Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Página |2
1. Modalidades e Tipologias
A responsabilidade civil é classificável em função dos seus diversos pressupostos. Além
disso, ela preenche dois grandes tipos, não inteiramente lógicos e que requerem um tratamento
mais detido, os que equivalem à responsabilidade obrigacional e à aquiliana.
Página |3
Página |4
Página |5
isto, as hipóteses de concurso são muito minoradas, embora existam. De facto, a relação de
especialidade apontada diz respeito ao dever de prestar principal, quanto a deveres de
segurança, o concurso é real.
Miguel Teixeira de Sousa defende que não há uma relação de especialidade que permita a
prevalência da imputação obrigacional, verifica-se, antes, um concurso de títulos de aquisição
de pretensões, de tal modo que o autor pode invocar qualquer deles, ou todos, cabendo ao
defendente repelir cada um deles.
Nota que a jurisprudência nacional, quando confrontada com o problema do concurso, tem
optado, na base de uma ponderação concreta de interesses.
Página |6
outra, através de uma obrigação de indemnizar. Trata-se de uma situação muito delicada,
apenas possível nos casos expressamente previstos na lei (art.º 483º/2) e sujeitos a um
particular controlo de constitucionalidade.
O art.º 499º manda aplicar, à responsabilidade pelo risco, “na parte aplicável e na falta
de preceitos legais em contrário”, as disposições relativas à responsabilidade por factos ilícitos.
Desde logo, na responsabilidade pelo risco não há nem culpa nem ilicitude. Em regra, também
não há “facto”, no sentido de atuação livre e consciente do responsabilizado, capaz de originar
um dano. Tanto basta para que a causalidade e o próprio calculo da indemnização tenha de
seguir regras diferenciadas.
A responsabilidade pelo risco não é o produto de uma classificação de responsabilidade,
antes se perfila com um tipo autónomo de responsabilização, com todo um subsistema
diferenciado de pressupostos e de consequências.
A responsabilidade pelo sacrifício ou por factos lícitos não vem genericamente referida
na lei civil. Ela implica a prática de um ato voluntário que, apesar de danoso, o Direito admite,
mercê das circunstâncias em que seja levado a cabo. Apesar da licitude, ele pode originar um
dever de indemnizar.
Também na responsabilidade pelo sacrifício deparamos com pressupostos diversos dos
da responsabilidade delitual e que obrigam à construção de um subsistema coerente.
Estes três tipos de responsabilidade pertencem ao tipo mais geral da responsabilidade
aquiliana.
Página |7
1.1. O facto
Usa-se o termo facto para designar o ato ou facto humano que subjaz a qualquer
imputação delitual. Como facto humano podemos, desde logo considerar a ação. Esta
corresponde a um desencadear de meios materiais e humanos, determinado pelo cérebro do
agente, para prosseguir um preciso fim.
Página |8
O agente intervém em dois pontos, na escolha do fim que visa prosseguir e na seleção
dos meios que tem por admissíveis e adequados, para esse efeito.
A realidade humana e social é demasiado complexa para se reduzir a uma articulação
de ações. Dependendo dos circunstancialismos existentes, pode o agente prosseguir e alcançar
o seu objetivo justamente não fazendo nada.
Quer isso dizer que o facto, para além de integrar ações humanas efetivamente levadas
a cabo pelo agente, pode abarcar omissões ou determinadas omissões. Podemos considerar que
a omissão só é facto quando exista, num momento prévio, o dever de praticar o ato omitido.
Como enuncia o art.º 486º:
«As simples omissões dão lugar à obrigação de reparar os danos, quando,
independentemente dos outros requisitos legais, havia, por força da lei ou de negócio jurídico, o
dever de praticar o ato omitido.»
A obrigação derivada de negócio jurídico e que seja desrespeitada por omissão dá azo a
responsabilidade obrigacional. Da mesma forma, a inobservância de obrigações legais explícitas
conduz a esse tipo de responsabilidade, será o destino dos chamados “delitos tipificados” (art.º
491º, 492º, 493º) que, inclusive preveem uma presunção de culpa.
Ficam-nos, fundamentalmente:
• As situações de negligência, nas quais o bem protegido é atingido não por uma
(verdadeira) ação destinada a, direta, necessária ou eventualmente, atingi-la
(dolo), mas pela inobservância de certos deveres de cautela que se
impusessem;
• Os deveres do tráfego, isto é, os deveres que protegem certos bens delicados
ou que impedem sobre quem tenha o controlo de fontes de perigo.
No primeiro caso, a omissão é determinada pela violação, por um agente, de um direito
subjetivo ou de uma norma de proteção (art.º 483º/1), no segundo temos uma construção
derivada da responsabilidade aquiliana e que pode integrar a denominada terceira via.
Lidamos, antes, com valorações globais sobre a postura do agente, que podemos
considerar facto, mas não ação.
Página |9
A doutrina mais recente optou pela solução do meio termo. As violações imediatas de
bens jurídicos são, sem mais, ilícitas, releva o resultado. Estando em causa apenas atentados
negligentes ou violações do dever de cuidado, há que examinar a conduta. Por vezes o Direito
exprime condutas, vedando o resultado, noutros proíbe a conduta. Não é possível separar o
resultado da conduta, constituem uma evidente unidade. Isto dito, parece claro que perante
uma ação humana, logo final, o resultado é determinante para o próprio conhecimento da
conduta. Nos outros casos, o resultado não foi prefigurado pelo agente, pelo que apenas a
conduta surge como aparente.
