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Geologia de Portugal, Volume II – Geologia Meso-cenozóica de Portugal.


Editores: III.5. Margem Oeste Portuguesa

Chapter · January 2013

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10 authors, including:

Alexandra Afilhado Maryline Moulin


Instituto Politécnico de Lisboa Institut Français de Recherche pour l'Exploitation de la Mer
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Tiago abreu Cunha Nuno Lourenço


IGI Ltd Instituto Português do Mar e da Atmosfera
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Geologia de Portugal, Volume II – Geologia Meso-cenozóica de Portugal. Editores: R. Dias, A. Araújo, P. Terrinha & J. C. Kullberg. © 2013, Escolar Editora

III.5. Margem Oeste Portuguesa


A. Afilhado1, M. Moulin2, T. A. Cunha3, N. Lourenço4, M. C. Neves5, L. Pinheiro6,
P. Terrinha7, F. Rosas8, L. Matias9, M. Pinto de Abreu10

1. Introdução
As margens continentais passivas marcam a transição entre os continentes e os oceanos,
constituindo a cicatriz de uma fronteira de placas gerada durante o processo de ruptura
da litosfera continental e neoformação de litosfera oceânica. Na geodinâmica actual, estas
margens representam grande parte dos ambientes de tectónica distensiva Mesocenozoica e
limitam as massas continentais em redor dos oceanos Atlântico, Índico e glacial Antártico.
As margens passivas, também conhecidas por divergentes, de rift ou tipo Atlântico, for-
mam-se por adelgaçamento da litosfera continental, seguido da sua ruptura e neoforma-
ção de bacias oceânicas, em regime de deformação extensional caracterizado pelo desen-
volvimento de falhas normais, geração de magma, movimentos verticais de subsidência e
1
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL); Instituto D. Luís (IDL) – afilhado@dec.isel.ipl.pt
2
Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental (LATTEX)/Instituto D. Luís (IDL) –
mmoulin@fc.ul.pt
3
Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG/LGM), Unidade de Geologia Marinha; Instituto D. Luís
(IDL) – tiago.cunha@ineti.pt
4
Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC); Laboratório de Tectonofísica e
Tectónica Experimental (LATTEX)/Instituto D. Luís (IDL) – nlourenco@emepc-portugal.org
5
Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental (LATTEX)/Instituto D. Luís (IDL) – mcneves@ualg.pt
6
Dep. Geociências (Univ. Aveiro); Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) – lmp@ua.pt
7
Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG/LGM), Unidade de Geologia Marinha; Laboratório de
Tectonofísica e Tectónica Experimental (LATTEX)/Instituto D. Luís (IDL) – pedro.terrinha@ineti.pt
8
Dep. Geologia (Fac. Ciências/Univ. Lisboa); Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental (LAT-
TEX)/Instituto D. Luís (IDL) – frosas@fc.ul.pt
9
Instituto D. Luís (IDL); Instituto de Meteorologia (IM) – lmmatias@fc.ul.pt
10
Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) – mapabreu@emepc-portugal.org

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406  Geologia de Portugal

Figura 1. (legenda na página seguinte e fig. a cores na pág. V do Anexo, no final deste volume).

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Margem Oeste Portuguesa  407

levantamento, erosão e deposição sedimentar (Sleep, 1971; McKenzie, 1978; White et al.,
1987; Eldholm et al., 1995; Rosenbaum et al., 2008). Na compreensão dos processos que
adelgaçam a crusta continental, até à formação da primeira crusta oceânica, é fundamental
considerar o par de margens conjugadas, que constituem o sistema geológico completo. Na
fig. 1a representa-se um exemplo de reconstituição do par de margens conjugadas Ibéria-
-Terra Nova, na anomalia M0 (cerca de 125 Ma, segundo a escala de Gradstein et al., 2004),
de acordo com Sibuet et al. (2007).
Na fig. 2 apresentam-se ilustrações esquemáticas da fracturação crustal e deformação nas
fronteiras crusta-manto (Moho) e listosfera/astenosfera, para modelos alternativos de adelga-
çamento continental e formação de bacias sedimentares; essencialmente distinguem-se dois
grupos de modelos, designados por modelos (1) com e (2) sem conservação de volume da
crusta. (1) Os modelos de formação de margens continentais de tipo conservativo explicam o
adelgaçamento litosférico sem mudança do volume da crusta inicial, até à ruptura litosférica
total (McKenzie, 1978; Wernicke, 1985; Brun & Beslier, 1996, Lavier & Manatschal, 2006). Estes
modelos consideram que não existe interacção entre a crusta e o manto litosférico durante o
processo de adelgaçamento. (2) Por oposição, os modelos de tipo não conservativo (Falvey
1974; Artyushkov 1981; Falvey & Middleton 1981; Artyushkov & Sobolev 1982; Neugebauer

◀ Figura 1. a) Enquadramento regional da região estudada, na margem oriental do Atlântico norte. A topografia
simplificada é derivada a partir de dados de altimetria de satélite (Smith & Sandwell, 1997). A margem continen-
tal Ibérica (delimitada pelo quadrado a vermelho) é bordejada por bacias marginais, separadas da bacia oceânica
pela crista Madeira-Tore (CMT). A margem conjugada da Terra Nova é também indicada por um quadrado
vermelho (na parte esquerda do mapa). As posições aproximadas de duas linhas sísmicas (Lithoprobe 85-4 e
IAM9) são indicadas pelos traços espessos a vermelho. Acrónimos por ordem alfabética: A – Açores; DMA –
dorsal meso- Atlântica; FTG – falha transformante da Glória; GB- golfo da Biscaia; GBTN – grandes bancos da
Terra Nova; GC – golfo de Cádiz; J – anomalia J; KT – King’s Through; M – Marrocos (África); P – Portugal;
PAI – alanície abissal Ibérica; PAT – planície abissal do Tejo; CAB – crista Açores-Biscaia; CMT- crista Madeira-
-Tore; CTN – “crista” da Terra Nova; TN – Terra Nova; ZFO – zona de fractura do Oceanógrafo; ZFP – zona
de fractura do Pico. b) Exemplo de uma interpretação de perfis sísmicos ao longo de um transecto de margens
conjugadas (Sibuet et al., 2007). A interpretação esquemática é realizada ao longo dos perfis sísmicos IAM9
(Iberia) e Lithoprobe 85-4 (Terra Nova), com a identificação das anomalias magnéticas principais (Srivastava et
al., 2000). A interpretação da estrutura litosférica ao longo da linha IAM9 baseia-se no modelo de velocidades
obtido por sísmica de refracção/reflexão de grande-ângulo no offshore (Dean et al., 2000) e complementado com
estações em terra, que permitem constranger a estrutura da crusta no talude continental, plataforma e onshore
(L. Matias, comunicação pessoal, 2001). Na margem da Terra Nova, o modelo de velocidades obtido por sísmica
de refracção foi extrapolado à linha Lithoprobe 85-4 (Reid, 1994; Reid & Keen, 1988). O modelo apresentado
baseia-se ainda nos resultados preliminares da sísmica de refracção do cruzeiro Erable, na parcela oriental da
bacia norte da Terra Nova (I. Reid, comunicação pessoal, 1992). De referir que as lineações magnéticas são
aproximadamente simétricas nas duas margens. TZA, TZB, e TZC são parcelas da zona da transição onde são
indicadas as taxas de alastramento.

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Figura 2. Exemplos de cinco ambientes de adelgaçamento distintos: (a) adelgaçamento à escala da litosfera, de
acordo com o mecanismo de estiramento puro de McKenzie (1978), que pode representar os primeiros estágios
da formação de uma margem continental; (b) adelgaçamento localizado da litosfera continental, segundo o
mecanismo de estiramento puro de McKenzie (1978); (c) adelgaçamento da crusta continental de acordo com
o modelo de cizalhamento simples de Lister & Davis, (1989); (d) adelgaçamento da crusta por combinação dos
mecanismos de estitramento puro e cizalhamento simples (Weinberg et al., 2007); (e) adelgaçamento sem con-
servação do volume da crusta (Falvey 1974; Artyushkov 1981, in Keen & Beaumont, 1990). Figura modificada de
Lister & Davis, 1989, Keen & Beaumont, 1990, Buck et al., 2001, Weinberg et al., 2007 e Rosenbaum et al., 2008.

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Margem Oeste Portuguesa  409

& Spohn 1982, Beaumont et al., 1982, Foucher et al., 1982, in Keen & Beaumont, 1990; Pinet
et al., 1987; Collier et al. 1994), envolvem interação, entre a crusta e o manto, sem conservação
dos respectivos volumes. De facto, a geometria do rifting assume aspectos muito diversos,
dependendo das condições físicas da litosfera, nomeadamente dos campos de temperatura
e tensão, bem como da existência prévia de heterogeneidades. Estas diferenças são observa-
das nas margens continentais conjugadas assim como nos rifts continentais abortados. Nesta
figura são ilustrados ambientes de adelgaçamento diversos: (a) adelgaçamento da litosfera em
larga escala, de acordo com o mecanismo de estiramento puro proposto por McKenzie (1978),
que pode representar os primeiros estágios da formação de uma margem continental; (b) adel-
gaçamento localizado da litosfera continental, segundo o mesmo mecanismo de estiramento
puro (McKenzie, 1978); (c) adelgaçamento da crusta continental, de acordo com o modelo
de cisalhamento simples de Wernicke & Burchfiel (1982); (d) adelgaçamento da crusta com-
binando ambos os mecanismos, estiramento puro e cisalhamento simples (Keen et al., 1987;
Kusznir et al., 1991; Brun e Beslier, 1996; Withmarsh et al., 2001; Davis e Kuznir, 2004; Lavier
e Manatschal, 2006); (e) adelgaçamento por delaminação frágil na crusta inferior, resultante da
instabilidade gravítica por aumento de densidade associada à mudança de fase metamórfica
que gera eclogito, e que, ao contrário dos modelos anteriores, é um modelo não conservativo
(Falvey, 1974; Artyushkov, 1981; Falvey & Middleton, 1981; Artyushkov & Sobolev, 1982;
Neugebauer & Spohn, 1982). Nesta grande diversidade de geometrias e ambientes, as margens
continentais também apresentam variações importantes no volume de magmatismo durante
o processo de rifting, que está associado com a temperatura potencial da astenosfera aquando
do adelgaçamento litosférico. Os dois limites extremos, que são as margens vulcânicas e mar-
gens não vulcânicas, correspondem a condições termomecânicas distintas durante a formação
das margens. A Margem Oeste Ibérica é um exemplo típico de uma margem não vulcânica,
com magmatismo muito limitado durante as várias fases da sua formação (Boillot et al., 1989;
Whitmarsh & Sawyer, 1996; Pinheiro et al., 1996; ODP Leg 173 Shipboard Scientific Party,
1998). Esta margem é também caracterizada por uma espessura de sedimentos reduzida (< 5
km em média) e um domínio de transição (i.e. onde o soco é atípico de soco continental e/ou
oceânico) de largura variável, entre os 30-40 km e os 150-170 km (figuras 4 e 5).
O estudo da estrutura profunda das margens continentais é sobretudo baseado em dados
geofísicos, que incluem reflexão e refracção sísmica, anomalias do campo magnético ter-
restre, anomalias gravimétricas, fluxo de calor, resistividade e sonic logs, cinemática das
placas, que completam os escassos dados geológicos, resultantes de dragagens e recolha de
testemunhos de sondagens profundas. Um método poderoso para a compreensão dos fenó-
menos geofísicos e geológicos associados à evolução geodinâmica das margens continentais
consiste em combinar modelação fisico/matemática da geometria e composição das mar-
gens passivas com os dados ou observações. Finalmente, a cinemática de placas quantifica
o movimento horizontal das placas durante a formação das margens e expansão oceânica.

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410  Geologia de Portugal

Por definição, a margem continental abrange a região emersa afectada por rifting e adel-
gaçamento da litosfera continental e toda a região imersa, na bacia oceânica adjacente ao
continente, até ao limite com a litosfera oceânica. Os dados recolhidos em diversas margens,
e em particular na Margem Oeste Portuguesa, mostram que a crusta nesta região é muito
heterogénea. Contudo, esta heterogeneidade crustal apresenta em geral padrões que permi-
tem distinguir três domínios:
1)  O domínio adjacente ao continente é em geral designado por domínio continental,
visto que a estrutura crustal é análoga à estrutura da crusta continental, com uma espes-
sura que decresce desde > 30 km, em terra, para < 10 km ao longo do talude continental.
Nesta região de crusta continental adelgaçada observa-se a ascensão da descontinuidade
de Mohorivicic (Moho), no mesmo local onde se verifica a descida do topo do soco, ponto
designado por hinge line (ver localização na fig. 3).
2)  O domínio mais distal é geralmente designado por domínio oceânico, onde o soco
tende a apresentar uma estrutura oceânica «normal» (White et al., 1984; Pinheiro et al., 1992).
A sua assinatura é caracterizada, nos dados de reflexão sísmica, por uma topografia aciden-
tada e, nos dados de refracção sísmica, pela presença reconhecível da Moho, subjacente a duas
camadas crustais de gradiente de velocidade elevado. Este gradiente de velocidade é geral-
mente mais elevado na camada superior, «Camada 2», do que na camada inferior, «Camada
3», que tem uma velocidade da ordem de 6-7 a 7 km s-1. Este soco, de tipo oceânico, gera um
padrão de anomalias magnéticas em bandas alternadas de anomalias magnéticas positivas e
negativas bem definidas, típico da expansão oceânica (Vine & Matthews, 1963).
3)  O domínio transicional ocorre entre os domínios continental e oceânico, adjacente à
crusta continental do lado proximal e à crusta oceânica do lado distal da margem, respectiva-
mente. É neste domínio que ocorrem as variações laterais mais significativas das proprieda-
des físicas da crusta (densidade, velocidade de propagação das ondas sísmicas, magnetização
remanescente, comportamento reológico), identificadas quer através da sua assinatura nos
mapas de campos potenciais (anomalias gravimétricas e magnéticas), quer nos dados de refle-
xão e refracção sísmica. O domínio transicional é inexistente nalgumas margens, reduzindo-
-se a uma fronteira abrupta entre o continente e o oceano, como por exemplo no caso das
margens transformantes do Oceâno Atlântico Equatorial, do norte da Baía de Baffin ou do
Estreito de Davis (Mascle and Blarez, 1987, Reid and Jackson, 1997, Funck et al., 2007), ou
estendendo-se por mais de uma centena de quilómetros (por exemplo nalguns segmentos da
Margem Oeste Ibérica: Pinheiro et al., 1992; 1996; Dean et al., 2000; S. Austrália: Direen et
al., 2007; Angola: Moulin et al., 2005; Aslanian et al., 2009). No domínio transicional a crusta
não apresenta um padrão uniforme em todas as margens, contudo têm sido discutidas três
origens possíveis para o seu soco: (a) crusta continental adelgaçada, localmente com intrusões
máficas (Purdy, 1975; Whitmarsh et al., 1990; Pinheiro et al., 1992), (b) crusta oceânica pouco
espessa, gerada em regime de expansão lento ou ultra-lento (Sawyer et al., 1994; Whitmarsh

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& Sawyer, 1996; Srivastava et al., 2000) ou (c) material continental exumado, manto (Boillot et
al., 1980; Boillot et al., 1987, 1989; Beslier et al., 1993; ODP149- Whitmarsh & Sawyer, 1996;
Pickup et al., 1996; Dean et al., 2000 and ODP173 Whitmarsh & Wallace, 2001) e/ou crusta
inferior (Wernicke, 1985; Séranne et al.,1995; Séranne, 1999; Aslanian et al., 2009). Estas três
possibilidades para a génese do soco no domínio transicional implicam litologias alternativas
para a sua composição, de essencialmente quartzítica, granitóide/metamórfica, no caso (a), a
máfica/ultramáfica, no caso (c).

