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Resumo
Este estudo apresenta uma revisão de literatura sobre o tema lesão medular traumática em populações jovens e estratégias
emocionais de enfrentamento realizado na literatura especializada no período de 2000 a 2011. Os descritores utilizados
foram “lesão medular traumática”, “resiliência” e “coping”. O objetivo do levantamento foi destacar publicações que
acrescentassem correlações teóricas e atualizações sobre as estratégias de enfrentamento e situações de impacto e ruptura
do jovem adulto vítima de lesão medular traumática. A busca eletrônica foi realizada nas bases de dados Scielo e Medline
e ampliou-se para uma busca manual em publicações especializadas da área. O conteúdo do material selecionado foi
agrupado em 2 categorias para análise: “Uma nova realidade: o Impacto emocional no jovem, no familiar e na equipe”,
e “Estratégias de enfrentamento: coping e resiliência”. Conclui-se que, apesar dos aspectos emocionais serem citados nos
estudos, poucas publicações avaliam a população em suas trajetórias e estratégias de enfrentamento.
Palavras-chave: Traumatismos da Medula Espinal. Adaptação Psicológica. Resiliência Psicológica.
Abstract
This study presents a literature survey on traumatic medullary injury among young people, and on the emotional strategies
for coping with it; we did a survey on specialized literature published during the period from 2000 to 2011. We used the
following keywords: traumatic medullary injury, resiliency and coping. The objective of the survey was to identify publi-
cations that put forward theoretical correlations and updates on strategies for coping and situations of impact and rupture
in cases of young adults affected by traumatic medullary injury. The electronic survey was carried out in Scielo and Medli-
nedatabase and was enlarged through a research in specialized written publications of the area. Themes were grouped in
2 categories for analysis: “A new reality: the emotional impact over the young, the family and the team”, and “Strategies
for coping and resilience”. We concluded that, in spite of references to emotional aspects in the studies, few publications
evaluate the population in what concerns trajectories and strategies for coping.
Keywords: Spinal Cord Injuries. Adaptation, Psychological. Resilience, Psychological.
* Psicóloga pela PUC-Campinas. Doutora em Psicologia Clínica pela USP. Professora do Centro Universitário São Camilo.
** Acadêmica de Psicologia do Centro Universitário São Camilo.
*** Terapeuta Ocupacional. Especialista em terapia ocupacional em Neurologia pelo Centro Universitário Católico Salesiano de Lins.
**** Terapeuta Ocupacional da UNIFESP-EPM. Mestre em Saúde Mental. Professora do Centro Universitário São Camilo.
Introdução relacionadas a acidentes automobilísticos, feri-
mentos por armas de fogo, mergulho em águas
A Lesão Medular (LM) é uma condição de rasas, acidentes esportivos e quedas. Entre es-
insuficiência parcial ou total do funcionamento sas causas, os ferimentos penetrantes por arma
da medula espinhal, decorrente da interrupção de fogo produzem lesões graves com perda de
dos tratos nervosos motor e sensorial desse ór- substância, fístulas, infecções e meningites. Já as
gão, podendo levar a alterações nas funções mo- causas das lesões não traumáticas podem estar
toras e déficits sensitivos, superficial e profundo relacionadas a tumores, infecções, alterações
nos segmentos corporais localizados abaixo do vasculares, malformações e processos degenera-
nível da lesão, além de alterações viscerais, au- 319
tivos ou compressivos3,4,5.
tonômicas, disfunções vasomotoras, esfincteria- A instalação da Lesão medular pode ser
Apesar das contribuições sobre os aspectos arma de fogo, acidentes de trânsito, mergulhos e
emocionais e psíquicos da população jovem que quedas; dentre as causa não traumáticas (20%),
adquire a lesão medular por trauma, os estudos destacam-se os tumores, doenças infecciosas,
não aprofundam as investigações sobre medidas vasculares e degenerativas4.
