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Índice

Folha de rosto
Índice
1. - DEUS
1 - Autocompreensão do judaísmo
PARA RECUPERAR AS PERGUNTAS
FILOSOFIA E TEOLOGIA
PENSAMENTO SITUACIONAL
AUTO-COMPREENSÃO RADICAL
PROFUNDIDADE-TEOLOGIA
A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
AVALIAÇÃO CRÍTICA
HONESTIDADE INTELECTUAL
FILOSOFIA COMO RELIGIÃO
FILOSOFIA COMO PERSPECTIVA
PENSAMENTO ELÍPTICO
RELIGIÃO DE FILOSOFIA
UMA MANEIRA DE PENSAR
METAFÍSICA E META-HISTÓRIA
UM DESAFIO À FILOSOFIA
A ADORAÇÃO DA RAZÃO
IDEIAS E EVENTOS
A FILOSOFIA DO JUDAISMO
NOTAS DO CAPÍTULO 1
2 - Maneiras de Sua Presença
A BÍBLIA É AUSENTE
MEMÓRIA E INSIGHT
A BUSCA DO HOMEM POR DEUS
“PROCURA MEU ROSTO”
TRÊS CAMINHOS
NOTAS DO CAPÍTULO 2
3 - O sublime
O GRANDE PRÊMIO
PODER, BELEZA, GRANDEUR
A desconfiança da fé
SOBRE O SUBLIME DA BÍBLIA
O BONITO E O SUBLIME
O SUBLIME NÃO É O FINAL
HORROR E EXALTAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 3
4 - Maravilha
UM LEGADO DE MARAVILHA
UM PARAFUSO MINÚSCULO
DOIS TIPOS DE MARAVILHA
“AINDA ESTÁ E CONSIDERA”
“POR SUAS MARAVILHAS CONTINUAIS”
SABE SOZINHO
NOTAS DO CAPÍTULO 4
5 - O senso de mistério
“MUITO FORA E PROFUNDA”
EM AWE E AMAZEMENT
“ONDE SERÁ ENCONTRADA A SABEDORIA?”
DOIS TIPOS DE IGNORÂNCIA
APREENDEMOS E NÃO PODEMOS COMPREENDER
"Escondidas são as coisas que vemos"
NOTAS DO CAPÍTULO 5
6 - O enigma não é resolvido
Deus habita “na escuridão profunda”
UMA FATIA DE PÃO
O nome inefável
O MISTÉRIO NÃO É DEUS
ALÉM DO MISTÉRIO É Misericórdia
TRÊS ATITUDES
Deus não é eternamente silencioso
NOTAS DO CAPÍTULO 6
7 - Pavor
"COMO O GRANDE ABISMO"
O INÍCIO DA SABEDORIA É AWE
O significado do AWE
AWE AND MEDO
AWE PRECEDE A FÉ
VOLTAR À REVERÊNCIA
NOTAS DO CAPÍTULO 7
8 - Glória
A GLÓRIA É O INEFFABLE
A GLÓRIA NÃO É UMA COISA
A GLÓRIA É A PRESENÇA DE DEUS
A PRESENÇA VIVA
O CONHECIMENTO DA GLÓRIA
CEGO PARA AS MARAVILHAS
DUREZA DO CORAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 8
9 - O mundo
A ADORAÇÃO DA NATUREZA
A desilusão
A dessanificação da natureza
O QUE É DADO NÃO É O ÚLTIMO
A CONTINGÊNCIA DA NATUREZA
A FALACIA DO ISOLAMENTO
A NATUREZA NA ADORAÇÃO DE DEUS
UMA COISA POR DEUS
A PERGUNTA DA AMAZEMENT
NOTAS DO CAPÍTULO 9
10 - Uma pergunta dirigida a nós
SOLIDÃO METAFÍSICA
NÃO É UM PROBLEMA CIENTÍFICO
ALÉM DE DEFINIÇÕES
O PRINCÍPIO DA INCOMPATIBILIDADE
A DIMENSÃO DOS INEFICIENTES
A CONSCIÊNCIA DO SIGNIFICADO TRANSCENDENTE
O SENTIDO DAS MARAVILHAS É INSUFICIENTE
O ARGUMENTO DO DESIGN
A RELIGIÃO COMEÇA COM MARAVILHAS E MISTÉRIO
UMA PERGUNTA ENVIADA A NÓS
“UM PALÁCIO CHEIO DE LUZ”
O QUE FAZER COM A MARAVILHA
NOTAS DO CAPÍTULO 10
11 - Um pressuposto ontológico
MOMENTOS DE PERCEPÇÃO
O ENCONTRO COM O DESCONHECIDO
PENSAMENTO PRÉ-CONCEITUAL
A RELIGIÃO É A RESPOSTA AO MISTÉRIO
Levantar-se acima da nossa sabedoria
PREOCUPAÇÃO FINAL É UM ATO DE ADORAÇÃO
LOUVAMOS ANTES DE PROVAR
Uma pressuposição ontológica
A DISPARIDADE DE EXPERIÊNCIA E EXPRESSÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 11
12 - Sobre o significado de Deus
O MÍNIMO DO SIGNIFICADO
DOIS COROLÁRIOS
A PARTE DE DEUS NA VISÃO HUMANA
O PAPEL DO TEMPO
A SITUAÇÃO RELIGIOSA
MOMENTOS
UMA RESPOSTA DE DISCUSSÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 12
13 - Deus em busca do homem
"Onde você está?"
A FÉ É UM EVENTO
UM FLASH NA ESCURIDÃO
VOLTAR A DEUS É UMA RESPOSTA A ELE
UM EVENTO ESPIRITUAL
NOTAS DO CAPÍTULO 13
14 - Visão
OUVIR, ISRAEL
A INICIATIVA DO HOMEM
"O OLHO DO CORAÇÃO"
“PORTAS PARA ALMA”
NOTAS DO CAPÍTULO 14
15 - Fé
"Você pode procurar por Deus?"
NENHUMA FÉ À PRIMEIRA VISTA
A FÉ É ANEXO
O EMBARRAMENTO DA FÉ
A FÉ INCLUI FIDELIDADE
NOTAS DO CAPÍTULO 15
16 - Além da visão
NO ALCANCE DE CONSCIÊNCIA
DEUS É O ASSUNTO
ADVERBS
A UNIDADE É O PADRÃO
DO PERCEPÇÃO À AÇÃO
SOMENTE INSIGHTS E NADA MAIS?
NOTAS DO CAPÍTULO 16
2. - REVELAÇÃO
17 - A idéia de revelação
HOMEM COM TORAH
POR QUE ESTUDAR O PROBLEMA?
ESQUECEMOS A PERGUNTA
O DOGMA DA AUTO-SUFICIÊNCIA DO HOMEM
A idéia da falta de dignidade do homem
A DISTÂNCIA ENTRE DEUS E HOMEM
O DOGMA DO SILÊNCIO TOTAL DE DEUS
A ANALOGIA PESSOAL
18 - O eufemismo profético
A IDEIA, A RECLAMAÇÃO, O RESULTADO
O QUE É INSPIRAÇÃO PROFÉTICA?
PALAVRAS TEM MUITOS SIGNIFICATIVOS
O ENTENDIMENTO PROFÉTICO
A LÍNGUA DO GRANDEUR E DO MISTÉRIO
PALAVRAS DESCRITIVAS E INDICATIVAS
INTERPRETAÇÃO RESPONSIVA
NOTAS DO CAPÍTULO 18
19 - O Mistério da Revelação
REVELAÇÃO E EXPERIÊNCIA DE REVELAÇÃO
O MISTÉRIO DA REVELAÇÃO
A Teologia Negativa da Revelação
IMAGINAR É PERVERTIR
A ELIMINAÇÃO DO ANTROPOMORFISMO
COMO NENHUM OUTRO EVENTO
NOTAS DO CAPÍTULO 19
20 - O paradoxo do Sinai
O PARADOXO DA PROFECIA
NA ESCURIDÃO PROFUNDA
ALÉM DO MISTÉRIO
OS DOIS ASPECTOS
O SINAI FOI UMA ILUSÃO?
UMA MANEIRA DE PENSAR
Um êxtase de Deus
NOTAS DO CAPÍTULO 20
21 - Uma religião do tempo
PENSAMENTO E TEMPO
O DEUS DE ABRAÃO
A CATEGORIA DA INQUILIDADE
O DIA ESCOLHIDO
A singularidade da história
ESCAPE AO INTEMPORAL
SEMENTES DE ETERNIDADE
IMUNE AO DESESPERO
EVOLUÇÃO E REVELAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 21
22 - Processo e Evento
PROCESSO E EVENTO
VER O PASSADO NO PRESENTE TEMPO
NOTAS DO CAPÍTULO 22
23 - Compromisso de Israel
ANEXO A EVENTOS
A MEMÓRIA DE UM COMPROMISSO
LEALDADE A UM MOMENTO
UMA PALAVRA DE HONRA
VIDA SEM COMPROMISSO
A REVELAÇÃO É UM INÍCIO
NOTAS DO CAPÍTULO 23
24 - Um exame dos profetas
QUE TIPO DE PROVA?
A NOÇÃO ERRADA
A REVELAÇÃO É EXPLICÁVEL?
OS PROFETAS SÃO CONFIÁVEIS?
UM PRODUTO DE INSANIDADE
AUTO-DELUSÃO
UMA INVENÇÃO PEDAGÓGICA
CONFUSÃO
O ESPÍRITO DA IDADE
O SUBCONSCIENTE
NÃO EXISTEM PROVAS
NOTAS DO CAPÍTULO 24
25 - A Bíblia e o mundo
A BÍBLIA É UMA ILUSÃO?
DEUS É AUSENTE EM TODA PARTE?
O LUGAR DA BÍBLIA NO MUNDO
O QUE A BÍBLIA FAZ
SEM PALAVRAS MAIS SABER
A SINGULARIDADE DA BÍBLIA
COMO CONTAR POR TI
A onipotência da Bíblia
PRECIOSO PARA DEUS
SANTIDADE NAS PALAVRAS
ISRAEL COMO EVIDÊNCIA
COMO COMPARTILHAR A CERTEZA DE ISRAEL
NÃO POR PROVA
NOTAS DO CAPÍTULO 25
26 - Fé com os profetas
FÉ COM OS PROFETAS
ORIGEM E PRESENÇA
A FRONTEIRA DO ESPÍRITO
NÃO É UM LIVRO
"NÃO ME LIGUE"
NOTAS DO CAPÍTULO 26
27 - O Princípio da Revelação
REVELAÇÃO NÃO É UMA QUESTÃO CRONOLÓGICA
O TEXTO COMO ESTÁ
REVELAÇÃO NÃO É UM MONÓLOGO
A VOZ DE ACORDO COM O HOMEM
SABEDORIA, PROFECIA E DEUS
A TORAH NÃO REVELADA
A TORAH ESTÁ NO EXÍLIO
IDÉIA E EXPRESSÃO
Passagens comuns
PASSAGENS DURAS
A BÍBLIA NÃO É UMA UTOPIA
COMPREENSÃO CONTÍNUA
A TORÁ ORAL NUNCA FOI ESCRITA
NOTAS DO CAPÍTULO 27
3. - RESPOSTA
28 - Uma ciência dos feitos
A SUPREMA AQUISIÇÃO
UM SALTO DE AÇÃO
A escritura é o risco
NOSSO ULTIMATE EMBARRASSMENT
UMA ABORDAGEM METAÉTICA
A PARCERIA DE DEUS E DO HOMEM
MANEIRAS, NÃO LEIS
A DIVINDADE DE AÇÕES
FAZER O QUE É
Semelhança nas ações
“A BOA UNIDADE”
TERMINA NA NECESSIDADE DO HOMEM
CIÊNCIA DE ATUAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 28
29 - Mais do que interioridade
POR FÉ SOZINHO?
O ERRO DO FORMALISMO
SEM DICOTOMIA
A ESPIRITUALIDADE NÃO É O CAMINHO
AUTONOMIA E HETERONOMIA
A LEI
UMA ORDEM ESPIRITUAL
UMA EXAGERAÇÃO TEOLÓGICA
NOTAS PARA O CAPÍTULO 29
30 - A arte de ser
Somente ações e mais nada?
UM GRITO DE CRIATIVIDADE
DEUS PEDE O CORAÇÃO
POR QUE KAVANAH?
A FAZER PARA SER
A imanência de Deus nas ações
ESTAR PRESENTE
NOTAS DO CAPÍTULO 30
31 - Kavanah
ATENÇÃO
APRECIAÇÃO
INTEGRAÇÃO
ALÉM DE KAVANAH
NOTAS DO CAPÍTULO 31
32 - Behaviorismo religioso
COMPORTAMENTO RELIGIOSO
SPINOZA AND MENDELSSOHN
JUDAÍSMO E LEGALISMO
A IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL DA AGADA
TORAH É MAIS DO QUE LEI
ALÉM DE HALACHA
PAN-HALACHISM
UMA RELIGIÃO SEM FÉ
DOGMAS NÃO SÃO BASTANTES
OS QUATRO CUBITOS
NOTAS DO CAPÍTULO 32
33 - O problema da polaridade
HALACHA E AGADA
QUANTIDADE E QUALIDADE
HALACHA SEM AGADA
AGADA SEM HALACHA
A POLARIDADE DO JUDAISMO
A TENSÃO ENTRE HALACHA E AGADA
REGULARIDADE E ESPONTANEIDADE
O VALOR DO HÁBITO
AÇÕES ENSINAM
NOTAS DO CAPÍTULO 33
34 - O significado da observância
ORIGEM E PRESENÇA
O significado da observação
ETERNIDADE, NÃO UTILIDADE
SIGNIFICADO ESPIRITUAL
UMA RESPOSTA AO MISTÉRIO
AVENTURAS DA ALMA
“UMA MÚSICA CADA DIA”
LEMBRETES
AÇÃO COMO REUNIÃO
ANEXO AO SANTO
O êxtase das ações
NOTAS DO CAPÍTULO 34
35 - Mitsvah e Sin
O significado de Mitsvá
"Porque pecamos"
“O EVENTO MAU”
"EXISTE UM PASSO"
NOTAS DO CAPÍTULO 35
36 - O Problema do Mal
UM PALÁCIO EM CHAMAS
“NAS MÃOS DOS MALDITOS”
A CONFUSÃO DO BOM E DO MAL
A Expiação pelos Santos
A RELIGIÃO NÃO É UM LUXO
UMA DISTINÇÃO SUPREMA
COMO ENCONTRAR UM ALIADO
A Torá é um antídoto
O BOM É UM PARASITA?
O MAL NÃO É O PROBLEMA FINAL
DEUS E O HOMEM TÊM UMA TAREFA EM COMUM
A HABILIDADE DE CUMPRIR
NECESSIDADE DE REDENÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 36
37 - O problema do neutro
O ISOLAMENTO DA MORALIDADE
COMO LIDAR COM O NEUTRO
TODA ALEGRIA VEM DE DEUS
NOTAS DO CAPÍTULO 37
38 - O problema da integridade
INTERESSES VESTADOS
PENSAMENTOS ALIENÍGENOS
A FUGA DA SUSPEITA
O TESTE DE TRABALHO
“UM DIADEM COM O QUE SE ENCONTRAR”
POLITETISMO DISGUÍDO
A FALHA DO CORAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 38
39 - O Eu e o não-Eu
O DESEJO É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS?
A CONVERSÃO DE NECESSIDADES
AUTO-EFICIÊNCIA
CONSIDERAR A SI MESMO
NOTAS PARA O CAPÍTULO 39
40 - A escritura redime
CONSCIÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO INTERNA
MOMENTOS DE PUREZA
CONTRIÇÃO
DEUS É COMPLETO DE COMPAIXÃO
TERMINA PURIFICAR MOTIVOS
A escritura redime
"Sirva-o com alegria"
“DERRAMAMOS E ELE RESTAURA”
NOTAS DO CAPÍTULO 40
41 - Liberdade
O PROBLEMA DA LIBERDADE
A LIBERDADE É UM EVENTO
LIBERDADE E CRIAÇÃO
PREOCUPAÇÃO DIVINA
NOTAS DO CAPÍTULO 41
42 - O espírito do judaísmo
O significado do espírito
O ESPÍRITO DO JUDAÍSMO
A ARTE DE SUPERAR A CIVILIZAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 42
43 - O povo de Israel
O significado da existência judaica
PENSAR COMPATÍVEL COM NOSSO DESTINO
ISRAEL - UMA ORDEM ESPIRITUAL
A DIGNIDADE DE ISRAEL
Livros por Abraham Joshua Heschet
Reconhecimento
Índice
Notas
Página de direitos autorais
Para SYLVIA

Índice
Folha de rosto
1. - DEUS

1- Autocompreensão do judaísmo

PARA RECUPERAR AS PERGUNTAS


FILOSOFIA E TEOLOGIA
PENSAMENTO SITUACIONAL
AUTO-COMPREENSÃO RADICAL
PROFUNDIDADE-TEOLOGIA
A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
AVALIAÇÃO CRÍTICA
HONESTIDADE INTELECTUAL
FILOSOFIA COMO RELIGIÃO
FILOSOFIA COMO PERSPECTIVA
PENSAMENTO ELÍPTICO
RELIGIÃO DE FILOSOFIA
UMA MANEIRA DE PENSAR
METAFÍSICA E META-HISTÓRIA
UM DESAFIO À FILOSOFIA
A ADORAÇÃO DA RAZÃO
IDEIAS E EVENTOS
A FILOSOFIA DO JUDAISMO
NOTAS DO CAPÍTULO 1
2- Maneiras de Sua Presença

A BÍBLIA É AUSENTE
MEMÓRIA E INSIGHT
A BUSCA DO HOMEM POR DEUS
“PROCURA MEU ROSTO”
TRÊS CAMINHOS
NOTAS DO CAPÍTULO 2
3- O sublime

O GRANDE PRÊMIO
PODER, BELEZA, GRANDEUR
A desconfiança da fé
SOBRE O SUBLIME DA BÍBLIA
O BONITO E O SUBLIME
O SUBLIME NÃO É O FINAL
HORROR E EXALTAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 3
4- Maravilha

UM LEGADO DE MARAVILHA
UM PARAFUSO MINÚSCULO
DOIS TIPOS DE MARAVILHA
“AINDA ESTÁ E CONSIDERA”
“POR SUAS MARAVILHAS CONTINUAIS”
SABE SOZINHO
NOTAS DO CAPÍTULO 4
5- O senso de mistério

“MUITO FORA E PROFUNDA”


EM AWE E AMAZEMENT
“ONDE SERÁ ENCONTRADA A SABEDORIA?”
DOIS TIPOS DE IGNORÂNCIA
APREENDEMOS E NÃO PODEMOS COMPREENDER
"Escondidas são as coisas que vemos"
NOTAS DO CAPÍTULO 5
6- O enigma não é resolvido

Deus habita “na escuridão profunda”


UMA FATIA DE PÃO
O nome inefável
O MISTÉRIO NÃO É DEUS
ALÉM DO MISTÉRIO É Misericórdia
TRÊS ATITUDES
Deus não é eternamente silencioso
NOTAS DO CAPÍTULO 6
7- Pavor

"COMO O GRANDE ABISMO"


O INÍCIO DA SABEDORIA É AWE
O significado do AWE
AWE AND MEDO
AWE PRECEDE A FÉ
VOLTAR À REVERÊNCIA
NOTAS DO CAPÍTULO 7
8- Glória
A GLÓRIA É O INEFFABLE
A GLÓRIA NÃO É UMA COISA
A GLÓRIA É A PRESENÇA DE DEUS
A PRESENÇA VIVA
O CONHECIMENTO DA GLÓRIA
CEGO PARA AS MARAVILHAS
DUREZA DO CORAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 8
9- O mundo

A ADORAÇÃO DA NATUREZA
A desilusão
A dessanificação da natureza
O QUE É DADO NÃO É O ÚLTIMO
A CONTINGÊNCIA DA NATUREZA
A FALACIA DO ISOLAMENTO
A NATUREZA NA ADORAÇÃO DE DEUS
UMA COISA POR DEUS
A PERGUNTA DA AMAZEMENT
NOTAS DO CAPÍTULO 9
10 - Uma pergunta dirigida a nós

SOLIDÃO METAFÍSICA
NÃO É UM PROBLEMA CIENTÍFICO
ALÉM DE DEFINIÇÕES
O PRINCÍPIO DA INCOMPATIBILIDADE
A DIMENSÃO DOS INEFICIENTES
A CONSCIÊNCIA DO SIGNIFICADO TRANSCENDENTE
O SENTIDO DAS MARAVILHAS É INSUFICIENTE
O ARGUMENTO DO DESIGN
A RELIGIÃO COMEÇA COM MARAVILHAS E MISTÉRIO
UMA PERGUNTA ENVIADA A NÓS
“UM PALÁCIO CHEIO DE LUZ”
O QUE FAZER COM A MARAVILHA
NOTAS DO CAPÍTULO 10
11 - Um pressuposto ontológico

MOMENTOS DE PERCEPÇÃO
O ENCONTRO COM O DESCONHECIDO
PENSAMENTO PRÉ-CONCEITUAL
A RELIGIÃO É A RESPOSTA AO MISTÉRIO
Levantar-se acima da nossa sabedoria
PREOCUPAÇÃO FINAL É UM ATO DE ADORAÇÃO
LOUVAMOS ANTES DE PROVAR
Uma pressuposição ontológica
A DISPARIDADE DE EXPERIÊNCIA E EXPRESSÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 11
12 - Sobre o significado de Deus

O MÍNIMO DO SIGNIFICADO
DOIS COROLÁRIOS
A PARTE DE DEUS NA VISÃO HUMANA
O PAPEL DO TEMPO
A SITUAÇÃO RELIGIOSA
MOMENTOS
UMA RESPOSTA DE DISCUSSÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 12
13 - Deus em busca do homem

"Onde você está?"


A FÉ É UM EVENTO
UM FLASH NA ESCURIDÃO
VOLTAR A DEUS É UMA RESPOSTA A ELE
UM EVENTO ESPIRITUAL
NOTAS DO CAPÍTULO 13
14 - Visão

OUVIR, ISRAEL
A INICIATIVA DO HOMEM
"O OLHO DO CORAÇÃO"
“PORTAS PARA ALMA”
NOTAS DO CAPÍTULO 14
15 - Fé

"Você pode procurar por Deus?"


NENHUMA FÉ À PRIMEIRA VISTA
A FÉ É ANEXO
O EMBARRAMENTO DA FÉ
A FÉ INCLUI FIDELIDADE
NOTAS DO CAPÍTULO 15
16 - Além da visão

NO ALCANCE DE CONSCIÊNCIA
DEUS É O ASSUNTO
ADVERBS
A UNIDADE É O PADRÃO
DO PERCEPÇÃO À AÇÃO
SOMENTE INSIGHTS E NADA MAIS?
NOTAS DO CAPÍTULO 16
2. - REVELAÇÃO

17 - A idéia de revelação

HOMEM COM TORAH


POR QUE ESTUDAR O PROBLEMA?
ESQUECEMOS A PERGUNTA
O DOGMA DA AUTO-SUFICIÊNCIA DO HOMEM
A idéia da falta de dignidade do homem
A DISTÂNCIA ENTRE DEUS E HOMEM
O DOGMA DO SILÊNCIO TOTAL DE DEUS
A ANALOGIA PESSOAL
18 - O eufemismo profético

A IDEIA, A RECLAMAÇÃO, O RESULTADO


O QUE É INSPIRAÇÃO PROFÉTICA?
PALAVRAS TEM MUITOS SIGNIFICATIVOS
O ENTENDIMENTO PROFÉTICO
A LÍNGUA DO GRANDEUR E DO MISTÉRIO
PALAVRAS DESCRITIVAS E INDICATIVAS
INTERPRETAÇÃO RESPONSIVA
NOTAS DO CAPÍTULO 18
19 - O Mistério da Revelação

REVELAÇÃO E EXPERIÊNCIA DE REVELAÇÃO


O MISTÉRIO DA REVELAÇÃO
A Teologia Negativa da Revelação
IMAGINAR É PERVERTIR
A ELIMINAÇÃO DO ANTROPOMORFISMO
COMO NENHUM OUTRO EVENTO
NOTAS DO CAPÍTULO 19
20 - O paradoxo do Sinai

O PARADOXO DA PROFECIA
NA ESCURIDÃO PROFUNDA
ALÉM DO MISTÉRIO
OS DOIS ASPECTOS
O SINAI FOI UMA ILUSÃO?
UMA MANEIRA DE PENSAR
Um êxtase de Deus
NOTAS DO CAPÍTULO 20
21 - Uma religião do tempo

PENSAMENTO E TEMPO
O DEUS DE ABRAÃO
A CATEGORIA DA INQUILIDADE
O DIA ESCOLHIDO
A singularidade da história
ESCAPE AO INTEMPORAL
SEMENTES DE ETERNIDADE
IMUNE AO DESESPERO
EVOLUÇÃO E REVELAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 21
22 - Processo e Evento

PROCESSO E EVENTO
VER O PASSADO NO PRESENTE TEMPO
NOTAS DO CAPÍTULO 22
23 - Compromisso de Israel

ANEXO A EVENTOS
A MEMÓRIA DE UM COMPROMISSO
LEALDADE A UM MOMENTO
UMA PALAVRA DE HONRA
VIDA SEM COMPROMISSO
A REVELAÇÃO É UM INÍCIO
NOTAS DO CAPÍTULO 23
24 - Um exame dos profetas

QUE TIPO DE PROVA?


A NOÇÃO ERRADA
A REVELAÇÃO É EXPLICÁVEL?
OS PROFETAS SÃO CONFIÁVEIS?
UM PRODUTO DE INSANIDADE
AUTO-DELUSÃO
UMA INVENÇÃO PEDAGÓGICA
CONFUSÃO
O ESPÍRITO DA IDADE
O SUBCONSCIENTE
NÃO EXISTEM PROVAS
NOTAS DO CAPÍTULO 24
25 - A Bíblia e o mundo

A BÍBLIA É UMA ILUSÃO?


DEUS É AUSENTE EM TODA PARTE?
O LUGAR DA BÍBLIA NO MUNDO
O QUE A BÍBLIA FAZ
SEM PALAVRAS MAIS SABER
A SINGULARIDADE DA BÍBLIA
COMO CONTAR POR TI
A onipotência da Bíblia
PRECIOSO PARA DEUS
SANTIDADE NAS PALAVRAS
ISRAEL COMO EVIDÊNCIA
COMO COMPARTILHAR A CERTEZA DE ISRAEL
NÃO POR PROVA
NOTAS DO CAPÍTULO 25
26 - Fé com os profetas

FÉ COM OS PROFETAS
ORIGEM E PRESENÇA
A FRONTEIRA DO ESPÍRITO
NÃO É UM LIVRO
"NÃO ME LIGUE"
NOTAS DO CAPÍTULO 26
27 - O Princípio da Revelação

REVELAÇÃO NÃO É UMA QUESTÃO CRONOLÓGICA


O TEXTO COMO ESTÁ
REVELAÇÃO NÃO É UM MONÓLOGO
A VOZ DE ACORDO COM O HOMEM
SABEDORIA, PROFECIA E DEUS
A TORAH NÃO REVELADA
A TORAH ESTÁ NO EXÍLIO
IDÉIA E EXPRESSÃO
Passagens comuns
PASSAGENS DURAS
A BÍBLIA NÃO É UMA UTOPIA
COMPREENSÃO CONTÍNUA
A TORÁ ORAL NUNCA FOI ESCRITA
NOTAS DO CAPÍTULO 27
3. - RESPOSTA

28 - Uma ciência dos feitos

A SUPREMA AQUISIÇÃO
UM SALTO DE AÇÃO
A escritura é o risco
NOSSO ULTIMATE EMBARRASSMENT
UMA ABORDAGEM METAÉTICA
A PARCERIA DE DEUS E DO HOMEM
MANEIRAS, NÃO LEIS
A DIVINDADE DE AÇÕES
FAZER O QUE É
Semelhança nas ações
“A BOA UNIDADE”
TERMINA NA NECESSIDADE DO HOMEM
CIÊNCIA DE ATUAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 28
29 - Mais do que interioridade

POR FÉ SOZINHO?
O ERRO DO FORMALISMO
SEM DICOTOMIA
A ESPIRITUALIDADE NÃO É O CAMINHO
AUTONOMIA E HETERONOMIA
A LEI
UMA ORDEM ESPIRITUAL
UMA EXAGERAÇÃO TEOLÓGICA
NOTAS PARA O CAPÍTULO 29
30 - A arte de ser

Somente ações e mais nada?


UM GRITO DE CRIATIVIDADE
DEUS PEDE O CORAÇÃO
POR QUE KAVANAH?
A FAZER PARA SER
A imanência de Deus nas ações
ESTAR PRESENTE
NOTAS DO CAPÍTULO 30
31 - Kavanah

ATENÇÃO
APRECIAÇÃO
INTEGRAÇÃO
ALÉM DE KAVANAH
NOTAS DO CAPÍTULO 31
32 - Behaviorismo religioso

COMPORTAMENTO RELIGIOSO
SPINOZA AND MENDELSSOHN
JUDAÍSMO E LEGALISMO
A IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL DA AGADA
TORAH É MAIS DO QUE LEI
ALÉM DE HALACHA
PAN-HALACHISM
UMA RELIGIÃO SEM FÉ
DOGMAS NÃO SÃO BASTANTES
OS QUATRO CUBITOS
NOTAS DO CAPÍTULO 32
33 - O problema da polaridade

HALACHA E AGADA
QUANTIDADE E QUALIDADE
HALACHA SEM AGADA
AGADA SEM HALACHA
A POLARIDADE DO JUDAISMO
A TENSÃO ENTRE HALACHA E AGADA
REGULARIDADE E ESPONTANEIDADE
O VALOR DO HÁBITO
AÇÕES ENSINAM
NOTAS DO CAPÍTULO 33
34 - O significado da observância

ORIGEM E PRESENÇA
O significado da observação
ETERNIDADE, NÃO UTILIDADE
SIGNIFICADO ESPIRITUAL
UMA RESPOSTA AO MISTÉRIO
AVENTURAS DA ALMA
“UMA MÚSICA CADA DIA”
LEMBRETES
AÇÃO COMO REUNIÃO
ANEXO AO SANTO
O êxtase das ações
NOTAS DO CAPÍTULO 34
35 - Mitsvah e Sin

O significado de Mitsvá
"Porque pecamos"
“O EVENTO MAU”
"EXISTE UM PASSO"
NOTAS DO CAPÍTULO 35
36 - O Problema do Mal

UM PALÁCIO EM CHAMAS
“NAS MÃOS DOS MALDITOS”
A CONFUSÃO DO BOM E DO MAL
A Expiação pelos Santos
A RELIGIÃO NÃO É UM LUXO
UMA DISTINÇÃO SUPREMA
COMO ENCONTRAR UM ALIADO
A Torá é um antídoto
O BOM É UM PARASITA?
O MAL NÃO É O PROBLEMA FINAL
DEUS E O HOMEM TÊM UMA TAREFA EM COMUM
A HABILIDADE DE CUMPRIR
NECESSIDADE DE REDENÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 36
37 - O problema do neutro

O ISOLAMENTO DA MORALIDADE
COMO LIDAR COM O NEUTRO
TODA ALEGRIA VEM DE DEUS
NOTAS DO CAPÍTULO 37
38 - O problema da integridade

INTERESSES VESTADOS
PENSAMENTOS ALIENÍGENOS
A FUGA DA SUSPEITA
O TESTE DE TRABALHO
“UM DIADEM COM O QUE SE ENCONTRAR”
POLITETISMO DISGUÍDO
A FALHA DO CORAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 38
39 - O Eu e o não-Eu

O DESEJO É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS?


A CONVERSÃO DE NECESSIDADES
AUTO-EFICIÊNCIA
CONSIDERAR A SI MESMO
NOTAS PARA O CAPÍTULO 39
40 - A escritura redime

CONSCIÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO INTERNA


MOMENTOS DE PUREZA
CONTRIÇÃO
DEUS É COMPLETO DE COMPAIXÃO
TERMINA PURIFICAR MOTIVOS
A escritura redime
"Sirva-o com alegria"
“DERRAMAMOS E ELE RESTAURA”
NOTAS DO CAPÍTULO 40
41 - Liberdade

O PROBLEMA DA LIBERDADE
A LIBERDADE É UM EVENTO
LIBERDADE E CRIAÇÃO
PREOCUPAÇÃO DIVINA
NOTAS DO CAPÍTULO 41
42 - O espírito do judaísmo

O significado do espírito
O ESPÍRITO DO JUDAÍSMO
A ARTE DE SUPERAR A CIVILIZAÇÃO
NOTAS DO CAPÍTULO 42
43 - O povo de Israel

O significado da existência judaica


PENSAR COMPATÍVEL COM NOSSO DESTINO
ISRAEL - UMA ORDEM ESPIRITUAL
A DIGNIDADE DE ISRAEL
Livros por Abraham Joshua Heschet

Reconhecimento

Página de direitos autorais das notas do índice

1
DEUS

1
Auto-compreensão do judaísmo
PARA RECUPERAR AS PERGUNTAS
É costume culpar a ciência secular e a filosofia anti-religiosa pelo eclipse da religião na
sociedade moderna. Seria mais honesto culpar a religião por suas próprias derrotas. A
religião declinou não porque foi refutada, mas porque se tornou irrelevante, monótona,
opressiva, insípida. Quando a fé é completamente substituída pelo credo, a adoração pela
disciplina, o amor pelo hábito; quando a crise de hoje é ignorada por causa do esplendor do
passado; quando a fé se torna uma herança em vez de uma fonte viva; quando a religião fala
apenas em nome da autoridade e não com a voz da compaixão - sua mensagem se torna sem
sentido.
A religião é uma resposta para as perguntas definitivas do homem . No momento em que
ficamos alheios às questões fundamentais, a religião se torna irrelevante e a crise se instala.
A principal tarefa da filosofia da religião é redescobrir as perguntas às quais a religião é uma
resposta. A investigação deve prosseguir mergulhando na consciência do homem, bem como
nos ensinamentos e atitudes da tradição religiosa.
Existem pensamentos mortos e existem pensamentos vivos. Um pensamento morto foi
comparado a uma pedra que se pode plantar no solo. Nada vai sair. Um pensamento vivo é
como uma semente. No processo de pensar, uma resposta sem uma pergunta é desprovida
de vida. Pode entrar na mente; não penetrará na alma. Pode tornar-se parte do
conhecimento de alguém; não surgirá como uma força criativa.
FILOSOFIA E TEOLOGIA
Em nossa busca por perguntas esquecidas, o método e o espírito da investigação filosófica
são de maior importância que a teologia, que é essencialmente descritiva, normativa e
histórica. Filosofia pode ser definida como a arte de fazer as perguntas certas. Uma das
marcas do pensamento filosófico é que, em contraste com a poesia, por exemplo, não é um
derramamento auto-suficiente de insight, mas a afirmação explícita de um problema e a
tentativa de oferecer uma resposta a um problema. A teologia começa com dogmas, a
filosofia começa com problemas. A filosofia vê o problema primeiro, a teologia tem a resposta
antecipadamente. Não devemos, no entanto, desconsiderar outra diferença importante. Não
são apenas os problemas da filosofia que não são idênticos aos problemas da religião; seu
status não é o mesmo. A filosofia é, em certo sentido, um tipo de pensamento que tem um
começo, mas não tem fim. Nele, a consciência do problema sobrevive a todas as
soluções. Suas respostas são perguntas disfarçadas; toda nova resposta dando origem a
novas perguntas. Na religião, por outro lado, o mistério da resposta paira sobre todas as
1

perguntas. A filosofia lida com problemas como questões universais; para a religião, as
questões universais são problemas pessoais. A filosofia, portanto, enfatiza a primazia do
problema, a religião enfatiza a primazia da pessoa.
Os fundamentalistas afirmam que todas as questões finais foram respondidas; os positivistas
lógicos sustentam que todas as questões fundamentais não têm sentido. Aqueles de nós que
não compartilham a presunção do primeiro nem a despreocupação do segundo, e rejeitam
respostas ilusórias e evasões falsas, sabem que uma questão última está em jogo em nossa
existência, cuja relevância supera todas as formulações finais. É esse embaraço que é o ponto
de partida para o nosso pensamento.
PENSAMENTO SITUACIONAL
Existem dois tipos de pensamento; um que lida com conceitos e outro que lida
com situações . Em nosso tempo, o conflito do século XIX entre ciência e religião está sendo
substituído por uma controvérsia entre o tipo de pensamento que tem como objeto conceitos
particulares da mente e um modo de pensar que tem como objeto a situação do homem. O
pensamento conceitual é um ato de raciocínio; o pensamento situacional envolve uma
experiência interior; ao emitir um julgamento sobre um problema, a própria pessoa está sob
julgamento. O pensamento conceitual é adequado quando estamos envolvidos em um
esforço para aprimorar nosso conhecimento sobre o mundo. O pensamento situacional é
necessário quando estamos empenhados em entender as questões em que apostamos em
nossa própria existência.
Não se discute o futuro da humanidade na era atômica da mesma maneira que se discute o
clima. Seria errado deixar de fora dessa discussão o temor, o medo, a humildade, a
responsabilidade, que são ou deveriam fazer parte da questão tanto quanto o próprio
átomo. O que enfrentamos não é apenas um problema separado de nós mesmos, mas uma
situação da qual fazemos parte e na qual estamos totalmente envolvidos. Para entender o
problema, precisamos explorar a situação.
A atitude do pensador conceitual é de desapego: o sujeito diante de um objeto
independente; a atitude do pensador situacional é preocupante: o sujeito percebe que está
envolvido em uma situação que precisa de entendimento.
O início do pensamento situacional não é dúvida, desapego, mas espanto, admiração,
envolvimento. O filósofo, portanto, é uma testemunha, não um contador dos negócios de
outras pessoas. A menos que estejamos envolvidos, o problema não está presente. A menos
que estejamos apaixonados ou lembremos vividamente o que aconteceu conosco quando
estávamos apaixonados, ignoramos o amor. O pensamento criativo não é estimulado por
questões indiretas, mas por problemas pessoais. E assim, por exemplo, o problema da
filosofia religiosa não é como o homem chega a um entendimento de Deus, mas
como podemos chegar a um entendimento de Deus.
Num sentido profundo, o filósofo nunca é um espectador puro. Sua sabedoria não é uma
mercadoria que possa ser produzida sob demanda. Seus livros não são responsa . Não
devemos considerá-los como espelhos, refletindo os problemas de outras pessoas, mas como
janelas, permitindo ver a alma do autor. Os filósofos não gastam seu poder e paixão a menos
que sejam afetados. A alma só comunica consigo mesma quando o coração está agitado. Os
dilemas que atingem o coração do filósofo fornecem o motivo que o impele a trabalhar pela
verdade. Toda filosofia é uma apologia pro vita sua.
AUTO-COMPREENSÃO RADICAL
Existem dois tipos de filosofia. A filosofia pode ser perseguida como um processo de pensar
o pensamento, de analisar o conteúdo do pensamento , como princípios, suposições,
doutrinas. Ou pode ser perseguido como pensamento sobre o pensamento,
como autocompreensão radical, como um processo de análise do ato de pensar , como um
2

processo de introspecção, de observar o eu intelectual em ação.


A ação na qual o eu intelectual está envolvido ocorre em dois níveis: no nível do insight e no
nível da tradução de idéias em conceitos e símbolos. A autocompreensão radical deve
abranger não apenas os frutos do pensamento, nomeadamente os conceitos e símbolos, mas
também a raiz do pensamento, a profundidade do insight, os momentos de imediatismo na
comunhão do eu com a realidade.
Do mesmo modo, o estudo da religião tem duas tarefas principais a serem executadas. Um,
para entender o que significa acreditar; analisar o ato de acreditar; perguntar o que é que
requer crer em Deus. Dois: explicar e examinar o conteúdo da crença; analisar aquilo em que
acreditamos. O primeiro diz respeito ao problema da fé , a situações concretas; o segundo
com o problema do credo , com relações conceituais. A filosofia judaica medieval preocupava-
se principalmente com o problema do credo. Tratou, por exemplo, mais da questão: qual é
o conteúdo (e o objeto) de nossa crença em Deus? ou, na melhor das hipóteses, com a
natureza da crença e menos com o problema: qual é a fonte da nossa crença em Deus? Por
que acreditar em tudo? Ele prestou mais atenção à questão do que sabemos sobre Deus do
que à questão de como sabemos sobre ele. Nossa principal preocupação não é analisar
conceitos, mas explorar situações. A situação religiosa precede a concepção religiosa, e seria
uma abstração falsa, por exemplo, lidar com a idéia de Deus, independentemente da situação
em que essa idéia ocorra. Nosso primeiro objetivo, então, não é evoluir a filosofia de uma
doutrina, interpretações de um dogma, mas a filosofia de eventos concretos, atos, idéias,
daquilo que faz parte do homem piedoso. Pois a religião é mais que um credo ou uma
ideologia e não pode ser entendida quando desapegada de atos e eventos. Ele aparece à luz
nos momentos em que a alma de uma pessoa é abalada com uma preocupação absoluta com
o significado de todo significado, com o compromisso final de alguém que está integrado à
própria existência; nos momentos em que todas as conclusões anteriores são suspensas,
todas as trivialidades sufocantes da vida.
Assim, a questão que deve ser discutida primeiro não é crença, ritual ou experiência religiosa,
mas a fonte de todos esses fenômenos: a situação total do homem; não como ele experimenta
o sobrenatural, mas por que ele experimenta e aceita. 3

PROFUNDIDADE-TEOLOGIA
O tema da teologia é o conteúdo da crença. O tema do presente estudo é o ato de
acreditar. Seu objetivo é explorar a profundidade da fé, cujo substrato surge da crença e seu
método pode ser chamado de teologia da profundidade.
Para apreender a profundidade da fé religiosa, tentaremos determinar não tanto o que a
pessoa é capaz de expressar quanto o que ela é incapaz de expressar, as idéias que nenhuma
língua pode declarar. Devemos ter em mente que "o principal perigo para a filosofia, além da
preguiça e da lamentação, é o escolasticismo , cuja essência é tratar o que é vago como se
fosse preciso e tentar encaixá-lo em uma categoria lógica exata" De fato , um dos erros fatais
.4

da teologia conceitual tem sido a separação dos atos da existência religiosa das declarações
sobre ela. As idéias de fé não devem ser estudadas em total separação dos momentos de fé. Se
uma planta é arrancada de seu solo, removida de seus ventos nativos, raios de sol e ambiente
terrestre e mantida em uma estufa - as observações feitas dessa planta revelam sua natureza
primordial? A crescente interioridade do homem que alcança e se curva em direção à luz de
Deus dificilmente pode ser transplantada para a superficialidade da mera
reflexão. Arrancada de seu meio na vida humana, murcha como uma rosa pressionada entre
as páginas de um livro. A religião é, de fato, pouco mais que um remanescente dessecado de
uma realidade que antes vivia quando reduzida a termos e definições, a códigos e
catecismos. Só pode ser estudado em seu habitat natural de fé e piedade, em uma alma onde
o divino está ao alcance de todos os pensamentos.
Somente aqueles que apreenderão a religião que pode sondar sua profundidade, que pode
combinar intuição e amor com o rigor do método, são capazes de encontrar categorias que
se misturam com os não-ligados e forjam o imponderável em uma expressão única. Não basta
descrever o conteúdo dado da consciência religiosa. Temos que pressionar a consciência
religiosa com perguntas, obrigando o homem a entender e desvendar o significado do que
está ocorrendo em sua vida, como está no horizonte divino. Ao penetrar na consciência do
homem piedoso, podemos conceber a realidade por trás dela.
A COMPREENSÃO DA RELIGIÃO
Filosofia é pensamento reflexivo, e filosofia da religião pode ser definida como a reflexão da
religião sobre suas idéias e atitudes básicas, como uma autocompreensão radical da religião
em termos de seu próprio espírito . É um esforço de auto-esclarecimento e auto-exame.
Por auto-esclarecimento , entendemos o esforço de nos lembrar do que defendemos, de
analisar experiências, idéias, atitudes e princípios de religião; descobrir suas características
orientadoras, suas reivindicações finais; determinar o significado de seus principais
ensinamentos; distinguir entre princípios e opiniões.
Por auto-exame , entendemos o esforço de examinar a autenticidade de nossa posição. Nossa
atitude religiosa é de convicção ou mera afirmação? A existência de Deus é uma
probabilidade para nós ou uma certeza? Deus é uma mera palavra para nós, um nome, uma
possibilidade, uma hipótese, ou Ele é uma presença viva? A afirmação dos profetas é uma
figura de linguagem para nós ou uma crença convincente?
O pensamento religioso, a crença e o sentimento estão entre as atividades mais enganosas
do espírito humano. Muitas vezes assumimos que é Deus em que acreditamos, mas, na
realidade, pode ser um símbolo de interesses pessoais nos quais nos referimos. Podemos
assumir que nos sentimos atraídos por Deus, mas, na realidade, pode ser um poder no mundo
que é objeto de nossa adoração. Podemos assumir que é com Deus que cuidamos, mas pode
ser com nosso próprio ego que estamos preocupados. Examinar nossa existência religiosa é,
portanto, uma tarefa a ser realizada constantemente.
Entender o que queremos dizer é a tarefa da filosofia. Pensamos em palavras, mas empregar
palavras não é o mesmo que entender o que elas significam. Além disso, a relação entre
palavras e seus significados é elástica. As palavras permanecem, enquanto os significados
estão sujeitos a alterações. A expressão “nosso pai no céu” pode evocar em alguns a imagem
mental de uma figura corporal sentada em um trono, e pode significar para outros o máximo
de toda majestade, usada como figura de linguagem, para indicar Aquele que está além de
toda expressão .
Essa compreensão é necessária por várias razões. Os ensinamentos originais da religião não
são dados em termos racionais, dogmáticos, mas em expressões indicativas. Portanto, é
necessário explicar seus significados. Além disso, uma vez que elas foram expressas em um
idioma antigo, é preciso penetrar cuidadosamente a intenção genuína dos autores bíblicos.
AVALIAÇÃO CRÍTICA
Embora o método empregado neste volume seja principalmente de auto-entendimento, há
outra abordagem que teremos que ter em mente. A filosofia da religião deve ser perseguida
de duas maneiras: como compreensão radical da religião em termos de seu próprio espírito
e como uma reavaliação crítica da religião do ponto de vista da filosofia. Representa um
esforço da religião para justificar suas reivindicações; estabelecer sua validade , não apenas
sua relevância . Há falsos como existem profetas verdadeiros; há falsas, pois existem
verdadeiras doutrinas religiosas. Se uma religião afirma ser verdadeira, é obrigada a
oferecer um critério para sua validade em termos de idéias ou em termos de eventos.
Uma reavaliação crítica da religião é necessária pela própria situação de nosso
pensamento. Não podemos continuar empregando nossa faculdade crítica em todos os
nossos empreendimentos e, ao mesmo tempo, abster-nos de fazer perguntas em relação à
religião. “Nossa era é a era da crítica, à qual tudo deve ser submetido. A sacralidade da
religião e a autoridade da legislação são, para muitos, consideradas motivos de isenção do
exame deste tribunal. Mas, se forem isentos, tornam-se objeto de suspeita justa e não podem
reivindicar respeito sincero, razão pela qual só concorda com o que passou no teste de um
exame público gratuito. ” 5

A crítica da religião deve se estender não apenas às suas reivindicações básicas, mas a todas
as suas declarações. A religião está sujeita à distorção externa e à corrupção interna. Como
freqüentemente absorve idéias não indígenas ao seu espírito, é necessário distinguir entre o
autêntico e o espúrio. Além disso, superstição, orgulho, justiça própria, preconceito e
vulgaridade podem contaminar as melhores tradições. A fé em seu zelo tende a se tornar
fanatismo. A crítica da razão, o desafio e as dúvidas do incrédulo podem, portanto, ser mais
úteis à integridade da fé do que a simples confiança na própria fé.
HONESTIDADE INTELECTUAL
A honestidade intelectual é um dos objetivos supremos da filosofia da religião, assim como o
auto-engano é a principal fonte de corrupção no pensamento religioso, mais mortal que o
erro. Hipocrisia ao invés de heresia é a causa da decadência espiritual. "Desejas a verdade na
interioridade" do homem (Salmos 51: 8).
O rabino Bunam de Przyscha costumava dar a seguinte definição de hasid. Segundo fontes
medievais, um hasid é aquele que faz mais do que a lei exige. Agora, esta é a lei: Não
enganarás o próximo (Levítico 25:17). Um hasid vai além da lei; ele nem mesmo enganará a
si próprio.
Todo rei tem um selo que, quando anexado a um documento, é uma garantia de
autenticidade. O selo contém um símbolo que significa o poder e a majestade do rei. Que
símbolo está gravado no selo do rei dos reis? “ O selo de Deus é a verdade ” e a verdade é o
6,

nosso único teste. Um bajulador não pode vir diante dele (Jó 13:16).
FILOSOFIA COMO RELIGIÃO
A filosofia da religião como crítica da religião não cumprirá sua função se agir como
antagonista, imitador ou rival. A crítica é frequentemente culpada por esquecer que as
grandes tendências da arte, por exemplo, são avaliadas, mas não criadas, por ela. Isso se
aplica à religião também. O fato perturbador, no entanto, é que a filosofia continua sendo a
rival perpétua da religião. É um poder que criaria religião, se pudesse. De novo e de novo, ele
tentou seu talento para oferecer respostas às perguntas finais e falhou.
A filosofia nem sempre produz seus próprios temas. Seu assunto é derivado do senso
comum, do mundo da arte, religião, ciência e vida social. Temas como o bem, o belo, a
simpatia, o amor, Deus, a causalidade, a ordem social e o estado não são invenção da mente
especulativa. A filosofia é mais criativa na simbiose com a vida do que na preocupação com
temas nascidos de sua própria reflexão. A filosofia da religião continua sendo, portanto, um
método de esclarecimento, exame e validação, e não uma fonte de insights finais. Além disso,
deve elucidar a diferença essencial entre filosofia e religião. Sua tarefa não é apenas
examinar a reivindicação da religião em face da filosofia, mas também refutar a reivindicação
da filosofia quando ela presume tornar-se um substituto da religião, provar a inadequação
da filosofia como religião.
FILOSOFIA COMO PERSPECTIVA
A filosofia, ao tentar examinar as idéias da religião, fará bem em lembrar seu próprio status
limitado; o fato, a saber, de que representa o ponto de vista limitado, embora real, de uma
escola ou período; que está confinado à experiência de apenas parte da realidade. De fato,
sem um adjetivo qualificado, o termo filosofia é um tanto impróprio. Não há apenas uma, mas
muitas filosofias, e a divergência entre Aristóteles e Agostinho, os estóicos e os pensadores
da Índia é tão real quanto a divergência entre Moisés e Buda. Aqueles que acreditam na
existência de uma filosofia perene podem acreditar na possibilidade de uma reavaliação
crítica da religião a partir da perspectiva de um sistema filosófico fixo, cuja validade é
estabelecida além da disputa. Para aqueles que questionam a validade de uma filosofia
perene, a filosofia está em fluxo constante, necessitando de exame constante. A filosofia da
religião seria então definida como uma reavaliação crítica da religião a partir da perspectiva
de uma situação filosófica específica.
Apesar de todas as suas limitações, a filosofia é a tentativa humana de obter uma visão
sinóptica das coisas, de ver o mundo inteiro e suas partes juntas. Como a religião tende a se
autoinflar e a desconsiderar os aspectos da realidade que não são imediatamente relevantes
para o dogma e o ritual, é tarefa da filosofia da religião colocar a compreensão religiosa em
relação a toda a gama de conhecimentos humanos. O conhecimento humano avança
continuamente, e as eternas questões religiosas encontram nova relevância quando
confrontadas com as forças do processo interminável de investigação humana.
PENSAMENTO ELÍPTICO
A filosofia da religião tem dois pais: filosofia e religião. Não nasce da auto-reflexão da
religião, mas do encontro dos dois. De fato, toda a filosofia da religião surge quando a religião
e a filosofia pretendem oferecer idéias sobre os problemas finais. Como a religião grega não
afirmava ser uma fonte de tais idéias, a filosofia da religião não surgiu em Atenas, mas no
encontro do judaísmo e da filosofia grega. 7

A filosofia da religião está envolvida em uma polaridade; como uma elipse, gira em torno de
dois focos: filosofia e religião. Exceto por dois pontos na curva que estão na mesma distância
de ambos os focos, quanto mais próximo seu pensamento chega a um, mais distante ele fica
do outro. O fracasso em sentir a profunda tensão das categorias filosóficas e religiosas tem
sido motivo de muita confusão.
Essa situação única de exposição a dois poderes diferentes, a duas fontes concorrentes de
entendimento é uma que não deve ser abandonada. É precisamente essa tensão, esse
pensamento elíptico que é uma fonte de enriquecimento para a filosofia e a religião.
RELIGIÃO DE FILOSOFIA
No desejo de conciliar filosofia e ciência com religião, muitas vezes foram feitas tentativas
para provar que não há conflitos entre as doutrinas transmitidas pela revelação e as idéias
adquiridas por nossa própria razão, mas também que elas são intrinsecamente idênticas. No
entanto, essa reconciliação não é uma solução, mas uma dissolução na qual a religião está
fadada a desaparecer. Se ciência e religião são intrinsecamente idênticas, uma delas deve ser
supérflua. Nessa reconciliação, a religião é pouco mais que ciência ruim e moralidade
ingênua. Sua profundidade se foi, sua majestade esquecida, seu valor se torna
questionável. Sua única justificativa é pedagógica, como um atalho para a filosofia, como uma
filosofia para as massas.
Os filósofos freqüentemente confundem a não conformidade da religião com imaturidade
filosófica e, em vez de tentar entender a religião como religião, a abordam como uma forma
rudimentar de filosofia. Nessa abordagem, o objeto de investigação se ajustou ao padrão do
pesquisador, e as categorias religiosas, convertidas antes mesmo de serem exploradas, foram
tratadas como se fossem abstrações filosóficas. O resultado dessa investigação é geralmente
uma religião altamente rarefeita. O que começa como uma filosofia da religião termina como
uma religião da filosofia.
UMA MANEIRA DE PENSAR
A filosofia não começa do nada. Pode, na melhor das hipóteses, ser definida como uma
ciência com um mínimo de pressupostos. Mas nunca pode dispensar todos os
pressupostos. Além disso, está envolvido em uma maneira específica de pensar , em certos
modos e categorias de apreensão e avaliação. As principais premissas da filosofia ocidental
são derivadas do modo de pensar grego.
Há mais de uma maneira de pensar. Israel e Grécia não apenas desenvolveram doutrinas
divergentes; eles operavam em diferentes categorias. A Bíblia, como a filosofia de
Aristóteles, por exemplo, contém mais do que uma soma de doutrinas; representa um modo
de pensar , um contexto específico em que conceitos gerais possuem um significado
particular, um padrão de avaliação, uma forma de orientação; não apenas um tecido mental,
mas também uma certa disposição ou maneira de entrelaçar e inter-relacionar intuições e
percepções, um tear único de pensamentos.
A mente humana é unilateral. Ele nunca pode compreender toda a realidade de uma só
vez. Quando olhamos para as coisas, vemos as características que elas têm em comum ou as
características que distinguem cada uma delas. Há períodos na história do pensamento em
que um sentido para o comum e o universal é melhor desenvolvido, e há períodos em que
um sentido para o distinto e o indivíduo é particularmente aguçado. A mente de Philo, por
exemplo, seguiu um caminho que contornava o específico e o diferente - tanto no judaísmo
quanto no helenismo. Para ele, ambos ofereceram a mesma mensagem; o êxtase que ele
conhecia dos cultos helenísticos, ele assumiu ser idêntico ao estado em que os profetas
hebreus receberam revelação. Seguindo seu exemplo, muitos pensadores estavam
8

principalmente interessados em apontar para os elementos comuns na razão e na revelação


e desejavam igualar o que era diferente neles. O que eles deixaram de ver é a riqueza única
de discernimento espiritual contida nas idéias proféticas do pathos divino. O pensamento
hebraico opera dentro de categorias diferentes das de Platão ou Aristóteles, e as divergências
entre seus respectivos ensinamentos não são meramente uma questão de diferentes modos
de expressão, mas de diferentes modos de pensar. Ao insistir nos elementos comuns da razão
e da revelação, uma síntese dos dois poderes espirituais foi alcançada ao preço de sacrificar
algumas de suas idéias únicas.
De vital importância, pois é para o judaísmo se estender às culturas não-judaicas, a fim de
absorver elementos que podem ser usados para o enriquecimento de sua vida e pensamento,
isso não deve ser feito ao preço de abrir mão de sua integridade intelectual. Devemos
lembrar que a tentativa de encontrar uma síntese do pensamento profético e da metafísica
grega, desejável como pode ser em uma situação histórica particular, não é necessariamente
uma subespécie aeternitatis válida . Geograficamente e historicamente, Jerusalém e Atenas, a
era dos profetas e a era de Péricles, não estão muito distantes uma da outra. Espiritualmente,
eles são mundos separados. Por outro lado, se Jerusalém estivesse localizada aos pés do
Himalaia, a filosofia monoteísta teria sido modificada pela tradição dos pensadores
orientais. Assim, nossa posição intelectual situada entre Atenas e Jerusalém não é
definitiva. A providência pode um dia criar uma situação que nos colocaria entre o rio Jordão
e o rio Ganges, e o problema desse encontro será diferente daquele que o pensamento judaico
passou ao encontrar a filosofia grega.
METAFÍSICA E META-HISTÓRIA
Há, por exemplo, uma diferença básica de significado, intenção e tema entre uma teoria
científica da origem do universo e o que os primeiros capítulos do Livro do Gênesis estão
tentando transmitir. O livro de Gênesis não pretende explicar nada; o mistério do
surgimento do mundo não é de forma alguma mais inteligível por uma declaração como: No
princípio, Deus criou o céu e a terra . A Bíblia e a ciência não lidam com o mesmo problema. A
teoria científica pergunta: Qual é a causa do universo? Ele pensa na categoria de causalidade,
e a causalidade concebe a relação entre uma causa e um efeito como partes de um processo
contínuo, como partes variáveis de um todo imutável. A Bíblia, por outro lado, concebe o
relacionamento do Criador e o universo como um relacionamento entre duas entidades
essencialmente diferentes e incomparáveis, e considera a própria criação como um evento e
não como um processo (ver capítulo 22). A criação, então, é uma ideia que transcende a
causalidade; nos diz como é que existe causalidade. Em vez de explicar o mundo em
categorias emprestadas da natureza, faz alusão ao que tornou a natureza possível, a saber,
um ato da liberdade de Deus.
A Bíblia aponta para uma maneira de entender o mundo do ponto de vista de Deus. Não trata
de ser como ser, mas de ser como criação . Sua preocupação não é com ontologia
ou metafísica, mas com história e meta-história ; sua preocupação é com o tempo e não com
o espaço.
A ciência prossegue por meio de equações; a Bíblia se refere ao único e ao sem
precedentes. O fim da ciência é explorar os fatos e processos da natureza; o fim da religião é
entender a natureza em relação à vontade de Deus. A intenção do pensamento científico é
responder às perguntas do homem e satisfazer sua necessidade de conhecimento. A intenção
última do pensamento religioso é responder a uma pergunta que não é do homem e
satisfazer a necessidade de Deus pelo homem.
Filosofia é uma tentativa de descobrir a essência das coisas, os princípios do ser; A religião
bíblica é uma tentativa de ensinar sobre o Criador de todas as coisas e o conhecimento de
Sua vontade. A Bíblia não pretende nos ensinar princípios de criação ou redenção. Veio nos
ensinar que Deus está vivo, que Ele é o Criador e Redentor, Professor e Legislador. A
preocupação da filosofia é analisar ou explicar, a preocupação da religião é purificar e
santificar. A religião está enraizada em uma tradição específica ou em um insight pessoal; a
filosofia clássica afirma ter suas raízes em premissas universais.
A especulação começa com conceitos , a religião bíblica começa com eventos . A vida da
religião é dada não na preservação mental de idéias, mas em eventos e insights, em algo que
acontece com o tempo.
UM DESAFIO À FILOSOFIA
A religião, repetimos, é uma fonte única de insight. Isso implica que as idéias e demandas da
religião não podem ser completamente sincronizadas com as conclusões de qualquer
sistema particular de filosofia, nem ser adequadamente expressas em termos de ciência. O
que é significativo na religião não é necessariamente significativo na filosofia e vice-versa. O
papel da religião é ser um desafio para a filosofia , não apenas um objeto para exame.
Há muito que a filosofia poderia aprender com a Bíblia. Para o filósofo, a idéia do bem é a
mais exaltada. Mas, para a Bíblia, a idéia do bem é penúltima; não pode existir sem o santo. O
sagrado é a essência, o bem é sua expressão. Coisas criadas em seis dias Ele considerou bom ,
o sétimo dia em que Ele santificou . 9

O Eutífro de Platão levantou uma questão que, sob várias formas, era frequentemente
debatida no escolasticismo cristão e maometano, a saber: os deuses amam o bem porque é
bom ou é bom porque os deuses o amam? Tal problema só poderia surgir quando os deuses
e os bons eram considerados duas entidades diferentes, e onde era dado como certo que os
deuses nem sempre agem de acordo com os mais altos padrões de bondade e justiça. Para
indagar: um ato particular é santo (ordenado por ou querido por Deus) porque é bom ou é
bom porque é santo (ordenado por ou querido por Deus)? seria tão sem sentido quanto
perguntar: um ponto particular dentro do círculo é chamado de centro devido à sua
equidistância da periferia ou é sua equidistância da periferia devido ao fato de ser o centro? A
dicotomia entre o santo e o bem é estranha ao espírito dos grandes profetas. Para o
pensamento deles, a justiça de Deus é inseparável do Seu ser.
As críticas sábias sempre começam com a autocrítica. A filosofia também precisa de
constante exame e purificação. A razão para testar a religião está testando a si
mesma; examinar suas próprias premissas, escopo e poder; provar se avançou o suficiente
para compreender as idéias dos profetas. De fato, há idéias do espírito para as quais nossa
razão chega tarde, muitas vezes tarde demais, depois de tê-las rejeitado.
Para ter sucesso, a filosofia da religião deve ter em mente a singularidade e as limitações da
filosofia e da religião.
A religião, como veremos, vai além da filosofia, e a tarefa da filosofia da religião é levar a
mente ao cume do pensamento; criar em nós a compreensão de por que os problemas da
religião não podem ser apreendidos em termos de ciência; nos permitir perceber que a
religião tem seu próprio escopo, perspectiva e objetivo; nos expor à majestade e ao mistério,
na presença da qual a mente não é surda àquilo que transcende a mente. Um dos objetivos
da filosofia da religião é estimular uma reavaliação crítica da filosofia da perspectiva da
religião .
A ADORAÇÃO DA RAZÃO
É impróprio definir filosofia da religião como uma tentativa de fornecer uma base racional
para a religião, porque essa definição identifica implicitamente a filosofia com o
racionalismo. Se o racionalismo fosse o sinal de um filósofo, Platão, Schelling, William James
e Bergson teriam que ser desqualificados como filósofos. O racionalismo, segundo Dewey,
“exclui a fé religiosa em qualquer sentido distinto. Permite apenas uma crença que é
inferência racional inatacável do que sabemos absolutamente. ” 10

O racionalismo extremo pode ser definido como o fracasso da razão em entender a si mesmo,
sua essência alógica e seus objetos meta-lógicos. Devemos distinguir entre ignorância e
senso de mistério, entre sub-racional e super-racional. O caminho para a verdade é um ato
da razão; o amor da verdade é um ato do espírito. Todo ato de raciocínio tem uma referência
transcendente ao espírito. Nós pensamos. razão, porque lutamos pelo espírito. Pensamos na
razão porque temos certeza do significado. A razão murcha sem espírito, sem a verdade
sobre toda a vida.
A razão tem sido frequentemente identificada com o cientificismo, mas a ciência é incapaz
de nos dar toda a verdade sobre toda a vida. Precisamos de espírito para saber o que fazer
com a ciência. A ciência lida com as relações entre as coisas dentro do universo, mas o
homem é dotado da preocupação do espírito, e o espírito lida com a relação entre o universo
e Deus. A ciência busca a verdade sobre o universo; o espírito busca a verdade que é maior
que o universo. O objetivo da razão é a exploração e verificação de relações objetivas; O
objetivo da religião é a exploração e verificação das últimas relações pessoais.
Um desafio não é o mesmo que um confronto, e divergência não significa conflito. É parte da
condição humana viver em polaridades. É uma implicação da nossa crença em um Deus estar
certo de que, em última análise, a razão e a revelação são derivadas da mesma fonte. No
entanto, o que é um na criação nem sempre é um na nossa situação histórica. É um ato de
redenção quando nos é concedido descobrir a unidade superior da razão e da revelação.
A equação amplamente pregada do judaísmo e do racionalismo é uma evasão intelectual das
profundas dificuldades e paradoxos da fé, crença e observância judaicas. A compreensão do
homem sobre o que é razoável está sujeita a alterações. Para os filósofos romanos, não
parecia razoável abster-se do trabalho um dia por semana. Também não parecia razoável
para certos proprietários de plantações importar escravos da África para o Novo
Mundo. Com que estágio do desenvolvimento da razão a Bíblia deveria ser compatível?
Apesar de toda a apreciação da razão e nossa gratidão por ela, a inteligência do homem nunca
foi considerada na tradição judaica como sendo auto-suficiente. “Confie no Senhor de todo o
seu coração e não confie no teu próprio entendimento” (Provérbios 3: 5). “E tu te sentiste
seguro na tua maldade, disseste: ninguém me vê; a tua sabedoria e o teu conhecimento te
desviaram, e disseste no teu coração: Eu sou, e não há mais ninguém além de mim ”(Isaías
47:10).

Alguns dos pressupostos básicos do judaísmo não podem ser completamente justificados em
termos da razão humana. Sua concepção da natureza do homem como tendo sido criada à
semelhança de Deus, sua concepção de Deus e história, da eleição de Israel, da oração e até
da moralidade, desafia algumas das realizações às quais chegamos honestamente ao fim de
nossa análise e escrutínio. As exigências da piedade são um mistério diante do qual o homem
é reduzido à reverência e ao silêncio. Reverência, amor, oração, fé, vão além dos atos de
11

raciocínio superficial.
Portanto, não devemos julgar a religião exclusivamente do ponto de vista da razão. A religião
não está dentro, mas está além dos limites da mera razão. Sua tarefa não é competir com a
razão, mas ajudar-nos onde a razão dá apenas uma ajuda parcial. Seu significado deve ser
entendido em termos compatíveis com o sentido do inefável .
O sentido do inefável é um esforço intelectual fora da profundidade da razão; é uma fonte de
insight cognitivo. Portanto, não há rivalidade entre religião e razão, desde que tenhamos
consciência de suas respectivas tarefas e áreas. O emprego da razão é indispensável para a
compreensão e adoração de Deus, e a religião murcha sem ela. As idéias da fé são gerais,
vagas e precisam de conceituação para serem comunicadas à mente, integradas e trazidas à
consistência. Sem razão, a fé se torna cega. Sem razão, não saberíamos como aplicar as idéias
da fé às questões concretas da vida. O culto à razão é arrogância e trai a falta de inteligência. A
rejeição da razão é covardia e trai a falta de fé.
IDEIAS E EVENTOS
O assunto de uma filosofia do judaísmo é o judaísmo. Mas que tipo de entidade é o
judaísmo? É um conjunto de idéias ou princípios, uma doutrina? Tentar destilar a Bíblia,
repleta de vida, drama e tensão, para uma série de princípios seria como tentar reduzir uma
pessoa viva a um diagrama. O êxodo do Egito, ou a revelação no Sinai, ou a difamação de
Miriã contra Moisés, é um evento, não uma idéia; um acontecimento, não um princípio. Por
outro lado, quem tentaria reduzir a Bíblia a um catálogo de eventos, a uma história sagrada,
falhará igualmente. O Senhor é Um, ou Justiça, a justiça que você buscar , é uma idéia ou norma
e não uma ocorrência. Uma filosofia do judaísmo, portanto, é uma filosofia de idéias e eventos .
Moses Maimonides (1135-1204) resume a essência do judaísmo em treze artigos de fé: 1. A
existência de Deus; 2. Sua unidade; 3. Sua incorporalidade; 4. a eternidade dele; 5. Somente
Deus, o objeto de adoração; 6. Revelação através de Seus Profetas; 7. A preeminência de
Moisés entre os Profetas; 8. Todo o Pentateuco foi divinamente dado a Moisés; 9. A
imutabilidade da lei da Torá; 10. O conhecimento de Deus dos atos e pensamentos do
homem; 11. Recompensa e punição; 12. A vinda do Messias; 13. ressurreição. Com exceção
de 6, 8, 12, 13, esses artigos se referem a princípios ou ao domínio das idéias, e não a eventos
ou ao domínio da história. Significativamente, a forma pela qual esses artigos se tornaram
populares e até incorporados em muitos livros de oração começa com as palavras: "Eu
acredito firmemente nisso ..."
O credo maimonidiano é baseado na premissa de que é nas idéias que a realidade suprema
se manifesta. Para o homem bíblico, porém, é nos eventos, não apenas nas idéias que a
realidade suprema se manifesta. A substância do judaísmo é dada tanto na história quanto
no pensamento. Aceitamos idéias e recordamos eventos. O judeu diz: "Eu acredito", e é dito:
"Lembre-se!" Seu credo contém um resumo de idéias básicas, bem como um resumo de
eventos marcantes. 12

Para a mente judaica, o entendimento de Deus não é alcançado ao se referir de maneira grega
às qualidades atemporais de um Ser Supremo, às idéias de bondade ou perfeição, mas ao
sentir os atos vivos de Sua preocupação, à sua atenção dinâmica ao homem. . Não falamos de
Sua bondade em geral, mas de Sua compaixão pelo homem individual em uma situação
específica. A bondade de Deus não é uma força cósmica, mas um ato específico de
compaixão. Nós não sabemos como é, mas como acontece . Para citar um exemplo, “o rabino
Meir disse: Quando um ser humano sofre, o que diz a Shechiná ? Minha cabeça está pesada
demais para mim; Meu braço está muito pesado para mim. E se Deus está tão entristecido
com o sangue dos ímpios que é derramado, quanto mais com o sangue dos justos. ” Esta 13

declaração, citada na Mishnah imediatamente após a descrição da pena capital, tem como
objetivo transmitir o quão doloroso é para Deus quando Seus filhos sofrem, mesmo que seja
um criminoso que é punido por seu crime.

Diferentes são os problemas quando aceitamos essa abordagem. O problema não é mais
como conciliar a Bíblia com a visão de Aristóteles do universo e do homem, mas: qual é a
visão bíblica do universo e a posição do homem nele? Como devemos nos entender em
termos de pensamento bíblico? O problema é: Quais são as questões fundamentais da
existência que a religião vem responder? Quais são as idéias que um homem religioso
representa?
A FILOSOFIA DO JUDAISMO
O termo judaísmo na frase filosofia do judaísmo pode ser usado como um objeto ou como um
sujeito . No primeiro sentido, a filosofia do judaísmo é uma crítica ao judaísmo; O judaísmo
como tema ou objeto de nosso exame. No segundo sentido, a filosofia do judaísmo tem um
significado comparável ao significado de uma frase como a filosofia de Kant ou a filosofia de
Platão; O judaísmo como fonte de idéias que estamos tentando entender.
Agora o judaísmo é uma realidade, um drama na história, um fato, não apenas um sentimento
ou uma experiência. Alega que certos eventos extraordinários ocorreram nos quais se
originou. Representa certos ensinamentos básicos. Alega ser o compromisso de um povo
com Deus. Entender o significado desses eventos, ensinamentos e compromissos é a tarefa
de uma filosofia do judaísmo.
Como já foi dito, nosso método neste livro é principalmente, embora não exclusivamente, o
de autocompreensão, e o termo judaísmo no subtítulo do livro é usado principalmente como
sujeito.
NOTAS DO CAPÍTULO 1
1
Uma característica compartilhada pela filosofia e pela ciência é o fato de que cada resposta
gera novas perguntas. A diferença parece ser que os problemas da filosofia são perenes e
nenhuma de suas respostas permanece incontestada, pois cada resposta precisa ser uma
resposta total.
2
O autoconhecimento ou a autocompreensão tem sido, de várias formas, a preocupação
central da filosofia (a primeira das três máximas inscritas na frente do templo de Apolo em
Delfos era "conheça a si mesmo"). Sua importância foi enfatizada por Sócrates e Platão,
veja Charmides 167B-172C; Akibiadet 133B; Xenófanes, Memorabilia IV, 2, 24.
Aristóteles, Metaphyaica 1072B 20. Compare Plotinus, Enneads , IV, 4.2; Theologie des
Aristotle , traduzido por Dieterici, Leipzig, 1893, p. 18. Toda filosofia é "auto-observação
espiritual" (JF Fries, Syatem der Metapbysik , 1824, p. 110), "a ciência da experiência interior"
(Th. Lipps, Grundtataachen des Seelenlebens , p. 3), "o eu reconhecimento do espírito humano
”(Kuno Fisher, Geschichte der Philosophie , vol. I, ed, 5, p. 11); compare Max Scheler, Die
Transzendentale e Die Paychologyche Methode , Leipzig. 1922, p. 179. Na literatura judaica, a
definição de filosofia como auto-entendimento é citada por Bahya Ibn Paquda, Os Deveres do
Coração, shaar habehinah , cap. 5, ed. Haymson, vol. II, p. 14. Compare Joseph Ibn
Saddik, Haolam Haqaton , ed. S. Horovitz, Breslau, 1903, começo. Ver Maimonides, The Guide
of the Perplexed 1, 53. Segundo Hermann Cohen, Religion der Vernunft , Frankfurt a. M., 1929,
p. 23, a autoconhecimento do homem é a fonte mais profunda da religião. Ditados sobre
autoconhecimento na literatura hebraica são coletados em IL Zlotnik, Maamarim , Jerusalém,
1939, pp. 17-26.
3
AJ Heschel, O Homem Não Está Sozinho , Nova York, 1951, p. 55
4
FP Ramsey, The Foundations of Mathematica and Other Logical Essays , Nova Iorque, 1950,
p. 269
5
Kant, Critique of Pure Reason , prefácio da primeira edição, traduzido por JMD, Meikeljohn,
Nova York, 1899, p. xl, note.
6
Sbabbat 51a.
7
Ver Julius Guttmann, " Religion and Wissenscbaft im Mittelalterlichen und im Modernen
Denken " em Featachrift zum 50 Jaehrigen Bestehen der Hochschdule loor die Wiuentchaft des
Judentums , Berlin, 1922, p. 147f.
8
Ver AJ Heschel, Die Prophetie , Cracóvia, 1936, p. 15. As categorias nas quais o homem bíblico
concebeu Deus, o homem e o mundo são tão diferentes dos pressupostos da metafísica sobre
os quais se baseia a maior parte da filosofia ocidental que certas idéias que são significativas
na mente bíblica parecem não ter sentido para o homem. Mente grega. Seria uma conquista
de primeira magnitude reconstruir a natureza peculiar do pensamento bíblico e explicar sua
divergência em relação a todos os outros tipos de pensamento. Isso abriria novas
perspectivas para a compreensão de questões morais, sociais e religiosas e enriqueceria todo
o nosso pensamento. O pensamento bíblico pode ter um papel a desempenhar na formação
de nossas visões filosóficas sobre o mundo.
9
AJ Heschel, The Sabbath , Nova York, 1951, p. 75
10
Dewey, uma fé comum , New Haven, 1934.
11
Veja AJ Heschel, Procura do homem por Deus , Nova York, 1954, p. 104
12
Veja O homem não está sozinho , p. 163
13
Mishnah Sinédrio , VI, 5.

2
Maneiras de Sua Presença
A BÍBLIA É AUSENTE
Ao ler as obras da filosofia ocidental, Platão ou Aristóteles, os estóicos ou os neoplatonistas,
que encontramos repetidamente. O espírito de seu pensamento paira sobre todas as páginas
da escrita filosófica. No entanto, procuraríamos em vão a Bíblia nos recessos da metafísica
ocidental. Os profetas estão ausentes quando os filósofos falam de Deus.
O que queremos dizer com ausência da Bíblia na história da filosofia não são referências ou
citações; passagens das escrituras ocasionalmente encontram admissão. O que queremos
dizer é o espírito, o modo de pensar, o modo de olhar o mundo, a vida; as premissas básicas
da especulação sobre ser, sobre valores, sobre significado. Abra qualquer história da
filosofia. Thales ou Parmênides estão lá; mas Isaías ou Elias, Jó ou Eclesiastes estão
representados? O resultado dessa omissão é que as premissas básicas da filosofia ocidental
derivam do pensamento grego e não do pensamento hebraico.
Existem duas abordagens na Bíblia que prevalecem no pensamento filosófico. A primeira
abordagem afirma que a Bíblia é um livro ingênuo, é poesia ou mitologia. Bonito como é, não
deve ser levado a sério, pois em seu pensamento é primitivo e imaturo. Como você pode
compará-lo com Hegel ou Hobbes, John Locke ou Schopenhauer? O pai da depreciação da
relevância intelectual da Bíblia é Spinoza, que pode ser responsabilizado por muitas visões
distorcidas da Bíblia na subsequente filosofia e exegese.
A segunda abordagem afirma que Moisés ensinou as mesmas idéias que Platão ou
Aristóteles, que não há discordância séria entre os ensinamentos dos filósofos e os
ensinamentos dos profetas. A diferença, afirma-se, é apenas uma expressão e
estilo. Aristóteles, por exemplo, usava termos inequívocos, enquanto os profetas
empregavam metáforas. O pai dessa abordagem é Philo. A teologia foi dominada pela teoria
de Philo, enquanto a filosofia geral adotou a atitude de Spinoza.
uma

Há uma história de um repórter filhote que foi enviado para cobrir um casamento. Quando
ele voltou, disse desanimado que não tinha história porque o noivo não apareceu….
É verdade que se procura em vão um vocabulário filosófico na Bíblia. Mas o estudante sério
não deve procurar o que ele já tem. As categorias nas quais a reflexão filosófica sobre a
religião vem operando são derivadas de Atenas e não de Jerusalém. O judaísmo é um
confronto com a Bíblia, e uma filosofia do judaísmo deve ser um confronto com o pensamento
da Bíblia.
MEMÓRIA E INSIGHT
A Bíblia não é a única obra em que se preocupa com os problemas religiosos finais. Em muitas
terras e em muitas idades, o homem tem procurado por Deus. No entanto, o período bíblico
é o grande capítulo da história da luta do homem com Deus (e da luta de Deus com o
homem). E, assim como em um estudo de valores morais, não podemos ignorar a grande
tradição da filosofia moral, não devemos, em nossa luta com questões religiosas, ignorar as
idéias acumuladas na Bíblia. É, portanto, a era da Bíblia, mil anos de iluminação, para a qual
nos voltaremos em busca de orientação.
O que nós e o povo da Bíblia temos em comum? As ansiedades e alegrias de viver; o
sentimento de admiração e a resistência a ele; a consciência do Deus oculto e momentos de
desejo de encontrar um caminho para ele.
O pensamento central do judaísmo é o Deus vivo. É a perspectiva da qual todas as outras
questões são vistas. E o problema supremo em qualquer filosofia do judaísmo é: quais são os
motivos para o homem crer na realidade do Deus vivo? O homem é capaz de descobrir tais
fundamentos? Antes de tentar lidar com esse problema, é necessário indagar: é compatível
com o espírito do judaísmo sustentar que um homem deve buscar uma abordagem de Deus,
que, a menos que O busquemos, podemos deixar de encontrá-lo? Existe uma maneira de
desenvolver sensibilidade a Deus e apego à Sua presença?
Qual foi a fonte da fé do povo nos tempos bíblicos? É correto definir sua fé como um ato de
confiar em uma doutrina herdada? É correto dizer que por mais de três mil anos os judeus
tiveram acesso a apenas uma fonte de fé, a saber, os registros de revelação? É verdade que o
judaísmo derivou sua vitalidade religiosa exclusivamente da lealdade aos eventos que
ocorreram nos dias de Moisés e da obediência às Escrituras nas quais esses eventos são
registrados? Tal suposição parece ignorar a natureza do homem e sua fé. Um grande evento,
por mais milagroso que seja, se aconteceu apenas uma vez, dificilmente poderá dominar para
sempre a mente do homem. A mera lembrança de um evento como esse não é
suficientemente poderosa para conter em seu feitiço a alma do homem com sua inquietação
e vitalidade constantes. Houve uma luta por uma visão da qual a fé judaica extraiu sua força.
A Bíblia contém não apenas palavras dos profetas, mas também palavras que vieram de
lábios não proféticos. Embora alega transmitir palavras de inspiração, também contém
palavras de busca e preocupação humanas. Existe na Bíblia a palavra de Deus para o homem,
mas também a palavra do homem para Ele e sobre ele; não apenas a revelação de Deus, mas
a visão do homem. A experiência profética está muito longe do alcance do homem
moderno. Mas os profetas também eram humanos; as experiências proféticas foram
momentos únicos em suas vidas além dos quais estava o encontro com o bem e o mal, luz e
trevas, vida e morte, amor e ódio - questões que são tão reais hoje quanto eram três mil anos
atrás. Essas percepções refletem o pensamento humano, não apenas profético. É
particularmente na chamada literatura da sabedoria, como os livros de Jó, Provérbios,
Eclesiastes, bem como o Livro dos Salmos, que a espontaneidade do homem bíblico
encontrou sua expressão.
A preocupação por Deus continuou ao longo dos tempos e, para entender o judaísmo,
devemos perguntar sobre o caminho e o espírito dessa preocupação também na história
judaica pós-bíblica.
Duas fontes de pensamento religioso nos são dadas: memória (tradição)
e insight pessoal . Devemos confiar em nossa memória e devemos nos esforçar para obter
novas idéias. Nós ouvir da tradição, nós também compreender a nossa própria busca. Os
profetas apelam ao poder espiritual do homem: “Saiba, portanto, neste dia, e coloque-o no
seu coração, que o Senhor é Deus no céu acima e na terra abaixo; não há outro
”(Deuteronômio 4:39). O salmista nos chama: "Gosto e vê que o Senhor é bom" (34:
9). Como alguém sabe? Como se prova?
1

Uma alusão à necessidade da busca de cada homem por Deus foi vista de maneira homilética
no Cântico do Mar Vermelho:

Este é o meu Deus, e eu O glorificarei;


O Deus do meu pai, e eu o exaltarei.
Êxodo 15: 2

A partir de sua própria percepção, uma pessoa deve primeiro chegar ao entendimento: Este
é o meu Deus, e eu o glorificarei , e subsequentemente ele alcançará a percepção de que Ele
é o Deus do meu pai, e eu o exaltarei. 2

A BUSCA DO HOMEM POR DEUS


Ofertas queimadas, sacrifícios são uma parte importante da piedade bíblica. E, no entanto,
“desejo misericórdia, e não sacrifício, entendimento (conhecimento) de Deus, em vez de
holocaustos.” (Oséias 6: 6). Existe um caminho que leva à compreensão. “ Ye vai buscar o
Senhor teu Deus, e tu hás de encontrá-lo, se tu o buscam com todo o teu coração e toda a alma
a tua” (Deuteronômio 04:29; Jeremias 29:13).
“Se um homem lhe disser, trabalhei e não o encontrei, não acredite nele. Se ele diz, eu não
trabalhei, mas ainda o encontrei, não acredite nele. Se ele disser: trabalhei e achei, você pode
acreditar nele. ” É verdade que, ao procurá-Lo, somos auxiliados por Ele. Mas a iniciativa e
3

a intensidade de nossa busca estão ao nosso alcance. “Se você pede entendimento, e levanta
a sua voz para discernimento; se você a procurar como prata e procurá-la como
esconderijos; então entenderás o temor e o temor do Senhor e encontrarão o conhecimento
de Deus. ” “ Tudo está dentro do poder do céu, exceto o temor e o medo do céu. ”
4 5

A Bíblia tem várias palavras para o ato de buscar a Deus ( darash, bakkesh, shahar ). Em
algumas passagens, essas palavras são usadas no sentido de indagar sobre Sua vontade e
preceitos (Salmos 119: 45, 94,155). No entanto, em outras passagens, essas palavras
significam mais do que o ato de fazer uma pergunta, cujo objetivo é obter
informações. Significa dirigir-se diretamente a Deus com o objetivo de se aproximar
Dele; envolve um desejo de experiência e não uma busca por informações. Buscá-lo inclui o
6

fato de guardar Seus mandamentos, mas vai além. “Buscai o Senhor e Sua força, busquem o
Seu rosto continuamente” (Salmos 105: 4). De fato, orar não significa apenas
procurar ajuda ; também significa procurá- lo .
O mandamento “não é muito difícil para ti, nem está longe. Não está no céu, para que você
diga: 'Quem subirá por nós ao céu e trará até nós, para que possamos ouvi-lo e fazê-lo?' Além
disso, além do mar, dirias: 'Quem passará por cima do mar por nós, e trará para nós, para
que possamos ouvi-lo e fazê-lo?' Mas a palavra está muito perto de ti, na tua boca e no teu
coração, para que a possas fazer ”(Deuteronômio 30: 11-14). No entanto, as mesmas
palavras não podem ser ditas em relação a Deus. “Eu sou um Deus próximo, diz o Senhor, e
não um Deus distante?” (Jeremias 23:23). De fato, há momentos em que Ele está próximo e
pode ser encontrado, e há momentos em que Ele está longe e se escondendo do
homem. “Buscai ao Senhor enquanto Ele pode ser encontrado; invocai-o enquanto ele está
perto” (Isaías 55: 6). Nem todas as pessoas da Bíblia estão satisfeitas com a consciência do
b

poder e da presença de Deus. Existem aqueles que "O buscam, que buscam a tua face, ó Deus
de Jacó" (Salmos 24: 6). "Uma coisa pedi ao Senhor, que procurarei, para permanecer na casa
do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor " (Salmos 27:
4). "Quanto a mim, a proximidade de Deus é o meu bem" (Salmos 73:28).
No Sinai, segundo a lenda, Israel não se contentava em receber as palavras divinas através
de um intermediário. Eles disseram a Moisés: “Queremos ouvir as palavras de nosso rei
dEle…. Queremos ver nosso rei. ” 7

“PROCURA MEU ROSTO”


O desejo por Deus nunca diminuiu na alma judaica. Apesar do aviso: "Não podes ver o meu
rosto, porque o homem não me verá e viverá" (Êxodo 32:20), houve muitos que persistiram
em um anseio, ao qual Jehuda Halevi deu uma expressão inesquecível. “Ver o rosto do meu
rei é meu único desejo. Não tenho medo senão Dele; Eu o reverencio apenas. Gostaria de vê-
lo em um sonho! Eu continuaria dormindo por toda a eternidade. Gostaria que eu visse Seu
rosto dentro do meu coração! Os meus olhos nunca pediriam para ver mais nada. ” 8

Como um coração anseia pelas correntes de água,


assim minha alma anseia por Ti, ó Deus.
Minha alma tem sede de Deus, o Deus vivo.
Quando irei ver a face do Senhor?
Salmos 42: 2f

Como Moisés que implorou: “Mostra-me, peço, Tua glória” (Êxodo 33:18), o salmista ora:

Ó Deus, Tu és o meu Deus, sinceramente te procurarei.


Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja,
em uma terra seca e cansada, onde não há água.
Por isso te procurei no santuário,
para ver a tua força e a tua glória.
Salmos 63: 2-3

Com a minha alma te desejo de noite;


Sim, com o meu espírito dentro de mim, eu Te busquei seriamente.
Isaías 26: 9

Naqueles dias e naquele tempo, diz o Senhor:


Os filhos de Israel virão,
eles e os filhos de Judá juntos;
Seguirão chorando
e buscarão ao Senhor seu Deus.
Jeremias 50: 4

Deus está esperando que o homem o busque. “O Senhor olhou do céu para os filhos do
homem, para ver se havia algum homem de entendimento que O buscava” (Salmos 14:
2). “Em teu favor, meu coração disse: 'Buscai a minha face'” (Salmos 27: 8). E nos Dias de
Pavor, recordamos com humildade: "Até o dia da morte do homem, esperas por ele" para
voltar.
Por outro lado, sempre se depara com a possibilidade de falha, com o perigo de ficar preso
em lofts sem luz, sem movimento. Existem aqueles “cujas ações não os permitirão retornar
ao seu Deus…. Com o seu rebanho e o seu rebanho, irão procurá-lo, mas não o
encontrarão; Ele se retirou deles ”(Oséias 5: 4, 6).
Devemos continuar tentando voltar, cuidar dele, buscá-lo. É um ato excepcional da graça
divina que aqueles que não se importam com Ele descubram repentinamente que estão perto
dele. “Eu estava pronto para ser procurado por aqueles que não me pediram; Eu estava
pronto para ser encontrado por aqueles que não me procuravam. Eu disse: 'Aqui estou eu,
aqui estou eu', para uma nação que não invocou o meu nome ”(Isaías 65: 1). Em suas últimas
palavras, Davi advertiu seu filho Salomão: “Se você o procurar, ele será encontrado de ti; mas,
se o abandonar, ele te rejeitará para sempre ”(1 Crônicas 28: 9).
TRÊS CAMINHOS
Como alguém O busca? Como se encontra neste mundo, dentro da própria existência humana
e resposta a este mundo, caminhos que levam à certeza de Sua presença?
A literatura judaica contém muitas indicações de uma consciência de nossos problemas, mas
essa consciência raramente é explicada. Geralmente, o judeu do passado evitava revelar sua
preocupação e experiência religiosa pessoal e, como resultado, sua reticência era
frequentemente confundida com apatia espiritual. A verdade é que a alma nunca ficou em
silêncio. Até o século XIX, havia poucos Talmudistas notáveis que não eram estimulados, por
exemplo, pelos desejos e meditações do Zohar . Sob a superfície calma do credo e da lei, as
almas estavam agitadas. Nossa tarefa, então, é ficar abaixo da tranquilidade do credo e da
tradição, a fim de ouvir os ecos da luta livre e recuperar as idéias vivas.
Existem três pontos de partida da contemplação sobre Deus; três trilhas que levam a ele. A
primeira é a maneira de sentir a presença de Deus no mundo, nas coisas; a segunda é a
9

maneira de sentir Sua presença na Bíblia; a terceira é a maneira de sentir Sua presença em
obras sagradas. Essas três maneiras são sugeridas em três passagens bíblicas:

Erga os olhos para o alto e veja: Quem os criou?


Isaías 40:26

Eu sou o Senhor teu Deus.


Êxodo 20: 2

Faremos e ouviremos.
Êxodo 24: 7

Essas três maneiras correspondem em nossa tradição aos principais aspectos da existência
religiosa: adoração, aprendizado e ação. Os três são um, e devemos seguir todos os três
caminhos para chegar ao único destino. Pois é isso que Israel descobriu: o Deus da natureza
é o Deus da história, e a maneira de conhecê-Lo é fazer a Sua vontade.
Recapturar as idéias encontradas nessas três maneiras é ir às raízes da experiência bíblica
da vida e da realidade; significa mergulhar no drama religioso de Israel, compreender o que
permitiu que Jó dissesse:

Quanto a mim, sei que meu Redentor vive,


que Ele testemunhará finalmente sobre o pó.
Depois que minha pele for destruída,
da minha carne verei a Deus.
Meus próprios olhos contemplarão, não os de outros.
Meu coração desmaia dentro de mim.
Jó 19: 25-27

Como o homem atinge um estágio de pensamento em que é capaz de dizer: "Da minha carne
verei a Deus"?
Cada uma das três partes deste livro, portanto, é dedicada a uma maneira específica.
NOTAS DO CAPÍTULO 2
1
O verbo ta'am sempre significa perceber, provar. O substantivo também é usado no mesmo
sentido de julgamento. Em nossa passagem, Targum traduz a palavra ta'amu com “realize”,
a Septuaginta com “gosto”. Compare o Comentário ad locum de Seforno , “gosto, ou seja, sinta
com o seu senso e veja com os olhos da razão que Deus é bom”.
2
Veja Rabi Isaiah Horowitz, Shne Luhot Haberith , p. 40a Compare também O homem não está
sozinho , p. 164, n. 2)
3
Veja Megillah 6b.
4
Provérbios 2: 3-4
5
Berachot 33b
6
Para citar apenas alguns exemplos: “Ele buscou o Senhor de todo o coração” (1 Crônicas 22:
9). "No dia da minha angústia, busco o Senhor" (Salmos 77: 3). "Busquei o Senhor, e ele me
respondeu e me livrou de todos os meus medos" (Salmos 34: 5). Buscar o Senhor não é
sinônimo de petição ou obediência à Sua lei. “Felizes os que guardam o seu testemunho, que
O buscam com todo o coração.” “Com todo o meu coração te busquei; Não me deixes enganar
pelos teus mandamentos ”(Salmos 119: 2,10).
7
Mechilta a Êxodo 19: 9.
8
Veja Poemas selecionados de Jehudah Halevi , traduzido por Ninah Salaman, Filadélfia, 1928,
pp. 115-166.
9
Dizem ao homem: “Olhe para os céus e veja; eis que as nuvens são mais altas que ti ”(Jó 35:
5); ver Amós 5: 6, 8-9. “Medite sobre as obras do Senhor, pois assim você o conhecerá por
cuja palavra o mundo existe.” Citado em nome do rabino Meir por
Maimonides, Responsa ed. A. Freimann, Jerusalém, 1934, 347, p. 312. Ver também Sabedoria,
de Salomão 13: 1ss; Baruque 54: 17f. De acordo com lendas antigas, Abraão descobriu a
verdadeira fé meditando sobre a natureza, ver Louis Ginzberg, The Legends of the Jewish ,
vol. V, p. 210, n. 16. Compare também a p. 112 deste livro. De acordo com Bahya, Os Deveres
do Coração , ed. Moses Haymson, vol. Eu p. 3, é nosso dever “meditar nas maravilhas
manifestadas em Suas criações, para que elas nos sirvam como evidência Dele”.

3
O sublime
O GRANDE PRÊMIO
Como alguém encontra o caminho para a consciência de Deus através da contemplação do
mundo aqui e agora? Para entender a resposta bíblica, devemos tentar determinar o que o
mundo significa e compreender as categorias em que a Bíblia vê o mundo: sublime,
maravilha, mistério, reverência e glória.
Levante seus olhos e veja . Como um homem levanta os olhos para ver um pouco mais alto
que ele? A grande premissa da religião é que o homem é capaz de se superar; que o homem
que faz parte deste mundo possa entrar em um relacionamento com Ele que é maior que o
mundo; que o homem possa levantar a mente e se apegar ao absoluto; aquele homem que é
condicionado por uma multiplicidade de fatores é capaz de viver com demandas
incondicionadas. Como alguém se eleva acima do horizonte da mente? Como alguém se
liberta das perspectivas do ego, grupo, terra e idade? Como alguém encontra um caminho
neste mundo que levaria a uma consciência dAquele que está além deste mundo?
PODER, BELEZA, GRANDEUR
Pequeno é o mundo em que a maioria de nós presta atenção, e limitada é a nossa
preocupação. O que vemos quando vemos o mundo? Existem três aspectos da natureza que
chamam nossa atenção: seu poder , sua beleza e sua grandeza . Consequentemente, existem
três maneiras pelas quais podemos nos relacionar com o mundo - podemos explorá-lo,
podemos desfrutar, podemos aceitá-lo com admiração. Na história da civilização, diferentes
aspectos da natureza atraíram o talento do homem; ora seu poder, ora sua beleza e ora sua
grandeza atraíram sua mente. Nossa era é aquela em que a utilidade é considerada o
principal mérito da natureza; em que a obtenção do poder, a utilização de seus recursos é
considerada o principal objetivo do homem na criação de Deus. De fato, o homem se tornou
primariamente um animal produtor de ferramentas, e o mundo agora é uma gigantesca caixa
de ferramentas para a satisfação de suas necessidades.
Os gregos aprenderam a fim de compreender. Os hebreus aprenderam para reverenciar. O
homem moderno aprende para usar. Para Bacon, devemos a formulação " conhecimento é
poder ". É assim que as pessoas são instadas a estudar: conhecimento significa sucesso. Não
sabemos mais como justificar qualquer valor, exceto em termos de conveniência. O homem
está disposto a se definir como "um buscador do grau máximo de conforto para o gasto
mínimo de energia". Ele iguala valor ao que existe. Ele sente, age e pensa como se o único
objetivo do universo fosse satisfazer suas necessidades. Para o homem moderno tudo parece
calculável; tudo redutível a uma figura. Ele tem uma fé suprema nas estatísticas e abomina a
idéia de um mistério. Obstinadamente, ele ignora o fato de que todos estamos cercados por
coisas que apreendemos, mas que não podemos compreender; que mesmo a razão é um
mistério para si mesma. Ele tem certeza de sua capacidade de explicar todo o
mistério. Apenas uma geração atrás, ele estava convencido de que a ciência estava a caminho
de resolver todos os enigmas do mundo. Nas palavras de um poeta:

Tudo o que há para saber


Que saberemos algum dia.

O conhecimento religioso é considerado como a forma mais baixa de conhecimento. A mente


humana, segundo Comte, passa por três estágios de pensamento: o teológico, o metafísico e
o positivo. A partir do conhecimento religioso primitivo, a metafísica evoluiu gradualmente,
para ser seguida pelo método científico positivo do pensamento. O homem moderno, que
alcançou o estágio final, evita todo apelo a entidades não observáveis. No lugar de Deus, a
humanidade - o grande tre - se torna o supremo objeto de adoração. No entanto, o que é
considerado uma conquista da perspectiva do homem moderno pode ser julgado uma
privação pelo homem pós-moderno. “Nas gerações futuras, as pessoas terão dificuldade em
entender como existiram gerações que não consideravam a idéia de Deus o conceito mais
alto de que o homem é capaz, mas que, pelo contrário, tinham vergonha disso e consideravam
o desenvolvimento. do ateísmo, um sinal de progresso na emancipação do pensamento
humano. ” 1

Deslumbrados com as brilhantes realizações do intelecto na ciência e na técnica, não apenas


nos convencemos de que somos os donos da terra; nos convencemos de que nossas
necessidades e interesses são o padrão último do que é certo e errado.
Conforto, luxo, sucesso atraem continuamente nosso apetite, prejudicando nossa visão
daquilo que é necessário, mas nem sempre desejado. Eles facilitam a nossa cegueira de
valores. Os interesses são o cachorro do homem cego, seu descobridor e guia.
A desconfiança da fé
O homem moderno está gradualmente se recuperando do choque de perceber que,
intelectualmente, ele não tem mais o direito de sonhar; não tem o direito de lamentar seu
desejo perdido por aquilo que ele pode precisar, mas ao qual ele se tornou indiferente. De
fato, ele deixou de confiar em sua vontade de acreditar ou mesmo em sua tristeza pela perda
de um desejo de acreditar.
Um tremor percorre nossas noites. Não há casa em nossas cidades sem pelo menos uma alma
chorando no meio da alegria, aterrorizada pela realização, consternada com a servidão das
necessidades, com a incapacidade de confiar no que ele está acalentando.
O que se aplica aos julgamentos morais é verdadeiro em relação às crenças religiosas. Há
muito se sabe que a necessidade e o desejo desempenham um papel na formação das
crenças. Mas é verdade, como a psicologia moderna costuma afirmar, que nossas crenças
religiosas não passam de tentativas de satisfazer desejos subconscientes? Que a concepção
de Deus é meramente uma projeção de emoções egoístas, uma objetificação de necessidades
subjetivas, o eu disfarçado? De fato, a tendência de questionar a genuinidade da preocupação
do homem com Deus é um desafio não menos sério do que a tendência de questionar a
existência de Deus. Precisamos mais de uma prova da autenticidade da fé do que de uma
prova da existência de Deus.
Não perdemos apenas a fé; nós perdemos nossa fé no significado da fé. Tudo o que temos é
uma sensação de horror. Temos medo do homem. Estamos aterrorizados com nosso próprio
poder. Nossa orgulhosa civilização ocidental não resistiu à corrente de crueldade e crime que
irrompeu das correntes do mal na alma humana. Quase nos afogamos em um fluxo de culpa
e miséria que não deixa a consciência limpa. O que fizemos com nosso poder? O que fizemos
no mundo? O dilúvio de miséria está varrendo nossa presunção monstruosa. Quem é o
senhor? Desesperamos sempre de recuperar a consciência Dele, de recuperar a fé no
significado da fé. De fato, de um sistema de idéias em que conhecimento é poder, onde
valores são sinônimo de necessidades, onde a pirâmide do ser é virada de cabeça para baixo
- é difícil encontrar um caminho para a consciência de Deus. Se o mundo é apenas poder para
nós e todos somos absorvidos pela corrida do ouro, o único deus que podemos encontrar é
o bezerro de ouro. A natureza como caixa de ferramentas é um mundo que não aponta para
além de si mesma. É quando a natureza é sentida como mistério e grandeza que nos chama
a olhar além dela.
A consciência da grandeza e do sublime desapareceu da mente moderna. Nossos sistemas de
ensino enfatizam a importância de permitir ao aluno explorar o aspecto de poder da
realidade. Até certo ponto, eles tentam desenvolver sua capacidade de apreciar a beleza. Mas
não há educação para o sublime. Ensinamos as crianças a medir, a pesar. Nós falhamos em
ensiná-los a reverenciar, a sentir admiração e reverência. O sentido do sublime, o sinal da
grandeza interior da alma humana e algo potencialmente dado a todos os homens, é agora
um presente raro. No entanto, sem ele, o mundo se torna plano e a alma um vácuo. Aqui é
onde a visão bíblica da realidade pode nos servir de guia. Significativamente, o tema da
poesia bíblica não é o encanto ou a beleza da natureza; é a grandeza, é o aspecto sublime da
natureza que a poesia bíblica está tentando celebrar.
SOBRE O SUBLIME DA BÍBLIA
Muitas vezes se afirma que a subliminaridade é uma qualidade peculiar da Bíblia hebraica e
é desconhecida pelos escritores clássicos gregos. Coleridge disse uma vez: “Você poderia
descobrir algo sublime em nosso sentido do termo na literatura grega clássica? A
sublimidade é hebraica de nascimento. ”A afirmação de Coleridge é sugestiva, mas absoluta
demais. Os exemplos mais altos possíveis de sublimidade, pode-se sugerir, são encontrados
em escritores hebreus como Isaías. Modernos como Milton, pode ser mais avançado, devem
grande parte de sua sublimidade, direta ou indiretamente, a fontes hebraicas. Mas, por outro
lado, dificilmente podemos negar que a qualidade, por mais vigorosa que seja nossa
definição, para escritores gregos antigos, como Homero ou Ésquilo, e para as fases iniciais de
algumas das literaturas mais modernas. ” É claro, no entanto, que a consciência do sublime
2

como um tipo especial e misterioso de beleza está ausente no período clássico da filosofia
grega. A palavra grega para sublime como termo estilístico não é rastreável além do primeiro
século da era atual. 3

O tratado mais antigo sobre o assunto, Longinus, On the Sublime , provavelmente foi escrito
após a morte de Augusto. Embora se preocupe principalmente com o sublime como uma
qualidade de estilo, ele se refere também à subliminaridade na natureza externa e, pela
capacidade do homem de responder a ela, deduz a grandeza interior da alma humana . A
natureza plantou na alma humana um amor invencível à grandeza e um desejo de imitar o
que parece mais próximo da divindade do que ele. “Portanto, é que todo o universo não é
suficiente para o alcance extensivo e a especulação penetrante da compreensão humana. Ele
ultrapassa os limites do mundo material e se lança com prazer para o espaço infinito. ”A
natureza nos impele a admirar não um pequeno rio“ que ministra nossas necessidades ”, mas
o Nilo, o Ister e o Reno; da mesma forma, o sol e as estrelas nos "surpreendem" e "Aetna em
erupção comanda nossa maravilha". 4

Para ilustrar sua teoria, Longinus se refere ao livro de Gênesis. “O legislador judeu, nenhuma
pessoa comum, já que tinha a capacidade digna de receber o poder divino e demonstrá-lo,
escreve no início de sua legislação: 'E Deus disse ...' O que Deus disse? 'Haja luz, e houve luz',
'Haja terra e houve terra.' ”5

O BONITO E O SUBLIME
O que queremos dizer com sublime? E por que Longinus sustentou que a capacidade do
homem de responder a isso é um sinal da grandeza interior da alma humana? Desde a época
de Edmund A. Burke (1729-1797), o sublime tem sido contrastado com o belo. Ele 6

identificou o sublime com o vasto, o terrível e o obscuro que desperta a sensação de dor e
terror, e o belo com o suave, o pequeno e o delicado que suscita um sentimento de amor e
ternura. “Objetos sublimes são vastos em suas dimensões, objetos bonitos
comparativamente pequenos; a beleza deve ser suave e polida ... leve e delicada; o grande
deve ser sólido e até maciço. ”
Segundo Kant, o belo é o que agrada além de todo interesse, e o sublime é o que agrada por
sua oposição ao interesse dos sentidos. Ele define o sublime como "aquele em comparação
7

com o qual todo o resto é pequeno" (p. 102). É "a natureza naquelas aparências, cuja
contemplação traz consigo a idéia do infinito" (p. 109). É "aquilo que está além de toda
compreensão grande".
Embora discorde da visão de Burke de que os objetos de subliminar despertam em nós um
sentimento de medo e perigo iminente, Kant insiste que eles devem ter medo. O sublime é
encontrado apenas na natureza, não no caráter, no intelecto ou na arte, pois nesses “o
propósito humano determina a forma e o tamanho” (p. 113).
Objetos de sentimento sublime, segundo Kant, são “ousados, pendentes e, por assim dizer,
ameaçadores de rochas; nuvens se amontoavam no céu, movendo-se com relâmpagos e
trovões; vulcões em toda a sua violência de destruição; furacões com sua trilha de
devastação; o oceano sem limites em estado de tumulto; a elevada cachoeira de um rio
poderoso ”(p. 125).
O significado do sublime e sua percepção, acreditamos, não foram adequadamente descritos
nessas teorias.
O sublime não se opõe ao belo e, além disso, não deve ser considerado uma categoria
estética. O sublime pode ser sentido nas coisas de beleza, nos atos de bondade e na busca da
verdade. A percepção da beleza pode ser o começo da experiência do sublime. O sublime é
aquilo que vemos e somos incapazes de transmitir. É a alusão silenciosa das coisas a um
significado maior que elas mesmas. É aquilo que todas as coisas representam; “O silêncio
inveterado do mundo que permanece imune à curiosidade e curiosidade, como folhagem
distante no crepúsculo.” É o que nossas palavras, nossas formas, nossas categorias nunca
podem alcançar. É por isso que o sentido do sublime deve ser considerado a raiz das
atividades criativas do homem na arte, no pensamento e na vida nobre. Assim como
nenhuma flora jamais exibiu totalmente a vitalidade oculta da Terra, também não há obra de
arte, sistema de filosofia, teoria da ciência que jamais expressou a profundidade do
significado, a sublimidade da realidade à vista da qual as almas dos santos, artistas e filósofos
vivem. 8

Além disso, o sublime não está necessariamente relacionado ao tamanho vasto e


esmagador. Pode ser sentida em cada grão de areia, em cada gota de água. Toda flor no verão,
toda neve no inverno pode despertar em nós o sentimento de admiração que é nossa
resposta ao sublime.

Para mim, a flor mais cruel que sopra pode dar


Pensamentos que costumam ser profundos demais para lágrimas.
William Wordsworth, “Canção na festa do castelo de Brougham”

Um sentido sublime
De algo muito mais profundamente interconectado,
cuja habitação é a luz do pôr do sol,
e o oceano redondo e o ar vivo,
e o céu azul e na mente do homem;
Um movimento e um espírito que impelem
Todas as coisas pensantes, todos os objetos de todo pensamento,
E rolam através de todas as coisas.
William Wordsworth, "O Velho Mendigo de Cumberland"
O SUBLIME NÃO É O FINAL
Não é o sublime como tal que o homem bíblico está ciente. Para ele, o sublime é apenas uma
maneira pela qual as coisas reagem à presença de Deus. Nunca é um aspecto último da
realidade, uma qualidade significativa em si mesma. Significa algo maior; fica em relação a
algo além de si que o olho nunca pode ver.
O sublime não está simplesmente lá. Não é uma coisa, uma qualidade, mas um
acontecimento, um ato de Deus, uma maravilha. Assim, mesmo uma montanha não é
considerada uma coisa. O que parece ser pedra é um drama; o que parece ser natural
é. maravilhoso. Não há fatos sublimes; existem apenas atos divinos .
Além disso, o sublime no sentido bíblico é encontrado não apenas nos imensos e poderosos,
nas “rochas arrojadas, pendentes e, por assim dizer, ameaçadoras”, mas também nos seixos
da estrada. “Porque a pedra clama fora do muro” (Habacuque 2:11). "A pedra que os
construtores rejeitaram tornou-se a principal pedra angular" (Salmos 118: 27). Uma pedra
simples que Jacó havia colocado debaixo de sua cabeça durante a noite foi colocada como um
pilar para ser a “casa de Deus” (Gênesis 28:18, 22). O sublime é revelado não apenas nas
“nuvens empilhadas no céu, movendo-se com relâmpagos e trovões”, mas também em Deus
causando a chuva “para satisfazer o terreno desolado e devastado e causar o broto da tenra
erva brotar ”(Jó 38:27); não apenas nos “vulcões em toda a sua violência e destruição”, mas
também no “estabelecimento de Deus naqueles que são baixos” e na frustração do “artifício
do astuto” (Jó 5: 11-12); não apenas nos “furacões com rastros de devastação”, mas também
na “voz mansa e delicada” (1 Reis 19:12); não apenas no “oceano sem limites em um estado
de tumulto”, mas ao pôr um bar ao mar, dizendo: “Até onde você virá, mas não mais; aqui
permanecerão as tuas ondas de orgulho ”(Jó 38:11).
HORROR E EXALTAÇÃO
O sentimento causado pelo sublime é o espanto que Burke define como "aquele estado da
alma em que todos os seus movimentos são suspensos com algum grau de horror", no qual
"a mente está tão completamente preenchida com seu objeto que não pode entreter nenhum.
outro, nem por conseqüência, razão sobre o assunto que o emprega. ”Em contraste, o homem
bíblico ao sentir o sublime é levado por sua ânsia de exaltar e louvar o Criador do mundo.

