Вы находитесь на странице: 1из 3

RESUMO COMENTADO DO ARTIGO ‘O PAPEL DA PERÍCIA PSICOLÓGICA NA EXECUÇÃO PENAL’

DE SALO DE CASTRO

Em sua breve introdução, o autor evidencia o objetivo de seu estudo: o exame do papel dos
peritos-criminólogos na execução da pena criminal, mormente a pena cumprida no regime
carcerário. Segundo Castro, no decorrer da vigência da Lei 7.210/84 cristalizou-se uma forma de
atuação dos profissionais supracitados: a de suprir o Poder Judiciário com laudos e pereceres.
Na conjectura do autor, as alterações produzidas pela Lei 10.792/03 ampliaram o horizonte de
atuação dos peritos, que agora podem se voltar às ações que gerem a diminuição dos estragos
provocados pelo processo de encarceramento.

Segundo o art. 5º da Lei 7.210/84, ‘’os condenados serão classificados, segundo os seus
antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal’’. Deste
modo, caberia aos técnicos da CTC (Comissão Técnica de Classificação), presidida pelo diretor e
composta, no mínimo, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente
social, elaborar o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao
condenado ou preso provisório (art. 6º), utilizando todas as diligências que achasse necessário
(art. 9º) e atuando no local da execução da pena. Em paralelo a atividade da CTC, o COC (Centro
de Observação Criminológica), instalado em unidade autônoma, desempenharia o papel de
realizar os exames gerais e o criminológico, reportando os resultados à CTC. De acordo com o
autor, o que se estabeleceu na prática forense foi o exame pericial como elemento fundamental
do prognóstico das condições do detento, cabendo a ele estabelecer o grau de periculosidade
do condenado. Isto posto, a decisão sobre a periculosidade, que dependia exclusivamente do
juiz, seria embasada, como instrumento de prova, pelos pareceres da CTC e os exames do COC.

Até aqui, não se identifica nada que desabone as funções da CTC e do COC. O que se vê é apenas
uma tentativa legítima de dar maior clarificação dos fatos para apoio da sentença judicial. Desde
que o conteúdo do laudo e/ou parecer não se tornasse terminativo, seria completamente
oportuno à apreciação.

Discorrendo sobre os pressupostos que orientaram sua pesquisa, o autor coloca em relevo a
matriz inquisitiva de processo na execução penal. Trazendo uma compilação de argumentos de
outros estudiosos do tema, Castro aponta para o espírito preponderantemente moralizador dos
pareceres e laudos produzidos pela CTC e pelo COC, de conteúdo racista e estigmatizante, com
viés de determinismo social, o que mostra notória oposição às garantias da inviolabilidade da
intimidade, do respeito à vida privada e às liberdades de consciência e de opção. O autor ressalta
a importância dos estudos de Émile Durkheim para a despatologização do delito, mas critica o
reducionismo sociobiológico ainda em voga no Brasil. Ele ainda apresenta a visão foucaultiana
sobre o ‘utilitarismo’ dos textos criminológicos. Essa utilidade seria unicamente a de prover
fundamentos ao juiz da execução penal, que passa apenas a ratificar cegamente o conteúdo dos
laudos e pareceres.

Nesse ponto, verifica-se que um grave problema estrutural da sociedade brasileira foi levado
para dentro do ambiente carcerário. Não é difícil supor que a maioria dos atingidos pelos laudos
e/ou pareceres depreciativos tenham sido prisioneiros de origem pobre, sem formação, negros
e outras minorias. A sociedade, com discurso de que dinheiro gasto com os presos não trará
nenhum benefício, tende a expressar uma raivosidade injustificada em relação a população
carcerária. Desta forma, os experts pendem a se sentir seguros para alicerçar, veladamente,
sentenças preconceituosas.

