natureza


operacional, envolvendo o encurtamento dos prazos de estocagem, produção, operação
e vendas. O cálculo através do ciclo financeiro possibilita mais facilmente prever a
necessidade de capital de giro em função de uma alteração nas políticas de prazos
médios ou no volume de vendas.

9.1. Capital de Giro

Capital de giro é o conjunto de valores necessários para a empresa fazer seus negócios
acontecerem (girar). Existe a expressão "Capital em Giro", que seriam os bens
efetivamente em uso.

Em geral de 50 a 60% do total dos ativos de uma empresa representam a fatia


correspondente a este capital. Além de sua participação sobre o total dos ativos da
empresa, o capital de giro exige um esforço para ser gerido pelo administrador
financeiro maior do que aquele requerido pelo capital fixo.

O capital de giro precisa ser acompanhado e monitorado permanentemente, pois está


sofrendo o impacto das diversas mudanças no panorama econômico enfrentado pela
empresa de forma contínua.

As dificuldades relativas ao capital de giro numa empresa são devidas, principalmente, à


ocorrência dos seguintes fatores:

 Redução de vendas
 Crescimento da inadimplência
 Aumento das despesas financeiras
 Aumento de custos

Denominando-se de "aplicação permanente" as contas não circulantes do ativo e de


"fonte permanente" as contas não circulantes do passivo, define-se como Capital de
Giro (C.D.G.) a diferença entre as fontes permanentes e aplicações permanentes.

C.D.G. = Passivo Permanente - Ativo Permanente

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O Capital de Giro também é um conceito econômico - financeiro e não uma definição


legal, constituindo uma fonte de fundos permanente utilizada para financiar a
Necessidade de Capital de Giro.

O Capital de Giro apresenta-se razoavelmente estável ao longo do tempo. O Capital de


Giro diminui quando a empresa realiza novos investimentos em bens do ativo
imobilizado (aumento dos imobilizados).

Todavia, esses investimentos são, em geral, realizados através de "Autofinanciamento"


(empréstimos a longo prazo, aumento do capital em dinheiro e lucros líquidos) que por
sua vez, aumentam o Capital de Giro (aumento das fontes permanentes) compensando,
aproximadamente, a diminuição provocada pelos novos investimentos.

O Capital de Giro pode ser negativo. Neste caso, as aplicações permanentes são maiores
do que as fontes permanentes, significando que a empresa financia parte de seu ativo
não circulante com fundos de curto prazo. Embora esta condição aumente o risco de
insolvência, a empresa poderá se desenvolver, desde que sua Necessidade de Capital de
Giro seja, também negativa.

Em Contabilidade, existe o Capital de Giro Circulante, que seria a diferença do Ativo


Circulante e do Passivo Circulante, grupos de contas do Balanço Patrimonial.

Esse índice é decomposto na Demonstração conhecida legalmente como Demonstração


de Origens e Aplicação, fonte de valiosas informações econômicas da Entidade
Contábil. Essa Demonstração (que antes da lei das S/A também já foi chamada de
Demonstração de Fundos), pode ser combinada com a Demonstração de Fluxo de
Caixa, acrescentado-se informações financeiras de uso gerencial.

Os conceitos financeiros e contábeis provieram de pontos clássicos da Economia. O


Capital Circulante, sob essa abordagem, é um conceito criado como o oposto do Capital
Fixo.Adam Smith e principalmente David Ricardo, foram os primeiros a estudar essa
matéria de uma forma científica, própria da Ciência Econômica.

9.2. Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro

Ciclo financeiro, também chamado de ciclo de caixa, é o tempo decorrido do momento


em que a empresa efetua o pagamento das compras de mercadorias aos seus
fornecedores até o momento em que ela recebe o valor das vendas efetuadas aos seus
clientes.

O Ciclo Financeiro pode ser definido ainda como sendo o prazo médio desde a
aquisição da mercadoria até a venda aos clientes, chamado Prazo Médio de Renovação
de Estoques, mais o Prazo Médio concedido aos clientes para Recebimento das Vendas,
menos o Prazo Médio recebido do fornecedor para Pagamento das Compras, assim:

CF = PMRE + PMRV - PMPC

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Exemplo:

 Prazo médio de renovação de estoques: 40 dias;


 Prazo médio de recebimento de vendas: 20 dias;
 Prazo médio de pagamento de compras: 25 dias;
 Ciclo Financeiro: 40 + 20 – 25 = 35 dias.

Para fixar: o PMRE representa o tempo médio de estocagem de mercadorias. O PMRV


expressa o tempo decorrido entre a venda e o recebimento. O PMPC traduz o tempo
entre a compra de mercadorias e o pagamento aos fornecedores.

O ciclo operacional (CO) é mais amplo, englobando desde a data das compras até o
recebimento de clientes, sem descontar o PMPC, sendo representado da seguinte forma:

CO = PMRE + PMRV

Exemplo:

 Prazo médio de renovação de estoques: 40 dias;


 Prazo médio de recebimento de vendas: 20 dias;
 Ciclo operacional: 40 + 20 = 60 dias.

Pode-se dizer que o ciclo operacional é o período em que são investidos recursos nas
operações, sem que ocorram entradas de caixa correspondentes. Parte desse capital de
giro é financiado pelos fornecedores que concederam prazo para pagamento (PMPC).

Até o momento do pagamento aos fornecedores, a empresa não precisa se preocupar


com o financiamento, que é automático. Se o PMPC for superior ao PMRE, então os
fornecedores estarão financiando também uma parte das vendas da empresa. O ideal
seria que o PMPC fosse maior ou igual à soma de PMRE e PMRV, quando os
fornecedores financiariam completamente o ciclo operacional, mas tal situação é muito
difícil de se obter.

Após o pagamento a fornecedores, a empresa terá que financiar as operações com seu
próprio capital de giro, uma vez que o numerário destinado aos fornecedores, que estava
sendo utilizado na manutenção das atividades, já terá sido pago. O período em que ela
efetua este financiamento com recursos próprios é justamente o ciclo financeiro da
empresa.

O capital de giro é o montante de recursos necessários à manutenção das atividades


operacionais da empresa, enquanto não ocorre o recebimento das vendas. Note que,
quanto maior o ciclo financeiro da empresa, maior será a necessidade de capital de giro.

Imaginemos que haja necessidade de operar sem recebimento de clientes por um


período de 3 meses, e que o capital de giro necessário para um mês seja de 25.000.

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Neste caso, precisaríamos de 75.000 para financiar nossas operações, antes dos
primeiros recebimentos.

Uma maneira de entender a necessidade de capital de giro durante os ciclos financeiro e

operacional é lembrar que durante este período a empresa continua tendo que cumprir
outras obrigações, como pagamento de salários, impostos etc. Assim, enquanto não
ocorre o recebimento de clientes, estas despesas terão que ser honradas, seja pelo uso de
recursos operacionais de terceiros, durante o PMPC, seja pelo uso de recursos
operacionais próprios, durante o ciclo financeiro. Note que estamos considerando
apenas os recursos gerados pelas operações (fornecedores e recebimento de clientes),
sem levar em conta recursos que podem ser obtidos no sistema financeiro, como os
empréstimos, por exemplo.

9.3. Cálculo da Necessidade de Capital de Giro

Algumas contas do AC e do PC se renovam de maneira cíclica, juntamente com as


operações da empresa. As contas do AC com esta característica são chamadas de
aplicações cíclicas e as do PC, de fontes cíclicas. São chamadas também de Ativo
Circulante Operacional e Passivo Circulante Operacional, respectivamente, justamente
por esta característica de renovação de saldos, no decorrer da atividade operacional. O
exemplo típico de fonte cíclica (operacional) são os fornecedores. O exemplo típico de
aplicação cíclica são os clientes e os estoques.

A necessidade de capital de giro (NCG) é a diferença entre as aplicações cíclicas (AC) e


as fontes cíclicas (FC):

NCG = Aplicações Cíclicas - Fontes Cíclicas

Aplicações e fontes cíclicas típicas:

 AC: Clientes, Estoques e Despesas Antecipadas (AC Operacional)


 FC: Fornecedores, Salários a Pagar; Impostos e Taxas a Pagar (PC Operacional)

A necessidade de capital de giro (NCG) indica o montante de recursos necessários para


se manter o giro dos negócios, devido à insuficiência das fontes operacionais. Havendo
insuficiência de FC, em relação às AC, a empresa terá que buscar novas fontes de
financiamento para continuar operando. Estas novas fontes serão as fontes do sistema
financeiro, como veremos à frente.

Embora incomum, é possível termos AC = FC ou mesmo AC < FC. Nestes casos, não
haverá necessidade de a empresa buscar novas fontes de financiamento para suas
operações. A necessidade de capital de giro (NCG) pode ser calculada pela utilização
dos saldos das contas cíclicas, constantes do Balanço Patrimonial, conforme a definição
acima.

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9.4. Capital de Giro e Tesouraria

Inicialmente, vejamos o conceito de saldo de tesouraria (T). O saldo de tesouraria é a


diferença entre as contas do ativo circulante e do passivo circulante que não guardam
relação com a atividade operacional da empresa. Estas contas compõem o AC
financeiro e o PC financeiro.

Saldo em Tesouraria = Ativo Circulante Financeiro - Passivo Circulante Financeiro

Exemplos de Ativo Circulante Financeiro - ACF e Passivo Circulante Financeiro - PCF:

ACF: Caixa, Bancos, Aplicações Financeiras etc.


PCF: Empréstimos Bancários, Financiamentos etc.

O ACF e o PCF também são chamados de AC e PC erráticos, justamente pelo fato de as


variações dos saldos de suas contas não guardarem relação com as atividades
operacionais, como ocorre com as contas cíclicas. Assim, é correto dizer que o saldo de
tesouraria é a diferença entre o Ativo Circulante errático e o Passivo Circulante errático.

Resumindo:

AC = AC Operacional (cíclico) + AC Financeiro (errático)


PC = PC Operacional (cíclico) + PC Financeiro (errático)

Se o saldo de tesouraria for positivo (folga financeira), haverá disponibilidade de


recursos para financiar a NCG. Sendo negativo ou insuficiente o saldo de tesouraria, a
empresa necessitará de mais recursos a curto-prazo (empréstimos) para financiar suas
operações. Isto poderá levar a empresa a uma situação de insolvência, com consequente
falência.

9.5. Efeito Tesoura

O efeito tesoura ocorre quando a empresa expande demasiadamente suas vendas, sem
que o capital de giro disponível cresça na mesma proporção. O crescimento das vendas
faz com que a NCG aumente também. Se não houver o suporte de capital de giro (saldo
de tesouraria) necessário à manutenção deste novo patamar operacional, o crescimento
exagerado poderá deixar a empresa em dificuldades financeiras, podendo mesmo levá-la
à falência.

Uma empresa que tenha um saldo de tesouraria insuficiente ou negativo precisará tomar
recursos a curto prazo no sistema financeiro, com taxas de juros altas. As despesas
financeiras crescerão além do suportável, comprometendo a organização.

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O efeito tesoura pode ser caracterizado pelo seguinte indicador:

Efeito Tesoura = Saldo em Tesouraria / Necessidade de Capital de Giro

Se este índice crescer negativamente, em exercícios seguidos, teremos caracterizado o


efeito tesoura.