Clame a Deus, por toda a terra,


Cante a glória do seu nome,
glorifique o seu louvor.
Diga a Deus: Quão sublime são as tuas obras!
Salmos 66: 2-3
Diante de vistas ameaçadoras, o homem bíblico poderia dizer: “Embora eu ande pelo vale da
sombra da morte, não temerei o mal, pois estás comigo” (Salmos 23: 4).
Mais uma característica diferencia a experiência do homem bíblico da experiência estética
do sublime. Os objetos mais exaltados, como o céu ou as estrelas, e ele próprio têm um
mistério em comum: todos eles dependem continuamente do Deus vivo. É por isso que a
reação a objetos sublimes não é simplesmente "espanto aterrador" ou "a estupefação da
mente e dos sentidos", como Burke descreveu, mas admiração e espanto.
NOTAS DO CAPÍTULO 3
1
Walter Schubart, Rússia e Western Man , Nova York, 1950, p. 62f.
2
W. Rhys Roberts, Longinus On Style , Cambridge, 1899, p. 31
3
Roberts, loc. cit., p. 209. É uma coincidência interessante que o primeiro tratado sobre o
sublime conhecido por nós tenha sido escrito por Cecilius, um retórico siciliano que ensinou
em Roma na época de Augusto e que era "na fé judeu"; ver WR Roberts, American Journal of
Philology , XVIII, pp. 303 e segs., e loc. cit., pp. 220-222. Mommsen sugeriu que o próprio
Longinus era um judeu que reverenciava Moisés e Homero. Roemische Geschichte , vol. VI,
p. 494. De acordo com Pauly-Wissowa, vol. V, p. 1174 e segs., Cecílio era judeu pela
fé. Compare, no entanto, a afirmação: "Haja terra".
4
Longinus, no sublime , cap. xxxv; cf. Samuel H. Monk, O sublime, Um estudo de teorias críticas
na Inglaterra do século XVlll , Nova York, 1935, p. 17
5
Longinus, loc. cit., IX, 10.
6
Em Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas idéias do sublime e do belo, parte II,
seção I, p. 8; III, 27.
7
“O belo nos prepara para amar algo desinteressadamente, até a própria natureza; o sublime
nos prepara para estimar algo altamente, mesmo em oposição ao nosso próprio (sensível)
interesse. ” Critique of Aesthetic Judgement, p. 134
8
O homem não está sozinho , p. 4)

4
Maravilha
UM LEGADO DE MARAVILHA
Entre as muitas coisas que a tradição religiosa reserva para nós está um legado de
admiração . A maneira mais segura de suprimir nossa capacidade de entender o significado
de Deus e a importância da adoração é tomar as coisas como garantidas. A indiferença à
sublime maravilha da vida é a raiz do pecado.
O homem moderno caiu na armadilha de acreditar que tudo pode ser explicado, que a
realidade é um assunto simples que só precisa ser organizado para ser dominado. Todos os
enigmas podem ser resolvidos, e toda maravilha nada mais é do que "o efeito da novidade
sobre a ignorância". Ele estava convencido de que o mundo é sua própria explicação, e não
há necessidade de ir além do mundo para explicar a existência. do mundo. Essa falta de
admiração, esse exagero da reivindicação da investigação científica, é mais característico dos
escritores de livros populares de ciências e dos intérpretes da ciência para os leigos do que
para os próprios cientistas criativos. Spencer e outros “parecem estar possuídos com a idéia
de que a ciência tem o universo muito bem cifrado até um ponto preciso; enquanto os
Faradays e os Newtons parecem crianças que pegaram algumas pedrinhas na praia do
oceano. Mas muitos de nós têm dificuldade em reconhecer a grandeza e a admiração de
coisas familiares para nós. Como o profeta não é sem honra, exceto [em seu próprio país], o
mesmo ocorre com os fenômenos. ” “ Os fatos do caso, ousamos dizer, são tão maravilhosos
1

que, do começo ao fim, nenhuma impressão geral da Natureza alcançou. as linhas científicas
ou quaisquer outras podem estar na direção de ser verdade que não soa a nota de apreciação
alegre e de admiração reverente. ” 2

“A história do pensamento europeu, até os dias atuais, foi manchada por um mal-entendido
fatal. Pode ser chamado de falácia dogmática. O erro consiste na persuasão de que somos
capazes de produzir noções adequadamente definidas em relação à complexidade do
relacionamento necessário para sua ilustração no mundo real. Você pode, ao pesquisar,
descrever o universo? Exceto talvez pelas noções mais simples de aritmética, mesmo nossas
idéias mais familiares, aparentemente óbvias, estão infectadas com essa imprecisão
incurável. Nosso entendimento correto dos métodos de progresso intelectual depende de ter
em mente essa característica de nossos pensamentos ... Durante a época medieval na Europa,
os teólogos foram os principais pecadores em relação à finalidade dogmática. Nos últimos
três séculos, sua má preeminência nesse hábito passou para os homens da ciência. ” 3

UM PARAFUSO MINÚSCULO
Quando o bonde elétrico apareceu pela primeira vez na cidade de Varsóvia, alguns bons e
velhos judeus não podiam acreditar em seus próprios olhos. Um carro que se move sem um
cavalo! Alguns deles estavam estupefatos e assustados, e todos estavam sem saber como
explicar a incrível invenção.
Certa vez, enquanto discutia o assunto na sinagoga, entrou um homem que, além de estudar
o Talmude, tinha a reputação de conhecer livros sobre assuntos seculares, assinar um jornal
e ser versado em assuntos mundanos.
- Você deve saber como isso funciona, todos se voltaram para ele.
- Claro, eu sei, ele disse. E eles estavam todos pendurados em todas as suas palavras com
total concentração.
- Imagine quatro rodas grandes na posição vertical em quatro cantos de um quadrado,
conectados entre si por fios. Você entendeu?

- Sim, entendemos.
- Os fios são amarrados em um nó no centro da praça e colocados dentro de uma roda grande
que é colocada na posição horizontal. Você entendeu?
- Sim, entendemos.
- Acima da roda grande, existem várias rodas, uma menor que a outra. Você entendeu?
- Sim, entendemos.
- Na parte superior da roda menor, há um pequeno parafuso que é conectado por um fio ao
centro do carro, que fica no topo das rodas. Você entendeu?
- Sim, entendemos.
- O mecânico do carro pressiona o botão que move o parafuso que move as rodas horizontais
e, portanto, o carro corre pela rua.
- Ah, agora entendemos!
DOIS TIPOS DE MARAVILHA
Maravilha ou espanto radical é a principal característica da atitude do religioso em relação à
história e à natureza. Uma atitude é estranha ao seu espírito: tomar as coisas como
garantidas, considerando os eventos como um curso natural das coisas. Encontrar uma causa
aproximada de um fenômeno não é resposta à sua maravilha definitiva. Ele sabe que existem
leis que regulam o curso dos processos naturais; ele está ciente da regularidade e padrão das
coisas. No entanto, esse conhecimento falha em mitigar seu senso de surpresa perpétua pelo
fato de que existem fatos. Olhando para o mundo, ele diria: “Isso é obra do Senhor, é
maravilhoso aos nossos olhos” (Salmos 118: 23).
Que “maravilha é a sensação de um filósofo, e a filosofia começa na maravilha” foi afirmado
por Platão e mantida por Aristóteles: “Para ele é devido à sua maravilha que os homens,
4

tanto agora começar e, a princípio começou a filosofar” Para este Hoje em dia, a maravilha
5

racional é apreciada como “ sêmen scientiae ”, como a semente do conhecimento, como algo
propício, não nativo à cognição. maravilha é o prelúdio do conhecimento; cessa, uma vez
6A

explicada a causa de um fenômeno. 7

Mas o valor da maravilha consiste apenas em ser um estimulante para a aquisição de


conhecimento? Maravilha é o mesmo que curiosidade? Para os profetas, a maravilha é uma
forma de pensar . Não é o começo do conhecimento, mas um ato que vai além do
conhecimento; não termina quando o conhecimento é adquirido; é uma atitude que nunca
cessa. Não há resposta no mundo para o espanto radical do homem.
“AINDA ESTÁ E CONSIDERA”
À medida que a civilização avança, o sentimento de admiração diminui. Esse declínio é um
sintoma alarmante do nosso estado de espírito. A humanidade não perecerá por falta de
informação; mas apenas por falta de apreciação. O começo de nossa felicidade está no
entendimento de que a vida sem maravilhas não vale a pena ser vivida. O que nos falta não é
uma vontade de acreditar, mas uma vontade de pensar.
A consciência do divino começa com admiração. É o resultado do que o homem faz com sua
maior incompreensão. O maior obstáculo a essa consciência é o nosso ajuste às noções
convencionais, aos clichês mentais. Maravilha ou espanto radical, o estado de
desajustamento de palavras e noções, é, portanto, um pré-requisito para uma consciência
autêntica daquilo que é.
O espanto radical tem um escopo mais amplo do que qualquer outro ato do
homem. Enquanto qualquer ato de percepção ou cognição tem como objeto um segmento
selecionado da realidade, o espanto radical refere-se a toda a realidade; não apenas para o
que vemos, mas também para o próprio ato de ver, assim como para nós mesmos, para
aqueles que vêem e se surpreendem com sua capacidade de ver.
A grandeza ou mistério do ser não é um enigma particular para a mente, como, por exemplo,
a causa de erupções vulcânicas. Não precisamos chegar ao fim do raciocínio para encontrá-
lo. Grandeza ou mistério é algo com o qual somos confrontados em todos os lugares e em
todos os momentos. Até o próprio ato de pensar confunde nosso pensamento, assim como
todo fato inteligível é, em virtude de ser um fato, embriagado com uma distancia
desconcertante. O mistério não reina no raciocínio, na percepção, na explicação? Onde está
o auto-entendimento que poderia revelar a maravilha de nosso próprio pensamento, que
poderia explicar a graça de esvaziarmos o concreto com encantos de abstração? Que fórmula
poderia explicar e resolver o enigma do próprio fato de pensar? A nossa não é coisa nem
pensamento, mas apenas a mágica sutil que mistura as duas.
O que nos enche de espanto radical não são as relações nas quais tudo está incorporado, mas
o fato de que mesmo o mínimo de percepção é o máximo de enigma. O fato mais
incompreensível é o fato de compreendermos. 8

O caminho para a fé conduz através de atos de admiração e espanto radical. As palavras


endereçadas a Jó se aplicam a todo homem:

Escute isso, ó Jó,


fique parado e considere as maravilhosas obras do Senhor.
Você sabe como Deus impõe Sua ordem sobre eles,
e faz brilhar o raio de Sua nuvem?
Conhece os balanceamentos das nuvens,
as maravilhosas obras daquele que é perfeito em conhecimento,
você cujas vestes são quentes quando a terra ainda está
por causa do vento sul?
Você pode, como Ele, espalhar os céus,
Duro como um espelho derretido?
Ensina-nos o que lhe diremos;
Não podemos elaborar nosso caso por causa da escuridão.
Deveria ser dito a ele que eu falaria?
Um homem já desejou que ele fosse engolido?
E agora os homens não podem olhar para a luz
Quando brilha nos céus
Quando o vento passa e os limpa.
Do norte vem o esplendor dourado;
Deus está vestido com uma terrível majestade.
Jó 37: 14-22

Vinde e vede as obras de Deus,


sublimes no trato com os filhos dos homens;
Salmos 66: 5

As grandes maravilhas não esmagam a alma; a sublimidade evoca humildade. Olhando para
o céu repleto de estrelas, o salmista exclama:
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
a lua e as estrelas que modelaste -
Qual é o homem que deves ter consciência dele?
E o filho do homem que devias pensar nele?
Salmos 8: 4-5

Surpresa radical, o homem bíblico enfrenta “ as grandes coisas e o que não pode ser
pesquisado, as coisas maravilhosas sem número ” (Jó 5: 9). Ele os encontra no espaço e no
tempo, na natureza e na história; líquido apenas nas ocorrências incomuns, mas também
9 10

nas comuns da natureza. Não apenas as coisas fora dele evocam o assombro do homem
11

bíblico; seu próprio ser o enche de admiração.

Eu te darei graças,
porque sou medrosa e maravilhosa;
Maravilhosas são as tuas obras;
E que minha alma conhece muito.
Salmos 139: 14 12

“POR SUAS MARAVILHAS CONTINUAIS”


A consciência profunda e perpétua da maravilha do ser tornou-se parte da consciência
religiosa do judeu. Três vezes por dia, oramos:

Nós Te agradecemos ...


Por Teus milagres que estão diariamente conosco,
Por Tuas maravilhas contínuas ...

Na liturgia da tarde recitamos as palavras de Jó (9:10):

Quem faz grandes coisas após descobrir,


coisas maravilhosas sem número.

Todas as noites recitamos: “Ele cria luz e escurece.” Duas vezes por dia, dizemos: “Ele é Um.”
Qual é o significado dessa repetição? Uma teoria científica, uma vez anunciada e aceita, não
precisa ser repetida duas vezes por dia. As idéias da maravilha devem ser constantemente
mantidas vivas. Uma vez que há uma necessidade de admiração diária, há uma necessidade
de adoração diária.
O sentido dos “milagres que estão diariamente conosco”, o sentido das “maravilhas
contínuas”, é a fonte da oração. Não há adoração, música ou amor, se dermos como certo as
bênçãos ou derrotas da vida. Nenhuma rotina da ordem social, física ou fisiológica deve
entorpecer nosso senso de surpresa pelo fato de haver uma ordem social, física ou
fisiológica. Somos treinados para manter nosso senso de admiração proferindo uma oração
antes do prazer da comida. Cada vez que estamos prestes a beber um copo de água,
lembramo-nos do eterno mistério da criação: “Bendito sejas… por cuja palavra todas as
coisas surgem”. Um ato trivial e uma referência ao milagre supremo. Desejando comer pão
ou fruta, desfrutar de uma fragrância agradável ou um copo de vinho; na degustação de
frutas da estação pela primeira vez; em ver um arco-íris ou o oceano; em perceber as árvores
quando elas florescem; ao encontrar um sábio na Torá ou no aprendizado secular; ao ouvir
boas ou más notícias - somos ensinados a invocar Seu grande nome e nossa consciência
Dele. Mesmo ao desempenhar uma função fisiológica, dizemos: “Bendito sejas… que cura
toda a carne e faz maravilhas ”.
Este é um dos objetivos do modo de vida judaico: experimentar atos comuns como aventuras
espirituais, sentir o amor e a sabedoria ocultos em todas as coisas.
No Cântico do Mar Vermelho, lemos:

Quem é como você, ó Senhor, entre os deuses?


Quem é como Ti, majestoso em santidade,
sublime em obras gloriosas, fazendo maravilhas.
Êxodo 15:11

Os rabinos observaram: Não está escrito aqui: quem fez maravilhas , mas quem faz
maravilhas …. Ele fez e ainda faz maravilhas para nós em todas as gerações, como se diz:

Maravilhosas são as tuas obras,


e que a minha alma conhece muito.
Salmos 139: 14 13

O rabino Eleazer diz: “A redenção e o ganho de pão podem ser comparados entre si. Há
maravilha em ganhar pão, assim como maravilha em redimir o mundo. E como a obtenção
de pão ocorre todos os dias, a redenção ocorre todos os dias. ” 14

Disse o rei Davi: “Testificarei do amor do Santo, bendito seja Ele, e dos benefícios que confere
a Israel, hora a hora, dia após dia. Dia após dia, o homem é vendido [como escravo] e todos
os dias é redimido; todos os dias a alma do homem é tirada dele e entregue ao guardião; no
dia seguinte, é devolvido a ele; como está escrito: Na tua mão entrego o meu espírito; tu me
remiste, ó Senhor, Deus da verdade (Salmos 31: 6). Todos os dias milagres como os que
ocorreram no Êxodo vêm sobre o homem; todos os dias ele experimenta redenção, como os
que saíram do Egito; todos os dias ele é alimentado nos seios de sua mãe; todos os dias ele é
punido por suas ações, como uma criança por seu mestre. ” 15

SABE SOZINHO
Consciência da maravilha não é o mesmo que conhecer as maravilhas que nos
acontecem. Maravilhas acontecem sem que possamos notá-las. O salmista (136: 3) declara:
O agradeça ...
Àquele que sozinho faz grandes maravilhas.

E os rabinos comentaram: “Existe algo que Ele faz com a ajuda de outra pessoa? Qual é o
significado da palavra sozinha? Só ele sabe o que quer saber. Como se diz:

Muitas coisas fizeste, ó Senhor meu Deus,


até os teus feitos maravilhosos e os teus pensamentos para conosco.
Não há ninguém para ser comparado a Ti!
Se eu declarar e falar deles,
eles são mais do que se pode dizer.
Salmos 40: 6

Não tenho o direito de apresentar Teu louvor; Não sou digno de relatar Tuas maravilhas. ” 16

A crença nos “milagres ocultos é a base de toda a Torá. Um homem não tem participação na
Torá, a menos que acredite que todas as coisas e todos os eventos na vida do indivíduo, bem
como na vida da sociedade, são milagres. Não existe o curso natural dos eventos .... ” 17

O sentimento de admiração e transcendência não deve se tornar "uma almofada para o


intelecto preguiçoso". Não deve ser um substituto para a análise onde a análise é
possível; não deve abafar a dúvida onde a dúvida é legítima. No entanto, deve permanecer
uma consciência constante para que o homem permaneça fiel à dignidade da criação de Deus,
porque essa consciência é a fonte de todo pensamento criativo.
Essa consciência foi a fonte do insight básico de Kant. “Duas coisas enchem a mente com
admiração e admiração sempre novas e crescentes, quanto mais freqüentemente e com mais
firmeza refletimos sobre elas: os céus estrelados acima e a lei moral interna …. A visão
anterior de uma incontável multidão de mundos aniquila, por assim dizer, minha
importância como criatura animal , que depois de pouco tempo provida de poder vital, não
se sabe como, deve devolver novamente a questão da qual foi formado no planeta em que
habita (um mero grão no universo). A segunda, pelo contrário, eleva infinitamente meu valor
como inteligência por minha personalidade, na qual a lei moral me revela uma vida
independente da animalidade e mesmo de todo o mundo sensível - pelo menos na medida
em que possa ser deduzido do destino atribuído à minha existência por esta lei, um destino
não restrito às condições e limites desta vida, mas alcançando o infinito. ” 18

NOTAS DO CAPÍTULO 4
1
Charles S. Peirce, Collected Papers , Cambridge, Mass., 1935, vol. V, p. 65)
2
J. Arthur Thomson, O Sistema da Natureza Inanimada , p. 650
3
AN Whitehead, Aventuras de idéias , Nova York, 1933, p. 185
4
Theaetetus , 155d.
5
Metafísica , 12, 982b, 12.
6
“A disposição filosófica especial consiste principalmente nisso: que um homem é capaz de se
admirar além do nível comum e cotidiano ... quanto mais baixo um homem tem uma
consideração intelectual, menor é a existência de um problema para ele; tudo, como é e como
é, parece-lhe uma questão, é claro. ”Schopenhauer, Suplementos ao mundo como Vontade e
idéia , cap. xvii.
“O sentimento de admiração é a fonte e fonte inesgotável do desejo [da criança] de
conhecimento. Isso leva a criança irresistivelmente a resolver o mistério e, se tentar
encontrar um relacionamento causal, não se cansará de repetir o mesmo experimento dez
vezes, cem vezes, para provar a emoção da descoberta repetidas vezes. ... A razão pela qual o
adulto não se pergunta mais não é porque ele resolveu o enigma da vida, mas porque ele se
acostumou às leis que governam sua imagem mundial. Mas o problema de por que essas leis
particulares e outras não são válidas permanece para ele tão surpreendente e inexplicável
quanto para a criança. Quem não compreende essa situação, interpreta mal seu profundo
significado e quem alcançou o estágio em que não se pergunta mais nada, apenas demonstra
que perdeu a arte do raciocínio reflexivo. ”Max Planck, Scientific Autobiography , New York,
1949, pp. 91-93.
7
Mechanica , 847a, 11.
8
Ver O homem não está sozinho , pp. 11, 13f.
9
Deus é Aquele que faz chover sobre a terra e envia águas aos campos. Ele levanta no alto os
que são humildes, e os que choram são exaltados à segurança. Ele frustra os artifícios do
astuto, para que suas mãos não alcancem sucesso. Ele toma o sábio em sua própria astúcia,
e os planos dos astutos são levados a um fim rápido. Encontram-se com a escuridão durante
o dia, e apalpam ao meio-dia como à noite. Mas ele salva da espada da boca deles, até o
necessitado da mão do poderoso. Assim, o pobre tem esperança, e a iniqüidade fecha a boca
”(Jó 5: 10-16). “Ó Senhor, tu és o meu Deus, eu te exaltarei, louvarei o teu nome, pois tu fizeste
coisas maravilhosas. Pois fizeste de uma cidade uma pilha, de uma cidade fortificada em
ruína; Um castelo de estranhos para nenhuma cidade, nunca será construído. Porque foste
uma fortaleza para os pobres, fortaleza para os necessitados na sua angústia ”(Isaías 25: 1-
4). Veja Salmos 107: 8.15.21.31.24; Isaías 40:26.
10
Êxodo 3:20; 34:10; Josué 3: 5; Jeremias 21: 2; Miquéias 7:15; Salmos 72: 18; 86:10; 98:
1; 106: 22; 136: 4; Jó 9:10.
11
“Deus troveja maravilhosamente com sua voz; Ele faz grandes coisas que não podemos
compreender. Pois para a neve ele diz: 'Caia na terra'; E ao chuveiro e à chuva, 'Seja forte'. Ele
sela a mão de todo homem, para que todos possam conhecer sua obra. Então os animais
entram em seus covis e permanecem em seus covis. Da sua câmara vem o turbilhão, e o frio
dos ventos dispersos. Pelo sopro de Deus é dado gelo, e as águas largas são congeladas
rapidamente. Ele carrega a nuvem espessa com umidade; As nuvens espalham seu raio. Eles
dão voltas e voltas por sua orientação. Para realizar tudo o que ele lhes ordena Na face do
mundo habitável. Seja por correção, por sua terra, ou por amor, ele faz com que isso aconteça
”(Jó 37: 5-13).
12
Não me derramaste como leite e me enrolaste como queijo? Vestiste-me de pele e carne, e
me uniste com ossos e tendões. Você me concedeu vida e amor constante; E Teu cuidado
preservou meu espírito. No entanto, estas coisas escondeste no teu coração; Eu sei que isto
é contigo ”(Jó 10: 10-13).
13
Mechilta em Êxodo 15:11.
14
Diz o rabino Samuel bar Nahmani: “Ganhar pão é uma maravilha ainda maior do que a
redenção, pois a redenção é feita através de um anjo, e a obtenção de pão é possível através
do Santo, que seja abençoado. Em relação ao primeiro que lemos, o anjo que me redimiu de
todo o mal ' (Gênesis 48:16), enquanto no segundo que lemos: Tu abres a tua mão,
satisfazes todo ser vivo' (Salmos 145: 16 ). ”O rabino Joshua ben Levi diz:“ Ganhar pão é uma
maravilha maior do que a divisão do Mar Vermelho. ” Genesis Rabba, cap. 20, 22. Ver Pesahim
118a .
15
Seder Eliyabu Rabba, cap. 2, ed. Friedmann, p. 8 (em Nahum N. Glatzer, No Tempo e na
Eternidade, p. 22 e seguintes): “Assim como o Santo, Bendito seja Ele, operou muitos milagres
para resgatar Israel do Egito, assim o faz com relação a um pedaço de pão que um homem
coloca na boca. ” Pesikta Rabbati, ed. M. Friedmann, cap. 33, p. 152a. “Maior é o milagre que
ocorre quando uma pessoa doente escapa de doenças perigosas do que o que aconteceu
quando Hananias, Misael e Azarias fugiram da fornalha ardente. Pois Hananias, Misael e
Azarias escaparam de um fogo aceso pelo homem, que todos os homens podem extinguir,
enquanto uma pessoa doente escapa de um fogo celestial, e quem pode extinguir isso?
” Nedarim, 41a.
16
Midrash Tebillim 136, 4. “Milagres acontecem o tempo todo. No entanto, uma vez que eles
vêm até nós não porque merecemos ser salvos, mas por causa de Sua grande misericórdia e
graça, eles permanecem despercebidos. Somente uma geração que O serve de todo coração
é digna de conhecer os milagres que lhe acontecem. ”Rabino Eliezer, de Tarnegrod, Amaroth
Tehorot , Varsóvia, 1838, nos Salmos 136: 4.
17
Nahmanides, Comentário sobre Êxodo 13:16.
18
Kant, Crítica da razão prática, traduzido por Abbott, London, 1889, p. 260

5
O sentido do mistério
“MUITO FORA E PROFUNDA”
No Livro de Eclesiastes, lemos o relato de um homem que buscava sabedoria, que buscava
uma visão do mundo e de seu significado. “Eu disse que serei sábio” (7:23) e “apliquei minha
mente para conhecer a sabedoria e ver o que é feito na terra” (8:16). Ele conseguiu? Ele
afirma: "Adquiri grande sabedoria, superando todos os que estavam sobre Jerusalém diante
de mim" (1:16). Mas ele finalmente percebeu “que o homem não pode multar o trabalho que
é feito sob o sol. Por mais que o homem trabalhe na busca, ele não o descobrirá; mesmo que
um homem sábio afirme saber, ele não pode descobrir ”(8:17).
“Eu disse, serei sábio, mas estava longe de mim. O que é, está distante e profundo,
extremamente profundo. Quem pode descobrir isso? ”(7: 23-24). Eclesiastes não está apenas
dizendo que os sábios do mundo não são sábios o suficiente, mas algo mais radical. O que é,
é mais do que você vê; o que é, é “distante e profundo, extremamente profundo”. O ser é
misterioso.
Esta é uma das idéias centrais de Eclesiastes: “Vi a tarefa que Deus deu aos filhos dos
homens…. Ele fez todas as coisas bonitas em seu tempo; mas ele também implantou no
coração dos homens o mistério, para que o homem não descubra o que Deus fez desde o
princípio até o fim ”(3: 10-11).
1

A sabedoria está além do nosso alcance. Somos incapazes de obter uma visão do significado
e propósito final das coisas. O homem não conhece os pensamentos de sua própria mente,
nem é capaz de entender o significado de seus próprios sonhos (ver Daniel 2:27).
EM AWE E AMAZEMENT
Com admiração e espanto, os profetas estão diante do mistério do universo:

Quem mediu as águas na cavidade da sua mão,


e marcou os céus com um palmo,
envolveu o pó da terra em uma medida,
e pesou as montanhas em escalas,
e as colinas em equilíbrio?
Isaías 40:12

Um sentimento ainda mais profundo de humildade é expresso nas palavras de Agur:

Certamente sou burra demais para ser homem.


Eu não tenho o entendimento de um homem.
Não aprendi a sabedoria,
nem conheci o Santo.
Quem subiu ao céu e desceu?
Quem juntou o vento em seus punhos?
Quem embrulhou as águas em uma roupa?
Quem estabeleceu todos os confins da terra?
Qual é o nome dele e qual é o nome de seu filho,
se você souber?
Provérbios 30: 2-4
“ONDE SERÁ ENCONTRADA A SABEDORIA?”
Filosofia é o amor e a busca da sabedoria. Alcançar a sabedoria é uma das maiores aspirações.
Mas onde a sabedoria será encontrada?
Onde é o lugar do entendimento?
O homem não sabe o caminho para isso;
Não é encontrado na terra dos vivos.
O fundo diz: "Não está em mim";
O mar diz: "Não está comigo ..."
De onde vem a sabedoria?
E onde é o lugar do entendimento?
Está escondido dos olhos de todos os que vivem;
E escondido dos pássaros do ar.
Destruição e Morte dizem:
"Ouvimos rumores disso com nossos ouvidos".
Jó 28: 12-14. 20-22

O que Jó, Agur e Eclesiastes descobriram em sua busca? Eles descobriram que a existência
do mundo é um fato misterioso. Referindo-se não a milagres ou fenômenos surpreendentes,
mas à ordem natural das coisas, eles insistem que o mundo do conhecido é um mundo
desconhecido; ocultação, mistério. O que agitou suas almas não foi o oculto nem o aparente,
mas o oculto no aparente; não a ordem, mas o mistério da ordem que prevalece no universo.
Vivemos à margem da realidade e mal sabemos como chegar ao âmago. Qual é a nossa
sabedoria? O que levamos em conta não pode ser contabilizado. Exploramos os modos de
ser, mas não sabemos o que, por que ou por que o ser é. Nem o mundo, nem nosso
pensamento ou ansiedade sobre o mundo são contabilizados. Sensações, idéias são impostas
a nós, pois não sabemos de onde. Toda sensação está ancorada no mistério; todo novo
pensamento é um sinal que não identificamos completamente. Podemos conseguir resolver
muitos enigmas; no entanto, a própria mente continua sendo uma esfinge. O segredo está no
cerne do aparente; o conhecido é apenas o aspecto óbvio do desconhecido. Nenhum fato no
mundo está separado do contexto universal. Nada aqui é final. O mistério não está apenas
além e longe de nós. Estamos envolvidos nisso. É o nosso destino, e "o destino do mundo
depende do mistério". 2

DOIS TIPOS DE IGNORÂNCIA


Existem dois tipos de ignorância. O primeiro é "monótono, insensível, estéril", resultado de
indolência; o outro é agudo, penetrante, resplandecente; um leva à presunção e
complacência, o outro leva à humildade. De um que procuramos escapar, no outro, a mente
encontra repouso.
Quanto mais fundo procuramos, mais próximos chegamos sabendo que não sabemos. O que
realmente sabemos sobre a vida e a morte, sobre a alma ou a sociedade, sobre a história ou
a natureza? “Nos tornamos cada vez mais dolorosamente conscientes de nossa ignorância
abismal. Nenhum cientista, cinquenta anos atrás, poderia ter percebido que ele era tão
ignorante quanto todos os cientistas de primeira classe agora sabem ser. ” “ Não podemos
3

ver que leis exatas, como todos os outros ultimatos e absolutos, são tão fabulosas quanto o
pote de ouro no fim do arco-íris? ” “ Cuidado para não dizermos que encontramos sabedoria
4
”(Jó 32:13). “Os que viajam em busca da sabedoria andam apenas em círculo; e depois de
5

todo o seu trabalho, finalmente retornam à sua pura ignorância. ” “ Nenhuma iluminação ”,
6

observa Joseph Conrad em A flecha de ouro, “ pode varrer todo o mistério do mundo. Depois
da escuridão que partiu, as sombras permanecem.
APREENDEMOS E NÃO PODEMOS COMPREENDER
O mistério é uma categoria ontológica. O que significa é para a maioria das pessoas,
obviamente, dado na experiência de eventos excepcionais. No entanto, é uma dimensão de
toda a existência e pode ser experimentada em todos os lugares e em todos os momentos. Ao
usar o termo mistério, não queremos dizer nenhuma qualidade esotérica específica que
possa ser revelada aos iniciados, mas o mistério essencial de ser como ser, a natureza de ser
como criação de Deus a partir do nada e, portanto, algo que está além da escopo da
compreensão humana. Não encontramos isso apenas no clímax do pensamento ou na
observação de fatos estranhos e extraordinários, mas no fato surpreendente de que existem
fatos: o ser, o universo, o desenrolar do tempo. Podemos enfrentá-lo a todo momento, em
um grão de areia, em um átomo, bem como no espaço estelar. Tudo guarda o grande
segredo. Pois é a situação inevitável de todo ser envolvido no infinito mistério. Podemos
continuar a desconsiderar o mistério, mas não podemos negar nem escapar dele. O mundo é
algo que apreendemos, mas não podemos compreender.
Significativamente, a palavra hebraica 'olam que nos tempos pós-bíblicos passou a denotar
“mundo” é, segundo alguns estudiosos, derivada da raiz ' alam que significa esconder,
ocultar. O mundo é ele próprio oculto; sua essência é um mistério.
7

Essa consciência continuou a fazer parte da consciência religiosa dos judeus. Encontrou
expressão de várias maneiras. A passagem a seguir é uma formulação impressionante.
"Escondidas são as coisas que vemos"
“[Um Salmo] dos filhos de Corá; em 'Alamot. Uma canção (Salmo 46: 1). O significado está no
versículo: 'Ele faz grandes coisas que nunca foram descobertas, maravilha sem número' (Jó
9:10). Está além do poder do homem recontar as maravilhas e maravilhas do Santo, bendito
seja Ele. Diz-se: 'Aquele que sozinho faz grandes maravilhas' (Salmo 136: 4). Qual é o
significado da palavra 'sozinho'? Somente Ele sabe o que faz por você. É nesse sentido que os
filhos de Corá disseram uma canção em 'Alamot': escondidas são as coisas que vemos; não
sabemos o que vemos. ” (“ alam ”, como foi dito acima, significa esconder, ocultar).
8

Inacessíveis para nós são as idéias da natureza da realidade última. Até o que é revelado é
incompleto e disfarçado. De Moisés, o maior dos profetas, somos informados de que Deus
deu a seu cargo todos os "cinquenta portões de sabedoria, exceto um." Ele não era perfeito
9

nem onisciente. Havia coisas difíceis para ele entender ; e havia problemas da lei que ele
10

era incapaz de resolver. E embora ele tenha subido ao céu e recebido a Torá sem
11

intermediário, o mistério de Deus permaneceu insondável para ele. 12

Segundo a lenda, Deus havia revelado a Moisés os tesouros da Torá, de sabedoria e


conhecimento e o futuro do mundo inteiro. E, no entanto, havia sugestões na Torá que não
13

foram reveladas a Moisés. Essas sugestões estão contidas nas “coroas” ou nas três pequenas
pinceladas escritas em cima de sete letras do alfabeto hebraico sempre que ocorrem na
Torá. Dessas alusões que não são expressas por letras ou palavras, é dito: "coisas que não
14

foram reveladas a Moisés eram conhecidas pelo rabino Akiba" (martirizadas por volta do
ano 132). 15
A Torá, como nos dizem, é oculta e revelada, e a natureza de toda a realidade. Todas as
16

coisas são conhecidas e desconhecidas, claras e enigmáticas, transparentes e


impenetráveis. “Escondidas são as coisas que vemos; não sabemos o que vemos. ”O mundo é
aberto e oculto, uma questão de fato e um mistério. Nós sabemos e não sabemos - esta é a
nossa condição.
Estranhas são as palavras que concluem o Pentateuco. Depois de nos contar todos os
detalhes sobre onde Moisés foi enterrado:

E ele foi sepultado no vale


na terra de Moabe,
contra Bet Peor

a Torá conclui

E ninguém sabe de sua sepultura até hoje.

A Torá, disseram os rabinos, nos ensina o caminho da fé. Embora conheçamos o local da
sepultura de Moisés e todos os sinais de sua localização geográfica, devemos compreender
que nada sabemos sobre seu paradeiro. 17

NOTAS DO CAPÍTULO 5
1
A palavra difícil aqui é ha'olam, que foi traduzida pela Septuaginta com "eternidade", pela
Vulgata com "mundo" e por outras com "conhecimento" (com base no cognato árabe). Rashi,
seguindo fontes rabínicas (Kohelet Rabba 3, 15; Tanbuma, Kedoshim, 8; Midrash Tehillim 9,
1), explica isso como "ocultação" ou mistério.
2
Zohar, vol. III, p. 128a.
3
Abraham Flexner, Universities, Nova Iorque, 1930, p. 17
4
Gilbere N. Lewis, A Anatomia da Ciência, New Haven, 1926, p. 154
5
De acordo com Sócrates, "Deus só é sábio", e o homem que alegava possuir a verdadeira
sabedoria era culpado de presunção, se não de blasfêmia. Ele se chamava amante da
sabedoria. Desculpas, 20 e seg.
6
Oliver Goldsmith, O Cidadão do Mundo, carta 37.
7
A etimologia é geralmente questionada pelos estudiosos modernos. Compare a referência
em Brown-Driver-Briggs, Um léxico hebraico e inglês do Antigo Testamento , Oxford, 1906,
p. 761
8
Midrash Tehillim 46, 1; Yalkut Shimoni , II, 751. Significativamente, Midrash Tehillim 45, 4
deriva a idéia de oração silenciosa - “Meu coração transborda de uma boa matéria” (Salmos
45: 2; ver Or Zorua, p. 112) - dos filhos de Corá que, quando a terra bocejou para engolir Corá
e sua companhia, se arrependeu em silêncio e não morreu (Números 26:11). Mais tarde,
receberam o dom profético e compuseram salmos. Segundo uma lenda, eles entraram vivos
no paraíso. Veja Louis Ginsberg, Lendas dos Judeus, vol. VI, p. 104. Compare também Gênesis
Rabba 12, 1.
9
Rosh Hashaná 21b.
10
Mechilta a Êxodo 12: 2; Yalkut Sbimoni I, 764.
11
Números Sifre , p. 68
12
Midrash Tehillim para 106, 2.
13
Yalkut Shimoni I, 173.
14
Yalkut Reubeni a Êxodo 19, 2.
15
Números Rabba, 19, 5.
16
Zohar, vol. III, p. 159a. Compare a observação sobre “Haja luz” no vol. Eu 140a.
17
veja Eclesiastes Rabba em 12: 9.

6
O enigma não é resolvido
Deus habita “na escuridão profunda”
O mistério de Deus permanece para sempre selado ao homem. Não podes ver o meu rosto,
pois o homem não me verá e viverá . Até os serafins cobrem o rosto com as asas na presença
de Deus (Isaías 6: 2). Salomão, que construiu o grande templo em Jerusalém, sabia que o
Senhor que fixava o sol nos céus decidiu “habitar em trevas profundas” ('arafel) (1 Reis
8:12).1

Ele fez da escuridão o seu esconderijo (Salmos 18:12). "Deus é grande, além do nosso
conhecimento" (Jó 36:26). Deus troveja maravilhosamente com a sua voz; Ele faz grandes
coisas que não podemos entender ”(Jó 37: 5). Não apenas Sua essência; Seus caminhos são
profundos, misteriosos e inescrutáveis. Sua justiça, “como as poderosas montanhas”, está
além de nossa compreensão, e Seus julgamentos são tão profundos quanto “o grande
abismo” (Salmos 36: 7). “Porque os meus pensamentos não são os seus, nem os seus
caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Pois como os céus são mais altos que a terra,
assim são os meus caminhos, mais altos do que os teus caminhos, e os meus pensamentos
que os teus pensamentos.
Os mistérios da natureza e da história desafiaram e muitas vezes assustaram o homem
bíblico. Mas ele sabia que estava além de seu poder penetrá-los. "Os mistérios pertencem a
Deus" (Deuteronômio 29:28). “Deus está no céu e tu na terra; portanto, tuas palavras sejam
poucas ”(Eclesiastes 5: 1).
Tudo o que temos é uma consciência da presença do mistério, mas é uma presença que a
mente nunca pode penetrar. Tal atitude pode ser contrastada com a caracterização de Hegel
da transição da religião egípcia para a grega. “O enigma está resolvido; a esfinge egípcia, de
acordo com um mito profundamente significativo e admirável, foi morta por um grego e,
portanto, o enigma foi resolvido. ”2

Para a mente judaica, os enigmas finais permanecem inescrutáveis. "É a glória de Deus
ocultar as coisas" (Provérbios 25: 2). O privilégio real do homem é explorar o mundo do
tempo e do espaço; mas é inútil para ele tentar explorar o que está além do mundo do tempo
e do espaço. “Quem pensa em quatro coisas, é melhor para ele se ele não vier ao mundo: o
que está acima? o que está embaixo? o que foi antes? e o que virá a seguir? ” “ O que é
3

maravilhoso demais para você, não procure, nem procure o que lhe está oculto. Medite sobre
o que lhe é permitido. Não se ocupe de mistérios: ” Ocultismo é presunção. Magia,
4

adivinhação, necromancia são proibidas por lei. "As coisas ocultas pertencem ao Senhor", e
somente Dele deve vir o conhecimento e a resposta.
Houve homens que, como o autor do medieval "Hino da Glória", confessaram: "Minha alma
desejou em Teu abrigo conhecer todo o Teu mistério". No entanto, o salmista afirma: "Eu
acalmei e acalmei minha alma, como uma criança desmamada. com a mãe dele. - Senhor, meu
coração não é altivo, nem meus olhos são elevados; nem me exercito em coisas grandiosas
ou maravilhosas demais para mim ”(Salmos 131: 1-2).
Com reverência e apreensão, os sacerdotes e os levitas devem “aproximar-se das coisas mais
sagradas”. Somente “Arão e seus filhos entrarão e designarão todos eles para o seu serviço e
seu fardo; mas não entrarão para ver as coisas sagradas como estão sendo cobertas, para que
não morram ”(Números 4:20). 5

UMA FATIA DE PÃO


Dissemos acima que a raiz da adoração está no sentido dos “milagres que estão diariamente
conosco”. Não há adoração nem ritual sem um senso de mistério. Pois adoração e ritual
implicam a capacidade de nos dirigirmos a Deus - uma implicação que não pode ser integrada
a nenhum sistema de puro naturalismo - e são significativos apenas como um mistério do
qual estamos convencidos, sem poder analisá-lo ou submetê-lo a experimentar. . Além disso,
todo culto e ritual são essencialmente tentativas de remover nossa insensibilidade ao
mistério de nossa própria existência e atividades.
Vamos pegar um pedaço de pão. É o produto do clima, do solo e do trabalho do agricultor,
comerciante e padeiro. Se fosse nossa intenção exaltar as forças que concorreram na
produção de um pão, teríamos que louvar o sol e a chuva, o solo e a inteligência do
homem. No entanto, não é isso que louvamos antes de partir o pão. Dizemos: “Bendito sejas,
ó Senhor, nosso Deus, rei do universo, que produz pão da terra”. Empiricamente falando, não
seria mais correto dar crédito ao fazendeiro, ao mercador e ao padeiro? Aos nossos olhos,
são eles que trazem o pão.
Assim como passamos por cima do mistério da vegetação, vamos além do milagre do
cultivo. Nós abençoamos Aquele que torna possível a natureza e a civilização. Não é
importante pensar sempre no que é empiricamente o pão, a saber, “um artigo de comida feita
com farinha de trigo, misturada com água, à qual o fermento é comumente adicionado para
produzir fermentação, sendo a mistura amassada e assada em pães. É importante pensar
sempre no que é o pão.
Firme e permanente são as leis da natureza. E, no entanto, somos informados de que um
fazendeiro que espalha as sementes na terra para fins de crescimento deve fazê-lo pela fé em
Deus, não pela fé na natureza. Pois esta é a essência da fé: mesmo o que nos parece uma
6

necessidade natural é um ato de Deus. 7

A observância judaica é um lembrete constante, um apelo intenso, para estarmos atentos


àquele que está além da natureza, mesmo enquanto estamos envolvidos em lidar com a
natureza. A consciência do mistério, que nem sempre é expressa, está sempre implícita. Um
exemplo clássico dessa consciência é a atitude em relação ao Nome Inefável.

O nome inefável
O verdadeiro nome de Deus é um mistério. É declarado no Talmude: “E Deus disse a Moisés ...
Este é o meu nome para sempre (Êxodo 3:15). A palavra hebraica 'para sempre' (leolam) é
escrita aqui de uma maneira que pode ser lida lealem, que significa 'ocultar'. O nome de Deus
deve ser oculto. ”
8

Ao longo dos tempos, os judeus se encolheram de proferir e, até certo ponto, até de escrever
na íntegra o Santo Nome de Deus de quatro letras (o Tetragrammaton). Exceto na Bíblia, o
9

nome geralmente não é escrito na íntegra. Mesmo quando a parte do Pentateuco é lida
durante o culto, o Nome nunca é pronunciado como está escrito. O nome verdadeiro é o nome
inefável. É traduzida pelos judeus como Adonai (literalmente, "Meu Senhor"), pelos 10

samaritanos como Hashem e pelos tradutores da Bíblia em grego pela palavra


"Senhor" (kyrios). Segundo Abba Saul, quem pronuncia o Nome Inefável está entre aqueles
que não têm parte na vida futura. “Ninguém profere o mistério do teu nome.”
11 12

Apenas uma vez por ano, no Dia da Expiação, o Nome Inefável era pronunciado pelo Sumo
Sacerdote no Templo de Jerusalém. E quando o nome saiu de sua boca, "em santidade e
pureza", "aqueles que estavam perto dele se prostraram e aqueles que estavam longe
disseram: 'Bendito seja o nome ... para todo o sempre.'" O nome foi pronunciado dez vezes
durante o culto, e mesmo antes de as pessoas deixarem o templo, todos esqueceriam a
pronúncia. Segundo uma fonte medieval, o nome escapou até do próprio Sumo Sacerdote
13

assim que ele deixou o Templo. 14

Até hoje, os sacerdotes fecham os olhos ao pronunciar a bênção, porque quando o Templo
existia, eles pronunciavam o Nome Inefável ... e a Shechiná descansava em seus olhos. Em
lembrança, eles fecham os olhos. 15

O decálogo não contém nenhum mandamento para adorar a Deus. Diz-nos “honre teu pai e
sua mãe”, não nos diga “honre teu Deus, adore-o, ofereça-lhe sacrifício”. A única referência
ao culto é indireta e negativa: não tomarás o meu nome em vão .
O sentido do inefável, a consciência da grandeza e do mistério da vida, é compartilhado por
todos os homens, e é no fundo dessa consciência que os atos e pensamentos da religião são
cheios de significado. As idéias da religião são uma resposta, quando o mistério é um
problema. Quando levados ao nível do pensamento utilitário, quando seu significado é
tomado literalmente como solução para problemas científicos, eles tendem a não ter
sentido. Assim, as idéias básicas do judaísmo têm mais de uma dimensão; o que eles se
referem é um mistério, e eles se tornam distorcidos quando tomados como descrições
práticas. A idéia do homem como um ser criado à semelhança de Deus, a idéia da criação, do
conhecimento divino, a eleição de Israel, o problema do mal, o messianismo, a crença na
ressurreição ou a fé na revelação tornam-se caricaturas quando transpostas em categorias
do pensamento de pedestre. 16

Quando Moisés estava prestes a partir deste mundo, ele disse: “Mestre do Universo, peço-te
um favor antes de morrer, que todas as portas do céu e do abismo sejam abertas, e as pessoas
verão que não há nenhuma. além de ti. ” O pedido Moisés não foi atendido, e os portões
17 de

permanecem fechados.
O MISTÉRIO NÃO É DEUS
É este o significado da situação humana: estar preso à estaca e permanecer no caminho? Jó
não é instruído a beijar a vara, a se submeter à necessidade. Ele não é informado, não há
justiça nem sabedoria, mas apenas as trevas do mistério. Em sua busca de significado, ele é
informado:

Deus entende o caminho,


conhece o seu lugar.
Pois ele olha para os confins da terra,
e vê tudo debaixo dos céus.
Quando deu ao vento o seu peso,
e mediu as águas por medida.
Quando ele fez um decreto para a chuva,
e um caminho para o relâmpago do trovão;
Então ele viu e declarou;
Ele estabeleceu e procurou.
E ele disse ao homem
: Eis que o temor do Senhor é sabedoria;
E afastar-se do mal é entender. ”
Jó 28: 23-28

O poder de Deus não é arbitrário. “O Todo-Poderoso, que não podemos descobrir, é grande
em poder; contudo, para a justiça e a justiça abundante, ele não viola.” O que é misterioso
para nós é eternamente significativo como visto por Deus. A natureza está sujeita à Sua
vontade proposital, e o homem que recebeu uma parte de Sua sabedoria é chamado a viver
com responsabilidade e a ser um parceiro de Deus na redenção do mundo.
A extrema ocultação de Deus é um fato de constante consciência. Contudo, Sua preocupação,
Sua orientação, Sua vontade, Seu mandamento são revelados ao homem e capazes de serem
experimentados por ele.
Deus é um mistério, mas o mistério não é Deus. Ele é um revelador de mistérios (Daniel
18

2:47). “Ele revela coisas profundas e misteriosas; Ele sabe o que há nas trevas e a luz habita
com ele ”(Daniel 2:22). Nas palavras da liturgia dos Dias de Temor: “Tu conheces os mistérios
eternos e os segredos finais de todos os que vivem.” A certeza de que existe um significado
além do mistério é a razão da alegria final.

O Senhor reina; alegre a terra;


Que as muitas zonas costeiras sejam felizes!
Nuvens e densas trevas estão à sua volta; Retidão e justiça são o fundamento de seu trono.

Salmos 97: 1-2

Nós não divinizamos o mistério; adoramos Aquele que em Sua sabedoria ultrapassa todos os
mistérios. Como dito acima, não é nossa tarefa romper as barreiras, penetrar nos
mistérios. Qualquer tentativa de compreender os mistérios por meio das artes ocultas, por
necromancia ou por recurso a oráculos, é proibida por lei. 19

ALÉM DO MISTÉRIO É Misericórdia


Quando o grande momento chegou e a voz de Deus se tornou audível no Sinai, que mistérios
ele revelou? Em visões apocalípticas, são mostrados “os tesouros das estrelas”, montanhas
de ouro, mares de vidro, cidades de jaspe. Israel aprendeu alguma coisa no Sinai sobre os
enigmas do universo? Sobre a condição das almas que partiram? Sobre demônios, anjos,
céu? A voz que eles percebem dizia: Lembre-se do sétimo dia para santificá-lo. Honre teu pai
e sua mãe….
Quando, em resposta ao pedido de Moisés, o Senhor pareceu lhe dizer o que é, ele disse: Eu
sou o todo-sábio, o perfeito e de infinita beleza? Ele disse: Estou cheio de amor e
compaixão. Onde, na história da religião anterior à idade de Moisés, o Ser Supremo era
celebrado por ser sensível ao sofrimento dos homens? Os filósofos não concordaram, como
observou Nietzsche, na depreciação da piedade?
TRÊS ATITUDES
Existem três atitudes em relação ao mistério: o fatalista, o positivista e o bíblico.
Para o fatalista, o mistério é o poder supremo que controla toda a realidade. Ele acredita que
o mundo é controlado por um poder irracional, absolutamente inescrutável e cego,
desprovido de justiça ou propósito. Os Maat dos egípcios, Pta e Asha, entre os indianos e
persas, e os Moira, entre os gregos, significam um poder estabelecido sobre os deuses. Os
decretos severos de Moira são temidos até por Zeus. Para a noção de destino, a história é um
mistério impenetrável, e o homem está em uma incerteza sombria em relação ao futuro. Um
trágico destino está pairando sobre o mundo, ao qual deuses e homens estão sujeitos, e a
única atitude que alguém pode adotar é a de resignação. É uma visão encontrada em várias
formas e graus em quase todas as religiões pagãs, em muitas filosofias modernas da história
(a história como um ciclo de devir e decadência), bem como no pensamento popular.
O positivista tem uma orientação prática. Para ele, o mistério não existe; o que é considerado
como tal é simplesmente aquilo que ainda não sabemos, mas que será capaz de explicar
algum dia. O positivista lógico sustenta que todas as afirmações sobre a natureza da
realidade ou sobre um campo de valores que transcendem o mundo familiar não têm sentido
e que, por outro lado, todas as questões significativas são, em princípio, respondíveis.
A consciência do mistério era comum a todos os homens da antiguidade. Foi o começo de
uma nova era quando foi dito ao homem que o mistério não é o último; que não uma força
demoníaca e cega, mas um Deus de justiça domina o mundo. Na tragédia grega, o homem é
invariavelmente vítima de algum poder invisível que o antecede ao desastre. “Terrível é o
poder misterioso do destino.” “Não ore, pois não há libertação para os mortais de calamidade
predestinada.” Em contraste, Abraão está diante de Deus, argumentando pela salvação de
20

Sodoma: “Longe de ti fazer tal coisa, matar os justos com os iníquos, para que os justos se
comportem como os iníquos! Longe de ti! O juiz de toda a terra não deve fazer certo? ” 21

A teologia do destino conhece apenas uma dependência unilateral do poder supremo. Esse
poder não preocupa o homem nem precisa dele. A história segue seu curso como
monólogo. Para a religião judaica, por outro lado, a história é determinada pela aliança: Deus
precisa do homem. O último não é uma lei, mas um juiz, não um poder, mas um pai.
22

Deus não é eternamente silencioso


A atitude judaica em relação ao mistério pode ser comparada com a seguinte declaração de
Plotino.
“Se um homem inquirir sobre a Natureza, 'Por que produzis criaturas?' e ela estava disposta
a ouvir e responder, ela dizia: 'Não me pergunte, mas entenda em silêncio, assim como eu
estou em silêncio'. ”23

O judeu não aceitará essa resposta. Ele continuará a orar: “Ó Deus, não fique em silêncio, não
tenha paz ou fique quieto, ó Deus” (Salmos 83: 2). “Por que ocultas a tua face? Por que
esqueces nossa aflição e opressão? ”(Salmos 44:25). Deus nem sempre está calado, e Israel
está esperando a palavra. Ele é nosso Deus; Ele é nosso Pai; Ele é nosso rei; Ele é o nosso
libertador. Ele novamente, em Sua misericórdia, nos proclamará na presença de todos os
vivos ... para ser seu Deus - eu sou o Senhor, seu Deus. ”
24

Além disso, a questão mais irritante no pensamento judaico não é “por que produzis
criaturas?”, Mas “onde está a tua misericórdia?” “Onde estão o teu zelo e a tua força? O anseio
do teu coração e a tua compaixão são retidas de mim. ”“ Olhe para o céu e veja, até mesmo da
tua santa e gloriosa habitação. ”25

Uma lenda talmúdica reflete dois problemas que confundiram os rabinos: a eleição de Israel
e o sofrimento de Israel. Ambos os problemas foram levantados por Moisés e exemplificados
na vida do rabino Akiba. O primeiro problema: por que Moisés foi escolhido entre todos os
homens para trazer a palavra de Deus ao mundo, embora um homem como o rabino Akiba
não fosse inferior a ele no poder intelectual? O segundo problema: por que o rabino Akiba
26

sofreu o martírio?
Quando Moisés subiu ao céu, ele encontrou o Santo, bendito seja Ele, empenhado em anexar
coroas às letras da Torá (veja acima, p. 58 f). Disse Moisés, Senhor do universo, que fica com
a mão para revelar em palavras o que deve ser indicado nas coroas? Ele respondeu: “No final
de muitas gerações, surgirá um homem, Akiba ben Joseph, que irá expor sobre cada pequeno
ponto montes e montes de leis. Senhor do universo, disse Moisés, permita-me vê-lo. Volte e
veja, o Senhor respondeu. Moisés foi sentar-se atrás de oito fileiras e ali ele pôde ouvir as
discussões do rabino Akiba com seus discípulos. Mas Moisés foi incapaz de entender as
discussões e ficou muito triste. Mas então ele ouviu os discípulos perguntando ao mestre, em
relação a um determinado assunto: como você sabe disso? e este respondeu: É uma lei dada
a Moisés no Sinai, e Moisés foi consolado. Então Moisés voltou ao Santo, bendito seja Ele, e
disse: Senhor do universo, Tu tens um homem assim e entregaste a Torá a Israel através de
mim! Mas Deus respondeu: Fique calado, pois esse é o meu decreto. Então disse Moisés,
Senhor do universo: Tu me permitiste contemplar o seu aprendizado, ore, observe a
recompensa que ele está destinado a receber. Volte e veja, disse o Senhor, e Moisés se virou
e viu como os romanos estavam vendendo a carne do mártir Akiba no mercado. Senhor do
universo, exclamou Moisés, essa é a recompensa por esse aprendizado? E o Senhor
respondeu: Cala-te, pois é esse o meu decreto. 27

NOTAS DO CAPÍTULO 6
1
Na Septuaginta, o paradoxo é explicitado por mais algumas palavras. O versículo diz: “O sol
que Ele manifestou no céu. O Senhor disse que habitaria nas trevas. ”
2
Hegel, The Philosophy of Religion , vol. II, p. 122. A caracterização de Hegel é dificilmente
válida.
3
Mishnah Hagigah, 2, 2.
4
Sirach 3: 21f. Veja Jerushalmi Hagigah 77c; Gênesis Rabba 8, 2. “Os grandes mistérios da
humanidade são conhecidos apenas por Deus.” Maimônides, em sua carta ao rabino Hisdai,
em Kobets, ed. Lichtenberg, vol. II, p. 24d. As primeiras palavras do Senhor que Moisés ouviu
em sua vida foram: Moisés, Moisés, atraia aqui a noite toda. Moisés havia se desviado
para ver a “grande visão” da sarça ardente, mas quando a voz alcançou sua alma, ele
“escondeu o rosto, pois tinha medo de olhar para Deus” (Êxodo 3: 3, 5f). E os rabinos
observaram: como recompensa por “E Moisés escondeu seu rosto”, “O Senhor falou a Moisés
cara a cara” (Êxodo 33: 11), e porque ele temia olhar, lemos “e a semelhança do Senhor ele
vê ”(Números 12: 8). Mas Nadabe e Abiú, que descobriram suas cabeças e olharam para o
brilho da Shechiná, não receberam [a pena de morte] pelo que haviam feito? (Êxodo
Rabba, Êxodo 3. 1.)
5
A razão para esta afirmação é que, uma vez que o Santo dos Santos é a morada da “glória que
está assentada sobre os querubins, os levitas são cobrados para que não cheguem ao Senhor
para olhar. Eles devem esperar até que os sacerdotes derrubem o véu. Então a glória será
revelada ao ocultar seu poder e retornar à sua morada. ”Nahmanides, Comentário sobre
Números 4:20; ver Rabi Eliezer de Mayence, Yereyim, 332.
6
Shabat. 31a, veja o comentário em Tosafot, referindo-se a Isaías 36: 6.
7
Rabino Isaac Meir Alter de Ger, citado em Sefat Emet, voL III, p. 81a.
8
Kiddusbin 71a.
9
K. Kohler, na Jewish Encyclopedia, vol. I, pp. 202-203, sv "Adonai"; W. Bacher, ibid., Vol. XI, pp.
262-264, sv "Shem Hameforash"; L. Blau, ibid., Vol. XII, p. 119-120, sv “Tetragrammaton”. O
significado do equivalente hebraico para o Nome Inefável, “Shem Hameforash” (também
“Shem Hameyuhad”), é obscuro. Sobre "Os substitutos para o Tetragrammaton", ver Jacob Z.
Lauterbach, Proceedings da American Academy for Jewish Resomeh , 1931, vol. II, pp. 39-67.
10
Uma Amora da Babilônia parafraseou Êxodo 3:15 da seguinte maneira: Eu não sou lido, diz
Deus, como estou escrito; Eu estou escrito como o Tetragrammatoa e pronunciado como
"Adonai".
11
Mishnah, Sinédrio X, 1.
12
Na liturgia Musaf pelos Dias de Temor.
13
Jerushalmi Yoma III, 7, 40d; Bab . Yoma, 39b; Eclesiastes Rabba 3, 15.
14
Otzer Hegeonim, Kiddusbin 71a.
15
Sefer Hasidim, ed. Wistinetzki, Frankfurt am. M., 1924, pp. 388, 1588.
16
No versículo dos Salmos 9: 1, a grande Massorah lê al mut como uma palavra, no sentido de
"ocultação"; veja o comentário de Rashi . Midrash Tehillim parece ter tido a mesma leitura
(veja a observação ad locum de S. Buber) e, consequentemente, lista vários temas "ocultos",
como o paradoxo de que as cinzas da novilha vermelha purificam os impuros e tornam os
impuros os puros; a recompensa por boas ações; o fim dos dias. Assim, o primeiro capítulo
do livro de Gênesis não teve a intenção de nos fornecer informações sobre como o universo
surgiu. A linguagem humana não possui palavras capazes de transmitir essas
informações. “Como é impossível expressar o mistério da criação, as Escrituras
o ocultaram nas palavras No princípio, Deus criou o céu e a terra.” Batei
Midrashot, ed. Wertheimer, Jerusalém, 1950, vol. 1, p. 251; Maimonides, O Guia dos
Perplexos, Introdução; Nahmanides, Comentário sobre Gênesis 1: 1. Sobre o mistério do
conhecimento divino, Maimonides diz: "Isso está além do poder de qualquer boca de
expressar, além da capacidade de qualquer ouvido de ouvir, nem é possível para o coração
de qualquer homem compreender seu significado". Mishneh Torá, Yesode Hatorah, 2, 10. Da
mesma forma, “o fim dos dias” é algo que nenhum homem pode entender. Se um homem lhe
disser quando o dia da redenção ocorrerá, responda a ele, o Senhor disse: “está no meu
coração.” “Se o coração não revelou o segredo à boca, a quem minha boca poderia ter
revelado? ! ” Eclesiastes Rabba às 12: 9; compare o sinédrio 99a e o comentário de
Maharsha. Até para os profetas, "o mundo vindouro" permaneceu um mistério. “Ninguém
ouviu ou percebeu pelo ouvido, nenhum olho viu.” É “vinho preservado nas uvas desde os
dias da criação” ( Berachot 34b e Isaías 64: 4).
17
Deuteronômio Rabba 11, 8. Normalmente, cada nova seção ( sedrah ) do Pentateuco é
separada da anterior pelo espaço de nove letras. No entanto, a seção do Livro do Gênesis, na
qual os últimos dias do Jamb são descritos, está “fechada”; é separado do anterior pelo
espaço de apenas uma letra. A razão apresentada é que “Jacó desejava revelar o fim (quando
o Messias chegaria), mas estava oculto (fechado) dele” ( Gênesis Rabba , 96, 1). Enquanto os
filhos estavam em pé ao redor da cama de ouro em que Jacó estava deitado, a Shechiná o
visitou por um momento e partiu o mais rapidamente, e com ela partiu todo vestígio do
conhecimento do grande mistério da mente de Jacó. Jacó desejou revelar o fim a seus filhos
e disse-lhes: Reuni-vos, para que eu vos diga o que sucederá no fim dos dias (Gênesis 49:
2). Disse Deus a Ele: É a glória de Deus esconder uma coisa (Provérbios 25: 2). Tais ações não
são para ti. Quem é portador de histórias revela segredos; mas quem é de espírito fiel esconde
um assunto (Provérbios 11:13). Gênesis Rabba, cap. 96 (nova versão).
A linguagem da Bíblia é particularmente rica em palavras que expressam o conceito de
“ocultar” ou “estar oculto”. Essa abundância é surpreendentemente impressionante quando
comparada à língua grega. Os tradutores da Bíblia em grego podiam encontrar apenas uma
palavra krypto (além de kalypto) com a qual renderizar os numerosos sinônimos
hebraicos. Theologisches Wœrtserbuch zum Neuen Testament, vol. III, p. 967
18
"Porque o Senhor é um Deus de conhecimento" (1 Samuel 2: 3).
19
"Tornem-se burros os lábios mentirosos que falam de maneira arrogante contra os justos,
com orgulho e desprezo" (Salmos 31:19). Essas palavras foram explicadas pelos rabinos da
seguinte maneira. “Que eles sejam amarrados! Que eles sejam burros! Que eles sejam
silenciados! os lábios mentirosos que falam arrogantemente contra (a vontade) do Justo, que
é a vida de todos os mundos, sobre assuntos que Ele reteve de Suas criaturas, com orgulho ,
a fim de se gabar e dizer: discuto sobre (o mistério de) criação e desprezo , ao pensar que ele
despreza a Minha glória. ” Gênesis Rabba , 1, 5.
20
Sófocles, Antígona , 951 e 133ss.
21
Gênesis 18:25
22
O homem não está sozinho , p. 241ff.
23
Plotinus, Enneads , III, 8.4.
24
A liturgia Musaf para o sábado.
25
Isaías 63:15; ver Salmos 89:50 e Yoma , 69b.
26
Compare Maimonides, O Guia dos Perplexos, vol. II, cap. 25)
27
Menahot , 29b.

7
Temor
"COMO O GRANDE ABISMO"
A reverência e a humildade sentidas em face do mistério e da grandeza da natureza e da
história afetaram o entendimento bíblico do caráter, alcance e valor do conhecimento e da
sabedoria humanos. Como toda a realidade está envolvida na vontade e no pensamento de
Deus, quem quer entender o mundo deve procurar entender Deus. No entanto, qual é a
maneira de entendê-Lo?

Você pode, procurando, descobrir Deus?


Você pode descobrir o propósito do Todo-Poderoso?
É tão alto quanto o céu; o que podes fazer?
Mais profundo que o mundo inferior; o que podes saber?
A sua medida é mais longa que a terra,
e mais larga que a terra.
Jó 11: 7-9

Muito foi dito em louvor à sabedoria e aos sábios: "O ensino dos sábios é uma fonte de vida"
(Provérbios 13:14). "A língua dos sábios traz cura" (Provérbios 12:14). "A sabedoria
preserva a vida daquele que a possui" (Eclesiastes 7:12). A sabedoria humana, no entanto,
não é nossa segurança máxima.
A sabedoria humana é contingente, não absoluta. Ele nos é dado por Deus e pode ser levado
por Ele. “Porque o Senhor dá sabedoria” (Provérbios 2: 6), mas também “volta os sábios e faz
com que o conhecimento deles seja tolo” (Isaías 44:25).

A sabedoria prática que o homem pode alcançar e que foi tão sinceramente apreciada e
celebrada se torna ignorância quando somos confrontados com os mistérios da natureza e
da história.
A mensagem que a Bíblia transmite não é de desespero ou agnosticismo. Jó não diz
simplesmente: "Nós não sabemos", mas sim que Deus sabe, que "Deus entende o caminho
para isso", ele sabe onde está a sabedoria. O que é desconhecido e oculto de nós é conhecido
e aberto a Deus. Este, então, é o significado específico de mistério em nosso sentido. Não
é sinônimo de desconhecido, mas um nome para um significado que está em relação a Deus.
O INÍCIO DA SABEDORIA É AWE
O significado supremo e a sabedoria suprema não são encontrados no mundo, mas em Deus,
e o único caminho para a sabedoria é, como dito acima, através de nosso relacionamento com
Deus. Esse relacionamento é incrédulo . A admiração, nesse sentido, é mais do que uma
emoção; é uma maneira de entender. A admiração é em si um ato de percepção de um
significado maior que nós.
A questão, portanto, onde deve ser encontrada a sabedoria? é respondida pelo salmista: o
temor a Deus é o princípio da sabedoria. A Bíblia não prega reverência como uma forma de
1

resignação intelectual; não diz, temor é o fim da sabedoria. Sua intenção parece ser que o
temor seja um caminho para a sabedoria. Em Jó, encontramos uma equação completa: o
temor a Deus é sabedoria.2

O começo da admiração é admirável, e o começo da sabedoria é admiração.


O significado do AWE
O respeito é uma maneira de estar em harmonia com o mistério de toda a realidade. A
admiração que sentimos ou devemos sentir quando estamos diante de um ser humano é um
momento de intuição para a semelhança de Deus que está oculta em sua essência. Não é só
homem; até coisas inanimadas se relacionam com o Criador. O segredo de todo ser é o
cuidado e a preocupação divinos que são investidos nele. Algo sagrado está em jogo em todos
os eventos.3

O temor é uma intuição para a dignidade criativa de todas as coisas e sua preciosidade para
Deus; uma percepção de que as coisas não são apenas o que são, mas também representam,
ainda que remotamente, algo absoluto. O temor é um sentido pela transcendência, pela
referência em todos os lugares a Aquele que está além de todas as coisas. É um insight melhor
transmitido nas atitudes do que nas palavras. Quanto mais desejamos expressá-lo, menos
restos dele.
O significado de admiração é perceber que a vida ocorre sob amplos horizontes, horizontes
que vão além do período de uma vida individual ou mesmo da vida de uma nação, geração
ou era. A reverência nos permite perceber no mundo as sugestões do divino, sentir nas
pequenas coisas o começo do significado infinito, sentir o supremo no comum e no
simples; sentir na pressa da passagem a quietude do eterno.
Ao analisar ou avaliar um objeto, pensamos e julgamos de um ponto de vista particular. O
psicólogo, economista e químico prestam atenção a diferentes aspectos do mesmo
objeto. Essa é a limitação da mente que ela nunca pode ver três lados de um edifício ao
mesmo tempo. O perigo começa quando, completamente preso em uma perspectiva,
tentamos considerar uma parte como um todo. No crepúsculo de tal perspectivismo, até a
visão da parte é distorcida. O que não podemos compreender pela análise, tomamos
consciência de reverência. Quando "paramos e consideramos", enfrentamos e
testemunhamos o que é imune à análise.
O conhecimento é fomentado pela curiosidade; a sabedoria é estimulada pelo temor. A
verdadeira sabedoria é a participação na sabedoria de Deus. Algumas pessoas podem
considerar a sabedoria "um grau incomum de senso comum". Para nós, sabedoria é a
capacidade de olhar para todas as coisas do ponto de vista de Deus, simpatia pelo pathos
divino, a identificação da vontade com a vontade de Deus. Deus. “Assim diz o Senhor: Que o
sábio não se glorie na sua sabedoria, que o poderoso não se glorie no seu poder, que o rico
não se glorie nas suas riquezas; mas aquele que se gloria se gloria nisso, que ele me entende
e me conhece, que eu sou o Senhor que pratica bondade, justiça e retidão na terra; porque
nestas coisas me comprazo, diz o Senhor ”(Jeremias 9: 22-23).
É claro que existem momentos de maior ou menor intensidade de admiração. Quando uma
pessoa se torna viva com o fato de que Deus "é o grande governante, a rocha e o fundamento
de todos os mundos, diante de quem todas as coisas existentes são tão inúteis, como já foi
dito, todos os habitantes da terra são tão nulos" ( Daniel 4:32), ele ficará impressionado com
4

o senso da santidade de Deus. Tal admiração se reflete na exortação dos profetas: “Entra na
rocha, esconde-te no pó, antes do terror do Senhor, do esplendor de Sua majestade” (Isaías
2:10).
Encontramos uma expressão clássica do significado e expressão de admiração em
Maimonides:
Quando um homem está na presença de um rei poderoso, ele não se senta, se move e se
comporta da mesma maneira que faria quando estivesse sozinho em sua própria casa; nem
ele falará na sala de audiências do rei da mesma maneira descontraída que faria em seu
próprio círculo familiar ou entre seus parentes. Portanto, qualquer homem que esteja
interessado em alcançar a perfeição humana e deseje ser um verdadeiro "homem de Deus"
deve acordar para o fato de que o grande rei que o protege constantemente e está perto dele
é mais poderoso do que qualquer indivíduo humano, mesmo que fosse Davi ou
Salomão. Aquele rei e constante guardião é o espírito emanado sobre nós, que é o vínculo
entre nós e Deus. Assim como nós O percebemos naquela luz que Ele emana sobre nós - como
é dito: À tua luz vemos a luz (Salmo 36: 9) -, assim Deus nos olha pela mesma luz. Por causa
disso, Deus está perpetuamente conosco, olhando de cima para cima, pode alguém se
esconder em lugares secretos que eu não o verei, diz o Senhor (Jeremias 23:24). 5

AWE AND MEDO


Segundo a Bíblia, a principal virtude religiosa é yirah . Qual é a natureza de yirah ? A palavra
tem dois significados: medo e reverência . Existe o homem que teme ao Senhor, para que não
seja punido em seu corpo, família ou bens. Outro homem teme ao Senhor porque tem medo
de castigo na vida futura. Ambos os tipos são considerados inferiores na tradição judaica. Jó,
6

que disse: “Embora Ele me mate, eu confiarei Nele”, não foi motivado em sua piedade pelo
medo, mas pelo temor, pela realização da grandeza de Seu amor eterno.
O medo é a antecipação e a expectativa do mal ou da dor, em contraste com a esperança, que
é a antecipação do bem. A admiração, por outro lado, é o sentimento de admiração e
humildade inspirado pelo sublime ou sentido na presença do mistério. O medo é "uma
rendição dos socorristas que a razão oferece"; admiração é a aquisição de idéias que o
A

mundo reserva para nós. A admiração, ao contrário do medo, não nos faz encolher com
relação ao objeto inspirador, mas, pelo contrário, nos aproxima dele. É por isso que a
admiração é compatível com o amor e a alegria.
8 9

Em certo sentido, admiração é a antítese do medo. Sentir “O Senhor é a minha luz e a minha
salvação” é sentir “a quem temerei?” (Salmos 27: 1). Deus é o meu refúgio e a minha
10

força. Uma ajuda muito presente em apuros. Portanto, não temeremos, ainda que a terra
mude e que os montes sejam levados para o coração dos mares ”(Salmos 46: 2-3).
AWE PRECEDE A FÉ
A admiração precede a fé; está na raiz da fé . Devemos crescer com reverência para alcançar
a fé. Devemos ser guiados pelo temor de sermos dignos de fé. Mais a fé do que a fé é a atitude
cardinal do judeu religioso. É “o princípio e a porta da fé, o primeiro preceito de todos, e
sobre ela o mundo inteiro é estabelecido.” No judaísmo, yirat hashem , a admiração de Deus,
11

ou yirat shamayim , a “admiração do céu”, é quase equivalente à palavra “religião”. Na


linguagem bíblica, o homem religioso não é chamado de “crente”, como é, por exemplo, no
Islã ( mu'min ), mas sim com o hashem .

VOLTAR À REVERÊNCIA
Portanto, existe apenas um caminho para a sabedoria: reverência. Perda seu senso de
reverência, deixe sua presunção diminuir sua capacidade de reverenciar, e o universo se
torna um mercado para você. A perda de admiração é o grande obstáculo à compreensão. Um
retorno à reverência é o primeiro pré-requisito para um reavivamento da sabedoria, para a
descoberta do mundo como uma alusão a Deus. A sabedoria vem do temor e não da astúcia. É
evocado não em momentos de cálculo, mas em momentos de estar em harmonia com o
mistério da realidade. As maiores idéias nos acontecem em momentos de admiração.
Um momento de reverência é um momento de auto-consagração. Aqueles que sentem a
maravilha compartilham dela. Aqueles que santificam as coisas que são santas se tornarão
santos.12

NOTAS DO CAPÍTULO 7
1
Salmos 111: 10; Provérbios 9:10; veja Provérbios 1: 7; 15:33; Eclesiastes 12:13; Sirach 25:
12-13; e As palavras dos pais, III, 21:

Onde não há sabedoria, não há reverência;


Onde não há temor, não há sabedoria.
2
Jó 28:28.
3
Veja O homem não está sozinho , p. 286
4
Zohar , vol. 11b. No parágrafo de abertura do Shulchan Aruch, o Código de Leis, a palavra do
salmista, mantenho o Senhor sempre diante de mim (16: 8) é descrito como "o princípio básico
da Torá" (de acordo com o rabino Moshe Isserles) . Era um requisito na piedade judaica estar
constantemente consciente de Sua presença. Como auxílio a essa lembrança, sugeria-se que
se mantivesse constantemente diante do olho interno as quatro letras do Nome
Inefável. Parafraseando o versículo nos Salmos 32: 2, dizia-se, que bem-aventurado é ele não
pensar em Deus por um momento, é pecado.
5
Maimonides, O Guia dos Perplexos, vol. III, cap. 52. Traduzido pelo cap. Rabin, Londres, 1952.
6
Em relação a Deus, yirah é usado na Bíblia principalmente no sentido de reverência. Veja
Gesenius-Driver-Briggs, Lexicon hebraico e inglês do Antigo Testamento, Oxford, 1906, p. 431.
Compare também “Temereis todos os homens, sua mãe e seu pai” (Levítico 19: 3),
correspondendo às palavras do decálogo, “Revere” ou “Honre teu pai e mãe” (Êxodo
20:12); ver Oséias 3: 5. Veja também Robert H. Pfeiffer, O medo de Deus, em Eretz
Israel, vol. III , p. 59f. Em alguns lugares, yirah realmente significa pavor do castigo de Deus
em conseqüência do pecado. Ver Abraham Ibn Daud, Emonah Ramah , Frankfurt am, 1852,
p. 100, e Juseph Albo, Ikkarim , ed. Husik, Filadélfia, 1930, vol. III, cap. 34)
De acordo com Louis Finkelstein, Mabo le-Massektot Abot e Abot d'Rabbi Natan , Nova York,
1950, p. 33 f, a Escola de Shammai mantinha uma visão oposta da relação de medo e amor.
7
A sabedoria de Salomão 17:12.
8
Veja Albo, Ikkarim , ed. Husik, Filadélfia, 1930, vol. III, cap. 32
9
Deuteronômio 10:12; veja Salmos 2:11. Compare Seder Eliabu Rabba, cap. 3: “Eu temia na
minha alegria, alegrava-me no meu medo, e meu amor prevalecia sobre todos.”
10
Veja também Salmos 23: 1,4; 102: 26-29; 112: 7.
11
Zohar , vol. Eu p. 116. Ver Shabat 31b. Compare O homem não está sozinho , p. 146
12
Ver Sabedoria 6:10.

8
Glória
A GLÓRIA É O INEFFABLE
Em sua grande visão, Isaías percebe a voz dos serafins antes mesmo de ouvir a voz do
Senhor. O que os serafins revelam a Isaías: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda
a terra está cheia da sua glória ”(6: 3). É proclamado não como uma promessa messiânica,
mas como um fato. O homem pode não sentir, mas os serafins o anunciam. É a primeira
expressão que Isaías percebeu como profeta. Ezequiel também, quando os céus foram
abertos pelo rio Quebar, ouve a voz de um grande tumulto: "Bendita seja a glória do Senhor
do seu lugar" (3:12). E quando novamente “a mão do Senhor estava sobre Ezequiel”, ele viu:
“A glória do Deus de Israel veio do caminho do oriente; e a sua voz era como o som de muitas
águas; e a terra brilhou com a sua glória ”(43: 2). No Pentateuco, o fato de que a glória de
Deus permeia o mundo é expresso em nome de Deus. “E o Senhor disse ... de fato, como eu
vivo - e como a terra está cheia da glória do Senhor. . . ”(Números 14:21).
A presença da glória no mundo é um segredo divino, algo conhecido por Deus e apenas pelos
serafins? Segundo o salmista, " os céus declaram a glória de Deus " (19: 2). Como eles
declaram isso? Como eles revelam isso? “ Dia a dia fala, e noite a noite revela conhecimento. "
Discurso? Conhecimento? Qual é a linguagem, quais são as palavras nas quais os céus
expressam a glória? “ Não há fala, não há palavras, nem a voz delas é ouvida .” E, no entanto,
“a radiação deles sai por toda a terra e as palavras deles até o fim do mundo” (Salmos 19: 4-
5). A canção dos céus é inefável.
A glória está oculta, mas há momentos em que é revelada, particularmente aos
profetas. Durante a permanência no deserto, aconteceu mais de uma vez que “a glória do
Senhor apareceu a todo o povo” (Levítico 9:23; Números 16:19, 17: 7, 20: 6), de modo que o
Livro de Deuteronômio poderia reconhecer que "o Senhor nosso Deus nos mostrou a Sua
glória" (Deuteronômio 5: 21). 1

A GLÓRIA NÃO É UMA COISA


Qual é a natureza e o significado da glória ou, como era freqüentemente chamado em tempos
posteriores, a Shechinah ? Como a glória era freqüentemente revelada em uma nuvem e sua
aparência comparada a um fogo devorador (Êxodo 24:17), às vezes era caracterizada como
uma manifestação puramente externa, totalmente desprovida de conteúdo interno; uma
exibição de poder, nunca do espírito. No entanto, tal concepção é errônea. É possível
2

substituir fogo ou nuvem pela glória na profecia de Ageu (2: 7): “Encherei esta casa de
glória”? Ou nas palavras do salmista (85:10): “Certamente a sua salvação está próxima dos
que o temem, para que [a sua glória habite em nossa terra”? Além disso, é concebível que isto
seja o que os serafins proclamam: a terra inteira está cheia de fogo ou nuvem?
É verdade que a glória como manifestação profética não parece disfarçada. Um fenômeno
sublime, como tempestade, fogo, nuvem ou raio (Êxodo 24: 15ss; 40: 34ss; I Reis 8:11)
fornece um “cenário para a glória; não é a própria glória. ”3

A glória também não é a mesma que a essência ou existência de Deus. A oração do salmista:
"Que a glória de Deus seja para sempre" (104: 31) não pode ser entendida como: "Que a
existência de Deus continue para sempre"; isso seria uma blasfêmia.

A GLÓRIA É A PRESENÇA DE DEUS


Qual é, então, a natureza da glória? Talvez fosse isso que Moisés estava ansioso por saber
quando orou: “Mostra-me, peço-te, a tua glória.” Sua oração foi concedida, e o Senhor disse:
“Farei passar toda a minha bondade diante de ti” (Êxodo 33: 18-19). A glória, então, não é
um fenômeno físico. É equiparado com a bondade de Deus.
E foi assim que a glória foi revelada. Moisés ficou sozinho no topo do monte, a glória passou,
"o Senhor desceu nas nuvens" e a grande resposta foi revelada:

O Senhor, o Senhor, Deus, misericordioso e gracioso,


longânimo e abundante em bondade e
verdade; guardar misericórdia até a milésima
geração, perdoando iniqüidade, transgressão
e pecado; e isso de maneira alguma limpará o
culpado; visitando a iniqüidade dos pais
sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos
até a terceira e quarta geração.
Êxodo 34: 6-7

A glória é a presença, não a essência de Deus; um ato e não uma qualidade; um processo não
uma substância. Principalmente a glória se manifesta como um poder que domina o
mundo. Exigente homenagem, é um poder que desce para guiar, para lembrar. A glória
reflete a abundância do bem e da verdade, o poder que atua na natureza e na história.
Toda a terra está cheia da Sua glória. Isso não significa que a glória preenche a terra da
maneira como o éter preenche o espaço ou a água preenche o oceano. Isso significa que toda
a terra está cheia da Sua presença. 4

A PRESENÇA VIVA
Em inglês, é difícil definir a frase que uma pessoa “tem presença”. Existem pessoas cujo estar
aqui e agora é sentido, mesmo que não se mostrem em ação ou discurso. Eles têm "presença".
Há outras pessoas que podem estar aqui o tempo todo, e ninguém estará ciente de sua
presença. De uma pessoa cuja exterioridade comunica algo de seu poder ou grandeza
interior, cuja alma é radiante e se transmite sem palavras, dizemos que ele tem presença.
Toda a terra está cheia da Sua glória. A exterioridade do mundo comunica algo da grandeza
que habita em Deus, que é radiante e se transmite sem palavras. “ Não há fala, não há
palavras, nem a voz delas é ouvida.” E, no entanto, “a radiação delas sai por toda a terra e suas
palavras até o fim do mundo ” (Salmos 19: 4-5).
A glória não é uma categoria estética nem física. É sentido em grandeza, mas é mais que
grandeza. É, como dissemos, uma presença viva ou a refulgência de uma presença viva.
O CONHECIMENTO DA GLÓRIA
A glória é algo que é visto, ouvido ou claramente apreendido? Na mesma visão em que a
onipresença da glória é revelada a Isaías, proclama-se uma indicação da sensibilidade
suspensa do homem :

Vá e diga ao povo:
“Ouça e ouça, mas não entenda;
Veja e veja, mas não perceba. ”
Engrosse o coração deste povo,
e seus ouvidos pesados
e fechem os olhos;
Para que não vejam com os olhos
e ouçam com os ouvidos,
e entendam com o coração,
e se voltem e sejam curados.
Isaías 6: 9-10

A terra inteira está cheia da Sua glória, mas nós não a percebemos; está ao nosso alcance,
mas está além do nosso alcance.

Eis que ele passa por mim e eu não o vejo;


Ele segue em frente, mas eu não o percebo.
Jó 9:11

A terra está cheia da glória; não está cheio de conhecimento da glória. No tempo vindouro,
"a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar"
(Habacuque 2:14). Agora a glória está oculta ; no tempo vindouro “ A glória do Senhor será
revelada , e toda a carne a verá juntas” (Isaías 40: 5). É nesse sentido messiânico que o
salmista ora: “Deixe o mundo inteiro se encher de Sua glória. Amém e Amém ”(72: 19). E 5

ainda assim, a glória não é totalmente desconhecida para nós. Que não apenas os céus são
capazes de declarar isso, pode ser visto pelo fato de todos sermos chamados: "Declara a sua
glória entre as nações, as suas maravilhas entre todos os povos" (I Crônicas 16:24; ver
também Salmos 145 : 5) Não temos palavras para descrever a glória; não temos maneira
adequada de conhecê-lo. No entanto, o que é decisivo não é o nosso conhecimento, mas a
nossa consciência de sermos conhecidos por ele.
Tu percorres o meu caminho e a minha deitada,
conheces todos os meus caminhos.
Pois não há uma palavra na minha língua,
mas eis, Senhor, que a conheces completamente.

Para onde irei do Teu espírito?


Ou para onde fugirei da Tua presença?
Se eu subir ao céu, Tu estás lá;
Se eu arrumar minha cama no mundo subterrâneo, eis que Tu estás lá.
Se eu tomar as asas da manhã,
e habitar nos confins do mar;
Mesmo ali Tua mão me guiaria,
e Tua mão direita me seguraria.
E se eu disser: "Certamente as trevas me envolverão,
e a luz sobre mim será noite";
Até a noite brilha como o dia;
A escuridão é igual à luz.
Salmos 139: 3-4, 7-12

Permanecendo frente a frente com o mundo, muitas vezes sentimos um espírito que
ultrapassa nossa capacidade de compreensão. O mundo é demais para nós. Está repleto de
maravilhas. A glória não é uma exceção, mas uma aura que se encontra sobre todo ser, um
cenário espiritual da realidade.
Para o homem religioso, é como se as coisas estivessem de costas para ele, os rostos voltados
para Deus, como se a glória das coisas consistisse em serem objetos do pensamento divino. 6

CEGO PARA AS MARAVILHAS


A percepção da glória é uma ocorrência rara em nossas vidas. Não conseguimos imaginar,
deixamos de responder à presença. Esta é a tragédia de todo homem: “obscurecer toda a
maravilha pela indiferença.” A vida é rotineira, e a rotina é resistência à maravilha. “Repleto
é o mundo com um esplendor espiritual, repleto de segredos sublimes e maravilhosos. Mas
uma pequena mão contra o olho esconde tudo ”, disse o Baal Shem. “Assim como uma
pequena moeda colocada sobre o rosto pode bloquear a visão de uma montanha, as vaidades
da vida podem bloquear a visão da luz infinita.” 7

As maravilhas são diárias conosco, e ainda “o milagre não é reconhecido por ele que a
c

experimenta.” Sua apreensão não é uma questão de percepção física. “De que serve um olho
8

aberto, se o coração está cego?” Pode-se ver muitas coisas sem observá-las - “seus ouvidos
9

estão abertos, mas ele não ouve”. 10

“A palavra do Senhor veio a mim: 'Filho do homem, você mora no meio de uma casa rebelde,
que tem olhos para ver, mas não vê, que tem ouvidos para ouvir, mas não escuta'.” 11

“Infelizmente, para as pessoas que veem, mas não sabem o que veem, elas permanecem e
não sabem o que representam.” 12

DUREZA DO CORAÇÃO
Na Bíblia, a insensibilidade é a raiz do pecado. Há muitas palavras para expressá-lo:
"teimosia do coração", "dureza do coração" (Deuteronômio 29:18; Lamentações 3:65); “Com
cara de bravo e coração duro” (Ezequiel 2: 4); “De coração forte” (Isaías 46:12); “Incircunciso
no coração” (Jeremias 9:25). "O coração [dos ímpios] é nojento como gordura", exclama o
salmista (119: 70).
Os profetas censuram continuamente Israel por falta de sensibilidade:

Ele vê muitas coisas, mas não as observa;


Seus ouvidos estão abertos, mas ele não ouve.
Isaías 42:20

Em um clima de amargura, o profeta reclama que a insensibilidade tem sido a condição


permanente do povo:

Você nunca ouviu, nunca soube.


Desde os tempos antigos, seu ouvido não foi aberto.
Pois eu sabia que você lidaria com muita traição,
e que desde o nascimento você era chamado de rebelde.
Isaías 48: 8

Nossos pais, quando estavam no Egito, não consideraram


Tuas obras maravilhosas;
Eles não se lembraram da abundância de Teu amor inabalável,
mas se rebelaram contra o Altíssimo no Mar Vermelho.
Salmos 106: 7
NOTAS DO CAPÍTULO 8
1
Veja também Êxodo 16: 6, 7, 10; 24: 16f.
2
Ver I. Abrahams, A Glória de Deus , Oxford, 1925, p. 17, em refutação de A. Von Gall, Die
Herrlichkeit Glottes , Giessen, 1900.
3
1. Abrahams, op. dt., p. 24f.
4
Kavod , a palavra hebraica para glória, significa em sua raiz “peso”, o fato de ser pesado,
depois riqueza, força, honra, fama, dignidade e valor. Mas também significa a alma
superior, como evidenciado nos Salmos 30:13; 16: 9; 57: 9; 7: 6; e Gênesis 49: 6. Assim, o
salmista diz: “Meu coração é firme; Cantarei e louvarei até com a minha glória. ”(108:
2) Compare Qimhi, Sefer ha-Sherashim, Berlim, 1847, p. 311; cf. I. Abrahams, A Glória de
Deus , p. 18 e Pedersen, Israel , I-II, índice, sob kabhodh . Em nosso estudo, estamos
preocupados apenas com o kavod aplicado a Deus. É claro que não faria sentido supor que,
na mais sublime visão profética, os serafins proclamariam: “Santo, santo, santo é o Senhor
dos Exércitos. A terra inteira está cheia de sua fama.
5
Veja também Isaías 59:19; 60: 1-3; 66:18; Salmos 97: 1,4-6.
6
O homem não está sozinho , p. 63f.
7
Likkute Maharan , I, 133. “O rabino Helbo disse: O vinho de Perugitha (um lugar no norte de
Israel famoso por seu vinho) e a água de Diomsith cortaram as dez tribos de Israel (eles
estavam tão preocupados com esses prazeres que eles aprendizado negligenciado e fé
perdida, o que levou ao exílio e desaparecimento). ”“ O rabino Eleazar ben Arak visitou
aquele lugar e foi atraído por [seus habitantes e sua vida luxuosa] e [em conseqüência] seu
aprendizado desapareceu. Quando ele voltou para [sua cidade natal], levantou-se para ler no
Pergaminho (da Torá) .Ele queria ler, Hahodesh hazeh lakem [Este mês será para você um
começo] (Êxodo 12: 2), [em vez disso do qual ele leu] habaresh hayah libbam (o que significa
que o coração deles estava silencioso ou insensível). Ele interpretou mal uma letra em cada
palavra do texto. ” Shabat 147a.
8
Veja Niddah , 31a.
9
Ibn Gabirol, A Choice of Pearls , ed. Ascher, Londres, 1859, p. 82
10
Isaías 42:20.
11
Ezequiel 12: 1; veja Jeremias 5:21.
12
Hagigah, 12b. Para os ímpios, a luz espiritual que está oculta dos olhos do corpo é
indistinguível da escuridão. Isto é devido à sua cegueira. Se fossem sábios, entenderiam isso,
discerniriam (Deuteronômio 32:29). No entanto, eles não sabem, nem eles entendem; eles
andam na escuridão. Eles nem sabem que andam na escuridão. Eles são como aquele que
apalpa ao meio-dia “como os cegos apalpam na escuridão.” É uma dupla escuridão: eles são
cegos e não têm consciência de sua cegueira. Rabino Finéias Horowitz, Hamakneh, prefácio.

9
O mundo
A ADORAÇÃO DA NATUREZA
Ninguém fica sem admiração, necessidade de adorar, vontade de adorar. A questão é apenas
o que adorar, ou mais especificamente, qual objeto é digno de nossa adoração suprema. "Os
céus estrelados acima ... enchem a mente com admiração e admiração cada vez maiores." De
fato, é difícil viver sob um céu cheio de estrelas e não ser atingido por seu mistério. O sol é
dotado de poder e beleza, para todos os olhos verem. Quem poderia se abster de exaltar sua
grandeza? Quem poderia ir além da realização: a natureza é o último mistério; e mistério é o
fim?
Os gregos consideravam sagrados os poderes elementares da natureza. Expressões como "a
chuva sagrada" ou "a luz sagrada" são características de sua atitude. “Ó natureza, como te
1

adoramos mesmo contra nossas vontades”, confessa Sêneca. No rei Lear, Edmund exclama:
2

“Tu, natureza, és minha deusa; de acordo com a tua lei, meus serviços estão limitados.
” Belarius diz:“ Garotos curvados: este portão ensina como adorar os céus e te inclina para
3

o escritório sagrado de uma manhã. ” 4

A religião da natureza, o culto à grandeza do dado, sempre teve seus eleitores. Apesar da
liminar, “Cuidado para que você não levante os olhos para o céu, e quando você vê o sol, a lua
e as estrelas, todo o exército do céu, você é atraído e os adora” (Deuteronômio 4:19), foram,
mesmo nos tempos do exílio babilônico, aqueles que viraram o rosto para o leste e adoraram
o sol.
5

De fato, a beleza da natureza pode se tornar uma ameaça ao nosso entendimento


espiritual; existe um risco mortal de se encantar com seu poder.

Se eu olhei para o sol quando ele brilhou,


Ou a lua se movendo em esplendor,
E meu coração foi secretamente seduzido,
E minha boca beijou minha mão;
Isso também seria uma iniqüidade a ser punida pelos juízes,
pois eu deveria ter sido falso a Deus acima.
Jó 31: 26-28
A desilusão
Foi no movimento romântico que um novo entusiasmo religioso pela natureza começou, que
persiste em muitas mentes até hoje. A natureza assumiu um significado último e tornou-se o
objeto supremo de adoração, a única fonte de conforto e salvação e o árbitro final de
valores. Amá-la, manter comunhão com ela, expor-se à sua simpatia de cura era a forma mais
elevada de experiência religiosa. O deus Pan ressuscitou. Mas logo ele morreu novamente,
quando o homem pós-romântico descobriu que a natureza não poderia salvá-lo; a própria
natureza precisa de salvação. Impiedoso é o silêncio do céu. A natureza é surda aos nossos
gritos e indiferente aos nossos valores. Suas leis não conhecem misericórdia, nem
tolerância. Eles são inexoráveis, implacáveis, implacáveis.
Os gregos abordariam a terra, o ar e o sol, aliviando seus problemas. “Mas da crença no poder
da natureza de confortar o coração, de subjugar as paixões e de falar paz às almas dos
homens, não encontramos vestígios na poesia grega. O sentimento grego não endossa as
palavras de Cowper - "O baço raramente é sentido quando Flora reina". Os gregos não
levaram a natureza medicinalmente. A matéria inerte que não possui vida moral própria não
poderia dar impulso moral. ” 6

“Comungar com o coração da natureza - esse tem sido o modo credenciado desde os dias de
Wordsworth. A natureza, Coleridge nos assegura, tem ministrações pelas quais ela cura seu
filho errante e desmotivado….
“Não acredito que a natureza tenha coração; e suspeito que, como muitas outras belezas, ela
tenha sido creditada com um coração por causa de seu rosto…. O que, de fato, ela quer com
um coração ou cérebro? Ela sabe que é bonita e está placidamente satisfeita com o
conhecimento; ela foi feita para ser contemplada e cumpre o fim de sua criação. Ela não pode
dar o que não precisa; e se fôssemos organizados de maneira semelhante, deveríamos ser
independentes da simpatia. Um homem não pode ir direto aos seus objetos, porque ele tem
um coração; ele não pode comer, beber, dormir, ganhar dinheiro e ficar satisfeito, porque ele
tem um coração. É uma coisa travessa, e os sábios aproveitam a primeira oportunidade de
entregá-la.
“No entanto, a coisa é, afinal, muito profunda para brincar. O que é esse coração da natureza,
se é que existe? É, de acordo com a doutrina convencional derivada de Wordsworth e Shelley,
um coração de amor, de acordo com o coração do homem, e roubando-o através de mil
caminhos de simpatia muda? Não; nesse sentido, repito seriamente o que disse de ânimo
leve: a natureza não tem coração. ” 7

O declínio gradual do naturalismo na arte e na filosofia contemporânea é, de certo modo, um


movimento de iconoclastia espiritual. Ao mesmo tempo, a natureza, uma vez que objeto de
adoração final, ameaça se tornar uma fonte de desespero final. Para o judaísmo, a adoração
à natureza é tão absurda quanto a alienação da natureza é desnecessária.
A dessanificação da natureza
O pensamento bíblico conseguiu subjugar a tendência universal do homem antigo de dotar
a natureza de uma potência misteriosa como mana e orenda, enfatizando a indicação em toda
a natureza da sabedoria e bondade do Criador.
Uma das grandes realizações dos profetas foi o repúdio à natureza como objeto de
adoração. Eles tentaram nos ensinar que nem a beleza nem a grandeza da natureza, nem o
poder nem o estado, nem o dinheiro nem as coisas do espaço são dignos de nossa suprema
adoração, amor, sacrifício ou auto-dedicação. No entanto, a dessanificação da natureza não
provocou uma alienação da natureza. Ele uniu o homem a todas as coisas em uma comunhão
de louvor. O homem bíblico poderia dizer que estava "em aliança com as pedras do campo"
(Jó 5:23).
O QUE É DADO NÃO É O ÚLTIMO
Qual é então o melhor? Que objeto é digno de nossa adoração suprema? Essas questões estão
envolvidas em todos os problemas com os quais o homem continua lutando até hoje. O
homem ocidental deve escolher entre a adoração a Deus e a adoração à natureza. A Bíblia
afirma que, apesar de todo o seu poder e preciosidade, beleza e grandeza, a natureza não é
tudo. Ele nos convida a lembrar que o que é dado não é o supremo. Exorta-nos a não deixar
o mundo ficar como um muro entre nós e Deus.
Para a mente grega, o universo é a soma e a substância de tudo o que existe; até os deuses
fazem parte, e não a causa do universo. “O mundo (cosmos), o mesmo para todos, não foi
feito por nenhum deus ou homem, mas sempre foi e é e será.” O universo para Platão é “um
8

ser vivo visível ... um deus perceptível… o maior , melhor, mais justo, mais perfeito. ” “ Ó9

natureza, de ti são todas as coisas, em ti são todas as coisas, para ti todas as coisas retornam.
”10

Em contraste, a mente bíblica está profundamente consciente de que o Deus supremo está
além do dado. O que é dado não é definitivo, mas criado por Aquele que não é dado. Em
nenhum lugar da Bíblia é questionada a realidade do universo, mas ao mesmo tempo
prevalece uma certeza de que, por toda a sua grandeza, o universo não é nada comparado ao
seu Criador. "O céu é o meu trono, e a terra é o meu escabelo" (Isaías 66: 1). Todas as nações
são como nada diante dEle; são considerados por Ele como coisas de nada e vaidade ”(Isaías
40:17). Talvez tenha sido essa consciência que tornou possível as famosas palavras:
“Vaidade das vaidades, diz Koheleth, vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem
o homem de todo o seu trabalho, em que trabalha debaixo do sol? ”(Eclesiastes 1: 2-3).

Para os gregos e para muitos outros povos, a terra é geralmente conhecida como Mãe
Terra . Ela é a mãe que envia os frutos, os doadores dos filhos e os seus homens voltam com
a morte. A poesia e o drama gregos exaltam a divindade da terra e, de acordo com Plutarco,
"o nome de Ge é querido e precioso para todos os helenos, e é nossa tradição honrá-la como
qualquer outro deus". A adoração à beleza e abundância na literatura grega, a terra é tingida
com um sentimento de gratidão à terra por seus dons ao homem.
Tal conceito é estranho ao homem bíblico. Ele reconhece apenas um dos pais: Deus como
11

seu pai. A terra é sua irmã e não sua mãe. O homem e a terra são igualmente criações de
Deus. Os profetas e o salmista não honram ou exaltam a terra, embora residam em sua
grandeza e abundância. Eles louvam Aquele que a criou.
A CONTINGÊNCIA DA NATUREZA
Para o homem bíblico, o poder de Deus está por trás de todos os fenômenos, e ele está mais
12

preocupado em conhecer a vontade de Deus que governou a natureza do que em conhecer a


ordem da própria natureza. Importante e impressionante como a natureza é para ele, Deus
é muito mais. É por isso que o Salmo 104 é um hino a Deus, e não uma ode ao cosmos.
A idéia do cosmos é uma das contribuições mais destacadas da filosofia grega, e podemos
entender bem por que uma concepção semelhante não surgiu no pensamento hebraico. Pois
a idéia de um cosmos, de uma totalidade de coisas, completa em si mesma, implica o conceito
de uma norma imanente da natureza, de uma ordem que tem sua base na natureza.
Mas quais são os fundamentos da natureza? Para os gregos que tomam o mundo como
natural, a ordem é a resposta. Para a mente bíblica, em sua natureza radical de espanto, a
ordem não é uma resposta, mas um problema: por que existe ordem, afinal?
Quais são os fundamentos da terra? Não há fundamentos naturais. As fundações do mundo
não são deste mundo. A terra continua a existir por causa Dele

Que fica acima do círculo da terra


E seus habitantes são como gafanhotos ...
Que nada leva a príncipes.
Ele faz dos juízes da terra algo em nada.
Escassos são plantados
Escassos são semeados
Escassos têm seu estoque enraizado na terra;
Quando Ele sopra sobre eles, eles murcham,
e o turbilhão os leva embora como restolho.
Isaías 40: 22-24
Agora, o homem bíblico, é claro, está consciente de uma ordem da natureza na qual se pode
confiar na vida cotidiana. Mas essa ordem é aquela que foi investida na natureza pela vontade
de Deus e permanece constantemente dependente Dele. Não é uma lei imanente, mas um
decreto divino que domina tudo. Deus dera o seu decreto ao mar; Ele havia designado os
fundamentos da terra (Provérbios 8:29); e Ele continuou a governar o mundo de fora. A
natureza é o objeto de Seu cuidado perpétuo, mas essa própria dependência da natureza do
cuidado divino é uma expressão de sua contingência. O homem bíblico não aceita nada como
garantido, e para ele as leis da natureza precisam tanto de derivação quanto os processos
regidos por essas leis. A existência continuada do mundo é garantida pela fidelidade de Deus
a essa aliança. “Assim diz o Senhor: se minha aliança não for de dia e de noite ...” (Jeremias
33:25). O mundo não é uma necessidade ontológica. De fato, o céu e a terra podem não durar
para sempre:

Desde a antiguidade fundaste a terra;


E os céus são obra das tuas mãos.
Eles perecerão, mas suportarás;
Sim, todos eles se encerarão como uma roupa;
Como manto os trocarás, e eles passarão;
Mas tu és o mesmo,
e os teus anos não terão fim.
Salmos 102: 26-28 13

O mundo não é o todo para a Bíblia e, portanto, o todo nunca poderia vir a denotar o
mundo. O homem bíblico não se encanta com o que é dado. Ele percebe a alternativa, a saber,
a aniquilação do dado. Ele não se encanta com a ordem, porque ele tem uma visão de uma
nova ordem. Ele não está perdido para o aqui e agora, nem para o além. Ele sente o não-dado
com o dado, o passado e o futuro com o presente. Ele é ensinado que "os montes podem
partir, as colinas serão removidas, mas a minha bondade não se apartará de ti ..." (Isaías
54:10). A concepção hebraica foi corretamente caracterizada por AN Whitehead como a
doutrina da lei imposta , em contraste com a doutrina da lei imanente desenvolvida na
filosofia grega. De acordo com a doutrina da lei imposta , é imposta a cada um existente a
necessidade de estabelecer relações com os outros constituintes da natureza. Esses padrões
de comportamento impostos são as leis da natureza. Newton, por exemplo, afirma
claramente que os modos correlatos de comportamento dos corpos que formam o sistema
solar exigem Deus para a imposição dos princípios dos quais todos dependem.
A doutrina da lei imposta leva à concepção monoteísta de Deus como essencialmente
transcendente e apenas acidentalmente imanente; enquanto a doutrina da lei imanente leva
à doutrina panteísta de Deus como essencialmente imanente e de modo algum
transcendente. “Especulações subseqüentes”, aponta Whitehead, “oscilam entre esses dois
14

extremos, buscando sua reconciliação. Nisso, como na maioria dos outros assuntos, a história
do pensamento ocidental consiste na tentativa de fusão de idéias que em sua origem são
predominantemente helênicas, com idéias que em sua origem são predominantemente
semíticas. ”
Num sentido profundo, a pergunta: o que é realidade? o que é o mundo para o homem
bíblico? é melhor respondida por outra pergunta: o que é o mundo para Deus? Para ele, o
assunto da pergunta - o mundo - é maravilhoso demais para ser totalmente compreendido
em relação ao homem. O mundo em seu significado último deve ser entendido em relação a
Deus, e a resposta para a pergunta é: todas as coisas são Seus servos.

