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07
Visão Conservada Conservada ou Conservada ou Diminuída Baixa Baixa visual Conservada Conservada
Olho vermelho
levemente levemente importante de moderada
diminuída diminuída acuidade
visual
Córnea Normal Normal ou Normal Áreas Turva (edema Transparente Normal Normal
infiltrados opacificadas de córnea)
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Olho vermelho cap. 07
Hiposfagma Pterígio
A blefarite crônica é uma afecção palpebral que neutros em ácidos graxos irritantes. Há correla-
pode cursar com hiperemia conjuntival além de ção dessa afecção ocular com quadro de derma-
outras alterações corneanas e conjuntivais devi- tite seborréica, que pode acometer áreas extra-
do à íntima relação da pálpebra com a superfície oculares como couro cabeludo e região retro-
ocular. auricular, por exemplo. O tratamento envolve a
higiene palpebral com uso de xampu neutro ou
A blefarite pode ser de vários tipos: blefarite es- infantil diluído, por longo período, adequando-
tafilocócica, seborréica e mista; seborréia meibo- se a freqüência de acordo com a intensidade dos
miana e meibomite. sintomas. Podem ser associados antibioticotera-
pia tópica na margem palpebral, nos casos de fo-
A blefarite estafilocócica tem sua etiologia na liculite aguda, e lágrimas artificiais, nos casos em
infecção estafilocócica na qual os produtos tóxi- que há instabilidade do filme lacrimal.
cos são irritantes e levam a quadro caracterizado
pela hiperemia e por telangiectasias da margem A seborréia meibomiana é a afecção palpebral
palpebral anterior. É comum a formação de con- em que há secreção excessiva pelas glândulas de
creções em torno da base dos cílios conhecidos Meibomius. Pode ser visualizada nos óstios das
por “colaretes”. Pode haver cicatrização com hi- glândulas de Meibomius a formação de gotícu-
pertrofia da margem palpebral e perda dos cílios las de óleo. Geralmente está associado ao qua-
(madarose), além de triquíase e poliose. dro um filme lacrimal de aspecto espumoso.
A blefarite seborréica caracteriza-se por hipere- Meibomite é a afecção palpebral em que há obs-
mia e oleosidade da margem palpebral junto aos trução dos orifícios das glândulas de Meibomius.
cílios, formando crostas moles. O Corynebacte- Caracteriza-se pela hiperemia da margem palpe-
rium acnes contribui na etiologia dessa afecção bral, a qual apresenta inflamação difusa adjacen-
ao degradar quantidades excessivas de lipídeos te às glândulas meibomianas.
O ectrópio adquirido pode ser dividido em in- É importante frisar que o cílio triquiático tem
volucional, cicatricial, mecânico e paralítico. cor e espessura semelhantes aos cílios nor-
mais. É uma condição adquirida muito comum.
O ectrópio involucional é o tipo mais freqüen-
te. Apresenta-se inicialmente como uma flaci- A triquíase é basicamente uma condição de
dez de tecidos que evolui para o alongamento natureza cicatricial. Pode ser resultado de: pro-
palpebral, para eversão da margem e, final- cessos inflamatórios que afetam a margem
mente, para hipertrofia e queratinização da palpebral e os folículos pilosos (meibomites,
conjuntiva tarsal. blefarites crônicas, tracoma, conjuntivites crô-
nicas, hordéolos); alterações dermatológicas
O ectrópio cicatricial é o resultado do encur- que gerem retração da pele periorbital e alte-
tamento da lamela anterior palpebral. Pode ração de convexidade de cílios; doenças con-
ocorrer em casos de trauma (queimadura tér- juntivais cicatrizantes (Stevens-Johnson, pen-
mica ou química, seqüela de blefaroplastia figóide ocular, conjuntivite lenhosa) as quais
com ressecção excessiva de pele) ou de pro- podem produzir retração cicatricial da con-
cesso inflamatório crônico da pele (eczema, juntiva tarsal, com conseqüente retração da
dermatite atópica, leishmaniose e linfoma margem palpebral e alteração da posição dos
cutâneo de célula T). cílios; trauma cortante da margem palpebral;
O ectrópio mecânico está relacionado à pre- cirurgia palpebral com fratura de tarso; dimi-
sença de massa tumoral na margem palpebral. nuição da produção lacrimal, a qual freqüente-
mente acarreta modificações conjuntivais.
