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Olho vermelho cap.

07

Olho vermelho posição a substâncias químicas seguida de dor e


olho vermelho sugere queimadura química, sen-
O olho vermelho é o distúrbio ocular mais fre- do necessário como primeira conduta irrigação e
qüentemente encontrado em um serviço de lavagem copiosa com soro fisiológico ou, na falta
pronto-atendimento não oftalmológico. Embora deste, com água corrente em abundância, para
suas causas mais comuns sejam relativamente então submeter-se o paciente a uma avaliação
benignas, existem situações graves com eleva- oftalmológica cuidadosa.
do risco de perda de visão. Nesse contexto, cabe
ao médico generalista reconhecer os principais Pacientes no período pós-operatório recente
diferenciais dessa síndrome, bem como iniciar o merecem maior atenção para que um processo
tratamento adequado ou encaminhar o paciente inflamatório normal dessa fase seja diferenciado
para uma avaliação especializada quando neces- de uma endoftalmite, infecção intra-ocular com
sário. elevada taxa de evolução para perda de visão.
Quanto ao olho vermelho crônico, a avaliação of-
O passo inicial no cuidado primário do paciente talmológica especializada é essencial para iden-
com olho vermelho é a obtenção de seu histó- tificação e tratamento da patologia ocular de
rico. Busca-se nesse momento excluir situações base. A Tabela 1 lista 10 sinais de alerta na síndro-
consideradas de maior risco como dor ocular, di- me do olho vermelho a serem obrigatoriamente
minuição da acuidade visual, trauma, exposição pesquisados à primeira avaliação do paciente.
a substâncias químicas, cirurgia intra-ocular re- A Tabela 2 é formada pelos principais diferenciais
cente e olho cronicamente vermelho. da síndrome do olho vermelho e suas caracterís-
ticas.
Embora um leve desconforto ocular, muitas ve-
zes referido como sensação de “areia nos olhos”, Tabela 1 - Sinais de alerta
esteja normalmente associado a condições me-
nos graves, a presença de dor em olho vermelho · Dor ocular severa
sugere uma situação de alerta devido à maior · Perda visual súbita
gravidade dos diferenciais relacionados a esse · Exposição química
sintoma. Da mesma forma, uma queda súbita de · Trauma ocular
acuidade visual também é um sinal de maior gra- · Presença de corpo estranho
vidade. · Secreção purulenta
· Anormalidades corneanas
O relato de trauma ocular necessita de rápida · Anormalidades da pupila
avaliação por um médico oftalmologista devido · Cirurgia recente
ao risco de lesão de estruturas intra-oculares. Ex- · Olho cronicamente vermelho

184 Olho vermelho


Tabela 2 – Diagnóstico diferencial das causas mais comuns de olho vermelho
cap. 07

Hemorragia Conjuntivite Conjuntivite Úlcera de Glaucoma Uveíte anterior Episclerite Esclerite


Subconjuntival aguda viral aguda córnea agudo aguda
bacteriana primário

Secreção Ausente Hialina Purulenta Aquosa ou Ausente Ausente Ausente Ausente


Purulenta

Visão Conservada Conservada ou Conservada ou Diminuída Baixa Baixa visual Conservada Conservada

Olho vermelho
levemente levemente importante de moderada
diminuída diminuída acuidade
visual

Dor Ausente Sensação de Sensação de Moderada Intensa Moderada a Moderada Moderada a


corpo corpo severa severa
estranho estranho

Hiperemia Setorial, Difusa Difusa Pericerática Pericerática Pericerática Localizada Localizada


vermelho-vivo
Olho vermelho

Córnea Normal Normal ou Normal Áreas Turva (edema Transparente Normal Normal
infiltrados opacificadas de córnea)

Pupila Normal Normal Normal Normal Médio- Miose Normal Normal


midríase

Reflexo Normal Normal Normal Normal Ausente Normal ou Normal Normal


foto-motor diminuída

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Olho vermelho cap. 07

Hiposfagma Pterígio

Aparecimento súbito de sangramento sob a Crescimento fibrovascular subepitelial em for-


conjuntiva, podendo ser localizado ou difuso, mato triangular que avança sobre a córnea. Tem
unilateral ou bilateral. Pode ocorrer após alguns como fator causal principal a exposição solar crô-
eventos como: trauma com lesão conjuntival; nica (irradiação UV). O pterígio muitas vezes está
após esforço ou manobra de Valsalva (carregar associado a quadro de irritação crônica, a distri-
objetos pesados, tosse, espirro, etc.) ou esponta- buição irregular do filme lacrimal na superfície
neamente, em pacientes idosos, em decorrência corneana e a quadro intermitente de inflamação
do comprometimento da estrutura vascular na e de hiperemia.
arteriosclerose.
O tratamento se faz com uso de lágrimas artifi-
Apresenta evolução benigna, com resolução es- ciais e, em alguns casos, esteróides fracos, por
pontânea em 2 a 3 semanas, não necessitando de curto tempo. Conforme avança sobre a córnea, o
tratamento específico. O paciente normalmente pterígio pode induzir astigmatismo e, nos casos
é assintomático ou pouco sintomático, poden- em que o eixo visual é comprometido, ou quan-
do referir discreta sensação de corpo estranho. do se deseja corrigir a parte estética, a aborda-
Não há acometimento da visão. Como se trata gem cirúrgica é indicada.
de uma afecção ocular de resolução espontânea,
não é necessário tratamento. Em casos em que
as recidivas são freqüentes, distúrbios na coagu- Blefarite
lação e alterações nos níveis pressóricos devem
ser investigados. Inflamação da margem palpebral de origem in-
fecciosa ou não.

Pinguécula Hiperemia da margem palpebral e conjuntival,


crostas na base dos cílios, prurido, sensação de
Espessamento da conjuntiva devido à degene- corpo estranho, lacrimejamento, filme lacrimal
ração hialina do tecido colágeno subepitelial da de aspecto espumoso, fotofobia leve, ardência,
conjuntiva decorrente do envelhecimento ou da normalmente bilateral.
exposição crônica ao sol. Apresenta-se como de-
pósitos branco-amarelados na conjuntiva bulbar Conduta:
adjacente ao limbo temporal ou nasal. Na maio-
ria dos casos, o tratamento não é necessário, po- Orientar limpeza palpebral diária com xampu
dendo-se prescrever lágrimas artificiais e orien- neutro (infantil) diluído e uso de lágrimas artifi-
tar quanto ao uso de óculos de proteção solar. ciais.
Quando há inflamação (pingueculite), o paciente
apresenta hiperemia conjuntival e dor ocular. O
tratamento nesses casos consiste em uso tópico
de antiinflamatório esteroidal de baixa potência.

186 Olho vermelho


cap. 07 Olho vermelho

A blefarite crônica é uma afecção palpebral que neutros em ácidos graxos irritantes. Há correla-
pode cursar com hiperemia conjuntival além de ção dessa afecção ocular com quadro de derma-
outras alterações corneanas e conjuntivais devi- tite seborréica, que pode acometer áreas extra-
do à íntima relação da pálpebra com a superfície oculares como couro cabeludo e região retro-
ocular. auricular, por exemplo. O tratamento envolve a
higiene palpebral com uso de xampu neutro ou
A blefarite pode ser de vários tipos: blefarite es- infantil diluído, por longo período, adequando-
tafilocócica, seborréica e mista; seborréia meibo- se a freqüência de acordo com a intensidade dos
miana e meibomite. sintomas. Podem ser associados antibioticotera-
pia tópica na margem palpebral, nos casos de fo-
A blefarite estafilocócica tem sua etiologia na liculite aguda, e lágrimas artificiais, nos casos em
infecção estafilocócica na qual os produtos tóxi- que há instabilidade do filme lacrimal.
cos são irritantes e levam a quadro caracterizado
pela hiperemia e por telangiectasias da margem A seborréia meibomiana é a afecção palpebral
palpebral anterior. É comum a formação de con- em que há secreção excessiva pelas glândulas de
creções em torno da base dos cílios conhecidos Meibomius. Pode ser visualizada nos óstios das
por “colaretes”. Pode haver cicatrização com hi- glândulas de Meibomius a formação de gotícu-
pertrofia da margem palpebral e perda dos cílios las de óleo. Geralmente está associado ao qua-
(madarose), além de triquíase e poliose. dro um filme lacrimal de aspecto espumoso.