Para sempre, ó Senhor, a


tua palavra permanece firme no céu.
Tua fidelidade é para todas as gerações;
Tu estabeleceste a terra, e ela permanece.
Eles permanecem neste dia de acordo com as tuas ordenanças;
Pois todas as coisas são teus servos.
Salmo 119: 89-91
A FALACIA DO ISOLAMENTO
Os profetas atacaram o que pode ser chamado de falácia do isolamento. Coisas e eventos, o
homem e o mundo, não podem ser tratados à parte da vontade de Deus, mas apenas como
partes inseparáveis de uma ocasião em que o divino está em jogo. Parafraseando o versículo,
“que você não pode mexer uma flor sem incomodar uma estrela”, um profeta pode dizer:
“você não pode ofender um ser humano sem afetar o Deus vivo”. Somos ensinados a acreditar
que onde o homem ama o homem, Seu nome. é santificado; que na harmonia de marido e
mulher reside a presença de Deus.
Para o homem bíblico, o sublime é apenas uma forma na qual a presença de Deus se
manifesta. As coisas nem sempre param. As estrelas cantam; as montanhas tremem em Sua
presença. Para pensar em Deus, o homem deve ouvir o mundo. O homem não está sozinho
15

na celebração de Deus. Louvá-Lo é juntar todas as coisas em sua canção a Ele. Nosso
parentesco com a natureza é parentesco de louvor. Todos os seres louvam a Deus. Vivemos
em uma comunidade de louvor.
A NATUREZA NA ADORAÇÃO DE DEUS
Poucos são os cânticos da Bíblia que celebram a beleza da natureza, e esses são um
testemunho amplo do fato de que o homem bíblico era altamente sensível à forma, cor, força
e movimento. No entanto, como o vínculo entre o mundo e Deus não estava quebrado em sua
mente, a beleza do universo não era o objeto supremo de sua adoração. Para o homem
bíblico, a beleza do mundo surgiu da grandeza de Deus; Sua majestade elevou-se além do
mistério de tirar o fôlego do universo. Em vez de ser esmagado pelo mistério, ele foi
inspirado a louvar a majestade. E, em vez de louvar o mundo por sua beleza, ele pediu ao
mundo que louvasse seu Criador.
O que o salmista sentiu ao encontrar o mundo é expresso de forma sucinta na exclamação:

Cante ao Senhor uma nova canção;


Cante ao Senhor, toda a terra.
Salmos 96: 1

Louvai-o, sol e lua,


louvai-o, todas as estrelas brilhantes!
Louvai-o, céus mais altos,
e as águas acima dos céus ...
Louve o Senhor da terra,
monstros marinhos e todas as profundezas,
fogo e saraiva, neve e geada,
vento tempestuoso cumprindo Seu comando!
Montanhas e todas as colinas,
árvores frutíferas e todos os cedros!
Feras e todo o gado,
rastejando coisas e pássaros voadores!
Salmos 148: 3-9

O padre egípcio não podia convocar as estrelas para louvar os deuses. Ele acreditava que a
alma de Ísis cintilava em Sirius, a alma de Hórus em Órion e a alma de Tifão no Grande
Urso; estava além do seu alcance conceber que todos os seres se admiravam e adoravam a
16

Deus. Para a mente bíblica, toda a criação foi convocada por Deus para Sua glória, e cada
criatura tem seu próprio hino de louvor com o qual exaltar o Criador. "Todas as tuas obras
te louvam" (Salmos 145: 10). É uma crença que é repetidamente declarada na liturgia
judaica.
Há um pequeno livro hebraico, escrito na Idade Média, chamado The Chapter of Song , que
contém oitenta e quatro canções que os seres celestes e terrestres proferem em louvor a
Deus. Estrelas e nuvens, vento e chuva, fontes e rios, árvores e vegetais, bestas e pássaros -
toda criatura tem seu próprio canto. 17

UMA COISA POR DEUS


Segundo a Bíblia, a vida "interior" da natureza está fechada ao homem. A Bíblia não afirma
que as coisas falam ao homem; apenas afirma que as coisas falam com Deus. Objetos
inanimados estão mortos em relação ao homem; eles estão vivos em relação a Deus. Eles
cantam para Deus. As montanhas derretem como cera, as águas tremem na presença do
Senhor (Salmos 77:17; 97: 5). "Tremem, ó terra, na presença do Senhor, na presença do Deus
de Jacó" (Salmos 114: 7).
De quem ouviram as árvores cantarem a Deus? Nossa razão já pensou em invocar o sol para
louvar ao Senhor? E, no entanto, o que o ouvido deixa de perceber, que razão deixa de
conceber, a Bíblia deixa clara para as nossas almas. É uma verdade superior, a ser apreendida
pelo espírito.
O homem moderno repousa sobre a ordem e o poder da natureza; os profetas se debruçam
sobre a grandeza e criação da natureza. O primeiro direciona sua atenção para o aspecto
gerenciável e inteligível do universo; o último ao seu mistério e maravilha. O que os profetas
sentem na natureza não é um reflexo direto de Deus, mas uma alusão a Ele. A natureza não é
uma parte de Deus, mas um cumprimento de Sua vontade.
Levante os olhos para o alto e veja quem os criou. Existe uma forma superior de
ver. Precisamos aprender a elevar os olhos para o alto, a fim de ver que o mundo é mais uma
pergunta do que uma resposta. A beleza e o poder do mundo não são nada comparados a
Ele. A grandeza da natureza é apenas o começo. Além da grandeza está Deus.
O homem bíblico não vê a natureza isoladamente, mas em relação a Deus. “No princípio, Deus
criou o céu e a terra” - essas poucas palavras estabelecem a contingência e a dependência
absoluta de toda a realidade. O que é então a realidade? Para o homem ocidental, é uma coisa
em si ; para o homem bíblico, é uma coisa através de Deus. Olhando para uma coisa, seus olhos
não vêem tanto forma, cor, força e movimento como um ato de Deus. O mundo é um portão,
não um muro.
A PERGUNTA DA AMAZEMENT
A filosofia grega começou em um mundo sem Deus. Não podia aceitar os deuses ou o exemplo
de sua conduta. Platão teve que romper com os deuses e perguntar: o que é bom? Assim
nasceu o problema dos valores. E foi a ideia de valores que tomou o lugar de Deus. Platão
deixa Sócrates perguntar: O que é bom? Mas a pergunta de Moisés foi: O que Deus exige de
ti?
Não há palavra no hebraico bíblico para dúvida; existem muitas expressões de
admiração. Assim como, ao lidar com julgamentos, nosso ponto de partida é a dúvida, a
maravilha é o ponto de partida bíblico para enfrentar a realidade. O senso do homem bíblico
quanto à grandeza da realidade que ultrapassa a mente impediu que o poder da dúvida
estabelecesse sua própria dinastia independente. A dúvida é um ato em que a mente
inspeciona suas próprias idéias; a maravilha é um ato em que a mente confronta o
universo. O ceticismo radical é a conseqüência do conceito sutil e da auto-suficiência. No
entanto, não havia presunção nos profetas nem autoconfiança no salmista.
E assim o homem bíblico nunca pergunta: existe um Deus? Fazer essa pergunta, na qual a
dúvida é expressa sobre qual das duas atitudes possíveis é verdadeira, significa aceitar o
poder e a validade de uma terceira atitude, a saber, a atitude da dúvida. A Bíblia não conhece
a dúvida como uma atitude absoluta. Pois não há dúvida de que a fé não está envolvida. As
perguntas avançadas na Bíblia são de um tipo diferente.

Erga os olhos para o alto e veja: Quem te criou?

Isso não reflete um processo de pensamento organizado ordenadamente na ordem da dúvida


e depois na fé; primeiro a pergunta, depois a resposta. Reflete uma situação em que a mente
fica frente a frente com o mistério, e não com seus próprios conceitos.

Uma pergunta é uma sentença interrogativa que pede uma resposta positiva ou
negativa. Mas a frase Quem os criou? é uma pergunta que contém a impossibilidade de dar
uma resposta negativa; é uma resposta disfarçada; uma questão de espanto, não de
curiosidade. Esta é, portanto, a tese do profeta: existe uma maneira de fazer a grande
pergunta que só pode provocar uma resposta afirmativa. Qual é o caminho?
“No final dos dias, eu, Nabucodonosor, levantei meus olhos para o céu e meu poder de
conhecimento voltou para mim.” Essa confissão do rei da Babilônia, relatada no livro de
Daniel (4:31), nos dá uma idéia de como recuperar a capacidade de fazer a pergunta
final: elevar os olhos para o céu. É a mesma expressão que Isaías usou: “Erga bem os olhos e
veja: quem os criou?”
A parábola a seguir foi contada pelo rabino Nahman, de Bratslav.
Havia um príncipe que morava longe de seu pai, o rei, e ele sentia muita saudade de seu
pai. Certa vez, ele recebeu uma carta de seu pai e ficou muito feliz e apreciou-a. No entanto,
a alegria e o prazer que a carta lhe deu aumentaram ainda mais seu desejo. Ele sentava e
reclamava: “Oh, oh, se eu pudesse apenas tocar sua mão! Se ele estender sua mão para mim,
como eu a abraçaria. Eu beijaria todos os dedos do meu grande desejo por meu pai, meu
professor, minha luz. Pai misericordioso, como eu adoraria tocar pelo menos o seu dedo
mindinho! ”E enquanto ele estava reclamando, sentindo e desejando o toque do pai, um
pensamento surgiu em sua mente: Não tenho a carta do meu pai, escrita em a própria mão! A
caligrafia do rei não é comparável à sua mão? E uma grande alegria brotou nele.

Quando olho para o céu, o trabalho dos teus dedos.


Salmos 8: 4
NOTAS DO CAPÍTULO 9
1
Sófocles, Édipo Tyrannus , 1424-1429; Electra , 86-95.
2
Hipólito, Ato IV, 1116.
3
Rei Lera , Ato I, Cena 2, 1-2.

4
Cymbeline , Ato III, Cena 3, 2-7.
5
Ezequiel 8:16; compare II Reis 17:16; 21: 3.
6
G. Soutar, Nature in Greek Poetry, Londres, 1939, pp. 178-191.
7
As obras de Francis Thompson, vol. III, pp. 80-81. Ver Will Herberg, Judaísmo e Homem
Moderno , Nova York, 1951, p. 34)
8
Diels, Die Fragmente der Vorsokratiker , Heracleitus, fr. 30)
9
Timeu , fim.
10
Marco Aurélio, Meditações , IV, 23.
11
A frase em Sirach 40: 1, referindo-se à Terra como "a mãe de todos os vivos", tem sido
frequentemente mal interpretada como expressando as concepções da Terra como a mãe do
homem. O verdadeiro significado, parece-nos, é uma referência aos recantos da terra como
o reino da vida após a morte. Compare Ezequiel 26:20; 32:32; Jó 1:21; Salmos 116: 9. Nos
Salmos 139: 15, a referência não é à terra, mas aos recessos da terra. Deus é quem criou o
homem; os recessos da terra eram o lugar dessa formação. Compare IV Esdras 5:28.
12
Toda ocorrência na natureza era considerada um ato da providência divina; cp. Isaías
40:26; Jó 27: 4-6.
13
Compare Abravanal, Mifalot Elohim, VII, 3. Seguindo Saadia, Abravanal apóia sua tese sobre
a destrutibilidade do universo com referências da literatura rabínica. Maimonides, O Guia
dos Perplexos , II, cap. 27 e 29; Gersonides, Milhamot Hashem , VI, 1,16 e, nos tempos
modernos, Hermann Cohen, Ethik des reinen Willens, p. 387ff, mantenha a tese da
indestrutibilidade.
14
Aventuras de idéias , p. 154
15
Jó 38: 7; Salmos 114: 4.
16
JG Frazer, O Deus moribundo , p. 5)
17
Veja Louis Ginsberg, As Lendas dos Judeus, vol. Eu p. 44 e vol. V, p. 60 n. 194

10
Uma pergunta dirigida a nós
SOLIDÃO METAFÍSICA
Os ideais que buscamos, os valores que tentamos cumprir, têm algum significado no domínio
dos processos naturais? O sol lança seus raios sobre os justos e maus, sobre flores e cobras. O
coração bate normalmente dentro daqueles que torturam e matam. Toda bondade e luta pela
veracidade é apenas uma ficção da mente à qual nada corresponde na realidade? Onde os
valores do espírito são válidos? Dentro da vida interior do homem? Mas o espírito é um
estranho na alma. Uma demanda como “ame o seu próximo como a si mesmo” não está em
casa no eu.
Temos em comum uma terrível solidão. Dia após dia, surge uma pergunta desesperadamente
em nossas mentes: estamos sozinhos no deserto do eu, sozinhos neste universo silencioso,
do qual fazemos parte, e no qual nos sentimos ao mesmo tempo como estranhos?
É uma situação que nos prepara para procurar uma voz de Deus no mundo dos homens: o
gosto da solidão absoluta; a descoberta de que, a menos que Deus tenha voz, a vida do
espírito é uma aberração; que o mundo sem Deus é um torso; que uma alma sem fé é um
tronco.
NÃO É UM PROBLEMA CIENTÍFICO
Quais são os motivos de nossa certeza da realidade de Deus? É claro que não podemos
submeter a religião à lógica científica. A ciência não é o único caminho para a verdade, e seus
métodos não representam todo o pensamento humano. De fato, eles estão fora de lugar
naquela dimensão da existência humana em que Deus é uma questão ardente.
Deus não é um problema científico, e métodos científicos não são capazes de resolvê-lo. A
razão pela qual se pensa que os métodos científicos são capazes de resolvê-lo é o sucesso de
sua aplicação em ciências positivas. A falácia envolvida nessa analogia é tratar Deus como se
Ele fosse um fenômeno dentro da ordem da natureza. A verdade, no entanto, é que o
problema de Deus não está relacionado apenas aos fenômenos da natureza, mas à própria
natureza; não apenas aos conceitos do pensamento, mas ao próprio pensamento. É um
problema que se refere ao que ultrapassa a natureza, ao que está além de todas as coisas e
todos os conceitos.
No momento em que pronunciamos o nome de Deus, deixamos o nível do pensamento
científico e entramos no reino do inefável. Tal passo é um passo que não podemos dar
cientificamente, pois transcende os limites de tudo o que é dado. Apesar de todas as
advertências, o homem nunca deixou de ser instigado pelas questões definitivas. A ciência
não pode silenciá-lo, porque os termos científicos são sem sentido para o espírito que levanta
essas questões, sem sentido para a preocupação com uma verdade maior que o mundo que
a ciência está empenhada em explorar.
Deus não é o único problema inacessível à ciência. O problema da origem da realidade
permanece imune a ela. Existem aspectos da realidade dada que são congruentes com as
categorias da lógica científica, enquanto há aspectos da realidade inacessíveis a essa
lógica. Mesmo alguns aspectos e conceitos de nosso próprio pensamento são inexpugnáveis
para análise.
ALÉM DE DEFINIÇÕES
Um dos primeiros diálogos de Platão, os Charmides , é dedicado ao exame da questão: o que
é temperança? Várias definições são oferecidas, mas todas são inadequadas. Sócrates então
admite que a temperança não pode ser definida: “Fui completamente derrotado e não
consegui descobrir o que é que o impostor de nomes deu esse nome de temperança.” Existe
a possibilidade de um homem “saber de uma espécie de maneira que ele não conhece. ”
As doutrinas mais profundas “não admitem expressão verbal como outros estudos”. Elas só
podem ser entendidas “como resultado da aplicação contínua ao próprio sujeito e da
comunhão com ele”. Esse entendimento é “trazido à luz na alma repentinamente, como luz
que é acesa por uma faísca que salta, e depois se nutre. ”
1

É impossível definir "bondade" ou "fato", não porque eles representam algo irracional ou
sem sentido, mas porque eles representam idéias que ultrapassam os limites de qualquer
definição; eles são super-racionais, e não sub-racionais. Não podemos definir “o santo” ou
proferir em palavras o que queremos dizer em “abençoado seja Ele”. O que o “santo” se
refere, o que queremos dizer com “abençoado seja Ele”, está além do alcance das palavras. “A
melhor parte da beleza é aquela que uma imagem não pode expressar.” 2

Se nossos conceitos básicos são inexpugnáveis para análise, não devemos nos surpreender
que as respostas definitivas não sejam atingíveis apenas pela razão. Se é impossível definir
“bondade”, “valor” ou “fato”, como devemos conseguir definir o que queremos dizer com
Deus? Todo ato e julgamento religioso envolve a aceitação do inefável, o reconhecimento do
inconcebível. Quando as questões básicas da religião, como Deus, revelação, oração,
santidade, mandamentos, são dissolvidas em categorias de pedestres e privadas de
relevância sublime, elas quase se tornam sem sentido.
As categorias de pensamento religioso, como dito acima, são únicas e representam uma
maneira de pensar em um nível mais profundo do que o nível de conceitos, enunciados,
símbolos. É imediato, inefável, metassimbólico. Os professores de religião sempre tentaram
elevar suas idéias ao nível do enunciado, dogma, credo. No entanto, tais enunciados devem
ser tomados como indicações, como tentativas de transmitir o que não pode ser
adequadamente expresso, se não quiserem impedir a fé autêntica.

O PRINCÍPIO DA INCOMPATIBILIDADE
O objetivo da ciência é explicar os processos da natureza. Toda explicação científica de um
fenômeno natural repousa na suposição de que as coisas se comportam de uma maneira que
é fundamentalmente racional e inteligível à razão humana. Com o avanço da ciência, cada
3

vez mais fenômenos se mostram inteligíveis, confirmando assim a suposição da


racionalidade do modo como as coisas se comportam e sua compatibilidade com a razão
humana. Muitos fenômenos hoje desconhecidos serão provavelmente explicados à medida
que a investigação científica continua avançando.
No entanto, a essência da realidade permanece incompatível com nossas categorias. A
natureza, enquanto ser, e até o próprio ato de pensar, estão além do alcance da apreensão. A
essência das coisas é inefável e, portanto, incompatível com a mente humana, e é
precisamente essa incompatibilidade que é a fonte de todo pensamento criativo em arte,
religião e vida moral. Podemos, portanto, sugerir que, assim como a descoberta da
compatibilidade da realidade com a mente humana é a raiz da ciência, a descoberta da
incompatibilidade do mundo com a mente humana é a raiz do insight artístico e religioso. É
o reino do inefável, onde o mistério está ao alcance de todos os pensamentos, no qual nascem
os problemas finais da religião.
A DIMENSÃO DOS INEFICIENTES
Por inefável, não queremos dizer o desconhecido como tal; coisas desconhecidas hoje podem
ser conhecidas daqui a mil anos. Por inefável, entendemos o aspecto da realidade que, por
sua própria natureza, está além da nossa compreensão e é reconhecido pela mente como
estando além do escopo da mente. O inefável também não se refere a um domínio separado
do perceptível e do conhecido. Refere-se à correlação do conhecido e do desconhecido, do
conhecível e do incognoscível, sobre o qual a mente entra em todos os seus atos de
pensamento e sentimento.

O sentido do inefável é um sentido de transcendência, um sentido de alusão à realidade para


um significado super-racional. O inefável, então, é sinônimo de significado oculto, e não de
ausência de significado. Representa uma dimensão que na Bíblia se chama glória, uma
dimensão tão real e sublime que atordoa nossa capacidade de adorá-la e nos enche de
admiração e não curiosidade.
O universo, com milhões e milhões de corpos, o mais distante deles é uma distância
incompreensível do globo, não tem nenhuma referência às necessidades da vida como a
compreendemos. Do ponto de vista do homem, o universo parece não ter objetivo ou
propósito, e pareceria sem sentido se o homem fosse a medida do significado. Mas aqui
somos culpados de uma contradição. Como o homem poderia ser uma medida de significado
se, em última análise, não há significado? Diante da grandeza que supera a mente do
universo, não podemos deixar de admitir que existe um significado que é maior que o
homem. Parece haver dois cursos de pensamento humano: um começa com o homem e suas
necessidades e acaba assumindo que o universo é uma exibição sem sentido ou um
desperdício de energia; o outro começa com espanto, reverência e humildade e termina na
suposição de que o universo está cheio de uma glória que ultrapassa o homem e sua mente,
mas que tem um significado eterno para Aquele que tornou possível.
Lembremos o que foi dito em outro lugar em resposta à pergunta: O que podemos
4

legitimamente afirmar sobre a infinita varredura de mistério em que nossas almas são
apanhadas? É desconhecido e não está em consonância com nossas categorias, por ser nulo
de sentido? Sugerimos que, a menos que nossas idéias de admiração sejam sinais de loucura,
e desprezo pela grandiosidade e mistério do universo, a única atitude válida da alma, seria
um ato de insensatez desafiar nosso senso intuitivo do mistério e afirmar que os enigmas
finais são o limiar do caos, e não a margem do significado sem fim.
Confinados em nossas próprias salas de estudo, podemos ter qualquer ideia que venha à
nossa mente. Sob tais circunstâncias, é até plausível dizer que o mundo é inútil e que tudo
significa um sonho ou ficção. E, no entanto, ninguém pode zombar das estrelas, zombar do
amanhecer, ridicularizar a explosão da primavera ou zombar da totalidade do ser. Longe do
imenso, enclausurado em nossos próprios conceitos, podemos desprezar e ofender
tudo. Mas, estando entre o céu e a terra, somos silenciados.
A CONSCIÊNCIA DO SIGNIFICADO TRANSCENDENTE
Somos condicionados pela estrutura da natureza e pela estrutura de nossas mentes. E mais
importante do que o sentimento de admiração é a validade e a exigência de admiração que
permanecem incontestáveis pela mente do homem. A admiração é a consciência
do significado transcendente , de uma sugestividade espiritual da realidade, de uma alusão
ao significado transcendente. O mundo em sua grandeza está cheio de um esplendor
espiritual, para o qual não temos nome nem conceito.
Ficamos impressionados com a consciência da imensa preciosidade do ser; uma
preciosidade que não é um objeto de análise, mas uma causa de admiração; é inexplicável,
sem nome e não pode ser especificado ou colocado em uma de nossas categorias. No entanto,
temos uma certeza sem conhecimento: é real sem ser expressável. Não pode ser comunicado
a outras pessoas; todo homem precisa encontrá-lo sozinho. Em momentos de sentir o
inefável, estamos tão certos do valor do mundo quanto de sua existência. Deve haver um
valor que valha a pena a existência do mundo. Podemos ser céticos quanto ao fato de o
mundo ser perfeito. No entanto, mesmo se admitirmos sua imperfeição, a preciosidade de
sua grandeza está fora de questão.
O temor, então, é mais do que um sentimento. É uma resposta do coração e da mente à
presença de mistério em todas as coisas, uma intuição para um significado que está além do
mistério , uma consciência do valor transcendente do universo.
Ao afirmar que existe um significado transcendente no universo independente de nossa
compreensão, não damos uma mera idéia à existência, assim como não afirmamos "Este é
um oceano", quando somos levados por suas ondas. O mistério e a grandeza que enfrentamos
são esmagadoramente reais. O que eles representam é tão sublime que surpreende nossa
capacidade de adorá-lo. O imperativo de admiração é o seu certificado de evidência, um
certificado universal que todos selamos com tremor e fascinação, não porque desejamos,
mas porque estamos atordoados e não podemos enfrentá-lo. Na realidade, há muito mais
significado do que a alma pode compreender. Para nosso senso de mistério e admiração, o
mundo é incrível demais, significativo demais para nós, e sua existência é o fato mais
improvável e inacreditável, contrário a todas as expectativas razoáveis. . Até a nossa
capacidade de pensar nos enche de espanto.
Essa é, pois, uma visão que obtemos em atos de admiração: não para medir o significado em
termos de nossa própria mente, mas para sentir um significado infinitamente maior que nós
mesmos.
Sobre a certeza do significado último, apostamos nossas próprias vidas. Em todo julgamento
que fazemos, em todo ato que realizamos, assumimos que o mundo é significativo. A vida
seria inútil se agíssemos como se não houvesse um significado último. De fato, sua negação
envolveria uma autocontradição, porque se não houvesse um significado último, o próprio
ato de negá-lo seria sem sentido; em um mundo não governado pelo significado, a diferença
entre afirmação e negação não teria sentido.
O SENTIDO DAS MARAVILHAS É INSUFICIENTE
Nossa declaração deve ser qualificada. Nem toda especulação leva ao espanto. Kepler
poderia experimentar Deus nas leis matemáticas da natureza. Ao descobrir a ordem e a
harmonia da natureza, ele poderia exclamar: “Penso que Teus pensamentos estão contigo, ó
Deus!”. No entanto, nos afastamos bastante da abordagem dos primeiros cientistas. Antes de
podermos verificar se nossa perda de admiração é irrecuperável, devemos tentar entender
como a perda ocorreu.
O cientista moderno não lida com a natureza; ele lida com figuras, formulações e
instrumentos. “Se ele entender a estrutura de um núcleo atômico, ele deve gastar meio
milhão de libras em algum tremendo equipamento de engenharia e, enquanto o experimento
estiver em andamento, ele deve estar preparado para ser protegido do que está acontecendo
por espessas camadas de concreto . ”“ Olhando para trás, por exemplo, sobre a controvérsia
entre Goethe e Newton quanto à natureza da luz, agora pode-se ver que o que Goethe perdeu
na abordagem de Newton foi uma atitude de reverência. Hoje, ninguém pode se mover entre
os cientistas sem sentir o mesmo: há respeito e entusiasmo, às vezes espanto, mas raramente
muito reverência. ”5

Os céus declaram a glória de Deus. O homem é confrontado com um mundo que alude a algo
além de si mesmo, a uma verdade além da experiência. É a alusão a um significado que não é
deste mundo, e é essa alusão que nos transmite a consciência de uma dimensão espiritual da
realidade, a relação de ser com significado transcendente.
É verdade que o mistério do significado é silencioso. Não há discurso, não há palavras, a voz
não é ouvida. No entanto, além de nosso raciocínio e além de nossas crenças, existe
uma faculdade pré- conceitual que sente a glória, a presença do Divino. Nós não o
percebemos. Nós não temos conhecimento; nós só temos consciência. Nós testemunhamos
isso. E testemunhar é mais do que dar uma conta. Não temos conceito, nem podemos
desenvolver uma teoria. Tudo o que temos é uma consciência de algo que não pode ser
conceituado nem simbolizado.
A resposta para a questão final não é encontrada na noção de que os fundamentos do mundo
se encontram em meio a um nevoeiro impenetrável. O nevoeiro não substitui a luz, e o Deus
totalmente desconhecido não é um deus, mas um nome para a escuridão cósmica. O Deus
cuja presença no mundo que sentimos é anônima, misteriosa. Podemos sentir que Ele é, não
o que Ele é. Qual é o nome dele, sua vontade, sua esperança para mim? Como devo servi-lo,
como devo adorá-lo? O sentimento de admiração, admiração e mistério é necessário, mas
não suficiente para encontrar o caminho da admiração para o culto, da vontade de realizar,
do admiração à ação.
O ARGUMENTO DO DESIGN
Das várias maneiras pelas quais a existência de uma inteligência suprema foi demonstrada,
a prova teleológica ou o argumento do design é aquele que, segundo Kant, "sempre deve ser
mencionado com respeito". Alega que a ordem e o arranjo do universo não podem ser
adequadamente explicado sem assumir a atividade de um Deus inteligente. 6

O argumento do design infere a existência de um poder divino a partir da estrutura


intencional da natureza. Ordem implica inteligência. Essa inteligência é Deus. Uma
formulação clássica é encontrada em uma passagem familiar em Natural Theology
de Paley (1803), cap. 1. “Suponha que eu tenha encontrado um relógio no chão…. O
mecanismo sendo observado ... a inferência que achamos inevitável que o relógio deve ter
um fabricante; que deve ter existido, em algum momento e em algum lugar ou outro, um
artífice ou artífices, que o formou para o propósito que achamos que ele realmente
responde; que compreendeu sua construção e projetou seu uso. ”O universo está para Deus
na relação em que um relógio está relacionado ao mecânico que o construiu. Os céus são obra
de Suas mãos, assim como o relógio é obra do relojoeiro.
Essa comparação considera o universo como o relógio como uma entidade separada,
independente e absoluta. A natureza é uma coisa em si mesma, completa e auto-suficiente
no momento presente. O problema enfrentado não se refere à existência do universo, mas a
sua causa; não é o presente, mas o passado. Como a estrutura e a ordem da natureza últimas
foram pensadas em termos mecânicos, sua origem ou criação também foi concebida como
um processo mecânico, comparável ao processo de construção de um relógio.
As deficiências dessa visão estão em tomar o relógio e toda a realidade como garantidas. O
problema final não é apenas como ele surgiu, mas também como é que é. Além disso, o
problema se estende não apenas à substância da questão, mas ao ato de fazer essa
pergunta. Não podemos tomar a existência do relógio como um ponto de partida seguro e
apenas fazer a pergunta de quem o criou. O relógio em si não é um mistério? O ato de perceber
o relógio e de compreender seu design não é um fato incompreensível?

A RELIGIÃO COMEÇA COM MARAVILHAS E MISTÉRIO


O valor da prova do design reside em ser uma resposta a um problema especulativo; sua
fraqueza está no fracasso em responder ao problema religioso. O primeiro problema surge
da busca daqueles que têm certeza do que sabem (o fato do design do universo); o último
problema surge da surpresa daqueles que sabem que não sabem. A mente especulativa
procura explicar o conhecido; a mente religiosa procura uma maneira de explicar o
desconhecido. Se o mundo é dado como certo, tudo o que precisamos é conhecer sua
causa; mas se o mundo é um mistério, o problema mais urgente é: o que ele representa? Qual
é o seu significado? Toda referência a idéias análogas a atos mundanos se torna totalmente
inadequada.
Não há resposta no mundo para a maravilha suprema do homem no mundo. Não existe
resposta no eu à maravilha suprema do homem. A pergunta, quem criou esses? não pode ser
respondido referindo-se a uma causa ou poder, uma vez que a pergunta permaneceria, quem
criou o poder ou a causa? Não há nada no mundo que mereça o nome de Deus. O mundo é
um mistério, uma pergunta, não uma resposta. Apenas uma idéia que é maior que o mundo,
uma idéia que não é emprestada nem da experiência nem da especulação, é adequada e digna
de ser relacionada ao problema religioso. O mistério da criação e não o conceito de
design; um Deus que está acima do mistério, em vez de um designer ou uma mente
mestre; um Deus em relação a quem o mundo aqui e agora pode ganhar significado - essas
são respostas adequadas ao problema religioso. A admissão de que não compreendemos a
origem do universo é mais honesta do que a aceitação de um designer.
UMA PERGUNTA ENVIADA A NÓS
Há outra diferença essencial entre a questão de Deus na especulação e a questão de Deus na
religião. A primeira é uma pergunta sobre Deus; o segundo é uma pergunta de Deus. O
primeiro diz respeito a uma solução para o problema, se existe um Deus e, se existe um Deus,
qual é a Sua natureza? O segundo diz respeito à nossa resposta pessoal ao problema que nos
é endereçado nos fatos e eventos do mundo e em nossa própria experiência. Diferentemente
das questões da ciência que podemos, se desejarmos deixar para os outros, a questão final
não nos dá descanso. Cada um de nós é chamado a responder.
Para a mente especulativa, o mundo é um enigma; para a mente religiosa, o mundo é um
desafio. O problema especulativo é impessoal; o problema religioso é um problema
endereçado à pessoa. O primeiro se preocupa em encontrar uma resposta para a pergunta:
qual é a causa do ser? A segunda, com uma resposta à pergunta: o que nos é pedido?
O pensamento não é um fenômeno isolado: afeta toda a vida e, por sua vez, é afetado por
tudo que se conhece, sente, valoriza, pronuncia e faz. O ato de pensar em Deus é afetado pela
reverência e arrogância, humildade e egoísmo, sensibilidade e insensibilidade.
Não pensamos no vácuo. Pensar significa antes de tudo refletir sobre o que está presente na
mente. O que está presente para nós no pensamento religioso não é uma hipótese, mas o
sublime, a maravilha, o mistério, o desafio. Pensar em Deus não significa simplesmente
teorizar ou conjeturar sobre algo que é insano e desconhecido. Não evocamos o significado
de Deus do nada. Não é um vácuo que enfrentamos, mas o sublime, a maravilha, o mistério,
o desafio.
Não há preocupação com Deus na ausência de reverência, e é apenas em momentos de
admiração que Deus é sentido como um problema. Em momentos de indiferença e auto-
afirmação, Ele pode ser um conceito, mas não uma preocupação, e é apenas uma
preocupação que inicia o pensamento religioso.
“UM PALÁCIO CHEIO DE LUZ”
Levante seus olhos para o alto . A religião é o resultado do que o homem faz com sua
maravilha suprema, com os momentos de admiração, com o senso de mistério.

Como Abraão chegou à certeza de que existe um Deus preocupado com o mundo? Segundo
os rabinos, Abraão pode ser “comparado a um homem que estava viajando de um lugar para
outro quando viu um palácio cheio de luz . 'É possível que ninguém cuide do palácio?' ele se
7

perguntou. Até que o dono do palácio olhou para ele e disse: 'Eu sou o dono do palácio'. Da
mesma forma, Abraão, nosso pai, se perguntou: 'É concebível que o mundo esteja sem um
guia?' O Santo, bendito seja, olhou para fora e disse: 'Eu sou o Guia, o Soberano do mundo'.
” Foi de admirar que a busca de Abraão por Deus tivesse começado.
8

O QUE FAZER COM A MARAVILHA


Portanto, não é um sentimento para o mistério da vida, ou um sentimento de admiração,
admiração ou medo, que é a raiz da religião; mas, antes, a questão do que fazer com o
sentimento pelo mistério da vida, o que fazer com a reverência, a admiração ou o
medo. Pensar em Deus começa quando não sabemos mais como nos perguntar, como temer,
como ter admiração. Pois a maravilha não é um estado de prazer estético. Maravilha sem fim
é uma tensão sem fim, uma situação em que estamos chocados com a inadequação de nossa
admiração, com a fraqueza de nosso choque, e com o estado de nos fazer a pergunta final.
A alma é dotada de um sentimento de endividamento, e admiração, reverência e medo
liberam esse sentimento de endividamento. Maravilha é o estado de nossa pergunta.
Apesar de nosso orgulho, apesar de nossa capacidade aquisitiva, somos movidos pela
consciência de que algo nos é pedido; que somos convidados a pensar, reverenciar, pensar e
viver de uma maneira compatível com a grandeza e o mistério da vida.
O que dá origem à religião não é a curiosidade intelectual, mas o fato e a experiência de
sermos perguntados.
Tudo o que nos resta é uma escolha - responder ou recusar-se a responder. No entanto,
quanto mais ouvimos profundamente, mais nos despojamos da arrogância e insensibilidade
que por si só nos permitiriam recusar. Nós carregamos uma carga de maravilha, desejando
trocá-la pela simplicidade de saber o que viver, uma carga que nunca podemos colocar nem
continuar a carregar sem saber para onde. 9

Se a admiração é rara, se a admiração está morta, e o senso de mistério é extinto, então o


problema do que fazer com admiração, admiração e mistério não existe, e não se sente sendo
perguntado. A consciência de ser perguntado é facilmente reprimida, pois é um eco da
sugestão que é pequena e silenciosa. No entanto, não permanecerá para sempre
subjugado. Chega o dia em que a insinuação ainda pequena se torna "como o vento e a
tempestade, cumprindo Sua palavra" (Salmos 148: 8).
De fato, o vazio morto no coração é insuportável para o homem vivo. Não podemos
sobreviver a menos que saibamos o que nos é pedido. Mas a quem o homem em sua
inestimável e desenfreada liberdade deve alguma coisa? De onde vem a pergunta? Para
quem ele é responsável?
NOTAS DO CAPÍTULO 10
1
Platão, Epístolas , VII, 341.
2
Bacon, Apothegms , 64.
3
Veja a pág. 288 f.
4
O homem não está sozinho , p. 28ff.
5
CA Coulson, “Ciência e religião: um relacionamento em mudança” (panfleto), Cambridge,
1954.
6
Uma reformulação impressionante do argumento teleológico é encontrada em Philosophical
Theology , de Frederick Robert Tennant , Cambridge , 1929-30, vol. II, pp. 78ss. Compare
também Frederick JE Woodbridge, Nature and Mind , Nova York, 1937, pp. 29-36.
7
A palavra doleket é ambígua. Pode significar "iluminado", "cheio de luz" ou "em chamas". No
primeiro sentido, é entendido pelo comentário "Rashi" sobre o Gênesis. Rabba , no segundo
por Yede Moshe e os comentários do rabino David Luria e do rabino Zev Einhorn. A parábola
é significativa nos dois sentidos. Veja a pág. 367
8
Gênesis Rabba , cap. 39
9
O homem não está sozinho , p. 69

11
Um pressuposto ontológico
MOMENTOS DE PERCEPÇÃO
Mas como podemos alcançar um entendimento dAquele que está além do mistério? Como
passamos das sugestões do divino para um sentido da realidade de Deus? A certeza da
realidade de Deus acontece
Como resposta de toda a pessoa ao mistério e à transcendência da vida.
Como resposta, é um ato de elevar das profundezas da mente um pressuposto ontológico que
torna essa resposta intelectualmente compreensível.
O significado e a verificação do pressuposto ontológico são alcançados em raros momentos
de percepção .
O ENCONTRO COM O DESCONHECIDO
É o mistério que evoca nossa preocupação religiosa, e é o mistério onde o pensamento
religioso deve começar. O modo de pensar sobre Deus na especulação tradicional tem
sido via eminentiae , um modo de proceder do conhecido ao desconhecido. Nosso ponto de
partida não é o conhecido, o finito, a ordem, mas o desconhecido dentro do conhecido, o
infinito com o finito, o mistério dentro da ordem .
Todo pensamento criativo sai de um encontro com o desconhecido. Não iniciamos uma
investigação sobre o que é definitivamente conhecido, a menos que subitamente
descubramos que o que há muito consideramos conhecido é na verdade um enigma. Assim,
a mente deve estar além da sua concha de conhecimento para sentir o que nos leva ao
conhecimento. É quando começamos a compreender ou assimilar e ajustar a realidade ao
nosso pensamento que a mente retorna à sua concha.
De fato, o conhecimento não passa a existir apenas como fruto do pensamento. Somente um
racionalista ou solipsista extremo afirmaria que o conhecimento é produzido
exclusivamente através da combinação de conceitos. Qualquer encontro genuíno com a
realidade é um encontro com o desconhecido, é uma intuição na qual é conquistada uma
consciência do objeto, um conhecimento rudimentar e pré- conceitual. De fato, nenhum
objeto é verdadeiramente conhecido, a menos que tenha sido experimentado pela primeira
vez em seu desconhecido.
É um fato de profundo significado que sentimos mais do que podemos dizer. Quando ficamos
frente a frente com a grandeza do mundo, qualquer formulação de pensamento aparece
como um anticlímax. É na consciência de que o mistério que enfrentamos é
incomparavelmente mais profundo do que sabemos, que todo o pensamento criativo
começa.
PENSAMENTO PRÉ-CONCEITUAL
O encontro com a realidade não ocorre no nível dos conceitos através dos canais das
categorias lógicas; conceitos são segundas intenções. Toda conceituação é simbolização, um
ato de acomodação da realidade à mente humana. O encontro vivo com a realidade ocorre
em um nível que precede a conceitualização, em um nível responsivo, imediato,
pré- conceitual e pré - simbólico . Teoria, especulação, generalização e hipótese são esforços
1

para esclarecer e validar os insights que a experiência pré-conceitual fornece. “Suponha que
o conhecimento chegue à cena apenas como fruto da reflexão, gerada pelos símbolos e pelas
manipulações de signos, é, em princípio, reverter para o mesmo ídolo do puro racionalismo
contra o qual todo o vigoroso movimento moderno o empirismo apresentou tal protesto
eficaz e necessário. ”
2

Todo insight encontra-se entre dois domínios, o reino da realidade objetiva e o domínio da
cognição conceitual e verbal. A cognição conceitual deve resistir ao teste de uma referência
dupla, da referência ao nosso sistema de conceitos e da referência aos insights dos quais é
derivada.
Particularmente no pensamento religioso e artístico, na disparidade entre o que
encontramos e o que é expresso em palavras e símbolos, nenhuma palavra e símbolo pode
transmitir adequadamente. Em nossa situação religiosa, não compreendemos o
transcendente; estamos presentes, testemunhamos. Tudo o que sabemos é inadequado; o
que dizemos é um eufemismo. Temos uma consciência mais profunda do que nossos
conceitos; possuímos idéias que não são acessíveis ao poder da expressão.
Conhecimento não é o mesmo que consciência e expressão não é o mesmo que
experiência. Ao passar da conscientização para o conhecimento, ganhamos em clareza e
perdemos em imediato. O que ganhamos em distinção, passando da experiência para a
expressão, perdemos na genuinidade. A diferença se torna divergente quando nossas
percepções pré-conceituais são perdidas em nossas conceituações, quando o encontro com
o inefável é perdido em nossas simbolizações, quando a formulação dogmática se torna mais
importante que a situação religiosa.
Toda a gama de pensamentos e expressões religiosas é uma sublimação de um conhecimento
pré-simbólico que a consciência do inefável fornece. Essa consciência só pode ser
parcialmente sublimada em símbolos racionais.
A filosofia da religião deve ser um esforço para recordar e manter viva a relevância meta-
simbólica dos termos religiosos . O pensamento religioso está em perigo perpétuo de dar
primazia a conceitos e dogmas e perder o imediatismo de insights, esquecer que o conhecido
é apenas um lembrete de Deus, que o dogma é um símbolo de Sua vontade, a expressão
inexprimível no mínimo. . Conceitos, palavras não devem se tornar telas; eles devem ser
vistos como janelas.
A RELIGIÃO É A RESPOSTA AO MISTÉRIO
As raízes das idéias definitivas são encontradas, como dito acima, não no nível do
pensamento discursivo, mas no nível de admiração e espanto radical, na profundidade da
admiração, na nossa sensibilidade ao mistério, na nossa consciência do inefável. É o nível em
que as grandes coisas acontecem à alma, onde as idéias únicas da arte, religião e filosofia
surgem.
Não é da experiência, mas da nossa incapacidade de experimentar o que é dado à nossa mente,
que a certeza da realidade de Deus é derivada. Não é a ordem do ser, mas o transcendente na
contingência de toda ordem, as alusões à transcendência em todos os atos e todas as coisas
que desafiam nossa compreensão mais profunda.
Nossa certeza é o resultado de admiração e espanto radical, de admiração diante do mistério
e significado da totalidade da vida além de nosso discernimento racional. A fé é a resposta ao
mistério, repleto de significado; a resposta a um desafio que ninguém pode ignorar para
sempre. "O céu" é um desafio. Quando você “levanta os olhos ao alto”, você se depara com a
pergunta. A fé é um ato do homem que transcende a si mesmo e responde àquele
que transcende o mundo.
Levantar-se acima da nossa sabedoria
Essa resposta é um sinal da dignidade essencial do homem. Pois a essência e a grandeza do
homem não residem em sua capacidade de agradar seu ego, em satisfazer suas necessidades,
mas em sua capacidade de permanecer acima de seu ego, em ignorar suas próprias
necessidades; sacrificar seus próprios interesses pelo bem do santo. O desejo da alma de
julgar seus próprios julgamentos, de procurar significado além do alcance do tangível e do
finito - enfim, o desejo da alma de se elevar acima de sua própria sabedoria - é a raiz da fé
religiosa.
Deus é o grande mistério, mas nossa fé Nele nos transmite mais entendimento Dele do que a
razão ou a percepção é capaz de compreender.

O rabino Mendel de Kotsk foi informado de um grande santo que viveu em seu tempo e que
alegou que durante os sete dias da festa dos estandes, seus olhos viam Abraão, Isaac, Jacó,
José, Moisés, Arão e Davi. . O rabino Mendel disse: “Não vejo os convidados celestiais; Só
tenho fé de que eles estão presentes no estande, e ter fé é maior do que ver. ”
Esta é, de fato, a grandeza do homem: poder ter fé. Pois a fé é um ato de liberdade, de
independência de nossas próprias faculdades limitadas, seja da razão ou da percepção
sensorial. É um ato de êxtase espiritual , de elevar-se acima de nossa própria sabedoria.
Nesse sentido, o desejo de fé é o inverso do ato artístico em que tentamos capturar o
intangível no tangível. Na fé, não procuramos decifrar, articular em nossos próprios termos,
mas nos elevar acima de nossa própria sabedoria, pensar no mundo nos termos de Deus,
viver de acordo com o que é relevante para Deus.
Ter fé não é capitular, mas elevar-se a um plano superior de pensamento. Ter fé não é
desafiar a razão humana, mas compartilhar a sabedoria divina.
Levante os olhos para o alto e veja: Quem os criou . É preciso elevar-se a um plano superior de
pensamento para ver, para sentir as alusões, a glória, a presença. É preciso elevar-se a um
plano superior de vida e aprender a sentir a urgência da questão última, a suprema
relevância da eternidade. Aquele que não chegou ao reino mais alto, o reino do
mistério; aquele que não percebe que está vivendo à beira do mistério; quem tem apenas um
senso do óbvio e do aparente, não será capaz de erguer os olhos, pois tudo o que é aparente
não está ligado ao reino mais elevado; o que é mais alto está oculto. A fé, acreditando em
Deus, é apego ao reino mais alto, o reino do mistério. Essa é a sua essência. Nossa fé é capaz
de alcançar o reino do mistério. 3

PREOCUPAÇÃO FINAL É UM ATO DE ADORAÇÃO


O sentimento de admiração, admiração e mistério não nos dá um conhecimento de Deus. Isso
só leva a um plano em que a pergunta sobre Deus se torna uma preocupação inevitável, a
uma situação em que descobrimos que não podemos colocar nossa ansiedade no depósito
seguro de opiniões nem delegar a outros a tarefa urgente de responder à pergunta final.
Essa preocupação última é um ato de adoração, um ato de reconhecer da maneira mais
intensa a supremacia da questão. Não é um ato de escolha, algo que podemos sempre
ignorar. É a manifestação de um fato fundamental da existência humana, o fato da adoração.
Cada um de nós é obrigado a ter um objeto final de adoração, mas ele é livre para escolher o
objeto de sua adoração. Ele não pode viver sem ele; pode ser um objeto fictício ou real, Deus
ou um ídolo.
É uma inversão característica falar do “problema de Deus”. O que está em jogo na discussão
sobre o problema de Deus é o problema do homem. O homem é o problema . Sua realidade
física e mental está fora de disputa; seu significado, sua relevância espiritual, é uma pergunta
que pede uma resposta. E adoração é uma resposta. Pois adoração é um ato do homem se
relacionando com o significado último. A menos que o homem seja capaz de estabelecer uma
relação com o significado último, a adoração é uma ilusão. E se a adoração não tem sentido,
a existência humana é um absurdo.
Como nossa preocupação com a pergunta sobre Deus é um ato de adoração, e como a
adoração postula a realidade de seu objeto, nossa própria preocupação envolve
implicitamente a aceitação de Sua realidade.
Assim como a adoração suprema de um objeto último é nativa da existência humana, a
negação explícita da realidade de um objeto último é absurda. Deixe o homem proclamar sua
negação através de um alto-falante que traria sua voz para a Via Láctea daqui a cem milhões
de anos-luz e quão ridículo ele seria.
Não pode haver negação honesta da existência de Deus. Só pode haver fé ou a confissão
honesta de incapacidade de acreditar - ou arrogância. O homem poderia manter a
incapacidade de acreditar ou suspender seu julgamento, se não fosse levado pela pressão da
existência a uma situação na qual ele deveria decidir entre sim e não; em que ele deve decidir
o que ou quem adorar. Ele é levado a algum tipo de afirmação. Em qualquer decisão que ele
tome, ele aceita implicitamente a realidade de Deus ou o absurdo de negá-Lo.
LOUVAMOS ANTES DE PROVAR
A compreensão de Deus não é alcançada colocando em sessão todos os argumentos a favor
e contra Ele, a fim de debater se Ele é uma realidade ou uma invenção da mente. Deus não
pode ser sentido como um segundo pensamento, como uma explicação da origem do
universo. Ele é o primeiro e o último, ou apenas outro conceito.
A especulação não precede a fé. Os antecedentes da fé são a premissa da maravilha e a
premissa do louvor. A adoração a Deus precede a afirmação de Sua
realidade. Nós louvamos antes de provar. Nós respondemos antes de questionarmos.
Provas da existência de Deus podem adicionar força à nossa crença; eles não o geram. A
existência humana implica a realidade de Deus. Há uma certeza sem conhecimento nas
profundezas do nosso ser que explica a pergunta final, uma certeza pré-conceitual que está
além de toda formulação ou verbalização.
Uma pressuposição ontológica
É a afirmação de que Deus é real, independente da nossa consciência pré-conceitual, que
apresenta a maior dificuldade. A consciência subjetiva nem sempre é um índice da
verdade. O que é subjetivamente verdadeiro não é necessariamente trans-subjetivamente
real. Tudo o que temos é a consciência de alusões à Sua preocupação, sugestões de Sua
presença. Falar de Sua realidade é transcender a consciência, superar os limites do
pensamento. É como saltar do chão. Somos intelectualmente justificados em inferir de nossa
consciência uma realidade que está além dela? Temos o direito de subir do reino deste
mundo para um reino que está além deste mundo?
Muitas vezes somos culpados de entender mal a natureza de uma afirmação como “Deus é”.
Tal afirmação constituiria um salto se a afirmação constituísse um acréscimo à nossa inefável
consciência de Deus. A verdade, porém, é que dizer "Deus é" significa menos do que a nossa
consciência imediata contém. A afirmação "Deus é" é um eufemismo .
Assim, a certeza da realidade de Deus não surge como um corolário de premissas lógicas,
como um salto do reino da lógica para o reino da ontologia, de uma suposição para um fato. É,
ao contrário, uma transição de uma apreensão imediata para um pensamento, de uma
consciência pré-conceitual para uma certeza definitiva, de ser esmagada pela presença de
Deus para uma consciência de Sua existência. O que tentamos fazer no ato de reflexão é
elevar essa consciência pré-conceitual ao nível de entendimento.
Ao sentir a dimensão espiritual de todo ser, tomamos consciência da realidade absoluta do
divino. Ao formular um credo, ao afirmar: Deus é, simplesmente reduzimos a realidade
avassaladora ao nível do pensamento. Nosso pensamento é apenas uma crença posterior.
Em outras palavras, nossa crença na realidade de Deus não é um caso de possuir uma idéia
e depois postular a sua contrapartida ontal; ou, para usar uma frase kantiana, primeiro ter a
ideia de cem dólares e depois reivindicar possuí-los com base na idéia. O que obtém aqui é
primeiro a posse real dos dólares e depois a tentativa de contar a soma. Existem
possibilidades de erro na contagem das notas, mas as próprias notas estão aqui. 4

Em outras palavras, nossa crença na realidade dEle não é um salto sobre um elo perdido em
um silogismo, mas sim uma recuperação, desistindo de uma visão em vez de acrescentar
uma, ficando atrás da autoconsciência e questionando o eu e todas as suas pretensões
cognitivas. É um pressuposto ontológico.
No fundo do pensamento humano, todos pressupomos uma realidade última que, no nível
do pensamento discursivo, se cristaliza no conceito de poder, princípio ou estrutura. Esta é,
então, a ordem em nosso pensamento e existência: o último ou Deus vem em primeiro lugar
e nosso raciocínio sobre Ele em segundo. A especulação metafísica inverteu a ordem: o
raciocínio vem primeiro e a questão sobre Sua realidade, depois; ou Ele está provado ou Ele
não é real.
No entanto, assim como não há pensamento sobre o mundo sem a premissa da realidade do
mundo, também não pode haver pensamento sobre Deus sem a premissa da realidade de
Deus.
A DISPARIDADE DE EXPERIÊNCIA E EXPRESSÃO
Certas afirmações, particularmente aquelas que pretendem descrever os aspectos funcionais
da realidade, o aspecto do poder, não sofrem com a incongruência e a inadequação da
expressão. O que pode ser medido, pesado ou calculado pode ser formulado exatamente. Mas
afirmações que pretendem transmitir a essência da realidade ou o aspecto do mistério e da
grandeza são sempre discretas; inadequação é sua característica distinta. Portanto, não
temos palavras ou símbolos adequados para descrever Deus ou o mistério da existência.
A divergência entre o que pensamos e o que dizemos se deve à necessidade de ajustar o
insight às categorias comuns de pensamento e linguagem. Assim, mais sério do que o
problema de como o homem religioso deve justificar seu credo em termos de pensamento
filosófico é o problema de como o homem religioso deve justificar seus conceitos, seu credo
em termos de insight e experiência religiosos? Existe uma profunda disparidade entre
homem e realidade, entre experiência e expressão, entre consciência e concepção, entre
mente e mistério. Assim, a disparidade de fé e credo é um grande problema da filosofia da
religião.
Maimonides insta o leitor de seu Guia dos Perplexos a adquirir um entendimento adequado
para a "unidade de Deus" e tornar-se um daqueles "que têm noção e apreendem a verdade,
mesmo que não a expressem, como é recomendado aos piedosos: comungem com o próprio
coração na cama e permaneçam perpetuamente (Salmos 4: 5). ” Por que alguém deveria
5

estar“ ainda perpetuamente ”? Por que o silêncio é preferível? Acreditamos que a razão
reside na experiência de Maimonides da inadequação de todas as nossas
categorias. Seguindo a afirmação de que a unidade de Deus não é algo superadicionado à Sua
essência (“Ele é um sem unidade”), Maimonides diz: “Esses conceitos sutis, que quase
passam pela compreensão de nossas mentes, não são expressos facilmente por palavras. As
palavras são uma das principais causas de erro, porque, independentemente da linguagem
que empregamos, consideramos as restrições que ela impõe à nossa expressão
extremamente perturbadoras. Não podemos sequer imaginar esse conceito usando
linguagem imprecisa. ” E toda linguagem é imprecisa.
6

Para falar, precisamos fazer concessões e compromissos. Portanto, devemos lembrar que as
idéias definitivas nunca podem ser expressas. “Como é bem sabido que mesmo esse
conhecimento de Deus acessível ao homem não pode ser alcançado, exceto pelo caminho das
negações, e essas negações não transmitem uma verdadeira idéia do Ser a que se referem,
todos os homens ... declarou que Deus não pode ser o objeto da compreensão humana, que
ninguém, a não ser Ele mesmo, compreende o que é e que nosso conhecimento consiste em
saber que somos incapazes de compreendê-lo verdadeiramente. A idéia é melhor expressa
no livro dos Salmos: O silêncio é louvor a Ti (65: 2). É uma observação muito expressiva sobre
esse assunto; pois tudo o que pronunciamos com a intenção de louvá-Lo e louvá-Lo, contém
algo que não pode ser aplicado a Deus e inclui expressões depreciativas. Torna-se, portanto,
mais silencioso e satisfeito com a reflexão intelectual. Comungar com o seu coração na sua
cama e ficar quieto (Salmos 4: 4). ”
7
O silêncio é preferível ao discurso. Palavras não são indispensáveis à cognição. Eles são
necessários apenas quando desejamos comunicar nossas idéias a outras pessoas ou provar
a elas que atingimos a cognição. 8

Ao concluir sua discussão sobre a natureza e os atributos de Deus, Maimonides escreve:


“Louvado seja Aquele que é tal que, quando nossas mentes tentam visualizar Sua essência,
seu poder de apreender se torna imbecilidade; quando estudam a conexão entre Suas obras
e Sua vontade, seu conhecimento se torna ignorância; e quando nossas línguas desejam
declarar Sua grandeza por termos descritivos, toda eloqüência se torna impotência e
imbecilidade. ” 9

Dissemos que Deus é um pressuposto ontológico, e que todas as afirmações sobre ele são um
eufemismo. Mas qual é o significado e o conteúdo desse pressuposto
ontológico? Acreditamos que existe outra fonte de certeza da existência de Deus e uma que
é mais capaz de nos dar uma compreensão que vai além da nossa mera consciência. Explorar
essa fonte de certeza é o objetivo da investigação a seguir.
NOTAS DO CAPÍTULO 11
1
A célebre declaração de W. von Humboldt de que "o homem vive principalmente com seus
objetos ... como a linguagem os apresenta a ele" (ver Ernst Cassirer, Language and Myth ,
Nova York, 1946, p. 9) não se aplica ao pensamento criativo. Intuição e expressão não devem
ser equiparadas. O pensamento contém elementos que não podem ser reduzidos à expressão
verbal e estão além do nível de verbalização. A arte não objetiva pode ser caracterizada como
uma tentativa de transmitir um encontro pré-conceitual e pré-simbólico com a
realidade. Compare também Philip Wheelwright, The Burning Fountain, Bloomington, 1954,
p. 18f. Para uma análise e crítica do simbolismo na religião e na teologia, veja AJ
Heschel, Procura do homem por Deus , pp. 117-144.
2
George P. Adams, "The Range of Mind" em The Nature of Mind , Berkeley, Cal., 1936, p. 149.
Compare J. Loewenberg, "O Discernimento da Mente", ibid., P. 90f.
3
Rabi Loew de Praga, Netivot Olam, netiv haavodah, cap. 2)
4
Veja O homem não está sozinho, p. 84f.
5
O Guia dos Perplexos , vol. Eu p. 50
6
Ibid., P. 57
7
Ibid., P. 59
8
Ibid., Livro II, p. 5)
9
Ibid., Livro I, p. 58. Erga bem os olhos e veja: quem os criou ? “Devemos imaginar com isso que,
erguendo os olhos para cima, um homem pode saber e ver o que não é permitido saber e
ver? Não, o verdadeiro significado da passagem é que quem deseja refletir e obter
conhecimento das obras do Santo, levante os olhos para cima e olhe para as miríades de
hostes e legiões de existência ali, cada uma diferente da o outro, cada um mais poderoso que
o outro. Então ele, enquanto olha, pergunta: quem ( mi ) os criou? Quem os criou? equivale a
dizer que toda a criação provém de uma região que permanece um eterno quem ? na medida
em que permanece não revelado. ” Zohar , vol. II, 231b.

12
Sobre o significado de Deus
O MÍNIMO DO SIGNIFICADO
Ao empreender uma investigação, devemos desde o início possuir um mínimo de
conhecimento do significado daquilo sobre o qual estamos tentando investigar. Nenhuma
investigação começa do nada. Ao fazer a primeira pergunta, devemos antecipar algo da
natureza daquilo que perguntamos, porque, caso contrário, não saberíamos em que direção
prosseguir ou se o resultado de nossa investigação será uma resposta à pergunta que
fazemos.
Nós perguntamos sobre Deus. Mas qual é o mínimo de significado que a palavra Deus tem
para nós? É primeiro a idéia da ultimaidade. Deus é um Ser além do qual nenhum outro existe
ou é possível. Significa mais Um, único, eterno. No entanto, todos esses adjetivos são
auxiliares do substantivo ao qual estão anexados. Em si mesmos, eles não expressam a
essência. Proclamamos: Deus é um; seria idolatria intelectual dizer que o Uno é Deus. Qual é,
então, o significado do substantivo ao qual a ultimaidade ou unidade está ligada? É o conceito
do absoluto? É o conceito de uma primeira causa?
Dizer que nossa busca por Deus é uma busca pela idéia do absoluto é eliminar o problema
que estamos tentando explorar. Uma primeira causa ou uma idéia do absoluto - desprovida
de vida, desprovida de liberdade - é um problema da ciência ou da metafísica, e não uma
preocupação da alma ou da consciência. Uma afirmação de tal causa ou de tal idéia seria uma
resposta não relacionada à nossa pergunta. A alma viva não está preocupada com uma causa
morta, mas com um Deus vivo. Nosso objetivo é verificar a existência de um Ser a quem
possamos confessar nossos pecados, de um Deus que ama, de um Deus que não esteja acima
da preocupação com nossa investigação e procurá-Lo; um pai, não um absoluto.
Devemos ver claramente desde o início que o mínimo de significado que associamos à
palavra Deus é que Ele está vivo, ou, em termos negativos, Ele não é inferior a nós na ordem
do ser. Um ser que não possui os atributos da existência pessoal não é nosso problema.
Este é, portanto, o mínimo de significado que a palavra Deus tem para nós: Deus está
vivo. Assumir o contrário, ou seja, que a palavra Deus significa um Ser desprovido de vida e
liberdade - inferior a nós na ordem do ser e mais finito que nós mesmos - invalidaria
imediatamente o problema com o qual estamos preocupados, da mesma maneira que a
premissa de que o universo é mais finito do que nosso próprio corpo invalidaria qualquer
esforço para explorar o significado do universo.
De fato, existem essencialmente apenas duas maneiras de começar: pensar em Deus em
termos de ser livre e espontâneo ou em termos de ser inanimado; ou Ele está vivo ou sem
vida. Ambas as premissas estão além da demonstração e, no entanto, a segunda premissa na
forma de dizer: Deus é o grande desconhecido, parece para a maioria das pessoas ser mais
respeitável. Vamos examinar a última premissa.
A afirmação “Deus é o grande desconhecido”, significando que Ele nunca se tornou conhecido
e nunca pode se tornar conhecido, é uma afirmação absoluta baseada na teoria de que Deus
permanece eternamente misterioso. Tal teoria, no entanto, é um dogma que implica uma
contradição. Pois, atribuindo o eterno mistério ao ser supremo, nós definitivamente
afirmamos conhecê-lo. Assim, o ser supremo não é um Deus desconhecido, mas
conhecido. Em outras palavras: um Deus que conhecemos, mas que não conhece, o grande
Desconhecedor. Proclamamos a ignorância de Deus juntamente com nosso conhecimento de
que Ele é ignorante!
Isso parece fazer parte de nossa herança pagã: dizer, o Ser Supremo é um mistério total, e
mesmo tendo aceitado a idéia de uma primeira causa e seu poder de criar o universo, ainda
nos apegamos à suposição de que o o poder que possibilita a criação do mundo nunca foi
capaz de se dar a conhecer. No entanto, por que deveríamos assumir que o poder absoluto é
absolutamente impotente? Por que devemos a priori excluir a vida e a liberdade do ser
supremo?
Pensar em Deus como um problema especulativo pode talvez começar com a premissa do
absoluto mistério de Deus. Pensar em Deus como um problema religioso que começa com
admiração, admiração, louvor, medo, tremor e espanto radical não pode dar um passo se
estiver vinculado à suposição de que Deus é desprovido de vida. Não podemos pronunciar
palavras e negar ao mesmo tempo que existem palavras, e no pensamento religioso não
podemos dizer Deus e negar ao mesmo tempo que Ele está vivo. Se Deus está morto, então
adorar é loucura.
O problema do pensamento religioso não é apenas se Deus está vivo ou morto, mas também
se estamos mortos ou vivos para a Sua realidade. Uma busca por Deus envolve uma busca de
nossa própria medida, um teste de nosso próprio potencial espiritual. Certamente, há níveis
de pensamento em que podemos sustentar confortavelmente que Deus não está vivo: no
nível de vaidade e insensibilidade à grandeza e mistério da vida. Nos momentos em que
carregamos a carga de espanto radical, sabemos que dizer que Deus está vivo é um
entendimento.
No entanto, parece haver uma terceira possibilidade: Deus não é vivo nem desprovido de
vida, mas um símbolo. Se Deus é definido "como um nome para aquilo que diz respeito ao
homem, em última instância", então Ele é apenas um símbolo da preocupação do homem, a
objetificação de um estado subjetivo da mente. Mas, como tal, Deus seria pouco mais que
uma projeção de nossa imaginação.
Como a aceitação de Deus e a rejeição de ídolos são indicadas nos dois primeiros dos Dez
Mandamentos, a rejeição do símbolo está implícita no terceiro mandamento: "Não tomarás
o nome de Deus em vão."
Certamente Deus é mais do que "um nome para aquilo que diz respeito ao homem, em última
instância". Somente os santos estão preocupados com Deus. O que preocupa a maioria de nós
é o nosso ego. A consciência bíblica começa não com o homem, mas com a preocupação de
Deus. O fato supremo aos olhos dos profetas é a presença da preocupação de Deus pelo
homem e a ausência da preocupação do homem por Deus. É a preocupação de Deus pelo
homem que clama por trás de cada palavra de sua mensagem. Mas como tomamos
consciência de Sua preocupação?
DOIS COROLÁRIOS
A suposição de que Deus não deve ser pensado em termos de ser sem vida tem dois
corolários importantes. Um diz respeito à sua parte no processo de nosso entendimento, e o
outro diz respeito ao papel do tempo em tal entendimento.
Minhas tentativas de me familiarizar com uma pedra ou uma planta dependem quase
inteiramente da minha vontade e inteligência; a planta ou a pedra não tem voz no processo
de investigação e está sempre à minha disposição. Por outro lado, minhas tentativas de
familiarizar-me com outra pessoa dependem não apenas de mim, mas também da vontade
da pessoa de ser vista e de ser entendida por mim. Pode haver pessoas que a pessoa
consideraria dignas de se conhecer e outras que ele manteria à distância. E ele pode tratar
as mesmas pessoas de maneira diferente em momentos diferentes.
Agora, se assumirmos que Deus não é um objeto passivo, mas um Ser dotado de pelo menos
tanta vida e vontade quanto nós mesmos, entendê-Lo não pode ser um processo que
continua independentemente do Seu acordo. Se Deus está vivo, devemos assumir que Ele
participa de nossos atos de tentar entendê-Lo; que nosso entendimento de Deus depende
não apenas da prontidão do homem para se aproximar dEle, mas também da vontade de
Deus de ser abordado. 1

A PARTE DE DEUS NA VISÃO HUMANA


Há um mal-entendido comum sobre o significado da assistência divina no judaísmo. É certo
que a esperança é parte integrante da consciência religiosa. No entanto, geralmente a
restringimos à esfera prática, como se esperasse que Deus nos ajudasse em nosso material,
mas não em nossos empreendimentos espirituais. A verdade é que, apesar de todas as nossas
aspirações, permanecemos espiritualmente cegos, a menos que recebamos assistência.

Deus não é uma pérola no fundo do oceano, cuja descoberta depende da habilidade e
inteligência do homem. A iniciativa deve ser nossa, mas a conquista depende Dele, não
apenas de nós. Sem o seu amor, sem a sua ajuda, o homem é incapaz de se aproximar dele. 2

E, no entanto, “tudo está nas mãos do céu, exceto o medo do céu”. homem é livre para buscá-
3O

Lo e livre para ignorá-Lo. Somente quem se esforça para se purificar é auxiliado de


cima. Somente quem se santifica um pouco é dotado de maior santidade do alto.
4 5

O PAPEL DO TEMPO
Além disso, se Deus não é pensado em termos de ser inanimado, em termos de um Ser que
não é dotado de vontade ou liberdade, então devemos assumir que Ele não está sempre à
nossa disposição. Há momentos em que Ele sai para nos encontrar, e há momentos em que
Ele esconde seu rosto de nós.6

Leopold von Ranke, o historiador, sustentou que todas as épocas estão igualmente próximas
de Deus. Para uma pessoa que pensa em termos bíblicos, essa afirmação equivale a dizer que
toda era é igualmente distante de Deus. A tradição judaica afirma que há uma hierarquia de
momentos no tempo, que todas as idades não são iguais. O homem pode orar a Deus
igualmente em todos os lugares, mas Deus não fala ao homem igualmente em todos os
momentos. O Sinai não acontece todos os dias, e a profecia não é um processo perpétuo. Há
eras em que os homens são escolhidos para serem profetas, e há eras em que a voz da
profecia é subjugada.
E, no entanto, isso não significa que Deus esteja totalmente silencioso em nossa era. A voz
divina não desapareceu “para eco das colinas da Judéia”. Pode surgir para furar o terrível
silêncio de nossos dias. Existem muitas maneiras e muitos níveis em que a vontade de Deus
se comunica com o homem.
O papel do tempo também é necessário pela situação humana. Uma vez que nosso
entendimento de Deus envolve toda a pessoa, sua mente e seu coração, sua inteligência e
preocupação, suas experiências e apegos, não pode ser considerado imutável, atemporal e
universal. O homem não é o mesmo em todos os momentos. É apenas em certos momentos
que ele se torna consciente da inconcebibilidade de partir o coração em que vive e que
ignora. Nesses momentos, ele se pergunta: qual é o meu lugar no meio da aterradora
imensidão de tempo e espaço? qual é a minha tarefa? qual é a minha situação?
A SITUAÇÃO RELIGIOSA
Não podemos entender as razões que nos forçam a nos apegar a uma certeza da realidade de
Deus, a menos que entendamos a situação em que estamos preocupados com a questão final.
Uma pergunta legítima representa mais do que aquilo que diz. Representa uma situação
radical que explica seu surgimento, uma razão de ser para a presença da questão na
mente. Agora, a pergunta sobre Deus nem sempre ocupa nossas mentes. Às vezes somos
perseguidos por ela; outras, nos parece irrelevante. Há momentos em que a maravilha está
morta, quando a pergunta final não faz sentido; há momentos em que há apenas admiração
e o mistério está ao alcance de todos os pensamentos.
Portanto, não devemos lidar com a questão final, além da situação em que ela existe, além
dos insights em que é evocada e na qual está envolvida. Além de seu ambiente humano e
pessoal, ele murcha para uma mera questão especulativa. No entanto, é como uma
preocupação religiosa que estamos lidando com isso aqui.
A questão final, além disso, é uma questão que surge no nível do inefável. É formulado não
em conceitos, mas em atos , e nenhuma formulação abstrata é capaz de transmiti-lo. É,
portanto, necessário entender a lógica interna da situação, o clima espiritual em que ela
existe, para compreender o que a questão última implica. É uma situação em que somos
desafiados, despertados, agitados pelo sublime, pela maravilha, pelo mistério e pela
Presença. Nós não escolhemos levantar a questão, somos compelidos.

A questão surge com a percepção de que é o homem que é o problema; que mais do que Deus
é um problema para o homem, o homem é um problema para Deus. A pergunta: existe um
Deus pessoal? é um sintoma da incerteza: existe um homem pessoal?
Nos momentos em que a alma passa pela realização sem mitigação do mistério que vibra
entre sua existência precária e seu significado inescrutável, achamos insuportavelmente
absurdo definir a essência do homem pelo que ele sabe ou pelo que é capaz de produzir. Para
o sentido do inefável, a essência do homem reside no fato de ele ser um meio de expressão
superior, de ser uma indicação de significado inefável.
MOMENTOS
Assim, diferentemente do pensamento científico, o entendimento da realidade de Deus não
ocorre por meio de silogismo, por uma série de abstrações, por um pensamento que procede
de conceito em conceito, mas por meio de insights. O insight final é o resultado
de momentos em que somos movidos além das palavras, de instantes de admiração,
admiração, louvor, medo, tremor e espanto radical; da consciência da grandeza, das
percepções que podemos apreender, mas somos incapazes de transmitir, das descobertas do
desconhecido, dos momentos em que abandonamos a pretensão de nos familiarizarmos com
o mundo, do conhecimento pelo desconhecimento. É no clímax de tais momentos que
alcançamos a certeza de que a vida tem sentido, que o tempo é mais que evanescência, que
além de todo ser existe alguém que se importa.
Para repetir, é apenas nesses momentos, em momentos vividos no nível do inefável, que as
categorias e os atos da religião são adequadamente significativos. Atos de amor são
significativos apenas para uma pessoa apaixonada, e não para aquele cujo coração e mente
estão azedos. O mesmo se aplica às categorias de religião. Pois o insight último ocorre no
nível pré-conceitual e pré-conceitual do pensamento. É difícil, de fato, transpor insights
redigidos na linguagem pré-simbólica dos eventos internos para a linguagem simbólica dos
conceitos.7

No pensamento conceitual, o que é claro e evidente em um momento permanece claro e


evidente em todos os outros momentos. As idéias definitivas, por outro lado, são eventos, e
não um estado mental permanente; o que está claro em um momento pode
subsequentemente ser obscurecido. Conceitos que adquirimos e mantemos. Aprendemos
que dois mais dois são iguais a quatro e, quando nos convencemos da validade dessa
equação, a certeza não nos deixa. Em contraste, a vida do espírito nem sempre está no auge,
e a misericórdia de Deus nem sempre confere ao homem as bênçãos supremas. Flashes de
insight “vêm e vão, penetram e recuam, surgem e recuam”. Pois é assim que toda a emanação
prossegue - “a luz flui Dele e a luz flui perpetuamente, das alturas mais altas às profundezas
inferiores. "
A certeza imediata que alcançamos em momentos de insight não retém sua intensidade após
o término dos momentos. Além disso, essas experiências ou inspirações são eventos
raros. Para algumas pessoas, elas são como estrelas cadentes, passageiras e não
lembradas. Em outros, acendem uma luz que nunca se apaga. A lembrança dessa experiência
e a lealdade à resposta daquele momento são as forças que sustentam nossa fé. Nesse
sentido, fé é fidelidade , lealdade a um evento, lealdade à nossa resposta.
8

UMA RESPOSTA DE DISCUSSÃO


A questão final, que explode em nossas almas, é muito surpreendente, carregada de
maravilhas indescritíveis demais para ser uma questão acadêmica, para ser igualmente
suspensa entre sim e não. Não podemos mais perguntar: existe um Deus? Com humildade e
contrição, percebemos a presunção de tais pedidos. Quanto mais profundamente
meditamos, mais claramente percebemos que a pergunta que fazemos é uma pergunta que
estamos sendo feitos; a pergunta desse homem sobre Deus é a questão de Deus sobre o
homem.
Quem nunca foi pego em uma situação tão radical deixará de entender a certeza que
gera. Aquele que foge, que está sempre ausente quando Deus está presente, deve explicar as
razões do seu álibi e abster-se de prestar testemunho. Quem já passou por um momento de
insight radical não pode ser testemunha da inexistência de Deus sem colocar perjúrio em sua
alma.
NOTAS DO CAPÍTULO 12
1
“Pois o palácio será abandonado, a cidade populosa deserta; a colina e a torre de vigia se
tornarão tocas para sempre, uma alegria de jumentos selvagens, um pasto de rebanhos; até
o espírito. derramou do alto e o deserto se tornou um campo frutífero, e o campo frutífero é
considerado uma floresta ”(Isaías 32: 14-15).
2
Na história de Hagar, lemos: “E Deus abriu os olhos, e ela viu um poço de água” (Gênesis
21:19). "Todos os homens são cegos até que Deus abra os olhos" ( Gênesis Rabba 53,
13). Quando Hagar vagou com seu filho no deserto de Berseba e não conseguiu encontrar
água, ela a jogou sob um dos arbustos e foi embora, dizendo: “Não permita que eu veja a
morte da criança.” Ela não viu o que estava na sua frente, até que "Deus abriu os olhos, e ela
viu um poço de água". Quando Balaão foi a Moabe para amaldiçoar o povo de Israel, ele não
viu o que sua bunda percebia, até que "o Senhor abriu os olhos. de Balaão, e ele viu o anjo do
Senhor no caminho ”(Números 22:31). "Está além do poder do homem ver muitas coisas, a
menos que Deus queira que ele veja" (Lekah Tov para Números 22:31). Isso se aplica tanto a
indivíduos quanto a todo o povo. “Eles não sabem, nem discernem, porque Ele fechou os
olhos deles, para que não pudessem ver; e suas mentes, para que não possam entender
”(Isaías 44:18).
“Dei-lhes um coração para me conhecer, que eu sou o Senhor” (Jeremias 24: 7). Vou fazê-lo
se aproximar e ele se aproximará de mim. Pois quem ousaria se aproximar de mim? diz o
Senhor ”(Jeremias 30:21). É por isso que o salmista diz: “Bem-aventurado aquele a quem
escolher e aproximar” (65: 5). Deus é o Mestre, não apenas o Criador; o doador da sabedoria,
não apenas o doador da vida. “Eu sou o Senhor teu Deus, que te ensina para o teu proveito,
guiando-te no caminho que deves seguir” (Isaías 48:17). Devemos procurar a verdade com
toda a nossa força; também devemos orar por Sua orientação em toda a nossa busca. “Desde
o fim da terra eu te chamarei quando meu coração desmaiar: leve-me a uma rocha que é alta
demais para mim” (Salmos 61: 3). "Leve-me aonde eu não posso subir" (Rabino David
Kimchi). Não devemos nos desanimar quando nossos esforços falham. “Porque o Senhor
estará convosco onde termina a tua sabedoria, e impedirá que o teu pé seja preso”
(Provérbios 3:26. De acordo com Jerushalmi Peah 1, 1). “Não são os grandes que são sábios,
nem os idosos que entendem o que é certo” (Jó 32: 9). “Nem todo mundo que estuda a Torá
se torna sábio. A menos que Deus conceda ao homem espírito, ele não estará em casa naquilo
que sabe. ” Tanhuma, ed. Buber, eu, p. 193. “Aquele que trabalha na Torá, a Torá trabalha por
ele.” Sinédrio 99b. Veja também Megillah 6b, sobre lembrança.
3
Beracho t 33b.
4
Shabat 104a.
5
Yoma , 39a. Na vida do indivíduo, aplicou-se o princípio de que “as bênçãos do alto descem
apenas onde há alguma substância e não um mero vazio”. O versículo “Eu sou do meu amado
e para mim é o desejo dele” (The Song of Songs 7) 11) foi tomada para se referir à relação
entre Deus e o homem: primeiro eu devo me tornar Seu, e então, em conseqüência, Seu desejo
é para comigo; primeiro eu preparei para Ele um lugar, e então Seu desejo é para
mim. Somente “se o homem se esforça para se purificar e se aproximar de Deus, então
a Shechiná repousa sobre ele.” Zohar vol. Eu p. 88a-b. Pois “a agitação acima é produzida
apenas em resposta a um impulso vindo de baixo, e depende do desejo daquele que está
embaixo.” Zohar , vol. I 86b; ver III, 132b. “Como alguém pode reconhecer uma pessoa com
quem o Santo está satisfeito e em quem Ele tem Sua morada? Quando observamos que um
homem se esforça para servir o Santo em alegria, com seu coração, alma e vontade, podemos
ter certeza de que a Shechiná está nela. ” Zohar vol. II, 128b. “Mesmo as coisas percebidas por
nossos sentidos, não podemos conhecer, exceto pela bondade amorosa que vem de ti. Para a
própria luz, não podemos ver; nossa visão é obscurecida por ela. É a luz divina que nos dá o
poder de perceber parcialmente a luz e permite que nossa visão passe da potencialidade para
a realidade ... A graça do entendimento é concedida mais adequadamente àqueles que O
conhecem do que aos outros. ”Albo, Ikkarim , II, cap. 15, ed. Husik, p. 97f.
6
O papel do tempo na compreensão religiosa é frequentemente expresso na literatura
judaica. Comentando Isaías 55: 6, Busque o Senhor enquanto Ele pode ser encontrado , os
rabinos refletiram sobre a pergunta: quais são os momentos em que Ele pode ser
encontrado? A resposta dada foi: os dez dias de retorno , do Dia do Ano Novo ao Dia da
Expiação, Rosh Hashaná 18a. Maimonides, Mishneh Torá, teshuvá 2,6.
Isaías (55: 6) disse: "Busque ao Senhor enquanto ele pode ser encontrado, invoque-o
enquanto estiver perto", e Davi disse: "Procure o Senhor e sua força, busque a presença dele
continuamente" (1 Crônicas 16:10). Por que Davi nos disse para buscar Sua presença
continuamente? Para nos ensinar que Deus às vezes é visto e às vezes não é visto, que às
vezes ouve e às vezes não ouve, que às vezes está disponível e às vezes não está disponível,
às vezes encontrado e às vezes não encontrado, às vezes próximo e às vezes não próximo. Ele
já foi visto, como está escrito, "o Senhor falou a Moisés cara a cara" (Êxodo 33:11); e então
não foi visto, como está escrito: "Moisés orou, mostra-me então a tua glória" (Êxodo
33:18). Assim também foi visto no Sinai, como está escrito: "E viram o Deus de Israel" (Êxodo
24:10), e "a aparência da glória do Senhor era como uma chama devoradora" (Êxodo 24:17
), mas então Ele não foi visto, como está escrito: “Você não viu forma no dia em que o Senhor
lhe falou em Horeb” (Deuteronômio 4:15) e “Você ouviu o som das palavras, mas não viu a
forma. ”(Deuteronômio 4:12). Quando Israel estava no Egito, está escrito: “E ouviu Deus o
seu gemido” (Êxodo 2:24), mas quando Israel pecou está escrito: “E o Senhor não ouviu a
vossa voz ou dar ouvidos a você” (Deuteronômio 1:15). Ele respondeu ao clamor de Samuel
em Mitspa, como está escrito: "E Samuel clamou ao Senhor, e o Senhor o respondeu" (1
Samuel 7: 9), mas, novamente, Ele não respondeu, como está escrito: "Como por muito tempo
sofrerás com Saul, visto que eu o rejeitei? ”(1 Samuel 16:17). Ele respondeu a Davi como está
escrito: "Busquei o Senhor e ele me respondeu" (Salmos 34: 5), mas novamente ele não lhe
respondeu, como está escrito: "Davi rogou ao Senhor pela criança" (II Samuel
12:16). Quando Israel se arrepende, Ele está disponível para eles, como está escrito: "Mas
dali você buscará o Senhor e o encontrará" (Deuteronômio 4:29), mas quando Israel não se
arrepender, ele não estará disponível para eles. , como está escrito: “Com os seus rebanhos e
manadas, procurarão o Senhor, mas não o encontrarão” (Oséias 5: 6). Às vezes, ele está
próximo, como está escrito: "O Senhor está próximo daqueles que O invocam" (Salmos 145:
18) e, às vezes, distante, como está escrito: "O Senhor está longe dos ímpios" (Provérbios 15:
29) Pesikta de Rav Kahana , XXIV, ed. Buber, Lyck, 1868, p. 156a. Veja também Jerushalmi
Makkot , 2, 31d.
“Há momentos em que Deus é propício e pronto para dispensar bênçãos àqueles que oram a
Ele, e momentos em que Ele não é propício e o julgamento é liberado no mundo, e momentos
em que o julgamento é mantido em suspense. Há épocas no ano em que a graça está em
ascensão, e épocas em que o julgamento está em ascensão e épocas em que o julgamento está
em ascensão, mas mantido em suspense. Da mesma forma com os meses e da mesma forma
com os dias da semana, e mesmo com as partes de cada dia e cada hora. Portanto, está escrito:
'Há um tempo para todo propósito' (Eclesiastes 3: 1) e novamente: 'Minha oração é para ti,
ó Senhor, em um tempo aceitável' (Salmo 69:14). Por isso, diz aqui: 'Ele não venha sempre
ao santuário'. O rabino Simeon disse: 'Esta interpretação da palavra “tempo” é bastante
correta, e aqui Deus alertou Arão para não cometer o mesmo erro que seus filhos e tentar
associar um “tempo” errado ao rei, mesmo que ele entenda isso. o controle do mundo foi
comprometido por um tempo pelas mãos de outro, e embora ele tenha o poder de se unir a
ele e aproximá-lo da santidade. '” Zobar, vol. III, 58a.
7
Deve-se entender claramente que, quando um daqueles que alcançaram insights mais
profundos ”deseja contar, de boca em boca ou por escrito, qualquer coisa dos mistérios que
ele compreendeu, não é possível que ele exponha clara e sistematicamente tudo o que quiser.
compreendeu, como teria feito em qualquer outra ciência que possua um método
estabelecido de instrução. Quando ele tenta ensinar aos outros, ele precisa enfrentar a
mesma dificuldade que ele enfrentou em seu próprio estudo, a saber, que os assuntos se
tornam claros por um momento e depois recuam na obscuridade. Parece que essa é a
natureza desse assunto, seja ele parte grande ou pequena. Por esse motivo, quando qualquer
metafísico e teólogo, possuidor de alguma verdade, pretende transmitir sua ciência, ele não
o fará, exceto em símiles e enigmas. Os escritores sobre esse assunto usaram muitos símiles
diferentes, variando não apenas em detalhes, mas também em seu caráter essencial.
”Maimonides, The Guide of the Perplexed, introdução, ed. J. Ibn Shmuel, p. 7)
8
Man's Quest for God, Nova York, 1954, p. 74; O homem não está sozinho, p. 165 ..

13
Deus em busca do homem
"Onde você está?"
A maioria das teorias da religião começa com a definição da situação religiosa como busca
do homem por Deus e mantém o axioma de que Deus é silencioso, oculto e despreocupado
com a busca do homem por ele. Agora, ao adotar esse axioma, a resposta é dada antes que a
pergunta seja feita. Para o pensamento bíblico, a definição é incompleta e o falso axioma. A
Bíblia fala não apenas da busca do homem por Deus, mas também da busca de Deus pelo
homem . "Tu me caças como um leão", exclamou Jó (10:16).
“Desde o início destacaste o homem e o consideraste digno de permanecer na tua
presença.” Este é o misterioso paradoxo da fé bíblica: Deus está perseguindo o homem. É
1 2

como se Deus não quisesse ficar sozinho, e Ele havia escolhido o homem para servi-Lo. Nossa
busca por Ele não é apenas do homem, mas também de Sua preocupação, e não deve ser
considerada um assunto exclusivamente humano. Sua vontade está envolvida em nossos
anseios. Toda a história humana, conforme descrita na Bíblia, pode ser resumida em uma
frase: Deus está em busca do homem. A fé em Deus é uma resposta à pergunta de Deus.

Senhor, onde te encontrarei?


Alto e escondido em Teu lugar;
E onde não te encontrarei?
O mundo está cheio de Tua glória.

Eu busquei Tua proximidade;


Com todo o meu coração te chamei,
e saindo para te encontrar, te encontrei vindo em minha direção.

Assim como, na maravilha do Teu poder,


em santidade te vi,
quem dirá que ele não te viu?
Eis que os céus e os seus exércitos
declaram admiração de ti, ainda
que a sua voz não seja ouvida.3

Quando Adão e Eva se esconderam de Sua presença, o Senhor chamou: Onde estás (Gênesis
3: 9). É uma chamada que sai repetidas vezes. É um eco ainda pequeno de uma voz calma,
não proferida em palavras, não transmitida em categorias da mente, mas inefável e
misteriosa, tão inefável e misteriosa quanto a glória que enche o mundo inteiro. Está envolto
em silêncio; oculto e subjugado, mas é como se todas as coisas eram o eco congelado da
questão: Onde estás?
A fé resulta de admiração, de uma consciência de que estamos expostos à Sua presença, de
ansiedade em responder ao desafio de Deus, de consciência de sermos chamados. A religião
consiste na pergunta de Deus e na resposta do homem . O caminho para a fé é o caminho da
fé. O caminho para Deus é um caminho de Deus. A menos que Deus faça a pergunta, todas as
nossas perguntas são em vão.
A resposta dura um momento, o compromisso continua. A menos que a consciência do
mistério inefável da existência se torne um estado mental permanente, tudo o que resta é um
compromisso sem fé. Fortalecer nossa atenção, refinar nossa apreciação do mistério é o
significado de adoração e observância. Pois a fé não permanece estacionária. Devemos
continuar a orar, continuar a obedecer para poder crer e permanecer apegados à Sua
presença.
Recondite é a dimensão em que Deus e o homem se encontram, e ainda não são totalmente
impenetráveis. Ele colocou no homem algo do Seu espírito (ver Isaías 63:10), e “é o espírito
do homem, o sopro do Todo-Poderoso, que o faz entender” (Jó 32: 8).
A FÉ É UM EVENTO
Os homens muitas vezes tentaram dar relatos detalhados de por que eles devem acreditar
que Deus existe. Tais relatos são como frutos maduros que recolhemos das árvores. No
entanto, é além de todas as razões, sob a terra, onde uma semente começa a se tornar uma
árvore, que o ato de fé ocorre.
A alma raramente sabe como elevar seus segredos mais profundos a níveis discursivos da
mente. Portanto, não devemos equiparar o ato de fé com sua expressão. A expressão da fé é
uma afirmação da verdade, um julgamento definido, uma convicção, enquanto a própria fé é
um evento, algo que acontece mais do que algo que é guardado; é um momento em que a alma
do homem comunga com a glória de Deus. 4

mente murada do homem não tem acesso a uma escada sobre a qual ele pode, por sua própria
força, subir ao conhecimento de Deus. No entanto, sua alma é dotada de janelas translúcidas
que se abrem para o além. E se ele se levanta para alcançá-Lo, é um reflexo da luz divina nele
que lhe dá o poder para esse desejo. Às vezes, estamos em chamas contra e além de nosso
próprio poder, e a menos que a alma do homem seja descartada como um manicômio, a
análise espectral desse raio é uma evidência da verdade de sua percepção.
Pois Deus nem sempre é silencioso, e o homem nem sempre é cego. Sua glória enche o
mundo; Seu espírito paira sobre as águas. Há momentos em que, para usar uma frase
talmúdica, o céu e a terra se beijam; em que há um levantamento do véu no horizonte do
conhecido, abrindo uma visão do que é eterno no tempo. Alguns de nós, pelo menos uma vez,
experimentaram a real realidade de Deus. Alguns de nós, pelo menos, tiveram um vislumbre
da beleza, paz e poder que fluem através das almas daqueles que são devotados a Ele. Pode
chegar um momento como um trovão na alma, em que o homem não é apenas auxiliado, não
apenas guiado pela mão misteriosa de Deus, mas também ensinado a ajudar, a guiar outros
seres. A voz do Sinai continua para sempre: “Estas palavras o Senhor falou a toda a vossa
assembléia no meio do fogo, das nuvens e das trevas, com uma grande voz que continua para
sempre. ”5

UM FLASH NA ESCURIDÃO
O fato de que, em última análise, a certeza viva da fé é uma conclusão derivada de atos e não
de premissas lógicas, é afirmado por Maimonides:

“Não imagine que esses grandes mistérios sejam completamente e completamente


conhecidos por qualquer um de nós. De maneira alguma: às vezes a verdade brilha diante de
nós com o brilho da luz do dia, mas logo é obscurecida pelas limitações de nossa natureza
material e hábitos sociais, e caímos novamente em uma escuridão quase tão negra quanto a
que estávamos antes. Assim, somos como uma pessoa cujo ambiente é, de tempos em
tempos, iluminado por raios, enquanto nos intervalos ele mergulha na noite escura como
breu. Alguns de nós experimentam esses lampejos de iluminação com frequência, até que
estejam com brilho quase perpétuo, de modo que a noite se transforma em luz do dia. Essa
foi a prerrogativa do maior de todos os profetas (Moisés), a quem Deus disse: Mas, quanto a
ti, se tu aqui por Mim (Deuteronômio 5: 28), e a respeito do qual a Escritura, disse: a pele do
seu rosto enviou vigas (Êxodo 32:39). Alguns vêem um único flash de luz na noite inteira de
suas vidas. Esse era o estado daqueles a quem se diz: eles profetizaram aquele tempo e nunca
mais (Números 11:25). Com os outros, novamente, há longos ou curtos intervalos entre os
flashes de iluminação, e, por último, há aqueles que não são concedidos que sua escuridão
ser iluminado por um relâmpago, mas apenas, por assim dizer, pelo brilho de algum objeto
polido ou coisas semelhantes, como as pedras e substâncias [fosforescentes] que brilham na
noite escura; e mesmo aquela luz esparsa que nos ilumina não é contínua, mas pisca e
desaparece como se fosse o brilho da espada sempre giratória (Gênesis 3:24). Os graus de
perfeição nos homens variam de acordo com essas distinções. Aqueles que nunca viram a luz
por um momento, mas tatearam à noite, são aqueles a quem se diz: Eles não sabem, nem
entenderão; eles andam nas trevas (Salmos 82: 5). A Verdade está completamente escondida
deles, apesar de seu brilho poderoso, como também é dito deles: E agora os homens não vêem
a luz que brilha nos céus (Jó 37:21). Essa é a grande massa da humanidade…. ”
6

Somente aqueles que passaram por dias em que as palavras não tinham proveito, nas quais
as teorias mais brilhantes sacudiam o ouvido como mera gíria; somente aqueles que
experimentaram o não-conhecimento supremo, a ausência de voz de uma alma atingida pela
admiração, total silêncio, são capazes de introduzir o significado de Deus, um significado
maior que a mente.
Há uma solidão em nós que ouve. Quando a alma se separa da companhia do ego e seu
séquito de insignificantes concepções; quando deixamos de explorar todas as coisas, mas em
vez disso rezamos o clamor do mundo, o suspiro do mundo, nossa solidão pode ouvir a graça
viva além de todo poder.
Nós devemos primeiro olhar para a escuridão, sentir-nos estrangulados e sepultados na
desesperança de viver sem Deus, antes de estarmos prontos para sentir a presença da Sua
luz viva.
"E quando eu trazer uma nuvem sobre a terra, o arco será visto na nuvem" (Gênesis
9:14). Quando a ignorância e a confusão apagam todos os pensamentos, a luz de Deus pode
subitamente irromper na mente como um arco-íris no céu. Nosso entendimento da grandeza
de Deus surge como um ato de iluminação. Como o Baal Shem disse: “como um relâmpago
que de repente ilumina o mundo inteiro, Deus ilumina a mente do homem, capacitando-o a
compreender a grandeza do nosso Criador.” Isto é o que se entende pelas palavras do
salmista: “Ele enviou suas flechas e espalhou [as nuvens]; Ele disparou relâmpagos e os
desconcertou. ”As trevas recuam:“ Os canais de água apareceram, as fundações do mundo
foram desnudadas ”(Salmos 18: 15-16). 7

A essência do pensamento religioso judaico não está no entretenimento de um conceito de


Deus, mas na capacidade de articular uma memória de momentos de iluminação por Sua
presença. Israel não é um povo de definidores, mas um povo de testemunhas: "Vós sois
minhas testemunhas" (Isaías 43:10). Lembretes do que nos foi revelado estão pairando
sobre nossas almas como estrelas, remotas e de grandeza que supera a mente. Eles brilham
através de eras sombrias e perigosas, e seu reflexo pode ser visto na vida daqueles que
guardam o caminho da consciência e da memória no deserto de uma vida descuidada.
Desde que esses lembretes perenes mudaram para nossa mente, a maravilha nunca nos
deixou. Observamos atentamente através do telescópio de ritos antigos, para não perdermos
o brilho perpétuo que acena para nossas almas. Nossa mente não acendeu a chama, não
produziu esses princípios. Ainda nossos pensamentos brilham com sua luz. Qual é a natureza
desse brilho, de nossa fé, e como isso é percebido?
VOLTAR A DEUS É UMA RESPOSTA A ELE
Não precisamos descobrir o mundo da fé; só precisamos recuperá-lo. Não é uma terra
incógnita , uma terra desconhecida; é uma terra esquecida, e nossa relação com Deus é mais
um palimpsesto do que uma tabula rasa . Não há quem não tenha fé. Cada um de nós ficou ao
pé do Sinai e vi a voz que proclamou: Eu sou o Senhor teu Deus . Cada um de nós participou
8

dizendo: Faremos e ouviremos . No entanto, é o mal no homem e do mal na sociedade


silenciar a profundidade da alma que bloco e dificultar a nossa fé. “É evidente e conhecido
diante de Ti que é nossa vontade fazer a Tua vontade. Mas o que está no caminho? O
fermento que é na massa (o impulso mal) ea servidão dos reinos.” 9

No espírito do judaísmo, nossa busca por Deus é um retorno a Deus; nosso pensamento dEle
é uma recordação, uma tentativa de extrair a profundidade de nosso apego reprimido. A
palavra hebraica para o arrependimento, teshuvah, meios retornar. No entanto, isso também
significa resposta. Retornar a Deus é uma resposta para ele. Pois Deus não está
calado. “Volta, ó filhos infiéis, diz o Senhor” (Jeremias 3:14). De acordo com o entendimento
10

dos rabinos, diariamente, em todo o tempo: “Uma voz clama: no deserto, prepare o caminho
do Senhor, faça do deserto um caminho reto para o nosso Deus” (Isaías 40: 3). “A voz do
Senhor clama à cidade” (Miquéias 6: 9). 11

“De manhã em dia, ele acorda meu ouvido para ouvir como os que são ensinados” (Isaías 50:
4). A agitação do homem em se voltar para Deus é na verdade um "lembrete de Deus para o
homem". É um chamado que o senso físico do homem não captura, mas a "alma espiritual"
12

nele percebe o chamado. Os presentes mais preciosos vêm até nós de surpresa e
13

permanecer despercebido. A graça de Deus ressoa em nossas vidas como um


staccato. Somente retendo as notas aparentemente desconectadas é que adquirimos a
capacidade de entender o tema.
É possível definir o conteúdo de tais experiências? Não é uma percepção de uma coisa, de
qualquer coisa física; nem é sempre uma divulgação de idéias até então desconhecidas. Ao
que parece, é primariamente um aprimoramento da alma, um aprimoramento do senso
espiritual de uma pessoa, um dom de uma nova sensibilidade. É uma descoberta do que está
no tempo, e não de qualquer coisa no espaço.
Assim como os clarividentes podem ver o futuro, o homem religioso passa a sentir o
momento presente. E esta é uma conquista extrema. Para o presente é a presença de Deus. As
coisas têm passado e futuro, mas somente Deus é pura presença.
UM EVENTO ESPIRITUAL
Mas se idéias não são eventos físicos, em que sentido são reais?
A suposição subjacente da perspectiva do homem moderno é que a realidade objetiva é
física: todos os fenômenos não materiais podem ser reduzidos a fenômenos materiais e
explicados em termos físicos. Assim, apenas aqueles tipos de experiências humanas que nos
familiarizam com os aspectos quantitativos dos fenômenos materiais referem-se ao mundo
real. Nenhum dos outros tipos de nossa experiência, como a oração ou a consciência da
presença de Deus, tem qualquer contrapartida objectiva. Eles são ilusórios no sentido de que
não nos familiarizam com a natureza do mundo objetivo.
Na sociedade moderna, quem se recusa a aceitar a equação do real e do físico é considerado
um místico. No entanto, como Deus não é objeto de uma experiência física, a equação implica
a impossibilidade de Sua existência. Ou Deus é apenas uma palavra que não designa nada
real ou Ele é pelo menos tão real quanto o homem que vejo na minha frente.
Esta é a premissa da fé: eventos espirituais são reais. Por fim, todos os eventos criativos são
causados por atos espirituais. O Deus que cria o céu e a terra é o Deus que comunica Sua
vontade à mente do homem.
"À tua luz veremos luz" (Salmos 36:10). Há uma luz divina em cada alma, é dormente e
eclipsado pelas loucuras deste mundo. Nós devemos primeiro despertar esta luz, então a luz
superior virá sobre nós. Na Tua luz que está dentro de nós, veremos luz (Rabino Aaron de
Karlin).
Não devemos esperar passivamente por insights. Nos momentos mais sombrios, devemos
tentar deixar nossa luz interior ir adiante. "E ela se levanta enquanto ainda é noite"
(Provérbios 31:15).
NOTAS DO CAPÍTULO 13
1
A liturgia do dia da expiação.
2
“Disse o rabino Yose: Judá costumava expor: O Senhor veio do Sinai (Deuteronômio 33:
2). Não leia assim, mas leia: O Senhor veio ao Sinai . Contudo, eu não aceito essa
interpretação, mas, O Senhor veio do Sinai , para dar as boas-vindas a Israel como um noivo
que vai encontrar a noiva. ” Mechilta, Bahodesh, às 19:17. A aliança de Deus com Israel foi um
ato de graça. “Foi Ele quem iniciou nossa libertação do Egito, a fim de nos tornarmos Seu
povo e Ele nosso Rei”, Kuzari II, 50. “O primeiro homem nunca teria conhecido a Deus, se não
o tivesse abordado, recompensado e punido. . Com isso, ele estava convencido de que era o
Criador do mundo, e o caracterizou por palavras e atributos e o chamou de Senhor. Se não
fosse por essa experiência, ele teria ficado satisfeito com o nome Deus; ele não teria
percebido o que Deus era, se Ele é um ou muitos, se Ele conhece indivíduos ou não. ” Kuzari ,
IV, 3.
3
Veja Poemas selecionados de Jehudah Halevi , traduzido por N. Salamon, Filadélfia, 1928, pp.
134-135.
4
O homem não está sozinho , p. 87f.
5
Deuteronômio 5:19, de acordo com a tradução aramaica de Onkelos e Jonathan ben Uzziel e
com a interpretação de Sinédrio , 17b; Sotah, 10b; e para a primeira interpretação de Rashi.
6
Mais Nebuchim, introdução, ed. J. Ibn Shmuel, Jerusalém, 1947, pp. 6-7. O Guia dos Perplexos ,
traduzido por cap. Rabin, Londres, 1952, p. 43f. De uma maneira um tanto semelhante, lemos
no Zohar, a Torá revela um pensamento “por um instante e logo a veste com outra roupa,
para que fique escondida ali e não se mostre. O sábio, cuja sabedoria torna-os cheios de olhos,
furar a roupa à própria essência da palavra que está escondido assim. Assim, quando a
palavra é momentaneamente revelada naquele primeiro instante, aqueles cujos olhos são
sábios podem vê-la, embora logo se esconda novamente. ” Zohar , vol. II, p. 98b. Veja também
Platão, Epístolas, VII, 341.
7
Rabino Yaakov Yosef de Ostrog, Rav Yevi , Ostrog, 1808, p. 43b.
8
Tanhuma , Yitzo, I. As palavras, segundo os rabinos, não foram ouvidas apenas por Israel,
mas pelos habitantes de toda a terra. A voz divina se dividiu nas “setenta línguas” do homem,
para que todos pudessem entender. Êxodo Rabba , 5, 9.
9
Berachot, 17a.
10
Segundo o rabino Jonathan, “Três anos e meio a Shechiná repousou sobre o Monte das
Oliveiras na esperança de que Israel iria voltar, mas não o fizeram, enquanto uma voz do céu
emitiu anunciando, Return, filhos ó infiéis.” Lamentações Rabba , proemium 25 .
11
De acordo com Masechet Kallah, cap. 5, ed. M. Higger, Nova York, 1936, p. 283, essas
passagens se referem a uma voz perpétua.
12
“Esta chamada de Deus vem a ele que tomou a Torá como uma luz de seu caminho, atingiu a
maturidade intelectual e capacidade de apreensão clara, anseia por ganhar o favor do Todo-
Poderoso, e subir para as alturas espirituais dos santos, e vira a sua coração longe de
preocupações e angústias mundanas. ”Bahya, Os Deveres do Coração, Avodat Elohim , cap. 5
(vol. II, p. 55).
13
Rabi Mordecai Azulai, Or Hachamah , Przemysl, 1897, vol. 111, p. 42b.

14
Discernimento
OUVIR, ISRAEL
A voz de Deus nem sempre é inaudível. "Em todas as gerações fizeste partes claras do
mistério do teu nome:" 1

“Todos os dias a celestial ressoa voz de Monte Horebe, proclamando: 'Ai do povo para seu
desrespeito da Torá'.” “Todos os dias uma voz vai adiante dizendo: Quanto tempo vai
2

escarnecedores deliciar-se com o seu escárnio e odiarão os insensatos o conhecimento


? 'Voltai, ó filhos sem fé, curarei a tua falta de fé' (Jeremias 3:22). Mas não há ninguém que
incline seu ouvido. A Torá chama o homem, e ninguém presta atenção. ” 3

O Baal Shem levantou a questão: Qual é o propósito da voz? Se ninguém nunca ouve, de que
serve? Se há sempre um que o ouve, ele iria presumir a admiti-lo? E alguém acreditaria
nele? Isto é como o Baal Shem explicou: A voz que sai de cima não atinge o ouvido físico do
homem. “Não há fala, não há palavras, a voz não é ouvida.” Não é pronunciada em sons, mas
4

em pensamentos, em sinais que o homem deve aprender a perceber. “Um homem que não
entende o que está sendo mostrado por um gesto não é digno de conversar em sinais perante
o rei.” Todos os anseios de retornar a Deus que vêm ao homem, bem como todos os seus
5

despertares interiores de alegria ou o medo é devido a essa voz. 6

“Bendizei ao Senhor, anjos seus, poderosos em forças que cumprem a sua palavra, ouvindo
a voz da sua palavra” (Salmos 103: 20). “Pelos anjos entende-se os santos deste mundo que
são tão estimados pelo Santo, bendito seja Ele, como os anjos supernais no céu…. Eles ouvem
a voz do Senhor, têm o privilégio de ouvir diariamente a voz do alto. ” 7

Ouve, ó Israel…. “Todos os dias sai uma voz do monte Horebe que os justos percebem. Isto é
entendido por Ouvir, 0 Israel: Israel, tu, ouve a voz que proclama o tempo todo, a todo
momento: O Senhor é nosso Deus, o Senhor é Um. ”“ Os atos de Deus são eternos e continuam
para sempre. Todos os dias ele que é digno recebe o pé Torá no Sinai; ele ouve a Torá da boca
do Senhor, como Israel fez quando eles estavam no Sinai. Todo israelita é capaz de atingir
esse nível, o nível de posição no Sinai. ”
8

A INICIATIVA DO HOMEM
“Eu durmo, mas meu coração acorda, é a voz do meu amado que bate: abra para. eu, minha
irmã, meu amor, minha pomba ”(The Song of Songs, 5: 2). “A voz do meu amado, o Santo,
bendito seja, está chamando: abre para mim uma abertura não maior que o olho de uma
agulha, e eu te abrirei os portões supernais. Abre para mim, minha irmã, porque tu és a porta
através da qual há entrada para mim; se você não abrir, eu estou fechado. ” 9

Uma e outra vez Seu chamado é dirigido à alma: Abra para Mim, minha irmã, meu amor,
minha pomba; mas o chamado geralmente se perde na confusão do coração, na ambiguidade
do mundo. No entanto, Deus tenta de muitas maneiras alcançar a alma. “Tu convertes o
homem à contrição e dizes: 'Voltai, filhos do homem'” (Salmos 90: 3).
Sem a ajuda de Deus, o homem não pode encontrá-lo. Sem a busca do homem, Sua ajuda não
é concedida. “A Comunidade de Israel falou diante do Santo, bendito seja Ele:
- Senhor do Universo, isso depende de Ti, então converta-nos a Ti.
Ele lhes disse:
- Depende de você, como já foi dito, volte para mim e eu voltarei para você, diz o Senhor dos
exércitos (Malachai 3: 7).

