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APOSTILA DE
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL I
Profa. Évelyn Cintra Araújo
PUC GOIÁS
2018
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1 INTRODUÇÃO
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Para Ihering, direito subjetivo é o “o interesse juridicamente protegido”.
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As leis classificam-se, quanto à sua natureza, em materiais ou substanciais (as que regulam o direito em si) e formais ou
processuais (modo de realização da lei material - atos processuais).
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O processo será civil (ou de natureza cível, como queira) se a lide posta em juízo se instaurou em
virtude de qualquer ramo do direito que não seja trabalhista ou penal (que possuem processos
próprios correlatos, a saber, processo do trabalho e processo penal), ou seja, em virtude de um direito
pertencente ao Direito Civil, Empresarial, do Consumidor, Tributário etc.
Para regular o processo, o Estado criou um conjunto de normas jurídicas que formam o chamado
Direito Processual, também denominado de formal ou instrumental, por servir de forma ou instrumento
de atuação da vontade concreta das leis de direito material ou substancial, que solucionarão as lides
colocadas pelas partes em juízo.
A bem da verdade, Direito Processual é um só. A divisão em sub-ramos (Processo Civil, Processo
Penal, Processo do Trabalho etc) e suas respectivas legislações são de ordem prática e didática,
conforme a natureza da lide posta em juízo.
Todavia, se pudéssemos individuar e conceituar, diríamos, com auxílio da doutrina mais robusta
nessa matéria, que Direito Processual Civil é “o complexo de normas e princípios que regem o exercício
conjunto da jurisdição pelo Estado, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado” (CINTRA;
GRINOVER; DINAMARCO).
Ou, ainda: “é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício
da jurisdição civil”. (AMARAL SANTOS; THEODORO JÚNIOR).
Por fim, uma das melhores conceituações é a trazida pelo processualista italiano Chiovenda, para
quem o Direito Processual Civil é “o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas
reguladoras do exercício da jurisdição civil” (CHIOVENDA).
É, portanto, ramo do direito público, não se confundindo com o direito material que instrumentaliza
(este normalmente pertencente ao direito privado, p. ex., D. Civil), devendo, portanto, sempre ser
afastada a denominação direito adjetivo, por aludir a uma relação de dependência do direito processual
para com o direito material, o que, na verdade, não existe.
Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que regulam as relações jurídicas entre
os particulares, o direito processual visa regular uma das funções soberanas do Estado (função
jurisdicional). Dessa forma, ainda que a lide seja eminentemente de interesse privado, há no processo
sempre um interesse público, qual seja, a pacificação social e a manutenção da ordem jurídica.
Também conhecida por fase civilista ou privatista, a fase imanentista surgiu no Direito
Romano, tendo como principais expoentes Celso, Ulpiano e Savigny, e durou até meados de 1868.
Durante toda a sua longa existência, o imanentismo foi “evoluindo”, razão pela qual pode
ser melhor compreendido em sub-fases, quais sejam:
a) primitiva ou das legis actiones (das ações da lei) => havia 5 ações da lei, as quais deviam ser
manejadas pelas partes com muito rigor e formalismo, sob pena de perder a demanda caso se
equivocasse em uma palavra ou gesto (não havia advogados).
b) período formulário => com a expansão do Império Romano, o manejo das 5 ações da lei ficou
limitado. O magistrado, agora, examinava a pretensão do autor e a defesa do réu, e concedia uma
fórmula de ação capaz de compor especificamente o conflito (ele fixava o objeto do conflito, cabendo
ao árbitro, escolhido entre os cidadãos, o julgamento da causa – semelhante ao instituto do Júri
Popular). Já havia advogados e princípios do livre convencimento do juiz e do contraditório.
c) fase da cognitio extraordinária => desaparecem os árbitros, surgindo a figura do juiz como o único
investido do poder jurisdicional. O procedimento passa a ser eminentemente ESCRITO,
compreendendo desde o pedido do autor até a sentença e sua execução.
Porém, com a queda do Império, o processo civil sofreu um retrocesso ao ser influenciado pelo direito
do povo bárbaro-germânico, caracterizado pelo formalismo exacerbado, fanatismo religioso e
misticismos. Foi nesse contexto que surgiram os chamados “juízos de Deus”, “duelos judiciais” e
“ordálias”.
O processo era FORMAL, e as provas produzidas deviam ser interpretadas segundo regras legais,
não possibilitando qualquer participação do juiz. Este só reconhecia o cumprimento/realização da
“prova” e fixava a sentença segundo as regras do direito positivo. Não se buscava a verdade real, mas
a formal, pois se acreditava na INTERFERENCIA DIVINA nos julgamentos (autênticos jogos de azar
ou rituais de bruxaria).
Entretanto, com o fim de preservar o direito romano, surge o Direito Canônico e o direito
desenvolvido pelos glosadores nas Universidades, que, em conjunto com o direito germânico,
formaram o chamado PROCESSO COMUM, que vigorou desde os séculos XI até XVI.
O processo comum era escrito, lento e extremamente complicado. Mas, dele se extraíram
as características que, aperfeiçoadas, inspiraram o processo moderno. Foram abolidas as ordálias e
juízo de deus, mas a tortura continuou até o século passado, como meio de obtenção da verdade.
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Por forte influência das doutrinas de Garth (EUA) e Cappelletti (ITA), os intrumentistas
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ou instrumentalistas vão além dos autonomistas e veem o processo como instrumento não só de
realização dos interesses particulares, como também de pacificação social e realização da lei,
portanto, mais efetivo, realizador da justiça, em tempo hábil e com o menor dispêndio possível.
O processo deixa, então, de ser um fim em si mesmo, e passa ser considerado um meio, um
veículo para se atingir um fim, qual seja, a solução do litígio por meio de uma tutela jurisdicional
efetiva. Dessa forma, reaproxima-se o direito material do processual, sem, contudo, perder a
autonomia do processo.
no período da 2ª Guerra Mundial, vindo aqui falecer). Daí surgiu o CPC de 1973, o qual sofreu, ao
longo de sua vigência, várias alterações e reformas, todas na tentativa de se alcançar, conforme pregam
os instrumentalistas, um processo mais efetivo possível. O propósito era abandonar a preocupação
exclusiva com conceitos e formas, tão nos bem ensinado pela tradição romana e lusitana, para
dedicar-se à busca de um processo de resultados.
Todavia, mesmo tendo sofrido diversas alterações, tal código já não atendia os clamores sociais da
celeridade processual, bem como ignorava o amadurecimento do sistema de precedentes
jurisprudenciais, uma vez que os tribunais passaram a desenvolver cada vez mais mecanismos e
procedimentos com vistas a entrega de uma tutela jurisdicional efetiva.
Dentro desse contexto, surgiu no Senado Federal o PL n. 166/10, com o fim de elaborar um novo CPC.
De autoria de uma comissão de juristas presidida pelo então Min. do STF, Luiz Fux, e subscritado
pelo então presidente do Senado, José Sarney, teve por principal objetivo combater a morosidade da
Justiça, incorporando ao Direito brasileiro mecanismos consagrados em outros países, como o
incidente de resolução de demandas repetitivas, existente no Direito alemão.
Outro objetivo foi simplificar o processo civil, eliminando os recursos, como o agravo retido e os
embargos infringentes, bem como muitos procedimentos especiais, que muitas vezes retardavam a
aplicação da Justiça. Também teve por alvo fortalecer a conciliação extrajudicial, além de processar o
réu que deixar de comparecer injustificadamente à fase de conciliação à condenação a ato atentatório
à dignidade da Justiça, etc.
Assim, depois de mais de 4 anos de tramitação no Senado e na Câmara de Deputados, com intensos
debates no Parlamento, em audiências públicas e na comunidade jurídica, finalmente o NCPC foi
sancionado, com alguns vetos, em 16 de março de 2015 e publicado no dia seguinte, entrando em vigor
no dia 18 de março de 2016. O NCPC é dividido em 2 partes: uma Parte Geral, composta de 6 Livros;
e uma Parte Especial, com 3 Livros, totalizando 1.072 artigos, incluindo aí as Disposições Finais e
Transitórias.
1.4 Fontes
O termo "fontes" provêm de fontos, expressão latina que significa "lugar de onde perenemente
nasceu", "nascente de água". Em sentido figurado, fonte é a origem de algo, causa, motivação.
Fonte do Direito seria, portanto, a origem do Direito, o seu nascedouro. Trata-se dos fatores
reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, seja elas quais forem (princípios morais,
políticos, pareceres, teorias etc), desde que influenciem na criação e aplicação do direito.
Fontes do Direito Processual são os lugares de onde provém este ramo do Direito, dentre os quais
podemos destacar:
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b) Leis Federais => de acordo com o art. 22, I, CF, compete privativamente à União legislar sobre
direito processual. Sendo assim, a maioria das leis processuais são federais, sendo a mais importante
a Lei n. 13.105/15, ou seja, o CPC. Mas há outras também relevantes como a Lei 6.515/77 (lei do
divórcio), Lei n. 6.830/80 (execução fiscal); Lei n. 8.245/91 (lei da locação/despejo); Lei 12.016/09
(mandado de segurança) etc.
c) Leis Estaduais => as leis estaduais relativas ao processo são suplementares às federais, que são
gerais, pois a competência para legislar sobre Direito Processual é de exclusividade da União. Sendo
assim, cabem aos Estados legislar apenas sobre procedimentos administrativos de apoio ao processo,
como, por exemplo, regras acerca da publicação dos atos processuais na imprensa oficial local.
Todavia, calha lembrar que, no que se refere aos Juizados Especiais (art. 24, X, CF), têm os Estados
e o DF competência concorrente com a União para legislar sobre processo, desde que não sejam
contrárias às normas gerais (instituídas na Lei 9.099), e, nessa hipótese, não há como se negar à lei
estadual o caráter de fonte do Direito Processual.
d) Regimentos Internos dos tribunais => são conjuntos de normas que regem o funcionamento
interno dos tribunais. Tais atos normativos podem conter normas atinentes ao procedimento. Ex:.
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e) Princípios Gerais do Direito => são regras não escritas que se encontram presentes em todo o
sistema, informando-o. Exs:. ‘O Direito não socorre os que dormem’ – primado geral presente em institutos
como os da prescrição, decadência, preclusão; ‘O que não está nos autos não existe no mundo jurídico’ ou
‘Alegado e não provado é como não alegado’ – deles derivando regras como a do ônus da prova (art. 373), a
do livre convencimento motivado (art. 371) etc.
f) Costumes => conduta socialmente aceita e que é realizada para criar uma sensação de
obrigatoriedade. Ex:. por força do disposto nos arts. 319, inc. VI e art. 336, do NCPC, autor e
demandado devem anunciar, de maneira específica, na petição inicial e na contestação,
respectivamente, as provas que pretendem produzir. Há, porém, um hábito de muitos advogados de
descumprir esse comando, anunciando apenas que pretendem produzir ‘todos os meios de prova
admissíveis no direito’. Por conta dessa práxis (costume), os magistrados, após o encerramento da fase
postulatória, tem determinado às partes que especifiquem as provas que pretendem produzir.
g) Doutrina => conjunto de lições ou obras dos jurisconsultos acerca do Direito Processual Civil.
Ex:. Theodoro Jr.; Nelson Nery Jr; Alexandre Câmara; Amaral Santos; Fidélis dos Santos; Dinamarco;
Ada Pelegrini Grinover; Arruda Alvim; Sérgio Scarpinella Bueno; Athos Gusmão Carneiro; Frederico
Marques; Ovídio Baptista; Marinoni, Talamini; Elpídio Donizete; Wambier; Didier Júnior; Luiz
Guilherme Marinoni; Eduardo Talamini; Elpídio Donizetti; Daniel Amorim Assumpção Neves etc.
h) Jurisprudência => decisões reiteradas dos pretórios nacionais sobre idêntica matéria. É
inegável a força das súmulas e da jurisprudência dominante dos tribunais (força dos precendentes),
principalmente dos superiores, que, no nosso atual sistema, são capazes de fazer recursos fracassarem
precocemente ou terem seus méritos julgados procedentes (providos) monocraticamente pelo relator
(art. 932, NCPC); ou, ainda, de considerar uma causa com repercussão geral, para fins de
conhecimento de recurso extraordinário (art. 1.035, §3º) etc.
- art. 1º => de acordo com este artigo, hoje não é possível compreender o processo civil sem
examinar a CF. Isso é reflexo da força normativa da constituição, devendo as normas do CPC estar
em conformidade com a CF.
- art. 2º => consagra os princípios do dispositivo (da ação ou da demanda) e inquisitivo (ou
impulso oficial). Para assegurar a imparcialidade do juiz, a iniciativa do processo e da maioria da
prática dos atos processuais cumpre às partes, à sua disposição, sob pena de contumácia. Do princípio
do dispositivo derivam-se outros como o princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao
pedido (arts. 141 e 492).
As exceções estão consagradas nos arts. 139, IV, e 297 (poder geral de efetivação e de cautela); art.