A fracturação do supercontinente Pangea iniciou-se durante o Triássico, afectando uma


extensa região, desde o Senegal-Flórida até à Ibéria-Terra Nova. No sector oeste da mar-
gem continental Portuguesa o rifting continuou durante o Mesozóico, e evoluiu para a aber-
tura do Atlântico Norte durante o Cretácico Inf., quando se tinha já iniciado a abertura do
Atlântico Central, que ocorreu no Hetangiano (há cerca de 195 Ma, Sahabi et al., 2004). A
Ibéria-Terra Nova é o sector mais meridional dos pares de margens conjugadas do Atlântico
Norte, sendo limitado a sul pelas zonas de fractura da Glória, do lado europeu, e do Pico,
do lado americano (fig. 1b). Na Margem continental oeste Portuguesa (fig. 3) distinguem-se
claramente três segmentos principais, com base nos elementos morfológicos e nos termos
Hercínicos mapeados no onshore (Ribeiro et al., 1979; Pinheiro et al., 1996): (i) o segmento
sul, adjacente ao Alentejo, (ii) o segmento central, adjacente à Estremadura e Beira litoral e
(iii) o segmento norte, adjacente ao Minho e prolongando-se para a Galiza. Nos segmentos
sul e central a margem continental inclui o talude continental e estende-se até à planície
abissal do Tejo e planície abissal Ibérica, respectivamente. Os segmentos sul e central são
separados pelo Esporão da Estremadura. No segmento norte incluem-se os bancos subma-
rinos da Galiza, de Vigo e Vasco da Gama, que separam uma extensa bacia, a bacia interior
da Galiza, da parte norte da planície abissal Ibérica. De acordo com esta segmentação, é
mais correcto designar a margem em estudo como Ibérica, visto que o segmento norte é
comum a Portugal e à Galiza (Espanha). A partir deste parágrafo passaremos a referir a
margem como «Margem Oeste Ibérica».
Ao longo das últimas 3 décadas, a Margem Oeste Ibérica tem sido estudada exaustivamente,
incluindo: (a) numerosas campanhas de reflexão e refracção sísmica; (b) 2 «Legs» do Deep Sea
Drilling Project (Leg 47B, que furou o monte submarino de Vigo, no banco da Galiza, Sibuet
et al., 1979, e Leg 13, que perfurou o banco do Gorringe – Site 120); 3 legs do Ocean Drilling
Project (Leg 103, Boillot et al., 1987, Leg 149, Sawyer et al., 1994, e Leg 173, Whitmarsh et al.,
1998) e (c) campanhas comerciais da indústria petrolífera de aquisição de dados de sísmica
e poços ao longo da plataforma continental e «onshore». A cobertura destas campanhas não
é homogénea (fig. 3), sendo a planície abissal Ibérica o segmento da margem profunda (ou
distal) com maior densidade e diversidade de dados. Em particular, o acoplamento de dados
geofísicos e geológicos fez deste segmento da margem Ibérica um caso de estudo de referência

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412  Geologia de Portugal

Figura 3. (legenda na página seguinte).

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Margem Oeste Portuguesa  413

de margens continentais passivas não vulcânicas. Não obstante, têm sido observados desvios
significativos a este padrão, à medida que vão sendo adquiridos dados noutras margens conti-
nentais não vulcânicas. Outros sectores da margem, como a planície abissal do Tejo e o Espo-
rão da Estremadura, foram investigados de forma mais esparsa.
Deve ter-se presente que as diferentes metodologias referidas contribuem com apenas
uma parte da informação necessária para compreender os processos geodinâmicos da for-
mação da margem. Embora o conhecimento sobre a Margem Oeste Ibérica tenha vindo
progressivamente a aumentar, em resultado da aquisição de novos dados, dos resultados
de modelação numérica e análoga e do cruzamento entre os vários tipos de informação e
resultados, subsistem ainda numerosas questões em aberto. No texto que se segue iremos
descrever as características principais da estrutura da crusta e manto sub-crustal na Margem
Oeste Ibérica de acordo com o conhecimento actual, largamente baseado nas metodologias
atrás indicadas, e discutir algumas hipóteses que tentam explicar a geometria da margem e
a grande variabilidade observada na natureza da crusta.

2. Estrutura profunda da crusta e manto litosférico


2.1. Enquadramento geral

O domínio transicional da Margem Oeste Ibérica está localizado entre a zona de crusta
continental adelgaçada e fracturada, observada ao nível do talude e plataforma continen-
tais, e a crusta oceânica «normal» a oeste, associada à presença de anomalias magnéticas

◀ Figura 3. Mapa batimétrico simplificado da área de trabalho (dados de Gebco97, Digital AtlasWeb Site:www.
nbi.ac.uk,), e de detalhe para a região do golfo de Cádis (Zitellini et al., 2009) com batimétricas espaçadas de 100
m, com a localização dos seguintes elementos: 1) campanhas de reflexão sísmica multi-canal - LUSITANIE86
(Mauffret et al., 1989), ARIFANO92 (Sartori et al., 1994), IAM93 (Banda et al., 1995), CAM-98 (Chian et al.,
1999), BIGSETS98 (Zitellini et al., 2001), SISMAR02 (Contrucci et al., 2004), VOLTAIRE02 (Zitellini et al.,
2002), ISE97 (Clark et al., 2007) e EMEPC06 (Lourenço et al., 2007); 2) campanhas de refracção sísmica (linhas
a amarelo) - SISMAR4 (Contrucci et al., 2004), Purdy, 1975; 5wa (Pinheiro et al., 1992), Pierce & Barton, 1991,
IAM9 (Dean et al., 2000), IAM5 (Afilhado et al., 2008), ISE17 (Perez-Guissinyé et al., 2003), NEAREST-P1-P2
(Sallares-Gutscher, Initial Reports) e IB_O2 (Afilhado et al., 2009); sondagens do Deep Sea Drilling Project
(DSDP; 2 “legs”) e do Ocean Drilling Project (ODP; 3 legs) - pontos pretos; e 4) perfis modelados gravimetrica-
mente. Os limites e a linha central da anomalia J são baseados na interpretação da carta magnética de Verhoef
et al., (1996; Fidalgo, pers. comm.). Os três segmentos identificados, que se distinguem na margem continental
oeste Ibérica são: (i) o segmento sul, adjacente ao Alentejo, e que compreende também a planície abissal do Tejo;
(ii) o segmento central, adjacente à Estremadura e Beira litoral que compreende a parte sul da planície abissal
Ibérica; e (iii) o segmento norte, adjacente ao Minho, que compreende a margem profunda da Galiza (Espanha)
e a parte norte da alanície abissal Ibérica.

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414  Geologia de Portugal

claramente identificadas e criadas por acreção oceânica (Whitmarsh et al., 1990; Pinheiro et
al., 1992, 1996). A localização dos limites dos domínios crustais reveste-se da maior impor-
tância, quer do ponto de vista puramente científico quer do ponto de vista da avaliação de
recursos minerais, e mais recentemente também do ponto de vista jurídico. Contudo, na
sequência da aquisição de novos dados e conhecimento nas margens continentais, a comu-
nidade científica tem vindo a propor diferentes localizações para o domínio transicional e
a nomenclatura também se tem vindo a adaptar. Têm sido utilizados alguns termos como
«fronteira oceano-continente», «transição ocea­no-continente», «zona transicional», «crusta
transicional» e «zona de manto continental exumado», dependendo da época, da interpre-
tação e do contexto da publicação.
O limite destes domínios é assunto de grande debate na comunidade científica e têm sido
propostas localizações diversas para estes limites, numa faixa que atinge cerca de 300 km de
largura, em torno da anomalia J. De acordo com Tucholke et al. (2007) e Sibuet et al. (2007)
é a discordância Albiano-Aptiano que marca a ruptura da litosfera continental e consequen-
temente o início da verdadeira acreção oceânica, cerca de 80-90 km a oeste da anomalia J.
Contudo, diversos autores indicam evidências da presença de crusta oceânica ao longo da
anomalia J (Peirce and Barton, 1991; Dean et al., 2000) e a leste desta anomalia, a escas-
sos quilómetros no segmento central (Whitmarsh & Miles, 1995; Whitmarsh et al., 1996;
Pickup et al., 1996; Chian et al., 1999; Dean et al., 2000; Srivastava et al., 2000; Whitmarsh
et al., 2001; Russel & Whitmarsh, 2003), e a ~100 km (Pinheiro et al., 1992; Whitmarsh &
Miles, 1995; Russel & Whitmarsh, 2003) ou ~200 km (Srivastava et al., 2000; Afilhado et
al., 2008) no segmento sul. Embora a anomalia J não seja uma isócrona, abrangendo grosso
modo as anomalias M0-M3 (Larson & Hilde, 1975; Tucholke et al., 1979; Tucholke et al.,
1989), e não marque um limite estrutural ou litológico, a sua localização ao longo da mar-
gem é suficientemente clara e consensual, pelo que no presente texto e na fig. 5 adoptámos
a anomalia J como marcador ad-hoc para o limite do domínio oceânico, onde a crusta é
indiscutivelmente de natureza oceânica.
O limite do domínio continental é igualmente controverso, visto que diversos autores
indicam uma natureza essencialmente continental, numa vasta região sob a planície abissal,
crusta continental adelgaçada, localmente intruída por rochas básicas e uma área de manto
continental serpentinizado (Whitmarsh et al., 1990; Pinheiro et al., 1992; Boillot et al.,
1987, 1989; Beslier et al., 1993; ODP149 – Whitmarsh & Sawyer, 1996 and ODP173; Dean et
al., 2000; Whitmarsh & Wallace, 2001), enquanto que outros encontram evidências de natu-
reza oceânica da crusta, numa localização próxima da base do talude continental (Sawyer et
al., 1994; Whitmarsh & Sawyer, 1996; Srivastava et al., 2000; Afilhado et al., 2008). Também
neste caso utilizamos como critério para a localização do limite do domínio continental a
presença indiscutivel de crusta continental, neste caso decorrente da estrutura de velocidade
de propagação das ondas sísmicas.

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2.2. Estrutura sísmica da litosfera


A sísmica activa, incluindo a reflexão sísmica quase vertical e grande ângulo, constitui um
método essencial no constrangimento da estrutura da litosfera, já que explora a resposta da
crusta e manto sub-crustal em termos da distribuição de velocidade de propagação das ondas
sísmicas a duas ou três dimensões. A existência de uma descontinuidade na velocidade de pro-
pagação das ondas sísmicas entre a crusta e o manto é conhecida desde 1909, e foi designada
Moho em homenagem a Mohoroviçic que a detectou na Europa. Esta descontinuidade corres-
ponde a uma fronteira litológica importante entre os granulitos ou gabros da crusta inferior e
os peridotitos do manto. As características geométricas e as propriedades físicas da crusta têm
vindo a ser investigadas desde então, e foram estabelecidas diferenças fundamentais entre a
crusta continental e a crusta oceânica, resultantes da sua origem e história.
A crusta oceânica é reciclada em intervalos de tempo que parecem atingir no máximo
cerca de 200 milhões de anos (ciclo de Wilson, Wilson, 1966), enquanto que a crusta conti-
nental pode atingir mais de 4000 milhões de anos (Bowring and Williams, 1999), registando
os diversos processos tectónicos a que foi sujeita, tais como episódios repetidos de fusão
parcial, metamorfismo, intrusão, ruptura, suturas em zonas orogénicas e deformação, e con-
sequentemente apresenta grande variabilidade nas suas características.
A estrutura da crusta oceânica é, em geral, mais homogénea. A correlação entre a estru-
tura sísmica da crusta oceânica com sequências ofiolíticas sugere que esta é constituída por
produtos resultantes de extrusões e intrusões de material fundido originário do manto,
dando origem a rochas basálticas e gabróicas de composição aproximadamente uniforme
(Turcotte & Schubert, 2002). Esta composição gabro-basáltica, rica em silício e magnésio,
deu origem à designação crusta simática. Seguindo a classificação clássica, de cima para
baixo, a camada 1 é constituída por sedimentos, a camada 2 é constituída por lavas, ou
seja produtos vulcânicos de arrefecimento rápido, enquanto que a camada 3 é constituída
por gabros, ou seja produtos plutónicos de arrefecimento lento na câmara magmática, com
gabro isotrópico no topo e gabro e harzburgite estratificada na base (cumulados máficos e
ultramáficos, respectivamente).
A camada 1 é constituída por material sedimentar, e a sua espessura tem uma grande
variabilidade, que depende das fontes de sedimentos que lhe deram origem. As camadas
subjacentes apresentam ambas gradientes de velocidade acentuados, particularmente na
camada 2 e, embora a espessura da camada 2 decresça sistematicamente com o aumento da
espessura total (Mutter & Mutter, 1993), valores típicos de 1,5 a 2,0 km de espessura, para a
camada 2, e 4,5 a 5,0 km, para a camada 3, são apontados na compilação da estrutura crustal
de Tanimoto (1995). A velocidade das ondas P na camada 2 situa-se no intervalo 4,5 a 5,6
km/s, mas ocorrem variações acentuadas relativamente a estes limites (Mutter & Mutter,
1993), até valores extremos de 2.5 km/s e 6.6 km/s, respectivamente (White et al., 1992).