Adiante, Castro trata da importância que os pareceres e laudos criminológicos desempenhavam


nas decisões de juízes. Para isso, salienta a natureza meritocrática do sistema progressivo, que
visa a ressocialização do preso. Atendendo a requisitos de ordem objetiva (tempo de
cumprimento da pena) e subjetiva (mérito), o prisioneiro poderia desfrutar dos direitos de
progressão e livramento condicional previstos na LEP. A prova do merecimento se daria por
meio da ausência de sanção em Processo Administrativo Disciplinar (bom comportamento) e
dos pareceres da CTC e/ou laudos criminológicos do COC (atestado grau de ressocialização).
Tradicionalmente, o requisito subjetivo era o mais determinante para a decisão judicial, pois
‘’face a linguagem técnica, o parecer aprisiona a decisão do juiz, sem deixar alternativas ao
intérprete [...] impedindo o direito ao contraditório’’. Aqui, o autor faz uma crítica ao positivismo
criminológico que, como demonstrado, com seu discurso ambíguo instrumentalizou práticas em
absoluta ofensa a garantias fundamentais e tolheu direitos dos apenados devido a sua alta
aceitabilidade, além de comportar um sistema com alto grau de burocracia e à parte da
jurisdicionalização.

O ponto central aqui é o quesito subjetivo e tudo o que ele acarreta. As provas para verificar o
merecimento ou não são demasiadamente simplistas e vagas. Além do mais, estabelecer o
critério da meritocracia como o único quesito subjetivo é ineficaz e obsoleto.

Na Lei 10.792/03, a mesma que institucionalizou o Regime Disciplinar Diferenciado, o parágrafo


único do artigo 112 foi modificado substancialmente e suprimiu a previsão de decisão judicial
precedida de parecer da CTC e/ou laudo criminológico do COC. Os antigos critérios foram
substituídos pela manifestação do Ministério Público e do defensor. Além disso, a nova redação
ainda restaura o devido processo legal, com o direito a ampla defesa e o contraditório. Para o
autor, a nova lei deixou clara a intenção de retirar do cenário jurídico a obrigatoriedade do
trabalho dos técnicos. Entretanto, analisando acórdãos dos Tribunais Superiores entre os anos
de 2008 e 2009, o autor identifica que essas cortes consideram que a alteração não excluiu do
julgador a possibilidade de requisição e posterior valoração dos laudos e/ou pareceres. Essa
interpretação, a de facultatividade, tende a se generalizar pelos Tribunais inferiores e renovar o
debate acerca do papel dos técnicos na execução penal.

Adentrando na fase de conclusão de seu estudo, Castro rememora as críticas que já havia feito
anteriormente ao processo de execução penal: que a técnica criminológica, devido ao seu
cientificismo, causou uma situação de irrefutabilidade de hipóteses; que houve um
alongamento do objeto de discussão do direito, que passou a ser a história de vida do sujeito, e
não somente o fato concreto; que as decisões judiciais se impregnaram de laudos e pareceres
nada neutros, que apenas construíam e consolidavam estereótipos; que ao longo da vigência da
LEP, os profissionais do serviço social se tornaram meros confeccionadores de laudos. Como já
posto, a nova redação da LEP redesenhou substancialmente o papel dos técnicos na execução.
Desta forma, agora pertenceria à CTC a missão de elaboração dos programas individualizadores,
enquanto o COC teria a incumbência de auxiliar na obtenção de elementos precisos à
individualização. Ou seja, ambos teriam uma atuação mais propositiva e maleável, menos
arbitrária e dogmática. Após frisar a importância da atividade pautada em princípios de redução
dos danos da sanção penal, o autor lembra das recomendações do Relatório Final de apuração
produzida pelo IIDH (Instituto Interamericano de Direitos Humanos), do final da década de 80,
que identificou a inexistência nos ordenamentos jurídicos latino-americanos de qualquer tipo
de intervenção do apenado na eleição do programa ao qual estará submetido, realçando ainda
que a pena privativa de liberdade não pode ter o efeito de comprometer a personalidade e
intimidade do condenado. O diagnóstico elaborado elencava três propostas: a) que a
observação e classificação do condenado se dê com maior brevidade, através da total
participação da equipe multidisciplinar, e com a intervenção do apenado na estruturação do
programa; b) que os trabalhos técnicos abdicassem de ingressar na esfera íntima da pessoa; c)
que os profissionais envolvidos ficassem submetidos às regras do segredo profissional e que
seus informes não fossem introduzidos indiscriminadamente nos autos do processo.

As medidas propostas IIDH, mesmo após 30 anos, possuem uma índole utópica frente ao
permanentemente humilhante ambiente prisional brasileiro. Se dedicar à implementação dessas
recomendações seria luxo para um país que ainda convive com rebeliões carcerárias
sanguinolentas, em que as prisões mais servem para prover indivíduos ao recrutamento de
organizações criminosas instaladas nos presídios (escola do crime), do que preparar o cidadão
para sua futura ressocialização.

Вам также может понравиться