Exemplo:

Ano T NCG T / NCG

2002 500,00 900,00 0,56


2003 (500,00) 1.800,00 (0,28)
2004 (1.300,00) 2.000,00 (0,65)

Veja que o indicador “T/NCG” está crescendo negativamente, ao longo dos anos, neste
caso a empresa está sofrendo o chamado “Efeito Tesoura”.

9.6. Overtrading e Undertrading

Mesmo dispondo de muitas condições, planos de sucesso e entusiasmo inicial, muitas


empresas, enfrentam sérias e grandes “crises”, especialmente de cunho financeiro.

É importante descobrir os caminhos que levam à crise, à morte dos planos empresariais,
e ao não cumprimento equilibrado dos dois principais mandamentos. Normalmente eles
estão ligados a RENTABILIDADE e LIQUIDEZ, que futuramente ocasionam a
deficiência econômico-financeira que por sua vez se não for detectada e analisada a
tempo, leva a sociedade a falência.

Dois são os caminhos principais que levam à crise e são conhecidos nos meios
empresariais por:

 Overtrading – Negociações Excessivas; e


 Undertrading – Negociações Insuficientes.

a) Overtrading

Considera-se uma empresa em situação de overtrading, ou caminhando para ela quando


seu movimento geral de negócios vai suplantando proporcionalmente seu capital próprio
(Patrimônio Líquido). Figurativamente, e num dizer bem popular, é uma situação onde
o empresário está tentando “dar um passo maior que as pernas” e, portanto, acima das
reais possibilidades da empresa.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 91

A falência da empresa se caracteriza pelo desequilíbrio econômico-financeiro. Este


desequilíbrio ocorre quando o capital de giro da empresa se revela insuficiente para
bancar o seu nível de atividade. Desta forma podemos afirmar que a empresa está em
“overtrade” - ou a caminho - quando os proprietários fazem a compania carregar um
peso que excede suas reais possibilidades de força ou permitem que ela “afunde” a tal
ponto que dificilmente a consiga trazer a tona novamente.

O overtrade é, portanto, o estágio anterior à concordata ou falência. Se a entrada em


situação de overtrading não for percebida e interrompida logo, pela adoção das medidas
cabíveis, a empresa entrará brevemente em crise financeira grave, levando-a a um
regime falimentar.

Indícios de desequilíbrio econômico-financeiro podem ser verificados através do


Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício, notadamente
quando se observa o comportamento histórico dos indicadores estudados.

b) Undertrading

Quando uma empresa tem um volume de vendas inferior ao que sua estrutura permite,
encontra-se em situação de “undertrading”, isto é, com lucros menores do que poderia
obter se utilizasse toda a sua capacidade e, portanto, com a rentabilidade sobre o capital,
inferior do que a que lhe é possível obter.

Como se percebe, “Undertrading” é uma situação inversa a do “Overtrading”. Aumento


de vendas inferior ao aumento do Patrimônio Líquido.

As causas podem ser tanto um superdimensionamento da capacidade produtiva devido,


principalmente, a uma falsa estimativa de mercado, ou a uma recessão deste, ou, ainda,
ao acirramento da concorrência , dentre outros.

As conseqüências, por outro lado, são similares às do overtrading.

Conforme verificamos nas definições, os fatores mais importantes para a análise do


over/undertrading são: o capital; as vendas; a rentabilidade sobre as vendas; os custos de
capital e os prazos de pagamento e recebimento.

Para cada caso particular existem diversas soluções e aspectos a serem analisados de
acordo com o problema específico.

As linhas gerais para as soluções de problemas de overtrading são:

a) Aumento do capital próprio;


b) Redução de vendas;
c) Redução de investimentos em ativos;
d) Aumento da rentabilidade sobre as vendas;
e) Procurar maior prazo de pagamento.

Para cada solução existem considerações, por exemplo, o aumento do capital deve ser
proporcionar uma redução nas despesas financeiras de tal ordem que proporcione um
acréscimo na rentabilidade sobre o capital agora aumentado.

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Para os casos de undertrading as soluções também são várias:

a) Aumentar vendas reduzindo a margem de lucro;


b) Diversificar os produtos;
c) Criação de novas filiais ou novas fábricas se o produto for de demanda elástica;
d) Distribuição de lucros e dividendos;
e) Investir em outro ramo;
f) Adotar a política de “trading-down” ou “up-trading”.

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10. Análise de Investimentos

A análise de investimentos envolve decisões de aplicação de recursos com prazos


longos (maiores que um ano), com o objetivo de propiciar retorno adequado aos
proprietários desse capital.

Orçamento de capital é um processo que envolve a seleção de projetos de investimento


e a quantificação dos recursos a serem empregados e busca responder a questões como:

a) O projeto vai se pagar?


b) O projeto vai aumentar a riqueza dos acionistas ou vai diminuí-la?
c) Esta é a melhor alternativa de investimentos?

O orçamento de capital requer uma estimativa de fluxos de caixa livres que serão
obtidos com o projeto de análise. As previsões de investimentos em ativos, de vendas,
também de preços, de custos e despesas devem ser elaboradas da forma mais realista a
acurada possível.

De qualquer modo, a incerteza em orçamentos de capital é elevada, pois envolve


cenários econômicos e políticos de longo prazo.

10.1. Terminologia Básica

Os projetos de investimentos, conforme sua contribuição para geração de fluxo de caixa,


podem ser divididos em dias categorias:

 Independentes – são aqueles cujos fluxos de caixa não estão relacionados entre si, de
modo que a aceitação de um não elimina os outros; cada projeto será analisado de
forma separada.
 Mutuamente excludentes – são aqueles que competem entre si, de tal maneira que
apenas um deles poderá ser escolhido; assim a aceitação de um elimina os demais.

Fluxo de caixa convencional é aquele que, para casos de investimento, apresenta um


desembolso no momento inicial (saída de Caixa) e, em seguida, oferece uma série de
receitas; tem apenas uma inversão de sinal, como mostra a figura a seguir.

1.200 1.250 1.350 1.450 1.500

1 2 3 4 5

(5.000)

Nos casos de empréstimo, um fluxo decaixa convencional apresenta uma entrada no


momento inicial seguida de várias saídas que são os pagamentos do valor tomado.

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Por outro lado, um fluxo de caixa não convencional apresenta alternância entre
desembolsos e receitase tem mais de umainversão de sinal, como no exemplo a seguir.

2.000 2.000 2.000 2.000


3
1 2 4 5

(2.000) (2.000)

10.2. Métodos de Avaliação

Os métodos mais comuns de avaliação de projetos de investimento são:

 Payback;
 Payback descontado;
 Valor presente líquido – VPL;
 Taxa interna de retorno – TIR.

A taxa ‘i’ deve ser aquela que corresponde ao custo médio ponderado de capital da
empresa, mas como em algumas situações esse custo é desconhecido, algumas empresas
podem arbitrar um valor para essa taxa. Também é conhecida como taxa mínima de
atratividade (TMA), taxa de desconto, retorno exigido ou, ainda, custo de oportunidade.

10.3. Payback

É o período de tempo necessário para que as entradas de caixa do projeto se igualem ao


valor a ser investido, ou seja, o tempo de recuperação do investimento realizado.

Se levarmos em consideração que quanto maior o horizonte temporal, maiores são as


incertezas, é natural qu as empresas procurem diminuir seus riscos optando por projetos
que tenham um retorno do capital dentro de um período de tempo razoável.

Ecomomias estáveis significam menor grau de risco e podem favorecer projetos com
payback maior. Por outro lado, economias instáveis pedem projetom com payback
menor. E quando uma empresa enfrenta problemas de liquidez, procura dar prioridade a
projetos com retorno mais rápido.

Como critéio de decisão aplica-se a seguinte regra:

 Se o período de payback for menor ou igual ao máximo aceitável, então o projeto


poderá ser aceito.
 Se o período de payback for maior que o período de recuperação aceitável, então o
projeto será descartado.

O período máximo de recuperação aceitável para projetos é fixado pela direção da


empresa, com base na sua interpretação de variáveis econômicas, sociais e políticas do
ambiente, entre outras.

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Dito de um outro modo, não existe uma regra clara ou fórmula para se determinar um
período máximo aceitável de recuperação, ficando sujeito a um alto grau de
subjetividade.

É um método de fácil entendimento, porém apresenta algumas limitações, a saber:

 Não considera o valor do dinheiro no tempo, pois trabalha com os valores nominais
do fluxo de caixa;
 Exige que se estabeleça arbitrariamente um limite de tempo dentro do qual se aceita
um determinado projeto;
 Despreza, para a tomada de decisões, os fluxos de caixa que ocorrem após o período
de payback.

A figura a seguir mostra a linha de tempo de um projeto, assinalando o investimento


inicial e os recebimentos subsequentes, em um período total de 5 anos.

10.000 20.000 20.000 40.000 60.000

1 2 3 4 5

(50.000)

O fluxo de caixa do projeto apresentado acima tem um período de payback de três anos,
pois (50.000) + 10.000 + 20.000 + 20+000 = 0

Se esse período de tempo está enconformidade com o padrão estabelecido pela empresa,
o projeto é aceito, caso contrário será rejeitado.

Nem sempre o período de payback resulta em um número inteiro. Por exemplo, qual o
período de payback po projeto apresentado abaixo?

Fluxo de Caixa Livre Valor a Recuperar


Período
R$ R$
Ano 00 (1.300.000,00) 1.300.000,00
Ano 01 250.000,00 1.050.000,00
Ano 02 350.000,00 700.000,00
Ano 03 450.000,00 250.000,00
Ano 04 650.000,00
Ano 05 800.000,00

A coluna valor a recuperar mostra os saldos a serem recuperados ao final de cada


período. Assim, no momento inicial do projeto, o valor a recuperar corresponde ao valor
inicialmente invbestido. No final do ano 1 o valor a recuperar diminuiu para R$
1.050.000, pois há uma entrada de caixa no valor de R$ 250.000 e assim por diante.

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Ao final do ano 3 o capital ainda não havia sido recuperado; faltando R$ 250.000 para
igualar as entradas de caixa ao investimento inicial. Porém, o fluxo de caixa livre do ano
4 supera este valor. O payback, neste caso, está entre o ano 3 e o ano 4.

Se os fluxos de caixa ocorrem continuamente ao longo decada etapa, ou seja, as


entradas de caixa ocorrem ao longo de cada período, e não apenas no momento exato do
fim desse, então o procedimento para o cálculo mais exato do período de payback é:

O capital a recuperar ao final do ano 3 é de R$ 250.000 calculado da seguinte forma:

1.300.000 - 250.000 – 350.000 – 450.000 = 250.000

Como o flxo de caixa esperado para o ano 4 é de R$ 650.00, teremos o seguinte cálculo:

250.000 / 650.000 = 0,3846

Assim, o período de payback é de 3,3846 anos. Como o ano tem 12 meses, teremos:

0,3846 x 12 = 4,6152

Então o período de payback é de 3 anos e 4,6152 meses. Levando em consideração que


um mês tem 30 dias, teremos:

0,6152 x 30 = 18,456

Desta forma, concluímos que o período de payback do projeto analisado é de 3 anos, 4


meses e 19 dias.

