12/05/2019 Oposição de ciências humanas ao ensino básico é falsa - 07/05/2019 - Pablo Ortellado - Folha

Pablo Ortellado (/colunas/pablo-ortellado/)

Oposição de ciências humanas ao ensino básico é

falsa
Ministro propõe transferência de recursos das universidades para ensino
fundamental

7.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/07/)

Nos últimos dias, o ministro Abraham Weintraub começou um processo de

estrangulamento financeiro das universidades
(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/04/mec-estende-corte-de-30-de-verbas-a-todas-universidades-

federais.shtml),
aparentemente motivado pela antipatia política que nutre pelas
ciências humanas. Seu principal argumento é dizer que o dinheiro gasto com
inutilidades como filosofia e sociologia
(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/04/bolsonaro-propoe-reduzir-verba-para-cursos-de-sociologia-e-filosofia-

no-pais.shtml) seria mais bem empregado no ensino básico.

Logo que tomou posse (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/04/novo-ministro-da-educacao-

weintraub-defende-expurgo-do-marxismo-cultural.shtml), Weintraub deixou claro que não faria

qualquer tipo de perseguição ideológica e lembrou que foi perseguido pela

esquerda na Unifesp, onde lecionava. 

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Abraham Weintraub durante entrevista no Ministério da Educação, em Brasília, neste mês -

Pedro Ladeira/Folhapress

Duas semanas depois, numa transmissão pelo Facebook, sugeriu que

estudava retirar recursos das áreas de filosofia e sociologia
(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/04/bolsonaro-propoe-cortar-verba-de-cursos-de-humanas-no-pais.shtml),

copiando iniciativa desastrosa e logo revista no Japão —sugestão que o

presidente Jair Bolsonaro em seguida, pelo Twitter, ampliou para todas as
ciências humanas. 

Na semana passada, o ministro anunciou, em uma entrevista, que havia

punido com cortes orçamentários três universidades
(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/04/bloqueio-de-verba-de-3-universidades-federais-e-ilegal-e-ignora-

desempenho.shtml)que
não tiveram bom “desempenho acadêmico” e fizeram
“balbúrdia”, como “sem-terra dentro do campus” e “gente pelada dentro do
campus”. 

Tão logo ficou evidente que a medida era ilegal, o ministro transformou a
punição a instituições que haviam sediado eventos considerados impróprios

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em uma punição generalizada a todo o sistema universitário federal.

Justificou que não se tratava de corte, mas de contingenciamento. 

Em vídeo postado no Twitter, sugeriu que os recursos das universidades

seriam mais bem aproveitados no ensino básico.

A oposição das ciências humanas (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/05/agencias-de-

apoio-a-pesquisa-internacionais-defendem-ciencias-humanas.shtml), que seriam “inúteis”, a atividades
que seriam produtivas, como a veterinária, a engenharia e a medicina, é
completamente falsa e é um equívoco ainda maior contrapô-las ao ensino
fundamental.

O ensino de ciências humanas (https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/05/em-defesa-da-filosofia-e-

nas universidades se ocupa predominantemente da
da-sociologia-na-universidade.shtml)

formação dos professores da educação fundamental, nas áreas de português

e língua estrangeira, geografia, história, filosofia e sociologia, além da
formação específica em pedagogia. 

Cerca de 700 mil professores formados em alguma das ciências humanas são
responsáveis hoje por educar 27 milhões de brasileiros matriculados na
educação fundamental. 

Os cursos de humanas (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/04/proposta-de-esvaziamento-das-

humanas-e-equivocada-e-fere-a-constituicao-federal.shtml)não apenas formaram esses professores

em atividade como precisam ainda completar a educação de outros 400 mil

que lecionam disciplinas de humanas sem ter formação específica. Precisam,
por fim, formar novos professores para substituir esses trabalhadores à
medida que se aposentam.

A educação de um contingente profissional chave para o país não parece

tarefa inútil e, até onde se vê, não tem qualquer relação com gente pelada
nos campi.

Pablo Ortellado
Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

ENDEREÇO DA PÁGINA

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