370 (produção de provas de ofício = interesse público/busca da verdade real/juiz de mero expectador
à posição ativa), do que se conclui que o princípio do dispositivo restringe-se à propositura da ação
e aos limites objetivos da lide, mas não à efetivação e à instrução do processo. Obs: a abertura de
processo de inventário de ofício não se afigura mais uma exceção no NCPC ao princípio do
dispositivo.
Convive o princípio do dispositivo harmonicamente com o do inquisitivo, principalmente porque
cabe ao juiz, provocada a jurisdição, promover o andamento do feito (art. 2º, 2ª parte), pois é interesse
do Estado a rápida solução das causas, não podendo ficar à mercê das partes.
- art. 3º => princípio da inafastabilidade da jurisdição, o qual decorre do art. 5º, XXXV, CF.
Garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, que não pode deixar de atender a quem venha a juízo
deduzir uma pretensão, pois a jurisdição é monopólio do Estado. A partir do momento que o Estado
trouxe para si a responsabilidade, o poder de tão-somente ele dizer o direito ao caso concreto, na
mesma medida atraiu para si o dever de assim o faze-lo, não podendo se eximir de julgar em qualquer
situação.
Essa é a inteligência dos arts. 4º, LINDB, e art. 140, NCPC, os quais consagram um princípio derivado,
denominado de princípio do non liquet.
A consequência da garantia da inafastabilidade é outra garantia: a do acesso à jurisdição a todos
quantos a invoquem, sem restrição. Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, nasce para o seu
titular a pretensão de vê-lo tutelado pelo Judiciário.
EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO (§§1º, 2º e 3º): os meios alternativos de solução de conflitos, como a
mediação, a conciliação e arbitragem.
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A mediação e a conciliação, que podem ocorrer dentro ou fora do processo judicial, é uma
forma de solução de conflitos dada pelas próprias partes (autocomposição), embora seja auxiliada e
estimulada por um terceiro, o mediador ou o conciliador. A diferença entre elas está na existência ou
não de vínculo anterior entre as partes (art. 165, §§ 2º e 3º). De acordo com o novo CPC, a conciliação,
a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por todos
os operadores do direito (juízes, advogados, defensores públicos e membros do MP), inclusive no
curso do processo judicial (art. 3º, § 3º).
Já, na arbitragem, a solução é dada por um terceiro escolhido pelas partes, conhecido como
árbitro, proferindo uma decisão a que as partes deverão se sujeitar. A arbitragem foi adotada no Brasil
pela Lei n. 9.307/96, e é constituída pela chamada convenção de arbitragem, onde as partes pactuam,
por força da previsão em contrato da cláusula compromissória (pré-lide), a arbitragem como meio de
solução de conflitos que porventura sobrevierem sobre o negócio jurídico ali avençado, abrindo mão
da jurisdição estatal (há quem defenda a inconstitucionalidade desta lei por ferir os princípios do
acesso ao Judiciário e do juiz natural – art. 5º, incisos XXXIV e LIII, CF/88). Caso o conflito de fato
ocorra, tais partes firmarão o compromisso arbitral (pós-lide), o que na prática ocorre normalmente
ao final da audiência de conciliação na Corte.
Segundo a Lei 9.307/96, a decisão do árbitro é uma sentença (título executivo judicial), contra
a qual não cabe qualquer recurso (salvo ação anulatória, num prazo de até 90 dias após sua
publicação, caso tenha sido dada com vício), e nem pode ser rediscutida no Judiciário, a quem cabe
tão somente executá-la, já que ao árbitro carece apenas o poder jurisdicional de execução de suas
próprias decisões.
Por fim, convém lembrar também que o árbitro deverá ser pessoa física, capaz e de confiança
das partes; e que a arbitragem só se dá entre pessoas capazes que estejam litigando direitos
patrimoniais disponíveis.
- art. 4º => este artigo contempla 3 princípios diferentes: o princípio da duração razoável do
processo; o da primazia da decisão de mérito; e o da efetividade.
O princípio da duração razoável do processo (antes conhecido como princípio da celeridade) é o mais
recente princípio processual constitucional, inserido no art. 5º, inciso LXXVIII por meio da EC 45/04.
Com este princípio visa-se assegurar um processo, cuja duração seja o estritamente necessário para
que se possa alcançar os resultados justos visados. Duração esta que não significa que será mínima,
pois nem sempre conduzirá a um resultado justo, mas uma duração razoável para se alcançar o
melhor, o mais adequado, o mais efetivo, enfim, o mais justo resultado possível ao processo.
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Já o princípio da primazia da decisão de mérito remete a ideia de que a solução de mérito é prioritária em
relação à solução que não o enfrenta, devendo o juiz evitar, sempre que possível, de extinguir o feito
em razão de nulidades processuais, deixando de analisar as questões principais. Um exemplo disso é
a previsão do art. 139, IX, do CPC, que diz ser dever do juiz determinar o suprimento de pressupostos
e o saneamento de outros vícios processuais. Outra disposição aplicável é a do art. 321, que diz que,
quando a petição inicial contiver defeitos corrigíveis, não deverá o juiz indeferí-la sem antes dar
oportunidade ao autor de corrigí-la em 15 dias.
Por fim, de acordo com o princípio da efetividade do processo, as partes têm o direito à satisfação da
decisão. Garante-se o direito fundamental à tutela executiva, ou seja, à satisfação de um direito já
reconhecido. Afinal, não basta “ganhar”; para o processo ser devido, é preciso também “levar”. Dessa
forma, este princípio está muito relacionado à fase executória do processo de conhecimento e ao
processo de execução.
- art. 5º => princípio da boa fé processual, que está previsto no art. 5º, NCPC. Tal princípio impõe
a todo aquele, que de qualquer forma participa do processo, o dever de comportar-se de acordo com
a boa-fé. Portanto, trata-se, na verdade, de uma regra de conduta que se aplica não apenas às partes,
mas aos seus advogados, e até ao juiz e aos auxiliares da justiça.
Apesar de não ter previsão constitucional, a maioria dos autores, com apoio do STF, vê no princípio
do devido processo legal o seu fundamento constitucional, vez que esta cláusula geral exige um
processo leal, ético e pautado na boa-fé (criou-se, inclusive, a expressão: devido processo leal).
O desrespeito ao princípio traduz-se em ilícito processual, combatido severamente pelo
legislador com sanções do tipo condenação em litigância de má-fé (arts. 79 a 81); responsabilidade
civil do juiz (art. 143, I), do escrivão e do oficial de justiça (art. 155), do intérprete (art. 164); do
advogado (art. 32 do Estatuto da OAB); a condenação em ato atentatório à dignidade da justiça (ao
devedor que pratica quaisquer atos previstos no art. 774; e às partes que não comparecem
injustificadamente na audiência de conciliação ou mediação, cf. §4º do art. 334); a tutela de evidência
quando o réu abusar do direito de defesa (art. 311, I); etc.
- art. 6º => princípio da cooperação. Embora já tenhamos visto os princípios do dispositivo e do
inquisitivo separadamente, certo é que estes estão diretamente relacionados com o que o Novo
Código de Processo Civil chama de princípio da cooperação.
Isso porque sempre convivemos, no mundo ocidental, com dois tipos de modelos de processo: o
modelo dispositivo, intimamente ligado à atribuição de poderes às partes; e o modelo inquisitivo, o
qual confere poderes ao juiz.
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Todavia, tem sido cada vez mais difícil identificar, principalmente no Brasil, qual dos dois modelos é
adotado, uma vez que ora a lei confere poderes às partes, como, por exemplo, de instaurar o processo
e fixar o seu objeto, ora ao juiz, ao investi-lo de poderes instrutórios.
Em razão disso, tem-se falado que o direito processual brasileiro adota o modelo cooperativo,
segundo o qual se espera que todos os sujeitos do processo, tanto as partes quanto o juiz, devem
cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Estas são
as palavras descritas no art. 6º, do NCPC.
Percebe-se que não há uma condução do processo só a cargo das partes, tampouco só do juiz, que,
tendo o contraditório, a boa fé e o devido processo legal como bases, comparticipam de todos os atos
praticados do processo.
Vê-se que o Estado-juiz adota dupla posição no processo: paritária, com diálogo e equilíbrio na
condução e cognição do processo (modelo dispositivo); e assimétrico e imparcial no momento da
decisão do processo (modelo inquisitivo).
O princípio aplica-se às partes no que se refere aos seus deveres de esclarecimento (os demandantes
devem redigir suas demandas com clareza e coerência, sob pena de inépcia), de lealdade e de proteção
(não pode a parte causar danos à outra). Já quanto ao juiz o princípio se revela, por exemplo, no dever
também de ser claro e preciso ao fundamentar suas decisões, ou, antes de indeferir um ato, tirar
dúvidas ou buscar esclarecimentos junto à parte; agir com lealdade e boafé; e até o dever de consulta,
de informar as partes antes de decidir (art. 10); e de prevenção, apontando deficiências nas
postulações às partes, para que possam ser supridas (ex: arts. 76; 321; 932, par. único; 1.017, §3º; 1.029,
§3º).
- art. 7º => princípio da igualdade processual, também conhecido como paridade de armas,
compreende dois aspectos:
- Formal – todos devem ser tratados com igualdade, dando-se as mesmas oportunidades às partes.
Ex:. art. 5º, CF, e art. 139, I, NCPC.
- Substancial – respeita-se as diversidades entre as partes para que a garantia da igualdade seja mais
do que formal, mas seja real ou substancial. Para isso, lança-se mão de uma igualdade proporcional.
Ex: prerrogativas da Fazenda Pública (art. 183 – prazo dobrado; art. 58, §3º - honorários
proporcionais; art. 496 – remessa necessária) e do Ministério Público (art. 180); prioridade às causas
de pessoas maiores de 60 anos (Lei 10.173).
O NCPC trouxe duas novidades importantes que visam garantir maior efetividade ao
princípio da isonomia: a ordem cronológica de conclusão para que os juízes e tribunais profiram
sentenças ou acórdãos (art. 12); e a observância aos precedentes judiciais, impedindo que pessoas que
estejam em situações iguais tenham soluções diferentes.
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- art. 8º => de acordo com este artigo, o juiz deve atender aos fins sociais e às exigências do bem comum
(art. 5º LINDB); deve resguardar e promover a dignidade da pessoa humana e observar a
proporcionalidade, a razoabilidade (atualidades da CF), a legalidade, a publicidade e a eficiência
(art. 37 CF).
- art. 10 => Regra da proibição de decisão surpresa, que é, na verdade, verdadeiro desdobramento ou
concretizado do princípio do contraditório, já que deve o juiz, sempre antes de decidir, ainda que
relativamente à questões conhecíveis de ofício (inconstitucionalidade de lei, decadência,
incompetência absoluta, etc), consultar às partes para evitar decisões surpresas. Tal regra se aplica
em todas as instâncias, sob pena de nulidade da decisão.
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- art. 12 => Regra do respeito à ordem cronológica de conclusão. Os juízes e os tribunais atenderão,
preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão (redação
dada pela Lei n. 13.256/16, que alterou o CPC/15). Tal regra prestigia a igualdade e a duração razoável
do processo; e somente se aplica às decisões finais (sentenças e acórdãos). Exceções (§ 2º).
Quanto à aplicação da norma processual no espaço, aplica-se o princípio da territorialidade (lex fori),
ou seja, o exercício da jurisdição em território nacional rege-se pelas normas processuais brasileiras,
ressalvados os tratados internacionais (art. 13).
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Já quanto ao tempo, a norma processual nova não retroage, aplicando-se imediatamente aos
processos em curso, com a preservação apenas dos atos processuais já praticados (tempus regit actum).
Aplica-se, portanto, o princípio do isolamento dos atos processuais.
Por fim, registra-se o caráter subsidiário (há norma, mas é incompleta) e supletivo (quando há lacuna
total de norma) do CPC em relação os demais processos, como o eleitoral e trabalhista,
administrativo.
2 JURISDIÇÃO
a) substitutividade => o Estado substitui as partes e soluciona o conflito, por conta do monopólio
da atividade jurisdicional. Ou seja, o Estado cumpre a lei no lugar das partes, que não a observaram
espontaneamente.
b) definitividade ou imutabilidade => em nome da segurança jurídica, as decisões judiciais
tendem, em regra, a se tornarem imutáveis, passíveis apenas de ação rescisória. Já as decisões
administrativas, em regra, são modificáveis, podendo ser revistas pelo Judiciário, exceto aquelas
fundadas em juízo de conveniência e oportunidade (mérito administrativo).
c) inércia => a atividade jurisdicional deve ser provocada pela parte, pois se trata de uma atividade
desinteressada, imparcial e eqüidistante dos interesses das partes.
d) instrumentalidade => através da atividade jurisdicional é possível impor os comandos legais
violados, ou seja, é um instrumento da sanção.
e) presença da lide => a existência de uma lide pressupõe a existência da jurisdição, pois que seu
objetivo é justamente por fim aos conflitos de interesses surgidos entre as partes. Hélio Tornaghi e
Alexandre Câmara entendem que a lide não é elemento essencial à jurisdição, mas sim a pretensão,
a pois que há casos em que o Estado é chamado a atuar sem que tenha havido litígio.