A blefarite seborréica caracteriza-se por hipere- Meibomite é a afecção palpebral em que há obs-
mia e oleosidade da margem palpebral junto aos trução dos orifícios das glândulas de Meibomius.
cílios, formando crostas moles. O Corynebacte- Caracteriza-se pela hiperemia da margem palpe-
rium acnes contribui na etiologia dessa afecção bral, a qual apresenta inflamação difusa adjacen-
ao degradar quantidades excessivas de lipídeos te às glândulas meibomianas.

Olho vermelho 187


Olho vermelho cap. 07

Episclerite dobra de pele, na maioria das vezes na pálpe-


bra inferior, a qual empurra os cílios contra o
Forma mais comum de inflamação escleral. Co- bulbo ocular simulando o entrópio congênito.
mumente apresenta-se como uma inflamação A correção do entrópio congênito e do epiblé-
circunscrita, geralmente segmentar e nodular da faro são cirúrgicas.
episclera, podendo ser unilateral ou bilateral. As
veias episclerais tornam-se dilatadas, com dis- O entrópio adquirido divide-se em dois gru-
posição radial, associada à hiperemia conjunti- pos: involucional e adquirido.
val nesse setor. A etiologia freqüentemente não
pode ser identificada e, em alguns raros casos, O entrópio involucional é a forma mais comum
pode-se relacioná-la a doenças sistêmicas (artri- e afeta as pálpebras inferiores. A causa consis-
te reumatóide, polimiosite, dermatomiosite, sífi- te no envelhecimento e conseqüente flacidez
lis, por exemplo). dos tecidos, levando ao alongamento dos re-
tratores da pálpebra inferior e à desinserção
Durante a investigação, pode ser instilada uma destes em relação ao tarso.
gota de colírio de fenilefrina a 10% com o intuito
de se obter vasoconstrição dos vasos conjunti- O entrópio cicatricial é causado pela retração
vais. No caso da episclerite, os vasos conjuntivais da lamela posterior da pálpebra (tarso e con-
se tornam constritos e os episclerais não, diferen- juntiva). Essa retração pode ocorrer em qua-
ciando esta de uma conjuntivite. dros que levem a cicatrização intensa da pál-
A episclerite geralmente se resolve espontane- pebra como tracoma, queimadura química,
amente em 1 a 2 semanas, ainda que a forma síndrome de Stevens-Johnson e penfigóide.
nodular persista por período maior. No caso de O tratamento do entrópio adquirido é cirúrgi-
sintomas mais expressivos, o uso de antiinflama- co, com diversas técnicas existentes.
tórios tópicos não esteroidais ou esteroidais le-
ves pode ser considerado.
Ectrópio

Entrópio Afecção em que ocorre eversão da margem pal-


pebral. O ectrópio pode acarretar exposição da
Afecção na qual ocorre inversão da borda pal- córnea e das conjuntivas bulbar e tarsal, levando
pebral causando atrito dos cílios contra o bulbo a quadros de conjuntivite crônica, inflamação da
ocular. O atrito constante dos cílios na córnea borda palpebral, ceratite, dor e epífora.
em pacientes com entrópio de longa duração
pode causar irritação, erosões corneanas epite- É dividido em duas formas: congênito e adqui-
liais ponteadas e, nos casos graves, ulceração e rido.
formação de pannus. O ectrópio congênito é causado por uma defi-
ciência relativa da lamela anterior da pálpebra.
Divide-se em formas congênita e adquirida. Pode ser visto em pacientes portadores das
A forma congênita do entrópio é muito rara. É seguintes síndromes: Down, Barber-Say, Neu-
importante ficar atento quanto ao diagnóstico Laxova e Blefaro-cheilo-dontic. O tratamento
diferencial de epibléfaro, que representa uma é cirúrgico.

188 Olho vermelho


cap. 07 Olho vermelho

O ectrópio adquirido pode ser dividido em in- É importante frisar que o cílio triquiático tem
volucional, cicatricial, mecânico e paralítico. cor e espessura semelhantes aos cílios nor-
mais. É uma condição adquirida muito comum.
O ectrópio involucional é o tipo mais freqüen-
te. Apresenta-se inicialmente como uma flaci- A triquíase é basicamente uma condição de
dez de tecidos que evolui para o alongamento natureza cicatricial. Pode ser resultado de: pro-
palpebral, para eversão da margem e, final- cessos inflamatórios que afetam a margem
mente, para hipertrofia e queratinização da palpebral e os folículos pilosos (meibomites,
conjuntiva tarsal. blefarites crônicas, tracoma, conjuntivites crô-
nicas, hordéolos); alterações dermatológicas
O ectrópio cicatricial é o resultado do encur- que gerem retração da pele periorbital e alte-
tamento da lamela anterior palpebral. Pode ração de convexidade de cílios; doenças con-
ocorrer em casos de trauma (queimadura tér- juntivais cicatrizantes (Stevens-Johnson, pen-
mica ou química, seqüela de blefaroplastia figóide ocular, conjuntivite lenhosa) as quais
com ressecção excessiva de pele) ou de pro- podem produzir retração cicatricial da con-
cesso inflamatório crônico da pele (eczema, juntiva tarsal, com conseqüente retração da
dermatite atópica, leishmaniose e linfoma margem palpebral e alteração da posição dos
cutâneo de célula T). cílios; trauma cortante da margem palpebral;
O ectrópio mecânico está relacionado à pre- cirurgia palpebral com fratura de tarso; dimi-
sença de massa tumoral na margem palpebral. nuição da produção lacrimal, a qual freqüente-
mente acarreta modificações conjuntivais.
O ectrópio paralítico é causado pela parali-
sia do VII par craniano (nervo facial). Além do A maioria dos pacientes com triquíase encon-
ectrópio, a paralisia do VII par craniano leva a tra-se na faixa etária entre 60 e 70 anos de ida-
quadro de lagoftalmo e de ptose de supercílio de. Os sintomas são sensação de corpo estra-
ipsilateral, e até a lesão. nho ocular, fotofobia, lacrimejamento e secre-
Todos os tipos de ectrópio adquirido são de ção seromucosa.
tratamento cirúrgico, através de diversas téc-
nicas. O tratamento consiste em destruição dos cílios
alterados com uso de eletrólise, de crioterapia
ou de laser. Em casos muito severos, com gran-
Triquíase de quantidade de cílios acometidos, deve ser
realizado procedimento cirúrgico.
Afecção caracterizada pela alteração da direção
do cílio que, emergindo normalmente do folhe-
to palpebral anterior, encurva-se e toca o bulbo
ocular.

Olho vermelho 189


Olho vermelho cap. 07

Figura 01:

190 Olho vermelho


cap. 07 Olho vermelho

Ceratites superficiais

Podem fazer parte do quadro clínico de diversas


afecções oftalmológicas: síndrome de olho seco,
blefarite, trauma, ceratite de exposição, toxici-
dade por drogas de uso tópico, queimaduras,
distúrbios relacionados ao uso de lentes de con-
tato, ceratite ponteada superficial de Thygeson,
corpo estranho, conjuntivite, triquíase, entrópio,
ectrópio, síndrome de pálpebras frouxas, ceratite
fotoelétrica, entre outras.

O exame oftalmológico e a anamnese devem ser


completos para o adequado diagnóstico do fator
causal da ceratite superficial e para seu adequa-
do tratamento.

Olho vermelho 191


Ceratites infecciosas cap. 07

Ceratites infecciosas de antibioticoterapia tópica efetiva contra um


amplo espectro de bactérias Gram-positivas e
Ceratites Bacterianas Gram-negativas.