10.4. Payback Descontado

É o período de tempo necessário para recuperar o investimento, avaliando-se os fluxos


de caixa descontados, ou seja, considerando-se o valor do dinheiro no tempo.

No exemplo a seguir, a coluna fluxo de caixa descontado mostra o valor presente de


cada fluxo de caixa, considerando uma taxa de desconto de 15% a.a.

Fluxo de Caixa Fluxo de Caixa Valor a Recuperar


Período
R$ Descontado - R$ R$
Ano 00 (50.000,00) (50.000,00) 50.000,00
Ano 01 10.000,00 8.695,65 41.304,35
Ano 02 20.000,00 15.122,87 26.181,48
Ano 03 20.000,00 13.150,32 13.031,16
Ano 04 40.000,00 22.870,13
Ano 05 60.000,00 29.830,60

O cálculo efetuado para localizarmos o fluxo de caixa descontado é realizado através da


seguinte fórmula:

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FCn / (1 + i)n

Onde:

 FC = Valor do fluxo de caixa líquido no período n.


 i = taxa considerada para desconto ao valor presente dos fluxos de caixa líquidos do
projeto (custo médio ponderado de capital ou TMA).
 n = período de tempo considerado na análise.

Então para o ano 1 teremos: 10.000 / (1 + 0,15)1 = 8.695,65

Assim como para o ano 2 o cálculo seria: 20.000 / (1 + 0,15)2 = 15.122,87

Apurados desta forma, o capital a recuperar ao final do ano 3 é de R$ 13.031,16, assim


representado:

50.000,00 – 8.695,65 – 15.122,87 – 13.150,32 = 13.031,16

Como o flxo de caixa esperado para o ano 4 é de R$ 22.870,13, teremos o seguinte


cálculo:

13.013,16 / 22.870,13 = 0,5690

Assim, o período de payback é de 3,5690 anos. Como o ano tem 12 meses, teremos:

0,5690 x 12 = 6,8280

Então o período de payback é de 3 anos e 6,8280 meses. Levando em consideração que


um mês tem 30 dias, teremos:

0,8280 x 30 = 24,84

Neste caso analisdo, para o fluxo de caixa com valores nominais o período de payback é
de 3 anos;. Já para o fluxo de caixa descontado o período de payback descontado é de 3
anos, 6 meses e 25 dias.

10.5. Valor Presente Líquido - VPL

O cálculo do valor presente líquido – VPL, leva em conta o valor do dinheiro no tempo.
Portanto, todas as entradas e saídas de caixa são tratadas no tempo presente. O VPL de
um investimento é igual ao valor presente do fluxo de caixa líquido do projeto em
análise, descontado pelo custo médio ponderado de capital.

Assim, a sua fórmula de cálculo é representada por:

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FC1 FC2 FCn


VPL = FC0 + 1
+ 2
+ ... +
(1 + i) (1 + i) (1 + i)n

Onde:

 FC0 = Fluxo de caixa líquido no momento zero (inicial).


 FCn = Fluxo de caixa líquido no período n.
 n = último período de tempo considerado na análise.
 i = taxa considerada para desconto ao valor presente dos fluxos de caixa líquidos do
projeto (custo médio ponderado de capital ou TMA).

A figura a seguir mostra a linha de tempo do fluxo de caixa de um projeto, para um


período de tempo de 5 anos.

30.000 32.000 38.000 40.000 40.000

1 2 3 4 5

(100.000)

No quadro demonstrado abaixo, a coluna valor presente monstra o valor presente de


cada um dos fluxos de caixa do projeto, considerando-se uma taxa de desconto de 20%
ao ano. O valor apresentado como VPL é resultado da soma dos valores calculados na
coluna valor presente.

Fluxo de Caixa Valor Presente


Período
R$ R$
Ano 00 (100.000,00) (100.000,00)
Ano 01 30.000,00 25.000,00
Ano 02 32.000,00 22.222,22
Ano 03 38.000,00 21.990,74
Ano 04 40.000,00 19.290,12
Ano 05 40.000,00 16.075,10
VPL 4.578,18

O mesmo fluxo de caixa nominal é consideradono quadro a seguir, que, entretanto,


utiliza uma TMA de 25% ao ano para o cálculo do valor presente de cada um dos fluxos
de caixa. Nesse caso o valor obtido para o VPL é negativo, deixando claro que uma
mudança de taxa de desconto altera o VPL apurado.

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Fluxo de Caixa Valor Presente


Período
R$ R$
Ano 00 (100.000,00) (100.000,00)
Ano 01 30.000,00 24.000,00
Ano 02 32.000,00 20.480,00
Ano 03 38.000,00 19.456,00
Ano 04 40.000,00 16.384,00
Ano 05 40.000,00 13.107,20
VPL (6.572,80)

Um gráfico de perfil de VPL pode ser traçado, de modo que possa ajudar o analista
financeiro conhecer os diversos VPL que serão obtidos para as diversas taxas de
desconto, conforme iluistra o esquema a seguir:

40.000

30.000

20.000

10.000

(10.000)

(20.000)
1 2 3 4 5
VPL 34.426,36 18.026,37 4.578,19 (6.572,80) (15.913,58)
TMA 10% 15% 20% 25% 30%

O valor do VPL será positivo para taxas superiores a aproximadamente 22%, que é o
ponto em que a curva do VPL intercepta o eixo X. Para as taxas de desconto superiores
a 22%, o valor do VPL será negativo. Então, este projeto somente será viável se a traxa
de desconto utilizada for inferior a 22% ao ano.

Interpretação do VPL (do ponto de vista financeiro):

 Projetos com VPL positivo são vantajosos, pois oferecem um retorno superior ao
investimento, considerada a taxa de desconto aplicada. Em outras palavras, o projeto
remunera o investimento pela taxa exigida e ainda produz um excedente e não
havendo outra condição a ser considerada, um projeto com VPL positivo pode ser
aceito.
 Projetos com VPL igual a zero remuneram o investimento exatamente pela taxa
exigida, sem excedente, e também podem ser aceitos.
 Projetos com VPL menor que zero devem ser descartados, pois sequer remuneram o
investimento pela taxa exigida.
 Ao examinarem-se projetos mutuamente excludentes, deve-se optar pelo que
apresente o maior valor de VPL.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 100

10.6. Taxa Interna de Retorno - TIR

A Taxa Interna de Retorno é a taxa i que se iguala as entradas de caixa ao valor a ser
investido em um projeto. Em coutras palavras, é a taxa que iguala o VPL de um projeto
a zero.

É dita interna no sentido de que depende somente dos fluxos de caixa do projeto em
análise, sem vínculos com taxas do mercado ou com a TMA. Sua expressão é:

FC1 FC2 FCn


FC0 + 1
+ 2
+ ... + = 0
(1 + i) (1 + i) (1 + i)n

Onde:

 FC0 = Fluxo de caixa líquido no momento zero (inicial).


 FCn = Fluxo de caixa líquido no período n.
 n = último período de tempo considerado na análise.
 i = taxa que torna o valor da equação igual a zero, ou seja, a TIR do fluxo em
análise.

Não existe fórmula simples para se calcular a TIR. Dada a dificuldade de se calcular
manualmente a TIR, seu uso apenas se difundiu com o avanço da tecnologia, por
intermédio da utilização de computadores, planilhas eletrônicas e calculadoras
financeiras. A maioria das planilhas eletrônicas tem uma fórmula simplificada onde
basta digitar “=TIR(célula inicial:célula final)”.

Um problema com a TIR é que quando o fluxo de caixa não é convencional, existirá
mais de uma TIR, dificultando a decisão.

Outro aspecto que deve ser considerado é que a utilização exclusiva da TIR como
ferramenta de análise pode levar ao equívoco de se aceitar projetos que não remuneram
adequadamente o capital investido, por isso deve ser uma ferramente complementar à
análise.

O quadro abaixo monstra a TIR calculada para alguns projetos hipotéticos:

Projeto TIR
Projeto A 18,00% ao ano
Projeto B 15,00% ao ano
Projeto C 19,00% ao ano

Para análise da TIR, o projeto escolhido seria o C, que apresenta a maior taxa interna de
retorno.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 101

Entretanto, se o custo de capital da empresa for de 20% ao ano, este não seria um bom
projeto, pois seu retorno não seria suficiente para cobrir o custo do capital (TMA), o que
significa um VPL negativo.

Assim, para decisão, a TIR deve ser utilizada apenas para fluxos de caixa convencionais
e será avaliada do seguinte modo:

 TIR > TMA – Aceita-se o projeto;


 TIR = TMA – Aceita-se o projeto;
 TIR < TMA – Rejeita-se o projeto.

Vale ainda notar que todos os projetos que tenham VPL positivo, têm também a TIR
maior que a TMA.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 102

11. Outros Fatores de Análise Financeira

Existem ainda outros fatores internos e externos que precisam ser considerados para
uma adequada análise das demonstrações financeiras. Pontuamos alguns deles.

11.1. Conciliação do Risco, Retorno e Lucratividade

Existe uma relação entre o retorno e o risco de uma empresa. O retorno, nesse contexto,
é medido pelas receitas menos os custos, enquanto o risco é medido pela probabilidade
de a empresa tornar-se tecnicamente insolvente (incapaz de pagar suas contas no
vencimento).

O lucro de uma empresa pode ser aumentado de dois modos:

f) Por intermédio de um volume maior de receitas; e


g) Por meio da redução dos custos;

Os custos podem ser reduzidos pagando-se menos por um item ou serviço ou usando-se
os recursos existentes de maneira mais eficiente. Qualquer redução nos custos deve
aumentar o lucro de uma empresa. O lucro pode também ser aumentado investindo-se
em ativos mais rentáveis, que possam gerar níveis mais elevados de receitas. É
fundamental compreender como o lucro é aumentado e reduzido para se ter idéia da
relação entre retorno e risco.

Uma das formas mais comuns de se mensurar o risco de insolvência técnica é por meio
do montante do capital circulante líquido (CCL) ou do índice de liquidez corrente.
Supõe-se que quanto maior o montante de CCL possuído pela empresa, menos risco ela
apresenta. Em outras palavras, quanto mais CCL ela tiver, mais líquida será e, portanto,
menor será a probabilidade de insolvência técnica. O oposto também é considerado
verdadeiro: níveis baixos de liquidez estão relacionados a altos níveis de risco da
empresa. A relação entre CCL, liquidez e risco é tal que, se o CCL ou a liquidez
aumentarem, o risco da empresa diminuirá, e vice-versa.

Ao analisarmos a relação entre o risco, retorno e lucratividade, é necessário fazer


inúmeras suposições básicas. A primeira refere-se à natureza da empresa a ser
analisada; a segunda diz respeito às diferenças básicas na capacidade de gerar lucros dos
ativos; e a terceira relaciona-se ao custo dos vários métodos de financiamento.

a) A natureza da empresa: o tipo de empresa em análise é o industrial, uma vez que


esse tipo de negócio oferece o melhor meio para se investigar a maioria dos
princípios básicos da Administração Financeira.

b) A capacidade de gerar lucros: espera-se que uma empresa industrial possa ganhar
mais com seus ativos permanentes do que com seus ativos circulantes. Os ativos
permanentes (consistem basicamente em imobilizado e investimentos) representam
os verdadeiros ativos rentáveis da empresa. Terrenos, prédios, máquinas e
equipamentos possibilitam à empresa elaborar seus produtos acabados que
finalmente possam ser vendidos com lucro.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 103

Em geral, os ativos circulantes da empresa, excetuando-se os títulos negociáveis,


não são ativos mais rentáveis. Os ativos circulantes permitem à empresa vender e
conceder crédito, sendo absolutamente necessários para a efetiva operação da
empresa. Porém, a empresa não pode operar sem os ativos permanentes para gerar
produtos acabados que possam ser convertidos em dinheiro, títulos negociáveis,
duplicatas a receber e estoques.

