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13/05/2019 Representação precisa de participação - 09/05/2019 - Opinião - Folha

OPINIÃO DEBORA REZENDE DE ALMEIDA

Representação precisa de participação


Extinção de conselhos expõe desejo antidemocrático

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) - Evaristo Sá -
07.mai.19/AFP

9.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/09/)

Debora Rezende de Almeida

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13/05/2019 Representação precisa de participação - 09/05/2019 - Opinião - Folha

O decreto nº 9.759, de 11 de abril (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/entenda-decreto-que-


poe-fim-a-conselhos-federais-com-atuacao-da-sociedade.shtml), extingue com uma canetada vários

colegiados, conselhos e comissões em nível federal, ameaçando a


participação social. O problema é que a caneta que assina o decreto pode ser
popular, mas as suas consequências não serão.

As justificativas do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) são conhecidas e


combatidas há anos pela academia: os conselhos distorcem o que é a
representação e a participação da população, burocratizam (em mau
sentido) a administração pública e são custosos.

Primeiro, a oposição entre participação e representação vem carregada por


uma acusação da gênese ideológica dos conselhos que viria para fragilizar a
representação da própria sociedade. Se esses atores levassem a sério a
Constituição, reconheceriam que esta é uma boa frase de efeito, mas
inverídica em sua essência.

Os fóruns compostos por governo e sociedade civil são resultado da luta de


vários atores na redemocratização e não pertencem a um partido. São fruto
de debates intensos durante a Constituinte sobre como seria possível
reverter nossa história autoritária e excludente, especialmente no campo da
formulação das políticas públicas, marcado por um debate entre elites.
Ademais, os conselhos são importantes instrumentos de controle do Estado. 

É falacioso o argumento que opõe participação à representação, pois nunca


se tratou de substituir os representantes, mas de fazê-los recordar
permanentemente a vontade social. Ao se sentir ameaçado pela participação,
o governo manda uma mensagem clara de que não está disposto a dialogar,
ouvir o diferente e ser transparente. 

Revela ainda uma visão de representação exclusivista, ao não permitir que


outros atores disputem legitimamente as ideias de como deve se organizar a
sociedade. Desejo não só antidemocrático, como também irrealista, porque
somos muitos, múltiplos e complexos para nos fazer representar apenas pelo
voto.

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13/05/2019 Representação precisa de participação - 09/05/2019 - Opinião - Folha

Segundo, a necessidade de “desburocratizar”


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/04/bolsonaro-enaltece-extincao-de-conselhos-federais-com-atuacao-da-

está intrinsecamente relacionada a uma conotação pejorativa


sociedade-civil.shtml)

da burocracia e do controle social, como processos que atrapalham a


agilidade estatal e a tomada de decisões. Mas o conceito de burocracia se
refere à capacidade de atores estatais organizarem processos e políticas a
partir de normas que visam à impessoalidade.

Desburocratizar não é sinônimo de eficiência. O controle social exercido


pelos conselhos também não causa disfunções a esta burocracia, por muitas
vezes atuar em parceria, trazendo expertises ausentes no Estado e fazendo
conhecer as demandas sociais. A pergunta a ser feita quando se fecham as
portas para a sociedade é: quem agora terá acesso ao Estado? 

Terceiro, os conselheiros da sociedade civil não são remunerados e dedicam


parte de seu tempo e até recursos próprios para defender ideias e trazer o
conhecimento social para o Estado. Se pensarmos a médio e longo prazo
devemos fazer perguntas básicas: quanto custaria ao Estado uma política
pública mal desenhada e com pouco conhecimento sobre seus efeitos, atores
envolvidos e beneficiários?

Implementar um programa de saúde, um plano de atenção a pessoas com


deficiência ou novas rotinas de trabalho para profissionais da assistência não
são tarefas fáceis. E estas são algumas das tarefas exercidas gratuitamente
pela sociedade civil.

Não se trata de fazer uma defesa cega dos conselhos. Há anos a academia
aponta limites no seu funcionamento. Mas, em vez de discutir seus
problemas e soluções, anos de pesquisa foram simplesmente negligenciados.

Sabemos que o decreto não atingirá conselhos criados por lei, mas afeta
vários mecanismos que são resultados de processos antigos de mobilização
social, como os conselhos do idoso e da pessoa com deficiência. Perde a
sociedade, perde o país. O Brasil que desde 1990 exporta seus desenhos

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13/05/2019 Representação precisa de participação - 09/05/2019 - Opinião - Folha

participativos para o mundo, deixa de ser modelo e mostra a decadência de


nossas elites, relutantes em partilhar o poder e prestarem contas à
sociedade.

Nossa democracia está agonizando, e a representação precisa mais do que


nunca da participação.

ENDEREÇO DA PÁGINA

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