A ceratite bacteriana constitui causa importante Em úlceras corneanas de menor gravidade (pe-
de déficit visual, associando-se freqüentemente riféricas, superficiais e menores que 3 mm), é
a situações em que ocorrem alterações nos me- instituída monoterapia com fluorquinolonas tó-
canismos de defesa corneal. Diagnóstico e trata- pica de 1 em 1 hora (ciprofloxacina 0,3%, ofloxa-
mento imediatos podem limitar a perda de te- cina 0,3%, monofloxacina 0,5% ou gatifloxacina
cido, minimizar a cicatrização e reduzir a neces- 0,3%). Para úlceras graves, o tratamento consiste
sidade de cirurgia futura. Neisseria gonorrhoeae em utilização de dois antibióticos fortificados tó-
e Haemophilus influenzae são as duas bactérias picos para a cobertura de patógenos Gram-posi-
capazes de invadir o epitélio corneano intacto. tivos e Gram-negativos, de 1 em 1 hora (cefazo-
As demais bactérias somente são capazes de lina fortificada 5% e gentamicina fortificada 2%).
produzir ceratite após o comprometimento da Uso de antibioticoterapia sistêmica com uso de
integridade epitelial. Pseudomonas sp., Staphylo- fluorquinolonas estão indicados em casos com
coccus sp. e Streptococcus pneumoniae são os risco ou comprometimento escleral ou intra-
agentes etiológicos mais freqüentes. Em cerati- ocular. A terapêutica inicial só deve ser modifica-
te bacteriana associada a mau uso de lentes de da na existência de resistência demonstrada em
contato, a Pseudomonas aeroginosa é o agente cultura do organismo ao esquema terapêutico.
causador mais comumente isolado. Durante o tratamento, é importante não con-
fundir dificuldade de reepitelização corneal por
No quadro clínico inicial, tipicamente há histó- toxicidade medicamentosa com persistência da
ria de traumatismo ocular, de doença corneal infecção.
pré-existente, de uso de lentes de contato ou
de corticosteróide tópico. Sinais e sintomas in-
cluem dor, lacrimejamento, fotofobia, diminui- Ceratites Fúngicas
ção de visão, edema palpebral, secreção puru-
lenta e hiperemia conjuntival. Os sintomas po- As ceratites fúngicas são raras, porém podem
dem ser mascarados ou retardados em usuários evoluir com efeitos devastadores. Podem ser
de lentes de contato. Ao exame oftalmológico, causadas por uma grande variedade de agentes.
os sinais são injeção conjuntival e perilímbica, Os patógenos mais comuns são fungos filamen-
defeito epitelial associado a infiltrado ao redor tosos (Aspergillus spp. e Fusarium spp.) e Candida
da margem e na base da desepitelização cor- albicans. A ceratite causada por fungos filamen-
neal, aumento do infiltrado associado a edema tosos é mais prevalente em áreas de agricultu-
estromal corneal, uveíte anterior estéril com ra e é tipicamente precedida por trauma ocular
hipópio. A progressiva ulceração pode causar envolvendo matéria orgânica como madeira e
perfuração corneal e endoftalmite bacteriana. plantas. A ceratite por Candida ocorre tipicamen-
te em associação a doenças corneanas pré-exis-
Antes de se iniciar o tratamento, é imprescindí- tentes ou em pacientes com comprometimento
vel coleta de material para citologia e cultura. O imunológico. A incidência de ceratite fúngica e o
tratamento consiste basicamente em utilização tipo de agente etiológico mais freqüente variam

192 Olho vermelho


cap. 07 Ceratites infecciosas

conforme a região geográfica devido a diferen- Ceratites Virais


tes condições de temperatura e umidade. Há as-
sociação entre a ceratite fúngica por Fusarium sp. As ceratites virais representam um grupo de do-
e o uso inadequado de lentes de contato. enças causadas na sua grande maioria por vírus
do grupo herpes. Dentre os vírus desse grupo, a
Os sintomas mais comuns das ceratites fúngicas doença ocular é geralmente causada pelo her-
são: sensação de corpo estranho, fotofobia, dimi- pes simples (VHS) e pelo herpes varicela-zoster
nuição de acuidade visual e secreção. Ao exame (HVZ).
oftalmológico, há diversos achados inespecíficos Ceratite pelo VHS
como hiperemia conjuntival, defeitos epiteliais,
reação de câmara anterior e edema corneal. Os A infecção ocular primária pelo VHS geralmente
achados específicos de infecção fúngica são: in- acomete crianças e pode estar associada a sinto-
filtrados estromais com bordas mal definidas e mas de virose sistêmica. Há o aparecimento de
margens hifadas, bordas elevadas, lesões satéli- vesículas ao redor do olho com cicatrização em
tes digitiformes, infiltrados imunes em anel, pla- até duas semanas. Quando ocorre acometimen-
ca endotelial subjacente à úlcera e pigmentação to ocular na infecção primária (relativamente
acastanhada ou acinzentada. incomum), a infecção manifesta-se como con-
juntivite folicular aguda unilateral associada a
Antes de se iniciar a terapêutica, deve ser reali- linfadenopatia pré-auricular.
zado raspado corneal, para reduzir a quantidade
de fungos e aumentar a penetração dos agentes A ceratite herpética pelo VHS pode manifestar-se
antifúngicos, além do envio de amostra a labora- como ceratite epitelial, ceratite estromal necroti-
tório para pesquisa e cultura de fungos. sante e endotelite disciforme.

O tratamento é realizado através de antifúngi- A ceratite epitelial pelo VHS pode ocorrer em
cos tópicos em geral por tempo prolongado. Em qualquer faixa etária. A apresentação inclui des-
fungos filamentosos, a terapia inicial é com na- conforto ocular leve, lacrimejamento e turvação
tamicina a 5% tópica de 1 em 1 hora, podendo visual. Ao exame oftalmológico, manifesta-se
ser associados cetoconazol sistêmico 400-800 por ceratite ponteada com posterior evolução
mg/dia ou miconazol subconjuntival 5-10 mg/ para úlcera dendrítica (lesões lineares com rami-
dia. Em fungos leveduriformes, a terapia inicial ficações de aspecto edemaciado característico
é com anfotericina B tópica a 0,15% de 1 em 1 – bulbos terminais), com diminuição de sensibi-
hora, podendo ser associados cetoconazol 400- lidade corneana. As úlceras dendríticas coram-se
800 mg/dia , fluconazol 200mg/dia sistêmico ou com aplicação tópica de fluoresceína e rosa ben-
miconazol subconjuntival 5-10 mg/dia. gala.

Em casos de progressão da doença apesar da te- A ceratite estromal necrotisante é uma entida-
rapia clínica, devem ser indicadas a ceratoplastia de rara, porém de alta morbidade. Apresenta-
penetrante ou recobrimento conjuntival. se como uma intensa e progressiva redução de

Olho vermelho 193


Ceratites infecciosas cap. 07

acuidade visual associada a dor e desconforto. externo (sinal de Hutchinson), que inerva a asa
Ao exame, há presença de infiltrado inflamatório do nariz, pois nesses casos há maior chance de
esbranquiçado, edema, uveíte anterior com pre- ocorrer complicações oculares pela doença.
cipitados ceráticos sob a área de infiltração es-
tromal ativa, com presença ou não de neovasos. A doença ocular mais comum é a ceratite, divi-
Pode evoluir com leucoma cicatricial vasculariza- dida em epitelial aguda, numular e disciforme;
do, ceratopatia lipídica ou perfuração corneal. no entanto, pode haver casos de conjuntivite,
episclerite, esclerite, uveíte anterior, além de
A endotelite herpética disciforme apresenta-se complicações neurológicas com sintomas ocu-
com turvação visual gradual indolor, que pode lares, como neurite óptica e paralisia de nervos
estar associada a halos e glare ao redor de pontos cranianos (principalmente terceiro par – oculo-
luminosos. Ao exame, a região central corneal é motor). O tratamento da doença ocular faz parte
acometida por edema epitelial, espessamento do tratamento da doença sistêmica (aciclovir via
estromal, precipitados ceráticos (secundários a oral 800 mg 5 vezes/dia por 7 dias) associado ao
uveíte anterior associada), dobras da membrana uso de lubrificante tópico. O tratamento tópico
de Descemet e redução de sensibilidade corneal. com aciclovir pomada a 3% (5 vezes/dia por 2 se-
manas) é controverso e deve ser reservado em
O tratamento inclui uso de agentes antivirais, casos de maior gravidade.
com preferência pelo uso do aciclovir. Nos casos
de infecção ocular primária, aplicação de aciclo-
vir pomada a 3% sobre as lesões da pele (cinco Ceratite por Acanthamoeba
vezes/dia por 2 a 3 semanas). No tratamento da
ceratite deve ser ministrada pomada de aciclovir A Acanthamoeba é um protozoário de vida livre
a 3% em fórnice conjuntival inferior (cinco ve- presente em praticamente todos os ambientes e
zes/dia por 2 a 3 semanas). Na presença de irite, altamente resistente a condições inóspitas (re-
acrescentar o uso de cicloplégicos e, em casos siste a extremas condições de temperatura e pH,
graves e disseminados, considerar uso de tera- bem como ao cloro e a outros sistemas de desin-
pia antiviral sistêmica (aciclovir via oral 200 a 400 fecção).
mg 5 vezes/dia durante 2 semanas). As ceratites
estromais, as vasculites, a endotelite e a cera- Os humanos são amplamente resistentes à infec-
touveíte devem ser tratadas com associação de ção; no entanto, a ceratite pode se instalar após
corticosteróide tópico. O uso de corticosteróide abrasão corneana mínima. Os usuários de lentes
está contra-indicado em casos com presença de de contato estão sob maior risco, principalmente
ulceração corneal. usuários que freqüentam piscinas sem a retirada
Ceratite pelo HVZ das lentes.