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416  Geologia de Portugal

Outras características da camada 2, cuja base constitui uma descontinuidade acentuada


da velocidade das ondas P, são a sua forte reflectividade e elevado gradiente de velocidade
(Morris et al., 1993). A velocidade média das ondas P na camada 3 é de cerca de 6,5 a 7,0
km/s (Tanimoto, 1995). De acordo com Mutter & Mutter (1993), a velocidade na base desta
camada aumenta com a espessura da crusta podendo atingir 7.6 km/s (White et al., 1992).
A compilação de White et al. (1992) indica que o gradiente de velocidade na camada 3 é
da ordem de 0.1-0.2 km/s/km, enquanto que na camada 2, o gradiente de velocidade pode
atingir 1 km/s/km (crusta oceânica do Pacífico). Na literatura é frequente incluir apenas as
camadas 2 e 3 quando se refere a crusta oceânica, e a sua espessura é calculada pela soma
das respectivas espessuras, obtendo-se um valor típico de 7.1±0.8 km (White et al., 1992).
A transição entre a crusta e o manto litosférico na placa oceânica corresponde a uma descon-
tinuidade na velocidade de propagação das ondas sísmicas, que pode ser abrupta, quando
ocorre numa interface, ou gradual, quando ocorre por aumento rápido da velocidade numa
camada de pequena espessura (< 1km). A velocidade de propagação das ondas sísmicas P
no manto sub-crustal é de 7.6-8.2 km/s, valor que em geral aumenta muito lentamente com
a profundidade (o gradiente de velocidade é pequeno, White et al., 1992).
Contudo, alguns ambientes geodinâmicos dão origem a desvios acentuados na espessura
crustal, nomeadamente quando se verifica: (i) velocidade de expansão do fundo oceânico
inferior a 2cm/ano; (ii) margens não vulcânicas, submetidas a tectónica extensional durante
ou após a sua formação; (iii) zonas de fractura; (iv) underplating ou excesso de magmatismo.
Nos 3 primeiros casos, esses ambientes dão origem a crusta oceânica pouco espessa ou adel-
gaçada. No caso (i) o desvio na espessura da crusta está relacionado com uma redução da
taxa de produção de magmas. O caso (ii) resulta do adelgaçamento originado pelo regime
tectónico extensional. No caso (iii) a camada 3 é extremamente adelgaçada ou mesmo ine-
xistente. No caso (iv) a espessura pode atingir cerca de 20 km.
De uma forma simplificada, na geração de crusta oceânica ocorre um arrefecimento
diferencial entre os magmas que atingem o fundo marinho, formando uma cobertura de
basaltos («pillow lavas» na interface crusta/água), e os magmas que arrefecem em profun-
didade, formando uma camada de gabros subjacente sob a qual se encontram comulados
máficos e ultramáficos (gabros e peridotitos estratificados). Esta diferenciação litológica
mais superficial é identificável na sísmica, visto que estas duas camadas de rocha têm den-
sidades e velocidades de propagação das ondas sísmicas distintas. As fronteiras litológicas,
entre os basaltos e os gabros e entre estes e os peridotitos, têm um contraste de impedância
acústica significativo e a reflexão de energia sísmica proveniente destas interfaces pode ser
identificada em secções sísmicas.
Quer na camada basáltica quer na camada gabroica a velocidade de propagação das
ondas P aumenta fortemente com a profundidade, dando origem a refracções fortes e limi-
tadas em offset, o que constitui outra das assinaturas típicas da crusta oceânica.

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Margem Oeste Portuguesa  417

O manto é constituído essencialmente por peridotito, uma rocha ultramáfica, que contém
uma percentagem elevada de olivina. No caso da litosfera oceânica, a fusão parcial do peridotito
e consequente ascensão do material fundido, deixa no topo do manto harzburgite (ou uma com-
posição mais lherzolítica, dependendo do grau de fusão), constituída fundamentalmente por
olivina e ortopiroxena, com concentração em magnésio superior à do basalto e inferior concen-
tração em cálcio e alumínio (Turcotte and Schubert, 2002). O manto oceânico apresenta-se em
geral «transparente» nas secções de reflexão sísmica e a fase refractada Pn indica um gradiente de
velocidade no manto consideravelmente menor do que na crusta sobrejacente.
A crusta continental, ou siálica, é consideravelmente mais espessa do que a crusta oceâ-
nica, com uma densidade média e razão de Poisson inferiores (Tanimoto, 1995). As regiões
Paleozóicas e Mesozóicas europeias (excluindo o orógeno alpino e margens estiradas) têm
uma crusta com cerca de 30 a 35 km de espessura, desde a superfície até à Moho. Na crusta
continental distinguem-se 3 níveis ou camadas: a crusta superior, que inclui a cobertura sedi-
mentar quando presente, a crusta média e a crusta inferior. Embora existam diversas rochas
possíveis candidatas à constituição da crusta continental intermédia e inferior, as observações
na crusta continental superior parecem indicar que esta é principalmente composta por grani-
tos, gneisses e outras rochas metamórficas de baixo grau metamórfico (ibid.). A velocidade de
propagação das ondas sísmicas aumenta suavemente com a profundidade em cada uma destas
camadas. A velocidade na cobertura sedimentar é geralmente inferior a 5,7 km/s; na crusta
superior e média a velocidade varia no intervalo 5,7 e 6,4 km/s e a crusta inferior tem veloci-
dade de 6,4 a 7,1 km/s. Velocidades mais elevadas podem ser encontradas na base da crusta
inferior (geralmente entre 7.2 e 7.4 km/s) em zonas de colisão orogénica. No onshore por-
tuguês a velocidade no manto continental, i.e. sob a Moho, é de 7.9-8.2 km/s (Matias, 1996).
O salto acentuado na velocidade das ondas P entre a base da crusta continental e o manto,
gera uma fase PmP com elevada amplitude. Nestas regiões verifica-se que a crusta continental
inferior é fortemente reflectiva (Klemperer, 1989), o que se observa de forma proeminente na
Zona Sul Portuguesa (Matias, 1996; Simancas et al., 2003; Afilhado, 2006).

2.3. Campanhas sísmicas na margem

Nas margens continentais são frequentemente utilizados dispositivos de aquisição de refle-


xão sísmica multicanal e estações sísmicas instaladas no fundo do mar, para obter perfis 2D
coincidentes. Estes dispositivos incluem um sistema de canhões de ar, um streamer (cabo,
muitas vezes com hidrofones) e aquisição coincidente de perfis de refracção/reflexão de
grande ângulo, utilizando «ocean bottom seismometers» (OBSs) e estações sísmicas em
terra. Na Margem Oeste Ibérica foram realizadas diversas campanhas com este tipo de dis-
positivos, nomeadamente nos perfis IAM-92 (Banda et al., 1995; Whitmarsh et al., 1996;

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418  Geologia de Portugal

Figura 4. (legenda na página seguinte).

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Dean et al., 2000; Afilhado et al., 2008), ISE-97 (Saywer et al., 1997; Clark et al., 2007),
CAM-98 (cruzeiro Discovery 215, Discovery 215 Working Group, 1998; Chian et al., 1999),
EMEPC-06 (Lourenço et al., 2007) e mais recentemente foram adquiridas as linhas Nea-
rest-09 (Martínez-Loriente et al., 2009), que cruzam o segmento sul da margem Oeste à
Margem Sul Ibérica (ver localização das linhas na fig. 3). Existem ainda linhas apenas com
aquisição de reflexão sismica multicanal, como as linhas Lusitanie-86 (Mauffret et al., 1989),
Lusigal-90, Arrifano-92 e Bigset-98, e linhas apenas com aquisição de refracção sismica
(Purdy, 1975; Withmarsh et al., 1990; Peirce and Barton, 1991; Pinheiro et al., 1992), algu-
mas das quais com aquisição de reflexão sísmica monocanal.
O processamento e modelação destes dados fornece uma imagem da estrutura da crusta
em profundidade, de onde podem ser extraídos perfis de velocidade-profundidade, indi-
cando o número de camadas crustais, as respectivas velocidades, espessuras e contrastes de
impedância acústica entre as camadas. Embora a velocidade de propagação das ondas P e
a densidade dependam do tipo de rocha, da pressão a que está sujeita, da fracturação, pre-
sença de fluidos, alteração por hidratação, etc, eles variam no mesmo sentido numa banda
relativamente estreita de valores, o que permite verificar a consistência dos modelos da sís-
mica com as anomalias gravimétricas. Por outro lado, a velocidade de propagação das ondas
sísmicas relaciona-se directamente com os parâmetros elásticos do meio, fornecendo um
constrangimento importante na modelação numérica.

2.4. Estrutura do Soco

Considerando os dados disponíveis, o soco acústico da Margem Oeste Ibérica pode ser divi-
dido em três sectores distintos, que correspondem grosso modo à estruturação clássica de
uma margem não vulcânica (fig. 4): a) um domínio continental, com poucas evidências de
adelgaçamento a leste, limitado a oeste por uma zona progressivamente mais adelgaçada

◀ Figura 4. Dois exemplos de perfis de refracção sísmica (constrangidos pelos dados de reflexão sísmica) cara-
terísticos do segmento central (perfil IAM9; Dean et al., 2000) e do segmento do sul (perfil IAM5; Afilhado
et al., 2008), com o perfil de anomalias magnéticas associado. No caso do perfil IAM9, o perfil magnético foi
adquirido por um magnetómetro de fundo (Russell & Withmarsh, 2003), enquanto que ao longo do perfil IAM5
se trata de um levantamento magnético de navio recente (Nov. 2008) na planície abissal do Tejo, resultante de
uma colaboração entre a EMEPC e o projecto TECTAP (Moulin et al., 2009). A anomalia J é indicada a vermelho
sobre os dois perfis, e as restantes anomalias interpretadas são indicadas por uma flecha vermelha. Nos perfis,
a crusta não sedimentar é representada a cinzento, o traço vermelho marca a falha de rift que parece ser a mais
importante, normalmente localizada no topo do talude. Os traços espessos a azul delimitam os principais domí-
nios crustais na margem (continental, transitional e oceânico), enquanto que os traços azuis finos representam
os sub-domínios discutidos no texto.

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de crusta continental; (b) uma zona transicional entre a vertente continental e o sector que
pode ser inequivocamente definido como constituído por crusta oceânica; (c) um soco de
natureza claramente oceânica. Ainda assim, estes domínios variam consideravelmente em
extensão lateral, geometria e fácies sísmica, considerando as observações providenciadas
pelas linhas IB-02 (margem da Galiza-Segmento norte), IAM-9 (margem da planície abissal
Ibérica-Segmento Central) e IAM-5 (margem da planície abissal do Tejo – segmento sul)
(fig. 5 e 6).

2.4.1. Domínio Continental Adelgaçado

O domínio continental adelgaçado na Margem Oeste Ibérica caracteriza-se essencialmente


pela existência de um conjunto de blocos basculados, limitados por falhas lístricas, de direc-
ção geralmente próxima de norte-sul inclinadas para oeste, localmente afectados pela com-
pressão Cenozóica. Os blocos são descontínuos e alongados paralelamente à margem con-
tinental e, perpendicularmente a esta, a largura dos blocos varia entre 12 e 20 km. Estes
blocos são compostos essencialmente por soco cristalino, rochas metamórficas de baixo
grau e de idade paleozóica, por sequências pré-rift fundamentalmente siliciclásticas, e, com
reduzida expressão, rochas vulcânicas muito alteradas (Boillot et al., 1988). Não existem, em
nenhuma das linhas de reflexão sísmica consideradas, reflectores profundos contínuos que
possam assinalar a posição das descontinuidades de Conrad (crusta superior-inferior) ou
de Mohorovicic (crusta-manto). A posição destas descontinuidades é contudo observada
nos modelos providenciados pela refracção e reflexão sísmica grande ângulo (vide 2.5). Nas
linhas de reflexão sísmica nos segmentos sul e central, a passagem do domínio de crusta con-
tinental não adelgaçada para o domínio continental adelgaçado encontra-se frequentemente
bem marcada no bordo da plataforma externa pela presença de uma falha normal principal,
inclinada para oeste e que parece concentrar a maior parte da distensão frágil (Afilhado et al.,
2008; Neves et al. 2009). Estas falhas rejeitam o soco cristalino, em cerca de 4 km (figs. 4 e 5).
A norte, a preponderância de uma única falha na delimitação da zona proximal do domínio
continental adelgaçado é menos clara, dada a existência de um extenso domínio de crusta
continental adelgaçada, correspondente ao banco da Galiza. Documentam-se na linha IB-02
(fig. 5) duas falhas principais, uma, a leste, que define o hemi-graben da bacia interior da
Galiza, e uma outra, a oeste, localizada na margem profunda da Galiza e que define o bordo
da crusta continental no soco cristalino. A passagem para o domínio transicional, mais a
oeste, é complexa e definida num contacto estrutural principal materializado por uma falha
normal inclinada para o continente e que parece marcar a ascensão da Moho e o afloramento
de peridotitos serpentinizados que ocorrem na zona de transição. Não se observam estrutu-
ras similares nos segmentos central e sul (fig. 5).

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Figura 5. Secções de reflexão sísmica multicanal em tempo duplo: (a) linha sismica IB02, no segmento norte da margem; (b) linha sísmica IAM9,
no segmento central; (c) linha sísmica IAM5, no segmento sul (adaptado de Neves et al., 2009).
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Figura 6. (legenda na página seguinte).

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Um dos aspectos mais conspícuos na sísmica de reflexão do banco da Galiza é a exis-


tência de um reflector profundo intra-crustal, localizado entre 1.5 e 3 s (em tempo duplo)
sob o leito marinho. Este reflector é bastante contínuo, de inclinação suave e apresenta uma
forte amplitude, definindo a interface na qual enraizam as falhas normais aparentemente
lístricas sobrejacentes (fig. 5). Este evento sísmico, designado por reflector S (ou H, mais a
sul), define localmente o soco acústico e é interpretado como uma interface reológica dúctil-
-frágil intra-crusta continental (Montadert et al., 1979) ou como um descolamento de baixo
ângulo ao nível da Moho que concentrou a distensão no decurso do rifting da margem
(Hoffman and Reston, 1992). Uma outra interpretação apresentada por Sawyer et al., (2005)
e Clark et al., (2007), define o reflector S como a expressão de um movimento de massa de
larga escala como resultado de um escorregamento rotacional que terá afectado os bordos
oeste e sul do banco da Galiza.