O ectrópio paralítico é causado pela parali-
sia do VII par craniano (nervo facial). Além do A maioria dos pacientes com triquíase encon-
ectrópio, a paralisia do VII par craniano leva a tra-se na faixa etária entre 60 e 70 anos de ida-
quadro de lagoftalmo e de ptose de supercílio de. Os sintomas são sensação de corpo estra-
ipsilateral, e até a lesão. nho ocular, fotofobia, lacrimejamento e secre-
Todos os tipos de ectrópio adquirido são de ção seromucosa.
tratamento cirúrgico, através de diversas téc-
nicas. O tratamento consiste em destruição dos cílios
alterados com uso de eletrólise, de crioterapia
ou de laser. Em casos muito severos, com gran-
Triquíase de quantidade de cílios acometidos, deve ser
realizado procedimento cirúrgico.
Afecção caracterizada pela alteração da direção
do cílio que, emergindo normalmente do folhe-
to palpebral anterior, encurva-se e toca o bulbo
ocular.
Figura 01:
Ceratites superficiais
A ceratite bacteriana constitui causa importante Em úlceras corneanas de menor gravidade (pe-
de déficit visual, associando-se freqüentemente riféricas, superficiais e menores que 3 mm), é
a situações em que ocorrem alterações nos me- instituída monoterapia com fluorquinolonas tó-
canismos de defesa corneal. Diagnóstico e trata- pica de 1 em 1 hora (ciprofloxacina 0,3%, ofloxa-
mento imediatos podem limitar a perda de te- cina 0,3%, monofloxacina 0,5% ou gatifloxacina
cido, minimizar a cicatrização e reduzir a neces- 0,3%). Para úlceras graves, o tratamento consiste
sidade de cirurgia futura. Neisseria gonorrhoeae em utilização de dois antibióticos fortificados tó-
e Haemophilus influenzae são as duas bactérias picos para a cobertura de patógenos Gram-posi-
capazes de invadir o epitélio corneano intacto. tivos e Gram-negativos, de 1 em 1 hora (cefazo-
As demais bactérias somente são capazes de lina fortificada 5% e gentamicina fortificada 2%).
produzir ceratite após o comprometimento da Uso de antibioticoterapia sistêmica com uso de
integridade epitelial. Pseudomonas sp., Staphylo- fluorquinolonas estão indicados em casos com
coccus sp. e Streptococcus pneumoniae são os risco ou comprometimento escleral ou intra-
agentes etiológicos mais freqüentes. Em cerati- ocular. A terapêutica inicial só deve ser modifica-
te bacteriana associada a mau uso de lentes de da na existência de resistência demonstrada em
contato, a Pseudomonas aeroginosa é o agente cultura do organismo ao esquema terapêutico.
causador mais comumente isolado. Durante o tratamento, é importante não con-
fundir dificuldade de reepitelização corneal por
No quadro clínico inicial, tipicamente há histó- toxicidade medicamentosa com persistência da
ria de traumatismo ocular, de doença corneal infecção.
pré-existente, de uso de lentes de contato ou
de corticosteróide tópico. Sinais e sintomas in-
cluem dor, lacrimejamento, fotofobia, diminui- Ceratites Fúngicas
ção de visão, edema palpebral, secreção puru-
lenta e hiperemia conjuntival. Os sintomas po- As ceratites fúngicas são raras, porém podem
dem ser mascarados ou retardados em usuários evoluir com efeitos devastadores. Podem ser
de lentes de contato. Ao exame oftalmológico, causadas por uma grande variedade de agentes.