O herpes zoster pode acometer o ramo oftál- A apresentação geralmente tem progressão len-
mico do nervo trigêmeo em até 15% dos casos. ta, com episódios de regressão e recidiva. O qua-
Essa condição recebe o nome de “herpes zoster dro inclui visão turva, lacrimejamento, fotofobia
oftálmico”, independentemente da presença ou e dor intensa desproporcional aos sinais clínicos.
não do envolvimento ocular. É importante notar
se há envolvimento pela doença do nervo nasal

194 Olho vermelho


cap. 07 Ceratites infecciosas

Dor desproporcional à lesão, infiltrado em forma


de anel e história de uso de lentes de contato for-
mam tríade muito sugestiva de ceratite por ame-
ba. A lesão inicial é muito semelhante ao herpes
simples. Achado característico da ceratite por
Acanthamoeba é a ceratoneurite (infiltrados pe-
rineurais radiais). Alguns casos podem progredir
com complicações como afilamento corneal (até
perfuração), infecção secundária ou associada,
esclerite, entre outras.

O diagnóstico pode ser realizado por isolamento


da ameba derivado de raspado corneal ou bióp-
sia.

A doença é de difícil tratamento com utilização


de amebicidas tópicos a cada 1-2 horas (pro-
pamidina a 1%; hexamidina a1%; biguanida a
0,02%; clorexidine a 0,02%). Em certos casos, al-
gum tipo de intervenção cirúrgica é necessária
como opção terapêutica ou diagnóstica.

Olho vermelho 195


Conjuntivite cap. 07

Conjuntivite 4. Considerando-se a lateralidade:


Ruth Miyuki Santo
a. Unilateral
Conjuntivite é a inflamação da conjuntiva, po- b. Bilateral
dendo ocorrer em qualquer grupo etário, sem
predileção por sexo. Pode ser classificada de vá- Geralmente, o processo, quando restrito à con-
rias formas, por exemplo: juntiva, costuma ser autolimitado, e a resolução
não implica em seqüelas. Entretanto, em alguns
1. Considerando-se o tempo de início dos sin- casos de conjuntivite, pode haver comprometi-
tomas: mento da córnea com perda permanente da vi-
são, como na conjuntivite gonocócica, ou pode
a. Hiperaguda: menos de 12 horas levar a uma morbidade ocular prolongada, como
b. Aguda: menos de 3 semanas nos casos de ceratoconjuntivite adenoviral e nas
c. Crônica: mais de 3 semanas ceratoconjuntivites atópica e primaveril.
d. Neonatal: do nascimento até 28 dias de vida

2. Considerando-se o agente causal: Principais sinais e sintomas:

a. Infecciosa
i. Bacteriana mucopurulenta ou purulenta
ii. Viral
iii. Clamídea
b. Alérgica
c. Irritativa
d. Tóxica
e. Relacionada a alterações palpebrais (floppy
eyelid, lagoftalmo)
f. Associada a doenças sistêmicas (síndrome de Outros sinais: linfadenopatia satélite (Síndrome
Sjöegren, doença de Graves, Síndrome de Reiter, oculoglandular de Parinaud, conjuntivites ade-
penfigóide, psoríase) novirais), hemorragias conjuntivais.

3. Considerando-se o tipo de resposta con- Os pacientes com conjuntivite têm mais descon-
juntival: forto e ardor do que propriamente dor. A dor
não é um sintoma freqüente. Além disso, deve-
a. Papilar (Figura1) mos pensar em outras causas de olho vermelho
b. Folicular (Figura 2) que não a conjuntivite.
c. Membranosa
d. Cicatricial
e. Granulomatosa
f. Flictenular

196 Olho vermelho


cap. 07 Conjuntivite

A anamnese do paciente com conjuntivite inclui: 5. Envolvimento da córnea:

1. Tempo de início dos sinais e sintomas a. Ceratite superficial (ceratite ponteada)


2. Presença de manifestações sistêmicas b. Infiltrados subepiteliais ou estromais
a. Infecção de vias aéreas superiores c. Úlcera dendrítica
b. Alergia d. Ceratite flictenular (manifestação imunoalér-
c. Uretrite gica na região do limbo e da córnea periférica,
d. Artrite (a associação de conjuntivite, uretrite e resultante da antigenicidade de certos agentes
artrite sugere o diagnóstico de Síndrome de Rei- como o estafilococo e o bacilo da tuberculose)
ter)
e. Doenças reumatológicas, Síndrome de Sjöe- A investigação laboratorial não é necessária na
gren, doenças dermatológicas maioria das vezes, exceto se o processo é crônico
3. Uso de lente de contato ou recidivante, ou se é fulminante.
4. Uso de medicação tópica ocular (colírios e po-
madas) A pesquisa laboratorial inclui:

Ao exame oftalmológico, verificar: 1. Exame citológico:


a. Possibilita a identificação de tipos de células
1. Tipo de secreção inflamatórias envolvidas (neutrófilos, linfócitos,
2. Tipo de reação conjuntival eosinófilos) e de certas alterações celulares (cé-
3. Pálpebras, margens palpebrais e cílios lulas multinucleadas); presença de inclusões nu-
a. Presença de vesículas cleares sugerem infecção por herpesvírus). Colo-
b. Blefarite, canaliculite rações específicas auxiliam o diagnóstico:
c. Dermatite seborréica i. GRAM – classifica as bactérias
d. Dermatite atópica ii. Giemsa – útil na suspeita de conjuntivite por
4. Padrão da hiperemia: na conjuntivite, a hipe- clamídea; identifica os corpúsculos de inclusão
remia é difusa ou, às vezes, mais intensa nos fun- intracitoplasmáticos
dos de saco e tarso (Figura 3) iii. Imunofluorescência: uso de anticorpos fluo-
rescentes específicos (clamídea e vírus)
Quando o padrão for injeção ciliar (Figura 4), ou 2. Culturas
seja, congestão dos vasos na região do limbo, é a. Meios de ágar sangue ou chocolate (meios
necessário afastar outras causas de olho verme- enriquecidos que favorecem o crescimento de
lho, como uveíte, glaucoma agudo, fístula caró- bactérias)
tido-cavernosa, e que normalmente são unilate- b. Neisseria: meio de Thayer Martin
rais. Na ceratoconjutivite límbica superior, a con- c. Vírus : pouco disponível
gestão vascular, como o próprio nome sugere, é
restrita à região limbar superior.

Olho vermelho 197


Conjuntivite cap. 07

Conjuntivite aguda Nas infecções por adenovírus não há tratamento


específico. Estão indicados medidas de apoio e
Dentre as conjuntivites agudas, as mais freqüen- uso de lubrificantes oculares. Nos casos de for-
tes são as de etiologia viral, sobretudo as causa- mação de membrana e de ceratite com compro-
das pelos adenovírus; em seguida, com freqüên- metimento visual importante, corticóide tópico
cia bastante menor, vêm as conjuntivites alérgi- é indicado, porém com muita parcimônia.
cas agudas e as bacterianas.
Importante lembrar que as conjuntivites adeno-
virais, sobretudo a ceratoconjuntivite epidêmica,
Conjuntivite aguda de origem infecciosa são altamente transmissíveis, devendo tomar-se
todo o cuidado para evitar a disseminação. Os
pacientes devem ser orientados a respeito das
1. Viral medidas preventivas de disseminação, como
lavar as mãos antes e após a manipulação dos
olhos e separar objetos de uso pessoal.
Febre faringo-conjuntival