Se a empresa pudesse ganhar mais dinheiro comprando estoque do que produzindo-


o, ou investindo seu dinheiro em títulos negociáveis, não deveria estar no ramo
industrial. Em outras palavras, caso uma empresa não possa obter mais nos
investimentos em ativo não circulante do que nos ativos circulantes, deve vender
todos os seus ativos permanentes e usar o produto da venda para adquirir ativos
circulantes. Na análise, supõe-se que a empresa possa ganhar mais em ativos
permanentes do que em ativos circulantes.

c) Custo do financiamento: a empresa pode obter o financiamento que necessita por


intermédio de qualquer uma das seguintes fontes:
 Passivos Circulantes: são origens de recursos a curto prazo; e
 Recursos a Longo Prazo: o Exigível a Longo Prazo e o Patrimônio Líquido são
origens de recursos de longo prazo.

Geralmente os passivos circulantes consistem em duplicatas a pagar, títulos a pagar e


despesas provisionadas (provisões de passivos, salários e ordenados a pagar, juros a
pagar, etc. que resultam da aplicação do regime de competência no reconhecimento de
despesas já incorridas, mas ainda não pagas), eles são tipicamente uma fonte não barata
de recursos. Dos passivos circulantes básicos, somente os títulos a pagar normalmente
têm um custo estabelecido. Isso porque os títulos a pagar representam a única forma
negociada de financiamento. Duplicatas a pagar e despesas provisionadas a pagar,
representando cerca de 75% dos passivos circulantes das empresas industriais, são
fontes mais baratas de recursos, uma vez que não possuem qualquer tipo de pagamento
de juros.

Em razão do nível excepcionalmente elevado das taxas de juros, a expectativa geral de


menores taxas futuras levou os credores a cobrar taxas maiores sobre empréstimos a
curto prazo do que a longo prazo. Tendo em vista que apenas cerca de 25% dos passivos
circulantes estão representados por esses empréstimos a curto prazo com custo (títulos a
pagar), sendo o restante basicamente sem custos (duplicatas a pagar e despesas
provisionadas a pagar), pode-se supor seguramente que os passivos circulantes são uma
forma de financiamento mais barata do que os recursos a longo prazo. A forma de
financiamento mais barata para a empresa é, portanto, o Passivo Circulante.

11.2. Natureza da Relação entre Risco e Retorno

Caso uma empresa queira aumentar seu retorno, é necessário também aumentar seu
risco. Se quiser reduzir o risco, vai precisar diminuir o retorno. A relação entre essas
variáveis é de tal natureza que, independentemente de como a empresa aumenta seu
retorno por meio da manipulação do capital de giro, a conseqüência é um acréscimo
correspondente no risco, medido pelo nível de CCL.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 104

a) Ativos Circulantes: os efeitos do nível de ativos circulantes na relação risco-retorno


podem ser ilustrados mediante o uso de um simples índice: (ativos circulantes /
ativos totais). Esse índice indica a porcentagem dos ativos totais representada por
ativos circulantes, que pode aumentar ou diminuir.
 Efeitos de um aumento: à medida que o índice aumenta, tanto o retorno como o
risco decrescem. A lucratividade é reduzida porque os ativos circulantes são
menos rentáveis do que os ativos permanentes. O risco de insolvência técnica
diminui porque, supondo não haver alteração nos passivos circulantes, o
aumento nos ativos circulantes elevará o CCL.
 Efeitos de uma diminuição: a diminuição no índice provocará um retorno maior
na empresa, já que o aumento de seus ativos permanentes gera maiores retornos
do que os ativos circulantes. Contudo, o risco também crescerá, pois o seu CCL
diminuirá com a redução dos ativos circulantes. As conseqüências de uma
redução no índice ativos circulantes e ativos totais são exatamente o oposto dos
resultados de um aumento nesse índice.

b) Passivos Circulantes: Os efeitos das variações no nível de passivos circulantes da


empresa sobre sua relação risco/retorno também podem ser demonstrados, usando-
se um simples índice: (passivos circulantes / ativos totais). Esse índice denota a
porcentagem dos ativos totais da empresa financiada pelos passivos circulantes,
podendo essa porcentagem ser aumentada ou diminuída.
 Efeitos de um aumento: à medida que se aumenta o índice, a lucratividade da
empresa cresce, mas o seu risco também aumenta. A lucratividade aumenta em
razão dos menores custos relacionados com a utilização de mais financiamento a
curto prazo e menos a longo prazo. Posto que o financiamento a curto prazo
envolvendo duplicatas, títulos e despesas provisionadas a pagar é menos
dispendioso do que o financiamento a longo prazo, os custos da empresa se
reduzem, elevando seus lucros. Supondo que os seus ativos circulantes fiquem
inalterados, o CCL baixará, ao passo que os passivos circulantes aumentarão.
Uma redução no CCL significa um aumento do risco global.
 Efeitos de uma diminuição: uma redução no índice, diminuirá a lucratividade da
empresa, uma vez que um montante maior de financiamento precisa ser obtido
por intermédio de meios mais dispendiosos a longo prazo. Haverá uma queda
correspondente no risco, em decorrência do menor nível de passivos circulantes,
que provocará uma elevação no CCL da empresa. As conseqüências de um
decréscimo no indicadore são exatamente o oposto de um aumento nesse índice.

11.3. Análise do Ponto de Equilíbrio, Custos e Alavancagem

A análise do Ponto de Equilíbrio (break-even point) permite compreender como o lucro


pode ser afetado pelas variações nos elementos que integram as receitas de vendas e os
custos e despesas totais. Do ponto de vista contábil, o ponto de equilíbrio corresponde a
certo nível de atividades em que o lucro será nulo.

À medida que o volume de operações se deslocar acima do ponto de equilíbrio, surgirão


lucros crescentes; abaixo desse ponto, ocorrerão prejuízos cada vez maiores. A análise
distingue dois pontos de equilíbrio contábeis relacionados com o lucro operacional
(PEO) e com o lucro líquido (PEG).

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 105

Também é possível calcular um ponto de equilíbrio econômico em que o lucro líquido


corresponderia à remuneração esperada pelos acionistas sobre o capital próprio.
Complementarmente, essa análise permite determinar o valor das vendas necessárias
para cobrir os desembolsos relativos aos custos operacionais e financeiros e às
amortizações das dívidas.

Margem de Contribuição Total corresponde à parcela remanescente das receitas de


vendas após serem deduzidos os custos variáveis totais. Abatendo dessa margem de
contribuição os custos operacionais fixos, obtém-se o Lucro Operacional, que nesse tipo
de análise é chamado de LAJI ou LAJIR (lucro antes dos juros e do Imposto de Renda).

O valor do LAJI deve ser suficiente para cobrir os custos financeiros fixos e, após o
Imposto de Renda, restar a parcela que corresponderá ao Lucro Líquido do Período.

A margem de contribuição total e a margem de contribuição unitária constituem


elementos importantes nas análises do ponto de equilíbrio e dos efeitos de alavancagem.
Tipos de Pontos de Equilíbrio: para um único produto, a análise do ponto de equilíbrio
pode ser realizada em relação ao Lucro Operacional (LAJI) ou ao Lucro Antes do
Imposto de Renda (LAIR).

No primeiro caso, tem-se o ponto de equilíbrio operacional (PEO), que corresponde ao


nível de atividades em que as receitas de vendas são iguais ao total dos custos
operacionais, variáveis e fixos, determinando um valor nulo para o LAJI. Nesse nível, a
margem de contribuição total é igual aos custos operacionais fixos (Fo = custos fixos
totais - custos fixos financeiros).

PEO: p.q = v.q + Fo :. q (p-v) = Fo :. LAJI = 0

Ponto de Equilíbrio Global (PEG): corresponde ao nível de atividades em que as


receitas de vendas se igualam aos custos fixos totais, operacionais e financeiros,
apresentando um LAIR nulo. No volume de produção e vendas correspondente ao PEG,
a margem de contribuição total possui o mesmo valor dos custos fixos totais.

PEG: p.q = v.q + Ft :. q (p-v) = Ft :. LAIR = 0

11.4. Alavancagem sobre os Resultados

A análise dos efeitos da alavancagem sobre os resultados baseia-se nas mesmas relações
entre os custos, o volume e o lucro. Os custos fixos permanecem constantes dentro de
intervalos de variação do volume de operações. Mantidos os preços de venda dos
produtos, verificamos que, para cada intervalo, a um acréscimo de volume

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 106

corresponderão idênticas taxas de aumento de receitas de vendas, nos custos variáveis


totais e na margem de contribuição.

Contudo, a maior absorção dos custos fixos fará que o lucro cresça mais do que
proporcionalmente. Por outro lado, uma queda nas vendas acarretaria decréscimos
muito maiores nos lucros.

A ação de uma alavanca também provoca respostas mais do que proporcionais à força
empregada. Assim, os efeitos de alavancagem sobre os resultados da empresa decorrem
da existência de custos fixos que figurativamente correspondem ao fulcro ou ponto de
apoio da alavanca. Nesse raciocínio, temos:

a) Alavancagem operacional: a força empregada corresponderia ao acréscimo nas


receitas totais de vendas (ΔRTV), a posição do fulcro seriam os custos operacionais
fixos (Fo) e a resultante determinaria o acréscimo no lucro operacional (LAJI);
b) Alavancagem financeira: a ΔLAJI representando a força, as despesas financeiras
(Ff) sendo a posição do fulcro e o acréscimo no lucro líquido (ΔLL) correspondendo
à resultante;
c) Alavancagem total ou combinada: decorrente das duas alavancagens anteriores,
em que teríamos: força = ΔRTV, posição do fulcro os custos fixos totais (Ft = Fo +
Ff) e resultante = ΔLL.

11.5. O Valor do Dinheiro no Tempo

Já que consideramos a continuidade de uma empresa, seu valor e as decisões do


administrador financeiro devem ser avaliados à luz tanto dos fluxos de caixa presentes
como futuros (entradas e saídas). Possuir uma visão de longo prazo requer que o
administrador financeiro reconheça o valor do dinheiro no tempo. Para tanto, é
necessário o conhecimentos de alguns conceitos importantes.