A Comunidade falou diante dele:


- Senhor do universo, depende de ti, como é dito: restaura-nos, ó Deus da nossa
salvação (Salmos 85: 5).
E, portanto, o Livro das Lamentações conclui com as palavras: "Volta-nos a Ti, ó Senhor, e
seremos transformados".
Está ao alcance do homem procurá-Lo; não está ao seu alcance encontrá-lo. Tudo o que
Abraão tinha era maravilha, e tudo o que ele podia alcançar por conta própria era a prontidão
para perceber. A resposta foi revelada a ele; não foi encontrado por ele. 10

Mas a iniciativa, acreditamos, é com o homem. O grande insight não é dado, a menos que
estejamos prontos para receber. Deus conclui, mas nós começamos.
“Quem quer que se purifique é ajudado de cima.” A Shechiná , a presença de Deus, não é
11

encontrada na companhia de pecadores; mas quando um homem faz um esforço para se


purificar e se aproximar de Deus, a Shechiná repousa sobre ele. Quando o homem está pronto
para dizer: “Eu sou do meu amado”, depois “seu amor é por mim.” 12

Na chama que nasce de um carvão ou vela acesa, existem duas luzes: uma branca e luminosa
e a outra preta ou azul. A luz branca é a mais alta das duas e aumenta constantemente. Os
dois estão inseparavelmente conectados, o branco descansando e sendo entronizado no
preto. A base azul ou preta, por sua vez, está ligada a algo abaixo dela, que a mantém em
chamas e a impele a se apegar à luz branca acima. É um elo de conexão entre a luz branca à
qual está ligada acima e o corpo de concreto ao qual está ligada abaixo. O impulso através do
qual este azul é incendiado vem apenas do homem. A luz azul não é capturada pela luz
13

branca até que comece a subir; mas quando isso acontece, imediatamente a luz branca
repousa sobre ela. No que diz respeito à luz branca, diz-se: “Ó Senhor, não te cales, não te
cales e não te cales, ó Senhor” (Salmos 83: 2). Em relação à luz azul, diz-se: “Vós que
incitamos o Senhor a lembrar, não descanse” (Isaías 62: 6). 14

"O OLHO DO CORAÇÃO"


Em seu grande código que começa com as palavras: "O princípio de todos os princípios e o
pilar sobre o qual toda ciência repousa é saber que existe um Primeiro Ser que criou todas
as coisas existentes", Maimonides não oferece uma prova especulativa para a existência de
Deus. Ele afirma que a fonte do nosso conhecimento de Deus é o olho interno, "o olho do
coração", um nome medieval para a intuição. 15

Para os pensadores judeus do passado, a evidência de sua certeza da existência de Deus não
era nem um silogismo derivado de premissas abstratas nem nenhuma experiência física, mas
um insight. O olho do corpo não é a da alma, ea alma, acreditava-se, não às vezes alcançar
conhecimentos superiores. 16

Bahya Ibn Paquda acreditava que para aquele cuja mente está sempre viva para Deus, Ele
revelará "mistérios de Sua sabedoria". Tal pessoa "verá sem olhos, ouvirá sem ouvidos, falará
sem língua, perceberá coisas que seu senso não pode perceber. e compreenda as coisas sem
raciocinar. ” 17

Moses Ibn Ezra nos diz: “Meus pensamentos me despertam para contemplar a Ti, e
permitem-me contemplar Tuas maravilhas com os olhos do meu coração.” 18

Yehuda Halevi sustenta que, assim como o Senhor deu a todos nós um olho corporal para
perceber coisas externas, ele dotou algumas pessoas de “um olho interior” ou “senso
interior”. Nos seus poemas, ele fala de si mesmo tendo visto Deus com o coração (em vez de
19

com os olhos corporais). “Meu coração te viu e creu em ti.” “Eu te vi com os olhos do
20 21

coração.” 22

O Criador que descobre tudo do nada,


é revelado ao coração, mas não aos olhos;
Portanto, não pergunte como e onde -
pois Ele enche o céu e a terra.
Remove a luxúria do meio de Ti;
Tu encontrarás o teu Deus dentro do teu seio,
Andando suavemente no teu coração -
Aquele que abate e levanta. 23

“PORTAS PARA ALMA”


No Zohar , lemos o seguinte discurso sobre o versículo: Seu marido é conhecido nos portões,
d

quando ele se senta entre os anciãos da terra (Provérbios 31:23). “O Santo, bendito seja Ele, é
transcendente em Sua glória, Ele está oculto e removido muito além de todos os seus
conhecimentos; não há ninguém no mundo, nem jamais houve alguém a quem Sua sabedoria
e essência não escapam, uma vez que Ele é recôndito e oculto e além de todos os parentes,
de modo que nem os seres supernais nem os inferiores são capazes de comungar com Ele até
que proferam as palavras 'Bendita seja a glória do Senhor do seu lugar' (Ezequiel 3: 12). As
criaturas da terra pensam Nele como estando no alto, declarando: 'Sua glória está acima dos
céus' (Salmos 113: 4), enquanto os seres celestes pensam Nele como estando lá embaixo,
declarando: 'Sua glória está sobre todos os céus. terra '(Salmos 57:12), até que ambos, no
céu e na terra, concordem em declarar:' Bendita seja a glória do Senhor do seu lugar ', porque
Ele é incognoscível e ninguém pode verdadeiramente entendê-Lo. Sendo assim, como você
pode dizer: 'O marido dela é conhecido nos portões'? Mas, na verdade, o Santo se faz
conhecido por todos, de acordo com a percepção de seu coração e sua capacidade de se
apegar ao espírito da sabedoria divina; e assim 'Seu marido é conhecido', não 'nos
portões' (bishe 'arim), mas, como também podemos traduzir,' por insight ', embora um
conhecimento completo esteja além do alcance de qualquer ser ... De acordo com outra
interpretação, os portões mencionados nesta passagem são os mesmos que os portões da
passagem: 'Ergai a cabeça, ó portões' (Salmos 24: 7), e se referem aos graus supernais pelos
quais através de o conhecimento do Todo-Poderoso é possível ao homem, mas para o qual o
homem não pode ter comunhão com Deus. Da mesma forma, a alma do homem não pode ser
conhecida diretamente, exceto através dos membros do corpo, que são os graus que formam
os instrumentos da alma. A alma é assim conhecida e desconhecida. Assim é com o Santo,
bendito seja Ele, pois Ele é a Alma das almas, o Espírito dos espíritos, coberto e velado por
qualquer pessoa; todavia, através daqueles portões, que são portas para a alma, o Santo se
faz conhecido. Pois há porta dentro de porta, nota atrás de nota, através da qual a glória do
Santo se torna conhecida. ” 24

NOTAS DO CAPÍTULO 14
1
Siddur Saadia, p. 379. De acordo com A sabedoria de Salomão (7:25, 27), a sabedoria pela
qual o mundo foi criado é “um sopro do poder de Deus, uma clara efluência da glória do Todo-
Poderoso. Portanto, nada pode ser contaminado por ela. De geração em geração, passando
para almas santas, ela as torna amigas de Deus e profetas. ” E Deus disse: Haja luz, e houve
luz. (Gênesis 1: 3). De acordo com uma visão antiga, essa luz, se tivesse permanecido no
mundo, teria permitido ao homem ver o mundo de relance de um extremo ao
outro. Antecipando a maldade das gerações pecadoras do Dilúvio e da Torre de Babel, que
eram indignas de desfrutar das bênçãos dessa luz, Deus a ocultou. No mundo vindouro,
parecerá aos piedosos em toda a sua glória imaculada (Hagigah 12a.) Mas, se tivesse sido
totalmente escondido, o mundo, de acordo com outra visão, “não seria capaz de existir por
um momento. Mas foi escondido apenas como uma semente que gera outros, sementes e
frutos, e o mundo é sustentado por ela. Não há um dia em que algo não emana dessa luz para
sustentar todas as coisas, pois é com isso que o Santo nutre o mundo. ” Zohar , vol. II,
p. 149a. Ver vol. II, pp. 166b-167a. Em geral, o problema compara meus estudos,
"Maimonides se esforçou para obter inspiração profética?" , No volume do Jubileu de Louis
Ginzberg , o volume hebraico, Nova York, 1945, pp. 159-188; "Inspiração na Idade Média",
em Alexander Marx Jubilee Volume, o volume hebraico, Nova York, 1950, pp. 175-208.
2
Abot 6, 2.
3
Zohar, vol. III, pp. 126a, 52b, 58a; Vol. I, pp. 78a, 90a, 124a, 193a; vol. II, pp.
5a; ver Hagigah 15b e Pirke de Rabbi Eliezer, cap. 15
4
De acordo com os Salmos 19: 3.
5
Hagigah 5b.
6
Toldot Yaakov Yosef , Lemberg, 1863, p. 172a; veja as fontes mencionadas em Sefer Baal
Shem Tov, vol. II, p. 167, e Rabi Eliezer Azkari, Haredim, Veneza, 1601, p. 81a.
7
Rabi Levi Yitzhak, de Berditshev, Kedushat Levi, Lublin 1927, p. 186b; veja
p. 28a Compare Lekkute Yekarim. Mesyrov, 1797, p. 2d.
8
Zohar , vol. Eu p. 90a
9
Midrash Rabba, The Song of Songs, 5,2, e Zohar, vol. III, p. 95a
10
De acordo com Números Rabba 14, 7, o versículo “Quem me antecipou, eu o retribuirei” (Jó
41: 3), refere-se a Abraão que, por si mesmo, alcançou o conhecimento da existência de
Deus. “Não havia homem que o ensinasse a obter conhecimento do Santo, bendito seja Ele.”
Ele era uma das quatro pessoas que aprenderam a conhecer a Deus. Os outros três foram Jó,
Ezequias e o Messias. No entanto, a intenção desta passagem é enfatizar que Abraão não foi
ajudado por nenhum homem. Não se refere à ajuda divina. Além disso, o fato de quatro
homens serem escolhidos é uma exceção que comprova a regra.
11
Yoma 38b.
12
Zohar, vol. Eu p. 88b.
13
Zohar, vol. Eu p. 51a
14
Zohar, vol. Eu p. 77b.
15
“Você nunca pode ver matéria sem forma, ou forma sem matéria ... Formas desprovidas de
matéria não podem ser percebidas pelos olhos do corpo, mas apenas pelos olhos do
coração. Do mesmo modo, conhecemos o Senhor do universo sem visão física. ” Mishne Torá,
Yesode Hatorah, IV, 7. Ver The Deveres of the Heart, vol. II, p. 55. Os escolhidos são dotados
de “um olho interior que vê as coisas como realmente são” ( Kuzari IV, 3); veja Ibn
Esdras, comentário em Êxodo 7:89. O termo também é usado por Gazzali, ver David
Kaufmann, Geschichte der Attributenlebre, Gotha, 1877, p. 202, n. 180; e J. Obermann,
Der filosófico e religioso Subjektivismus Ghazalis, Viena, 1921, p. 27. Compare Aristóteles, De
Mundo, 391: "pelo olho divino da alma, apreendendo as coisas divinas e interpretando-as à
humanidade".
16
O conceito de insight parece estar contido na expressão talmúdica, ovanta deliba. É um ato
em que é alcançada uma percepção dos mistérios da Merkaba, ver Megillah 24a, e Tosafot,
Avoda Zara , 28b.
17
Os Deveres do Coração, heshbon hanefesh, cap. 3, par. 10. Bahya se refere à “ciência interior”,
que ele descreve como a luz dos corações e o brilho das almas. A respeito desta ciência, a
Escritura diz: Eis que desejas a verdade no interior; ensina-me, portanto, sabedoria no meu
coração mais íntimo (Salmos 51: 8). Os Deveres do Coração, vol. Eu p. 7)
18
Poemas selecionados de Moshes Ibn Esra, editado por Heinrich Brody e traduzido por
Solomon Solis-Cohen, Filadélfia, 1945, p. 124. A expressão também ocorre em Bahya,
ibidem, Avodat Elohim , cap. 5)
19
Kusari, IV, 3.
20
Shirim Nivharim , ed; Shirman, poema 4, linha 22.
21
Shirman, ibid., Poema 2, linha 5.
22
Poemas selecionados de Jehudah Halevi , Filadélfia, 1928, p. 94
23
Diwan des … Jehuda ha-Levi, editado por H. Brody, Gottesdienstliche Poesie, Berlim, 1911,
p. 159
24
Zohar, vol. Eu p. 103a-b; ver vol. II, p. 116b. Veja a visão de Rabbenu Hananel, citada
em Commentar zum Sepher Jezira por R. Jehuda G. Barsilai aus Barcelona, ed. Halberstam,
Berlim, 1885, p. 32. O Zohar relaciona bishe'arim ao verbo Lesha'er, para estimar. Veja
Provérbios 23: 7 e Rashi na Sotah 38b.

15

"Você pode procurar por Deus?"
Pensar no máximo, subir em direção ao invisível, leva ao longo de um caminho com inúmeros
abismos e pouquíssimas saliências. Por toda a nossa fé, somos facilmente perdidos em
apreensões que não podemos dissipar completamente. O que poderia neutralizar a
apreensão de que é totalmente futilidade almejar a compreensão de Deus?
O homem, em sua espontaneidade, pode alcançar o Deus oculto e, com sua mente, tentar
furar a escuridão de Sua distância. Mas como ele saberá se é Deus que ele está buscando ou
algum valor personificado? Como ele saberá onde ou quando Deus é encontrado? Em
momentos de meditação, podemos encontrar a Sua presença. Mas Deus nos
encontra? Podemos adorar profundamente e sinceramente a Sua glória. Mas como sabemos
que Ele percebe nossa adoração?
“Podes, procurando, descobrir a Deus?” (Jó 11: 7). Jó admite livremente: “Deus é grande,
além do nosso conhecimento” (36:26). “O Todo-Poderoso - não podemos encontrá-Lo; Ele
1
é grande em poder e justiça, e justiça abundante não violará ”(37:23). Tudo o que Abraão
conseguiu alcançar por seu próprio poder foi maravilha e espanto; o conhecimento de que
existe um Deus vivo lhe foi dado por Deus.
Não há substituto para a fé, nem alternativa para profecia, nem substituto para a tradição.
NENHUMA FÉ À PRIMEIRA VISTA
Não há fé à primeira vista. Uma fé que surge como uma borboleta é efêmera. Quem é rápido
em acreditar é rápido em esquecer. A fé não surge do nada, inadvertidamente, despreparada,
como uma surpresa imerecida. A fé é precedida pelo temor, por atos de espanto pelas coisas
que apreendemos, mas que não podemos compreender. Na história do Mar Vermelho, lemos:
"Israel viu as grandes obras que o Senhor fez ... e o povo temeu ao Senhor ... e acreditou no
Senhor" (Êxodo 14:31). Devemos aprender a ver "os milagres que estão diariamente
conosco"; precisamos aprender a viver com reverência, a fim de alcançar as idéias da fé.
“O impensado acredita em todas as palavras, mas o prudente olha para onde está indo”
(Provérbios 14:15). A vontade de acreditar pode ser a vontade de poder disfarçada, mas a
vontade de poder e a vontade de acreditar são mutuamente exclusivas. Pois, em nosso
esforço pelo poder, arrogamos para nós mesmos o que pertence a Deus e suprimimos a
reivindicação de Sua presença. Devemos aprender como deixar Sua vontade
prevalecer. Devemos entender que nossa fé não é apenas nossa preocupação, mas também
Sua; que mais importante do que nossa vontade de acreditar é a vontade Dele em que
cremos.
Não é fácil alcançar a fé. Uma decisão da vontade, o desejo de acreditar, não a
garantirá. Todos os dias de nossas vidas, devemos continuar a aprofundar nosso senso de
mistério, a fim de sermos dignos de alcançar a fé. A insensibilidade ao mistério é o nosso
maior obstáculo. À luz artificial do orgulho e auto-contentamento, nunca veremos o
esplendor. Somente em Sua luz veremos luz.
A busca do homem por Deus não é uma mera informação. Em termos de informação, pouco
foi alcançado por inúmeros homens que se esforçaram para encontrar uma
resposta. Somente em termos de capacidade de resposta, como resposta àquele que pediu,
muito foi alcançado e muito pode ser alcançado por todos nós. No campo da ciência, uma
pergunta pode ser feita e uma resposta dada por um homem a todos os homens. No campo
da religião, a pergunta deve ser encarada e a resposta dada por toda alma individual.
Deus não tem importância, a menos que Ele seja de suprema importância. Não podemos
2

deixar incerto se existe ou não um Deus vivo que se preocupa com a integridade do
homem. Não podemos deixar incerto se sabemos ou não o que Ele exige de nós. A resposta
para essas perguntas não pode ser encontrada de imediato. Segundo Maimonides, “é bem
sabido e bastante evidente que o amor de Deus não pode enraizar-se profundamente no
coração do homem, a menos que ocupe sua mente constantemente, para que nada no mundo
lhe importe senão esse amor de Deus.” O que aplica-se ao amor de Deus aplica-se em algum
3

grau à fé em Deus.
A FÉ É ANEXO
Fé não é o mesmo que crença, não é o mesmo que a atitude de considerar algo como
verdadeiro. Quando o povo de Israel adorou um bezerro de ouro, quarenta dias após o Sinai,
4

sua crença no evento estava certamente presente. A fé é um ato de toda a pessoa, da mente,
da vontade e do coração. Fé é sensibilidade, entendimento, engajamento e apego; não algo
alcançado de uma vez por todas, mas uma atitude que se pode ganhar e perder.
A geração que saiu do Egito e testemunhou as maravilhas do Mar Vermelho e do Sinai não
alcançou completamente a fé. No final de quarenta anos no deserto, Moisés convocou todo o
Israel e disse-lhes: “Vocês viram tudo o que o Senhor fez diante de seus olhos na terra do
Egito, a Faraó, a todos os seus servos e a toda a sua terra; as grandes provações que seus olhos
viram , os sinais e aquelas grandes maravilhas. Mas até hoje o Senhor não lhe deu uma mente
para entender ou olhos para ver ou ouvidos para ouvir ” (Deuteronômio 29: 1-3).
“Coisas maravilhosas Ele fez aos olhos” de Israel. "Por tudo isso eles pecaram ainda, e não
creram em Suas maravilhosas obras" (Salmos 78: 14-32).
O EMBARRAMENTO DA FÉ
Repetimos que a fé no Deus vivo não é alcançada com facilidade. Se fosse possível provar Sua
existência além da disputa, o ateísmo teria sido refutado como um erro há muito tempo. Se
fosse possível despertar em todo homem o poder de responder à Sua pergunta final, os
grandes profetas o teriam alcançado há muito tempo. Trágico é o constrangimento do
homem de fé. “Minhas lágrimas têm sido minha comida dia e noite, enquanto me dizem todo
o dia, onde está o teu Deus?” (Salmos 42: 4). “Onde estão todas as maravilhosas obras de que
nosso pai nos falou?” (Neemias 6:13; ver Salmos 44: 2). “Até quando, ó Senhor, esconderás
perpetuamente?” (Salmos 89:47). "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Salmos
22: 2).
Por que, muitas vezes perguntamos em nossas orações, tornaste tão difícil te encontrar? Por
que devemos encontrar tanta angústia e trabalho árduo antes que possamos dar uma olhada
em Tua presença? Que espetáculo triste são os esforços honestos das grandes mentes para
provar Tua existência! E por que você permite que a fé se misture tão facilmente com
intolerância, arrogância, crueldade, loucura e superstição?

Ó Senhor, por que nos fazes errar dos teus caminhos


E endurecemos o nosso coração, para que não te temamos?
Isaías 63:17

Deve haver uma razão profunda para esse fato, para a suprema miséria do homem. A razão,
talvez, é que Deus em Sua relação conosco segue não apenas o caminho da compaixão, mas
também o caminho da justiça, e que Sua compaixão é ocultada por Sua justiça, como Sua
justiça é ocultada por Sua compaixão.
A FÉ INCLUI FIDELIDADE
A fé inclui fidelidade , força de espera, aceitação de Sua ocultação, desafio à história.

Ó Senhor nosso Deus,


outros senhores além de ti tiveram domínio sobre nós,
mas reconhecemos somente o teu nome.
Isaías 26:13
Nenhum momento na história humana foi tão triste quanto o momento em que o Senhor
disse a Moisés, e certamente esconderei o meu rosto naquele dia por causa de todo o mal que
eles fizeram, porque se voltaram para outros deuses (Deuteronômio 31). : 18) 5

“Quem é semelhante a Ti em silêncio!” Quem é tão silencioso quanto Tu “que vê o insulto


amontoado sobre os teus filhos, mas mantém o silêncio?” 6

O fracasso da percepção, a incapacidade de prendê-lo diretamente é o triste paradoxo de


nossa existência religiosa. Foi um momento extraordinário em que o homem estava pronto
para exclamar:

Este é o meu Deus, eu O glorificarei;


O Deus do meu pai, eu o exaltarei.
Êxodo 15: 2

A situação normal é expressa nas palavras de Jó:

Eis que ele passa por mim e eu não o vejo;


Ele também passa adiante, mas eu não o percebo.
Jó 9:11

No entanto, Deus não é indiferente à busca do homem por Ele. Ele precisa do homem, precisa
da parte do homem na redenção. Deus que criou o mundo não está em casa no mundo, em
seus becos escuros de miséria, insensibilidade e desafio.
Sobre Noé, é dito que Noé andou com Deus (Gênesis 6: 9), e a Abraão, o Senhor disse: Anda
diante de mim (Gênesis 17: 1). Disse o Midrash: “Noé pode ser comparado ao amigo de um
rei que estava mergulhando nas ruas escuras, e quando o rei olhou para fora e o viu, ele disse-
lhe: Em vez de mergulhar nas ruas escuras, venha e ande comigo . Mas o caso de Abraão deve
ser comparado ao de um rei que estava afundando em becos escuros , e quando seu amigo o
viu, ele acendeu uma luz pela janela. Disse-lhe: Em vez de me iluminar pela janela, venha e
mostre uma luz diante de mim. ” O mundo estava coberto de trevas, mas Abraão deu a luz
7

que iluminava Sua presença.


As palavras “eu sou estrangeiro na terra” (Salmos 119: 19), foram interpretadas para se
referir a Deus. Deus é um estranho no mundo. A Shechiná , a presença de Deus, está no
exílio. Nossa tarefa é trazer Deus de volta ao mundo, às nossas vidas. Adorar é expandir a
presença de Deus no mundo. Ter fé em Deus é revelar o que está oculto.
NOTAS DO CAPÍTULO 15
1
Levante seus olhos para o alto. “Ao fazer isso, você saberá que é o misterioso Ancião cuja
essência pode ser buscada, mas não encontrada, quem os criou…. Ele deve ser sempre
procurado, apesar de misterioso e irreversível. Mas depois que um homem, por meio de
investigação e reflexão, atingiu o limite máximo do conhecimento ... ele para, como se
dissesse, o que você sabe? o que as tuas pesquisas alcançaram? ” Zohar , vol. 1, p. 1b.
2
O homem não está sozinho, p. 92
3
Mishnah , Torá , teshuvá, x, 6.
4
Um ladrão, ao invadir um lar, a fim de roubar apelos a Deus para ajudá-lo, lembra o rabino
Shneur Zalman de Ladi; veja Berachot 63a.
5
Jerushalmi Sinédrio , x, 2, 28b.
6
Mechilta a Êxodo 15: 11. Segundo a lenda de Gittin 56b, Titus deveria ter dito
blasfemamente: "Até os silenciosos falam às vezes, mas estão silenciosos para sempre",
ver Arugat Habosem , vol. 1, p. 26)
7
Gênesis Rabba , 30, 10.

16
Além da visão
NO ALCANCE DE CONSCIÊNCIA
Qual é o valor cognitivo de nossas idéias? O que é divulgado e o que é retido nesses
momentos? Quando uma pessoa é atingida por uma bala, ela sente a dor, não a bala. Quando
uma pessoa é chamada a retornar, ela sente que está sendo chamada e não a ligação. A mão
guia está oculta; o que ele pode sentir é que ele é um objeto de preocupação. Não haveria
chamada para o homem sem uma preocupação com o homem.
Esta é a certeza que nos domina nesses momentos: o homem vive não apenas no tempo e no
espaço, mas também na dimensão da atenção de Deus. Deus é preocupação, não apenas
poder. Deus é aquele a quem somos responsáveis.
Na esteira do insight religioso, retemos a consciência de que o Deus transcendente é Aquele
para quem nossa consciência está aberta. Apesar de alguma ambiguidade nas demandas
específicas, mantemos um contato imediato e que pode permanecer ininterrupto. Estamos
expostos ao desafio de um poder que, não nascido da nossa vontade nem instalado por ela,
rouba-nos a independência por seu julgamento da retidão ou depravação de nossas ações,
por roer nosso coração quando ofendemos contra suas injunções. É como se não houvesse
privacidade dentro de nós mesmos, nenhuma possibilidade de recuar ou escapar, nenhum
lugar em nós para enterrar os restos de sentimentos de culpa. Há uma voz que alcança todos
os lugares, sem piedade, cavando os locais de sepultamento do esquecimento de caridade.
O Deus dessa consciência é o Deus a quem devemos prestar contas? Essa consciência é
produzida artificialmente por medos e ilusões e gradualmente desenvolvida como uma
atitude em relação às leis que regulavam a sociedade primitiva? Mesmo aqueles que
pensariam que isso era verdade não deveriam cometer o erro de avaliar as coisas pela
maneira como elas surgiram. Algumas das instituições mais relevantes e essenciais da
humanidade começaram de maneira incidental. Pode ser que a arte de fazer ferramentas ou
a descoberta da fermentação tenham se originado na magia e na superstição. Qualquer que
tenha sido a origem da consciência, há poucas coisas no reino da vida humana que são de um
significado tão fundamental. É tão ousado e tão abrangente quanto a razão. Pois assim como
a razão supõe que os processos na natureza são inteligíveis, que existe uma relação racional
entre os eventos, assumindo que a inteligência humana e a ordem natural são compatíveis,
o mesmo acontece com a nossa consciência, nosso senso moral e afirma que existe uma
relação moral entre os eventos. Deus e humano.
Nosso senso do que é certo e errado pode às vezes ser incerto. O que é indubitavelmente
certo é o nosso senso de obrigação de responder por nossa conduta. Uma característica única
da consciência é que, diferentemente da razão, sua principal consciência não reside em
conceber algo, mas em estar relacionada a, em ser responsável, em ser julgada e
julgada. Prestação de contas significa ser responsável perante alguém. Quem é esse
alguém? Que alguém não pode ser uma lei abstrata ou uma força cega; ao violar uma lei física,
nunca sentimos culpa. Nem pode ser o nosso próprio eu; a admissão essencial da alma é que
o eu não é sua autoridade final. Não temos o poder de perdoar a nós mesmos os erros que
cometemos. Somos abertos e comunicativos com alguém que nos transcende e se preocupa
com a nossa vida.
DEUS É O ASSUNTO
O sentido da realidade de Deus não será encontrado em conceitos insípidos; em opiniões
astutas, áridas, tímidas; no amor que é escasso, irregular. A sensibilidade a Deus é dada a um
coração partido, a uma mente que se eleva acima de sua própria sabedoria. É uma
sensibilidade que explode todas as abstrações. Não é mero brincar com uma noção. Não há
convicção sem contrição; nenhuma afirmação sem auto-engajamento. A consciência de Deus
é uma resposta, e Deus é um desafio e não uma noção. Nós não O pensamos, somos movidos
por Ele. Nós nunca podemos descrevê-lo, podemos apenas retornar a ele. Podemos nos
dirigir a Ele; não podemos compreendê-lo. Podemos sentir Sua presença; não podemos
captar Sua essência.
A chamada é dele, a nossa é a paráfrase; Ele é a criação, a nossa é uma reflexão. Ele não é um
objeto a ser compreendido, uma tese a ser endossada; nem a soma de tudo o que é (fatos)
nem um resumo de tudo o que deveria ser (ideais). Ele é o assunto final.
O sentido trêmulo da heresia de Deus é a suposição de que devemos prestar contas a Ele. A
consciência de Deus não é um ato de Deus conhecido pelo homem; é a consciência do homem
ser conhecido por Deus. Ao pensar nele, somos pensados por ele. 1

ADVERBS
Se começarmos com uma opinião de Deus como absoluta, Sua realidade permanece barrada
por trás da abstração. Mas opiniões são simplificações demais, conclusões. Em vez de
testemunhar um impacto, eles formulam uma inferência a partir de premissas. Mesmo o
impacto de uma coisa sobre a mente não pode ser expresso na forma de uma opinião ou
conclusão. Concluir significa terminar. Mas quem pode pôr fim ao impacto do céu na alma?
Devemos evitar substantivos ao falar da natureza de Deus. Um substantivo pressupõe
compreensão. Mas mesmo o mundo que encontramos é aquele que apreendemos e não
podemos compreender.
Deus parece ser remoto, mas nada é tão próximo quanto ele. Quando pensamos que Ele está
2

perto, então está distante; quando pensamos que Ele é remoto, então Ele está próximo (o
Baal Shem). A ponte para Deus é reverência.
Com admiração, nossa pergunta não é: qual é a Sua essência? Mas, antes, qual é a sua relação
com o homem? Se Deus deriva de abstrações, então Sua indiferença ao homem e a
irrelevância do homem para Ele permanecem compatíveis com Sua grandeza. Mas se nossa
consciência de Deus é uma resposta à Sua busca pelo homem, ou um retorno, então, de fato,
Sua realidade e Sua preocupação surgem sobre nós juntos. A pergunta de Deus ao homem é
um ato de Sua preocupação.

Não temos substantivos para descrever Sua essência; só temos advérbios para indicar as
maneiras pelas quais Ele age em relação a nós.
A UNIDADE É O PADRÃO
Em todo lugar encontramos o mistério: na rocha e na abelha, na nuvem e no mar; é como se
tudo fosse uma via pública. Mas, todos os caminhos levam a um objetivo, a um Deus? Como
sabemos se todos os homens experimentam em todos os momentos e em todos os lugares
uma e mesma realidade? As múltiplas experiências de mistério não testemunham uma
multiplicidade de divindades, e não um Deus?
Por toda a sua preciosidade e intensidade, o insight religioso é suscetível à dúvida. O que nos
dá a certeza de que a substância de nossa percepção não é uma projeção de nossa própria
alma? A alma não é um local de criação de ilusões? Como sabemos que nossa interpretação
do que nos é dado em momentos de insight religioso está correta? Como sabemos que é um
Deus vivo, o criador do céu e da terra, cuja preocupação atingiu a alma? Qual é o padrão pelo
qual testar a veracidade das idéias religiosas?
Esse padrão teria que ser uma idéia, não um evento. Teria que ser uma idéia última, digna de
servir como uma identificação do divino e, ao mesmo tempo, a suprema idéia no pensamento
humano, uma idéia universal. Tal ideia é unidade ou amor, que é uma expressão de unidade.
Todo conhecimento e entendimento em ciência, arte, ética, bem como em religião, repousam
em sua validade. Unidade é a norma, o padrão e a meta. Se, depois de um insight religioso,
3

podemos ver uma maneira de reunir nossas vidas dispersas, de unir o que está em conflito -
sabemos que é um guia para o Seu caminho.
Se um pensamento gera orgulho, separação do sofrimento de outras pessoas,
desconhecimento dos perigos do mal - sabemos que é um desvio do Seu caminho.

Um insight não é significativo para um homem, a menos que seja capaz de se tornar
significativo para todos os homens. Quem fez aquilo que é o tempo todo ilumina o homem
com pensamentos que devem ser válidos o tempo todo.
Somente aquilo que é bom para todos os homens é bom para todo homem. Ninguém é
verdadeiramente inspirado por si próprio. Quem é abençoado é uma bênção para os outros.
Existem muitas maneiras, mas apenas um objetivo. Se existe uma fonte de todas, deve
haver uma meta para todas. Os anseios são nossos, mas a resposta é dele.
Além de todo mistério, está a misericórdia de Deus. É um amor, uma misericórdia que
transcende o mundo, seu valor e mérito. Viver de tal amor, refleti-lo, ainda que entorpecido,
é o teste da existência religiosa.
Resumindo: o poder da verdade religiosa é um momento de insight e seu conteúdo é
unicidade ou amor. Fonte e conteúdo podem ser transmitidos em uma
palavra: transcendência.
A transcendência é o teste da verdade religiosa. Um insight genuíno rasga o cerco do coração
e confere ao homem o poder de se elevar acima de si mesmo.
DO PERCEPÇÃO À AÇÃO
Como podemos ter certeza de que a unicidade é realmente um caminho de Deus? Como
presumimos saber o que está além do mistério? A certeza de estar exposta a uma presença
que não é do mundo é um fato da existência humana. Mas essa certeza não se realiza na
contemplação estética; é uma exigência de viver de uma maneira que seja digna dessa
presença.
O começo da fé, como dito acima, não é um sentimento para o mistério da vida ou um
sentimento de reverência, admiração e espanto. A raiz da religião é a questão do que fazer
com o sentimento pelo mistério da vida, o que fazer com admiração, admiração e espanto. A
religião começa com a consciência de que algo nos é pedido. É nessa pergunta tensa e eterna
em que a alma é apanhada e em que a resposta do homem é suscitada.

Algo nos é pedido. Mas o que? A questão final que agita nossa alma é anônima, misteriosa,
poderosa, mas inefável. Quem colocará em palavras, quem nos ensinará o caminho de
Deus? Como saberemos que a maneira que escolhemos é a que Ele deseja que sigamos?
Em momentos de insight, somos chamados a retornar. Mas como se volta? Qual é o caminho
para ele? Todos sentimos a grandeza e o mistério. Mas quem nos dirá como responder ao
mistério? Quem nos dirá como viver de uma maneira compatível com a grandeza, o mistério
e a glória? Todos nós. ter é uma percepção, mas nem palavras nem ações para expressar ou
formar uma resposta.
O homem não vive apenas do insight; ele precisa de um credo, de dogma, de expressão, de
um modo de vida. As idéias não são uma posse segura; eles são vagos e esporádicos. São
como faíscas divinas, piscando diante de nós e ficando obscuras novamente, e caímos
novamente na escuridão "quase tão negra quanto a que estávamos antes". O problema é:
como comunicar esses raros momentos de insight a todas as horas da nossa vida? Como
comprometer a intuição aos conceitos, o inefável às palavras, o insight ao entendimento
racional? Como transmitir nossas idéias a outras pessoas e nos unir em uma comunhão de
fé?
Momentos de insight não são experimentados com intensidade suficiente por todos os
homens. Essas faíscas são poderosas o suficiente para iluminar uma alma, mas não o
suficiente para iluminar o mundo. Deus nunca disse: Haja luz, para todo o mundo ver? Em
momentos de insight, Deus se dirige a uma única alma. Ele nunca se dirigiu ao mundo, a um
povo ou a uma comunidade? Ele se deixou sem deixar vestígios na história para aqueles que
não têm forças para procurá-Lo constantemente?
SOMENTE INSIGHTS E NADA MAIS?
Ao pensar no mundo, não podemos prosseguir sem orientação, fornecida pela lógica e pelo
método científico. Ao pensar no Deus vivo, devemos procurar orientação pelos profetas.
Aqueles que compartilham da herança de Israel acreditam que Deus nem sempre é
evasivo. Ele se confidenciou em raros momentos àqueles que foram escolhidos para serem
guias. Não podemos expressar Deus, mas Deus expressa Sua vontade para conosco. É através
de Sua palavra que sabemos que Deus não está além do bem e do mal. Nosso próprio
pensamento nos deixaria em um estado de perplexidade se não fosse pela orientação que
recebemos.
Não é correto esperarmos por Deus, como se ele nunca tivesse entrado na história. Em sua
busca por Deus, o homem que vive após a era do Sinai deve aprender a entender a realidade
da busca de Deus pelo homem. Ele não deve esquecer o mundo dos profetas, Deus esperando
pelo homem.
O que um escultor faz com um bloco de mármore, a Bíblia faz com nossas melhores
intuições. É como elevar o mistério à expressão.
Ideias e inspirações particulares nos preparam para aceitar o que os profetas
transmitem. Eles nos permitem entender a pergunta à qual a revelação é uma resposta. Pois
nossa fé não deriva sua substância completa de idéias particulares. Nossa fé é fé em virtude
de fazer parte da comunidade de Israel, em virtude de termos participação na fé dos
profetas. De suas palavras, derivamos as normas pelas quais testamos a veracidade de
nossas próprias idéias.
É através dos profetas que podemos encontrá-lo como um ser que está além do mistério. Nos
profetas, o inefável se tornou uma voz, revelando que Deus não é um ser que está separado
e distante de nós, como acreditava o homem antigo, que Ele não é um enigma, mas justiça,
misericórdia; não apenas um poder pelo qual somos responsáveis, mas também um padrão
para nossas vidas. Ele não é o desconhecido; Ele é o Pai, o Deus de Abraão; das eras sem fim
vêm compaixão e orientação. Até o indivíduo que se sente abandonado lembra-se dele como
o Deus de seus pais.
NOTAS DO CAPÍTULO 16
1
O homem não está sozinho , p. 74
2
Jerushalmi Berachot, 9, 1.
3
Para uma análise detalhada, consulte Man is Not Alone, pp. 102-123.

2)
REVELAÇÃO

17
A idéia de revelação
HOMEM COM TORAH
Nunca mais fomos os mesmos desde o dia em que a voz de Deus nos dominou no Sinai. É
para sempre impossível recuar para uma era que antecede o evento sinaítico. Algo sem
precedentes aconteceu. Deus revelou Seu nome para nós, e somos nomeados após
Ele. "Todos os povos da terra verão que você é chamado pelo nome do Senhor"
(Deuteronômio 28:10). Existem dois nomes hebraicos para os judeus: Yehudi , cujas três
primeiras letras são as três primeiras do Nome Inefável, e Israel, cujo final, el, significa Deus
em hebraico.
Se outras religiões podem ser caracterizadas como uma relação entre homem e Deus, o
judaísmo deve ser descrito como uma relação entre o homem e a Torá e Deus. O judeu nunca
está sozinho diante de Deus; a Torá está sempre com ele. Um judeu sem a Torá é obsoleto.
A Torá não é a sabedoria, mas o destino de Israel; não nossa literatura, mas nossa
essência. Diz-se que surgiu nem por meio de especulação nem por meio de inspiração
poética, mas por meio de profecia ou revelação.
É fácil dizer profecia, revelação. Mas sentimos o que dizemos? Entendemos o que essas
palavras significam? Nós nos referimos a uma certeza ou fantasia, uma idéia ou fato, um mito
ou um mistério quando falamos de profecia ou revelação? Já aconteceu que Deus revelou Sua
vontade a alguns homens para o benefício de todos?
POR QUE ESTUDAR O PROBLEMA?
Não é a curiosidade histórica que desperta nosso interesse no problema da revelação. Como
um evento do passado que posteriormente afetou o curso da civilização, a revelação não
envolveria a mente moderna mais do que a Batalha de Maratona ou o Congresso de Viena. Se
nos interessa, não é por causa do impacto que teve nas gerações passadas, mas como algo
que pode ou não ser de relevância perpétua e inabalável. Ao entrar nesse discurso, não
evocamos a sombra de um fenômeno arcaico, mas tentamos debater a questão de saber se
há uma voz no mundo que nos implora em nome de Deus.
Portanto, não é apenas uma questão pessoal, mas que diz respeito à história de todos os
homens, desde o início dos tempos até o fim dos dias. Ninguém que, pelo menos uma vez na
vida, sentiu a seriedade aterrorizante da história humana ou a seriedade da existência
individual pode se dar ao luxo de ignorar esse problema. Ele deve decidir, ele deve escolher
entre sim e não.
ESQUECEMOS A PERGUNTA
O obstáculo mais sério que os homens modernos encontram ao entrar em uma discussão
sobre revelação não surge de suas dúvidas sobre se os relatos dos profetas sobre suas
experiências são autênticos. A justificação mais crítica desses relatos, mesmo que fosse
possível, teria pouca relevância. O problema mais sério é a ausência do problema . Uma
resposta para ser significativa pressupõe a conscientização de uma pergunta, mas o clima
em que vivemos hoje não é favorável ao crescimento contínuo de perguntas que levaram
séculos para serem cultivadas. A Bíblia é uma resposta para a pergunta suprema: o que Deus
exige de nós? No entanto, a questão saiu do mundo. Deus é retratado como uma massa de
imprecisão por trás de um véu de enigmas, e Sua voz se tornou estranha às nossas mentes,
aos nossos corações, às nossas almas. Nós aprendemos a ouvir todo "eu", exceto o "eu" de
Deus. O homem de nosso tempo pode orgulhosamente declarar: nada de animal é estranho
para mim, mas tudo que é divino é. Este é o status da Bíblia na vida moderna: é uma resposta
sublime, mas não sabemos mais a pergunta. A menos que recuperemos a questão, não há
esperança de entender a Bíblia.
O DOGMA DA AUTO-SUFICIÊNCIA DO HOMEM
A resistência à revelação em nosso tempo veio de duas concepções diametralmente opostas
do homem: uma sustentava que o homem era grande demais para necessitar de orientação
divina, e a outra sustentava que o homem era pequeno demais para ser digno da orientação
divina. A primeira concepção veio das ciências sociais e a segunda das ciências naturais.
Desde os dias dos deístas, a idéia da auto-suficiência do homem tem sido usada como
argumento para desacreditar a crença na revelação. A certeza da capacidade do homem de
encontrar paz, perfeição e o significado da existência, ganhou impulso crescente com o
avanço da tecnologia. Disseram-nos que o destino do homem dependia apenas do
desenvolvimento de sua consciência social e da utilização de seu próprio poder. O curso da
história foi considerado um progresso perpétuo na cooperação, uma crescente
harmonização de interesses. O homem é bom demais para precisar de orientação
sobrenatural.
A idéia de auto-suficiência do homem, a consciência exagerada do homem por si mesmo,
baseava-se em uma generalização; do fato de que a tecnologia poderia resolver alguns
problemas, deduziu-se que a tecnologia poderia resolver todos os problemas. Isso provou
ser uma falácia. Pensou-se que as reformas sociais curariam todos os males e eliminariam
todos os males do mundo. No entanto, finalmente descobrimos o que os profetas e santos
sempre souberam: pão e poder por si só não salvarão a humanidade. Há uma paixão e um
desejo por atos cruéis que apenas o temor e o temor de Deus podem acalmar; há um egoísmo
sufocante no homem que somente a santidade pode ventilar.
O homem não tem sentido sem Deus, e qualquer tentativa de estabelecer um sistema de
valores com base no dogma da auto-suficiência do homem está fadada ao fracasso.

Nossa compreensão do homem e sua liberdade sofreu profundas mudanças em nosso


tempo. O problema do homem é mais grave do que fomos capazes de perceber uma geração
atrás. O que costumávamos sentir em nossos piores medos acabou sendo uma utopia em
comparação com o que aconteceu em nossos dias. Descobrimos que a razão pode ser
perversa, que a ciência não é segurança.
A liberdade é a única, independentemente do que fazemos com ela, independentemente do
bem e do mal, da bondade e crueldade, o bem maior? A liberdade é um conceito vazio - a
capacidade de fazer o que bem entendermos? O significado da liberdade não depende da sua
compatibilidade com a justiça? Não há liberdade, exceto a liberdade concedida a nós por
Deus; não há liberdade sem santidade.
A idéia da falta de dignidade do homem
O avanço nas ciências naturais e sociais nos levou a perceber quão insignificantemente
pequeno o homem é em relação ao universo e quão abortivas são suas tentativas de
estabelecer um sistema de valores universalmente válido. É com tanta humildade que o
homem moderno acha absurdo supor que o espírito infinito desça para comungar com a
mente fraca e finita do homem; esse homem poderia ser um ouvido para Deus. Com o
conceito de absoluto tão longe do alcance de sua mente, o homem fica, na melhor das
hipóteses, perplexo com as reivindicações dos profetas. Com seu relativo senso de valores,
com sua mente condicionada pelas circunstâncias e reduzida ao alcance do fragmentado,
constantemente tropeçando em seus esforços para estabelecer um sistema de idéias
universalmente integradas, como ele pode conceber que o homem jamais foi capaz de
compreender o incondicionado?
Além disso, é difícil para a mente acreditar que qualquer membro de uma espécie que possa
organizar ou mesmo testemunhar o assassinato de milhões de pessoas e sentir nenhum
arrependimento jamais deve ser dotado da capacidade de receber um pensamento de
Deus. Se o homem pode permanecer insensível ao horror de exterminar milhões de homens,
mulheres e crianças; se o homem pode ser manchado de sangue e hipócrita, distorce o que
sua consciência diz, ensaboa a carne humana, como podemos assumir que ele é digno de ser
abordado e guiado pelo Deus infinito?
O homem raramente compreende como ele é perigosamente poderoso. Em nossos dias, está
se tornando óbvio para muitos de nós que, a menos que o homem se apegue a uma fonte de
poder espiritual - uma partida para a fonte de energia que ele agora é capaz de explorar -
alguns homens podem lançar todos os homens no desastre final. Existe apenas uma fonte: a
vontade e a sabedoria do Deus vivo.
A realização da perigosa grandeza do homem, de seu imenso poder e capacidade de destruir
toda a vida na Terra, deve mudar completamente nossa concepção do lugar e do papel do
homem no esquema divino. Se esse nosso grande mundo não é um pouco aos olhos de Deus,
se o Criador está preocupado com a Sua criação, então o homem - que tem o poder de
inventar cultura e crime, mas que também é capaz de ser um procurador. para a justiça divina
- é importante o suficiente para receber a luz espiritual nos raros amanhecer de sua história.
A menos que a história seja um capricho de bobagens, deve haver uma contrapartida do
imenso poder do homem para destruir, deve haver uma voz que diga NÃO ao homem, uma
voz não vaga, fraca e interior, como escrúpulos de consciência, mas iguais em força espiritual
ao poder do homem para destruir.
A voz fala ao espírito dos homens proféticos em momentos singulares de suas vidas e clama
às massas através do horror da história. Os profetas respondem, as massas se desesperam.
A Bíblia, falando em nome de um Ser que combina justiça com onipotência, é o clamor
incessante do “Não” à humanidade. No meio de aplaudir os feitos da civilização, a Bíblia se
lança como uma faca cortando nossa complacência, lembrando-nos que Deus também tem
voz na história. Somente aqueles que estão satisfeitos com o estado de coisas ou aqueles que
escolhem o caminho fácil de escapar da sociedade, em vez de permanecerem nela e se
manterem limpos da lama de glórias ilusórias, se ressentirão de seu ataque à independência
humana.
A DISTÂNCIA ENTRE DEUS E HOMEM
A resistência à revelação também veio da concepção de Deus. De uma coisa, parece que
temos certeza: Deus mora a uma distância absoluta do homem, permanecendo em profundo
silêncio. É significativo, então, falar de comunicação entre Deus e o homem?
Paciente, flexível e submisso à nossa mente é o mundo da natureza, mas obstinadamente
silencioso. Adoramos sua riqueza e sabedoria tácita, deciframos tediosamente seus sinais,
mas ela nunca fala conosco. Ou esperamos que as estrelas nos entendam ou que o mar seja
persuadido? A comunicação é um ato contingente a tantas condições intricadas e complexas
que a idéia da natureza se dirigindo ao homem é inconcebível. A comunicação não apenas
pressupõe que ela seja dotada de alma, mas também que o homem possua uma capacidade
mental de entender seus sinais específicos de comunicação. Ainda assim, a afirmação
profética de que o Deus eterno se dirigiu a uma mente mortal não é hostil à razão. A própria
estrutura da matéria é possível pela maneira como o infinito cristaliza no menor. Se o fluxo
de energia que é armazenada no sol eo solo pode ser canalizada para uma folha de grama,
por isso deve ser um priori excluído que o espírito de Deus chegou na mente dos homens?
Existe uma distância tão grande entre o sol e uma flor. Uma flor, a mundos distantes da fonte
de energia, pode alcançar uma percepção de sua origem? Pode uma gota de água subir para
contemplar, mesmo por um momento, a fonte distante do córrego? Na profecia, é como se o
sol se comunicasse com a flor, como se a fonte enviasse uma corrente para alcançar uma gota.
Vamos fazer uma pausa por um momento para considerar a interação constante que existe
entre o somático e o psíquico. Um toque nas pontas dos dedos é traduzido em um conceito,
enquanto uma intenção da mente é comunicada ao corpo. Como essa interação ocorre
permanece indescritível. Somos, então, por causa da indescritibilidade da revelação,
justificados em rejeitar a priori como falsa a afirmação dos profetas de que, em certas horas
da história de Israel, o divino entrou em contato com algumas almas escolhidas? Que a fonte
criativa de nós mesmos se dirigia ao homem?
Se há momentos em que o gênio fala por todos os homens, por que devemos negar que há
momentos em que uma voz fala por Deus? que a fonte da bondade se comunica com a mente
humana?
É verdade que parece incrível mantermos em nosso olhar palavras contendo um sopro de
Deus. O que esquecemos é que, neste momento, respiramos o que Deus está criando, que
bem diante de nós contemplamos obras que refletem Sua infinita sabedoria, Sua infinita
bondade.
O DOGMA DO SILÊNCIO TOTAL DE DEUS
Em muitas mentes, não conhecer a Deus é um abismo, com um boato flutuando sobre ele
sobre um ser último, do qual eles sabem apenas que é uma imensa massa inconsciente de
mistério. É da perspectiva de tal conhecimento que a afirmação dos profetas parece absurda.
Vamos examinar essa perspectiva. Ao atribuir o eterno mistério ao ser supremo, afirmamos
definitivamente conhecê-lo. Assim, o ser supremo não é um Deus desconhecido, mas um
Deus conhecido. Em outras palavras: um Deus que conhecemos, mas que não conhece, o
grande Desconhecedor. Proclamamos a ignorância de Deus, bem como nosso conhecimento
de que Ele é ignorante!
Isso parece fazer parte de nossa herança pagã: dizer que o Ser Supremo é um mistério total,
e mesmo tendo aceito o Deus da criação, ainda nos apegamos à suposição de que Aquele que
tem o poder de criar um mundo nunca é capaz de proferir uma palavra. No entanto, por que
devemos assumir que Deus está sempre preso em silêncio? Por que devemos a priori excluir
o poder da expressão do ser absoluto? Se o mundo é obra de Deus, não é concebível que
esteja lá? estaria dentro de Seu trabalho sinais de Sua expressão?
Não deixamos de proclamar o dogma do silêncio total de Deus e de agir como se Deus nunca
tivesse falado e se Ele fez o homem era surdo demais para ouvir. Mas, às vezes, alguns de nós
estremecem: esse dogma não é um insulto assustador?
É verdade que a afirmação dos profetas é impressionante, quase incrível. Mas para nós,
vivendo neste mundo horrivelmente belo, o silêncio espesso de Deus é incomparavelmente
mais impressionante e totalmente incrível.
A ANALOGIA PESSOAL
Em nossas próprias vidas, muitos de nós descobriram que existem outros canais de
conhecimento além dos de especulação e observação. Quando vivemos fiéis à maravilha da
sabedoria que se desdobra constantemente, às vezes sentimos como se o eco de um eco de
voz estivesse perfurando o silêncio, tentando em vão atrair nossa atenção. Às vezes nos
sentimos chamados, sem saber por quem, contra nossa vontade, aterrorizados com o poder
investido em nossas palavras, em nossas ações, em nossos pensamentos.
Em nossas próprias vidas, a voz de Deus fala devagar, uma sílaba de cada vez. Chegando ao
auge dos anos, dissipando algumas de nossas ilusões íntimas e aprendendo a escrever o
significado das experiências de vida ao contrário, alguns de nós descobrem como as sílabas
dispersas formam uma única frase. Aqueles que sabem que esta nossa vida ocorre em um
mundo que não é para ser explicado em termos humanos; que todo momento é um ato
cuidadosamente oculto de Sua criação, não pode deixar de perguntar: existe algo em que Sua
voz não é suprimida? Existe algo em que Sua criação não está oculta?
Por trás da nuvem radiante de vida, perplexa com as almas desconhecidas, alguns homens
sentiram o som de Let There Be , na plenitude do ser. Em outros, não apenas uma música,
mas uma voz, erguendo a cortina do desconhecimento, alcançaram a mente. Aqueles que
sabem que a graça da orientação pode finalmente ser concedida àqueles que oram por ela,
que, apesar de sua indignidade e humildade, podem ser iluminados por uma centelha que
surge inesperadamente, mas com sabedoria de longo alcance, imerecida, mas salvadora. não
parece estranho para as mentes que percebem não uma faísca, mas uma chama.
A idéia de revelação permanece um absurdo, desde que não possamos compreender o
impacto com que a realidade de Deus está perseguindo o homem, todo homem. Contudo,
coletando as memórias das faíscas de iluminação que percebemos, as parcelas de insight que
nos foram concedidas ao longo dos anos, acharemos impossível permanecer certo da
impossibilidade de revelação.

18
O eufemismo profético
A IDEIA, A RECLAMAÇÃO, O RESULTADO
No capítulo anterior, discutimos a idéia da revelação e as principais razões da resistência do
homem a ela. Tentamos indicar sua importância para a situação humana e sugerimos que é
impossível permanecer certo da impossibilidade de revelação. No entanto, uma
ideia, mesmo quando provada ser plausível, ainda pode não ser um fato. Não é concebível
que Deus não atendeu às nossas expectativas? O que nos dá a garantia de que nossa crença
na revelação não é um comprometimento do pensamento positivo? Não devemos nos
resignar à crença de que existe um Deus, mas Ele não tem voz?
Um esclarecimento desta questão dependerá do trato com outra questão, a saber, por que
nos voltamos para a Bíblia em nossa busca pela voz de Deus no mundo? É porque a Bíblia faz
mais do que postular a idéia ou a possibilidade de revelação. Na Bíblia, somos confrontados
com uma reivindicação , com profetas que afirmam transmitir a vontade de Deus; um fato
que dominou a história de Israel. Assim, ao abordar a Bíblia, não é um princípio, uma idéia
geral ou uma possibilidade metafísica que discutimos, mas atos proféticos específicos que,
de acordo com a Bíblia, aconteceram na vida do povo de Israel entre o tempo de Moisés e o
tempo de Malaquias.
Se a Bíblia estivesse perdida, as palavras dos profetas desaparecessem e tudo o que restava
fosse uma lembrança de homens que alegavam ter sido profetas, o único objeto de
exploração seria a reivindicação deles. No entanto, a Bíblia está conosco até hoje, e o que
encontramos não são apenas seres humanos que alegaram ter tido experiências
extraordinárias: encontramos palavras extraordinárias. Portanto, não é apenas essa
afirmação, ou mesmo primariamente, que nos atrai para a Bíblia. É o que os profetas dizem
que é um desafio à nossa vida, ao nosso pensamento, e que nos impulsiona em nossos
esforços para entender o significado dessa afirmação.
É, portanto, necessário distinguir entre três aspectos do problema da revelação: a idéia, a
afirmação e o resultado. A idéia de revelação que discutimos no capítulo anterior. É a
reivindicação a que nos voltaremos agora antes de discutirmos as palavras ou o resultado.
O que está em jogo em nossa discussão não é apenas a crença de que a vontade de Deus pode
alcançar a mente do homem, mas também a questão de aceitar ou rejeitar a formidável
afirmação da Bíblia de que Deus realmente é como os profetas proclamam; que Sua vontade
é realmente a que os profetas sustentam.
O QUE É INSPIRAÇÃO PROFÉTICA?
A consciência dos profetas de serem inspirados; a convicção inabalável de que a mensagem
que eles trouxeram ao povo não era o produto de seus próprios corações é o ponto de partida
de nossa investigação.
Em um momento de crise, Moisés aposta toda a sua autoridade na alegação de ser inspirado
por Deus. De várias maneiras, os profetas sustentam que suas palavras não saíram de "seu
1

próprio coração" (Ezequiel 13: 2); que suas profecias eram inspirações, não invenções; que
foi Deus quem os enviou ao povo (Isaías 48:16). É nossa tarefa lidar com duas perguntas:
qual é o significado da inspiração profética e qual é a verdade sobre a inspiração profética? A
primeira pergunta pergunta: que tipo de ato é descrito por inspiração profética? A segunda
pergunta pergunta: é verdade? Isso realmente aconteceu?
Nossa investigação deve começar com a primeira pergunta, pois é obviamente necessário
saber o que é a inspiração profética antes de tentar provar ou refutar a sua ocorrência. Que
tipo de fato é descrito pelo termo profecia? O que isso significa?
Hoje é possível imaginar um grande orador cuja transmissão acabaria se tornando o foco da
atenção da humanidade. Mas ultrapassa nossa imaginação conceber um ser humano que
possa se tornar o foco da atenção do céu e da terra e ser abordado por todo o
universo. Mesmo se assumirmos que existe um espírito que anima toda a existência, seu
mistério ultrapassa essencialmente o escopo da mente humana. A experiência de ter sido
falada por Ele, que é mais do que céu e terra, tem uma grandeza em comparação à qual todas
as palavras perdem peso. Um exame das circunstâncias psíquicas e históricas seria de pouca
relevância. Qualquer resposta que possa ser encontrada para a pergunta - Como a profecia
aconteceu? Foi uma experiência interna ou externa? Qual era o seu histórico? - girará em
torno dos adventícios, assim como uma discussão sobre dois pontos e ponto e vírgula
dificilmente revelará o conteúdo de uma frase. As palavras e seu significado devem ser
compreendidos primeiro.
O entendimento adequado de uma frase depende de sua compatibilidade com o significado
pretendido pelo autor da frase. Nossa pergunta então é: O que o profeta quis dizer com a
frase "Deus falou"? Para entender as declarações do profeta sobre sua experiência, devemos
ter em mente os seguintes princípios sobre a natureza dessas declarações: (1) coisas e
palavras têm muitos significados. (2) as declarações do profeta são discretas. (3) a
linguagem do profeta é a linguagem da grandeza e do mistério. (4) existe uma distinção entre
palavras descritivas e indicativas. (5) as declarações do profeta devem ser tomadas com
responsabilidade.
PALAVRAS TEM MUITOS SIGNIFICATIVOS
A maneira mais certa de interpretar mal a revelação é interpretá-la literalmente, imaginar
que Deus falou ao profeta por telefone de longa distância. No entanto, muitos de nós
sucumbem a essa fantasia, esquecendo que o pecado principal em pensar em questões
fundamentais é a mente literal.
O erro da mente literal é assumir que coisas e palavras têm apenas um significado. A verdade
é que as coisas e as palavras representam significados diferentes em situações
diferentes. Ouro significa riqueza para o comerciante, um meio de adorno para o joalheiro,
"um metal dúctil maleável e não enferrujado, de alta gravidade específica" para o engenheiro
e bondade para o retórico ("um coração de ouro"). A luz é uma forma de energia para o físico,
um meio de beleza para o artista, uma expressão de grandeza no primeiro capítulo da
Bíblia. Ruah , a palavra hebraica para espírito, também significa respiração, vento, direção. E
quem pensa apenas em respirar perde o significado mais profundo do termo. Deus é
chamado pai, mas quem leva esse nome distorce fisiologicamente o significado de Deus.
A linguagem da fé emprega apenas algumas palavras cunhadas em seu próprio
espírito; muitos de seus termos são emprestados da esfera geral da experiência humana e
dotados de um novo significado. Consequentemente, ao tomar esses termos literalmente,
perdemos as conotações únicas que eles assumiram no uso religioso.
O significado das palavras na linguagem científica deve ser claro, distinto, inequívoco,
transmitindo o mesmo conceito a todas as pessoas. Na poesia, no entanto, palavras que têm
apenas um significado são consideradas planas. A palavra certa é frequentemente aquela que
evoca uma pluralidade de significados e que deve ser entendida em mais de um nível. O que
é uma virtude na linguagem científica é uma falha na expressão poética.
É correto insistir que as palavras bíblicas devem ser entendidas exclusivamente de acordo
com um significado literal? Muitas vezes parece que a intenção dos profetas deveria ser
entendida não de uma maneira, em um nível, mas de muitas maneiras, em muitos níveis, de
acordo com a situação em que nos encontramos. E se essa era a intenção deles, não devemos
restringir nossa compreensão a um significado.
O ENTENDIMENTO PROFÉTICO
Supõe-se geralmente que os escritores bíblicos tinham uma tendência a uma linguagem
elevada e inchada, uma preferência por exageros extravagantes de afirmação. No entanto,
ponderando sobre a substância do que eles estavam tentando expressar, ocorreu-nos que o
que nos parece uma grande eloqüência é eufemismo e modéstia de expressão . De fato, suas
palavras não devem ser tomadas literalmente, porque um entendimento literal seria um
entendimento parcial e superficial; porque o significado literal é apenas um mínimo de
significado.2

“Deus falou.” É para ser tomado simbolicamente: Ele não falou, mas era como se ele falasse? A
verdade é que o que é literalmente verdadeiro para nós é uma metáfora comparada com o que
é metafisicamente real para Deus. Mil anos para nós são um dia para ele. E quando aplicadas
a Ele, nossas palavras mais poderosas são discretas.
E, no entanto, que "Deus falou" não é um símbolo. Um símbolo não eleva um mundo do
nada. Um símbolo também não chama a existência de uma Bíblia. O discurso de Deus não é
menor, mas mais do que literalmente real.
A LÍNGUA DO GRANDEUR E DO MISTÉRIO
O estudante moderno da Bíblia é tentado a interpretar a Bíblia no contexto de sua própria
perspectiva mundial. Para entender o significado autêntico da Bíblia, devemos lembrar sua
concepção básica do mundo. O homem bíblico é principalmente atento ao aspecto da
grandeza, e sua linguagem para revelação é a da grandeza e do mistério.
“A palavra de Deus”, “Deus falou” - com que deveria ser comparada? Deve ser comparado
com o enunciado articulado na voz de um ser humano? Agora, para ser percebida pelo
homem, a palavra de Deus deve ser transmitida por uma voz; contudo, para ser divino, deve
ser transmitido por algo muito maior que uma voz. Existem muitas vozes no mundo; qual era
a qualidade divina dessa expressão? Se Deus é Aquele que criou o mundo, como sua
expressão poderia ser comparada a um fenômeno que significa tão pouco dentro do mundo?
Dizer que para o homem bíblico a palavra de Deus é tão grande quanto o poder cósmico, pois
o poder que mantém todos os elementos e forças unidos seria um eufemismo. A palavra de
Deus é o poder da criação. Ele disse: Haja, e foi.

Pela palavra do Senhor foram feitos os céus,


e todo o seu exército pelo sopro da sua boca.
Pois Ele falou, e aconteceu,
ele ordenou, e se levantou.
Salmos 33: 6,9

Sublime, magnífico é o mundo. No entanto, se não fosse a Sua palavra, não haveria mundo,
nem sublimidade nem magnificência.
Qual é a palavra de Deus para os profetas? Uma combinação de sons transmitindo uma idéia
convencional e capaz de servir como parte de uma frase?
A minha palavra não é como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que quebra a rocha em
pedaços?
Jeremias 23:29

A qualidade extraordinária da palavra divina está em seu mistério de onipotência. Fora de


Deus saiu o mistério de Sua pronunciação, e uma palavra, um som, chegou ao ouvido do
homem. O espírito de Seu poder criativo criou um mundo material; o espírito de Seu poder
revelador trouxe a Bíblia à existência.
PALAVRAS DESCRITIVAS E INDICATIVAS
A mente humana é um repositório de uma variedade de idéias, algumas das quais são
definidas e expressivas, enquanto outras resistem à definição e permanecem
inefáveis. Correspondentemente, existem dois tipos de palavras: palavras descritivas que
mantêm uma relação fixa com significados convencionais e definidos, como substantivos
concretos, cadeira, mesa ou termos da ciência; e palavras indicativas que mantêm uma
relação fluida com significados inefáveis e, em vez de descrever, meramente algo íntimo que
intuímos, mas que não podemos compreender completamente. O conteúdo de palavras como
Deus, tempo, beleza, eternidade não pode ser fielmente imaginado ou reproduzido em
nossas mentes. Ainda assim, eles transmitem uma riqueza de significado ao nosso senso de
inefável. Sua função não é chamar uma definição em nossas mentes, mas apresentar-nos uma
realidade que eles significam.
A função das palavras descritivas é evocar uma idéia que já possuímos em nossas mentes,
evocar significados preconcebidos. Palavras indicativas têm outra função. O que eles chamam
não é tanto uma lembrança, mas uma resposta , idéias inéditas, significados ainda não
totalmente realizados antes.
Um grande número de palavras serve tanto para uma função descritiva quanto para uma
função indicativa. Para o capitão de um barco, as palavras "vento" e "madrugada" têm
significados definidos: uma massa de ar em movimento de uma determinada direção e
velocidade; um momento definível em termos de um relógio. Mas, ao ler um poema do “vento
que suspira antes do amanhecer” , tentamos determinar o momento exato em que o poeta
tinha em mente? Perguntamos qual foi a direção ou velocidade do vento? E, no entanto, não
há dúvida de que o poeta se refere ao mesmo vento e ao mesmo amanhecer com o qual o
capitão tem que lidar. Ele se refere a outro aspecto do mesmo fenômeno.
É igualmente verdade que, ao ler “o vento que suspira”, ninguém perguntará sobre a
fisiologia do ar inspirado e expelido pelo vento. E, no entanto, existe um tipo de leitor que,
quando você fala com ele da escada de Jacob, pergunta o número de etapas.
INTERPRETAÇÃO RESPONSIVA
O vento na linha citada acima não é uma figura de linguagem. Considerá- lo figurativamente ,
considerá-lo como se referindo a algo que não seja um vento, é entender mal a experiência e
a intenção do poeta. No entanto, tomá-lo literalmente no mesmo sentido em que o
meteorologista sabe que é se apegar a um nível de significado diferente do nível em que o
poeta o sentiu. É o vento no nível metassimbólico de significado a que o poeta está se
referindo. As palavras usadas nesse sentido não devem ser tomadas literalmente nem
figurativamente, mas responsivamente.
Tomar uma palavra literalmente significa reproduzir em nossa mente uma idéia que a
palavra denota e com a qual está definitivamente associada em nossa memória. É evidente
que apenas palavras descritivas podem ser tomadas literalmente. Tomar uma palavra
descritiva figurativamente é assumir que o autor está falando duas vezes; dizendo uma coisa,
ele quer dizer outra. É evidente que apenas expressões metafóricas devem ser tomadas
figurativamente. Palavras indicativas devem ser tomadas com responsabilidade. Para
entendê-los, devemos nos separar de significados preconcebidos; clichês são inúteis. Eles
não são retratos, mas pistas , servindo como guias, sugerindo uma linha de pensamento.
Essa é realmente a nossa situação em relação a uma afirmação como “Deus falou”. Refere-se
a uma idéia que não está em casa na mente, e a única maneira de entender seu significado
é respondendo a ela. Devemos adaptar nossas mentes a um significado inédito. A palavra é
apenas uma pista; o verdadeiro ônus da compreensão está na mente e na alma do leitor.
NOTAS DO CAPÍTULO 18
1
“E Moisés disse: Nisto conhecereis que o Senhor me enviou para fazer todas essas obras, e
que eu não as fiz da minha própria mente” (Números 16:28).
2
Os profetas ajustaram suas palavras à capacidade da compreensão humana; veja Mechilta a
Êxodo 19:18; compare The Mishnah of Rabbi Eliezer , regra 14, ed. Enelow, Nova York, 1933,
p. 25)

19
O Mistério da Revelação
REVELAÇÃO E EXPERIÊNCIA DE REVELAÇÃO
Se a revelação foi um momento em que Deus conseguiu alcançar o homem, tente descrevê-
la exclusivamente em termos de óptica ou acústica, ou indagar se era uma visão ou um
som? era forte ou piano? seria ainda mais ridículo do que perguntar sobre a velocidade do
"vento que suspira antes do amanhecer". É claro que os profetas alegaram ter visto,
ouvido. Mas esse tipo de visão e audição não pode ser submetido a análises psicológicas ou
fisiológicas. Uma análise da capacidade do poeta de ouvir o vento suspirar não teria
relevância para nossa compreensão do poema. O profeta afirmou ter encontrado Deus na
maneira como conheceu um de seus contemporâneos ou na maneira como Aristóteles
conheceu Alexandre, o Grande?
Se a revelação fosse apenas um ato psicofísico, seria pouco mais que uma experiência
humana, um evento na vida do homem. No entanto, assim como uma obra de escultura é mais
do que a pedra em que é esculpida, a revelação é mais do que uma experiência humana. É
verdade que uma revelação que não se tornou conhecida pela experiência seria como uma
figura esculpida no ar. Ainda assim, ser uma experiência humana é apenas uma parte do que
realmente aconteceu na revelação, e, portanto, não devemos equiparar o evento de revelação
à experiência de revelação do homem.
O MISTÉRIO DA REVELAÇÃO
A natureza da revelação, sendo um evento no reino do inefável, é algo que as palavras não
podem soletrar, que a linguagem humana nunca será capaz de retratar. Nossas categorias
não são aplicáveis àquilo que está dentro e além do domínio da matéria e da mente. Ao falar
sobre revelação, quanto mais descritivos forem os termos, menos adequada é a descrição. As
palavras nas quais os profetas tentaram relatar suas experiências não eram fotografias, mas
ilustrações, não descrições, mas canções. Uma reconstrução psicológica do ato profético não
é, portanto, mais possível do que a tentativa de pintar uma imagem fotográfica de um rosto
com base em uma canção. A palavra "revelação" é como uma exclamação; é
um termo indicativo e não descritivo. Como todos os termos que expressam o máximo, ele
aponta para o seu significado, em vez de traduzi-lo completamente. “É muito difícil ter uma
verdadeira concepção dos eventos no Sinai, pois nunca houve antes e nunca mais haverá algo
parecido.” “Acreditamos”, diz Maimonides, “que a Torá alcançou Moisés de Deus de uma
1

maneira que é descrita nas Escrituras figurativamente pelo termo 'palavra', e que ninguém
jamais soube como isso aconteceu, exceto o próprio Moisés a quem essa palavra alcançou. ” 2

Não devemos tentar ler capítulos da Bíblia que tratam do evento no Sinai como se fossem
textos em teologia sistemática. Sua intenção é celebrar o mistério, apresentá-lo a ele, em vez
de penetrá-lo ou explicá-lo. Como um relatório sobre revelação, a própria Bíblia é um
midrash.
Para transmitir o que os profetas experimentaram, a Bíblia poderia usar termos de descrição
ou termos de indicação. Qualquer descrição do ato de revelação em categorias empíricas
teria produzido uma caricatura. É por isso que tudo o que a Bíblia faz é afirmar que
a revelação aconteceu; como isso aconteceu é algo que eles só podiam transmitir com
palavras sugestivas e sugestivas.
A mesma palavra pode ser usada de qualquer maneira. O som é o mesmo, mas o espírito é
diferente. “E Deus disse: Haja luz” é diferente em espírito de uma afirmação como “E Smith
disse: Vamos acender a luz.” A segunda afirmação transmite um significado definido; a
primeira afirmação evoca uma resposta interior a um significado inefável. A afirmação, o
homem fala, descreve um ato fisiológico e psicológico; Deus afirma que a afirmação
transmite um mistério. Ele exige que nosso sentimento de admiração e espanto responda a
um mistério que supera nosso poder de compreensão.
Existem fatos espirituais que são totalmente irredutíveis à expressão verbal e
completamente além do alcance da imaginação ou da definição.
Não era essencial que Sua vontade fosse transmitida como som; era essencial que isso fosse
divulgado para nós. O som ou a visão são, para o evento transcendente, o que é uma metáfora
para um princípio abstrato.
A Teologia Negativa da Revelação
Quando desafiados, os profetas só podiam negar que o que eles diziam era deles: “Não do
meu coração” (Números 16:28; compare Ezequiel, cap. 13). A revelação só pode ser
descrita via negationis; só podemos dizer o que não é. Talvez o exemplo mais antigo de
teologia negativa tenha sido aplicado ao entendimento da revelação. Lemos que Elias foi
informado (1 Reis 19: 11-12):

Vá em frente e permaneça no monte diante do Senhor.


E eis que o Senhor passou,
e um grande vento forte rasgou as montanhas
E quebrou em pedaços as pedras diante do Senhor;
Mas o Senhor não estava no vento;
E depois do vento um terremoto;
Mas o Senhor não estava no terremoto;
E depois do terremoto, um incêndio;
Mas o Senhor não estava no fogo;
E depois do fogo uma voz calma e baixa.

Literalmente: uma voz de silêncio. Somente ao ouvir o quase inaudível o ardente apaixonado
Elijah envolveu seu rosto em seu manto; ele saiu e ficou na entrada da caverna, para ouvir a
voz.
A voz que ele percebeu foi quase calma.
IMAGINAR É PERVERTIR
Para nós, portanto, imaginar a revelação, ou seja, concebê-la como se fosse um processo
psíquico ou físico, é perverter sua essência e destruir seu mistério. É tão impróprio conceber
a revelação como um ato psicofísico quanto conceber Deus como um ser corporal. Poucos de
nós são capazes de pensar de uma maneira que nunca é atravessada pelo caminho da
imaginação, e é geralmente na encruzilhada do pensamento e da imaginação que o grande
movimento do espírito desvia para o beco sem saída de uma imagem parabólica.
Dizem que um hasid, depois de ouvir o discurso de alguém que lhe ensinou sobre o elevado
conceito de Deus, segundo os filósofos, disse: "Se Deus fosse como você o imagina, eu não
acreditaria nele". sutis e nobres, nossos conceitos podem ser, assim que se tornam
descritivos, ou seja, definitivos, confinam-no e forçam-no à trivialidade de nossas
mentes. Nunca nossa mente é tão inadequada quanto tentar descrever Deus. O mesmo se
aplica à idéia de revelação. Quando definido, descrito, ele nos ilude completamente.
A ELIMINAÇÃO DO ANTROPOMORFISMO
É uma visão deprimente ver como a verdade retrocede através de formulações
embaraçosas; quantas de nossas concepções sobre Ele e Seus atos tendem a confiná-lo e
distorcê-lo. Estamos inclinados a atribuir a Deus uma forma humana e a pensar na profecia
como um ato psicofísico. No entanto, este é o axioma do pensamento bíblico: Deus que criou
o mundo é diferente do mundo. Formar uma imagem Dele ou de Seus atos é negar Sua
existência. Nem toda realidade é material; nem todos os atos reais são perceptíveis aos
nossos sentidos corporais. Não é apenas pelo ouvido que o homem pode ouvir. Não é apenas
o som físico que pode alcançar o espírito do homem.
Os principais expoentes do pensamento judaico nos exortam a não imaginar que Deus fala,
ou que um som é produzido por Ele através dos órgãos da fala.

“A percepção dos sentidos, principalmente ouvindo e vendo, é mais conhecida por nós; não
temos idéia ou noção de qualquer outro modo de comunicação entre a alma de um homem e
a de outro homem, exceto por meio da fala, ou seja, pelos sons produzidos pelos lábios, língua
e outros órgãos da fala. Quando, portanto, devemos ser informados de que Deus tem
conhecimento das coisas, e que a comunicação é feita por Ele aos profetas que nos
transmitem, eles o representam para nós ... como falando, a saber, que as comunicações Dele
alcançam o profetas. ” Entretanto, ao ser“ informado que Deus se dirigiu aos profetas e falou
3

com eles, nossa mente deve meramente receber a noção de que existe um conhecimento
divino ao qual os profetas alcançam; nós somos de ficar impressionado com a idéia de que
as coisas que os profetas comunicar a nós vêm do Senhor e não são completamente o produto
de suas próprias concepções e idéias .... Não devemos supor que, ao falar Deus, empregasse
voz ou som. ” 4

“Toda pessoa inteligente sabe” que quando a Bíblia afirma que as pessoas viram ou ouviram
a voz no Sinai, ela não se refere a uma “percepção a olho nu” ou “uma percepção a ouvido”,
mas a uma percepção espiritual. “Não havia uma voz física nem uma percepção física, mas
5

uma voz espiritual…. É concebível que as palavras ditas por Deus sejam da maneira da fala
humana? Essas palavras eram audíveis para Moisés, mas não para o povo. É natural que uma
e a mesma voz seja ouvida por uma pessoa, mas não pela outra? ” 6

COMO NENHUM OUTRO EVENTO


Vã seria qualquer tentativa de reconstruir as circunstâncias ocultas sob as quais uma palavra
de Deus alarmava a alma de um profeta. Quem poderia descobrir os dados divinos ou juntar
as estranhas percepções de um Moisés? O profeta não deixou informações para trás. Tudo o
que temos é a certeza do profeta, temor e apreciação infinitos. Tudo o que temos é um livro
e tudo o que podemos fazer é tentar sentir o não-enunciado em suas palavras.

O que realmente aconteceu é tão inimaginável para nós quanto inacreditável para aqueles
que testemunharam. Não podemos compreendê-lo. Nós podemos apenas responder. Ou se
recusar a responder.
Alguns de nós abordam a Bíblia perseguindo as pernas de pau de uma definição. Mas quem
somos nós para falar do mistério sem conhecimento e para declarar o que significa que Seu
espírito irrompeu de sua ocultação? Quem sondou a profundidade da Bíblia? Entramos nas
fontes de sua sabedoria ou andamos nos recantos de seu significado mais profundo? Os
portões de sua santidade já se abriram para nós e já compreendemos a extensão de sua
palavra? Onde estávamos quando a palavra foi definida como um limite, e Deus disse: Até
agora minha sabedoria será revelada e não mais longe?
As almas não são introduzidas em uma cadeia de montanhas através da cortesia de uma
definição. Nosso objetivo, então, não deve ser o de encontrar uma definição, mas aprender a
sentir, como intuir a vontade de Deus nas palavras. A essência da intuição não está em
compreender o que é descritível, mas em perceber o que é inefável. O objetivo é treinar a
razão da apreciação daquilo que está além da razão. É somente através do nosso senso de
inefável que podemos intuir o mistério da revelação.
O teólogo dogmático que tenta entender o ato da revelação em termos de suas próprias
generalizações se leva a sério demais e é culpado de simplificar demais. A revelação é um
mistério para o qual a razão não tem conceitos. Ignorar sua natureza misteriosa é uma
supervisão de conseqüências fatais. Das trevas veio a voz de Moisés; e das trevas vem a
Palavra para nós. A questão é desconcertante.
E se você perguntar: como foi quando as pessoas ficaram no Sinai, ouvindo a voz de Deus? a
resposta será: Como nenhum outro evento na história do homem. Existem inúmeras lendas,
mitos, relatórios, mas nenhum deles fala de um povo inteiro testemunhando um evento como
o Sinai.
NOTAS DO CAPÍTULO 19
1
Maimonides, O Guia dos Perplexos , Livro II, cap. 33
2
Introdução ao seu comentário sobre Mishnah Sanhedrin, cap. X, princípio 8.
3
Maimonides, O Guia dos Perplexos, I, 65.
4
Ibid., I, 41.
5
Rabi Shlomo ibn Adret, Maamar Al Ishmael em J. Perles, R. Salomo b. Abraão
b . Aderath, Breslau, 1863 (Hebraico), p. 12)
6
Rabino Loew de Praga, Tiferet Israel, cap. 43

20
O paradoxo do Sinai
O PARADOXO DA PROFECIA
Para nós, hoje, o grande quebra-cabeça é: como é possível a revelação? como conceber que o
eterno oculto deve se revelar? Enquanto para o homem bíblico o grande quebra-cabeça é:
como é possível a experiência da revelação? como é possível ao homem suportar a presença
abalada de Deus?
Deus para o homem bíblico é um Ser cuja manifestação é mais do que carne e sangue podem
suportar. Não se pode vê-lo, não se pode ouvi-lo e permanecer vivo (Êxodo 33:20;
Deuteronômio 4:33). “Um pavor, uma grande escuridão” caiu sobre Abraão (Gênesis
15:12). Perceber a Ele é ser esmagado por Sua majestade. Aos seus olhos, os serafins cobrem
o rosto deles e um profeta grita: "Estou desfeito" (Isaías 6: 5). Quando inflamado com Sua
presença, o mundo é consumido.
Então ocorreu o momento surpreendente: Deus apareceu a Moisés “em uma chama de fogo
da sarça; e ele olhou, e eis que a sarça estava queimando, mas não foi consumida ”(Êxodo 3:
2). Em face desse fato surpreendente, Moisés disse: “Vou me afastar e ver esta grande
visão, por que a sarça não é queimada”. A pergunta “por que” nunca foi respondida. Como, de
fato, é possível ao mundo suportar o divino?
Talvez este seja o significado da sarça ardente. Um novo elemento foi criado: o fogo que
queima mas não consome. Indica uma nova ordem na relação de Deus com o homem, a saber,
que para revelar que Ele deve ocultar , que para transmitir Sua sabedoria, ele deve ocultar
Seu poder . Isso tornou possível a revelação.

A sarça foi o precedente para o Sinai que não foi esmagado, para Israel que não foi
consumido. Quando o Senhor estava prestes a pronunciar Sua palavra:

O monte Sinai estava envolto em fumaça,


porque o Senhor desceu sobre ele em fogo;
a fumaça subiu como a fumaça de um forno,
toda a montanha tremia muito.
Êxodo 19:18

A montanha ardeu com fogo até o coração do céu,


escuridão, nuvem e espessa escuridão.
Deuteronômio 4:11

A montanha ardeu com fogo e não foi consumida.


Para o homem bíblico, o milagre da revelação não estava apenas no fato de Deus falar, mas
também no fato de o homem ser capaz de suportá-lo.
“Pois pergunte agora os dias que passaram antes de você, desde o dia em que Deus criou o
homem sobre a terra, e pergunte de um extremo ao outro do céu, se algo tão grande como
isso já aconteceu ou foi. já ouviu falar. Alguém já ouviu a voz de um deus falando do meio do
fogo, como você ouviu e ainda vive? ” (Deuteronômio 4:32 f).
Ao pé do Sinai, o povo implorou a Moisés: "Fala conosco, e ouviremos, mas Deus não fale
conosco para que não morramos" (Êxodo 20:19).
NA ESCURIDÃO PROFUNDA
O conteúdo do decálogo é totalmente claro, totalmente simples: não matarás…. Não
roubarás. No entanto, a maneira pela qual essas palavras foram proclamadas está envolta
em mistério. “Essas palavras (o Decálogo) o Senhor falou a toda a sua assembléia do meio do
fogo (esh), da nuvem ('anan) e das trevas (' arafel)” (Deuteronômio 5:19). Para entender o
que é articulado aqui, precisamos primeiro verificar se "fogo", "nuvem" e "escuridão
profunda" são chavões vazios ou termos distintos, palavras que expressam uma concepção
definida.
“Escuridão profunda” ('arafel) é onde Deus habita. Salomão, que construiu o grande templo
em Jerusalém, sabia que o Senhor que fixava o sol nos céus decidiu morar em "trevas
profundas". 1

Com surpreendente consistência, a Bíblia registra que as teofanias testemunhadas por


Moisés ocorreram em uma nuvem. Várias e muitas vezes ouvimos que o Senhor "chamou
Moisés do meio da nuvem" (Êxodo 24:16); que o Senhor apareceu e falou com ele "na coluna
de uma nuvem" (Números 12: 4; Deuteronômio 12: 5; Salmos 99: 7); o "Senhor desceu nas
nuvens" (Êxodo 34: 5; Números 11:25); “A glória do Senhor apareceu nas nuvens” (Êxodo
16:10); "Aparecerei nas nuvens" (Levítico 16: 2).
Não devemos ignorar nem abusar voluntariamente da alegorização desses termos
importantes. Qualquer que seja o fato específico que possa denotar, transmite
inequivocamente à mente a verdade fundamental de que Deus estava oculto mesmo quando
Ele revelou que, mesmo quando sua voz se manifestou, sua essência permaneceu oculta.
Nas palavras divinas que pela primeira vez anunciaram a Moisés que a teofania sem paralelo
no Sinai está prestes a acontecer diante dos olhos de todo o povo, é encontrada uma frase
sem paralelo, que não ocorre em nenhum outro lugar da Bíblia e que expressa o que a a
teofania era como: “Eis que venho a ti na espessura de uma nuvem” (Êxodo 19: 9). Foi na parte
mais obscura ou oculta de uma nuvem, ou em uma ocultação mais profunda do que aquela
que o próprio Moisés conhecia, que ocorreu a teofania no Sinai.
ALÉM DO MISTÉRIO
O mistério está entre Deus e o povo. As pessoas no Sinai são dominadas; eles tremem e ficam
distantes. Mas além do mistério está o significado, além das “trevas profundas” há luz, é por
2

isso que Moisés pôde se aproximar “das trevas profundas onde Deus estava”, capaz de entrar
na “nuvem” (Êxodo 20:21; 24 : 18)
A extrema ocultação de Deus era um fato de constante consciência para o homem bíblico. É
essa consciência que deixa claro o significado transcendente da palavra divina: A vontade
clara e inequívoca de Deus não é menor, mas maior que o mistério. Há um significado além
do mistério . Esta é a nossa razão para a alegria final:

O Senhor reina; alegre a terra;


que muitas zonas costeiras sejam felizes.
Nuvens e trevas profundas estão à sua volta
; retidão e justiça são o fundamento de Seu trono.
Salmos 97: 1-2
OS DOIS ASPECTOS
O que aconteceu no Sinai? A Bíblia tenta dizê-lo de duas maneiras. O que diz em uma delas é
algo que as palavras dificilmente podem suportar: "O Senhor desceu ao monte Sinai" (Êxodo
19:20). Nenhuma frase no mundo jamais disse mais: Aquele que está além, escondido e
exaltado acima do espaço e do tempo, foi humildemente aqui, para todo o Israel sentir. Mas
a Bíblia também fala de outra maneira: “Eu conversei com você do céu” (Êxodo 20:22). Ele
não desceu sobre a terra; tudo o que aconteceu foi que Sua palavra brotou “do céu”. Essas
passagens não se contradizem; eles se referem não a um, mas a dois eventos. Pois a revelação
era um evento para Deus e um evento para o homem. De fato, na segunda passagem, é Deus
quem fala (na primeira pessoa); a primeira passagem transmite o que as pessoas
experimentaram (fala de Deus na terceira pessoa). O mesmo ato teve dois aspectos. Deus
desceu e não desceu sobre a terra. A voz saiu do céu, mas o homem ouviu do Sinai.
Escassos e escassos são os registros sobre o evento, se tudo o que eles transmitem é o que
literalmente descrevem, a saber, um fenômeno natural. Para nós, hoje, o fogo é um fenômeno
físico que não transmite mensagem, que não contém referência a Deus que cria o mundo e a
força do fogo. Sinai foi um momento em que o fogo que não consome era uma testemunha de
Deus.

E, no entanto, a percepção de fogo, trovão e relâmpago era uma percepção na periferia. Eles
perceberam a visão impressionante, mas não ousaram entrar nela.
“E todo o povo percebeu os trovões e os relâmpagos, o som da trombeta e da montanha
fumando, e o povo ficou com medo e tremeu, e ficou longe… mas Moisés se aproximou da
densa escuridão onde Deus estava” (Êxodo) 20: 18-21).
Quando o mestre santo, Rabino Isaac Jacob, o Vidente de Lublin, estava prestes a recitar as
bênçãos sobre as quatro plantas em Sucot, a multidão o seguiu na sukkah. Ao se preparar
para recitar a bênção, o mestre entrou em um estado de contemplação que durou quase uma
hora, o tempo todo tremendo de medo e tremor. A multidão que assistia todos os seus
movimentos foi levada pelo que viram, balançou com ele e tremeu. Havia um presente
assustador que estava do lado e não se gastava em êxtase preparatório. Mas quando todo o
balanço e o tremor terminaram, e o mestre começou a proferir as palavras da bênção, o hasid
se aproximou para absorver o que ouvia.
Então foi no Sinai. As massas perceberam o exterior: viram o som da trombeta e os trovões
e relâmpagos, e a montanha em chamas e tremeram ao vê-las - mas permaneceram
distantes. Moisés, no entanto, não prestou atenção a todos esses fenômenos; em vez disso,
“ele se aproximou das densas trevas onde Deus estava”. 3

O SINAI FOI UMA ILUSÃO?


Como Israel sabia que o que seus olhos e ouvidos percebiam no deserto do Sinai não era um
fantasma? As miragens são um fenômeno comum no deserto. O que é uma miragem? Denota
uma ilusão de ótica pela qual algo conhecido da experiência anterior é visto onde não está
presente. Devido às condições atmosféricas, os viajantes que já viram uma piscina de
água real podem ver uma piscina de água aparente em uma rodovia em um dia
quente. Agora, onde e quando, antes do momento no Sinai, o povo de Israel ou qualquer outra
pessoa no mundo ouviu uma voz fora da atmosfera dizendo:

Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.

De fato, não há percepção que possa não ser suspeita de ser uma ilusão. Mas há percepções
tão surpreendentes que tornam sem sentido o surgimento de tal suspeita.
Um medo cósmico envolveu todos os que estavam no Sinai, um momento mais
impressionante do que o coração podia sentir. A terra reagiu com mais violência do que o
coração humano: "O povo tremia ... o monte tremia muito" (Êxodo 19: 17f). Essa percepção
era uma ilusão? O que vemos pode ser uma ilusão; que vemos nunca pode ser
questionado. Os trovões e raios no Sinai podem ter sido apenas uma impressão; mas de
repente ter sido dotado com o poder de ver o mundo inteiro impressionado com uma
admiração esmagadora por Deus, era um novo tipo de percepção.
Naquele momento, o povo de Israel não apenas foi capaz de alimentar um sentimento, mas
também de compartilhar uma admiração que tomou conta do mundo. Somente nos
momentos em que somos capazes de compartilhar o espírito de reverência que enche o
mundo é que conseguimos entender o que aconteceu com Israel no Sinai. Dizem que esse foi
o objetivo desse evento: "que o temor dEle esteja diante de nossos olhos, para que você não
peque" (Êxodo 20:20). É a oração de Deus: “Oh, que o povo tenha um espírito como o que
tem hoje em todos os dias seguintes: temer-me” (Deuteronômio 5:26).
Tão importante quanto o problema da origem , ou autoria imediata , é o problema
da relevância da Bíblia: se as normas que ela representa são apenas uma preocupação para
o homem ou também para Deus. Revelação significa que o denso silêncio que preenche a
distância sem fim entre Deus e a mente humana foi atravessado, e foi dito ao homem que
Deus se preocupa com os assuntos do homem; que o homem não precisa apenas de Deus,
Deus também precisa do homem. É esse conhecimento que torna a alma de Israel imune ao
desespero. Aqui a verdade não é atemporal e separada do mundo, mas um modo de viver e
envolvido em todos os atos de Deus e do homem. A palavra de Deus não é um objeto de
contemplação. A palavra de Deus deve se tornar história.
Assim, a palavra de Deus entrou no mundo do homem; não "deveria", uma idéia suspensa
entre o ser e o não ser, uma sombra da vontade, uma concessão da mente, mas um evento
perpétuo, uma exigência de Deus mais real que uma montanha, mais poderosa que todos os
trovões.
UMA MANEIRA DE PENSAR
O espírito da filosofia tem sido frequentemente caracterizado como a busca de valores, como
uma busca pelo que é de maior valor. Qual é o espírito da Bíblia? Sua preocupação não é com
o conceito abstrato de valores desencarnados, destacados da existência concreta. Sua
preocupação é com o homem e sua relação com a vontade de Deus. A Bíblia é a busca pelo
homem justo , por um povo justo.
O Senhor olha do céu para os filhos do homem,
para ver se há alguém que aja com sabedoria, que busque a Deus.
Todos se perderam, todos são corruptos;
não há quem faça o bem, não, nem um.
Salmos 14: 2-3

Os incidentes registrados na Bíblia aos olhos perspicazes são episódios de um grande drama:
a busca de Deus pelo homem; Sua busca pelo homem e a fuga do homem Dele.
O judaísmo é uma maneira de pensar , não apenas uma maneira de viver. E essa é uma de
suas principais premissas: a fonte da verdade não se encontra em "um processo para sempre
desdobrado no coração do homem", mas em eventos únicos que aconteceram em momentos
particulares da história. Não há substitutos para revelação, para eventos proféticos. O
pensamento judaico não é guiado por idéias abstratas, por uma moral generalizada. No Sinai,
aprendemos que os valores espirituais não são apenas aspirações em nós, mas uma resposta
a um apelo transcendente dirigido a nós.
Um êxtase de Deus
Apesar de toda a imprecisão, uma característica se destaca claramente. Para a mente do
profeta, a revelação não foi apenas um evento que aconteceu com ele. O ato profético é uma
experiência de um ato de Deus que estava além e por causa do homem.
Ao contrário do ato místico, a revelação não é o resultado de uma busca pela experiência
esotérica. O que caracteriza o profeta é, pelo contrário, um esforço para escapar de tal
experiência. Ele nunca aprecia sua visão, como alguém aprecia a consecução de um objetivo
almejado. A revelação não é um ato de sua busca, mas de ser procurado, um ato na busca de
Deus pelo homem. O profeta não procurou por Deus. A busca de Deus pelo homem, não a
busca do homem por Deus, foi concebida para ter sido o principal evento na história de
Israel. Este é o cerne de todos os pensamentos bíblicos: Deus não é um ser desapegado do
homem a ser procurado, mas um poder que busca, persegue e invoca o homem. O caminho
para Deus é um caminho de Deus. A religião de Israel se originou mais na iniciativa de Deus
do que nos esforços do homem. Não foi uma invenção do homem, mas uma criação de
Deus; não um produto da civilização, mas um reino próprio. O homem não o conheceria se
não tivesse se aproximado do homem. A relação de Deus com o homem precede a relação do
homem com Ele.
A experiência mística é o homem se voltando para Deus; o ato profético é Deus se voltando
para o homem. O primeiro é, antes de tudo, um evento na vida do homem, dependente da
aspiração e iniciativa do homem; o último é antes de tudo um evento na vida de Deus,
dependente do pathos e da iniciativa de Deus. A partir da experiência mística, podemos obter
uma visão do homem sobre a vida de Deus; do ato profético, aprendemos de uma visão de
Deus na vida do homem.
Portanto, caracterizar a revelação como uma visão ou experiência profética é reduzir a
realidade a uma percepção. Visto pelo aspecto do homem, receber uma revelação
é testemunhar como Deus está se voltando para o homem. Não é um ato de contemplar a
realidade divina, um mistério estático e eterno. O profeta está no meio de um evento divino,
de um evento na vida de Deus, pois ao se dirigir ao profeta, Deus sai de Sua
imperceptibilidade para se tornar audível ao homem. A intensidade total do evento não está
no fato de que "o homem ouve", mas no "fato" de que "Deus fala" ao homem. A experiência
mística é um êxtase do homem; revelação é um êxtase de Deus .
Conforme descrito pelos profetas em termos de tempo e espaço, o ato de revelação
representa a imagem de um evento transcendente, refletido nos termos restritos da
experiência humana. Sua qualidade indígena pode ser encontrada no fato criativo de como o
divino foi levado à experiência concreta do homem. Imbuídos de uma sensação da maravilha
esmagadora da realidade de Deus, em comparação com a qual a humanidade parecia ser
menos que nada, os profetas devem ter ficado mais impressionados com sua experiência do
4

que qualquer um de nós para quem a transcendência de Deus seja apenas um conceito vago
, dos quais ocasionalmente tomamos consciência de especulações calmas.
Em resumo, a revelação é um momento em que Deus conseguiu alcançar o homem; um
evento para Deus e um evento para o homem. Receber uma revelação é testemunhar como
Deus está se voltando para o homem.
NOTAS DO CAPÍTULO 20
Para uma análise fenomenológica do evento profético refletido na consciência dos profetas,
e para uma comparação da profecia bíblica com fenômenos análogos em outras religiões,
compare meu livro Die Prophetie , que será publicado em breve em inglês.
1
Reis 8:12. "Profundas trevas estavam sob Seus pés"; Salmos 18:10; II Samuel 22:10.
2
Por duas vezes a Bíblia diz: "O povo estava longe"; Êxodo 20:18, 21.
3
Rabi Yehudah de Zakilkov, Lekute Maharil, Lublin, 1899, p. 47a
4
Isaías 40:17; veja também Daniel 4:32.

21
Uma religião do tempo
PENSAMENTO E TEMPO
Pouco é registrado ou lembrado sobre a vida e o caráter de Euclides ou sobre a maneira como
seus Elementos surgiram. As leis de sua geometria são atemporais, e o momento em que
surgiram pela primeira vez na mente humana parece não ter relação com seu significado e
validade. Tempo e pensamento, ato e conteúdo, autor e ensino, não se relacionam.
Em contraste, as palavras da Bíblia não são suspensas; eles não oscilam em um ar de
atemporalidade. Aqui, tempo e pensamento, ato e conteúdo, autor e ensino, estão
profundamente relacionados entre si.
A Bíblia não é apenas um sistema de normas, mas também um registro de acontecimentos
na história. De fato, algumas das máximas e princípios bíblicos podem ser encontrados ou
poderiam ter sido concebidos em outros lugares. Sem paralelo no mundo, estão os eventos
de que fala e o fato de tomar esses eventos como os pontos onde Deus e o homem se
encontram. Eventos estão entre as categorias básicas pelas quais o homem bíblico vive; são
para sua existência o que axiomas são para medir e pesar.
O judaísmo é uma religião da história, uma religião do tempo. O Deus de Israel não foi
encontrado principalmente nos fatos da natureza. Ele falou através de eventos da
história. Enquanto as divindades de outros povos estavam associadas a lugares ou coisas, o
Deus dos profetas era o Deus dos eventos: o Redentor da escravidão, o Revelador da Torá,
manifestando-se em eventos da história, e não em coisas ou lugares. 1

Os eventos dos quais a religião de Israel é derivada, os momentos particulares em que Deus
e o homem se encontraram são tão fundamentais para o judaísmo quanto a eternidade da
justiça e compaixão divina e a verdade geral de que Deus e o homem permanecem em todos
os momentos em relação a entre si. Afirmar que o êxodo do Egito é apenas um símbolo, que
o ponto essencial é a idéia geral de liberdade que a história significa é desconsiderar o
coração da fé judaica.
O judaísmo exige a aceitação de alguns pensamentos ou normas básicas, bem como o apego
a alguns eventos decisivos. Suas idéias e eventos são inseparáveis um do outro. O espírito se
manifesta através da presença de Deus na história, e os atos de manifestação são verificados
através de pensamentos ou normas básicas.
O DEUS DE ABRAÃO
O termo "Deus de Abraão, Isaac e Jacó" é semanticamente diferente de um termo como "o
Deus da verdade, bondade e beleza". Abraão, Isaac e Jacó não significam idéias, princípios ou
valores abstratos. Nem representam professores ou pensadores, e o termo não deve ser
entendido como o do “Deus de Kant, Hegel e Schelling”. Abraão, Isaac e Jacó não são
princípios a serem compreendidos, mas vidas a serem continuadas. A vida daquele que se
une à aliança de Abraão continua a vida de Abraão. Pois o presente não está separado do
passado. "Abraão ainda está diante de Deus" (Gênesis 18:22). Abraão permanece para
sempre. Nós somos Abraão, Isaque, Jacó.
A CATEGORIA DA INQUILIDADE
Para muitos de nós, a idéia de revelação é inaceitável, não porque não possa ser provada ou
explicada, mas porque é sem precedentes . Nós nem o rejeitamos, simplesmente não entra em
nossas mentes; não possuímos nenhuma forma ou categoria na qual essa ideia pudesse se
firmar. Treinados em procurar explicar tudo o que acontece como manifestação de uma lei
geral, todo fenômeno como exemplo de um tipo, achamos difícil acreditar no extraordinário,
no absolutamente singular; achamos difícil acreditar que um evento que não aconteça o
tempo todo ou de tempos em tempos deva ter acontecido apenas uma vez e ao mesmo
tempo . É dado como certo na ciência que, no domínio do espaço, um processo que aconteceu
uma vez pode acontecer o tempo todo, mas não temos o poder de entender que, no domínio
do tempo, certos eventos não acontecem repetidamente. Agora, a revelação é um evento que
não acontece o tempo todo, mas em um momento específico, em um momento único do
tempo.
Nenhuma outra deficiência torna a alma mais estéril do que a falta de sentido para o único. O
homem criativo é aquele que consegue capturar o excepcional e o instantâneo antes que ele
se torne estagnado em sua mente. Na linguagem do pensamento criativo, o que quer que
esteja vivo é único. E a verdadeira percepção é um momento de perceber uma situação antes
de congelar-se na semelhança com outra coisa.
Somente o gênio sabe como comunicar aos outros o sentido do instantâneo e único, e mesmo
assim a poesia de todas as épocas capturou uma mera fração da música interminável do
incomparável. Há mais discernimento em sentir a inefável singularidade de um evento do
que em tentar explicá-lo por nossas dúvidas estereotipadas.
Assim como existem idéias verdadeiras, embora apenas alguns homens possam corroborá-
las ou verificá-las, há experiências reais, embora apenas alguns homens sejam capazes de
alcançá-las. Muitas coisas ocorrem entre Deus e o homem que escapam da atenção até
daqueles a quem acontecem.
O DIA ESCOLHIDO
A menos que aprendamos a apreciar e distinguir momentos do tempo enquanto fazemos as
coisas do espaço, a menos que nos tornemos sensíveis à singularidade de eventos
individuais, o significado da revelação permanecerá obscuro. De fato, a singularidade é uma
categoria que pertence mais ao domínio do tempo do que ao domínio do espaço. Duas
pedras, duas coisas no espaço podem ser iguais; duas horas na vida de uma pessoa ou duas
idades na história humana nunca são iguais. O que aconteceu uma vez nunca mais acontecerá
no mesmo sentido. A época de Péricles ou o período do Renascimento nunca foram
duplicados. É a ignorância do tempo, o desconhecimento da profundidade dos eventos que
leva à afirmação de que a história se repete. É por causa de seu profundo senso de tempo que
o homem bíblico foi capaz de compreender que no Sinai ele testemunhou um evento sem
paralelo na história humana.

“Pois pergunte agora os dias que passaram antes de você, desde o dia em que Deus criou o
homem sobre a terra, e pergunte de um extremo ao outro do céu, se algo tão grande como
isso já aconteceu ou foi. já ouviu falar. Alguém já ouviu a voz de um deus falando do meio do
fogo, como você ouviu, e ainda vive? Ou algum deus já tentou ir e tomar uma nação para si
do meio de outra nação, por provações, sinais, maravilhas e guerra, por uma mão poderosa
e um braço estendido, e por grandes terrores, de acordo com tudo o que o Senhor teu Deus
fez por você no Egito diante de seus olhos? ”
Deuteronômio 4: 32-34

Importante para a compreensão bíblica da história não é apenas o conceito de um povo


escolhido, mas também o conceito de um tempo escolhido; a eleição de um dia, não apenas
de um povo. Israel aceitou a soberania daquele momento escolhido. Este momento mudou o
mundo para nós. Referindo-se a esse momento, um sábio talmúdico exclamou: “Se não for
naquele dia ...!”
2

Muita coisa aconteceu desde o dia em que um grupo obscuro de escravos saiu do
Egito. Impérios surgiram; foram travadas guerras que abalaram o mundo; conquistas,
descobertas, revoluções, catástrofes e triunfos. Por que o êxodo ainda deve ser
comemorado? Por que deveria ser mais memorável do que a Revolução Francesa?
"Parece absurdo subordinar a filosofia a certos eventos históricos na Palestina - cada vez
mais absurdo para mim", exclamou Sir Walter Raleigh, professor de ciência política em
Oxford. E absurdo deve ser para todos aqueles que não têm sentido pela singularidade que
está no tempo, pela singularidade do que acontece no tempo. Por que, de fato, uma hora em
um número infinito de horas deveria ser de particular importância para a história do
homem? Por que, de fato, o significado do Sinai transcende a importância de todos os eventos
subsequentes?
Por outro lado, um profeta poderia ter dito: "Parece absurdo subordinar a história a leis
abstratas - cada vez mais absurdas para mim".
A falta de realismo, a insistência em generalizações ao preço de uma total desconsideração
do particular e do concreto é algo que seria estranho ao pensamento profético. Palavras
proféticas nunca são separadas da situação histórica concreta. A mensagem deles não é
atemporal e abstrata; sempre se refere a uma situação real. O geral é dado em particular, e a
verificação do resumo é concreta.
O judaísmo não procura subordinar a filosofia a eventos, verdades eternas a uma história
particular. Ele tenta apontar para um nível de realidade onde os eventos são manifestações
de normas divinas, onde a história é entendida como o cumprimento da verdade.
O significado da história é a nossa profunda preocupação. É difícil permanecer imune à
ansiedade da questão, de onde viemos, para onde estamos e para onde estamos indo.
A singularidade da história
A singularidade da história é algo difícil de compreender. É por isso que frequentemente
aplicamos categorias e métodos da ciência natural ao entendimento da história, como a
teoria antiga de que a história segue a mesma ordem cíclica que os corpos celestes, expressa
no princípio da eterna recorrência do mesmo; ou a teoria de Spengler de que toda civilização
passa pela mesma sucessão de eras que a vida orgânica. Essas teorias tratam os eventos
como se fossem processos. Todos nós temos um senso aguçado do que as coisas têm em
comum e um senso ruim do que é incomparável e peculiar. Categorias únicas são necessárias
para a compreensão da história, uma vez que aquilo que é individual não pode ser
compreendido em termos de generalidades. A categoria do general é a chave para o
conhecimento do mundo do espaço; a categoria do indivíduo é a chave para a compreensão
do mundo do tempo.
À noite - na alma - todos os momentos são parecidos. A maioria de nós aprecia e distingue
coisas, lugares, mas é insensível à singularidade de eventos individuais. Consequentemente,
a idéia do lugar sagrado não é apenas indígena para quase todas as religiões; manteve seu
apelo a homens de todas as idades, religiosos, seculares ou supersticiosos. Todos estamos
dispostos a admitir que certas coisas são sagradas; ninguém toleraria a profanação de um
santuário nacional ou religioso. Todos admitem que o Grand Canyon é mais inspirador do
que uma vala. Todo mundo sabe a diferença entre um verme e uma águia. Mas quantos de
nós têm um senso de discrição semelhante pela diversidade do tempo? O historiador Ranke
afirmou que todas as épocas são igualmente próximas a Deus. No entanto, a tradição judaica
afirma que há uma hierarquia de momentos no tempo, que todas as idades não são iguais. O
homem pode orar a Deus igualmente em todos os lugares, mas Deus não fala ao homem
igualmente em todos os momentos. Em um determinado momento, por exemplo, o espírito
de profecia partiu de Israel.
3

ESCAPE AO INTEMPORAL
Desprezo pelo tempo parece ser característico do pensamento humano em quase toda
parte. Para a mente hindu e para a grega, o tempo, comparado à eternidade, parece vazio,
irrelevante e essencialmente irreal. As coisas que acontecem na história são de pouca
importância; somente o atemporal é realmente relevante. "O crente mahayanista é avisado -
exatamente como o adorador de Krishna é avisado ... que Krishna Lila não é uma história,
mas um processo que se desenrolou para sempre no coração do homem - que questões de
fato histórico não têm significado religioso". A história é movendo-se em ciclos sem nunca
mudar. Uma galinha pode ser definida como "a maneira de um ovo fazer outro ovo", e a
história pode ser concebida como um ato de Brahma que "está emitindo, sustentando e
reabsorvendo o universo, aparentemente sem nenhum motivo especial além da liberação de
energia excedente". 4

Segundo Meister Eckhart, “o tempo é o que impede a luz de chegar até nós. Não há maior
obstáculo para Deus que o tempo. E não apenas temporalidades, não apenas coisas
temporais, mas afetos temporais; não apenas afetos temporais, mas a própria mancha e
cheiro do tempo. ” 5

SEMENTES DE ETERNIDADE
Foi a glória da Grécia ter descoberto a idéia do cosmos, o mundo do espaço; foi a conquista
de Israel ter experimentado a história, o mundo dos tempos. O judaísmo alega que o tempo
é extremamente relevante. Por mais ilusória que seja, está grávida das sementes da
eternidade. Significativas para Deus e decisivas para o destino do homem são as coisas que
acontecem no tempo, na história. A história bíblica é o triunfo do tempo sobre o
espaço. Israel não se tornou realidade através de uma série de acidentes. A própria natureza
não evoluiu de um processo, por necessidade; foi criado por um evento, um ato de Deus. A
história é a testemunha suprema de Deus.
Esta foi uma nova visão. O homem religioso não profético ficou impressionado com os
processos da natureza; lá ele sentiu o mistério divino e lá encontrou razões para reverência
e adoração. Os eventos não lhe transmitiram um significado religioso duradouro ou o
envolveram em qualquer compromisso espiritual. O tempo para o homem não profético é o
destruidor das trevas, e a história não tem sentido, uma repetição monótona de ódio,
derramamento de sangue e armistício.
IMUNE AO DESESPERO
À luz da Bíblia, a história não é uma mera sucessão de fatos consumados , coisas feitas e não
vale mais a pena argumentar. Embora os eventos não ocorram de acordo com um plano
predestinado, e embora o objetivo final nunca possa ser expresso em uma palavra ou em
palavras, acreditamos que a história como um todo tenha um significado que transcende o
de suas partes. Devemos lembrar que Deus está envolvido em nossas ações, esse significado
é dado não apenas no atemporal, mas principalmente no oportuno, naquela tarefa dada aqui
e agora. Grandes são as possibilidades do homem. Pois o tempo é apenas um pouco menor
que a eternidade, e a história é um drama em que tanto o homem quanto Deus têm uma
participação. Nos seus acontecimentos, ouvimos a voz e o silêncio de Deus.
EVOLUÇÃO E REVELAÇÃO
Há um aspecto da experiência profética que está relacionado a um problema universal da
filosofia, a saber: se todas as idéias, visões e aspirações da mente se originaram na alma do
homem, ou se elas foram finalmente derivadas de uma fonte fora do homem .
Temos uma consciência superficial de desenhar as rédeas de nossas mentes. Mas como
conseguimos as rédeas e a mente? A olho nu, o pensamento parece ser um caso puramente
humano, auto-induzido, sem nada perceptível além dele. No entanto, essa percepção pode
muito bem ser como o azul do céu, não real, mas uma ilusão. Mestres hábeis que estamos
tirando do poço do pensamento, certamente não somos o poço em si. Não sabemos de onde
vem a força do pensamento, o que está por trás de toda certeza. A mente só pode captar o
que é redutível a um objeto mental; não pode ir além de si e sentir a origem. Estando sempre
em movimento, teria que ser imóvel para compreender aquilo que o levou a movimento. Nos
atos de profecia, um novo movimento se estabelece e o homem é colocado na fonte de todo
pensamento.
Hoje estamos condicionados a conceber a origem das coisas em termos de seu
desenvolvimento, e nos falta a capacidade de compreender a repentina, eventos puros,
criatividade. Assim, mesmo aqueles que afirmam que a consciência humana volta em sua
essência a uma consciência universal, tendem a conceber essa derivação em termos de
evolução.
A Bíblia afirma que o homem não se deu nem a sua existência nem a sua sabedoria; que
ambos são derivados da vontade de Deus. Também nos ensina que certas idéias nos chegam
não pelo lento processo de evolução, mas por Sua concessão direta e repentina.
Nem todos os fenômenos mentais são derivados de instintos mais primitivos, por mais que
possam ser coloridos e condicionados em sua emergência e direção por funções instintivas. A
vida humana é inconcebível sem conter um impulso espiritual.

