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13/05/2019 Retirada tática - 11/05/2019 - Demétrio Magnoli - Folha

Demétrio Magnoli (/colunas/demetriomagnoli/)

Retirada tática
É provável que a 'revolução' bolsonaro-olavista provoque a implosão do governo

11.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/11/)

A vitória de Temístocles em Salamina (480 a.C) preservou o mundo grego


ameaçado pela Pérsia. O triunfo do macedônio Filipe 2º em Queroneia (338
a.C) unificou as cidades gregas e assentou as bases para a difusão cultural do
helenismo. A invasão normanda foi concluída por William, o Conquistador
na batalha de Hastings (1066), fonte mítica da moderna Britannia. Segundo
uma interpretação exagerada, a civilização ocidental deve sua existência a
esse trio de batalhas icônicas. Os generais do alto escalão do governo
(https://www1.folha.uol.com.br/especial/2018/governo-bolsonaro/)Bolsonaro

(https://www1.folha.uol.com.br/especial/2018/governo-bolsonaro/) certamente as estudaram —e,

com elas, aprenderam o valor militar da retirada tática. É hora de aplicar a


manobra à política.

O pacto dos generais com o capitão reformado nasceu de um equívoco fatal:


os primeiros não entenderam a natureza do segundo. Bolsonaro jamais
deixou de ser o fanfarrão estéril, turbulento e indisciplinável, afastado da
corporação em 1988. A novidade é que, na curva final rumo ao Planalto,
acercou-se de correntes populistas de (https://temas.folha.uol.com.br/gps-ideologico/as-bolhas-na-

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rede-social/bolsonaro-privilegia-radicais-de-direita-em-rede-social-base-de-olavo.shtml)extrema direita
(https://temas.folha.uol.com.br/gps-ideologico/as-bolhas-na-rede-social/bolsonaro-privilegia-radicais-de-direita-em-rede-

fundamentalmente hostis às mediações institucionais da


social-base-de-olavo.shtml)

democracia. Os generais pretendiam participar de um governo "normal",


enquadrado na moldura do Estado de Direito. De fato, participam de um
governo cujo núcleo almeja subverter o Estado de Direito.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) participa de jantar nos EUA ao lado do escritor Olavo de
Carvalho (centro), considerado seu "guru" do seu governo. O chanceler Ernesto Araújo (e) é
um dos seguidores e entusiastas de Olavo - Alan Santos - 17.mar.2019/PR/AFP

Na rua ao lado, uma faixa da vovó Jurema promete trazer seu amor de volta.
A "filosofia política" do Bruxo da Virgínia (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/villas-
boas-volta-a-criticar-olavo-e-diz-que-escritor-e-pivo-de-todas-as-crises.shtml) vale tanto quanto os búzios

da vovó —e sua pregação era, até há pouco, um mero golpe de


charlatanismo, com implicações exclusivas para seus seguidores ignorantes.
Desde a ascensão de Bolsonaro, converteu-se em programa de governo. Os
generais começam a entender que o conflito não é com o espalhafatoso bobo

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da corte, mas com o presidente e seu clã familiar. Falta-lhes, ainda, entender
que a conciliação é impossível.

O bolsonaro-olavismo deplorou o "impeachment parlamentar" de Dilma


Rousseff. Naquela hora, eles clamavam por uma "intervenção militar"
definida não como golpe de Estado clássico mas como uma "marcha sobre
Brasília" do povo e dos militares. Hoje, sonham transformar o governo
Bolsonaro no ato inaugural de um Estado-movimento: um poder estatal não
submetido ao limite das leis e consagrado à luta política permanente. Nessa
ordem tresloucada de ideias, a barragem de artilharia virtual sobre o STF, a
imprensa e os generais destina-se a preparar a "marcha sobre Brasília" —isto
é, a ruptura do Estado de Direito.

Os populismos certamente são capazes de matar as democracias por dentro


(Turquia, Hungria, Venezuela). No Brasil, porém, mais provável é que a
"revolução" bolsonaro-olavista provoque a implosão do próprio governo
Bolsonaro. Se os generais não querem aparecer como cúmplices do desastre,
resta-lhes apelar à retirada tática.

Salamina foi uma simulação de retirada, que atraiu os barcos persas ao


estreito da armadilha. Em Queroneia, uma breve ofensiva seguida por
retirada da ala direita das forças macedônias abriu a cunha fatal entre as
falanges gregas. Hastings tem algo de Queroneia, mas é difícil saber se a
decisiva retirada temporária das forças normandas foi uma manobra
planejada ou o resultado de um insucesso na ofensiva inicial. De qualquer
modo, para os generais brasileiros, a solução não requer excessiva
inventividade.

O governo Bolsonaro sustenta-se sobre o tripé formado pela equipe


econômica, o superministério de Moro e a chamada "ala militar". A remoção
do terceiro pilar, pela entrega coletiva dos cargos, destruiria a estabilidade
do edifício. A queda encerraria o levante dos extremistas, que confundem os
ecos de seus tuítes com a voz do povo. Depois dela, ainda sobraria Mourão --
e, portanto, a chance de construção de uma vereda política para o futuro.

Generais, mirem-se em Temístocles, o ateniense, Filipe 2º, o macedônio, e


William, o normando. Retirem-se, antes que seja tarde.

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Demétrio Magnoli
Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em
geografia humana pela USP.

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