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1. Introdução
De logo, cabe lembrar que a atribuição dada aos Tribunais do Trabalho para
legislar sobre direito do trabalho encontra respaldo no § 2º do art. 114 da CF
(“Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é
facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as
disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as
convencionadas anteriormente”).
A questão então que se coloca é definir qual é a natureza destas decisões
proferida com base neste dispositivo constitucional? Na doutrina trabalhista
brasileira os autores se inclinam por considerar essa sentença de natureza
constitutiva5.
Já chegamos a sustentar, com base na doutrina italiana, que no dissídio coletivo
o Poder Judiciário exerceria verdadeiro poder legislativo, dividindo com as
Câmaras Legislativas a atribuição de legislar sobre direito do trabalho.
Contudo, partindo da perspectiva de que os trabalhadores têm o direito à
celebração das convenções e acordos coletivos, como assegurado no inciso
XXVI do art. 7º da CF, temos que, em verdade, o Judiciário, no dissídio coletivo,
estaria agindo no uso de sua função típica jurisdicional, procurando, em
substituição à parte obrigada, fazer prevalecer o direito. Em suma, caso o
obrigado (empregadores) não cumpra seu dever (celebrar convenção ou acordo
coletivo), poderão os trabalhadores se socorrerem do Judiciário, pedindo a este
que satisfaça seu direito violado, expedindo, no caso, uma regra jurídica
substituta ao que deveria ser próprio do conteúdo da convenção coletiva ou
acordo coletivo caso voluntariamente fosse celebrado.
Em outras palavras, diante da omissão ou recusa dos empregadores, cabe ao
destinatário do direito fundamental (os trabalhadores) pedir ao Judiciário que
este seja satisfeito.
Diga-se, ainda, que a supressão da vontade do obrigado pelo juiz, outrossim,
não se constitui em nenhuma novidade legislativa. Basta mencionar que o art.
480 do Código Civil prevê a possibilidade da parte contratante pedir judicialmente
a redução da prestação ou o modo de executá-la quando diante de onerosidade
excessiva. Ou seja, nesta hipótese, caso as partes não pactuem quanto a
redução da prestação ou quanto a alteração do modo de sua execução, caberá
ao juiz decidir a respeito.
Hipótese semelhante existe no art. 464 do Código Civil, que, em relação ao
contrato preliminar, estabelece que, “esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido
do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter
definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da
obrigação”.
Concretização, ainda, dessa possibilidade de supressão da vontade contratual
pelo juiz se tem no preceito do art. 466-A do CPC, que estabelece a regra de
que a sentença que condena o devedor a emitir declaração de vontade, “uma
vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida”.
São todas, pois, situações nas quais o juiz supre a vontade do contratante.
Assim, havendo o dever de celebrar a convenção coletiva ou acordo coletivo,
não será pela omissão do obrigado que o direito fundamental deixará de ser
concretizado. Cabe, desse modo, ao interessado, buscar no Judiciário seu
9. Conclusões
COSTA, Coqueijo. Direito processual do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 1995.
GOTTSSHALK, Egon Felix. Norma Pública e Privada no Direito do Trabalho. São
Paulo: LTr, 1995.
HUECK, Alfred. NIPPERDEY, Hans Carl. Compendio de derecho del trabajo.
Trad. Miguel Rodriguez Piñeiro e Luis Enrique de la Villa. Madrid: Editorial
Revista de Derecho Privado, 1963.
SILVA, José Afonso da. Processo constitucional de formação das leis. 2 ed. 2 tir.
São Paulo: Malheiros, 2007.