TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – ASPECTOS FUNDAMENTAIS
RESUMO DO CAPÍTULO 6 – ASPECTOS BÁSICOS DA TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA
BELÉM 2019 1. INTRODUÇÃO
A transmissão em corrente alternada é hoje utilizada universalmente e mostrou-
se adequada para transmitir e distribuir energia elétrica. Embora isto seja verdadeiro, existem ainda alguns problemas que não foram resolvidos, mediante o emprego da corrente alternada, de forma técnica e econômica: A transmissão de grandes blocos de potência a grandes distâncias de forma econômica e com o mínimo de agressão ao meio ambiente. Transmissão estável de potência entre sistemas assíncronos ou com diferentes frequências. Acréscimo de potência a uma dada rede sem majorar o nível da potência de curto-circuito desta rede. Transmissão subterrânea e subaquática a distâncias maiores que 30/40km, devido às severas limitações impostas pela geração de reativos do cabo CA e a consequente necessidade de reatores em derivação. Impraticável em travessas marítimas ou de rios, penalizando economicamente o uso de cabos em corrente alternada.
2. O SISTEMA DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA
A figura 1 apresentas um sistema completo parra transmissão em corrente
contínua. Figura 1 – Sistema de transmissão em CC
Este sistema compreende uma estação retificadora composta de
transformadores retificadores, equipamentos que isolam o sistema CA do sistema CC, de reatores de alisamento, para absorver as ondulações de corrente contínua e, também, para analisa as ondulações de tensão ou corrente na linha de corrente contínua, filtros de corrente alternada, para reduzir a circulação de harmônicas no sistema CA, e de equipamentos de suporte dos reativos necessários ao processo de inversão/retificação. Os sistemas de corrente contínua podem ser classificados em três modalidades: Elo monopolar, quando possui só um condutor, geralmente de polaridade negativa, e retorno pela terra ou mar. Elo bipolar, quando possui dois condutores, um positivo e outro negativo. Cada terminal possui dois conversores de mesma tensão nominal, ligados em série no lado CC. Elo homopolar, com dois ou mais condutores, tendo estes a mesma polaridade e sempre operando com retorno pela terra. No caso de defeito em um dos condutores, todo o conversor fica disponível para ser conectado ao condutor remanescente, podendo transportar mais da metade da potência nominal à custa de alguma sobrecarga. Esta conexão no caso do esquema bipolar é mais complicada e usualmente não é possível devido a outros problemas.
3. PROCESSOS DE CONVERSÃO CA/CC/CA
A ponte de Graetz a seis pulsos, figura 2, é o equipamento fundamental para o
processo de conversão de corrente alternada para corrente contínua. Figura 2 – Ponte de Graetz
Cada ponte a seis pulsos consta de seis elementos que contêm um
determinado número de tiristores conectados em série e em paralelo, formando aquilo que se chama válvula de estado sólido. A ponte de Graetz a seis pulsos pode operar como inversora ou como retificadora, com válvulas conduzindo de acordo com a ordem descrita pela numeração mostrada na figura 2. A união de duas pontes de seis pulsos dá origem a ponte de 12 pulsos como aquela mostrada na figura 1.
4. RELAÇÕES MATEMÁTICAS CA/CC
Para um ângulo de comutação 𝜇 < 60°, pode-se demonstrar que o fator de
potência da rede de alimentação CA será: 1 𝑐𝑜𝑠𝜙 ≈ [𝑐𝑜𝑠𝛼 + cos(𝛼 + 𝜇)] 2 Esta expressão caracteriza a necessidade de fornecimento de reativos para o funcionamento da ponte, fornecimento este função dos ângulos 𝛼 e 𝜇. De maneira aproximada a quantidade de reativos a serem fornecidos à conversora será o produto da potência alternada imposta à ponte, 𝑃𝑎 , pela tangente do ângulo 𝜙: 𝑄 = 𝑃𝑎 𝑡𝑔 𝜙 Supondo agora igualdade de potências ativas (perdas desprezíveis) entre os circuitos CA, CC, virá: 𝑃𝑎 = 3 𝐸𝑎0 𝐼𝑎 𝑐𝑜𝑠𝜙 = 𝑉𝑑 𝐼𝑑 = 𝑃𝑑 De onde se pode obter as expressões aproximadas a seguir, válidas para a maioria das aplicações prática:
Aumentando-se o ângulo 𝛼 além de 90°, pode-se obter a reversão da
polaridade da tensão de saída CC, ocasionando a operação da ponte como inversora. Devido à característica inerente da válvula somente conduzir numa dada direção, a corrente num conversor não pode ser invertida, cabendo à tensão tornar-se negativa e se opor À corrente, como num motor de corrente contínua. Neste caso, 𝑉𝑑 = 𝑉𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑠𝛼 torna-se negativo na região 90°<𝛼< 180°. Para o tratamento matemático do inversor, é conveniente introduzir os ângulos 𝛽 e 𝛾 definidos como:
Em termos destes ângulos, pode-se demonstrar que:
e para um ângulo 𝛽 constante,
Para o caso de operação do inversor a um valor constante do ângulo de
extinção 𝛾, virá
Estas expressões possibilitam gerar os circuitos equivalentes do inversor,
mostrados nas figuras 3 e 4. Figura 3
Figura 4
5. CONTROLE DO SISTEMA DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA
A tensão da linha de corrente contínua pode variar de maneira repentina devido
a distúrbios na rede da corrente alternada. Faz-se, portanto, necessário um meio de rapidamente restaurar as condições de operação da linha CC. Usando para isso um controle instantâneo e automático. Combinando as características do retificador e inversor apresentadas anteriormente, pode-se obter o equivalente de uma rede de transmissão em corrente contínua, figura 5.
Figura 5
6. HARMÔNICAS EM INSTALAÇÕES DE CORRENTE CONTÍNUA
Os conversores de corrente contínua geram harmônicas de tensão e de
corrente que serão repassadas ao sistema de CC e ao sistema de CA. De um modo geral, um conversor de p pulsos gera harmônicas de ordem Kp no lado CC e Kp ± 1 no lado de CA sendo K um número inteiro qualquer. Nestes termos, um conversor de 6 pulsos, terá harmônicas geradas sob condições normais de operação das seguintes ordens:
Sob condições de desiquilíbrio de tensão da fonte alternada, quando os
transformadores do conversor apresentarem reatância desiguais ou devido à assimetria nos instantes de disparo, poderão aparecer harmônicas cuja ordem seja diferente de Kp e Kp ± 1, denominadas harmônicas não características.