Exemplo clássico é a ação de divórcio consensual, feito no Judiciário, quando há filhos menores.
A jurisdição é também informada por alguns princípios, dentre os quais se destacam:
a) investidura => a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder para
tanto (os juízes concursados).
b) aderência ao território ou territorialidade => o juiz deve exercer a função jurisdicional dentro
de certo território definido pela lei (tem a ver com competência, ou seja, com limites da jurisdição,
que estudaremos mais adiante).
c) indelegabilidade => as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos
judiciais, não podendo ser delegadas a outrem.
IMPORTANTE: a carta de ordem (ato de comunicação de uma parte, que esteja fora dos
limites da jurisdição onde se processa o feito, dirigida a um juiz ou tribunal subordinado
àquele de que ela emanar) ou a carta precatória (endereçada a outro órgão judiciário do
país, entre os quais não há relação hierárquica) não contraria este princípio, pois que não
se trata de delegação de jurisdição, mas, sim, de competência.
sentença, compondo o litígio entre as partes, o árbitro não tem o poder de executá-la , tarefa esta
exclusiva do Estado.
d) inevitabilidade => independentemente da vontade das partes, a jurisdição deve alcançar o seu
fim, qual seja, o de compor o litígio, sujeitando-as à decisão. A autoridade das decisões se impõe,
independentemente da aceitação dos seus destinatários, pois se trata de um ato emitido por um
poder soberano do Estado.
e) indeclinabilidade => com o monopólio estatal da jurisdição, os órgãos judiciais têm a
obrigação de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera faculdade. O juiz
não pode deixar de julgar alegando omissão na lei (art. 5º, XXXV, CF e art. 3º do NCPC – princípio
da inafastabilidade da jurisdição; e art. 140, NCPC - princípio do non liquet). Para tanto, ele dispõe
dos meios integrativos (costumes, analogia e princípios gerais do direito – art. 4º, LINDB).
f) improrrogabilidade => a função jurisdicional, delimitada segundo a organização judiciária
brasileira, não pode ser alterada pelo legislador ordinário.
a) conhecimento (notio, cognitio) => implica no poder de conhecer, investigar, instruir. Ou seja
compreende o poder atribuído aos órgãos jurisdicionais de conhecer dos litígios, de prover a
regularidade do processo, de investigar a presença de pressupostos de existência e de validade da
relação processual, das condições da ação e de recolher o material probatório.
b) chamamento (vocatio) => consiste no poder de convocar, de fazer comparecer em juízo todos
aqueles cuja presença seja necessária ao regular desenvolvimento do processo. Faz-se mediante os
atos de comunicação (citação, intimação etc).
c) coerção (coertio, coercitio) => também conhecido como poder de polícia, abrange o poder de
utilização de medidas coercitivas a fim de que se observe o regular desenvolvimento do processo.
Ex: aplicação de multas (astreintes) por atraso no cumprimento da decisão; retirar alguém da sala
de audiência etc.
d) julgamento (juditio) => engloba o poder de julgar, o poder de concretizar a vontade da lei
diante de um conflito de interesse ou de definir o direito a partir de uma situação de controvérsia.
Ao decidir, o juiz deve observar as seguintes regras:
d.1) o juiz é obrigado a decidir – arts. 3º e 140 (princípios da inafastabilidade da jurisdição e do non
liquet);
d.2) excepcionalmente, o juiz julgará com equidade – art. 140;
19
d.3) o juiz decidirá o mérito nos limites do propostos pelas partes (a sentença tem que ser
congruente, adstrita ao pedido) – arts. 142 e 492;
d.4) o juiz pode decidir prejudicando as partes quando estas agem com fraude – art. 142; d.5) o juiz
decide de acordo com o seu livre convencimento, mas deve motivá-lo - art. 371.
f) poder geral de cautela (nem sempre lembrado pela doutrina) => poder de adotar medidas de
cautela sobre o bem, objeto da demanda, quando houver fundado receio de dano irreparável ou de
difícil reparação pela demora do processo (art. 297).
Por fim, calha lembrar que a jurisdição pode ser voluntária, cujo procedimento está previsto
nos arts. 719 a 770, NCPC; ou contenciosa, que pode ser de rito comum (art. 318 a 512, NCPC) ou
especial (arts. 539 a 718, NCPC).
CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA
Lide Interesses comuns
3
A melhor e mais moderna doutrina tem lembrado também do chamado poder geral de efetivação do juiz, que poderá,
de ofício, determinar medidas coercitivas (astreintes, por exemplo) em nome do princípio da efetividade processual.
20
Ação Requerimento
Partes Interessados
Contraditório Sem contraditório
Processo Procedimento
Sentença Decisão homologatória
Coisa julgada Sem Coisa julgada
3 AÇÃO
A AÇÃO é o direito pelo qual a jurisdição é provocada, pois que ela é inerte. Mas qual é a
natureza jurídica da ação? É um direito:
subjetivo, pois quando o direito objetivo previu o Judiciário como sendo o único dotado de poder
para solucionar os conflitos, em contrapartida, deu ao indivíduo a prerrogativa de chamar o
Estado para tal responsabilidade toda vez em que estivesse envolvido em algum litígio.
a) teoria civilista ou imanentista (Celso, Ulpiano, Savigny) => não havia autonomia. Para eles, a
ação estava atrelada, imanente ao direito material, só havendo ação se houvesse direito (art. 75,
CC/16). Sabemos que tal teoria não vingou, embora ainda hoje, na prática, muitos profissionais
21
insistem em nomear a ação de acordo com o bem ou direito material pretendido (v.g. ação de
despejo, de cobrança, de indenização etc).
b) teoria do direito de ação autônomo (Windscheid e Müther) => a ação é o direito à solução do
conflito pelo Estado, independentemente se ao autor assiste ou não razão. Como bem ensinou os
alemães, é “direito à tutela jurisdicional”, que pode ser o reconhecimento, a certificação de um direito
(ação de conhecimento); ou a satisfação, a concreção, a realização de um direito já reconhecido ou
certificado num título (ação de execução)4. Por isso mesmo que a ação é dirigida CONTRA o Estado,
pois só ele pode oferecer tais tutelas, e não o sujeito passivo da relação jurídica material, que virá a
ser o réu do processo. Todavia, os autonomistas se subdividiram em outras 3 subcorrentes:
b.1) teoria do direito autônomo e concreto (Oskar Von Bulow e Adolf Wach) => reconheciam a
distinção entre o plano material e o processual, porém condicionaram a EXISTÊNCIA do direito
de ação ao preenchimento de certos requisitos de direito material. Exemplo: a “ação de cobrança”
tinha que ser dirigida em face de quem, concretamente, devia, sob pena de o autor não ter direito à
ação. Nota-se que, apesar de propugnarem pela autonomia do direito de ação, acabaram por
condicioná- lo ou limita-lo à uma sentença favorável ao autor, novamente associando-o ao direito
material.
b.2) teoria do direito autônomo e abstrato (Degenkolb e Plósz) => o direito de ação existe
independentemente da efetiva ou concreta existência do direito alegado, ou seja, ele é exercido em
abstração do direito material litigioso, aludindo o autor a ele hipoteticamente. Assim, para os
abstrativistas, o direito de ação é absoluto, semelhante ao direito cívico de petição. Basta ingressar
no Judiciário contra quem quer fosse, alegando qualquer direito, ainda que inexistente qualquer
vínculo material, para que existente a ação.
b.3) teoria eclética (Enrico Tullio Liebman) => em posição intermediária aos concretistas e
abstrativistas, defende a ideia de que o direito de ação existe em abstração do direito material, mas
não é absoluto e incondicionado. Na verdade, Liebman tentou achar um meio-termo entre as
teorias concreta e abstrata, não concordando que o direito de ação seria identificável com o direito
à uma sentença favorável, tampouco, concordando com a ideia de que poderia ser mero direito
4
Vale lembrar que se o interesse do autor for a mera salvaguarda ou a conservação de um bem ou de uma pessoa, a
fim de garantir o resultado da demanda que se encontra em risco (periculum in mora + fumus boni iuris), a parte
poderá pleitear tutela provisória de urgência de natureza cautelar nos mesmos autos do processo de conhecimento ou
de execução, e não mais em ação e processos próprios. Isso porque o NCPC revogou o Livro III do código anterior,
que previa a ação e o processo cautelares nos casos de urgência.
22
cívico de petição, consistente na faculdade de que dispõe todo cidadão de reclamar providências
frente ao Estado, em caráter absoluto e incondicionado.
Para ele, necessário se faz que o autor atenda algumas condições, as chamadas de condições
da ação, quais sejam, a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade das partes.
Ou seja, seria necessário ao autor aludir a um interesse, previsto no ordenamento jurídico, em face
de alguém que hipoteticamente fosse o sujeito passivo da relação material para que o Estado
prestasse a tutela jurisdicional.
Críticas não faltaram à teoria eclética de Liebman, sob o argumento de que, apesar de a
referida teoria considerar o direito de ação abstrato, estabelece o prévio atendimento às condições
da ação que, na verdade, estão intimamente conexas a uma pretensão de direito material, a uma
concreta situação de fato, o que seria um retrocesso.
A crítica procede no sentido de que, para aferir a existência das mesmas, é necessária a
comprovação mediante exame de provas, e não apenas a afirmativa feita pelo autor na petição inicial.
Assim, nesse caso, condições da ação e mérito da causa seriam a mesma coisa, de forma que, se
presentes aquelas, o juiz estaria pronunciando a respeito da própria lide, julgando não a ação, como
queria Liebman, mas o pedido procedente.
Todavia, é bom lembrar que o próprio Liebman, em conferência pronunciada em 1949,
teria reconhecido o problema de que padece a sua teoria, admitindo, para efeito de aferição das
condições da ação, a MERA análise hipotética dos fatos afirmados pelo autor, realizando o juiz uma
cognição superficial, perfunctória, sem incorrer no erro de adentrar na situação fática posta em
juízo, ou seja, no mérito da causa (vertente da teoria eclética, conhecida como teoria da asserção,
adotada pelo STJ). A única condição da ação que o jurista italiano reconheceu ser realmente
questão de mérito foi a possibilidade jurídica do pedido.
Não obstante tudo isso, a teoria eclética da ação, em sua versão original, foi a adotada pelo
nosso diploma processual de 1973 (art. 3º e 295, parágrafo único).
Entretanto, o NCPC não fala mais em condições da ação. Dessa forma, parte da
doutrina entende que o legislador de 2015, em aparente adoção à teoria da abstração, não mais limita
o exercício do direito de ação à observância de qualquer situação, ora enquadrando o interesse de
agir e a legitimidade das partes na categoria dos pressupostos processuais, ora no mérito, a depender
da profundidade da cognição feita pelo juiz sobre eles.
Todavia, nos parece que o NCPC continua a abraçar a teoria eclética, porém com as
reformulações feitas por Liebman, já que no art. 17 exige a observância do interesse e da legitimidade
para se postular em juízo; e no art. 485, VI, estabelece que tal inobservância fará com que o juiz não
resolva o mérito; e, em todos os casos, não se menciona mais o pedido juridicamente impossível, o
que denota a ideia segundo o qual o mesmo passou a ser tratado como uma questão de mérito.
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a) Legitimidade para a causa (ad causam) ou das partes (ativa e passiva) – arts. 17 e 18, NCPC.
Legitimidade é diferente de capacidade. Nem toda pessoa capaz pode estar legitimada
para a prática de determinado ato jurídico. A legitimação traduz numa capacidade específica para
determinados atos da vida civil. O tutor, por exemplo, embora maior e capaz, não poderá adquirir
bens móveis ou imóveis do tutelado, sendo ilegítimo para tanto. Dois irmãos, da mesma forma,
maiores e capazes, não poderão se casar entre si. Falta-lhes legitimidade ou capacidade específica
para o ato.
A mesma avaliação pode ser feita com relação às partes de um processo. Só serão capazes
especificamente para travarem uma relação jurídica processual aqueles que
hipoteticamente figuraram também na relação jurídica material. É, nos dizeres de
Carnelutti, “a pertinência subjetiva da ação”, ou seja, a pertinência entre as partes processuais e
as da lide.
Portanto, numa ação de despejo, serão autor e réu o locador e o locatário,
respectivamente. Aquele que tiver fora da relação de locação, como, por exemplo, o sublocatário, será
considerado terceiro interessado, e não parte legítima.
Quando coincidirem as partes do processo com as da lide, diz-se que a legitimidade
é ordinária.