Simbologia Adotada

n = número de períodos em que o tempo foi dividido, podendo tomar os valores 0, 1, 2,


3, 4,.. Assim, por exemplo, se um contrato tiver o seu tempo medido em meses, ter-se-á:
a) n = o indicativo da data inicial do contrato. Exemplo: n = 1 indicativo do final do
primeiro mês do contrato, e assim por diante;
b) r = taxa de juros em cada período de capitalização, dada em percentagem (%), e
sempre mencionando a unidade de tempo considerada. Exemplo: r = 10% ao ano;
c) i = taxa de juros em cada período de capitalização, dada em fração decimal. Guarda,
portanto, com r, a seguinte relação: i = r dividido por 100. Desta forma, se r = 10%
a.a., então i = 0,10. Essa taxa i é que será usada no desenvolvimento de todas as
fórmulas, ao passo que a taxa r será aquela utilizada na fixação dos juros;
d) P = Principal, ou seja, capital inicial empregado. Na escala horizontal do tempo,
representa sempre os valores colocados na data inicial, isto é, no ponto
correspondente a n = 0;
e) S = Montante, ou seja, capital no fim do período n. Na escala horizontal do tempo
representa, sempre os valores colocados em datas futuras, isto é, nos pontos
correspondentes a n = 1, 2, 3...

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 107

Juros Simples

Aqui, os juros de cada período são calculados sempre em função do capital inicial
empregado. O crescimento do dinheiro se dá segundo uma linha reta, o que nos leva a
fazer as seguintes afirmativas:
a) A juros simples, o dinheiro cresce linearmente ao longo do tempo;
b) A juros simples, o dinheiro cresce em progressão aritmética ao longo do tempo.
Fórmulas: S = P(1 + i . n) ou P = S / (1+i . n)

Juros Compostos

Já aqui, os juros de cada período são calculados sempre em função do saldo existente no
início do período correspondente. Comparativamente ao regime de juros simples, temos
que:
a) O dinheiro cresce mais rapidamente a juros compostos do que a juros simples;
b) A juros compostos, o dinheiro cresce exponencialmente ao longo do tempo;
c) A juros compostos, o dinheiro cresce em progressão geométrica ao longo do tempo.
Fórmulas: S = P(1 + i)n ou P = S / (1 + i)n

No regime de juros compostos, após cada período, os juros são incorporados ao saldo
anterior e passam, por sua vez, a render juros. A esse processo dá-se o nome de
capitalização de juros, e o período de tempo considerado é denominado período de
capitalização. Assim, a juros simples, apenas o principal rende juros, ao passo que a
juros compostos os rendimentos são calculados sobre os montantes, havendo, portanto,
uma incidência de juros sobre juros.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 108

12. Elaboração do Relatório de Análise

É importante salientar que calcular os índices, elaborar a análise quantitativa é somente


o primeiro passo de uma análise das demonstrações financeiras. Um relatório que
apresentasse dados em vez de informações não seria um bom relatório, pois transforma
um tipo de dado encontrado nas demonstrações em outros dados, o que para o leitor
pouco, ou nada valem. Por este motivo é que se torna necessário que o analista tenha
esta capacidade de interpretação, para então elaborar um relatório completo da análise.

Os relatórios de análise, ao contrario das demonstrações financeiras, devem ser


elaborados como se fossem dirigidos a leigos, ainda que não o sejam. A linguagem
utilizada deve ser clara ao nível de ser entendida por qualquer dirigente de empresa,
gerente de banco ou de crédito, por menor que sejam seus conhecimentos contábeis e
financeiros.

Obviamente isto não acontece com as demonstrações financeiras, que não apresentam
nenhuma preocupação nesse sentido, já que são elaborados por técnicos do assunto e
exclusivamente para outros técnicos, assim normalmente estão carregadas de termos
usuais de contabilidade e no mercado financeiro, a tal ponto de permitirem frequentes
manipulações. Assim, o relatório de análise de balanços deve assumir também o papel
de tradutor dos elementos contidos nas demonstrações financeiras.

12.1. Estrutura do Relatório

Para que o analista faça um relatório de análise das demonstrações contábeis, é


indispensável um conjunto de informações e conhecimentos básicos, que são pré-
requisitos a correta elaboração do relatório final, dentre os quais se destacam:

 Conhecimento Básico de Contabilidade;


 Conhecimento de Técnicas de Análise;
 Atividade da Empresa;
 Políticas e Estratégias da Empresa;
 Perfil dos Administradores;
 Influências dos ambientes interno e externo na empresa;
 Capacidade de Interpretação.

Além destes pré-requisitos, é preciso entender qual é o raciocínio que o analista deve
seguir para poder analisar as demonstrações. A análise de Demonstrações Financeiras
baseia-se em raciocínio científico, tendo como objetivo a conversão das demonstrações
contábeis em relatórios de linguagem simples, clara e direta.

Depois de toda análise quantitativa elaborada, é necessário saber o que incluir no


relatório. A seguir, estão listadas algumas informações importantes que devem ser
produzidas pela análise de balanços e que sugerimos fazer parte do relatório de análise
financeira.

a) Situação financeira;

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 109

b) Situação econômica;
c) Desempenho;
d) Eficiência na utilização dos recursos;
e) Pontos fortes e fracos;
f) Tendências e perspectivas;
g) Quadro evolutivo;
h) Adequação das fontes às aplicações dos recursos;
i) Causas das alterações na situação financeira;
j) Causas das alterações na rentabilidade;
k) Evidências de erros da administração;
l) Providências que deveriam ser tomadas e não foram;
m) Avaliação de alternativas econômico-financeiras futuras.

Além das informações de ordem contábil e econômico financeira é importante fazer


constar informações inerentes ao histórico e características da empresa que está sendo
analisada, conforme sugerido.

a) Caracterização da empresa;
b) Mercado;
c) Aspectos internos da empresa;
d) Aspectos contábeis;
e) Análise econômico financeira;
f) Conclusão.

12.2. Outras Considerações

Para que se possa realizar a análise das demonstrações financeiras, é fundamental que o
analista tenha pleno conhecimento das demonstrações contábeis, das técnicas de análise,
de como elaborar e interpretar uma análise, enfim, dos conceitos que foram
especificados neste material.

A Contabilidade deve servir não apenas como controle patrimonial, mas como
ferramenta gerencial nas empresas. Com a aplicação das técnicas de análise
apresentadas, aliada a capacidade de interpretação do analista, a qual deve ser adequada
à realidade da empresa analisada, ou do usuário que está solicitando a análise, pode-se,
então, elaborar relatórios os quais traduzam a situação econômico-financeira da
empresa, podendo, assim, a administração ter um auxílio para a tomada de decisões.

Apesar de algumas limitações por ser feito com base em fatos já ocorridos, tais
informações proporcionam comparativos entre períodos, preferencialmente no menor
período possível, mês a mês, já que algumas informações contábeis são apropriadas
mensalmente. Com base nos fatos ocorridos torna possível projetar os fatos futuros,
avaliando os ocorridos e os projetados ou orçados.

Deste modo, a análise elaborada com o maior número possível de informações é de


grande valia para a tomada de decisões. Não havendo um modelo padrão ou um modelo
ideal para elaborar uma análise, e sim quanto maior a quantidade e a qualidade das
informações maiores serão os subsídios para os gestores avaliarem, compararem e
projetarem para só então tomar as decisões necessárias.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 110

13. Estudo de Caso

Para facilitar o entendimento dos conceitos abordados neste material e sua devida
aplicação prática, foi desenvolvido um estudo de caso onde serão aplicadas as fórmulas,
os indicadores e os métodos de análise financeira.

A empresa “Miska Industrial de Calçados Ltda.”, bem como os números existentes e os


dados constantes deste estudo de caso, foram criados especificamente para fins
didáticos, não sendo relacionados com qualquer sociedade real.

Salientamos que as formas de análise e o grau de detalhamento aplicado devem ser


definidos pela própria diretoria da empresa, pelo gestor financeiro ou pelo responsável
na elaboração deste relatório.

13.1. Empresa Miska Indústria de Calçados Ltda.

A empresa Miska Industria de Calçados Ltda., começou suas atividades no mercado


nacional em janeiro de 2006, produzindo e comercializando calçados, bolsas e
acessórios.

Com o crescimento da renda, após os planos de estabilização econômica, verificou-se


uma demanda para esse tipo de produto. Além de existirem muitos concorrentes
instalados em sua cidade, a possibilidade de novos produtores se instalarem também é
considerada elevada.

Segundo seus levantamentos a demanda desse mercado, na sua cidade, cresce a uma
taxa de 10% ao ano. Entretanto os preços permaneceram constantes, pelo menos nos
primeiros dois anos, em função da concorrência, que ainda tende a aumentar e
principalmente porque a diretoria sabe que nesse mercado, além da qualidade, os preços
são decisivos na hora da compra.

Tendo posse de alguns relatórios contábeis e de algumas informações gerenciais obtidas


nos relatórios elaborados pela administração da sociedade, queremos calcular o maior
número de indicadores possíveis inerentes aos dois primeiros anos de atividade da
empresa a fim de informar aos acionistas a real posição da empresa, frente ao mercado.

13.2. Demonstrações Contábeis

A seguir foram relacionados os principais demonstrativos contábeis da empresa em


análise com o devido comparativo dos dois primeiros anos de atividade (2006 e 2007).

As demonstrações contábeis foram expressas em moeda nacional corrente na data do


encerramento do respectivo Balanço Patrimonial que foi representado de forma
sintética, a fim de destacar o saldo dos principais grupos de contas patrimoniais.

O mesmo acontece com as contas de resultado que foram apresentadas na


Demonstração do Resultado do Exercício de forma não analítica. Quando oportuno, as
aberturas serão realizadas no seu devido momento e de acordo com a necessidade.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 111

a) Balanço Patrimonial Comparativo

O Balanço Patrimonial fora levantado em consonância com os Princípios Fundamentais


de Contabilidade e com a legislação fiscal e societária vigente nos anos de seu
encerramento.

Todas as contas estão amparadas em controles internos e circularizações desenvolvidas


internamente pelos departamentos responsáveis e também em documentos idôneos
permitidos legalmente. Os saldos dos resultados apurados já estão contemplados no
Patrimônio Líquido da entidade, portanto a demonstração ficou assim representada:

Balanço Patrimonial da Empresa Miska Indústria de Calçados Ltda.


2006 2007
Contas
R$ R$
Ativo 250.700 285.115
Circulante 202.019 234.234
Disponibilidades 17.023 19.067
Clientes 126.795 148.213
Estoques 57.531 66.729
Impostos a Recuperar 670 225
Realizável a Longo Prazo 21.305 15.594
Créditos com Pessoas Ligadas 1.765 920
Depósitos Judiciais 19.540 14.674
Imobilizado 24.848 28.225
Bens em Operação 31.060 34.812
(-) Depreciação (6.212) (6.587)
Diferido 2.528 7.062
Gastos com Pesquisa 3.160 8.198
(-) Amortização (632) (1.136)

Passivo 250.700 285.115


Circulante 77.832 98.271
Fornecedores 13.994 25.524
(-) Adiantamento de Clientes (1.088) (382)
Contas a Pagar 28.307 42.036
Obrigações Tributárias 2.035 4.495
Empréstimos e Financiamentos 34.584 26.598
Exigível a Longo Prazo 40.305 31.178
Empréstimos e Financiamentos 34.821 27.542
Contas a Pagar 5.484 3.636
Resultado de Exercícios Futuros 1.508 2.489
Resultados Operacionais 1.508 2.489
Patrimônio Líquido 131.055 153.177
Capital Social 120.000 120.000
Resultados Acumulados 11.055 33.177

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 112

b) Demonstração do Resultado do Exercício

Assim como o Balanço Patrimonial, a DRE também está em conformidade com os


Princípios Fundamentais de Contabilidade e as legislações fiscal e societária vigentes.