os sinais são injeção conjuntival e perilímbica, Os patógenos mais comuns são fungos filamen-
defeito epitelial associado a infiltrado ao redor tosos (Aspergillus spp. e Fusarium spp.) e Candida
da margem e na base da desepitelização cor- albicans. A ceratite causada por fungos filamen-
neal, aumento do infiltrado associado a edema tosos é mais prevalente em áreas de agricultu-
estromal corneal, uveíte anterior estéril com ra e é tipicamente precedida por trauma ocular
hipópio. A progressiva ulceração pode causar envolvendo matéria orgânica como madeira e
perfuração corneal e endoftalmite bacteriana. plantas. A ceratite por Candida ocorre tipicamen-
te em associação a doenças corneanas pré-exis-
Antes de se iniciar o tratamento, é imprescindí- tentes ou em pacientes com comprometimento
vel coleta de material para citologia e cultura. O imunológico. A incidência de ceratite fúngica e o
tratamento consiste basicamente em utilização tipo de agente etiológico mais freqüente variam
O tratamento é realizado através de antifúngi- A ceratite epitelial pelo VHS pode ocorrer em
cos tópicos em geral por tempo prolongado. Em qualquer faixa etária. A apresentação inclui des-
fungos filamentosos, a terapia inicial é com na- conforto ocular leve, lacrimejamento e turvação
tamicina a 5% tópica de 1 em 1 hora, podendo visual. Ao exame oftalmológico, manifesta-se
ser associados cetoconazol sistêmico 400-800 por ceratite ponteada com posterior evolução
mg/dia ou miconazol subconjuntival 5-10 mg/ para úlcera dendrítica (lesões lineares com rami-
dia. Em fungos leveduriformes, a terapia inicial ficações de aspecto edemaciado característico
é com anfotericina B tópica a 0,15% de 1 em 1 – bulbos terminais), com diminuição de sensibi-
hora, podendo ser associados cetoconazol 400- lidade corneana. As úlceras dendríticas coram-se
800 mg/dia , fluconazol 200mg/dia sistêmico ou com aplicação tópica de fluoresceína e rosa ben-
miconazol subconjuntival 5-10 mg/dia. gala.
Em casos de progressão da doença apesar da te- A ceratite estromal necrotisante é uma entida-
rapia clínica, devem ser indicadas a ceratoplastia de rara, porém de alta morbidade. Apresenta-
penetrante ou recobrimento conjuntival. se como uma intensa e progressiva redução de
acuidade visual associada a dor e desconforto. externo (sinal de Hutchinson), que inerva a asa
Ao exame, há presença de infiltrado inflamatório do nariz, pois nesses casos há maior chance de
esbranquiçado, edema, uveíte anterior com pre- ocorrer complicações oculares pela doença.
cipitados ceráticos sob a área de infiltração es-
tromal ativa, com presença ou não de neovasos. A doença ocular mais comum é a ceratite, divi-
Pode evoluir com leucoma cicatricial vasculariza- dida em epitelial aguda, numular e disciforme;
do, ceratopatia lipídica ou perfuração corneal. no entanto, pode haver casos de conjuntivite,
episclerite, esclerite, uveíte anterior, além de
A endotelite herpética disciforme apresenta-se complicações neurológicas com sintomas ocu-
com turvação visual gradual indolor, que pode lares, como neurite óptica e paralisia de nervos
estar associada a halos e glare ao redor de pontos cranianos (principalmente terceiro par – oculo-
luminosos. Ao exame, a região central corneal é motor). O tratamento da doença ocular faz parte
acometida por edema epitelial, espessamento do tratamento da doença sistêmica (aciclovir via
estromal, precipitados ceráticos (secundários a oral 800 mg 5 vezes/dia por 7 dias) associado ao
uveíte anterior associada), dobras da membrana uso de lubrificante tópico. O tratamento tópico
de Descemet e redução de sensibilidade corneal. com aciclovir pomada a 3% (5 vezes/dia por 2 se-
manas) é controverso e deve ser reservado em
O tratamento inclui uso de agentes antivirais, casos de maior gravidade.
com preferência pelo uso do aciclovir. Nos casos
de infecção ocular primária, aplicação de aciclo-
vir pomada a 3% sobre as lesões da pele (cinco Ceratite por Acanthamoeba
vezes/dia por 2 a 3 semanas). No tratamento da
ceratite deve ser ministrada pomada de aciclovir A Acanthamoeba é um protozoário de vida livre
a 3% em fórnice conjuntival inferior (cinco ve- presente em praticamente todos os ambientes e
zes/dia por 2 a 3 semanas). Na presença de irite, altamente resistente a condições inóspitas (re-
acrescentar o uso de cicloplégicos e, em casos siste a extremas condições de temperatura e pH,
graves e disseminados, considerar uso de tera- bem como ao cloro e a outros sistemas de desin-
pia antiviral sistêmica (aciclovir via oral 200 a 400 fecção).
mg 5 vezes/dia durante 2 semanas). As ceratites
estromais, as vasculites, a endotelite e a cera- Os humanos são amplamente resistentes à infec-
touveíte devem ser tratadas com associação de ção; no entanto, a ceratite pode se instalar após
corticosteróide tópico. O uso de corticosteróide abrasão corneana mínima. Os usuários de lentes
está contra-indicado em casos com presença de de contato estão sob maior risco, principalmente
ulceração corneal. usuários que freqüentam piscinas sem a retirada
Ceratite pelo HVZ das lentes.