Entretanto, existem casos em que o ordenamento jurídico autoriza outrem, que não
titular do direito ou interesse material, a pleiteá-lo em juízo em seu lugar. Assim, se não houver
correspondência entre os sujeitos do processo e da lide, de modo que quem figura na relação
processual não é o mesmo da relação material, ocorre o que denominamos de legitimidade
extraordinária ou substituição processual, prevista indiretamente no art. 18, NCPC, que diz:
“ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico” (para Arruda Alvim, Barbosa Moreira, Didier Jr, e a maioria esmagadora da doutrina, não
há necessidade de expressa previsão na lei, basta que tal autorização decorra do sistema).
Exemplos: 1) o Ministério Público na defesa os interesses sociais e individuais
indisponíveis (ação civil pública, ação de improbidade administrativa etc) –
art. 177, NCPC c/c art. 127, CF;
2) o sindicato, na defesa dos interesses da categoria – art. 8º, III, CF/88; 3)
o condomínio, na defesa dos interesses comuns – art. 1.348, III, CC.
A legitimidade extraordinária, portanto, só é admitida excepcionalmente, quando houver
previsão legal, o que faz dela a exceção e não a regra.
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Quando duas ou mais ações tiverem os mesmos elementos (mesmas partes, mesma causa
de pedir e mesmo pedido) diz-se que ocorreu litispendência (pendência de duas lides ou causas
idênticas), o que autorizará o juiz a extinguir o segundo processo (art. 485, V), já que o sistema não
admite a coexistência de duas ou mais ações idênticas (isso pode gerar a coexistência de decisões
conflitantes sobre a mesma causa, conflitantes, e, por consequência, trazer insegurança jurídica).
A litispendência está conceituada no art. 337, §§1º, 2º e 3º, NCPC.
a) Partes
Quando se fala em partes, fala-se nas pessoas que estão envolvidas no litígio. E só se
envolvem em conflitos, em litígios, pessoas, ou seja, aqueles que são dotados de personalidade
jurídica. Nesse sentido, fala-se em capacidade de ser parte, que corresponde exatamente à
personalidade civil (arts. 1º e 2º do Código Civil). Portanto, podem ser partes autora e ré:
a pessoa natural: seja criança, doente mental ou adulto normal etc;
a pessoa jurídica: de direito privado (empresa, associações, fundações, sociedades de
economia mista e empresas públicas) ou de direito público (União, Estados, DF,
Municípios, Territórios, e suas respectivas autarquias e fundações públicas).
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b) Causa de Pedir
Tratam-se das razões fáticas e jurídicas que justificam o pedido.
Segundo a doutrina, a causa de pedir pode ser de duas espécies: remota ou próxima.
A remota diz respeito aos fatos, que podem ser constitutivos (que dão vida à vontade da
lei, ou seja, fazem nascer o direito a que se alega – ex: empréstimo, ato ilícito); extintivos (fazem
cessar uma vontade da lei, extinguindo um direito – ex: pagamento, remissão de dívida);
modificativos (tendem a alterar a constituição de um direito – ex: alegação de parcelamento de
dívida); ou impeditivos (circunstância que impede a constituição de um direito – ex: incapacidade,
simulação, erro etc.).
É importante a diferenciação dos fatos, pois que, segundo o art. 373 do CPC, o autor tem o
ônus de provar apenas os fatos constitutivos, e o réu os demais, mesmo porque, obviamente, só a ele
interessa alegar extinção, modificação ou impedimento à direito. Normalmente, o autor justifica a
declaração, a constituição ou a condenação à prestação de um direito seu, através dos fatos que o
constituem.
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Já a causa de pedir próxima diz respeito aos fundamentos jurídicos que embasam o pedido.
Não se quer dizer aqui o fundamento legal, o dispositivo da lei, pois não há necessidade de indicar
ao juiz a norma violada. Segundo a velha máxima romana, “juria novit cúria”, o juiz conhece o direito.
Por conseguinte, os fundamentos jurídicos são as consequências jurídicas que extraem dos fatos. Por
exemplo, se o locatário não paga o aluguel, a consequência jurídica é o seu despejo.
No processo civil, adota-se a teoria da substanciação, que exige do autor, na petição inicial, a
indicação dos fatos (causa remota) e dos fundamentos jurídicos (causa próxima), conforme o inciso
III do art. 319. Opõe-se a esta a teoria da individuação, segundo a qual basta ao autor indicar apenas
os fatos OU apenas os fundamentos jurídicos.
c) Pedido
O pedido pode ser dividido em duas espécies: o imediato e o mediato.
O pedido imediato é o tipo de providência jurisdicional pretendida, que pode ser de
conhecimento ou de execução. Especificamente considerando os efeitos produzidos pela sentença de
conhecimento, o pedido pode consistir em um(a):
=> declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica (ação declaratória, positiva ou
negativa – art. 19, I, NCPC);
=> constituição ou desconstituição de uma relação jurídica (ação constitutiva ou desconstitutiva);
=> condenação do réu a prestar uma obrigação dar quantia (ação condenatória);
=> condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de dinheiro),
ordenando-o (coerção indireta) a prestá-la, sob pena de sofrer alguma medida de efetivação
indireta (como as multas – astreintes) e até crime de desobediência (ação mandamental); => a
condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de dinheiro),
determinando a adoção de medidas de sub-rogação, mediante coerção direta (como busca e
apreensão remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva;
etc), caso o réu não cumpra espontaneamente o direito reconhecido nesta mesma decisão
(executiva lato sensu).
Estas duas últimas ações (mandamental e executiva lato sensu) não passam de condenações
atreladas com medidas de efetivação, razão pela qual são conhecidas como ações ou processos
sincréticos (pois há conhecimento + execução na mesma decisão). São também conhecidas como
tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e de entrega de coisa, respectivamente previstas
nos arts. 497 e 498 c/c art. 536, §1º, NCPC, em contraponto a chamada tutela genérica (art. 499 do
NCPC), hoje uma grande exceção no processo civil moderno.
Por outro lado, o pedido mediato é o bem jurídico de direito material que se pretende seja
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4 PROCESSO
O processo completa a trilogia processual, pois, provocada a jurisdição pela ação, a vontade
da lei se concretizará mediante o processo, que atua como um instrumento da jurisdição.
a) contrato => os romanos concebiam o processo como um contrato, pois as partes travavam entre
si uma espécie de acordo para se submeterem à jurisdição (parecido com a convenção de arbitragem
para se sujeitarem à arbitragem). Com maior poder que o Estado passou a dotar, atraindo para si o
monopólio da jurisdição, ficou ultrapassada essa concepção privatista do processo.
b) quase- contrato => para seus defensores, embora reconheciam não se tratar o processo de um
contrato, sustentavam se tratar de um quase-contrato, em virtude de as partes possuírem obrigações
no processo. Entretanto, esse entendimento também não prosperou, pois que, no contrato, as
obrigações são recíprocas entre os contratantes, o que não ocorre entre as partes no processo. Além
do mais, as partes não podem dispor, regular entre si quanto aos efeitos do processo, devendo apenas
a ele se sujeitarem.
c) situação jurídica => o processo seria uma situação jurídica que, a depender do empenho das
partes em exercer suas faculdades e de se sujeitarem aos ônus etc, poderia ser alterada ao final com o
provimento jurisdicional, colocando a parte numa situação de vantagem ou de desvantagem. Enfim,
instaurado o processo, surgem essas duas possibilidades de resultado, essas duas situações, definindo
o Estado por uma delas se restar convencido ou não do direito alegado.
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d) relação jurídica => o processo surge como instrumento de que dispõe o Estado-juiz para a
realização direito subjetivo material violado no caso concreto. Como a jurisdição é inerte, posto que
se trata de uma função que se mantém na sua imparcialidade, cumpre ao pretenso detentor desse
direito provocá-la, impulsioná-la mediante a ação. Como a ação é também um direito subjetivo (de
natureza processual), este se manifestará a através de uma relação jurídica, agora de natureza
processual, que se instaurará. A esta relação jurídica denominamos de processo.
Portanto, PROCESSO é a relação jurídica processual, por isso de direito público, que une autor, juiz
e réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela sequência ordenada de atos, com vistas a um fim, qual
seja, a entrega da tutela jurisdicional justa e efetiva.
Convém esclarecer que não prosperou o entendimento segundo o qual a relação jurídica
processual seria estabelecida somente entre as partes, figurando o juiz como um estranho a ela,
conforma a teoria linear. Muito menos que todas as obrigações, ônus e atividades das partes
convergiriam para o juiz, formando uma relação meramente angular.
Esta relação jurídica é, na verdade, de natureza triangular, pois ao mesmo tempo em que há
vínculo entre as partes e o juiz, há também pontos de contato direto entre as partes (v.g., quando
entram em acordo para suspender o processo; ou quando se conciliam etc).
4.2 Procedimento
Vimos até agora que o processo é uma relação jurídica entre autor, juiz e réu, que se exterioriza e se
desenvolve pela seqüência ordenada de atos com vistas à sentença.
Portanto, o processo apresenta 2 aspectos:
interior ou intrínseco => o processo é a relação jurídica que se instaura e se desenvolve entre autor,
juiz e réu.
exterior ou extrínseco => o processo se revela num conjunto de atos concatenados visando a
sentença, a que denominamos de procedimento.
À título de ilustração, podemos afirmar que enquanto o processo é o instrumento, o VEÍCULO
conduzido pelas partes e pelo juiz rumo à sentença; o procedimento é o CAMINHO, o CURSO, o
ITINERÁRIO pelo qual o processo passa para chegar a esse destino.
Vários são os caminhos ou itinerários, ou seja, procedimentos, estabelecidos pela lei, para se chegar
à solução final da lide, dentre os quais podemos classificar: comum e especial.
O procedimento comum é aquele adotado quando não há para a causa previsão de
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procedimento especial, seja no próprio código ou na lei especial (art. 318, NCPC). O rito comum é,
portanto, a regra geral, sendo aplicado subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao
processo de execução.
O Código prevê também os procedimentos especiais, seja de jurisdição contenciosa (consignação em
pagamento, exigir contas, monitória, possessórias, inventário e partilha etc, que, normalmente, após
algumas providências próprias específicas, caem no procedimento ordinário), seja de jurisdição
voluntária (divórcio e separação consensuais, herança jacente; arrecadação dos bens do ausente;
interdição etc) – arts. 539 a 718 e 719 a 770, respectivamente.
Leis especiais também regulam procedimentos especiais, como o do mandado de segurança
(Lei n. 12.016/09), o das causas de competência dos Juizados Especiais (Leis n. 9.099/95; 10.259/01;
12.153/09) etc.
a) subjetivos => estão ligados ao juiz (jurisdição – pois não existe processo perante oficial de
justiça, professor etc) e às partes (capacidade de ser parte – só quem é dotado de personalidade
jurídica, como pessoas físicas, jurídicas e, excepcionalmente, entes despersonalizados).
b) objetivo => demanda. Só há processo se houver provocação/exercício do direito de ação, o qual
se dá por meio de um ato processual denominado demanda. Este ato, por sua vez, materializa-se
através de um instrumento denominado petição inicial.
imparcialidade ou isenção, maculado estará o processo. O juiz pode se declarar suspeito ou a parte
poderá alegar a suspeição ou o impedimento do juiz dentro do prazo legal (defesa), sendo ele
substituído por outro magistrado na condução do feito.
a.2) às partes: capacidade processual ou de estar em juízo (corresponde à capacidade civil, prevista
no art. 5º do CC/02). Se a incapacidade surgir no curso do processo (alguém sofre um processo de
interdição), será ela suprida pela curadoria 5 ; e capacidade postulatória (para praticar os atos
processuais, que requerem técnica específica, deverá a parte estar representada por um advogado ,
devidamente inscrito nos quadros da OAB, mediante um contrato de mandato, o qual se
instrumentaliza pela procuração. Só se pode postular sem procuração em casos urgentes, previstos
no art. 104, in fine, NCPC, mas deve ser ratificado no prazo, sob pena de ineficácia do ato – parágrafo
único do mesmo artigo. Vide Súmula 115, STJ).
5
Também será representado pelo curador, a ser nomeado pelo juiz no processo, se tratar de: menor incapaz, que não tenha
representante, ou os interesses daquele estejam com os destes conflitando; réu preso; ou revel citado fictamente (edital ou
com hora certa) – art. 72, NCPC.
Se a parte for casada (salvo se tratar de regime de separação absoluta de bens) e estiver litigando em ações que versam
sobre direitos reais imobiliários, ela dependerá da outorga uxória ou marital do outro cônjuge - art. 73, NCPC. Por outro
lado, serão necessariamente réus nas ações previstas no §1º do referido dispositivo legal.
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- RÉU: que ocupa o pólo passivo e que vai responder pela ação.
- JUIZ: que está numa posição soberana, porém eqüidistante das partes, pelo fato de exercer a
jurisdição.
Os dois primeiros sujeitos -autor e réu - são conhecidos como PARTES. Logo, concluímos
haver no processo apenas duas partes a ATIVA e a PASSIVA.
O conceito de partes é importante na medida em que determina os efeitos da sentença, os quais, regra
geral, só alcançam elas, e também porque as diferenciam do chamando terceiro. Aliás, essa é a
inteligência do artigo 506 do NCPC, in verbis: “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros”.
Entretanto, quando a lei autoriza é possível ao terceiro ingressar, intervir no processo como parte.
Nesse caso, o terceiro interveniente deixará de ser mero terceiro, adquirindo regra geral a condição
de parte, o que incluir o fato de ser alcançado pelos efeitos da sentença. São espécies de intervenção
de terceiros previstos no NCPC: a assistência (arts. 119 a 124); a denunciação da lide (arts. 125 a 129);
o chamamento ao processo (arts. 130 a 132); o incidente de desconsideração da personalidade jurídica
(arts. 133 a 137); e o amicus curiae (art. 138), os quais ainda serão mais tarde estudados.
O MP também pode figurar como parte quando atuar na defesa de interesse coletivo. Nesse
caso, a sua atuação dar-se-á como substituto processual, posto que a sua legitimidade é extraordinária
(artigo 177 do NCPC).
Coisa diversa é quando o MP atua como fiscal da ordem jurídica (custos legis) quando a causa
versar interesse de menor questão de estado ou interesse público (artigo 178 do NCPC). Ele o fará não
na condição de parquet ou de terceiro, mas atuará como uma espécie de amicus curiae (amigo da corte).
Advogados, peritos, assistentes técnicos, oficial de justiça, etc, JAMAIS poderão ser
entendidos como partes. O primeiro é figura indispensável à administração da justiça e os últimos,
auxiliares da justiça.
Por serem pressupostos processuais, o juiz poderá analisa-las de ofício, e, caso não estejam
presentes, deve ele, mediante suspensão do processo, fixar prazo para que o defeito seja sanado, sob
as consequências do art. 76 do NCPC (extinção do processo ou revelia).
Cumpre ainda, dentro do assunto da capacidade processual, fazer as seguintes e últimas
observações:
a.1) capacidade do incapaz sem representante (ou os interesses deste colidem com os daquele), do
réu revel preso e o citado fictamente (por edital ou com hora certa) - art. 72, NCPC.
O juiz nomeará um curador especial para tais pessoas, sendo tal função exercida pela
Defensoria Pública, o qual pode praticar todos os atos de defesa do curatelado, tais como oferecer
contestação, interpor recurso, produzir prova, opor embargos à execução (Sum. 196 STJ), etc.
Como regra, a pessoa casada tem capacidade processual, mas, para ações reais imobiliárias, o
cônjuge necessita do consentimento do outro (autorização marital ou outorga uxória), exceto se
casado pelo regime da separação absoluta de bens. Se o consentimento não pode ser dado ou não é
dado por injusta razão, o cônjuge deve pedir o suprimento do consentimento ao juízo de família
(art. 74).
Por outro lado, os §§ 1º e 2º do art. 73 tratam de demandas em que há litisconsórcio necessário
entre os cônjuges (ambos devem figurar no polo passivo).
Havendo prova da união estável nos autos, também haverá necessidade de consentimento/
citação do companheiro (§3º, art. 73).
Substituição processual ocorre quando a lei permite que alguém em nome próprio, pleiteia
direito alheio. Por exemplo, quando o MP atua na defesa de direitos coletivos, difusos ou individuais
homogêneos, onde o verdadeiro titular do direito não é o MP, mas a coletividade, que está por ele
substituída. Tem a ver com a legitimidade extraordinária prevista como exceção no artigo 18 do
NCPC.
Já a sucessão processual, permite que, no curso do processo, seja em virtude da morte da parte
(causa mortis), ou seja, pela transferência em vida do objeto litigioso para terceiro (inter vivos), ocorre
uma alteração no pólo ativo ou passivo (a depender do caso).
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Há uma sucessão processual, pois que um terceiro sucederá a parte, ingressando no processo em seu
lugar, assumindo o pólo ativo ou passivo. CUIDADO: pois o sucessor não é substituto processual; ele
pleiteia em nome próprio direito próprio, visto que passa a ser novo titular do direito ou da obrigação.
A confusão terminológica é frequente porque, na sucessão, em sua essência, ocorre uma substituição
de partes, saindo uma para outra assumir o seu lugar.
Mas uma coisa é SUBSTITUIÇÃO DE PARTES, e a outra coisa bem diversa é a SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL.
No 1º caso, trata-se de SUCESSÃO PROCESSUAL.
No 2º caso, LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA.
Feitas tais diferenças, cumpre-nos notar que o NCPC trata a sucessão como uma exceção, uma
vez que o artigo 108 proclama que “no curso do processo, somente é lícita a sucessão voluntária das
partes nos casos expressos em lei” (regra da perpetuatio legitimationis).
E tais casos estão previstos nos artigos seguintes: art. 109, que trata da sucessão por ato inter
vivos, e art. 110, que trata da sucessão causa mortis.
Na sucessão inter vivos o adquirente da coisa ou o cessionário do direito SÓ poderá ingressar em juízo,
substituindo ou sucedendo o alienante ou cedente, que é a parte original no processo, se a parte
contrária o consentir (§ 1º). Por outro lado, se esta não concordar, o terceiro adquirente ou cessionário
não sucederá a parte original, que permanece no processo, mas poderá intervir como seu assistente
litisconsorcial (§2º).
Já na sucessão causa mortis, a substituição ocorrerá pelo espólio ou pelos seus sucessores (depende se
já houve ou não a partilha) que deverão se habitar. Para tanto, o processo será suspenso (artigo 313,
§1º e 2º).
Por fim, os artigos 111 e 112 tratam da substituição de seus procuradores, seja por revogação do
mandato (iniciativa da parte) ou pela renúncia do mandato (iniciativa do advogado).
O artigo 77 do NCPC enumera vários deveres das partes e dos seus procuradores, os quais
podem ser resumido no dever geral de procederem com lealdade e boa-fé processual.
Destacam-se os deveres dos incisos IV e VI, quais sejam, o dever de cumprir e não criar
embaraços ao cumprimento das decisões judiciais (que cabe à parte e não ao seu representante
judicial - §8º) e de não agir em atentado processual (alterar ilicitamente a situação de fato, induzindo
o juiz a erro), os quais importam em ato atentatório à dignidade da justiça (Contempt of Court).
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Neste caso, impõem-se à parte (e não aos advogados, defensores públicos ou membros do
Ministério Público - a responsabilidade destes se dá no âmbito administrativo - §6º) uma multa de
até 20% o valor da causa (§2º) ou, se esse for irrisório ou inestimável, até 10 salários mínimos (§5º), a
qual será revertida à União ou ao Estado (que a receberá mediante execução fiscal depois de inscrita
na dívida ativa), especificamente aos fundos de modernização do Poder Judiciário - art. 97, NCPC
(§3º).
No caso do atentado, além da multa, o juiz deverá determinar o retorno ao estado de fato
anterior e pode proibir a parte de falar nos autos até que isso ocorra (§7º).
Enquanto no art. 77, acima citado, o NCPC lista os deveres das partes e seus procuradores
(exceto nos casos dos já comentados incisos IV e VI, que implicam em ato atentatório à dignidade da
justiça), no art. 79 e, principalmente, no art. 80, ele prevê as hipóteses que configuram o seu
desrespeito, reputando a parte ou interveniente como litigante de má-fé.
Portanto, nestes casos, deverão eles ser condenados, a requerimento ou de ofício pelo juiz, em
litigância de má fé, sujeitando-se, de acordo com o art. 81:
- a uma multa superior a 1% e inferior a 10% do valor atualizado da causa ou, se esse for irrisório ou
inestimável, até 10 salários mínimos, a qual será revertida à outra parte, que foi sua vítima (art. 96,
NCPC);
- à indenização à parte contrária dos prejuízos que ela sofreu (o juiz deve fixar o valor da indenização;
não sendo possível, será liquidado);
- à honorários advocatícios e todas as despesas efetuadas pela parte vítima.
- em caso de sucumbência recíproca, as despesas serão distribuídas entre as partes proporcionalmente (art.
86);
- em caso de desistência, renúncia ou reconhecimento do pedido, as despesas e honorários serão pagos pela
parte responsável pelo ato abdicativo (art. 90);
- em caso de atos requeridos pela Fazenda Pública, pelo Ministério Público (quando for parte) ou pela Defensoria
Pública, não há exigência de antecipação do pagamento das despesas. Ao final, se elas forem vencidas, deverão
reembolsar ao vencedor as despesas que ele tiver pago (art. 91, NCPC).
O pedido de assistência pode ser feito em qualquer fase do processo (petição inicial,
contestação, em recurso etc), por pessoa natural ou jurídica, e o juiz somente deve indeferi-lo se
houver prova nos autos quanto à capacidade econômica da parte (art. 99, NCPC).
A parte tem direito à gratuidade mesmo quando está representada por advogado particular
(art. 99, § 4º, NCPC).
Quando o benefício da gratuidade é concedido, a parte contrária pode impugnar esse direito,
a fim de que o juízo o revogue – art. 100 NCPC.
Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua revogação caberá
agravo de instrumento, exceto de resolvida em sentença, quando então caberá apelação (art. 101).
Confirmada a denegação ou revogação da gratuidade, ou até sobrevindo o trânsito em julgado
da referida decisão, a parte deverá efetuar o recolhimento das custas processuais (art. 101, §2º e art.
102).
II) entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir => basta a coincidência com
o objeto ou com a causa de pedir. Isso para evitar decisões contraditórias e também por razão de
economia processual. Ex. vítimas de um mesmo acidente automobilístico demandando contra o
responsável por perdas e danos.
III) ocorrer afinidade de questão por um ponto comum de fato ou de direito => não se trata do
mesmo fato, mas de fatos semelhantes, análogos. Ex: Ações de cobrança movida pelo síndico de
condomínio em face de dois ou mais condôminos.
37
b) Espécies de litisconsórcio:
• a lei prever (Ex: art. 73, §1º, NCPC – cônjuges nas ações ali previstas);
• a relação jurídica controvertida assim exigir: é o caso do litisconsórcio unitário (se a
decisão deva ser dada de modo uniforme a todos os litisconsortes, por consequência, a
sua formação é obrigatória).
38
Conclui-se, assim, que todo litisconsórcio unitário é necessário 6 , mas nem todo
litisconsórcio necessário é unitário. É possível que ele seja necessário e simples (Ex:. usucapião – a
ação é necessariamente promovida contra o proprietário do bem usucapiendo e seus confrontantes,
mas a decisão será diversa para cada qual deles).
- facultativo (art. 113): é contrário ao necessário, ou seja, é aquele cuja formação não é obrigatória; é
determinado pelas partes por razões de economia processual. Isso significa que, se o autor preferir,
poderá entrar sozinho com sua ação ou demandar contra cada réu separadamente em ação distintas.
ATENÇÃO: Vale registrar que não existe litisconsórcio necessário ATIVO, mas só passivo,
pois ninguém é obrigado a ir a juízo juntamente com o outro, sob pena de violação ao princípio
constitucional do acesso ao Judiciário (ademais, o direito de ação é uma faculdade para o seu titular).
Por outro lado, quanto ao litisconsórcio simples, poderá este ser ativo ou passivo.
De acordo com o §1º do art. 113, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, limitar o número
de litigantes, na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
Obviamente que essa limitação só pode ocorrer no litisconsórcio facultativo, e o pedido de
limitação INTERROMPE o prazo para a resposta, que só recomeçará a fluir da intimação da decisão
que o solucionar (art. 113 §2º).
Mas, enfim, o que o referido dispositivo prevê é o DESMENBRAMENTO do processo com
litisconsórcio multitudinário em tantos outros processos, que continuarão a tramitar no mesmo
juízo, em conexão.
- a partir da juntada do último AR ou do último mandado citatório cumprido (art. 231, §1º); - aplicação
do artigo 229 (prazo em dobro se os litisconsortes estiverem litigando com advogados diferentes
pertencentes a escritórios de advocacia distintos), salvo embargos do executado (artigo 915, § 3º,
NCPC).
6
Exemplo de litisconsórcio unitário e facultativo seria nas ações coletivas (ação popular, ação civil pública etc) em que
os co-legitimados, apesar de poderem ou não se consorciarem no pólo ativo (Ex: MP e Defensoria Pública), estão em
substituição processual defendendo o direito do mesmo substituído, a coletividade. Ora, a decisão, nesse caso, deve ser a
mesma a todos aqueles que pertencem à coletividade (não é possível, por exemplo, garantir a proteção ao meio ambiente
a uns, e não a outros, pertencentes ao mesmo grupo).
39
Vimos, segundo o art. 506 do NCPC, que “a sentença faz coisa julgada às partes em as quais é dada, não
prejudicando terceiros”. Todavia, existe a possibilidade destes serem atingidos de forma reflexa pela
coisa julgada, razão pela qual se justifica o seu ingresso no processo, desde que tenham interesse ou
vínculo jurídico no processo. A tal fenômeno processual dá-se o nome de intervenção
de terceiros.
4.7.1 Conceito
Portanto, trata-se da possibilidade de um terceiro ingressar no processo, assumindo a
condição de parte, desde que demonstre interesse jurídico ligado à relação jurídica material discutida.
A intervenção de terceiros repercute:
• na esfera subjetiva – pois amplia as partes.
• na esfera objetiva – pois amplia o objeto do processo, agregando pedido novo, formulado pelo terceiro
interveniente.
Justamente por isso NÃO CABE intervenção de terceiros:
• nos Juizados (artigo 10, Lei 9.099/95)
• na ADI, ADC e ADPF, pois são processos objetivos, onde se discute apenas direito em tese, e não direito
subjetivo das partes.
4.7.2 Espécies
São espécies ou modalidades de intervenção de terceiros previstas no NCPC: a)
Assistência (arts. 119 a 124);
b) Denunciação da lide (arts. 125 a 129);
c) Chamamento ao processo (arts. 130 a 132);
d) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e e) Amicus Curiae (art. 138).
4.7.3 Características
A intervenção de terceiros pode ser provocada ou espontânea, a depender se a iniciativa é de uma das
partes do processo ou do próprio terceiro. Seguindo essa linha de raciocínio, pode-se dizer que, enquanto a
assistência é uma espécie de intervenção de terceiro espontâneo, todas as demais modalidades são intervenções
provocadas.
Interessante notar que, quando o terceiro intervém, ele ingressa em um dos pólos do processo como
uma parte a mais, coadjuvante à parte original, formando um litisconsórcio ulterior.
A assistência é uma intervenção espontânea, que pode ocorrer em qualquer dos pólos do processo
(ativo ou passivo) e em qualquer fase do processo, fundada em interesse jurídico7 (e não econômico, social ou
corporativo).
Divide-se em duas espécies:
assistência simples(arts. 121 e 122) => é aquele que intervém para auxiliar o assistente na busca pela
vitória no processo, por manter com ele uma relação jurídica conexa àquela posta em juízo, sofrendo os efeitos
da sentença por via reflexa. Assim, o interesse do terceiro é indireto, ou seja, não é vinculado diretamente ao mérito
da causa Ex: sublocatário.
Os poderes do assistente simples são mais limitados, pois, embora possa reforçar os argumentos do
assistido, requerer provas e recorrer, não pode se opor à transação, à desistência, à renúncia ou ao
reconhecimento do pedido feito pela parte principal. É considerado como parte meramente auxiliar.
assistência litisconsorcial (arts. 123 e 124) => considera-se assistente litisconsorcial aquele que intervém
no processo assumindo condição de parte, em litisconsórcio unitário ulterior com a parte principal
(chamada de assistida), sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.
Aqui o interesse do terceiro é direto, isto é, o assistente defende um direito que lhe é próprio, pois se trata
na verdade de um co-legitimado que, por algum motivo, não iniciou o processo como parte. Ex: a esposa, que
autorizou o marido a mover ação real imobiliária, decide depois ingressar no feito.
Ao contrário do assistente simples, seus poderes não são limitados na medida em que detém
interesse próprio. Portanto, o assistente litisconsorcial pode assumir posição contrária ao do assistido
que desiste, renuncia, confessa, transige do recurso.
Ademais, o assistente litisconsorcial fica submetido aos efeitos da coisa julgada (ao contrário
do assistente simples que sofrerá apenas uma eficácia preclusiva da intervenção), só podendo discutir
o que ficou decidido, em futura demanda processo, quando se tratar das exceções previstas no art.
123 do NCPC.
7
As pessoas jurídicas de direito público, quais sejam, a União, Estados, DF, Municípios respectivas autarquias e
fundações públicas, poderão, nas causas cuja decisão passa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica,
INTERVIR, independentemente da demonstração de interesse jurídico. (artigo 5º, caput e parágrafo único da Lei
9469/97). A doutrina considera essa forma de intervenção anômala, pois se dispensa o interesse jurídico. Para Athos G.
Carneiro, não se trata de intervenção de terceiros, mas de intervenção da pessoa jurídica de direito público como amicus
curiae, que, diante da complexidade técnica ou política da causa, intervém para dar um suporte maior à decisão do juiz.
Essa intervenção não é para ser assistente, mas para auxiliar o juízo, elucidando os fatos.
41
- direito a indenização em ação regressiva (inciso II, art. 125) – abrange todos os casos em que
o réu, vencido no processo, poderá voltar-se contra aquele que, pela lei9 ou contrato10, terá que
indenizá-lo pelos prejuízos decorrentes da sua sucumbência.
A denunciação da lide é uma opção da parte, consoante o §1º do art. 125 (fim à antiga celeuma
trazida pelo CPC de 73, que dizia ser “obrigatória”). Isso significa que quem não faz a denunciação
pode exercer o direito de regresso em uma ação autônoma.
8
Interessante notar que o denunciado será, em relação à parte adversária do denunciante, um legitimado extraordinário,
defendendo direito alheio em nome próprio, já que não tem qualquer vínculo ou relação jurídica com ele; e, em relação
ao denunciante, um litisconsorte unitário, porque ou ambos ganham ou perdem, e, futuramente, seu réu, como já dito.
42
9
Exemplo de obrigado pela lei a indenizar o denunciante => o Estado, que vier a perder uma demanda de reparação
de danos, pode denunciar o servidor que, em seu nome, acabou praticando o ilícito (art. 37, parágrafo 6º, CF; e art. 43,
CC).
10
Exemplo de obrigado pelo contrato a indenizar o denunciante => o segurado, que perde a demanda de reparação
de danos acidente de veículo, poderá denunciar a seguradora, que, pelo contrato de seguro, deverá reembolsá-lo dos
prejuízos sofridos com a sucumbência.
É cabível em qualquer fase do processo do processo de conhecimento, incluindo as fases de
cumprimento de sentença e recursal, e no processo de execução, os quais ficarão suspensos enquanto
o incidente não é analisado e decidido (por decisão interlocutória, contra a qual cabe agravo de
instrumento; e se for decisão do relator, caberá agravo interno).
De acordo com o §4º do art. 134, o requerimento de desconsideração deve ser fundamentado e feito
por petição interlocutória, pois, caso contrário, se for feito junto com o pedido principal na petição
inicial, dispensa-se logicamente a instauração do incidente, não havendo que se falar em intervenção
de um terceiro, mas sim de citação do sócio ou da pessoa jurídica como réus (art. 134, §2º).
Exemplos de intervenção no STF: pesquisa com células tronco, aborto de fetos anencéfalos,
punição criminal pela publicação de livros de apologia ao nazismo, ensino religioso em escolas
públicas, programa “Mais Médicos”, biografias não autorizadas, importação de pneus usados, etc.
Podem ser amicus curiae:
- pessoa natural,
- pessoa jurídica, - órgão despersonalizado, -
entidade especializada.
O amicus curiae deve ter representatividade adequada.
A atuação pode ser determinada de ofício pelo julgador ou requerida pela parte ou pelo
próprio amicus curiae.
5 COMPETÊNCIA
5.1 Conceito
Vimos que jurisdição é o poder do Estado de dizer o direito no caso concreto, solucionando
o litigo.
Vimos também que, dentre outros, a jurisdição é regida pelo princípio da investidura, segundo o qual
só poder ser exercida por quem foi investido de tal poder, a saber, os juízes.
Portanto, todo juiz é dotado de JURISDIÇÃO, ou seja, é dotado do poder jurisdicional. Entretanto,
pela impossibilidade de os juízes exercerem tal poder em todo território nacional ao mesmo tempo
(não obstante a previsão do art. 16, NCPC 9), é que o ordenamento jurídico previu uma distribuição,
uma repartição desse poder, em partes iguais ( na mesma proporção), entre todos os juízes que
compõe o Poder Judiciário.
A essa distribuição ou repartição do Poder Jurisdicional é que se denomina COMPETÊNCIA.
9
Na verdade, quando o art. 16 do NCPC diz que “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o
território nacional....”, não quer dizer que os mesmos exercerão atividade jurisdicional em toda a extensão de nosso país
posto que é, por óbvio, fisicamente e humanamente impossível; mas está a se referir ao poder conferido a tais órgãos de
dizer o direito no caso concreto com eficácia em todo o país: não é concebível que um juiz profira uma decisão que só
produza efeitos na localidade onde a proferiu, mas sim em todo o território nacional.
44
Não há diferença substancial entre jurisdição e competência; comparando seria falar do bolo e da
fatia: a competência é a fatia, é uma fração da jurisdição.
ASSIM, competência é a quantidade de poder atribuído a determinado órgão judicial; é a medida, a
delimitação da jurisdição.
Obs: exclusão da justiça brasileira por convenção entre as partes: art. 25, NCPC.
Significa dizer que se fixa a competência do juízo no momento em que a petição inicial é
protocolizada ou distribuída (onde houver mais de um), ainda que posteriormente houver
modificações, como, por exemplo, alteração /correção do valor causa ou adiantamento de pedido pelo
autor, tais modificações não tem o condão de alterar a competência.
Consagra-se regra da perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdicionis), que é ressalvada
apenas quando houver supressão do órgão judiciário ou alteração de sua competência absoluta (Ex:
fim da Justiça do Trabalho, deslocando os processos para a Justiça comum; ou alteração da
competência das Varas de Família para abranger causas que versam sobre sucessões).
1º) Material (competência em razão da matéria) => leva em conta a natureza da causa, ou seja, a
qualidade da relação jurídica material. Exemplo: questões de família, falência, registro público,
criminais, precatórios, ambiental etc.
46
2º) Pessoal (competência em razão da pessoa envolvida no litígio): este é o critério utilizado pelo
legislador constituinte para definir a competência da Justiça Federal 10 , separando-a da Justiça
Estadual. Mas, ainda no âmbito desta, o critério também é utilizado quando nas causas estiverem
envolvidas a pessoa da Fazenda Pública do Estado ou do Município, prevendo, assim, em lei, a criação
de Varas Especializadas em Fazenda Pública Estadual ou Municipal.
Tal critério também é utilizado pelas Leis n. 10.259/01 e 12.153/09, que previram, respectivamente, os
Juizados Federais e da Fazenda Pública.
3º) Valor da causa => a competência é definida de acordo com o valor que se atribui à causa no
momento da propositura da ação (alterações posteriores não interferirão na competência). Assim, a
depender do valor, a causa será de competência de um ou outro órgão jurisdicional.
Vale lembrar os Juizados Especiais Cíveis Estaduais são competentes nas causas de até 40 salários
mínimos (Lei n. 9.099/95) e os Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259/01) e os da Fazenda Pública
(Lei n. 12.153/09) nas causas de até 60 salários mínimos em que estejam envolvidas a Fazenda Pública
da União, dos Estados ou dos Municípios, respectivamente.
Acima destes valores, a causa deverá ser processada necessariamente na Justiça Comum,
estadual ou federal. Para se evitar que a causa tramite na Justiça Comum, deverá então o autor
renunciar na petição inicial do valor excedente, seja de forma tácita (se JEC) ou expressamente (se
JEF ou JEFP).
4º) Funcional (competência em razão da função ou da hierarquia) => define-se de acordo com as
funções desempenhadas ou pela posição do órgão jurisdicional no processo, repartindo a
competência em competência de 1º grau, recursal; para ação principal e incidental (ex: art. 61, NCPC);
etc.
5º) Territorial (ou de foro) => causas distribuídas segundo a comodidade das partes ou pela facilidade
do processo (artigos 46 ao 53, NCPC). Leva em consideração o local onde a causa dever ser ajuizada.
Há 2 (duas) regras gerais:
- domicílio do réu (art. 46) => para as ações fundadas em direito pessoal (obrigações) e em direito real
(propriedade etc) sobre bens MÓVEIS.
10
De acordo com o art. 45 do NCPC, em caso de intervenção de ente federal, o processo deverá ser remetido à justiça
federal, salvo nos casos de ações de recuperação judicial, falência, insolvência civil, acidente do trabalho e ações sujeitas
à justiça eleitoral e do trabalho. Súmulas 150, 224 e 254, STJ.
47
Claro que se o réu tiver mais de um domicílio, será competente o foro de qualquer deles (§1º);
se incerto ou desconhecido seu domicílio, poderá ser demandado onde for encontrado ou no domicílio
do autor (§2º); se tiver domicílio fora do Brasil, também poderá ser demandado no domicílio do autor
(§3º); ou, havendo 2 ou mais réus com diferentes domicílios, será competente o foro de qualquer deles
(§4º).
- situação da coisa (art. 47) => para as ações fundadas em direito real sobre bens IMÓVEIS, inclusive as
ações possessórias imobiliárias (§2º), embora sejam consideradas ações de direito pessoal.
ATENÇÃO: de acordo com o §1º do art. 47, se o litígio NÃO recair sobre direito de
propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova, será
opcional ao autor ajuizar a ação real imobiliária no foro da situação da coisa, ou no do domicílio do
réu ou no foro de eleição. Porém, raramente veremos um litígio assim, pois quase todas as ações reais
imobiliárias versam sobre tais assuntos (Exemplo possível: ação real imobiliária que discuta direito
real de garantia sobre bem imóvel, ou seja, hipoteca).
- Foros Especiais:
Ações relacionadas ao Direito das Sucessões ou em que o espólio for réu => foro do domicílio do
autor da herança (art. 48);
Ações em desfavor de ausente => foro de seu último domicílio (art. 49);
Ação em desfavor de incapazes => foro de seu representante ou assistente (art. 50);
Ações em que os entes públicos são parte => foro do domicílio do réu (se o ente for autor), ou foro
Ações de família => foro do último domicílio do casal ou do réu, no caso de nenhuma das partes nele mais
residir (se não tiver filhos incapazes); ou do domicílio do guarda (se tiver filhos incapazes) (art.
53, I);
Ação em que se pedem alimentos => foro do domicílio do alimentando (art. 53, II);
Ação para cumprimento de obrigação => foro onde a obrigação deve ser satisfeita (art. 53, III, d);
Ação fundada no Estatuto do Idoso => foro da residência do idoso (art. 53, III, e);
Ação de indenização (geral) => foro do lugar do ato ou fato ilícito (art. 53, IV, a);
Ação de indenização em razão de delito ou de acidente de veículos => foro do lugar do fato ilícito
OU do domicílio do autor (art. 53, V).
48
2. Inderrogável pela vontade das partes; 2. Derrogável pela vontade das partes;
3. A respectiva incompetência deve ser alegada 3. A respectiva incompetência só pode ser
pelo réu, preferencialmente, em preliminar da alegada pelo réu em preliminar da contestação,
contestação. Mas, por ela ser determinada sob pena de preclusão e prorrogação da
pelo interesse público, pode ser alegada em competência;
qualquer tempo e grau de
jurisdição (não está sujeita a preclusão);
4. Pode ser conhecida de ofício. 4. Não pode ser conhecida de ofício (Súmula
33, STJ) – salvo cláusula de eleição de foro
abusiva - §3º, art. 63.
49
- voluntária: quando as partes estabelecem foro de eleição para determinado negócio jurídico (art.
78, CC); ou quando o réu não alega a incompetência relativa no prazo da defesa (contestação).
- legal ou necessária: decorre da lei, que prevê a reunião de ações que tramitam em juízos diferentes
para o julgamento em conjunto perante o juízo prevento (ou seja, no juízo onde houve o protocolo
ou a distribuição da petição inicial – art. 59), evitando, com isso, decisões contraditórias. Isso se dá
em razão da conexão ou da continência.
d.1) Conexão (art. 55): reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o PEDIDO
ou a CAUSA de pedir.
O §3º do art. 55 entendeu se tratar de conexas também duas ou mais causas que guardam entre si um
vínculo de semelhança de tal ordem que justifique a reunião delas num mesmo juízo para evitar
decisões contraditórias e racionalizar o trabalho do judiciário.
EXEMPLO: Alimentos e investigação de paternidade não são, a rigor, conexas, pois não
possuem o mesmo pedido ou causa de pedir. [1ª) dever alimentar decorrente da relação de parentesco
e do binômio necessário-possibilidade; 2ª) vinculo de filiação]. Há aqui, na verdade, uma relação de
prejudicialidade (o julgamento de 1 prejudica a da outra).
As ações somente são reunidas se ainda não tiver sido proferida sentença
d.2) Continência (art. 56): dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade
quanto às partes e a causa de pedir, mas o PEDIDO de uma, por ser mais amplo, ABRANGE (contém)
50
o das outras. Exemplo: ação em que se pede anulação de uma cláusula contratual; e outra ação em se
pede a anulação de todo o contrato (este último é mais amplo).
Se a ação continente (mais ampla) foi proposta anteriormente, a ação contida (menos ampla) é
extinta sem resolução do mérito. Por outro lado, se a ação contida foi proposta primeiramente, as
ações devem ser reunidas (art. 57).
- negativo => quando 2 ( dois) ou mais juízes de declaram incompetentes para a mesma causa, atribuindo um
ao outro a competência.
É um incidente suscitado pelas partes, pelos juízes conflitantes ou pelo Ministério Público,
para apurar a competência, cujo julgamento será sempre do tribunal, hierarquicamente superior ao
dos juízes onde se deu o conflito.
Decorre, portanto, do princípio do direito alemão kompetenz-kompetenz, pois é da competência
do juiz (tribunal) declarar a sua própria competência ou incompetência, e não de outro poder estatal.
Se o conflito envolve:
Tribunais superiores => compete ao STF;
Tribunais inferiores (TRF x TJ); ou Tribunal e juízes a ele não vinculados; ou juízes de Tribunais diferentes
=> STJ; Juízes do TRF => TRF; Juízes do TJ => TJ.
51
6.1 Conceito
Como é espécie do gênero “atos jurídicos”, ato processual é toda ação humana que produz efeito
jurídico em relação ao processo. É praticado no processo e produz efeitos sobre ele. Ex:
petição inicial, citação, contestação, provas, decisões judiciais, recursos, autocomposição, etc.
6.2 Classificação
O NCPC classifica os atos processuais levando em conta o sujeito que os pratica. Assim, temos: atos
das partes, do juiz e dos serventuários da justiça.
a) atos das partes (autor, réu, terceiros intervenientes e o MP) => podem ser:
- postulatórios => são aqueles que buscam um determinado provimento judicial. Ex:. petição
inicial; petição interlocutória; contestação; reconvenção; réplica do autor; recurso etc.
- instrutórios => objetivam carrear provas aos autos do processo, a fim de formar o convencimento
do juiz. Ex: juntada de documento; arrolamento de testemunhas; formulação de quesitos para o perito
etc.
- dispositivos => são atos que envolvem a disposição de uma faculdade processual ou direito. Ex:
desistência da ação, do recurso; renúncia do direito material; reconhecimento do pedido; transação
etc. Em regra, os atos das partes têm eficácia imediata; todavia, os atos dispositivos necessitam de
homologação do juiz para surtirem seus devidos efeitos (art. 200, parágrafo único).
- reais => traduzem em realizações processuais concretas, materiais. Ex:. exibir uma coisa;
comparecer a uma audiência.
b) atos do juiz => o NCPC fala em “pronunciamentos” do juiz, ao invés de atos. São eles: a sentença, as
decisões interlocutórias e os despachos (art. 203).
- sentença (§1º) => é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485
(extinção sem resolução do mérito - reconhecimento de vício processual insanável) ou 487 (resolução
do mérito - julgamento de procedência ou improcedência do pedido; homologação de desistência ou
renúncia; reconhecimento de prescrição ou decadência etc), põe fim à fase cognitiva do
procedimento comum, bem como extingue a execução.
52
Percebe-se que dois critérios foram utilizados em tal conceito pelo legislador: o material
(conteúdo da sentença – 485/sentença terminativa ou processual; 487/sentença definitiva ou de
mérito) e o finalístico (a diferença, neste último, em relação à redação mais remota do CPC anterior,
é que o legislador de 2015 sabiamente referiu-se ao fim do procedimento cognitivo, e não ao processo,
vez que é sabido ser possível o processo continuar mesmo após a sentença, como nos casos em que
há interposição de recurso e/ou o cumprimento da sentença).
- decisão interlocutória (§2º) => por critério residual, é todo pronunciamento judicial de natureza
decisória que não seja sentença. Em razão disso, pode surgir certa dificuldade em se distinguir
sentença de decisão interlocutória, pois que, em ambas, o juiz decide (seja questão de mérito 11 ou
não). Mas é simples identificá-los porque sempre que o juiz decidir pondo fim à fase cognitiva ou ao
processo de execução será sentença; do contrário, será decisão interlocutória.
Ex.: concessão ou indeferimento de liminar; reconhecimento ou não de suspeição/
impedimento; concessão ou indeferimento dos benefícios da assistência; admissão de intervenção de
terceiros; indeferimento de uma prova etc.
- despachos (§3º) => são os todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de
ofício ou a requerimento da parte. Não tem conteúdo decisório: apenas impulsionam o processo,
determinando a prática de atos para a continuidade da marcha procedimental. Ex: despacho que
apenas ordena a citação do réu; a intimação das partes ou de testemunhas; que designa audiência etc.
CUIDADO: quando o “despacho” tiver conteúdo decisório. Neste caso, trata-se, na verdade,
de decisão interlocutória (Ex: “despacho” que recebe a petição inicial; que defere ou indefere
antecipação dos efeitos da tutela; que saneia o processo, deferindo ou indeferindo provas a serem
produzidas na audiência de instrução). Na prática, infelizmente é muito comum os juízes e os
tribunais nomearem de despachos aquilo que são verdadeiras decisões interlocutórias.
Por fim, vale registrar que, quando a decisão for proferida pelo tribunal 12, que atua em colegiado,
haverá uma conjugação de opiniões de seus vários membros. Desta forma, suas decisões são
denominadas de acórdãos (art. 204). Diz-se acórdão, pois deriva do verbo “acordar”, não no sentido
de despertar, mas sim de fazer acordo.
11
A doutrina sempre reconheceu a possibilidade de o juiz proferir decisão interlocutória de mérito, embora seja uma
situação incomum. Um grande exemplo, inclusive reconhecido pela lei (art. 356, §5º c/c art. 1.015, II, NCPC), é o
julgamento antecipado parcial do mérito, pois que o juiz, neste caso, julga antecipadamente um dos pedidos sem por fim
à fase cognitiva, uma vez que o processo prosseguirá em relação aos demais pedidos não julgados. Outro exemplo:
renúncia parcial.
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É possível os desembargadores e ministros também proferem decisões de forma individual, e não em colegiado, ocasião
em que não estarão proferindo acórdãos, mas sim decisões monocráticas.
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c) atos dos serventuários da justiça: podem praticar alguns atos ordinatórios, movimentando o
processo, mas estão sujeitos à revisão pelo juiz quando necessário (art. 203, §4º). Ex: abertura de vista
às partes; juntada etc.
a) não dependem de forma determinada (não solenes) => se a lei expressamente exigir
determinada forma, são considerados válidos os atos, ainda que praticados de outro modo, se
atingirem sua finalidade (princípio da instrumentalidade das formas – art. 188). Obs:. Prática por
meios eletrônicos (Lei n. 11.419/06 e arts. 193 a 199, NCPC).
b) são públicos => de acordo com os arts. 93, IX, CF e 189 do NCPC, os atos processuais são
públicos. Correm, porém, em segredo de justiça apenas os processos em que:
- exigir o interesse público ou social;
- os que dizem respeito ao casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação,
alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
- em que constem de dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; e
- que versem sobre arbitragem, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem.
Vale lembrar que, nestes casos em que o processo tramita em segredo de justiça, somente as partes e
seus advogados terão acesso aos autos, podendo o terceiro pedir certidão (§1º, art. 189).
c) podem ser objeto de negócio jurídico processual => é a possibilidade de as partes, desde que
plenamente capazes e versar o processo sobre direito que admite autocomposição, ajustar atos e
procedimentos cuja eficácia repercutem no processo. Pode ser celebrado antes ou durante o processo.
O CPC/1973 previa alguns negócios processuais típicos: cláusula de eleição de foro, convenção
sobre o ônus da prova, suspensão do processo por convenção das partes, etc. O CPC/2015 aumentou
o rol dos negócios típicos e criou a atipicidade da negociação processual em seu art. 190. Exemplos de
negócios atípicos válidos: instância única, criação de impenhorabilidade ou de prova atípica,
ampliação ou redução de prazos, etc.
O negócio processual só poderá ser recusado pelo juiz, de ofício ou a requerimento, nos casos de:
- invalidade (exemplos de negócios inválidos: acordo sobre competência absoluta, criação de
recursos, acordo para não intervenção do MP, etc.);
- inserção abusiva em contrato de adesão;
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d) devem ser praticados com o uso da língua portuguesa => documento em língua estrangeira só
será juntado nos autos se acompanhado de versão para a língua portuguesa feita por via diplomática
ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado (art. 192, parágrafo único).
e) devem ser praticados em determinado tempo e lugar => de acordo com o art. 212 do NCPC, os
atos processuais devem ser realizados, em regra, em dias úteis, das 6h às 20h, e na sede do juízo (art.
217).
Entretanto, citações, intimações e penhoras podem ser realizadas nos feriados, férias forenses ou fora
do horário legal, independentemente de autorização judicial (§2º, art. 212).
O protocolo da petição em autos físicos deve observar o horário de funcionamento do fórum
ou tribunal (§3º); mas no caso da prática eletrônica de ato processual, pode ela ocorrer em qualquer
horário até às 24 horas do último dia do prazo, observando-se o horário vigente no juízo onde o ato
vai ser praticado (art. 213).
ATENÇÃO: de acordo com o art. 214 do NCPC, não se praticarão atos processuais durante as férias
forenses e nos feriados (além dos previstos em lei, incluem sábados, domingos e dias em que não haja
expediente forense), exceto as citações, intimações e penhoras (como já ressalvado anteriormente), e
as tutelas de urgência (tutela cautelar e tutela antecipada).
6.4.1 classificação
Os prazos podem ser classificados:
a) quanto à origem:
- legais => exemplo é o art. 335, que prevê o prazo de 15 para a resposta do réu. Importa esclarecer que
se a lei não prever ou o juiz não fixar, o prazo para a prática do ato processual será de 5 dias,
conforme o §3º do art. 218.
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- judiciais => é o prazo fixado ou determinado pelo juiz. Exemplos: art. 76 (sanar incapacidade
processual ou irregularidade de representação); art. 815 (prazo para satisfazer obrigação de fazer).
- convencionais => são aqueles estabelecidos em contrato. Ex:. art. 191 (calendário processual); art.
313, II (suspensão do processo por convenção entre as partes).
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Existem também outras preclusões:
• Lógica – impossibilidade de praticar um ato por já ter a parte praticado outro incompatível com ele. Ex:. ao
contestar, o réu alega a nulidade ou falta de citação, sendo que o comparecimento espontâneo supre a nulidade ou a falta
da citação (§1º do art. 239, NCPC). Assim, o ato de contestar precluiu por ser incompatível com a defesa da falta ou
nulidade de citação (o inciso I do art 337 do NCPC deveria ser revisto pelo legislador).
• Consumativa – perda da faculdade de praticar novamente um ato processual ou de complementá-lo por já tê-lo
praticado anteriormente, reputando-o, portanto, consumado. Ex:. interpor recurso novamente, relativa à parte da decisão
que não se recorreu na 1ª oportunidade, só porque ainda remanesceu prazo para tanto.
• Judicial (pro iudicato) – impossibilidade de o juiz, depois de proferir a decisão, altera-la (exceção: art. 494, I e
II; art. 331; e art. 332, §3º - juízo de retratação).
De acordo com o art. 220 do NCPC, suspende-se o prazo processual no período de 20/12 a
20/01, salvo nas hipóteses previstas no art. 215 (procedimentos de jurisdição voluntária; ação de
alimentos e processos de nomeação ou remoção de tutor ou curador; e os que a lei determinar).
Em que pese o NCPC falar de “férias forenses”, o Judiciário não interromperá suas atividades
no referido período, uma vez que o art. 93, XII, da CF, com a nova redação dada pela EC 45/05, acabou
com as férias coletivas de juízes e tribunais.
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O que ocorre é uma mera suspensão dos prazos processuais, não havendo audiências ou
sessões de julgamento, mas os juízes, membros do MP, da Defensoria Pública e Advocacia Pública
exercerão suas atividades normalmente, paralisando apenas quando nos feriados ou nos dias de férias
individuais.
ATENÇÃO: Suspensão ≠ Interrupção de prazo:
havendo suspensão, o prazo deve ser restituído por tempo igual ao que faltava para sua
complementação (ex.: semana da conciliação) – art. 221, NCPC
em caso de interrupção, o prazo é restituído integralmente (ex.: oposição de embargos
de declaração – art. 1026, NCPC).
6.5.1 Citações
a) Conceito => de acordo com o art. 238, é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o
interessado para integrar a relação processual.
Como se depreende do art. 239, a citação é pressuposto de validade da relação processual (completa
a formação da relação jurídica processual), e não de existência, já que é possível o processo findar-se
antes da citação, v.g., indeferimento liminar da petição inicial, improcedência liminar do pedido (art.
332), situações em que se considera excepcionalmente o processo válido, pois a citação ficará
postergada ou diferida.
Sendo pressuposto de validade, conclui-se, então, que, se houver defeito de citação, o processo
será NULO. Tal nulidade, por ser insanável, pode ser arguida pelo réu em qualquer momento do
processo: na ocasião da contestação; na fase recursal; na fase executória; depois do trânsito em julgado
pela ação declaratória de nulidade (querella nullitatis insanabilis); e até mesmo via mandado de segurança
(RSTJ 46/528).
Será considerada inválida a citação quando ela for realizada sem observar as formalidades legais (art.
280) ou quando forem violadas as vedações previstas no art. 244 e 245, NCPC. Todavia, conforme o
art.239, §1º, o comparecimento espontâneo do réu, sem se manifestar sobre o vício, supre a falta ou a
nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de
embargos à execução.
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A citação deve ser feita pessoalmente ao demandado, mas também pode ser feita ao seu representante
legal ou ao seu procurador (se da procuração constar poder especial para receber citação).
A citação dos entes públicos (União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias e
fundações de direito público) é feita perante o órgão de advocacia pública responsável pela
representação judicial do ente.
b) Efeitos da citação (ainda que ordenada por juízo incompetente).
b.1) materiais (atuam diretamente sobre o direito material invocado):
- constitui em mora o devedor;
- torna litigiosa a coisa => pois, segundo a maioria da doutrina, é inegável sua repercussão na disciplina
da evicção (adquirente que vem a perder o bem, objeto do processo, por sentença transitada em
julgado).
Obs: a interrupção da prescrição não decorre mais da citação válida, mas, antes disso, decorre
do mero despacho que ordena a citação, retroagindo à data da propositura da ação desde que
o autor adote, no prazo de 10 dias, as providências necessárias para viabilizar a citação (§§1º e
2º, art. 240). Tal efeito retroativo aplica-se também à decadência e aos demais prazos
extintivos previstos em lei (§4º).
b.2) processual:
- induz a litispendência => significa que se outra ação não pode ser proposta com os mesmos elementos
a partir da citação válida do réu, sob pena de configurar litispendência.
c) Modalidades de citação
Primeiramente, convém esclarecer que as modalidades de citação classificam-se em: reais, ou
seja, aquelas em que se dá ciência direta ao interessado (pelo correio, pelo oficial de justiça, pelo
escrivão ou eletrônica); ou ficta ou presumida, que é aquela feita através de um órgão ou um terceiro
que se presuma faça chegar a ocorrência ao conhecimento do interessado (por edital ou por hora
certa).
Em ambas as modalidades de citação ficta o juiz dará curador ao demandado revel, enquanto
não for constituído advogado nos autos, nos termos do art. 72, II, NCPC.
c.1) Por correio (arts. 247 e 248) => mediante carta registrada com aviso de recebimento (AR). Em
condomínio, a carta pode ser entregue ao porteiro (§4º, art. 248); e, tratando-se de pessoa jurídica, a
carta pode ser entregue ao administrador, gerente ou funcionário responsável por receber
correspondência (§2º, art. 248).
É a regra geral, salvo:
nas ações de estado (ex.: ação de divórcio);
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c.2) Por Oficial de Justiça (arts. 249 a 251) => só ocorre nos casos em que não é possível a citação por
correio, conforme exceções acima descritas. O oficial faz a leitura do mandado, entrega a contrafé,
certifica o recebimento ou a recusa da contrafé e obtém a nota de ciente ou certifica que o demandado
não a apôs.
c.3) Por hora certa (art. 252) => nada mais é que uma citação feita por oficial de justiça. Ocorre
quando o oficial suspeitar de que o demandado está se ocultando para evitar a citação, após havê-lo
procurado por 2 vezes, sem o encontrar.
Nesse caso, o oficial deve comunicar alguém da família ou o vizinho que voltará no dia útil
seguinte, em hora determinada, para fazer a citação. Retornando no dia e hora combinado, o citando
ainda não estiver presente, o oficial dará por feita a citação, deixando a contrafé com pessoa da família
ou com qualquer vizinho.
Feita a citação, o escrivão enviará ao réu uma correspondência, física ou eletrônica, no prazo de 10
dias, cientificando-lhe de tudo, de acordo com a exigência do art. 254, sendo tal envio condição para
o aperfeiçoamento da citação.
c.4) Por Edital (arts. 256 a 259) => cita-se o requerido por edital quando for desconhecido, incerto,
ou de localização ignorada, incerta ou inacessível, ou em outros caos previstos na lei.
Será também considerado em local ignorado ou incerto se forem infrutíferas as tentativas de
localização do réu, inclusive mediante requisição em cadastros (§3º, art. 256).
O Edital será publicado no site do tribunal e na plataforma de editais do CNJ
(excepcionalmente em jornal local), num prazo fixado pelo juiz de 20 a 60 dias, findo o qual começará
a fluir o prazo para a defesa do legitimado passivo. Não se admite citação edilícia nos Juizados
Especiais Cíveis (art. 18, §2º, Lei 9.099/95).
c.5) Por meio eletrônico (art. 246, V): as pessoas jurídicas, públicas e privadas, são preferencialmente
citadas ou intimadas por meio eletrônico. Para tanto, são obrigadas a se cadastrarem nos sistemas
de processo eletrônico, exceto se tratar de microempresas e empresas de pequeno porte.
c.6) Pelo escrivão/ chefe de secretaria: realizada quando o citando comparece em cartório.
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6.5.2 Intimações
É ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo (art. 269). É dirigida a
qualquer das partes, seus advogados, auxiliares da justiça (peritos, depositários, testemunhas) ou a
terceiros, a quem cumpre realizar determinado ato no processo.
As intimações efetuam-se de ofício e será feita:
- sempre que possível, por meio eletrônico;
- quando não realizadas por meio eletrônico, pela publicação dos atos no órgão oficial (Diário de Justiça);
Obs: se inviável por meio eletrônico e não houver na localidade publicação em órgão oficial, os
advogados das partes serão intimados pessoalmente, por mandado ou por carta registrada, com AR, a
depender de residem ou não na sede do juízo;
- por correio (atenção: modificação de endereço da parte ou do advogado sem comunicação ao juízo: a
intimação enviada ao endereço primitivo será válida); - pelo escrivão: no balcão.
- por oficial de justiça via madando: quando frustrada a realização por meio eletrônico ou pelo correio.
- por hora certa ou por edital: caso necessário.
6.5.3 Cartas
Ocorre quando o ato processual tiver de ser praticado em local diverso da sede do juízo. As
cartas podem ser:
- de ordem: se dirigidas a juiz ou tribunal subordinado àquele de que ela emanar. Exemplo: o tribunal
determina a oitiva de testemunha pelo juízo de 1º grau;
- rogatórias: quando dirigidas à autoridade judiciária estrangeira. Podem ser ativas, quando
endereçadas a juízo estrangeiro, ou passivas, quando recebidas por autoridade judiciária brasileira.
Vale lembrar que, depois de cumprida a carta (ativa), o teor desta só terá valor no território nacional
depois de submeter à apreciação do STJ (art. 105, I, alínea i, 2ª parte; e art. 961, NCPC) – é a chamada
concessão do exequatur à carta rogatória.
- precatórias: endereçadas a outro órgão judiciário do país, de competência territorial diversa, entre
os quais não há relação hierárquica. Somente poderá ser recusado seu cumprimento, mediante
despacho motivado, quando não estiver revestida dos requisitos legais, quando o juízo deprecado
carecer de competência em razão da matéria ou da hierarquia ou quando tiver dúvida quanto à sua
autenticidade (art. 267).
Obs: o NCPC estabeleceu também a chamada carta arbitral, consistente no pedido do juízo arbitral
ao órgão do Poder Judiciário para que pratique ou determine cumprimento de ato processual de sua
competência territorial.
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Como nos demais atos jurídicos, devem ser observados os requisitos de validade na prática dos atos
processuais, sob pena de se acharem eivados de vícios, os quais, a depender da gravidade, se
classificam em:
- atos inexistentes: o ato inexistente é uma mera aparência, por não reunir condições mínimas para
sua constituição, não podendo ser convalidado ou suprido. Exemplo clássico é a “sentença”
proferida por quem não seja juiz.
- ato nulo: o ato é existente, mas padece de um defeito resultante de violação de norma de interesse
público, devendo ser reconhecida de ofício e em qualquer tempo e grau de jurisdição. Ex:. citação
com inobservância das prescrições legais (art. 280).
- ato anulável: o defeito resulta da violação de norma de interesse particular, de forma que ao
interessado cabe alegá-lo na primeira oportunidade, sob pena de convalidação do ato. Pela mesma
razão, só será decretada sua nulidade se houver prévia demonstração de prejuízo. Ex: a falta da
manifestação do MP (art. 279, §§1º e 2º).
- ato irregular: representa violação mínima da norma processual, não acarretando desfazimento do
ato. Ex: sentença proferida além do prazo legal.
a) do interesse de agir => quem deu causa à nulidade não pode argui-la (art. 276), nem se repetirá
o ato em favor de quem não sofreu o prejuízo (art. 288, §§1º e 2º).
b) instrumentalidade das formas => não se proclama a nulidade se o ato defeituoso tiver atingido
a finalidade buscada pela lei e não tiver prejudicado a outra parte (art. 277).
c) causalidade => a decretação da nulidade só contamina os atos que dependam daquele anulado,
subsistindo válidos os dele independentes (art. 288).
e) preclusão => cabe à parte alegar a nulidade relativa na primeira oportunidade que tiver de falar
nos autos, sob pena de preclusão (art. 278).
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