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Numa fracção muito significativa do território Português as alternativas produtivas (lenho, cortiça
e agro-florestal em geral) são muito limitadas. Contudo, o aumento de valor natural (e a sua
rentabilização), é uma opção que existe em praticamente todo o território florestal Português sem
limitações.
Existe procura crescente de biodiversidade, apesar dos mercados serem ainda incipientes. A oferta
será maior e de mais qualidade nos territórios em que o objectivo do uso da terra e da gestão do
ecossistema seja o aumento da abundância e diversidade de espécies e habitats. No caso da
floresta, estes são os locais onde se pratica a Silvicultura da Biodiversidade.
Importa aumentar o valor e a eficiência da produção uma vez que existe uma margem importante
para aumentar a qualificação dos produtos e o seu potencial exportador. Este aumento de
eficiência implica competição pelas localizações de boa ou razoável produtividade potencial.
No caso do pinhal será muito difícil encontrar mais de 350-400 mil hectares (aproximadamente
mais de 50 - 60% da superfície actual ocupada pelo pinheiro – bravo) com potencial bom ou
razoável para produzir madeira. Desta suposição decorre que, incluindo a área de eucalipto, serão
cerca 1 – 1.2 milhões de hectares a superfície dedicada à produção lenhosa eficiente, sendo esta
superfície fortemente concentrada nas zonas Atlânticas. Será nestas zonas que continuarão a ser
aplicados os investimentos destinados a aumentar o valor da produção lenhosa:
- Aumento da produtividade através da silvicultura (melhoramento das plantas, condução dos
povoamentos e controlo fitossanitário).
Os cerca de 1–1.2 milhões de hectares de produção lenhosa mais eficiente poderão justificar e
possibilitar a implementação de acções de conservação da biodiversidade num contexto produtivo,
mas é esse mesmo contexto produtivo que limita o alcance e o valor dessas acções, quer pela sua
localização (em geral fora das zonas com maior interesse de conservação), mas principalmente
pelas próprias condições impostas pela produção.
Parece razoável assumir que Portugal Continental poderá gerar, no máximo, 1.7 a 2 milhões de
hectares ocupados com o crescimento lenhoso para a indústria do papel e da madeira, produção
de cortiça, superfícies de pinheiro–manso e castanheiro.
Existindo 5.3 milhões de hectares ocupados com floresta e matos restam 3.3 a 3.6 milhões de
hectares (38 – 40% do território Nacional), incluindo o meio milhão de hectares onde se incluem a
azinheira e outros carvalhos, espaço para o qual poderá ser adequada a antiga designação de
“Bravio”, que será o espaço principal da Silvicultura da Biodiversidade.
Biomassa florestal, produção de energia e biodiversidade
A produção de biomassa específica para produção de energia, e mesmo a própria utilização dos
resíduos, serão limitados e determinados pelo preço da energia eléctrica. Poderão hipoteticamente
existir situações de competição entre a produção para a indústria do papel, para a indústria da
madeira e para a produção de energia, nos terrenos onde a produtividade potencial for suficiente.
A produção de biomassa para energia não parece ser uma alternativa onde a produção de lenho
também não o for.
Não parece também viável a desmatação para biomassa, não só atendendo à dimensão dos custos
de exploração, mas também ao impacto ambiental potencial. De facto, a programação de centrais
de biomassa com base no aproveitamento de resíduos de culturas florestais e faixas de
combustível, é diferente do aproveitamento generalizado de arbustos para a produção de energia.
A ser considerada esta última hipótese seria seguramente necessário avaliar o seu impacto
ambiental.
A biomassa para energia não parece constituir uma opção de exploração para uma fracção
significativa dos 3.6 milhões de hectares do “Bravio”.
Turismo no Espaço Rural, Turismo de Natureza e biodiversidade
Em 2007 as dormidas no Turismo no Espaço Rural tinham já aumentado 45% em relação a 2003.
Dos 37 projectos PIN na área do Turismo, pelo menos dez estão associados directamente aos
valores naturais e à qualidade da paisagem florestal (e.g. Parque Alqueva).
O Turismo de Natureza representa 9% das viagens dos Europeus, tendo crescido 7% ao ano entre
1997 e 2004.
A associação dos espaços florestais à actividade turística decorre principalmente do seu valor
como “estrutura ecológica” dessas regiões e actividades. O valor gerado pelo turismo fica
essencialmente associado à produção das actividades turísticas e à sua promoção e distribuição. A
gestão das actividades turísticas e o seu marketing não têm, na maior parte dos casos, relação
directa com a gestão da floresta e da biodiversidade. Embora existam casos em que se passa o
contrário, existindo gestão florestal directamente associada ao turismo, a sua expressão no
conjunto da superfície do Bravio é diminuta.
O crescimento do turismo no interior de Portugal vai aumentar a procura de espaços com valor
natural. Simultaneamente vai aumentar a dimensão do crónico problema de internalização dos
benefícios ambientais da floresta, neste caso com origem nos espaços que não são geridos
directamente pelas empresas turísticas mas que são por estas utilizados ou implicitamente
utilizados.
É necessário que exista um rendimento associado para estimular a gestão activa e os incrementos
em abundância e diversidade nas espécies e habitat que aumentam o valor natural
do território florestal.