A suposição de que existe um desejo na alma de procurar um modo de vida moral e espiritual
implica que possuímos esse desejo sem que estejamos cientes de sua origem. A profecia
proclama a crença em um ato particular de comunicação - um que ocorreu não além, mas
dentro da consciência do homem, não antes, mas dentro do reino de sua existência histórica
- nos ensinando o que anseio depois, o que perseguir, o que esperar.
NOTAS DO CAPÍTULO 21
1
AJ Heschel, The Sabbath, Nova York, 1951, p. 7f.
2
Pesahim, 68b.
3
O sábado p. 96
4
Ananda K. Coomaraswamy, citado por Aldous Huxley, The Perennial Philosophy , Nova York,
1945, p. 51. Compare p. 53; “O grande número de Budas e Bodhisattvas, de quem falam os
teólogos mahayanistas, é proporcional à vastidão de sua cosmologia. O tempo, para eles, não
tem começo, e os inúmeros universos, cada um deles apoiando seres sencientes de todas as
variedades possíveis, nascem, evoluem, decaem e morrem, apenas para repetir o mesmo
ciclo - repetidamente, até o final inconcebivelmente remoto consumação, quando todos os
seres sencientes em todos os mundos tiverem vencido a libertação fora do tempo para a
eternidade Talidade ou Estado de Buda. ”
5
Citado por Huxley, Ibid ., P. 189
22
Processo e Evento
PROCESSO E EVENTO
“É mais ou menos claramente visto que uma fé religiosa vital deve encontrar expressão no
mundo em que o homem moderno deve viver. Descansar a religião em eventos que não
podem ser repetidos significa isolá-la da experiência cotidiana do homem hoje. ” É com esse
1

espírito que Martineau declarou:“ a revelação significa não uma revelação histórica
específica autenticada por milagres, mas a progressiva auto-estima. revelação que Deus faz
de Sua existência e de Seu caráter nas experiências mais divinas da alma humana. ” 2

Agora, devemos admitir que a revelação está distante da "experiência cotidiana do homem
moderno hoje"; até o pensamento disso é intelectualmente embaraçoso. Mas identificá-lo
com nossa própria preferência intelectual é distorcê-lo antes de tentar explorá-lo. Devemos
estar prontos para ir além das categorias de nossa própria experiência, mesmo que esse
procedimento possa perturbar nossa rotina mental e facilitar.
A inspiração profética deve ser entendida como um evento, não como um processo. Qual é a
diferença entre processo e evento? Um processo acontece regularmente, seguindo um
padrão relativamente permanente; um evento é extraordinário, irregular. Um processo pode
ser contínuo, constante, uniforme; eventos acontecem de repente, de forma intermitente,
ocasionalmente. Processos são típicos; eventos são únicos. Um processo segue uma lei, os
eventos criam um precedente.
Um processo ocorre na ordem física. Mas nem todos os eventos são redutíveis a termos
físicos. A vida de Beethoven deixou a música para trás; no entanto, avaliados em termos
físicos, seus efeitos no mundo foram sentidos menos do que o efeito de uma tempestade
normal ou de um terremoto.
O homem vive em uma ordem de eventos, não apenas em uma ordem de processos. É uma
ordem espiritual. Momentos de insight, momentos de decisão, momentos de oração - podem
ser insignificantes no mundo do espaço, mas colocam a vida em foco.
A natureza é composta de processos - a vida orgânica, por exemplo, pode ser descrita como
consistindo nos processos de nascimento, crescimento, maturidade e decadência; a história
consiste principalmente em eventos. O que empresta caráter histórico e humano à vida de
Péricles ou Aristóteles não são os processos orgânicos pelos quais eles passaram, mas os atos
extraordinários, surpreendentes e imprevisíveis, realizações ou eventos que os distinguiram
de todos os outros seres humanos.
Um evento é um acontecimento que não pode ser reduzido a uma parte de um processo. É
algo que não podemos prever nem explicar completamente. Falar de eventos é implicar que
existem acontecimentos no mundo que estão além do alcance de nossas explicações. O que
implica a consciência dos eventos, a crença na revelação afirma explicitamente, a saber, que
uma voz de Deus entra no mundo que pede ao homem que faça a sua vontade.
O que queremos dizer com "o mundo"? Se queremos dizer um sistema definitivo, fechado,
fixo e auto-suficiente de fenômenos que se comporta de acordo com as leis conhecidas por
nós, esse conceito excluiria a possibilidade de admitir qualquer intervenção ou penetração
super mundana por uma voz não explicada por essas leis. De fato, se o mundo descrito pela
ciência natural é considerado o supremo, então não faz sentido procurar o Divino, que é, por
definição, o supremo. Como poderia haver um final dentro do outro?
A afirmação da Bíblia é absurda, a menos que estejamos prontos para compreender que o
mundo como examinado e descrito pela ciência é apenas uma superfície fina do
profundamente desconhecido. A ordem é apenas um dos aspectos da natureza; sua realidade
é um mistério dado, mas não conhecido. Inúmeras relações que determinam nossa vida na
história não são conhecidas nem previsíveis. O que a história faz com as leis da natureza não
pode ser expresso por uma lei da natureza.
Uma das muitas dificuldades é esta: haveria uma falha no mecanismo perfeito da mente e da
matéria para permitir que o espírito de Deus penetrasse em sua estrutura. Assumir que o
mundo, por toda a sua imensa grandeza, é um pequeno prato na mão de Deus, no qual, em
certos momentos, apenas uma alma vibra, embora todas sejam atingidas; em outras
palavras: assumir que todo o complexo de leis naturais é transcendido pela liberdade de
Deus, pressupõe o entendimento metafísico de que as leis da natureza derivam não de uma
necessidade cega, mas da liberdade, de que o supremo não é o destino, mas Deus . A
revelação não é um ato de interferir no curso normal dos processos naturais, mas o ato de
instilar um novo momento criativo no curso da história.
A cadeia de causalidade e de raciocínio discursivo, na qual coisas e pensamentos são
restringidos, está fixada no espaço de infinitas possibilidades, como a língua pendurada em
um sino silencioso. É como se todo o universo estivesse fixo em um único ponto. Na
revelação, o sino toca e as palavras vibram pelo mundo.
VER O PASSADO NO PRESENTE TEMPO
Um processo não tem futuro. Torna-se obsoleto e é sempre substituído por seus próprios
efeitos. Não ponderamos sobre a neve do ano passado. Um evento, por outro lado, mantém
seu significado mesmo depois de ter passado; permanece como um motivo duradouro
porque e independentemente de seus efeitos. Grandes eventos, assim como grandes obras
de arte, são significativos em si mesmos. Nosso interesse neles perdura muito tempo depois
que eles se foram.
É, de fato, uma das características peculiares da existência humana que o passado não
desaparece por completo, que alguns eventos da antiga antiguidade podem nos manter em
seu feitiço até hoje. Eventos que estão mortos, coisas que se foram, não podem ser sentidos
nem contados. Há uma libertação do que é definitivamente passado. Por outro lado, há
eventos que nunca se tornam passados. A história sagrada pode ser descrita como uma
tentativa de superar a linha divisória do passado e do presente, como uma tentativa de ver o
passado no tempo presente.
Essa compreensão do tempo não é peculiar aos historiadores. É compartilhado
inconscientemente por todos os homens e é essencial para a vida civilizada.
NOTAS DO CAPÍTULO 22
1
GB Smith, Pensamento religioso no último quarto de século, Chicago , 1927, p. 103f.
2
Citado em H. McLachlan, As opiniões religiosas de Milton, Locke e Newton , Manchester, 1941,
p. 98
23
Compromisso de Israel
ANEXO A EVENTOS
O Deus do filósofo é um conceito derivado de idéias abstratas; o Deus dos profetas é derivado
de atos e eventos. A raiz da fé judaica não é, portanto, uma compreensão de princípios
abstratos, mas um apego interior a eventos sagrados; acreditar é lembrar, não apenas aceitar
a verdade de um conjunto de dogmas. Nosso apego é expresso pela maneira de celebrá-los,
pela leitura semanal do Pentateuco e não pelo recital de um credo. Ignorar esses eventos e
apenas prestar atenção ao que Israel foi ensinado nesses eventos é perder um aspecto
essencial.
A MEMÓRIA DE UM COMPROMISSO
Uma experiência estética deixa para trás a memória de uma percepção e prazer; uma
experiência profética deixa para trás a memória de um compromisso. A revelação não era um
ato de prazer. Deus falou e o homem não apenas percebeu, mas também aceitou a vontade
de Deus. A revelação dura um momento, a aceitação continua.
Isso, então, nos é dado na tradição judaica: não uma idéia, mas um compromisso com a
revelação. Nossa tarefa é examinar nossa atitude em relação a esse compromisso. Existe
algum significado para sermos leais a eventos que aconteceram mais de três mil anos atrás?
LEALDADE A UM MOMENTO
É uma necessidade suprema para os seres humanos viverem em relações mais ou menos
permanentes e confiáveis entre si. Existe uma variedade de relações, como, por exemplo,
casamento, amizade, organizações profissionais e convenções internacionais. Com algumas
exceções, como as que nascem da paternidade e afins, as relações sociais não são dadas
naturalmente; eles não se originam em um processo; eles são iniciados em um ato ou
evento em um momento definido do tempo. Essas relações só podem durar se
permanecermos fiéis à promessa que fizemos ou aos acordos nos quais firmamos. Eles
entram em colapso quando nossa lealdade cessa.
A natureza paradoxal de tal lealdade é óbvia. Por que uma pessoa deveria ficar amarrada a
vida inteira pelo que fez ou disse em um único momento? E, no entanto, homens civilizados
nunca deixaram de admitir que sua promessa tinha alguma força para afetar seus atos
futuros. As pessoas acreditam na passagem do tempo; eles afirmam que o passado está
morto para sempre. De fato, o momento em que uma promessa é feita desaparece
rapidamente: desapareceu de nosso calendário, desapareceu de nossos relógios. E, no
entanto, estamos dispostos a considerá-lo como se fosse imortal. Em outras palavras,
aceitamos eventos que aconteceram em momentos passados, como se esses momentos ainda
estivessem presentes, como se esses eventos estivessem acontecendo agora.
UMA PALAVRA DE HONRA
O Sinai, o momento decisivo na história de Israel, iniciou um novo relacionamento entre Deus
e o homem: Deus ficou noivo de um povo. Israel aceitou o novo relacionamento; ficou noiva
de Deus. Foi um evento no qual ambos eram parceiros. Deus deu Sua palavra a Israel, e Israel
deu sua palavra de honra a Deus.
Uma promessa continua para sempre. Ao fazer uma promessa, todo o nosso futuro é
investido como um peão. É um momento que não desaparece; é um momento que determina
todos os outros momentos.

Lembre-se de Sua aliança para sempre, a palavra


que Ele prometeu por mil gerações.
I Crônicas 16:15

Israel aceitou a aliança: Israel deu sua palavra de honra para apoiá-la.

Em que sentido a aceitação afeta nossas vidas? Uma geração tem o direito de comprometer
todas as outras gerações a um pacto? Por que devemos nos sentir comprometidos e com o
quê? 1

O Sinai é um evento que aconteceu de uma vez por todas e um evento que acontece o tempo
todo. O que Deus faz, acontece no tempo e na eternidade. Visto do nosso ponto de vista,
aconteceu uma vez; visto de Seu ponto de vista, isso acontece o tempo todo. Monumentos de
pedra estão destinados a desaparecer; dias de espírito nunca passam. Sobre a chegada do
povo ao Sinai, lemos no Livro do Êxodo: “No terceiro mês após os filhos de Israel terem saído
da terra do Egito, neste dia eles chegaram ao deserto do Sinai” (19: 1) Aqui estava uma
expressão que intrigou os rabinos antigos: neste dia? Deveria ter sido dito: naquele dia. Isso
só pode significar que o dia de dar a Torá nunca pode se tornar passado; esse dia é esse dia,
todos os dias. A Torá, sempre que a estudamos, deve ser para nós “como se nos fosse dada
hoje”. 2

Todos nós ouvimos a voz; todos nós recebemos o dom divino da liberdade no Sinai. É por
isso que ninguém tem o direito de se vender como escravo. O ouvido daquele que se torna
escravo voluntariamente deve ser entediado (Êxodo 21: 1-6). “O Santo, bendito seja, disse:
Este ouvido, que ouviu a minha voz no monte Sinai quando proclamei: Pois para mim os filhos
de Israel são servos, eles são meus servos (Levítico 25:55), e não servos de servos, e ainda
assim este homem foi e adquiriu um mestre para si mesmo - que seja entediado. ” 3

"Eu mantenho o comando do rei por causa do juramento de lealdade" (Eclesiastes 8: 2). Disse
o rabino Yose: “Eu mantenho o comando do rei dos reis, que me disse no Sinai, eu sou o
Senhor teu Deus.” Todas as gerações de Israel, disseram-nos, estavam presentes no Sinai
4

(ver acima, p. 141) .

Também não é com você que faço esta aliança juramentada, mas com quem não está aqui
conosco hoje e com quem está aqui conosco hoje diante do Senhor, nosso Deus.
Deuteronômio 29: 13-14

Foi um ato de transcender o presente, a história ao contrário: pensar no futuro no tempo


presente. Foi uma previsão profética, pois ser profeta é estar à frente do tempo de outras
pessoas, falar do futuro no tempo presente.
Os contemporâneos de Moisés conseguiram transcender o presente e comprometeram as
gerações subseqüentes à palavra de Deus por causa de sua capacidade de pensar na vida em
termos de tempo.
Eles não tinham espaço, não tinham terra; tudo o que eles tinham era tempo e a promessa de
uma terra. O futuro deles dependia da lealdade de Deus à Sua própria promessa, e a lealdade
aos eventos proféticos era a essência do futuro deles.
VIDA SEM COMPROMISSO
Alguns de nós podem pensar: quão imprudente é que nossos ancestrais tenham
comprometido todas as gerações futuras a uma aliança com Deus. No entanto, a vida de um
povo histórico não é diferente da vida de um indivíduo. Como vimos, não há vida civilizada
sem atos de ingresso em relações sociais, e tais atos implicam a aceitação de um
compromisso, a promessa de uma promessa ou a aceitação de um compromisso. Para entrar
em um relacionamento com Deus, o povo tinha que aceitar um compromisso.
Sócrates nos ensinou que uma vida sem pensar não vale a pena ser vivida. Agora, pensar é
um esforço nobre, mas o melhor pensamento pode terminar em futilidade. Ao pensar, o
homem é deixado sozinho; ele pode subir ao espaço astral e proclamar os melhores
pensamentos; todavia, qual será o eco e qual o significado para a alma?
A Bíblia nos ensinou que a vida sem compromisso não vale a pena viver; esse pensamento
sem raízes dará flores, mas não frutos. Nosso compromisso é com Deus, e nossas raízes estão
nos eventos proféticos de Israel.
A dignidade do homem é proporcional às suas obrigações e aos seus direitos. A dignidade de
ser judeu é no sentido de compromisso, e o significado da história judaica gira em torno da
fidelidade de Israel à aliança.
A REVELAÇÃO É UM INÍCIO
E, no entanto, o mero apego a eventos não expressa completamente a essência da vida
judaica. Evento é uma categoria formal, descrevendo o fato de puro
acontecimento. Entretanto, falar de um evento puro, de um evento por si só, é falar de uma
abstração artificial que não existe em lugar algum, exceto nas mentes de alguns teólogos. O
momento da revelação não deve ser separado do conteúdo ou substância da revelação. A
lealdade às normas e pensamentos transmitidos no evento é tão essencial quanto a realidade
do evento. A aceitação não foi concluída, o cumprimento não ocorreu. O momento decisivo
ainda está por vir. O evento deve ser realizado, não apenas em que se acredita. O que era
esperado no Sinai acontece no momento de uma boa ação. Um mandamento é uma previsão,
uma ação é um cumprimento. A ação completa o evento. A revelação é apenas um começo,
nossas ações devem continuar, nossas vidas devem completá-la.
Não devemos idolatrar o momento ou o evento. A vontade de Deus é eterna, transcendendo
todos os momentos, todos os eventos, incluindo atos de revelação. O significado do tempo
depende do que é feito no tempo em relação à Sua vontade. O momento no Sinai depende
para sua realização neste momento presente, em todos os momentos. Se Israel tivesse sido
desleal depois do Sinai, esse grande momento teria sido privado de todo significado. Os
comprimidos são quebrados sempre que o bezerro de ouro é criado. Acreditamos que a cada
hora é concedido o poder de dar sentido a - ou reter o significado de - todas as outras horas.
5

NOTAS DO CAPÍTULO 23
1
A frase rebus sic stantibus expressa a limitação entendida no caso de acordos. As
circunstâncias devem permanecer fundamentalmente as mesmas para que a obrigação
assumida seja moralmente operacional.
2
Tanhuma, ed. Buber, II, 76; De Sifre a Deuteronômio 11:13; Berachot, 63b; Rashi a Êxodo 19:
1; Deuteronômio 11:13 e 26:16.
3
Kiddushin 22b.
4
Jerushalmi Sinédrio, IV, 21b.
5
“Se alguém guarda apenas um sábado adequadamente, é considerado como se ele tivesse
observado todos os sábados desde o dia em que Deus criou Seu mundo até o tempo da
ressurreição dos mortos.” Mechilta a Êxodo 31:16.

24
Um Exame dos Profetas
QUE TIPO DE PROVA?
O resultado de nossa discussão foi mostrar o que é necessário para levantarmos a questão
sobre a revelação, esclarecer seu significado e estabelecer a possibilidade e probabilidade de
que isso ocorra. No entanto, como dito acima, o que é possível e provável não é
necessariamente real e certo. O problema que mais nos interessa é se a revelação já
ocorreu; se existem razões convincentes para aceitar a Bíblia como uma expressão da
vontade de Deus.
Nosso principal objetivo é encontrar uma resposta para a pergunta: a revelação é um
fato? Realmente aconteceu? Essa resposta obviamente dependerá de nossa capacidade de
encontrar evidências para refutar ou confirmar a afirmação dos profetas. Agora, antes de
iniciar uma consulta, é importante saber exatamente o que procurar. No nosso caso,
devemos esclarecer para nós mesmos que tipo de evidência gostaríamos de encontrar.
A princípio, a realização ideal de uma investigação sobre esse problema seria a descoberta
arqueológica de evidências imparciais, como, por exemplo, egípcios contemporâneos que
acompanharam os israelitas em sua marcha pelo deserto e escreveram sobre o que
aconteceu no Sinai; ou assírios que visitaram a Palestina e assistiram e entrevistaram Amós
ou Isaías. O homem moderno estaria inclinado a considerar tais testemunhos mais confiáveis
do que os registros bíblicos. Para aquele que argumentaria que muitos registros bíblicos
provaram ser precisos e que, portanto, os registros sobre revelação também deveriam ser
confiáveis, outros responderão que a experiência da revelação é uma aula por si só. Se for
esse o caso, como se poderia esperar que os egípcios ou assírios relatassem aquilo que
constituía a essência da experiência profética? O que seria ganho com a posse de outro
relatório sobre as circunstâncias externas em que o evento no Sinai ocorreu? Um show de
trovões e relâmpagos com uma voz misteriosa vinda das nuvens seria, de fato, suscetível de
gravação imparcial por taquigrafia ou fotografia. No entanto, o aspecto físico, o que os olhos
ou ouvidos podem perceber, é de pouca relevância. Trovões e raios podem ser mais
impressionantes para os sentidos do que um sussurro suave, mas Elijah confiava apenas na
"voz mansa e delicada". A essência do que aconteceu no Sinai, a inspiração e a elevação
espiritual de um povo inteiro, nunca poderiam ser percebidas, registrado ou verificado por
repórteres imparciais.
O que é verdade sobre os contemporâneos egípcios de Moisés é válido para os egípcios até
hoje. E cada um de nós é egípcio, perguntando uma vez ou outra: “Quem é o Senhor para eu
ouvir a sua voz?” (Êxodo 5: 2).
O que a torna receptiva e receptiva àquilo que está além do alcance da alma? Os profetas
foram dotados de uma faculdade separada, um sentido especial? Nada desse tipo poderia ser
rastreado em suas declarações. Os grandes profetas tinham uma característica em comum: a
revelação veio a eles como uma surpresa, como uma explosão repentina. Eles ficaram mais
assustados do que ouviram do que no que ouviram. A percepção deles surgiu com a própria
revelação. É a revelação que torna o homem capaz de receber uma revelação. Ele se torna
especialista com a experiência.
A NOÇÃO ERRADA
Muitas pessoas rejeitam a Bíblia por causa de uma noção equivocada de que a revelação
provou ser cientificamente impossível. É tudo muito simples: não há outra fonte de
pensamento além da mente humana. A Bíblia é um livro como qualquer outro livro, e os
profetas não tinham acesso a fontes inacessíveis para nós. A Bíblia é apenas a literatura
nacional do povo judeu. Para a mente comum, portanto, a revelação é uma espécie de pária
mental, não qualificada para ser um assunto para debate. Na melhor das hipóteses, é
considerado um conto de fadas, a par da concepção de que raios e trovões são sinais de raiva
de diversos deuses e demônios, e não o resultado de uma súbita expansão do ar no caminho
de uma descarga elétrica. De fato, a questão da psicologia e antropologia não foi resolvida há
muito tempo como o homem primitivo confundindo uma ilusão com um evento
sobrenatural?
A verdade é que a revelação é um problema que escapa à investigação científica; que nenhum
estudioso jamais concebeu uma lente para perfurar seu mistério. As críticas bíblicas podem
ter conseguido encontrar pontos ao sol e nos obrigando a modificar nossa concepção de
como o texto foi transmitido, mas o ato de revelação permanece além de seu escopo. A
adolescência intelectual daqueles que proclamaram Moisés nunca viveu, e se o fez, ele não
era um monoteísta, é de grande interesse para um psicólogo como exemplo de tendências
iconoclasta, mas é de pouco interesse para aqueles que buscam a verdade espiritual. As
discrepâncias relativamente menores na Bíblia podem apenas provar que suas palavras
foram escritas em e para muitas situações diferentes, que seu texto é um organismo e não
uma pedra monolítica. No entanto, não devemos “perturbar a fundação do templo para
reparar uma pequena brecha ou um buraco de rato na parede, ou prender uma ou duas
pedras soltas na quadra externa” (Coleridge).
A REVELAÇÃO É EXPLICÁVEL?
A afirmação dos profetas pôde ser verificada, se pudéssemos repetir e colocar suas
percepções em teste. No entanto, os próprios profetas só puderam relatar, mas não
reproduzir, o que lhes aconteceu. Eles tentaram reivindicar sua própria confiabilidade por
previsão ou persuasão; o ato em si não pôde ser exibido para outras pessoas. No entanto, o
fato de nossa incapacidade de compartilhar uma experiência não nega sua
autenticidade. Muitas de nossas próprias experiências, as mais preciosas e singulares,
dificilmente podem ser compartilhadas por mais ninguém. Muito do que uma pessoa passa
não pode ser comunicado, e o que não é transmissível não é compartilhável. Toda
comunicação é uma tentativa de tornar algo compreensível para os outros, transmitindo-o
em termos universais e típicos. Mas a centelha do singular é extinta na atmosfera das
generalidades. Particularmente, o impacto do transcendente sobre a mente humana pode ser
tão pouco descrito em termos gerais quanto minha percepção da beleza em termos de libras
e onças. Como poderíamos esperar que fosse explicável?
Vale a pena, mesmo que fosse possível, deixar nosso sussurro tentar imitar um trovão? É
essencial para a revelação que ela ilude nossas investigações. Explicar, torná-lo inteligível,
transparente, seria ignorá-lo; provando isso, seria reduzido à insignificância. Existe um
parceiro para a revelação, de cujos modos as categorias da mente são incongruentes.
A revelação não deve ser rejeitada por ser incompreensível. Não é o único fato impermeável
à exploração, inverificável pela experiência. O que é incompreensível não deve ser
considerado irreal. Podemos explicar como o ser surgiu? Podemos descrever exatamente
como o poder tenso de um espírito desliza nas cordas de um violino, criando um mundo de
delicadeza do nada? O grito e a angústia de seis milhões de mártires são teoricamente
compreensíveis?
De fato, não há como explicar como os pensamentos do Deus infinito se movem ao longo do
caminho estreito da mente humana. Toda explicação ou prova opera por
analogia. Explicamos algo que é duvidoso comparando-o com coisas que são possíveis ou
certas. A força de uma prova ou explicação depende de quão completa é a semelhança entre
essas coisas. No entanto, a autenticidade da revelação é mostrada por ser diferente de todos
os outros eventos e experiências. Sua verdade está em sua singularidade. Somente como algo
incomparável pode ser confiável. Talvez por isso o livro de Deuteronômio enfatize que o
evento no Sinai foi sem precedentes (4: 32-37).

Tudo o que podemos fazer é analisar nossas próprias razões para aceitá-la e eliminar a
probabilidade de estarmos sujeitos a uma ilusão ou a probabilidade de nossa fé ser apenas
uma racionalização, ou seja, a fabricação de argumentos racionais para justificar algo que
está profundamente enraizado em nossa mente. corações que não consideramos corretos.
Por uma questão de conveniência intelectual, gostaríamos de possuir algumas evidências
espetaculares de que os profetas não eram psicopatas nem mentirosos. No entanto, quão
estranho e indigno de Deus se, ao dar ao homem o que não tem preço, Ele assegurasse os
testemunhos triviais do homem à autenticidade de Seu dom! O sol deve ser rotulado com
uma marca de identificação para ser reconhecido?
Nossa incapacidade de provar que o registro do profeta contém uma descrição exata do que
ele realmente experimentou não exclui a legitimidade de afirmar a veracidade desse
registro. Ao investigar documentos históricos, o homem nunca é capaz de confrontar o
registro com o fato; ele pode perguntar, no entanto, se um registro específico é consistente
com seu conhecimento e concepção do período ao qual é atribuído. Com que conhecimento
ou com quais fatos a revelação deve estar de acordo?
OS PROFETAS SÃO CONFIÁVEIS?
Não tendo testemunhado o ato da revelação, não temos conhecimento disso, exceto o que
nos foi transmitido pelos profetas. Assim, nossa atitude dependerá de estarmos prontos para
levar a palavra dos profetas a sério. Isso é decisivo: os profetas são confiáveis? O testemunho
deles é confiável?
Ao exortar os profetas a se apresentarem diante da barra de nosso julgamento crítico, somos
como anões se comprometendo a medir as alturas dos gigantes. Como nossas realizações
espirituais poderiam ser um parâmetro para medir o que alcançaram, se seus esforços
estavam tão completamente acima dos nossos? Somos tão abertos a Deus quanto eles? Nós
nos importamos com tanta intensidade, como exclusivamente com o que Deus tem a dizer
como eles?
Um compositor aspirante não compararia Beethoven consigo mesmo, mas se compararia
com Beethoven. Aquilo que nos transcende não é algo que julgamos, mas algo pelo qual
somos julgados, e ser profeta é representar aquilo que é espiritualmente transcendente.
Nossa situação é parecida com a de uma pessoa que, diante de uma beleza avassaladora, é
chamada a dizer o que pensa sobre isso. Na verdade, é sua inteligência que está sendo
julgada, embora aparentemente seja a qualidade da beleza que ele precisa investigar.
Existem apenas três maneiras de julgar os profetas: eles disseram a verdade, inventaram
deliberadamente uma história ou foram vítimas de uma ilusão. Em outras palavras, a
revelação é um fato ou produto de insanidade, auto-ilusão ou invenção pedagógica, o
produto de uma confusão mental, de um desejo ou uma atividade subconsciente.
UM PRODUTO DE INSANIDADE
Deveríamos sustentar que homens como Moisés, Samuel, Natã, Elias, Amós, Miquéias, Isaías
e Jeremias eram mentalmente perturbados, vítimas de alucinações? Isso, de fato, tem sido
frequentemente afirmado. No entanto, em que base? Esforços frenéticos foram feitos para
provar a natureza patológica dos profetas. No entanto, nenhum vestígio ou sintoma de
anormalidade ou frenesi foi detectado em Moisés ou Isaías, em Amós ou Jeremias. Por outro
1

lado, a maneira pela qual os profetas lidavam com as questões de seu próprio tempo e o fato
de que as soluções que eles propunham parecem ser relevantes para todos os tempos
obrigaram as pessoas em todas as gerações a repetir um lugar comum: os profetas estavam
entre o mais sábio de todos os homens. Sendo a mensagem deles muito antes do pensamento
humano, seria difícil acreditar na normalidade de nossas próprias mentes, se as
questionássemos. De fato, se isso é insanidade, devemos sentir vergonha de ser sãos.
E, por mais improvável que seja, que sinais de doença sejam traçados na vida dos profetas,
como Nietzsche afirmou em sua famosa generalização: "Não parece possível ser um artista e
não estar doente" . ainda seria absurdo rejeitar sua reivindicação. Não é mais significativo
2

sustentar que uma pessoa precisa estar doente para ver o que aqueles que são beneficiados
por sua robustez e complacência não conseguem perceber? A normalidade biológica não é
um pré-requisito da percepção espiritual.
AUTO-DELUSÃO
Os profetas foram vítimas de auto-ilusão? A revelação era uma zombaria, uma armadilha? A
auto-ilusão é geralmente a consecução de um objetivo ilusório, que ocorre quando alguém
falha em atingir um objetivo genuíno pelo qual se esforça. Mas o dom de profecia não era
uma meta para a qual os profetas se esforçavam.
Diferentemente da experiência mística alcançada como resultado do desejo de comunhão
com Deus, a revelação ocorreu contra a vontade do profeta. Não era um favor para ele, mas
um fardo de terror. Para Isaías (6: 5), a percepção de Deus é um empreendimento repleto de
choque, perigo e consternação, algo que é mais do que sua alma pode suportar:

Ai de mim!
Estou desfeito!
... Pois meus olhos viram o rei.

Moisés escondeu o rosto; ele tinha medo de olhar para Deus (Êxodo 3: 6). Quando chamados,
os profetas recuaram, resistiram e pediram para serem deixados sozinhos. “Ó Senhor, envia,
peço-te, outra pessoa”, foi a resposta de Moisés à missão. É uma resistência tão incrível que
permite que um profeta honestamente diga Não eu, mas Deus: “Assim diz o Senhor.” Não é a
experiência de resistência à experiência uma marca de veracidade, autenticidade - ou isso
também é parte de auto-decepção?
Nenhum dos profetas tinha interesse em proteger ou nutrir o desejo de ganhar poder ou
prestígio. Nenhum deles estava apaixonado por ser profeta ou até se orgulhava de sua
realização. Foi a busca pela felicidade que levou Jeremias a ser profeta? Aqui está a resposta
dele:

Maldito o dia em
que nasci ...
porque ele não me matou do ventre;
E assim minha mãe teria sido minha sepultura ...
Por que saí do ventre
para ver trabalho e tristeza, para
que meus dias sejam consumidos com vergonha.
20: 14,17,18

Ao longo da vida de um profeta, as palavras são invisivelmente inscritas: Todos os elogios


abandona-vos, que entra aqui. Mas lisonja é aquilo que as pessoas gostam de ouvir. Aquele
que carrega a tocha da esperança acende entusiasmo e recebe elogios. No entanto, quase
todo profeta verdadeiro começa com uma mensagem de perdição, e somente após longos
períodos de miséria e escuridão ele é capaz de falar do amanhecer e proclamar uma
mensagem de esperança.
Amargo é o gosto da palavra divina na alma do profeta; nenhuma recompensa é prometida a
ele e nenhuma recompensa poderia moderá-la. Na mesma hora em que a ligação chegou a
Ezequiel, foi-lhe dito o que esperar: será como se espinhos e espinhos estivessem com ele,
como se ele habitasse entre escorpiões. "Não tenhas medo, não te assustes" (Ezequiel 2: 6).
Solidão e miséria eram apenas parte da recompensa que a profecia trouxe a Jeremias:
“Sentei-me sozinho por causa da tua mão” (15:17). Zombado, censurado e perseguido, ele
pensaria em abandonar sua tarefa:
Se eu disser, não farei menção dEle, nem falarei mais em Seu nome, então há meu coração
como se fosse um fogo ardente, trancado em meus ossos. Estou cansado de perdoar e não
posso conter.
Jeremias 20: 9

Quão pouco barulho eles fizeram sobre si mesmos. Os profetas se consideravam servos, não
senhores, e aos seus olhos o ato de receber uma revelação não foi glorificado como um fato
significativo em si. Diferentemente da experiência mística, o significado da profecia não
estava naqueles que a perceberam, mas naqueles a quem a palavra deveria ser transmitida. A
experiência em si foi um começo, um meio, e não um objetivo. O objetivo não estava na
percepção da voz, mas em trazê-la para a realidade da vida das pessoas. Consequentemente,
a substância da profecia estava no conteúdo, e não no ato, e a revelação era um prelúdio para
a ação.
Do campo foram Amos a Beth El para prever em público que o rei de Israel morreria pela
espada e que o povo de Israel seria levado cativo para fora de sua terra. O padre, indignado
com a terrível mensagem, disse a Amós: vá, fuja e nunca profetize novamente em Beth El,
pois é o santuário do rei e uma casa real. Mas o profeta respondeu:

Eu não era profeta nem discípulo de profeta; Eu era pastor e aparador de plátanos. E o
Senhor me impediu de seguir o rebanho e me disse: Vai profetizar ao meu povo Israel. Agora,
pois, ouve a palavra do Senhor:

Tu dizes: Não profetizes contra Israel,


nem pregas contra a casa de Isaque;
Portanto, assim diz o Senhor:
Tua esposa será prostituta na cidade,
e teus filhos e tuas filhas cairão à espada,
e tua terra será dividida em linha;
E tu morrerás numa terra imunda,
e Israel certamente será levado cativo para fora da sua terra.
Amós 7: 14-17

O profeta não se ofereceu para sua missão legítima; foi forçado a ele. Como ele pôde resistir
ao poder de Deus? "A mão de Deus veio sobre ele" (Ezequiel 3:22). Ele foi seduzido, foi
dominado (Jeremias 20: 7). Não havia escolha.

O leão rugiu:
Quem não temerá?
O Senhor Deus falou:
Quem não pode profetizar?
Amós 3: 8

Quanto a mim, estou cheio de poder,


com o espírito do Senhor,
com justiça, com força,
para declarar a Jacó sua transgressão,
a Israel seu pecado.
Miquéias 3: 8
UMA INVENÇÃO PEDAGÓGICA
E isso também é uma teoria. Os profetas, assim como os filósofos da Grécia, chegaram a suas
idéias por especulação ou intuição, mas com o desejo de impressionar as pessoas com sua
autoridade, eles inventaram uma história sobre revelação. Talvez eles não estivessem
interessados em obter prestígio pessoal, mas, com o desejo de promover uma melhoria
moral ou espiritual das condições de seu povo, eles poderiam estar dispostos a usar uma
mentira, pensando que um bom propósito justificava o mal.
Ninguém familiarizado com o rigorismo espiritual e a falta de justiça própria dos profetas
poderia concebivelmente atribuir a eles essa maneira de pensar. Poderia um homem como
Isaías, que se sentiu abalado pelo poder avassalador da santidade de Deus, ter inventado uma
história como a de sua visão (capítulo 6)? O temor de Deus era muito restritivo para permitir
que os profetas tomassem o nome de Deus em vão. Esta não é a essência de todos os seus
pensamentos: Acima de tudo, Deus abomina o engano?
É concebível que os homens que colocaram a demanda de Deus pela justiça mesmo acima
dos interesses de seu próprio país e acima da glória de seu próprio santuário - e que
condenaram a mentira como um mal fundamental - devessem viver de uma mentira?
Além disso, a profecia não foi um episódio na vida de alguns indivíduos, e seria mais
fantástico supor que, geração após geração, homens da mais alta paixão pela verdade, do
mais profundo desprezo pela fraude, todos planejavam e conspiravam para enganar as
pessoas. de Israel. Moisés orou por um povo de coniventes quando disse: "Seriam todas as
pessoas profetas"?
CONFUSÃO
Talvez devêssemos dizer que as elevadas reivindicações dos profetas foram o resultado de
sua incapacidade de analisar corretamente sua vida interior, de confundirem um sentimento
nascido no coração com uma idéia que lhes foi dada de fora? A profecia foi, então, o resultado
de confusão mental? Agora, os profetas afirmaram que muitas de suas experiências não eram
momentos de receptividade passiva ou apenas ouvir uma voz, mas dialogar com Deus, e ao
registrar suas experiências, eles distinguiram claramente entre as palavras que ouviram e as
que proferiram. Esse fato não atesta sua capacidade de discernimento?
3

Além disso, as circunstâncias obrigaram os profetas a discernir claramente entre a voz do


coração e a voz de Deus. Algo aconteceu:

Uma coisa terrível e horrível


aconteceu na terra:
os profetas profetizam falsamente,
e os sacerdotes governam à sua disposição.
E meu povo gosta de tê-lo assim.
Jeremias 5:31

Jeremias, por exemplo, não questionou a sinceridade de todos os chamados "falsos profetas".
Ele os condenou por confundirem "um sonho" com uma mensagem divina. Pois assim diz o
Senhor:

Ouvi o que os "profetas" disseram:


Aqueles que profetizam mentiras em Meu nome, dizendo:
"Sonhei, sonhei."
Quanto tempo isso será ...?
O profeta que tem um sonho, conte-o
;
E quem tem uma palavra, diga a
minha palavra,
fielmente,
diz o Senhor.
O que o joio tem em comum com o trigo?
Diz o Senhor.
A minha palavra não é como fogo?
Diz o Senhor;
E como um martelo que quebra a pedra
em pedaços?
Jeremias 23: 25-29

É inquestionável que, ao condenarem “os falsos profetas que profetizam de seu próprio
coração” (Ezequiel 13:17), invocando-os em nome de Deus: “você diz: o Senhor diz, e eu não
falei” (Ezequiel 13: 7), “os profetas profetizam mentiras em meu nome: não os enviei, nem
os ordenei, nem falei com eles; eles profetizaram uma visão mentirosa, adivinhação, nada de
mais, o engano de seu próprio coração ”(Jeremias 14:14) - homens como Jeremias e Ezequiel
manifestaram uma atitude crítica em relação à profecia como tal. Como eles argumentaram
não apenas contra as idéias, mas principalmente contra a alegação dos falsos profetas de que
haviam recebido a palavra de Deus, eles devem ter tido um critério para distinguir entre
experiência e ilusão. Sempre existem imitadores, mas o valor do genuíno nunca é
prejudicado pela abundância de imitação e falsificação.
A palavra dos profetas não foi proclamada para uma sociedade crédula e primitiva. O povo
de Israel, cujo país sentiu o impacto das grandes civilizações vizinhas do Egito e da Babilônia,
conhecia o mundo e a sabedoria de outras nações. Eles estavam longe de estar predispostos
a aceitar a afirmação profética. A história da atividade dos profetas é de encontrar constante
rivalidade, oposição e descrença. Se a história da profecia tivesse sido uma invenção do
escritor bíblico, teria sido a história de um povo que foi levado à fé pelo poder da profecia. Em
vez disso, a oposição aos profetas é registrada com honestidade imprudente.
O que deu aos profetas a certeza de que eles testemunharam um evento divino e não uma
invenção de sua própria imaginação? A marca de autenticidade do caráter divino da
revelação não estava em sinais externos, visíveis ou sonoros; a revelação não dependia de
uma percepção sensorial específica, de ouvir uma voz ou ver uma luz. Um trovão no céu azul,
uma voz vinda do nada, um efeito sem uma causa visível, não seria suficiente para identificar
uma percepção como uma comunicação divina. Imensos pedaços da realidade natural,
chuvas de luz lançadas sobre a mente, mesmo que não fossem fantasmagóricas, apenas
manifestariam uma força da natureza, não Deus.
Esta, ao que parece, era a marca da autenticidade: o fato de a revelação profética não ser
apenas um ato de experiência, mas um ato de ser experimentado, de ser exposto a, chamado,
oprimido e dominado por Aquele que busca aqueles a quem Ele envia para a
humanidade. Não é Deus quem é uma experiência do homem; é o homem que é uma
experiência de Deus.
O ESPÍRITO DA IDADE
Ainda existe outra maneira de explicar a profecia. A história nos mostrou como os homens
são influenciados em seus pensamentos e sentimentos pelo "espírito da época" em que
vivem. Na época em que os profetas viviam, era comum a crença de que as divindades se
revelavam aos homens. Poderia ter sido fácil ser vítima de uma ilusão. No entanto, por que
“o espírito da época” não produziu profetas na Assíria e na Babilônia, entre os fenícios ou
cananeus? Conhecendo a antiga literatura oriental como hoje, é fácil imaginar como a vida e
as letras do antigo Israel poderiam ter sido sem inspiração divina.
Quando os vizinhos do norte de Israel, os moabitas, estavam em guerra e seu rei Messa viu
que a batalha estava indo contra ele, "ele pegou seu filho mais velho, que reinaria em seu
lugar, e o ofereceu como holocausto em o muro ”(II Reis 3:27). Também os reis de Israel,
Acaz e Manassés, queimaram seus filhos como oferendas "segundo as práticas abomináveis
das nações" (II Reis 16: 3; ver 21: 6). Se os profetas foram inspirados pelo "espírito da época",
por que expressaram horror a tais atos de "suprema piedade"? Por que a adoração ao Deus
de Israel não era como a adoração a Baal ou Tamuz?
Religião e piedade são encontradas entre todas as nações. Mas os profetas foram aqueles que
em nome de Deus se levantaram contra o que a maioria das pessoas até hoje chama de
religião.
De fato, a natureza da Bíblia é precisamente algo que não é consistente com tudo o que
sabemos sobre as circunstâncias históricas sob as quais ela ocorreu. Teria sido mais
consistente com nosso entendimento geral, se as grandes idéias religiosas tivessem sido
dadas aos sábios do Egito ou de Atenas, em vez de aos sem-teto que perambulavam e
morriam de fome no deserto da península do Sinai. A maravilha da Bíblia é contrária a todas
as expectativas humanas, e se não fosse por sua aparente glória espiritual ou pelo poder
inexplicável da fé humana, teria sido rejeitada como absurda e improvável.
O SUBCONSCIENTE
Foi o subconsciente que atuou como promotor nas experiências dos profetas? A Bíblia surgiu
do turbilhão do poder psíquico, gerado pelo desejo e pela imaginação? Tal visão, embora não
questionasse a integridade ou a sanidade dos profetas, os classificaria como enganadores
enganados; embora não nos aproxime de uma compreensão do que realmente aconteceu,
apenas substituiria um enigma pelo mistério. O subconsciente é uma hipótese tão ampla e
vaga que dificilmente nos é mais positiva do que a idéia do sobrenatural. Quão estranho é
que o demônio astuto do subconsciente, apesar de sua onipresença e vitalidade implacável,
não tenha produzido em outros lugares obras de tão sublime poder! Os caminhos da
imaginação abertos pelas mitologias eram certamente ilimitados, mas aonde eles
levaram? Onde mais uma idéia divina santificou a história? Onde mais a história de um povo
se tornou escritura sagrada?
Assumir que a revelação profética era a expressão de um desejo oculto no coração do profeta,
do qual ele não apenas desconhecia, mas resistia, pressupunha a ação de um poder espiritual
tão sábio e sagrado que haveria nenhum outro nome para isso, exceto Deus.

A revelação pode ser duvidosa ou afirmada, mas nem negada nem provada. Tudo o que nos
é dado são os registros dos profetas, e nenhum de nós pode sondar além de suas palavras ou
examinar diretamente suas experiências. Não existem fundamentos científicos que nos
obrigariam a considerar a revelação como uma experiência subjetiva, enquanto, por outro
lado, os próprios profetas que foram os primeiros críticos dos chamados falsos profetas,
enfaticamente afirmaram o caráter não subjetivo de suas experiências. .
E se, além de todas as respostas e garantias, a dúvida continua tremendo: nem o gênio está
sujeito a erros? Não é o conhecimento do profeta do seu encontro com Deus muito pequeno,
muito interno, muito subjetivo para ser edificado? Por que a humanidade deveria apostar
suas decisões mais importantes na confiabilidade de um punhado de homens? Os “falsos
profetas” também não tiveram certeza de terem recebido revelações?
De fato, não é a opinião do profeta sobre sua experiência, sua sabedoria ou autoconsciência
que é o sinal final da evidência. Quão significativo é que Moisés não foi louvado por sabedoria
ou heroísmo; ele não era, como Salomão, o mais sábio, mas o mais humilde dos homens
(Números 11: 3); nem era engenhoso ou infalível. “Meu servo Moisés não é assim: ele é
confiado em toda a minha casa” (Números 12: 7).
Transmitir em palavras a vontade de Deus era mais fácil do que colocar em palavras o ato da
revelação. Se um profeta tentasse ir além das dicas ao descrever sua experiência, ele teria
nos contado tudo sobre isso como um grande poeta poderia contar a um urso polar sobre a
primavera na Itália. Mais comunicativa que a descrição é a escassez de descrição e a
incapacidade de dizer muito mais do que Assim diz o Senhor. A luz com que um profeta se
acende lança na sombra seu próprio poder de visão e autoconsciência.
Quando Moisés desceu do monte Sinai, com as duas tábuas nas mãos, todo o povo de Israel
viu que seu rosto emitia raios; e eles tiveram medo de se aproximar dele. Apenas Moisés não
sabia que seu rosto emitia raios.
NÃO EXISTEM PROVAS
“Eu digo que há um limite para a razão humana e, enquanto a alma reside no corpo, ela não
pode compreender o que está acima da natureza, pois nada que está imerso na natureza pode
ver acima dela. A razão é limitada à esfera da natureza e é incapaz de entender o que está
acima de seus limites. Saibam que existe um nível de conhecimento superior a toda filosofia,
ou seja, profecia. A profecia é uma fonte e categoria de conhecimento diferentes. Prova e
exame não são aplicáveis a ele. Se a profecia é genuína, não pode e não precisa depender da
validação da razão. O único teste já solicitado a um profeta nas Escrituras diz respeito à
genuinidade de sua afirmação de ter profecia, mas ninguém nunca pediu provas, razões ou
validações acima da própria profecia…. Razão e prova não podem aspirar ao nível de insight
em que a profecia existe - como então eles podem provar ou refutá-la? (…) Ninguém pode
exigir validações da razão ou provas da lógica da Torá, a menos que primeiro negue a
autenticidade da alegação de Moisés à profecia. Nossa fé é baseada no princípio de que as
palavras de Moisés são profecias e, portanto, estão além do domínio da especulação,
validação, argumento ou prova. A razão é inerentemente incapaz de julgar a área de onde a
profecia se origina. Seria como tentar colocar toda a água do mundo em um pequeno copo.
”4

Não há provas para demonstrar a beleza da música para um homem que é surdo e insensível,
e não há provas para a veracidade da afirmação do profeta para um homem que é
espiritualmente surdo e sem fé e sabedoria. As provas podem ajudar a proteger, mas não a
iniciar a certeza; essencialmente, são explicações do que já é intuitivamente claro para nós. 5

O objetivo do nosso “exame” dos profetas não era fornecer aos profetas uma carta de
recomendação, mas apontar para a dificuldade de uma rejeição total de suas
reivindicações. As provas não podem abrir as portas do mistério para todos os homens
contemplarem. A única coisa que podemos fazer é abrir os portões de nossa própria alma
para Deus nos contemplar, abrir os portões de nossas mentes e responder às palavras dos
profetas. É a palavra deles que dá força à sua reivindicação; é a história que dá força à sua
palavra.
NOTAS DO CAPÍTULO 24
1
Ver AJ Heschel, Die Prophetie, Cracóvia, 1936, pp. 8-40.
2
Wille zur Macht , 811.
3
Amós 7: 2-9, 15; 8: 1,2; Miquéias 7: 1-10; 18-20; Isaías 6: 5-12; 16: 9-11; 21: 2-10; 22: 4-
14; 25: 1-5; 26: 8-19; 29: 11-12; 40: 6; 49: 3-6; 50: 4-9; 64: 6-12; Jeremias 1: 6-14; 4:10, 19-
21; 5: 3-6; 10: 19-25; 12: 1-6; 14: 7-9, 13-14, 18-22; 15: 10-21; 17: 15-18; 18: 18-23; 20: 7-
18; 32: 16-25.
4
Maimonides em uma carta ao rabino Hisdai, em Kobets Teshubot
Harambam Weiggerotav, ed. Lichtenberg, Leipzig, 1859, II, pp. 23a-23b.
5
O homem não está sozinho , p. 83

25
A Bíblia e o mundo
A BÍBLIA É UMA ILUSÃO?
Nós discutimos a idéia de profecia; nós lidamos com a reivindicação dos profetas. Agora
devemos nos voltar para a própria Bíblia. A Bíblia não é uma idéia abstrata, uma
possibilidade espiritual. É mais do que uma afirmação feita por homens que viveram uma
vez. A Bíblia é uma realidade sempre presente, e é na presença da Bíblia que levantamos
novamente o problema da inspiração profética.
Em que fonte os profetas encontraram aquela corrente de insight que foi canalizada para os
livros da Bíblia? Quem lhes fez o que podem fazer conosco? O próprio coração irradiava uma
presunção capaz de iluminar a escuridão espiritual do mundo?
A resposta do profeta é sempre a mesma: Foi uma palavra de Deus que abrasou minha
língua. É correto ignorarmos, menosprezarmos ou comercializarmos essa reivindicação?
Somos confrontados com um fato teimoso. Uma galáxia de homens como Moisés, Natã, Elias,
Amós, Isaías e Jeremias, afirmam ter percebido uma palavra de Deus. Se a alegação deles for
falsa, não somos obrigados a condená-los como impostores que confundem a mente dos
homens há mais de três mil anos?
O caráter da Bíblia é uma questão muito embaraçosa; é importante demais para ser
ignorado. Mais inquietante que o problema pessoal, a saber, se estamos prontos para
acreditar, é a pergunta objetiva: a profecia bíblica é uma ilusão? A afirmação desta questão
está repleta de implicações graves. A questão, então, não é apenas se podemos acreditar na
revelação, mas também se podemos acreditar na negação da revelação.
DEUS É AUSENTE EM TODA PARTE?
Pode parecer fácil brincar com a idéia de que a Bíblia é um livro como muitos outros livros,
ou que a história do Sinai é um conto de fadas. No entanto, é nesse jogo que podemos arriscar
nosso compromisso, nosso vínculo com Deus.
Considere o que essa negação implica. Se Moisés e Isaías não conseguiram descobrir qual é
a vontade de Deus, quem o fará? Se Deus não é encontrado na Bíblia, onde devemos procurá-
lo?
A questão sobre a Bíblia é a questão sobre o mundo. É uma pergunta definitiva. Se Deus não
teve nada a ver com os profetas, então Ele não tem nada a ver com a humanidade. E se Deus
tinha algo a ver com os profetas, então os profetas não eram mentirosos nem impostores.
E, no entanto, nós, filisteus, continuamos insistindo em clichês intelectuais, estabelecendo
nossa própria vida como modelo e medida do que os profetas poderiam alcançar. Opomo-
nos à palavra dos profetas com nossas afirmações de que Deus nunca pode alcançar um
ouvido, Deus nunca se inclina para acender uma palavra na mente do homem. Mas este é o
princípio dos tolos: o que é inatingível para nós é inatingível para os outros. O homem
comum não é a medida. Não é uma conquista do homem que estamos explorando. É algo em
que o poder de Deus estava ativo. Não devemos dizer que Deus deve estar em conformidade
com nossos padrões. As banalidades de nossas teorias não devem decidir a maior
questão. Há muitas coisas entre Deus e o homem com as quais os estudiosos nunca
sonharam. A psicologia decide a validade das leis matemáticas? A história segue o caminho
previsto pela lógica?
O LUGAR DA BÍBLIA NO MUNDO
Qual é o lugar da Bíblia no mundo espiritual? A que a Bíblia deve ser comparada?
O livro que aversa:

A graça é enganosa
e a beleza é vã
deve ser avaliado por suas realizações estéticas? Algumas pessoas acham a Bíblia como
"literatura" como se essa justaposição fosse o maior elogio, como se "literatura" fosse o
1,

clímax da realidade espiritual.


O que Moisés, o que Isaías teria dito a tal louvor? Talvez o mesmo que Einstein teria dito, se
o manuscrito de sua teoria da relatividade fosse aclamado por sua bela caligrafia. Quem,
senão uma criança, alegaria que a essência do oceano é sua beleza? Ou que o significado das
estrelas está em seu charme?
Desde o século IX os maometanos têm apresentado como uma prova da origem divina do Islã
“a beleza do Corão”, ou “o insuperabilidade do estilo do Alcorão.” O mérito da reclamação
2

sempre escapou a compreensão dos não-muçulmanos . É significativo, no entanto, que a


qualidade estética da Bíblia nunca tenha sido usada como argumento para provar o dogma
da revelação. Como judeus e cristãos - até tempos recentes - não conseguiram ver que a
Bíblia é suprema em forma; que nunca pensamentos foram moldados de maneira mais
fina; que a imaginação de ninguém jamais concebeu uma obra comparável a ela em beleza
profunda, incansável e muitas vezes insuportável?
Todos temos necessidade de beleza e sede de expressão nobre. Beleza e expressão nobre em
graus variados podem ser encontradas em todo o mundo. Mas a alma precisa apenas de
beleza e expressão? A alma, acreditamos, precisa de consagração; para alcançar esse
objetivo, precisamos nos voltar para a Bíblia. Existem muitas literaturas, mas apenas uma
Bíblia.
A Bíblia é uma resposta para a pergunta: como santificar a vida. E se dissermos que não
sentimos necessidade de santificação, apenas provamos que a Bíblia é indispensável. Porque
é a Bíblia que nos ensina como sentir a necessidade de santificação.
O QUE A BÍBLIA FAZ
O que os profetas fizeram pela situação humana? Vamos tentar lembrar apenas algumas das
muitas coisas.
A Bíblia mostrou ao homem sua independência da natureza, sua superioridade às condições
e o exortou a perceber as tremendas implicações de atos simples. Não apenas as estrelas,
mas também as ações do homem, seguem um caminho que reflete ou perverte um
pensamento de Deus. O grau de nossa apreciação da Bíblia é, portanto, determinado pelo
grau de nossa sensibilidade à dignidade divina das ações humanas. A compreensão das
implicações divinas da vida humana é a mensagem distinta da Bíblia.
A Bíblia destruiu a ilusão do homem de estar sozinho. O Sinai quebrou o silêncio cósmico que
engrossa nosso sangue com desespero. Deus não se afasta dos nossos gritos; Ele não é
apenas um padrão, mas um poder, e a vida é uma resposta, não um solilóquio.
A Bíblia mostra o caminho de Deus com o homem e o caminho do homem com Deus. Contém
tanto a queixa de Deus contra os iníquos quanto o grito do homem ferido, exigindo justiça de
Deus.
E também há em suas páginas lembretes da incrível insensibilidade e obstinação do homem,
de sua imensa capacidade de provocar sua destruição, bem como da garantia de que, além
de todo mal, é a compaixão de Deus.
Quem procura uma resposta para a pergunta mais premente, o que é viver? encontrará uma
resposta na Bíblia: o destino do homem é ser um parceiro, e não um mestre. Há uma tarefa,
uma lei e um caminho: a tarefa é redenção, a lei, fazer justiça, amar a misericórdia, e o
caminho é o segredo de ser humano e santo. Quando estamos desesperados, quando a
sabedoria da ciência e o esplendor das artes não nos salvam do medo e do senso de futilidade,
a Bíblia nos oferece a única esperança: a história é um caminho tortuoso para os passos do
Messias.
SEM PALAVRAS MAIS SABER
Não há palavras no mundo mais conhecedoras, mais reveladoras e mais indispensáveis,
palavras severas e graciosas, dolorosas e curativas. Uma verdade tão universal: Deus é
um. Um pensamento tão consolador: Ele está conosco angustiado. Uma responsabilidade tão
avassaladora: Seu nome pode ser profanado. Um mapa do tempo: da criação à
redenção. Guias ao longo do caminho: o sétimo dia. Uma oferta: contrição do coração. Uma
utopia: gostaria que todas as pessoas fossem profetas. O insight: o homem vive por sua
fidelidade; seu lar está no tempo e sua substância em ações. Um padrão tão ousado: sereis
santos. Um mandamento tão ousado: ame o seu próximo como a si mesmo. Um fato tão
sublime: o pathos humano e divino pode estar de acordo. E um presente tão imerecido: a
capacidade de se arrepender.
A Bíblia é o maior privilégio da humanidade. É tão distante e tão direto, categórico em suas
demandas e cheio de compaixão em sua compreensão da situação humana. Nenhum outro
livro ama e respeita a vida do homem. Nenhuma música mais alta sobre sua verdadeira
situação e glória, sobre sua agonia e alegrias, miséria e esperança, jamais foi expressa, e em
nenhum lugar a necessidade de orientação do homem e a certeza de sua redenção final foram
tão profundamente concebidas. Tem as palavras que assustam os culpados e a promessa que
sustenta os desamparados. E quem procura uma linguagem na qual proferir sua
preocupação mais profunda, orar, a encontrará na Bíblia.
A Bíblia não é um fim, mas um começo; um precedente, não uma história. Sua inserção em
situações históricas particulares não a impediu de ser eterna. Nada nele é clandestino ou
banal. Não é um épico sobre a vida dos heróis, mas a história de todo homem em todos os
climas e idades. Seu tópico é o mundo, toda a história, contendo o padrão de constituição de
uma humanidade unida, bem como orientações para o estabelecimento de tal união. Mostra
o caminho para as nações e também para os indivíduos. Ele continua a espalhar sementes de
justiça e compaixão, ecoar o clamor de Deus para o mundo e perfurar a armadura de
insensibilidade do homem.
A SINGULARIDADE DA BÍBLIA
Quando um grande poeta aparece, ele não oferece prova de que é poeta. Sua poesia fala por
si mesma, criando em nós o poder de apreciar sua visão nova e excepcional da vida, ao preço
de abandonar concepções estabelecidas. Não identificamos sua obra como poesia por meio
de noções preconcebidas. O gênio se identifica.
A Bíblia não precisa de prova de sua singularidade. Ao longo dos tempos, exerceu poder
sobre o espírito do homem, não porque foi rotulado como "A Palavra de Deus" e foi
derramado na mente do homem através do funil de um dogma, mas porque continha uma
luz que incendiava as almas. Se tivesse chegado até nós sem tal renome, sem tal rótulo, nosso
espanto por seus poderes teria sido ainda mais forte.
Por que a Bíblia supera tudo o que foi criado pelo homem? Por que não há trabalho digno de
comparação com ele? Por que não há substituto para a Bíblia, nem paralelo à história que ela
gerou? Por que todos os que buscam o Deus vivo se voltam para suas páginas?
Coloque a Bíblia ao lado de qualquer um dos grandes livros produzidos pelo gênio do homem
e veja como eles diminuem de estatura. A Bíblia não mostra preocupação com a forma
literária, com a beleza verbal, mas sua sublimidade absoluta soa em todas as suas
páginas. Suas linhas são tão monumentais e ao mesmo tempo tão simples que quem tenta
competir com elas produz um comentário ou uma caricatura. É um trabalho que não
sabemos avaliar. A linha de bolsa decadente não pode sondar sua profundidade, nem a
análise crítica jamais compreenderá sua essência. Outros livros que você pode estimar, pode
medir, comparar; a Bíblia você só pode exaltar. Suas idéias superam nossos padrões. Não há
nada maior.
Não é verdade que a Bíblia é o único livro em todo o mundo que nunca pode ser substituído,
o único livro sem o qual nosso passado e nosso futuro são sombrios, sem sentido e
insuportáveis? Ninguém pode usurpar seu lugar, ninguém pode herdar seu papel. Alguém
tem medo de elogiar.
COMO CONTAR POR TI
Outros livros que você pode tentar explicar, mas uma tentativa de explicar a Bíblia é uma
oportunidade suprema de se tornar ridícula.
Use sua imaginação e tente conceber um livro que supere a Bíblia, e você admitirá que o
poder do espírito nunca foi além da Bíblia. Onde está a mente que poderia expressar seu
valor? Ao tentar avaliá-lo, você descobre que a mente é incongruente com a tarefa. Não é um
livro - é o limite do espírito na terra.
Nosso coração para quando ponderamos sua terrível grandeza. É a única coisa no mundo
que podemos associar à eternidade; a única coisa no mundo que é eterna. O livro eterno. A
Terra pode não ser o planeta mais importante, nossa era pode não ser a única. Mas neste
mundo, nesta era, a Bíblia é o vaso mais duradouro do espírito.
Como devemos entender esse fato incompreensível? Como e de onde surgiu? Quais foram as
circunstâncias que permitiram que essa maravilha incomparável acontecesse? Se Deus ficou
calado enquanto Moisés vivia, se Deus não falava enquanto Moisés ouvia, então Moisés era
um ser cuja natureza superava qualquer coisa humana; então a origem da Bíblia não é um
mistério, mas uma escuridão total.
A onipotência da Bíblia
A onipotência de Deus nem sempre é perceptível, mas a onipotência da Bíblia é o grande
milagre da história. Como Deus, muitas vezes é mal utilizado e distorcido por mentes
impuras, mas sua capacidade de suportar os ataques mais cruéis é ilimitada. O vigor e a
veracidade de suas idéias são perceptíveis sob a ferrugem de dois milênios de debates e
dogmas: não desaparecem apesar da teologia nem caem sob abuso. A Bíblia é o movimento
perpétuo do espírito , um oceano de significado, suas ondas batendo contra as deficiências
abruptas e íngremes do homem, seu eco atingindo os becos sem saída da luta com desespero.
Nenhuma prova mais triste pode ser dada por um homem com sua própria opacidade
espiritual do que sua insensibilidade à Bíblia. “Um navio que parece grande no rio parece
minúsculo quando está no oceano.” A grandeza da Bíblia se torna mais manifesta quando
estudada dentro da estrutura da história universal, e sua majestade aumenta com a
familiaridade do leitor.
Irrefutável, indestrutível, nunca cansada pelo tempo, a Bíblia perambula através dos tempos,
dando-se com facilidade a todos os homens, como se pertencesse a toda alma na terra. Fala
em todas as línguas e em todas as épocas. Beneficia todas as artes e não compete com
elas. Todos nós recorremos a ela, e ela permanece pura, inesgotável e completa. Em três mil
anos, não envelhece um dia. É um livro que não pode morrer. Oblivion evita suas páginas. Seu
poder não está diminuindo. De fato, ele ainda está no início de sua carreira, o significado
completo de seu conteúdo mal tocou o limiar de nossas mentes; como um oceano no fundo
do qual incontáveis pérolas jazem à espera de serem descobertas, seu espírito ainda está por
se desdobrar. Embora suas palavras pareçam claras e seu idioma translúcido, significados
despercebidos, intuições não sonhadas surgem constantemente. Mais de dois mil anos de
leitura e pesquisa não conseguiram explorar todo o seu significado. Hoje é como se nunca
tivesse sido tocado, nunca visto, como se nem sequer tivéssemos começado a lê-lo.
Seu espírito é demais para uma geração suportar. Suas palavras revelam mais do que
podemos absorver. Tudo o que geralmente realizamos é a tentativa de nos apropriar de
algumas linhas simples, para que nosso espírito se torne sinônimo de passagem.
PRECIOSO PARA DEUS

Toda a carne é erva,


e toda a sua bondade é como a flor do campo.
A grama murcha, a flor desbota,
mas a palavra do nosso Deus permanecerá para sempre.
Isaías 40: 6-7,8

Nunca antes e nunca desde que tal afirmação foi expressa. E quem duvidará que a alegação
tenha sido verdadeira? A palavra falada ao povo de Israel não penetrou em todos os cantos
do mundo e foi aceita como a mensagem de Deus em mil idiomas? Por que morreram muitas
religiões que não nasceram de sua semente, enquanto toda geração acolhe de novo o espírito
que brota dela? De fato, incontáveis cultos, estados, impérios secaram como grama; livros
aos milhões estão nos túmulos; “Mas a palavra de nosso Deus permanecerá para sempre.”
Em momentos de grande crise, todos fracassam - sacerdotes, filósofos, cientistas - apenas os
profetas prevalecem.
A sabedoria, o ensino e os conselhos da Bíblia não estão em conflito com as realizações finais
da mente humana, mas antes, bem à frente de nossas atitudes. A idéia da igualdade do
homem, por exemplo, tornou-se um lugar-comum em nossas bocas, mas a que distância está
de ser um insight irresistível ou uma convicção honesta e ineradicável? A Bíblia não está
atrasada; está muito à frente de nossas aspirações.
Há uma coisa que devemos tentar imaginar. No turbilhão da história, a Bíblia poderia ter sido
perdida; Abraão, Moisés, Isaías retiveram como vagas lembranças. O que estaria faltando no
mundo, qual seria a condição e a fé do homem, se a Bíblia não tivesse sido preservada?
É a fonte dos melhores esforços do homem no mundo ocidental. Ele suscitou mais santidade
e compaixão da humanidade do que somos capazes de compreender. A maior parte do que é
nobre e justo é derivada de seu espírito. Ele deu origem e forma a uma miríade de coisas
preciosas na vida de indivíduos e povos.
Livre de qualquer tipo de interesses, de classe ou nação; livre de qualquer consideração pelas
pessoas, seja Moisés, o mais alto dos profetas, seja Davi, o mais reverenciado dos reis; sem
restrições por deferência falsa a qualquer instituição, seja o estado de Judá ou o templo em
Jerusalém; é um livro que pode ser precioso não apenas para o homem, mas para Deus. Seu
objetivo não é registrar a história, mas registrar o encontro do divino e do humano no nível
da vida concreta. Incomparavelmente mais importante do que toda a beleza ou sabedoria
que isso confere às nossas vidas é a maneira como ela abre ao homem uma compreensão do
que Deus significa, de alcançar a santidade pela justiça, pela simplicidade da alma, pela
escolha. Acima de tudo, nunca deixa de proclamar que a adoração a Deus sem justiça ao
homem é uma abominação; enquanto o problema do homem é Deus, o problema de Deus é
o homem.
SANTIDADE NAS PALAVRAS
A Bíblia é santidade em palavras . Para o homem de nossa época, nada é tão familiar e banal
quanto as palavras. De todas as coisas, elas são as mais baratas, mais abusadas e menos
estimadas. Eles são os objetos da contaminação perpétua. Todos vivemos neles, sentimos
neles, pensamos neles, mas, ao não manter sua dignidade independente, a respeitar seu
poder e peso, eles se tornam vacilantes, esquivos - um bocado de poeira. Quando colocados
3

diante da Bíblia, cujas palavras são como moradias feitas de pedra, não sabemos como
encontrar a porta.
Algumas pessoas podem se perguntar: por que a luz de Deus foi dada na forma de
linguagem? Como é concebível que o divino esteja contido em vasos frágeis como consoantes
e vogais? Essa questão trai o pecado de nossa época: tratar levemente o éter que carrega as
ondas de luz do espírito. O que mais no mundo é capaz de unir homem e homem através das
distâncias no espaço e no tempo? De todas as coisas na terra, apenas palavras nunca
morrem. Eles têm tão pouca matéria e tanto significado.
A Bíblia não lida com a divindade, mas com a humanidade. Abordando os seres humanos
sobre assuntos humanos, cuja linguagem deve ser empregada, se não a do homem? E, no
entanto, é como se Deus tomasse essas palavras hebraicas e soprasse nelas do Seu poder, e
as palavras se tornassem um fio vivo carregado de Seu espírito. Até hoje são hífens entre o
céu e a terra.
Que outro meio poderia ter sido empregado para transmitir o divino? Fotos esmaltadas na
lua? Estátuas escavadas nas Montanhas Rochosas? O que há de errado com a ancestralidade
humana do vocabulário das escrituras?

Se a Bíblia fosse um templo , igual em majestade e esplendor à simples grandeza de sua forma
atual, sua linguagem divina poderia ter carregado o sinal da dignidade divina com força mais
inegável para a maioria das pessoas. Mas o homem teria adorado Sua obra ao invés de Sua
vontade ... e é exatamente isso que a Bíblia tentou impedir.
Assim como é impossível conceber Deus sem o mundo, também é impossível conceber Sua
preocupação sem a Bíblia.
Se Deus está vivo, a Bíblia é a sua voz. Nenhuma outra obra é tão digna de ser considerada
uma manifestação de Sua vontade. Não há outro espelho no mundo em que Sua vontade e
orientação espiritual sejam tão inconfundivelmente refletidas. Se a crença na imanência de
Deus na natureza é plausível, então a crença na imanência de Deus na Bíblia é convincente.
ISRAEL COMO EVIDÊNCIA
O judaísmo não é uma religião profética, mas a religião de um povo. Profetas também foram
encontrados em outras nações. Única foi a entrada da santidade na vida de todo o Israel e o
fato de a profecia ser traduzida na história concreta, em vez de permanecer uma experiência
particular dos indivíduos. A revelação bíblica ocorreu não para o benefício dos profetas, mas
para o bem de Israel e de todos os homens.
Em quase todos os cultos e religiões, certos seres, coisas, lugares ou ações eram considerados
santos. No entanto, a idéia da santidade de um povo inteiro, Israel como povo santo, não tem
paralelo na história da humanidade. Santidade é a palavra mais preciosa da religião e só foi
usada para descrever o que se acreditava ser uma manifestação inegável em um certo ser de
uma qualidade sobrenatural surpreendente. Somente eventos extraordinários e
sobrenaturais na vida de todo Israel teriam possibilitado o uso do termo "povo santo".
Se Israel nunca tivesse recebido uma revelação, o quebra-cabeça teria sido maior. Como, de
todas as nações, um povo obscuro e politicamente insignificante adquiriu o poder de falar
pelas almas de todos os homens no mundo ocidental?

A maravilha de Israel, a maravilha da existência dos judeus, a sobrevivência da santidade na


história de Israel é uma verificação contínua da maravilha da Bíblia. A revelação a Israel se
tornou uma revelação através de Israel.
Christian Fürchtegott Gellert, quando perguntado por Frederico, o Grande: “Herr Professor,
me dê uma prova da Bíblia, mas brevemente, pois tenho pouco tempo”, respondeu:
“Majestade, os judeus”. 4

COMO COMPARTILHAR A CERTEZA DE ISRAEL


Nossa atitude em relação à Bíblia é mais do que um problema de fé individual isolada. É como
membros da comunidade de Israel que nossa decisão final deve ser tomada. Afastado da
comunidade de Israel e de sua resposta contínua, quem poderia entender a voz? Estamos
perto do povo repreendido, da situação em que as palavras foram ditas, bem como dos
profetas. Como judeus, somos contemporâneos espirituais do profeta.
Não é a rejeição de um dogma que nos separaria da Bíblia, mas o rompimento dos laços que
nos ligam às pessoas que viviam com a voz.
Nosso problema, então, é como compartilhar a certeza de Israel de que a Bíblia contém aquilo
que Deus quer que saibamos e que escutemos; como alcançar um sentido coletivo para a
presença de Deus nas palavras bíblicas. Nesse problema está o dilema do nosso destino, e na
resposta está o amanhecer ou a destruição.
NÃO POR PROVA
Aquele que não consegue se decidir, que não apresentará sua alma à Bíblia até que as razões
de sua dignidade divina tenham percorrido todo o caminho em sua mente, é como uma
pessoa que se recusa a olhar para uma pintura antes que possa decifrar o significado. nome
do artista assinado em seu canto. Ele não percebe que é o trabalho que identifica a
assinatura. As assinaturas podem ser falsificadas, uma obra de arte deve ser
criada. Esquecemos facilmente que as razões também precisam de razões; que nenhuma
prova é definitiva ou autossustentável.
A Bíblia é sua própria testemunha. A evidência para sua origem única é a auto-evidência. Ao
longo dos tempos, identificou-se como uma voz de Deus. Se há algo no mundo que já mereceu
o atributo do divino, é a Bíblia. Existem muitos livros sobre Deus: a Bíblia é o livro de
Deus. Divulgar o amor de Deus pelo homem, abriu nossos olhos para ver a unidade daquilo
que é significativo para a humanidade e o que é sagrado para Deus, mostrando-nos como
fazer uma nação, não apenas a vida de um indivíduo, santo. Ela sempre apresenta uma nova
promessa às almas fracassadas e honestas, enquanto aqueles que a descartam cortejam um
desastre.
Nós não aceitamos a palavra de Deus por causa da prova um, dois, três…. Aceitamos isso
porque, ao abordá-lo, nossas esplêndidas idéias empalidecem, porque mesmo provas
indiscutíveis parecem vulgares ao som de palavras proféticas. Não decidimos recorrer à
Bíblia por motivos; nos voltamos para a Bíblia para encontrar um significado para a
existência que dê firmeza a todas as razões.
Mas nossas idéias podem estar erradas. Não é possível que todos nós tenhamos sido
enganados? De fato, tudo é concebível, mas, nesse caso, não devemos esquecer o que essa
possibilidade implica.
Negar a origem divina da Bíblia é marcar toda a história dos esforços e realizações espirituais
no judaísmo, no cristianismo e no islamismo como resultado de uma mentira colossal, o
triunfo de um engano que capturou as melhores almas por mais de dois mil anos. No entanto,
uma afirmação como essa seria um choque tão formidável que repercutirá em nossa própria
capacidade de fazer tal afirmação. Se as melhores almas são tão frágeis, como podemos
reivindicar obter conhecimento sobre o auto-engano dos profetas? O que restaria para nós,
exceto se desesperar? A Bíblia se originou em uma mentira ou em um ato de Deus. Se a Bíblia
é um engano, então o diabo é todo-poderoso e não há esperança de alcançar a verdade, nem
confiança no espírito; nosso próprio pensamento seria inútil e nossos esforços inúteis. Por
fim, não aceitamos a Bíblia por razões, mas porque se a Bíblia é uma mentira, todas as razões
são falsas.
NOTAS DO CAPÍTULO 25
1
A teoria de que a Bíblia é literatura foi, de fato, mantida pelos contemporâneos de Ezequiel. O
profeta é encarregado pelo Senhor de dizer à “floresta”: “Ouça a palavra do Senhor: Assim
diz o Senhor Deus: Eis que acenderei um fogo em ti e devorará toda árvore verde em ti… e
todas as faces do sul para o norte serão queimados por esse meio. E toda a carne verá que
eu, o Senhor, a acendi; não será extinto. ”Mas o profeta sabia o que seu povo iria manter, e
ele disse ao Senhor:“ Ah, Senhor Deus! Eles dizem de mim: Ele não faz parábolas? ”(Ezequiel
21: 1-5).
“Ai do homem que considera a Torá um mero livro de histórias e assuntos do cotidiano! Se
assim fosse, nós, até nós, poderíamos compor uma Torá que lida com assuntos cotidianos
e de excelência ainda maior . Não, os príncipes do mundo possuem livros de maior valor que
poderíamos usar como modelo para compor uma dessas Torá. ”Zobar III 152a. Uma
apreciação das qualidades literárias da Bíblia é encontrada, no entanto, em Moses Ibn Ezra,
Shirat Israel.
2
Ver Tor Andrae, Die Person Muhammeds , Estocolmo, 1918, p. 97, e Gustave E. von
Grunebaum, Medieval Islam, Chicago, 1946, p. 94ff. Sobre as reservas dos mutazilitas, ver I.
Goldizher Vorlesungen ueber den Islam, Heidelberg, 1910, p. 102
3
AJ Heschel, A Busca do Homem por Deus , p. 25)
4
A. Jeremias, Juedische Froemmigkeit, p. 57

26
Fé com os Profetas
FÉ COM OS PROFETAS
A fé nos profetas não é a única base para o que pensamos sobre a Bíblia. Este poderia ter sido
o caso se tudo o que tínhamos fosse o relato deles sobre suas experiências. O fato é que
estamos sendo desafiados não apenas por esses relatórios, mas pelo que saiu nessas
experiências. A própria Bíblia é dada para todos os homens absorverem. De fato, este é o
caminho: da capacidade de ter fé na fé dos profetas à capacidade de compartilhar a fé dos
profetas no poder de Deus para falar.
O que começa - teoricamente - quando a fé nos profetas se move e cresce para ser fé com os
profetas . A Bíblia nos permite ouvir algo do que ouviram, embora não da maneira que
ouviram.
A alma do profeta é um espelho para Deus. Compartilhar a fé de um profeta significa mais do
que perceber o que o bom senso deixa de perceber; significa ser o que as pessoas comuns
deixam de ser: um espelho para Deus. Compartilhar a fé de um profeta significa elevar-se ao
nível de sua existência.1

A voz de Deus é incongruente com os ouvidos do homem. Simbolicamente, não se diz do povo
do Sinai, o povo inteiro ouviu a voz, mas o povo inteiro viu a voz (Êxodo 20:18).
O Baal Shem ofereceu um símile. Um músico tocava em um instrumento muito bonito, e a
música encantou tanto as pessoas que elas foram levadas a dançar em êxtase. Então, um
surdo que não sabia nada de música passou e, vendo a dança entusiástica das pessoas,
decidiu que elas deveriam ser loucas. Se ele fosse sábio, teria sentido a alegria e o êxtase
deles e se juntado à dança deles.2

Nós não ouvimos a voz. Nós vemos apenas as palavras na Bíblia. Mesmo quando somos
surdos, podemos ver o arrebatamento das palavras.
ORIGEM E PRESENÇA
Quem deseja refletir sobre o que está além da Bíblia deve primeiro aprender a ser sensível
ao que está dentro da Bíblia. Não precisamos crer em Moisés e nos profetas somente em suas
palavras. Mais decisiva que a origem da Bíblia em Deus é a presença de Deus na Bíblia. É o
sentido da presença que nos leva a crer em sua origem.
A maneira de perceber a presença de Deus nas palavras da Bíblia não é perguntando se as
idéias que eles designam estão em perfeito acordo com as realizações de nossa razão ou o
senso comum do homem. Tal acordo, desde que pudesse ser estabelecido, provaria, de fato,
que a Bíblia é o produto do senso comum ou que o espírito em que se originou não tem mais
nada a dizer além do que a razão é capaz de proclamar. O que devemos perguntar é se existe
algo na Bíblia que está além do alcance da razão, além do escopo do senso comum; se seu
ensino é compatível com nosso senso de inefável, com a idéia de unidade, ajudando-nos a ir
além da razão sem negar a razão, ajudando o homem a ir além de si mesmo sem se
perder. Esta é a distinção da Bíblia: no mais alto nível de espanto radical, onde toda
expressão termina, ela nos dá a palavra. A revelação é uma questão que deve ser decidida no
nível do inefável.
Devemos perguntar se o seu conteúdo nos fala em momentos de perspicácia espiritual,
quando todo o nosso conhecimento se torna obscuro à luz do nosso desconhecimento e nossa
vida é sentida como um transbordamento de algo maior que nós mesmos, o excesso de
espírito que não é nosso. . Se a Bíblia tivesse um apelo à compreensão cotidiana do homem,
então, de fato, seria uma obra que poderia surgir todos os dias, na era do Sinai, bem como na
era de Hollywood. O que devemos perguntar é se há algo na Bíblia que está além dos tempos.
A revelação é uma tempestade de nuvens, uma chuva torrencial, mas vivemos em uma terra
seca e cansada, onde o céu é como ferro e o ar como poeira. A maioria de nós é como
toupeiras, escavando, e qualquer fluxo que encontramos é subterrâneo. Poucos são capazes,
em raros momentos, de se elevarem acima do seu próprio nível. No entanto, é nesses
momentos, quando descobrimos que a essência da existência humana está no fato de estar
suspensa entre o céu e a terra , que começamos a compreender a essência da afirmação dos
profetas.
A sensação de estarmos suspensos entre o céu e a terra é tão necessária para sermos
movidos por Deus quanto o domínio do ponto arquimediano é para mover a terra. Surpresa
radical é para a compreensão da realidade de Deus o que clareza e distinção são para a
compreensão de idéias matemáticas. Não basta pensar nos profetas; temos de
pensar através dos profetas. Não basta ler a Bíblia por sua sabedoria; devemos orar a
Bíblia para compreender sua afirmação.
Muita coisa aconteceu para destruir nosso contato com o mundo dos profetas. Hoje, o
caminho para a Bíblia está cheio de clichês e preconceitos, e ao chegar a suas palavras, a
mente está cega com um conhecimento superficial. Certamente, o primeiro pré-requisito
para entender os profetas é a sensibilidade treinada para o que eles representam. O caminho
permanece fechado para aqueles a quem Deus é menos real do que "um fogo consumidor",
para aqueles que sabem respostas, mas não admira. Aqueles que buscam um caminho para
a Bíblia terão que despensar muitos pensamentos e recordar o senso inato de admiração,
sistematicamente extirpado pela falsa sabedoria.
Razões abstratas nunca poderiam ter nos convencido, se o próprio Deus não tivesse nos
implorado. Ele tem interesse em nossa atitude em relação à Sua palavra, e Sua vontade em
que acreditamos pode funcionar de maneiras não acessíveis à nossa vontade de acreditar. E,
de fato, existe uma maneira de receber indiretamente o que os profetas receberam
diretamente.

Não é dado a todos os homens identificar o divino. Sua luz pode brilhar sobre nós, e podemos
deixar de senti-la. Desprovidos de admiração, permanecemos surdos ao sublime. Não
podemos sentir Sua presença na Bíblia, exceto por respondermos a ela. Somente viver com
suas palavras, apenas simpatia com seu pathos, abrirá nossos ouvidos à sua voz. As palavras
bíblicas são como sinais musicais de uma harmonia divina que somente os melhores acordes
da alma podem pronunciar. É o sentido do santo que percebe a presença de Deus na Bíblia.
Nós nunca podemos abordar a Bíblia sozinhos. É para o homem com Deus que a Bíblia se
abre.
A FRONTEIRA DO ESPÍRITO
A qualidade divina da Bíblia não está em exibição, não é aparente para uma mente insana e
tola; assim como o divino no universo não é óbvio para o deboche. Quando nos voltamos para
a Bíblia com um espírito vazio, movidos pela vaidade intelectual, esforçando-nos para
mostrar nossa superioridade ao texto; ou como almas estéreis que vislumbram as palavras
dos profetas, descobrimos as conchas, mas perdemos o âmago. É mais fácil apreciar a beleza
do que sentir o santo. Para poder encontrar o espírito dentro das palavras, precisamos
aprender a almejar uma afinidade com o pathos de Deus.
Para sentir a presença de Deus na Bíblia, é preciso aprender a estar presente a Deus na
Bíblia. Presença não é um conceito, mas uma situação. Para entender o amor, não basta ler
histórias sobre ele. É preciso estar envolvido nos profetas para entender os profetas. É
preciso ser inspirado para entender a inspiração. Assim como não podemos testar o
pensamento sem pensar, também não podemos sentir a santidade sem sermos santos. A
presença não é divulgada para aqueles que são desapegados e tentam julgar, para aqueles
que não têm poder para ir além dos valores que prezam; para aqueles que sentem a história,
não o pathos; a ideia, não a realidade de Deus.
A Bíblia é a fronteira do espírito onde devemos nos mover e viver para descobrir e
explorar. Está aberto a quem se entrega, a quem convive intimamente.

Só podemos sentir a presença respondendo a ela. Precisamos aprender a responder antes


que possamos ouvir; precisamos aprender a cumprir antes que possamos saber. É a Bíblia
que nos permite conhecer a Bíblia . É através da Bíblia que descobrimos o que há na Bíblia. A
menos que sejamos confrontados com a palavra, a menos que continuemos nosso diálogo
com os profetas, a menos que respondamos, a Bíblia deixa de ser Escritura.
Estamos nos movendo em círculo. Aceitaríamos a Bíblia somente se pudéssemos ter certeza
da presença de Deus em suas palavras. Agora, para identificar Sua presença, precisamos
saber o que Ele é, mas esse conhecimento só podemos derivar da Bíblia. Nenhuma mente
humana, condicionada por suas próprias perspectivas, relações e aspirações, é capaz de
proclamar por si mesma para todos os homens e todos os tempos: "Isto é Deus e nada mais".
Assim, devemos aceitar a Bíblia para conhecer o Bíblia; devemos aceitar sua autoridade
única para sentir sua qualidade única. Este, de fato, é o paradoxo da fé, o paradoxo da
existência.
Em nossa experiência diária, as palavras são usadas como meio de transmitir significado. Na
Bíblia, falar é agir, e a palavra é mais do que um instrumento de expressão; é um vaso de
poder divino, o mistério da criação. A palavra profética cria, molda, muda, constrói e destrói
(ver Jeremias 1:10).
Quando o homem fala, ele tenta comunicar algum significado particular; quando o profeta
fala, ele revela a fonte de todo significado. As palavras da Bíblia são fontes de espírito. Eles
carregam fogo para a alma e evocam nossa dignidade perdida de nossas origens
ocultas. Iluminados, de repente nos lembramos, de repente recuperamos a força do desejo
infinito de sentir a eternidade no tempo.
“Quem ora fala a Deus; mas quem lê a Bíblia, Deus fala com ele, como é dito (Salmos 119:
99), teus estatutos são os que conversam comigo. ”3

NÃO É UM LIVRO
Assim como houve eventos em momentos específicos do tempo, há uma palavra pedindo a
todos os homens em todos os momentos.
A Bíblia é uma expressão eterna de uma preocupação contínua; Deus clama pelo homem; não
é uma carta de quem enviou uma mensagem e permaneceu indiferente à atitude do
destinatário. Não é um livro para ser lido, mas um drama no qual participar; não um livro
sobre eventos, mas um evento em si, a continuação do evento, enquanto estarmos envolvidos
nele é a continuação da resposta. O evento perdurará enquanto a resposta
continuar. Quando o abrimos como se fosse um livro, ele fica em silêncio; como poder
espiritual é uma voz

“... chamando homens dav de dia para si mesma apaixonados…. A Torá solta uma palavra e
emerge um pouco de sua bainha e depois se esconde novamente. Mas ela faz isso apenas para
aqueles que a entendem e a obedecem. Ela é como uma donzela bonita e imponente, que está
escondida em uma câmara isolada de um palácio e que tem um amante de quem ninguém
conhece senão ela. Por seu amor por ela, ele constantemente passa pelo portão dela, virando
os olhos para todos os lados para encontrá-la. Ela, sabendo que ele está sempre assombrando
o palácio, o que ela faz? Ela abre uma pequena porta em seu palácio escondido, por um
momento revela o rosto para o amante e depois a esconde rapidamente. Ninguém, exceto ele
percebe; mas seu coração e alma, e tudo o que está nele são atraídos por ela, sabendo como
ele faz que ela se revelou a ele por um momento porque o ama. É o mesmo com a Torá, que
revela seus segredos ocultos apenas para aqueles que a amam. Ela sabe que aquele que é
sábio de coração diariamente assombra os portões de sua casa. O que ela faz? Ela mostra o
rosto para ele do palácio, fazendo um sinal de amor, e imediatamente volta ao seu
esconderijo. Ninguém entende a mensagem dela, exceto ele sozinho, e ele é atraído por ela
com coração, alma e todo o seu ser. Assim, a Torá se revela momentaneamente apaixonada
por seus amantes, a fim de despertar um novo amor neles. ” 4

A palavra não foi dada aos profetas por eles mesmos. Todos nós fomos confrontados por
Deus quando os profetas foram enfrentados por Ele. Todos nós fomos abordados quando os
profetas foram falados. Nossa fé é derivada de nossa percepção da palavra que foi divulgada
a todos nós.
O povo de Israel chegou a confiar em Moisés, não na evidência dos milagres que ele
realizou; tais feitos poderiam ter sido realizados pelos mágicos do Egito. O que lhes permitiu
confiar em Moisés foi o fato de compartilharem por um momento um grau de sua
sugestionabilidade a Deus. O que é verdadeiro deles se aplica a nós. Nossa apreciação
apaixonada da Bíblia não se deve principalmente a qualquer teste específico da veracidade
dos profetas; é um grau do sentido profético que nos permite dizer: Aqui está a presença de
Deus.
"NÃO ME LIGUE"
Há um grão do profeta nos recessos de toda existência humana. “Chamo o céu e a terra por
testemunhas de que todo homem, seja gentio ou judeu, seja homem ou mulher, seja servo ou
serva, de acordo com a medida de suas boas ações, o espírito de santidade repousa sobre
ele:” O espírito santo repousa sobre aqueles que vivem dentro da Aliança.
5 6

Assim como nas palavras da história da Bíblia se tornou Escritura, na vida de Israel as
Escrituras se tornaram história. A Bíblia foi uma revelação de Deus para Israel, a história
judaica tem sido uma revelação da santidade de Israel para Deus.
Não é como indivíduos, mas como povo de Israel, que podemos encontrar uma abordagem
para os profetas. A Bíblia vive dentro daqueles que vivem dentro da Aliança. A comunidade
de Israel vive de acordo com Sua promessa: “E quanto a mim, esta é a minha aliança com eles,
diz o Senhor: Meu espírito que está sobre você e minhas palavras que eu coloquei em sua
boca não se desviarão de você. boca, ou fora da boca dos seus filhos, ou da boca dos filhos dos
seus filhos, diz o Senhor, a partir de agora e para sempre. ” O indivíduo, no entanto, pode
7

perder o espírito. É por isso que oramos: “Não me lances fora da tua presença, e não retire
de mim o teu espírito santo”. 8

A maneira de entender o significado de torah min hashamayim (“a Bíblia é do céu”) é


entender o significado de hashamayim min hatorah (“o céu é da Bíblia). Qualquer que seja o
sabor do “céu” que temos na Terra, está na Bíblia.
NOTAS DO CAPÍTULO 26
1
“Aquele que aceita pelo menos uma mitsvá com verdadeira fé é digno de que o Espírito Santo
repouse sobre ele” Mechilta , 14:31, ed, Lauterbach, I, p. 232
2
Degel Mahneh Ephraim , Yitro.
3
Yosippon, ed. D. Guenzburg, Berditshev, 1913, p. 22)
4
Zohar, vol. II, 99a; ver vol. 111, 58a.
5
Seder Eliahu Rabba , IX, ed. M. Friedmann, Viena, 1902, p. 48)
6
Hillel disse: “Deixe Israel em paz. O espírito santo repousa sobre eles. Embora não sejam
profetas, são discípulos de profetas. ” Tosefta Pesahim 4,8.
7
Isaías 59:21. "Porque a profecia nunca se afastará de você", comenta o rabino David
Kimchi , ad locum.
8
Isaías 51:13. Veja Targum e Rashi ad locum. Esta petição faz parte da liturgia da época
penitencial.

27
O Princípio da Revelação
REVELAÇÃO NÃO É UMA QUESTÃO CRONOLÓGICA
A inspiração profética pode ser tratada em dois níveis, no nível de fé e no nível de crença ou
credo. Fé é a relação com o evento profético; crença, ou credo, é a relação com a data dos
livros bíblicos.
É um sério mal-entendido reduzir o problema da revelação a uma questão
cronológica. Assim, é freqüentemente assumido que a autoridade e a santidade do
Pentateuco dependem do fato de que ele foi escrito na íntegra no tempo de Moisés; que supor
que mesmo algumas passagens foram adicionadas a ele após a morte de Moisés é negar o
princípio da revelação.
A santidade da Bíblia depende da quantidade de tempo decorrido entre o momento da
revelação e o momento de comprometer seu conteúdo ao pergaminho? Se Deus desejasse
que certas partes do Pentateuco que foram reveladas a Moisés fossem escritas por Josué, isso
teria prejudicado sua santidade? E assumindo que a alma de Moisés retornou a este mundo
depois que se afastou do corpo de Moisés, e vivendo em uma nova encarnação foi inspirada
a acrescentar algumas linhas ao Pentateuco, isso tornaria o Pentateuco menos mosaico? É 1

adequado tratar a dignidade divina da Bíblia como se fosse um problema cronológico, como
se sua autenticidade pudesse ser verificada por um notário?
O significado da revelação é dado àqueles que têm uma mente misteriosa, não àqueles que
têm uma mente literal, e decisivos não são o fato cronológico, mas o fato teológico; decisivo
é o que aconteceu entre Deus e o profeta, e não o que aconteceu entre o profeta e o
pergaminho. Aceitamos a autoridade do Pentateuco não porque é mosaico, mas porque
Moisés era um profeta.
O dogma da revelação em relação ao Pentateuco consiste em duas partes: a inspiração divina
e a autoria mosaica. A primeira parte refere-se a um mistério, a segunda a um fato
histórico. A primeira parte só pode ser aludida e expressa em termos de grandeza e
espanto; o segundo pode ser analisado, examinado e transmitido em termos de informação
cronológica.
A filosofia da religião deve lidar com a primeira parte. Sua preocupação não é se o Pentateuco
foi anotado na íntegra durante os quarenta anos da permanência de Israel no deserto, mas
sim compreender o significado e a validade da alegação de que a vontade de Deus alcançou
a compreensão do homem e que a Pentateuco é um espelho do homem que alcança Deus; a
segunda parte é a preocupação da teologia, que deve definir o dogma da revelação e oferecer
uma resposta para questões históricas. 2

A essência de nossa fé na santidade da Bíblia é que suas palavras contêm aquilo que Deus
quer que saibamos e cumpramos. Como essas palavras foram escritas não é o problema
fundamental. É por isso que o tema da crítica bíblica não é o tema da fé, assim como a questão
de saber se os raios e trovões no Sinai eram um fenômeno natural ou não é irrelevante para
a nossa fé na revelação. A suposição de alguns comentaristas de que o Decálogo foi dado em
um dia chuvoso não afeta nossa concepção do evento. 3

O ato de revelação é um mistério, enquanto o registro de revelação é um fato literário,


expresso na linguagem do homem.
O TEXTO COMO ESTÁ
As palavras das Escrituras são coextensivas e idênticas às palavras de Deus?
Aos olhos daqueles que experimentam diariamente sua incapacidade de compreender
completamente o significado de um versículo das Escrituras, essa pergunta representa uma
tentativa de comparar o pouco conhecido com o totalmente desconhecido.
É verdade que o texto das Escrituras que nos foi entregue consiste de gemas de Deus e
diamantes extraídos de almas proféticas, todas colocadas em uma estrutura humana. No
entanto, quem presumirá ser um especialista em discernir o que é divino e o que é senão "um
pouco menor" que o divino? Qual é o espírito de Deus e qual é a frase de Amós? O espírito de
Deus está estabelecido na linguagem do homem, e quem julgará o que é conteúdo e o que é
estrutura? Certamente aqueles que presumem mais são menos qualificados. Há mais coisas
entre o céu e a terra que não se submeterão ao nosso julgamento do que estamos dispostos
a admitir.
A revelação durou um momento; o texto é permanente no tempo e no espaço. A revelação
aconteceu ao profeta; o texto é dado a todos nós. "A Torá não está no céu"; somos guiados
pela palavra, e é a palavra, o texto, que é o nosso guia, a nossa luz na escuridão das chavões
e erros. Não devemos reduzir a revelação a um fato, nem espiritualizar a Bíblia e destruir sua
integridade factual.
Em sua forma atual, a Bíblia é o único objeto no mundo que não precisa de louvor ou
santificação. Em sua forma atual, a Bíblia é o único ponto no mundo do qual Deus nunca se
afastará. Este é o livro que Israel adiou; devemos tremer para adulterá-lo.
REVELAÇÃO NÃO É UM MONÓLOGO
Ao insistir no caráter revelador objetivo da Bíblia, a teologia dogmática freqüentemente
perde de vista a parte profunda e decisiva do homem.
O profeta não é um destinatário passivo, um instrumento de gravação, afetado de fora, sem
a participação do coração e da vontade, nem é uma pessoa que adquire sua visão por sua
própria força e trabalho. A personalidade do profeta é antes uma unidade de inspiração e
experiência, invasão e resposta. Para todo objeto fora dele, há um sentimento dentro dele,
para todo evento de revelação para ele, há uma reação dele; para cada vislumbre da verdade
que ele recebe, há uma compreensão que ele deve alcançar.
Mesmo no momento do evento, ele é, nos é dito, um parceiro ativo no evento. Sua resposta
ao que lhe é revelado transforma a revelação em um diálogo. Em certo sentido, a profecia
consiste em uma revelação de Deus e uma co-revelação do homem. A parte do profeta se
manifestou não apenas no que ele foi capaz de dar, mas também no que ele foi incapaz de
receber.
A revelação não acontece quando Deus está sozinho. Os dois termos clássicos para o
momento no Sinai são mattan torá e kabbalat torá , “a entrega da Torá” e “a aceitação da
Torá”. Foi um evento na vida de Deus e um evento na vida do homem. . Segundo a lenda
rabínica, o Senhor se aproximou de todas as tribos e nações e ofereceu a Torá a eles, antes
de dar a Israel. A maravilha da aceitação de Israel foi tão decisiva quanto a maravilha da
expressão de Deus. Deus estava sozinho no mundo até Israel ficar noivo dele. No Sinai, Deus
revelou Sua palavra, e Israel revelou o poder de responder. Sem esse poder de responder,
sem o fato de haver um povo disposto a aceitar, ouvir o mandamento divino, o Sinai teria
sido impossível. Para o Sinai, consistia uma proclamação divina e uma percepção
humana. Foi um momento em que Deus não estava sozinho .
A Bíblia contém não apenas registros do que aconteceu em momentos de inspiração
profética; também registra atos e palavras do homem. É incorreto afirmar que todas as
palavras da Bíblia se originaram no espírito de Deus. As declarações blasfemas de Faraó, as
declarações rebeldes de Korach, o subterfúgio de Efrom, as palavras dos soldados no
acampamento de Midiã, emanavam do espírito do homem. O que o profeta diz a Deus quando
endereçado por Ele não é considerado menos santo do que o que Deus diz ao profeta quando
se dirige a ele.
Assim, a Bíblia é mais do que a palavra de Deus: é a palavra de Deus e do homem; um registro
de revelação e resposta; o drama da aliança entre Deus e o homem. A canonização e
preservação da Bíblia são obra de Israel.
A VOZ DE ACORDO COM O HOMEM
Ninguém é capaz de ouvir a voz de Deus como ela é. Mas “Deus troveja maravilhosamente
com a sua voz” (Jó 37: 5) no Sinai. “A voz saiu - chegando a cada pessoa com uma força
ajustada à sua receptividade individual - aos idosos de acordo com suas forças e aos jovens
de acordo com as deles ... e até a Moisés de acordo com suas forças, como é dito: Moisés falou,
e Deus lhe respondeu com uma voz (Êxodo 19:19), isto é, com uma voz que ele pudesse
suportar. Da mesma forma, diz: A voz do Senhor está com poder (Salmos 29: 4), ou seja, com
o poder de cada indivíduo. É por isso que o Decálogo começa: Eu sou o Senhor teu Deus , na
segunda pessoa do singular, e não na segunda pessoa do plural: Deus se dirigiu a cada
indivíduo de acordo com seu poder particular de compreensão. ” 4

Isso não implica subjetivismo. É precisamente o poder da voz de Deus falar ao homem de
acordo com sua capacidade. É a maravilha da voz se dividir em setenta vozes, em setenta
línguas, para que todas as nações entendam.
SABEDORIA, PROFECIA E DEUS
Deus não se revela; ele apenas revela o seu caminho. O judaísmo não fala da auto-revelação
de Deus, mas da revelação de Seus ensinamentos para o homem. A Bíblia reflete a revelação
de Deus de Sua relação com a história, em vez de uma revelação de Seu próprio Ser. Mesmo
Sua vontade ou Sua sabedoria não são completamente expressas através dos profetas. A
profecia é superior à sabedoria humana, e o amor de Deus é superior à profecia. Essa
hierarquia espiritual é explicitamente declarada pelos rabinos.
“Eles perguntaram à sabedoria : qual deveria ser o castigo de um pecador? E a Sabedoria
disse: O infortúnio persegue os pecadores (Provérbios 13:21). Eles
perguntaram profecia: Qual deveria ser o castigo de um pecador? E a profecia disse: A alma
que pecar morrerá (Ezequiel 18: 4.20). Eles perguntaram ao Santo , bendito seja Ele: Qual
deve ser o castigo de um pecador? E ele disse: Se arrependa, e ele será expiado . ”5

Deus é infinitamente mais sublime do que aquilo que os profetas foram capazes de
compreender, e a sabedoria celestial é mais profunda do que o que a Torá contém em sua
forma atual.
“Existem cinco fenômenos incompletos (ou frutos verdes). A experiência incompleta da
morte é o sono; uma forma incompleta de profecia é sonho; a forma incompleta do mundo
vindouro é o sábado; a forma incompleta da luz celestial é a esfera do sol; a forma incompleta
da sabedoria celestial é a Torá. ”
6

A TORAH NÃO REVELADA


A palavra Torá é usada em dois sentidos: a Torá superna, cuja existência precedeu a criação
do mundo, e a Torá revelada. Em relação à Torá superna, os rabinos mantinham: “A Torá
7

está oculta aos olhos de todos os que vivem…. O homem não sabe o preço disso. ” “ Moisés
8

recebeu a Torá ”- mas nem toda a Torá -“ no Sinai ”. E nem tudo o que foi revelado a Moisés
9

foi transmitido a Israel; o significado dos mandamentos é dado como exemplo. Juntamente
10

com a gratidão pela palavra divulgada, há um anseio pelo significado ainda a ser
divulgado. “O Senhor deu a Torá a Israel e falou com eles cara a cara, e a lembrança desse
amor é mais agradável para eles do que qualquer outra alegria. Foi-lhes prometido que Ele
retornará a eles mais uma vez, a fim de revelar o significado secreto da Torá e seu conteúdo
oculto. Israel implora que Ele cumpra essa promessa. Este é o significado do versículo: deixe-
me beijar-me com os beijos da sua boca - porque o teu amor é melhor que o vinho. ” 11

Existe uma teoria na literatura judaica que contém uma profunda verdade parabólica que
sustenta que a Torá, que é eterna em espírito, assume formas diferentes em várias eras. A
Torá era conhecida por Adão quando ele estava no Jardim do Éden, embora não em sua forma
atual. Mandamentos como os relativos à caridade para com os pobres, os estrangeiros, os
órfãos e a viúva não teriam sentido no Jardim do Éden. Naquela época, a Torá era conhecida
em sua forma espiritual. Assim como o homem assumiu uma forma material quando foi
12

expulso do Jardim do Éden, a Torá também assumiu uma forma material. Se o homem tivesse
retido “as vestes da luz”, sua forma espiritual de existência, a Torá também teria retido sua
forma espiritual.13

A TORAH ESTÁ NO EXÍLIO


Deus não está apenas no céu, mas também neste mundo. Mas, para habitar neste mundo, o
divino deve assumir uma forma que este mundo possa suportar, "conchas" nas quais a luz
está oculta. A Torá também, para entrar no mundo da história, é envolta em "conchas", uma
vez que não poderia existir ou ser cumprida em sua forma perfeita em um mundo manchado
de imperfeições. 14

Assim como a Shechiná está no exílio, a Torá também está no exílio . Ajustando-se à condição
do homem, “a Torá assumiu por nossa era uma estranha roupa e conchas de nenhuma beleza
ou graça, como o capítulo trinta e seis do Livro de Gênesis ou Deuteronômio 2:23 e muitos
outros. À mesma classe pertencem muitas passagens agádicas na literatura rabínica que são
desagradáveis e censuráveis, e ainda contêm, de forma oculta, mistérios da Torá. Tudo isso
se deve à necessidade de ocultar a luz do conhecimento nas vestes da kelipah e nos poderes
imundos. Deus, Torá e Israel permanecerão no exílio até que o espírito seja derramado sobre
nós do alto para trazer de volta o cativeiro por causa de Sua Torá e Seu Nome, e o bem e o
santo serão purificados do mal e das conchas ... ”15

O rabino Simeon ben Lakish declarou ousadamente: “Existem muitos versículos que, para
todas as aparências, devem ser queimados como os livros dos hereges, mas são realmente
elementos essenciais na Torá.” Como exemplos são citados E os Avvim que moram nas aldeias
até agora como Gaza (Deuteronômio 2:23). Porque Hesbom era a cidade de Siom, rei dos
amorreus, que pelejara contra o antigo rei de Moabe (Números 21:26). 16

Em sua forma atual, a Torá lida com assuntos que dizem respeito às relações materiais entre
homem e homem. No éon messiânico, uma sabedoria maior do que a que agora se encontra
nela será revelada na Torá. Agora nós temos a Torá, na era messiânica teremos a coroa da
Torá. Assim, a sabedoria aberta para nós neste éon é apenas o começo de sua revelação. 17
“Porque, se um homem vive muitos anos, alegre-se (Eclesiastes 11: 8) na alegria da Torá e
lembre-se dos dias de trevas , estes são os dias do mal, pois serão muitos. A Torá que um
homem aprende neste mundo é vaidade em comparação com a Torá [que será aprendida nos
dias] do Messias. ”18

A previsão de Isaías para os próximos dias: “Com alegria tirareis água dos poços da salvação”
(12: 2), é explicada por Rashi da seguinte maneira: “Você receberá novo ensinamento, pois
o Senhor ampliará sua presença. compreensão … . Os mistérios da Torá que foram
esquecidos durante o exílio na Babilônia por causa da angústia que Israel sofreu, serão
revelados a eles. ”
As palavras das Escrituras são o único registro duradouro do que foi transmitido aos
profetas. Ao mesmo tempo, eles não são idênticos nem a prestação eternamente adequada
da sabedoria divina. Como reflexo de Sua luz infinita, o texto em sua forma atual é, para falar
figurativamente, um dentre um número infinito de possíveis reflexões. No final dos dias,
acreditava-se, incontáveis rearranjos desconhecidos das palavras e letras e segredos
desconhecidos da Torá seriam conhecidos. No entanto, em sua forma atual, o texto contém
aquilo que Deus deseja que saibamos. 19

IDÉIA E EXPRESSÃO
Há outro aspecto no papel desempenhado pelo profeta. De acordo com os rabinos, "a mesma
idéia é revelada a muitos profetas, mas não há dois profetas que usem a mesma expressão ".
O fato de os quatrocentos profetas do rei Acabe empregarem as mesmas frases foi
considerado uma prova de que não eram divinamente inspirados. Quando no tribunal de
20

justiça duas pessoas que testemunham o mesmo evento usam linguagem idêntica, são
suspeitas de terem conspirado para prestar falso testemunho. Os profetas dão testemunho
21

de um evento. O evento é divino, mas a formulação é feita pelo profeta individual. De acordo
com essa concepção, a idéia é revelada; a expressão é cunhada pelo profeta. A expressão “a
22

palavra de Deus” não se refere à palavra como som ou combinação de sons. De fato, tem sido
freqüentemente sustentado que o que chegou ao ouvido do homem não era idêntico ao que
saiu do espírito do Deus eterno. Pois “Israel não poderia ter recebido a Torá como saiu da
boca do Senhor, pois a palavra do Senhor é fogo e o Senhor é 'um fogo que consome
fogo'. Certamente o homem brilharia em chamas, se fosse exposto à palavra em si. Portanto,
a palavra se vestiu antes de entrar no mundo da criação. E assim o salmista fala de revelação
como 'brasas que dele saíram dali' (Salmos 18: 9). A palavra de Deus em si mesma é como
uma chama ardente, e a Torá que recebemos é apenas uma parte do carvão ao qual a chama
está ligada. E, no entanto, mesmo dessa forma, teria permanecido além de nossa
compreensão enquanto somos mortais. A palavra teve que descer ainda mais e assumir a
forma de escuridão ( 'arafel ) para se tornar perceptível ao homem. ” 23

Da experiência dos profetas vieram as palavras, palavras que tentam interpretar o que eles
perceberam. Até hoje, essas palavras fazem presente o que aconteceu no passado. Como o
significado e a maravilha do evento inspiraram a compreensão espiritual do profeta, o
significado e a maravilha das palavras bíblicas continuam a inspirar a compreensão do
homem.
A Bíblia reflete sua autoria divina e humana. Expressa na linguagem de uma época específica,
ela se dirige a todas as idades; divulgado em atos particulares, seu espírito é eterno. A
vontade de Deus está no tempo e na eternidade. Deus emprestou a linguagem do homem e
criou uma obra como nenhum homem jamais havia feito. É tarefa da fé manter-se firme nessa
obra, valorizar sua mistura de oportunidade e eternidade e entender continuamente a
polaridade de seu conteúdo.
Passagens comuns
Falamos acima da presença de Deus na Bíblia e caracterizamos sua qualidade como
santidade nas palavras. No entanto, existem algumas passagens na Bíblia que levam a sentir
que Deus não está presente nelas; passagens muito comuns ou muito severas para refletir o
espírito de Deus.
Discutiremos o problema apresentado pelos dois tipos de passagens.
A pergunta foi feita. “Se não é digno que um rei de carne e osso se envolva em conversas
comuns, muito menos anotá-las, é concebível que o Rei Altíssimo, o Santo, bendito seja Ele,
não possuísse assuntos sagrados com os quais para encher a Torá, para que Ele tivesse que
coletar tópicos comuns como as anedotas de Esaú e Agar, as conversas de Labão com Jacó,
as palavras de Balaão e sua bunda, as de Balaque e de Zinri, e coisas do gênero fazer deles
uma Torá? Se sim, por que é chamada de 'Torá da verdade'? Por que lemos 'A Torá do Senhor
é perfeita…. O testemunho do Senhor é certo. As ordenanças do Senhor são
verdadeiras…. Mais a desejar são eles do que ouro, sim, do que muito ouro fino ”(Salmos 19:
8-11)?” 24

A resposta parece ser que a Bíblia tem mais de um nível de significado. Embora a maior parte
esteja aberta a uma compreensão inequívoca, grande parte dela permanece presa à mente
literal.
“Davi orou: Mestre do universo, é Tua vontade que guarde Tuas palavras, para que 'abra
meus olhos, para que eu possa contemplar coisas maravilhosas da Tua Torá' (Salmos 119:
18). Se você não abrir meus olhos, como eu saberia? Por que meus olhos estão abertos , eu não
sei nada .” 25

“Disse o rabino Simeon: 'Ai do homem que considera a Torá um livro de meros contos e
assuntos cotidianos! Se assim fosse, nós, até nós poderíamos compor uma Torá que lida com
os assuntos cotidianos e com uma excelência ainda maior. Não, mesmo os príncipes do
mundo possuem livros de maior valor que poderíamos usar como modelo para compor uma
dessas Torá. A Torá, no entanto, contém em todas as suas palavras verdades supernas e
mistérios sublimes. Observe o equilíbrio perfeito entre os mundos superior e inferior. Israel
aqui embaixo é equilibrado pelos anjos do alto, dos quais diz: 'Quem transforma teus anjos
em ventos' (Salmos 114: 4). Pois os anjos em descida na terra se vestem de roupas terrenas,
caso contrário, não poderiam permanecer neste mundo, nem o mundo poderia suportá-
los. Agora, se é assim com os anjos, quanto mais deve ser com a Torá - a Torá que os criou,
que criou todos os mundos e é o meio pelo qual eles são sustentados. Assim, se a Torá não
tivesse se vestido com roupas deste mundo, o mundo não poderia suportá-lo. As histórias da
Torá são, portanto, apenas suas vestimentas externas e quem a considera como sendo a
própria Torá, ai daquele homem - tal pessoa não terá parte no mundo seguinte. Davi disse
assim: 'Abra meus olhos para que eu possa contemplar coisas maravilhosas da Tua Torá'
(Salmos 119: 18); ou seja, as coisas que estão por baixo da roupa. Observe isso. As roupas
usadas por um homem são a parte mais visível dele, e as pessoas sem sentido que olham para
ele não parecem ver mais nele do que as roupas. Mas, na verdade, o orgulho das vestes é o
corpo do homem, e o orgulho do corpo é a alma. Da mesma forma, a Torá tem um corpo
composto pelos preceitos da Torá, chamado gufe torá (princípios principais da Torá), e esse
corpo é envolto em roupas feitas de narrações mundanas. As pessoas sem sentido vêem
apenas a roupa, as meras narrações; aqueles que são um pouco mais sábios penetram até o
corpo; mas os realmente sábios, os servos do mais alto rei, aqueles que estavam no monte
Sinai, penetram até a alma, o princípio fundamental de todos, a verdadeira Torá. No futuro,
os mesmos estão destinados a penetrar até a superalma (alma da alma) da Torá. Observe
que, de maneira semelhante, no mundo supremo, há vestuário, corpo, alma e
superalma. Todos estes estão interligados entre si. Ai dos pecadores que consideram a Torá
como meras histórias mundanas, que apenas vêem suas vestes externas; felizes são os justos
que fixam o olhar na própria Torá. O vinho não pode ser mantido salvo em uma jarra; então
a Torá precisa de uma roupa exterior. Essas são as histórias e narrativas, mas cabe a nós
penetrar embaixo delas. ” 26

PASSAGENS DURAS
Encontramos um problema ainda mais sério em várias passagens que parecem ser
incompatíveis com nossa certeza da compaixão de Deus.
Ao analisar esse problema extremamente difícil, devemos primeiro ter em mente que os
padrões pelos quais essas passagens são criticadas nos são impressos pela Bíblia, que é o
principal fator para enobrecer nossa consciência e nos dotar da sensibilidade que se rebela.
contra toda crueldade.
Além disso, devemos compreender que as passagens duras da Bíblia estão apenas contidas
na descrição de ações que foram tomadas em momentos particulares e contrastam com a
compaixão, a justiça e a sabedoria das leis que foram legisladas para todos os tempos.
Como dito acima, não devemos equiparar profecia a Deus. A profecia é superior à sabedoria
humana, e o amor de Deus é superior à profecia. Nem toda expressão contida na Bíblia deve
ser considerada como norma ou padrão de comportamento. Dizem-nos que Moisés, Elias,
Isaías foram reprovados pelo Senhor por proferirem palavras duras sobre o povo, embora
27

essas palavras façam parte da Bíblia (Êxodo 4: 1; I Reis 19:14; Isaías 6: 5).
Uma marca notável da escrita bíblica é sua honestidade implacável. Nenhum dos profetas é
retratado como impecável, nenhum dos heróis é impecável. A Glória é envolvida em uma
nuvem e a redenção é alcançada ao preço do exílio. Não há perfeição, nem doçura, nem
sentimentalismo na abordagem da Bíblia. Abraão tem coragem de exclamar: “O juiz de toda
a terra não deve agir com justiça?” E Jó ousa questionar a justiça do Todo-
Poderoso. Acusando seus amigos que pedem desculpas a Deus por serem “estucadores de
mentiras”, Jó alega:

Você falará falsamente por Deus,


e falará enganosamente por Ele?
Você mostrará parcialidade para com Ele?
Você defenderá o caso de Deus?
Vai ficar bem com você quando Ele a procurar?
Ou você pode enganá-Lo, como alguém engana um homem?
Ele certamente o repreenderá.
Se em segredo você mostrar parcialidade.
Jó 13: 7-10

A renúncia e a aceitação da vontade inescrutável de Deus são expressões de piedade


normal. Em contraste, embora não em contradição, está o profeta que, em vez de ser
inquestionável e submisso diante de Deus, ousa desafiar Seu julgamento, lembrá-Lo de Sua
aliança e implorar por Sua misericórdia. No espírito de piedade, judeus e cristãos aceitarão
tanto o mal quanto o bem, e orarão: "Seja feita a sua vontade", enquanto o profeta implorar:
28

"Afaste-se da tua ira feroz e se arrependa deste mal contra o seu povo" ( Êxodo 32:12).
Abraão desafiou a intenção do Senhor de destruir Sodoma. Em nome da misericórdia de
Deus, também temos o direito de desafiar as duras declarações dos profetas. Seguem dois
exemplos:

“Eis que clamo ao céu e à terra para testemunhar que o Senhor não disse a Moisés o que
Moisés disse na porta do acampamento: 'Quem está do lado do Senhor, venha a mim ...! Assim
diz o Senhor Deus de Israel: Coloque a espada de cada homem ao seu lado '(Êxodo 32: 27) -
Mas Moisés, o piedoso, a deduziu por sua própria razão. Ele pensou, se eu ordenasse ao povo
- "Deixa todo homem seu irmão, seu companheiro, seu vizinho" - o povo protestará - Você
mesmo não nos ensinou que um tribunal que condena à morte até uma pessoa em setenta
anos deve ser considerado sanguinário? Como você pode, então, ordenar a morte de três mil
em um dia? - Portanto, Moisés atribuiu sua ordem à autoridade do Senhor e disse: 'Assim diz
o Senhor'. De fato, ao afirmar que os levitas cumpriram a ordem, a Escritura diz: e os filhos
de Levi fizeram de acordo com a palavra de Moisés. ” 29

A independência da compreensão humana e seu poder de contestar a afirmação de um


profeta podem ser ilustrados ainda mais pela seguinte lenda:

“Quando Ezequias ficou doente, o Santo, bendito seja Ele, disse a Isaías: Põe em ordem a tua
casa, pois 'morrerás e não viverás' (Isaías 38: 1). Disse Ezequias: É habitual que uma pessoa,
ao visitar um doente, diga: 'Que misericórdia seja mostrada do céu'. Quando o médico chega,
ele diz ao doente: 'Coma isto e não coma aquilo, beba isso e não beba aquilo'. Mesmo quando
o vê perto da morte, ele não lhe diz: 'Coloque sua casa em ordem', porque isso pode perturbá-
lo. Você, no entanto, me diz: Põe sua casa em ordem para que você morra e não viva! Não
presto atenção ao que você diz, nem vou ouvir seus conselhos. Não me apego a nada além do
que meu antepassado disse: Pois através da multidão de sonhos e vaidades também há muitas
palavras, mas teme a Deus (Eclesiastes 5: 6). ” 30

A BÍBLIA NÃO É UMA UTOPIA


A luz primordial está oculta. Se a Torá exigisse perfeição, teria permanecido uma utopia. As
leis da Torá pedem a cada geração que cumpra o que está ao seu alcance. Algumas de suas
leis (por exemplo, Êxodo 21: 2 e segs), não representam ideais, mas compromissos,
14

tentativas realistas de refinar a condição moral do homem antigo.