É causada por adenovírus dos tipos 3, 4 e 7, e Conjuntivite pelo herpes simples


caracteriza-se pela presença de faringite e de fe-
bre. Presença de linfadenopatia pré-auricular é Forma mais rara de conjuntivite viral, acompa-
comum, e é mais freqüente em crianças. Na con- nha a infecção primária pelo herpes simples. Ao
juntiva, a reação é do tipo folicular. exame, podemos encontrar vesículas herpéticas
na pálpebra e nas margens, edema palpebral e
eventualmente, ceratite com formação de den-
Ceratoconjuntivite epidêmica dritos. Linfadenopatia pré-auricular dolorosa
está quase sempre presente. O tratamento inclui
Também é causada por uma variedade de cepas o uso de medicação antiviral tópica (pomada de
de adenovírus, incluindo os tipos 8 e 19. Inicial- Aciclovir). O uso de corticóide é contra-indicado.
mente há hiperemia conjuntival, quemose, lacri-
mejamento, e é geralmente bilateral. Pode evo-
luir com comprometimento da córnea a partir de 2. Bacterianas
uma semana, o qual é representado por infiltra-
dos subepitelias (Figura 5). Os pacientes acome- As bactérias mais freqüentes são: Staphylococcus
tidos dessa patologia queixam-se de fotofobia, e, aureus (em todas as faixas etárias), Streptococcus
dependendo da intensidade dos infiltrados, há pneumoniae e Hemophilus influenza (mais co-
redução na acuidade visual. A reação conjunti- muns em crianças).
val é folicular, podendo cursar com formação de
membrana ou de pseudomembrana. Pode haver Sinais e sintomas: ardor, hiperemia, secreção mu-
linfadenopatia pré-auricular. copurulenta leve a moderada, reação papilar.

Nas crianças, além do quadro ocular, pode haver Exames laboratoriais não são necessários de for-
febre e dor de garganta. ma rotineira e o tratamento inclui uso de colírio

198 Olho vermelho


cap. 07 Conjuntivite

de antibiótico (atualmente o grupo mais usado é O tratamento é sistêmico com Ceftriaxone 1g IM,
o das quinolonas, de amplo espectro), além das dose única, ou cefotaxime 1g EV, a cada 8 horas.
medidas de apoio, como limpeza e compressas Além disso, indicam-se as medidas locais, como
frias com solução salina 0,9% (soro fisiológico) remoção periódica da secreção conjuntival com
ou com água filtrada ou mineral. Não é recomen- solução salina 0,9%.
dado o uso de água boricada (pode ser irritante
e alergênica).
Conjuntivite crônica

Conjuntivite hiperaguda Conjuntivite com duração de mais de 3 semanas.


Pode ser classificada de acordo com os agentes
É uma conjuntivite de evolução rápida e, geral- causais:
mente, muito agressiva, podendo, se não tratada
a tempo, levar à destruição da córnea. O prin-  Infecciosa:
cipal agente desse grupo é a Neisseria; tanto a - Bacteriana
gonorrheae como a meningitidis podem causar - Viral
conjuntivite, mas a gonocócica costuma ser mais - Clamídea
grave. A conjuntivite gonocócica caracteriza-se  Tóxica (drogas atropina, antivirais, presenvati-
pela presença de secreção purulenta abundante vos, aminoglicosídeos)
e exige tratamento imediato. É recomendável a  Alérgica ou inflamatória
obtenção de material para exame laboratorial. O  Anormalidade das pálpebras (floppy eyelid, la-
não tratamento pode permitir a rápida evolução goftalmo)
para perfuração corneana ou invasão da corren-  Ceratoconjuntivite sicca
te sangüínea pelos vasos da conjuntiva (conjun-
tivite por N. meningitidis pode evoluir com me-
ningite).

Olho vermelho 199


Conjuntivite cap. 07

Além de se basear na história, o diagnóstico tam- Molusco contagioso (Vídeo)


bém é baseado no Microsporídeo: indivíduos imunocomprometi-
aspecto morfológico ao exame biomicroscópico dos
da conjuntiva: Tóxica: atropina, antivirais, anestésico (preserva-
tivos e
Conjuntivite papilar aminoglicosídeos costumam resultar em con-
juntivite papilar)
blefaroconjuntivite
ceratoconjuntivite límbica superior Conjuntivite membranosa
floppy eyelid
conjuntivite lenhosa
Conjuntivite papilar gigante
Conjuntivite cicatricial:
Primaveril (alérgica)
Lente de contato, sutura, prótese Penfigóide
Síndrome de Stevens-Johnson
Queimaduras químicas
Folicular
Conjutivite granulomatosa
Clamídea (conjuntivite de inclusão do adulto,
considerada uma doença sexualmente transmis- Sarcoidose
sível) e tracoma; nos estágios mais avançados, os Síndrome oculoglandular de Parinaud (doença
folículos podem não ser mais observados, exis- da arranhadura de gato,
tindo apenas extensa cicatrização conjuntival esporotricose, tuberculose)
com presença da linha de Arlt e as fossetas de
Herbert no limbo)

Diferenciação das cinjuntivites


ACHADOS CLÍNICOS E BACTERIANA VIRAL CLAMÍDEA ALÉRGICA
CITOLOGIA

Prurido mínimo mínimo a moderado mínimo intenso


Hiperemia moderada intensa moderada moderada
Secreção mucopurulenta ou aquosa mucopurulenta mucóide ou
purulenta mucopurulenta

Reação conjuntival papilar folicular folicular e papilar papilar


Dor de garganta ocasional ocasional ausente ausente
e febre

Citologia bactérias linfócitos, corpúsculos de eosinófilos


PMN efeitos citopáticos inclusão
citoplasmáticos

200 Olho vermelho


cap. 07 Conjuntivite

Importante Conjuntivite gonocócica

As conjuntivites são uma das principais causas Historicamente, a conjuntivite por Neisseria go-
de “olho vermelho”. Dentre elas, as de origem norrheae foi uma importante causa de cegueira.
adenoviral são as mais freqüentes. Quando o É uma conjuntivite hiperaguda que se desenvol-
processo está restrito à conjuntiva costuma ve 2 a 4 dias após o nascimento. O uso da solu-
ser autolimitado, e a resolução não implica ção de nitrato de prata 1% (manobra de Credé)
em seqüelas. O diagnóstico é clínico, e exames diminuiu a ocorrência da infecção, mas não a er-
laboratoriais não são necessários de forma ro- radicou.
tineira. Nas infecções por adenovírus não há A infecção ocasiona edema palpebral intenso,
tratamento específico. O uso indiscriminado secreção purulenta, ulceração, podendo ocorrer
de colírios antibióticos, além de não ter efeito perfuração corneana.
sobre a infecção viral, pode favorecer a seleção Diagnóstico clínico e laboratorial (diplococo G-
bacteriana. intracelular).
Tratamento: visa a prevenir as lesões oculares e
Importante lembrar que as conjuntivites ade- sistêmicas (artrite, pneumonia, meningite e sép-
novirais, sobretudo a ceratoconjuntivite epi- sis). Requer tratamento sistêmico com ceftriaxo-
dêmica, são altamente transmissíveis, deven- ne 125 mg IM, em dose única, ou cefotaxime 25
do tomar-se todo o cuidado para evitar a dis- mg/kg EV ou IM, a cada 8 ou 12 horas/7 dias.
seminação. Os médicos devem lavar as mãos
após o exame de um paciente com suspeita
de conjuntivite. Os pacientes devem ser orien- Outras conjuntivites bacterianas
tados com medidas de prevenção da dissemi-
nação: lavar as mãos antes e após a manipula- Incluem infecções por Strepto pneumoniae, Sta-
ção dos olhos, separar objetos de uso pessoal, phylo aureus, Haemophilus, E. coli, Pseudomonas
trocar a toalha e a fronha diariamente, evitar (prematuros). Tratamento com antibiótico tópi-
beijos e cumprimento com as mãos, não to- co.
mar banho de mar, de piscina ou de banheira. Se houver suspeita de complicação como celuli-
O afastamento do ambiente escolar ou de tra- te orbitária, o tratamento deve ser por via endo-
balho é necessário nos casos de ceratoconjun- venosa.
tivite epidêmica e deve ser fornecido atestado
médico por oftalmologista.
Conjuntivite química

Conjuntivite neonatal Devida à instilação do colírio de nitrato de prata,


ocorre em geral ao nascimento ou 3 dias após.
As conjuntivites neonatais estão associadas à in- A secreção é discreta, aquosa, autolimitada. Em
fecção ocular do recém-nascido quando de sua alguns serviços, o uso de colírio de eritromicina
passagem pelo canal vaginal contaminado no 1% ou de tetraciclina 1% é usado como alternati-
momento de parto. va na profilaxia para a conjuntivite gonocócica e
diminui a chance de conjuntivite química.