2.4.2. Domínio Transicional

O soco do domínio transicional, possui uma extensão lateral variável ao longo dos três
segmentos mas apresenta uma grande semelhança nos segmentos norte e central quanto
à sua geometria e fácies sísmica. O soco, é essencialmente suave e aplanado, por vezes per-
turbado por altos estruturais de pequeno comprimento de onda, mas no essencial corres-

◀ Figura 6. Perfis velocidade-profundidade (v-z) no soco, extraídos dos modelos de refracção/reflexão grande
ângulo nas linhas IAM9 (linhas a preto, Dean et al., 2000), CAM (linhas a verde, Chian et al., 1999) e IAM 5
(linhas a azul, Afilhado et al., 2008): (a) domínio continental - costa Vicentina, onde a crusta continental da
Zona Sul Portuguesa (não adelgaçada) tem cerca de 30 km de espessura (a seta indica a Moho); (b) domínio
continental - a cerca de 70 km da costa, onde as crustas continentais, da Zona Sul Portuguesa (IAM5) e da
Ossa Morena (IAM9), adelgaçaram para uma espessura de 17-18 km; (c) o mesmo que em (b) - a cerca de 110
km da costa, onde a crusta continental está adelgaçada para cerca de 6-8 km; (d) domínio transicional - região
proximal, onde a crusta é extremamente delgada (perfis v-z extraídos cada 10 km); (e) o mesmo que em (d) -
região mais profunda da bacia oceânica (o pacote v-z da compilação de White et al., 1992 em crusta oceânica
“normal” do Atlantico com idades compreendidas entre 59 Ma e 170 Ma) é incluído a cinzento; (f) o mesmo
que em (d) - crista de peridotitos; (g) domínio oceânico na linha IAM9 – anomalia J (perfis v-z da linha IAM5
no domínio transicional são incluídos para comparação). A profundidade é relativa ao topo do soco e a posição
de cada perfil, ou conjunto de perfis (espaçados de 10km), refere-se à distância no modelo respectivo (ver fig. 4,
IAM9 e IAM5; fig. 9 in Chian et al., 1999, CAM142 e CAM144). A Moho é indicada por setas com a mesma cor
do perfil v-z correspondente. Ao lado de cada perfil apresenta-se a(s) coluna(s) crustal(ais) correspondente(s),
colorida(s) de acordo com a escala discreta (ou de intervalos) de gradiente de velocidade e velocidade (canto
inferior direito). Chave: CCS – crusta continental superior; CCM – crusta continental média; CCI – crusta con-
tinental inferior; CCA – crusta continnetal adelgaçada; CP – crusta na crista de peridotitos; CS – crusta superior
indiferenciada; CI – crusta infereior indiferenciada; L2 – camada 2 oceânica; L3 – camada 3 oceânica; ZVA –
zona de velocidade anómala; ZMA – zona de manto anómalo.

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424  Geologia de Portugal

ponde sempre aos domínios mais profundos da margem. A facies sísmica do soco é expressa
característicamente por amplitudes menores do que as observáveis nos domínios oceânicos
e continentais, não sendo geralmente discerníveis quaisquer eventos sísmicos intra-soco
nem qualquer definição de uma interface correlacionável com a Moho. Porém, no segmento
norte, sob o soco, observa-se uma banda contínua de difracções aos 10 s (tempo duplo) que
se estende ao longo de todo o domínio transicional.
A estrutura mais proeminente nos segmentos central e norte é definida por uma série
de alinhamentos de altos estruturais paralelos à margem, aflorantes ou sub-aflorantes e que
formam uma crista segmentada. Sondagens realizadas pelo Ocean Drilling Project (ODP)
permitiram avaliar a composição desta crista como sendo composta por peridotitos serpen-
tinizados (Beslier et al., 1993; Henning et al., 2004). A crista encontra-se bem documentada
no banco da Galiza e no segmento da planície abissal Ibérica. Ao longo da margem, a crista
de peridotitos apresenta flancos simétricos ou flancos assímetricos controlados por falhas
(Henning et al., 2004) não tendo ainda sido possível estabelecer uma relação geométrica
clara com as estruturas existentes nos domínios adjacentes. A assinatura magnética da crista
também é variável, dependendo do grau de formação de magnetite secundária presente nos
peridotitos.
A existência de serpentinitos nos altos estruturais foi comprovada em diversas sondagens
profundas ODP, realizadas em altos estruturais do soco, mas não exclusivamente na crista
de peridotitos. No furo 899 (Leg 149) foram amostradas brechas serpentiníticas Sawyer et
al., 1994). No sítio 897, igualmente durante a Leg 149 (correspondente à crista de peridoti-
tos) foi intersectada uma unidade tectono-sedimentar com interdigitações de níveis serpen-
tiniticos e sedimentares interpretada como depósitos de movimentos de massa que indicam
afloramento de soco de natureza peridotitica no fundo do mar (Sawyer et al., 1994). Mais
a oeste, no sítio 1070 (Leg 173), foi intersectado um alto estrutural onde ocorrem gabros
e peridotitos serpentinizados (Whitmarsh et al., 1998). Em acréscimo a estas descobertas,
Hébert et al., (2001) mostraram que a abundância de elementos do grupo dos platinóides é
muito baixa nos peridotitos dos sítios 1068 and 1070. Esta observação levou aqueles autores
a considerar uma origem de manto sub-continental para as rochas amostradas na zona de
transição naqueles segmentos da margem. Em face destes resultados, tem-se designado nos
segmentos norte e central da margem, o domínio transicional como correspondendo a uma
zona de manto sub-continental exumado (ZMCE -Whitmarsh et al., 2001) tectónicamente,
nos estádios iniciais de rifting (ver secções seguintes).
No segmento sul, a topografia do soco na zona de transição é mais acentuada e apresenta
maior número de falhas (Afilhado et al., 2008 e Neves et al., 2009). A ausência de sonda-
gens no domínio transicional deste segmento não permitiu até hoje discutir com o mesmo
detalhe a natureza das rochas que o compõem. De igual modo, a fraca cobertura por linhas
de reflexão sísmica multicanal ou de refracção/reflexão de grande ângulo, impossibilitam a

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obtenção de um modelo estrutural detalhado e abrangente da margem profunda. A única


linha que intersecta todos os domínios aqui considerados é a linha IAM-5 (Afilhado et al.,
2008). Nesta, independentemente da interpretação da natureza das estruturas observadas, a
respectiva morfologia é consistente com os domínios crustais definidos. O soco transicional
é indiferenciado, não se observando uma estruturação clara e, na planície abissal, apresenta-
-se fracturado em blocos de pequena dimensão; este soco é muito reflectivo na região mais
oriental deste domínio, onde ocorrem reflexões de inclinação acentuada; na região ociden-
tal, as reflexões são sub-paralelas e/ou oblíquas aos flancos dos blocos; na base desta região,
a cerca dos 10.5s, são identificávies reflectores sub-horizontais, de ~5-15 km de extensão, ao
nível da interface entre a crusta superior e inferior (Afilhado et al., 2008).

2.4.3. Domínio Oceânico

Nos três segmentos da Margem Oeste Ibérica, a passagem para o domínio oceânico franco,
ocorre no limite leste da anomalia magnética J, que aparece expressa de forma bem marcada
de norte a sul, ao longo dos três segmentos estudados. Nas linhas sísmicas, o ínicio do domí-
nio oceânico é acompanhado por um substancial aumento da rugosidade da topografia do
soco acompanhada de uma diminuição progressiva, mas considerável, da sua profundidade
(em tempo duplo) e de uma forte diminuição da espessura da cobertura sedimentar para
oeste. A facies sísmica do soco oceânico é fortemente difractante e este é bastante reflectivo,
apresentando por vezes alguma estratificação e localmente compartimentos acusticamente
transparentes. É possível a individualização de blocos controlados por falhas de dimensão
variável que parecem definir uma paleo-topografia de montes abissais.
A passagem para o domínio oceânico nos segmentos norte e centro é claramente mar-
cada, para oeste da anomalia J, por um domínio de acentuada rugosidade que dá lugar a um
soco mais aplanado e superficial levemente inclinado para leste. A sul, o domínio oceânico é
fortemente condicionado pelo desenvolvimento da crista Madeira-Tore que define o bordo
oeste da planície abissal do Tejo.

2.5. Refracção e reflexão sísmica de grande-ângulo

Em todos os segmentos da Margem Oeste Ibérica, os perfis velocidade-profundidade indi-


cam a existência de três grandes compartimentos crustais de natureza distinta (figs. 5 e 7):
(a) em toda a vertente continental e na região proximal da planície abissal, no domínio
continental, a crusta é claramente de natureza continental, tendo em conta a semelhança
entre os perfis velocidade-profundidade nestes locais e os perfis velocidade-profundidade

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426  Geologia de Portugal

no onshore, nomeadamente quanto à gama de velocidades e gradientes de velocidade em


cada camada; (b) na região mais distal das planícies abissais, no domínio oceânico, os perfis
velocidade-profundidade são consistentes com crusta de natureza oceânica, i.e., eles mos-
tram a presença de duas camadas crustais de elevado gradiente, com uma espessura total
de cerca de 7-8 km, limitadas na base pela Moho; (c) entre estas duas regiões, no domínio
transicional, os perfis velocidade-profundidade indicam que a crusta é geralmente delgada
e heterogénea, visto que se verifica variação lateral do número de camadas, respectivas velo-
cidades e gradientes de velocidade, podendo ocorrer zonas de velocidade anómala entre a
crusta e o manto.

2.5.1. Domínio continental

A crusta na vertente continental (figura 6b) tem essencialmente a mesma estrutura que a
crusta continental adjacente não adelgaçada (figura 6a). No segmento sul a estruturação é
a mesma da crusta da Zona Sul Portuguesa (Afilhado et al., 2008), no segmento central é
a mesma estrutura da Zona de Ossa Morena (Afilhado et al., 2007; Afilhado et al., 2009) e
no segmento norte encontra-se a assinatura da Zona Centro Ibérica na plataforma e talude
continental e da Zona de Ossa Morena para oeste, nomeadamente sob o Banco da Galiza
(Perez-Gussinye et al., 2003).
A evolução da estrutura da crusta é claramente evidenciada, por exemplo, nos perfis
velocidade-profundidade da mesma linha sísmica (IAM5) representados na figura 6a e b,
que distam 70 km entre si e entre os quais a crusta continental adelgaçou para cerca de
metade da espessura original. Nestes, observam-se as mesmas velocidades na crusta conti-
nental superior (~6.2 km/s) e na crusta continental média (~6.4 km/s). O mesmo se veri-
fica quanto aos gradientes de velocidade: ambos são muito reduzidos (< 0.025 km/s/km).
Contudo, a comparação entre estes dois perfis velocidade-profundidade mostra que o adel-
gaçamento da crusta continental, de ~30 km de espessura para cerca de metade, foi obtido
essencialmente à custa da crusta continental inferior, ausente a cerca de 70 km da costa
(figura 6b), e da crusta continental superior (figura 6a). Considerando agora a comparação
entre a figura 6b e c, onde a crusta tem cerca de 6-8 km de espessura, verifica-se que o adel-
gaçamento foi feito essencialmente à custa da crusta continental média, no segmento sul da
margem (IAM5), e à custa da crusta continental inferior, no segmento central da margem
(IAM9), o que indica que a estrutura da crusta continental pré-rift tem influência no pro-
cesso de adelgaçamento crustal.
No segmento sul (IAM5, na planície abissal do Tejo) e no segmento central (IAM9, parte
sul da planície abissal Ibérica) da margem (figs. 4 e 6) a crusta adelgaça de cerca de 25 km,
desde a «hinge line», até < 5 km na base do talude continental, numa distância de ~60 km.

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Margem Oeste Portuguesa  427

O declive da Moho associado a este adelgaçamento é de cerca de 13º, o que produz nos
registos de reflexão grande-ângulo uma assinatura característica, incluindo uma forte refle-
xão na Moho (Gonzalez et al., 1999; Afilhado et al., 2008). Excepto na crusta superior, o
gradiente vertical de velocidade é diminuto, não ultrapassando 0.025 km/s/km (figura 6bc).
Existem contudo algumas diferenças entre os três segmentos, nomeadamente no adelgaça-
mento diferencial dos níveis crustais e na preservação do registo dos primeiros eventos de
rifting. No segmento norte observa-se o adelgaçamento até cerca de 10 km de espessura,
associado ao rift abortado da bacia interior da Galiza, onde ocorre a sutura Ossa Morena –
Centro Ibérica (Perez-Gussinye et al., 2003). Todavia, o adelgaçamento de 10 km para < 5
km, a oeste dos bancos da Galiza, de Vigo e Vasco da Gama, apresenta a mesma geometria
que nos segmentos central e sul (Afilhado et al., 2007; Afilhado et al., 2009). No segmento
sul a crusta continental inferior, originalmente pouco espessa, adelgaça completamente sob
o talude continental, o que não ocorre nos restantes segmentos (fig. 4).

2.5.2. Domínio transicional

Desde a década de 70 que se identificou no domínio transicional uma acentuada heteroge-


neidade na estrutura da crusta (Purdy, 1975). Na linha de refracção sísmica D1-D2 Purdy
(1975), na planície abissal do Tejo (fig. 3), onde a crusta é fina e com um perfil de velocidade
que se afasta do perfil típico de crusta oceânica, foram encontrados indícios de um manto
lento (Pinheiro et al., 1992), interpretado como decorrente da serpentinização do peridotito.
Em qualquer dos segmentos não há evidência clara de blocos basculados (Chian et al.,
1999; Afilhado et al., 2008). A crusta no domínio transicional, de espessura da ordem de 5
km, apresenta gradientes de velocidade muito mais elevados (atingindo valores de 1 km/s/
km na crusta superficial) do que a crusta continental, e uma dispersão acentuada da velo-
cidade, que nalguns locais varia de ~3.5 km/s a 7.5 km/s, podendo ter ou não estratificação
(figs. 6d, e, f). A extensão do domínio transicional varia de mais de 100 km nos segmentos
sul e central a cerca de 40 km no segmento norte. Em todos os segmentos da margem é pos-
sivel distinguir sub-domínios: (i) região proximal do domínio transicional (fig. 6d), onde
se observa uma maior dispersão nos perfis velocidade-profundidade, e que deverá conter
crusta continental adelgaçada, nos níveis mais superficiais (Chian et al., 1999; Dean et al.,
2000; Afilhado et al., 2008); (ii) região mais profunda da bacia (fig. 6e), onde se observa
uma concentração dos perfis velocidade-profundidade em cada segmento da margem, de
natureza oceânica no segmento sul, segundo Afilhado et al. (2008) e composta por perido-
tito serpentinizado, originário do manto continental, no segmento central, segundo Chian
et al. (1999) e Dean et al. (2000); (iii) crista de peridotitos (fig. 6f), resultante da exumação
do manto continental e consequente serpentinização do peridotito, identificada apenas nos

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428  Geologia de Portugal

segmentos central e norte, onde os perfis de velocidade-profundidade indicam velocidades


muito reduzidas no topo do soco, mas com uma variação com a profundidade próxima do
sub-domínio anterior.
i)  Na região proximal do domínio transicional (fig. 6d) a crusta é extremamente del-
gada, com uma espessura que varia de cerca de 2.5 a 5 km nas linhas IAM5 e IAM9. Os perfis
velocidade-profundidade mostram uma grande variabilidade na gama de velocidade para
cada profundidade em todas as linhas, o que indica um elevado nível de heterogeneidade
nesta região. O gradiente de velocidade na crusta superficial é elevado, contudo as veloci-
dades são geralmente mais próximas da velocidade de crusta continental do que de crusta
oceânica, pelo que esta região tem sido interpretada como crusta continental adelgaçada
(Dean et al., 2000), e possivelmente intruída no segmento sul (Mauffret et al., 1989; Pinheiro
et al., 1992; Afilhado et al., 2008). No perfil velocidade-profundidade da linha CAM ocorre
uma zona de velocidade anómala (demasiado elevada para ser típica de crusta e demasiado
baixa para ser típica de manto, nesta gama de profundidades), cerca de 2 km sob o soco,
que aumenta sem variações bruscas para velocidades típicas do manto (Chian et al., 1999).
O incremento contínuo de velocidade com a profundidade, sem contrastes de impedância
acústica, indica uma composição uniforme na crusta e manto superficial, como peridotitos
originários do manto subcontinental, com grau de serpentinização decrescente com a pro-
fundidade (Chian et al., 1999).
Esta estruturação dos perfis de velocidade, entre outros indicadores (nomeadamente
resultantes de trabalhos de magnetismo, Pinheiro et al., 1992; Whitmarsh and Miles, 1995;
Afilhado et al., 2008, de estratigrafia sísmica e modelação numérica, Cunha, 2008; Neves
et al., 2009), sugere a presença de crusta continental adelgaçada sobre manto continental
serpentinizado, o que é confirmado localmente nos altos do soco pelos resultados ODP. De
facto, nos segmentos norte e central da margem os testemunhos recolhidos nos legs 103,
149 e 173 (ODP) indicam que a zona transicional inclui uma área de natureza máfica/ultra-
máfica e a crusta é de origem continental, já que foram furados peridotitos serpentinizados
no topo do soco no lado mais ocidental e gabros continentais no lado mais oriental (ver
Manatschal et al., 2007 para mais detalhes). No segmento sul da margem não existem son-
dagens, contudo os resultados da reflexão sísmica de grande-ângulo (Afilhado et al., 2009)
combinados com modelação numérica da compressão Miocénica na margem (Neves et al.,
2009), indicam que a estruturação deve ser do mesmo tipo na região proximal do domínio
transicional (fig. 4 – 200-240 km).
ii)  Na região mais profunda da bacia, os perfis de velocidade (fig. 6e) concentram-se
em bandas relativamente estreitas, indicando pouca variabilidade lateral na crusta de cada
segmento. No segmento central da margem (IAM9 e CAM144, fig. 6e) distinguem-se duas
camadas: uma crusta com uma espessura de cerca de 2-4 km, velocidade de 4.5 km/s a 7.0
km/s e um gradiente muito elevado (1 km/s/km), sobre uma camada de espessura inferior a

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Margem Oeste Portuguesa  429

4 km, com velocidade da ordem de 7.6 km/s e gradiente de velocidade reduzido, limitada na
base por uma Moho pouco reflectiva ou ausente (Dean et al., 2000). Este perfil velocidade-
-profundidade no soco tem sido interpretado pela generalidade dos autores como decor-
rente da serpentinização do peridotito até ao topo do soco, em consequência da exumação
do manto continental, com base nos argumentos atrás expostos. No segmento sul (IAM5, fig.
6e) estão presentes duas camadas crustais, de gradiente de velocidade elevado (0.1-0.5 km/s/
km), e com velocidades que variam nas bandas 5.3-6.0 km/s e 6.5-7.4 km/s, na primeira e
segunda camadas respectivamente. A crusta tem uma espessura de 4-7 km e é limitada na
base por uma Moho reflectiva, sobre um manto de velocidade de 8.0 km/s e gradiente de
velocidade reduzido (Afilhado et al., 2008). Este perfil velocidade-profundidade no seg-
mento sul é globalmente distinto do perfil no segmento central, nomeadamente quanto à
presença/ausência de uma Moho reflectiva, à presença/ausência de uma zona de velocidade
anómala na base da crusta, à velocidade no topo do soco e ao valor do gradiente de velo-
cidade na crusta. Por outro lado, no segmento sul, os perfis velocidade-profundidade têm
globalmente a mesma gama de velocidades e gradientes que os perfis em crusta oceânica
«normal» (região sombreada da fig. 6e), sendo localmente atingida uma espessura simi-
lar. Na região constrangida pela sísmica de grande-ângulo (fig. 4 – 130-200 km), a crusta
tem uma estruturação que é interpretada por Afilhado et al. (2008) como crusta oceânica
gerada em regime de expansão lento, sobre um manto com velocidade da ordem de 8 km/s
(fig. 6eg). Os mesmos perfis velocidade-profundidade são representados também na fig. 6g,
para comparação com os perfis em crusta oceânica em torno da anomalia J, no domínio
oceânico. No entanto, no limite distal da região profunda da bacia, o perfil velocidade-pro-
fundidade na linha 5Wa (Pinheiro et al., 1992; ver localização nas figs. 3 e 4), que intersecta
a linha IAM5 a cerca de 100 km (fig. 4), é distinto: a crusta é mais lenta (4.4 a 6.3 km/s) e
mais delgada (espessura de 2-3 km), e o manto subjacente é lento (velocidade de 7.6-7.9
km/s). Esta estruturação foi interpretada por Pinheiro et al. (1992) como crusta continental
adelgaçada sobrejacente a manto serpentinizado. Independentemente da interpretação dos
perfis velocidade-profundidade quanto à natureza da crusta, a dispersão dos mesmos indica
uma variabilidade lateral no segmento sul da margem que não ocorre no segmento central.
iii)  Na crista de peridotitos, nos segmentos norte e central da margem, os perfis veloci-
dade-profundidade são essencialmente semelhantes aos perfis na região profunda da bacia,
embora com uma maior dispersão devida à topografia do soco, o que indica uma litologia
semelhante em ambos os sub-domínios.
Enquanto que na região proximal do domínio transicional todos os segmentos da mar-
gem têm características muito semelhantes, na região mais profunda da bacia e na crista
de peridotitos, há algumas diferenças significativas. Os perfis velocidade-profundidade
nas linhas IAM9 e CAM (segmento central) são muito similares e uniformes, mostrando
uma banda estreita de velocidades para cada nível crustal, mas com gradientes de veloci-

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430  Geologia de Portugal

dade muito elevados na crusta superior, que se reduzem significativamente em profundi-


dade ao longo de uma zona de velocidade anómala, a cerca de 2 km do topo do soco. Pelo
contrário, na linha IAM5 (segmento sul) os perfis velocidade-profundidade são menos
uniformes, devido em larga medida à topografia acentuada do topo do soco, com gra-
diente de velocidade menor na crusta superior e maior na crusta inferior relativamente
aos perfis no segmento central; não ocorre neste caso uma zona de velocidade anómala e
o manto é consideravelmente mais rápido; a crusta atinge espessuras cerca de 1 km supe-
riores (4-7 km).

2.5.3. Domínio oceânico

No segmento sul da margem oeste na região da anomalia magnética J (sob a crista


Madeira-Tore) encontrou-se um espessamento crustal, contudo sem alteração significa-
tiva no perfil de velocidades relativamente aos valores típicos de crusta oceânica (Peirce
& Barton, 1991). Este modelo indica ainda a existência de uma faixa de crusta oceânica
«normal» de ambos os lados da crista. Também na planície abissal Ibérica a estrutura da
crusta no perfil IAM9 na região da anomalia J apresenta características consistentes com
crusta oceânica «normal» (Dean et al., 2000). Distinguem-se duas camadas crustais com
gradiente de velocidade elevado (> 0.1 km/s/km), limitadas na base pela Moho, onde se
observa um incremento abrupto da velocidade para ~8 km/s, com redução do gradiente
de velocidade (fig. 6g). A espessura da crusta (~5-7 km) atinge localmente a espessura da
crusta oceânica «normal».

2.6. A informação do magnetismo dos fundos oceânicos


As anomalias magnéticas observadas no fundo do oceano resultam das variações tem-
porais no campo magnético da Terra (Vine e Matthews, 1963 e Vine, 1966). Com efeito,
o fundo oceânico é formado pela subida de material fundido, proveniente do manto, ao
longo dos eixos acrecionários das dorsais médio-oceânicas. A cristalização por arrefe-
cimento deste material dá origem a uma crusta oceânica magnetizada paralelamente ao
campo magnético terrestre dessa época, guardando assim a sua assinatura. Estas rochas
magnetizadas afastam-se da zona de acreção à medida que outras novas rochas são cria-
das. Por outro lado, à escala do tempo geológico, as variações temporais do campo mag-
nético terrestre incluem inversões cíclicas não periódicas. Estas inversões originam uma
sucessão de bandas de rocha com magnetização remanescente normal e inversa., i.e., a
diferença entre a magnetização total da rocha e a magnetização induzida tem o sentido

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Margem Oeste Portuguesa  431

oposto ou o mesmo sentido do campo magnético terrestre actual. Estas bandas de anoma-
lias magnéticas, paralelas ao eixo da dorsal e frequentemente simétricas, têm uma idade
que aumenta com a distância ao eixo e cada uma delas define uma isócrona da placa oce-
ânica, i.e. uma banda de crusta oceânica com as mesmas idade e polaridade magnética,
que pode ser datada por comparação com uma escala temporal de inversões do campo
magnético e/ou calibradas por sondagens.
Assumindo que estes lineamentos não foram deformados desde a sua criação, isto é, que
a placa tem um comportamento rígido, Le Pichon (1968) e Pitman e Talwani (1972) pro-
puseram a sobreposição de bandas conjugadas do fundo do mar para deduzir a posição do
eixo de acreção no momento da sua criação. Em princípio, se o par de placas permanecer
completamente rígido desde a formação, numa determinada época, dos dois lineamentos
magnéticos conjugados, a rotação em torno do polo de Euler que descreve a sua subreposi-
ção irá igualmente restituir o par de placas à sua posição relativa nessa época. Este método
permite reconstituir, passo a passo, a história do oceano em causa, isto é, conhecer a posição
de uma placa em relação à outra, na época considerada, e traçar a sua trajectória entre duas
posições.
Podemos assim estimar os deslocamentos das placas litosféricas no passado geológico
graças ao estudo dos lineamentos magnéticos e das zonas de fractura, que constituem a
materialização geológica das trajectórias das placas (Morgan, 1968 ; Le Pichon et al., 1973)
ligadas à expansão dos fundos oceânicos. A partir do estudo do traçado das zonas de frac-
tura e das anomalias magnéticas mais antigas, podemos determinar a reconstituição paleo-
-geográfica no fim da formação da margem, imediatamente antes da primeira acreção oce-
ânica. Estes estudos contribuem com três indicadores essenciais ao estudo das margens
continentais:
1)  A idade do início da acrecção oceânica.
2) A determinação da posição da margem conjugada e a definição do sistema geo-
lógico pré-rift. De facto as margens resultam da ruptura de um continente. Uma
margem representa apenas uma parte do sistema inicial. Para compreender a
formação do sistema geológico é necessário estudar uma margem e a sua margem
conjugada.
3) Finalmente, a cinemática de placas é um método independente para constranger os
movimentos horizontais durante a formação das margens, que devem ser compara-
dos aos deduzidos a partir dos modelos de formação das margens. Esta comparação
é fundamental para a sua validação, nomeadamente porque o movimento previsto
pelos diferentes modelos é claramente distinto: os conservativos implicam um movi-
mento muito mais elevado do que os não conservativos. Movimentos horizontais
com a magnitude prevista pelos modelos conservativos raramente são observados
nas margens continentais (McKenzie, 1978).

Geologia de Portugal_Volume II.indb 431 12/09/13 13:43


432  Geologia de Portugal

2.7. Dados de magnetismo


Na margem ibérica, a maioria das interpretações magnéticas resultam de grelhas compiladas
a partir de dados magnéticos adquiridos no mar (ship-track data) de Pinheiro et al. (1992),
Miles et al. (1994), Miles et al. (1996) e depois de Verhoef et al. (1996). Recentemente Luís et
al. (2009) efectuaram uma nova compilação, integrando os dados recentes da Estrutura de
Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), e a colecção de dados antigos
da Universidade de Utrecht (Collette & Roest, pers. comm.).
Existem igualmente dados adquiridos ao longo de perfis de reflexão e refracção sismica.
É o caso das campanhas Lusitanie (Mauffret et al., 1989), REFRAMARGES (Sibuet, 1987),
Tore-Madeira (Merle et al., 2005), e EMEPC (Lourenço et al., 2007).
Deve assinalar-se a aquisição recente de um levantamento magnético (Nov. 2008) na
planície abissal do Tejo, numa colaboração entre a EMEPC e o projecto TECTAP (Moulin
et al., 2009).
Finalmente, existem ainda perfis de magnetismo de fundo do mar, adquiridos durante
campanhas mais específicas, no sul da planície abissal Ibérica (SAR-93 – SAR-95 – TOBI-
-91), apresentados por Sibuet et al. (1995), Withmarsh et al. (1996), Zhao (2001), Russel &
Withmarsh (2003), Sibuet et al. (2007).

2.8. Idade da oceanização

Olivet (1996) confirma, a partir da síntese magnética (Miles et al., 1996), uma das característi-
cas principais da Margem Oeste Ibérica. Ela corresponde a uma zona magnética calma (fig. 7),
ilustrada anteriormente por Pitman et al. (1971) e Guennoc et al. (1979) e delimitada a oeste
pela anomalia J, datada como M0-M3 (Larson & Hilde, 1975; Tucholke et al., 1979; Tucholke
et al., 1989). A anomalia J é uma anomalia positiva forte (> 400 nT) claramente visível nas car-
tas magnéticas na margem ibérica; (na contraparte americana é bastante mais incerta) tendo
sido associada à junção tripla litosférica cretácica, Ibéria-África-América do Norte (Olivet,
1978; Rabinowitz et al., 1978; Tucholke et al., 1979; Tucholke et al., 1989).

▶ Figura 7. Carta magnética da área de trabalho (Verhoef et al., 1996), com a localizaçao das campanhas de reflexão
e refracção sísmica (linhas pretas), sondagens DSDP e ODP (pontos pretos) e perfis modelados gravimetricamente.
A legenda é a da fig. 3. As linhas azuis representam o limite dos domínios continental e transicional (a leste) e o limite
Apciano-Albiano (a oeste), de acordo com os trabalhos de Tucholke et al. (2007). Os pontos brancos correspondem
às anomalias magnéticas (M4, M11, M17 e M20) de acordo com o proposto por Srivastava et al. (2000). As linhas
ponteadas brancas correspondem à interpolação das anomalias magnéticas interpretadas por Srivastava et al. (2000).
Os pontos azuis correspondem às anomalias magnéticas (M0 e M3) e as linhas azuis à interpolação das anomalias mag-
néticas (M0, M1 e M5) de acordo com Sibuet et al. (2007). Ver fig. a cores na pág, VI do Anexo, no final deste volume

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Margem Oeste Portuguesa  433

Figura 7. (legenda na página anterior e fig. a cores na pág. VI do Anexo, no final deste volume).

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434  Geologia de Portugal

Todavia, foram realizados numerosos trabalhos no interior desta zona calma (Mauffret
et al., 1989; Pinheiro et al., 1992; Sibuet et al., 1995; Withmarsh & Miles, 1995; Srivastava et
al., 2000) a fim de determinar anomalias anteriores à anomalia J. Em particular, Srivastava
et al., 2000 interpretaram algumas destas como anomalias magnéticas oceânicas, com ida-
des compreendidas entre a anomalia M3 (129 Ma) até à anomalia M20 (147.5 Ma) (segundo
a escala de Gradstein et al., 2004) no sul da planície abissal Ibérica, tal como na planície
abissal do Tejo (figs. 4 e 7). Estes estudos são baseados na simetria das anomalias observa-
das em ambas as margens conjugadas, Margem Oeste Ibérica e margem da Terra Nova, mas
também na comparação com as anomalias observadas um pouco ao sul, na planície abissal
de Sohm. De acordo com Srivastava et al. (2000) as amplitudes baixas das anomalias podem
ser modeladas por uma taxa de acreção de 6.7 mm / ano entre o Jurássico sup. (Kimme-
ridgiano – Titoniano,155 -145 Ma) e o Cretácico inf. (Barremiano, 130 – 125 Ma). Mais
recentemente, Sibuet et al. (2007) confirmam a existência das anomalias M0 (125 Ma; limite
Barremiano/Aptiano) a M8 (133 Ma; intra-Hauteriviano) no sul da planície abissal Ibérica,
apesar de os reduzidos constrastes laterais de magnetização permanecerem um problema,
visto que não são comuns na crusta oceânica «normal». Na planície abissal do Tejo, Pinheiro
et al. (1992; 1996) e Whitmarsh & Miles (1995) interpretam a anomalia mais antiga como a
M11 (136 Ma na escala de Gradstein et al., 2004), antecipando a formação de crusta oceâ-
nica entre 3 a 11,5 My em relação ao sector mais a norte, e modelando uma taxa de accreção
de 7-10 mm/ano (Pinheiro et al., 1992). Finalmente, Afilhado et al., (2008) modelam as
anomalias ao longo do perfil IAM 5, com base num perfil extraído da grelha Verhoef et al.
(1996), mostrando que a crusta transicional fortemente magnetizada deverá conter rochas
ígneas intrusivas e/ou extrusivas.
No segmento central (fig. 7), Withmarsh & Miles (1995) definem dois domínios magné-
ticos: 1) a oeste de 11°25W, que mostra anomalias de fraca amplitude mas todas orientadas
NNE-SSW, que é igualmente a direcção das anomalias magnéticas associadas à acreção oce-
ânica (Anomalia J – M0) e 2) um domínio a este de 11°25W, onde as anomalias importantes
têm uma orientação NNW-SSE, mas existe toda uma série de orientações observáveis.
Na planície abissal do Tejo (fig. 7), são igualmente identificáveis dois domínios, compa-
ráveis aos definidos mais a norte, cf. § anterior. Pinheiro et al. (1992) e Withmarsh & Miles
(1995) colocam o contacto entre estes dois domínios a 11°5W, mostrando que as anomalias
magnéticas a oeste de 11.5ºW foram geradas por acreção oceânica. Contudo, segundo Afi-
lhado et al. (2008) o contacto mais importante entre domínios magnéticos ocorre a 10.5ºW,
visto que as propriedades magnéticas do soco são muito distintas a este e oeste deste ponto.
A nova compilação de Luís et al. (2009) parece confirmar esta última hipótese. O contacto
entre domínios magnéticos é interpretado como o ponto onde se iniciou a acreção oceâ-
nica, localizado a 11.5ºW segundo Pinheiro et al. (1992) e Withmarsh & Miles (1995) ou a
10.5ºW segundo Afilhado et al. (2008).

Geologia de Portugal_Volume II.indb 434 12/09/13 13:44


Margem Oeste Portuguesa  435

3. Modelação
A modelação físico-matemática constitui um factor decisivo de progresso na compreensão
dos fenómenos geológicos. A adopção simultânea e complementar das duas abordagens
– modelação física (análoga) e matemática (numérica) – é um contributo importante na
caracterização e compreensão de diversos processos geológicos a diferentes escalas.
A modelação física-análoga consiste na utilização de materiais com propriedades físi-
cas (em particular reológicas) análogas aos materiais da natureza (i.e. às rochas), e na sua
manipulação laboratorial com vista a simular processos geológicos e a testar os pressupos-
tos mecânicos (essencialmente geométricos e cinemáticos) de interpretações ou «modelos»
pré-existentes. É uma metodologia quantitativa e rigorosa na medida em que se assegure
uma simulação «à escala» (Hubbert, 1937), assente no garante de uma similitude geomé-
trica, cinemática e dinâmica com o protótipo natural.
Ao contrário da modelação numérica, esta técnica geralmente não possibilita uma simu-
lação directa da termo-mecânica das rochas, a não ser por aproximação da estratigrafia
reológica que possa estar em causa. Isto é: através de uma escolha de materiais laboratoriais,
granulares e viscosos (areias e pastas de silicone), que simulem por aproximação e na depen-
dência das suas propriedades físicas específicas (e.g. granularidade, coesão e ângulo de atrito
interno no caso dos materiais granulares, densidade e viscosidade no caso dos silicones)
diferentes comportamentos mecânicos (e.g. deformação frágil e dúctil).
No entanto, muito recentemente, têm começado a desenvolver-se novas abordagens
experimentais do âmbito da modelação física (análoga) que, mantendo o recurso à mani-
pulação laboratorial de materiais análogos às rochas na natureza, não se restringem a
uma dimensão exclusivamente mecânica, incorporando a simulação directa da impor-
tante influência que os gradientes térmicos exercem na reologia das rochas (e.g. Boutelier,
2010).
Esta transição de uma modelação análoga incorporando modelos estritamente mecâni-
cos para modelos termo-mecânicos está, no entanto, numa fase inicial, e pressupõe a dispo-
nibilidade de meios laboratoriais sofisticados, combinando designadamente a utilização do
chamado PIV («Particle Image Velocimeter») com técnicas tradicionalmente do âmbito na
modelação numérica de elementos finitos.
Classicamente, no entanto, a modelação física-análoga (estritamente mecânica) permite
com relativa facilidade, por comparação com a modelação numérica, uma abordagem a três
dimensões dos complexos processos a simular. Os resultados desta abordagem permitem
assim constranger modelos numéricos desenvolvidos em paralelo, descartando resultados
absurdos, economizando tempo e facilitando a sua concepção. Deste modo, a adopção de
uma metodologia que comporte uma interacção entre resultados de modelação análoga e
numérica e as observações, antes do eventual advento de uma técnica laboratorial que funda

Geologia de Portugal_Volume II.indb 435 12/09/13 13:44


436  Geologia de Portugal

definitivamente as duas abordagens, permite uma compreensão mais abrangente dos pro-
cessos geológicos em causa. Em particular, destaca-se o seu contributo para a caracterização
das estruturas geológicas inacessíveis e para o establecimento da evolução espacio-temporal
dos processos geológicos.
Quando não é possível obter soluções analíticas para determinados modelos físico-mate-
máticos são utilizados métodos numéricos, tais como o método das diferenças finitas, de
elementos finitos e de elementos fronteira entre outros. A caracterização das estruturas e a
determinação da sua evolução é então realizada através da análise do comportamento de um
modelo em resposta a agentes forçadores mecânicos e termodinâmicos, como por exemplo a
força da gravidade, a tensão tectónica, variações de temperatura e transições de fase. O modelo
das estruturas é necessáriamente uma abstração simplificada da realidade com vista a capturar
a essência dos fenómenos geológicos e não a reproduzir exactamente as observações.
Apresentamos de seguida dois exemplos de trabalhos recentes de modelação aplicados
à Margem Oeste Ibérica. No primeiro estudo, as técnicas de «backstripping» e modelação
gravimétrica são combinadas para constranger o estiramento e a subsidência da margem.
No segundo, são utilizados métodos numéricos para quantificar os efeitos da compressão
Miocénica na região sul da Margem Oeste Ibérica. Ambos os estudos contribuem, de forma
independente, para uma melhor compreensão da estrutura termo-mecânica da margem ao
longo de toda a sua evolução.

3.1. Modelação por processos

A Margem Oeste Ibérica formou-se em resultado de uma sequência de eventos distensi-


vos, de adelgaçamento e exumação (rifting), intercalados por períodos de quiescência tec-
tónica, entre o Triássico Superior e o Cretácico Inferior (Whitmarsh et al., 2001; Lavier &
Manatschal, 2006). Um dos principais efeitos do adelgaçamento é a subsidência e forma-
ção de bacias sedimentares, que caracterizam as margens continentais do tipo Atlântico.
O modelo de subsidência da margem é habitualmente diferenciado em dois períodos, con-
trolados por mecanismos distintos (Watts & Ryan, 1976; McKenzie, 1978; Cochran, 1983):
(1) durante o adelgaçamento, ou «syn-rift», e consequente re-ajustamento isostático (sub-
sidência isostática); (2) após o adelgaçamento, ou «pós-rift», associado ao re-equilíbrio tér-
mico e espessamento da placa litosférica (subsidência térmica). Estes dois períodos apare-
cem, na maioria dos casos, claramente diferenciados nas curvas de subsidência calculadas
a partir da estratigrafia em poços (ver Alves et al., neste volume). Outro fenómeno vulgar-
mente associado à formação de margens continentais é o vulcanismo sin-rift, por descom-
pressão adiabática e fusão do manto astenosférico que, como é discutido na secção 1, não
assume grande importância na Margem Oeste Ibérica (Martins, 1991; Pinheiro et al., 1996).

Geologia de Portugal_Volume II.indb 436 12/09/13 13:44


Margem Oeste Portuguesa  437

A modelação por processos tem por objectivo investigar e quantificar os diferentes pro-
cessos que afectaram as margens desde a sua formação, assim como constranger a estrutura
térmica e mecânica da litosfera ao longo do tempo. Uma metodologia que tem sido aplicada
com sucesso em diversas margens continentais do tipo Atlântico é a Modelação Gravimé-
trica Orientada por Processos (Process-Oriented Gravity Modelling – POGM, Watts, 1988;
Watts & Marr, 1995; Stewart et al., 2000; Rodgers et al., 2006; Close et al., 2009; Cunha et
al., 2010). A POGM combina as técnicas de backstripping e modelação gravimétrica (Watts,
1988). O backstripping consiste em descompactar e remover progressivamente (do mais
antigo para o mais recente, respeitando assim a ordem da sedimentação) os diferentes paco-
tes sedimentares que carregaram o soco cristalino, de forma a recuperar a amplitude da
subsidência na sua ausência (Watts & Ryan, 1976); ou seja, aquela que está directamente
relacionada com o adelgaçamento (que neste método é integralmente devido à extensão) e
arrefecimento da litosfera continental. O total designa-se por Subsidência Tectónica (ST; ver
também Alves et al., neste volume).
A ST e a quantidade estiramento crustal (β) definem, de forma aproximada, a geome-
tria de uma margem continental de tipo rift, cuja assinatura gravimétrica pode ser calcu-
lada como a soma de duas anomalias; em relação a uma litosfera não adelgaçada: 1 – ano-
malia positiva devido à substituição de material crustal (menos denso) por manto (mais
denso) durante o estiramento; (2) anomalia negativa, devido à substituição de material
crustal por água (menos densa) devido à subsidência. A anomalia gravimétrica de rift
(AGR) é normalmente caracterizada por um pico na zona da plataforma continental e
uma cava ao longo da vertente e sopé, consequência do maior comprimento de onda do
sinal positivo em relação ao sinal negativo (mais superficial, e.g. Telford, 1990). A AGR
é claramente identificada ao longo da Margem Oeste Ibérica, onde atinge amplitudes de
~150 mGal (fig. 8).
A assinatura gravimétrica associada à sedimentação pode também ser determinada,
como o resultado da carga sedimentar e da deformação flexural associada à sua deposição.
A amplitude e comprimento de onda desta deformação são controlados pelas carga sedi-
mentar e rigidez mecânica da litosfera. Para uma litosfera «fraca» (quente, sin-rift) a defor-
mação é acomodada localmente (isostasia do tipo Airy), enquanto que numa litosfera mais
«rígida» (arrefecida, pós-rift) a deformação é acomodada regionalmente (isostasia do tipo
flexural, Watts, 2001). A rigidez mecânica da litosfera a uma escala temporal de milhões de
anos, também designada por regidez flexural, pode ser expressa em termos da sua espessura
elástica, ou Te (McNutt, 1984; Burov and Diament, 1992; Watts, 2007).
Assumindo que o estiramento e a sedimentação são os processos mais significati-
vos na Margem Oeste Ibérica, então a soma das suas assinaturas gravimétricas deveria
explicar, pelo menos em traços gerais, as anomalias gravimétricas observadas. Desta
forma, comparando a soma gravimétrica dos processos, ou total modelado, para dife-

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438  Geologia de Portugal

Figura 8. (legenda na página seguinte e fig. a cores na pág. VII do Anexo, no final deste volume).

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Margem Oeste Portuguesa  439

rentes valores de Te, com as anomalias gravimétrica observadas, podemos obter cons-
trangimentos para a rigidez flexural da litosfera na margem, e consequentemente para
a sua estrutura térmica.