Actualmente o mercado deste tipo de valores é incipiente mas não inexistente, mas um pouco por
todo o mundo estão em desenvolvimento rápido mercados para serviços associados à
conservação:
Estão também em evolução processos de certificação de territórios e da sua gestão dos quais os
exemplos mais próximos são a certificação da gestão floresta sustentável (incluindo variantes
ajustadas a Florestas de Alto Valor de Conservação, como por exemplo no referencial FSC), a
certificação de boas práticas agrícolas (WorldGap) ou a certificação da Agricultura Biológica.
Alguns destes mercados já existem há muito tempo com efeitos interessantes na conservação, dos
quais um exemplo é o mercado da caça, com os efeitos benéficos para a conservação que o
desenvolvimento deste sector teve em Portugal. Existe evidência de que a melhoria do habitat e a
gestão das populações cinegéticas tiveram um efeito globalmente positivo na conservação,
quando comparadas as zonas com e sem gestão cinegética.
No Brasil, uma Lei Federal em vigor desde 2000, determina que 0.5% dos custos de projectos com
impacto na conservação do ambiente sejam obrigatoriamente aplicados em medidas de mitigação
e compensação.
Silvicultura da Biodiversidade
No futuro, o espaço Bravio será gerido para a biodiversidade dentro e fora das áreas classificadas.
As florestas de azinheiras, sobreiros, cerquinhos e negrais, de zambujeiros e alfarrobeiras,
ocuparão o lugar das formações degradadas. A adaptação das comunidades às condições
ecológicas diminuirá os problemas sanitários. Nas formações de montado a caça e a produção de
gado adaptar-se-ão às necessidades da regeneração da floresta, da manutenção de vegetação
herbácea e arbustiva e da manutenção de habitat de espécies ameaçadas que poderão recuperar
as suas populações. O lince–ibérico regressará, o lobo e as suas presas bravias aumentarão em
área e número, mas aumentará também a diversidade e abundância de aves, plantas e outros
organismos associados aos ecossistemas florestais, sobre os quais hoje existe algum grau de
ameaça. Nas linhas de água a densidade de galerias ripícolas desenvolvidas contribuirá para uma
qualidade cénica da paisagem muito maior do que a que hoje existe. Todas estas características
serão observáveis pelo utilizador comum mas serão medidas e certificadas pelos gestores da
floresta.
A estas áreas de excelência na conservação corresponderão outras áreas onde a gestão florestal é
feita com objectivos de produção de lenho e outros produtos florestais, essencialmente localizadas
em locais onde a produtividade o justifique, e cujos beneficiários contribuem para a conservação
nas grandes áreas do Bravio. O impacto ambiental sobre a biodiversidade das actividades de todos
os sectores de actividade será avaliado e compensado, e grande parte dessa compensação será
feita no Bravio.
A produção lenhosa e não lenhosa da floresta, com a caça em posição de relevo, não cessará, o
Bravio produz madeira, veados e cogumelos, mas o valor dessa produção será secundário face à
importância dos serviços ambientais.
É necessário olhar já hoje para o Bravio antecipando que o valor natural pode vir a ser mais
importante que a produção de lenho ou a produção agro – pecuária e não um serviço adicional
sem remuneração associada.
O problema do presente é que a participação pública no investimento não parece ser suficiente
para o estimular. Mais uma vez, a propriedade e a rendibilidade são obstáculos difíceis de remover
ou contornar, e é esta a essência do problema económico e ambiental associado à floresta
portuguesa.
A política florestal deverá reconhecer as verdadeiras razões pelas quais é necessário garantir um
nível de investimento na arborização e gestão florestal superior aos poucos e controversos
milhares de hectares de arborização líquida anual de que hoje dispomos. Trata-se de promover
medidas que sejam eficazes, eficientes e duráveis no tempo, relacionadas com a internalização
dos benefícios ambientais da floresta e com a internalização dos custos da reestruturação da
propriedade florestal:
. Estímulo do investimento privado na floresta, através de mecanismos de mercado, apoiados por ajustamentos
de natureza fiscal e no apoio directo ao investimento florestal, estímulo de um mercado de seguros florestais e
utilização das florestas públicas como núcleos de agregação de projectos de investimento.
. Estímulo à produção não lenhosa com particular ênfase nas utilizações de natureza recreativa.
. A iniciativa dos técnicos e cientistas, nas áreas florestal, do ambiente, da economia e do direito, porque é
necessário melhorar a gestão, quantificar os benefícios e criar instrumentos inovadores.
. A iniciativa das autarquias locais porque o planeamento do território municipal, a estruturação da propriedade,
a detecção de iniciativas ligadas ao desenvolvimento local e a necessidade de promover a boa gestão de uma
parte significativa dos espaços florestais públicos e comunitários, passam em larga medida pelo poder local.
. A iniciativa privada, criando novas soluções de investimento e de aproveitamento dos recursos florestais e
aumentando a eficiência das actividades já existentes. A iniciativa dos proprietários e produtores florestais no
quadro das suas associações e federações, permitindo pela sua proximidade, desenvolver e potenciar soluções
práticas dos problemas centrais do ordenamento e da gestão florestal.
. A iniciativa política de orientar os apoios ao investimento florestal para a detecção perspicaz e o apoio eficaz a
iniciativas, onde sejam claros o ponto de aplicação do esforço, o dispositivo de aplicação dos apoios e os
resultados que realisticamente se podem esperar.
Há um novo papel do Estado no desenho dos apoios à política através dos impostos, procurando
uma visão integradora que aumente os benefícios líquidos para Portugal. Teremos de apresentar
propostas credíveis e competitivas para minimizar as perdas de apoios nas próximas negociações
com a União, em todos os sectores onde uma melhor gestão florestal possa ser importante.