Olho vermelho 201


Conjuntivite cap. 07

Conjuntivite por Chlamydea Conjuntivite por Herpes simplex (tipo II)

Conjuntivite mucopurulenta, moderada a grave, Geralmente unilateral, ocorre 7 a 10 dias após o


que ocorre de 5 a 10 dias após o nascimento. Se nascimento, ou mesmo mais tardiamente. Pro-
não tratada pode resultar em pannus e em forma- voca uma conjuntivite com secreção aquosa;
ção de cicatriz corneana. Pode haver quadro sis- pode haver presença de vesículas nas margens
têmico com pneumonia, otite média, traqueíte, palpebrais, ceratite difusa ou dendrítica (mas
nasofaringite. Diagnóstico: clínico e laboratorial rara), coriorretinite, uveíte. Diagnóstico: clínico
(presença de inclusões basofílicas intracitoplas- e laboratorial (ao exame citológico, pode haver
máticas à coloração por Giemsa, ou identificados presença de células gigantes multinucleadas e
por imunofluorescência). inclusões eosinofílicas intranucleares). Em pre-
sença de lesão corneana, usa-se antiviral tópico
Tratamento: Tópico com pomada de eritromicina na forma de pomada 5x ao dia, até a epitelização.
ou tetraciclina 4x ao dia, por 10 dias, e tratamen-
to sistêmico deve ser feito nos pais e na criança.
Suspensão de eritromicina 50mg/kg/dia, dividi-
da em 4 doses por 14 dias.

AGENTE INÍCIO CITOLOGIA CULTURA

Neisseria 2 - 4 dias diplococo G- intracelular ágar sangue/chocolate meio de


Thayer-Martin

Outra bactérias 2 - 30 dias G+ ou G- ágar sangue/chocolate


Chlamydea 5 - 10 dias corp. inclusão intracitoplasmático
imunofluorecência

Herpes 7 - 10 dias céls. gigantes multinucleadas / incl. cultura para vírus/PCR


intranucleares

Química 1 - 3 dias negativa negativa

202 Olho vermelho


cap. 07 Esclerite

Esclerite

Pode ser anterior ou posterior ao equador do


bulbo ocular, necrotizante ou não. É bem menos
freqüente que a episclerite e acomete mais o
sexo feminino e idades mais avançadas. Aproxi-
madamente 50% dos casos de esclerite anterior
estão associados com doenças sistêmicas auto-
imunes ou reumatológicas. Já a esclerite pos-
terior normalmente não apresenta associações
com outras patologias.

O tratamento consiste em instilação de colírios


antiinflamatórios não esteroidais ou esteroidais
e, em casos severos, corticoterapia sistêmica.

Olho vermelho 203


Olho seco cap. 07

Olho Seco seco associado à síndrome de Sjögren (primá-


rio ou secundário) e olho seco sem síndrome
Doença multifatorial da lágrima e da superfície de Sjögren (deficiência lacrimal, obstrução do
ocular que resulta em sintomas de desconforto, ducto da glândula lacrimal, bloqueio reflexo e
distúrbios visuais e instabilidade do filme lacri- drogas de ação sistêmica).
mal com potencial lesão da superfície ocular. O
quadro é acompanhado por aumento de osmo- Ao exame ocular, nota-se redução do menisco
laridade do filme lacrimal e inflamação da super- do filme lacrimal, presença de debris no filme
fície ocular. lacrimal pré-corneano, hiperemia conjuntival
intermitente e ceratopatia ponteada. Em al-
A síndrome do olho seco pode ser classifica- guns casos pode haver evolução para ceratite
da segundo sua etiologia em: evaporativa e filamentar. Blefarite é um achado associado
por deficiência aquosa. A primeira divide-se freqüente. A propedêutica subsidiária inclui
em intrínseca (subdividida em: deficiência da teste de rosa bengala, análise do tempo de
glândula de Meibomius, distúrbios da abertu- rompimento do filme lacrimal (BUT – break-up
ra palpebral, redução da freqüência dos pisca- time) e teste de Schirmer.
mentos, e, secundariamente, uso de drogas)
e extrínseca (subdividida em: deficiência de O tratamento baseia-se na utilização de lágri-
vitamina A decorrente de preservativos dos mas artificiais. Casos mais graves podem ne-
colírios, uso de lentes de contato e doença da cessitar de oclusão do ponto lacrimal e tarsor-
superfície ocular, p.ex., alergia). Já o olho seco rafia.
por deficiência aquosa é subdividido em olho

204 Olho vermelho


cap. 07 Uveite

Uveíte Os sintomas clássicos da uveíte são: fotofobia,


dor ocular, hiperemia pericerática, redução da
Inflamação do trato uveal cuja principal classifi- acuidade visual e lacrimejamento. Convém lem-
cação baseia-se em sua localização anatômica: brar que casos crônicos freqüentemente se apre-
uveíte anterior (envolvendo íris e/ou corpo ci- sentam com ausência de hiperemia e mínimos
liar); intermediária (pars plana e extrema perife- sintomas, mesmo na presença de inflamação
ria da retina), posterior (atrás da borda posterior ativa.
da base vítrea) e panuveíte (comprometimento
de todo o trato uveal). A uveíte também é classi- O tratamento da uveíte envolve uso de esterói-
ficada de acordo com a fase de estabelecimento des tópicos ou sistêmicos, de acordo com a seve-
e com o tempo de evolução em aguda ou crôni- ridade do quadro. Além disso, é imprescindível a
ca. Ainda com base nas características fisiopato- realização de investigação sistêmica para a defi-
lógicas, a uveíte pode ser dividida em granulo- nição etiológica.
matosa e não-granulomatosa.

Olho vermelho 205


Celulite orbitária cap. 07

Celulite Orbitária

Trata-se de um processo infeccioso dos tecidos


moles posteriores ao septo orbitário. A forma
bacteriana é a mais comum e pode ser secun-
dária a sinusite etmoidal, decorrente de infec-
ção de estruturas adjacentes, pós-traumática e
pós-cirúrgica. Apresenta-se com rápido desen-
volvimento unilateral de quemose, hiperemia
conjuntival, proptose e diplopia. Existe um risco
de evolução para complicações intracranianas
(meningite, abscesso cerebral, trombose do seio
cavernoso) em cerca de 4% dos casos.

206 Olho vermelho


cap. 07 Glaucoma agudo primário

Glaucoma agudo primário 60 mmHg. Isso acarreta uma súbita isquemia do


Roberto Freire Santiago Malta globo ocular e conseqüente quadro clínico asso-
ciado.
O glaucoma agudo primário (GAP) é uma das
principais emergências oftalmológicas. Na grande maioria dos casos, a crise aguda é
unilateral, e clinicamente o paciente apresenta
Do ponto de vista epidemiológico, essa doença dor intensa no globo ocular, a qual pode irradiar
é comum na raça amarela, menos freqüente na para a cabeça e/ou para a hemiface acometida,
população caucasiana e na negra. e pode ser acompanhada de náuseas e vômitos.