de impacto ou a correlação entre as estratégias de Um termo descrito como experiência emo-
enfrentamento emocional ou comportamental. cional é o de autor-responsabilização pelo aco-
Para um aprofundamento no tema organizou- metimento. Considera-se que, na medida em que
-se uma subcategorização em duas temáticas apre- a aquisição de uma deficiência pode ser assumi-
sentadas no conteúdo do material investigado: da como valor de punição, muitos pacientes en-
frentam sentimento de culpa e reação de agressi-
1 – Impacto emocional vidade, por vezes permeados pelo predomínio de
O conteúdo temático geral que descreve os sentimentos de injustiça.
aspectos emocionais e o impacto da deficiência A pessoa com lesão medular pode queixar-
adquirida pelo jovem adulto envolve, principal- -se de sentir dor nos membros do corpo que apre-
mente, a hospitalização, a comunicação da limi- sentam diminuição ou perda de sensibilidade,
tação e a relação da equipe, familiares e paciente. vindo a se intensificar no período da noite. As
Presentes nessa subcategoria estão as des- mudanças comportamentais dessa síndrome são
crições sobre a repercussão da aquisição da le- apresentadas nas seguintes quatro fases4:
são medular gerando conflitos relacionados à 1. Fase do choque: a pessoa encontra-se de-
autoimagem e que se refletem na estrutura emo- sorientada e assustada, sem consciência de sua
cional da pessoa. Essas respostas emocionais real situação. Faz-se necessário que a equipe
variam de pessoa para pessoa, conforme ca- oriente a família sobre cuidados e condutas.
racterísticas de personalidade, idade, momento 2. Fase da negação: momento em que a
emocional, condições familiares e sociocultu- pessoa começa a perceber a realidade, porém
rais. Como seria de se esperar, elas influenciam a distorce, mantendo a crença na recuperação
a nova condição de vida da pessoa10. total. Nesse momento, espera-se que a equipe
As descrições presentes na literatura apon- compreenda o paciente, respeite e forneça infor-
tam para uma comunicação difícil quando a mações que o conscientize para o processo de
família e o paciente entram em contato com a reabilitação.
evidência da alteração irreversível do corpo. É 3. Fase do reconhecimento: a pessoa co-
sinalizado que a informação pode desencadear meça a tomar consciência de sua real situação,
um intenso choque emocional descrito como sendo que pode vir a se sentir ansiosa e/ou depri-
uma fase aguda que pode envolver manifesta- mida. Faz-se importante que a equipe estimule a
ções como ansiedade, tristeza, raiva, sentimento participação do paciente sobre sua reabilitação
de frustração, agitação, choro, autoacusação, de- e sobre as metas a serem alcançadas em curto e
sespero, entre outros. Podem, ainda, desencade- longo prazo, valorizando seu potencial.
ar quadros confuso-oníricos, com sentimento de 4. Fase de adaptação: a pessoa é colabo-
desrealização e impressão de pesadelo, sensação rativa, se empenha em alcançar os objetivos da
reabilitação, e apresenta reestruturação da au- 2 – Estratégias de enfrentamento:
toimagem e autoconfiança. A equipe deve esti- Coping e Resiliência
mular a autonomia do paciente. O termo “coping” será utilizado em inglês,
Os termos perdas e luto apresentam-se mui- para manter o sentido técnico, mas em vernácu-
tas vezes relacionados. A perda de capacidades lo significa “enfrentamento”. A literatura propõe
significa basicamente perdas de aspectos do ego, um modelo cognitivista que divide o coping em
vindo a desestruturar relacionamentos em diver- duas categorias funcionais: (i) coping focalizado
sos níveis15. Os fatores mais apontados como in- no problema, que lida com a atuação e o esforço
fluentes nessas experiências são o funcionamento com relação à situação que deu origem ao estres- 323
psicodinâmico, os aspectos culturais, os recursos se, tentando mudá-la; e (ii) coping focalizado na
sociais e materiais, a fase do ciclo de vida, a his- emoção, ou seja, aquele em que há esforço para
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Lesão Medular Traumática e estratégias de enfrentamento...
Brasília (DF): Universidade de Brasília; 2012. (Doutorado em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde)