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Setor policial Sul, Área 5 _ Quadra 01 - Bloco 2 An r

CEP: 70610-200 - Brasllia-DF


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AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA


Setor Policial Sul, Área 5 - Quadra 1 - Bloco A-2° Andar
CEP: 70610-200 - Brasília-DF
AllVIDADE D
Home page: www.abin.gov.br
Email: administrador@abin.gov.br l_Ir ~.I A.

NO BRASIL

Agência Brasileira de Inteligência


Brasília, 1999
AGRADECIMENTOS

É importante documentar que o presente livro só pôde ser


elaborado em virtude da cooperação recebida de inúmeras outras
pessoas, que, ao serem solicitadas, prontamente prestaram seu apoio,
Agência Brasileira de Inteligêris;ia facilitando o acesso aos documentos pedidos e concedendo importantes
Edição: Assessoria de Relações Extemas I SSI
depoimentos.
Impressão: Centro Gráfico
Computação Gráfica: Novidéia Comunicação Visual
Capa: Carlito Dutra Destaco, inicialmente, o General-de-Divisão Alberto Mendes
Cardoso, Chefe da Casa Militar, pela confiança depositada em respaldar
a entrega da missão, e o Coronel Ariel Rocha de Cunto, Subsecretário de
Inteligência, idealizador da obra, pela distinção que me conferiu.

Dentre os incontáveis colaboradores, gostaria de ressaltar o


General Manoel Augusto Teixeira, pelos dados esclarecedores referentes
à sua passagem pela Direção da Escola Nacional de Informações - EsNI;
Brasil. Presidência da República. Agência Brasileira o Coronel Milton Masseli Duarte e o Sub-Oficial Raimundo de Souza
de Inteligência Bastos, pelos dados marcantes da fase do Serviço Federal de Informações
A história da atividade de inteligência no Brasil I
e Contra- Informações - SFI CI e de sua transição para o Serviço Nacional
Lúcio Sérgio Porto Oliveira. --- Brasília: ABIN, 1999.
de Informações - SNI; o Coronel Winnetou de Carvalho Espíndola e o
130 páginas Engenheiro Otávio Carlos Cunha da Silva, pelas informações pessoais

Bibliografia
sobre o Centro de Pesquisas para o Desenvolvimento da Segurança das
Comunicações - CEPESC; o Capitão-de-Fragata Márcio Bonifácio
1. Serviço Secreto - Brasil - História I. Oliveira Moraes, pelos dados sobre os Cursos de Informações e de Inteligência
Lúcio Sérgio Porto 11. Título '
realizados pela Escola Superior de Guerra - ESG; e o Ministro José

CDU - 355.40(091)
Antonio de Castelo Branco de Macedo Soares, pelos registros históricos
da origem da diplomacia brasileira.
É importante nomear todos os demais. Gostaria de destacar, ainda,
a Dr.a Maria Cristina Moraes Pereira e sua competente equipe da
SUMÁRIO
Biblioteca da Subsecretaria de Inteligência; a Professora Fátima Loppi,
1. PREÂMBULO 9
pela revisão; o Analista de Informações Miguel Alexandre, pela revisão
2. PREÂMBULO DO AUTOR 13
dos fatos históricos; os Professores José Athos Irigaray dos Santos e
Gecy Tenório de Trancoso Viana, pelos trabalhos de finalização da 3. ANTECEDENTES 21
edição do livro; e aqueles que, anonimamente, de algum modo, 4. O SERVIÇO FEDERAL DE INFORMAÇÕES
colaboraram para a feitura âa obra. A todos os agradecimentos e o desejo
E CONTRA-INFORMAÇÕES 27
de continuados sucessos.
4.1 O caso Leben 39
Por último, agradeço à minha esposa Afonsina e aos meus filhos 5. O SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES 47
Monaliza, Daniel, Rafael, Israel e Luciana, que sempre me incentivaram 5.1 A Escola Nacional de Informações 55
e compreenderam o motivo de minha intensa dedicação ao livro, em
5.1.1 Perfil da EsNI 63
detrimento de momentos de plena convivência familiar.
5.2 O Sistema Nacional de Informações 73
5.3 O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a

Segurança das Comunicações 77

5.4 O Projeto SNI 83


5.5 O caso Novikov 87

5.6 O caso Mirtschink 97


5.7 O caso Yurkov 99
6. A SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS 105
7. A SUBSECRETARIA DE INTELIGÊNCIA 111
8. A AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA 115
9. CONCLUSÃO 127
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 129
1. PREÂMBULO

Por volta de 450-500 a.c., o primeiro tratadista de defesa do


Estado de quem se tem notícia escreveu em seu livro A Arte da Guerra:

"O que permite ao soberano esclarecido vencer e obter coisas


fora do alcance dos homens comuns são as informações oportunas."

"Informações dessa natureza não podem ser evocadas dos


espíritos; nem ser obtidas apenas da experiência, indutivamente; nem
por meio de cálculos dedutivos."

"...somente o governante esclarecido empregará os melhores


talentos para fins de Inteligência e, assim, obterá grandes resultados."

A tradução foi adaptada para os tempos modernos, mas a


essência do texto, preservada, destaca: 1) a importância da atividade de
Inteligência para a condução correta da ação governamental; 2) que
essa atividade deve ser exercida pelos "melhores talentos".

Quanto ao primeiro destaque, convém notar que, nesse nível


(da ação governamental), os conhecimentos produzidos pelos órgãos de
Inteligência devem ser de natureza estratégica, isto é, poder servir como
instrumento no processo decisório do Chefe de Governo na aprovação
ou correção das políticas e estratégias setoriais, sob o prisma da
segurança do Estado e da sociedade.

Em relação ao segundo - os "melhores talentos" -, dois devem ser


os enfoques. Um deles é a capacitação para o desempenho técnico da

9
atividade de Inteligência, área em que a doutrina, a lógica e a tecnologia A dificuldade em conhecer a realidade, particularmente no
prevalecem. O outro é a conscientização para a conduta ética na Brasil, sempre mereceu os reclamos das comunidades acadêmica e
mesma atividade, campo de preponderância da Moral, seja na jornalística, pois faltavam aos interessados fontes abertas, com
autovigilância, pelo profissional, seja na fiscalização, pela segurança registros precisos e cronologicamente estabelecidos, que
orgânica. "Trabalhai e Vigiai" seria o lema, quase bíblico, dos proporcionassem o pleno entendimento dos fatos e das situações que
componentes de uma organização de Inteligência de Estado. Este levaram os dirigentes nacionais a institucionalizá-la.
destaque significa, acim~ de tudo, o cuidado em preservar uma
atividade que deve ser essencialmente ética, fundamentada em um
Para suprir essa lacuna da memória nacional, na oportunidade
quadro de valores que cultuam a verdade sem conotações relativas, a
em que está sendo criada a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN,
honra e a conduta clara e sem subterfúgios. Representa o
julgou-se importante elaborar um documento oficial com a sua
reconhecimento do poder de que dispõe quem domina informações e a
chancela, registrando os dados mais significativos sobre a evolução
conseqüente necessidade de esse indivíduo não as manipular
distorcidamente nem as utilizar em proveito próprio ou de grupos que desse instrumento de Estado na História do Brasil.
não sejam destinatários ou clientes legais do seu trabalho.
Ao professor Lúcio Sérgio Porto Oliveira coube a missão de
O Brasil está em vias de abrir um novo capítulo da história de pesquisar, nas diversas e dispersas fontes documentais, as informações
sua Inteligência de Estado, oficialmente iniciada em 1927. Em breve, para concretizar este objetivo.
serão criados por lei o Sistema Brasileiro de Inteligência - SISBIN e seu
órgão central, a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN. Profissional de Inteligência, com expenencia adquirida nas
funções de instrutor e de pesquisador da extinta Escola Nacional de
A história da atividade de Inteligência no Brasil, para muitos, Informações - EsNI e de seu sucedâneo Centro de Formação de
tem sua origem na criação do Serviço Nacional de Informações - SNI, Aperfeiçoamento de Recursos Humanos - CEFARH, assim como no
em 1964. Essa visão incorreta acarretou desvio de percepção: a desempenho de outras diversas funções nos órgãos brasileiros de
vinculação da atividade com a política e a ideologia. Inteligência, efetuou exaustivas pesquisas e reuniu dados que lhe
permitiram formar o núcleo essencial para uma clara visão de toda a
Difícil era, até o momento, eliminar essas incorreções, uma vez trajetória da atividade de Inteligência no Brasil.
que os acervos documentais sempre foram de difícil acesso e, em sua
maioria, limitados ao período de vida do SNI. Sob uma mística própria e Em seu trabalho, privilegia a vertente estratégica da Inteligência ~
:If:. um rigoroso enfoque sigiloso, poucas têm sido as oportunidades de uma a identifica como importante instrumento de apoio ao planejamento e a
livre pesquisa sobre a atividade de Inteligência, mesmo em países com execução da política nacional, em seu mais elevado nível. O livro busca
sólida e longa tradição democrática.

10 11
registrar a evolução desse processo, fundamentando-se nos
2. PREÂMBULO DO AUTOR
documentos oficiais sobre a regulamentação da Inteligência ao longo
do tempo. Serviram, também, como fontes alternativas, depoimentos
ra ,'\.Jjc.:.f:) de pessoas que ocuparam funções de relevo nas estruturas da
GUERRA DO PARAGUAI
l' Inteligência de Estado, além de reportagens sobre fatos ou situações
verídicos na concepção do Serviço de Inteligência. Tendo em vista FORÇAS BRASILEIRAS

destinar-se à livre pesquisa, o conteúdo é ostensivo, apesar de conter


dados, em alguma época,-dassificados como sigilosos. "Quartel-general em Tuiu-Cuê, 24 de fevereiro de 1868

Percebe-se, ao longo do texto, a estreita ligação da atividade de Ordem do dia n.05.


Inteligência com a defesa dos interesses nacionais, significando que
sempre foi considerada pelos legisladores e por seus executores um Tendo assumido no dia 13 de janeiro próximo passado o comando-em-
instrumento da administração dos negócios do Estado democrático, chefe dos exércitos aliados em operações contra ogoverno do Paraguai, por se ter
auxiliar na tomada das decisões relacionada com a soberania e a retirado S. Exa. o Sr. General D. Bartolomeu Mitre, para Buenos Aires, a fim
integridade nacionais, com a segurança da sociedade e com o de tomar o mando supremo da república Argentina, cujo vice-presidente havia
patrimônio estratégico do País. falecido, deliberei desde logo percorrer toda a nossa linha, que se estende desde
o Chaco até além da vila do Pilar.
Essa nobre e estratégica destinação da Inteligência de Estado Assim o fiz, tendo examinado no Chaco todos os pontos ocupados pelas
impõe um rigoroso compromisso ético aos executantes e aos dirigentes nossas forças de terra, e reconhecido a natureza desse terreno, e dos adjacentes.
que a utilizam, pois lhes é dado, pela coletividade nacional, um Visitando a esquadra encouraçada, e tendo ido examinar de perto, e em
mandato a ser cumprido com a irrestrita observância da ordem jurídica
companhia do Exmo. Sr. Vice-almirante Barão de Inhaúma, as fortificações de
que estabelece seus fins e limites de ação. Esta é a síntese da mensagem
Humaitá, com ele conferenciei sobre as operações futuras, que deveriam ter por
que aABIN transmite à sociedade por meio do presente livro.
base movimentos simultâneos da esquadra e do exército.
Uma esquadrilha composta de vapores encouraçados, e dos três
monitores ultimamente vindos do Rio de Janeiro, procuraria, aproveitando-se
do crescimento das águas do rio Paraguai, tentar a passagem do Humaitá no
General-de-Divisão ALBERTO MENDES CARDOSO
dia 23 do corrente, entre duas ou três horas da madrugada, devendo antes
Chefe da Casa Militar da Presidência da República
passar o Curupaiti os referidos monitores, a fim de se reunirem à esquadra; o
que se efetuou às 11 horas da noite, pouco mais ou menos, do dia 13 do corrente

13
12
mês, com o maior denodo e felicidade, apesar do vivo fogo, que das baterias de do corrente houvesse, em seus acampamentos, grande e ostensivo movimento de
Curupaiti partiu, tendo apenas o monitor Rio Grande sido tocado por duas carretas, e de mais veículos de transportes, devendo a artilharia de campanha
balas, que produziram insignificante avaria. aparelhar e manobrar em diferentes direçõesi e que uma força considerável de
Recebendo aviso de que a enchente do rio havia parado, descendo esmo cavalaria, vinda do lado de S. Solano, procurasse o nosso flanco esquerdo, de
das águas já uma polegada, tornou-se necessário antecipar a passagem da modo que o inimigo a visse, e bem assim pudesse observar uma revista, que
esquadrilha no Humaitá, tendo eu e o Exmo Sr. Barão de Inhaúma concordado determinei passar na tarde desse mesmo dia a diferentes corpos das três armas
na nova designação do dia .19, entre duas, e três horas da madrugada. do exército, cuja parada convenientemente escolhi e designei.
No intuito de distrair a atenção do inimigo daquele ponto no momento Por mais de uma vez, e em diferentes datas anteriores, fiz operar
da passagem da esquadrilha, e de fazê-lo persuadir de que ia ser atacado por diversos reconhecimentos sobre uma fortificação do inimigo por ele levantada
nossas forças em suas linhas fortificadas do quadrilátero, ordenei que logo que na extrema esquerda de sua linha, e em grande proximidade do Humaitá,
fossem sentidos os tiros da esquadra, indicando o movimento da passagem, correspondendo sua posição à localidade em que se achavam atravessadas as
duas canhoneiras, mandadas estacionar na lagoa Pires, acompanhassem o correntes, que embaraçavam a passagem do rio.
bombardeio, que devia fazer a 2a grande divisão, procurando convergir seus De grande e reconhecida importância era sem dúvida essa
fogos para oPasso Pocu. fortificação, não só porque uma vasta e profunda lagoa que aborda pela
O 2° corpo do exército, sob o comando do Exmo. Sr. Marechal-de- retaguarda facilitava as comunicações com o Ch aco, como favorecia a
Campo Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, em Tuiut/~deveria ao mesmo tempo passagem do gado, que do interior pudesse viri era por isso que três largos
simular um ataque geral sobre as trincheiras inimigas, ameaçando penetrar no fossos e duas altas muralhas, onde estavam assestadas quinze peças de
ponto delas que parecesse mais fraco. diferentes calibres, guardavam e defendiam a fortificação, constituindo sua
O Exmo. Sr. General D.JuanA. Gelly y Obes e o Exmo. Sr. Brigadeiro guarnição ordinária dois batalhões de infantaria, um regimento de cavalaria,
D. Henrique Castro deviam também, na mesma ocasião, com as forças e o número de artilheiros suficientes para fazerem jogar todas aquelas bocas-
argentinas e orientais sob seus comandos, ameaçar o ângulo esquerdo do de-fogo.
quadrilátero, na proximidade do passo Canoas.
Essa fortificação finalmente protegia grandes e vastos armazéns,
O Exmo. Sr. Tenente-General Barão do Herval recebeu minhas cujos depósitos forneciam o Humaitá de munições de todo o gênero, de
instruções, para também fazer avançar as forças do 3° corpo de exército sobre as armamento e arreamento, e bem assim consideráveis e bem montadas fábricas
fortificações inimigas, e executar; por sua parte, contra a linha do quadrilátero de telha, e tijolo, com cujo produto se abasteciam as linhas fortificadas do
que lhe fica em frente, o mesmo movimento e manobra. inimigo.
Para que o inimigo robustecesse a crença de que por ali devia ser o assalto, pois, e destruição desse forte, e de todas as suas
atacado, expedi ordem a todos os corpos do exército para que durante o dia 18 depend~ . h .
enc/as, constituía parte essencial do plano de manobras, que eu av/a

14 15
concebido, e cuja execução deveria ter começo na noite do dia 18 e fim no dia 19
do corrente. Desta parte me encarreguei eu, organizando e dirigindo a coluna Conforme a descrição da ordem do dia do Marquês de Caxias,
de ataque, e comandando a ação em pessoa. extraída do livro de Antonio de Sena Madureira, Guerra do Paraguai, foi
Ao entrar da noite de 18 contramarcharam para a direita as forças de fundamental para o sucesso do combate a manobra de dissimulação
cavalaria, de que acima falei, e eram 11 horas em ponto dessa mesma noite narrada, tornando a utilização das informações levantadas, com vistas
quando saí do acampamento de Tuiu-Cuê, pondo-me à testa da coluna d~ a moldar os respectivos planos de operações, um mecanismo essencial
ataque organizada com as forças seguintes: 1a brigada de infantaria, para a vitória. No caso, de acordo ainda com a narrativa na ordem do
com~n~~da pelo coronelJoão do Rego Barros Falcão, e composta: do corpo dia, o combate culminou com o seguinte quadro:
prOVlsorlOde ativadores sob o comando do capitão Pedro Guilherme Meyer; do
16° batalhão de infantaria, comandado pelo tenente-coronel Antonio Tibúrcio "O inimigo perdeu seguramente mais de 1.000 homens, mortos,
Ferrei~a de Souza; e do 31° corpo de voluntários, comandado pelo major figurando entre estes o comandante geral da força, além de 24 prisioneiros, dos
]oaqUlm Antonio Fernandes de Assunção; da 3a brigada, comandada pelo quais fez parte um oficial de marinha, pertencente à guarnição de um dos dois
coronel Luiz]osé Pereira de Carvalho, formada: do 3° batalhão de infantaria vapores. Deixou além disso em nosso poder todas as 15peças de artilharia que
sob o comando do major Antonio Pedro de Oliveira, do 14° dito comandado pelo guarneciam o forte tomado: grande e considerável quantidade de armamento
tenente-coronel Manuel José de Menezes, e do 35° corpo de voluntários sob o de diferentes espécies, e de arreamentos, além de depósitos atulhados de
comando do tenente-coronel Augusto César da Silva; 5a brigada comandada munições bélicas, que em grande parte tive de mandar inutilizar; pela
pelo coronel Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, composta: do 1° e 1(jY batalhões dificuldade de as fazer conduzir. Antes de retirar-me mandei arrasar as
de infantaria comandados, este pelo major Modesto Antonio Coelho de trincheiras da fortificação, entulhar os fossos, nos quais fiz enterrar os mortos,
O~iVeiraNeto, e aquele pelo tenente-corone/joão Antonio de Oliveira Valporto; destruir e queimar todos os armazéns, a casa, fábricas, canoas, e dependências
brtgada provisória comandada pelo coronel Francisco Augusto de Mesquita, e do Estabelecimento.
composta: do /-,o e no
7
de I·n+'
,an tarta. d e 24° d e voluntartos,
' . tendo por Por nossa parte temos a lastimar a morte de 16 bravos oficiais
comandantes, o 1°, o major Genuíno Olímpio de Sampaio, o 2°, o tenente- subalternos do exército, pertencentes em sua maioria a diferentes corpos de
coronel Francisco de Lima e Silva, e o 3°, o tenente-coronel Manoel Deodoro da voluntários, o ferimento de 47 ditos, e a contusão de 18: tivemos mais 104
Fonseca; uma brigada de artilharia sob o comando do coronel Emílio Luís praças mortas, 296 feridas e 95 contusas; total 148 mortos, 339 feridos, e 42
Mal/et e composta do 1° regimento de artilharia com 12 bocas-de-fogo de contusos."
campanha, comandado pelo tenente-coronel Severianno Martins da Fonseca' e
Muitos outros quadros da Guerra do Paraguai apresentam
4 estativas de bateria de foguetes de guerra, dirigidas pelo 2° tenente ]o~o
Nepomuceno da Cunha. " situações similares e poderiam ser aqui descritos, para ilustrar o crucial

16 17
papel das informações e do jogo da dissimulação para o sucesso das com sua irmã uma rica tradição de trabalhos que a princípio eram executados,
em~reitadas, c.aracterizando-as como instrumento estratégico de como vimos, até sob o mesmo teto, com livros de escrituração, ordenados e
apolO ao planejamento e à execução das operações de guerra. Estas emolumentos em comum. Essa cooperação estreita se consolidou e se
cu;,ru\"""\.O funções de obter e avaliar as informações sobre o inimigo e as condições desenvolveu, com o fluir dos tempos, em razão de objetivos comuns e de
I dos combates, bem como de desinformar o adversário, eram exercidas afinidades que sempre aproximaram as carreiras diplomática e militar."
pelas frações dos Estados-Maiores dos respectivos exércitos
encarregadas da Inteligência militar. ' Posteriormente, em 1822, houve a separação da Secretaria dos
Negócios Estrangeiros da Secretaria dos Negócios da Guerra, tendo José
. _ Essas ref~rências demonstram, sobremaneira, mesmo que em Bonifácio de Andrada e Silva assumido o cargo de Ministro e Secretário
SI~u~çoes de aplIcação exclusivamente militar, que o exercício da de Estado dos Negócios do Reino e dos Negócios Estrangeiros. Era um
atIvIdade de In~eligência, outrora denominada Informações, esteve período turbulento, conforme registra ainda o livro do Diplomata Flávio
presente nos maIS remotos fatos históricos da vida brasileira. Mendes de Oliveira Castro:

"A época era de agitação política, de motins populares, de ameaças de


. Na mesma esfera estratégica, pode-se referenciar o uso de
sublevação de tropas. O espírito nativista exarcebava-se contra os reinos, os pés ~
mfo~mações pelo Ministério das Relações Exteriores, desde os
de chumbo, os caixeiros do comércio, os estrangeiros suspeitos de espionagem. -~'\
longmquos anos de sua origem, em 1750, quando Alexandre de
Para controlar os passos desses últimos, tornou-se necessária a imposição de
Gusmão negociou a questão das fronteiras estabelecidas pelo Tratado restrições à liberdade de viajarem pelo interior do País. O meio eficaz seria
de Tordesilhas.
obrigá-los ao uso do passaporte, espécie de salvo-conduto, de validade interna,
para exibição às autoridades locais."
~m 11 de março de 1808, por Decreto exclusivo, foi criada a
~ecretana de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Sobre essa Observa-se uma referência explícita às ações de espionagem,
mteressante associação dos Negócios Estrangeiros com os da Guerra demonstrando uma preocupação com a guarda dos segredos do País.
va~e.a ,~ena apresentar trecho do livro História da Organização d;
Mtnlsterto das Relaç - E . d . Mais adiante, na década de 1850, Paulino José Soares de Souza,
oes xtertores, e autona do Diplomata Flávio
Mendes de Oliveira Castro, a seguir transcrito: Visconde do Uruguai, na qualidade de Ministro dos Negócios
Estrangeiros, estruturou a política brasileira no Prata, contra os
'~É.de se enfatizar que, nascida simultaneamente com a Repartição ditadores Rosas, de Buenos Aires, e Oribe, do Uruguai. Nessa época,
d os Negoclos da Guer d 1\ T ,. destacou-se também o jornalista, professor e político José Maria da Silva
ra, a os 1 vegoclos Estrangeiros sempre compartilhou
Paranhos, Visconde do Rio Branco, o qual, em razão de sua extrema

18 19
habilidade em retratar a situação das repúblicas do Prata, foi convidado, 3. ANTECEDENTES
em fins de 1851, para secretariar a missão do Marquês do Paraná em
Montevidéu, na articulação das alianças que resultaram na queda de
Rosas. As análises produzidas pelo Visconde do Rio Branco
apresentavam fiéis cenários das questões, tornando-se preciosas A concepção formal para o uso integrado das Informações no Brasil,
informações interdisciplinares, fundamentais para a correta tomada de como instrumento de suporte às ações estratégicas do Poder Executivo,
decisões pelo Império em sua ação estratégica externa. teve início em 1927, no governo do Presidente Washington Luís Pereira de
Souza , uando foi instituído o Conselho de Defesa Nacional, mediante o
Foi o Visconde do Rio Branco que, ao baixar o Regulamento Decreton.o17.9 , e29denovem ro.
Paranhos, em 19 de fevereiro de 1859, fez uma primeira referência
.li« normativa à guarda de material sigiloso, quando definiu as atribuições do Nessa década, o Brasil foi marcado por manifestações
Diretor-Ceral da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. contestatórias efetivadas por jovens militares que pregavam profundas
mudanças na estrutura política do País, ficando conhecidos por
Vê-se que as questões descritas guardam intensa relação com os 1- tenentistas Essas manifestações aconteceram em 1922 (os revoltosos
propósitos e os procedimentos da atividade de Inteligência, quais sejam do Forte de Copacabana), em 1924 (o levante de São Paulo) e entre 1925 e
_a ~ução de conhecimentos e a salvaguarda de segredos do Estado.
1927 (a Coluna Prestes).

A descrição de fatos e situações sobre os países hospedeiros ou


Aliava-se a esse quadro o surgimento de movimentos operários
sobre questões de interesse maior para o Estado, na cena internacional, e
..( _ reivindicatórios, com a criação do Partido Comunista do Brasil, em 1922,
a adoção de medidas de proteção aos assuntos sigilosos sempre foram,
de fortes vinculações ideológicas com a revolução comunista dos
)j< desde a fase histórica, tarefa prioritária executada pelos diplomatas
bolcheviques, instalada na Rússia, desde 1917. Agravando esse cenário,
brasileiros, no cumprimento de suas missões nas relações
internacionais. havia sérias dificuldades nas economias do Brasil e do mundo,
culminando, mais adiante, com a guebra da Bolsa de Valores de Nova
Vale ressaltar que as atividades de Inteligência e diplomática 3_ Ior ue nodia29deoutubrod 1929.
sempre coexistiram harmoniosamente na defesa dos interesses do
Estado brasileiro, de forma interdependente e inter-relacionada, A análise da conjuntura, por certo, favoreceu a decisão de o
cabendo à primeira desempenhar ações no universo velado, e à segunda governo do Brasil criar o Conselho de Defesa Nacional, naquela
agir no ambiente transparente das relações internacionais, permitindo oportunidade, objetivando acompanhar, de modo interdisciplinar, as
atingir o domínio mais abrangente possível dos conhecimentos importantes evoluções conjunturais e avaliar as suas conseqüências para
necessários para a tomada de decisões pelos dirigentes da política a tranqüilidade nacional e a preservação dos interesses do Estado
nacional.
brasileiro.
20 21
o Decreto n.o 17.999 ditava que o Conselho tinha por fim
do Exercito, que os classificará" - em que se destacou o aspecto da
"somente em ordem consultiva, o estudo e coordenação de informações
confidencialidade das questões tratadas, servindo, desse modo, como
sobre todas as questões de ordem financeira, economica, bellica e
uma importante referência oficial sobre a salvaguarda dos assuntos
moral, relativas à defesa da Patria."
sigilosos.

o Conselho era composto, permanentemente, das seguintes Os anos trinta e quarenta, por sua vez, identificam-se com o
autoridades:
período do Governo do Presidente Getúlio Dornelles Vargas, época
também marcada por crises institucionais internas e turbulências no
• Presidente da República;
cenário político mundial, em que se disseminaram ideologias
• Ministro da Guerra. I
totalitárias, como o nacional-socialismo (nazismo) alemão, o fascismo
• Ministro da Marinha;
italiano e o comunismo irradiado pela União das Repúblicas Socialistas
• Ministro da Fazenda· I
Soviéticas - URSS, fatores determinantes para a eclosão da Segunda
• Ministro da Viação;
Guerra Mundial (1939/45).
• Ministro da Agricultura;
• Ministro do Interior·
I
O Presidente Getúlio Vargas iniciou seu mandato em 3 de
• Ministro do Exterior·
I
novembro de 1930, conduzido que foi pela Junta Militar que havia
• Chefe do Estado-Maior do Exército;
deposto o então Presidente Washington Luís, em meio a graves
• Chefe do Estado-Maior da Armada.
dificuldades conjunturais internas e externas. O processo eleitoral para
a Presidência da República havia sido maculado pelo assassinato de João
Eventualmente, também poderl·am C
compor o onselho de Pessoa, candidato à Vice-Presidência na chapa de Getúlio Vargas, que
Defesa Nacional:
havia perdido a eleição para o candidato Júlio Prestes, ligado a
Washington Luís.
. "quaesquer outras autoridades especialmente convocadas pelo
PresIdente da Rep bl" ·d
. . u Ica e presl entes ou agentes executivos de sociedades I Nesse cenário crítico, na condição de chefe revolucionário,
syndlcatos, dlrectores de emprezas ou firmas, convidados pelo Presidente da Getúlio Vargas conduziu os destinos do País até julho de 1934,
Republica."
oportunidade em que foi eleito Presidente da República pela Assembléia
Constituinte instalada naquele ano e em que também foi promulgada
b. Ressalte-se o texto do artigo 8° -"Tàdos os papéis archivo e mais
I
uma nova Constituição Federal.
o 'Jectosdo Conselho ficarão sob a guarda e responsabilidade do Estado Maior

22
23
No que respeita ao Conselho de Defesa Nacional, foi Em 8 de maio de 1944, conforme o Decreto-Lei n.o 6.476 foi
reestruturado emlt5 de fevereiro de 19341 mediante Decreto n.o- criada , no âmbito do Conselho de Segurança Nacional, "como órgão
23.873J sendo criadas a Comissão de Estudos da Defesa Nacional, a complementar, a Comissão de Planejamento Econômico das atividades
. '"
Secretaria-Geral da Defesa Nacional e uma Seção da Defesa Nacional gerais do País", constituindo-se no último ato político significati~o
em cada ministério. Estas Seções receberam a missão de centralizar sobre o Conselho, promovido pelo Presidente Getúlio Vargas, cUJo
todas as questões atinentes à Defesa Nacional, vinculadas aos
mandato se expirou em 1945.
res ectivos ministérios. Mais adiante, Getúlio Vargas sancionou, errU.
de agosto de 1934 o pecreto n.o 7, alterando a designação do Conselho
Vale frisar que, mesmo com tantas modificações na estrutura
de Defesa Nacional para Conselho Superior de Segurança Nacional.
do Conselho de Segurança Nacional, no que se refere às informações, ela
permaneceu limitada ao espectro de atuação antes estabelecido na
o Presidente Getúlio Vargas exerceu seu mandato
origem do Conselho de Defesa Nacional (1927), isto é, voltado para
constitucional até 1937, quando se interrompeu o processo de
legalidade com a decretação do Estado Novo, situação que lhe impunha questões relativas à defesa da Pátria.
plenos poderes autoritários para a gestão da política nacional. Foi nesse
ambiente de arbítrio, que o Presidente Vargas baixou nova Constituição
Federal,[êllí}O de novembro de 1937J-modificando, em seu artigo n.o
165, a denominação do Conselho Superior de Segurança Nacional para
Conselho de Segurança Nacional.

1 Em 5 de outubro de 1942, o Decreto-Lei n.o 4.783fredefiniu as


competências e a organização do Conselho, de modo que a Comissão de
Estudos, a Comissão Especial da Faixa de Fronteiras e a Secretaria-
Geral, em sua estrutura interna, e as Seções de Segurança dos
ministérios civis, externamente, seriam seus órgãos complementares,
ficando a Secretaria-Geral subordinada diretamente ao Presidente da
República e encarregada de centralizar todas as uestões emanadas dos
den;:ais or anismos. Ainda no ano de 1242. em 31 de dezemfuj;,l editou-
se 0/Decre - ei n.O 5.163, que dispôs novamente sobre a organização
do Conselho, com a efetivação de ajustes na sua estrutura.

24 25
4. O SERViÇO FEDERAL DE INFORMAÇÕES N

E CONTRA-INFORMAÇOES

Finda a Segunda Guerra Mundial, a gestão do Estado brasileiro


passoU por profundas reflexões dos dirigentes do País, resultando em
ampla reestruturação na política de Segurança Nacional.

Encontram-se no Memorial de Informações da Subsecretaria de


Inteligência registros históricos referentes ao ano de 1946, autenticados
pelo Coronel Ary Pires, ex-funcionário da Secretaria-Geral do Conselho
de Segurança Nacional, cujo texto é a seguir transcrito:

liA experiência demonstrara que a organização que deve atender às


necessidades de preparação para a guerra não satisfazia. Com efeito: - o órgão
central (Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional) não possuía
atribuições definidas para coordenar e orientar o trabalho na esfera de
atribuições dos Ministérios Civis; - a coordenação na esfera de atribuições das
Fôrças Armadas também era deficiente! embora da Comissão de Estudos
fizessem parte os Chefes de Estado-Maior dessas Fôrças! e se tivesse criado
uma Comissão especial mista em mil e novecentos e quarenta e dois para essa
finalidade! a verdade é que! não havendo um órgão com as vistas voltadas
permanentemente para o assunto das operações combinadas! responsável pelo
PLANO MILITAR de um PLANO DE GUERRA todo o trabalho de preparo
da mobilização militar careceu de harmonia nas três Fôrças Armadas; - as
Seções de Segurança Nacional não tinham atribuições definidas com minúcias
e! no quadro geral de sua finalidade! umas ficaram absolutamente inativas

* como as dos Ministérios das Relações Exteriores e da Fazenda! outras


desvirtuaram-se de sua finalidade ou por não terem contado com oprestígio dos

27
titulares das Pastas ou por se terem absorvido nas soluções de problemas
Ditava o texto legal que competia também à 2a Seção:
administrativos normais sem menor importância.
"a) organizar a propaganda e contra-propaganda no que interessa
- Em conseqüência resolveu-se reestruturar a organização da
ao PLANO POLÍTICO EXTERIOR;
Segurança Nacional. O então titular da Guerra, General Pedro Aurélio de b) organizar a defesa do próprio sistema econômico, coordenando as
GóisMonteiro, fez uma sugestão sobre reestruturação das FôrçasArmadas, medidas para a contra-espionagem e contra-propaganda no que interessa ao
criando-se um Estado Maior Geral e reajustando-se as atribuições do PLANO ECONÔMICO."
Conselho de Segurança Nacional com as que fôssem destinadas ao novo
órgão, propondo ao Govêrno que fôsse nomeada uma Comissão da qual A títulO~ ê.~CUlaridade, ressalte-se que o artigo 8° do
fizessem parte os Chefes de Estado-Maior das três Fôrças Armadas e o Decreto-Lei n.o .775-A atribuía, na letra b, à Seção de Segurança
Secretario Geral do Conselho de Segurança Nacional. - O Excelentíssimo Nacional do Ministério da Justiça a competência de "realizar a censura
Senhor Presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra, nomeou a da imprensa, de correspondência e de outros meios de comunicação, em
Comissão como solicitado e determinou que o Secretario do Conselho de cooperação com o Serviço Federal de Informações e Contra-Informações".
Segurança Nacional ficasse à disposição da Comissão para o trabalho em
vista. Em várias sessões o assunto foi submetido ao alto julgamento de Sua Foi nesse momento histórico que a atividade de Informações
Excelência,. o ~enhor Presidente da Re~ qual resolveu ba~s passou a receber das autoridades governamentais o correto tratamento
decretos-leIs: numeros 9.775 e 9.7~ de 6 de setem ro de 1946, e 9.520 e) -* para o seu exercício, pensando-se em um organismo próprio, com
9.520-A, de 25 de julho de 1946. 'Legislação que procurou sanar os e eitos 1
}
competências exclusivas e vinculação hierárquica apropriadamente
ju ga os existirem na organização anterior. " definida no mais alto nível da estrutura administrativa do Poder
Executivo. Buscava-se, assim, eliminar a questionável solução até
então adotada, qual seja, a execução da atividade de Informações por
Pelos destacados Decretos-Leis n.O 9.775 e n.O 9.775-A , a
frações do Conselho de Segurança Nacional, em meio a diversificadas
Secretaria-Geral teve sua estrutura fracionada em três seções
outras atribuições.
encarregadas de "organizar os Planos Industrial e Comercial, Político
Interno e Econômico relativos ao Plano de Guerra". Esta legislação
a Nessa mesma conjuntura, a diplomacia brasileira assumia
atribuiu à 2 Seção a responsabilidade de "organizar e dirigir o
nova postura estratégica, dirigida pelo político e estadista Oswaldo
SERVIÇO FEDERAL DE INFORMAÇÕES E CONTRA- Aranha, responsável por profunda reforma procedida no Ministério
INFORMAÇÕES - SFICI'~ organismo componente da estrutura do das Relações Exteriores, enfatizando as questões de segurança nacional
Conselho de Segurança Nacional, que passaria a ter o encargo de e o exercício de constantes análises interdisciplinares da situação
tratar das Informações no Brasil.
internacional.

28
29
Importa dizer ainda que, nessa época, foram criados ou Cabe destacar ainda que, nesse contexto, mediante q Decreto ~
reformulados vários serviços secretos nos mais importantes países, 2i583, de 14 de dezembro de 49 _foi aprovado o Regulamento para a
podendo ser citados a Central Intelligence Agency (Agência Central de Salvaguarda ---;;r;;;- Informações que interessam à Segurança Nacional -
Inteligência) - CIA, nos Estados Unidos da América, criada pela Lei de R.S.I.S.N.. Esse regulamento teve a chancela do então Secretário-Geral
Segurança Nacional, em 1947, em substituição ao Office of Strategic do Conselho de Segurança Nacional, General-de-Brigada João Valdetaro
Service (Gabinete de Serviços Estratégicos) - OSS; o Ministérstyo de Amorim e Melo, tornando-se o .-Erimeiro instrumento legal que
Gosudarstvennoy Bezopasnosti (Ministério da Segurança do Estado) - ob·etivamente visava à proteção das informações ·ulgadas si ilosas pelo
MGB, na União Sovié.tica, em substituição ao Narodny Komissariat
- -
Estado brasileiro.
Gosudarstvennoy Bezopasnosti (Comissariado do Povo da Segurança do
Estado) - NKGB, em 1946, e que, em 1954, deu origem ao Komitet o texto do dispositivo contemplava, como objeto do grau de
Gosudarstvennoy Bezopasnosti (Comitê de Segurança do Estado) - KGB; e sigilo ultra-secreto, "certos informes sobre os métodos usados ou sobre os êxitos
o Service de Documentation Exteriéure et de Contre-Espionnage (Serviço de obtidos por nosso Serviço de Informações e de Contra-Informações: ou informes
Documentação Exterior e de Contra-Espionagem) - SDECE, na França, ue coloquem nossos agentes em perigo". [O Decreto n. o 27. 930 de 27 de març~1

em 1946, por transformação da extinta Direction Générale de Études et ~e 195õlveio mais adiantei determinar "a aplicação do R.S.I.S.N. a todo
l

Recherches (Direção Geral de Estudos e Pesquisas) - DGER. assunto e matéria de caráter sigiloso inclusive quando não interessar
l

diretamente à segurança nacional".


Na oportunidade, foram também criados, como organismos
autônomos, serviços para atuação específica no campo interno da Na evolução desse processo, ~de dezembro de 1955) por meio
segurança dos países, como o caso da Direction de la Sécurité du Territoire do !Aviso Ministerial nO 2.868, Iriou-se o Centro de Informações da
(Direção de Segurança do Território) - DST, ainda na França, para agir Marinha _ CENIMAR ....primeiro ministério militar a instituir seu órgão
nos moldes e no mesmo espectro do Imperial Security Intelligence Service de informações singular, voltado para o trato das questões de interesse
(Serviço de Inteligência e Segurança do Império) - MI-5, da Inglaterra. da pasta.

Somente com a edição do[becreto n.o 44.489-A, em 15 de


Houve, assim, amplas reformulações doutrinárias e estruturais,
setembro d~oi criado, doze anos, portanto, após o decreto
com todos buscando adaptar-se aos novos tempos, em que
determinando seu estabelecimento, o Serviço Federal de Informações e
predominava a disputa ideológica.
Contra-Informações - SFICI. A Secretaria-Geral do Conselho de
.
Segurança NaClonal, sob a gestao - d G 1 d D· . - Nelson de
o enera - e- IVIsao
Mello, julgou necessário adotar medidas que colocassem o SFI~I. em
• d P' A· ' ea assim o eXIgIam.
plena atividade, POlS as carenClas o aIS nessa ar

30 31
O texto legal estabeleceu , também, no § 1° do artigo 4°,
~. ra a Junta Coordenadora de Informações, a saber:
Logo a seguir, conforme o Boletim Interno nO40, de 24 de setembro de cornpetenCla pa
1958, daquela Secretaria-Geral, houve o ato administrativo de sua
"§ 10 As informações serão obtidas através dos órgãos ~a
instalação e organização e, ainda, a designação do Coronel Humberto de
.' - +ederal estadual e municipal, autárqUIcas, paraestatats,
Souza Mello como o seu primeiro Chefe. No mesmo Decreto nO44.489- admmlstraçao '" . . . I
nomia mista medIante um planejamento realtzado pe a
A, foi também criada, como organismo colegiado de coordenação, a socieda d es d e eco ,
Junta Coordenadora de Informações. Junta Coordenadora de Informações (]CI). "

O artigo 8° organizou o SFICI da seguinte forma:


Iniciava-se, desse modo, um novo ciclo da atividade de
Informações no Brasil, c-omo SFICI como órgão de finalidade específica
para o seu exercício, atendendo às necessidades definidas por um "Art. 8° O SFICI disporá de:
a) Chefia (Chefe, Adjunto-Assistente, Assessôres e, quando
planejamento estratégico superior. Cite-se que, nesse mesmo ano de
...125B., a Escola Superior de Guerra - ESG realizou, em caráter necessário, Turmas de trabalho);
experimental, um curso c~ropósito de formar pessoal para b) Subseção de Exterior;
trabalhar na ~dade de Informações, com vistas a dotar o SFICI de c) Subseção do Interior;
recursos humanos especializados. d) Subseção de Segurança Interna;
e) Subseção de Operações.
Mais adiante, Decreto n ° de 6 de dezembro de 1958 As Subseções, chefiadas por Adjuntos, designados pelo Chefe do
aprovou o Regimento Interno da Secretaria-Geral do Conselho de SFIC{ serão constituídas de Adjuntos, Setores específicos com Turmas de
Segurança Nacional. O Decreto manteve as três seções da Secretaria- trabalho de acôrdo com as necessidades do serviço.
Geral, assim como suas responsabilidades, mas~12arou o SFICI a Parágrafo único. Compete ao SFICI:
1>e ão, roporcionando-Ihe autonomia com vinculação direta ao Superintender e coordenar as atividades de informações que
Secretário-Geral. interessem à Segurança Nacional."

O artigo 3° desse Decreto nO45.040 ditava o seguinte: Na estrutura do SFlCI, a Subseção de Segurança Interna (SSSI)
ficou subdividida em três setores, a saber:
"Art. 3° À SG/CSN compete dirigir; coordenar e orientar as atividades
de informações de interêsse para a segurança nacional com as de realização de . .' .(. mar sôbre
"Setor Político-SOCial (SPS) - pesquIsar e m,or
estudos necessários para que o Govêrno possa estabelecer as linhas de ação da possibilidades de ocorrências subversivas de qualquer natureza; e
~ Política de Segurança Nacional, bem como, a qualquer momento, reajustá-las acompanhar a dinâmica dos Partidos Políticos e el~borar estudos sôbre as suas
de acôrdo com os interêsses nacionais. " tendências e influências em relação à Política NaCIOnal.

33
32
"Art. 1° A Junta Coordenadora de Informações, diretamente
Setor de Administração Pública e Assistência Social (SAPAS) - ·nada ao Presidente da República, é um organismo destinado a planejar
su bord I
realizar o levantamento e manter em dia a situação das principais a colaboração a ser prestada, pelos órgãos da ad~inistra~ão federal, estadua.l,
organizações sociais de classe; e colaborar na determinação dos antagonismos muntCI. ·pal, autarquias , entidades paraestatats e socIedades de economIa
que possam ocorrerno desenvolvimento das diretrizes governamentais. . ao Serviço Federal de Informações e Contra-Informações de interêsse
mIsta, f'
Setor de Economia e Finanças (SEF) - acompanhar as atividades para a Segurança Nacional."
econômicas e financeiras do País, tendo em vista pesquisar o surgimento e a
evolução de fatôres que possam ter influência no desenvolvimento econômico- A Junta era presidida pelo Secretário-Geral do Conselho de
financeiro do País. Se urança Nacional e integrada por representantes do Estado-Maior
Setor de Contra-lnformação (SCI) - propor normas para a segurança da~ Forças Armadas - EMFA, dos Estados-Maiores dos demais
e fiscalização do Serviço de Informações; manter em dia o levantamento das ministérios militares, dos ministérios civis e do Departamento Federal
atividades de pessoas físicas oujurídicas que possam ter atividades contrárias de Segurança Pública, além do Chefe do SFICI.
aos interêsses nacionais; manter em dia o levantamento da situação das
agências que exploram no País as comunicações de qualquer natureza; As competências atribuídas à Junta neste diploma foram:
participar do planejamento da contra-propaganda; e cooperar no
planejamento que visa estabelecer o contrôle sôbre as zonas de segurança." "cooperar na formulação do Plano Nacional de Informações,
estabelecer as medidas e as missões dele decorrentes e mantê-lo atualizado em
A Subseção de Operações (SSOP), por sua vez, ficou com os função da evolução das conjunturas nacional e internacional."
seguintes setores:
Os objetivos visados, ainda de acordo com o mesmo dispositivo
"Setor de Investigação (SINV) - realizar as investigações especiais legal, eram os seguintes:
• "no campo interno - conhecer as possibilidades e as
que lhe forem determinadas; e realizar operações isoladamente, ou em
cooperação com outras entidades dos governos Federal e Estaduais. limitações do poder nacional;
• no campo externo - conhecer as possibilidades e as
Setor Técnico (STEC) - realizar trabalhos técnicos para utilização
Intenções de nações ou de grupo de nações, cujas
imediata do Serviço e para outros órgãos governamentais, quando solicitados;
práticas possam influir na consecução e na salvaguarda
e manter-se em dia acêrca do aperfeiçoamento técnico do material utilizável
nas atividades de informações, não só para o emprêgo e instrução do pessoal, dos objetivos nacionais; e .
• no campo da segurança interna - conhecer os antagonismos
como também para informar aos demais órgãos governamentais. "
existentes no território nacional, de maneira manifesta ou em
estado poteneta,. L que representem ou possam vir a representar
Logo a seguir, aJunta Coordenadora de Informações teve
reg.uladas as suas atribuições, por meio d§to n.o 46.50B-A, de 20 ameaça à Segurança Nacional."
~ Julho de 1959Jconforme definido no seu artigo 1°:

34 35
As atividades desenvolvidas pelo SFICI visavam a atender,
portanto, às demandas emanadas da Junta Coordenadora de ' - os diversos estu d os e p lanej'amentos afetos ,à Secretaria-Ceral +. e
utiltzaçao
' n d
artamentos o overn,C A o Não seria demazs . ressaltar os ,rutos
, ,
Informações, demandas essas sempre vinculadas aos interesses da
Segurança Nacional, demaIs dep,despeito do pouco tem po de sua existência/ aftrmando, que {, hOjeha
_,
colhidos/ a d' , I d e ageAncias/ em que o fluxo das tn,ormaçoes e
rêde naclOna
uma verda eIra 'd ndimento É de destacar-se/ também/ o
Registros ainda autenticados pelo Coronel Ary Pires, relativos dom 'j'á pronuncIa o re. h d ~
assegurad o c olvido pela Secretarta- , Cerai na coordenação dos trabal, os os _ 71'
ao ano de 1960, apresentam o seguinte trecho:
esfôrço esenvd Seções de Segurança NaCl'onal/ assegurando uma ortentaçao " d
diretores
d as
t' idades e d as {desenvolver
tare,as a nos campos especlftcos as
"Estruturada com base no conceito de Defesa Naciona" em suas geral asb a'f'dIV d dos seus M' tnlsterto . " s/ quer na pesquisa de dados e
origens/ evoluiu a Secreta-ria-Ceral/ pari passu, com a moderna conceituação responsa -I I aquees tnterferem
, ou se relacionam ao levantamento das
de segurança nacional e em Sintonia com a conjuntura atravessada pelo país/
informaçoes
b'l'd d selimitaçoes_ d OrO D d
erlvaclO
7\T 'nal / quer na realização de estudos e
acompanhando/ de resto/ a doutrina trabalhada pela Escola Superior de
possiI, I I- ad e onjuntura naclOna 'I / no campo de suas atividades/ tudo isso em
Cuerra. Assim/ sua constituição vem-se adequando à sua ft"nalidade/ com
ava laça0 a c , ãos desta Secretaria-Ceral. Encontra-se/ dessa
atenção especial às condições de atualização/ como demonstram a criação do estreita colaboração com os or~ _ ência central de Informações/ apto
Serviço Federal de Informações e Contra-Informações/ e do Crupo de Estudos e forma/ o Serviço Fede~al de ~n,or~a.çoes/Ca: de Estudos e Planejamentos _
Planejamento/ e oparticular interêsse pelas questões econômicas/ de relevância d maIOr usu,rutuarlO - o upo
a aten er. ao seu I stra da Secretarta- , C erai/ como elemento coordenador
naciona" em perfeita consonância com os esforços desenvolvimentistas do verdadeIra co una me A' ,. e sico-social/ nos estudos e na
atual Covêrno. O Serviço Federal de Informações e Contra-Informações/ das diferentes seções: econom~ca/ p~~tl~:tan~ parte de seus encargos para o
estruturado nos moldes dos congêneres de países mais experimentados e em elaboração de planos que constItuem ~ {. t de diretrizes fundamentais à
*"condições de atender aos múltiplos e variados aspectos da realidade brasileira/ equacionamento de problemas e esta e eClmen o
Segurança Nacional."
já apresenta um acêrvo de trabalhos dos mais fecundos e eficientes/
propiciando elementos essenciais às decisões do Covêrno/ através dos órgãos
da alta Administração Pública do País. O mesmo ato do Poder Executivo que O momento histórico mundial em que o SFICI foi con~bido e
' , o instrumento de I n f-e
ormaçoes de ontra-
deu organização ao Serviço Federal de Informações e Contra-Informações passou a constItUIr '10 que se
- d Estado brasileiro caractenzava-se pe
complementou a Secretaria com o necessário órgão controlador; digo/
Inform,açoes o fi 'a envolvendo como principais litigantes os
coordenador das informações departamentais dos Ministérios Civis e denommou guerra JI ( ,_ S "t' Por decorrência natural
'd d América e a Umao OVle lca.
Militares e Estado Maior das Fôrças Armadas/ por forma a manter um Estados Um os a " bipolar o qual era
' B iI' -se inserido em um cenano ,
conhecimento mais perfeito possível de todos os setores da conjuntura nacional. da conJuntura, o ras VIU h A' dessas duas grandes
d I aspirações egemomcas
Este órgão é ajunta Coordenadora de Informações/ indispensável na estrutura conforma o pe as , " ue ermeava a
O 'do enfatizava o aspecto ldeologlCo q p
do Conselho de Segurança Nacional/ que veio dirimir a divergência de esforços
A '

potenClas, peno 'd' ionando a estrutura


na produção das informações/ coordenando-os para maior eftâência na sua disputa entre o capitalismo e o comumsmo, con lC

36
37
de Informações e de Contra-Informações do Brasil a cuidar da questão 4.1 O CASOLEBEN
com predominância.
"SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
Por razões de conjuntura política, naturalmente houve a
DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL
ligação cooperativa do Brasil com os países do chamado bloco SÃO PAULO
ocidental, destacando-se a Inglaterra, a Alemanha Ocidental e os
Estados Unidos da América. O período em que o SFICI atuou foi de - RELATÓRIO -
enormes dificuldades, c-om carência de recursos humanos, de material e
financeira, exigindo grande esforço dos seus funcionários. In d i c i a d o JOSEPH WERNER LEBEN, bra~co,
com 29 anos de idade, solteiro,
Vale citar o depoimento de um de seus remanescentes, o Sub- alemão, natural de DORTMUND,
Oficial da Marinha de Guerra Raimundo de Souza Bastos, especialista filho de Joseph Werner e de Viktoria
em comunicações e eletrônica, o qual assumiu suas funções naquele Leben, alfabetizado, residente à
órgão em março de 1963: avenida Paulista, 648, apto. 1402,
nesta Capital.
"Naquela oportunidade o escritório central do SFICI funcionava no
t

antigo prédio da Casa da Borracha localizado na esquina da Rua


t
Acusa~ .~~.;~~
~.~.;~~ ;~iI:~~~i·
d~·;~~~.~;;;~. d~.;~~~.;~~
·d~·esp ionagem em
Uruguaiana com a Avenida Rio Branco. A sua seção de operações estava território brasileiro o indivíduo joseph Wérner Leben com apartamento
t

instalada na Avenida Presidente Wilson e a seção de comunicações na Rua


t montado à avenida Paulista n. o 648 nesta Capital ..."
t

México todos na cidade do Rio de janeiro. Apesar de precários os meios


t

existentes à épocat eram utilizados equipamentos modernos de comunicaçõest Os registros históricos sobre a atividade de Inteligência em
para podermos transmitir e receberas mensagens com segurança." nosso País acusam, à época de vigência do SFICI, o caso de es~iOnage~
que envolveu o cidadão alemão Joseph Werner Le~en, Julgado
considerado culpado da prática deste crime contra o Brasil.

. SI· da (LS-09-04-
A sinopse deste caso consta da Leitura e eClOna .
. E la N aClOnal de
03/08) O CASO "LEBEN", dos acervos da extmta sco
Informações - EsNI, a seguir transcrita:

39
38
"No dia onze de julho de 1961 policiais do Departamento de Ordem capital sulina, incluindo em sua bagagem seis mil marcos e uma máquina
Política e Social (DOPS), da Secretaria de Segurança de São Paulo, fotográfica Exacta Varex, dinh~iro e equipamento que H~n~en lhe.entregara.
prenderam, no apartamento n. o 1.402, do Edifício Nações Unidas, na Avenida Da sua atuação no RIO Grande do Sul pouqUlsslmo veIo a claro. Ao
Paulista n. o 648, o alemão jOSEPH WERNER LEBEN, artista gráfico longo dos interrogatórios a que foi submetido, quer na Polícia como najustiça,
radicado em nosso país, sob a acusação de prática de espionagem. Levado a declarou que sua atuação ficou restrita a de mero informante comercial,
julgamento, em 19 de setembro de 1962, perante a 2a Auditoria da 2a Região mantendo o SSD a par dos preços dos produtos americanos na praça,
Militar, foi condenado, face à exuberância das provas contidas nos autos, à objetivando com isso fazer com que a Alemanha Oriental pudesse colocar os
pena de dezoito anos de rúlusão que o Superior Tribunal Militar, através de mesmos produtos a preços inferiores no mercado brasileiro.
acórdão, reduziu para dez anos. No curso das investigações que realizou, conseguiu a Polícia gaúcha
LEBEN, natural da cidade alemã de DORTMUND, formado em apurar que LEBEN, graças à sua habilidade como pintor, freqüentou altos
Artes Gráficas pela Universidade de DÜSSELDORF, chegou ao Brasil no círculos da sociedade porto-alegrense, fazendo presença, inclusive, em
limiar do ano de 1956, indo fixar-se no Rio Grande do Sul. Esta decisão foi recepções oficiais, mormente na Assembléia Legislativa. Quando preso,
motivada por uma jovem gaúcha com quem mantinha assídua encontraram em seu poder vários papéis timbrados de extinto partido político
correspondência. Foi ela quem tratou de todos os detalhes pertinentes à sua gaúcho.
iml~ração, tendo inclusive lhe conseguido um emprego, a fim de permitir que Em termos de ações específicas de espionagem nada foi comprovado.
obtIvesse o visto de seu passaporte. No entanto, as autoridades sulinas conseguiram levantar ligações que
Em novembro desse mesmo ano retornou à Alemanha sob opretexto de mantinha com contrabandistas e falsários internacionais, o que merece
~as~ar as festas de fim de ano junto a seus familiares. Em verdade, ao que tudo registro, pois, fatalmente, usaria estes vínculos a serviço de espionagem,
indIca, pretendia voltar em definitivo à sua terra natal, pois a sua estada em embora isto não tenha sido possível confirmar e, conseqüentemente, provar em
PortoAlegre não tinha sido das mais promissoras. juízo.
Na Alemanha, um contato no lado oriental de Berlim mudou os seus O SSD, seu órgão de controle, fez com que se transferisse em maio de
planos. Hans Hansen, velho conhecido seu, o recrutou para servir à causa 1958 para São Paulo. Na capital paulista, certamente, se abririam maiores
comunista. Disse LEBEN que este seu amigo, um influente agente do SSD, possibilidades de infiltração. Ao se tornar Diretor de Arte de uma importante
STAATSSICHERHEITSDIENST; o Serviço de Informações da República indústria gráfica - a ALSSET - , praticamente colimava o seu objetivo. O
Democrática da Alemanha - RDA, afirmou que caso ele não aquiescesse em Diretor Presidente desta empresa - Wladimir Ludgenski - "coincidentemente"
voltar ao Brasil, para trabalhar em benefício daquele Serviço, na busca de presidia a Sociedade de Estudos Interamericanos - SEL uma entidade das
dados acerca de aspectos econômicos e políticos do nosso país, não mais sairia mais atuantes no combate ao comunismo.
do setor comunista de Berlim. LEBEN tornou-se amigo e pessoa da confiança de Ludgenski,
Na condição de agente do SSD, destacado na 6a Seção desse órgão _ passando a trabalhar e fazer parte da SEI. Foi ele quem idealizou e pintou um
responsável pelas operações de infiltração - regressava em janeiro de 1957 à
40 41
cartaz largamente difundido pelo Brasil inteiro - CUBA SIM A busca e apreensão realizada em seu apartamento, em São Paulo,
COMUNISMO NÃO!. Dessa sorte, assim infiltrado, conseguiu uma bo~ permitiu que as autoridades policiais descobrissem o sistema de co~unicação
fonte de informes, pois Wladimir Ludgenski era homem ligado a setores empregado pelo SSD para se ligar com o espião. Ao examrnarem a
importantes da política e economia nacionais e até a órgãos de informações. correspondência de LEBEN verificaram que vários envelopes apresentavam os
Dada a sua crescente atuação resolveu o SSD chamá-lo a Berlim selos removidos, enquanto outros ainda os tinham afixados em seus lugares.
Oriental para um estágio de treinamento. De setembro a novembro de 1959 Essa observação gerou a suspeita de que deveria haver uma forte razão para a
esteve em uma escola daquele órgão, na Fontana Strasse, 17-A. Lá aprendeu remoção dos mesmos em algumas sobrecartas. Não deveria se tratar de
telegrafia, cifração e decifração de mensagens, técnicas de fotografias e uso de retirada para coleção filatélica, como queria o espião fazer crer;pois, se assim
tintas simpáticas. Nesta escola, segundo el( o que havia de mais rígido era a fosse, invariavelmente todos teriam sido retirados, o que em realidade não
compartimentação: a instrução era individual, todos usavam codinomes e os aconteceu. Na busca de explicação para esse detalhe foram, cuidadosamente,
agentes não se comunicavam entre si. Ao término do seu período de instrução, levantando todos os selos que ainda se encontravam afixados nos envelopes.
recebeu de Gunther Langer; oficial do exército da RDA e chefe da 6a Seção do Examinando um cartão postal, ao deslocarem um dos selos encontraram sob
l

SSD, um microscópio, vários códigos e diapositivos contendo tabelas cifrantes, ele uma pequena película brilhante, com uma área de aproximadamente 24
outra máquina fotográfica e a importância de quinze mil marcos. milímetros quadrados. Tratava-se de um microfilme!
. . Voltou a São Paulo e aproveitando Ludgenski como informante Retirada a película, foi esta submetida a estafantes exames por parte
mconSClente, obteve dados do maior interesse para o SSD. Acompanhou toda a dos peritos da Polícia Técnica de São Paulo. Os técnicos conseguiram divisar
evolução d~ movimento comunista no Brasil, mantendo o seu Serviço informado na parte central da diminuta película, microscopicamente reduzidos, uma
sobre as LIgas Camponesas que se expandiam no Nordeste e os movimentos série de números, mais precisamente, setenta e seis grupos de cinco algarismos
populares ~ró-Cuba. O acesso que tinha aos arquivos da SEI permitiu que cada um. Na parte inferior do microfilme encontraram um texto exarado em
passasse Informações sobre a atuação de brasileiros anticomunistas. caracteres imitativos aos tipográficos composto de noventa e uma palavras em
Paralelamente, LEBEN tentou recrutar dois imigrantes alemães a ele Iigados, alemão.
par~ que continuassem a sua missão em nosso país, pois o SSD pretendia, Após muitas tentativas, com o auxílio das tabelas cifrantes
maIs tardeI lançá-lo nos Estados Unidos. Além disso precisaria desses encontradas em poder de LEBEN, foi possível decifrar o enigma: os grupos
elementos como Iigações, já que quando estivesse na América do Norte enviaria numéricos constituíam um criptograma e o texto literal uma grafia
~uas. m.ensagens à Sede através do Brasil, onde, consoante suas palavras, dissimulada. Enquanto o criptograma decifrado não apresentava nexo, o texto
meXlstla qualquer controle dos serviços postais. literal apresentava algum sentido. Foi necessário substituir algumas palavras
LEBEN comunicava-se com o SSD através do emprego de tintas do texto cifrado pelas constantes do texto literal para que chegassem ao
secretas. Suas mensagens eram endereçadas a Srta. Rita Gatcke, na RFA resultado final. Como se pode observar; era um engenhoso sistema de
Alemanha Ocidental, que as fazia chegar a Gunther La nger;valendo-se dess~ comunicação composto de partes diferenciadas: aplicação de cifra e utilização
formad a utl '1'Izaçao
- de um endereço de conveniência.

42 43
de código. Como bem afirmou o Promotor que atuou no processo movido contra o caso LEBEN demonstra que os trabalhos de contra-
LEBEN pela justiça brasileira, só o emprego de sistema tão complexo já seria
espionagem desenvolvidos pelo SFICI careciam de maior eficácia, uma
prova suficiente de que estava envolvido em algum ilícito penal, ao que se há de
vez que identificar esse espião só foi possível graças à revelação de
somar ofato de estar trabalhando para um serviço secretoestrangeiro.
Langer. As próprias contramedidas não permitiram aprofundar as
A respeito deste sistema, o Cônsul Geral da Alemanha Ocidental no
investigações, sob a ótica doutrinária de contra-espionagem, com vistas
Brasil informou, oficialmente, tratar-se do mesmo utilizado por agentes da
a apurar o nível de extensão das atividades do espião, identificando-se
Alemanha Comunista, presos em seu país. No livro "O Poder Secreto'~ de
David Wise e Thomas Ross, é mencionado um sistema semelhante empregado os seus colaboradores e os eventuais comprometimentos de segredos do
por ilegais soviéticos nos Estados Unidos. Este dado é interessante na medida Estado brasileiro.
em que se sabe que o SSD nada mais é que um satélite do KGB, o Serviço
Secreto Russo. De qualquer forma, merece registro a solução do caso por parte
As autoridades policiais brasileiras conseguiram chegar a LEBEN das estruturas de segurança e informações do País, caracterizando,
graças a ligações que foram feitas entre serviços de informações. Gunther exemplarmente, que o Brasil, de fato, sempre despertou interesse
Langel; o chefe da 5a Seção do SSO ao se tornar um defector deste Serviço, estratégico por parte dos mais importantes países, tornando
entregando-se às autoridades de Berlim Ocidental, fez um relato sobre um inquestionável a necessidade de contar, permanentemente, com o
círculo de espionagem que controlava na América do Sul, com agentes no exercício da atividade de Inteligência para fazer frente às ameaças aos
Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. LEBEN era o homem deste círculo, seus valores estratégicos e à consecução dos seus objetivos nacionais.
destacado em nosso país, atuando como um agente isolado.
Um dia após a sua prisão, foi apreendida uma carta a ele dirigida
Dirigiram o Serviço Federal de Informações e Contra-Informações
pelo SSD ordenando que fugisse. Era, evidentemente, reflexo da defecção de
as seguintes autoridades:
Langer. Caso tivesse tido acesso a esta correspondência dificilmente seria
preso, pois já tinha pronto o seu plano de fuga, inclusive com documentos falsos
• CORONEL HUMBERTO DE SOUZA MELLO
para serem prontamente utilizados - os policiais encontraram com ele uma
cédula de identidade em nome de Alcides Fantin! Período: 24 de setembro de 1958 a 30 de dezembro de 1959
Preso, condenado pela justiça brasileira, após cumprir a pena, • CAPITÃO-DE-FRAGATA GERALDO ÁVILA DE MALAFAIA
deixava nosso país no dia vinte de outubro de 1971, no vôo 501 da Lufthansa, Período: 31 de dezembro de 1959 a 3 de fevereiro de 1960
que decolou às 17:25 h do aeroporto de Viracopos, com destino a Frankfurt, • CORONEL LUCÍDIO DE ARRUDA
cumprindo decreto de expulsão, de nove de novembro de 1962, do governo Período: 4 de fevereiro de 1960 a 15 de fevereiro de 1961
brasileiro. "

44 45
• CORONEL EDNARDO D'AVILA MELLO
Período: 16 de fevereiro a 11 de setembro de 1961
5. O SERVI~O NACIONAL DE INFORMA~ÕES
• CORONEL DORVAL LOPES DE LIMA
Período: 12 de setembro de 1961 a 26 de setembro de 1962
Nos anos da década de sessenta, o cenário da política interna
• CAPITÃO-DE-FRAGATA ÁLVARO SOARES RODRIGUES DE do País apresentou um quadro de grave conturbação da ordem, com
VASCONCELOS manifestações de segmentos representativos da sociedade nacional,
Período: 27 de setemb.ro a 9 de novembro de 1962 ocasionando, como conseqüência, uma intervenção militar na
• CORONEL JOÃO SARMENTO condução da política nacional, a partir de 31 de março de 1964. A análise
Período: 10 de novembro de 1962 a 24 de abril de 1963 global das causas que propiciaram significativa perturbação nas áreas
• TENENTE-CORONEL CARLOS RAMOS DE ALENCAR política, econômica, social e militar, permitiu observações que
Período: 25 de abril a 2 de outubro de 1963 indicavam a necessidade de uma nova concepção para a estrutura
encarregada das atividades de Informações e de Contra-Informações,
• CORONEL AFONSO FERREIRA LIMA
uma vez que o organismo vigente carecia de instrumentos mais eficazes >fk.
Período: 3 de outubro de 1963 a 9 de abril de 1964
que proporcionassem a antevisão objetiva do quadro que se
• CORONEL SEBASTIÃO FERREIRA CHAVES
configurou.
Período: 10 a 23 de abril de 1964
• TENENTE-CORONEL JOÃO BAPTISTA DE OLIVEIRA Nesse ambiente de crise institucional, o Presidente Humberto
FIGUEIREDO de Alencar Castelo Branco enviou, em 11 de maio de 1964, Mensagem
Período: 24 de abril a 13 de junho de 1964. ao Congresso Nacional, encaminhando o Projeto de Lei nO01968 que
propunha a criação de uma nova estrutura de Informações para o País.

A Exposição de Motivos para a criação do novo órgão trazia, em


destaque, os seguintes argumentos:

"1. A gestão dos negócios do Estado a cargo do Poder Executivo requet;


como é evidente, informações seguras, oportunas e convenientemente avaliadas.~
que sirvam de base às múltiplas decisões a tomat; inclusive no quadro da
própria Segurança Nacional.

46 47
informações atinentes à Segurança Nacional e informações de tôda ordem
Nesse pa rticu la " o Conselho de Segurança Nacional (C.S.N.) dispõe
de um serviço especial- o Serviço Federal de Informações e Contra-Informações
devem lhe ser presentes, já integradas mais uma vez em síntese bem jf.
(S.Ff. C. f. ) - orientado por uma Seção da Secretaria Geral e cuja autonomia já interpretadas e avaliadas."
vinha prevista no instrumento legal que deft·niu as atribuições daquele órgão.
Em conseqüência, em 13 de junho de 1964, mediante a Lei n.o
Situando-se sem que tal autonomia lhe houvesse sido reconhecida em lei num
4.341, publicada no Diário Oficial da União n.o 113, de 15 de junho, foi
escalão subordinado do sistema governamental incumbido do planejamento
criado o SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES - SNI, cujo texto
da segurança nacional, o Serviço Federal de Informações e Contra-
lhe atribuía "superintender e coordenar as atividades de Informações e
Informações não pôde,- nem poderia mesmo, desempenhar em plenitude as
Contra-Informações, em particular as que interessem à Segurança Nacional".
funções que lhe cabem. Faltar-lhe-iam as necessárias facilidades e a
autoridade indispensável para ligações, em alto nível, com os diversos
Ainda no mesmo dispositivo, o artigo 3° incumbiu ao SNI
Ministérios e outros órgãos de cúpula da administração pública e, além disso,
"procede" no mais alto nível, a coleta, a avaliação e a integração das
várias autoridades se lhe interpõem na cadeia de informações até o Secretário
informações, em proveito das decisões do Presidente da República e dos estudos
Geral do Conselho e, com razão mais forte, o Presidente da República. Não se
e recomendações do Conselho de Segurança Nacional, assim como das
alcançam, assim, nem a indispensável integração final das informações, nem
atividades de planejamento a cargo da Secretaria-Geral desse Conselho" e,
tampouco a presteza exigida no encaminhamento da síntese e interpretação
também, "promove" no âmbito governamental, a difusão adequada das
elaboradas à autoridade que delas se deveria beneftúar em suas decisões.
informações e das estimativas decorrentes".
Reconhecendo-o de longa data, o projeto de lei que tomou na Câmara dos
Deputados o número 176-1955, bem como outras fórmulas substitutivas
O artigo 4°, por sua vez, estabeleceu que o Serviço Federal de
posteriormente apresentadas, sempre buscaram todos assegurar maior grau
Informações e Contra-Informações - SFICI fosse incorporado ao novo
de autonomia ao citado Serviço de Informações, seja desmembrando-o da
órgão, como sua Agência Regional sediada no Rio de Janeiro.
Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional, seja suprimindo um dos
escalões intermediários no encaminhamento das informações aos órgãos
Para tanto, .!.odo o acervo do SFICI foi transferido para o SNI,
supremos de decisão.
inclusive os oficiais, raças e funcionários civis ue nele exerciam
Sem dúvida, porém, tais soluções pecaram ainda por timidez se
funções, conforme os Boletins Internos nOs32 e 37 da Secretaria-Geral
consideradas as reais necessidades da elaboração das decisões de alto nivel e,
do Conselho de Segurança Nacional- SG/CSN. A primeira sede do SNI
sobretudo, por não reconhecerem que o Presidente da República necessita
foi instalada em andares do prédio do Ministério da Fazenda, localizado
igualmente de informações que extravasam, na verdade, do âmbito, de algum
na Avenida Presidente Antonio Carlos , no centro da cidade do Rio de
modo restrito, da Segurança Nacional. E nesse escalão mais elevado ainda,
Janeiro.

48 49
funcionar regularmente naquele estabelecimento de ensino, denominado
É importante citar que, nessa conjuntura, o Decreto n.o 54.303, Curso de Informações - Categoria "B".
de 24 de setembro de 1964, alterou a redação do Regimento da
~ Secretaria-Geral do Conselho de Segurança Nacional, destacando no § A fase de transferência do SFICI para o SNI foi marcada por
1° do artigo 4° o seguinte texto: "As informações de interêsse da Segurança complexas tarefas, merecendo destaque depoimento do então Major
Nacional serão obtidas através do Serviço Nacional de Informações (SNI) ou Milton Masseli Duarte, oficial do Exército brasileiro que, naquela
diretamente através dos órgãos de administração federal; estadual; oportunidade, iniciava um longo período de laboriosos serviços prestados

municipal; autárquica eparaestatal; das sociedades de economia mista e de para a atividade de Informações:

particulares".
"Foium momento difícil; pois ocorria um processo revolucionário e; dentre
as múltiplas tarefas realizadas pelo SFICI e logoa seguir pelo SNI; destacava-se a
Ficava, assim, legal e mutuamente regulada a interação entre os análise de inúmero~rocessos sobre atos de desvio de verba.5-f1oGoverno Federal;
dois organismos, com o SNI tendo a responsabilidade de suprir aquela servindo o organismo de Informações como um valioso anteparo de casos de
Secretaria-Geral de informações necessárias aos estudos para denúncias improcedentes; cumprindo seu essencial papel de produzir 05
estabelecer as linhas de ação da Política de Segurança Nacional e à conhecimentos de forma imparcial e com rigorosa observância à veracidade dos
avaliação de outras questões desse mesmo teor estratégico. dados."

Para suprir importante carência, houve a necessidade de Em 3 de fevereiro de 1967, o Decreto n.o 60.182 regulamentou o
habilitar pessoal nas atividades de Informações, em particular nas ações Serviço Nacional de Informações, trazendo, em seu artigo 11, os seguintes

especializadas de eletrônica e comunicações. Para tanto, em 1965, foi preceitos:


~ ministrado curso especial no Forte Hollybird, nos Estados Unidos da
"Art. 11 Para atender à competência estabelecida no art. 3° da Lei 4341; o
América, local em que funcionava uma escola de Informações da
SNI terá a seu cargo:
Agência Central de Inteligência - CIA, para funcionários de serviços de
• oplanejamento; a produção e a difusão da informação estr~tégica; _
países julgados aliados daquele país. O Sub-Oficial Bastos foi, nessa • o planejamento; a produção e a difusão de Infor~açoes
oportunidade, o funcionário brasileiro designado pelo SNI para o pertinentes a assuntos internos do País e ao exterior q.ue seja.m de
treinamento. interesse da Segurança Nacional ou que possam InterferIr na
formulação ou na condução da Política Nacional; ._
Posteriormente, realizou-se o primeiro curso de Informações • o assessoramento do Presidente da República na ortentaçao e
para Oficiais e Praças do Exército brasileiro, nas dependências do coordenação de todos 05 demais órgãos que compõem o sistema de
Centro de Estudos de Pessoal do Exército - CEP, ainda no ano de 1965, o informações do país; e
qual serviu de embrião para o Curso de Informações, que passou a • oplanejamento e a execução de medidas de contra-informação."

50 51
Como se depreende dos conteúdos desses dispositivos legais, o Para cumprir suas missões, organizou-se o Serviço Nacional de
Poder Executivo buscou servir-se de um instrumento especial que, à Informações com estrutura similar à do extinto SFICI, com as
disposição do Governo, produzisse conhecimentos que subsidiassem a necessárias adaptações decorrentes do novo cenário político. Em
ação governamental, bem como planejasse e executasse medidas de síntese, foram criadas uma~Agência Central e doze Agências Regionais,
outra natureza, denominadas na legislação "contra-informação". distribuídas por todo o território nacional. A Agência Central teve seu
Verifica-se, ainda, que existe uma referência explícita a planejamento, desdobramento organizacional em segmentos que cuidavam, em nível
produção e difusão de informações estratégicas e de informações sobre nacional, das Informações Externas, das Informações Internas, da

"* questões de interesse d_aSegurança Nacional ou capazes de interferir na


formulação ou na condução da Política Nacional.
Contra-Informação e das Operações de Informações.

É importante destacar que, nessa oportunidade, aprovou-se o


Observa-se que o produto resultante das Informações Regulament.Q para a Salvaguarda de Assuntos Sigilosos - RSAS,
(Informação e Contra-Informação) possui uma natureza diferenciada mediante o\Decreto n.o 60.417, de 11 de março de 1967,{0 qual vem
mo

em relação ao produto característico do ambiente transparente da ajustar a política de sigilo das questões de Estado à nova realidade
condução política, a qual permite a perfeita efetivação das ações nacional, em substituição ao Regulamento anterior de 1949.
governamentais pela estrutura convencional da administração pública.
Identifica-se a necessidade de existir um organismo específico Em face das imperiosas exigências conjunturais, a partir de
complementar que favoreça o estabelecimento das condições ideais ao então os subseqüentes governos do período (1964-1985) trataram de
governo para a implementação de sua política de forma integral e eficaz, estabelecer o ordenamento jurídico decorrente, regulando-se, assim, a
cumprindo um papel de identificação, de avaliação e, em certa medida, atividade de Informações, na época, mediante a criação de novos órgãos,
~ de enfrentamento ao~ antagonismos de natureza velada sue se a composição de sistemas, a implantação de uma escola e o
manifestam nas relações de cõnTIlto deUlteresses entre os Estados. desenvolvimento de uma doutrina específica.

Estava evidente, ao longo do tempo, a carência de informações


que permitissem detectar e avaliar interferências indesejadas na
formulação e na execução da política governamental, não detectadas
pela estrutura tradicional. Requisitava o Executivo, portanto,
conhecimentos peculiares sobre obstáculos à ação política e ameaças à
Segurança Nacional, bem como procedimentos relativos a "medidas de
Contra-Informação", mediante ações desenvolvidas por um organismo
autônomo e com vinculação direta ao Chefe de Estado.

52 53
5.1 A ESCOLA NACIONAL DE INFORMAÇÕES

Constituiu-se em fator primordial para equacionar os


problemas de qualificação de recursos humanos e de formulação de uma
doutrina a criação da Escola Nacional de Informações - EsNI, mediante
olPecreto n.o 68.448, de 31 de março de 1971/ A EsNI teve sua
concepção, no tocante à sua estrutura e ao seu funcionamento, baseada
nos modelos adotados por congêneres de outros países, particularmente
da Alemanha, dos Estados Unidos da América e da Inglaterra. --ff

Vale aqui citar relato do General Ênio Pinheiro dos Santos,


responsável pelas obras de instalação da EsNI e seu primeiro Diretor, a
respeito da importância da Escola:

"Desde que surgiu o SNI, oriundo do antigo SFICL a cada dia vinha
se acentuando a necessidade de articular os órgãos de Informações,
estabelecendo entre eles a necessária coordenação e hierarquia técnica. Sentia- ~
se falta de consolidação de fluxos adequados de entendimento, representados
por canais fidedignos e por uma linguagem comum. o (

O Plano Nacional de Informações estabeleceu os canais e suas regras


de exploração, mas, então, sentiu-se, de maneira aguda, a necessidade de uma
linguagem comum, fruto de pessoal qualificado, adestrado nos mesmos
princípios e técnicas. Daí a idéia da criação de uma Escola Nacional de
Informações, que já era freqüentemente cogitada, tomou corpo e originou a
Exposição de Motivos n. o 02, de 08 de fevereiro de 1971, do chefe do SNL Gen
Carlos Alberto da Fontoura, propondo a criação de um Grupo de 'Trabalhocom
a (tOnalidadede apresentaI; no prazo de 60 dias, proposta de sua organização. "

55
Este Curso de Informações da ESG h ' .
o Decreto n.o 68.448 estabeleceu, em seu artigo 2°, o seguinte: o Decreto n.o 55 791 d 23 d f
. ,e
. aVIasIdo instituído mediante
e evereIro de 1965 "co r; l'd d d
cooperar d ' mal ma I a e e
no estu o e desenvolvimento de uma doutrina de S '
"Art. 2° A Escola Nacional de Informações (EsNI) tem por finalidade: preparar civis e militares para funções relacionadas com as ;ng+'ourrança_
rv.~clOnale
I' maçoes.

a) preparar civis e militares para o atendimento das necessidades


Para a rea l'Ização de ambos os cursos tanto o CEP ESG
de informações e contra-informações do Sistema Nacional de contavam f ., ' quanto a
. com o e etIvo apOlo do Serviço Nacional de I f
Informaçõesi espeCIalmente qua t' ., - d . n armações,
n o a partIcIpaçao e mstrutores.
b) cooperar no desenvolvimento da doutrina nacional de informaçõesi
c) realizar pesquisas em proveito do melhor rendimento das o _Concomitantemente, foram planejados e executados Cursos d
atividades do Sistema Nacional de Informações." peraçoes de Informações, titulados Cursos C1 e C2 volt d e
~~e:;~:~~:~~:a;~aa ~uscadedados,comorganizaçC;;s
dist~n:s~:;: ~
d rma as e CIVISde nível superior (Curso C1) e
Ainda no citado dispositivo legal, o artigo 5° ditava:
as Forças Armadas e civis de nível médio (Curso C2) li d praças
foram reg I dI' . o os esses cursos
d' I u a os pe o pnmeiro Regulamento da EsNI baixado em 1972
"Art. 5° Os Cursos e Estágios relacionados com as atividades de IP orna que também contemplava os demais prog'ramas de '
Informações do Sistema Nacional de Informações em funcionamento em
l d enommados Estágios. ensino,
outras Escolas ou entidades de ensino serão absorvidos pela Escola Nacional
l

Para definir o local de' msta Iação d a EsNI, em Brasília, houve treAs
de Informações (EsNl)1 à medida que forem sendo ativados os seus Cursos ou
opções:
Estágios considerados equivalentes."
• a primeira em are~ I/ proxlma ao Regimento de Cavalaria de
Em conseqüência, a EsNI recebeu do Centro de Estudos de Guardas - RCG nas Imediações do Parque Ferroviário'
I

Pessoal do Exército - CEP o Curso de Informações - Categoria "B", • aGAAA


segunda nas proximidades
l
.. do Grupo de Artilharl~a A n t'laerea
/ -
destinado a formar analistas de informações de níveis setorial e le no Setor Mtlltar Urbano denominada área d C '1·
l
• a ter ' o ant e I

~ regional, tendo como alunos oficiais das Forças Armadas detentores


celra na .margem esquerda da estrada que liga o Setor Policial
l

Sul a Taguatmga por detrás da área da Polícia Militar do Distrito


l

dos postos de capitão e major, e civis com formação universitária; e da


Federal.
Escola Superior de Guerra - ESC o Curso de Informações - Categoria
"A", voltado para a habilitação de analistas de informações em nível . Esta última ' por divers as razoes, - f'01 a escolhida conforme se
nacional, tendo como alunos oficiais das Forças Armadas, ocupantes de extraI de texto oficial que analisava as opções: '
postos de Oficial Superior e possuidores de Curso de Comando e Ile. 1. A ár ea esta/ d'eSlmpedlda
. não havendo nenhum processo em
l

Estado-Maior, e civis também com formação universitária. andamento para instalação de qualquer órgão.

57
56
e.2. A EsNI poderá obter tôda a área disponível para maior segurança Para obtermos os resultado I .
física. excepcional da brilhante . s a cançados fOI decisiva a dedicação
. . equIpe que consegu' {;
e.3. A Coordenação de Arquitetura e Urbanismol através de sua constitUI o Corpo Perma d E I formar. Tàda a equipe qu
. nente a scola a iu e
Chefiai apresentou inconveniência na liberação das áreas do medIr sacrIfícios e canseira g Comoum bloco monolítico sem
SIpara que os ob' et' fi' I
RCG e do Canil (onde ficam Hospitais especializados)l mas e a Escola atingisse o alto d _ . , . '1 IVOS Ixados fossem colimados
pa rao que Ja attngiu.
sugeriu a área do Setor Policial. Dentro desta brilhante equipe devem . .
e.4. A área é planal de fácil acesso e bem enquadrada com relação aos os engenheiros e trabalhadores da NOVA OSItndubltavelmente! incluir
prováveis s?tores residenciais. (CRUZEIRO NOVO e SQS atender os apertados prazos q h' . CAP que tudo fizeram para
f: ue aVIam SIdo est b I 'd
311).1/ {ases de construção da E / a e eCI os para as várias
. sco ai e que nunc f: Ih .. .
excepCIonal figura de engenh . ,. a {a ar~ml dmglda pela
o momento de instalação da Escola Nacional de Informações SOUZA BASTOS. elro que e o Jovem Dr. MARIO LÚCIO DE
merece destaque, quando da oportunidade em que o General Ênio Neste momento de des ed'd
Pinheiro dos Santos transmitia a seu sucessor, o General José tranqüilos e confiantes . ~ I ai todos devemos estar orgulhosos
. I POISI JUntosl conse·' I
Albuquerque, em 14 de agosto de 1974, o cargo de Diretor, cujo trecho Importante para o nosso R ' . , gUlmos realtzar Uma obra
de seu discurso é a seguir transcrito: 1nformações do BRASIL. -aISIque Ira revoluci onar o ensinO
.
e a produção das
É evidente que a obra não está acabada e r .
"A hora da partida é um momento de pesat; mas podei tambéml ser um para crescer forte e sadia M equer CUIdadosespeciais
, ,. . aSI o marco que im / .
momento de alegria. É um momento de pesaI; porque as pessoas e as coisas que esta solldol permitindo uma tr ..'/ p anta mos fOIo mais difícil e
. anquI a evolução dE/
se fizeram caras para os nossos corações vão se tornando distantes e aperfeIçoamento. " a sco a no sentido de seu
intangíveis. Pode ser um momento de alegrial porque permite-nos parar e olhar
para trás e vermos tudo que foi realizadol os amigos que fizemosl as coisas que A EsNI, no cumprimento de su . _ . . .
construímosl o bem que realizamos. Neste instantel olhando para trás sentimo- passou desde então a at d' as mISsoes InstItucIOnais
GeraIS . uar me Iante co t' d . '
nos tranqüilosl porque parece-nos que não falhamosl que não desmerecemos da de Ensino _PGE d n Inua os e anuaIS Planos
. . , ocumento básico 1
confiança em nós depositada pelo Exmo Sr. Presidente da República e Exmo Sr. atIVIdades de ensino e d' que regu ava todas as suas
outnna em prol d ,. d
Ministro Chefe do Serviço Nacional de Informações. no Brasil. o exerCICIO as Informações
Mercê de Deus a tarefa que recebemos foi integralmente cumprida -
construir e implantar a ESCOLA NACIONAL DE INFORMAÇÕES. Tàdos
os edifícios projetados foram construídos e a Escola está com todos os seus cursos
em funcionamento.

58
59
o Manual de Informações preconizava, em seu item inicial, o
seguinte:
Ca~ po ~xterno (de 10 de março de 1982 a
o pnmelro realizado na di - d 8 de dezembro de 1989), sendo
''As atividades de Informações têm por finalidade a produção de M',orelra e o ultimo ministrad reçao o Gene _ ra
I A' .
ntOnIO JoaqUIm Soares
conhecimentos que habilitem as autoridades governamentais/ nos respectivos A o na gestao do G I .
ugusto; e os Estágios de Proteção d I enera AguInaldo Del Nero
níveis e áreas de atribuição/ à oportuna tomada de decisões ou a elaborações de EsPIE (realizados entre os anos de 198~ 1~rmação Empresarial Sensível -
a
planos. Em sua maior amplitude/ destinam-se a fornecer subsídios ao Governo Antonio Joaquim Soares Moreira d G 87, sob as direções do General
d A d ' o eneral Ant . C
para a formulação/ a execução e o acompanhamento da Política Nacional." e n rade e do General Jose' C 1 L' OnIO arlos Bitencourt
. ar os elte Flh )
e fetlvados na década de o't lO, todos planejados e
. I enta, como exem 1 d
Nessa oportunidade, implantou-se uma política de pessoal estntamente voltados para n 'd d P os e treinamentos
. eceSSI a es con· .
per f eltamente atendidas pelas 'd d junturalS do Estado,
calcada em processo peculiar de desenvolvimento de recursos humanos, realizá-los. capaCl a e e competência da EsNI em
executado pela EsNI mediante trabalho técnico de definição de perfis
profissiográficos particulares para as funções básicas de análise e
. Outros programas especiais também d
operações. Durante a gestão do General Otávio Aguiar de Medeiros, taIS como os Estágios de C· l' po em ser referenciados
. npto ogIa de A T d '
como diretor da Escola, esse referido processo teve um de seus EstImativa, de Recrutamento e dE' . na Ise a Propaganda, de
. , e ntrevlsta e a' d f'
momentos de maior desenvolvimento, sendo fundamental para a sua Inumeros intercâmbios d' I I In a, a e etlvação de
, e enSInO com escolas A

implementação o competente suporte técnico de um quadro de palses, como Estados Unidos da ' . congeneres de outros
psicólogos especializados que compunham a Divisão de Psicologia do
Ocidental, Israel Argentina E d Am~nca, Inglaterra, Alemanha
de Informações 'por interm"d' qua or, ChIle e Itália. A Escola Nacional
Departamento de Doutrina e Pesquisa daquele estabelecimento de , e 10 do seu De t
Pesquisa, editava diversas publica ões do . p:r amento de Doutrina e
ensino.
revistas Coletânea L e Int I' A . ç utnnanas, cabendo destacar as
.. e tgencta. As pubI" -. . -..f
Importância para a evolu - . Icaçoes tIveram SIgnificativa
A EsNI, em sua trajetória histórica, passou a realizar diversos e . A çao e a consolIdaç- d d' .
IntelIgencia servindo com '1 . ao a outnna naCIOnal de
. .' o velCU os dIfuso d .
específicos programas de treinamento, denominados cursos e estágios, atIvIdade. Sobre as caract ' . . res e temas de Interesse da
enstlcas e a Imp tA, d
além de promover eventos especiais, tais como seminários e painéis, Informações no processo d dI' or anCla a Escola Nacional de
e esenvo Vlmento d I l'
A •

sempre voltados para o aprimoramento da doutrina nacional de relevante apresentar dep . d ante Igencla no Brasil, é
Olmento o Ge 1M 1
Informações. um dos seus mais destacad d' nera anoe Augusto Teixeira,
os Iretores em cu· - f .
efetivadas diversas e 1 ,ja gestao oram planejadas e
comp exas reform 1 - -
conceitos doutrinários: u açoes nas açoes de ensino e nos
A respeito, merecem destaque o Curso de Analista da Área
Econômica (de 2 de fevereiro a 23 de julho de 1981), iniciado na gestão do
General Manoel Augusto Teixeira e concluído sob a administração do
General Antonio Joaquim Soares Moreira; os Cursos de Informações do

60
61
5.1.1 PERFIL DA EsNI

INSTALAÇÕES

o conjunto arquitetônico que compunha a EsNI caracterizava-


se pela beleza, funcionalidade, leveza e adequação às singularidades
das atividades de informações. Decorreu do esmero na preparação dos
integrantes do grupo de trabalho encarregado de organizar o futuro
órgão, após percorrer o que havia de melhor no mundo inteiro. As
instalações da EsNI, além de atender plenamente às necessidades do
ensino regular, permitiam flexibilidade para estender sua capacidade,
dentro do campo de ensino, para abertura de novas frentes de atuação.

ORGANIZAÇÃO

Basicamente compreendia: Direção - Departamento de Ensino-


Departamento de Pesquisa e Doutrina - Departamento de
Administração. Sob controle apenas administrativo: Departamento de
Informática do Serviço Nacional de Informações e o Centro de
Pesquisas destinado a equipamentos criptográficos (antecedendo o
CEPESC). O Departamento de Ensino era responsável pela organização
e execução dos cursos básicos (A,Be C) e dos estágios, variáveis em cada
ano, para atendimento de informações circunstanciais. Possuía uma
Divisão de Pedagogia, com encargos de planejamento do ensino e
devido controle. O Departamento de Pesquisa e Doutrina, além dos
assuntos indicados no seu título, era responsável por uma Divisão de
Idiomas e uma Divisão de Psicologia.

63
informações não pode prescindir do desenvolvimento d os va Iores. A
PESSOAL
avaliação mostra a necessidade de dar mais atenção ao
Corpo Docente - Dimensionado com equilíbrio para o desenvolvimento da área afetiva. Para tanto, ao longo do ano de 1979 a
. ento das necessidades do ensino e constituído por professores e Divisão de Pedagogia iniciou estudos e a preparação de recurs~s
aten d 1m .
monitores preparados e versáteis, em geral jovens pro~m,s~ores e didáticos que permitissem atuar com eficácia e eficiência nessa área.
capacitados a ministrar aulas com conhecimento e acurada d1datlca. A pesquisa nesse sentido revelou que escolas mais avançadas
Corpo Discente - Os Cursos A, B e C eram, em grande. ~arte, nos Estados Unidos possuíam e aplicavam recursos didáticos ,
compostos por funcionários públicos, ligados ao SISNI, e por mil1tares genericamente chamados de jogos e cenários, que de modo objetivo
tratavam da área afetiva e permitiam uma avaliação do aluno. De
das três Forças Singulares.
Pessoal da Administração - Lotado por funcionários, em sua imediato, esses jogos foram cogitados e logo adquiridos nos Estados
grande maioria, civis, capacitados para a execução de suas atribuições: Unidos, sendo traduzidos e adaptados à realidade da EsNI. No ano
Mas o que merece destaque no quadro de pessoal da EsNI e o letivo de 1980, vários jogos foram utilizados em caráter experimental e
acendrado espírito de corpo, sadio em todos os sentidos, e comprovado com apreciável êxito no Curso B e em alguns estágios .
. pelo modo como eram atendidos, por mais complexos que f~ssem, os Para facilitar a realização desses jogos e a montagem de cenários
;;< pedidos e as ordens atribuídos à Escola, sempre cumpndos com abrangentes de uma agência de informações, com todas as ligações
para uso com escalões superiores, paralelos e subalternos, com agências
presteza, correção e dedicação. .
Este foi o perfil da EsNI que me marcou quando assum1 sua de notícias, etc., no ano de 1980 foi completado o projeto das
Direção em 1979. No período 1979 a 1981, a EsNI deu ~articular edificações da EsNI, com um pavilhão para a biblioteca e um salão
atenção a quatro empreendimentos: aprimorar a quahdade do versátil e polivalente para o aprimoramento do emprego de recursos
ensino em especial da área afetiva, com o uso de recursos didáticos, os didáticos no ensino.
mais a~ançados, adquiridos nos Estados Unidos; repensar a dou~rina
de informações; criar cursos de aperfeiçoamento dos anahstas REPENSARA DOUTRINA
nos diversos campos; e, dentro deste objetivo, criar o Curso de
Informações Estratégicas, em nível da política e da estratégia nacionais. A argumentação, a seguir apresentada, está presa ao contexto
político do Estado brasileiro no período deste trabalho (1979-1980).
APRIMORAMENTO DA QUALIDADE DO ENSINO Assim sendo:
- o SNI era um órgão do Poder Executivo, diretamente
As escolas de formação devem distribuir de forma equilibrada as subordinado ao Presidente da República; e
atividades de ensino das áreas cognitiva (do conhecimento) e afetiva - tinha o encargo de produzir informações nos campos do
(dos valores). É desnecessário acrescentar que a formação do homem de

64 65
aqui qualquer crítica aos q ue anteri
E'
scola. A semelhança da ESC ormente passaram pela direção da
desenvolvimento e da segurança nacionais e noS âmbitoS
salto de qualidade n d .' que levou mais de dez anos para da
. a outnna di" r um
interno e externo. tmha de percorrer u 1 e po ItICa nacional, também a E NI
Em conseqüência, as informações produzidas pelo SNI m ongo t . s
a
valorização doutrinária O' .. rdaJeto para concluir um processo de
estariam inseridas, como assunto específico, na grande Politic . mlCla o em 1979 -
certamente, mesmo . nao se esgotaria em 1982
Nacional e, como decorrência, a Doutrina de Informações estaria porque haVIa u '
também inserida na Doutrina maior da politica Nacional; mais membros da EsNI para d . m prazo longo para form
. . ar partIda' 1b _ ar
objerivamente, a Doutrin. de Informações para um Serviço Nacional modIfIcação doutrinária co' a e a oraçao de uma proposta de
a P ... ,nslstente no seu conte' d
tem de preservar as características de uma doutrina de açáo politic e, ara mIClar o processo dUo.
. e repensar a d .
por conseguinte, deve contec (citaçáo do Manual Básico da Escola segumtes providên' Clas f oram tomad o outnna de informa çoes,
- as
_ selecionar prof as no 2 semestre de 1979:
Superior de Guerra, ano de 1983 - pág. 24) essores do Departament d .
(início de citação): 'valores - convicções éticas representativas reforçar a esvaziada D' . _ d o e Ensmo para
b IVlsao e Doutrina'
da cultura nacional; - so coordenação do Ch e f e d o Dep t '
_ princípios _ bases orientadoras da doutrina, inspirados noS Doutrina, iniciar a f _ ar amento de Pesquisa e
ormaçao do C
valores e alicerçados na teoria; organizar as tarefas a rupo de Trabalho e
executar- e
_ conceitos _ uniformização de entendimento quanto aoS
- substituir , em 1980 , os professores
' da ESC
fenômenos e a suas relações fundamentais, a fim de que os EsNI, para ministrar o ,. por professores da
estagIo de P l' .
aplicadores da doutrina possam usar linguagem comum; acionaI no Curso A. o ItICa e Estratégia
N
_ normas _ bases para procedimentoS ou relações existentes,
. Ao fim do na
ape r felçoamento ano de 1980 ' estava em and
que os aplicadores devem considerar; doutrina d . f _ amento uma proposta de
_ método _ caminho ou orientação para se alcançar um adeq d e m ormaçoes . d -
ua amente os itens VALORES ' que am a nao preenchia
resultado de modo racional e com maior proveito possível; e conseguinte aind _ ' PRINCIPIOS e CONCEITOS
_ processoS _ modos de se efetivarem as atividades escal- ' a nao oferecendo condi _ ' por
oes superiores do SNI. çoes para ser apreciada nos
recomendadas no todo ou a própria realização delas' (fim da

citação). CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO DE ANALISTAS


O exame da doutrina de informações da EsNI, à época
considerada, permitia constatar que a doutrina cingia-se a NORMAS,
MÉTODOS e PROCESSOS e náo tratava dos VAlORES, PRINcíPIOS do SN IEstes
e a cu
EsNI D .
rsos surgIram da inter açao
- entre a Agência Central (AC)
e CONCEITOS, e, quando o fazia, era de modo superficial. DissO se Convenlente
. maior .esp e .um
l' lado ' a AC conSI'd erando necessário e
eCla lzação dos seus ana l'lstas e, de outro lado, a
depreende por que o ensino da EsNI náo atribula a atençáo devida à árell
afetiva do ensino. Nesta oportunidade, deve-se acrescentar que náo há
67
66
EsNI tendo potencial para assumir, em termos de ensino, essa CURSO DE ESTRATÉGIA
responsabilidade. Em conjunto, ficou assim acertado: _
1) a EsNI, em cada ano letivo, só poderia dar execuçao a um O Curso de Estratégia visava a dois objetivos básicos:
curso destinado a determinada especialidade; 1°) Proporcionar ao pessoal da EsNI, em particular analistas e
2) a AC considerou prioritário iniciar o ano de 1980 com o curso professores, a dimensão estratégica de seus estudos e de suas análises,
da área econômica; e bem como compatibilizar o Plano Nacional de Informações (PNI) com
3) os cursos de aperfeiçoamento deveriam conter dois módulos: o nível dos planejamentos político-estratégicos do mais alto patamar
do Executivo Federal',
01° módulo seria por correspondência (curso à distância), e o
2° módulo, com todos os alunos reunidos na EsNI (curso face 2°) Permitir à doutrina de informações sedimentar e contemplar
a face). aspectos referentes a VALORES,CONCEITOS e PRINCÍPIOS.
Esta definição visava atender a inconveniência para o SNI de ter Poder-se-ia argumentar que, para alcançar esses objetivos,
bastava que os analistas, devidamente selecionados do SNI, viessem a
parte expressiva dos analistas de uma área afastada dos seus misteres
ser matriculados na ESC. Se isso fosse válido, a Marinha, o Exército e a
nas diversas agências, por um tempo prolongado. Organizar cursos face
Aeronáutica não teriam criado, nas respectivas Escolas de Estado-
a face já era uma tarefa rotineira da EsNI, porém organizar um curso de
Maior, um curso de um ano com o propósito de adequar os respectivos
ensino à distância, com elevado nível de eficiência, era uma tarefa
planejamentos estratégicos às particularidades de emprego da sua
pioneira, verdadeiro desafio. Merece destaque todo especial a ~x~~lente Força.
atuação da Divisão de Pedagogia, sob a direção do então Cel SmeslO,na
Mais uma vez, a Divisão de Pedagogia esmerou-se na
organização do Curso de Analistas do Campo Econômic~, q~e, a
organização da nova tarefa, que pode ser sintetizada nas seguintes
despeito do sucesso até hoje comentado, constituiu-se no pnmeuo e etapas:
único Curso de Aperfeiçoamento de Analistas realizado pela EsNI.
la) Elaboração de extensa e intensa pesquisa pedagógica,
O curso por correspondência baseava-se em apostilas
consultando, no Brasil e no exterior, em uma visão multidisciplinar,
elaboradas por eminentes professores da Universidade de Brasília - UnB
quais os conhecimentos que devia possuir um analista de estratégia
e preparadas com rigor pedagógico pela Divisão de Pedagogia. As para bem cumprir suas funções;
apostilas possuíam um capítulo exclusivo para a auto-avaliação do a
2 ) Seleção de um grupo altamente capacitado (o Diretor do
tema tratado. Livros didáticos de leitura complementar eram Curso Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores _ MRE,
distribuídos , sem ônus , para cada aluno matriculado. Havia ainda uma Ministro Conselheiro Ricupero, o responsável por toda a linha editorial
linha telefônica na EsNI para atendimento de consultas dos alunos. da UnB, Professor Cardim, e alguns dos mais competentes professores
Para o ano de 1981, já haviam sido feitos os contatos preliminares para daquela Universidade).
realização de um curso nos mesmos moldes para analistas do campo A organização do Curso de Estratégia demandou cerca de oito
político. meses e compreendia organização curricular, definição dos professores
68
69
e, sobretudo, seleção dos alunos. Durante poucos anos o Curso
• GENERAL-DE-BRIGADA ANTONIO CARlOS BITTENCOURT DE
funcionou, mesmo com o incorreto nome de Curso de Informações do ANDRADE
Campo Externo (CICE), quando, na verdade, o campo externo era uma Período: 13 de abril de 1985 a 24 de abril de 1987
derivada da grande Estratégia Nacional, e o currículo assim o expressava. • GENERAL-DE-BRIGADAJOSÉ CARlOS LEITE FILHO
Mas esse óbice não ofuscou o valor do Curso, confirmado por pessoas que Período: 25 de abril de 1987 a 25 de abril de 1989
o fizeram e não integravam o quadro do SNI. Os analistas que • GENERAL-DE-BRIGADAAGUINALDO DEL NERO AUGUSTO
freqüentaram o Curso e era:n do SNI também avaliaram-no como de Período: 26 de abril de 1989 a 14 de março de 1990.
grande importância para o SNI. Lamentável que tenha sido interrompido
sem que houvesse o tempo necessário para criar uma massa crítica de
analistas com a visão estratégica das informações."

A Escola Nacional de Informações, que viria a ser extinta em 1990,


teve como seus diretores as seguintes autoridades:

• GENERAL-DE-BRIGADA ÊNIO DOS SANTOS PINHEIRO


Período: 6 de maio de 1971 a 13 de agosto de 1974
• GENERAL-DE-BRIGADA JOSÉ ALBUQUERQUE
Período: 14 de agosto de 1974 a 23 de fevereiro de 1975
• CORONEL JÓSIO LERY DOS SANTOS
Período: 24 de fevereiro de 1975 a 18 de agosto de 1975
• GENERAL- DE-BRIGADA OTÁVIO AGUIAR DE MEDEIROS
Período: 19 de agosto de 1975 a 14 de junho de 1978
• GENERAL- DE-BRIGADA DANILO VENTURINI
Período: 15 de junho de 1978 a 15 de março de 1979
• CORONEL LUIZ PIRES URURAHY NETTO
Período: 16 de março de 1979 a 03 de maio de 1979
• GENERAL-DE-BRIGADA MANOEL AUGUSTO TEIXEIRA
Período: 4 de maio de 1979 a 4 de maio de 1981
• GENERAL-DE-BRIGADA ANTONIO JOAQUIM SOARES MOREIRA
Período: 5 de maio de 1981 a 12 de abril de 1985

70 71
5.2 O SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇOES
-

As atividades de Informações, no período referenciado, foram


exercidas mediante a organização e o funcionamento do Sistema
Nacional de Informações - SISNI, coordenado pelo SNI, em seu mais alto
nível, e composto por organismos setoriais de Informações no âmbito dos
ministérios civis e militares do Poder Executivo, alcançando as autarquias
e as empresas públicas a eles vinculadas.

-.fu!12 de maio de 1967, o Decreto nO60.664 transformou as Seções


de Segurança Nacional existentes em cada ministério civil em Divisões de
Segurança e Informações (DSIs), propiciando condições para os
organismos setoriais do Poder Executivo participarem nos trabalhos de
informações coordenados pelo SNI.

Essa integração dos ministérios civis no SISNI foi efetivamente


regulamentada por meio do Decreto n.o 75.524, de 24 de março de 1975,
conforme determinou o seu artigo 1°:

"Art. 1° Os encargos de Segurança Nacional/ de Mobilização e de


Informações/ no âmbito dos Ministérios Civis/ são de responsabilidade dos
respectivos Ministros de Estado."

o artigo 2°, por sua vez, ditava que:

"Art. 2° As Divisões de Segurança e Informações/ Órgãos centrais dos


Sistemas Setoriais de Informações e Contra-Informação dos Ministérios Civis/
são subordinadas aos respectivos Ministros de Estado e encarregadas de

73
assessorá-los diretamente em todos os assuntos pertinentes à Segurança
Nacionais de Informações - ONl" tinham por finalidade "orientar a
Nacional, à Mobilização eàs Informações.
produção de informações necessárias ao planejamento da política
§ 1° Para cumprimento do disposto no presente artigo, as Divisões de
nacional, bem como ao seu adequado acompanhamento, visando à
Segurança e Informações terão sua sede, obrigatoriamente, noDistrito Federal. execução dos objetivos nacionais".
§ 2° As Divisões de Segurança e Informações integram o Sistema
Nacional de Informações e Contra-Informação (SISNI) e, nesta condição,
o Sistema era desdobrado em subsistemas e comunidades
estão sujeitas à orientação normativa, à supervisão técnica e à fiscalização agrupando setores de atividade - setoriais - ou jurisdições d~
específica do serviço Nacional de Informações (SNI)." competência - regionais -, conforme cada caso, permitindo a cobertura
em todo o território nacional e em todo o espectro da administração do
Mais adiante, o Decreto n.o 75.640, de 22 de abril de 1975, Estado.
aprovou o Regulamento das Divisões de Segurança e Informações dos
ministérios civis e das Assessorias de Segurança e Informações (ASIs), Sobre esse fluxo de informações para subsidiar a tomada de
definindo que ao SNI competia efetuar "a orientação normativa, a decisões do Presidente da República, vale citar trecho do discurso do
supervisão técnica e a fiscalização específica", no tocante às respectivas General-de-Divisão Newton Araújo de Oliveira e Cruz na
participações no SISNI. oportunidade em que transmitiu a chefia da Agência Central p~ra o
General-de-Divisão Geraldo de Araújo Ferreira Braga, em 16 de agosto
de 1983:
Ao SISNI também foram acoplados, por canais técnicos, os
órgãos de Informações da alçada dos governos dos Estados da
Federação, em especial as 2as Seções das Polícias Militares. . "Os órgãos setoriais de informações possuem condições para reunir e
l tnteg~ar informes e informações apenas sobre assuntos específicos,
O funcionamento do Sistema Nacional de Informações era relaCIonados com as missões dos Ministérios. Com a dinâmica da vida
implementado em decorrência do Plano Nacional de Informações - PNI, moderna e num país trepidante como o nosso, os assuntos, normalmente, inter-
relacionam-se/ completam-se, combinam-se, interessam a vários Ministérios.
baixado pelo Decreto n.O66.732, de 16 de junho de 1970, e reeditado
Fiel aos princípios de objetividade, Oportunidade e amplitude, mais comum
pelo Decreto n.O73.284, de 10 de dezembro de 1973, o qual estabelecia
tornou-se a presença do SNI em setores diversos da vida nacional. As
as finalidades, os objetivos de informações, a discriminação das
possibilidades de informações setoriais se reduziram, ganhando expressão o
informações necessárias e os canais de ligação, entre outros aspectos,
órgão encarregado de produzir informações nacionais, que as elaboraI
favorecendo os papéis de coordenação e de integração exercidos pelo
evidentemente, a partir das atividades de campo e de gabinete, com os que
Serviço Nacional de Informações. O PNI estabelecia que os "Objetivos operam e com os que analisam."

74
75
É importante comentar, ainda sobre o Sistema Nacional de
Informações, que a experiência apresentou, em considerável medida, 5.3 O CENTRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
dificuldade para o alcance dos objetivos de informações estabelecidos, PARA A SEGURANÇA DAS COMUNICAÇÕES
uma vez que nem sempre o órgão central, no caso o SNI, pôde exercer
adequadamente seu papel de coordenador, processador e difusor das
informações globais necessárias. O sistema compunha-se de
.Na década de setenta, para prover a segurança das
organismos vinculados a diversos ministérios com um mesmo nível comunICações de suas informações sigilosas, o Estado brasileiro
hierárquico, e os respectivos dirigentes eram detentores de variados utilizava equipamentos criptográficos de origem estrangeira,
graus de precedência, o que ocasionava entraves no fluxo das repr~sentando grave vulnerabilidade quanto à preservação de sua
informações por meio dos chamados canais técnicos, dificultando o co~f.Id~n.cialidade. Naquela oportunidade, análises procedidas pelo
acesso à totalidade dos conhecimentos pelo organismo de cúpula. MInIsteno das Relações Exteriores (MRE) indicaram a premente
necessidade de o Bras·l dI' .
. , . 1 esenvo ver seus propnos recursos
ORGANISMOS DE APOIO cnptograhcos, usando para isso tecnologia exclusivamente nacional.

Para atender às sistemáticas demandas das atividades de


. . Com esse propósito, o Diretor-Geral do então Departamento de
Informações, foram criadas, no âmbito do Serviço Nacional de AdmInIstração do Serviço Público (DASP) emitiu a Exposição de
Informações, estruturas de apoio administrativo e técnico, como a Motivos n.o ~84/75, d: 12 de ~arço de 1975, aprovada no dia seguinte,
Secretaria Administrativa - SAD, para o suporte em recursos na. q~al, ~ropos ao Exm Sr. PresIdente da República a autorização para o
financeiros e materiais, e a Gerência de Recursos Humanos, para o apoio ~InIsteno ~as Relações Exteriores contratar "técnicose especialistas para
quanto a recrutamento, seleção, desenvolvimento e aperfeiçoamento tntegrar eqUIpes que devem tratar da elaboração/ implantação e operação de
de pessoal; o Departamento de Telecomunicações e Eletrônica - DTE, projetos altamente prioritários para o sistema de comunicações e informações
para o apoio especializado em telecomunicações e em material de do Itamaraty".
eletrônica; e o Centro de Informática - CIN, para o suprimento das
necessidades na área de processamento eletrônico de dados.
Dentro do mesmo escopo de garantir a segurança das
comunicações do MRE, em 1977, o Embaixador Paulo Cotrim em nome
Estas três unidades tiveram aprimoramento técnico e da instituição, propôs a criação do "Centro de Desenvolvimento ~ientífico e
administrativo, recebendo novas denominações e vinculações Tecnológicode Apoio à Segurança Nacional (CDSN)/ como instrumento de
hierárquicas que lhes permitiram oferecer de maneira permanente e formulação da política criptológica nacional" e da "Empresa Pública/ sob a
sem solução de continuidade os suportes necessários ao exercício da denomi~ação de EMPRESA BRASILEIRA DE EQUIPAMENTOS
atividade-fim.
ELETRONICOS - EMBRASIL'~ vinculada àquele Centro, tendo como
76
77
"objetivos principais o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas, o • controlar o comércio e a fabricação de equipamentos criptográficos
estudo de suas aplicações e a produção de equipamentos e componentes que venham a ser comercializados ou produzidos pela empresa
deles derivados de exclusivo interesse da Segurança N·aClOna,
1" a mbos privada."
mediante decretos do Presidente da República.
Em atenção à nova Exposição de Motivos dos Ministros das
As propostas receberam a devida atenção ~~s autoridades Relações Exteriores e do Serviço Nacional de Informações, o Presidente
máximas do Governo, tendo sido encaminhadas ao Mmist~o-Chefe do da República autorizou, em 29 de outubro de 1980, a criação de uma
Serviço Nacional de Infa"rmações, para, em tratamento conjunto com o empresa pública, subsidiária da Indústria de Material Bélico do Brasil-
MRE, implementar as sugestões. IMBEL,denominada PRÓLOGO SI A - Produtos Eletrônicos, tendo "por
objeto a pesquisaI a indústria e o comércio de produtos técnicos e eletrônicos
Vale citar que, com o mesmo objetivo de desenvolver recu~s~s relacionados com a indústria de material bélico assim como a prestação de
l

seguros de criptografia, já existia, naquela época, incipiente Labor~tono serviços técnicos nessa área de atividade".
de Criptologia na estrutura do Departamento de Doutrina e Pesquisa, da
Escola Nacional de Informações. Na realidade, os produtos da empresa Prólogo seriam
estritamente relacionados com recursos criptográficos decorrentes do
Em decorrência dos esforços comuns, o Ministério das Rel~ç~es "Projeto Prólogo". Este, mais precisamente em 19 de maio de 1982,
Exteriores e o Serviço Nacional de Informações celebraram c~nvemo~ mediante o Decreto Reservado n.O12, resultou na criação do Centro de
titulado "Projeto Prólogo", conforme Exposição de MotiVOS n. Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações _
G/SNI/346, de 21 de dezembro de 1977, endereçada ao ExmO Sr. CEPESC. Em síntese, a empresa Prólogo SI A ficou encarregada de .J
Presidente da República e aprovada em 9 de janeiro de 1978. produzir, em larga escala, o equipamento, enquanto o CEPESC ficava
com a responsabilidade de pesquisar e desenvolver os algoritmos de
o Projeto Prólogotinha como objetivos principais: cifração.
• "realizar pesquisas no campo da criptologiai
• aconselhar políticas a serem adotadas pelo Governo neste mesmo Os primeiros produtos vieram a ser fabricados no início daquela
campoi década, podendo ser citados os equipamentos AS-2T, de uso on-line em
• desenvolver a criptoanálisei canais de telex, CP-1 e CF-i, de utilização off-line.
• desenvolver projetos de equipamentos criptográficosi .
• produzir os equipamentos por ele projetados e que se destrnarem Nessa mesma época, a empresa Prólogo foi extinta, sendo
ao uso por entidades governamentaisi transferida para o CEPESC a atribuição de produzir, em pequena escala,
os equipamentos criptográficos, bem como a de proceder à manutenção
78
79
de todo o parque dos recursos já instalados. Desde então, o CEPESC
6. Decreto n.O 60.940, de 4 de julho de 1967, que criou as
passou a ser o fornecedor de diversas entidades estratégicas nacionais,
Divisões de Segurança e Informações - DSls, no âmbito dos
destacando-se como clientes prioritários a Presidência da República, o Ministérios Civis' ,
Ministério das Relações Exteriores, os organismos de Informações, os
7. Decreto n.O 62.860, de 18 de junho de 1968, que estabeleceu a
ministérios militares e o Banco Central.
estrutura básica da organização do Ministério da Marinha
incluído o Centro de Informações da Marinha - CENlMAR. '
o CEPESC veio, assim, para atender à necessidade de o Estado
8. Decreto n.O 63.006, de 17 de julho de 1968, que cr{ou o
brasileiro proteger as informações sigilosas, que, naquela oportunidade,
Núcleo do Serviço de Informações da Aeronáutica' ,
transitavam pelos canais de comunicações sem cobertura criptográfica
9. Decreto n.O 66.608, de 20 de maio de 1970, que extinguiu o
ou com cobertura feita com recursos fornecidos por organizações
Núcleo do Serviço de Informações da Aeronáutica, criou o
estrangeiras, não garantindo, assim, o nível de segurança exigido.
Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica _ CISA e
aprovou seu Regulamento;
DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES
10. Decreto n.O 66.732, de 16 de junho de 1970, que aprovou o
Plano Nacional de Informações - PNI;
Merecem referência os principais dispositivos legais que
11. Decreto n.O 68.447, de 30 de março de 1971, que aprovou o
ordenaram o exercício das atividades de Informações de 1964 até 1979,
regulamento para o Centro de Informações da Marinha;
ano em que teve início o Governo de João Baptista de Oliveira
12. Decreto n.O 68.448, de 31 de março de 1971, que criou a
Figueiredo, período esse caracterizado por importantes decisões sobre a
Escola Nacional de Informações - EsNI;
política nacional:
13. Decreto n.O 73.284, de 10 de dezembro de 1973, que aprovou
novo Plano Nacional de Informações;
1. Lei n.o 4.341, de 13 de junho de 1964, que criou o Serviço
14. Decreto n.O 79.099, de 6 de janeiro de 1977, que aprovou
Nacional de Informações;
novo Regulamento para Salvaguarda de Assuntos Sigilosos;
2. Decreto n.o 55.194, de 10de dezembro de 1964, que aprovou o
15. Decreto n.o 82.379, de 4 de outubro de 1978, que, mais uma
primeiro Regulamento do Serviço Nacional de Informações;
vez, aprovou novo Regulamento do Serviço Nacional de
3. Decreto n.o 60.182, de 3 de fevereiro de 1967, que aprovou Informações.
novo Regulamento do SNI;
4. Decreto n.O 60.417, de 11 de março de 1967, que aprovou o
Regulamento para Salvaguarda de Assuntos Sigilosos;
5. Decreto n.O 60.664, de 2 de maio de 1967, que criou o Centro
de Informações do Exército - CIE;

80
81
5.4 O "PROJETOSNI"
o governo do Presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo
(1979-1985) ficou caracterizado como elo de transição para a abertura
democrática. Aconteceram, entre outras manifestações liberais, a anistia
política e o fim da censura. No tocante às atividades de Informações,
buscou o Governo Figueiredo ajustar a estrutura vigente aos novos
tempos constitucionais, sob a égide da plenitude democrática. Foram,
para tanto, efetivados diversos eventos doutrinários promovidos pela
Escola Nacional de Informações, oportunidades em que novos conceitos e
procedimentos vieram a ser concebidos para a prática das ações de
Informações.

Vale lembrar que um dos atos principais do Presidente João


Figueiredo havia sido a criação do CEPESC, organismo que passou a
dominar com exclusividade a alta tecnologia da criptografia no Brasil, por
esta principal razão colocado em ligação direta com o Ministro-Chefe do
SNI, e sob a rigorosa capa protetora da Contra-Inteligência nacional, para
sua defesa contra as ameaças das estruturas de espionagem dos outros
países.

Em andamento a esse processo de reformulação, mais adiante, já


durante o governo do Presidente José Sarney, editou-se o Decreto nO
96.814, de 28 de setembro de 1988, que transformou a Secretaria-Geral do
Conselho de Segurança Nacional em Secretaria de Assessoramento da
Defesa Nacional- SADEN/PR, mantendo-a com a mesma finalidade de
assessoramento ao Presidente da República e como um dos principais
usuários do SNI. No dia seguinte, foi baixado novo Regulamento do
Serviço Nacional de Informações, conforme o Decreto n.o 96.876, que
estabeleceu novos preceitos.
83
Este conceito teve seu entendimento desdobrado em duas
Este Regulamento ditava em seu artigo 1°: vertentes básicas, quais sejam:

• Informação - voltada para a produção do conhecimento;


"Art. 1° O Serviço Nacional de Informações (SNI), criado pela Lei n.o • Contra-Informação - voltada para a salvaguarda do
4.341, de 13 de junho de 1964, integra a Presidência da República e tem por conhecimento.
finalidade superintender, coordenar e exercitar, no mais alto nível, a atividade
de Informações em proveito da Política Nacional, especialmente no tocante à
Estabeleceu-se outra definição, diminuindo o espectro de
soberania nacional e à defesa do Estado democrático.
atuação que o conceito anterior contemplava. De acordo com a
Parágrafo único. Aatividade de Informações a que se refere este artigo
estratégia política adotada, as alterações doutrinárias e, por
compreende os ramos Informação e Contra-Informação." co ..~ .
nsequencIa, as mudanças nas tarefas práticas, de responsabilidade
dos segmentos de execução da atividade de Informações, foram
Com base nestes estudos, ainda na vIgencia do governo do
Presidente José Sarney, o então Ministro-Chefe do SNI, General Ivan de cautelosa e gradualmente efetuadas, proporcionando a construção de
Souza Mendes, baixou diretrizes sobre uma nova doutrina para as u.ma sólida base conceitual, coerente com o ordenamento jurídico
atividades de Informações. Em decorrência, constitui-se um Grupo de vIgente e aplicável ao novo cenário político-institucional.
Trabalho específico, com representantes da Agência Central do SNI e da
EsNI, que elaborou o Manual de Informações do SNI, aprovado pela . ~osteriormente, já próximo ao final do mandato de José Sarney,
Portaria n.o 36, de 22 de março de 1989, do Ministro de Estado Chefe do cons~I~Ulu-se um novo Grupo de Trabalho, com o propósito de
Serviço Nacional de Informações, redefinindo os preceitos doutrinários rdentr~car as virtuais necessidades de aperfeiçoamento da finalidade,
para as Informações no Brasil. organrzação e da atuação do SNI e propor medidas visando ao atendimento
das necessidades eventualmente indicadas.
Concebeu-se um novo conceito para a atividade de Informações,
a saber: "a atividade de Informações é desenvolvida pelo organismo de E ..
~. ~
m consequenCla, propos-se nova concepção organizacional,
Informações, constituindo o exercício sistemático de ações especializadas,
compatível com a realidade nacional, mediante a elaboração do Projeto
orientadas para a produção e a salvaguarda de conhecimentos, tendo em vista SNI f' d I' .
, em que ICOU e ImItado o campo de competência da estrutura.
assessorar as autoridades governamentais nos respectivos níveis e áreas de
Deveria o "novo SNI" atuar nas áreas de produção de conhecimentos
atribuição, para o planejamento, a execução e o acompanhamento de suas
relativos à defesa dos objetivos do Brasil na cena internacional e de
Políticas".
salvaguarda dos interesses do Estado Contra as ações de espionagem,
sabotagem, terrorismo e outras que pusessem em risco as instituições nacionais.

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85
Almejava-se, assim, a depuração do organismo, eliminando de 5.5 O CASO NOVIKOV
suas funções as possíveis tarefas que extrapolassem sua efetiva
competência, desvinculadas do enfoque de segurança da sociedade e do
Estado. Todavia, mesmo concluído, o Projeto SNI não chegou a ser A revista Veja, edição de 12 de julho de 1995, publicou a seguinte
implementado, ficando suas propostas disponíveis ao futuro governo. reportagem de William Waack, correspondente de Moscou.

o SNI vivenciou inúmeras situações delicadas na época, sendo "O espião de Moscou Vladimir Novikov, chefe do
escritório da KGB no Brasil de 1983 a 1990, fala a VEJA sobre
importante fazer referência a algumas delas, particularmente por
suas tarefas e amigos durante 54 anos no serviço secreto
ilustrarem a constante peleja da Espionagem e da Contra-Espionagem e
soviético."
por terem sido reveladas pela imprensa, com depoimentos autênticos
dos próprios agentes adversos. Ressalte-se, também, que os casos
"A conversa começa na cozinha, onde na tradição russa tudo acontece.
transcritos só vieram à tona por espontânea vontade dos espiões, uma
O coronel Vladimir Novikov deixa a sopa de peixe cozinhando no fogão e
vez que as respectivas redes vinham sendo acompanhadas
arrasta as pernas grossas em busca da garrafa de vodca, sem a qual na Rússia
sigilosamente pelo então Departamento de Contra-Informa~ão, _da
nada acontece. Num espanhol com sotaque forte, o coronel anuncia um brinde.
Agência Central do SNI, que mantinha a movimentação e as hgaçoes
O primeiro de uma série interminável. Pelos olhos verdes de Ludmila, sua
dos agentes sob rigoroso controle.
mulhel; passou o brilho de quem sabe como essas coisas costumam acabaI; já
que estão casados há 49 anos. Mais tempo junto o coronel esteve apenas com a
KGB. Vladimir Novikov foi funcionário da extinta agência de espionagem
soviética durante 54 anos, oito deles como chefe da sucursal da KGB no Brasil.
O coronel e Ludmila saíram de Brasília pouco antes da posse de Fernando
Collol; em 1990. "Ao Brasil'~ brinda Novikov, emborcando de uma só vez o
primeiro copo.
O sol da tarde ilumina a dacha, a casa de campo reservada aos altos
funcionários do antigo regime, onde vive o coronel, a 120 quilômetros de
Moscou. Aos 74 anos, Novikov continua fazendo jus ao apelido de juventude,
"Urso".Ajeita o corpanzil à cabeceira da longa mesa, tenso com as perguntas. É
enorme o peso do passado, que vem literalmente do berço. O pai de Novikov foi
general da KGB no tempo em que a temida polícia política secreta se chamava
NKVD, e o de Ludmila foi oficial na época em que o NKVD se chamava GP~

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há sessenta anos. Vladimir Novikov recebeu a Ordem da Bandeira Vermelha, DESPERDÍCIO - O que havia para ser feito no Brasil? Novikov
normalmente só concedida em tempo de guerra. Fazia parte de um grupo começara a carreira latino-americana no México, que foi durante décadas o
ultrafechado na União Soviética, a elite da elite, disciplinado e poderoso, além principal centro de espionagem nesse lado do mundo. Por razões óbvias:
de silencioso. Falar de sua vida como espião, ainda por cima a estrangeiros, era abrigava grande número de exilados e ficava perto dos Estados Unidos. No
inimaginável há cinco anos, quando se aposentou, condecorado e respeitado. período mexicano, seu chefe em Moscou era Nikolai Leonov, o primeiro agente
da KGB a fazer contato com Fidel Castro, e isso anos antes da Revolução
Mas isso foi antes que seu mundo desabasse.
Meio litro de vodca foi embora nem bem chegou a entrada de arenques Cubana. Foi Leonov que levou Novikov para trabalhar em Cuba, escondido
defumados com maionese e salada de pepino. "Ficamos conhecidos no dos cubanos. Mas e o Brasil? "Era o maior país da região, onde tínhamos nossa
departamento latino-americano como os caçadores de presidentes", conta maior rede, um lugar importante'~ responde Novikov, com seu vozeirão gutural.
Ludmila, sorridente, enquanto, constrangido, resmunga qualquer coisa em "Era o país com o maior número de empresas americanas, e infiltrá-las era
russo. "Ela era linda e insinuante, foi minha principal agente'~ diz Novikov. nossa principal tarefa."
'Tradutora de espanhol e de português, Ludmila sempre achou uma maneira de O coronel prefere falar do peixe e da sopa quando a pergunta se refere
se aproximar dos presidentes nos países onde o marido foi chefe do escritório da às operações das quais participou no Brasil e se conseguiu infiltrar agentes nas
KGB e também de intelectuais como o poeta chileno Pablo Neruda. Na empresas americanas. Novikov não gosta de indagações curtas e diretas. "Eu
Colômbia, nos anos 70, ela começou a traduzir obras do irmão do então tinha vinte agentes no Brasil'~ responde, quando o assunto já havia tomado
presidente López Michelsen, que se acabou tornando amigo de Vladimir outro rumo, "mas não vou dizer quem eram, pois muitos deles devem estar
trabalhando ainda". Brasileiros na sua rede? Novikov fica quieto. É capaz de
Novikov, a ponto de levá-lo no avião presidencial.
Ao chegar ao Brasil, em 1983, o casal espião foi informado de que um enfrentar o silêncio sem mover uma pestana, deixa a conversa ir para os netos e
irmão do presidente João Figueiredo, Guilherme, era escritor. Ludmila se os cachorros, propõe outro brinde e, ao bater o copo, abre um sorriso divertido.
encarregou de conseguir uma de suas obras traduzidas para o russO. Uma velha "Houve, sim, uma operação no Brasil da qual me lembro bem'~ diz. "Do
amizade com Jorge Amado existia desde 1953, quando o escritor brasileiro Centro, Moscou, veio a ordem de conseguir determinado tipo de semente de
participou em Moscou de um congresso e Ludmila foi sua intérprete. Melhor milho, que acabamos ganhando de presente em Brasília, mas o agente que
ainda quando o próprio presidente é escritor, como no caso de José Sarney, que obteve as sementes foi até condecorado'~ lembra Novikov. O milho foi plantado
Ludmila também traduziu. Para ganhar intimidade com a obra dessa pena no frio russo e morreu.
maranhense, ficaram amigos do filho do presidente, o deputado Zequinha O coronel Novikov dirigia rede oficial da KGB no Brasil, composta
Sarney, que freqüentava o apartamento do casal em Brasília. "Nenhum deles sobretudo de diplomatas na embaixada da URSS em Brasília e na
sabia que éramos da KGB'~ adverte Novikov, antecipando possíveis representação comercial em São Paulo, além de jornalistas soviéticos. No Rio,
criou-se uma situação curiosa: o correspondente da Tass, a agência de notícias
dificuldades para seus antigos interlocutores. Seu cargo oficial na embaixada
da URSS era de adido cultural.
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soviétical era o chefe do locall e o cônsul-geral da URSSI normalmente uma parte era gasto com mulheresl compra de imóveis e '"estas" "T B .1. ,
I' . lVO rasll Ja com a
(tgura hierárquica superiot; o seu vice. Dos agentes extra-oficiaisl Novikov diz patente de coronel e mais de quarenta anos de serviço "Tov.k
. . I 1 VI I ov Sustenta que
nada sabet; o que parece ser plausívell pois esse tipo de agente costumava ser c~nse~ulu lIvrar-se do abacaxi. "Fuieu que parei com essa história de entregar
controlado diretamente por Moscou. Havia pelo menos uma atividade extra- dznhelro para comunistas no Brasil" d· "O .
. I IZ. S comUnistas brasileiros
oficiall poréml da qual Novikov participou diversas vezes e detestava: entregar cont~nuaram .recebendo em algum lugar da Europal mas minha rede não
dinheiro aos partidos comunistas latino-americanos - o chamado ouro de precisava maIs perder tempo Comesses inúteis." Segundo o coronel as últ.
·b . - limas
Moscou. contrr Ulçoes de Moscou para o PCBI por ordem do Comitê Centra" foram
"Era puro despú-dício de tempo e de recursosl que podiam ser muito a
para. campanha eleitoral de 1989 quando o Deputado Roberto Freire foi
1

mais bem utilizados por nossa rede'~fuzila Novikov. Era perigosol pois a KGB candidato do partido à Presidência da República.
considerava os militantes comunistas um grave risco de segurança. ''Mal Fora uma maravilhosa viagem turística de carrol por toda a Costa de
treinadosl os comunistas locais não respeitavam as regras da conspiração'~ Salvador ao Rio . I . ti .
I znc uzn o um emotivo reencontro com Jorge Amado e s
completa o chefe dos espiões. "Infiltrados pelas polícias locaisl podiam causar mulhet; Zélia Gatta/~ a vida no Brasil era tranqüila e monótona. O coronel:~
sérios problemas às nossas embaixadas." Novikov conta o caso de uma teve um bocado de agitação quando o então Ministro das Relações Exteriores
comunista costa-riquenha que telefonava para ele de casal pois não queria sair da UR.SS E~uard S~evardnadze - ex-chefe da KGB na Geórgial República
na rua com o cabelo enrolado. No Méxicol decidiu-se que o funcionário que hOJepr.es:de - VISItOUo Brasil. O próprio Novikov se encarregou de dirrgir o
considerado menos e(túente na embaixada soviética ficaria responsável pelos carro ~o mznlstro.Isso porquel segundo elel não havia recursos para a KGB ter
contatos com os representantes de vários partidos comunistas la tino- seu proprro motorrstal como a situação obrigava Na KGB a +. It d
A • I ,a a e recursos
americanos. Para o tal funcionário foi ótimol pois acabou ganhando uma era cronica. "Uma vezl na Colômbial oferecemos 300 dólares para um sujeito
medalha. da ~IAI e ele fez uma contra-oferta de 50.000 dólares'~ lembra o coronel.
MOTORISTA - Na Colômbial o próprio Novikov andou disfarçado Asslml Novikov precisava de pe .d
ssoas que o aJu assem por convicção e menos
de perucal entregando dinheiro em montanhas perto de Bogotál numa festa por dinheiro. Quem se vende por 1dólar se vende também por dól:r e meio
l
oficial (100.000 dólares estavam escondidos dentro de um bolo) e em aprendeu. Passou a investir em contatos pessoaisl em qualidade em vez de
supermercadosl com as notas disfarçadas entre legumes e pacotes de frango quantidade "C h ·ti
. " .. on ecemos resl entes nossos que recrutavam até o sapateiro da
congelado. "Foiótimol (t·camos com os frangos'~ brinca o coronel. Um recibo era esquzna brrnca Ludmila "T ·ko .
I . 1 vOVI V convencia as pessoas de que estavam
assinadol enviado por mala diplomática a Moscou el acredite quem quiset; a~"udandoa defender a paz ou a bloquear o avanço do imperialismo americano.
terminava aí a participação da KGB. "Não tínhamos a menor idéia do que se Ficava amigo delas "1 T. r..
A . d
. voce ,Ica amigo e uma pessoa quando pode fazer a ela
qualquer perg t"
fazia com esse dinheiro'~ diz Novikovl para em seguida afirmar que o dinheiro un a I exp I·Ica o coronel. Mas não vai contra uma boa amizade
enviado por Moscou aos partidos comunistas latino-americanos "na sua maior tirar proveito das respostas? "Dejeito nenhuml pois nós sabíamos cuidar com
muita discrição de qualquer informação dada por amigos'~ responde.
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Na sopa servida por Novikov bóiam peixes cortados pela metade, Novikov era o segundo homem da KGB na ilha, disfarçado de adido CUltural.
com cabeça e rabo. Ele sempre gostou de qualquer coisa típica, como ovos de "Agente se sentia como num país inimigo, pois os cubanos não nos contavam o
vários bichos, tartaruga, tatu, filé de jacaré e posta de jibóia, que que queriam ou o que faziam, e minha função era justamente descobrir quais
experimentou no interior de Minas Gerais. Sobrou tempo para viajar pelo eram suas intenções'~ lembra o coronel. Era a época em que Fidel Castro estava
Brasil, já que desde o início da perestroika a direção do deixava seus preocupado em se ver livre de possíveis concorrentes, como Camilo Cienfuegos,
residentes, pelo menos os do Brasil, sem orientação clara, a não ser combater o um dos veteranos de Sierra Maestra, Pifíero Abrantes, o chefe da polícia
adversário principal, os Estados Unidos - tarefa cada vez mais difícil, com o secreta, e Che Guevara. "Eram muitos ursos para uma jaula só'~diz Novikov.
avanço da détente entre .as então superpotências. Era também a época em "Os cubanos nos controlavam, não deixavam que participássemos de maneira
que o coronel passou a recomendar a Moscou que se entendesse diretamente alguma em sua política, e, ao mesmo tempo, queriam de nós todo tipo de
comopartido majoritário nogoverno brasileiro, oPMDB. tecnologia de última geração, além da comida que já nos fazia falta em casa. "
DEJETOS RADIATIVOS - Palpites como esse em assuntos Ludmila já estivera uma vez em Cuba, em 1962, e se apaixonara por Fidel
políticos acabavam levando o chefe local da KGB a trombadas com o Castro. Na segunda vez, a admiração virou raiva. "Só de noite eu podia sair
embaixador, teoricamente o chefe da missão. Em Moscou, porém, os relatórios para levar comida a amigos cubanos'~ lembra.
do embaixador soviético no Brasil eram sempre cotejados com os telegramas do Sintoma de um reflexo bem treinado, o coronel se lembra de detalhes
chefe da KGB, que obviamente tinha seus próprios códigos e linhas de quanto mais longínquo for o caso que contar. No México, por exemplo, diz que
comunicação. Dos embaixadores soviéticos, Novikov não ficou com boa foi submetido a um teste que consistia em dirigir 800 quilômetros e enterrar
opinião. "Havia muitos ladrões e preguiçosos'~ diz. No Brasil, um deles
uma caixa num local ermo mas próximo à fronteira com os Estados Unidos. Ao
encheu aviões com material de construção e mandou para a própria dacha, na
voltar à capital, Novikov teve de fazer um mapa detalhado para que outro
Rússia. Outro levou consigo o serviço de porcelana inglesa da embaixada. Era
agente pudesse achar e desenterrar a caixa. Ela estava vazia: o teste consistia,
o mesmo que recebia duas pessoas para comer, mas enfiava quatro na
na verdade, em saber fazer o mapa. Também no México, Novikov participou de
contabilidade. A KGB não controlava também essas coisas? ''Meu chefe teria
uma operação de desinformação. "Ficamos amigos de uns pescadores e os
mandado me prender, por burrice, se eu tivesse denunciado um embaixador'~
convencemos a colocar na rede dois barris velhos, que fotografamos'~ diz. ''As
esclarece Novikov. "Os embaixadores eram nomeados pelo Politburo, ou seja,
fotos foram distribuídas para a imprensa como prova de que dejetos
pelo céu. Faziam parte da nomenklatura, estavam muito acima do resto."
radioativos americanos estavam batendo nas costas do México: foi um
Além dos diplomatas, comunistas e, de uns tempos para cá, do
escândalo. "Apenas na Colômbia o coronel teve medo de morrer. Sua Ordem da
presidente Boris leltsin, nada deixa o coronel mais irritado do que falar nos
quatro anos que passou como agente da KGB em Cuba, na década de 60, Bandeira Vermelha deve-se ao fato de que ajudou decisivamente a desmascarar
depois que Fidel Castro tomou o poder e fez (J país se aliar à União Soviética. um espião da CIA que trabalhara na embaixada soviética em Bogotá, sendo
depois transferido para Moscou. Oficialmente, o homem se suicidou ao ser
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presol na URSS. "Quando o pegaraml ele disse que só eu podia tê-lo Brasill e os netos Alexand L . O . -
I re e ucra. s dors estao arrasados pela idéia de que
denunciado'~ conta Novikov. "Fiquei com medo de que a CIA se vingasse de tudo o que tentaram roi em -
I' vaol seu mundo acabou e não vale a pena viver no
mim e passei a dormir em Bogotá com uma pistola debaixo do travesseiro." atual. O mato está cresc d d h .
. en o na ac aI planelada para uma velhice feliz.
TRAGÉDIA - Ao voltar para casal em 1990 o coronel estava bem de Ludmtla fuma um cigar / d
1 . ro atras o outrol olhando para uma foto do {11ho
vida. Tinha carrol um bom apartamento - no prédio que o chefe do NKVD nos Serguer e esperando a mad d h .
ruga a c egar para dormrr de cansaço. Noite alta o
tempos de Stalinl Berial mandara construir para seu pessoal e para algumas coronel cochila em +rentedi' - I' I
. I' a te evrsao rgada. Mesmo o passado está morrendo
bailarinas do Bolshoi - e a dacha. o desastre começou com o fim da União
devagarmho pois amb
I
- ~ . .
os nao veem sentrdo em frcar conversando sobre o
passado. Por que entã - d'
Soviética. A reforma econômica e a liberação dos preços de 1992 pulverizaram a . /. I OI nao contar tu OI derxar um depoimento para a
poupança do casal e reduziram o valor da aposentadoria ao equivalente a 4 ~rst~rtal falar com seriedade sobre tudo o que foi feito? Porque restou a
litros de vodca. Tão forte quanto a penúria financeira foi a pancada moral de frdeltdade. O coronel Vladimir Novikov odeia os ex-colegas de KGB que
ter perdido a Guerra Fria. "Lutei todos esses anos para acabar vendo como os v~nderam segredos ou delataram amigos e colaboradores. "Pre{1'roir para o
tumulo com tudo oque seir~diz. "Não sou um traidor 11. 11
americanos vêm aqui agora e compram qualquer um por 20 dólares'~ lamenta
Novikov. O coronel percebeu depressa que mais ninguém em lasanevol o
subúrbio de Moscou onde funciona a sede da espionagem exterior russal estava
interessado em seus conselhos ou experiência. Os mais jovens e espertos saíram
para ganhar dinheirol como seu vice no Brasill que trabalha agora em Moscou
num banco particular de investimentos - uma das típicas carreiras de gente da
KGB na era pós-soviética. (A outra é oferecer proteção de qualquer tipo.) A
suprema humilhação para Vladimir ocorreu na festa dos cinqüenta anos da
vitória na II Guerra Mundiall em maio. Ele e outros veteranos foram recebidos
na cantina em lasanevol mas nem puderam conversar com o pessoal novo ou
visitar seus antigos escritórios. Cada um recebeu de presente uma garrafa de
vodca e o conselho dado por um jovem oficial: "Bebam".
Para completar; houve uma tragédia pessoal da qual Novikov e
Ludmila não se recuperaram. O filho mais velhol Sergueil que fazia carreira
como analista da espionagem exterior da KGBI morreul aos 45 anosl de ataque
cardíaco. Restam o outro filhol Alexander, que em 1989 visitou os paisl no

94 95
5.6 O CASOMIRTSCHINK

Apenso à mesma reportagem que relata as ações de Novikov,


William Waack descreve outro caso de espionagem no Brasil, desta feita
tendo como personagem o major Jürgen Mirtschink, alemão oriental.

"Rede paralela
O major Jürgen Mirtschink perdeu seu emprego no mesmo dia em que
a Alemanha se unificou, em outubro de 1990. Ele foi o último chefe da Stasi - a
polícia política e secreta da Alemanha Oriental - no Brasil. Patrão, governo,
países e inimigos deixaram de existir de uma vez só, de um dia para o outro.
"Consegui apenas limpar minha gaveta", lembra Mirtschink, que desde então
nunca mais encontrou trabalho na Alemanha. Disfarçado de ministro-
conselheiro da embaixada da então República Democrática Alemã, RDA, em
Brasília, ele dirigia uma rede de seis agentes na capital brasileira e outra meia
dúzia entre Rio e São Paulo. Alvo principal da espionagem: a outra Alemanha,
principalmente à procura de agentes que pudessem ser infiltrados no lado
alemão-ocidental. "Nunca consegui recrutar alguém'~ diz Mirtschink, ainda
dominando bem oportuguês.
Ele mantinha um péssimo relacionamento com o embaixador da RDA
no Brasil, a ponto de morarem hoje na mesma rua em Berlim e mal se
cumprimentarem. O embaixador se achava - com razão - bisbilhotado pela
Stasi, que por sua vez mantinha contatos políticos próprios no Brasil. "Forameu
colega da KGB, ninguém mais sabia quem eu era'~ dizMirtschink, mostrando
de recordação uma foto que tirou ao lado do então senador Mário Covas.
Casado com Carola desde 1969 e pai de um casal de filhos, o chefe da Stasi
tratou de organizar uma vida agradável em Brasília. Viajou bastante pelo

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Brasil, como turista. Convenceu a central da Stasi a comprar um título do
Clube das Nações, em Brasília, sob a desculpa de que ali se podia contatar
5.7 O CASO YURKOV
diplomatas de todos os países. Na verdade, era só para melhorar os ft·ns.de
semana. "Como membro da Stasi, eu não precisava justificar para onde la e
quem encontrava, como todos os outros da embaixada'~ recorda. Saía para A Rede Globo de Televisão apresentou este caso em uma edição
jantar freqüentemente com Carola, d e pre,erencla.r, A'
em alguma. boa especial do programa "Globo Repórter".
churrascaria, e mandava as contas caras para Berlim. Os convites para
conversas oftúais ele procurava liquidar em restaurantes baratos, pagando do A síntese do caso Yurkov foi posteriormente publicada no livro
Próprio bolso. "Eu tinha uma fonte no Itamaraty que apelidei de 'Pardal' e outr~ do Prof. Raimundo Teixeira de Araújo, História Ilustrada dos Serviços
na representação da OEA que chamava de PapagaIO, a,lrma.
I • r;111 "Com maIs Secretos, narrada desde o seu início nos primeiros anos da década de
alguns nomes de pássaros, eu tinha um monte de pretensos informantes, com os sessenta e a seguir transcrita:
quais fazia meus relatórios". . ..
"CASAL YURKOV
ROMANCE DE ESPIONAGEM - Mirstschmk frequentou a
escola de espiões da Stasi, mas não gosta da classificação. "Espião era o O mundo preocupava-se com um possível conflito entre as duas
Günther Guillaume (o agente que derrubou Willy Brandt), eu era apenas uma superpotências, apesar da Política de Relações Exteriores da URSS,
espécie de batedor'~ avalia. Ele foi um dos primeiros alemães-orientais denominada de Coexistência Pacífica, estabelecida em 1956 pelo premier
soviético Nikita Kruschev.
enviados para a Nicarágua quando os sandinistas depuseram Somoza, em
1979, com a função de abrir uma embaixada. "Nos deram a. casa de um No Brasil, o povo cantava pelas ruas as músicas de Chico Buarque de
magnata, com tudo o que tinha dentro: duas Mercedes, serviço de Ja~t.ar,r~upa Holanda e a bossa nova estava em evidência. Contudo crises políticas e
de cama e até prataria'~ lembra Carola. Especializada em codlftcaçao de convulsões sociais atormentavam a vida dos brasileiros. Os comunistas
telegramas, ela também teve dificuldades para se empregar na A!emanha e infiltrados no GovernoJoão Goulart estavam na iminência de chegar ao poder.
trabalha atualmente como arrumadeira de um grande hotel em Berltm. Sempre A situação brasileira chamou a atenção dos principais líderes
gostou do trabalho do marido, mas confessa que, a partir de 1?~~,
ambos soviéticos, que decidem buscar maiores informações sobre o País,
principalmente por ser área de influência dos Estados Unidos. Foram
começaram a ficar descrentes e chegaram até a discutir a posslbtlldade de
escolhidos os agentes Ivan e Sonja Yurkov; marido e mulher, com um ftlho
desertar. Ainda bem que não foram procurar no Brasil diplomatas da.
pequeno que foi entregue aos cuidados do Estado, enquanto durasse a missão.
Alemanha inimiga, a Ocidental. Sem queJürgen Mirtschink soubesse, a Stasl
' um consu I alemão-
. I Ula
tinha outros agentes no Brasil: a rede para IeIa que mc A
Primeiro o casal passou por um rígido e minucioso treinamento na
Alemanha Oriental, onde aprenderam a agir comoautênticos alemães. Depois
ocidental no Rio e outro em São Paulo. Tudo como num romance de espionagem,
de dominar o idioma, receberam aulas de uma cantora lírica alemã, para obter
no melhor estilo John Le Carré."
a musicalidade da língua.

98
99
----------------q.

Concluído o curso/ os dois recebem ordens da KGB para/ Para enviar tais informações/ o casal usava mensagens codificadas e
separadamente/ seguirem para Berlim Ocidenta/~ cruzando o 'Muro da escritas com tinta invisível ou microfilme. Outro meio eram transmissões de
Vergonha ~numa transposição criteriosa mente arranjada: , , , ' rádio clandestinas para navios soviéticos na COstabrasileira ou para a própria
Embaixada em Brasília/DF
Ivan seguiu para a Índia/ como meio de dar maior autentIcIdade a sua estorta-
cobertura/ adotando o nome de Heinz Vóigt. Em outras situações/ Sonja deixava mensagens cifradas em
Em Berlim Ocidental/ Sonja recebe um passaporte com o nome, de esconderijos ou locais públicos/ que eram apanhadas por outros agentes ou por
Estela Davidson e segue para Viena/Áustria/ onde encontra-se com,o m,art~o/ funcionários do consulado. Ivan e Sonja presenciaram o golpe de 1964/ que
demonstrando claramente ter SI'do aCI'denta.I E' um caso de amor a prtmelra derrubou J ango e/ apesar de nada mudar quanto às suas atividades/ passaram
vista. Ali mesmo decidem casar-se e morar no Brasil. a ter mais cuidado em razão da vigilância dos órgãos de repressão do regime
Da Áustria/ seguem para a Itália e conseguem visto no Consulado de militar. Seus órgãos de contra-espionagem passaram a atuar com maior
desenvoltura e isso preocupava o casal.
Roma. Viajam para o Rio de Janeiro e desembarcam em maio de 1963/ ~o
Aeroporto Internacional da cidade. Fixam residência em Ipanema/ rua Barao Depois de cinco anos no Brasi~ de 1963 a 1968/ operando sem ser
da TOrre 11° andar de um blocode apartamentos. descoberto/ Ivan recebeordens para deixar o Brasil e/ tão misteriosamente como
haviam chegado/ foram embora.
/A missão do casal é enviar para Moscou o maior número de
informações precisas sobre a esquerda e a direita brasileiras, Dados coletados Entrevistados 24 anos depois por um jornalista brasileiro/ Ivan e Sonja
no meio das massas populares. . _ classificaram sua aventura no Brasil e a KGB como um 'equívoco histórico'.
Ivan e Sonja procuram por todos os meios cumprir bem a mlssao de Além do Brasi~ estiveram também no Canadá/ Estados Unidos/ na
espionagem/ buscando dar um ar de normalidade à vida ~e jovem casal América Central e em alguns países da Europa Ocidental.
alemão. Em pouco tempo/ constituem um círculo de amIzade que lhes Atualmente estão aposentados. "
proporcionava acesso a vários lugares/ como o Clube Federal no Leblon e um
clube de golfe em São Conrado. , Os casos apresentados ilustram mais uma vez a existência das
' ,
Para manter-se/ além do dinheiro que recebIa de Moscou/ Ivan ações adversas de espionagem no nosso País, devendo-se ressaltar que
arranjou alguns empregos legais/ como por exemplo: chefe de departamento da inúmeras outras situações continuam em evolução no nosso território,
E mpresa B'I' rasl eIra d e Solda Elétrica / onde I'foi considerado excelente sendo que, para todos aqueles já detectados, a estrutura de Contra-
funcionário pelos companheiros. Atuou também como vendedor de Inteligência brasileira, no desempenho de seu perene propósito de fazer
equipamentos de dedetização. A ' ,
frente a tais ameaças, continua com seu silencioso mas eficaz trabalho
A KGB sempre queria mais detalhes sobre a tendencla do MovImento em busca da neutralização de seus efeitos. Ressalte-se que as narrativas
Comunista Brasileiro (MCBJi a quantidade e qualidade dos comunistasi são de responsabilidade dos respectivos autores, havendo base em fatos e
comoera aplicado o dinheiro que mandava para oBrasil. situações realmente acompanhados pelo Serviço brasileiro, contudo
mantidos sob sigilo, em conformidade com o ordenamento jurídico
vigente.
100
101
Dirigiram .
o Serviço NaclOna 1 d e I n f or mações , extinto em
1990, as seguintes autoridades: • CORONEL MÁRIO DEASSIS NOGUEIRA
Período: 12 dejunho de 1968a 11 de abril de 1969
• GENERAl-DE-DIVISÃO Rll GOLBERY DO COUTO E SILVA
Período: 15 de junho de 1964 a 15 de março de 1967 • CORONEL ÊNIO DOS SANTOS PINHEIRO
Período: 22 de abril de 1969 a 6de maio de 1971
• GENERAl-DE-DIVISÃO EMÍLIO GARRASTAZÚ MÉDICI
Período: 17 de março de 19.67a 15 de março de 1969 • CORONEL ÂNGELO IRULEGI CUNHA
Período: 7 de maio de 1971 a23 de agosto de 1973
• GENERAl-DE-DIVISÃO CARLOS ALBERTO DA FONTOURA
Período: 14 de abril de 1969 a 15 de março de 1974 • CORONEL DARCI BOANO MUSSOI
Período: 24 de agosto de 1973 a 18 de março de 1974
• GENERAl-DE-EXÉRCITO JOÃO BAPTISTA DE OLIVEIRA
FIGUEIREDO • CORONEL NEWTON ARAÚJO DE OLIVEIRA E CRUZ
Período: 18 de março de 1974 a 15 dejunho de 1978 Período: 19 de março de 1974 a27 de (evereirode 1975

• GENERAl-DE-EXÉRCITO OTÁVIO AGUIAR DE MEDEIROS


• GENERAL-DE-BRIGADA SEBASTIÃO JOSÉ RAMOS DE CASTRO
Período: 16 dejunho de 1978 a 14 de março de 1985
Período: 28 de (evereirode 1975 a 6dejunhode 1978

• GENERAl-DE-EXÉRCITO IVAN DE SOUZA MENDES


Período: 15 de março de 1985 a 14 de março de 1990. • GENERAL- DE- DNISÃO NEWTON ARAÚJO DE OLIVEIRA E
CRUZ

Dirigiram a Agência Central do Serviço Nacional de Informações: Período: 25 de julho de 1978 a 16 de agosto de 1983

• CORONEL JOÃO BAPTISTA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO • GENERAL-DE-DIVISÃO GERALDO DE ARAÚJO FERREIRA


Período: 13dejunhode 1964a 6dejunhode 1966 BRAGA

Período: 17 de agosto de 1983 a 26 de novembro de 1985


• CORONELFERNANDODASILVAABRANTES
Período: 8 de junho de 1966 a 16 de março de 1967
• GENERAL-DE-EXÉRCITO WALDIR EDUARDO MARTINS
Período: 17 de dezembro de 1985 a 10 de abri! de 1987
• CORONELOMARDIÓGENES DE CARVALHO
Período: 17 de março de 1967 a 11 dejunho de 1968

102
103
• GENERAL-DE-EXÉRCITO ÊNIO MARTINS SENNA
6. A SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS
Período: 12 de maio de 1987 a 28 de dezembro de 1988
Cumprindo promessa formulada em sua campanha presidencial,
• GENERAL-DE-DlVISÃO CARLOS ARCOVERDE DE FREITAS o Presidente Fernando Collor de Melo, empossado em 10 de janeiro de
AlMEIDA 1990, extinguiu o Serviço Nacional de Informações, no bojo de ampla
Período: 2 de janeiro de 1989 a 13 de março de 1990. reforma administrativa. Extinguia-se mais uma vez o órgão de
Informações, mas se preservava o exercício perene da atividade,
conforme é sua característica, tanto é que, como alternativa para a
continuidade do exercício da atividade de Informações, foi criada a
Secretaria de Assuntos Estratégicos - SAE. Este novo organismo
absorveu em suas atribuições aquelas atinentes ao SNI, outras afetas à
também extinta Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional -
SADEN e recebeu, ainda, algumas outras competências relativas ao
planejamento estratégico do governo federal nas áreas política, social e
econômica.

A Lei n.o 8.028, de 12 de abril de 1990, ditava em seu artigo 16, o


seguinte:

"Art. 16 A Secretaria de Assuntos Estratégicos/ com a finalidade de


exercer as atribuições de Secretaria Executiva do Conselho de Governo/
desenvolver estudos e projetos de utilização de áreas indispensáveis à
segurança do território e opinar sobre o seu efetivo uso/ fornecer os subsídios
necessários às decisões do Presidente da República/ cooperar no planejamento/
na execução e no acompanhamento da ação governamental com vistas à defesa
das instituições nacionais/ coordenar a formulação da política Nacional
Nuclear e supervisionar sua execução/ salvaguardar interesses do Estado/ bem
assim coordenar; supervisionar e controlar projetos e programas que lhe forem
atribuídos pelo Presidente da República/ tem a seguinte estrutura básica:
105
104
maioria dos Serviços congêneres existentes nos Esta d os so b eranos e
I. Departamento de Inteligência;
governados sob a égide da democracia.
lI. Departamento de Macroestratégias;
III. Departamento de Programas Especiais;
Cabe comentar que a concepção adotada para o orgamsmo . de
IV Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das • A. ..,

InteligenCla
. era slml1ar a que orientava as ações do anti g o SFICI , ou
Comunicações (CEPESC); e
seJa,
. retornava-se
., . ao modelo composto por um o'rgao - supenor .
V Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos
mtermedIano entre os produtos da Inteligência e o Presidente da
(CEFARH)." República.

No aspecto particular da atividade de Informações, ~erif~ca:~ea


adoção de nova terminologia, no caso Inteligência. A respeIto, e valido
o Departamento de Inteligência - DI foi organizado em
frações que, em síntese, tratavam da produção de conhecimentos sobre
tecer algumas considerações sobre os significados dos termos
aspectos conjunturais internos e externos e da salvaguarda de assuntos
Inteligência e Informações. sigilosos, assim compreendidas as ações de contra-espionagem e de
proteção ao conhecimento. Observa-se nas atribuições que, na
A palavra Inteligência, ao ser adaptada às ações d~s ~erviços
verdade, não houve a criação de novas competências, a não ser a de
secretos, serviu para traduzir o exercício de tarefas propnas que
implementar medidas de proteção aos assuntos sigilosos, em nível
culminavam com a produção de um resultado não alcançado pelos
nacional, de fato um trabalho pioneiro no Brasil, em razão da filosofia e
métodos convencionais aplicados nas atividades políticas. Esses
da metodologia anteriormente adotadas.
resultados podem-se concretizar em um conhecimento exclusivo, em
um embaraço no funcionamento da estrutura econômica do país-alvo,
Sobre a questão de salvaguarda dos assuntos sigilosos, buscou o
na deflagração de um processo de mudança da ordem político-
Poder Executivo, nessa ocasião, aprimorar a legislação pertinente,
institucional de um outro Estado, entre outros alcances da mesma
encaminhando ao Congresso Nacional propostas legislativas que
espécie. A palavra Informações, por sua vez, tem seu sentido restrito
resultaram na edição da Lei n.O8.159, de 8 de janeiro de 1991, dispondo
aos produtos resultantes das ações de reunião de dados que leva~ a um
sobre o acesso aos documentos dos arquivos públicos. Esta Lei
conhecimento global e conclusivo dos fatos e das situações analisados.
determinou que as categorias de sigilo dos documentos fossem
É realmente um dos objetos da Inteligência, e, entre os meios utilizados
definidas por Decreto, ficando o Decreto n.o 79.099, de 6 de janeiro de
para a sua produção, citam-se as ações sigilosas desencadeadas para a
1977, relativo ao Regulamento para Salvaguarda de Assuntos Sigilosos
obtenção de dados não disponíveis, chamadas
tradicionalmente de
. 'uas - RSAS, como o instrumento legal normatizador dos procedimentos,
espionagem. Buscou-se, desse modo, adaptar ao orgamsmo e as s
enquanto não se editasse o novo dispositivo.
ações o termo mais condizente e tradicionalmente instituído pela

107
106
, III - a proteção dos conhecimentos científicos e tecnoló icos
Houve, na realidade, mais uma tentativa de depuração do Interesse da segurança da sociedade e d E d' ,g que/ no
Pará rafc ' , o sta o/ sejam conSIderados sigilosos,
exercício da atividade de Inteligência, particularmente no caso da órgão de Integl' AO ~n'dco,SA estrut~ra/ a organização e o funcionamento do
produção de conhecimentos sobre a conjuntura interna, buscando-se ' _" Igencla a ecretarta de A ssuntos E'strateglcos , são isentos de
eliminar questões que envolvessem matérias de natureza ideológica. publ Icaçao.

Nesse contexto, diversos foram outros ensaios legais para a Paralelamente às iniciativas d o Executivo, alguns
plena institucionalização da atividade de Inteligência, Um deles foi o par I
t' ,amentares também 'f
se mam estaram a respeito do exercício da
encaminhamento, pelo Presidente da República, do Projeto de Lei n.o ~ ~~l~_~~ede Inteli~ência, merecendo destaque o Projeto de Lei n,o
1,862, de 1991, sobre a atividade, sua fiscalização e seu controle, com ' b Ih 'dde autona do Deputado Federal José Dirceu (Partido dos
vistas a estabelecer os procedimentos essenciais à participação I ra ra a ores/SP) o qua I de fmIa
T A' '
' separadamente as atividades de
cooperativa dos Poderes Executivo e Legislativo no trato das questões de nte IgenClae de Contra-Inteligência, a saber:
Inteligência do Estado brasileiro. Os artigos 1° e 2° do referido Projeto de
d d "Arti go 1° A tlVI
' 'dade de Inteltgencla consiste nas ações de reunião de
'A '

Lei citavam: a os/'dprocessamento de informes e difusão d e tn,ormaçoes


'+: - sobre as
d ' "
"Art, 1°A atividade de Inteligência é desenvolvida pela Secretaria de capaet a es/ ~ntenções e atuações de Estados estrangeiros que possam afetar a
segurança ou Interesses nacionais, "
Assuntos Estratégicos da Presidência da República e destina-se a proporcionar;
h ,Artigo 2° Atividade de Contra-Inteligência consiste na obtenção de
em particular ao Presidente da República/ conhecimentos especializados/ em
~on_eclmentos e nas ações desenvolvidas contra espionagem at - d
nível estratégico/ necessários ao exercício de suas atribuições constitucionais
orgaos ~e Inteligência estrangeiros e contra todas as outr~s a~:~~:de:
relacionadas com a defesa do Estado e das instituições/ bem como a
atentatortas ao Estado Democrático de Direito e à Soberania Nacional."
salvaguardar os interesses do Estado contra ameaças externas.
Art. 20 A atividade de Inteligência compreende a execução de ações
direcionadas para:
República Posteriormente
° 249 d 2 me d',lante M ensagem do Presidente da
' d Ln.. ' e 9 de Junho de 1992, foi encaminhado novo
I _ a obtenção de dados e a avaliação de situações externas que
ProJeto .' e el de n.O3031 ., . do "o Centro Federal de Inteligência e
cnan
impliquem ameaças externas/ veladas ou dissimuladas/ capazes de dificultar
reorgamzando
'bl' a Secr et ana. d e A ssuntos Estratégicos da Presidência da
ou impedir a consecução dos interesses estratégicos do Brasil na cena Repu l,~a,cuJo
" ' t~xto proposto previa em seu artigo 1°:
internacional; . 'Art. 1° E criado o Ce n t ro re L d era I dI'
e ntellgenc,a autarquIa
A ' '

II _ a identificação/ a avaliação e a neutralização da espionagem


, _ ' à Presidência da R epu'bl'Ica/ med'lante a incorporação dos
Vinculada / seguintes
promovida por Serviços de Inteligência ou outros organismos estrangeiros/
orgaos Integrantes da est rutura d a Secretarta. de Assuntos Estratégicos da
• A '

vinculados ou não a governos; Presldencla da República:

109
108
I - Departamento de Inteligência;
7. A SUBSECRETARIA DE INTELIGÊNCIA
II _ Centro de Formação eAperfeiçoamento de Recursos Humanos;
. L' t para a Segurança das Esses Projetos de Lei chegaram a ser discutidos no Congresso
III - Centro de PesqUIsa e Desenvo vlmen o
Nacional, mas não houve oportunidade para aprovação, uma vez que o
Comunicações. "
grave quadro político nacional, culminando com o impedimento do
o artigo 2°, por sua vez, definia a seguinte competência ao então Presidente da República Fernando Collor de Melo, não o
permitiu.
organismo:

"Art. 2° Compete ao Centro Federal de Inteligência:. . . A •


A deposição do Presidente Collor e a ascensão do Presidente
I. planejaI; coordenar e executar as atividades CIVISde Intellgencla Itamar Franco, em 1992, provocaram nova e profunda reestruturação
administrativa no Poder Executivo. Assim é que foi editada a Lei n.o
do Governo Federal;
lI. salvaguardar segredos de interesse do Estado; . 8.490, de 19 de novembro de 1992, dispondo sobre a nova organização
. d {, mação e aperfeIçoamento da Presidência da Repú blica e dos ministérios.
lII. desenvolver programas e projetos e lor {'
de recursos humanos na área de Inteligência."
o artigo 10 da referida Lei aborda a Secretaria de Assuntos
Estratégicos, afirmando o seguinte:

"Art. 10 A Secretaria de Assuntos Estratégicos com a finalidade de


coordenar o planejamento estratégico nacional, promover estudos, elaborar,
coordenar e controlar planos, programas e projetos de natureza estratégica,
assim caracterizados pelo Presidente da República, inclusive no tocante a
informações e ao macrozoneamento geopolítico e econômico, executar as
atividades permanentes necessárias ao exercício da competência do Conselho
de Defesa Nacional, e coordenar a formulação e acompanhar a execução da
política nuclear, tem a seguinte estrutura básica:
/. Subsecretaria de Planejamento Estratégico;
lI. Subsecretaria de Programas e Projetos Estratégicos;
lI/. Subsecretaria de Inteligência;
IV Centro de Estudos Estratégicos. "

111
110
devidas cautelas e limitações
. . ..'impostas pelo período aind a d e translçao
. -
Observa-se que, no texto legal, criou-se a Subsecretaria de
para
, a .sua completa mstltuclOnahzação. E importante fazer re ferenCla
A •

Inteligência _ SSI, tendo-lhe subordinado o Departamento de


a reahzação de seminário promovido pela Câmara dos Deput ad os, em
Inteligência e o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Rec~rsos
out~bro de 1994, sobre o tema "A Atividade de Inteligência em um
Humanos, que passaram a integrar, dessa forma, a segunda lmha
RegIme Democrático", oportunidade em que diversas personalidades
organizacional da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Mante~e-se,
nacionais e estrangeiras se manifestaram quanto à compatibilidade de
contudo, a concepção vigente desde a instituição da Secre~ana de
sua existência em uma sociedade pautada pelos direitos e elas
Assuntos Estratégicos, em 1990, a qual posicionou o organIsmo de
garantias individuais. Contudo, em face da proximidade do fin~l do
Inteligência sem acesso direto ao Presidente da República.
Governo. do Presidente Itamar Franco, julgou-se conveniente postergar
o encammhamento ao Poder Legislativo das medidas de ordem legal, a
Em 25 de março de 1993, foi editado o Decreto n.o 782,
serem apreciadas e ultimadas pelo Congresso Nacional, para a gestão
aprovando a Estrutura Regimental da Secreta:ia de ~s~un~os
do novo governo que se aproximava.
Estratégicos, cujo artigo 8° previu para a Subsecretana de IntehgenCla a
competência de: Vale observar que, no período entre 15 de janeiro e 2 de agosto
de 1993, o Coronel Rubens Robine Bizerril ficou respondendo pela
"I _ produzir informações e análises sobre a conjuntura de interesse
Direção do Departamento de Inteligência, limitado a despachos
para o processo decisório nacional em seu mais alto nível;
internos com o então Secretário de Assuntos Estratégicos, Almirante-
II _ executar atividades de salvaguarda de assuntos sigilosos e de
de-Esquadra Mário César Flores. O Coronel Bizerril era , na época ,
interesse do Estado e da sociedade; e
titular da Coordenação-Geral de Contra-Inteligência daquele
III _ formar e aperfeiçoar recursos humanos para suas atividades;
Departamento de Inteligência, e substituto eventual do Diretor.
através do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos
Humanos (Cefarh)."