A prevalência do GAP é nitidamente maior nas O olho acometido fica vermelho, de intensidade
mulheres (70%), com idade em torno de 65 anos, variável, acompanhado de lacrimejamento, foto-
portadoras de hipermetropia. fobia, diminuição da acuidade visual e visualiza-
ção de halos coloridos ao redor das lâmpadas.
De modo geral, os olhos acometidos possuem
diâmetro ântero-posterior reduzido, a câmara O exame ocular mostra que a PIO está bastante
anterior é menor e mais rasa que a população elevada. A pressão bidigital, realizada com os
normal e o cristalino tem diâmetro axial aumen- dois dedos indicadores através das pálpebras
tado. superiores com olhar direcionado para baixo,
mostra nítida assimetria de tensão entre o olho
Essas características anatômicas fazem com que normal e o olho com GAP.
o ângulo da câmara anterior seja estreito, propi-
ciando o seu fechamento com conseqüente au- O exame realizado com lanterna apropriada ou
mento da pressão intra-ocular (PIO). o exame externo assinalam ausência de secre-
ção mucopurulenta na presença de congestão
Em relação à fisiopatogenia, observa-se uma di- acentuada dos vasos conjuntivais e episclerais.
ficuldade da passagem do humor aquoso da câ- A córnea está edemaciada, perdendo, portanto,
mara posterior para a câmara anterior devido ao seu brilho e transparência, e a pupila está em se-
maior contato da face posterior da íris com a face mimidríase fixa.
anterior do cristalino. Esse evento é denominado
“bloqueio pupilar” e ocorre durante uma eventu- É importante acentuar que o exame com lanter-
al semimidríase pupilar. Essa dificuldade de trân- na deve ser realizado comparando-se o olho aco-
sito do aquoso faz com que o mesmo se acumu- metido com o olho normal, e isso evidenciará as
le na câmara posterior, aumentando a pressão diferenças dos achados entre um e outro olho.
nesse local e empurrando a periferia da íris para
frente, fechando o seio camerular ou o ângulo da A crise de glaucoma agudo é uma das mais im-
câmara anterior. portantes urgências em oftalmologia, e o trata-
mento deve ser instituído o mais rapidamente
O fechamento angular impede a drenagem do possível. A intensa isquemia produzida pela ele-
aquoso acarretando súbito aumento da PIO. A vação aguda da PIO exige medidas de urgência
pressão que, por exemplo, situa-se em torno de as quais devem ser instituídas pelo médico espe-
15 mmHg, sobe, em questão de minutos, para cialista. Assim sendo, o encaminhamento para o

Olho vermelho 207


Glaucoma agudo primário cap. 07

oftalmologista deve ser imediato. Enquanto aguardam atendimento especializado,


os pacientes devem permanecer em decúbito
Inúmeras são as drogas de uso tópico e sistêmico horizontal dorsal, em quarto escuro.
que são utilizadas no tratamento da crise aguda,
entretanto, elas não devem ser ministradas pelo Vários são os diagnósticos diferenciais do glau-
médico generalista. coma agudo primário. Entre eles, podemos in-
cluir os glaucomas agudos secundários, a uveíte
Uma exceção é a acetazolamida, que é um inibi- hipertensiva, os glaucomas neovasculares e os
dor da anidrase carbônica, comercializada com glaucomas facogênicos. Todos podem ser perfei-
o nome de “Diamox”. A posologia é de 1 com- tamente confundidos com a crise de glaucoma
primido de 250 mg, via oral, de 6 em 6 horas. O agudo primário, e o diagnóstico diferencial so-
uso dessa medicação fica prejudicado no caso da mente será feito pelo médico especialista. As ce-
presença de vômitos, e a mesma deve ser utiliza- ratites ou ceratoconjuntivites também estão as-
da com muito cuidado em portadores de gastri- sociadas ao olho vermelho dolorido, porém, po-
te e de calculose renal. dem ocorrer em qualquer idade ou sexo, têm um
curso insidioso associado à presença de secreção
e de dor, com sensação de corpo estranho.

208 Olho vermelho


cap. 07 Saiba mais

Glaucoma de ângulo fechado Associadamente, a maioria desses olhos são hi-


permétropes, e a ceratometria mostra uma cur-
Introdução vatura corneana aumentada.

O glaucoma de ângulo fechado, também deno- Do ponto de vista fisiopatológico, todas essas
minado “glaucoma de ângulo estreito” ou “glau- condições anatômicas favorecem o mecanismo
coma de ângulo oclusível”, pode ser classificado de bloqueio pupilar, o qual desencadeia a crise
como glaucoma primário ou secundário, e glau- de glaucoma agudo.
coma agudo ou crônico. São inúmeros os me-
canismos fisiopatológicos envolvidos em cada O bloqueio pupilar nada mais é que a dificuldade
uma dessas entidades, de modo que os mesmos de passagem do humor aquoso da câmara pos-
serão devidamente discutidos quando das suas terior para a câmara anterior Segundo Mapsto-
respectivas apresentações. ne, essa dificuldade é associada à drenagem si-
multânea do aquoso ainda presente na câmara
anterior. O esvaziamento da câmara anterior as-
Glaucoma agudo primário sociado à pressão aumentada na câmara poste-
rior desloca o diafragma írido-cristaliniano para
Epidemiologicamente, o glaucoma agudo pri- frente com conseqüentes fechamento do ângu-
mário é uma doença rara na população negra e lo, interrupção da drenagem, aumento súbito da
pouco freqüente na população caucasiana. En- pressão intra-ocular e instalação do processo de
tretanto, essa é uma doença bastante comum isquemia do globo ocular.
nas populações dos esquimós, dos mongóis, na
China, na Índia e no Vietnã. O desencadeamento do bloqueio pupilar é asso-
ciado a semimidríase pupilar de origem autonô-
A prevalência do glaucoma agudo primário é ni- mica desencadeada por inúmeros fatores (dro-
tidamente maior nas mulheres (70%), com idade gas, estresse, condições de iluminação, posição
em torno de 65 anos. da cabeça, etc.).

Os doentes portadores de glaucoma agudo pri- O paciente portador de glaucoma agudo primá-
mário apresentam características biométricas rio, clinicamente, apresenta dor intensa no globo
típicas que favorecem o aparecimento da crise ocular acompanhada de diminuição acentuada
congestiva. da acuidade visual, de visualização de halos co-
loridos ao redor de lâmpadas, de náuseas e de
Assim sendo, os olhos acometidos apresentam vômitos.
diâmetro ântero-posterior reduzido e câmara
anterior estreita. O exame ocular mostra que a pressão intra-ocu-
lar está elevada (por volta de 50-60 mmHg), os
O cristalino apresenta tamanho axial aumen- vasos conjuntivais e episclerais estão conges-
tado, e a sua inserção em relação ao limbo está tos, a córnea está edemaciada, o humor aquoso
anteriorizada, favorecendo, portanto, o estreita- apresenta flare e tyndall em grau variado e a câ-
mento do ângulo da câmara anterior. mara anterior está bastante rasa.

Olho vermelho 209


Saiba mais cap. 07

É fundamental a realização do exame gonioscó- zontal dorsal e são medicados com as seguintes
pico, apesar da dificuldade induzida pelo edema drogas:
corneano. O uso do colírio de glicerina pode fa-
cilitar a visualização do ângulo, o qual, normal- agentes hiperosmóticos: manitol a 20% via in-
mente, está totalmente fechado. travenosa - 2g/Kg de peso (3 a 5ml/minuto), de
8/8 horas, ou glicerina 50% via oral - 1,5g/Kg de
A isquemia produzida no segmento anterior leva peso, de 8/8 horas.
à isquemia da íris e do músculo esfíncter da íris. inibidores da anidrase carbônica: acetazolamida
Conseqüentemente, a íris pode sofrer áreas de 250 mg via oral, de 6 em 6 horas.
atrofia segmentar associada a atrofia do múscu- pilocarpina a 2% colírio: 1 gota de meia em meia
lo esfíncter, com deformação da área pupilar. As- hora na primeira hora, 1 gota de hora em hora,
sociadamente, ocorre dispersão generalizada de na segunda e terceira hora, 1 gota de 6 em 6 ho-
pigmentos irianos com deposição dos mesmos ras a seguir.
na camada de Henle, na face posterior da córnea, maleato de timolol a 0,5% colírio: 1 gota de 12
no seio camerular e na face anterior do cristalino. em 12 horas.
cortisona colírio (acetato de prednisolona): 1
A aposição prolongada da íris no cristalino e da gota de 2 em 2 horas nas primeiras 24 horas.
periferia da íris na esclera leva à formação de si-
néquias írido-cristalinianas e de goniosinéquias. Nos casos em que a pressão intra-ocular está
muito elevada (em torno de 60-70 mmHg) ocor-
O cristalino sofre necrose do seu epitélio com re uma isquemia do músculo esfíncter da íris de
conseqüente formação de opacidades subcap- modo que tal músculo não reage ao estímulo
sulares anteriores denominadas “glaukomfle- dos agentes mióticos. Portanto, com esses níveis
cken”. Tais opacidades podem ser puntiformes ou de pressão, o início do uso de pilocarpina pode
abranger áreas maiores do cristalino lembrando ser adiado por 1 ou 2 horas após a introdução
o aspecto de “leite derramado” sobre uma super- das outras medicações e a conseqüente redução
fície plana. da pressão. Em relação aos agentes hiperosmóti-
cos, deve-se levar em consideração que muitos
O exame do nervo óptico é dificultado devido desses pacientes apresentam náuseas e vômitos,
ao forte edema corneano, porém, de um modo o que impede o uso oral dessa droga.
geral, a papila está edemaciada durante a crise
congestiva. Um outro aspecto a ser considerado está relacio-
nado com as condições físicas e cardiológicas do
A crise de glaucoma agudo é uma das mais im- paciente a ser tratado.Várias dessas medicações
portantes urgências em oftalmologia, e o trata- podem alterar as condições hemodinâmicas de
mento deve ser instituído o mais rapidamente pacientes, muitas vezes idosos, de tal modo que
possível. uma monitorização clínica adequada é funda-
mental.
Diversas são as medicações e os procedimentos
utilizados e, de um modo geral, são utilizados Associada ao tratamento medicamentoso, re-
quase que simultaneamente. Assim sendo, os aliza-se a compressão central da córnea com o
pacientes são posicionados em decúbito hori- intuito de abrir-se o seio camerular. Esse procedi-