3.2. Aplicação à Margem Oeste Ibérica

A metodologia de POGM descrita acima foi aplicada ao longo de 14 perfis aproximademente


E-W ao longo de toda a margem (Cunha, 2008; ver localização na fig. 8). Os resultados da
modelação num desses perfis (P6 no mapa da fig. 8) são apresentados na fig. 8a, onde se veri-
fica que: (1) – O modelo de isostasia local (Airy) não explica as observações, nomeadamente a
grande amplitude da AGR e os valores de anomalia de ar livre negativos na margem profunda;
(2) – A Te durante o estiramento foi estimada em approximadamente 10 km; (3) – A Te média
durante a deposição da carga sedimentar (entre o Triássico Superior e o Presente) diminui
significativamente da região da plataforma para o talude continental, aumentando um pouco
no sopé do talude e planície abissal (fig. 8a).

◀ Figura 8. À esquerda – Mapa de anomalias gravimétricas de ar livre na Margem Oeste Ibérica (Sandwell &
Smith, 1997). P1 a P14 são os perfis modelados (ver texto). Também em evidência: anomalia magnética M0
(ponteado preto); cristas peridotíticas (triângulos verdes); furos ODP (círculos vermelhos); perfis de sísmica de
grande-ângulo (linhas pretas espessas); algumas falhas com expressão regional. Acrónimos por ordem alfabé-
tica: BA, bacia do Alentejo; BG, banco da Galiza; BGR, banco do Gorringe; BL, bacia Lusitaniana; EE, Esporão
da Estremadura; FA, falha de Aveiro; FBT, falha do Baixo Tejo; FN, falha da Nazaré; FM, falha da Messejana; PAF,
planície abissal da Ferradura; PAI, planície abissal Ibérica; PAT, planície abissal do Tejo. À direita - Resultados
da modelação gravimétrica orientada por processos ao longo de um perfil WNW-ESE na Margem Oeste Ibérica
(latitude ~40.5º N). a) Comparação entre as anomalias de ar livre observadas (rosa; Sandwell & Smith, 1997) e
calculadas (a preto). As anomalias calculadas resultam das contribuições dos processos de rifting e sedimentação
(ver texto). Os resultados de dois modelos são apresentados: (1, Ponteado) – Assumindo isostasia local (Airy)
durante os períodos de rift e pós-rift; (2, Linha contínua) – Modelo final, i.e. que produz o melhor ajuste para
uma Te variável. Em baixo apresenta-se o modelo de Te obtido; Te é um proxy da resistência flexural da litosfera
(ver texto). b) Estrutura da crusta associada aos modelos de Airy (pontos) e melhor ajuste (linha contínua).
Os sedimentos correspondem à área a cinzento. A subsidência tectónica é representada pela linha a tracejado.
Onde disponível, mostra-se também a posição da Moho, determinada pela sísmica (quadrados azuis). c) Fac-
tores de estiramento constrangidos pelos modelos de Airy e melhor ajuste. d) Estrutura térmica da margem no
final de um episódio de rift entre 150-140 Ma, calculada a partir de β (modelo de melhor ajuste), e tensões de
cizalhamento em três pontos distintos do modelo (áreas a cinzento). Do lado esquerdo, o diagrama mostra a
evolução da Te durante o período de pós-rift, para os 3 locais indicados, calculada a partir da estrutura térmica
e da reologia da crusta e do manto. A linha a ponteado foi obtida para a posição 1, assumindo uma reologia na
transição crusta-manto tipo serpentinito. Ver fig. a cores na pág. VII do Anexo, no final deste volume.

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440  Geologia de Portugal

A modelação dos restantes perfis ao longo da margem revelou resultados comparáveis.


Em média, obteve-se uma Te a variar entre 15-35 km na margem não adelgaçada, inferior a
10 km na margem continental adelgaçada, e entre 10-15 km na zona de crusta transicional.
Em litosfera do tipo continental, estes valores estão dentro do esperado para margens do
tipo Atlântico (Watts, 2001; Close et al., 2009). Na região de crusta oceânica, a espessura da
carga sedimentar é bastante reduzida (< 3 km) ao longo de toda a margem e, consequen-
temente, os resultados da modelação menos sensíveis. Numerosos estudos já publicados
sugerem, contudo, uma Te de 30-40 km para litosfera oceânica formada há mais de 100 m.y.
(Watts, 2001; área a cinzento claro na figura 8a), como é o caso da margem Oeste Ibérica
(e.g. Pinheiro et al., 1996).
Outro resultado da modelação gravimétrica é o modelo crustal obtido para a margem
(figura 8b), que permite inferir a quantidade de estiramento ao longo do perfil (β, figura 8c).
Na ausência de dados de sísmica de grande-ângulo, a geometria da crusta e espessura das
bacias sedimentares pode ser estimada por modelação gravimétrica.
Utilizando esta estimativa do factor de estiramento, e assumindo modelos conceptuais
relativamente simples para o estiramento da margem (e.g. McKenzie, 1978; Cochran, 1983),
podemos calcular a evolução da estrutura térmica da litosfera ao longo do tempo, assim
como a subsidência associada ao estiramento e arrefecimento da litosfera no período pós-
-rift. Na fig. 8d apresenta-se a estrutura térmica da listosfera ao longo do perfil modelado,
calculada analiticamente, no final de um período de rift entre os 150 e 140 Ma (Jurássico
Superior-Cretácico Inferior; Wilson et al., 1989; 2001).
O conhecimento da evolução térmica da margem é de grande relevância para diferentes
tipos de estudos, nomeadamente para determinar o seu potencial em hidrocarbonetos (óleo
e gás). É por isso fundamental constranger os modelos obtidos, comparando-os com as
observações disponíveis, como por exemplo o fluxo de calor (tempo presente) ou indicado-
res de exposição térmica no passado geológico, quer na matéria orgânica quer na estrutura
de alguns minerais (ver, por exemplo, Naeser and McCulloh, 1988). A subsidência calculada
analiticamente pode também ser comparada com a subsidência tectónica obtida a partir
do «backstripping» da carga sedimentar em poços. Esta última pode ser considerada como
uma observação, e diferenças significativas entre os dois metodos podem revelar, por exem-
plo, variações na quantidade de estiramento entre a crusta e o manto litosférico (Royden &
Keen, 1989; Rowley & Sahagian, 1986).
Na fig. 8d mostra-se também a distribuição das tensões diferenciais calculadas a partir
da estrutura térmica da margem e das reologias assumidas para a crusta e o manto em três
locais distintos do modelo (diagramas em forma de «árvore de natal» a cinzento): 1 – crusta
continental não adelgaçada (continente); 2 – crusta continental adelgaçada (talude conti-
nental); 3 – crustal muito adelgaçada, estirada ou transicional. A distribuição das tensões
reflecte a resistência dos materiais à deformação (Brace & Kohlstedt, 1980; Ranalli, 1995),

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Margem Oeste Portuguesa  441

seja em regime frágil (por falhamento; partes rectas dos diagramas) ou dúctil (partes cur-
vas). A maior ou menor resistência dos materiais depende da temperatura mas também,
intrinsecamente, da sua reologia. Assumiu-se, neste trabalho, uma reologia tipo quartzo
para a crusta superior, plagioclase para a crusta inferior e olivina para o manto litosférico
(Ranalli, 1995; Hirth & Kohlstedt, 2003). Assumiu-se também uma litosfera não adelgaçada
com 125 km de espessura e uma temperatura potencial no manto a 1300ºC.
Finalmente, na parte inferior esquerda da fig. 8d, apresenta-se um gráfico com a evo-
lução da Te no período de quiescência tectónica, após o episódio de rift atrás referido
(< 140 Ma), calculada analiticamente para os locais 1, 2 e 3, a partir da estrutura térmica
da margem, das reologias descritas acima e utilizando velocidades de rifting aproximadas
das inferidas para a Margem Oeste Ibérica (~1 cm/m.y.; Minshull et al., 2001). O aumento
da Te com o tempo nos locais 1 e 2 resulta do arrefecimento e correspondente espessa-
mento da litosfera. Em crusta continental, nas posições 2 e 3 do modelo, as Te calculadas
analiticamente são comparáveis, em média, com as obtidas através da modelação gravi-
métrica orientada por processos (POGM – barra a cinzento). Em crusta muito adelga-
çada, estirada, ou transicional (posição 1), uma reologia do tipo serpentinito (Escartín et
al., 2001) para a transição crusta-manto é mais consistente com os valores de Te obtidos
com POGM (linha ponteada).

3.3. Modelação numérica da compressão Miocénica

No caso da Margem Oeste Ibérica foi também realizada recentemente modelação numérica
de elementos finitos sobre o perfil IAM5 (figs. 10 e 11; ver localização do perfil na fig. 3).
A modelação, realizada por Neves et al. (2009), permitiu inferir a reologia da transição
­oceano-continente (TOC) a partir dos efeitos da compressão Miocénica na margem. Simul-
tâneamente foi possível determinar como se propagou a compressão Miocénica através dos
vários domínios reológicos da planície abissal do Tejo.
As entradas do modelo foram a geometria das camadas litosféricas e respectiva com-
posição, estimadas a partir da interpretação dos dados sísmicos e gravimétricos (fig. 9).
A composição da TOC e domínio continental distal interessava em particular. Para o efeito
foram testadas várias composições da crusta nesta região, designada pelos autores como
zona transicional (TC – fig. 9), para saber qual das hipóteses: (1) continental, (2) oceânica
ou (3) manto exumado mais se adequava às observações. As leis de deformação utiliza-
das foram de dois tipos: a lei de Byerlee (Byerlee, 1978) para o regime frágil à superfície, e
uma lei de fluência dependente da composição, temperatura e taxa de deformação (Ranalli,
1995), para o regime dúctil em profundidade. O modelo das estruturas restaurado a um
estado pré-deformação (pre-deformação Miocénica) foi então sujeito à acção da força da

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Geologia de Portugal_Volume II.indb 442
442  Geologia de Portugal

Figura 9. A) Input dos modelos numéricos de elementos finitos do perfil IAM 5. As composições das diferentes camadas são OC-diabase hidra-
tada, UCC-quartzito hidratado, MCC-granulito félsico hidratado, LCC-granulito máfico hidratado e Manto-peridotito hidratado. Foram testadas
várias composições na Zona de transição TC. B) Limites de resistência mecânica (“strength envelopes”) para as composições testadas na Zona de
transição. A linha a tracejado corresponde ao limite imposto pela lei de Byerlee, e a linha sólida ao limite de resistência frágil reduzido em 30%. O
envelope preto corresponde ao quartzito hidratado, o envelope cinzento à diabase hidratada e o envelope branco ao peridotito hidratado.

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Margem Oeste Portuguesa  443

gravidade e da força de compressão Miocénica. Os resultados da modelação mostraram que


a concentração da inversão Miocénica na zona de transição (TC) se deve essencialmente a
dois factores. O primeiro é que antes da compressão miocénica já existiam tensões com-
pressivas no substrato da zona TC, resultantes da curvatura associada ao adelgaçamento
continental e também da carga dos sedimentos nesta zona. Com a compressão miocénica
estas tensões compressivas são amplificadas, excedendo o limite de resistência do material e
das falhas pré-existentes. Quando o limite de resistência é excedido no regime frágil temos
ruptura frágil, quando é excedido no regime dúctil temos ruptura dúctil (fig. 10).
O segundo factor de concentração da deformação na zona TC é o enfraquecimento reo-
lógico. Concluiu-se que para se observar deformação frágil na crusta até pelo menos 5 km
de profundidade, como é observado, se necessita de reduzir o coeficiente de fricção da lei
de Byerlee em pelo menos 30%. Este resultado é consistente com serpentinização pois o

Figura 10. Modelos numéricos do padrão de ruptura associado à compressão miocénica no perfil IAM5 (ver
localização na fig. 3). A) Resultados para uma Zona de transição (TC) com reologia do tipo transicional (diabase
hidratada). B) Resultados para uma Zona de transição com reologia do tipo continental (quartzito hidratado)
(para uma versão a cores, ver Neves et al., 2009).

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444  Geologia de Portugal

serpentinito tem um coeficiente de fricção inferior ao da maioria das rochas (Escartin et al.,
2001). Por outro lado, a composição não pode ser do tipo continental na zona TC pois isto
originaria uma zona de deformação dúctil abaixo dos 5 km, o que não é consistente com a
observação de falhas até à Moho. Portanto preferimos uma composição do tipo intermédia
entre oceânica e continental, possivelmente manto serpentinizado.
Os modelos numéricos mostraram ainda que a composição continental para este do km
240 (fig. 10) é consistente com a existência de duas zonas de desacoplamento: uma na base
da crusta continental média e outra na base da crusta continental superior. As zonas de
desacoplamento fornecem superfícies de deslizamento para a cunha formada pela crusta
continental média, que actuou como meio de transmissão da compressão Miocénica. De
acordo com este modelo os cavalgamentos de idade miocénica são vergentes para o oceano,
a oeste da extremidade da cunha, e vergentes para o continente no talude continental desde
o final do Miocénico.

4. Discussão
O domínio transicional na Margem Oeste Ibérica caracteriza-se por crusta excepcional-
mente fina (< 6 km, figs. 5 e 7def) e anomalias magnéticas de fraca intensidade (figs. 4 e 5).
A interpretação da natureza da crusta neste domínio é matéria de debate e três grandes
hipóteses são propostas para a Margem Oeste Ibérica (ver Whitmarsh & Sawyer, 1996 ;
Dean et al., 2000 para uma discussão mais alargada):
1 – Crusta continental adelgaçada, extremamente estirada e eventualmente intruída
(Whitmarsh et al., 1990; Pinheiro et al., 1992; Whitmarsh & Sawyer, 1996).
2 – Crusta oceânica gerada num regime de expansão lenta ou ultra-lenta (Sawyer et al.,
1994; Whitmarsh & Sawyer, 1996; Srivastava et al., 2000).
3 – Material resultante da exumação e serpentinização de peridotito original dos níveis
mais superficiais do manto sub-continental (Boillot et al., 1980, 1987, 1989; Pinheiro
et al., 1992; Beslier et al., 1993; ODP149- Whitmarsh & Sawyer, 1996 and ODP173
Whitmarsh & Wallace, 2001).