O herpes zoster pode acometer o ramo oftál- A apresentação geralmente tem progressão len-
mico do nervo trigêmeo em até 15% dos casos. ta, com episódios de regressão e recidiva. O qua-
Essa condição recebe o nome de “herpes zoster dro inclui visão turva, lacrimejamento, fotofobia
oftálmico”, independentemente da presença ou e dor intensa desproporcional aos sinais clínicos.
não do envolvimento ocular. É importante notar
se há envolvimento pela doença do nervo nasal
a. Infecciosa
i. Bacteriana mucopurulenta ou purulenta
ii. Viral
iii. Clamídea
b. Alérgica
c. Irritativa
d. Tóxica
e. Relacionada a alterações palpebrais (floppy
eyelid, lagoftalmo)
f. Associada a doenças sistêmicas (síndrome de Outros sinais: linfadenopatia satélite (Síndrome
Sjöegren, doença de Graves, Síndrome de Reiter, oculoglandular de Parinaud, conjuntivites ade-
penfigóide, psoríase) novirais), hemorragias conjuntivais.
3. Considerando-se o tipo de resposta con- Os pacientes com conjuntivite têm mais descon-
juntival: forto e ardor do que propriamente dor. A dor
não é um sintoma freqüente. Além disso, deve-
a. Papilar (Figura1) mos pensar em outras causas de olho vermelho
b. Folicular (Figura 2) que não a conjuntivite.
c. Membranosa
d. Cicatricial
e. Granulomatosa
f. Flictenular
Nas crianças, além do quadro ocular, pode haver Exames laboratoriais não são necessários de for-
febre e dor de garganta. ma rotineira e o tratamento inclui uso de colírio
de antibiótico (atualmente o grupo mais usado é O tratamento é sistêmico com Ceftriaxone 1g IM,
o das quinolonas, de amplo espectro), além das dose única, ou cefotaxime 1g EV, a cada 8 horas.
medidas de apoio, como limpeza e compressas Além disso, indicam-se as medidas locais, como
frias com solução salina 0,9% (soro fisiológico) remoção periódica da secreção conjuntival com
ou com água filtrada ou mineral. Não é recomen- solução salina 0,9%.
dado o uso de água boricada (pode ser irritante
e alergênica).
Conjuntivite crônica
As conjuntivites são uma das principais causas Historicamente, a conjuntivite por Neisseria go-
de “olho vermelho”. Dentre elas, as de origem norrheae foi uma importante causa de cegueira.
adenoviral são as mais freqüentes. Quando o É uma conjuntivite hiperaguda que se desenvol-
processo está restrito à conjuntiva costuma ve 2 a 4 dias após o nascimento. O uso da solu-
ser autolimitado, e a resolução não implica ção de nitrato de prata 1% (manobra de Credé)
em seqüelas. O diagnóstico é clínico, e exames diminuiu a ocorrência da infecção, mas não a er-
laboratoriais não são necessários de forma ro- radicou.
tineira. Nas infecções por adenovírus não há A infecção ocasiona edema palpebral intenso,
tratamento específico. O uso indiscriminado secreção purulenta, ulceração, podendo ocorrer
de colírios antibióticos, além de não ter efeito perfuração corneana.
sobre a infecção viral, pode favorecer a seleção Diagnóstico clínico e laboratorial (diplococo G-
bacteriana. intracelular).