Existem controles auxiliares e relatórios analíticos amparando todos os valores apurados


e estão de acordo com os procedimentos e normas contábeis utilizadas no Brasil.

Demonstração de Resultados da Empresa Miska Industria de Calçados Ltda.


2006 2007
Contas
R$ R$
Receita Bruta de Vendas 384.395 545.770
( - ) Deduções das Vendas (91.385) (118.015)
( = ) Receita Operacional Líquida 293.010 427.755
( - ) Custo dos Produtos Vendidos (234.731) (316.448)
( = ) Resultado Bruto 58.279 111.307
( - ) Despesas Operacionais (32.547) (59.407)
( = ) Resultado Operacional 25.732 51.900
( - ) Resultado Não Operacional (12.726) (25.874)
( = ) Resultado antes do IRPJ 13.006 26.026
( - ) Provisão para o IRPJ (1.951) (3.904)
( = ) Resultado Líquido do Período 11.055 22.122

13.3. Análises Iniciais

Para iniciar o nosso relatório de análises, optamos pela realização das análises diretas do
Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício, através da
aplicação das análises vertical e horizontal.

a) Análise Vertical do Balanço Patrimonial

Para a análise vertical foram utilizados como valores base, os saldos totais dos grupos
“ativo” e “passivo”. Lembrando que esta análise também pode ser calculada utilizando
como valor de referência o valor de cada subgrupo a que a conta patrimonial pertence.

Os valores foram apurados utilizando a fórmula apresentada no tópico específico do


tema e estão apresentados em valores percentuais a fim de facilitar o entendimento e a
análise por parte do administrador financeiro.

Após analisado e apurado individualmente o valor representativo de cada conta,


apresentamos novamente o balanço patrimonial com os devidos valores percentuais ao
lado de cada rubrica contábil que compõem o demonstrativo em análise, representado
da seguinte maneira:

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 113

Balanço Patrimonial da Empresa Miska Industria de Calçados Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Ativo 250.700 100,00% 285.115 100,00%
Circulante 202.019 80,58% 234.234 82,15%
Disponibilidades 17.023 6,79% 19.067 6,69%
Clientes 126.795 50,58% 148.213 51,98%
Estoques 57.531 22,95% 66.729 23,40%
Impostos a Recuperar 670 0,27% 225 0,08%
Realizável a Longo Prazo 21.305 8,50% 15.594 5,47%
Créditos com Pessoas Ligadas 1.765 0,70% 920 0,32%
Depósitos Judiciais 19.540 7,79% 14.674 5,15%
Imobilizado 24.848 9,91% 28.225 9,90%
Bens em Operação 31.060 12,39% 34.812 12,21%
(-) Depreciação (6.212) -2,48% (6.587) -2,31%
Diferido 2.528 1,01% 7.062 2,48%
Gastos com Pesquisa 3.160 1,26% 8.198 2,88%
(-) Amortização (632) -0,25% (1.136) -0,40%

Passivo 250.700 100,00% 285.115 100,00%


Circulante 77.832 31,05% 98.271 34,47%
Fornecedores 13.994 5,58% 25.524 8,95%
(-) Adiantamento de Clientes (1.088) -0,43% (382) -0,13%
Contas a Pagar 28.307 11,29% 42.036 14,74%
Obrigações Tributárias 2.035 0,81% 4.495 1,58%
Empréstimos e Financiamentos 34.584 13,79% 26.598 9,33%
Exigível a Longo Prazo 40.305 16,08% 31.178 10,94%
Empréstimos e Financiamentos 34.821 13,89% 27.542 9,66%
Contas a Pagar 5.484 2,19% 3.636 1,28%
Resultado de Exercícios Futuros 1.508 0,60% 2.489 0,87%
Resultados Operacionais 1.508 0,60% 2.489 0,87%
Patrimônio Líquido 131.055 52,28% 153.177 53,72%
Capital Social 120.000 47,87% 120.000 42,09%
Resultados Acumulados 11.055 4,41% 33.177 11,64%

b) Análise Vertical da Demonstração do Resultado do Exercício

Para a realização desta análise, utilizamos sempre como valor base o valor da “Receita
Operacional Líquida”, pois é a partir dela que efetuaremos quase que a totalidade das
nossas análises as contas de resultado.

Para este demonstrativo também trouxemos os valores a representações percentuais com


o intuito de parâmetros e facilidade na visualização rápida dos resultados.

Indicamos que sempre seja utilizada esta forma de cálculo para dar a imediata
visualização do resultado obtido pela aplicação da fórmula devida a esta questão.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 114

Demonstração de Resultados da Empresa Miska Industria de Calçados Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Receita Bruta de Vendas 384.395 131,19% 545.770 127,59%
( - ) Deduções das Vendas (91.385) -31,19% (118.015) -27,59%
( = ) Receita Operacional Líquida 293.010 100,00% 427.755 100,00%
( - ) Custo dos Produtos Vendidos (234.731) -80,11% (316.448) -73,98%
( = ) Resultado Bruto 58.279 19,89% 111.307 26,02%
( - ) Despesas Operacionais (32.547) -11,11% (59.407) -13,89%
( = ) Resultado Operacional 25.732 8,78% 51.900 12,13%
( - ) Despesas Não Operacionais (12.726) -4,34% (25.874) -6,05%
( = ) Resultado antes do IRPJ 13.006 4,44% 26.026 6,08%
( - ) Provisão para o IRPJ (1.951) -0,67% (3.904) -0,91%
( = ) Resultado Líquido do Período 11.055 3,77% 22.122 5,17%

c) Análise Horizontal do Balanço Patrimonial

A análise horizontal é realizada comparando-se o valor das contas contábeis em


diferentes exercícios sociais ou períodos que se deseja analisar, sendo assim como a
empresa iniciou suas atividades no ano de 2006, não possuímos base comparativa
anterior ao encerramento deste exercício e por isto consideramos este valor como base
para a análise do exercício encerrado em 31/12/2007.

Balanço Patrimonial da Empresa Miska Industria de Calçados Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Ativo 250.700 100,00% 285.115 113,73%
Circulante 202.019 100,00% 234.234 115,95%
Disponibilidades 17.023 100,00% 19.067 112,01%
Clientes 126.795 100,00% 148.213 116,89%
Estoques 57.531 100,00% 66.729 115,99%
Impostos a Recuperar 670 100,00% 225 33,58%
Realizável a Longo Prazo 21.305 100,00% 15.594 73,19%
Créditos com Pessoas Ligadas 1.765 100,00% 920 52,12%
Depósitos Judiciais 19.540 100,00% 14.674 75,10%
Imobilizado 24.848 100,00% 28.225 113,59%
Bens em Operação 31.060 100,00% 34.812 112,08%
(-) Depreciação (6.212) 100,00% (6.587) 106,04%
Diferido 2.528 100,00% 7.062 279,35%
Gastos com Pesquisa 3.160 100,00% 8.198 259,43%
(-) Amortização (632) 100,00% (1.136) 179,75%

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 115

Balanço Patrimonial da Empresa Miska Industria de Calçados Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Passivo 250.700 100,00% 285.115 113,73%
Circulante 77.832 100,00% 98.271 126,26%
Fornecedores 13.994 100,00% 25.524 182,39%
(-) Adiantamento de Clientes (1.088) 100,00% (382) 35,11%
Contas a Pagar 28.307 100,00% 42.036 148,50%
Obrigações Tributárias 2.035 100,00% 4.495 220,88%
Empréstimos e Financiamentos 34.584 100,00% 26.598 76,91%
Exigível a Longo Prazo 40.305 100,00% 31.178 77,36%
Empréstimos e Financiamentos 34.821 100,00% 27.542 79,10%
Contas a Pagar 5.484 100,00% 3.636 66,30%
Resultado de Exercícios Futuros 1.508 100,00% 2.489 165,05%
Resultados Operacionais 1.508 100,00% 2.489 165,05%
Patrimônio Líquido 131.055 100,00% 153.177 116,88%
Capital Social 120.000 100,00% 120.000 100,00%
Resultados Acumulados 11.055 100,00% 33.177 300,11%

b) Análise Horizontal da Demonstração do Resultado do Exercício

Não existe maiores diferenças entre as análises horizontais do Balanço Patrimonial e da


Demonstração do Resultado do Exercício, por isso utiliza-se a mesma metodologia
descrita no item analisado anteriormente e neste caso também trouxemos os resultados
para valores percentuais. Assim a DRE fica analisada horizontalmente, para os
exercícios findos em 31/12/2006 e 31/12/2007, da seguinte maneira:

Demonstração de Resultados da Empresa Miska Industria de Calçados Ltda.


2006 2007
Contas
R$ % R$ %
Receita Bruta de Vendas 384.395 100,00% 545.770 141,98%
( - ) Deduções das Vendas (91.385) 100,00% (118.015) 129,14%
( = ) Receita Operacional Líquida 293.010 100,00% 427.755 145,99%
( - ) Custo dos Produtos Vendidos (234.731) 100,00% (316.448) 134,81%
( = ) Resultado Bruto 58.279 100,00% 111.307 190,99%
( - ) Despesas Operacionais (32.547) 100,00% (59.407) 182,53%
( = ) Resultado Operacional 25.732 100,00% 51.900 201,69%
( - ) Despesas Não Operacionais (12.726) 100,00% (25.874) 203,32%
( = ) Resultado antes do IRPJ 13.006 100,00% 26.026 200,11%
( - ) Provisão para o IRPJ (1.951) 100,00% (3.904) 200,11%
( = ) Resultado Líquido do Período 11.055 100,00% 22.122 200,11%

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 116

13.4. Análise dos Indicadores

Neste tópico iremos analisar os indicadores financeiros passíveis de cálculo através das
informações disponibilizadas nas demonstrações contábeis da empresa “Miska Indústria
de Calçados Ltda.”, conforme orientações e fórmulas descritas nos capítulos anteriores.

Antes de analisar os indicadores de solvência, estrutura, eficiência e rentabilidade,


dentre outros é importante realizar a análise do capital circulante líquido da empresa e já
que não temos a DOAR disponibilizada, iremos realizar o cálculo diretamente pelo
Balanço Patrimonial, seguindo a fórmula onde encontraremos o valor esperado,
subtraindo o saldo do Ativo Circulante do saldo do Passivo Circulante. Assim teremos
para os anos de 2006 e 2007 os seguintes indicadores:

- Fórmula:

Capital de Giro Líquido = Ativo Circulante - Passivo Circulante

- Resolução:

Capital de Giro Líquido 2006 = 202.019 - 77.832 = 124.187

Capital de Giro Líquido 2007 = 234.234 - 98.271 = 135.963

Assim podemos notar que nos dois anos a empresa tinha um capital de giro líquido
positivo e que mesmo em 2007 quando as obrigações de curto prazo foram majoradas, o
resultado foi compensado pelo aumento proporcional dos direitos de curto prazo.