A hipótese de uma crusta adelgaçada de origem continental é apoiada pela presença de


blocos basculados na base do talude continental (perfil LG12, Beslier et al., 1993; Reston
1996; Peron-Pinvidic and Manatshal, 2008), pelos resultados das sondagens ODP Leg 149
(Whitmarsh & Sawyer, 1996) e Leg 173 (Whitmarsh & Wallace, 2001) ao longo do perfil
LG12 (fig. 3), que descreveram unidades «syn-rif» sedimentares do Cretácio Inferior a oeste
do site 1069 e consistente com a velocidade nos níveis mais superficiais da crusta na região
próxima do talude continental (Chian et al., 1999; Dean et al., 2000). Contudo, os resulta-

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Margem Oeste Portuguesa  445

dos da reflexão sísmica de grande-ângulo (Dean et al., 2000) e quase vertical (Pickup et al.,
1996), ao longo do perfil IAM9, situado um pouco a sul do perfil LG12, não confirmam
esta interpretação para oeste de ~240 km (fig. 4). As velocidades sísmicas obtidas não são
compatíveis com crusta continental, mesmo fortemente estirada e adelgaçada (Chian et al.,
1999; Dean et al., 2000), tal como no segmento sul da margem (Afilhado et al., 2008), no
perfil IAM5 para oeste de 200 km (fig. 4).
Na região distal do domínio transicional (a oeste de ~220 km no perfil IAM9 e a oeste de
~200 km no perfil IAM5), alguns autores (Seifert and Brunotte, 1996; Srivastava et al., 2000;
Russell and Withmarsh, 2003; Afilhado et al., 2008) consideram que existe evidência nas ano-
malias magnéticas, nas velocidades obtidas com refracção/reflexão sísmica de grande-ângulo
e na geoquímica do basalto, amostrado no site 899 ODP Leg 149, de que a crusta foi gerada
num regime de expansão oceânica lenta ou ultra-lenta. Contudo, a hipótese de uma crusta de
origem oceânica é controversa, nomeadamente porque: i) há uma quase total ausência de tes-
temunhos de basaltos nas restantes sondagens IODP e ODP (e.g. Whitmarsh & Sawyer, 1996;
Whitmarsh & Wallace, 2001); ii) os estudos petrológicos e geoquímicos destas rochas máficas
recolhidas nas sondagens sugerem que estas resultaram da fusão parcial do manto litosférico
sub-continental (Cornen et al., 1996; Hebert et al., 2001; Abe 2001); iii) a topografia típica da
crusta oceânica lenta é marcada por relevos fortes (> 1 km de acordo com Minshull, 1999),
contrariamente ao que é observado nos segmentos central e norte, onde o relevo do soco é
suave (< 0.5 km de acordo com Pickup et al. 1996; Discovery 215, 1998); (iv) a modelação das
anomalias magnéticas é discutivel (ver ponto 2.8); (v) não são observadas reflexões da Moho
nos dados de reflexão sísmica quase vertical (Pickup et al., 1996) nem nos dados de reflexão
sísmica de grande ângulo (Chian et al., 1999), que geram perfis de velocidade-profundidade
incompatíveis com crusta oceânica «normal» (figs. 6e, f). Contudo, no segmento sul (fig. 5), o
soco apresenta algum relevo com comprimento de onda variável de cerca de 25-30 km, entre o
km 140 e 200, e de 10-13 km, a oeste do km 140. Além disso, os perfis de velocidade na região
140-200 km (figs. 6e, g) são consistentes com crusta oceânica e distintos dos perfis de veloci-
dade homólogos no segmento central (Afilhado et al., 2008).
Na sequência dos resultados de sondagens DSDP Leg 103 em que, entre outras rochas
metamórficas e ígneas, o peridotito serpentinizado foi identificado em diversas sondagens
extraídas na planície abissal Ibérica, a natureza da crusta no domínio transicional foi inter-
pretada por Boillot et al. (1980) como manto continental, exumado imediatamente antes
do início da expansão oceânica. Posteriormente, Chian et al. (1999) obtiveram um modelo
de velocidade, a partir de dados de refracção/reflexão de grande ângulo, no qual a veloci-
dade aumenta com a profundidade, sem contrastes de impedância acústica significativos,
incluindo uma camada de espessura 2-4 km na base da crusta, que apresenta velocidades
anómalas compreendidas entre 7.3 – 7.9 km/s (figs. 6e, f). Este modelo foi interpretado
pelos autores como manto exumado, em que o peridotito apresenta graus de serpentini-

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446  Geologia de Portugal

zação decrescentes com a profundidade. Esta hipótese é igualmente capaz de produzir


anomalias magnéticas semelhantes às formadas por expansão oceânica, embora com uma
amplitude mais fraca e uma maior variabilidade no tempo (Sibuet et al., 2007). Por outro
lado, Whitmarsh & Miles (1995), e Russel & Whitmarsh (2003) sugerem que este tipo de
anomalias de fraca intensidade possam ter sido geradas por intrusões contemporâneas do
rifting. No segmento sul da margem não existem amostras para constranger a natureza da
crusta, contudo os resultados da modelação numérica favorecem a presença de peridotito
serpentinizado a leste de 200 km (ver ponto 3.3 e fig. 10 – TC).
A região do domínio transicional onde não se observam reflexões da Moho (Pickup et
al., 1996; Whitmarsh et al., 1996; Chian et al., 1999; Dean et al., 2000; Afilhado et al., 2008),
que corresponde à extensão da zona interpretada como manto continental exumado (ZECM,
Whitmarsh et al., 2001) é variável ao longo da margem continental. No segmento sul esta
região tem cerca de 40 km (fig. 4 – 200-240km no perfil IAM5), enquanto no segmento central
pode atingir 150 km (fig. 4 – 90- 240km no perfil IAM9), reduzindo-se no segmento norte,
para menos de 55 km. No segmentos sul e central da margem, distinguem-se dois domínios
magnéticos, a leste e oeste de 11.25º W, no segmento central (ver ponto 2.8), e de 10.5º W, no
segmento sul. No segmento sul esta distinção entre os dois domínios é marcada por uma ano-
malia magnética de bordo, gerada por uma crusta com magnetização significativa (Afilhado et
al., 2008), enquanto no segmento central esta anomalia magnética de bordo não está definida.
Em resumo, ainda que a natureza da crusta no domínio transicional seja discutível, é pos-
sível distinguir sub-domínios: (1) A crusta continental inequívoca, de acordo com todos os
dados disponiveis, é identificavel até aos 240 km nos perfis IAM9 e IAM5. (2) O domínio
oceânico «normal», que se estende para oeste da anomalia J (90 km no perfil IAM9 e 30 km
no perfil IAM5). (3) O domínio transicional caracterizado pela presença de peridotitos ser-
pentinizados é mais variável. Ele cobre todo o domínio transicional distal no perfil IAM9
(90-200 km), enquanto que no segmento sul, este corresponde a uma zona muito mais restrita
(200-240 km), sendo a natureza do domínio transicional distal restante ainda discutida entre
a presença de serpentinitos (e.g. Pinheiro et al., 1992) com eventuais intrusões máficas, uma
área com uma estrutura litosférica complexa semelhante à que se encontra entre o site 1069 e
a zona imediatamente a leste do site 1067 do ODP (Pinheiro et al., in prep.) ou crusta oceânica
delgada gerada em expansão lenta (e.g. Afilhado et al., 2008).
Foram propostos diversos modelos para as fases mais tardias da formação da margem,
imediatamente antes da abertura. Na fig. 11 apresentam-se alguns dos modelos propostos
para a formação da margem da Galiza (fig. 11 a-e) e sul da planície abissal Ibérica (fig. 11f),
que pretendem integrar as observações. Nos anos 80 encontrou-se evidência de blocos bas-
culados e na base destes um reflector profundo e proeminente (reflector S), inicialmente
interpretado como a Moho, tendo-se então explorado os modelos tipo McKenzie (de Char-
pal et al., 1978). Posteriormente, o reflector S foi interpretado como um descolamento tipo

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Margem Oeste Portuguesa  447

Wernicke, com transporte tectónico para oeste (Winterer et al., 1988) ou para leste (Boillot
et al., 1988), dependendo dos autores. A acumulação de diversos tipos de observações,
incluindo em margens conjugadas, levou ao desenvolvimento de modelos mistos (Sibuet,
1992; Reston et al., 1995; Manatschal et al., 2001; Whitmarsh et al., 2001) na tentativa de
explicar a formação da margem, desde o rifting até à acreção.
As principais diferenças entre os domínios transicionais nos segmentos da margem Ibé-
rica podem ser enumeradas do seguinte modo: (i) a velocidade no topo do soco é mais ele-
vada no segmento sul do que no segmentos norte e central; (ii) no segmento sul a Moho é uma
descontinuidade de primeira ordem enquanto que nos restantes é uma descontinuidade de
segunda ordem; (iii) no segmento sul ocorre localmente uma redução da velocidade no topo
do manto, enquanto que nos segmentos central e norte esta redução está presente em todo o
domínio transicional; (iv) os perfis de velocidade são igualmente distintos, nomea­damente
quanto ao valor do gradiente de velocidade nos níveis superficiais do soco, substancialmente
mais elevado no segmento central do que no segmento sul (ver 2.5 e fig. 6); (iv) o soco nos
segmentos norte e central apresenta uma região quase plana, ausente no segmento sul; (v) a
magnetização da crusta no domínio transicional proximal do segmento sul é mais elevada
do que nos domínios correspondentes dos outros segmentos; (vi) em consequência, a lar-
gura da transição oceano-continente deverá ser consideravelmente menor no segmento sul
do que no segmento central. Esta diversidade está provavelmente associada a uma abertura
continental por impulsos ou eventos extensionais (Alves et al., 2009) ou uma propagação
oceânica em leque (Sibuet & Collette, 1991; Whitmarsh and Miles, 1995). Contudo, não são
observadas anomalias magnéticas oblíquas à margem, típicas deste tipo de abertura. Além
disso, estes modelos de abertura implicam uma deformação nos Pirinéus que não é compa-
tível com as observações geológicas (Olivet, 1996).
Existem também várias semelhanças entre os segmentos da margem: (i) a geometria de
adelgaçamento da crusta continental é abrupta, ocorrendo essencialmente em cerca de 60
km, excepto no segmento norte (ver ponto 2.5); (ii) observam-se blocos basculados apenas
na base do talude continental; (iii) a crusta sob as planícies abissais é fina, (iv) numa exten-
são de cerca de 200 km, excepto no norte onde é de cerca de 55 km; (v) as anomalias mag-
néticas no domínio transicional são de fraca intensidade, (vi) bordejadas por um conjunto
de anomalias de elevada intensidade (anomalia J); (vii) a modelação por processos indica
valores de espessura elástica da crusta semelhantes (Cunha, 2008).
A visão geral da Margem Oeste Ibérica é razoavelmente uniforme (com excepção do
segmento norte, que teve uma evolução particular com a bacia interior abortada da Galiza),
o que se enquadra num processo comum de formação de margens, desde o adelgaçamento
da crusta continental, de 30 a < 10 km, até à acreção de crusta oceânica. Como se ten-
tou mostrar neste artigo, existem contudo differenças entre os segmentos da margem, cuja
explicação não é ainda clara.

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448  Geologia de Portugal

Figura 11. (legenda na pág. seguinte).

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Margem Oeste Portuguesa  449

5. Perspectivas futuras
A questão da origem das anomalias magnéticas no domínio transicional da Margem Oeste
Ibérica tem sido debatida na comunidade científica. Com os dados actuais é dificil deci-
dir entre as possíveis origens das anomalias oceânicas, sejam ligadas à serpentinização ou
a intrusões. Apresentamos algumas pistas que permitiriam provavelmente avançar nesta
questão:
– obter uma imagem mais detalhada da estrutura profunda da crusta oceânica adjacente
à Ibéria;
– utilização de um magnetómetro junto ao fundo do mar na planície abissal do Tejo
para confirmar os resultados de Pinheiro et al. (1996), e Afilhado et al. (2008) e Alves
et al. (2009);
– confrontar estes resultados com as reconstrucões paleo-geográficas (cinemática de
placas), para determinar as consequências de uma abertura diferencial;
– realização de sondagens profundas no segmento sul da margem e ligação dos diversos
segmentos através da aquisição de linhas sísmicas norte-sul.

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◀ Figura 11. Representação esquemática de alguns modelos de rifting para os últimos estágios do rifting, i.e.
anterior à formação da crusta oceânica, ao longo do WIM (Cunha, 2008). Os cinco modelos superiores referem-
-se à margem da Galiza, e diferem na posição relativa do descolamento «S» na crusta, na sua vergência, e na
geometria resultante das margens conjugadas: a) estiramento puro (de Charpal et al., 1978); b) cizalhamento
simples com vergência para este (Boillot et al., 1988); c) cizalhamento simples com vergência para oeste (Winte-
rer et al., 1988); d) adelgaçamento por combinação de ambos os mecanismos, com estiramento puro à escala da
litosfera e cizalhamento simples na crusta (Sibuet 1992); e) S é antitético, ou cortado por uma zona de cizalha-
mento de maior relevância regional com vergência para este (Reston et al., 1995). Modificado a partir de Reston
et al. (1995). O modelo mostrado em f) foi proposto para a região sul da planície abissal Ibérica por o Manatschal
et al. (2001) e Whitmarsh et al. (2001). O modelo sugere três gerações de falhas de descolamento, com exumação
da crusta inferior e manto superior ao longo de um descolamento top-to-basement, HDD.

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Geologia de Portugal_Volume II.indb 460 12/09/13 13:44


Geologia_Extratexto Volume II.indd 5
a) Enquadramento regional da região estudada, na margem oriental do Atlântico Norte. b) Exemplo de uma interpretação de perfís sísmicos ao
longo de um transecto de margens conjugadas (seg. Sibuet et al., 2007). Ver figura e legenda desenvolvida nas págs. 406 e 407 deste volume.
Geologia de Portugal  V

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VI  Geologia de Portugal

Carta magnética da área de trabalho (Verhoef et al., 1996), com a localizaçao das campanhas de reflexão e refrac-
ção sísmica (linhas pretas), sondagens DSDP e ODP (pontos pretos) e perfis modelados gravimetricamente.
A legenda é a da fig. 3 (pág. 413). As linhas azuis representam o limite dos domínios continental e transicional (a
leste) e o limite Apciano-Albiano (a oeste), de acordo com os trabalhos de Tucholke et al. (2007). Os pontos brancos
correspondem às anomalias magnéticas (M4, M11, M17 e M20) de acordo com o proposto por Srivastava et al.
(2000). As linhas ponteadas brancas correspondem à interpolação das anomalias magnéticas interpretadas por Sri-
vastava et al. (2000). Os pontos azuis correspondem às anomalias magnéticas (M0 e M3) e as linhas azuis à interpo-
lação das anomalias magnéticas (M0, M1 e M5) de acordo com Sibuet et al. (2007). Figura da pág. 433, neste volume

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Geologia_Extratexto
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À esquerda – Mapa de anomalias gravimétricas de ar livre na Margem Oeste Ibérica (Sandwell & Smith, 1997). À direita – Resultados da modelação
gravimétrica orientada por processos ao longo de um perfil WNW-ESE na Margem Oeste Ibérica (latitude ~40.5º N). Figura da página 438;
Geologia de Portugal  VII

complementar a leitura da legenda com a existente na pág. 439, nomeadamente no que se refere à descrição de cores.

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