Tratamento: visa a prevenir as lesões oculares e
Importante lembrar que as conjuntivites ade- sistêmicas (artrite, pneumonia, meningite e sép-
novirais, sobretudo a ceratoconjuntivite epi- sis). Requer tratamento sistêmico com ceftriaxo-
dêmica, são altamente transmissíveis, deven- ne 125 mg IM, em dose única, ou cefotaxime 25
do tomar-se todo o cuidado para evitar a dis- mg/kg EV ou IM, a cada 8 ou 12 horas/7 dias.
seminação. Os médicos devem lavar as mãos
após o exame de um paciente com suspeita
de conjuntivite. Os pacientes devem ser orien- Outras conjuntivites bacterianas
tados com medidas de prevenção da dissemi-
nação: lavar as mãos antes e após a manipula- Incluem infecções por Strepto pneumoniae, Sta-
ção dos olhos, separar objetos de uso pessoal, phylo aureus, Haemophilus, E. coli, Pseudomonas
trocar a toalha e a fronha diariamente, evitar (prematuros). Tratamento com antibiótico tópi-
beijos e cumprimento com as mãos, não to- co.
mar banho de mar, de piscina ou de banheira. Se houver suspeita de complicação como celuli-
O afastamento do ambiente escolar ou de tra- te orbitária, o tratamento deve ser por via endo-
balho é necessário nos casos de ceratoconjun- venosa.
tivite epidêmica e deve ser fornecido atestado
médico por oftalmologista.
Conjuntivite química
Esclerite
Celulite Orbitária
A prevalência do GAP é nitidamente maior nas O olho acometido fica vermelho, de intensidade
mulheres (70%), com idade em torno de 65 anos, variável, acompanhado de lacrimejamento, foto-
portadoras de hipermetropia. fobia, diminuição da acuidade visual e visualiza-
ção de halos coloridos ao redor das lâmpadas.
De modo geral, os olhos acometidos possuem
diâmetro ântero-posterior reduzido, a câmara O exame ocular mostra que a PIO está bastante
anterior é menor e mais rasa que a população elevada. A pressão bidigital, realizada com os
normal e o cristalino tem diâmetro axial aumen- dois dedos indicadores através das pálpebras
tado. superiores com olhar direcionado para baixo,
mostra nítida assimetria de tensão entre o olho
Essas características anatômicas fazem com que normal e o olho com GAP.
o ângulo da câmara anterior seja estreito, propi-
ciando o seu fechamento com conseqüente au- O exame realizado com lanterna apropriada ou
mento da pressão intra-ocular (PIO). o exame externo assinalam ausência de secre-
ção mucopurulenta na presença de congestão
Em relação à fisiopatogenia, observa-se uma di- acentuada dos vasos conjuntivais e episclerais.
ficuldade da passagem do humor aquoso da câ- A córnea está edemaciada, perdendo, portanto,
mara posterior para a câmara anterior devido ao seu brilho e transparência, e a pupila está em se-
maior contato da face posterior da íris com a face mimidríase fixa.
anterior do cristalino. Esse evento é denominado
“bloqueio pupilar” e ocorre durante uma eventu- É importante acentuar que o exame com lanter-
al semimidríase pupilar. Essa dificuldade de trân- na deve ser realizado comparando-se o olho aco-
sito do aquoso faz com que o mesmo se acumu- metido com o olho normal, e isso evidenciará as
le na câmara posterior, aumentando a pressão diferenças dos achados entre um e outro olho.
nesse local e empurrando a periferia da íris para
frente, fechando o seio camerular ou o ângulo da A crise de glaucoma agudo é uma das mais im-
câmara anterior. portantes urgências em oftalmologia, e o trata-
mento deve ser instituído o mais rapidamente
O fechamento angular impede a drenagem do possível. A intensa isquemia produzida pela ele-
aquoso acarretando súbito aumento da PIO. A vação aguda da PIO exige medidas de urgência
pressão que, por exemplo, situa-se em torno de as quais devem ser instituídas pelo médico espe-
15 mmHg, sobe, em questão de minutos, para cialista. Assim sendo, o encaminhamento para o
O glaucoma de ângulo fechado, também deno- Do ponto de vista fisiopatológico, todas essas
minado “glaucoma de ângulo estreito” ou “glau- condições anatômicas favorecem o mecanismo
coma de ângulo oclusível”, pode ser classificado de bloqueio pupilar, o qual desencadeia a crise
como glaucoma primário ou secundário, e glau- de glaucoma agudo.