A aspiração suprema de Davi, um rei grande e ungido, era construir um templo para o Senhor
que seria “extremamente magnífico, de fama e glória em todas as terras”. Enquanto ele estava
envolvido em abundantes preparativos, “a palavra de o Senhor veio a ele dizendo: Tu
derramaste muito sangue e travaste grandes guerras; não edificarás casa ao meu nome ”(1
Crônicas 22: 8; 28: 3). Assim, a Bíblia teve que lidar com as leis feias da guerra, embora
estivesse ciente da feiura da guerra. A Torá também está no exílio. 31

Devemos sempre lembrar que a Bíblia não é um livro composto para uma era, e seu
significado não pode ser avaliado pelos padrões morais e literários particulares de uma
geração. Passagens que foram consideradas ultrapassadas por uma geração têm sido uma
fonte de conforto para a próxima. Muitos de nós já consideramos o clamor de Jeremias:
“Derrama a tua ira sobre as nações que não te conhecem e sobre as famílias que não invocam
o teu nome; porque eles devoraram a Jacó; sim, o devoraram, o consumiram e assolaram sua
habitação ”(10:25), para ser primitivo. Mas que outras palavras haveria para recitar quando
as mães viram como seus bebês eram enviados para as câmaras de gás dos campos de
extermínio nazistas? Vamos presumir julgar em nome da moralidade aqueles que ensinaram
ao mundo o que significa justiça?
Não existe uma solução simples para o problema. Nunca devemos esquecer que existe uma
verdade superior à que somos capazes de compreender à primeira vista.
Enquanto o povo de Israel peregrinava no deserto, Moisés foi ordenado pelo 'Senhor a enviar
homens para espionar Canaã, a terra prometida. Então, Moisés escolheu doze homens
ilustres e disse-lhes: Subam e vejam qual é a terra, e se as pessoas que nela habitam são fortes
ou fracas, poucas ou muitas. Então eles subiram e revistaram a terra. Ao fim de quarenta dias,
eles voltaram e relataram: “Chegamos à terra para a qual você nos enviou; flui com leite e
mel. No entanto, as pessoas que habitam na terra são fortes, e as cidades são fortificadas e
muito grandes. Não somos capazes de enfrentar esse povo; pois eles são mais fortes que
nós. Lá vimos os gigantes; e parecíamos para nós mesmos. como gafanhotos, e assim
parecíamos a eles ”(Números 13).
Os espiões foram condenados, e seu relatório caracterizou-se como calunioso. Mas por
que? Suas observações estavam corretas; o relatório deles foi honesto.
Dizer o óbvio ainda não é falar a verdade. Quando o óbvio e a Palavra estão em conflito, a
verdade é a recusa de se contentar com os fatos como parecem. A verdade é a coragem de
compreender os fatos, a fim de ver como eles se relacionam com a Palavra. 32.

Estas foram as últimas palavras de Jó.

Quem é esse que esconde conselhos sem conhecimento?


Por isso proferi o que não compreendi,
coisas maravilhosas demais para mim, que não conhecia.
Ouve, eu te suplico e falarei;
Eu te exigirei e declararei a mim.
Eu tinha ouvido falar de Ti pela audição do ouvido;
Mas agora meus olhos te vêem;
Por isso abomino minhas palavras e me arrependo,
visto que sou pó e cinza.
Jó 42: 3-6
As palavras em Jó 28:13, O homem não conhece sua ordem, referem-se à
Torá. “Desarrumados são os caminhos da Torá.” Se as pessoas soubessem sua verdadeira
ordem, saberiam reviver os mortos, como fazer maravilhas, acreditavam os rabinos. 33

"Sou neófito na terra, não escondas de mim os teus mandamentos" (Salmos 119: 19). David
era um neófito? Mas é isso que se quer dizer: assim como um neófito não compreende nada
da Torá, o homem, embora seus olhos estejam abertos, não compreende nada da Torá. Se
David, o compositor de todas as músicas e salmos, disse que eu sou um neófito e não sei nada,
quanto mais isso se aplica a nós…. Pois somos neófitos diante de ti e peregrinos, como todos
os nossos pais eram (1 Crônicas 29:16). ” 34

Em nosso encontro com a Bíblia, podemos adotar uma atitude fundamentalista que
considera cada palavra literalmente válida, não fazendo distinção entre o eterno e o
temporal, e não permitindo lugar para o entendimento pessoal ou histórico, nem para a voz
da consciência. Ou podemos adotar uma atitude racionalista que, tomando a ciência como a
pedra de toque da religião, considere as Escrituras como um produto ou mito poético, útil
para homens de uma civilização inferior e, portanto, desatualizado em qualquer período
posterior da história.
A filosofia da religião deve travar uma batalha em duas frentes, tentando reconhecer noções
falsas dos fundamentalistas e atenuar a confiança excessiva dos racionalistas. A tarefa final
é levar-nos a um plano superior de conhecimento e experiência, ao apego através da
compreensão.
Devemos tomar cuidado com o obscurantismo de uma deferência mecânica em relação à
Bíblia. As palavras proféticas nos foram dadas para serem entendidas, não apenas para
serem repetidas mecanicamente. A Bíblia deve ser entendida pelo espírito que cresce com
ela, luta com ela e ora com ela.
Os profetas nos tornam parceiros de uma existência destinada a nós. O que lhes foi revelado
não foi por causa deles, mas pretendia nos inspirar. A palavra não deve congelar-se no
hábito; deve permanecer um evento.
Desconsiderar a importância do entendimento contínuo é uma evasão do desafio vivo dos
profetas, uma fuga da urgência da experiência responsável de todo homem, uma negação do
significado mais profundo da “Torá oral”.
COMPREENSÃO CONTÍNUA
A Bíblia não é uma sinecura intelectual, e sua aceitação não deve ser como estabelecer uma
trava talismânica que sela a mente e a consciência contra a intrusão de novos
pensamentos. Revelação não é pensamento vicário . Seu objetivo não é substituir, mas
ampliar nosso entendimento. Os profetas tentaram estender o horizonte de nossa
consciência e transmitir-nos uma sensação da parceria divina em nossas relações com o bem
e o mal e em nossa luta com os enigmas da vida. Eles tentaram nos ensinar a pensar nas
categorias de Deus: Sua santidade, justiça e compaixão. A apropriação dessas categorias,
longe de nos eximir da obrigação de obter novas idéias em nosso próprio tempo, é um desafio
para procurar maneiras de traduzir mandamentos bíblicos em programas exigidos por
nossas próprias condições. O significado completo das palavras bíblicas não foi divulgado de
uma vez por todas. A cada hora, outro aspecto é revelado. A palavra foi dada uma vez; o
esforço para entendê-lo deve continuar para sempre. Não basta aceitar ou mesmo cumprir
os mandamentos. Estudar, examinar e explorar a Torá é uma forma de adoração, um dever
supremo. Pois a Torá é um convite à percepção, um apelo à compreensão contínua .
Tomada como pensamento vicário, a Bíblia se torna uma pedra de tropeço. Quem diz: Eu
tenho apenas a Torá, nem mesmo a Torá. Os karaitas afirmaram aderir a uma religião
puramente bíblica. No entanto, o judaísmo não é uma religião puramente bíblica. Moisés não
foi o fundador do judaísmo. Muito antes de ele nascer, os filhos de Israel acalentavam
tradições que remontam aos dias de Abraão. A Torá oral é, em partes, mais antiga que a Torá
escrita. Dizem que o sábado era conhecido por Israel antes do evento no Sinai. Nem todos
35

os ensinamentos mosaicos foram incorporados no Pentateuco. Numerosos princípios e


regras permaneceram como "ensino oral" transmitido de geração em geração. E foi com
relação ao ensino escrito e ao "oral" que o pacto no Sinai foi concluído.
Abordamos as leis da Bíblia através da interpretação e da sabedoria dos rabinos. Sem sua
interpretação, o texto das leis geralmente é ininteligível. Assim, o judaísmo é baseado no
mínimo de revelação e no máximo de interpretação, na vontade de Deus e no entendimento
de Israel. Para esse entendimento, dependemos da tradição não escrita de Israel. As
inspirações dos profetas e as interpretações dos sábios são igualmente importantes. Existe
uma parceria de Deus e Israel em relação ao mundo e à Torá: Ele criou a terra e nós lavramos
o solo; Ele nos deu o texto e nós o refinamos e completamos. “O Santo, bendito seja, deu a
Torá a Israel como trigo para se obter farinha fina, ou como linho para fazer uma roupa.” 36

A Bíblia é uma semente, Deus é o sol, mas nós somos o solo. Espera-se que toda geração traga
novos entendimentos e novas realizações.
A palavra é a palavra de Deus, e seu entendimento Ele deu ao homem. A fonte da autoridade
não é a palavra dada no texto, mas a compreensão do texto por Israel. No Sinai, recebemos a
palavra e o espírito para entendê-la. Os sábios são herdeiros dos profetas; eles determinam
e interpretam o significado da palavra. Há muita liberdade e muito poder nas idéias dos
sábios: eles têm o poder de deixar de lado um preceito da Torá quando as condições o
exigirem. Aqui na terra, a opinião deles pode anular uma opinião mantida no céu.
Parte dessa compreensão e resposta originais de Israel foi derramada em palavras,
transmitida de boca em boca, confiada à escrita, mas muitas das quais palavras eram apenas
um reflexo, permaneceram não ditas, não escritas, uma tradição transmitida de alma em
alma, herdada como o poder de amar, e mantido vivo pela constante comunhão com a
Palavra, estudando-a, guardando-a, vivendo-a e estando pronto para morrer por ela. Nas
mãos de muitos povos, torna-se um livro; na vida de Israel permaneceu uma voz, uma Torá
dentro do coração (Isaías 51: 7).
Pois o entendimento de Israel da palavra não foi conquistado de maneira barata ou
idílica. Foi adquirida ao preço de milênios de luta livre, de resistência e provações amargas
de um povo teimoso, de martírio incomparável e de auto-sacrifício de homens, mulheres e
crianças, de lealdade, amor e estudo constante. Que estudioso moderno poderia competir
com a intuição de um povo assim? A Torá não é apenas nossa mãe, é “nossa vida e a duração
de nossos dias; meditaremos (nas palavras dela) dia e noite ”(liturgia da tarde).
Sem nosso esforço contínuo de entender, a Bíblia é como dinheiro de papel sem
segurança. No entanto, esse entendimento requer disciplina austera e só pode ser alcançado
em apego e dedicação, em reter e reviver o entendimento original, expresso pelos profetas e
pelos antigos sábios.
Sempre existe o perigo de tentar interpretar a Bíblia em termos de paganismo. Como há falsa
profecia , há falso entendimento. É possível cometer assassinato em nome da Torá; alguém
pode ser um canalha e agir dentro da letra da lei (Nahmanides). Houve, de fato, tantos abusos
piedosos que muitas vezes a Bíblia precisa ser salva das mãos de seus admiradores.
A TORÁ ORAL NUNCA FOI ESCRITA
Durante séculos, a proibição de escrever "o ensino oral" foi considerada um princípio
básico. “Os que escrevem a halacha são como os que queimam a Torá.” Aquele que “escreve
37

a agada perde sua parte no mundo vindouro”. Então os rabinos decidiram submeter “o
38

ensino oral” à forma escrita . Na justificação da ousada reforma, eles interpretaram o


versículo nos Salmos 119: 126 como significando: “Chega um momento em que você pode
revogar a Torá para fazer a obra do Senhor.” Portanto, os rabinos mantiveram que é melhor
que uma parte da Torá será revogada, e toda a Torá será esquecida. O acúmulo de grande
39

quantidade de aprendizagem, a dispersão das comunidades judaicas, eo enfraquecimento da


memória militado contra o sistema oral.
O rabino Mendel de Kotsk perguntou: Como os rabinos antigos poderiam abolir o princípio
fundamental do judaísmo, para não escrever o que deve ser mantido como uma tradição oral,
com base em um único versículo no livro dos Salmos? A verdade é que a Torá oral nunca foi
escrita. O significado da Torá nunca foi contido pelos livros.
NOTAS DO CAPÍTULO 27
O autor pretende publicar em outro lugar um estudo detalhado do que o princípio da
revelação significava na tradição judaica.
1
Compare a declaração do rabino Moshe Cordovero, citada no rabino Abraham Azulai, ou
Hachama, Przemsyl, 1897, vol. II, p. 145d-146a.
2
Maimonides discute a segunda afirmação em seu Comentário sobre a Mishnah, enquanto em
The Guide of the Perplexed, ele discute a primeira afirmação.
3
“Existe uma tradição entre nosso povo de que o dia da revelação no Monte Sinai estava
enevoado, nublado e um pouco chuvoso.” Maimonides, O Guia dos Perplexos , Livro III, cap. 9.
Compare o rabino Isaac Caro (um talmudista espanhol e comentarista da Bíblia que floresceu
na segunda metade do século XV e na primeira metade do século XVI. Ele era tio do rabino
Joseph Caro), Toldot Yizhak, Amsterdã, 1708, p. 65a
4
Êxodo Rabba, 5, 9.
5
Jerushalmi Makkot, II, 31d.
6
Gênese. Rabba, 17, 5.
7
É equiparado à Sabedoria, que diz por si mesma: "O Senhor me criou no princípio do Seu
caminho, antes das Suas obras antigas", Provérbios 8:22. Veja Sirach, 1: 4; Sabedoria de
Salomão 9: 9. Compare Louis Ginzberg, As Lendas dos Judeus, vol. V, pp. 4 e 132f.
8
Shevuot, 5a.
9
Rabino Yehuda Loew ben Bezalel (Maharal), Derech Hayim , Varsóvia, 1833, p. 8d. Veja
também acima, p. 15
10
Compare Pesikta de Rabbi Kabana, 4, ed. Buber, p. 39a e Sinédrio 21b.
11
Rashi, comentário sobre The Song of Songs 1: 2. Veja Tanbuma , Balaque, 14; Números
Rabba , 20, 20.
12
Rabi Moshe Cordovero, Pardes Rimonim, XXI, 6; Korets, 1786, p. 165a.
13
Rabino Isaiah Horowitz, Shne Luhot Haberit , p. 59a
14
Rabino Abraham Azulai, Hesed Leavraham, 2 de maio , nahar 12. Em relação à lei de
Deuteronômio 21: 10-14, o Talmude observa: “A Torá considerou o fato da
paixão.” Kiddushin 21b.
De acordo com Maimonides, os sacrifícios foram incluídos na lei porque as pessoas daquela
época não teriam sido capazes de diferenciar a forma sacrificial de adoração à qual eles e
todos os outros povos da época estavam acostumados. O Guia dos Perplexos , Livro III, 32. 46.
Essa motivação é talvez indicada em Levítico 17: 7 e expressamente declarada em Levítico
Rabba 22,5. ver Zohar , vol. III, 224a. O culto ao sacrifício não é mencionado no decálogo. Foi
introduzido somente depois que os filhos de Israel adoraram o Bezerro de Ouro. Veja
Abravanel, Comentário sobre Jeremias 7:22, e Seforno, Comentário , introdução ao
Levítico. Ver Zev Yaavets, Toldot Israel , vol. I, Berlim, 1925, pp. 154-160.
15
Leshem Shevo Veahlamah, Pietrkov , 1911, vol. II, p. 305b.
16
Hullin 60b.
17
Toameha Hayim Zahu, Jerusalém, 1924, vol. III, p. 40
18
Eclesiastes Rabba , ad locum.
19
Ver Temunah , Koretz , 1784, pp. 27a, 30a-31a; Rabi Moshe ben Joseph di Trani (1505-
1585), Bet Elohim, Veneza , 1576, p. 58b; O rabino Abraham Azulai, Hesed Leavraham, maia
2, nahar 11; Rabino Gedaliah de Luninec, Teshuot Hen, em nome de Baal Shem.
20
Sinédrio, 89a. A palavra signon é usada em dois sentidos, significando idéia e expressão. Veja
a observação de Husik em sua edição de Ikkarim , III de Albo , p. 84
21
Rabino Samuel Edels, Comentário ao Sinédrio 89b.
22
O Decálogo é apresentado no Pentateuco em duas versões (Êxodo 20: 2-17 e Deuteronômio
5: 6-18) que exibem algumas variantes. Os rabinos resolveram a dificuldade assumindo que
ambas as versões eram de origem divina idêntica e foram proferidas milagrosamente ao
mesmo tempo ( Mechilta a 20: 8). Ibn Ezra, no entanto, sustenta que essas e muitas variantes
semelhantes na Bíblia se devem ao fato de que para Moisés o significado da revelação era
essencial, e não a palavra. “Saiba que as palavras são como corpos, e os significados como
almas; e o corpo é um vaso para a alma. Esta é a razão pela qual os estudiosos ... são
cuidadosos com os significados, mas não pensam em mudar ou usar palavras diferentes se o
significado permanecer o mesmo. ”Introdução ao Decálogo em seu Comentário ao Êxodo
20; veja seu comentário a Deuteronômio 5: 5. Compare Ibn Adret, Responsa , 1,
12; Nahmanides, Comentário sobre Números 2: 4 e Gênesis 1: 4; Ibn Zimra, Responsa , III,
149; Shem Tov, Comentário sobre O Guia dos Perplexos , II, 29; Rabino Shneur Zalman de
Ladi, Tanya , cap. 21
23
Rabino Yaakov Yosef, de Ostrog, Rav Yevi, sobre os Salmos 18. A idéia é discutida pelo rabino
Moshe Alshech, Comentário sobre Levítico 9: 2. De acordo com os rabinos, todos os profetas
contemplavam uma visão de Deus através de um espéculo escuro, enquanto Moisés
contemplava uma visão através de um espéculo lúcido. A diferença, segundo Rashi, era que
os profetas acreditavam que haviam visto a Deus, mas não o fizeram, enquanto Moisés, que
olhou através de um espéculo lúcido, sabia que ele não o via! Yebamot , 45b. Veja Joseph
Albo, Ikkarim, parte 3, 9.

24
Zohar, vol. III, p. 52a
25
Midrash Tehillim, 119, 9, ed. Buber, p. 493
26
Zohar, vol. III, p. 152a.
27
Shabat 97a; Canção das canções Rabba 1,39. Compare o Shabat 89b; Yebamot 49b; Baba
Kamma 38a; Sinédrio 111b; Midrash Tebillim 7,1.3.
28.
Tosetto Berachot 3, 7.
29
Seder Eliahu Rabba , cap. 4, ed M. Friedmann, Viena, 1902, p. 17
30
Eclesiastes Rabba , 5,4.
31
Leshem Shevo Veablemab , vol. II, p. 305b. Veja acima, nota 15.
32.
Rabino Mendel de Kotsk.
33
Midrash Tehillim 3,1.
34
Midrah Tehillim em 119: 19.
35
Ver I. Reicher, Torat Harishonim, Varsóvia, 1926; S. Gandz, O alvorecer da literatura , Osíris,
vol. VII, 1939, p. 438f.
36.
Seder Eliahu Zuta , cap. 2, ed. Friedmann, p. 172
37.
Temurah , 14b.
38.
Jerushalmi Shabbat, XVI, p. 1.
39.
Temurah , 14b; Gittin, 60a

3)
RESPOSTA

28.
Uma ciência dos feitos
A SUPREMA AQUISIÇÃO
Conhecimento de Deus é conhecimento de viver com Deus. A existência religiosa de Israel
consiste em três atitudes internas: compromisso com o Deus vivo a quem somos
responsáveis; compromisso com a Torá, onde Sua voz é audível; e engajamento à Sua
preocupação, conforme expresso em mitsvot (mandamentos).
O engajamento com Deus ocorre nos atos da alma. O compromisso com a Torá é o resultado
do estudo e da comunhão com suas palavras. O engajamento com Sua preocupação ocorre
através do apego aos elementos essenciais da adoração. Seu significado é revelado em atos
de adoração.
Se Deus fosse uma teoria, o estudo da teologia seria o caminho para entendê-lo. Mas Deus
está vivo e precisa de amor e adoração. É por isso que pensar em Deus está relacionado à
nossa adoração. Numa analogia da compreensão artística, cantamos para ele antes que
possamos entendê-lo. Temos que amar para saber. A menos que aprendamos a cantar, a
menos que saibamos amar, nunca aprenderemos como entendê-Lo.
A tradição judaica interpreta as palavras que Israel proferiu no Sinai: "tudo o que o Senhor
falou, faremos e ouviremos" (Êxodo 24: 7), como uma promessa de cumprir Seus
mandamentos mesmo antes de ouvi-los, como a precedência de fé sobre o
conhecimento . “Quando no Sinai Israel disse que devemos fazer e ouvir (em vez de dizer,
ouviremos e faremos), uma voz celestial saiu e exclamou:” Quem revelou a Meus filhos
esse mistério que os anjos ministradores representam , para cumprir Sua palavra antes que
eles ouçam a voz. ”1

Um herege, relata o Talmud, repreendeu os judeus pela imprudência em que ele alegou que
eles persistiam. “Primeiro você deveria ter ouvido; se os mandamentos estivessem ao seu
alcance, você deveria tê-los aceito; se além do seu poder, os rejeitou. ”De fato, a suprema
aquiescência de Israel no Sinai foi uma inversão, virando de cabeça para baixo a ordem de
atitudes como concebida por nosso pensamento abstrato. Nem sempre afirmamos que
devemos primeiro explorar um sistema antes de decidir aceitá-lo? Essa ordem de
investigação é válida em relação à teoria pura, a princípios e regras, mas possui limitações
quando aplicada a domínios em que pensamento e fato, o abstrato e o concreto, teoria e
experiência são inseparáveis. Seria inútil, por exemplo, explorar o significado da música e
abster-se de ouvir música. Seria igualmente fútil explorar o pensamento judaico à distância,
em auto-desapego. O pensamento judaico é divulgado na vida judaica. Este é, portanto, o
caminho da existência religiosa. Não exploramos primeiro e depois decidimos se devemos
aceitar o modo de vida judaico. Devemos aceitar para poder explorar. No começo está o
compromisso, a suprema aquiescência.
UM SALTO DE AÇÃO
Em nossa resposta à Sua vontade, percebemos Sua presença em nossas ações. Sua vontade é
revelada em nosso fazer. Ao realizar uma ação sagrada, selamos as fontes da fé. Quanto a
mim, contemplarei a tua face em retidão (Salmos 18:15).
Existe um caminho que leva da piedade à fé. Piedade e fé não são necessariamente
concorrentes. Pode haver atos de piedade sem fé. Fé é visão, sensibilidade e apego a
Deus; piedade é uma tentativa de alcançar tal sensibilidade e apego. Os portões da fé não
estão entreabertos, mas o mitsvá é uma chave. Ao viver como judeus, podemos alcançar
nossa fé como judeus. Não temos fé por causa de ações; podemos alcançar a fé através de
obras sagradas.

Pede-se a um judeu que dê um salto de ação em vez de um salto de pensamento. Ele é


convidado a superar suas necessidades, a fazer mais do que entende, a fim de entender mais
do que ele. Ao cumprir a palavra da Torá, ele é conduzido à presença de significado
espiritual. Através do êxtase dos atos, ele aprende a ter certeza da heresia de Deus. Viver
certo é uma maneira de pensar corretamente.
O sentido do inefável, a participação na Torá e Israel, o salto de ação - todos eles levam ao
mesmo objetivo. A insensibilidade ao mistério da existência, o desapego da Torá e Israel, a
crueldade e a profanação da vida, alienam o judeu de Deus. A resposta à maravilha, a
participação na Torá e Israel, a disciplina na vida cotidiana, aproxima-nos dEle.
Que compromissos devem preceder a experiência de tal significado? Que convicções devem
persistir para possibilitar tais insights? Nosso modo de viver deve ser compatível com a
nossa essência, criada à semelhança de Deus. Devemos tomar cuidado para que nossa
semelhança seja distorcida e até perdida. Em nosso modo de viver, devemos permanecer
fiéis não apenas ao nosso senso de poder e beleza, mas também ao nosso senso de grandeza
e mistério da existência. O verdadeiro significado da existência é revelado em momentos de
viver na presença de Deus. O problema que enfrentamos é: como podemos viver de uma
maneira que esteja de acordo com essas convicções?
A escritura é o risco
Como deve o homem, um ser criado à semelhança de Deus, viver? Que modo de vida é
compatível com a grandeza e o mistério da vida? É um problema que o homem sempre esteve
ansioso por ignorar. Na calçada da cidade romana de Timgat, foi encontrada uma inscrição
que dizia: “Caçar, tomar banho, jogar, rir, isso é viver”. O judaísmo é um lembrete da grandeza
e seriedade da vida.
Em que dimensão da existência o homem toma consciência da grandeza e seriedade da
vida? Quais são as ocasiões em que ele descobre a natureza de si mesmo? A necessidade de
diagnosticar e curar a condição da alma? Na solidão da auto-reflexão, o eu pode parecer uma
fonte de belos pensamentos e ideais. No entanto, o pensamento pode ser um feitiço, e os
ideais podem ser usados como diademas emprestados.
É nas ações que o homem toma consciência do que realmente é sua vida, de seu poder de
prejudicar e magoar, de destruir e arruinar; de sua capacidade de obter alegria e conceder a
outros; aliviar e aumentar as tensões próprias e de outras pessoas. É no emprego de sua
vontade, não na reflexão, que ele se encontra como é; não como ele gostaria que fosse. Em
suas ações, o homem expõe seus desejos imanentes e suprimidos, soletrando até aquilo que
ele não pode apreender. O que ele não se atreve a pensar, muitas vezes pronuncia em atos. O
coração é revelado nas ações.
A ação é o teste, o julgamento e o risco. O que realizamos pode parecer leve, mas o resultado
é imenso. A má conduta de um indivíduo pode ser o começo do desastre de uma nação. O sol
se põe, mas as ações continuam. A escuridão acabou com tudo o que fizemos. Se o homem
fosse capaz de examinar rapidamente tudo o que fez ao longo de sua vida, o que sentiria? Ele
ficaria aterrorizado com a extensão de seu próprio poder. Amarrar tudo o que fizemos à
nossa consciência ou à nossa mente seria como tentar amarrar uma torrente a uma
palheta. Mesmo uma única ação gera um conjunto interminável de efeitos, iniciando mais do
que o homem mais poderoso é capaz de dominar ou prever. Uma única ação pode colocar a
vida de inúmeros homens na cadeia de seus efeitos imprevisíveis. Tudo o que possuímos é
uma intenção passageira, mas o que acontecerá sobreviverá e ultrapassará nosso
poder. Olhar com sobriedade para o mundo o homem é muitas vezes superado com um medo
de ação, um medo que, sem o conhecimento dos caminhos de Deus, se transforma em
desespero.
NOSSO ULTIMATE EMBARRASSMENT
A seriedade de fazer supera a sensibilidade de nossa consciência. Infinitas são as
consequências de nossas ações, mas finitas são nossa sabedoria. Quando o homem está
sozinho, sua responsabilidade parece desaparecer como uma gota no oceano de
necessidade. É sobre-humano ser responsável por tudo o que fazemos e por tudo o que
deixamos de fazer, responder por todas as causalidades das atividades de alguém. Como
devemos reconciliar responsabilidade infinita com sabedoria finita? Como é possível a
responsabilidade?
Responsabilidade infinita sem sabedoria infinita e poder infinito é o nosso constrangimento
final.
Não coisas, mas ações são a fonte de nossas tristes perplexidades. Confrontado com um
mundo de coisas, o homem desencadeia uma maré de ações. O fato fabuloso da capacidade
do homem de agir, a maravilha de ir , não é menos surpreendente do que a maravilha de
ser. A ontologia pergunta: o que é ser ? O que significa ser? A mente religiosa pondera: o que
está fazendo ? O que isso significa fazer? Qual é a relação entre o agente e a ação? entre fazer
e ser? Existe um propósito a cumprir, uma tarefa a realizar?
“Um homem deve sempre considerar a si mesmo como se ele fosse meio culpado e meio
meritório; se ele realiza uma boa ação, abençoado é porque ele move a balança em direção
ao mérito; se ele comete uma transgressão, ai dele, porque ele move a balança em direção à
culpa. ”Não apenas o indivíduo, mas o mundo inteiro está em equilíbrio. Uma ação de um
indivíduo pode decidir o destino do mundo. “Se ele realiza uma boa ação, abençoado é
porque move a balança para si e para o mundo inteiro para o lado do mérito; se ele comete
uma transgressão, ai de ele, pois se move para o lado da culpa e do mundo inteiro. ” 2

UMA ABORDAGEM METAÉTICA


O que devemos fazer? Como devemos conduzir nossas vidas? Essas são questões básicas de
ética. Eles também são questões de religião. A filosofia da religião deve indagar: por que
fazemos essas perguntas? Eles são significativos? Com que fundamento os declaramos? Para
a ética, essas são perguntas do homem, necessárias pela natureza da existência humana. Para
a religião, essas são perguntas de Deus, e nossa resposta a elas diz respeito não apenas ao
homem, mas a Deus.
"O que devo fazer?", De acordo com Kant, é a questão básica da ética. A nossa, no entanto, é
uma abordagem mais radical, meta-ética. A questão ética refere-se a ações particulares; a
questão meta-ética se refere a todas as ações. Trata-se de fazer como tal; não apenas o que
devemos fazer, mas qual é o nosso direito de agir? Somos dotados da capacidade de
conquistar e controlar as forças da natureza. Ao exercer o poder, submetemos à nossa
vontade um mundo que não criamos, invadindo reinos que não nos pertencem. Somos os reis
do universo ou meros piratas? Por cuja graça, com que direito, exploramos, consumimos e
desfrutamos dos frutos das árvores, das bênçãos da terra? Quem é responsável pelo poder
de explorar, pelo privilégio de consumir?
Não é um problema acadêmico, mas um problema que enfrentamos a todo
momento. Somente pela vontade, o homem se torna o mais destrutivo de todos os seres. Esta
é a nossa situação: nosso poder pode se tornar nossa ruína. Estamos na ponta de uma
navalha. É tão fácil magoar, destruir, insultar, matar. Dar à luz um filho é um mistério; levar
a morte a milhões é apenas uma habilidade. Não está completamente dentro do poder da
vontade humana gerar vida; está completamente dentro do poder da vontade de destruir a
vida.
No meio de tanta ansiedade, somos confrontados com a afirmação da Bíblia. O mundo não é
todo perigo, e o homem não está sozinho. Deus concedeu liberdade ao homem e Ele
compartilhará de nosso uso da liberdade. A terra é do Senhor, e Deus está em busca do
homem. Ele dotou o homem de poder para conquistar a terra, e Sua honra está sobre nossa
fé. Abusamos de Seu poder, traímos Sua confiança. Não podemos esperar que Ele diga:
Embora você me trai, ainda assim confiarei em ti.
O homem é responsável por Seus atos, e Deus é responsável pela responsabilidade do
homem. Quem dá a vida deve ser um legislador. Ele compartilha de nossa
responsabilidade. Ele está esperando para entrar em nossas ações através de nossa lealdade
à Sua lei. Ele pode se tornar um parceiro de nossas ações.
Deus e o homem têm uma tarefa em comum, assim como uma responsabilidade comum e
mútua. O constrangimento final não é um problema do homem solitário, mas um problema
íntimo para Deus e o homem. O que está em jogo é o significado da criação de Deus, não
apenas o significado da existência do homem. A religião não é uma preocupação apenas do
homem, mas um apelo de Deus e uma reivindicação do homem, a expectativa de Deus e a
aspiração do homem. Não é um esforço apenas para o bem do homem. A religião representa
uma tarefa no mundo do homem, mas seus fins vão muito além. É por isso que a Bíblia
proclamava uma lei não apenas para o homem, mas para Deus e o homem.
Pois tu acenderás a minha lâmpada (Salmos 18:29). “O Santo disse ao homem: A tua lâmpada
está na minha mão, a minha lâmpada na tua. A tua lâmpada está na minha - como se diz: A
lâmpada do Senhor é a alma do homem (Provérbios 20:27). Minha lâmpada está na tua mão,
para acender a lâmpada perpétua. O Santo disse: Se tu acenderes a Minha lâmpada, eu
acenderei a tua. ”3

A PARCERIA DE DEUS E DO HOMEM


Assim como o homem não está sozinho no que é, ele não está sozinho no que faz . Um mitsvá
é um ato que Deus e o homem têm em comum. Dizemos: “Bendito és Tu, Senhor nosso Deus,
Rei do universo, que nos santificou com Seu mitsvot.” Eles O obrigam, assim como nós. Sua
realização não é avaliada como um ato realizado apesar da “má vontade”, mas como um ato
de comunhão com Ele. O espírito do mitsvá é a união . Sabemos, Ele é um parceiro do nosso
ato.
A forma mais antiga de piedade é expressa na Bíblia como andar com Deus. Enoque, Noé,
andou com Deus (Gênesis 5:24; 6: 9) “Foi ti, ó homem, o que é bom, e que o Senhor não requer
de ti disse: apenas para fazer justiça, amar a misericórdia e para anda humildemente com teu
Deus ” (6: 8). Somente o egoísta está confinado a si mesmo, um recluso espiritual. Ao realizar
uma boa ação, é impossível ficar ou sentir-se sozinho. Cumprir um mitsvá é ser partidário,
entrar em comunhão com a Sua Vontade.
MANEIRAS, NÃO LEIS
O imperativo moral não foi divulgado pela primeira vez através de Abraão ou Sinai. A
criminalidade do assassinato era conhecida pelos homens antes; até a instituição para
descansar no sétimo dia era, segundo a tradição, familiar aos judeus quando ainda estavam
no Egito. A idéia de justiça divina também não era desconhecida. O que era novo era a ideia
de que a justiça é uma obrigação para com Deus, Seu caminho não apenas Sua exigência; que4

injustiça não é algo que Deus despreza quando praticado por outros, mas aquilo que é
exatamente o oposto de Deus; que os direitos do homem não são interesses da sociedade
legalmente protegidos, mas os sagrados interesses de Deus. Ele não é apenas o guardião da
ordem moral, “o Juiz de toda a terra”, mas Aquele que não pode agir injustamente (Gênesis
18:25). Seu favorito não era Ninrode, “o primeiro homem na terra a ser um herói” (Gênesis
10: 9), mas Abraão: “Eu o escolhi para que ele ordenasse a seus filhos e sua família que
seguisse o caminho do Senhor. fazer justiça e justiça ”(Gênesis 18:19). A Torá é
primariamente caminhos divinos, e não leis divinas. Moisés orou: “Deixe-me conhecer os teus
caminhos” (Êxodo 33:13). Tudo o que Deus pede ao homem foi resumido: “E agora, Israel, o
que o Senhor teu Deus exige de ti ... senão que siga todos os seus caminhos” (Deuteronômio
10: 12).
O que significa, perguntou o rabino Hama, filho do rabino Hanina, quando disse: "Andareis
segundo o Senhor vosso Deus"? (Deuteronômio 13: 5). “É possível que um ser humano
caminhe atrás da Shechiná ; Não foi dito: Porque o Senhor teu Deus é um fogo que
devora? Mas o significado é andar nos caminhos do Senhor. Como Ele veste os nus, também
vestirás os nus; como ele visitou os enfermos, assim também os visitou; assim como
consolou os enlutados, assim também consola os enlutados ” (Sotah 14a).
A DIVINDADE DE AÇÕES
Não atos particulares, mas todos os atos, a própria vida, podem ser estabelecidos como um
elo entre o homem e Deus. Mas como podemos presumir que as chavões de nossas ações têm
significado para Ele? Como ousamos dizer que as ações têm o poder de se aglomerar contra
Ele? que trivialidade humana pode se apegar à eternidade?
A validade da ciência é baseada na premissa de que a estrutura dos eventos na natureza é
inteligível, capaz de ser observada e descrita em termos racionais. Somente por causa da
analogia da estrutura da mente humana com a estrutura interna do universo é que o homem
é capaz de descobrir as leis que governam seus processos. E os eventos na vida interior e
moral do homem? Existe algum domínio ao qual eles correspondem? Os profetas que sabiam
tomar a medida divina das ações humanas, ver a estrutura da luz absoluta no espectro de um
único evento, sentiram essa correspondência. O que um homem faz em seu canto mais
sombrio é relevante para o Criador. Em outras palavras, como a racionalidade dos eventos
naturais é assumida pela ciência, o mesmo ocorre com a divindade dos atos humanos
assumida pela profecia. e

Assim, além da idéia da imitação da divindade, vai a convicção da divindade das ações. Atos
sagrados, mitsvot, não apenas imitam; eles representam o divino. Os mitsvot são da essência
de Deus, mais do que maneiras mundanas de cumprir Sua vontade. O rabino Simeon ben
Yohai declara: “Honre os mitsvot, pois eles são meus deputados, e um deputado é dotado da
autoridade de seu diretor. Se você honra o mitsvot, é como se você me honrasse; se você
desonrá-los, é como se você me desonrasse. ” 5

A Bíblia fala do homem como tendo sido criado à semelhança de Deus, estabelecendo o
princípio de uma analogia do ser. No seu próprio ser, o homem tem algo em comum com
Deus. Além da analogia do ser, a Bíblia ensina o princípio de uma analogia nos atos. O homem
pode agir à semelhança de Deus. É essa semelhança de atos - “andar nos Seus caminhos” -
que é o elo pelo qual o homem pode se aproximar de Deus. Viver em tal semelhança é a
essência da imitação do Divino.
FAZER O QUE É
Em outras religiões, deuses, heróis, sacerdotes são santos; para a Bíblia, não apenas Deus,
mas “toda a comunidade é santa” (Números 16: 3). “Sereis para mim um reino de sacerdotes,
um povo santo” (Êxodo 19: 6), foi a razão da eleição de Israel, o significado de sua distinção. O
que obtém entre o homem e Deus não é mera submissão ao Seu poder ou dependência de
Sua misericórdia. O argumento não é obedecer ao que Ele quer, mas fazer o que Ele é.
Não se diz: Estareis cheios de reverência, porque eu sou santo, mas: Vós sereis santos, porque
eu, o Senhor vosso Deus, sou santo (Levítico 19: 2). Como um ser humano, “pó e cinzas”, fica
santo? Ao fazer Seus mitsvot, Seus mandamentos. "O Santo Deus é santificado pela justiça"
(Isaías 5:16). Um homem para ser santo deve temer sua mãe e pai, guardar o sábado, não se
voltar para os ídolos ... nem negociar falsamente, nem mentir um para o outro ... não
amaldiçoar os surdos nem colocar uma pedra de tropeço diante dos cegos ... não ser culpado
de qualquer injustiça ... não seja um portador de histórias ... não fique à toa com o sangue do
seu próximo ... não odeie ... não se vingue nem guarde rancor ... mas ame o seu próximo como
a si mesmo (Levítico 19: 3-18).
Vivemos pela convicção de que atos de bondade refletem a luz oculta de Sua santidade. Sua
luz está acima de nossas mentes, mas não além de nossa vontade. Está ao nosso alcance
refletir Seu amor sem fim em ações de bondade, como riachos que sustentam o céu.
Semelhança nas ações
Mitsvot, então, são mais do que reflexos da vontade de um homem ou transcrições de suas
visões. Ao realizar uma tarefa sagrada, divulgamos uma intenção divina. Com um ato sagrado
vai mais do que uma agitação do coração. Em uma ação sagrada, ecoamos o canto suprimido
de Deus; no amor, entoamos a canção inacabada de Deus. Nenhuma imagem do Supremo
pode ser modelada, exceto uma: nossa própria vida como uma imagem de Sua vontade. O
homem, formado à Sua semelhança, foi feito para imitar Seus caminhos de misericórdia. Ele
delegou ao homem o poder de agir em Seu lugar. Nós O representamos em aliviar aflições,
em conceder alegria. Esforçando-se pela integridade, ajudando nossos semelhantes; o desejo
de traduzir a natureza em espírito, volição em sacrifício, instinto em amor; é tudo um esforço
para representá-lo.
“A BOA UNIDADE”
Cumprir a vontade de Deus em ações significa agir em nome de Deus, não apenas por
causa de Deus; realizar em atos o potencial de Sua vontade. Ele precisa da obra do homem
para o cumprimento de Seus fins no mundo.
A ação humana não é o começo. No começo é a eterna expectativa de Deus. Há um grito
eterno no mundo: Deus está implorando ao homem que responda, volte, cumpra. Algo é
pedido ao homem, a todos os homens, em todos os momentos. Em todo ato que respondemos
ou desafiamos, retornamos ou nos afastamos, cumprimos ou erramos a meta. A vida consiste
em infinitas oportunidades de santificar os profanos, oportunidades de redimir o poder de
Deus da cadeia de potencialidades, oportunidades de servir a fins espirituais.
Tão certo quanto somos levados a viver, somos levados a servir fins espirituais que superam
nossos próprios interesses. "O bom impulso" não é inventado pela sociedade, mas é algo que
torna a sociedade possível; não uma função acidental, mas da própria essência do
homem. Podemos não ter uma percepção clara de seu significado, mas somos movidos pelo
horror de sua violação. Não precisamos apenas de Deus, mas também de servir aos Seus fins,
e esses fins precisam de nós.
Mitsvot não são ideais, entidades espirituais para sempre suspensas na eternidade. São
mandamentos dirigidos a todos nós. São as maneiras pelas quais Deus nos confronta em
momentos particulares. No mundo infinito, há uma tarefa para eu realizar. Não é uma tarefa
geral, mas uma tarefa para mim, aqui e agora. Mitsvot são fins espirituais, pontos da
eternidade no fluxo da temporalidade.
TERMINA NA NECESSIDADE DO HOMEM
O homem e os fins espirituais mantêm uma relação de reciprocidade. A relação com fins
egoístas é unilateral: o homem precisa comer pão, mas o pão não precisa ser comido. A
relação é diferente em relação aos fins espirituais: a justiça é algo que deve ser feito, a justiça
precisa do homem. O senso de obrigação expressa uma situação em que um ideal, por assim
dizer, está esperando para ser alcançado. Os fins espirituais vêm com uma reivindicação
sobre a pessoa. Eles são imperativos, não apenas impressionantes; demandas, não idéias
abstratas. Os valores estéticos são experimentados como objetos de gozo, enquanto os atos
religiosos são experimentados como objetos de compromissos, como respostas à certeza de
que algo nos é pedido, esperado de nós. Os fins religiosos precisam de nossos atos.
CIÊNCIA DE ATUAÇÃO
O judaísmo não é uma ciência da natureza, mas uma ciência do que o homem deve fazer com
a natureza. Preocupa-se sobretudo com o problema de viver. Leva as obras mais a sério do
que as coisas. A lei judaica é, em certo sentido, uma ciência de ações. Sua principal
preocupação não é apenas como adorá-lo em determinados momentos, mas como viver com
ele em todos os momentos. Toda ação é um problema; existe uma tarefa única a cada
momento. Toda a vida em todos os momentos é o problema e a tarefa.
NOTAS DO CAPÍTULO 28
1
Sbabbat 88a. Veja também a passagem de Midrash Hazita , citada em Man is Not Alone, p. 93
2
Kiddushin 40b.
3
Levítico Rabba 31, 4.
4
Os caminhos de Deus diferem dos do homem; enquanto o homem instrui outros a fazerem
algo enquanto ele não faz nada, Deus somente diz a Israel que faça e observe o que Ele
próprio faz. ” Êxodo Rabba 30, 9. Ver Jerushalmi Rosh Hashaná 1,3, 7a.
5
Tanhuma para Gênesis 46:28.

29
Mais que interioridade
POR FÉ SOZINHO?
A afirmação do judaísmo de que religião e lei são inseparáveis é difícil para muitos de nós
compreender. A dificuldade pode ser explicada pela concepção do homem moderno da
essência da religião. Para a mente moderna, a religião é um estado da alma,
interioridade; sentimento em vez de obediência, fé em vez de ação, espiritual em vez de
concreto. Para o judaísmo, a religião não é um sentimento por algo que é, mas uma
resposta para quem está nos pedindo para viver de uma certa maneira. É na sua própria
origem uma consciência de total comprometimento; uma percepção de que toda a vida não
é apenas do homem, mas também da esfera de interesse de Deus.
“Deus pede o coração.” No entanto, ele pede apenas o coração? A intenção correta é
1

suficiente? Algumas doutrinas insistem que o amor é a única condição para a salvação
(Sufi, Bhakti-marga), enfatizando a importância da interioridade, do amor ou da fé, com
2

exclusão das boas obras.


Paulo travou uma batalha apaixonada contra o poder da lei e proclamou a religião da graça. A
lei, afirmou, não pode vencer o pecado, nem a justiça pode ser alcançada através de obras da
lei. Um homem é justificado “pela fé sem as obras da lei”.
3

Que a salvação é alcançada somente pela fé era a tese central de Lutero. A tendência
antinomiana resultou na ênfase excessiva do amor e da fé, com exclusão das boas obras.
A Fórmula da Concórdia de 1580, ainda válida no protestantismo, condena a afirmação de
que boas obras são necessárias para a salvação e rejeita a doutrina de que elas são
prejudiciais à salvação. Segundo Ritschl, a doutrina do mérito das boas ações é um intruso
no domínio da teologia cristã; o único caminho da salvação é justificação pela fé. Barth,
seguindo Kierkegaard, exprime pensamentos luteranos, quando afirma que os atos do
homem são pecaminosos demais para serem bons. Fundamentalmente, não existem ações
humanas que, devido à sua importância neste mundo, encontrem favor aos olhos de
Deus. Deus pode ser abordado somente por Deus.
O ERRO DO FORMALISMO
Ao tentar mostrar que a justiça não é idêntica à nossa predileção ou disposição, que é
independente de nosso interesse e consentimento, não devemos cometer o erro comum de
confundir a relação do homem com a justiça e a relação da justiça com o homem. Pois,
embora seja verdade que devemos fazer justiça por si mesma, a própria justiça é por causa
do homem. Definir justiça como aquilo que vale a pena fazer por si é definir o motivo, não o
propósito. É exatamente o oposto: o bom, ao contrário do jogo, nunca é feito por si só, mas
por um propósito. Pensar de outra maneira é transformar um ídolo em ideal; é o começo do
fanatismo. Definir o bem apenas pelo motivo, igualar o bem com a boa intenção e ignorar o
propósito e a substância da boa ação, é uma meia-verdade.
Aqueles que apenas prestaram atenção à relação do homem com os ideais, desconsiderando
a relação dos ideais com o homem, em suas teorias viram apenas o motivo, mas não o
propósito da religião ou da moralidade. Ecoando a doutrina paulina de que o homem é salvo
somente pela fé, Kant e seus discípulos ensinaram que a essência da religião ou da moral
consistiria em uma qualidade absoluta da alma ou da vontade, independentemente das ações
que possam advir dela ou dos seus fins. isso pode ser alcançado. Consequentemente, o valor
de um ato religioso seria determinado inteiramente pela intensidade da fé de alguém ou pela
retidão de sua disposição interior. A intenção, não a ação, o como , não o que é da conduta de
alguém, seria essencial, e nenhum outro motivo além do senso de dever teria algum valor
moral. Assim, os atos de bondade, quando não ditados pelo senso de dever, não são melhores
que a crueldade, e a compaixão ou o respeito pela felicidade humana como tal são encarados
como um motivo oculto. "Eu não quebraria minha palavra nem para salvar a humanidade!",
Exclamou Fichte. Sua salvação e justiça eram aparentemente muito mais importantes para
ele do que o destino de todos os homens que ele teria destruído a humanidade para salvar a
si mesmo. Essa atitude não ilustra a verdade do provérbio: "O caminho para o inferno é
pavimentado com boas intenções"? Não devemos dizer que uma preocupação com a própria
salvação e justiça que supera a consideração pelo bem-estar de um ser humano não pode ser
qualificada como uma boa intenção?
O judaísmo enfatiza a relevância das ações humanas. Ele se recusa a aceitar o princípio de
que, em todas as circunstâncias, a intenção determina a ação. No entanto, a ausência da
intenção correta não difama necessariamente a bondade de uma ação de caridade. As boas
4

ações de qualquer homem, a qualquer nação ou religião a que ele possa pertencer, mesmo
5

quando praticado por uma pessoa que nunca foi alcançada por um profeta e que, portanto,
age com base em sua própria compreensão, serão recompensados por Deus .
6

SEM DICOTOMIA
A causa de quase todas as falhas nas relações humanas é esta - que, embora admiremos e
exaltemos as tarefas, deixamos de adquirir as ferramentas. Nem a mão nua nem a alma
deixada para si mesma podem afetar muito. É por instrumentos que o trabalho é feito. A alma
precisa deles tanto quanto da mão. E como os instrumentos da mão o movimentam ou guiam,
também os instrumentos da alma fornecem sugestões ou advertências. A significância do
mitsvot consiste em serem veículos pelos quais avançamos no caminho para fins espirituais.
A fé não é um tesouro silencioso a ser guardado no isolamento da alma, mas uma menta para
encontrar a moeda de ações comuns. Não basta dedicar-se na alma, consagrar momentos na
quietude da contemplação.
A dicotomia da fé e das obras que apresentavam um problema tão importante na teologia
cristã nunca foi um problema no judaísmo. Para nós, o problema básico não é qual é a ação
correta nem qual é a intenção correta. O problema básico é: o que é viver corretamente? E a
vida é indivisível. A esfera interna nunca é isolada das atividades externas. Ação e
pensamento estão unidos. Tudo o que uma pessoa pensa e sente entra em tudo o que faz, e
tudo o que faz está envolvido em tudo o que pensa e sente.
As aspirações espirituais estão fadadas ao fracasso quando tentamos cultivar ações à custa
de pensamentos ou pensamentos à custa de ações. É a visão interior do artista ou sua luta
com a pedra que produz uma obra de escultura? A vida correta é como uma obra de arte, o
produto de uma visão e de uma luta com situações concretas.
O judaísmo é avesso às generalidades, avesso à busca de sentido na vida, separado do fazer,
como se o significado fosse uma entidade separada. Sua tendência é converter idéias em
ações, interpretar idéias metafísicas como padrões de ação, dotar os princípios mais
sublimes da conduta cotidiana. Em sua tradição, o abstrato tornou-se concreto, o histórico
absoluto. Ao representar o santo no palco da vida concreta, percebemos nosso parentesco
com o divino, a presença do divino. O que não pode ser apreendido na reflexão,
compreendemos nas ações.
A ESPIRITUALIDADE NÃO É O CAMINHO
O mundo precisa mais do que a santidade secreta da interioridade individual. Precisa mais
do que sentimentos sagrados e boas intenções. Deus pede o coração porque Ele precisa da
vida. É por vidas que o mundo será redimido, por vidas que batem em concordância com
Deus, por ações que superam a caridade finita do coração humano.
O poder de ação do homem é menos vago do que seu poder de intenção. E uma ação tem um
significado intrínseco; seu valor para o mundo é independente do que significa para a pessoa
que o executa. O ato de dar comida a uma criança indefesa é significativo,
independentemente de a intenção moral estar ou não presente. Deus pede o coração, e
devemos soletrar nossa resposta em termos de ações.
Seria um artifício de presunção, se não de presunção, insistir que a pureza do coração é o
teste exclusivo da piedade. Pureza perfeita é algo que raramente sabemos como obter ou
reter. Ninguém pode afirmar ter purgado toda a escória, mesmo do seu melhor desejo. O eu
é finito, mas o egoísmo é infinito.
Deus pede o coração, mas o coração é oprimido pela incerteza em seu próprio
crepúsculo. Deus pede fé, e o coração não tem certeza de sua própria fé. É bom que haja um
amanhecer de decisão para a noite do coração; ações para objetivar a fé, formas definidas
para verificar a crença.
O coração é frequentemente uma voz solitária no mercado da vida. O homem pode ter ideais
elevados e comportar-se como o burro que, como diz o ditado, "carrega ouro e come cardos".
O problema da alma é como viver nobremente em um ambiente animal; como persuadir e
treinar a língua e os sentidos a se comportarem de acordo com as idéias da alma.
A integridade da vida não é exclusivamente uma coisa do coração; implica mais do que
consciência da lei moral. A câmara mais interna deve ser protegida nos postos
avançados. Religião não é o mesmo que espiritismo; o que o homem faz em sua existência
física concreta é diretamente relevante para o divino. Espiritualidade é a meta, não o
caminho do homem. Neste mundo, a música é tocada em instrumentos físicos, e para o judeu
os mitsvot são os instrumentos nos quais o santo é realizado. Se o homem fosse apenas
mente, a adoração em pensamento seria a forma pela qual comungar com Deus. Mas o
homem é corpo e alma, e seu objetivo é viver de modo que “seu coração e sua carne cantem
ao Deus vivo”.
AUTONOMIA E HETERONOMIA
Mas como sabemos quais são as ações certas? O conhecimento do certo e do errado deve
derivar apenas da razão e da consciência?
Existem aqueles que estão prontos para descartar a mensagem dos mandamentos divinos e
nos convidam a confiar em nossa consciência. Dizem que o homem só tem obrigação de agir
em conformidade com sua razão e consciência, e não deve estar sujeito a nenhuma lei, exceto
às que ele impõe a si mesmo. As leis morais são atingíveis pela razão e pela consciência, e
não há necessidade de um legislador. Deus é necessário meramente como garantia para o
triunfo final do esforço moral.
A falácia da doutrina da autonomia está em equiparar o homem com "o bom impulso" e toda
a sua natureza com razão e consciência. A capacidade do homem para o amor e a abnegação
("o bom impulso") não constitui a totalidade de sua natureza. Ele também está inclinado a
amar o sucesso, a adorar os vencedores e a desprezar os vencidos. Aqueles que nos chamam
a confiar em nossa voz interior falham em perceber que há mais de uma voz dentro de nós,
que o poder do egoísmo pode facilmente subjugar as dores da consciência. Além disso, a
consciência é frequentemente comemorada pelo que está além de sua capacidade. A
consciência não é um poder legislativo, capaz de nos ensinar o que devemos fazer, mas uma
agência preventiva; um freio, não um guia; uma cerca, não um caminho. Ele levanta a voz
depois que uma ação errada foi cometida, mas geralmente falha em nos orientar antes de
nossas ações.
Somente o insight do indivíduo é incapaz de lidar com todos os problemas da vida. É a
orientação da tradição na qual devemos confiar, e cujas normas devemos aprender a
interpretar e aplicar. Devemos aprender não apenas os fins, mas também os meios pelos
quais os realizamos; não apenas as leis gerais, mas também as formas particulares.
O judaísmo nos convida a ouvir não apenas a voz da consciência, mas também as normas de
uma lei heterônoma. O bem não é uma idéia abstrata, mas um mandamento, e o significado
último de sua realização é ser uma resposta a Deus.
A LEI
O homem teve que ser expulso do Jardim do Éden; ele teve que testemunhar o assassinato
de metade da espécie humana por Caim por inveja; experimente a catástrofe do dilúvio; a
confusão das línguas; escravidão no Egito e a maravilha do êxodo, estar pronto para aceitar
a lei.
Cremos que o judeu está comprometido com uma lei divina; que os padrões finais estão além
do homem e não dentro do homem. Acreditamos que existe uma lei, cuja essência deriva de
eventos proféticos, e cuja interpretação está nas mãos dos sábios.
Somos ensinados que Deus deu ao homem não apenas a vida, mas também uma lei. O
imperativo supremo não é meramente acreditar em Deus, mas fazer a vontade de Deus. O
código clássico, Turim, começa com as palavras de Judah ben Tema: "Seja ousado como um
leopardo, leve como uma águia, veloz como um cervo e forte como um leão para fazer a
vontade de seu Pai que está no céu." 7

O que é lei ? Uma maneira de lidar com o mais difícil de todos os problemas: a vida. A lei é
um problema para quem pensa que a vida é um lugar-comum. A lei é uma resposta para quem
sabe que a vida é um problema.
No judaísmo, a lealdade a Deus envolve um compromisso com a lei judaica, com uma
disciplina, com obrigações específicas. Esses termos, contra os quais o homem moderno
parece sentir uma aversão, são de fato parte da vida civilizada. Cada um de nós que
reconhece lealdade ao estado de que é cidadão está comprometido com sua lei e aceita as
obrigações que ela impõe a ele. Sua lealdade ocasionalmente o levará a fazer ainda mais do
que a mera lealdade exigiria. De fato, a palavra lealdade deriva da mesma raiz que
legal, ligo , que significa “estar vinculado”. Da mesma forma, a palavra obrigação vem do
latim obligo , vincular e denota o estado de estar vinculado por um vínculo legal ou moral .
O objetivo dos profetas era guiar e exigir, não apenas consolar e tranquilizar. O judaísmo não
tem sentido como uma atitude opcional a ser assumida em nossa conveniência. Para a mente
judaica, a vida é um complexo de obrigações, e a categoria fundamental do judaísmo é uma
demanda e não um dogma, um compromisso e não um sentimento. A vontade de Deus
é superior à crença do homem. A reverência pela autoridade da lei é uma expressão do nosso
amor a Deus.
No entanto, além da Sua vontade está o Seu amor. A Torá foi dada a Israel como um sinal de
Seu amor. Para retribuir esse amor, esforçamo-nos por alcançar ahavat Torá.
Um certo grau de autocontrole é o pré-requisito para uma vida criativa. Uma obra de arte
não representa o triunfo da forma sobre a matéria incipiente? Emoção controlada por uma
ideia? Sofremos com a ilusão de sermos maduros e com a tendência de superestimar o grau
de perfeição humana. Ninguém é maduro, a menos que tenha aprendido a se engajar em
atividades que exigem disciplina e autocontrole, e a perfeição humana depende da
capacidade de autocontrole.
Quando a mente sofre de preconceito e presunção, de sua incapacidade de interromper o
fluxo da vaidade transbordante, da imaginação se arrastando nas trevas em direção à tolice
e ao pecado, o homem começa a abençoar o Senhor pelo privilégio de servir na fé e em
concordância com a Sua. vai. O tempo nunca está ocioso; a vida está acabando; mas a lei nos
pega pela mão e nos leva a uma ordem da eternidade.
Existem mitsvot positivos e negativos, ações e abstenções. De fato, o sentido do santo é
freqüentemente expresso em termos de restrições, assim como o mistério de Deus é
transmitido via negationis , na teologia negativa que afirma que nunca podemos dizer o que
Ele é; só podemos dizer o que Ele não é. Seria inadequado o nosso serviço se consistisse
apenas em rituais e ações positivas que são tão defeituosas e muitas vezes abortivas. Por
mais preciosas que sejam as ações positivas, há momentos em que o silêncio das abstenções
sagradas é mais articulado do que a linguagem das ações. 8

UMA ORDEM ESPIRITUAL


Existe uma maneira segura de perder o significado da lei por atomização ou generalização,
vendo as partes sem o todo ou vendo o todo sem as partes.
É impossível entender o significado de atos únicos, distanciados do caráter total de uma vida
em que estão inseridos. Os atos são componentes de um todo e derivam seu caráter da
estrutura do todo. Existe uma relação íntima entre todos os atos e experiências de uma
pessoa. No entanto, assim como as partes são determinadas pelo todo, o todo é determinado
pelas partes. Consequentemente, a amputação de uma parte pode afetar a integridade de
toda a estrutura, a menos que essa parte tenha sobrevivido ao seu papel vital no corpo
orgânico do todo.
Algumas pessoas estão tão ocupadas coletando fragmentos e fragmentos da lei que mal
pensam em tecer o padrão do todo; outros ficam tão encantados com o glamour das
generalidades, com a imagem dos ideais, que, enquanto seus olhos voam, suas ações
permanecem abaixo.
O que devemos tentar evitar não é apenas a falha em observar uma única mitsvá, mas a perda
do todo, a perda de pertencer à ordem espiritual da vida judaica. A ordem da vida judaica
deve ser, não um conjunto de rituais, mas uma ordem da existência de todo homem,
moldando todos os seus traços, interesses e disposições; não tanto a realização de atos
únicos, a realização de um passo de vez em quando, como a busca de um caminho, a
caminho; não tanto os atos de satisfação como o estado de estar comprometido com a tarefa,
pertencer a uma ordem na qual ações únicas, agregadas de sentimentos religiosos,
sentimentos esporádicos, episódios morais se tornam parte de um padrão completo. 9

É uma distorção reduzir o judaísmo a um culto ou sistema de cerimônias. A Torá é ao mesmo


tempo o detalhe e o todo. Como tempo e espaço são pressupostos em qualquer percepção, o
mesmo ocorre com a totalidade da vida em todos os atos de piedade. Existe uma coerência
objetiva que mantém todos os episódios juntos. Um homem pode cometer um crime agora e
ensinar matemática sem esforço uma hora depois. Mas quando um homem ora, tudo o que
ele fez em sua vida entra em sua oração.
UMA EXAGERAÇÃO TEOLÓGICA
A tradição judaica não sustenta que toda a lei foi revelada a Moisés no Sinai. Esta é uma
extensão injustificada da concepção rabínica de revelação. “Moisés poderia ter aprendido
toda a Torá? Sobre a Torá é dito: Sua medida é mais longa que a terra e mais larga que o
mar (Jó 11: 9); Moisés poderia então aprender isso em quarenta dias? Não, foram apenas os
princípios ( klalim ) que Deus ensinou a Moisés. ”10

Os rabinos sustentam que “as coisas não reveladas a Moisés foram reveladas ao rabino Akiba
e a seu colega”. O papel dos sábios na interpretação da palavra da Bíblia e seu poder de
11

emitir novas ordenanças são elementos básicos da crença judaica e algo para que nossos
sábios encontraram sanção em Deuteronômio 17:11. A Torá foi comparada a “uma fonte que
envia continuamente água, produzindo mais do que absorve. No mesmo sentido, você pode
ensinar (ou dizer) mais Torá do que recebeu no Sinai. ” 12

Na intenção de inspirar maior alegria e amor a Deus, os rabinos ampliaram o escopo da lei,
impondo cada vez mais restrições e proibições. “Não há geração em que os rabinos não
acrescentem à lei.” No tempo de Moisés, apenas o que ele havia recebido explicitamente no
13

Sinai [a lei escrita] era obrigatório, além de várias ordenanças que ele acrescentou por
qualquer motivo que viu o ajuste. [No entanto] os profetas, os Tannaim e os rabinos de todas
as gerações [continuaram a multiplicar essas restrições]. 14

A civilização industrial afetou profundamente a condição do homem, e um grande número


de judeus leais à lei judaica sente que muitas das restrições rabínicas tendem a impedir mais
do que a inspirar maior alegria e amor a Deus.
Em seu zelo em cumprir a antiga liminar, “faça uma proteção sobre a Torá”, muitos rabinos
não deram atenção ao aviso: “Não considere a sebe mais importante que a vinha.” O excesso
de consideração pela sebe pode significar uma ruína para a sebe. Vinhedo. A vinha está
15

sendo pisada. É tudo, mas devastado. É hora de insistir na santidade das sebes? “Se a Torá
fosse dada como um código rígido e imutável de leis, Israel não poderia sobreviver…. Moisés
exclamou: Senhor do universo, deixe-me saber o que é a lei. E o Senhor disse: Governe pelo
princípio da maioria. A lei será explicada, agora de um jeito, agora de outro, de acordo com a
percepção da maioria dos sábios. ” 16

Uma grande autoridade judaica oferece as seguintes observações sobre o nosso tema:
Como as gerações anteriores ao Sinai alcançaram integridade espiritual? Como podemos
dizer que os patriarcas eram mais altos ou mais altos do que a comunidade de Israel, uma
vez que, na época, os mandamentos ainda não eram dados e, portanto, todos os seus atos de
piedade podiam ser serviço voluntário, mas não mandamentos? Os rabinos ensinaram que a
história pode ser dividida em três períodos: a era do caos, a era da Torá e o prelúdio do
Messias. Os patriarcas viveram em uma era de caos, durante a qual Sua santa presença só
pôde ser encontrada de uma forma muito velada. No entanto, apesar das trevas e das
barreiras, eles foram capazes de discernir sete mandamentos. Aquele que atinge um pouco
sob tais dificuldades é considerado como tendo tanto mérito quanto aquele que alcança
muito em um tempo de abundância. Quem foi capaz de perceber e manter os sete
mandamentos de Noé durante a era do caos fez tanto quanto aquele que guarda toda a Torá
em uma época em que a palavra de Deus era mais completa.
O poder de observar depende da situação. Portanto, nesta era, não somos obrigados a
cumprir as leis do Templo, e o pouco que fazemos é contado como igual à observância
daqueles que foram capazes de cumprir as leis que eram possíveis no tempo do Templo.
No tempo de Abraão, não era errado negligenciar os mandamentos, pois o tempo para o
cumprimento deles ainda não havia chegado. Cada palavra e cada ação da lei tem seu próprio
tempo em que pode e deve ser mantida. 17

NOTAS PARA O CAPÍTULO 29


1
Sinédrio 106b.
2
Ignaz Goldziher, Vorlesinger ueber den Islam , Heidelberg, 1910, pp. 167 e seguintes, DS
Margoliouth, "A Ilusão do Diabo por Ibn Al-Jauzi" , Cultura Islâmica , x, (1936), p. 348. “Os
Irmãos do Espírito Livre”, que surgiram no século XIII, ensinaram que Deus poderia ser
melhor servido em liberdade de espírito e que os sacramentos e ordenanças da Igreja não
eram necessários. “Como o homem é essencialmente divino e, através da contemplação e
retirada das coisas dos sentidos, pode conhecer-se unido a Deus, ele pode, em sua liberdade,
fazer o que Deus faz e deve agir como Deus trabalha nele. Portanto, para o homem livre não
há virtude nem vício. Deus é tudo, e tudo é Deus, e tudo é dele. ”“ Essa é a virtude do amor e
da caridade que tudo o que foi feito em favor deles não pode ser pecado…. Tenha caridade e
faça o que bem entender. ”J. Herkless, Encyclopedia of Religion and Ethics , vol. II, pp. 842f; H.
Ch. Lea, Uma História da Inquisição, NY 1909, vol. II, p. 321
3
Romanos 3:28. Pelas obras da lei, nenhuma carne será justificada aos seus olhos; pois pela
lei está o conhecimento do pecado. ”Sobre as implicações teológicas de todo o problema, ver
Z. La B. Cherbonnier, Dureza do Coração, Nova York, 1955, cap. XI.
4
Disse o rabino Eleazar ben Azariah: “As escrituras dizem (Deuteronômio 24:19): 'Quando
você colhe sua colheita no seu campo e se esquece de um feixe no campo, você não deve
voltar para obtê-la; será para o estrangeiro, para os órfãos e a viúva. Veja, afirma
imediatamente depois, 'que o Senhor teu Deus te abençoe'. Assim, as escrituras dão a
garantia de uma bênção para alguém através do qual uma ação meritória ocorreu (a
alimentação do estrangeiro), embora ele não tivesse conhecimento do que estava fazendo
(desde que se esqueceu de remover o maço do campo). Agora você deve admitir que, se uma
Sela (uma moeda) foi amarrada na saia da roupa e ela caiu e um pobre homem a encontra e
se sustenta por ela, o Santo, abençoado seja Ele, dá a garantia de que bênção para o homem
que perdeu o Sela. ”Sifra para 5:17, ed. Weiss, p. 27a
5
Halevi, Kuzari 1, III.
6
Maimônides, O Guia dos Perplexos, Livro III, 17; veja, no entanto, Mishnah Torá, Melachim 8,
11.
7
Abot 5, 20.
8
AJ Heschel, O Sábado, p. 15
9
AJ Heschel, A Busca do Homem por Deus , cap. 4)
10
Êxodo Rabba 41,6. O rabino Simon ben Lakish afirmou que todo o conteúdo da tradição
judaica foi dado a Moisés no Sinai, Berachot 5a. No entanto, Maimonides, ao discutir o dogma
da Lei Oral, sustenta apenas que as formas gerais de observar as leis bíblicas, como sukkah,
lulav, shofa r, tsitsit , se originaram em Moisés, mas não os incontáveis detalhes que surgem
em casos excepcionais. e que são amplamente discutidos na literatura rabínica.
11
Pesikta Rabbati , ed. M. Friedmann, Viena, 1880, p. 64b; Números Rabba, 19. De acordo com
um estudioso medieval, todo mundo que trabalha na Torá por si só pode descobrir
significados e leis "que não foram dadas a Moisés no Sinai". Alfred Freimann, Yehiel, pai de
Rabbenu Asher, em o estudo da Torá, no volume do Jubileu de Louis Ginzberg, Nova York,
1945, (hebraico), p. 360
12
Pirke de Rabi Eliezer , cap. 21
13
Rabino Yom Tov Lipmann Heller, Tosefot Yom Tov , prefácio.
14
Rabino Isaiah Horovitz, Shne Luhot Haberit , p. 25b. Veja Rabi Moshe Cordovero, Pardes
Rimonim, 23, sub humra.
15
Gênesis Rabba 19, 3.
16
Jesushalmi Sinédrio IV, 22a. Veja Pne Moshe, ad locum; também Midrash Tehillim , cap. 12)
17
Rabino Moshe Cordovero, Shiur Komah, Varsóvia. 1885, p. 45f.

30
A Arte de Ser
Somente ações e mais nada?
A vida organizada de acordo com a halachá parece um mosaico de atos externos, e uma visão
superficial pode levar a pensar que uma pessoa é julgada exclusivamente por quantos rituais
ou atos de bondade ele realiza, por quão rigorosamente observa as minúcias da lei, ao invés
de qualidades de interioridade e devoção.
O judaísmo glorifica a ação externa, independentemente da intenção e motivo? É uma ação
que exige mais do que devoção? Uma pessoa deve ser julgada pelo que faz e não pelo
que é? Somente a conduta é importante? O mitsvot não tem nada a dizer para a alma? A alma
não tem nada a dizer através do mitsvot? Somos ordenados a realizar rituais específicos,
como recitar duas vezes por dia "Hear O Israel ..." ou colocar o tefilin no braço e na
cabeça. Somos meramente ordenados a recitar “ Ouve, ó Israel ... Deus é um”, e não a ouvir ? A
fixação do tefilin na cabeça e no braço é apenas uma questão de desempenho externo?
Nenhum ato religioso é realizado adequadamente, a menos que seja feito com um coração
disposto e uma alma que deseja. Você não pode adorá-lo com seu corpo, se você não sabe
como adorá-lo em sua alma. A relação entre ação e devoção interior deve ser entendida,
1

como veremos, em termos de polaridade.


UM GRITO DE CRIATIVIDADE
A observância não deve ser reduzida ao cumprimento externo da lei. A concordância do
coração com o espírito, não apenas com a letra da lei, é ela própria uma exigência da lei. O
objetivo é viver além dos ditames da lei; cumprir o eterno de repente; criar bondade do nada,
por assim dizer.
A lei, rígida com formalidade, é um pedido de criatividade; um apelo à nobreza oculto na
forma de mandamentos. Não foi projetado para ser um jugo, um meio-fio, uma camisa de
força para a ação humana. Acima de tudo, a Torá pede amor: amarás o teu Deus; amarás o teu
próximo. Toda observância está treinando na arte do amor. Esquecer que o amor é o objetivo
de todos os mitsvot é viciar seu significado. “Quem pensa que o desempenho é o principal
está enganado. O principal é o coração; o que fazemos e o que dizemos tem apenas um
propósito: evocar a devoção do coração. Esta é a essência e o propósito de todos os mitsvot:
amá-lo de todo o coração. ” 2
“Tudo que você faz deve ser feito por amor.” O fim de nossa disposição para obedecer é a
3

capacidade de amar. A lei é dada para ser valorizada, não apenas para ser cumprida.
A observância judaica, deve ser enfatizada, ocorre em dois níveis. Consiste em atos
praticados pelo corpo de maneira claramente definida e tangível, e em atos da alma
realizados de maneira que não é definível nem ostensível; da intenção correta e de colocar a
intenção correta em ação. Tanto o corpo quanto a alma devem participar da realização de
um ritual, uma lei, um imperativo, um mitsvá. Pensamentos, sentimentos escondidos na
interioridade do homem, feitos realizados na ausência da alma, são incompletos.
O judaísmo enfatiza a importância de um padrão fixo de ações, bem como de espontaneidade
de devoção, quantidade e qualidade de vida religiosa, ação e kavanah. Uma boa ação consiste
não apenas no quê, mas também em como fazemos. Mesmo aqueles mitsvot que exigem para
sua realização um objeto concreto e um ato externo exigem reconhecimento interior,
participação, compreensão e liberdade do coração.
É verdade que a lei fala sempre de desempenho externo e raramente de devoção
interior. Não insiste rigorosamente na kavanah. Há sabedoria nessa reticência. Os rabinos
sabiam que o homem pode ser ordenado a agir de uma certa maneira, mas não a sentir de
uma certa maneira; que as ações do homem possam ser reguladas, mas não seus
pensamentos ou emoções.
Portanto, não há leis detalhadas da kavanah, e a kavanah pode, de fato, secar na mera
halacha. Para manter o fluxo da kavanah, devemos manter vivo o sentido do inefável, o que
está além da kavanah.
DEUS PEDE O CORAÇÃO
A observância judaica pode ser dividida em duas classes: em deveres que exigem
desempenho externo e um ato da alma, e em deveres que exigem apenas um ato da
alma. Assim, a mente e o coração nunca estão isentos de se envolverem no serviço de Deus. O
número de preceitos que exigem desempenho externo, bem como um ato da alma, é
limitado; enquanto que o número de preceitos que são exclusivamente deveres do coração a
serem cumpridos na alma é interminável.
Exaltamos a ação; nós não idolatramos o desempenho externo. O desempenho externo é
apenas um aspecto da totalidade de uma ação. A literatura judaica se dilata com a idéia de
que todo ato do homem depende e se apóia na intenção e nos sentimentos ocultos do
coração, de que os deveres do coração têm precedência sobre os deveres de cumprir os
preceitos práticos. Eles nos vinculam “em todas as estações, em todos os lugares, a cada hora,
a todo momento, sob todas as circunstâncias, desde que tenhamos vida e razão.” 4

Nenhuma outra área de observância exigia uma adesão estrita a formalidades como o ritual
no templo em Jerusalém. A descrição das regras e costumes segundo os quais as cerimônias
de sacrifício foram realizadas ocupa quase uma seção inteira da Mishnah. Significativamente,
no entanto, os dois tratados principais dessa seção começam com uma declaração sobre a
atitude interior do sacerdote, enfatizando o princípio de que a validade da cerimônia
depende, antes de tudo, do que se passa na mente do padre. Tendo apresentado todas as
minúcias da atuação do padre, o editor da Mishnah retoma o princípio original e conclui o
segundo tratado com uma declaração que quase soa como uma proclamação: “Isso equivale
ao mesmo, se oferece muito ou pouco - desde alguém dirige seu coração para o céu. ”O bom
Senhor pode perdoar todo aquele que dirigiu seu coração a buscar a Deus ... embora ele não
tenha sido purificado de acordo com a purificação do santuário. (II Crônicas 30: 18-19.) 4a

Para os antigos rabinos, a busca pela Torá era um dos objetivos mais altos. Essa concepção
5

implicava que, aos olhos de Deus, o erudito na casa do saber erguia-se mais alto do que o
camponês no campo? Era um ditado favorito dos estudiosos em Yavneh:

Eu sou uma criatura de Deus,


meu próximo também é uma criatura de Deus;
Meu trabalho está na cidade, o
trabalho dele está no campo;
Eu levanto cedo para o meu trabalho,
Ele levanta cedo para o dele.
Assim como ele não é autoritário em seu chamado,
também não sou autoritário em meu chamado.
Talvez você diga:
Faço grandes coisas e ele faz pequenas!
Aprendemos:
não importa se alguém faz muito ou pouco,
se ao menos ele dirige seu coração para o céu. 6

Há muito que o judaísmo tem a dizer à mente e à alma, e há muito que a mente e a alma
devem dar ao judaísmo. Não há judaísmo sem amor e medo, admiração e reverência, fé e
preocupação, conhecimento e entendimento.
"Deus pede o coração", não apenas as ações; por insight, não apenas por obediência; pelo
entendimento e conhecimento de Deus, não apenas pela aceitação.
Obediência impessoal não é o que a Bíblia exige. As palavras mais severas do livro de
Deuteronômio são dirigidas contra aquele que não serviu ao Senhor "com alegria e com
alegria de coração" (28:47). Os caminhos da Torá são “agradáveis, e todos os seus caminhos
são de paz. Ela é uma árvore da vida para os que a apegam, e feliz é todo aquele que a apega
”(Provérbios 3: 17-18). Não devemos aprender a provar a alegria, o prazer, a paz e a
felicidade que emanam da Torá?
A principal função da observância não é impor uma disciplina, mas manter-nos
espiritualmente perceptivos. O judaísmo não está interessado em autômatos. Em sua
essência, a obediência é uma forma de imitar a Deus. O que observamos é obediência; o que
observamos é imitação de Deus. 7

POR QUE KAVANAH?


Se uma ação é boa em si mesma, por que deveria ser considerada imperfeita se realizada sem
a participação da alma? Por que a kavanah é necessária?
Um ato moral involuntariamente feito pode ser relevante para o mundo por causa da ajuda
que presta a outros. No entanto, uma ação sem devoção, por todos os seus efeitos na vida de
outras pessoas, deixará a vida do executor inalterada. O verdadeiro objetivo para o homem
é ser o que ele faz . O valor de uma religião é o valor das pessoas que a vivem. Uma mitsvá,
portanto, não é mero ato, mas um ato que abrange tanto o agente quanto a ação. Os meios
podem ser externos, mas o fim é pessoal. Seus atos são puros, para que sejais santos.
Um herói é aquele que é maior que seus feitos, e um homem piedoso é aquele que é maior
que seus rituais. A ação é definitiva, mas a tarefa é infinita.
É uma distorção dizer que o judaísmo consiste exclusivamente em realizar atos rituais ou
morais, e esquecer que o objetivo de todo desempenho é transformar a alma. Mesmo antes
de Israel ser informado nos Dez Mandamentos o que fazer , era dito o que ser: um povo
santo. Realizar atos de santidade é absorver a santidade dos atos. Devemos aprender a ser
um com o que fazemos. É por isso que, além da halacha, a ciência das ações , há a agada, a
arte de ser.
A FAZER PARA SER
O homem não é por causa de boas ações; as boas ações são para o bem do homem. O judaísmo
pede mais do que obras, mais do que o opus operatum. O objetivo não é que uma cerimônia
seja realizada ; o objetivo é que o homem seja transformado ; adorar o Santo para ser
santo. O objetivo do mitsvot é santificar o homem.
Quanto mais fazemos por Sua causa, mais recebemos por nossa causa. O que mais importa
no final das contas não é o escopo dos atos, mas o impacto sobre a vida da alma. “Aquele que
mitsvá acende uma lâmpada diante de Deus e confere à sua alma mais vida.” 8

O homem é mais do que ele faz. O que ele faz é espiritualmente o mínimo do que ele é. As
ações são derramamentos, não a essência do eu. Eles podem refletir ou refinar o eu, mas
continuam sendo as funções, não a substância da vida interior. É a vida interior, no entanto,
que é o nosso problema mais urgente.
O Pentateuco consiste em cinco livros. O Código de Direito ( Shulchan Aruch ) consiste em
apenas quatro livros. Onde está a parte que falta na lei? Respondeu o rabino Israel de Rushin:
a parte que falta é a pessoa. Sem a participação viva da pessoa, a lei é incompleta.
A Torá não tem glória se o homem permanecer separado. O objetivo é que o homem seja uma
encarnação da Torá; para que a Torá esteja no homem, em sua alma e em suas obras.
9

A imanência de Deus nas ações


Onde está a presença, onde está a glória de Deus? É encontrado no mundo (“toda a terra está
cheia da Sua glória”), na Bíblia e em uma ação sagrada.
Apenas os céus declaram a glória de Deus? É profundamente significativo que o Salmo 19
comece: “Os céus declaram a glória de Deus” e conclua com uma pausa para a Torá e para o
mitsvot. O mundo, a palavra e a ação sagrada estão cheios da Sua glória. Deus é encontrado
mais imediatamente na Bíblia, bem como em atos de bondade e adoração do que nas
montanhas e florestas. É mais significativo para nós acreditar na imanência de Deus nas ações
do que na imanência de Deus na natureza. De fato, a preocupação do judaísmo não é
primariamente como encontrar a presença de Deus no mundo das coisas, mas como deixá-
Lo entrar nas maneiras pelas quais lidamos com as coisas; como estar com Ele no tempo, não
apenas no espaço. É por isso que o mitsvá é uma fonte suprema de insight e experiência
religiosa. O caminho para Deus é um caminho de Deus, e o mitsvá é um caminho de Deus, um
caminho onde a auto-evidência do Santo é divulgada. Temos poucas palavras, mas sabemos
viver em atos que expressam Deus.
Deus é um, e Sua glória é um. E unidade significa inteireza, indivisibilidade. Sua glória não
está parcialmente aqui e parcialmente lá; está tudo aqui e tudo lá. Mas aqui e agora, neste
mundo, a glória está oculta. Torna-se revelado em uma ação sagrada, em um momento
sagrado, em uma ação sacrificial. Ninguém está sozinho ao fazer uma mitsvá, pois a mitsvá é
onde Deus e o homem se encontram.
Não O encontramos da maneira como encontramos as coisas do espaço. Encontrá-Lo
significa encontrar uma certeza interior de Sua realidade, uma consciência de Sua
vontade. Tal encontro, tal presença, experimentamos em atos.
ESTAR PRESENTE
A presença de Deus é uma expectativa majestosa, a ser sentida e retida e, quando perdida, a
ser recuperada e retomada. O tempo é a presença de Deus no mundo. Todo momento é Sua
10

chegada sutil, e a tarefa do homem é estar presente. Sua presença é retida em momentos em
que Deus não está sozinho, nos quais tentamos estar presentes em Sua presença, para
permitir que Ele entre em nossas ações diárias, nas quais cunhamos nossos pensamentos na
hortelã da eternidade. A presença não é um reino e a ação sagrada outro; o ato sagrado é o
divino disfarçado.11

O destino do homem é ser um parceiro de Deus e um mitsvá é um ato em que o homem está
presente, um ato de participação; enquanto o pecado é um ato em que Deus está sozinho; um
ato de alienação.

Tais atos das revelações do homem sobre o divino são atos de redenção. O significado da
redenção é revelar o santo que está oculto, divulgar o divino que é suprimido. Todo homem
é chamado a ser um redentor, e a redenção ocorre a cada momento, todos os dias. 12

O significado da lei judaica é revelado quando concebido como prosódia sagrada. O divino
canta em nossas boas ações, o divino é revelado em nossas obras sagradas. Nosso esforço é
apenas um contraponto na música de Sua vontade. Ao expor nossas vidas a Deus,
descobrimos o divino dentro de nós mesmos e seu acordo com o divino além de nós mesmos.
NOTAS DO CAPÍTULO 30
1
Bahya Ibn Paquda, Os Deveres do Coração, ed. Haymson, Nova Iorque, 1925, vol. Eu p. 4)
2
Hachayim, ms. Munique, em Otsar Hasafrut , vol. III, p. 66
3
De Sifre a Deuteronômio 11:13.
4
Veja Paquda, Os Deveres do Coração, ed. Haymson, vol. Eu p. 7)
4a
Segundo Moed Katan 9a, o Dia da Expiação não foi observado no ano em que o Templo de
Salomão foi inaugurado, porque o povo estava envolvido nas alegres festividades da
consagração do Templo. Quando as pessoas se sentiram perturbadas por não terem
observado o dia santo, uma voz do céu apareceu e anunciou: "Todos vocês estão destinados
à vida no mundo vindouro".
5
Mishnah Kiddushin 4:14.
6
Berachot 17a. Yavneh foi sede de uma famosa academia de aprendizado talmúdico, criada
por Rabban Yohanan ben Zakkai após a destruição do Segundo Templo no ano 70.
7
O Talmude condena o fariseu que diz: “Qual é o meu dever para que eu o
cumpra?” Sotah 22b. “Deus não está satisfeito com as obras feitas meramente em espírito de
obediência a uma ordem; Ele quer principalmente que o coração seja puro e almeje alcançar
a verdadeira adoração. O coração é rei e guia dos órgãos do corpo. Portanto, se o coração não
pode se convencer a adorar a Deus, a adoração prestada pelos outros membros do corpo
pode ter pouco valor. Daí o versículo, meu filho, me dê seu coração (Provérbios 23:26). ”MH
Luzzatto, Mesillat Yesharim , ed. MM Kaplan, p. 140
8
Êxodo Rabba 36, 3.
9
“A Torá divina deve se tornar a própria essência do homem, para que uma pessoa não possa
mais ser concebida como homem sem Torá, tão pouco quanto ela pode ser concebida como
homem sem ter vida.” Rabino Moshe Almosnino, Tefillah Lemoshe , p. 11a
10
AJ Heschel, O Sábado, p. 100
11
"Shechiná é a mitsvá", Tikkune Zohar , VI; ver Zohar , vol. Eu p. 21a
12
Veja acima, p. 50

31
Kavanah
ATENÇÃO
O que se quer dizer com o termo kavanah? Na sua forma verbal, o significado original parece
ser: endireitar, colocar em linha reta, dirigir. A partir disso, passou a significar direcionar a
mente, prestar atenção, fazer algo com uma intenção. O substantivo, kavanah, denota
significado, propósito, motivo e intenção.
Kavanah, então, inclui, antes de tudo, o que é comumente chamado de intenção , a saber, a
direção da mente em direção à realização de um determinado ato, o estado de estar ciente
do que estamos fazendo, da tarefa em que estamos envolvidos. Nesse sentido, kavanah é o
mesmo que atenção .
Atenção expressa tudo o que o termo kavanah implica? Kavanah não significa nada além de
presença de espírito? Não é óbvio que um ato sagrado possa ser realizado em plena
participação da mente e, no entanto, ser pouco mais que um assunto superficial, uma tarefa
executada com o objetivo de cumprir um dever? Além disso, se a kavanah fosse apenas uma
atitude da mente, ela seria alcançada facilmente por uma simples volta da mente. No entanto,
os homens piedosos da antiguidade achavam que precisavam meditar por uma hora para
alcançar o estado da kavanah. 1

Atenção é um conceito formal; expressa a direção, não o objetivo da mente. Mas o que
devemos estar atentos ao colocar a mezuzá no batente da porta ou ao fazer uma oração? É o
aspecto físico do ato: que a mezuzá seja colocada no lugar certo ou que as palavras sejam
pronunciadas de acordo com os requisitos da fonética hebraica?

Ter kavanah significa, de acordo com uma formulação clássica, "dirigir o coração ao Pai no
céu". O fraseado não diz direcionar o coração ao "texto" ou ao "conteúdo da oração". Kavanah,
então, é mais do que prestar atenção ao texto da liturgia ou ao desempenho do
mitsvá. Kavanah é atenção a Deus. Seu objetivo é direcionar o coração e não a língua ou os
braços. Não é um ato da mente que serve para guiar a ação externa, mas um que tem
significado em si mesmo.
APRECIAÇÃO
Mitsvah significa mandamento. Ao fazer um mitsvá, nossa consciência primária é o
pensamento de realizar aquilo que Ele nos ordenou que façamos, e é essa consciência que
coloca nossa ação na direção do divino. Kavanah, nesse sentido, não é a consciência de ser
ordenado, mas a consciência daquele que comanda; não de um jugo que carregamos, mas da
vontade que lembramos; a consciência de Deus e não a consciência do dever. Essa
consciência é mais do que uma atitude da mente; é um ato de valorização ou apreciação de
ser ordenado, de viver em uma aliança, da oportunidade de agir de acordo com Deus.
Apreciação não é o mesmo que reflexão. É uma atitude de toda a pessoa. É alguém que está
sendo atraído pela preciosidade de um objeto ou situação. Sentir a preciosidade de poder
ouvir um imperativo de Deus; perceber o valor único de se realizar um mitsvá é o começo da
kavanah superior.
É com tanto apreço que percebemos que atuar é dar forma a um tema divino; que nossa
tarefa é expor o divino em atos, expressar o espírito em formas tangíveis. Pois uma mitsvá é
como uma partitura musical, e seu desempenho não é uma realização mecânica, mas um ato
artístico.
A música em uma partitura é aberta apenas para quem tem música em sua alma. Não basta
tocar as notas; é preciso ser o que ele toca . Não é suficiente fazer o mitsvá; é preciso viver
o que ele faz . O objetivo é encontrar acesso à ação sagrada. Mas a santidade na mitsvá é
aberta apenas para quem sabe descobrir a santidade em sua própria alma. Fazer uma mitsvá
é uma coisa; participar de sua inspiração outra. E, para participar, precisamos aprender a
doar.
Aqueles que se dedicam exclusivamente aos aspectos técnicos do desempenho deixam de ser
sensíveis à essência da tarefa. Quando a alma está embotada, a mitsvá é uma concha. "Os
mortos não podem louvar a Deus" (Salmos 115: 17). Os mitsvot nem sempre brilham por sua
própria luz. Quando abrimos nossa vida interior a um mitsvá, músicas surgem em nossas
almas.
INTEGRAÇÃO
A presença de Deus exige mais do que a presença da mente. Kavanah é a direção para Deus
e requer o redirecionamento de toda a pessoa. É o ato de reunir as forças dispersas do eu; a
participação do coração e da alma, não apenas da vontade e da mente; a integração da alma
com o tema da mitsvá.
É uma coisa para ser para uma causa e outra coisa é ser em uma causa. Não basta ajudar o
próximo; “Amarás o teu próximo.” Não basta servir ao teu Deus; você é solicitado a "servi-Lo
com todo o seu coração e com toda a sua alma" (Deuteronômio 11:13). Não basta amá-Lo:
"amarás ... de todo o coração, de toda a alma e de toda a força" (Deuteronômio 6: 5-6).
ALÉM DE KAVANAH
O que sentimos principalmente é a nossa incapacidade de sentir adequadamente. A
inadequação humana não é uma inferência de humildade; é a verdade da existência. Uma
mitsvá não substitui o pensamento nem uma expressão da kavanah. Um mitsvá é um ato no
qual vamos além do escopo de nosso pensamento e intenção. Quem planta uma árvore se
eleva além do nível de sua própria intenção. Quem mitsvá planta uma árvore no divino
jardim da eternidade.
Com uma ação sagrada, sai um grito de alma, às vezes desarticulado, que é mais expressivo
do que testemunhamos, do que sentimos que das palavras.
Um homem piedoso geralmente é retratado como uma espécie de lagarta de livros, uma
pessoa que vive entre as páginas de livros antigos e para quem a vida com seus anseios,
tristezas e tensões é apenas uma nota de rodapé em um comentário acadêmico da Bíblia. A
verdade é que um homem religioso é como uma salamandra, aquele animal lendário que se
origina de um incêndio de madeira de murta que continuou queimando por sete anos.
A religião nasce do fogo, de uma chama, na qual a escória da mente e da alma se derrete. A
religião só pode prosperar em chamas. “O Senhor falou a Moisés. Eles darão… meio siclo para
oferta ao Senhor ”(Êxodo 30:13). O rabino Meir disse: “O Senhor mostrou a Moisés uma
moeda de fogo, dizendo: Isto é o que eles devem dar.” Uma vida religiosa é um altar. “O fogo
2

será mantido aceso no altar continuamente; não sairá ”(Levítico 6: 6).


O homem não pode viver sem atos de exaltação, sem momentos de tremor e reverência, sem
ser transportado pela grandeza. Por semanas e meses, ele pode ficar confinado à rotina de
interesses sensatos, até chegar uma hora em que todos os seus hábitos surgem sob a
tensão. O senso comum pode assinar um decreto de que a vida seja mantida sob o bloqueio
das concepções comuns, mas muito em nossas vidas é feito para ser queimado em uma
chama sagrada ou apodrecerá em ações monstruosas, em maus pensamentos. Para
satisfazer sua necessidade de exaltação, o homem mergulhará em fúria, travará guerras; ele
incendiará a cidade de Roma.
Quando sobreposta como um jugo, como um dogma, como um medo, a religião tende a violar,
em vez de nutrir o espírito do homem. A religião deve ser um altar sobre o qual o fogo da
alma possa ser aceso em santidade. 3

NOTAS DO CAPÍTULO 31
1
Mishnah Berachot 1, 5.
2
Tanhuma , ed. Buber, ad locum; Jerashalmi Shekalim I, 46b.
3
Existe uma controvérsia antiga entre os estudiosos da lei judaica se a presença da kavanah -
da intenção correta no cumprimento do dever de alguém - é absolutamente necessária para
a realização de todos os atos religiosos. Surgiu a questão, por exemplo, se alguém que ouviu
acidentalmente o som do Shofar no primeiro dia de Tishri (o dia de Ano Novo) sem pensar
no mandamento bíblico (Números 29: 1) pode ser considerado como tendo cumprido a lei. .
Um precedente clássico é encontrado no culto do templo. De acordo com a lei, o sacerdote
que realiza o ritual de (sacrificar) uma oferta de sacrifício deve agir com intenção próspera ,
por exemplo, na consciência de realizar o ritual por causa de Deus, ou na consciência de agir
em nome do proprietário da oferta (a pessoa cuja oferta o sacerdote
administra). Ver Mishnah Zebahim 4, 6. No entanto, se o padre oficiante tiver realizado a
cerimônia com intenção imprópria (por exemplo, ele a ofereceu para uma pessoa que não
seja aquela cuja oferta era), a oferta não absolve o proprietário de sua obrigação, e o
proprietário deve trazer novamente a oferta que lhe era devida. Ver Mishnah Zebahim 1, 1.
(Embora a primeira oferta retenha sua santidade original e todos os ritos subsequentes
devam ser realizados.) Se realizados com um certo tipo de intenção imprópria - por exemplo,
quando o sacerdote realiza com a intenção de comer ou queimar sacrifício no momento
impróprio ( piggul ) - a oferta é considerada suja, sacrílega ou pecaminosa. Veja Mishnah
Zabahim 3, b. Por outro lado, se nenhuma intenção estava na mente do padre (ele agia sem
ter em mente o objetivo da apresentação), a oferta absolve o proprietário de sua obrigação,
sendo o princípio: nenhuma intenção é considerada como se havia intenção apropriada
( Zebahim 2b). As circunstâncias objetivas indicam o objetivo do ato. A intenção está
implicitamente presente.
Resumindo: a presença de intenção adequada é necessária para o ato; a presença de intenção
imprópria (em alguns casos) invalida o ato; a falta ou ausência de intenção, apropriada ou
imprópria, embora não desejável, não invalida o ato.
Outro precedente. Existe uma regra de que uma escritura de divórcio deve desde o início ter
sido destinada expressamente à mulher que a deve receber. Portanto, se uma Escritura de
Divórcio foi escrita sem mencionar qualquer nome e o nome foi posteriormente inserido, a
Escritura é inválida. O princípio é: a escrita deve ser feita com intenção específica; isso deve
ser feito em prol da mulher a quem se destina. Aqui, diferentemente do caso do sacrifício, a
ausência de intenção invalida o ato. A razão é: a Escritura de Divórcio, se nenhum nome é
mencionado nela, não está relacionada a nenhuma mulher em particular, enquanto uma
oferta permanece implicitamente em uma relação com a vontade de Deus, por cuja causa é
administrada, embora no momento de administrar o padre pode não estar explicitamente
consciente disso.
Surge a questão de saber se todos os atos religiosos devem ser considerados análogos ao
sacrifício ou análogos ao feito do divórcio.
As autoridades rabínicas estão divididas sobre a questão. Alguns sustentam que a intenção
adequada é absolutamente necessária para o cumprimento de um mandamento e que os atos
religiosos devem ser repetidos se realizados sem essa intenção. É por isso que, mais tarde,
tornou-se habitual declarar quando alguém estava prestes a realizar um ato religioso: "Estou
pronto e preparado para cumprir o mandamento divino de ..." Outros afirmam que, embora
a intenção adequada seja desejável, a validade dos atos religiosos não dependem da intenção
com a qual eles são executados. A intenção é indispensável apenas quando o cumprimento
do mandamento consiste em um ato oral. Sempre que a realização inclui um ato externo, o
ato é relevante mesmo quando não há intenção adequada. Veja Rabbenu
Yonah, Berachot 12a.
A última opinião, no entanto, não implica que nenhuma kavanah seja necessária. Significa
apenas que a ação sem a kavanah é considerada como se tivesse sido feita com a kavanah,
pois onde nenhuma intenção é conscientemente atendida, ainda pode-se presumir que a
ação foi feita para seu propósito apropriado. Consequentemente, no caso de intenção
imprópria, em que essa suposição não pode ser mantida, a ação não é válida por causa da
ausência de kavanah. Ver Engel, Athvan Deoraitha , Lemberg, 1891, cap. 23

32.
Comportamento Religioso
COMPORTAMENTO RELIGIOSO
É importante analisarmos um mal-entendido popular sobre o judaísmo, que pode ser
chamado de "behaviorismo religioso". Significa uma atitude em relação à lei e também uma
filosofia do judaísmo como um todo. Como atitude em relação à lei, enfatiza o cumprimento
externo da lei e desconsidera a importância da devoção interior. Ele afirma que, de acordo
com o judaísmo, há apenas uma maneira pela qual a vontade de Deus precisa ser cumprida,
a saber, ação externa; que a devoção interior não é indígena do judaísmo; que o judaísmo se
preocupa com ações, não com idéias; que tudo o que pede é obediência à lei. É um judaísmo
que consiste em leis, ações, coisas; tem duas dimensões; falta profundidade, a dimensão
pessoal. Por conseguinte, os behavioristas religiosos falam de disciplina, tradição,
observância, mas nunca de experiência religiosa, de religioso. idéias. Você não precisa
acreditar, mas deve observar a lei; como se tudo que importasse fosse como os homens se
comportassem em termos físicos; como se Deus não estivesse preocupado com a vida
interior; como se a fé não fosse indígena do judaísmo, mas a ortopraxe . Tal concepção reduz
o judaísmo a uma espécie de física sagrada, sem sentido para o imponderável, o
introspectivo, o metafísico.
Como atitude pessoal, o behaviorismo religioso geralmente reflete uma teologia amplamente
aceita, na qual o artigo supremo da fé é o respeito pela tradição. As pessoas são instadas a
observar os rituais ou a prestar serviços por deferência ao que nos foi transmitido por nossos
ancestrais. A teologia do respeito defende a manutenção dos costumes e instituições
herdados e transmitidos e é caracterizada por um espírito de conformidade, moderação
excessiva e desrespeito à espontaneidade.
Por mais sábio, importante, essencial e pedagogicamente útil que seja o princípio "respeito
à tradição", é grotesco e autodestrutivo fazer dela o supremo artigo de fé. Não aderimos às
formas específicas de observância por causa de sua antiguidade. As travessuras do passado
são dificilmente mais veneráveis que os caprichos do presente. O arcaico é um sinal de
preferência vital? O respeito incondicional pelo passado é a essência do judaísmo? O
judaísmo não começou quando Abraão rompeu com a tradição e rejeitou o passado? O
behaviorismo religioso é culpado de um total mal-entendido da natureza do homem. É
psicologicamente verdade que atos religiosos podem ser realizados no vácuo espiritual, na
ausência da alma? O respeito sem razão, a lealdade ancestral sem fé ou a consciência de
grupo sem convicção pessoal são compatíveis com a vida de um homem livre?
Vamos analisar a origem e as suposições básicas do behaviorismo religioso à luz do
pensamento judaico.
SPINOZA AND MENDELSSOHN
A teoria do judaísmo como um sistema de behaviorismo religioso remonta a Spinoza e Moses
Mendelssohn.
Espinosa avançou a teoria de que os israelitas não se distinguiam de outras nações nem em
conhecimento nem em piedade. “De Deus e da natureza eles tinham apenas idéias muito
primitivas”, acima das quais nem os profetas foram capazes de se erguer.
“A doutrina das escrituras não contém grandes especulações nem raciocínios filosóficos, mas
apenas assuntos muito simples, como os que podem ser entendidos pela mais lenta
inteligência.” “Eu ficaria surpreso se encontrasse [os profetas] ensinando qualquer nova
doutrina especulativa que não fosse comum. para ... filósofos gentios. ”“ Portanto, segue-se
que não devemos de modo algum recorrer aos profetas para conhecimento, seja de
fenômenos naturais ou espirituais. ”“ Os israelitas não conheciam quase nada de Deus,
embora ele lhes fosse revelado. ” Dificilmente é provável que eles “devessem ter noções
sólidas sobre a Deidade, ou que Moisés deveria ter lhes ensinado algo além de uma regra de
vida correta…. Assim, a regra do viver correto, a adoração e o amor de Deus era para eles
mais um cativeiro do que a verdadeira liberdade, o dom e a graça da Deidade. ”O que a Bíblia
contém não é uma religião, mas uma lei, o caráter de Deus. que era político e não religioso. 1

A insistência de Spinoza na irrelevância intelectual e na inferioridade espiritual da Bíblia


provou ser de importância importante e moldou as mentes das gerações subsequentes em
sua atitude em relação à Bíblia. Kant, Fichte, Hegel e os pensadores da escola romântica,
mesmo ao rejeitar seus pontos de vista sobre a metafísica, adotaram seus pontos de vista
sobre a Bíblia.2

É uma das ironias da história judaica que Moses Mendelssohn, um oponente zeloso das
teorias metafísicas de Spinoza e profundamente diferente dele em motivação e intenção,
tenha, no entanto, adotado a visão de Spinoza sobre a natureza essencial da Bíblia. 3

Mendelssohn acreditava que as verdades religiosas definitivas não podem ser comunicadas
de fora, pois nossa mente não as entenderia se ainda não fossem conhecidas por nós. As
verdades definitivas têm sua origem na mente e não na revelação. A crença judaica em um
Deus não é uma revelação, mas parte de uma religião natural à qual todos os homens podem
chegar pelo exercício da razão. Com Spinoza, ele afirma que o judaísmo pede obediência a
uma lei, mas não aceitação de doutrinas. “O judaísmo não é religião revelada no sentido usual
do termo, mas apenas legislação, leis, mandamentos e regulamentos revelados , que foram
dados sobrenaturalmente aos judeus por meio de Moisés.” Ele não exige fé, nem atitudes
religiosas específicas. “O espírito do judaísmo é a liberdade na doutrina e a conformidade na
ação:”4

JUDAÍSMO E LEGALISMO
No espírito de Spinoza e Moses Mendelssohn, muitos daqueles que levam a lei a sério, assim
como aqueles que prestam menos atenção a ela, sustentam que a ciência da lei é a única
expressão autêntica do judaísmo; que a agada - no sentido estrito da literatura rabínica não
legal e no sentido mais amplo de todas as tentativas pós-rabínicas de interpretar as idéias e
crenças não legais de nossa fé - não está "dentro da corrente principal do judaísmo".
Teologia, alega-se, é estranho ao judaísmo; a lei, “um boi que dá uma vaca”, é teologia judaica,
pois o judaísmo é lei e nada mais. Essa "teologia" pan-haláchica afirma que, no judaísmo, a
vida religiosa consiste em cumprir uma lei em vez de se esforçar para atingir um objetivo
que é o objetivo da lei. É uma visão que exalta a Torá apenas porque divulga a lei, não porque
revela uma maneira de encontrar Deus na vida. Alega que a obediência é a substância e não
a forma da existência religiosa; que a lei é um fim, não um caminho.
De fato, tem sido a argumentação daqueles que atacaram o judaísmo que "a lei de Moisés
ordena apenas a ação correta e não diz nada sobre pureza de coração". Albo rejeita isso como
sendo o oposto da verdade. “Pois não lemos: Circuncide , portanto, o prepúcio do seu
coração (Deuteronômio 10:16); E amarás o Senhor teu Deus de todo o
coração (Deuteronômio 10:16); E amarás o teu próximo como a ti mesmo (Levítico
19:18); Mas temerás o teu Deus (Levítico 19:14); Não te vingarás nem guardarás
ressentimento contra os filhos do teu povo (Levítico 19:18). A razão pela qual comanda a ação
correta é porque a pureza do coração não tem importância, a menos que a prática esteja de
acordo com ela. A coisa mais importante, no entanto, é a intenção. Davi diz: Crie-me um
coração limpo (Salmos 51:12). ” 5

Judaísmo não é outra palavra para legalismo. As regras de observância são lei em forma e
amor em substância. A Torá contém lei e amor. A lei é o que mantém o mundo unido; o amor
é o que traz o mundo adiante. A lei é o meio, não o fim; o caminho, não o objetivo. Um dos
objetivos é "Sede santos." A Torá é uma orientação para o fim de uma lei. É uma visão e uma
lei. O homem criado à semelhança de Deus é chamado a recriar o mundo à semelhança da
visão de Deus. Halacha não é o termo definitivo nem abrangente para o aprendizado e a vida
dos judeus. A Torá é mais do que um sistema de leis; apenas uma parte do Pentateuco lida
com a lei. Os profetas, os Salmos, midrashim agádicos, não fazem parte da halacha. A Torá
compreende halacha e agada. Como corpo e alma, eles são mutuamente dependentes, e cada
um é uma dimensão própria.
Agada é geralmente definido negativamente como abrangendo todas as partes não-legais ou
não-haláchicas da literatura rabínica, seja na forma de um conto ou de uma explicação das
6

escrituras; um epigrama ou uma homilia. Significativamente, embora a Bíblia, como a


literatura rabínica, abraça ensinamentos jurídicos e não jurídicos, a distinção entre halacha
e agada nunca foi aplicada a ela. Permanece o fato de que, central como a lei, apenas uma
7

pequena parte da Bíblia lida com a lei. As narrativas da Bíblia são tão sagradas quanto suas
porções legais. Segundo um rabino, “a conversa dos servos dos patriarcas é mais bela do
8

que as leis das gerações posteriores”. 9

A IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL DA AGADA


A preciosidade e a importância fundamental da agada são categorizadas na seguinte
declaração dos antigos rabinos: “Se você deseja conhecê-Lo em cuja palavra o universo surgiu,
estude a agada, por meio disso, você reconhecerá o Santo e se apegará aos Seus. maneiras. ” É
10

por meio de Agada que o nome de Deus é santificado no mundo. Para aqueles que não
11

apreciavam o valor da agada, os rabinos aplicaram o versículo: “Eles não dão ouvidos às
obras do Senhor, nem aos atos de Suas mãos.” 12

No período tannaítico, o agada era uma parte orgânica do aprendizado judaico. Dizia-se que,
assim como a Torá escrita consiste em três partes, o Pentateuco, os Profetas e a Hagiografia,
a Torá oral consiste em midrash, halacha e agada. 13

As coleções de agada que foram preservadas contêm uma riqueza quase inesgotável de
insight e sentimento religioso, pois na agada a consciência religiosa, com suas motivações,
dificuldades, perplexidades e anseios, passou a expressão imediata e imaginativa. E um judeu
recebeu ordens de estudar não apenas a halacha, mas também a agada. . No dia do14

julgamento, alguém seria responsabilizado por não ter estudado agada. De acordo com uma
15
decisão de uma autoridade posterior, a pessoa é obrigada a dedicar um terço de seus estudos
ao campo da agada. 16

A iluminação judaica, no entanto, mostrou pouca apreciação da agada. Em um estudo sobre


17

educação judaica, no qual todos os aspectos da literatura judaica clássica foram


recomendados como tópicos de instrução, o autor investe fortemente contra a inclusão de
agada no currículo. 18

TORAH É MAIS DO QUE LEI


Os tradutores da Septuaginta cometeram um erro fatal e importante quando, por falta de um
equivalente grego, deram à Torá nomos , o que significa lei , dando origem a um enorme e
crônico equívoco do judaísmo e fornecendo uma arma eficaz para aqueles que procuravam
atacar os ensinamentos do judaísmo. O fato de os judeus considerarem as Escrituras como
ensinamento é evidenciado pelo fato de que nas traduções aramaicas a Torá é traduzida
com oraita, que pode significar apenas ensino, nunca lei.
No Avesta, a religião é chamada lei ( daêna ), e os persas não tinham como distinguir entre
religião e lei. No judaísmo, mesmo a palavra Torá não é abrangente. “Um homem que tem a
19

Torá, mas não tem yirat shamayim (temor e temor a Deus) é como um tesoureiro que
recebeu as chaves da câmara interna, mas não as chaves da câmara externa.” Nem o 20

termo mitsvot , mandamentos, expressa a totalidade do judaísmo. A aceitação de Deus deve


preceder e se distingue da aceitação dos mandamentos. 21

À frente do decálogo, estão as palavras: Eu sou o Senhor, teu Deus . Os rabinos ofereceram
uma parábola. O imperador estendeu seu reinado sobre uma nova província. Disse-lhe seus
assistentes: Faça alguns decretos sobre o povo. Mas o imperador respondeu: Somente depois
de terem aceito minha realeza , emitirei decretos . Pois, se eles não aceitam minha realeza,
como executarão meus decretos? Da mesma forma, Deus disse a Israel: Eu sou o Senhor, teu
Deus; não terás outros deuses . Eu sou aquele cujo reinado você tomou sobre si no Egito. E
quando eles disseram-lhe: Sim, sim, Ele continuou: Não terás outros deuses ao meu lado. ” 22

Por pura punição em observar a lei, a pessoa pode ficar alheia à presença viva e esquecer que
a lei não é por si mesma, mas por Deus. Na verdade, a essência da observância tem, às vezes,
tornar-se incrustado com tantos costumes e convenções que a jóia foi perdido no ajuste. O
cumprimento externo das externalidades da lei substituiu o compromisso de toda a pessoa
com o Deus vivo. Qual é o objetivo último da observância, se não se tornar sensível ao espírito
Dele, é de que maneira os mitsvot são sinais?
A Halacha não deve ser observada por si mesma, mas por Deus. A lei não deve ser
idolatrada. É uma parte, não toda, da Torá. Vivemos e morremos por causa de Deus, e não
por causa da lei.
É-nos dito que guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário (Levítico
19:30). Pode-se pensar que somos ordenados a prestar homenagem ao santuário. O Talmude
nos exorta: “Assim como alguém que não reverencia o sábado, mas aquele que ordenou a
observância do sábado, não deve reverenciar o santuário, mas aquele que deu o
mandamento relativo ao santuário”. 23

A glorificação da lei e da insistência sobre sua observância estrita, não levou os Rabinos para
a deificação da lei. “O sábado é dado a você, não você ao sábado.” Os rabinos antigos sabiam
que a piedade excessiva pode pôr em risco o cumprimento da essência da lei. “Segundo a
Torá, não há nada mais importante do que preservar a vida humana. Mesmo quando há a
menor possibilidade de uma vida estar em risco, podemos desconsiderar todas as proibições
da lei. Ӄ preciso sacrificar mitsvot pelo bem do homem, em vez de sacrificar o homem pelo
bem do mitsvot. O objetivo da Torá é "trazer vida a Israel, neste mundo e no mundo
vindouro". 24

ALÉM DE HALACHA
O requisito final é agir além dos requisitos da lei. Torá não é o mesmo que lei,
como din . Cumprir os deveres não é suficiente. Pode-se ser um canalha dentro dos limites
da lei. Por que Jerusalém foi destruída? Porque o seu povo agiu de acordo com a lei e não
25

agiu além dos requisitos da lei.26

Halacha enfatiza a uniformidade, agada representa o princípio da inflexão e


diversidade. Regras são generalizações. Na vida real, encontramos inúmeros problemas para
os quais não há soluções gerais disponíveis. Existem muitas maneiras de aplicar uma regra
geral a uma situação concreta. Existem más aplicações de regras nobres. Assim, a escolha da
maneira correta de aplicar uma regra geral a uma situação específica é “deixada ao
coração” ao indivíduo, à consciência de alguém.
27,

“Onde está o sábio que entenderia isso?