Em 10 de junho de 1994, a Medida Provisória nO529 alterou a


estrutura regimental da Secretaria de Assuntos Estratégicos, passando
a Subsecretaria de Inteligência a denominar-se Secretaria de
Inteligência.

Até o final do Governo do Presidente Itamar Franco, a atividade


de Inteligência foi exercida por essa Secretaria de Inteligência, com as

113
112
8. A AGÊNCIA BRASilEIRA DE INTELIGÊNCIA

Igualmente como aconteceu no Departamento de Inteligência,


houve um período de vacância na Direção do Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Recursos Humanos, entre 9 de dezembro de 1992
e 22 de abril de 1993, cabendo ao Prof. Luís Antonio Bitencourt Emílio,
recém nomeado para dirigir o então criado Centro de Estudos
Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a responsabilidade
de, cumulativamente, despachar com o Secretário de Assuntos
Estratégicos os assuntos do CEFARH, enquanto não designado o seu
substituto.

Em seu discurso de posse, o Presidente Fernando Henrique


Cardoso comprometeu-se com a sociedade nacional a tratar a atividade
de Inteligência com a transparência e a objetividade possíveis e devidas.
Para tanto, afirmou que criaria a Agência Brasileira de Inteligência -
ABIN, conforme estabelecido no artigo 33 da Medida Provisória IL o
813, de 10 de janeiro de 1995, dispondo sobre a organização da
Presidência da República e dos ministérios, a saber:

"Art. 33 Fica o Poder Executivo autorizado a criar a Agência


Brasileira de Inteligência/ autarquia federal vinculada à Presidência da
República/ com a finalidade de planejar e executar atividades de natureza
permanente relativas ao levantamento/ coleta e análise de informações
estratégicas/ planejar e executar atividades de contra-informações/ e executar
atividades de natureza sigilosa necessárias à segurança do Estado e da
sociedade. "

115
Para operacionalizar suas intenções, nos primeiros meses de
Ao assumir sua nova missão
1995, o Presidente da República designou como seu Assessor Especial o
pronunciou-se, afirmando que aAgA "' o General Alberto Cardoso
General Fernando Cardoso, experiente profissional da área de . enCla a ser i 1
com predomInância das questões relat. , mp antada deveria cuidar
Inteligência, encarregando-o de desenvolver os estudos necessários Est d . lVas a segu d
a o, taIs como o narcotráfico rança a sociedade e do
para a implantação da ABIN, bem como de adotar as conseqüentes " ' o COntraband d
e os demaIs temas relativos aos interes o e armas, a espionagem
providências legais e administrativas. Novamente denominada - ses estrat' .
entao, os trabalhos tiveram pross" eglCos nacionais. Desde
Subsecretaria de Inteligência, a estrutura de Inteligência teve egUlmento b
textos legais de forma mais adequ d ' em usca de formalizar os
transferida sua vinculação para a Secretaria-Geral da Presidência da " "d a a, enquant
atlvl ade de Inteligência p . o, concomitantemente a
República, apesar de continuar
Secretaria de Assuntos Estratégicos.
como um segmento formal da
l u secretaria de Inteligência.
S b ermanecla
sendo execu ta da pela
'

O General Fernando Cardoso, ao assumir os encargos que lhe Em paralelo aos estudos qu "
A b" e Intern
foram atribuídos pelo Presidente da República, estabeleceu seu am ItO da Presidência da Repúbl" h amente se efetivaram no
" lca, Ouve d"
cronograma de ações, realizando, preliminarmente, os estudos para a outros Importantes segmentos d "d lversas manifestações de
d a VI a na" 1
preparação dos dispositivos legais a serem encaminhados ao Congresso estaque-se o evento promovido pel N' 1 ClOna. Como exemplo
U" .d o uc eo de E t d '
Nacional, com vistas à sua apreciação e à aprovação, em favor do ruvefSl adedeCampinas_ UNICAMP " s u osEstratégicosda
IV Encontro Nacional de Estud E' em maIO de 1997, denominado
processo de legitimação da nova estrutura de Inteligência. d . os strat'"
edlcou jornada exclusiva ao tem O p egIcos, cuja programação
At·IVI"da d e d e Inteligência no Brasil d.a rocesso d e R eformulação da
Os trabalhos desenvolvidos pelo General Fernando Cardoso ' con uZlda sob . A
Alb erto Cardoso. a presldencia do General
mereceram amplos e polêmicos debates, destacando-se, por exemplo,
os aspectos referentes às diferentes concepções para o exercício da
atividade e as formas legais para o seu controle em um regime Os trabalhos relativos à ABIN "
C. culmIna
democrático, de modo que se preservassem os direitos e as garantias ongresso NacIOnal do ProJ"eto d L " ram com a remessa ao
" e eIn.o3651
individuais previstos na Constituição Federal. Os exaustivos e longos
1997, dispondo sobre a instituição d S. ., em 19 de setembro de
. _ o 1St ema Br "/" .
crzaçao da Agência Brasileira d I I" A" aSI elro de Intelrgência e a
debates estenderam-se durante todo o ano de 1995 e o primeiro ° e nte Igencla - ABIN
trimestre de 1996. Em abril desse mesmo ano, a missão foi transferida n. 1.053/97, do Presidente da R 'bl" ' apensa à Mensagem
epu Ica.
ao General Alberto Mendes Cardoso, Chefe da Casa Militar da
Presidência da República, havendo, simultaneamente, nova Da Exposição de Motivos Conjunta °
de 29 de agosto de 1997 n 052-A - CMPRlMARE,
transferência de subordinação, dessa vez, para a Casa Militar. , que acompanhou M °
ressalta-se o seguinte: a ensagem n 1.053/97,
116
117
"Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
. Observa-se a ~reocupação em estabelecer parâmetros
Submetemos à apreciação de Vossa Excelência proposta de projeto que condIzentes com os preceItos constitucionais, para evitar descaminh
institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de no decorrer do ~xercício da atividade de Inteligência, especialmente :;
Inteligência (ABIN) e dá outras providências. tocante a.o funcIO~amento do sistema que, por sua amplitude nacional,
A presente iniciativa resulta das diretrizes traçadas por Vóssa ~equer r.Igorosos Instrumentos de controle para impedir a ingerência
Excelência para dar resposta efetiva à necessidade, essencial ao Estado o organIsmo central, no caso a ABIN, nas questões internas dos ór _
Democrático de Direito, de municiar o Governo com informações estratégicas, que venham a integrá-lo. gaos
produzidas em tempo hábil éremabsoluta sintonia com a Constituição e as Leis
do País, assegurando-lhe o conhecimento antecipado de fatos e fatores . Por isso, o texto da legislação proposta mereceu profundas
relacionados com o desenvolvimento e a segurança do Estado, em todas as áreas dIsc~ss~es no âmbito do Congresso Nacional, passando pelas diversas
da vida nacional. comIssoes parlame~tares competentes, sendo, finalmente, inserido na
Para atender a esses objetivos, o novo sistema de inteligência e seu pauta. da ~onvocaçao Extraordinária dessa Casa, para o período de 4 a
órgão central, a Agência Brasileira de Inteligência -ABIN, proverão o Governo, ~9 d~ JaneIro de 1999. O citado Projeto de Lei foi aprovado no dia 22 de
a exemplo do que ocorre em outros países, de dados de natureza estratégica JaneIro, na Câmara dos Deputados, ficando o andamento de seu
acerca das dificuldades, potencialidades e impedimentos ao cumprimento de proce~so de aprovação para a nova legislatura, iniciada em 22 de
suas elevadas funções, em todos os setores de sua atuação. fevereIro desse mesmo ano.
No art. 1°, o projeto institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, que
integra as atividades de planejamento e execução dos procedimentos de Nessa ocasi~o, o Projeto vem sendo analisado pelo Senado
inteligência no País. Introduz-se uma regra da mais alta importância para o Fede~al, para, postenormente, ser remetido ao Poder Executivo para a
disciplinamento das atividades de inteligência. Limitam-se as ações do sançao pelo Presidente da República.
Sistema à observância incondicional dos Princípios Fundamentais que a
Constituição Federal estabeleceu para o País, no seu parágrafo único. Assim A edição dessa Lei marcará a história da atividade de
como a nossa Lei Máxima erigiu como regra inicial a imposição desses Inteligência no Brasil uma '.
, vez que, pIOneIramente será legalizada
princípios, para dar expressiva demonstração de seu significado, também o mediante dispositivo plenamente debatido no P;der Legislativo,
portanto legitimado pelo' .
projeto procura erigir a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado . s maIS representatIvos segmentos da
socIedade nacional.
Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana como linhas mestras
de cada ato administrativo a ser praticado pelos agentes públicos. Não se trata
aqui de imagem de retórica, mas de definição de diretrizes para o efetivo A legislação em questão estabelece, em seu artigo 10, o
seguinte:
controle que o Poder Legislativo e o Poder] udiciário poderão e deverão fazer das
atividades do setor."

118
119
''Art. 1° Fica instituído o Sistema Brasileiro de Inteligência, que
"Art, 3° Fica criada a Agência Brasileira de Intel' ~ ,
integra as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do , - d Igencla - ABIN
orgao e assessoramento direto ao Presidente da República 1

País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos ,- '" I~~~~~
orgao central do Sistema Brastlelro de Inteligência terá a seu '
assuntos de interesse nacional. 1 cargo planelar.
executar; coordenar; supervisionar e controlar as atividades de int I' ~ , 1

§ 1° O Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos a R' b d ' , . " e rgencla do
'tlIS o e ecldas a polttlca e as diretrizes superiormente traçad
1

preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito d es ta L el.' as nos termos
e a dignidade da pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos
Parágrafo único. As atividades de inteltg'ência serão desenvolv 'd
e garantias individuais e demais dispositivos da Constituição Federal, os ~ "
que se re,ere aos ltmltes de sua extensão e ao uso de técnicas e me' "I
I~M
" ~, 10 slgl OSOSI
tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais em que a República com Irrestrtta observancla dos direitos e garantias individuais Ii'delid d '
Federativa do Brasil seja parte ou signatário, e a legislação ordinária, , , • - . I' a e as
1

rnstltulçoes e aos prrncípios éticos que regem os interesses e a segurança do


§2° Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência Estado.
a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos Art. 4° ÀABI~ além do que lhe prescreve o artigo anterior; compete:
dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou
I - planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à
potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a obtenção e análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a
salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado, assessorar o Presidente da Repúblicai
§ 3° Entende-se como contra-inteligência a atividade que objetiva
II - planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis
neutralizar a inteligência adversa." relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade. 1

III - avaliar as ameaças, internas e exter~as à ordem


Observa-se que o dispositivo legal traz novos textos conceituais constitucionali 1

para as atividades de Inteligência e de Contra-Inteligência, sem,


IV - promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina
contudo, alterar o espectro de atuação contemplado pela legislação de ,inteligência, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e
anterior , mantendo-se as características de atuação em um universo aprrmoramento da atividade.
antagônico, de produção de conhecimentos sobre assuntos de interesse Parágrafo único, Os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de
nacional e de enfrentamento às ameaças veladas contra a segurança da Inteligência fornecerão à ABI~ nos termos e condições a serem aprovados
sociedade e do Estado. mediante ato presidencial para fins de integração dados e conhecimentos
1 1

específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses


A criação da ABIN e o estabelecimento de suas competências, nacionais. "
por sua vez, ficam definidos conforme os textos dos artigos 3° e 4°, a
saber:

120
121
responsabilidades institucionais, de acordo com o citad . .
. 40d . o mClso II do
artlgo a refenda legislação. '
Destaque-se, ainda, o que prescreve o artigo 5°, ou seja:
A respeito, é importante ressaltar a implementação do P
N' Id _ rograma
"Art. 5° A execução da Política Nacional de Inteligência, fixada pelo aClOna
. e Proteçao ao Conhecimento - PNPC ' mstrumento
. formal
Presidente da República, será levada a efeito pela ABIN, sob a supervisão da balx~do pelo Diretor da ABIN, por meio do qual a estrutura d
Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, do Conselho de Governo. Intel. 1gencla, em h armomosa
A' . .mteração com as demais entid d e
Parágrafo único. Antes de ser fixada pelo Presidente da República, a na '. a es
ClOnalSque geram ou custodlam assuntos sigilosos, efetiva ações para
Política Nacional de Inteligê~cia será remetida ao exame e sugestões do salvaguardá-los.
competente órgão de controle externo da atividade de inteligência."
A ABIN objetiva atender às necessidades nos campos interno e
Fica, desse modo, consubstanciada a adoção, pela primeira vez, extern~,. mere~endo destaque o desenvolvimento da Inteligência
de uma Política da Nação para a atividade de Inteligência, calcada nos tecnologl~a, cUJo espectro abrange o domínio da complexa tecnologia da
princípios constitucionais e sob a inspiração dos preceitos democráticos. mformaçao, com suas diversificadas áreas de aplicação. Os novos
O órgão de controle externo, a que se refere o texto, será uma Comissão enfoques adotados pela ABIN permitem colocar a estrutura brasileira no
Parlamentar composta especialmente para esse fim, de acordo com patama~ condizente com a importância estratégica do país no concerto
regulamentação específica, em um procedimento similar ao adotado nos ~as naçoes, preservando o respeito adquirido pela Inteligência brasileira
mais tradicionais países democráticos. Junto aos parceiros internacionais, em razão de sua trajetória de
profícuos trabalhos prestados pelos organismos anteriores.
Em 24 de janeiro de 1997, foi editado o Decreto n.o 2.134,
"regulamentando o artigo 23 da Lei n.o 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que . . É nesse momento histórico para a atividade de Inteligência
dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a brasl1elra, portanto, que a Agência Brasileira de Inteligência é criada
eles". Em seguida, foi aprovado em 29 de dezembro de 1998 o Decreto n.o mediante fiel observânci a aos pnnClplOs
. ,. d'emocraticos irrestrita '
2.910, estabelecendo "normas para a salvaguarda de documentos, obediência
. ao andamento d o processo leglslatlvo
..' e .
ngoroso
materiais, áreas, comunicações e sistemas de informação de natureza cumpnmento da ordem J'url'd'lCa d o Esta d o. A'd' lsposlçao
. - dos suceSSlVOS
.
sigilosa", complementando a legislação vigente sobre a matéria. governos do País, a ABIN constituirá um instrumento legitimado e
estruturado sob os mais modernos enfoques administrativos e
O esforço do Poder Executivo em aprimorar a ordem jurídica tecnológicos, almejando-se que passe a constituir uma entidade sólida e
sobre a salvaguarda de assuntos sigilosos tornou-se crucial para o perene, que resista às intempéries conjunturais que tanto repercutiram
cumprimento das competências da ABIN, uma vez que a adoção de nas organizações que lhe antecederam.
medidas de proteção ao conhecimento sigiloso é uma das suas
123
122
Ressalte-se que, no período entre 15 de janeiro e 2 de agosto de

Dirigiram a Subsecretaria de Inteligência, até a presente data, as 1~93, _o Coronel Rubens Robine Bizerril ficou respondendo pela
Dlreçao do Departamento de Inteligência, limitado a despachos
seguintes autoridades:
internos com o então Secretário de Assuntos Estratégicos, Almirante-
de-Esquadra Mário César Flores. O Coronel Bizerril ocupava, à época,
• DR. ANTONIO AFONSO MARCONDES
Período: 7 de julho de 1993 a 14de março de 1995 o cargo de Coordenador-Geral de Contra-Inteligência daquele
Departamento de Inteligência, sendo o substituto eventual do Diretor.
• PROF. ALEXANDRE MARTCHENKO
Período: 14 de março de 1995.a 14 de agosto de 1996 Dirigiram o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de
Recursos Humanos as seguintes autoridades:
• CORONELRl1ARIELROCHADECUNTO
Período: desde 14 de agosto de 1996.
• PROF. LUÍS ANTONIO BITENCOURT EMÍLIO
Dirigiram o Departamento de Inteligência: Período: 22 de março de 1990 a 8 de dezembro de 1992

• PROF. FLÁVIO RODRIGUES DUARTE • DRa MARISAALMEIDADEL'ISOLAEDINIZ


Período: 15 de março de 1990 a 1° de janeiro de 1992 Período: desde 23 de abril de 1993 .

• DR. ROLF BERGFELD Da mesma forma que no Departamento de Inteligência, houve


Período: 2 dejaneiro de 1992a 14 de outubro de 1992 um período de vacância na Direção do Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Recursos Humanos, entre 9 de dezembro de 1992
• CORONEL Rl1 WILSON BRANDI ROMÃO
e 22 de abril de 1993, cabendo ao Prof. Luís Antonio Bitencourt Emílio,
Período: 20 de outubro de 1992 a 14 de janeiro de 1993
recém nomeado para dirigir o então criado Centro de Estudos
Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a responsabilidade
• DR. ROLF BERGFELD
de, cumulativamente, despachar com o Secretário de Assuntos
Período: 3 de agosto de 1993 a 14 de março de 1995
Estratégicos os assuntos do CEFARH, enquanto não designado seu

• CORONEL Rl1 RUBENS ROBINE BIZERRIL substituto.


Período: 15 de março de 1995 a 12 de agosto de 1996

• DR. EVERTON MARC


Período: desde 16 de agosto de 1996.

125
124
9. CONCLUSÃO

A atividade de Inteligência no Brasil fica, assim, desde os


tempos de sua regulamentação, perfeitamente caracterizada como um
instrumento assessorial e perene, destinado a proteger os mais
relevantes interesses nacionais.

Observa-se claramente no decorrer de sua trajetória histórica


que, em todos as ocasiões em que se buscou institucionalizá-la por meio
da edição de dispositivos legais, a atividade sempre esteve vinculada,
direta ou indiretamente, aos objetivos e aos princípios constitucionais,
em especial no tocante à preservação da soberania nacional, à defesa das
instituições democráticas, à segurança da sociedade e do Estado e à
salvaguarda dos segredos e dos demais componentes do patrimônio do
País.

Fica também patenteado que, no decorrer de toda a evolução da


história política do País, a atividade de Inteligência, desde a sua origem
até o momento de sua concepção organizacional e regulamentar, vem
resistindo a episódicos questionamentos quanto à legitimidade de sua
existência e de sua utilização pelos governantes.

Espero, portanto, que o presente livro venha a contribuir para a


formação da correta imagem que a atividade de Inteligência deve ter
perante a sociedade, de modo que seja compreendida quanto ao
importante papel que desempenha em apoio ao processo decisório
nacional.

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Em síntese, fica evidenciado que a atividade de Inteligência é
um recurso do Estado democrático e, por isso mesmo, deve ser 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
exercitada de acordo com os seguintes pressupostos:

• é de natureza perene, à disposição dos sucessivos governos 1. ARAÚJO, Raimundo Teixeira de. História ilustrada dos serviços de
para auxiliá-los na tomada de decisões, não podendo ser utilizada em inteligência. São Luís : s.n.1998.
benefício de pessoas ou grupos, o que exige de seus executantes e
usuários rigoroso compromisso ético;
2. CASTRO, Flávio Mendes de Oliveira. História da organização do
Ministério das Relações Exteriores. Brasília: UnE, 1983.
• faz parte do conjunto de organizações públicas, com função
complementar, voltada exclusivamente para o atendimento das
3. EMÍLIO, Luís Antonio Bitencourt. O Poder Legislativo e os Serviços
necessidades de defesa do Estado, agindo no universo de antagonismos
Secretos no Brasil. Brasília: Faculdades Integradas da Católica de Brasília,
aos objetivos nacionais; 1992.

• sua execução rege-se pela obediência irrestrita ao


4. Evolução do Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro: FGV/
ordenamento jurídico, sobremaneira, aos preceitos constitucionais,
Divisão de Pesquisas do Instituto Brasileiro de Administração.
portanto, devendo estar submetida a regulares controles institucionais.

5. MADUREIRA, Antonio de Sena. Guerra do Paraguai. Brasília: UnE,


1982.

Serviram de fontes básicas dos dados os arquivos das seguintes


organizações, algumas delas atualmente extintas:

• Departamento de Imprensa Nacional- Diário Oficial da União

• Secretaria-Geral do Conselho de Segurança Nacional

• Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional

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• Arquivo Nacional

• Memorial de Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência

• Centro de Pesquisas para o Desenvolvimento da Segurança das


Comunicações

• Agência Central do Serviço Nacional de Informações

• Departamento de Inteligência

• Escola Nacional de Informações

• Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos

• Escola Superior de Guerra

• Centro de Estudos do Pessoal do Exército

• Estado-Maior das Forças Armadas

• Senado Federal

• Câmara dos Deputados

• Ministério das Relações Exteriores

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