coma agudo ou crônico. São inúmeros os me-
canismos fisiopatológicos envolvidos em cada O bloqueio pupilar nada mais é que a dificuldade
uma dessas entidades, de modo que os mesmos de passagem do humor aquoso da câmara pos-
serão devidamente discutidos quando das suas terior para a câmara anterior Segundo Mapsto-
respectivas apresentações. ne, essa dificuldade é associada à drenagem si-
multânea do aquoso ainda presente na câmara
anterior. O esvaziamento da câmara anterior as-
Glaucoma agudo primário sociado à pressão aumentada na câmara poste-
rior desloca o diafragma írido-cristaliniano para
Epidemiologicamente, o glaucoma agudo pri- frente com conseqüentes fechamento do ângu-
mário é uma doença rara na população negra e lo, interrupção da drenagem, aumento súbito da
pouco freqüente na população caucasiana. En- pressão intra-ocular e instalação do processo de
tretanto, essa é uma doença bastante comum isquemia do globo ocular.
nas populações dos esquimós, dos mongóis, na
China, na Índia e no Vietnã. O desencadeamento do bloqueio pupilar é asso-
ciado a semimidríase pupilar de origem autonô-
A prevalência do glaucoma agudo primário é ni- mica desencadeada por inúmeros fatores (dro-
tidamente maior nas mulheres (70%), com idade gas, estresse, condições de iluminação, posição
em torno de 65 anos. da cabeça, etc.).
Os doentes portadores de glaucoma agudo pri- O paciente portador de glaucoma agudo primá-
mário apresentam características biométricas rio, clinicamente, apresenta dor intensa no globo
típicas que favorecem o aparecimento da crise ocular acompanhada de diminuição acentuada
congestiva. da acuidade visual, de visualização de halos co-
loridos ao redor de lâmpadas, de náuseas e de
Assim sendo, os olhos acometidos apresentam vômitos.
diâmetro ântero-posterior reduzido e câmara
anterior estreita. O exame ocular mostra que a pressão intra-ocu-
lar está elevada (por volta de 50-60 mmHg), os
O cristalino apresenta tamanho axial aumen- vasos conjuntivais e episclerais estão conges-
tado, e a sua inserção em relação ao limbo está tos, a córnea está edemaciada, o humor aquoso
anteriorizada, favorecendo, portanto, o estreita- apresenta flare e tyndall em grau variado e a câ-
mento do ângulo da câmara anterior. mara anterior está bastante rasa.
É fundamental a realização do exame gonioscó- zontal dorsal e são medicados com as seguintes
pico, apesar da dificuldade induzida pelo edema drogas:
corneano. O uso do colírio de glicerina pode fa-
cilitar a visualização do ângulo, o qual, normal- agentes hiperosmóticos: manitol a 20% via in-
mente, está totalmente fechado. travenosa - 2g/Kg de peso (3 a 5ml/minuto), de
8/8 horas, ou glicerina 50% via oral - 1,5g/Kg de
A isquemia produzida no segmento anterior leva peso, de 8/8 horas.
à isquemia da íris e do músculo esfíncter da íris. inibidores da anidrase carbônica: acetazolamida
Conseqüentemente, a íris pode sofrer áreas de 250 mg via oral, de 6 em 6 horas.
atrofia segmentar associada a atrofia do múscu- pilocarpina a 2% colírio: 1 gota de meia em meia
lo esfíncter, com deformação da área pupilar. As- hora na primeira hora, 1 gota de hora em hora,
sociadamente, ocorre dispersão generalizada de na segunda e terceira hora, 1 gota de 6 em 6 ho-
pigmentos irianos com deposição dos mesmos ras a seguir.
na camada de Henle, na face posterior da córnea, maleato de timolol a 0,5% colírio: 1 gota de 12
no seio camerular e na face anterior do cristalino. em 12 horas.
cortisona colírio (acetato de prednisolona): 1
A aposição prolongada da íris no cristalino e da gota de 2 em 2 horas nas primeiras 24 horas.
periferia da íris na esclera leva à formação de si-
néquias írido-cristalinianas e de goniosinéquias. Nos casos em que a pressão intra-ocular está
muito elevada (em torno de 60-70 mmHg) ocor-
O cristalino sofre necrose do seu epitélio com re uma isquemia do músculo esfíncter da íris de
conseqüente formação de opacidades subcap- modo que tal músculo não reage ao estímulo
sulares anteriores denominadas “glaukomfle- dos agentes mióticos. Portanto, com esses níveis
cken”. Tais opacidades podem ser puntiformes ou de pressão, o início do uso de pilocarpina pode
abranger áreas maiores do cristalino lembrando ser adiado por 1 ou 2 horas após a introdução
o aspecto de “leite derramado” sobre uma super- das outras medicações e a conseqüente redução
fície plana. da pressão. Em relação aos agentes hiperosmóti-
cos, deve-se levar em consideração que muitos
O exame do nervo óptico é dificultado devido desses pacientes apresentam náuseas e vômitos,
ao forte edema corneano, porém, de um modo o que impede o uso oral dessa droga.