Podemos afirmar então que, dos valores de curto prazo em 2006, temos um resultado
positivo de 62,67% (= 77.832 / 124.187) e em 2007 o saldo positivo passa a ser de
72,28% (= 98.271 / 135.963). Esta é a proporção da sobra de recursos em caixa,
considerando o pagamento de todas as obrigações de curto prazo.

a) Índices de Liquidez (Solvência)

- Liquidez Corrente:

Liquidez Corrente 2006 = 202.019 ÷ 77.832 = 2,60

Liquidez Corrente 2007 = 234.234 ÷ 98.271 = 2,38

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A interpretação deste indicador mostra que no momento em que foi apurado o Balanço
Patrimonial de 31/12/2006, a empresa possuía R$ 2,60 para cada real que possuía em
dívidas de curto prazo. Para o demonstrativo de 2007, o valor disponível para a quitação
completa das obrigações de curto prazo era de R$ 2,38 para cada real de obrigações.

- Liquidez Seca:

Liquidez Seca 2006 = 202.019 - 57.531 ÷ 77.832 = 1,86

Liquidez Seca 2007 = 234.234 - 66.729 ÷ 98.271 = 1,70

Este índice também apresenta o valor disponível para a quitação das obrigações de curto
prazo, no entanto, este indicador é um pouco mais rigoroso por não considerar o valor
dos estoques no cálculo. Sendo assim a empresa teria para cada um real de dívida de
curto prazo, o valor de R$ 1,86 para saldá-las em 2006 e R$ 1,70 no ano de 2007,
considerando que nenhuma das mercadorias constantes no estoque seja comercializada.

- Liquidez Imediata:

Liquidez Imediata 2006 = 17.023 ÷ 77.832 = 0,22

Liquidez Imediata 2007 = 19.067 ÷ 98.271 = 0,19

Na análise deste indicador temos a capacidade de pagamento imediata, ou seja, quanto a


empresa analisada possui em recursos disponíveis em caixa para saldar todas as suas
dívidas de curto prazo na data do encerramento do Balanço, desconsiderando as
mercadorias em estoques e os valores a receber de clientes e demais direitos de curto
prazo. Desta forma a empresa possui R$ 0,22 em 31/12/2006 e R$ 0,19 em 31/12/2007.

Com a análise deste indicador não podemos refletir qualquer situação da empresa já que
inúmeros fatores são responsáveis por mudanças significativas que ocorrem diariamente
nas contas dos recursos disponíveis.

- Liquidez Geral:

Liquidez Geral 2006 = 202.019 + 21.305 ÷ 77.832 + 40.305 = 1,89

Liquidez Geral 2007 = 234.234 + 15.594 ÷ 98.271 + 31.178 = 1,93

Este indicador de liquidez aponta que no exercício encerrado em 31/12/2006 a empresa


analisada possuía um valor de R$ 1,89 para cada um real de dívida assumida, seja ela de
curto ou longo prazo. Já no ano de 2007 o valor passou a ser de R$ 1,93 melhorando
ainda mais o grau de liquidez da organização.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 118

Importante salientar que para este cálculo foram utilizados os recursos totais de curto e
longo prazo da mesma forma como ocorreu com as obrigações.

- Endividamento:

Endividamento 2006 = 77.832 + 40.305 ÷ 131.055 = 0,90

Endividamento 2007 = 98.271 + 31.178 ÷ 153.177 = 0,85

A melhoria deste indicador de 2006 para 2007 indica que a empresa está reduzindo o
seu grau de endividamento através de empréstimos e financiamentos assumidos, quando
comparados com o capital de giro próprio. Sendo assim o parâmetro de garantia dos
credores foi melhorado de um ano para o outro mesmo sem o aumento do capital social.
Os números resultantes evidenciam claramente o reflexo positivo das políticas de
alavancagem financeira utilizadas pela empresa.

b) Índices de Estrutura

- Participação das Disponibilidades:

Indice de Participação das Disponibilidades 2006 = 17.023 ÷ 202.019 = 0,0843 ou 8,43%

Indice de Participação das Disponibilidades 2007 = 19.067 ÷ 234.234 = 0,0814 ou 8,14%

No índice de participação das disponibilidades obtemos uma espécie de análise vertical


desta rubrica com relação ao grupo a qual ela pertence. Assim podemos afirmar que no
ano de 2006, cerca de 8,43% dos valores constantes do ativo circulante estavam
alocados nas contas do disponível. Podemos perceber ainda que apesar do aumento nos
dois valores, a representatividade sofreu uma pequena queda no ano de 2007, passando
a significar 8,14% do total do ativo circulante.

Existe uma relação direta com o indicador de liquidez imediata que também sofreu uma
pequena queda pelo mesmo motivo, a representatividade dos valores disponíveis,
mesmo com seu aumento financeiro percebido de um exercício social para o outro
imediatamente posterior.

- Participação dos Estoques:

Indice de Participação dos Estoques 2006 = 57.531 ÷ 202.019 = 0,2848 ou 28,48%

Indice de Participação dos Estoques 2007 = 66.729 ÷ 234.234 = 0,2849 ou 28,49%

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 119

Assim como no indicador anterior esta análise visa somente demonstrar a


representatividade, agora da conta Estoques, com relação às demais contas do grupo ao
qual pertence.

Assim nota-se que apesar do aumento no volume monetário dos estoques, eles seguiram
mais ou menos a mesma proporção do aumento ocorrido no total do Ativo Circulante e
por isto os indicadores sofreram uma variação quase que imperceptível.

- Participação de Contas a Receber:

Indice de Participação do Contas a Receber 2006 = 126.795 ÷ 202.019 = 0,6276 ou 62,76%

Indice de Participação do Contas a Receber 2007 = 148.213 ÷ 234.234 = 0,6328 ou 63,28%

No caso das contas a receber existiu um pequeno aumento no índice que, aliás,
representa o maior montante registrado nas contas dos bens e direitos de curto prazo.

A representatividade das contas a significa mais da metade do montante do seu grupo,


merecendo desta forma, especial atenção com relação aos controles internos, já que um
indicador muito elevado pode significar uma política de concessão de crédito muito
flexível e apesar de não possuirmos os valores de inadimplência, eles precisam ser
considerados devido ao elevado risco de perda de capital. A elaboração de uma Provisão
para Créditos de Liquidação Duvidosa - PCLD é sempre positiva para fins gerenciais.

- Participação dos Financiamentos:

Para a apuração deste indicador é importante salientar que se entende por


financiamentos todos os empréstimos bancários de curto prazo, registrados no passivo
circulante.

Como em nosso caso não foram demonstrados estes valores no curto prazo, significa
que o capital de giro da empresa e totalmente financiado pelo capital próprio, ou seja, a
empresa não está dependendo de empréstimos bancários para custear suas atividades a
curto prazo e desta forma o indicador não pode ser calculado.

c) Índices de Eficiência (Atividade)

- Giro dos Estoques:

Estoque Médio 2006 = 0 + 57.531 ÷ 2 = 28.766

Estoque Médio 2007 = 57.531 + 66.729 ÷ 2 = 62.130

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 120

Giro de Estoques 2006 = 234.731 ÷ 28.766 = 8,16

Giro de Estoques 2007 = 316.448 ÷ 62.130 = 5,09

Antes de apurar o valor do Giro dos Estoques é necessário efetuar o cálculo do estoque
médio e para isto consideramos o valor dos estoques inicial e final de acordo com o
saldo contábil. Assim o saldo do estoque inicial para o ano de 2006 era zero, já que as
atividades da empresa tiveram início em janeiro deste exercício e o saldo final foi o
apurado em 31/12/2006, que consequentemente também será o saldo inicial em 2007,
tendo como valor final o saldo da conta em 31/12/2007.

Percebemos assim, que o indicador de 2006 foi superior ao giro no exercício de 2007 e
isto pode ser comprovado através do cálculo do prazo médio de renovação doe estoques
apurado a seguir e de acordo com a metodologia estudada nos capítulos anteriores.

Prazo Médio de Renovação dos Estoques 2006 = 360 ÷ 8,16 = 44

Prazo Médio de Renovação dos Estoques 2007 = 360 ÷ 5,09 = 71

O prazo médio de renovação dos estoques demonstra que de 2006 para 2007 os estoques
passaram a girar de forma mais lenta, gerando um aumento na ordem de 27 dias, se
comparado ao saldo apurado no ano anterior. Assim temos a evidência de uma queda na
eficiência da empresa em gerir estes ativos, que desta forma, estão sendo transformados
em receita mais lentamente. A leitura do indicador demonstra que no ano de 2007, por
exemplo, o estoque levou em torno de 71 dias para girar completamente, ou seja,
passaram-se 71 dias desde o momento da compra da matéria prima (ou produto para
revenda) até a venda final do produto no mercado consumidor.

- Giro de Contas a Receber:

Contas a Receber Médio 2006 = 0 + 126.795 ÷ 2 = 63.398

Contas a Receber Médio 2007 = 126.795 + 148.213 ÷ 2 = 137.504

Giro do Contas a Receber 2006 = 293.010 ÷ 63.398 = 4,62

Giro do Contas a Receber 2007 = 427.755 ÷ 137.504 = 3,11

Assim como no caso dos estoques, para o correto cálculo do giro de Contas a Receber, é
necessário anteriormente calcular o saldo do contas a receber médio utilizando-se de

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 121

seus saldos iniciais e finais. Lembrando sempre que a empresa analisada iniciou suas
atividades no exercício de 2006 e, portanto seu saldo inicial deste período era zero.

O indicador de giro para o período de 2006 superou o indicador do período subsequente


devido ao maior prazo concedido aos clientes para pagamento, conforme apuração do
prazo médio analisado a seguir:

Prazo Médio de Recebimento 2006 = 360 ÷ 4,62 = 78

Prazo Médio de Recebimento 2007 = 360 ÷ 3,11 = 116

Este índice evidencia que no ano de 2007 a empresa demorou cerca de 38 dias a mais
para receber os saldos escriturados. No ano de 2006 uma venda que levava em torno de
78 dias para se ter a completa realização passou a levar 116 dias para transformar-se em
dinheiro efetivo e disponível completamente no caixa da empresa. Percebe-se então que
quanto maior o índice de giro, menor será o prazo médio para recebimento.

- Giro de Contas a Pagar:

Contas a Pagar Médio 2006 = 0 + (13.994 + 28.307) ÷ 2 = 21.151

Contas a Pagar Médio 2007 = (13.994 + 28.307) + (25.524 + 42.036) ÷ 2 = 54.931

Giro do Contas a Pagar 2006 = (234.731 + 0 - 57531) ÷ 21.151 = 8,38

Giro do Contas a Pagar 2007 = (316.448 + 57.531 - 66.729) ÷ 54.931 = 5,59

Utilizando a mesma metodologia dos dois indicadores anteriores, calculamos o valor do


contas a pagar médio para os períodos destacados a fim de posteriormente utilizá-los na
apuração do giro de contas a pagar para os períodos de 2006 e 2007. Lembramos que
para cálculo do valor das compras é preciso somar ao custo do produto vendido o valor
do estoque inicial e subtrair o saldo do estoque final, conforme demonstrado
analiticamente na aplicação acima.