Onde está o profeta que é capaz de declarar isso?
Por que a terra pereceu e assolou como um deserto?

“Esta pergunta foi feita aos sábios, mas eles não puderam responder; foi pedido aos profetas,
mas eles não puderam responder. Até o próprio Deus resolver isso.
“E o Senhor disse: Porque eles abandonaram Minha Torá.
“Disse Rav Judah em nome de Rav: significa que eles não se aproximaram da Torá com uma
bênção.” 28

Essa interpretação de que a terra de Israel foi destruída por causa da atitude interna errada,
e não por causa de um abandono literal da Torá, foi elogiada por Rabbenu Yonah, o
santo. “Porque se o versículo significava que o povo havia abandonado a Torá literalmente e
que não eram devotados a ela, então por que os profetas e sábios foram incapazes de explicar
a destruição da terra? Por que eles não podiam citar esse motivo claro e simples?
“A verdade é que as pessoas realmente mantiveram a Torá e que nunca abandonaram a
tarefa de estudá-la. Portanto, os profetas e sábios ficaram perplexos até que o próprio Deus
veio explicar. Ele, que conhece as profundezas do coração humano, pôde ver que, embora
estudassem a Torá [como um dever], não o abençoavam. Ele viu que, embora realizassem a
Torá, não consideravam uma bênção. ”Eles não sentiram sua preciosidade. Eles falharam em
cumpri-lo "por si só", por causa de Deus. A terra foi destruída porque não havia kavanah,
nem devoção interior. 29

Foi no espírito de uma demanda tão radical por pureza interior que a palavra do salmista
(119: 113), eu odeio aqueles que têm uma mente dividida, foi aplicada àqueles que servem ao
Senhor por medo, e não por medo. amar. Devemos sempre lembrar as palavras de Isaías
30

29:13. “Esse povo se aproxima com a boca e me honra com os lábios, enquanto seus corações
estão longe de mim e seu medo de mim é um mandamento dos homens aprendidos de
maneira mecânica.”
PAN-HALACHISM
A prestação da Torá com nomos não foi feita sem pensar. É antes um exemplo de tendência
ao legalismo ou pan-halachism que considera a halacha como a única fonte autêntica de
pensamento e vida judaicos. Tanto no período rabínico quanto na Idade Média, houve
pessoas que adotaram uma atitude negativa em relação à agada e até “rejeitaram e
31

ridicularizaram” algumas de suas declarações. 32.

A expressão marcante da atitude anti-agadica está contida em uma pergunta rabínica


clássica, com a qual Rashi abre seu famoso comentário sobre o Livro do Gênesis. "O rabino
Isaac disse: A Torá [que é o livro da lei de Israel] deveria ter começado com o capítulo 12 do
Êxodo", pois antes desse capítulo quase nenhuma lei era estabelecida. 33

A premissa e implicações desta pergunta são surpreendentes. A Bíblia deveria ter omitido
capítulos não-legais como os da criação, os pecados de Adão e Caim, o dilúvio, a torre de
Babel, a vida de Abraão, Isaac e Jacó, a vida das doze tribos, o sofrimento e o sofrimento.
milagres no Egito!
UMA RELIGIÃO SEM FÉ
Os expoentes do behaviorismo religioso afirmam que o judaísmo é uma religião da lei, não
uma religião da fé, que a fé "nunca foi considerada pelo judaísmo como algo meritório em si
mesma". Isso, é claro, seria válido se a disposição de Abraão de sacrificar sua fé. único filho,
ou a promessa de Jó, "embora Ele me mate, eu confiarei Nele" (13:15), poderia ser
desconsiderado. E se não for o poder da fé, é o motivo por trás da injunção da Mishnah: “Um
homem é obrigado a abençoar Deus pelas coisas más que vêm sobre ele, como ele é obrigado
a abençoar Deus pelas coisas boas que vêm a ele? ” “ Se há algo certo, é que os motivos mais
34

altos que trabalharam através da história do judaísmo são a forte crença em Deus e a
confiança inabalável de que, finalmente, esse Deus, o Deus de Israel, será o Deus de todo o
mundo. mundo; ou, em outras palavras, Fé e Esperança são as duas características mais
importantes do judaísmo. ” 35

Na Bíblia, os incrédulos são repreendidos repetidamente, enquanto a crença é louvada em


palavras grandiosas como: “Assim diz o Senhor: Lembro-me da afeição da tua juventude, do
teu amor como noiva quando me seguiste no deserto, em uma terra que não foi semeada
”(Jeremias 2: 2). Os rabinos estão inclinados a atribuir o pecado a um defeito ou falta de fé
em Deus. "Nenhum homem fala caluniosamente de outro ... ninguém lida fraudulentamente
com seu próximo, a menos que ele tenha negado (ou desacreditado) a Raiz de todos (a saber,
Deus)." 36

A fé é tão preciosa que Israel foi resgatado do Egito como recompensa por sua fé. A redenção
futura depende do grau de fé demonstrado por Israel. Os rabinos negaram que uma parte
37

da vida não chegasse àqueles que eram culpados de ações erradas, mas àqueles que
afirmavam pontos de vista que contradiziam as crenças fundamentais. 38.

Na justificativa de seu ponto de vista, os expoentes do behaviorismo religioso citam a


passagem em que os rabinos parafrasearam as palavras de Jeremias (16:11): Eles me
abandonaram e não guardaram Minha Torá da seguinte maneira: “Eles teriam me
abandonado e guardei a Minha Torá. ” No entanto, considerar esta passagem como uma
39

declaração da importância primária, se não exclusiva, de estudar a Torá sobre a preocupação


com Deus é perverter o significado da passagem. Essa perversão é possível, negligenciando
a segunda parte da passagem que se lê da seguinte forma: “já que se ocupando com a Torá, a
luz que ela contém os levaria de volta a Mim.” Não era um ideal que os rabinos previsto,
40

mas um último recurso. Tendo abandonado todos os mandamentos, se o povo tivesse


continuado a estudar a Torá, a luz da Torá os traria de volta a Deus.
DOGMAS NÃO SÃO BASTANTES
É verdade, como dito acima, que a essência do judaísmo é uma exigência e não um credo, que
somente pela fé não chegamos perto dele. Mas a primeira exigência do judaísmo é ter fé em
Deus, na Torá, e no povo de Israel. É pela fé e amor de Deus que encontramos expressão em
41

atos que vivemos como judeus. Fé é apego, e ser judeu é apegar-se a Deus, Torá e Israel.
Inquestionavelmente, o judaísmo representa verdades, não apenas leis, esperando que
valorizemos certos pensamentos e sejamos leais a certas crenças, não apenas para realizar
certas ações. É uma maneira de pensar e de viver, uma doutrina e uma disciplina, fé e ação.42.

Negamos a primazia exclusiva dos dogmas não porque pensamos que o judaísmo não tem
crenças ou que o judaísmo é apenas um sistema de leis e observâncias, mas porque
percebemos que o que acreditamos ultrapassa o poder e o alcance da expressão humana.
Além disso, subjacente às doutrinas dos dogmas está um intelectualismo que afirma que o
pensamento correto e corretamente expresso é a coisa mais importante. Para a tradição
judaica, no entanto, viver corretamente é o que mais importa. Siga o padrão da vida certa,
mesmo que você não saiba formular adequadamente sua teoria básica.
Um dogma é algo que é realizado totalmente na mente por um ato de crença. A mente, no
entanto, é apenas uma parte do homem; a capital do reino humano, não o reino inteiro. Um
dogma, portanto, pode ser apenas uma representação parcial da situação religiosa.
O perigo dos dogmas reside na tendência de servir como fé indireta , como se tudo o que
tivéssemos que fazer fosse aceitar com autoridade um conjunto fixo de princípios sem a
necessidade de procurar um caminho de fé. Mas os dogmas, se são para servir a algum
propósito, devem ser um resumo ou um epítome da fé, e não um substituto para ele.
Não a confissão de crença, mas a aceitação ativa da realeza de Deus e de sua ordem é a
demanda central do judaísmo. Afirmar “eu acredito em…” não fará de uma pessoa um judeu,
assim como afirmar “eu acredito nos Estados Unidos da América” não fará de uma pessoa
um americano. Um cidadão é aquele que aceita a lealdade à Constituição, seus direitos e
obrigações. Assim, nossa relação com Deus não pode ser expressa em uma crença, mas na
aceitação de uma ordem que determina toda a vida.
OS QUATRO CUBITOS
Outra declaração que parece expressar um espírito anti-agadic é a do babilônico Amora
Ula. “Desde o dia em que o templo em Jerusalém foi destruído, tudo o que resta ao Santo são
os quatro côvados de halacha”; como se Deus não estivesse presente fora do reino da
43

halacha. Aqueles que citam esta passagem como uma declaração de depreciação da agada
não percebem que a passagem dificilmente é uma expressão de júbilo. Sua intenção é antes
transmitir profunda tristeza pelo fato de a atenção do homem a Deus se restringir a questões
de halacha; que Deus está ausente nos assuntos mundiais, em assuntos que estão fora dos
limites da halacha. É por isso que oramos pela redenção.
44

Em contraste com essa passagem, há uma afirmação de que “tudo o que o Santo tem neste
mundo é o temor e o temor de Deus”. 45

Certas ações rituais, se executadas por uma pessoa que não tem fé, são consideradas
inválidas. Para citar um exemplo: “É proibido queimar ou destruir qualquer das Escrituras
Sagradas, seus comentários ou exposições…. Esta regra se aplica apenas às Escrituras
escritas por uma pessoa que tem consciência de sua santidade. Mas se um descrente
escreveu um pergaminho da Torá, ele deve ser queimado com todos os nomes de Deus nele
contidos. A razão é que ele não acredita na santidade do nome divino e não a escreveu por si
só, mas a considerou como qualquer outra escrita. Sendo essa a sua atitude, o Nome Divino,
que ele escreveu, nunca se santificou. ”
46

“Um padre que não acredita no serviço de sacrifício - que diz em seu coração que os
sacrifícios do templo são pura vaidade; que o Senhor não os ordenou e que Moisés os
inventou - não tem participação no sacerdócio. ” 47

A divisão entre os saduceus e os fariseus foi parcialmente causada por diferenças na


doutrina. A Escritura é a única autoridade, afirmou o Saducee; Escrituras e tradição, afirmou
o fariseu. “O mais feroz de todos os conflitos entre fariseus e saduceus dizia respeito à
doutrina da ressurreição.” O fariseu acreditava na sobrevivência da alma, no reavivamento
48

do corpo, no grande julgamento e na vida no mundo vindouro, enquanto o Saducee rejeitou


essas crenças.
A controvérsia anti-Maimonidean não girou em torno de questões da lei. A autoridade
das decisões haláchicas de Maimonides nunca foi questionada. Foram suas opiniões sobre
anjos, profecia, milagres, ressurreição e criação, que provocaram a indignação de muitos
rabinos ortodoxos. 49.

O amargo antagonismo do Gaon de Vilna ao movimento hasídico foi causado principalmente


não por diferenças nos costumes, mas por diferenças na doutrina, como o entendimento
correto da imanência de Deus em todas as coisas, da doutrina da “redenção das faíscas” e a
doutrina do tsimtsum. 50.

NOTAS DO CAPÍTULO 32
1
Tractatus Theologica-Politicus , III, IV, XIII.
2
Kant devia seu conhecimento do judaísmo em parte ao Tractatus de Spinoza e em parte
à Jerusalém de Mendelssohn . Ele sustentou que o judaísmo é "religião própria e
autêntica". Compare Hermann Cohen, "Spinoza uber Staat und Religion, Judentum and
Christentum", Juedische Schriften , Berlim, 1924, vol. III, pp. 290-372 e vol. Eu p. 284f. O
mesmo se aplica a Hegel, compare Hegel, Early Theological Writings , Chicago, 1948, p. 195f.
3
O Tractatus de Spinoza serviu em mais de um aspecto como o modelo da Jerusalém de
Mendelssohn foi provado por Julius Guttmann, Jerusalém de Mendelssohn e Spinozas
Theologisch Pulitischer Traktat, Berlim, 1931. Veja também Guttmann, Die Philosophie des
Judentums , Munich, 1933, p. 312f. Para uma visão crítica, compare o estudo de Isaac
Heinemann sobre a filosofia de Mendelssohn em Metrudah , 1954, p. 205ff.
4
Jerusalém , cap. 2. Ver Hermann Cohen, Die Religion der Vernunft , p. 415ff.
5
Joseph Albo, Ikkarim , Parte 3, cap. 25)
6
Rabino Samuel Hanagid, Mevo Hatalmud .
7
Com base em Gênesis Rabba 44, 8, sugeriu-se que originalmente o termo agada também fosse
aplicado às partes narrativas da Bíblia, incluindo o Pentateuco. Ver M. Guttmann, Clavis
Talmudis , I, 453.
8
Compare Gênesis Rabba 85, 2.
9
Gênesis Rabba 60, 8.
10
Sifre , Deuteronômio, 49, para 11:22.
11
Yalkut Shimoni , Salmos, 672.
12
Midrash Tehillim 28, 5. De acordo com Maimonides, Comentário sobre Abot, final, kaddith é
recitado somente após agada ; ver, porém, Mishneh Torá, Ahavah , final e Magen Avrahan ,
54, 3.
13
Jerushalmi Shekalim , V, começo. Agada foi um dos tesouros que foram prometidos a Israel
em Mara ( Mechilta a 15:26), e que Moisés recebeu durante os quarenta dias que passou no
céu, Êxodo Rabba 47: 1; veja Ibn Zimra, Responsa , IV, 232. Ao contrário das primeiras tábuas
da aliança, as segundas tábuas também continham agada ( Êxodo Rabba 46: 1). Sobre a
crença na origem divina da agada, veja Levítico Rabba 22: 1; jerushalmi Megillah 4, 1.
14
Sifre , Deuteronômio, 48; Kiddushin 30a.
15
Midrash Mishle , para 10: 3.
16
Rabino Shneur Zalman de Ladi, Shulchan Aruch , Talmud Torá, cap. 2, par. 1-2.
17
Veja Maimonides. Comentários sobre o Mishnah, Sinédrio X, introdução. Abraham Geiger
atribuiu aos rabinos “ein getruebtes exegetischer Bewusstsein”. Veja Michael
Sachs, The Religiose Poesie der Juden em Spanien , Berlim, 1845, p. 160
18
Elijah Morpurgo, em Asaf, Mekorot Letoldot Hachinuch Beisrael , vol. II, p. 231
19
Eduard Lehmann, Die Perser, em “Chantepie de la Saussaye”, Lehrbuch der
Religionsgeschichte, editado por Alfred Bertholet e Eduard Lehmann, Tuebingen, 1925,
vol. II, p. 246
20
Shabat 31a-b.
21
“O rabino Joshua ben Karha disse: Por que em nossa liturgia a seção Ouve Ó Israel precede a
seção E acontecerá se você ouvir (o que lida com a observância)? Para que um homem
primeiro receba sobre si o jugo da realeza do céu, e depois receba sobre si o jugo dos
mandamentos. ” Mishneh Berachot , II, 2.
22
Mechilta para 20: 3. Segundo Mechilta do rabino Simon ben Jochai , Frankfurt a. M., 1905,
p. 103, o “Eu sou o Senhor teu Deus” faz parte de todo mandamento da lei, pois sem fé na
realidade de Deus não há mandamentos; veja o comentário de David Hoffmann.
23
Yebamot 6a-6b.
24
AJ Heschel, O Sábado , p. 17

25
Nahmanides, Comentário sobre Levítico 19: 2.
26
Baba Metsia 30b.
27
Veja Kiddushin 32b.
28.
Nedarim 81a; as citações são de Jeremias 9: 11f, parafraseadas levemente.
29
R. Nisim a Nedarim 81a.
30
Midrash Tehillim 119: 13
31
Veja, por exemplo, Sotah 40a. Ao estudar o Talmud, o principal assunto do aprendizado
judaico por muitos séculos, as partes agádicas foram frequentemente negligenciadas. Devido
à tradição ininterrupta no estudo da halacha, o conhecimento de suas fontes antigas foi
preservado até hoje. A falta de uma tradição semelhante no estudo da agada nos privou de
grande parte do entendimento das fontes agádicas. Alguns professores omitiriam
as porções agádicas . Bahya reclamou que o estudo dos “deveres do coração” foi
negligenciado, “embora eles constituam a base de todos os preceitos”. Bahya, The Deveres of
the Heart , vol. II, p. 49; também vol. Eu p. 14. Veja também o rabino Isaac Aboab, Menorat
Hamoar , introdução. Rabbenu Yonah, Shaare Teshuvá , 3, 20. Rabino Abraão, filho de
Maimônides, Milhamot Hashem , Jerusalém, 1953, p. 49. Rabino Joseph Ibn Kaspi, em I.
Abrahams, Hebrew Ethical Wills , II, p. 153f. Luzatto , Mesillat Yesharim , prefácio. Rabi
Chayim de Volozhin, Nefesh Hachayim , 4,1.
32.
Veja Maimonides, O Guia dos Perplexos , Livro III, p. 43. A forte reprovação da agada pelo
rabino Zeira ( Jerushalmi Maaserot III, 51a), ele mesmo um proeminente agadista, deve ter
sido direcionada não à agada em geral, mas ao seu abuso; ver A. Marmorstein, A Velha
Doutrina Rabínica de Deus , Londres, 1937, pp. 137ss. Nesse sentido, pode-se lembrar que o
rabino Zeira passou cem dias em jejum para esquecer o método dialético de instrução das
escolas babilônicas. Veja Baba Metsia 85a.
33
Nahmanides, em seu comentário, ficou muito intrigado com essa pergunta. “Certamente foi
necessário começar com a história da criação; a criação é a crença mais fundamental, e quem
o nega é ateu ( kofer ba-ikkar ) e não tem participação na Torá. ”No entanto, Nahmanides
justifica a pergunta dizendo que a história da criação permanece um mistério, apesar do que
é dito sobre isso no livro de Gênesis. Qualquer que seja a compreensão do mistério que
indivíduos distintos possuam, deriva exclusivamente da tradição. Para as pessoas comuns,
portanto, a referência à criação contida no Decálogo seria suficiente.
34
Mishnah, Berachot 9, 5.
35
S. Schechter, Studies in Judaism , First Series, p. 151
36.
Jerushalmi Peah 16a. Para a questão de um filósofo, quem é o mais odioso de todos? um
rabino respondeu: “Aquele que nega seu Criador.” Veja Tosefta Shevuot 3,6.
37.
Mechilta a Êxodo 14:31.
38.
Mishnah Sinédrio 10,1.
39.
Lamentações Rabba , 2, proemium. De acordo com S. Abramson, Leshonenu , xiv, p. 122-125,
a leitura original não é Meor mas Seor no sentido de “essência”.
40.
Veja a leitura em Pesikta de Rabbi Kabana , ed. Buber, Lyck, 1868, e Jerushalmi Hagigah , 1, 7,
76c. Em Pesikta, a passagem é seguida pela afirmação de que se deve estudar a Torá mesmo
que não seja por ela, pois, ao estudar, aprende-se a estudar a Torá por ela mesma.
41
Segundo Maimonides, Halevi, Nahmanides e outros, as primeiras palavras do decálogo
contêm o mandamento de acreditar na existência de Deus.
42.
Sobre a relação entre credo e fé, ver O homem não está sozinho , p. 167f.
43
Berachot 8a.
44
Compare a sugestão de Maimônides, Introdução à Mishnah , de que a halacha nesta passagem
é empregada em um significado mais amplo do que em outros lugares. A passagem foi
extremamente intrigante para Maimonides. “Se você entender literalmente, está muito longe
de ser verdade, pois implicaria que os quatro côvados de halacha eram o único tipo de
conhecimento que devemos adquirir, enquanto todos os outros tipos de sabedoria e ciência
deveriam ser rejeitados. Isso significa que, na era de Sem e Eber (antes da época de Abraão),
em que a halacha era desconhecida, Deus não teve nenhuma participação neste mundo? ”
45
Shabat 31b.
46.
Mishneh Torá, Yesode Hatorah , vi, 8.
47
Hullin 132b e o comentário de Rashi. Se ele acredita em sacrifícios, embora não esteja
familiarizado com as leis deles, ele tem direito a uma parte na distribuição dos dons
sacerdotais.
48.
Louis Finkelstein, Os Fariseus , Filadélfia, 1938, p. 145
49.
Ver Julius Guttmann, The Philosophie des Judentums , Muenchen, 1935, p. 206f; Joseph
Sarachek, Fé e Razão , Williamsport, Pa., 1935.
50.
Ver DZ Hilman, Iggrot Baal Hatanya , Jerusalém, 1953, p. 97; M. Teitelbaum, Harav Meladi ,
Varsóvia, 1914, vol. II, p. 87ff.

33
O Problema da Polaridade
HALACHA E AGADA
Há uma suposição geral de que os rabinos eram pessoas ingênuas, simplórias e pouco
reflexivas. É difícil ver como essa suposição pode ser generalizada em relação a uma galáxia
de homens cujos julgamentos sutis e profundos na halacha continuaram sendo um desafio
intelectual para todos os futuros alunos. É refutado por qualquer análise imparcial de seus
ditos agádicos, que indicam claramente que sua vida interior não era simples nem idílica. Seu
pensamento só pode ser entendido adequadamente em termos de uma disputa entre
receptividade e espontaneidade, entre halacha e agada.
Halacha representa a força para moldar a vida de acordo com um padrão fixo; é uma força
que dá forma. Agada é a expressão do esforço incessante do homem que muitas vezes desafia
todas as limitações. Halacha é a racionalização e esquematização da vida; define, especifica,
define medida e limite, colocando a vida em um sistema exato. Agada lida com as relações
inefáveis do homem com Deus, com outros homens e com o mundo. Halacha lida com
detalhes, com cada mandamento separadamente; Agada com toda a vida, com a totalidade
da vida religiosa. Halacha lida com a lei; agada com o significado da lei. Halacha lida com
assuntos que podem ser expressados literalmente; agada nos apresenta um reino que está
além do alcance da expressão. Halacha nos ensina como realizar atos comuns; agada nos diz
como participar do drama eterno. Halacha nos dá conhecimento; agada nos dá aspiração.

Halacha nos dá as normas para ação; agada, a visão dos fins da vida. Halacha prescreve,
sugere Agada; decretos halacha, agada inspira; halacha é definitiva; agada é alusivo.
Quando Isaque abençoou Jacó, ele disse: “Deus te dê o orvalho do céu, a gordura da terra e
abundância de milho e vinho.” Observou o Midrash: “Orvalho do céu é Escritura, a gordura
da terra é mishnah, milho é halacha, vinho é agada. ”1

Halacha, por necessidade, trata as leis em abstrato, independentemente da totalidade da


pessoa. É o agada que continua lembrando que o objetivo da performance é transformar o
intérprete, que o propósito da observância é treinar-nos para alcançar fins espirituais. “É
sabido que o objetivo de todo mitsvot é purificar o coração, pois o coração é a essência.” O
2

principal objetivo e objetivo do mitsvot realizado com nosso corpo é despertar nossa atenção
para o mitsvot que é cumprido com a mente e o coração, pois esses são os pilares sobre os
quais repousa o serviço de Deus. 3

Manter que a essência do judaísmo consiste exclusivamente de halacha é tão errôneo quanto
sustentar que a essência do judaísmo consiste exclusivamente de agada. A inter-relação
entre halacha e agada é o coração do judaísmo. Halacha sem agada está morta, agada sem
4

halacha é selvagem.
QUANTIDADE E QUALIDADE
Halacha pensa na categoria de quantidade; agada é a categoria de qualidade. Agada sustenta
que quem salva uma vida humana é como se tivesse salvo toda a humanidade. Aos olhos
daquele cuja primeira categoria é a categoria da quantidade, um homem é inferior a dois
homens, mas aos olhos de Deus uma vida vale tanto quanto toda a vida. Halacha fala das
dimensões estimáveis e mensuráveis de nossos atos, informando-nos como muito devemos
realizar, a fim de cumprir o nosso dever, sobre o tamanho, capacidade, ou conteúdo do
fazedor e a escritura. Agada lida com o aspecto imensurável, para dentro de viver, dizer-
nos como devemos pensar e sentir; quão melhor do que quanto devemos fazer para cumprir
nosso dever; a maneira, não apenas o conteúdo, é importante. Para halacha a quantidade
decide; agada, para a qual a qualidade é o padrão supremo, não se deslumbra com o número
ou a magnitude das boas ações, mas enfatiza o espírito, a kavanah , a dedicação e a
pureza. Agada, portanto, procura interioridade, e não as roupas externas.
HALACHA SEM AGADA
Reduzir o judaísmo à lei, a halacha, é ofuscar sua luz, perverter sua essência e matar seu
espírito. Temos um legado de agada, juntamente com um sistema de halacha, e, apesar de
várias razões, esse legado era frequentemente esquecido e o agada se tornou subserviente à
halacha, a halacha depende em última análise da agada. A halacha, a racionalização da vida,
não é apenas forçada a empregar elementos que não são razoáveis; sua autoridade suprema
depende da agada. Pois o que é a base da halacha? A declaração “Moisés recebeu a Torá do
Sinai”. No entanto, essa declaração não expressa uma ideia haláchica. Pois a halacha lida com
o que o homem deve fazer, com aquilo que o homem pode traduzir em ação, com coisas
definidas e concretas, e qualquer coisa que esteja além do alcance do homem não é um objeto
de halacha. O evento no Sinai, o mistério da revelação, pertence à esfera da agada. Assim,
embora o conteúdo da halacha esteja sujeito a seu próprio raciocínio, sua autoridade deriva
da agada.
Halacha não lida com o nível máximo de existência. A lei não cria em nós a motivação para
amar e temer a Deus, nem é capaz de nos dotar de poder para vencer o mal e resistir às
tentações, nem de lealdade para cumprir seus preceitos. Fornece as armas, aponta o
caminho; a luta é deixada para a alma do homem.
O código de conduta é como a partitura de um músico. Regras, princípios, formas podem ser
ensinadas; insight, sentimento, o senso de ritmo deve vir de dentro. Finalmente, o objetivo
da vida religiosa é a qualidade, e não a quantidade, não apenas o que é feito, mas como é feito.

A obediência à letra da lei regula nossa vida diária, mas essa obediência não deve ocultar a
espontaneidade de nossa vida interior. Quando a lei se torna petrificado e nossa observância
mecânica, nós de fato violar e distorcer seu próprio espírito. Quem não sabe que a
observância da lei significa decisão constante é um pietista tolo . “O que é um pietista
tolo? Uma mulher está se afogando no rio e ele diz: É impróprio para mim olhar para ela e
resgatá-la. ”
5

Halacha é uma resposta a uma pergunta, a saber: O que Deus me pede? No momento em que
a questão morre no coração, a resposta torna-se sem sentido. Essa questão, no entanto, é
agádica, espontânea, pessoal. É uma explosão de insight, desejo, fé. Não é dado; isso deve
acontecer. A tarefa do ensino religioso é ser parteira e provocar o nascimento da
questão. Muitos professores religiosos são culpados de ignorar o papel vital da questão e de
tolerar a esterilidade espiritual. Mas a alma nunca está calma. Todo ser humano está grávida
de problemas de forma pré-conceitual. Muitos de nós não sabemos como expressar nossa
busca por significado, nossa preocupação com o que há de melhor. Sem orientação, nossa
preocupação com o supremo não é refletida e o que expressamos é prematuro e penúltimo,
um aborto espírita do espírito.
A questão não é imutável na forma. Toda geração deve expressar a pergunta à sua
maneira. Nesse sentido, o agada pode ser empregado como denotando todo pensamento
religioso na tradição do judaísmo.
Seria um erro fatal isolar a lei, desconectá-la das perplexidades, desejos e aspirações da alma,
da espontaneidade e da totalidade da pessoa. Na crise espiritual do judeu moderno, o
problema da fé tem precedência sobre o problema da lei. Sem fé, interioridade e poder de
apreciação, a lei não tem sentido.
AGADA SEM HALACHA
Reduzir o judaísmo à interioridade, à agada, é apagar sua luz, dissolver sua essência e
destruir sua realidade. De fato, a maneira mais segura de perder a agada é abolir a
halacha. Eles só podem sobreviver em simbiose. Sem halacha Agada perde a sua substância,
o seu carácter, a sua fonte de inspiração, a sua segurança contra a tornar-se secularizado.
Somente pela interioridade, não chegamos perto de Deus. As intenções mais puras, o melhor
f

senso de devoção, as mais nobres aspirações espirituais são fatuous quando não realizados
em ação. O espiritismo é um caminho para os anjos, não para o homem. Só existe uma função
que pode ocorrer sem a ajuda de meios externos: sonhar. Ao sonhar, o homem está quase
separado da realidade concreta. No entanto, a vida espiritual não é um sonho e está em
constante necessidade de ação. Ação é a verificação do espírito. A amizade consiste em mera
emoção? De indulgência em sentir? Nem sempre é necessário um meio de expressão
material e tangível? A vida do espírito também precisa de ações concretas para sua
atualização. O corpo não deve ser deixado sozinho; o espírito deve ser realizado na carne. O
espírito é decisivo; mas é a vida, toda a vida, onde o espírito está em jogo. Para consagrar
nossa língua e nossas mãos, precisamos de meios extraordinários de pedagogia.
É impossível decidir se no judaísmo a supremacia pertence à halacha ou à agada, ao
legislador ou ao salmista. Os rabinos podem ter percebido o problema. Rab disse: O mundo
foi criado por causa de Davi, para que ele cantasse hinos e salmos para Deus. Samuel disse:
O mundo foi criado por causa de Moisés, para que ele pudesse receber a Torá. 6

Uma visão da supremacia da agada é refletida na seguinte tradição: Diz-se do rabino Yohanan
ben Zakkai que seus estudos incluíram todos os campos do aprendizado judaico, grandes
assuntos ou assuntos pequenos. Grandes assuntos significam ma 'asch merkabah (doutrinas
místicas), pequenos assuntos as discussões de Abaye e Raba (interpretações legais). Aqui, o
7

estudo da lei é chamado de "uma questão pequena", comparado com o estudo da sabedoria
mística.8

Maimonides, um dos maiores estudiosos da lei de todos os tempos, declara: “É mais precioso
para mim ensinar alguns dos fundamentos de nossa religião do que qualquer outra coisa que
estudo”. 9
A POLARIDADE DO JUDAISMO
O pensamento e a vida judaicos só podem ser entendidos adequadamente em termos de um
padrão dialético, contendo propriedades opostas ou contrastadas. Como em um ímã, cujos
fins têm qualidades magnéticas opostas, esses termos são opostos um ao outro e
exemplificam uma polaridade que se encontra no coração do judaísmo, a polaridade de
idéias e eventos, de mitsva e pecado, de kavanah e ação. , de regularidade e espontaneidade,
de uniformidade e individualidade, de halacha e agada, de lei e interioridade, de amor e
medo, de entendimento e obediência, de alegria e disciplina, de bom e mau impulso, de
tempo e eternidade, de este mundo e o mundo vindouro, de revelação e resposta, de insight
e informação, de empatia e auto-expressão, de credo e fé, da palavra e do que está além das
palavras, da busca do homem por Deus e Deus em busca de cara. Até a relação de Deus com
o mundo é caracterizada pela polaridade da justiça e misericórdia, providência e ocultação,
promessa de recompensa e exigência de servi-Lo por Sua causa. Tomado distraidamente,
todos esses termos parecem ser mutuamente exclusivas, mas na vida real eles envolvem um
ao outro; a separação dos dois é fatal para ambos. Não há halachá sem agada, nem agada sem
halachá. Não devemos menosprezar o corpo, nem sacrificar o espírito. O corpo é a disciplina,
o padrão, a lei; o espírito é devoção interior, espontaneidade, liberdade. O corpo sem o
espírito é um cadáver; o espírito sem o corpo é um fantasma. Assim, um mitsvá é uma
disciplina e uma inspiração, um ato de obediência e uma experiência de alegria, um jugo e
uma prerrogativa. Nossa tarefa é aprender a manter uma harmonia entre as demandas da
halacha e o espírito da agada.
Uma vez que cada um dos dois princípios move-se na direcção oposta, o equilíbrio só pode
ser mantida, se ambos são de igual força. Mas essa condição raramente é atingida. A
polaridade é uma característica essencial de todas as coisas. Tensão, contraste e contradição
caracterizam toda a realidade. Na linguagem do Zohar , esse mundo é chamado alma
deperuda , "o mundo da separação". Discrepância, contenda, ambiguidade e ambivalência
afligem toda a vida, incluindo o estudo da Torá; até os sábios do Talmude discordam de
muitos detalhes da lei.10

A TENSÃO ENTRE HALACHA E AGADA


Há situações em que a relação entre lei e interioridade, disciplina e prazer se torna
gravemente desequilibrada. Em seu ilustre medo de profanar o espírito da ordem divina, os
rabinos estabeleceram um nível de observância que, na sociedade moderna, está ao alcance
de almas exaltadas, mas não raramente fora do alcance dos homens comuns. A halacha deve
continuar ignorando a voz do agada?
“Foi predito na Bíblia que algum dia Efraim não terá ciúmes de Judá e Judá não assediará
Efraim (Isaías 11: 13). Esses dois tipos (tribos) estão sempre em conflito. Efraim foi
designado por Deus para se concentrar na lei e se dedicar aos mandamentos. É por isso que
o profeta adverte o povo de Israel a observar estritamente a lei: 'Para que ele não quebre
como fogo na casa de José' (Amós 5: 6).
“Judá foi designado para se concentrar em Deus e se apegar a Ele em todos os seus
caminhos. Portanto, Judá não está satisfeito em conhecer a mera lei, mas espera que Deus
lhe revele as profundezas da verdade além da própria lei. (Pois é possível em lei que um
veredicto seja correto de acordo com as informações disponíveis para os juízes e ainda vá
contra a verdade. Cf. Shevuot 29a, por exemplo).
Judá se recusa a se contentar com a observância rotineira ou a fé superficial. Não contente
em fazer hoje o que fez ontem, ele deseja encontrar nova luz em Seus mandamentos todos
os dias. Esta insistência em algumas vezes leves frescos dirige Judá, fazendo ações para o
bem de Deus que são contra a lei rigorosa.
“Mas, no futuro, fomos prometidos que Efraim e Judá não disputarão mais. Deus mostrará a
Efraim que as ações de Judá, mesmo quando elas ultrapassam os limites da lei, são sempre
por Sua causa e não por qualquer motivo impuro, e então haverá genuína compreensão e paz
entre elas. ”
11

REGULARIDADE E ESPONTANEIDADE
A tensão entre regularidade e espontaneidade, entre o padrão fixo da lei e a interioridade da
pessoa, tem sido frequentemente uma fonte de embaraço e agonia. Nem sempre estamos
prontos para subir a um nível em que poderíamos responder, por exemplo, à grandeza de
nossa liturgia. Mas a lei espera que enfrentemos essa grandeza três vezes por dia. As
palavras, as formas, permanecem as mesmas, mas nos dizem que um ato sagrado deve ser
feito pela primeira vez, por assim dizer. A voz proclamou: “Estas palavras que eu te
ordeno hoje será sobre teu coração” (Deuteronômio 6: 6). “Eles não devem ser considerados
como um antigo conjunto de portarias ... mas como novas palavras para o qual homens
ansiosamente correr para ouvi-los”; novo como se tivessem recebido hoje, hoje . 12

Tentando permanecer leais a ambos os aspectos da vida judaica, descobrimos que o pólo da
regularidade é mais forte que o pólo da espontaneidade e, como resultado, há um perigo
perpétuo de nossa observância e adoração se tornarem apenas um hábito, uma performance
mecânica. O padrão fixo e a regularidade de nossos serviços tendem a sufocar a
espontaneidade da devoção. Nosso grande problema, portanto, é como não deixar que o
princípio da regularidade (keva) prejudique o poder da espontaneidade (kavanah). É um
problema que diz respeito ao coração da vida religiosa e é tão fácil de resolver quanto outros
problemas centrais da existência. Faz parte da liberdade humana enfrentar esse desafio e
criar uma resposta em todas as situações, todos os dias da nossa vida. Paliativos podem ser
encontrados, mas nenhuma cura para a polaridade está disponível neste "mundo da
separação".
A maneira mais simples de evitar o problema é revogar o princípio da regularidade, adorar
apenas quando somos tocados pelo espírito e observar apenas o que é relevante para nossa
mente. Mas, ao revogar a regularidade, esgotamos a espontaneidade. Nossos recursos
espirituais não são inesgotáveis. O que pode parecer espontâneo é, na verdade, uma resposta
a uma ocasião. A alma permaneceria em silêncio se não fosse pela convocação e lembrete da
lei. Pode haver momentos em que a alma não responder, mas permanecendo no limiar do
sagrado estamos inconscientemente afetada por seu poder.
Não podemos confiar nas inspirações do coração se nos desapegarmos da inspiração dos
profetas. Nossos próprios momentos de iluminação são breves, esporádico e raro. A longo
prazo, a mente é muitas vezes monótona, nua e insípida. Dificilmente existe uma alma que
possa irradiar mais luz do que recebe. Realizar um mitsvá é encontrar o espírito. O espírito,
no entanto, não é algo que possamos adquirir de uma vez por todas, mas algo com o qual
devemos estar. Por essa razão, o modo de vida judaico é reiterar o ritual, encontrar o espírito
repetidamente, o espírito em si mesmo e o espírito que paira sobre todos os seres.
O espírito repousa não apenas em nossa conquista, em nosso objetivo, mas também em
nosso esforço, em nosso caminho. É por isso que o próprio ato de ir à casa de culto, todos os
dias ou todo sétimo dia, é uma canção sem palavras. Quando feito com humildade, com
simplicidade de coração, é como uma criança que, ansiosa por ouvir uma música, espalha a
partitura diante de sua mãe. Tudo o que a criança pode fazer é abrir o livro.
13

O caminho para a kavanah é através da ação; o caminho da fé é um modo de viver. Halacha e


agada estão correlacionados: halacha é a corda, agada é o arco. Quando a corda estiver
apertada, o arco evocará a melodia. Mas o barbante pode ficar preso na mão do detonador.
O VALOR DO HÁBITO
Estar vinculado a uma ordem e estabilidade de observância, a uma disciplina de culto em
horários determinados e formas fixas é uma rotina celestial. A natureza não deixa de ser
natural por estar sujeita à regularidade das estações. Lealdade a formas externas, dedicação
da vontade é em si uma forma de adoração. O Mitsvot sustentar sua auréola, mesmo quando
nossas mentes se esqueça de luz em nós a atenção para o santo. O caminho da lealdade à
rotina da vida sagrada corre ao longo da fronteira do espírito; embora estando do lado de
fora, a pessoa permanece muito próxima do espírito. A rotina nos mantém prontos para os
momentos em que a alma entra em acordo com o espírito.

Enquanto o amor está hibernando, nossas ações leais falam. É certo que as boas ações se
tornem um hábito, que a preferência da justiça se torne nossa segunda natureza; mesmo que
ele não é nativo do self. Uma boa pessoa não é aquele que faz a coisa certa, mas quem tem o
hábito de fazer a coisa certa.
A ausência de entendimento no momento de realizar um ato ritual não vicia a importância
do ato. Um pai que trabalha para ganhar a vida com seus filhos cumpre o bem,
independentemente de sua mente estar constantemente empenhada na intenção moral de
seus atos. Uma vez que uma pessoa decide alimentar uma criança todos os dias, seu ato diário
é bom, independentemente de ser sempre acompanhado por uma consciência de sua
implicação moral. O que empresta significado aos atos rituais não é apenas a intenção
particular que é co-temporal com os atos, mas principalmente a decisão da fé de aceitar o
modo de vida ritual. É essa decisão - a intenção geral , a kavanah básica - e o insight
acumulado ao longo de muitos momentos da experiência religiosa que conferem significado
devocional a todos os atos rituais de nossa vida.
AÇÕES ENSINAM
É verdade que uma pessoa pode conhecer os atos de bondade amorosa, sem sempre
conhecer o espírito de bondade amorosa. No entanto, também é verdade que os atos são um
desafio para a alma. Na verdade, é preciso ser deliberadamente insensível de permanecer
para sempre surdos ao espírito dos actos ele está envolvido na realização de dia após dia,
ano após ano. De que outra forma alguém pode aprender a alegria da bondade amorosa, se
não realizando-a?
Os atos não apenas seguem a intenção; eles também geram kavanah. Não há polaridade
estática de kavanah e ação, de devoção e ação. A ação pode trazer à tona o que está
adormecido na mente e os atos nos quais uma idéia é vivida; momentos cheios de dedicação
nos tornam eloquentes de uma maneira que não é aberta à mente nua. Kavanah passa a
existir com a ação. Ações ensinam.
“O homem é afetado por todas as suas ações; seu coração e todos os seus pensamentos
seguem as ações que ele faz, sejam boas ou más. Embora alguém seja totalmente perverso
no coração e todas as suas inclinações sejam sempre más, se ele fizer um valente esforço para
estudar continuamente a Torá e seguir seus mandamentos, mesmo que não por motivos
puros, com o tempo se inclinará para o bem, e, apesar de ter se envolvido em atividades
religiosas por motivos impuros, ele os seguirá por si mesmos ... Por outro lado, uma pessoa
perfeitamente justa, cujo coração é reto e sincero, que se deleita com a Torá e seus
mandamentos, mas se envolve em assuntos ofensivos - digamos, por exemplo, que o rei o
compeliu a perseguir uma ocupação maligna - se ele dedica-se a esse negócio o tempo todo,
ele se desvia da sua justiça e se torna perverso. ”
14

Isso explica por que o problema da kavanah particular é secundário ao problema da piedade
geral . Amor e medo sempre decidem o valor de cada ato em particular.
A insistência em receber o prêmio de estímulo em troca do que estamos fazendo seria uma
noção enganosa. Riquezas verdadeiras não são necessárias quid pro quo . Fazer o santo é sua
própria recompensa. Recebemos tudo quando pedimos para nada.
A inspiração é um presente. Ele não pode ser desejado nem coagido a existir. Piedade é
lealdade incondicional ao santo. O homem piedoso é aquele que busca apego ao santo. A
inspiração é uma promessa para o homem. O santo, quando feito de todo o coração, confere
luz a uma pessoa, mas também pode permanecer oculto.
“Felizes são a massa de crentes ... que não procuram ser muito inteligentes em sua relação
com Deus, mas seguem a lei de Deus com simplicidade.” 15

NOTAS DO CAPÍTULO 33
1
Gênesis Rabba até 27:28.
2
Kad Hakemach , Shavuot.
3
Bahya Ibn Paquda, Deveres do Coração, ed. Haymson, v. IV, p. 91
4
O rabino Samuel Edels composta dois comentários separados, um lidar com o legal eo outro
com as porções agadic do Talmud. No seu prefácio, no entanto, ele lamentou ter se divorciado
dos dois, pois ambos são aspectos da Torá.
5
Sotah 21b.
6
Sinédrio 98b.
7
Sukkah 28a.
8
Esse é definitivamente o significado da passagem, como Maimonides Mishneh Torá, Yesode
Hatorah , iv, 3. Veja também Maimonides, O Guia dos Perplexos , Livro III, cap. 51; AJ
Heschel, Maimonides , Berlim, 1935, cap. IX; Ibn Adret, em ' En Jacob , Wilna de 1883,
em Sakkah 28a, e Responsa , I, 93.
9
Comentário sobre a Mishná , Berachot , 9, 5.
10
“Deus também colocou uma coisa contra a outra; o bem contra o mal, e o mal contra o
bem; bom do bem e mal do bem; o bem marca o mal e o mal marca o bem; o bem é reservado
para os bons e o mal é reservado para os maus. ” Yetsirah , vi, 6. A passagem em Eclesiastes
7:14:“ Deus fez tanto um como o outro ”, inspirou um autor judeu medieval a compor um
tratado ( Temurah ) com o objetivo de provar que o contraste e a contradição são necessários
à existência. “Todas as coisas se apegam umas às outras, as puras e as impuras. Não há
pureza, exceto através da impureza; um mistério que se expressa nas palavras: uma coisa
limpa de um imundo. (Jó 14: 4). O cérebro está contido em uma concha, uma concha que não
será quebrado até aquele momento em que os mortos ressuscitarão. Então o shell ser
quebrado e a luz brilhar para o mundo a partir do cérebro, sem qualquer cobertura sobre
ele.” Zohar , vol. II, p. 69b. Há uma polaridade em tudo, exceto Deus. Pois toda tensão acaba
em Deus. Ele está além de todas as dicotomias.
11
Rabino Mordecai José de Isbitsa, Me Hashiloah, Viena, 1860, pp. 14-D-15-A.
12
Sifre , ad locum.
13
AJ Heschel, A Busca do Homem por Deus , p. 107
14
Rabino Aaron Halevi de Barcelona, Sefer Hachinuch , mitsvah 20.
15
Albo, Ikkarim III, 27.

34
O Significado da Observância
ORIGEM E PRESENÇA
Uma dificuldade séria é o problema do significado da observância judaica. O judeu moderno
não pode aceitar o caminho da obediência estática como um atalho para o mistério da
vontade divina. Sua situação religiosa não é propícia a uma atitude de rendição intelectual
ou espiritual. Ele não está pronto para sacrificar sua liberdade no altar da lealdade ao
espírito de seus ancestrais. Ele responderá apenas a uma demonstração de que há
significado no que se espera dele. Sua principal dificuldade não está na incapacidade de
compreender a origem divina da lei; sua dificuldade essencial está na incapacidade de
sentir a presença do significado divino no cumprimento da lei.
O significado da observação
É um tópico antigo da especulação judaica: quais são as razões, os fundamentos racionais da
observância judaica?
Existem muitas perspectivas pelas quais a observância pode ser julgada. O sociológico:
contribui para o bem da sociedade ou para a sobrevivência das pessoas? A estética: melhora
nosso senso de forma e beleza? A moral: isso nos ajuda a perceber o bem? Há também a
dogmática: a observância é a vontade de Deus e nenhuma outra justificação é
necessária. Visto que a observância judaica abraça a totalidade da existência,
uma abordagem sinóptica traria sua relevância em termos de todos os valores mais altos e
abriria uma visão abrangente de seu significado.
O judaísmo está preocupado com a felicidade do indivíduo, bem como com a sobrevivência
do povo judeu, com a redenção de todos os homens e com a vontade de um Deus. Alega, no
entanto, que a felicidade depende fidelidade a Deus; que a importância única da
sobrevivência do povo é ser parceiro de uma aliança com Deus; que a redenção de todos os
homens depende de servirem à Sua vontade. A perspectiva, portanto, da qual o indivíduo, a
comunidade e toda a humanidade é julgada é a da perspicácia e convicção religiosa. Sem
minimizar a profunda relevância de outras perspectivas, analisaremos o problema do
significado da observância do ponto de vista desenvolvido nas seções anteriores deste livro
e tentaremos responder à pergunta de como a observância está relacionada ao insight
religioso.
Como dito acima, alguns dos pressupostos teológicos básicos do judaísmo não podem ser
completamente justificados em termos da razão humana. Sua concepção da natureza do
homem como tendo sido criada à semelhança de Deus, sua concepção de Deus e história, de
oração e até de moralidade, desafia algumas das realizações às quais chegamos
honestamente ao final de nossa análise e escrutínio. . As exigências da piedade são um
mistério diante do qual o homem é reduzido à reverência e ao silêncio. Numa sociedade
tecnológica, quando a religião se torna uma função, a piedade também é um instrumento
para satisfazer as necessidades do homem. Portanto, devemos ser particularmente
cuidadosos para não adotar o hábito de encarar a religião como se fosse uma máquina ou
uma organização que possa ser administrada de acordo com os próprios cálculos.
O problema de como viver como judeu não pode ser resolvido em termos de bom senso e
experiência comum. A ordem da vida judaica é espiritual; possui uma lógica espiritual
própria que não pode ser apreendida a menos que seus termos básicos sejam vividos e
apreciados. Seu significado pode ser melhor compreendido na resposta pessoal do que nas
definições desapegadas. A vida deve ser conquistada espiritualmente , não apenas
materialmente. Devemos manter vivo o sentimento de admiração através de atos de
admiração.
ETERNIDADE, NÃO UTILIDADE
Que tipo de significado procuramos? Não há compreensão do significado como tal. O
significado está sempre relacionado a um sistema de significados. O tipo de significado que
procuramos depende do tipo de sistema que escolhemos. O sistema mais comum é o da
psicologia. Uma mitsvá é considerada significativa quando provada ser capaz de satisfazer
uma necessidade pessoal.
No entanto, a essência da religião não reside na satisfação de uma necessidade
humana. Enquanto o homem vê a religião como uma fonte de satisfação para suas próprias
necessidades, não é Deus a quem ele serve, mas a si próprio. Essa satisfação pode ser obtida
1

da civilização, que fornece meios abundantes para satisfazer nossas necessidades.


De fato, a maior parte de nossa atenção é dada ao expediente, àquele que é propício à nossa
vantagem e que aumentaria nossa capacidade de explorar os recursos deste planeta. Se
nossa filosofia fosse uma projeção do comportamento real do homem, teríamos que definir
o valor da terra como fonte de suprimento para nossas indústrias e o oceano como um
tanque de peixes. No entanto, como vimos, há mais de um aspecto da natureza que chama
nossa atenção. Saímos para conhecer o mundo, não apenas pela conveniência, mas também
pela maravilha. No primeiro, acumulamos informações para dominar; no segundo,
aprofundamos nossa apreciação para responder. O poder é a linguagem da
conveniência; poesia a linguagem da maravilha.
Ele que vai para rezar não tem o objectivo de melhorar a sua loja do conhecimento; quem
realiza um ritual não espera promover seus interesses. As obras sagradas são projetadas
para tornar a vida compatível com o nosso senso de inefável . Os mitsvot são formas de
expressar em ações a apreciação do inefável. São termos do espírito em que aludimos ao que
está além da razão. Para procurar explicações racionais, para fiscalizar a Mitsvot em termos
de senso comum é para saciar o seu significado intrínseco. Qual seria o valor de provar que
a observância das leis alimentares é útil na promoção da saúde, que guardar o sábado é
propício à felicidade? Não é utilidade que procuramos na religião, mas a eternidade . O
critério da religião não está em estar de acordo com nosso senso comum, mas em ser
compatível com nosso senso de inefável. O propósito da religião não é satisfazer as
necessidades que sentimos, mas para criar em nós a necessidade de fins que servem, dos
quais de outra forma permanecer alheio.
SIGNIFICADO ESPIRITUAL
O problema da ética é: qual é o ideal ou princípio de conduta que
é racionalmente justificável? Para a religião, o problema de viver é: qual é o ideal ou princípio
de viver que é espiritualmente justificável? A pergunta legítima sobre as formas de
observância judaica é a pergunta: elas são espiritualmente significativas?
Portanto, não devemos avaliar o mitsvot pela quantidade de significado racional que
podemos descobrir em sua base. A religião não está dentro, mas está além dos limites da
mera razão; sua tarefa não é competir com a razão, ser uma fonte de idéias especulativas,
mas ajudar-nos onde a razão é de pouca ajuda. Seu significado deve ser entendido em termos
compatíveis com o sentido do inefável. Freqüentemente, onde os conceitos falham, onde a
compreensão racional termina, o significado da observância começa. Seu objetivo não é
servir à higiene, felicidade ou vitalidade do homem; seu objetivo é acrescentar santidade à
higiene, grandeza à felicidade, espírito à vitalidade.
O significado espiritual nem sempre é límpido; a transparência é a qualidade do vidro,
enquanto os diamantes são distinguidos pelo poder de refração eo jogo de cores prismáticas.
De fato, qualquer razão para avançarmos em nossa lealdade à ordem de vida judaica apenas
aponta para uma de suas muitas facetas. Dizer que os mitsvot têm significado é menos
preciso do que dizer que nos levam a poços de significado emergente, a experiências cheias
de brilho oculto do santo, subitamente ardendo em nossos pensamentos.
Aqueles que, para salvar o modo de vida judaico, colocam seu significado sob o martelo,
acabam vendendo-o ao menor lance. Os valores mais altos não estão em demanda e não são
vendidos no mercado. Na vida espiritual, algumas experiências são como uma câmera
obscura, através da qual a luz deve entrar para formar uma imagem na mente, a imagem da
inteligibilidade inefável. A insistência em explicar e relacionar o sagrado com o relativo e o
funcional é como acender uma vela na câmera.
Obras de piedade são como obras de arte. Eles são funcionais, servem a um propósito, mas
sua essência é intrínseca. A mitsvá é a perpetuação de um insight ou um ato de reunir a
passagem com o eterno, o momentâneo com o eterno.
Se as idéias do indivíduo devem ser transmitidas a outras pessoas e tornar-se parte da vida
social, ou mesmo se elas devem ser armazenadas efetivamente para o próprio entendimento
futuro, elas devem assumir as formas de ações, de mitsvot.
A religião sem mitsvot é uma experiência sem o poder da expressão, um senso de mistério
sem o poder da santificação; uma pergunta sem resposta. Sem a Torá, temos apenas ações
que sonham com Deus; com a Torá, temos mitsvot que pronunciam Deus em atos.
Quando o rabino Yohanan ben Zakkai perguntou a seus discípulos: “Qual é a pior qualidade
que um homem deve evitar?” O rabino Simeon respondeu: “ Alguém que pede emprestado e
não paga . É o mesmo se alguém toma emprestado do homem ou de Deus. ” Talvez essa seja
2

a essência da miséria humana: esquecer que a vida é um presente e também uma confiança.
UMA RESPOSTA AO MISTÉRIO
“Como posso retribuir ao Senhor todos os Seus tratos generosos para comigo?” Como
responder ao mistério que nos cerca, ao inefável que invoca nossas almas? Este é, de fato, o
tema universal da religião. O mundo está cheio de maravilhas. Quem responderá? Quem se
importará? Nossa reverência não é resposta. Quanto mais profundamente reverenciamos,
mais claramente percebemos a inadequação da mera reverência. É o suficiente para louvar,
para exaltar aquilo que está além de todos os elogios? Qual é o valor da reverência? Fraco
são todas as nossas músicas e louvores. Se pudéssemos doar tudo o que temos, tudo o que
somos. A única resposta para o inefável é um modo de vida compatível com o inefável.
A vida humana é um ponto em que mente e mistério se encontram. É por isso que o homem
não pode viver apenas por sua razão, nem pode prosperar apenas no mistério. Entregar-se
ao mistério é fatalismo, retirar-se à razão é solipsismo. O homem é levado a comungar com
o que está além do mistério. O inefável nele procura um caminho para aquilo que está além
do inefável.
Israel foi ensinado a abordar Aquele que está além do mistério. Além da mente está o
mistério, mas além do mistério está a misericórdia. Sai da escuridão uma voz que revela que
o mistério final não é um enigma, mas o Deus da misericórdia; que o Criador de todos é o "Pai
Celestial". A questão final se tornou um mandamento específico. Uma mitsvá é onde a mente
e o mistério se unem para criar uma imagem de um atributo de Deus. Uma ação sagrada é
onde a terra e o céu se encontram.
Os céus são os céus do Senhor, mas a terra Ele deu aos filhos do homem (Salmos 115: 16). “É
como se um rei tivesse decretado que os cidadãos de Roma não deveriam visitar a Síria, nem
os cidadãos da Síria deveriam visitar Roma. Assim, quando Deus criou o mundo, Ele
decretou: 'Os céus são os céus do Senhor; mas a terra deu aos filhos do homem. No entanto,
quando Ele estava prestes a dar a Torá, rescindiu o primeiro decreto e disse: 'Aqueles que
estão abaixo subirão aos que estão no alto, enquanto aqueles que estão no alto descerão aos
que estão abaixo e eu começarei'. como é dito: E o Senhor desceu sobre o monte Sinai (Êxodo
19:20), e mais tarde está escrito: E a Moisés ele disse: Suba ao Senhor (Êxodo 24:11). ”
3

Para quem está de fora, o mitsvot pode parecer sinais hieroglíficos, obscuros, absurdos,
cadeias de legalismo sem vida. Para aqueles que não se esforçam para compartilhar o que
não tem exemplo e é superado, a observância pode se tornar uma rotina chata e
cansativa. Para aqueles que querem amarrar suas vidas aos duradouros, os mitsvot são uma
arte agradável, expressiva e cheia de significado condensado. "Teus estatutos têm sido meus
cânticos", disse o salmista (119: 54), estatutos, huqim , tradicionalmente denotando
preceitos pelos quais nenhuma razão pode ser encontrada. Na mente dos judeus a ação canta
e regularidade de realização é o ritmo pelo qual nós proferir nossas músicas. Nossos dogmas
são alusões, intuições; no entanto, nossas ações são definições.
AVENTURAS DA ALMA
As explicações para o mitsvot são como insights da crítica de arte; a interpretação nunca
pode rivalizar com os atos criativos do artista. A razão no domínio da religião é como uma
pedra de amolar que afia o ferro, como diz o ditado, embora incapaz de cortar.
Só há uma maneira de avaliar o mitsvot: relacionar as aventuras da alma entre os
pensamentos e ações do Israel eterno, em vez de adivinhar-se às intenções originais e
essenciais da lei.
Explicações do mitsvot vêm e vão; as teorias mudam com o temperamento da época, mas a
música do mitsvot continua. Explicações são traduções; eles são úteis e inadequados. Um
tradutor da Ilíada para o alemão comentou certa vez: “Caro leitor, estude o grego e jogue
minha tradução no fogo” O mesmo se aplica ao sagrado: as explicações não são substitutas.
.4

Significativamente, o termo hebraico para a explicação da mitvsot é ta'am , ou ta'ame


hamitsvot . No entanto, ta'am também significa sabor ou sabor. É o sabor que uma pessoa
5

percebe ao realizar um mitsvá que comunica seu significado.


O verdadeiro significado não pode ser encontrado em um conceito estagnado, fixo e
determinado de uma vez por todas. O sabor exclusivo do significado não é algo que as
formulações possam transmitir. Nasce com o ato de realização, e nossa apreciação cresce
com a nossa experiência.
Mitsvot não são apenas expressões de significados dados de uma vez por todas, mas
maneiras de evocar novos significados repetidas vezes. São atos de inspiração e não atos de
conformidade. São as músicas que expressam nossa maravilha.
“UMA MÚSICA CADA DIA”
Nas palavras do rabino Yohanan: “Se alguém lê as Escrituras sem melodia ou repete a
Mishnah sem melodia, a Escritura diz: Por isso lhes dei estatutos que não eram bons (Ezequiel
20:25).” Um mitsvá sem uma melodia é desprovida de alma; A Torá sem melodia é
6

desprovida de espírito. Kavanah é a arte de definir uma ação para a música interior. “Venha
antes de sua presença com a cantar” (Salmos 100: 2). Ao cantar, entramos em Sua presença.
O que é uma ação nobre? Uma alma faminta em ascensão. Para alguns, o ato é novo e
precioso, embora seu significado esteja parcialmente aqui, parcialmente além das
estrelas. Para outros, é como se desfazer de um fardo, deixando um rastro de
arrependimento e frustração. O teste da kavanah está na alegria que desperta , na felicidade
que gera. "Alegra a alma do teu servo, pois a ti, Senhor, elevo a minha alma" (Salmos 86:
4). Ele que sabe como levantar sua alma acima da mesquinhez de sentido momentânea vai
realmente receber a bênção de alegria.
O que nós realizamos é infinitamente humilde, movendo-se, mas uma polegada em direção a
um objetivo distante. Mas o que tentamos é nobre: emprestar uma aura sagrada a ações
comuns. O que é um mitsvá? Uma ação na forma de uma oração. A observância judaica é uma
liturgia de atos.
É um sacrilégio lamentar quando a tarefa exige, e Deus é grato antecipadamente pelo serviço
que prestaremos a Ele. A fruição de uma escritura sagrada é a alegria da alma revela. O
salmista (100: 2) proclama: “Sirva-O com alegria.” Seu serviço e alegria são um e o mesmo.
Encontrar um mitsvá é descobrir Sua presença como é para mim, e em Sua presença está
"plenitude de alegria". O que é piedade? “Uma canção todos os dias, uma música todos os
dias.” Todas as manhãs começamos com uma oração: “Faça doce, nós Te imploramos, ó
7

Senhor nosso Deus, as palavras de Tua Torá em nossa boca.”


Há uma fonte em uma ação sagrada. Toca uma música eterna para a alma que lava seu
próprio deserto.
A ação e a recompensa devem se unir. “Não sejais como servos que servem ao mestre em
troca de receber uma recompensa, mas sejam como servos que servem ao mestre sem a
expectativa de receber uma recompensa.” A recompensa de um mitsvá é a eternidade. Mas
8

não seja como aqueles que esperam que a eternidade siga a ação: na vida futura. A eternidade
está no ato, no fazer. A recompensa de um mitsvá é o próprio mitsvá.
9 10

LEMBRETES
Como dito acima, o modo de vida judaico é uma resposta a um problema humano supremo,
a saber: como deve o homem, um ser que é em essência a semelhança de Deus, pensar, sentir
e agir? Como ele pode viver de uma maneira compatível com a presença de Deus? A menos
que estejamos cientes do problema, não podemos apreciar a resposta.
Todo mitsvot é um meio de evocar em nós a consciência de viver na vizinhança de Deus, de
viver na santa dimensão. Eles lembram o mistério imperceptível das coisas e atos e são
lembretes de que somos os mordomos, e não os proprietários do universo; lembra o fato de
que o homem não vive em um deserto espiritual, que todo ato do homem é um encontro do
humano e do santo.
Todos os mitsvot expressam antes reverência. Eles são indicações de nossa consciência da
presença eterna de Deus, celebrando Sua presença em ação. As bênçãos estão no tempo
presente. Dizemos: “Bendito seja Aquele que cria ... Quem produz.” Dizer uma bênção é estar
ciente de Sua criação contínua.
Quais são toda a palavra profética se não for uma expressão de ansiedade de Deus para o
homem e sua preocupação com a integridade do homem? Um lembrete da participação de
Deus na vida humana; um lembrete de que não há privacidade? Ninguém pode se esconder,
ninguém pode estar fora de Sua vista. Ele mora com o Israel "no meio de sua impureza"
(Levítico 16:16). Viver não é um assunto particular do indivíduo. Viver é o que o homem faz
com o tempo de Deus, que o homem faz com o mundo de Deus.
AÇÃO COMO REUNIÃO
Para a mente vulgar, uma ação consiste em o eu tentar explorar o não-eu. Para o homem
piedoso, uma ação é um encontro do humano e do santo, da vontade do homem e do mundo
de Deus. Ambos são cortados da mesma rocha e destinados a fazer parte de um grande
mosaico.
Não há dicotomia entre a felicidade do homem e os desígnios de Deus. Descobrir a ausência
dessa dicotomia, viver essa identidade, é a verdadeira recompensa da vida religiosa. Deus
compartilha a alegria do homem, se o homem está aberto à preocupação de Deus. A
satisfação de uma necessidade humana é uma dedicação a um fim divino.
O mundo está dilacerado por conflitos, tolices, ódios. Nossa tarefa é limpar, iluminar,
reparar. Toda ação é um choque ou uma ajuda no esforço de redenção. O homem não é um
com Deus, nem mesmo com seu verdadeiro eu. Nossa tarefa é trazer a eternidade para o
tempo, limpar um caminho no deserto, tornar claro no deserto uma estrada para Deus. "Feliz
é o homem em cujo coração estão as estradas" (Salmo 84: 6).
Qual é o motivo por trás da vida judaica? É talvez o desejo de estabelecer um acordo entre o
eu e a Sua vontade, atravessar um terreno baldio em direção à única flor no pico distante. É
como se eu fosse o único homem no mundo e Deus também estivesse sozinho, esperando por
mim.
ANEXO AO SANTO
Antes de cumprir uma mitsvá, oramos: "Bendito sejas ... Quem nos santificou com Seus
mitsvot ..." O significado de uma mitsvá está em seu poder de santificação.
O que é uma ação sagrada? Um encontro com o divino; um modo de viver em comunhão com
Deus; um lampejo de santidade na escuridão da profanação; o nascimento de um amor
maior; dotação com sensibilidade mais profunda.
O mitsvot é formativo. A alma cresce por obras nobres. A alma é iluminada por atos
sagrados. De fato, o objetivo de todos os mitsvot é refinar o homem. Eles foram dadas para
11

o benefício do homem: para proteger e para enobrecer ele, a disciplina e para inspirá-lo. Nós
enobrecemos o eu revelando o divino. Deus está escondido no mundo e nossa tarefa é deixar
o divino emergir de nossas ações.
Observou-se que as duas últimas letras da palavra mitsvah são iguais às duas últimas do
Tetragrammaton, o Nome Inefável, e que suas duas primeiras letras são intercambiáveis, na
ordem alfabética de AT, B-Sh, com o primeiras duas letras do Tetragrammaton. Um mitsvá é
o nome inefável. Seu nome é oculto e revelado em nossos atos.
O objetivo da observância não é dar expressão ao que sentimos ou ao que pensamos. Ao dar
expressão a um pensamento ou sentimento, delegamos às palavras o que carregamos em
nossas almas. Expressões são substituições, atos vicários. Dizemos e nos separamos do que
dizemos. O objetivo da observância não é expressar, mas ser o que sentimos ou pensamos,
unir nossa existência com aquilo que sentimos ou pensamos; estar perto da realidade que
está além de todo pensamento e sentimento; estar apegado ao santo.
O êxtase das ações
Fazer um mitsvá é superar a si mesmo, ir além das próprias necessidades e iluminar o
mundo. Mas de onde deve vir o fogo para iluminar o mundo? Repetidas vezes descobrimos
quão vazia, quão fraca e abrupta é a luz que vem de dentro. Não há força suficiente em nosso
poder para transcender a nós mesmos, para ensoul nossos atos. Nosso esforço extenuante é
muito fraco para ultrapassar os movimentos mesquinhos do ego.
Mas há um êxtase de ações , momentos luminosos em que somos elevados por ações
avassaladoras acima de nossa própria vontade; momentos cheios de alegria extrovertida,
com deleite intenso. Tal exaltação é um presente. Para aquele que luta de coração e alma para
se entregar a Deus e que consegue tanto quanto está ao seu alcance , os portões da grandeza
se abrem e ele é capaz de alcançar o que está além do seu poder .12

O dom da grandeza não chega àqueles que não trabalham para destruir sua própria
pequenez. A mitsvá não conjura santidade do nada, apenas contribui para o que o homem
contribui. Nada iluminará a maravilha em nós, quando nosso desejo estiver dormente e
nosso coração estiver obscuro e contente. Devemos render bondade para adquirir a
bondade; devemos fazer o bem para alcançar o santo.
O seguinte pode ser usado como uma ilustração desse pensamento. “Um homem plantou
árvores, cortou suas raízes, limpou o solo de espinhos e ervas daninhas, regou as árvores
quando necessário e aplicou fertilizantes nelas; então ele ora a Deus que as árvores
produzam frutos. Mas se ele negligenciar cuidar deles e cuidar deles, ele não merece que o
Criador, abençoado seja Ele, lhe dê frutos deles. ” 13

A mitsvá é comparada a uma lâmpada (Provérbios 6:23). A finalidade de acender uma


lâmpada não está no ato em si nem em seus efeitos imediatos, nomeadamente no consumo
de óleo e na queima do pavio. O verdadeiro objetivo é produzir luz. No mesmo sentido, o
objetivo de realizar uma mitsvá está no significado, à luz que emana dela. O ato é realizado
pelo homem, mas a luz emana de Deus. Toda mitsvá acrescenta santidade a Israel.
14 15

A centelha do homem pode ser aumentada e inflamada por um lampejo de Deus. “Se um
homem se santifica um pouco, ele se torna grandemente santificado. Se ele se santifica
embaixo, torna-se santificado de cima. ” santidade não é exclusivamente o produto da
16 A

alma, mas o resultado de momentos nos quais Deus e a alma se encontram à luz de uma boa
ação.
A religião não é dada a nós de uma vez por todas como algo a ser preservado em um cofre. Ele
deve ser recriado o tempo todo. Mitsvot são formas; cumprir uma mitsvá significa preenchê-
la de significado .
O salmista ora:

O Senhor envia da tua santidade o teu socorro,


e te sustenta de Sião.
Salmos 20: 3

A ajuda vem da santidade. Mas onde está a santidade? Ele está incorporado em algum lugar
do espaço, em uma esfera celeste? Foi assim que os rabinos interpretaram o versículo: “O
Senhor envia tua ajuda da santidade das ações que fizeste, e te sustenta de Sião ( mitsiyon ),
da tua distinção em ações; da santificação do nome, das tuas santificações de obras que estão
dentro de ti. ”
17

A preciosidade que a lealdade ao mitsvot confere à vida do indivíduo ou da comunidade não


pode ser totalmente expressa. A observância judaica nos dá limpeza e o que é mais:
compaixão. Dá-nos saúde e o que é mais: santidade. Isso nos dá força e o que é mais: um
mundo interior. Um mundo muitas vezes miserável e terrível se torna gentil e encantador.
NOTAS DO CAPÍTULO 34
1
Veja O homem não está sozinho , pp. 232ss.
2
Abot 2, 14.
3
Êxodo Rabba 12, 3; Tanhuma para Êxodo 9:22.
4
Friedrich Leopold von Stollberg, citado por Franz Rosenzweig, Jehuda Halevi , p. 153
5
Para uma história de tais tentativas, veja Isaac Heinemann, Ta'ame Hamitsvot Besafrut
Israel , Jerusalém, 1942.
6
Megillah 32a.
7
Compare a declaração do rabino Akiba no Sinédrio 99b.
8
Abot 1, 3.
9
Rabino Nahum de Tschernobil, Meor 'Ainayim.
10
Abot 4, 2.
11
Gênesis Rabba , 44.
12
Bahya, vol. IV, p. 91
13
Bahya, vol. IV, pp. 91-92.
14
Albo, Ikkarim , III, 28.
15
Veja Mekilta às 22:30; Sifre para Números 15:40.
16
Yoma 39a.
17
Levítico Rabba 24, 4.

35
Mitsvah e Sin
O significado de Mitsvá
Se a frequência e a intensidade com que uma palavra é usada pode servir como um índice de
sua importância para a mentalidade de um povo, então a palavra mitsvah é de suprema
importância. De fato, o papel do termo mitsvah no hebraico e no iídiche é quase sem
paralelo. Assim como a salvação é o conceito central na piedade cristã, o mesmo acontece
mitsvah servir como um foco de consciência religiosa judaica. É, próximo à Torá, o termo
básico do judaísmo, servindo como um nome geral para regras positivas e negativas, tanto
para diretrizes quanto para restrições.
É difícil definir uma definição ou paráfrase da palavra mitsvah. Em outras línguas, existem
palavras separadas para os diferentes significados que em hebraico são transmitidas pela
única palavra mitsvah. Denota não apenas mandamento, mas também a lei , a obrigação do
homem de cumprir a lei e o ato de cumprir a obrigação ou a ação, particularmente um ato de
benevolência ou caridade.
Seus significados vão desde os atos praticados pelo sumo sacerdote no templo até os mais
humildes gestos de bondade para os semelhantes, desde os atos de performance externa às
atitudes internas, tanto em relação aos outros como em relação a si próprio. É
frequentemente usado no amplo sentido da religião ou religião . Combina todos os níveis da
1

vida humana e espiritual. Todo ato feito de acordo com a vontade de Deus é um mitsvá. 2

Mas o alcance do significado da palavra mitsvah é ainda mais amplo. Além dos significados
que denota, ou seja mandamento, direito, obrigação e escritura conota inúmeros atributos
que estão implícitas, além de seus significados primários. Ele tem a conotação de bondade,
valor, virtude, meritoriousness, a piedade, e até mesmo a santidade. Assim, embora seja
possível dizer uma ação boa, virtuosa, valiosa, meritória, piedosa ou santa, seria uma
tautologia dizer uma mitsvá boa, meritória, piedosa ou santa.
Em hebraico, falamos do mitsvá como se fosse dotado de propriedades sensíveis, como se
fosse uma entidade concreta, uma coisa. Dizemos, por exemplo, "apropriar-se de mitsvot",
"adquirir mitsvot", "perseguir mitsvot", "estar bem carregado de mitsvot"; "até os homens
3

ignorantes estão cheios de mitsvot como romã (estão cheios de grãos)"; “Decore-se com
4

mitsvot diante Dele.” Todo mitsvah cria “um bom anjo”. Mitsvot são “amigos do
5

homem”, sua verdadeira “prole”, seus defensores no mundo vindouro, suas vestes, sua
6 7

forma . Sem mitsvot, um está nu. É por causa da concepção única do mitsvá como uma
8

entidade quase concreta que é difícil encontrar um equivalente para ele em outras
línguas. Três traduções do versículo em Provérbios 10: 8 vai ilustrar o ponto. Ele diz: “Os
sábios de coração yikah mitsvot”. As duas palavras hebraicas apresentadas no rei James
“receberão mandamentos”, em Moffatt “adia a autoridade”, na tradução americana “obedece
às leis”, na Versão Padrão Revisada “Atenderão aos mandamentos”. Os rabinos mantiveram
o sentido da concretude e entenderam o versículo como “o sábio de
coração adquirirá mitsvot”.
O termo básico da vida judaica, portanto, é mitsvah, e não lei ( din ). A lei nos serve como
fonte de conhecimento sobre o que é e o que não deve ser considerado como mitsvá. O ato
em si, o que uma pessoa faz com esse conhecimento, é determinado não apenas pelo que a
lei descreve, mas também pelo que a lei não pode impor: a liberdade do coração.
A suprema dignidade da mitsvá é de tal poder espiritual que ganhou uma posição de
primazia sobre seu antônimo, a saber, pecado ou averah . Até o pecado de Adão foi descrito
como uma perda de mitsvá. Após o fruto proibido, nos é dito, seus olhos estavam Unclosed e
“eles sabiam que estavam nus” (Gênesis 3: 7). “Um mitsvá foi confiado a eles e eles se
despojaram”. 9

Para a mente do judeu mitsvah tem mais realidade e é um termo usado com mais frequência
e com mais destaque do que averah . No vocabulário cristão, a frequência e a importância
dos dois termos são justamente o contrário. O cristianismo não assumiu a idéia de mitsvá e,
como vimos, não existe um equivalente preciso para ele nas línguas ocidentais. Por outro
lado, o termo "pecado" assumiu a conotação de algo substancial, um significado não implícito
em averah .
A vida gira em torno da ação certa e da ação errada, mas fomos treinados para ter
mais consciência de mitsvá do que averah ou consciência de pecado. 10

Em iídiche, cujas expressões revelam a maneira de pensar judaica, fazer um mitsvá significa
adquirir um ganho espiritual. Gib mir, um colete vasser brilhante, no mir a mitsvah significa:
dê-me um copo de água, você obterá um ganho espiritual. Fazer um averah significa
desperdiçar, gastar sem nenhum propósito. Du redst tsu um toybn s'iz um aveyre (averah) di
Reid meios de falar com um surdo palavras de pessoa você está desperdiçando.
"Porque pecamos"
Ambos os pólos, mitsvá e pecado, são reais. Somos ensinados a ser mitsva-inconsciente em
relação ao momento presente, a estar atento à constante oportunidade de fazer o
bem. Também somos ensinados a ser conscientes do pecado em relação ao passado, a
perceber e a lembrar de nossos fracassos e transgressões. O poder da mitsvá e do pecado
deve ser totalmente apreendido. O medo exclusivo do pecado pode levar à depreciação das
obras; a apreciação exclusiva da mitsvá pode levar à justiça própria. O primeiro pode
resultar em uma negação da relevância da história, em uma visão excessivamente
escatológica; o segundo de uma negação de messianismo, em um otimismo secular. Contra
os dois desvios, o judaísmo adverte repetidamente.
Duas coisas sempre devem estar presentes em nossa mente: Deus e nossos próprios pecados
(Salmos 16: 8; 51: 5). Três vezes por dia, oramos: Perdoa-nos, nosso Pai, porque
pecamos; perdoe-nos, nosso rei, porque transgredimos. De acordo com um talmúdica dizendo,
cada alma quando está prestes a nascer neste mundo, está atenta: “Seja justo, e nunca ser
mau; e mesmo que todo o mundo lhe diga: 'você é justo' se considera perverso. ” De fato,“
11

quem pode dizer: Eu limpei meu coração, sou puro do meu pecado? ”(Provérbios 20: 9).
O fardo dos pecados é leve para aqueles que não sabem. Não foi luz para quem disse: “Das
profundezas te chamei, ó Senhor…. Se marcardes iniqüidades, quem suportaria? ”(Salmos
130: 1,3).
Duas vezes por dia nos dizem: "Não sigam o seu coração e os seus próprios olhos, os quais
você está disposto a seguir sem querer" (Números 15:39). A casa de Israel diz: “nossas
transgressões e os nossos pecados estão sobre nós, e nós definhar por causa deles; como,
então, podemos viver? ”(Ezequiel 33:10). De fato, “não somos tão arrogantes nem
endurecidos para dizer diante de Ti, ó Senhor nosso Deus e Deus de nossos pais, 'somos
justos e não pecamos'; em verdade, pecamos ”(A liturgia do dia da expiação).
“O EVENTO MAU”
Nós falhamos e pecamos não apenas em nossas ações. Também falhamos e pecamos em
nossos corações. O mal no coração é a fonte do mal nas ações. A inveja de Caim, a ganância
da geração do dilúvio, o orgulho daqueles que construíram a Torre de Babel trouxe miséria
à humanidade. “A inveja, a ganância e o orgulho destroem a vida do homem.” De fato, este
12

é o diagnóstico da situação humana: “O Senhor viu que a maldade do homem era grande na
terra, e que todo impulso do pensamento o coração era apenas o mal continuamente
”(Gênesis 6: 5).
“A maldade do homem” pode se referir a atos pecaminosos, mas a parte central do
diagnóstico, repetida em Gênesis 8:21, refere-se à “pulsão do coração”. O único dos Dez
Mandamentos que é dito duas vezes e com o que eles concluíram é: Não cobiçarás.
Diariamente oramos, meu Deus, a alma que puseste dentro de mim é pura. O que devemos
fazer para mantê-lo puro? Como devemos manter nossa integridade em um mundo onde
poder, sucesso e dinheiro são valorizados acima de tudo? Como devemos controlar "inveja,
ganância e orgulho"? "Você me deu uma alma santa, mas por minhas ações eu a maculei",
exclamou Ibn Gabirol.13
A alma que recebemos é limpa, mas nela reside um poder para o mal, "um deus
estranho", "que busca constantemente dominar o homem e matá-lo; e se Deus não o ajudou,
14

ele não pôde resistir a isso, como se diz, os ímpios vigiam os justos e procuram matá-lo. ” “
15

Embora os homens tenham um forte desejo de alcançar fins maus, eles são negligentes no
busca do que é nobre. Eles demoram a procurar o bem, mas brincam nos caminhos da
frivolidade e do prazer. Se uma visão de ganância aparece e acena para eles, eles inventam
falsidades para que possam recorrer a ela. Eles reforçar-se argumentos para fazer suas
aberrações na posição vertical, as suas fraquezas forte, a sua empresa frouxidão e
compacto. Mas quando a lâmpada da verdade brilha convidativamente diante deles, eles
criam pretextos ociosos por se absterem de se voltar para ela. Eles argumentam contra,
declaram seus caminhos enganosos e contradizem suas afirmações, a fim de fazê-lo parecer
inconsistente e, assim, ter uma desculpa para se afastar dele ”. 16

“O Santo, bendito seja Ele, diz à alma: 'Tudo o que eu criei nos seis dias da criação, eu criei
apenas por sua causa, e você sai e peca!'” “Veja, eu sou puro Minha morada é pura, meus
17

ministros são puros e a alma que eu te dei é pura; se tu devolveres a mim como eu estou
dando a ti, tudo ficará bem, mas se não, eu o jogarei fora. ”
18

"EXISTE UM PASSO"
A ênfase na consciência de mitsvá não deve enfraquecer nossa atenção ao fato de que
estamos sempre prontos para traí-Lo, que mesmo estando envolvidos em um ato de retidão,
estamos expostos ao pecado. "Não tenha certeza de si mesmo até o dia da sua morte", disse
Hillel. Foi-nos ensinado que o homem pode estar impregnado do espírito do santo todos os
19

dias de sua vida; contudo, um momento de descuido é suficiente para mergulhá-lo no


abismo. Há apenas um passo entre mim e a morte (1 Samuel 20: 3).
A vida é vivida em um campo de batalha espiritual. O homem deve lutar constantemente com
“o impulso do mal”, “pois o homem é como uma corda, uma extremidade da qual é puxada
por Deus e a outra extremidade por Satanás.” “Ai de mim pelo meu yotser [Criador], ai de
mim para o meu yetser [o impulso do mal] ”, diz um epigrama talmúdico. Se um homem
20

cede aos seus impulsos inferiores, é responsável perante o seu Criador; se obedecer seu
Criador, então ele é atormentado por pensamentos pecaminosos.
NOTAS DO CAPÍTULO 35
1
Devar mitsvah é contrastado com devar reshut. Compare Sbabbat 25b: "Nem uma
obrigação nem um mitsvá, mas um ato religiosamente neutro."
2
Rabino Nahman de Braslav, Likkute Maharan, II, 5, 10.
3
Sinédrio 17a.
4
Sinédrio 37a.
5
Shabat 133b.
6
Pirke de Rabi Eliezer , cap. 34)
7
Avoda Zara 2a.
8
Gênesis Rabba 3,7.
9
Gênesis Rabba , 19, 17.
10
Característica é o termo "repleto de mitsvot"; veja acima, nota 4.
11
Niddah 30b.
12
Abot 4, 28.
13
Poemas religiosos selecionados , p. 113
14
Shabat 105b.
15
Sukkah 52b.
16
Bahya Ibn Paguda, Os Deveres do Coração , vol. Eu p. 14)
17
Levítico Rabba, 4,2.
18
Levítico Rabba , 18,1; veja Niddah 30b; Baba Metsia 107a.
19
Abot 2, 5.
20
Berachot 61a, ver Rashi; Erubin 18a.

36.
O Problema do Mal
UM PALÁCIO EM CHAMAS
Há aqueles que sentem a questão fundamental em momentos de maravilha, nos momentos
de alegria; há aqueles que sentem a pergunta final em momentos de horror, em momentos
de desespero. É a grandeza e a miséria de viver que tornam o homem sensível à questão
última. De fato, sua miséria é tão grande quanto sua grandeza.
Como Abraão chegou à certeza de que existe um Deus preocupado com o mundo? Rabi Isaac
disse: Abraão pode ser “comparado a um homem que estava viajando de um lugar para outro
quando viu um palácio em chamas . É possível que não haja ninguém que cuide do
palácio? ele se perguntou. Até que o dono do palácio olhou para ele e disse: 'Eu sou o dono
do palácio'. Da mesma forma, Abraão, nosso pai, se perguntou: 'É concebível que o mundo
esteja sem um guia?' O Santo, bendito seja, olhou para fora e disse: 'Eu sou o Guia, o Soberano
do mundo'. ” 1

O mundo está em chamas, consumido pelo mal. É possível que não haja ninguém que se
importe?
“NAS MÃOS DOS MALDITOS”
O homem bíblico não estava ciente da terrível turbulência da história mundial, da horrível
crueldade do homem, como muitos teólogos têm mantido consistentemente? Um estudo
cuidadoso dificilmente sustentará essa visão. Com exceção do primeiro capítulo do Livro de
2

Gênesis, o restante da Bíblia não cessa de se referir à tristeza, pecados e maldade deste
mundo. Quando os profetas olham para o mundo, vêem “angústia e trevas, a tristeza da
angústia” (Isaías 8:22). Quando olham para a terra, encontram-na “cheia de culpa contra o
Santo de Israel” (Jeremias 51: 5). “Senhor, por quanto tempo clamo por socorro e não
ouvirás? Ou clama a Ti 'violência' e não salvarás? Por que você me faz ver erros e encarar
problemas? Destruição e violência estão diante de mim; conflitos e contendas
surgem. Portanto, a lei é negligenciada e a justiça nunca sai. Pois os ímpios cercam os justos,
assim a justiça sai pervertida ”(Habacuque 1: 2-4). Este é um mundo em que prosperam os
caminhos dos iníquos e “todos os que são traiçoeiros” (Jeremias 12: 1); um mundo que
possibilitou a algumas pessoas sustentar que “todo aquele que pratica o mal é bom aos olhos
do Senhor, e Ele se deleita neles”, e outros perguntam: “Onde está o Deus da justiça?”
(Malaquias 2:17).
O salmista não senti que este era um mundo feliz quando ele orou: “Ó Deus, não guarda
silêncio; não tenha paz nem fique quieto, ó Deus. Pois eis que teus inimigos estão em
tumulto; os que te odeiam levantaram a cabeça ”(Salmos 83: 2-3).
O terror e angústia que veio sobre o Salmista não foram causados por calamidades da
natureza, mas pela maldade do homem, pelo mal na história.

Medo e tremor me
atingem , o horror me domina.
E eu disse: Ó, que tinha asas como pomba,
então voaria para longe e descansaria.
Salmos 55: 6-7

Existe uma linha que expressa o humor do judeu ao longo dos tempos: “A terra está entregue
nas mãos dos ímpios” (Jó 9:24).
Como o mundo olha aos olhos de Deus? Já nos disseram: o Senhor viu que a justiça do homem
era grande na terra? Que Ele estava feliz por ter feito homem na terra? O tom geral da visão
bíblica da história é definido após as dez primeiras gerações: “O Senhor viu que a maldade
do homem era grande na terra ... E o Senhor lamentou ter feito o homem na terra, e isso o
entristeceu. ao seu coração ”(Gênesis 6: 5-6, cf. 8:21). Um grande clamor ressoa por toda a
Bíblia: A maldade do homem é grande na terra.
A experiência das oportunidades fáceis e infinitas para o mal e a consciência do perigo
terrível ameaçam superar todo o deleite de viver. A resposta para esse perigo é o desespero
ou a pergunta: Deus, onde estás? “Onde está o Deus da justiça?” (Malaquias 2:17). 3

Essa situação essencial do homem assumiu uma urgência peculiar em nosso tempo, vivendo
como vivemos em uma civilização onde as fábricas foram estabelecidas para exterminar
milhões de homens, mulheres e crianças; onde o sabão era feito de carne humana. O que
fizemos para tornar possíveis esses crimes? O que estamos fazendo para tornar esses crimes
impossíveis?
O homem moderno pode ser caracterizado como um ser insensível a catástrofes. Vítima de
brutalização forçada, sua sensibilidade está sendo cada vez mais reduzida; seu senso de
horror está diminuindo. A distinção entre certo e errado está ficando turva. Tudo o que nos
resta é estarmos horrorizados com a perda de nosso senso de horror.
A CONFUSÃO DO BOM E DO MAL
Ainda mais frustrante do que o fato de que o mal é real, poderoso e tentador, é o fato de que
ele se desenvolve tão bem no disfarce do bem, que pode tirar seu alimento da vida do
santo. Parece que, neste mundo, o santo e o ímpio não existem à parte, mas são misturados,
inter-relacionados e confundidos. É um mundo onde os ídolos podem ser ricos em beleza, e
onde a adoração a Deus pode ser tingida de maldade.
Não foi a falta de religião, mas a perversão dela que os profetas de Israel
denunciaram. “Muitos altares ergueram Efraim, altares que servem apenas ao pecado”
(Oséias 8:11). Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que praticam a lei não
me conheceram ”(Jeremias 2: 8). Quanto maior o homem, mais ele é exposto ao pecado. 4

A piedade às vezes é má disfarçada, um instrumento na busca do poder. "As tragédias na


história da humanidade, as crueldades e os fanatismos, não foram causados pelos criminosos
... mas pelas pessoas boas ... por idealistas que não entendiam a estranha mistura de
interesses e ideais que se somam a todos os motivos humanos". A grande disputa não é “entre
crentes que temem a Deus e incrédulos injustos.” A religião bíblica enfatizou “a desigualdade
da culpa tanto quanto a igualdade do pecado”. “Especialmente severos julgamentos recaem
sobre os ricos e poderosos, os poderosos e os poderosos. os nobres, os sábios e os justos.
” De fato, a manifestação mais horrível do mal é quando age sob o disfarce do bem. "Tais
5

ações monstruosas e más poderiam a religião instar o homem a cometer" (Lucrécio). 6

Ezequiel viu em sua grande visão: "Um vento tempestuoso veio do norte e uma grande
nuvem, com brilho ( nogah ) ao redor, e fogo brilhando continuamente" (1: 4). Ele primeiro
viu os poderes da impiedade. Uma grande nuvem representa “o poder da destruição”, “é
chamada de grande , devido à sua escuridão, que é tão intensa que esconde e torna invisíveis
todas as fontes de luz, ofuscando o mundo inteiro. O fogo piscando indica o fogo do
julgamento rigoroso que nunca sai dele. Com o brilho (nogah) ao redor ... isto é, embora seja
a própria região de contaminação, mas está cercado por um certo brilho ... possui um aspecto
de santidade e, portanto, não deve ser tratado com desprezo, mas deve ser permitido uma
parte do lado da santidade. ” Assim, há uma centelha sagrada de Deus, mesmo nos recantos
7

sombrios do mal. Se não fosse por essa centelha, o mal perderia seu poder e realidade e se
tornaria o nada. Até Satanás contém uma partícula de santidade. Ao fazer seu trabalho feio
como sedutor do homem, sua intenção é agir "pelo bem do céu", pois é com o objetivo de
seduzir o homem que ele foi criado.
O grande santo, Rabi Hirsh de Zydatshov, certa vez comentou com seu discípulo e sobrinho:
Mesmo depois de completar quarenta anos - "a era do entendimento" -, não tinha certeza se
minha vida não estava imersa nessa lama e confusão de bem e mal ( nogah ) Meu filho, todos
os momentos da minha vida, temo, para que ainda não seja pego nessa confusão. 8

A terrível confusão, o fato de que não há nada neste mundo que não seja uma mistura de bem
e mal, de santo e profano, de prata e escória, é, segundo o misticismo judaico, o problema
central da história e a questão final da redenção. A confusão remonta ao próprio processo de
criação.
“Quando Deus veio para criar o mundo e revelar o que estava escondido nas profundezas e
revelar a luz das trevas, todos estavam envolvidos um no outro, e, portanto, a luz emergiu
das trevas e do impenetrável surgiu o profundo. Assim, também, das boas coisas más e da
misericórdia emite julgamento, e todas estão entrelaçadas, o bom impulso e o mau impulso
... ”.
9

A Expiação pelos Santos


A consciência da intrusão do mal na esfera do bem e do santo, em nossa tradição,
freqüentemente vem à expressão. Pode ter sido o significado de um dos grandes atos que
ocorreram anualmente no Templo de Jerusalém. No ritual do Dia da Expiação, o Sumo
Sacerdote lançava sortes sobre duas cabras: uma para o Senhor e a outra para Azazel. O
objetivo do ritual da cabra em que o lote caiu para Azazel era expiar o mal. O Sumo Sacerdote
colocaria as duas mãos sobre a cabeça do bode, "e confessaria sobre ele todas as iniqüidades
dos filhos de Israel, todas as suas transgressões, todos os seus pecados". Embora o propósito
do bode sobre o qual caíssem o Senhor foi para expiar os santos, “para fazer expiação pelo
lugar santo, por causa das imundícias dos filhos de Israel, e por causa das suas transgressões,
até mesmo todos os seus pecados; e assim fará para a tenda da revelação, que permanece
com eles no meio das suas imundícias.” No dia mais sagrado do ano a tarefa suprema
10

foi para expiar os santos. Precedeu o sacrifício, cujo objetivo era expiar os pecados.
A RELIGIÃO NÃO É UM LUXO
Vamos trabalhar sem ilusões. Não há soluções fáceis para problemas que são ao mesmo
tempo intensamente pessoais e universais, urgentes e eternos. O progresso tecnológico cria
mais problemas do que resolve. Especialistas em eficiência ou engenharia social não
resgatarão a humanidade. Por mais importantes que sejam suas contribuições, elas não
alcançam o cerne do problema. A religião, portanto, com suas demandas e visões, não é um
luxo, mas uma questão de vida e morte. É verdade que sua mensagem é frequentemente
diluída e distorcida por pedantismo, externalização, cerimonialismo e superstição. Mas esta
é precisamente a nossa tarefa: recordar as urgências, as emergências perpétuas da existência
humana, os raros desejos do espírito, a voz eterna de Deus, à qual as demandas da religião
são uma resposta.
UMA DISTINÇÃO SUPREMA
O poder de fazer distinções é uma operação primária de inteligência. Distinguimos entre
branco e preto, bonito e feio, agradável e desagradável, ganho e perda, bem e mal, certo e
errado. O destino da humanidade depende da percepção de que a distinção entre bem e mal,
certo e errado, é superior a todas as outras distinções. Enquanto essa percepção estiver
ausente, será preferível o prazer da aliança com o mal do que o prazer da aliança com o
bem. Ensinar à humanidade a primazia dessa distinção é essencial para a mensagem bíblica.
Depois que o Senhor criou o universo, deu uma olhada em Sua criação. Qual foi a palavra que
transmitiu Sua impressão? Se um artista encontrasse uma palavra descrevendo como o
universo olhava para Deus no início de sua existência, a palavra seria sublime ou bela. Mas a
palavra que a Bíblia tem é boa . De fato, quando olhamos através de um telescópio para o
espaço estelar, a palavra que vem à nossa mente é grandeza, mistério, esplendor. Mas o Deus
de Israel não está impressionado com esplendor; Ele está impressionado com a bondade.
O bem e o mal não são valores entre outros valores. O bem é vida, e o mal é a morte. "Veja
que hoje eu ponho diante de ti vida e bem, morte e mal ... escolhem a vida" (Deuteronômio
30: 15.19). O bem e o mal não são valores entre outros valores. A distinção entre bem e mal
conta tanto quanto a distinção entre vida e morte.

“A justiça sempre pareceu obrigatória, mas por muito tempo foi uma obrigação como outras
obrigações. Atendeu, como os outros, uma necessidade social; e foi a pressão da sociedade
sobre o indivíduo que tornou a justiça obrigatória. Sendo assim, uma injustiça não era nem
mais nem menos chocante do que qualquer outra violação das regras. Não havia justiça para
os escravos, exceto talvez uma justiça relativa, quase opcional. A segurança pública não era
meramente a lei suprema, como, aliás, manteve-se, foi ainda anunciado como
tal; considerando que hoje não devemos ousar estabelecer o princípio de que isso justifica a
injustiça, mesmo que aceitemos alguma consequência específica desse princípio.
“Vamos nos debruçar sobre esse ponto, colocar-nos a famosa questão: 'O que devemos fazer
se ouvimos que, para o bem comum, para a própria existência da humanidade, havia em
algum lugar um homem, um homem inocente, condenado a sofrer eternamente
tormento?' Bem, talvez devêssemos concordar com isso, entendendo que algum filtro
mágico nos fará esquecer, que nunca ouviremos mais nada sobre isso; mas se éramos
obrigados a conhecê-lo, pensar nisso, perceber que a tortura hedionda desse homem era o
preço de nossa existência, que era mesmo a condição fundamental da existência em geral,
não! mil vezes não! Melhor aceitar que nada deveria existir! Melhor deixar nosso planeta ser
despedaçado.
“Agora o que aconteceu? Como a justiça emergiu da vida social, na qual sempre residiu sem
privilégios particulares, e subiu acima dela, categórica e transcendente? Lembremos o tom e
os sotaques dos Profetas de Israel. É a voz deles que ouvimos quando uma grande injustiça
foi praticada e perdoada. Das profundezas dos séculos, eles protestam. Eles deram à justiça
o caráter violentamente imperativo que ele manteve, que desde então carimbou uma
substância que se tornou infinitamente mais extensa. Poderia ter sido criado por mera
filosofia? Não há nada mais instrutivo do que ver como os filósofos contornaram, tocaram e
ainda assim perderam. ” 11

Mas como é possível essa supremacia? Não é nosso senso de beleza e feiúra, de ganho e
perda, mais agudo que nosso senso de bem e mal?
COMO ENCONTRAR UM ALIADO
O ego é um poderoso rival do bem. Quando acoplado ao ganho, quando a virtude compensa,
o bem tem uma chance de prevalecer. Quando o bem é realizado com prejuízo, sem
recompensa, é facilmente derrotado. Agora, uma vez que é da essência da virtude que o bem
não deve ser feito em prol de uma recompensa, qual é a chance do bem prevalecer sobre os
interesses do ego? Quem é a nossa ajuda na luta contra o mal?
A bondade não tende a se tornar impotente diante das tentações? Crime, vício, pecado nos
oferecem recompensas; enquanto a virtude exige autocontrole, abnegação. O pecado é
emocionante e cheio de emoção. A virtude é emocionante? Existem muitas histórias de
mistério que descrevem a virtude? Existem muitos romances mais vendidos que retratam
aventuras em bondade?
A Torá é um antídoto
Se a natureza do homem fosse tudo o que tínhamos, certamente a perspectiva seria
sombria. Mas também temos a ajuda de Deus, o mandamento, o mitsvá. O fato bíblico central
é o Sinai , a aliança, a palavra de Deus. O Sinai foi sobreposto ao fracasso de Adam. O fato de
termos recebido o conhecimento de Sua vontade é um sinal de alguma capacidade de lidar
com o mal. A voz é mais do que um desafio. É poderoso o suficiente para abalar o deserto da
alma, despojar o ego, expor Sua vontade como fogo.
Para o judeu, o Sinai está em jogo em todos os atos do homem, e a questão suprema não é o
bem e o mal, mas Deus, e Seu mandamento de amar o bem e odiar o mal; não a
pecaminosidade do homem, mas o mandamento de Deus.
“O Senhor criou a inclinação do mal no homem e criou a Torá para temperá-la.” A vida do
12

homem foi comparada com “um assentamento solitário que foi mantido em desordem por
bandos invasores. O que o rei fez? Ele nomeou um comandante para protegê-lo. ”A Torá é
uma salvaguarda, a Torá é um antídoto. 13

Nunca estamos sozinhos em nossa luta contra o mal. Uma mitsvá, diferentemente do
conceito de dever, não é anônima e impessoal. Fazer um mitsvá é dar uma resposta à Sua
vontade, responder ao que Ele espera de nós. É por isso que um ato de mitsvá é precedido
por uma oração: "Bendito seja…"
O que é um mitsvá? Uma oração na forma de uma ação. E orar é sentir Sua presença. “Em
todos os teus caminhos o conhecerás.” A oração deve fazer parte de todos os nossos
caminhos. Não precisa estar sempre em nossos lábios; deve sempre estar em nossas mentes,
em nossos corações.
À luz da Bíblia, o bem é mais do que um valor; é uma preocupação divina , um caminho de
Deus. Esta é a profunda implicação da unicidade de Deus: todas as ações são relevantes para
ele. Ele está presente em todas as nossas ações. "O Senhor é bom para todos e Sua compaixão
está sobre tudo o que ele fez" (Salmos 145: 10). Não há reverência a Deus sem reverência ao
homem. O amor do homem é o caminho para o amor de Deus. O medo de que não
machuquemos um homem pobre deve ser tão profundo quanto o temor de Deus, pois Aquele
que oprime o pobre blasfema de seu criador, mas aquele que é misericordioso com os
necessitados o honra (Provérbios 14:31).
O BOM É UM PARASITA?
O que estamos discutindo como questão moral é apenas um aspecto do problema metafísico
mais amplo sobre a relação entre o bem e o mal. Qual dos dois é auto-subsistente? O bem é,
afinal, um parasita no corpo do mal? Ou é exatamente o oposto: é o mal que vive como um
parasita no corpo do bem?
Em nosso clima intelectual, parece haver apenas uma resposta para esse problema. Os ideais
têm uma alta taxa de mortalidade em nossa geração. O pensamento contemporâneo parece
um cemitério de ideais desacreditados. Com seus esforços morais, acredita-se que o homem
pode construir castelos no ar. Todas as nossas normas nada mais são do que desejos
disfarçados.
Quem aceita este mundo como a realidade última, se sua mente é realista e seu coração
sensível ao sofrimento, tende a duvidar que o bem seja a origem ou o objetivo final da
história. Para a mente judaica, o mal é mais um instrumento do que um muro de ferro; uma
tentação, uma ocasião, ao invés de um poder supremo.
As palavras do salmista, Afaste-se do mal e faça o bem (34:15), contêm o epítome da vida
correta. No entanto, parece que a tradição judaica acredita que a maneira correta de partida
do mal é fazer o bem; coloca o acento na segunda metade da frase.
O MAL NÃO É O PROBLEMA FINAL
O mal não é o problema final do homem. O problema final do homem é sua relação com
Deus. O mal entrou na história como resultado da desobediência do homem a Deus, como
resultado de ter perdido o único mitsvá que ele tinha (para não comer o fruto da árvore do
conhecimento). A resposta bíblica ao mal não é o bem, mas o santo . É uma tentativa de elevar
o homem a um nível mais elevado de existência, onde o homem não está sozinho quando
confrontado com o mal. Viver na “luz da face de Deus” confere ao homem um poder de amor
que lhe permite vencer os poderes do mal. A sedução do vício é superada pelas alegrias do
mitsvá. “Sereis homens de santidade a Mim” (Êxodo 22:30). Como recebemos essa
qualidade, esse poder? “A cada nova mitsvá que Deus emite a Israel, Ele lhes acrescenta
santidade.”14

Não travamos guerra com o mal em nome de um conceito abstrato de dever. Fazemos o bem
não porque é um valor ou por conveniência, mas porque devemos a Deus. Deus criou o
homem, e o que é bom "aos seus olhos" é bom para o homem. A vida é humana, assim como
divina. O homem é um filho de Deus, não apenas um valor para a sociedade. Podemos
explorar as coisas sem Deus; não podemos decidir sobre valores sem ele.
Não concebemos os valores como essências absolutas que são depositadas no céu, para usar
a linguagem de Platão. Valores não são idéias eternas, existindo independentemente de Deus
e do homem. Se não fosse pela vontade de Deus, não haveria bondade; se não fosse pela
liberdade do homem, a bondade estaria fora de lugar na história. A filosofia grega preocupa-
se com valores ; O pensamento judaico reside em mitsvot .
DEUS E O HOMEM TÊM UMA TAREFA EM COMUM
O mal não é apenas uma ameaça, é também um desafio. Nem o reconhecimento do perigo,
nem a fé no poder redentor de Deus são suficientes para resolver a situação trágica do
mundo. Não podemos conter a maré do mal nos refugiando nos templos, implorando
fervorosamente a onipotência contida de Deus.
A mitsvá, o humilde ato único de servir a Deus, de ajudar o homem, de purificar a si mesmo,
é a nossa maneira de lidar com o problema. Não sabemos como resolver o problema do mal ,
mas não estamos isentos de lidar com os males . O poder do mal não vicia a realidade do
bem. Significativamente, a tradição judaica, embora consciente das possibilidades do mal no
bem, enfatiza as possibilidades de mais um bem no bem. Ben Azzai disse: “Anseie por fazer
um mitsvá menor e fuja da transgressão; para que se leva a mitsvah (traz em) outra mitsvah,
e que se leva transgressão outro transgressão; pois a recompensa de um mitsvá é um mitsvá,
e a recompensa de uma transgressão é uma transgressão. ” 15

No fim dos dias, o mal será conquistado por Aquele; nos tempos históricos, os males devem
ser conquistados um a um. 16

A tradição judaica, embora consciente dos perigos e armadilhas da existência, é um lembrete


constante das grandes e eternas oportunidades de fazer o bem. Somos ensinados a vida
amorosa neste mundo por causa das possibilidades de caridade e de santidade, por causa
das muitas maneiras abrir para nós em que servir ao Senhor. “Mais preciosa, portanto, que
toda a vida no mundo por vir é uma única hora de vida na Terra-uma hora de
arrependimento e boas ações.” 17

É verdade que este mundo é apenas “um vestíbulo para o mundo vindouro”, onde devemos
nos preparar antes de entrar no “salão de banquetes”. Contudo, aos olhos de Deus, o esforço
18

e a preparação são maiores do que a conquista e perfeição.