210 Olho vermelho


cap. 07 Saiba mais

mento é indispensável no tratamento adequado com a câmara anterior, rompendo, portanto, o


do glaucoma agudo primário. Quando as pres- bloqueio pupilar.
sões são extremamente elevadas, opta-se por se
iniciar essa manobra após cerca de uma hora do A iridotomia periférica adequada, rompendo
início do uso das medicações, quando já houve esse bloqueio, impede o desenvolvimento de
uma diminuição parcial da pressão intra-ocular. novas crises primárias, exceto se o paciente for
portador de íris em platô, conforme será tratado
Com o paciente em decúbito horizontal dorsal, a seguir. Entretanto, o paciente que teve uma cri-
faz-se uma compressão na área central da cór- se de glaucoma agudo deve ser acompanhado
nea, utilizando, de preferência, o prisma desta- de um modo muito regular, pois pode já ser por-
cado do tonômetro de aplanação de Goldmann. tador de glaucoma crônico de ângulo estreito
A compressão deve ser realizada por 3 vezes du- (sobre o qual se desenvolveu uma crise aguda),
rante 10 segundos, com intervalos de 10 segun- ou vir a apresentar um glaucoma crônico após
dos. Toda essa manobra pode ser repetida por crise aguda.
mais de 2 ou 3 vezes, dependendo da resposta
inicial. Um outro aspecto fundamental na avaliação
desses pacientes é o estudo do olho contrala-
O tratamento adequado da crise de glaucoma teral. Na grande maioria das vezes, o olho con-
agudo primário controla a pressão intra-ocular tralateral apresenta condições anatômicas mais
ou, pelo menos, aborta a crise congestiva em ou menos semelhantes ao olho que teve a crise
cerca de 90% dos casos, nas primeiras 12–24 ho- congestiva. Entretanto, podem ocorrer casos em
ras. que esse olho é míope e apresenta o ângulo da
câmara anterior não oclusível. Essa informação é
Assim sendo, dá-se prosseguimento ao trata- muito importante, pois pode levar ao tratamen-
mento com a realização da iridotomia, com a to profilático desnecessário do olho oposto.
utilização do YAG-laser. Esse é um procedimen-
to relativamente fácil em indivíduos sem edema De um modo geral, está indicado o tratamento
de córnea e sem edema do estroma iriano. De profilático em quase todos os olhos contralate-
um modo geral, um disparo de 6-8 mJ, em uma rais, com a realização de uma iridotomia com
pseudocripta periférica, é suficiente para a reali- YAG-laser.
zação de um orifício que liga a câmara posterior

Olho vermelho 211


Saiba mais cap. 07

Figura 02:

Glaucoma subagudo primário dades do paciente acometido. Costureiras profis-


sionais, leitores contumazes, freqüentadores as-
O glaucoma subagudo ou intermitente é uma síduos de cinema podem, após essas atividades,
condição clínica que ocorre em olhos com carac- desenvolver crises subagudas.
terísticas biométricas semelhantes ao glaucoma
agudo primário. Os pacientes apresentam qua- No diagnóstico desses casos é fundamental a re-
dro clínico semelhante ao do glaucoma agudo, alização de uma anamnese bastante detalhada,
porém, de menor intensidade. Os episódios de assim como a realização do exame gonioscópico.
diminuição da acuidade visual com discreta dor
e de visão de halos coloridos são de pequena du- Em vários desses pacientes observa-se a pre-
ração e intensidade. sença de goniosinéquias ou de pontos isolados
de hiperpigmentação no seio camerular, o que
Muitas dessas crises podem estar relacionadas pode sugerir o contato intermitente da íris sobre
com a atividade profissional ou com outras ativi- a parte escleral do ângulo da câmara anterior.

212 Olho vermelho


cap. 07 Saiba mais

Muitos desses pacientes podem caminhar para Do ponto de vista epidemiológico, na popu-
uma crise congestiva completa e, independente- lação acima de 40 anos, a prevalência do glau-
mente desse fato, devem ser tratados imediata- coma crônico de ângulo estreito é de cerca de
mente, com a realização da iridotomia. 80% considerando-se a população portadora de
glaucoma de ângulo estreito, ou seja, do total
dos indivíduos com glaucoma agudo, subagudo
Síndrome da íris de platô e crônico, cerca de 80 % têm manifestação crôni-
ca da doença.
A configuração da íris em platô caracteriza, do
ponto de vista biomicroscópico, olhos com câ- Uma das poucas exceções a esse número são os
mara anterior relativamente profunda na sua esquimós do Alaska, onde a prevalência do glau-
área central, e rasa na sua periferia, de tal modo coma crônico de ângulo estreito, após os 40 anos
que a dilatação da pupila provoca bloqueio an- de idade, é de 36%, ou seja, 64% dos pacientes
gular pela obstrução da malha trabecular devido com glaucoma de ângulo estreito apresentam
a aposição da íris na periferia do seio camerular. crises de glaucoma agudo.

A realização da iridotomia é suficiente para re- Em relação à fisiopatogenia, esse tipo de glauco-
mover a presença de um possível componente ma pode ocorrer como conseqüência da dificul-
de bloqueio pupilar; porém, a midríase pupi- dade da drenagem do humor aquoso através da
lar pode levar a um aumento súbito da pressão malha trabecular resultante de repetidos fecha-
intra-ocular devido ao fechamento angular, defi- mentos angulares, por provável bloqueio pupi-
nindo o diagnóstico da síndrome da íris em pla- lar parcial, acompanhado ou não de goniossiné-
tô. quias e sem qualquer sinal ou sintoma compatí-
vel com crise subaguda ou intermitente.
A realização da gonioscopia adequada é funda-
mental para o correto diagnóstico da íris com Em alguns casos, principalmente nos olhos que
configuração em platô. Mais recentemente, a uti- formaram goniossinéquias de modo crônico,
lização da biomicroscopia ultra-sônica e do OCT pode ocorrer um episódio de glaucoma agudo e,
Visante pode auxiliar na interpretação dessas al- de modo contrário, olhos previamente normais,
terações anatômicas. que foram acometidos por crise de glaucoma
Os pacientes devem ser tratados com mióticos agudo, e devidamente tratados com iridotomia,
fracos ou com iridoplastia periférica. podem evoluir no futuro, com aumento crônico
da pressão intra-ocular.

Glaucoma crônico de ângulo estreito O glaucoma crônico de ângulo estreito tem evo-
lução clínica muitas vezes semelhante à do glau-
O glaucoma crônico de ângulo estreito é um coma crônico simples.
glaucoma primário em que o ângulo da câmara
anterior é estreito, ou seja, no qual as diferentes A doença é geralmente bilateral e assimétrica, as
estruturas do seio camerular somente são obser- alterações campimétricas e do nervo óptico as-
vadas, total ou parcialmente, através da realiza- semelham-se ao do glaucoma de ângulo aberto,
ção da gonioscopia com manobras de identação. porém, as pressões intra-oculares podem cursar

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Saiba mais cap. 07

com picos bastante elevados.

Esses glaucomas devem ser tratados com a reali-


zação de iridotomia com YAG-laser, associada ao
tratamento medicamentoso se necessário.

A cirurgia da trabeculectomia está indicada nos


olhos submetidos à iridotomia, associada ao tra-
tamento medicamentoso, sendo que os olhos
continuam sem controle adequado da pressão
intra-ocular.

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