O valor do contas a pagar para a apuração do contas a pagar médio é apurado pela soma
das contas de fornecedores com o saldo da conta “contas a pagar” e assim, como
aconteceu no giro do contas a receber, o indicador de 2006 foi maior que o valor
apurado no ano de 2007, significando um maior prazo médio em 2007 se comparado
com o exercício social imediatamente anterior.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 122

Prazo Médio de Pagamento 2006 = 360 ÷ 8,38 = 43

Prazo Médio de Pagamento 2007 = 360 ÷ 5,59 = 64

Neste caso, o aumento no prazo médio significa um benefício que a empresa conseguiu
obter com os fornecedores, estendendo seu prazo de pagamento em cerca de 21 dias e
passando a pagar suas faturas em uma médias de 64 dias. É necessário notar que a
empresa está tendo um menor prazo de pagamento se comparado com o tempo que está
concedendo para receber seus valores negociados.

- Posicionamento Relativo:

Posicionamento Relativo 2006 = 78 ÷ 43 = 2

Posicionamento Relativo 2007 = 116 ÷ 64 = 2

Verificamos que o nosso indicador nos dois anos foi basicamente o mesmo, se
arredondado, é claro.

Com um indicador superior a 1,00, estamos comprometendo de forma negativa o fluxo


de caixa da empresa pois estamos pagando as contas em um prazo menor ao que
estamos recebendo e este descompasso irá, na medida do tempo comprometer
seriamente os valores disponíveis na empresa que terá um valor a pagar em determinado
momento que não estará amparado por valores a receber.

Se este problema não tiver uma rápida solução, certamente irá ocorrer a redução do
capital de giro da empresa, inclusive das aplicações financeiras que terão de suprir esta
lacuna até o real recebimento dos valores; interferindo negativamente nos indicadores
de liquidez, estrutura, eficiência e na própria rentabilidade da empresa em análise.

d) Índices de Rentabilidade

- Margem de Lucro Bruto:

Margem de Lucro Bruto 2006 = 58.279 ÷ 293.010 = 0,1989 ou 19,89%

Margem de Lucro Bruto 2007 = 111.307 ÷ 427.755 = 0,2602 ou 26,02%

Neste indicador temos a representação de que o resultado operacional líquido, apesar


das inconformidades gerenciais apresentadas para o ano de 2007, apresentou um ligeiro
aumento.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 123

Assim, se no ano de 2006 sobrava em torno de 19,89% da receita operacional após o


pagamento dos custos de produção, para o exercício de 2007 este ganho passou a ser de
mais de 26%, representando um aumento de quase 7% na apuração do lucro Bruto da
empresa.

- Margem de Lucro Operacional:

Margem de Lucro Operacional 2006 = 25.732 ÷ 293.010 = 0,0878 ou 8,78%

Margem de Lucro Operacional 2007 = 51.900 ÷ 427.755 = 0,1213 ou 12,13%

Da mesma forma que a margem de lucro bruto, este indicador apresentou um aumento
em 2007, comparado ao período anterior. Significa que após o pagamento dos custos de
produção e das despesas operacionais, restam 12,13% da receita operacional líquida.

Para este indicador não são considerados as despesas com juros sobre empréstimos e
também o pagamento do imposto de renda provisionado.

- Margem de Lucro Líquido:

Margem de Lucro Líquido 2006 = 11.055 ÷ 293.010 = 0,0377 ou 3,77%

Margem de Lucro Líquido 2007 = 22.122 ÷ 427.755 = 0,0517 ou 5,17%

Este é exatamente o índice de sucesso da empresa, pois é apurado após dedução de


todos os custos, despesas, impostos e juros.

Neste caso podemos verificar que o indicador apresentou uma melhora no exercício de
2007 já que o indicador que era de 3,77% em 206, passou a representar 5,17%,
aumentando a lucratividade da empresa com relação ao período anterior e que é
refletido diretamente no resultado final apurado pela empresa.

- Lucro por Ação:

Lucro por Ação 2006 = 11.055 ÷ 12.000 = 0,9213

Lucro por Ação 2007 = 22.122 ÷ 12.000 = 1,8435

Neste indicador também nota-se o aumento obtido de 2006 para 2007 e neste caso o
retorno positivo foi para o acionista que retirou o valor em espécie ou reinvestiu na
sociedade.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 124

Para este cálculo utilizamos os dados fornecidos no Contrato Social, onde estão
previstas 12.000 (doze mil quotas) no valor nominal de R$ 1,00 (um real) ou mesmo de
24.000 e desta forma calcula-se que os acionistas estarão recebendo R$ 1,8435 para
cada quota que lhe pertencer.

- Retorno sobre o Ativo Total:

Retorno Sobre o Ativo Total 2006 = 11.055 ÷ 250.700 = 0,0441 ou 4,41%

Retorno Sobre o Ativo Total 2007 = 22.122 ÷ 285.115 = 0,0776 ou 7,76%

Na análise deste indicador verificamos que o desempenho gerencial na geração de


lucros com os ativos disponíveis teve um aumento no ano de 2007, na ordem de
aproximadamente 76%, o que significa que o aumento dos ativos de um ano para o
outro fora utilizado de forma correta para a geração de lucros destinados à empresa.

Giro do Ativo 2006 = 293.010 ÷ 250.700 = 1,17

Giro do Ativo 2007 = 427.755 ÷ 285.115 = 1,50

ROA 2006 = (11.055 ÷ 193.010) x (293.010 ÷ 250.700) = 0,0441 ou 4,41%

ROA 2007 = (22.122 ÷ 427.755) x (427.755 ÷ 285.115) = 0,0776 ou 7,76%

Ao analisarmos a fórmula do ROA de forma detalhada vemos que a margem de lucro


líquido e o giro do ativo interferem diretamente neste índice que mesmo sendo positivo,
está relativamente baixo, simbolizando a utilização de forma não eficiente para a
geração de vendas. Os ciclos de venda longos estão refletindo a necessidade de mais
ativos e portando, um giro deficiente.

- Retorno sobre o Capital Próprio:

Retorno do Capital Próprio 2006 = 11.055 ÷ 131.055 = 0,0844 ou 8,44%

Retorno do Capital Próprio 2007 = 22.122 ÷ 153.177 = 0,1444 ou 14,44%

Neste caso o comparativo reflete o retorno obtido no investimento do capital dos


acionistas da empresa, que alias, também apresentou um aumento no ano de 2007 se
comparado ao período anterior. Este resultado representa um acréscimo aproximado de
71% no ano corrente.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 125

Multiplicador de Alavancagem Financeira 2006 = 250.700 ÷ 131.055 = 1,91

Multiplicador de Alavancagem Financeira 2007 = 185.115 ÷ 153.177 = 1,86

ROE 2006 = (11.055 ÷ 250.700) x (250.700 ÷ 131.055) = 0,0844 ou 8,44%

ROE 2007 = (22.122 ÷ 285.115) x (285.115 ÷ 153.177) = 0,1444 ou 14,44%

O ROE decomposto analisa também o multiplicador de alavancagem financeira que


mostra a utilização do capital de terceiros sobre a formação dos ativos, assim, a
resolução para o ROE é verificada com o ROA e o MAF, representando o aumento
descrito acima, que também é baixo e não remunera os acionistas de acordo com sua
necessidade.

e) Sistema DuPont de Análise

A mesma análise realizada nos dois indicadores anteriores pode ser obtido pelo Sistema
DuPont que representamos graficamente, conforme ilustração detalhada dos valores
utilizados que foram descritos no capítulo 7.5 deste material.

Para análise deste sistema destacamos os valores utilizados em cada quadro de dados,
conforme relacionado:

Descrição 2006 2007


Lucro Líquido 11.055 22.122
Vendas Líquidas 293.010 427.755
Total de Ativos 250.700 185.115
Patrimônio Líquido 131.055 153.177

Todos os valores relacionados foram retirados das demonstrações contábeis da empresa


em análise. Os demais valores foram apurados conforme cálculo detalhado no esquema
analítico. Após a completa solução, obtivemos os mesmos resultados apurados nas
fórmulas anteriores, mas com maior riqueza de detalhes para o analista financeiro.

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 126

- Para o exercício encerrado em 31/12/2006:

Ano Base: 2006


11.055

Dividido por 0,03877

293.010 Multiplicado por 0,0441

Dividido por 1,1688

Multiplicado por 0,0844


250.700

Dividido por 1,9129

131.055

- Para o exercício encerrado em 31/12/2007:

Ano Base: 2007


22.122

Dividido por 0,0517

427.755 Multiplicado por 0,0776

Dividido por 1,5003

Multiplicado por 0,1444


285.115

Dividido por 1,8616

153.177

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 127

13.5. Outras Análises

Existem diversas análises que podem ser feitas com a obtenção de dados gerenciais e
analíticos que compõem as demonstrações contábeis encerradas em 2006 e 2007.

Com estes dados será possível o cálculo e análise da alavancagem, do ponto de


equilíbrio e da necessidade de capital de giro que também são informações valiosas na
análise financeira das organizações.

Com fins a detalhamento e cálculo destes indicadores detalhamos alguns valores que
não podemos constatar na simples análise dos demonstrativos anteriormente descritos.

- Despesas Operacionais:

Descrição 2006 2007


Despesas com Vendas 10.047 36.907
Despesas Administrativas 20.000 20.000
Despesas Financeiras 2.500 2.500
Total 32.547 59.407

- Classificação dos Custos:

Custo Contas
Custos Fixos Despesas Administrativas + Despesas Financeiras
Custos Variáveis Custo dos Produtos Vendidos + Despesas com Vendas

- Valor das Compras

Compras = Custo do Produto Vendido + Estoque Inicial – Estoque Final

Com os dados gerenciais somados às demonstrações contábeis publicadas, podemos


então apurar os seguintes indicadores financeiros para complementar nosso relatório:

a) Alavancagem Operacional

GAO 2006 = (293.010 - 244.778) ÷ (293.010 - 244.778 - 22.500) = 1,87

GAO 2007 = (427.755 - 353.355) ÷ (427.755 - 353.355 - 22.500) = 1,43

b) Ponto de Equilíbrio

Margem de Contribuição 2006 = 293.010 - (234.731 + 10.047) = 48.232

Margem de Contribuição 2007 = 427.755 - (316.448 + 36.907) = 74.400

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Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras Página 128

Margem de Contribuição % 2006 = 48.232 ÷ 293.010 = 0,1646 ou 16,46%

Margem de Contribuição % 2007 = 74.400 ÷ 427.755 = 0,1739 ou 17,39%

Receita Operacional Líquida 2006 = 22.500 ÷ 0,1646 = 136.695

Receita Operacional Líquida 2007 = 22.500 ÷ 0,1739 = 129.385

c) Necessidade de Capital de Giro

Em nosso caso prático, não temos dados suficientes para a análise dos indicadores que
envolvem a necessidade de capital de giro, no entanto para os relatórios gerenciais, é de
grande importância que estes resultados constem na íntegra e devidamente analisados.

O ciclo de caixa interfere diretamente no resultado do capital de giro e requer controles


internos paralelos a fim de melhor abordar este assunto e servir de parâmetros para a
estruturação de uma estratégia financeira bem definida.

A forma de cálculo, as fórmulas utilizáveis bem como os exemplos práticos foram


detalhados no capítulo 9 deste material e são merecedores de especial atenção.

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