A HABILIDADE DE CUMPRIR
Ao enfatizar a importância fundamental da mitsvah, Judaísmo assume que o homem é dotado
com a capacidade de cumprir o que Deus exige, pelo menos em algum grau. Este pode, de
fato, ser um artigo de fé profética: a crença em nossa capacidade de fazer Sua vontade. “Para
este mandamento (mitsvá) que eu te ordeno hoje, não é muito difícil para você, nem está
longe. Mas a palavra está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para que a possas
fazer ”(Deuteronômio 30: 11-14). As falhas reais do homem, em vez de sua incapacidade
essencial para fazer o bem, são constantemente enfatizadas pela tradição judaica. Apesar de
toda imperfeição, o valor das boas ações permanece em toda a eternidade.
A idéia com a qual o judaísmo começa não é a realidade do mal ou a pecaminosidade do
homem, mas a maravilha da criação e a capacidade do homem de fazer a vontade de
Deus. Sempre há uma oportunidade de fazer um mitsvá, e preciosa é a vida, porque em todos
os momentos e em todos os lugares somos capazes de fazer Sua vontade. É por isso que o
desespero é estranho à fé judaica.
É verdade que o mandamento de ser santo é exorbitante e que nossas constantes falhas e
transgressões nos enchem de contrição e pesar. No entanto, nunca estamos perdidos. Nós
somos os filhos de Abraão. Apesar de todas as falhas, falhas e pecados, continuamos a fazer
parte da Aliança. Sua compaixão é maior que Sua justiça. Ele nos aceitará em toda a nossa
fragilidade e fraqueza. “Pois ele conhece o nosso impulso [yetser], lembra-se de que somos
pó” (Salmos 103: 14).
Judaísmo iria rejeitar o axioma kantiana, “eu deveria, portanto, eu posso”; em vez disso,
afirmaria: "Tu és mandado, logo podes." O judaísmo, como dissemos, afirma que o homem
tem os recursos para cumprir o que Deus ordena, pelo menos até certo ponto. Por outro lado,
somos continuamente avisados para não confiarmos no poder do próprio homem e na crença
de que o homem, somente por seu poder, é capaz de redimir o mundo. Somente as boas ações
não resgatam a história; é a obediência a Deus que nos tornará dignos de ser redimidos por
ouro.19

Se o judaísmo se baseava exclusivamente nos recursos humanos para o bem, na capacidade


do homem de cumprir o que Deus exige, no poder do homem de alcançar a redenção, por que
insistia na promessa da redenção messiânica? De fato, o messianismo implica que qualquer
curso de vida, mesmo os esforços humanos supremos, deve falhar na redenção do
mundo. Isso implica que a história, por toda a sua relevância, não é suficiente para si mesma.
NECESSIDADE DE REDENÇÃO
Existem dois problemas: os pecados particulares, os exemplos de violar a lei e o problema
geral e radical da "pulsão do mal" no homem. A lei lida com o primeiro problema; a
obediência à lei impede más ações. No entanto, o problema da pulsão do mal não é resolvido
pela observância. A resposta dos profetas foi escatológica. “Eis que vêm os dias, diz o Senhor,
em que farei uma nova aliança com a casa de Israel ... não como a aliança que fiz com seus
pais. Eu colocarei minha lei dentro deles, e a escreverei sobre eles. corações ”(Jeremias 31:
31-34). “Um novo coração te darei e um novo espírito colocarei dentro de você; e tirarei da
tua carne o coração de pedra e te darei um coração de carne. E porei o meu espírito dentro
de você, farei com que você ande nos meus estatutos e tome cuidado para guardar as minhas
ordenanças ”(Ezequiel 36: 26-27).
“Foi definido um período definido para o mundo passar na escuridão. Qual é a prova? Está
escrito: Ele põe fim às trevas e busca ao máximo as pedras das trevas densas e das sombras
da morte (Jó 28: 3). Enquanto a impulsão do mal existir no mundo, densas trevas e sombras
da morte estarão no mundo; quando a impulsão do mal for arrancada do mundo, as trevas
densas e a sombra da morte passarão do mundo. ” 20

O mundo precisa de redenção, mas não se deve esperar que a redenção aconteça como um
ato de pura graça. A tarefa do homem é tornar o mundo digno de redenção. Sua fé e suas
obras são os preparativos para a redenção final.
NOTAS DO CAPÍTULO 36
1
Gênese. Rabba , cap. 39. Ver acima, p. 113, n. 7)
2
Ele foi Schopenhauer, que se tornou popular a ideia de que a Bíblia não tinha consciência do
problema do mal. Ver Die Welt Als Wille e Vorstelling, II, cap. 48; Parerga e Paralipomena ,
Gusbach ed., II, p. 397; S mtliche Werke, Frauenstadt ed., III, p. 712f. Sobre sua hostilidade à
Bíblia, ver Isak Unna, Die Stellung Schopenhauers zum Judentum, em Juedische
Schriften, Josef Wohlgemuth, zu seinem sedizigsten geburtstage… gewidmet, Berlin, 1928,
p. 103f.
3
O que os rabinos pensavam sobre a situação do homem pode ser mostrado no seguinte
comentário. Lemos em Habacuque 1:14: “E tu fazes o homem como peixes do mar, e como
coisas rastejantes, que não têm poder sobre eles?” “Por que o homem aqui é comparado aos
peixes do mar? Assim como entre os peixes do mar, os maiores engolem os menores, assim
como os homens, não fosse por medo do governo, os homens se engoliriam vivos. Isto é
exatamente o que aprendemos: o rabino Hanina, o vice-sumo sacerdote, disse: Ore pelo bem-
estar do governo, pois, se não fosse por medo, os homens se engoliriam vivos. ” Avodab
Zarah 3b-4a e Abot 3 2.
“No tempo vindouro, o Santo, bendito seja Ele, trará a pulsão do mal (o yetser hará ) e a
matará na presença dos justos e dos iníquos. Para os justos,
o yetser maligno parecerá enorme como uma montanha; para os ímpios parecerá fino como
um cabelo. Tanto o primeiro quanto o último vão chorar. Os justos se maravilharão por
poderem vencer um poder tão grande; os ímpios se surpreenderão por terem sucumbido a
uma força tão leve. E o Santo, bendito seja Ele, se maravilhará com eles, como é dito: Assim
diz o Senhor dos Exércitos. Se é maravilhoso aos olhos dos remanescentes deste povo naqueles
dias, também é maravilhoso aos meus olhos ” (Zecharaiah 8: 6). Sukkah 52a.
4
Sukkah 52a. Veja a interpretação de Isaías 64: 5 em Baba Metsia 32b.
5
Reinhold Niebuhr, A natureza e o destino do homem , vol. Eu p. 222f.
6
Então, o poder das imagens e dos ídolos que o homem é propenso a adorar deve-se ao fato
de serem dotados de um toque do santo. Pesel , a palavra hebraica para imagem, está
associada no Zohar com pesolet , que significa "recusar". Os ídolos são recusar a
santidade. Veja Zohar , vol. II, p. 91a.
7
Zohar , vol. II, pp. 203a-203b; ver pp. 69a-69b. Os kelipot ou as forças dos ímpios são impuros
e prejudiciais do aspecto do homem. No entanto, do aspecto do santo, eles existem por causa
da vontade do Criador e por Sua causa. Uma centelha de santidade habita neles e os
mantém. Rabino Abraham Azulai, ou Hahamah , Przemishl, 1897, vol. II, p. 218a.
8
Zohar Hai, Lemberg, 1875, vol. Eu p. 2)
9
Zohar , vol. III, p. 80b.
10
Levítico 16: 6f. Veja Sifra, Aahare , cap. 4 ed. Weiss, p. 81c. De acordo com Ezequiel 45: 18-20
expiação pelo Templo é para ser feita duas vezes por ano.
11
Henri Bergson, as duas fontes de Moral e Religião , New York, 1935, p. 67f.
12
Sifre , Deuteronômio, 45; Kiddushin 30b.
13
Levítico Rabba , 35, 5.
14
Mechilta , ad locum.
15
Abot 4, 2.
16
“Israel disse ao Santo: Bendito seja Ele: Soberano do universo! Tu conheces o poder do
impulso do mal, quão forte é! Disse o Santo, bendito seja, a eles: Você desalojá-lo um pouco
neste mundo e eu irá removê-lo de você no futuro .... No mundo vindouro eu o arrancarei
pelas raízes. ” Números Rabba 15, 16.
17
Abot 4:17.
18
Abot 4:16.
19
Compare Reinhold Niebuhr, Uma interpretação da ética cristã , p. 65)
20
Gênesis Rabba , 89,1. O impulso do mal é freqüentemente chamado de "uma pedra", veja
Theodor, ad locum.

37.
O Problema do Neutro
O ISOLAMENTO DA MORALIDADE
A fraqueza de muitos sistemas de filosofia moral está em seu isolacionismo, na suposição
tácita de que o bem não está relacionado com as ações moralmente neutra. No entanto, existe
uma inter-relação entre os atos morais e todos os outros atos do homem, seja no campo da
teoria ou no campo da aplicação estética ou técnica, e a pessoa moral não deve ser pensada
como se fosse um mágico profissional, comportando-se moralmente em algumas situações e
mantendo-se neutro em outras.
Consequentemente, o problema moral não pode ser resolvido como um problema
moral. Deve ser tratado como parte da questão total do homem. O problema supremo é a
vida inteira, não o bem e o mal. Não podemos lidar com a moralidade, a menos que lidemos
com todo o homem, a natureza da existência, o fazer, o significado.
O homem vive em três reinos: o animal, o racional e o espiritual. O reino animal é
espiritualmente neutro, e a neutralidade gera perigo. Há escória no estado natural de vida e
muita coisa desarrumada, crua e cruel. Quem domará o bruto em nós quando a paixão
dominar a mente? Quem nos ensinará que o bem vale o preço da abnegação? Não é em um
único debate entre felicidade e misericórdia, entre prazer e justiça que este último
triunfará. A menos que colocemos toda a vida sob a lei da santidade, o resultado da tentação
é duvidoso.
A neutralidade é uma ilusão. No final de seus dias, o homem sempre surge como padre ou
como pirata. A vida que deixamos para trás ao marcharmos pela estrada do tempo é cheia de
guias para um santuário ou ruínas de uma visão. A visão de Deus é ver “um reino de
sacerdotes, um povo santo.” Cada casa pode ser um templo, cada mesa um altar, e toda a vida
uma canção a Deus.
Todo ato - pensamento ou ação - é um exemplo da totalidade da existência. O espírito que
cintilou sequer uma vez em um momento distante da existência iluminará cada ato, de modo
que quase cada ato será tocado com a nobreza tranquila de devoção. Ao mesmo tempo, a
crueldade e insensibilidade em que uma pessoa sucumbe em alguns momentos de sua vida
pode sair mesmo em seus atos arrebatadores de devoção.
COMO LIDAR COM O NEUTRO
O problema de viver não começa com a questão de como cuidar dos malandros, de como
evitar delinqüência ou crimes hediondos. O problema de viver começa com a percepção de
que todos nós cometemos erros nas nossas relações com nossos semelhantes. As atrocidades
silenciosas, os escândalos secretos, que nenhuma lei pode impedir, são a verdadeira sede da
infecção moral. O problema de vida começa, de fato, em relação a nós mesmos, na
manipulação de nossas funções emocionais, na forma como lidamos com inveja, ganância e
orgulho. O que está em jogo na vida do homem não é o fato do pecado, do errado e do
corrupto, mas os atos neutros, as necessidades. Nossas posses não representam menos um
problema do que nossas paixões. A tarefa principal, portanto, não é como lidar com o mal,
mas como lidar com o neutro, como lidar com as necessidades.
A única salvaguarda contra o perigo constante é a vigilância constante, a orientação
constante. Tal orientação, tanta vigilância é dada àquele que vive à luz do Sinai; cuja
semanas, dias, horas, são definidos no ritmo de keva e kavanah .
Três vezes por dia, lembramos a nós mesmos que, à luz de Seu rosto, Ele deu "a Torá da vida
e o amor à bondade". Durante todo o dia, precisamos aprender a ver uma situação à luz de
Seu rosto.

"Em todos os teus caminhos O conhece, e Ele endireitará os teus caminhos" (Provérbios 3:
6). Sobre essas palavras tudo depende. 1

Adoração e vida não são dois reinos separados. A menos que viver seja uma forma de
adoração, nossa adoração não tem vida. A religião não é uma reserva, uma extensão de
tempo reservado para celebrações solenes em dias festivos. O espírito murcha quando
confinado em esplêndido isolamento. O que é decisivo não é o clímax que alcançamos em
raros momentos, mas como as realizações de raros momentos afetam o clima de toda a
vida. O objetivo da lei judaica é ser a gramática da vida, lidando com todas as relações e
funções da vida. Seu tema principal é a pessoa e não uma instituição.
A religião não é feita para ocasiões extraordinárias, como nascimento, casamento e morte. A
religião está tentando nos ensinar que nenhum ato é banal, todo momento é uma ocasião
extraordinária.
O pico mais alto da vida espiritual não é necessariamente alcançado em raros momentos de
êxtase; o pico mais alto está onde quer que estejamos e pode ser ascendido em um ato
comum. Não pode ser tão sublime a santidade na realização de amizade, em observar as leis
dietéticas dia a dia, como em proferir uma oração no Dia da Expiação.
Não é pelo raro ato de grandeza que o caráter é determinado, mas pelas ações cotidianas,
por um esforço constante para rasgar nossa insensibilidade. É a constância que santifica. O
judaísmo é uma tentativa de colocar toda a vida sob a glória do significado último, de
relacionar todas as ações dispersas com o Uno. Através do ritmo constante de orações,
disciplinas, lembretes, alegrias, o homem é ensinado a não perder sua grandeza.
TODA ALEGRIA VEM DE DEUS
Como dito acima, um dos nossos problemas é dotar a virtude de vitalidade. O pecado é
emocionante e cheio de emoção. Mas a virtude é emocionante? Paixão e virtude andam
juntas?
Acreditamos que o ego pode se converter em um amigo do espírito. “A unidade do mal” pode
se tornar a companheira de “a boa movimentação.” Mas essa conversão não acontece em
momentos de desespero, ou aceitando nossa falência moral, mas sim através da realização
de nossa capacidade de responder à pergunta de Deus. Devemos aprender a dotar “o bom
impulso” de mais poder, como emprestar beleza a obras sagradas. O poder do mal pode ser
consumido nas chamas da alegria. Pode ser verdade que nem todas as alegrias levam a Deus,
mas todas as alegrias vêm de Deus. Mesmo a humilde alegria tem sua origem última na
santidade.
Talvez este seja um dos objetivos da educação judaica: aprender a sentir o prazer inefável de
boas ações. Foi dito que a alegria com que uma ação é feita é mais preciosa do que a própria
ação. O bem sem a alegria é uma boa metade feita; e o amor e o deleite com os quais fazemos
o bem e o santo são a prova do nosso espírito. “Tua Torá é minha delícia…. Oh, como eu amo
Tua Torah”(Salmos 119: 77,97).
“A moralidade inevitavelmente envolve dor. Não pode haver bem-aventurança no bem - só
pode haver bem-aventurança além do bem e do mal. ” Em contraste, a experiência judaica é
2
um testemunho de simhah shel mitsvah , da“ alegria de fazer uma mitsvá ”. Todo mundo sabe
3

disso. o sofrimento segue um caminho que leva a ele. O judaísmo é um lembrete de que a
alegria é um caminho para Deus. A mitsvá e o espírito santo são incompatíveis com tristeza
ou desespero.
A experiência de felicidade em fazer o bem é o maior momento que os mortais conhecem. A
disciplina, o sacrifício, a abnegação ou mesmo o sofrimento que frequentemente estão
envolvidos no bem não viciam a alegria; eles são seus ingredientes.
Diariamente oramos: “Felizes somos! Quão bom é o nosso destino, quão agradável é a nossa
sorte, quão bela é a nossa herança. ”Há alegria em ser judeu, em pertencer a Israel, a Deus,
em poder provar o céu em uma ação sagrada. Há alegria em ser um elo com a eternidade, em
poder fazer Sua vontade. Um princípio rabínico afirma que "os mitsvot não foram dados com
o objetivo de proporcionar prazer" No entanto, prazer não é o mesmo que alegria.
.4

“Fico satisfeito com um objeto quando ele gratifica algum interesse da mente ou algum
impulso instintivo. Dá-me prazer porque preenche minha necessidade. É um prazer em
relação à minha sensibilidade ou à minha atividade. E falamos corretamente dos prazeres
dos sentidos e movimentos. Mas a alegria não é egocêntrica como o prazer. Sem dúvida, há
prazer nele, pois todas as nossas emoções são tonificadas pelo prazer ou pela dor, mas esse
prazer é apenas o prazer da alegria. Há também um auto-aumento na alegria, mas isso não é
essencial. A própria alegria atribui não ao sujeito, mas ao objeto, e ter alegria em um objeto
é valorizá-lo por si próprio. Joy é, portanto, um desinteresse ativo, e seu impulso instintivo
não é apenas para manter seu objeto, mas se render a ele e descansar livremente nele como
em algo de valor intrínseco e promessa.
“Ter alegria em um objeto é respeitar sua individualidade. Isso está implícito na própria idéia
de deleitar-se por si só. Ter alegria no que é real é subordinar a opinião individual de todo o
coração à verdade da questão; ter alegria no que é belo é confiar na inspiração da beleza e
não no artifício do artifício. Os interesses do objeto ditam a cada passo a linha do avanço. ”
5

NOTAS DO CAPÍTULO 37
1
Berachot 63a.
2
N. Berdyaev, O Destino do Homem, p. 30)
3
Shabat 30b. Ver Midrash Tehillim , 112, 1. Maimonides, Mishne Torá, Lulav , 8, 15.
4
Mitsvot lav lehanot nitnu, Erubin 31a; Rosh Hashaná 28a. Rashi: "mas como um jugo."
5
WR Boyce Gibson, Encyclopaedia of Religion and Ethics, vol. VIII, p. 152a.

38.
O problema da integridade
INTERESSES VESTADOS
O mitsvá , como dissemos, é o nosso instrumento para lidar com o mal. Mas empregamos os
instrumentos adequadamente? Se a kavanah é tão intrínseca ao serviço de Deus quanto a
imparcialidade do julgamento é para a investigação científica; se, em outras palavras, não é
apenas essencial o que se faz, mas também o que se motiva, a possibilidade de verdadeiro
serviço, de genuína piedade pode ser questionada.
Psicologia profunda tornou claro para nós que as molas da ação humana são complexos, que
o subrational tanto domina ou, pelo menos, afeta a vida consciente, que o poder e a unidade
do ego penetrar em todas as nossas atitudes e decisões. Podemos assumir que amamos a
Deus, enquanto na verdade é o ego que cuidamos.
Psicologicamente, parece uma pessoa inconcebível deve ser capaz de amar a Deus de todo
coração, para fazer o bem para seu próprio bem, independentemente de recompensa e
conveniência. Não precisamos usar uma vara de adivinhação para encontrar camadas
profundas de interesses ocultos sob a superfície de nossas motivações imediatas. Qualquer
pessoa capaz de auto-exame sabe que a consideração por si está presente em todas as células
do nosso cérebro; que é extremamente difícil se desvencilhar do complexo plexo de
interesses egoístas.
Assim, não apenas nossas más ações, mas também nossas boas ações precipitam um
problema. Supondo que nossas boas ações sejam bem feitas, elas também são bem
intencionadas? Nós O servimos por Sua causa? Somos capazes de servi-Lo em pureza?
PENSAMENTOS ALIENÍGENOS
Além disso, assumindo que o homem conseguiu seu esforço para embarcar em uma boa ação
a partir de uma motivação pura e simples, ele será bem-sucedida em proteger-se contra a
intrusão de vaidade durante os momentos de realização da escritura?
A consciência permanece na companhia da autoconsciência. Com qualquer percepção ou
apreensão, vem a consciência de minha posse, que é perigosamente próxima da vaidade. O
ego, com sua característica falta de reserva ou discrição, é propenso a interferir de maneira
invasiva, mesmo em atos iniciados pelas costas. Essa interferência ou “pensamentos
estranhos” - alheios ao espírito do ato - que estava ausente do motivo original constituem
um problema próprio.
Além de nosso ser incerto sobre se a nossa motivação antes do ato é puro, e ao nosso ser
constrangido durante o ato de “pensamentos estranhos”, não é mesmo seguro após o
ato. Somos instados pela tradição judaica para esconder dos outros os nossos atos de
caridade; mas somos capazes de escondê-los de nós mesmos? Somos capazes de superar o
1

perigo de orgulho, auto-justiça, vaidade, eo sentimento de superioridade, derivado do que é


suposto ser atos de dedicação a Deus?
É mais fácil disciplinar o corpo do que controlar a alma. O homem piedoso sabe que sua vida
interior é cheia de armadilhas. O ego, "o impulso do mal", está constantemente tentando
encantá-lo. As tentações são ferozes, mas sua resistência é inflexível. E assim ele prova sua
força espiritual e permanece vitorioso, invencível. A situação dele não parece gloriosa? Mas
então o “drive mal” emprega um dispositivo mais sutil, aproximando-se dele com parabéns:
o que um homem piedoso que você Arel-Ele começa a se sentir orgulhoso de si mesmo. E lá
ele é pego na armadilha. 2

A FUGA DA SUSPEITA
O problema da integridade diz respeito não só o caráter de nossos atos morais, mas também
a integridade do nosso pensamento. Não é apenas difícil para nós conceber o homem fazendo
o bem por si; também questionamos sua capacidade de compreender o bem não lavrado e
não condicionado. O pré-requisito do julgamento imparcial é ser imparcial, descontar a si
próprio. Mas estamos começando a pensar se descontar em si mesmo não é algo que o
homem nunca possa alcançar. A pesquisa psicológica (e sociológica) revelou não só como as
motivações de nossa conduta estão enredados nas funções de desejos instintivos, mas
também como os interesses do penetrar ego não só motivações morais, mas também atos de
cognição.
A descoberta desta situação trágica é um golpe mais doloroso sentimento de segurança
espiritual do homem. Que lição devemos tirar dela, se não o conselho de que a suspeita é o
caminho mais curto para a compreensão da natureza humana. Parece que esta é a versão
moderna da Regra de Ouro: Suspeite o seu próximo como a si mesmo . Assim, a situação do
homem moderno pode ser caracterizada como uma fuga à suspeita. Há um tabu na idéia de
validade objetiva, de sacralidade ou supremacia de um valor. É nossa crença implícita que
existe um subterrâneo vicioso sob toda ação, que segundas intenções são o húmus de toda
virtude, e a justiça é uma camuflagem do mal. Não há profundidade para a virtude, nem
realidade para a integridade. Tudo o que podemos fazer é enxertar a bondade sobre o
egoísmo, usar a verdade como um pretexto pragmático e saborear a auto-indulgência em
todos os valores. Em um mundo como este, próximo de ser um pandemônio, a honestidade
deve ser considerada um pensamento positivo; pureza a quadratura do círculo da natureza
humana; e as noções de validade objetiva, sacralidade ou supremacia de qualquer valor
devem ser consideradas hipocrisia ou superstição.
A histeria da suspeita prende muitos de nós em seu feitiço. Isso não apenas afetou nossa
compreensão dos outros, mas também nos tornou pouco confiáveis, tornando impossível
confiar em nossas aspirações ou convicções.
O homem desconfiado se encolhe com a luz. Muitas vezes, ele tem medo de pensar como se
sente, com medo de admitir o que acredita, com medo de amar o que admira. Desviando-se,
ele culpa os outros por seu fracasso e se torna mais evasivo, de língua suave e
enganoso. Viver com medo, ele pensa que emboscada é a morada normal de todos os
homens.
É a nova percepção do mal que leva o homem ao desespero. Pois o que é horrível sobre o mal
não é tanto sua força aparente quanto sua onipresença enigmática, sua capacidade de
camuflar.
A auto-suspeita aparece como uma ameaça mais séria à fé do que à dúvida, e a "antropodicia",
justificativa do homem, é hoje um problema tão difícil quanto a teodicótica, a justificativa de
Deus. Existe algo puro e untado de egoísmo na alma do homem? A integridade é
possível? Podemos confiar em nossa própria fé? A piedade está sempre afastada da
conveniência?
O TESTE DE TRABALHO
O auto-exame não foi inaugurado pela psicologia analítica. A busca austera da alma é uma
característica essencial da piedade, e o homem piedoso é propenso a suspeitar que sua
reverência e devoção podem ser apegos furtivos a propósitos egoístas.
Vez após vez a Bíblia nos chama a adorá-Lo "de todo o coração". "Anda diante de mim e é de
todo o coração" (Gênesis 17: 1). "Serás de todo o coração com o Senhor teu Deus"
(Deuteronômio 18:13). "E amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua
alma e com toda a tua força" (Deuteronômio 6: 5). E, no entanto, parece que o homem bíblico
ficou perturbado com o problema de saber se o homem é capaz de servir a Deus de todo o
coração.
Um livro inteiro na Bíblia é, em certo sentido, dedicado a sua exploração: o Livro de Job . Do
ponto de vista deste mundo, o tema do Livro de Jó é teodicéia , a reivindicação de Deus em
vista da existência do mal. Do ponto de vista do céu, seu tema é antropodiciano , a
reivindicação do homem. Na cena de abertura do livro, ouvimos dizer que a questão entre
Deus e Satanás é se Jó serviu a Deus "por medo" ou "por amor". O Senhor diz a Satanás: "Você
considerou meu servo Jó? Não há ninguém como ele na terra, um homem de coração sincero
e reto, que teme a Deus e evita o mal. ”Responde Satanás:“ Mas é por nada que Jó teme a
Deus? Você não fez uma cobertura sobre ele, sobre sua casa e sobre tudo o que ele
tem? Abençoaste o trabalho de suas mãos, e seus rebanhos estão cheios de terra. Apenas
estenda a Tua mão, toque o que ele possui, certamente ele te blasfemará contra o Teu rosto
”(1: 8-11).
É significativo da gravidade e básico o problema era o homem bíblico se o autor considerou
justo deixar Job sofrem das formas mais terríveis de sofrimento, a fim de provar que o
homem é capaz de piedade altruísta.
O profeta reclamou: “Eles nunca colocam seu coração em suas orações, mas uivam por milho
e vinho ao lado de seus altares” (Oséias 7:14). De acordo com o Livro de Provérbios (11:20),
“os que são perversos no coração são uma abominação para o Senhor”. No entanto, o profeta
parece ter percebido o quão difícil não é ser perverso, não ser uma abominação.

O coração é enganoso acima de todas as coisas;


é extremamente fraco - quem pode conhecê-lo?
Jeremias 17: 9
“UM DIADEM COM O QUE SE ENCONTRAR”
Existem muitas passagens na literatura judaica que determinam o desapego e muitas delas
lamentando a dificuldade de alcançá-lo. O primeiro estudioso cuja tradição farisaica
preservou não apenas o nome, mas também um ditado é Antigonos of Socho, que viveu cerca
da primeira metade do terceiro século antes da era comum. Sua máxima era: “Não como
servos que esperam no seu mestre na expectativa de receber uma recompensa, mas ser como
os servos que esperam em cima de seu mestre em nenhuma expectativa de receber
recompensa.” Vital, precioso e santo como dedicação A Torá é, é pernicioso estudar a Torá
3

para fins egoístas, estudá-la para que possamos ser chamados rabinos, a fim de obter
recompensa aqui ou na vida futura, fazer da Torá “um diadema com o qual vangloriar-se ”,“
4

uma pá com a qual cavar. ”Segundo Hillel,“ quem usa a coroa da Torá para sua própria
vantagem perecerá; aquele que obtém lucro das palavras da Torá tira a própria vida. ” 5

Os rabinos continuam a nos advertir: “Quem estuda a Torá por si só, seu aprendizado se
torna um elixir de vida para ele ... mas quem estuda a Torá não por sua própria causa, torna-
se para ele um veneno mortal.” “Se você cumprir as palavras da Torá para seu próprio bem,
6

eles lhe trazer a vida; mas se você cumprir as palavras da Torá não por si, elas o matarão. ”7

Na literatura rabínica Abraão é a única pessoa de quem se disse que ele serviu a Deus “por
amor.” O fato de que Abraão foi o único a ser apontada indica uma consciência de quão
8 9

imperfeito era o espírito de todos os outros profetas e santos.


POLITETISMO DISGUÍDO
Pode-se observar todas as leis e ainda estar praticando um politeísmo disfarçado . Pois se, ao
realizar um ato religioso, a intenção de alguém é agradar a um ser humano a quem ele teme
ou a quem espera receber benefício, então não é Deus a quem ele adora, mas um ser
humano. “Essa pessoa é pior do que uma idólatra…. O último, prestando homenagem às
estrelas, adora um objeto que não se rebela contra Deus, enquanto o primeiro adora seres
que alguns se rebelam contra Deus. O primeiro adora apenas um objeto, mas não há limite
para o número de seres humanos que os perversos na religião podem adorar. Finalmente, a
atitude interior do idólatra é aparente para todos; as pessoas podem se proteger dele - sua
negação de Deus é de conhecimento público. A negação do hipócrita, no entanto, é
despercebida. Isso faz dele o pior dos males universais. ”10

O politeísmo disfarçado é também a religião daquele que combina com a adoração a Deus a
devoção a seu próprio ganho, como é dito: Não haverá deus estranho em ti (Salmos 81:10),
sobre o qual nossos professores observaram que isso significava o deus estranho no próprio
eu do homem. ” 11

A FALHA DO CORAÇÃO
Deus pede o coração. No entanto, nosso maior fracasso está no coração. Quem pode confiar
nas boas intenções, sabendo que, sob o manto da kavanah, pode esconder um traço de
vaidade? Quem pode alegar ter cumprido uma mitsvá com perfeita devoção? Disse o rabino
Elimelech de Lizhensk a um de seus discípulos: “Tenho sessenta anos e não cumpri uma
mitsvá.” Não há uma única mitsvá que cumprimos perfeitamente ... exceto a circuncisão e a
12

Torá que estudamos em nossa infância , para estes dois atos não sejam infringidos por
13

“pensamentos estranhos” ou motivações impuras.


“Vi que, onde há justiça, também há iniquidade, que onde há justiça, também há iniquidade.”
Deus, portanto, julgará não apenas os iníquos, mas também os justos (Eclesiastes 3: 16-
17). Pois Deus trará toda ação a julgamento ... se é bom ou se será mau (12:14). “Toda ação”
refere-se, segundo o rabino Judá, a “mitsvot e boas ações”. 13a

Pois não há homem justo na terra que pratique o bem e não peque (Eclesiastes 7:20). Os
comentaristas tomar este versículo para dizer que mesmo um justo homem peca em algumas
ocasiões, sugerindo que a sua vida é um mosaico de ações perfeitas com alguns pecados
espalhadas. O Baal Shem, no entanto, lê o verso: Pois não há homem justo na terra que faça o
bem e não há pecado no bem. “É impossível que o bem esteja livre de pecado e interesse
próprio.” Empiricamente, nossa situação espiritual parece desesperadora.
14

Somos todos como uma coisa impura, e todas as nossas ações de retidão são como trapos
sujos.

Isaías 64: 5
“Mesmo nossas boas ações não são agradáveis, mas revoltantes, pois as realizamos com base
no desejo de auto-engrandecimento e orgulho, e para impressionar nossos vizinhos.” 15

A mente nunca está imune a "pensamentos estranhos" e não há maneira fácil de eliminá-
los. Um rabino hassídico, questionado por seus discípulos nas últimas horas da sua vida a
quem eles devem escolher como seu mestre após seu falecimento, disse: “Se alguém deve
dar-lhe conselhos sobre como erradicar as intenções alienígenas, sei que ele não é o seu
mestre. "
De acordo com uma lenda, as últimas palavras que o Baal Shem proferidas antes de ele partiu
deste mundo foram: “Senhor do Mundo, salva-me orgulho e segundas intenções.” De acordo
com outra lenda, suas últimas palavras foram: “Não o orgulho vem sobre mim ”(Salmos
36:12).
Não sabemos com que havemos de servir até chegarmos lá (Êxodo 10:26). “Todos os nossos
serviços, todas as boas ações que estamos fazendo neste mundo, não sabemos se eles são de
qualquer valor, se eles são realmente puro, honesto, ou feito para o bem do céu, -até
chegamos lá-in o mundo vindouro, somente aí aprenderemos qual era o nosso serviço aqui.
”16

Moisés dizendo a Israel: ‘Eu estou entre Deus e você’ (Deuteronômio 5: 5), foi alegoricamente
interpretado pelo rabino Michael de Zlotshov para dizer: O ‘eu’ se interpõe entre Deus eo
homem. 17

NOTAS DO CAPÍTULO 38
1
Dizem-nos que em todas as cidades da Palestina havia um lugar chamado “a câmara do
silêncio”, em que as pessoas depositavam suas doações de caridade em sigilo e que, com igual
privacidade, os membros empobrecidos de famílias que se prezavam receberiam seu
apoio. Mishnah, Shekalim , 5,6; Tosefta Shekalim, 2, 16.
2
Rabino Rafael de Bersht.
3
Abot 1: 5. Veja Louis Ginzberg, na Jewish Encyclopedia , 1, 629. Comentando os Salmos 112:
1, “Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor e em Seus mandamentos se deleita muito”,
Rabi Eliezer disse: “Nos seus mandamentos e não na recompensa de Seus mandamentos.
” Abodah Zorah 19a.
4
Sifre , Deuteronômio, 41 (a 11:13).
5
Abot IV, 7.
6
Taanit 7a.
7
Sifre , Deuteronômio, 306. Compare os pontos de vista do rabino Joshua ben Levi e do rabino
Jonathan em Yoma 72b, e do Rabba no Shabat 88b.
8
Agir “por amor” significa estudar ou cumprir a Torá “por si mesma” ( Sifre Deuteronômio ,
48; Nedarim 62a), “por causa do céu” (compare Abot II, 17, com Sifre Deuteronômio , 41 )
9
De acordo com Rabban Yohanan ben Zakkai, foi o rabino Joshua ben Hyrcanus quem
posteriormente reivindicou a mesma distinção para Jó. Veja Mishnah Sotah V, 5.
10
Bahya, Os Deveres do Coração, yihud hamasseh, cap. 4)
11
Bahya, ibid., Shaar hayihud, cap. 10. Ver Schechter, Alguns Aspectos da Teologia Rabínica ,
p. 69
12
Rabino Yaakob Aaron de Zalshin, Bet Yaakov , Pietrkov, 1899, p. 144
13
Midrash Tehillim , 6, 1. Segundo alguns rabinos, mesmo no momento em que nossos
antepassados estavam no Sinai, proclamando: Tudo o que o Senhor falou fará e
obedecerá (Êxodo 24: 7), que segundo a tradição foi um momento em que Israel alcançou o
estágio mais alto no desenvolvimento espiritual do homem ( Shabat 88a), eles não quiseram
dizer completamente o que disseram. Eles o enganaram com a boca e mentiram para ele com
a língua. Seu coração não era firme com Ele, nem eram fiéis em Sua aliança (Salmos 78: 36-
37). Segundo o rabino Meir, naquele exato momento seu coração estava direcionado à
idolatria. Veja Mechilta, mishpatim 13; Tosefta, Baba Kamma 7,9; Tanhuma, ed. Buber,
1,77; Êxodo Rabba 42, 6; Levítico Rabba 6,1; Deuteronômio Rabba 7,10.
13a
Eclesiastes Rabba 11, final.
14
Toldot Yaakov Yosef , Lemberg 1863, p. 150d. “Não há possibilidade de kavanah perfeita
neste mundo.” Rabino Zadok, Resyse Laylah , Varsóvia, 1902, no início.
15
David Kimhi, Comentário sobre Isaiah ad locum. Da mesma forma, SD Luzatto em seu
comentário. Compare o rabino NJ Berlin, comentário sobre Sheeltoth , seção 64, p. 420. Ver
também Rashi, Baba Batra 9b. Compare Eliezer ben Jehuda, Thesaurus , vol. IX, p. 4328
As palavras de Isaías, contra o escopo e o espírito do profeta, eram freqüentemente aplicadas
para impugnar as “boas obras”. Sobre as implicações antinomianas e anti-bíblicas de tal
concepção, ver E. La B. Cherbonnier, Dureza de Coração, p. 94f. Em contraste, o rabino
Hanina pensou que a intenção do profeta era louvar boas obras, por mais inadequadas que
sejam. “Assim como em uma peça de roupa, todos os fios se unem ao resto para formar uma
peça inteira, assim, todo peido dado à caridade se une ao resto para formar uma grande
soma.” Baba Batra 9b.
16
Rabino Isaac Meir de Ger.
17
Citado pelo rabino Kalonymus Kalman Epstein, Maor Varhamesh , Lemberg, 1859, p. 29b.

39.
O Eu e o não-Eu
O DESEJO É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS?
É verdade, como perguntamos acima, que nossas crenças religiosas não passam de tentativas
de satisfazer desejos subconscientes? Que nossas normas morais nada mais são do que
desejos disfarçados? Esse desejo é a medida de todas as coisas?
Se nunca é uma norma que orienta nossas ações, mas um desejo egoísta, devemos desistir de
nossos esforços para encontrar normas finais para nossa conduta e concentrar-se sobre a
psicologia dos desejos. Nosso princípio seria: o desejo é o pai de todos os valores; o que é
desejável é valioso.
É verdade que promover a própria prosperidade é tudo o que o homem pode fazer? Que uma
psicologia dos desejos seria capaz de definir intenções e objetivos, bem como codificar um
padrão de comportamento totalmente abrangente? Apesar do sabor tentador de tal visão, o
entusiasmo daqueles que pensam e a vivenciam examinando a vida humana como um estudo
de desejos, acaba no fim em desgosto e desespero. Mas por que a idéia deveria ser repelente
de que a humanidade fosse um fedor de ganância subindo ao céu? Além disso, por que uma
civilização cintilante de fortunas e interesses adquiridos deve ficar náusea? Por que a mente
decai quando as raízes dos valores começam a apodrecer? O que há de errado em viver em
uma selva de incitações? Com viver em voracidade? Por que o desgosto deve ser o resultado
da ganância?
Desespero e repulsa, que o odor desagradável de uma vida dedicada à autoindulgência evoca
em nossos corações - eles também deveriam ser explicados como autoindulgência
disfarçada? As teorias podem, de fato, tentar dispor de tais reações como vagas, logicamente
sem sentido, como egoísmo em um disfarce dialético. Mas essas teorias desconsideram fatos
empíricos inquestionáveis da consciência humana.
Há, de fato, uma tensão perpétua no homem entre o foco do eu e o objetivo que está além do
eu. A vida animal é um estado de vida impulsionado por forças, independentemente dos
objetivos examinados. O animal no homem é o impulso para se concentrar na satisfação das
necessidades; espiritual no homem é a vontade de servir aos fins mais elevados e, ao servir
aos fins, ele transcende suas necessidades. Dizer que o desejo de estar livre de interesses
egoístas é tão egoísta quanto qualquer outro interesse é confusão semântica. A diferença está
na intenção ou direção do ato. Interesses egoístas são centrípetos; a libertação de interesses
egoístas é centrífuga, um afastamento do eu. A essência do homem, sua singularidade, está
em seu poder de superar o eu, elevar-se acima de suas necessidades e motivos
egoístas. Ignorar a seriedade dessa tensão é viver no paraíso dos tolos; para desespero do
poder de lidar com isso é mover-se em inferno do cínico. Mas como deve ser travada a
batalha pela integridade?
A CONVERSÃO DE NECESSIDADES
Um organismo vivo não pode ser definido pelo número de células que contém, e uma
personalidade humana não pode ser definida pelo número de suas necessidades, nem por
sua vida considerada como uma interação de necessidade e satisfação. Necessidades não são
essências, mas respostas a objetos, surgindo em situações concretas. A arte de viver é uma
arte de lidar com as necessidades, e o caráter do homem é moldado e revelado pela maneira
como ele molda suas paixões e desejos. Muitas pessoas podem ter uma fixação pela mãe, mas
essencial é que uma se volte para a poesia, a outra para o trabalho social e outra para o crime.
A característica distintiva do homem é sua capacidade de conversão de necessidades. Ele sabe
não apenas como expandir e satisfazer, mas também como modificar suas
necessidades; desafiar, não apenas saborear o desejo e o deleite. Suas realizações criativas
ocorrem por alteração consciente, por atos de seleção e intercâmbio de objetivos
conflitantes, e não por supressão implacável.
Na biologia, falamos da heterogênese como um modo de reprodução no qual os pais
produzem filhos que diferem de si mesmos em estrutura e hábitos, mas que depois de uma
ou mais gerações revertem para a forma dos pais. Um fenômeno semelhante é possível
dentro da vida interior do homem. Embora não possamos deter a expansão das necessidades
nem suprimir com êxito a paixão humana, é-nos dado converter necessidades e redirecionar
a paixão para objetivos de nossa própria escolha. Assim, necessidades egoístas podem
tornar-se as ocasiões para a consecução de fins universais.
No entanto, a técnica da conversão resolve o problema do egoísmo? É correto supor que, pela
conversão de necessidades, o homem é capaz de mudar não apenas padrões de
comportamento, mas também tendências de motivação? Não escondemos, em vez de mudar,
as necessidades egoístas? O mal na ocultação é uma ameaça maior que o mal na
exibição; interesses pervertidos podem ser mais cruéis que as necessidades originais. A
conversão de necessidades não significa oferecer um retiro seguro aos motivos que
pretendemos subjugar? É possível superar motivos egoístas?
AUTO-EFICIÊNCIA
A descoberta de uma falha em educar o desejo traz consigo um impulso para suprimi-lo. O
auto-apagamento nos parece, então, o único caminho de redenção da escravidão para o
ego. No entanto, o auto-apagamento é uma fuga pela qual podemos correr para pior
corrupção. A eliminação do eu não é, em si mesma, virtude. Desistir da vida ou do direito à
satisfação não é um requisito moral. Se a auto-anulação eram virtuosos em si, o suicídio seria
o clímax da vida moral. É Moloch que exige o sacrifício da vida; é o militarismo que glorifica
a morte em batalha como a mais alta aspiração. Os profetas de Baal, e não os profetas de
Israel, se entregaram à mortificação própria.
De fato, somente aquele que realmente entende a justiça de seus próprios direitos é capaz
de prestar justiça aos direitos dos outros. O treinamento moral consiste em aprofundar o
entendimento apaixonado dos direitos e necessidades dos outros, de maneira igual ao
entendimento apaixonado dos próprios direitos e necessidades.
O valor do sacrifício é determinado, não apenas pelo que se dá, mas também pelo objetivo a
que é dado. A palavra hebraica para o verbo sacrificar significa literalmente aproximar-
se. Nossa tarefa não é renunciar à vida, mas aproximá-la dele. O que buscamos não são
momentos únicos de abnegação, mas afirmação constante e sóbria de outros seres, a
capacidade de sentir as necessidades e os problemas de nossos semelhantes. Nunca chame
essa atitude de auto-indiferente ou de ser maldoso com a alma. O que é apagado é uma
ofensiva, uma opressão que em bons momentos a alma detesta, desejando que ela se afaste.
O eu pode ser transformado em amigo do espírito, se alguém é capaz de desenvolver uma
percepção persistente do não-eu, da ansiedade e dignidade dos semelhantes.
O egocentrismo é o trágico mal-entendido de nosso destino e existência. Para o homem, ser
humano é uma tautologia existencial. Para ser homem, o homem deve ser mais que um
homem. O eu é espiritualmente imaturo; cresce na preocupação com o não-eu. Este é o
profundo paradoxo e característica redentora da existência humana. Não há alegria para o
eu dentro dele. A alegria é encontrada em dar e não em adquirir; em servir e não em tomar.
Todos somos dotados de talentos, aptidões, instalações; todavia, talento sem dedicação,
aptidão sem vocação, facilidade sem dignidade espiritual termina em frustração. O que é
dignidade espiritual? A fixação da alma a um objetivo que está além do auto, um objetivo não
dentro, mas para além do ego.
Este é, de fato, o mistério do eu, não explicável em termos de análise psicológica. Assim como
nosso senso de inefável vai além de todas as palavras, a coerção por todo o coração, o poder
da autotranscendência, vai além de todos os interesses e desejos.
CONSIDERAR A SI MESMO
Ao lidar com o problema do eu, é preciso abster-se de qualquer exagero. O respeito pelo eu
não é mau. É quando arrogar para si mesmo o que não é devido, aumentando os interesses
de alguém em detrimento de outros ou estabelecendo-o como objetivo final que o mal
surge. Assim, supondo que o homem tenha consciência do bem que está fazendo e até tenha
alegria pelo que está fazendo, isso é errado? É pecado desfrutar de uma boa ação? Um ato
não deve ser considerado bom, a menos que seja executado automaticamente? Não devemos
dizer que um homem justo é uma pessoa a quem também é desejado o que é necessário, e não
uma pessoa que faz o bem, apesar de sua própria vontade? O relacionamento correto do eu
com o bem não é o da tensão, mas o do acordo e da concordância interior. Em termos de
pensamento bíblico, a associação do eu com a ação e até a obtenção de uma recompensa são
consideradas desejáveis.
O fato de os homens “censurarem a injustiça por temer que sejam vítimas dela e não porque
se encolhem em cometer” ; o fato de que, na defesa da justiça, podemos subconscientemente
1

ser movidos por interesses egoístas não refuta o significado intrínseco e absoluto da
justiça. Isso mostra apenas que a justiça está tão arraigada em nosso ambiente social
concreto que nos fala como um requisito de sobrevivência, não apenas como um comando
de ética ou religião. É, claro, concebível que uma sociedade pode ser estabelecida em que o
assassinato seria considerada certa. Mas o fato de que essa sociedade acabaria provocando
a hostilidade de outros grupos; o fato de que, em nome de sua própria segurança, esses
grupos se levantariam para destruir essa sociedade; o fato de que a sobrevivência da
humanidade como um todo é incompatível com o mal é um sinal de que a exigência de justiça
é mais forte que nossa relação consciente com ela. 2

NOTAS PARA O CAPÍTULO 39


1
Platão, República , 344c.
2
Veja O homem não está sozinho, p. 224f.

40.
A escritura redime
CONSCIÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO INTERNA
A idéia de integridade é um vôo de fantasia? A palavra de Moisés: Amarás o Senhor teu Deus
com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força; a palavra de Josué: Tema
o Senhor, e sirva-O com sinceridade e verdade (Josué 24:14); a palavra de Samuel: Tema o
Senhor e sirva em verdade com todo o seu coração (1 Samuel 12:24); não pode ser descartado
como utópico. Os profetas não exigiriam amá-Lo de todo o coração, se esse amor estivesse
totalmente além do reino das possibilidades.
É assim que devemos começar em nosso esforço para purificar o eu: tomar consciência de
nossa escravidão interior ao ego, detectar as manchas em nossas virtudes, o tom de idolatria
em nossa adoração a Deus.
Há um grande mérito em conhecer nossas hipocrisias sutis, em não termos fé absoluta em
nossa fé, em nosso senso de vergonha e contrição. O aguilhão da vergonha é a única dor que
o ego não pode suportar e o único golpe que pode fazer com que suas forças encolhem e
recuem, e a contrição é a característica salvadora de nossa alma. O remorso é mais alto que
o sacrifício.

Tu não gostas de sacrifício,


senão eu daria;
Não tens prazer em holocaustos.
Os sacrifícios de Deus são um espírito quebrado;
Um coração partido e contrito,
ó Deus, não desprezarás.
(Salmos 51: 18-19)

A Ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós vergonha (Daniel 9: 7). "Porque isto é assim? Disse
o rabino Neemias: Porque mesmo quando realizamos a justiça, examinamos nossas ações e
somos envergonhados. ” 1

E o homem questionará todos os seus caminhos. Pois ninguém é justo aos seus olhos. No
entanto, é a consciência da nossa escravidão interior que é o primeiro sinal de ajuda.
MOMENTOS DE PUREZA
Quanto menos desejamos nos resignar ao fato de estarmos acorrentados ao ego e mais
profundamente entendemos que o significado final é encontrado em atos compostos à
margem do eu, maior a chance de nos libertarmos pelo menos por um momento . E é o
momento que mais conta.
Há momentos em que todos despertamos para a grandiosidade da realidade cósmica, em
face da qual a indignidade do pensamento egocêntrico, a especiosidade das recompensas e a
ansiedade da vaidade nos enchem de vergonha. Há tanta sabedoria na madeira, tanta
bondade no solo, e não há um traço de insolência. Tornamo-nos conscientes de nossa
verdadeira situação, de nossa posição no pêndulo do dever e da fuga, e do fato de que não há
escapatória, que nem mesmo a morte tem saída. Envergonhados, chocados com a miséria de
um ego sobrecarregado, procuramos sair do círculo do ego.
CONTRIÇÃO
Por mais consolador que seja a confiança em momentos de pura devoção, a ansiedade
permanece. Depois de todos os nossos esforços e tentativas de purificar o eu, descobrimos
que a inveja, a vaidade, o orgulho continuam a rondar no escuro. De onde vem nossa
ajuda? Os momentos de auto-esquecimento extático passam rapidamente. Qual é, então, a
resposta?
Devemos, então, nos desesperar por sermos incapazes de manter a pureza
perfeita? Deveríamos, se a perfeição fosse nosso objetivo. No entanto, não somos obrigados
a ser perfeitos de uma vez por todas, mas apenas a nos elevar uma e outra vez além do nível
do eu. A perfeição é divina, e torná-la uma meta do homem é convidar o homem a ser
divino. Tudo o que podemos fazer é tentar torcer o coração em contrição. Contrição começa
com um sentimento de vergonha por sermos incapazes de disentanglement do self. Estar
arrependido de nossos fracassos é mais santo do que ser complacente na perfeição.
DEUS É COMPLETO DE COMPAIXÃO
No mundo da piedade judaica, duas vozes podem ser ouvidas. Uma voz é grave,
intransigente: boas ações feitas por motivos impuros são totalmente inadequadas. A outra
2

voz é uma das moderação: boas ações são preciosos, mesmo se a sua motivação não é puro. 3

Quais são os fatos? Mesmo a melhor intenção não é forte o suficiente para preencher todos
os cantos da alma, que de todos os lados estão abertos a intrusões do ego. A julgar pelo
padrão severo e intransigente da pureza total da intenção, quem poderia suportar? É, de fato,
a voz da moderação que geralmente prevalece. Assim, somos ensinados a acreditar que
"pensamentos estranhos" ou mesmo motivos impróprios não viciam o valor de uma ação
sagrada.
A alma é frágil, mas Deus é cheio de compaixão pelo sofrimento da alma, pelo fracasso do
coração. É dito no Talmud: “Há alguns que desejam [ajudar os outros], mas não têm os
meios; enquanto outros têm os meios [e ajuda], mas não têm o desejo [de ajudar]. ”No
entanto, os dois tipos de pessoas são santos aos olhos de Deus.4

TERMINA PURIFICAR MOTIVOS


O judaísmo insiste na ação e espera a intenção. Todas as manhãs oramos:

Faça doce, nós te imploramos, ó Senhor, nosso Deus, as palavras de Tua Torá em nossa boca
... para que estudemos Tua Torá por sua própria causa.

Enquanto constantemente mantemos o objetivo em mente, somos ensinados que devemos


continuar a observar a lei, mesmo quando não estamos prontos para cumpri-la "por causa
de Deus". Para o bem, mesmo que não seja feito por ela mesma. , eventualmente, nos ensinará
como agir em prol de Deus. Devemos continuar realizando as obras sagradas, mesmo que
sejamos obrigados a subornar o eu com incentivos humanos. Pureza de motivação é o
objetivo; constância de ação é o caminho. É um esforço inútil combater o ego
abertamente; como uma hidra ferida, produz duas cabeças para cada uma cortada. Não
devemos nos entregar à auto-análise; não devemos nos concentrar no problema do
egocentrismo. A maneira de purificar o eu é evitar se debruçar sobre ele e se concentrar na
tarefa.
A escritura redime
Qualquer ensino religioso ou ético que enfatize as virtudes da interioridade, como a fé e a
pureza da motivação, deve sofrer. Se a fé fosse o único padrão, o esforço do homem estaria
fadado ao fracasso. De fato, a consciência da fraqueza do coração; a falta de confiabilidade da
interioridade humana talvez tenha sido uma das razões que levaram o judaísmo a recorrer
às ações, em vez de confiar na devoção interior. Talvez este seja o significado mais profundo
do conselho dos rabinos: deve-se sempre fazer o bem, mesmo que não seja feito por si. É o
ato que nos ensina o significado do ato.
O caminho para a pura intenção é pavimentado com boas ações. O bem é realizado em atos,
e há um intenso fascínio que advém de uma boa ação que neutraliza a pressão e o ardor do
ego. O ego é redimido pelo poder de absorção e pela provocação inexorável de uma tarefa
justa que enfrentamos. É a ação que nos afasta, que transporta a alma, provando para nós
que a maior beleza cresce à maior distância do centro do ego.
As ações estabelecidas em metas ideais, as ações realizadas não com facilidade e rotina
descuidadas, mas com esforço e submissão a seus fins são mais fortes que a surpresa e o
ataque do capricho. Servir a objetivos sagrados pode mudar os motivos ruins. Pois tais ações
são exigentes. Qualquer que tenha sido o nosso motivo antes do ato, o próprio ato exige
atenção total. Assim, o desejo de recompensa não é a força motriz do poeta em seus
momentos criativos, e a busca de prazer ou lucro não é a essência de um ato religioso ou
moral.
No momento em que um artista é absorvido ao tocar um concerto, o pensamento de aplausos,
fama ou remuneração está longe de sua mente. Sua atenção completa, todo o seu ser está
envolvido na música. Se algum pensamento estranho entrar em sua mente, ele iria prender
a sua concentração e estragar a pureza de seu jogo. A recompensa pode estar em sua mente
quando ele negociou com seu agente, mas durante a performance é a música que reivindica
sua concentração total.
A situação do homem na realização de um ato religioso ou moral é semelhante. Deixada
sozinha, a alma está sujeita ao capricho. No entanto, há poder na ação que purifica os
desejos. É o ato, a própria vida, que educa a vontade. O bom motivo surge enquanto faz o
bem.
Se o motivo inicial é forte e puro, intenções intrusivas que surgem durante o ato podem
servir para revigorá-lo, pois o motivo inicial pode absorver o vigor do intruso em sua própria
força. O homem pode estar repleto de motivos egoístas, mas uma ação e Deus são mais fortes
do que motivos egoístas. O poder redentor descarregado na realização do bem purifica a
mente. A ação é mais sábia que o coração.
Um discípulo do rabino Mendel de Kotsk queixou-se ao seu mestre de sua incapacidade de
adorar a Deus sem se tornar inconsciente e tingido de orgulho. Existe uma maneira de
adoração em que o eu não se intrometa? ele perguntou.
- Você já encontrou um lobo enquanto caminhava sozinho na floresta?
- eu fiz, ele respondeu.
- O que você estava pensando naquele momento?
- Medo, nada além de medo e vontade de escapar.
- Veja, naquele momento você estava com medo sem estar consciente ou orgulhoso do seu
medo. É de tal maneira que possamos adorar a Deus.
Embora profundamente conscientes de quão impuras e imperfeitas são todas as nossas
ações, o fato de fazermos deve ser valorizado como o mais alto privilégio, como fonte de
alegria, como aquele que dota a vida de uma preciosidade suprema. Acreditamos que
momentos vividos em comunhão com Deus, atos realizados em imitação da vontade de Deus,
nunca perecem; a validade do bem permanece independentemente de toda impureza.
"Sirva-o com alegria"
Tradicionalmente, o judeu é ensinado a sentir prazer em poder cumprir a lei, embora
imperfeitamente, em vez de sentir ansiedade por não poder cumpri-la perfeitamente. “Sirva-
O com alegria; vem diante de Sua presença cantando ”(Salmos 100: 2).
Israel sente certa facilidade e deleite no cumprimento da lei que, para um empregado
contratado, é onerosa e desconcertante. Pois “o filho que serve a seu pai o serve com alegria,
dizendo: Mesmo que eu não consiga inteiramente [cumprir Seus mandamentos], ainda
assim, como um pai amoroso, Ele não ficará zangado comigo. Em contraste, um empregado
contratado sempre tem medo de não cometer alguma falta e, portanto, serve a Deus em uma
condição de ansiedade e confusão. ” De fato, quando Israel se sente desconfortável por ter
5

que julgar diante de Deus, dizem os anjos. para eles: “Não temam o juízo. Não o
conheceis? Ele é seu parente mais próximo, ele é seu irmão e, além do mais, ele é seu pai. ”6

“DERRAMAMOS E ELE RESTAURA”


O comando eterno, como uma serra, está tentando cortar a insensibilidade dos
corações. Apesar de todos os esforços, a insensibilidade permanece sem cortes. Qual é, então,
o significado de todo empreendimento? Rabino Tarfon disse: “Você não são chamados para
completar a tarefa, mas você não está livre para fugir dela.” Tudo o que fazemos é de apenas
um cumprimento parcial; o resto é completado por Deus.

Sozinhos, não temos capacidade de libertar nossa alma de segundas intenções. Esta, porém,
é a nossa esperança: Deus redimirá onde falharmos; Ele completará o que estamos tentando
alcançar. É a graça de Deus que ajuda aqueles que fazem tudo o que está ao seu alcance a
alcançar aquilo que está além do seu poder.
O rabino Nahman de Kossov contou uma parábola. Uma cegonha caiu na lama e não
conseguiu puxar as pernas até que lhe ocorreu uma idéia: ele não tem um bico longo? Então
ele enfiou o bico na lama, apoiou-se nela e puxou as pernas. Mas qual foi a utilidade? Suas
pernas estavam fora, mas seu bico estava preso. Então outra ideia lhe ocorreu. Ele enfiou as
pernas na lama e puxou o bico. Mas qual foi a utilidade? As pernas estavam presas na lama….
Essa é a condição do homem. Tendo sucesso de uma maneira, ele falha de outra. Devemos
lembrar constantemente: estragamos e Deus restaura. Quão feia é a maneira pela qual
estragamos, e quão boa e bonita é a maneira pela qual Ele restaura.
Fora da profundidade, clamamos por ajuda. Acreditamos que somos capazes de superar
motivos ocultos, pois, caso contrário, nada de bom seria feito e nenhum amor seria
possível. No entanto, "para alcançar a pureza de coração, precisamos de ajuda divina" É por
.7

isso que oramos:


Purifique nossos corações para que possamos Te adorar com honestidade.
A liturgia do sábado

Tudo é inadequado: nossas ações e nossas abstenções. Não podemos confiar em nossa
devoção, pois está contaminada por pensamentos, presunção e vaidade estranhos. É
necessário um grande esforço para realizarmos diante de quem estamos, pois tal realização é
mais do que ter um pensamento em mente. É um conhecimento em que toda a pessoa está
envolvida; a mente, o coração, o corpo e a alma. Conhecer é esquecer tudo o mais, inclusive
o eu. Na melhor das hipóteses, só podemos alcançá-lo por um instante e apenas de tempos
em tempos.
O que resta então a nós, exceto orar pela capacidade de orar, lamentar nossa ignorância de
viver em Sua presença? E mesmo que essa oração seja manchada pela vaidade, Sua
misericórdia aceita e redime nossos esforços fracos. É a continuidade de tentar orar, a
lealdade ininterrupta ao nosso dever de orar, que fortalece nossa frágil adoração; e é a
santidade da comunidade que confere significado aos nossos atos individuais de
adoração. Estes são os três pilares sobre os quais nossa oração se eleva a Deus: nossa própria
lealdade, a santidade de Israel, a misericórdia de Deus.
NOTAS DO CAPÍTULO 40
1
Êxodo Rabba 41: 1. Ver Will Herberg, Judaísmo e Homem Moderno, Nova York, 1951, p. 149f.
2
Em um caso específico, os rabinos chamam uma pessoa que executa um mandamento sem a
intenção adequada de transgressor. (Nazir 23a ver Albo, Ikkarim III, cap. 28). Um rabino
sustentou que "quem não cumpre a Torá por si só, é melhor que ele não tenha nascido". O
ditado de Raba, Berachot 17b. Embora essa visão extrema tenha sido rejeitada pela maioria
dos teólogos judeus, foi, em certo grau, sustentada por outros. Segundo Bahya, “Todas as
obras realizadas pelo amor de Deus devem ter como raízes a pureza do coração e a
singularidade da mente. Onde o motivo é manchado, boas ações, por mais numerosas e que
sejam praticadas continuamente, não são aceitas. ” The Daties of the Heart, introdução.
3
Hullin 7a. Veja Tosefot ad locum. Deus não retém a recompensa de nenhuma criatura; até os
iníquos são recompensados pelo bem que podem fazer. Ele não retém a recompensa nem
por uma palavra decorosa. Veja Pesahim 118a ; Nazir 23b. A abstenção do trabalho no
sábado motivada pela indolência, e não pela reverência pelo sábado, ainda é considerada
meritória.
4
Hullin 7b.
5
Tamhuma, Noé 19.
6
Midrash Tebillim, 118, 10. Ver Schechter, Alguns Aspectos da Teologia Rabínica, p. 55f.
7
Rabbenu Yonah, Comentário sobre Alfasi, Berachot, 5, 1. Compare Salmos 51:12 “Cria em
mim um coração decano, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito reto”, e Jeremias 32:40:
“Eu colocarei o medo de Mim em seus corações. ”Ver acima, capítulo 12, n. 2)

41
Liberdade
O PROBLEMA DA LIBERDADE
Dissemos que a grande premissa da religião é que o homem é capaz de se superar. Essa
capacidade é a essência da liberdade. Segundo Hegel, a história do mundo nada mais é do
que o progresso da consciência da liberdade. Agora, o que nos dá a garantia de que liberdade
não é um conceito ilusório ? Com o termo liberdade, entendemos a independência da
vontade de condições antecedentes, psicológicas e fisiológicas. No entanto, a vontade é
independente do caráter da pessoa ou das circunstâncias do ambiente? Toda ação não é
resultado de um fator antecedente? Não é o momento presente em que uma decisão é
tomada carregada com a pressão do passado? A capacidade da mente de comparar as razões
a favor e contra uma determinada ação e de preferir uma contra a outra não se estende além
do escopo das razões que são conscientes e aparentes. No entanto, essas razões derivam de
outras razões que, por sua vez, têm uma genealogia infinita. Qualquer que tenha sido a
gênese das razões originais, enfrentar os descendentes não é um ato de pensamento
imparcial e indeterminado. Podemos realmente afirmar possuir o poder sobre as
determinações de nossa própria vontade?
Quem deve ser considerado livre? O livre nem sempre é aquele cujas ações são dominadas
por sua própria vontade, uma vez que a vontade não é uma entidade última e isolada, mas
determinada em suas motivações por forças que estão fora de seu controle. Tampouco é livre
quem é o que quer ser, uma vez que o que uma pessoa quer ser é obviamente determinado
por fatores externos a ela. Aquele que faz o bem por si só é considerado livre? Mas como é
possível fazer o bem por si?
Como então é possível a liberdade pessoal? Sua natureza é um mistério, e o formidável
1

conjunto de evidências cumulativas do determinismo torna muito difícil acreditarmos na


liberdade. E, no entanto, sem essa crença, não resta significado para a vida moral. Sem levar
a sério a liberdade, é impossível levar a humanidade a sério.
Do ponto de vista do naturalismo, a liberdade humana é uma ilusão. Se todos os fatos no
universo físico e, portanto, também na história humana são absolutamente dependentes e
condicionados por causas, o homem é um prisioneiro das circunstâncias. Não pode haver
momentos livres e criativos em sua vida, pois pressupunham um vácuo no tempo ou um
rompimento na série de causa e efeito.
O homem vive em escravidão ao seu ambiente natural, à sociedade e ao seu próprio
"caráter"; ele é escravizado por necessidades, interesses e desejos egoístas. No entanto, ser
livre significa transcender a natureza, a sociedade, o "caráter", as necessidades, os interesses,
os desejos. Como é então concebível a liberdade?
A LIBERDADE É UM EVENTO
A realidade da liberdade, da capacidade de pensar, querer ou tomar decisões além da causa
fisiológica e psicológica só é concebível se assumirmos que a vida humana abraça tanto
o processo quanto o evento. Se o homem é tratado como um processo, se suas determinações
g

futuras são consideradas calculáveis, a liberdade deve ser negada. Significa liberdade que o
homem é capaz de expressar-se em eventos fora do seu ser envolvidos nos processos
naturais de vida.
Acreditar na liberdade é acreditar nos eventos, ou seja, sustentar que o homem é capaz de
escapar dos vínculos dos processos em que está envolvido e agir de uma maneira não
necessária por fatores antecedentes. Liberdade é o estado de saída do eu, um ato de êxtase
espiritual, no sentido original do termo.
Quem, então, é livre? O homem criativo que não se deixa levar pelas correntes da
necessidade, que não se vê preso aos processos, que não é escravizado pelas circunstâncias.

Somos livres em momentos raros. Na maioria das vezes somos movidos por um
processo; nos submetemos ao poder das qualidades de caráter herdadas ou à força das
circunstâncias externas. A liberdade não é um estado contínuo do homem, “uma atitude
permanente do sujeito consciente” Não é, acontece. A liberdade é um ato, um evento. Todos
.2

nós somos dotados da potencialidade da liberdade. Na realidade, porém, só agimos


livremente em raros momentos criativos.
A capacidade do homem de transcender o eu, de elevar-se acima de todos os laços e vínculos
naturais, pressupõe ainda que todo homem viva em um domínio governado por lei e
necessidade, bem como em um reino de possibilidades criativas. Pressupõe que ele pertença
a uma dimensão superior à natureza, à sociedade e ao eu, e aceita a realidade dessa dimensão
além da ordem natural. Liberdade não significa o direito de viver como quisermos. Significa
o poder de viver espiritualmente, de subir a um nível superior de existência.
A liberdade não é, como é muitas vezes mantida, um princípio de incerteza, a capacidade de
agir sem motivo. Tal visão confunde liberdade com caos, livre arbítrio com uma aberração
de volição desmotivada, com ação sub-racional.
A liberdade também não é a mesma que a capacidade de escolher entre motivos. A liberdade
inclui um ato de escolha, mas sua raiz está na compreensão de que o eu não é soberano, no
descontentamento com a tirania do ego. A liberdade surge no momento de transcender o eu,
elevando-se acima do hábito de considerar o eu como seu próprio fim. A liberdade é um ato
de auto-engajamento do espírito, um evento espiritual.
LIBERDADE E CRIAÇÃO
A questão básica da liberdade é como podemos ter certeza de que os chamados eventos não
são aspectos disfarçados de um processo, ou que atos criativos não são provocados por
desenvolvimentos naturais dos quais não temos conhecimento. A idéia de possibilidades
criativas e a possibilidade de viver espiritualmente dependem da idéia de criação e de o
homem ser mais do que o produto da natureza.
O conceito último da filosofia grega é a idéia de cosmos, de ordem; o primeiro ensinamento
da Bíblia é a ideia da criação. Traduzido em princípios eternos, cosmos significa destino,
enquanto criação significa liberdade. O significado essencial da criação não é a ideia de que
o universo foi criado em um determinado momento no tempo. O significado essencial da
criação é, como Maimonides explicou, a idéia de que o universo não surgiu por necessidade,
mas como resultado da liberdade.
O homem é livre para agir em liberdade e livre para perder a liberdade. Ao escolher o mal,
ele renuncia ao apego ao espírito e abre mão da oportunidade de deixar a liberdade
acontecer. Assim, podemos ser livres para empregar ou ignorar a liberdade; nós não somos
livres em ter liberdade. Somos livres para escolher entre o bem e o mal; não somos livres em
ter que escolher. De fato, somos obrigados a escolher. Assim, toda liberdade é uma situação
em que Deus espera que o homem escolha.
PREOCUPAÇÃO DIVINA
O pensamento decisivo na mensagem dos profetas não é a presença de Deus no homem, mas
a presença do homem em Deus. É por isso que a Bíblia é a antropologia de Deus, e não a
teologia do homem. Os profetas não falam tanto de preocupação do homem por Deus como
da preocupação de Deus para o homem. No começo é a preocupação de Deus. É por causa de
Sua preocupação pelo homem que o homem pode ter uma preocupação por Ele, que somos
capazes de procurá-Lo.
No pensamento judaico, o problema de ser nunca pode ser tratado isoladamente, mas apenas
em relação a Deus. As categorias supremas em tal ontologia não são o ser e o tornar-se, mas
a lei e o amor (justiça e compaixão, ordem e pathos). O ser, assim como todos os seres, está
na polaridade da justiça divina e da compaixão divina.
Para a maioria de nós, o princípio estático abstrato de ordem e necessidade é uma categoria
última e inerente ao próprio conceito de ser (ou à nossa consciência de ser). Para a mente
judaica, ordem ou necessidade não é uma categoria última, mas um aspecto do atributo
dinâmico do julgamento divino. Além disso, o pensamento judaico alega que o ser é
constituído (criado) e mantido não apenas pela necessidade, mas também pela liberdade,
pela preocupação livre e pessoal de Deus pelo ser.
A preocupação divina não é uma reflexão teológica, mas uma categoria fundamental da
ontologia. A realidade parece ser mantida pela necessidade de suas leis. No entanto, quando
perguntamos: por que a necessidade é necessária? há apenas uma resposta: a liberdade
divina, a preocupação divina.
A pergunta pode ser feita: é plausível acreditar que o eterno deve se preocupar com o
trivial? Não devemos supor que o homem é insignificante demais para ser objeto de Sua
preocupação? A verdade, no entanto, é que nada é trivial. O que parece infinitamente
pequeno aos nossos olhos é infinitamente grande aos olhos do Deus infinito. Porque o finito
nunca é isolado; está envolvido de inúmeras maneiras no decorrer de eventos infinitos. E
quanto maior o nível de consciência espiritual, maior é o grau de sensibilidade e preocupação
com os outros.
Devemos continuar a perguntar: o que é o homem que Deus deveria cuidar dele? E devemos
continuar lembrando que é precisamente o cuidado de Deus pelo homem que constitui a
grandeza do homem. Ser é defender , e o que o homem representa é o grande mistério de ser
Seu parceiro. Deus precisa do homem. 3

NOTAS DO CAPÍTULO 41
1
Veja W. James , Vontade de Acreditar.
“Com base em argumentos éticos, a liberdade pessoal deve ser reconhecida como um
constituinte necessário do ser moral. A questão, portanto, não é se a liberdade pessoal é
possível, mas a mais difícil: como é possível? ... A liberdade de vontade do seu lado ontológico
não permite 'prova', no sentido estrito. Além disso, sua possibilidade real só pode ser
considerada dentro dos limites da certeza hipotética. O que ainda falta fazer é, na verdade, a
parte mais importante do trabalho; mas hoje estamos longe de poder fazê-lo. Só podemos
dar um ou dois passos para solucionar o problema. A natureza e a atualidade da liberdade
pessoal estão além dos limites da razão humana. ”N. Hartmann, Ethics, vol. III, p. 205f; a
edição alemã, p. 69b f.
2
W. James, Idealismo Pessoal.
3
O homem não está sozinho, p. 25, p. 241f.

42.
O espírito do judaísmo
O significado do espírito
A religião se torna pecaminosa quando começa a advogar a segregação de Deus, para
esquecer que o verdadeiro santuário não tem paredes. A religião sempre sofreu com a
tendência de se tornar um fim em si mesma, de isolar o santo, de se tornar paroquial, auto-
indulgente e egoísta; como se a tarefa não fosse enobrecer a natureza humana, mas aumentar
o poder e a beleza de suas instituições ou ampliar o corpo de doutrinas. Muitas vezes, fez
mais para canonizar preconceitos do que lutar pela verdade; petrificar o sagrado do que
santificar o secular. No entanto, a tarefa da religião é ser um desafio para a estabilização de
valores.
No fundo de nossos corações há uma tentação perpétua de adorar os imponentes; para fazer
um ídolo das coisas queridas para nós. É fácil adorar o ilustre. É fácil apreciar a beleza e difícil
ver através da mascarada dos ostensivos. Se um poeta viesse a Samaria, capital do Reino do
Norte, ele teria escrito canções exaltando seus magníficos edifícios, seus belos templos e
monumentos de glória mundana. Mas Amós de Tekoa, em sua visita a Samaria, não falou do
esplendor da "casa de marfim", nem cantou louvores aos palácios. Olhando para eles, ele não
viu nada além de confusão moral e opressão. Em vez de ficar fascinado, ele ficou
horrorizado. "Abomino o orgulho de Jacó e odeio seus palácios", ele gritou em nome do
Senhor. Amos não era sensível à beleza?

Não devemos considerar nenhuma instituição ou objeto humano como um fim em si


mesmo. As realizações do homem neste mundo são apenas tentativas, e um templo que passa
a significar mais do que um lembrete do Deus vivo é uma abominação.
O que é um ídolo? Uma coisa, uma força, uma pessoa, um grupo, uma instituição ou um ideal,
considerado supremo. Somente Deus é supremo.
O profeta abomina a idolatria. Ele se recusa a considerar o instrumental como final, o
temporal como último. Não devemos adorar nem a humanidade nem a natureza, nem idéias
nem ideais. Mesmo o mal não deve ser idolatrado, mas instrumentalizado. O desejo do mal
não significa desgraça; pode ser integrado no serviço de Deus. Foi possível ao rabino Meir
comentar: "E Deus viu que era muito bom - muito bom é o desejo do mal".
Até as leis da Torá não são absolutas. Nada é deificado: nem poder nem sabedoria, nem
1

heróis nem instituições. Atribuir qualidades divinas a tudo isso, a qualquer coisa, por mais
sublime e nobre que seja, é distorcer a idéia que ela representa e o conceito de divino que
lhe conferimos.
Tendo passado o abismo do paganismo, o judaísmo é frequentemente uma voz solitária e
despercebida, levantada contra os instrumentos de conversão do homem em finais. Somos
um desafio à soberania de qualquer valor: seja o ego, o estado, a natureza ou a beleza. O
judaísmo perturbou a inflexibilidade e o isolacionismo dos valores, elevando o natural ao
moral, dissolvendo a estética no sagrado, procurando moldar o humano no padrão do
divino. Não só detestou a beleza quando produzida ao preço da justiça; rejeitou o ritual
quando realizado pelos moralmente corrompidos. Mesmo a própria religião, a adoração, não
era considerada absoluta. "Suas orações são uma abominação", disse Isaías aos exploradores
dos pobres. Afaste-se da sinagoga, escreveu o Gaon de Wilna para sua casa, se você não pode
se abster de inveja e fofocas sobre os vestidos de seus colegas.
Nada existe por si só, nada é válido por si só. O que parece ser um propósito é apenas uma
estação na estrada. Tudo está definido na dimensão do santo. Tudo é dotado de influência
em Deus.

Ser judeu é renunciar à lealdade aos deuses falsos; ser sensível à participação infinita de
Deus em todas as situações finitas; dar testemunho de Sua presença nas horas de Sua
ocultação; lembrar que o mundo não é redimido. Nascemos para ser uma resposta à Sua
pergunta. Nosso caminho é uma peregrinação ou um voo. Somos escolhidos para
permanecermos livres da paixão pelos triunfos mundanos, para manter a independência da
histeria e das glórias enganosas; nunca se render ao esplendor, mesmo ao preço de outros
estranhos na moda.
É isso que queremos dizer com o termo espiritual: é a referência ao transcendente em nossa
própria existência, a direção do Aqui em direção ao Além. É a força extática que agita todos
os nossos objetivos, resgatando valores da estreiteza do ser em si mesmos, transformando
chegadas em novas peregrinações, novos avanços. É uma tendência onipresente que contém
e transcende todos os valores, um processo sem fim, o movimento ascendente do ser. O
espiritual não é algo que possuímos, mas algo em que podemos compartilhar. Não o
possuímos; podemos ser possuídos por isso. Quando a percebemos, é como se a nossa mente
estivesse planando por um tempo com uma corrente eterna, na qual nossas idéias se tornam
conhecimento varrido além de si.
É impossível apreender o espírito em si mesmo. O espírito é uma direção, a volta de todos os
seres a Deus: teotropismo. É sempre mais do que - e superior ao - o que somos e sabemos.
O ESPÍRITO DO JUDAÍSMO
Existe uma expressão única para o espírito do judaísmo? Existe um termo que transmitisse
sua natureza singular?
Vamos voltar ao texto dos Dez Mandamentos, o monumento mais representativo do ensino
judaico, e ver se esse termo pode ser encontrado. Os Dez Mandamentos foram traduzidos
para todas as línguas e seu vocabulário tornou-se parte da literatura de todas as
nações. Lendo esse texto famoso em qualquer tradução, grego, latim ou inglês, somos
surpreendidos por um fato surpreendente. Todas as palavras do texto hebraico foram
facilmente traduzidas por equivalentes em inglês. Há uma palavra para pesel : uma imagem
esculpida; há palavras para shamayim, por exemplo, e erets: céu e terra. O texto inteiro foi
fielmente traduzido para o inglês e, no entanto, parece lido originalmente em inglês. Mas eis
que eis! Há uma palavra hebraica para a qual nenhum equivalente em inglês foi encontrado
e que não foi traduzido: sábado. “Lembre-se do dia do sábado.” No grego da Septuaginta,
lemos o sábado; no latim do Vulgate Sabbatum; no Shabbatha aramaico ; na versão King
James, o sábado.
Talvez o sábado seja a ideia que expressa o que é mais característico do judaísmo.
O que é o sábado? Um lembrete da realeza de todo homem; uma abolição da distinção entre
2

senhor e escravo, rico e pobre, sucesso e fracasso. Celebrar o sábado é experimentar a


independência última da civilização e da sociedade, das realizações e da ansiedade. O sábado
é uma personificação da crença de que todos os homens são iguais e que a igualdade dos
homens significa a nobreza dos homens. O maior pecado do homem é esquecer que ele é um
príncipe.
O sábado é uma garantia de que o espírito é maior que o universo, que além do bem é o
santo. O universo foi criado em seis dias, mas o clímax da criação foi o sétimo dia. As coisas
que surgem nos seis dias são boas, mas o sétimo dia é santo. O sábado é santidade no tempo.
O que é o sábado? A presença da eternidade, um momento de majestade, o brilho da
alegria. A alma é aprimorada, o tempo é uma delícia e a interioridade, uma suprema
recompensa. A indignação é sentida como uma profanação do dia e contesta o suicídio da
alma adicional da pessoa. O homem não fica sozinho, ele vive na presença do dia.
A ARTE DE SUPERAR A CIVILIZAÇÃO
Levante os olhos e veja: quem os criou. Seis dias por semana, estamos empenhados em
conquistar as forças da natureza, nas artes da civilização. O sétimo dia é dedicado à
lembrança da criação e à lembrança da redenção, à libertação de Israel do Egito, ao êxodo de
uma grande civilização para um deserto, onde a palavra de Deus foi dada. Por nossos atos de
trabalho durante os seis dias, participamos das obras da história; santificando o sétimo dia,
somos lembrados dos atos que superam, enobrecem e redimem a história.
O mundo depende da criação, e o valor da história depende da redenção. Ser judeu é afirmar
o mundo sem ser escravizado por ele; fazer parte da civilização e ir além dela; conquistar o
espaço e santificar o tempo. O judaísmo é a arte de superar a civilização, a santificação do
tempo, a santificação da história.
A civilização está em julgamento. Seu futuro dependerá de quanto do sábado penetrará em
seu espírito.
O sábado, como vivido pelo homem, não pode sobreviver no exílio, um estranho solitário
entre os dias de palavrões. Precisa da companhia dos outros dias. Todos os dias da semana
devem ser espiritualmente consistentes com o sétimo dia. Mesmo que não possamos
alcançar um plano em que toda a nossa vida seja uma peregrinação ao sétimo dia, o
pensamento e a apreciação do que o dia pode nos trazer devem estar sempre presentes em
nossas mentes. O sábado é o contraponto da vida; a melodia sustentada por todas as
agitações e vicissitudes que ameaçam nossa consciência; nossa consciência da presença de
Deus no mundo. Ensina-nos a sentir as delícias do espírito, as alegrias do bem, a grandeza de
viver diante da eternidade.
O que é o sábado entre os dias, o homem consagrado, o talmid chacham, está entre nós, o
povo comum. O homem consagrado é aquele que sabe santificar o tempo. Não enganado pelo
esplendor do espaço, ele permanece atento à tangente divina na roda giratória da vida.
O sábado é mais do que um dia, mais do que um nome para a sétima parte da semana. É a
eternidade dentro do tempo, o subsolo espiritual da história.
Na linguagem dos
judeus, subespécie viva aeternitatis significa subespécie viva Sabbatis. Toda sexta-feira,
devemos acender as luzes da alma, aumentar nossa misericórdia, aprofundar nossa
sensibilidade.
O sábado é um dia, Shabbesdikeit é o que deve permear todos os nossos dias. Shabbesdikeit é
a espiritualidade, o epítome e o espírito do judaísmo.
O grande sonho do judaísmo não é criar sacerdotes, mas um povo de sacerdotes; consagrar
todos os homens, não apenas alguns homens.
“E por que a tribo de Levi não recebeu uma participação na terra de Israel? ... Porque foi
dedicado à adoração a Deus e Seu ministério. A vocação da tribo de Levi era ensinar à
multidão os caminhos retos do Senhor e Seus justos julgamentos. Mas não somente a tribo
de Levi foi consagrada assim. Todo ser humano nascido neste mundo cujo espírito o agita e
cujo intelecto o guia a dedicar-se ao Senhor, a fim de ministrar a Ele, adorá-Lo e conhecê-Lo,
e que age em conformidade com o desígnio de Deus e se desonra. os caminhos tortuosos que
os homens procuraram tornam-se santificados com suprema santidade. ” 3

NOTAS DO CAPÍTULO 42
1
Veja acima, p. 326
2
Compare AJ Heschel, o sábado.
3
Maimonides, Mishneh Torá , Shemitah ve-Yobel, 13, 12-13.

43
O povo de Israel
O significado da existência judaica
Há um alto custo de vida a ser pago por um judeu. Ele precisa ser exaltado para ser normal
em um mundo que não é propício nem simpatizante à sua sobrevivência. Alguns de nós,
cansados de sacrifício e esforço, costumam se perguntar: a existência judaica vale o
preço? Outros são vencidos pelo pânico; eles estão perplexos e desesperados de
recuperação.
O significado da existência judaica, o principal tema de qualquer filosofia judaica, é
desconcertante. Ajustá-lo à estrutura de predileções intelectuais pessoais ou da moda atual
de nosso tempo seria uma distorção. A reivindicação de Israel deve ser reconhecida antes
de tentar uma interpretação. Como o oceano é mais do que aquilo que sabemos, o judaísmo
supera o conteúdo de todas as filosofias dele. Nós não o inventamos. Podemos aceitar ou
rejeitar, mas não devemos distorcê-lo.
É como indivíduo que sou movido por uma ansiedade pelo significado da minha existência
como judeu. No entanto, quando começo a refletir sobre isso, meu tema não é o problema de
um judeu, mas de todos os judeus. E quanto mais profundamente sondo, mais fortemente
percebo o alcance do problema: ele abrange não apenas os judeus do presente, mas também
os do passado e os do futuro, o significado da existência judaica em todas as épocas.
O que está em jogo em nossas vidas é mais do que o destino de uma geração. Neste
momento nós , os vivos, somos Israel. As tarefas iniciadas pelos patriarcas e profetas, e
realizadas por inúmeros judeus do passado, agora são confiadas a nós. Nenhum outro grupo
os substituiu. Nós somos o único canal da tradição judaica, aqueles que devem salvar o
judaísmo do esquecimento, aqueles que devem entregar todo o passado às gerações
vindouras. Somos os últimos, os moribundos, os judeus, ou somos aqueles que darão nova
vida à nossa tradição. Raramente em nossa história, tanto dependia de uma
geração. Perderemos ou enriqueceremos o legado das eras.
PENSAR COMPATÍVEL COM NOSSO DESTINO
O entendimento do judaísmo não pode ser alcançado no conforto de jogar um jogo de xadrez
de teorias. Somente idéias que sejam significativas para aqueles que estão mergulhados na
miséria podem ser aceitas como princípios por aqueles que residem em segurança. Ao tentar
entender a existência judaica, um filósofo judeu deve buscar um acordo com os homens do
Sinai, bem como com o povo de Auschwitz.
Somos as pessoas mais desafiadas sob o sol. Nossa existência é supérflua ou indispensável
ao mundo; é trágico ou santo ser judeu.
É uma questão de imensa responsabilidade que nós, aqui e professores judeus em todos os
lugares, nos comprometemos a incutir em nossa juventude a vontade de sermos judeus hoje,
amanhã e sempre e sempre. A menos que ser judeu seja de significado absoluto, como
podemos justificar o preço final que nosso povo era frequentemente forçado a pagar ao longo
de sua história? Avaliar o judaísmo com sobriedade e perspicácia é estabelecê-lo como um
bem preferido, se necessário, a qualquer alternativa que possamos enfrentar.
A tarefa da filosofia judaica hoje em dia não é apenas descrever a essência, mas também
expor a relevância universal do judaísmo, o rumo de suas demandas sobre a chance do
homem permanecer humano. Trazer à luz o esplendor solitário do pensamento judaico,
transmitir o sabor da eternidade em nossa vida diária é a maior ajuda que podemos prestar
ao homem de nosso tempo que caiu tão baixo que nem sequer é capaz de se envergonhar do
que aconteceu em os dias dele.

Não nascemos por mero acaso como subproduto de uma migração de nações ou na
obscuridade de um passado primitivo. A visão de Deus de Israel veio primeiro e só então
viemos ao mundo. Fomos formados de acordo com uma intenção e em prol de um
propósito. Nossas almas tremem com o eco de experiências inesquecíveis e com a sublime
expectativa de nossa própria resposta. Ser judeu é estar comprometido com a experiência de
grandes idéias. A tarefa da filosofia judaica é formular não apenas essas idéias, mas também
a profundidade desse compromisso em um pensamento vívido e consistente. A tarefa da
filosofia judaica é tornar nosso pensamento compatível com o nosso destino.
A vida parece sombria, se não refletida no que é mais que a vida. Nada pode ser considerado
valioso a menos que seja avaliado em relação a algo de maior valor. A sobrevivência do
homem depende da convicção de que há algo que vale o preço da vida. Depende de um senso
de supremacia do que é duradouro. Esse sentimento de convicção pode estar adormecido,
mas desperta quando desafiado. Em algumas pessoas, vive como um desejo esporádico; em
outros, é uma preocupação permanente.
O que aprendemos da história judaica é que, se um homem não é mais que humano, então
ele é menos que humano. O judaísmo é uma tentativa de provar que, para ser homem, você
precisa ser mais que um homem, que, para ser um povo, precisamos ser mais que um
povo. Israel foi feito para ser um "povo santo". Essa é a essência de sua dignidade e a essência
de seu mérito. O judaísmo é um elo com a eternidade, parentesco com a realidade última.
Um senso de contato com o supremo amanhece sobre a maioria das pessoas quando sua
autoconfiança é varrida pela miséria violenta. O judaísmo é a tentativa de instilar em nós
esse sentido como uma consciência cotidiana. Isso nos leva a considerar a injustiça como
uma calamidade metafísica, a sentir o significado divino da felicidade humana, a ficar um
pouco acima do crepúsculo do eu, permitindo-nos sentir o eterno dentro do temporal.
Somos dotados da consciência de estarmos envolvidos em uma história que transcende o
tempo e suas glórias ilusórias. Somos ensinados a sentir os nós da vida em que o trivial se
entrelaça com o sublime. Não há fim para nossa experiência da grandeza espiritual, da
seriedade divina da vida humana. Nossas flores podem ser esmagadas, mas somos
sustentados pela fé que vem do centro de nossas raízes. Não somos enganados pelo óbvio,
sabendo que todo prazer é apenas um pretexto para acrescentar força ao que está além da
alegria e do sofrimento. Sabemos que nenhuma hora é a última hora, que o mundo é mais
que o mundo.
ISRAEL - UMA ORDEM ESPIRITUAL
Por que nosso pertencimento ao povo judeu é uma relação sagrada? Israel é
uma ordem espiritual na qual o humano e o supremo, o natural e o santo entram em uma
aliança duradoura, na qual o parentesco com Deus não é uma aspiração, mas uma realidade
do destino. Para nós judeus, não pode haver comunhão com Deus sem a comunhão com o
povo de Israel. Abandonando Israel, abandonamos a Deus.
A existência judaica não é apenas a adesão a doutrinas e observâncias particulares, mas
principalmente os que vivem na ordem espiritual do povo judeu, que vivem nos judeus do
passado e com os judeus do presente. Não é apenas uma certa qualidade nas almas dos
indivíduos, mas principalmente a existência da comunidade de Israel. Não é uma experiência
nem um credo, nem a posse de traços psíquicos nem a aceitação de uma doutrina teológica,
mas o viver em uma dimensão santa, em uma ordem espiritual. Adquirimos nossa parte em
santidade vivendo na comunidade judaica. O que fazemos como indivíduos é um episódio
trivial, o que alcançamos como Israel nos faz crescer no infinito.
O significado da história é ser um santuário no tempo, e cada um de nós tem sua parte no
grande ritual. O significado último das ações humanas não se restringe à vida de quem as
pratica e ao momento particular em que elas ocorrem.
A vida religiosa não é apenas uma preocupação particular. Nossa própria vida é um
movimento na sinfonia de eras. Somos ensinados a orar e a viver na primeira pessoa do
plural. Fazemos um mitsvá "em nome de todo o Israel". Atuamos tanto como indivíduos
quanto como comunidade de Israel. Todas as gerações estão presentes, por assim dizer, em
todos os momentos.
Israel é a árvore, nós somos as folhas. É o apego ao caule que nos mantém vivos. Talvez nunca
tenha havido mais necessidade do judaísmo do que em nossos dias, um tempo em que muitas
esperanças queridas da humanidade estão esmagadas. Devemos ser pioneiros como nossos
pais três mil anos atrás. O futuro de todos os homens depende da percepção de que o senso
de santidade é tão vital quanto a saúde. Seguindo o estilo de vida judaico, mantemos esse
sentido e preservamos a luz para as visões futuras da humanidade.
É nosso destino viver para o que é mais do que nós mesmos. Nossa própria existência é um
símbolo incomparável de tal aspiração. Sendo o que somos, ou seja, judeus, queremos dizer
mais à humanidade do que por qualquer serviço particular que possamos prestar.
Temos fé em Deus e fé em Israel. Embora alguns de seus filhos tenham se desviado, Israel
continua sendo o companheiro de Deus. Não podemos odiar o que Deus ama. O rabino Arão,
o Grande, costumava dizer: "Gostaria de poder amar o maior santo, como o Senhor ama o
maior patife".
Israel existe não para ser, mas para nutrir a visão de Deus. Nossa fé pode ser tensa, mas nosso
destino está ancorado no máximo. Quem pode estabelecer o resultado da nossa
história? Fora da maravilha que viemos e para a maravilha retornaremos.
A DIGNIDADE DE ISRAEL
Pertencer a Israel é em si um ato espiritual. É absolutamente inconveniente ser judeu. A
própria sobrevivência de nosso povo é um haxixe infantil. Vivemos apesar do perigo. Nossa
própria existência é uma recusa em nos render à normalidade, à segurança e ao
conforto. Especialistas em assimilação, os judeus poderiam ter desaparecido antes mesmo
que os nomes das nações modernas fossem conhecidos. Ainda somos pacientes e nutrimos a
vontade de perpetuar nossa essência.
Somos judeus como somos homens. A alternativa à nossa existência como judeus é suicídio
espiritual, desaparecimento. É não uma mudança em outra coisa. O judaísmo tem aliados,
mas não tem substitutos. A fé judaica consiste em apego a Deus, apego à Torá e apego a Israel.
Existe uma associação única entre o povo e a terra de Israel. Mesmo antes de Israel se tornar
um povo, a terra é predeterminada para isso. O que testemunhamos em nossos dias é um
lembrete do poder da misteriosa promessa de Deus a Abraão e um testemunho do fato de
que o povo cumpriu sua promessa: "Se eu te esquecer, ó Jerusalém, deixe minha mão direita
murchar" (Salmos 137: 5). O judeu em cujo coração morre o amor de Sião está fadado a
perder a fé no Deus de Abraão, que deu a terra como penhor da redenção de todos os homens.
O povo de Israel gemeu de angústia. Fora do Egito, terra de abundante comida, foram levados
ao deserto. Suas almas foram secas; não havia nada: carne para comer, água para
beber. Tudo o que eles tinham era uma promessa: serem conduzidos à terra do leite e do
mel. Eles estavam quase prontos para apedrejar Moisés. "Por que você nos trouxe do Egito
para matar nós e nossos filhos e nosso gado com sede?", Gritaram eles. Mas, depois que eles
adoraram o bezerro de ouro - quando Deus decidiu se separar de Seu povo, não para habitar
mais no meio deles, mas para confiar a um anjo a tarefa de levá-los para fora da selva para a
Terra Prometida - Moisés exclamou: "Se você não for conosco, não nos tire do deserto"
(Êxodo 33:15). Talvez esse seja o segredo de nossa história: escolher permanecer no deserto,
em vez de ser abandonado por Ele.
A experiência de Deus em Israel não evoluiu da busca. Israel não descobriu Deus. Israel foi
descoberto por Deus. O judaísmo é a busca de Deus pelo homem. A Bíblia é um registro da
abordagem de Deus ao Seu povo. Mais declarações são encontradas na Bíblia sobre o amor
de Deus por Israel do que sobre o amor de Israel por Deus.
Nós não escolhemos Deus; Ele nos escolheu. Não existe um conceito de Deus escolhido, mas
existe a idéia de um povo escolhido. A idéia de um povo escolhido não sugere a preferência
por um povo baseado na discriminação entre vários povos. Não dizemos que somos um povo
superior. O "povo escolhido" significa um povo abordado e escolhido por Deus. O significado
deste termo é genuíno em relação a Deus, e não em relação a outros povos. Significa não uma
qualidade inerente às pessoas, mas um relacionamento entre as pessoas e Deus.
Assediados, perseguidos com inimizade e errado, nossos pais continuaram a sentir alegria
por serem judeus. “Estamos felizes. Quão bom é o nosso destino, quão agradável é o nosso
destino, quão bela é a nossa herança. ”Qual é a fonte desse sentimento?
A busca pela imortalidade é comum a todos os homens. Para a maioria deles, a pergunta
irritante aponta para o futuro. Os judeus pensam não apenas no fim, mas também no
começo. Como partes de Israel, somos dotados de uma consciência muito rara e preciosa, a
consciência de que não vivemos um vazio. Nunca sofremos de angústia angustiante e medo
de vagar no vazio do tempo. Nós possuímos o passado e, portanto, não temos medo do que
deve ser. Lembramos de onde viemos. Fomos convocados e não podemos esquecê-lo,
enquanto enrolamos o relógio da história eterna. Lembramos do começo e acreditamos no
fim. Vivemos entre dois pólos históricos: o Sinai e o Reino de Deus.

Sobre as tuas muralhas, ó Jerusalém,


pus vigias,
todo o dia e toda a noite
Eles nunca se calarão.
Vocês que incitam o Senhor a lembrar:
Não descansem,
e não descansem
até que ele estabeleça Jerusalém,
e faça disso um louvor na terra.
Isaías 62: 6-7
Livros por Abraham Joshua Heschet
GRANDEUR MORAL E
AUDACIDADE ESPIRITUAL A SABEDORIA DE HESCHEL
UMA PAIXÃO PELA VERDADE
ISRAEL: UM ECO DE ETERNIDADE
A INSEGURANÇA DA LIBERDADE
QUEM É O HOMEM?
TEOLOGIA DO JUDAÍSMO ANTIGO (dois volumes)
O SÁBADO
A TERRA É A BUSCA DO HOMEM DO SENHOR
POR DEUS
DEUS EM BUSCA DO HOMEM O
HOMEM NÃO ESTÁ SOZINHO
MAIMÔNIDOS
ABRAVANEL
A BUSCA DA CERTEZA NA FILOSOFIA DA SAADIA
OS PROFETAS

Reconhecimento
O presente volume é uma continuação e aplicação de algumas das idéias no homem não está
sozinho.
Por sugestões valiosas, o autor agradece ao professor Maurice Friedman, ao professor Fritz
Kaufmann e ao rabino Jacob Riemer, que leram todo ou parte do manuscrito. Pela calorosa
amizade do Sr. Roger W. Straus Jr., estou profundamente endividado.
Índice
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termos de interesse. Para sua referência, os termos que aparecem no índice de impressão
estão listados abaixo.

Capacidade de cumprir
Absolute
abstenções
Aceitação
Accountability
Act, Atos
analogia em
vicário
Ação
Actividade, subconsciente
Adoração
advérbios
Após-crença
Agada
Agnosticism
Alienação
intenções estrangeiro
pensamentos estranhos
alegorização
Alusões
alusão
espanto
radical.
Resposta da
análise de ambiguidade

final
pessoal
Anthropodicy
Antropologia, de Deus
Anthropomorphism
Anti-agadic atitude
Ansiedade
Valorização
Approach, sinóptica
Arrogância
arte
artista, artístico
arte de ser
arte de viver
Perguntado, sendo
Assistência, divina
Astonishment
Ateísmo
atomização
Expiação, Dia do
Anexo
Atenção
Autoridade
autoria
Autonomia
consciência
Awe
Inadequação de
Beauty
Behaviorism, Ser religioso

mistério da
maravilha de
Sendo conhecido
Crença
Acreditar,
ato de
conceito de
conteúdo de
incapacidade de acreditar
Bíblia das Benedictions

como
origem literária da
presença de Deus em
relevância
Intolerância
Calosidade
Canonização
Cuidado, divino
Categorias
Causa, casualidade
Cerimônias
Certeza
Desafio
Caridade
Escolha
Pessoas escolhidas
Cronologia
Círculo
Civilização
independência de
Cognição de reivindicação

verbal conceitual

Comprometimento
final
Comunicação
comunitária
Compaixão
Compatibilidade
Ocultação
presunção
de concentração
Conceitos
Concern
religioso
divino contínuo

Confusão
Consciência
Consciência
religioso
Constância
Contingência
Contrição
Co-revelação
Corrupção
Cosmos Criação de
Aliança Criatividade Credo Crise Crítica Crítica, Crueldade Bíblica Cult Cultura Curiosidade

Dias, fim dos atos de dedicação à decisão das


trevas

êxtase da
santidade da
imanência de Deus à
semelhança na
ciência de
Definições
Demanda Descrições da
Teologia da Profundidade Design, argumento
de Desejos Desespero Desapego Determinismo Diálogo Dicotomia Dignidade Disciplina De
sinteresse Distinções Doutrinas Dogmas Dúvida Impulsão , dever do mal
Seriedade, divina
Terra, mãe
Educação
Ego
Egocentridty
egoísmos
Eleição, de Israel
Constrangimento
final
Empatia
empirismo
Engagement
escravização, interior
escatológica
Ética
Eventos
mal
exagero, Theological
existência, o mistério de
Conveniência
Experience, mística
Explicação
Expressão
Expressão, verbal
poder de
inadequação de
Expressões indicativas
Olho do coração

autenticidade de
linguagem de
precedência de
premissa de
raiz de maneira
vicária com os Profetas

Fidelidade
Falácia, dogmático
Destino
Fatalismo
Vôo
Liberdade
Fundamentalistas
Generalização
Glória a
Deus, preocupação com
anseio pelo
êxtase da
ocultação da
imanência de,
na natureza, a
semelhança da busca do homem
vivo
pelo
parceiro da
presença da Bíblia na
realidade da
busca de
buscar a
segregação do
silêncio das
coisas através da
compreensão de uma vontade
desconhecida
de
A busca de Deus
Bem, o
bem e o mal
Graça
Grandeur
Grécia
Orientação
Culpa
Hábito
Hábito, valor da
Halacha
Felicidade
helênica (veja também Grécia)
Coração, fracasso do
coração, dureza do
coração, obstinação da história
heterônoma História, religião da santidade Santo, expiação pela honestidade Honestidade,
intelectual Esperança Horror Humildade Hipocrisia
Idol
Idolatria
ignorância
Illusion
Immediacy
Imortalidade
Impulse, mal
Incapacidade para acreditar
incapacidade de sentir
inclinação, mal
Incompatibilidade-219Inconceivability
Endividamento
Indicações
Inefável
sensação do
Injustice
Insanity, produto do
Insight, momentos de
final pré-
conceitual
Instituições
Intelectualismo
Intenção
geral
Integridade
intelectual
Interesses
investido

Intrusão de Intimação , Invenção da


Intuição do Mal
, Isolamento Pedagógico do Interior do
Envolvimento , Falácia de Israel, eleição de
Joy
Judaísmo, espírito de
Justiça

Kavanah
Kavanah, além do conhecimento da bondade de
Keva por conhecimento

pré- simbólico pré-


conceitual
Direito da Linguagem
, Leis

immanente moral
imposta
Legislador
Leap of action
Legalismo
Legislação, revelada
Liberdade Literatura de
espírito literal
, Vida nacional da
liturgia
, problema fora.
Solidão
Amor
Lealdade
Homem, Deus em busca de
problema de
busca pela
espera pelo
valor
Grandeza perigosa do homem
Martírio
Significado, mínimo de
busca de final
transcendente

Significados, preconcebidas
Homens, igualdade de
Meta-ética
Meta-história
Metáfora
Metáfise
Metasymbolic
Memória
Mercy
Messias, messiânico
Midrash
Militarismo
Milagres, escondido
Miséria
Mitsvah
Mitsvot
Momentos
Moral, Moralidade
A moralidade, isolamento de
Mãe-fixação
Motive, motivação
Motives, ulterior
Música
Mistério
além da
mente
Místico
Nome, Natureza Inefável

contingência de
dessanificação da
imanência de Deus nas
leis de
Necessidades
Necessárias
conversão de
satisfação de
Normas
Neural
Nogab de Negação

Obediência
Objetivação
Observância
Ocultismo
Onipotência
Unidade
Ontologia
Ordem
contingência de
espiritual
ortopraxis
simplificações
Paganismo
Pan-halachism
Paradox
Partners
Parceria
Participation
Pathos
Pessoas, Santos
Perspectivas
Perspectivas
Filosofia
moral
Piedade
Piedade
Prazer
Penhor
Poder
Poesia
Polaridade
Politeísmo
Louvor
parentesco da
premissa de
Oração
Predousness
Preconceitos
Preconceito
Preconceito
Premissa, Grande
Presença
Presente, a ser
pressuposto, Ontológico
Pride Pride Pride
Sacerdote Problema de
Privacidade

final
religioso especulativo
Processo de
prova
Provas
Providence
Purificação
Pergunta, Deus
de espanto
final
Questões
esquecido
Rationalism
Rationalists
Reason
além da
adoração de
Reavaliação, religião crítica da regularidade da
redenção , eclipse de

filosofia de
raiz de

Lembretes de lembrança
Remorso
Arrependimento
Respeito, teologia da
resposta
Responsabilidade
Restrições
Ressurreição
Retorno
Reverência
Direito, Direitos
e errado

Homem certo e errado , rotina da rotina de rituais de


justiça

Sábado
Sacredness
Sacrifício
Salvação
Santificação, consulte Santidade
Santidade, Santificação
satisfação
direito de
Ciência
científicos
Cientistas
Scientism
Escolástica
Auto
auto-engrandecimento
auto-consciência
auto-contentamento
auto-controle
auto-engano
auto-dedicação
auto-ilusão
auto-negação
auto-desprendimento
auto-anulação
Self-engajamento
auto-evidência
auto-exame
auto-expressão
Auto- esquecimento
Auto-indulgência
Auto-interesse
Auto-mortificação
Auto-reflexão
Auto-justiça
Auto-sacrifício
Auto-exame
Auto-procura
Auto-suficiência
Auto-superação
Auto-suspeita
Auto- suspeita Auto-compreensão Sentimento de
egoísmo

para o comum
para o distinto
Sensibilidade
suspenso
Sensibilidade
Sétimo Dia
Vergonha Significado
Shechisah
, último
Silêncio
Simplicidade
Pecado
raiz de
Pecadores Situação de
pecado consciente do
pecado

humano
Situação,
Sociedade Sociedade
Solipsismo
Alma, simplicidade do
Espaço
coisas de
Especulação
especulativa
Speech
Espírito
Espiritual
Spirtualism
Espiritualidade
Espírito Santo
Espontaneidade
Standards
Estado
Estudo
subconsciente
Assunto, final
Sublime
sofrimento
suggestiveness
Superstition
Supremo aquiescência
Survival
Suspeita
Symbiosis
Símbolo
simpatia
Sinagoga
Ensino,
Temperança
Templo Teologia Teodicéia de Teshuvá

conceitual pan-haláchico
negativo

Pensamento do teotropismo

agir de
arte
bíblica
conceitual
conteúdo
criativo
discursiva
ellyptic
forma de
maneira grega de
judaica
religiosa
situacional
vicária
forma de
wishful
Tempo
santidade na
religião do
papel do
atemporal
Horários
Torá, tradição não revelada

respeito por
Transcendência
Transformando a Verdade da
Transgressão

Ultimacy
Understanding
falso contínuo
Eufemismo
Único,
Unity
Universe
Urgency
Utilitarian
Imprecisão
de validade
Valores
isolacionismo de

Verbalização da vaidade Via eminentiae Via negationis Virtue Vulgarity

Assista
Will
Divino
Maravilha da Sabedoria

premissa
senso de
vontade de
Wonder
Words
santidade em
indicativo
Works
World
vir
Adoração
casa do
objeto de

Notas
uma
Sobre a atitude de Spinoza, veja p. 321 f.
b
Veja a pág. 129
c
Veja acima, p. 48 e f.
d
"Marido" ou "mestre" é considerado sinônimo de Deus.
e
Veja acima, p. 104
f
Veja acima, pp. 293-97.
g
Veja acima, p. 209 f.
Copyright © 1955 por Abraham Joshua Heschel, renovado © 1983 por Sylvia Heschel
Todos os direitos reservados

Farrar, Straus e Giroux


18 West 18th Street, Nova York 10011

Publicado em 1955 por Farrar, Straus e Cudahy


(agora Farrar, Straus e Giroux)
www.fsgbooks.com

eISBN 9781429967624
Primeira edição do e-livro: agosto de 2011

Primeira edição de bolso, 1976


A Biblioteca do Congresso catalogou a edição de capa dura da seguinte forma: Heschel,
Abraham Joshua, 1907—
Deus em busca do homem; uma filosofia do judaísmo. p. cm.
1. Judaísmo. 2. Religião - Filosofia. I. Título.
BM560 .H46
55011188
Brochura ISBN-13: 978-0-374-51331-3
Brochura ISBN-10: 0-374-51331-7

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