geral, a papila está edemaciada durante a crise
congestiva. Um outro aspecto a ser considerado está relacio-
nado com as condições físicas e cardiológicas do
A crise de glaucoma agudo é uma das mais im- paciente a ser tratado.Várias dessas medicações
portantes urgências em oftalmologia, e o trata- podem alterar as condições hemodinâmicas de
mento deve ser instituído o mais rapidamente pacientes, muitas vezes idosos, de tal modo que
possível. uma monitorização clínica adequada é funda-
mental.
Diversas são as medicações e os procedimentos
utilizados e, de um modo geral, são utilizados Associada ao tratamento medicamentoso, re-
quase que simultaneamente. Assim sendo, os aliza-se a compressão central da córnea com o
pacientes são posicionados em decúbito hori- intuito de abrir-se o seio camerular. Esse procedi-
Figura 02:
Muitos desses pacientes podem caminhar para Do ponto de vista epidemiológico, na popu-
uma crise congestiva completa e, independente- lação acima de 40 anos, a prevalência do glau-
mente desse fato, devem ser tratados imediata- coma crônico de ângulo estreito é de cerca de
mente, com a realização da iridotomia. 80% considerando-se a população portadora de
glaucoma de ângulo estreito, ou seja, do total
dos indivíduos com glaucoma agudo, subagudo
Síndrome da íris de platô e crônico, cerca de 80 % têm manifestação crôni-
ca da doença.
A configuração da íris em platô caracteriza, do
ponto de vista biomicroscópico, olhos com câ- Uma das poucas exceções a esse número são os
mara anterior relativamente profunda na sua esquimós do Alaska, onde a prevalência do glau-
área central, e rasa na sua periferia, de tal modo coma crônico de ângulo estreito, após os 40 anos
que a dilatação da pupila provoca bloqueio an- de idade, é de 36%, ou seja, 64% dos pacientes
gular pela obstrução da malha trabecular devido com glaucoma de ângulo estreito apresentam
a aposição da íris na periferia do seio camerular. crises de glaucoma agudo.
A realização da iridotomia é suficiente para re- Em relação à fisiopatogenia, esse tipo de glauco-
mover a presença de um possível componente ma pode ocorrer como conseqüência da dificul-
de bloqueio pupilar; porém, a midríase pupi- dade da drenagem do humor aquoso através da
lar pode levar a um aumento súbito da pressão malha trabecular resultante de repetidos fecha-
intra-ocular devido ao fechamento angular, defi- mentos angulares, por provável bloqueio pupi-
nindo o diagnóstico da síndrome da íris em pla- lar parcial, acompanhado ou não de goniossiné-
tô. quias e sem qualquer sinal ou sintoma compatí-
vel com crise subaguda ou intermitente.
A realização da gonioscopia adequada é funda-
mental para o correto diagnóstico da íris com Em alguns casos, principalmente nos olhos que
configuração em platô. Mais recentemente, a uti- formaram goniossinéquias de modo crônico,
lização da biomicroscopia ultra-sônica e do OCT pode ocorrer um episódio de glaucoma agudo e,
Visante pode auxiliar na interpretação dessas al- de modo contrário, olhos previamente normais,
terações anatômicas. que foram acometidos por crise de glaucoma
Os pacientes devem ser tratados com mióticos agudo, e devidamente tratados com iridotomia,
fracos ou com iridoplastia periférica. podem evoluir no futuro, com aumento crônico
da pressão intra-ocular.
Glaucoma crônico de ângulo estreito O glaucoma crônico de ângulo estreito tem evo-
lução clínica muitas vezes semelhante à do glau-
O glaucoma crônico de ângulo estreito é um coma crônico simples.
glaucoma primário em que o ângulo da câmara
anterior é estreito, ou seja, no qual as diferentes A doença é geralmente bilateral e assimétrica, as
estruturas do seio camerular somente são obser- alterações campimétricas e do nervo óptico as-
vadas, total ou parcialmente, através da realiza- semelham-se ao do glaucoma de ângulo aberto,
ção da gonioscopia com manobras de identação. porém, as pressões intra-oculares podem cursar