Quer o resultado, quer a conduta são, assim, úteis elementos para conhecer o facto.
1.1.2. A imputabilidade
A presença de um facto com relevância civil, para efeitos de imputação delitual, requer
que o agente se tenha, efetivamente, autodeterminado. Para tanto, as suas ações ou omissão,
correspondem a duas qualidades suas:
• A capacidade de entender;
• A capacidade de querer.
Não ocorrerá a primeira se, por falta ou deficiência das capacidades cognitivas naturais
(tenra idade ou deficiência mental) ou artificiais (álcool ou drogas), o agente não tinha
possibilidade de apreender o significado das suas atuações. Faltará a segunda se o agente, por
constrições externas (coação física), não dispunha de liberdade.
O direito civil, assim como o penal, determina que, salvo nos casos de inimputabilidade,
as pessoas sejam tratadas como se fossem livres.
Presume-se que todas as pessoas são imputáveis. E imputáveis são ainda aquelas que,
violando deveres de cuidado, se coloquem transitoriamente, num estado de inimputabilidade
(art.º 488º/1, 2ªp). Será o caso frequente das pessoas que se alcoolizam e, depois, provocam
danos ao volante ou perpetram desacatos nos locais de diversão. Qualquer verdadeira
inimputabilidade deverá ser provada por quem, dela, se queira prevalecer.
Não há limites de idade, para efeito de imputação delitual. O artigo 488º/2 apenas
facilita tarefas probatórias, presume a falta de imputabilidade nos menores de sete anos e nos
interditos por anomalia psíquica.
1.2. A ilicitude
P á g i n a | 10
De acordo com o sentir comum compartilhado pelos juristas, é ilícito, só por si, violar
direitos e normas de proteção. A ilicitude implica, simplesmente, a inobservância do direito.
Temos, aqui, a sua delimitação negativa.
Em certos casos, a inobservância de regras jurídicas, à partida ilícita, pode ser legitimada,
tornando-se lícita. São as chamadas causas de justificação (ação direta, legítima defesa e estado
de necessidade, cumprimento de um dever e o consentimento do lesado). Por isso, para haver
ilicitude, reclama-se, ainda, a ausência de causas de justificação. Temos, aqui, a delimitação
negativa.
Em suma, pela positiva, a ilicitude advém da violação de direitos subjetivos e de norma
de proteção, pela negativa, ela postula que não existam causas de justificação. Esta orientação
coloca a violação de direitos e de normas de proteção na ilicitude e não no facto.
P á g i n a | 11
P á g i n a | 12
1.3. A culpa
A ideia de culpa está no cerne da imputação delitual, isto é, na efetivação normativa de
mandar que alguém, através de uma indemnização, suporte os danos primeiro ocorridos numa
esfera jurídica alheia. A culpa permite, na verdade, dar dois passos:
• Formular o juízo geral de legitimidade no despojar, alguém, de alguns dos seus
bens e entrega-los a outrem;
• Decidir quem merece sofrer esse tratamento e quem é o beneficiário.
1.3.1. O dolo
O dolo é considerado simplesmente como uma graduação de culpa em sentido amplo.
Diz-se que age com dolo aquele que procede voluntariamente contra a norma jurídica cuja
violação acarreta o dano. É comum a distinção entre:
• Dolo direto: o agente atua diretamente contra a norma;
• Dolo necessário: o agente atua em determinado sentido que, não sendo
propriamente a norma violada, implica, no entanto, a inobservância voluntária
desta;
• Dolo eventual: o agente atua em determinado sentido que, não sendo o da
violação da norma, pode implicar a inobservância voluntária desta.
No Direito Penal, o dolo direito tem sido pacificamente equiparado ao dolo necessário,
quer num caso quer no outro, a ação do agente passa pela violação de normas.
Há dolo eventual quando a conduta do agente ainda possa ser reconduzida à violação
da própria norma e não à simples inobservância de deveres de cuidado. Para tanto, basta
averiguar se a conduta do agente era norteada, de antemão pela possibilidade da violação,
sendo esta aceite como fim, ainda que instrumental.
P á g i n a | 13
P á g i n a | 14
P á g i n a | 15
P á g i n a | 16
• As vantagens envolvidas
Num conflito de direitos, o que primeiro se constitua prefere, à partida. Quando não
resolva, verificar-se-á qual a posição cujo sacrifício envolva menores danos. Não havendo danos
ou não sendo possível, por essa via, solucionar o problema, contabilizar-se-ão as vantagens
perdidas, optando-se pela solução que sacrifique menos riqueza futura.
Não sendo possível encontrar uma saída por nenhuma destas vias, resta uma apreciação
abstrata dos direitos, não havendo, ainda então uma saída, cair-se-á na ideia de igual sacrifício
ou de composições aleatórias.
Tratando-se de direitos (ou obrigações), aplica-se o art.º 335º/1 2ª parte, “todos devem
ceder na medida do necessário, para que todos produzam o efeito, sem maior detrimento para
qualquer das partes”. Pressupõe-se, naturalmente, que sejam possíveis “cedências” e
“exercícios parcelares”. Não o sendo, cai-se, de novo, no art.º 335º/2 e, no limite, em
composições aleatórias.
P á g i n a | 17
justificaria uma reação radical, mas, apenas, o distribuir os danos, numa perspetiva social
solidária. Finalmente, temos o comportamento do agente. A ação implicada deverá ser a
necessária, quer quanto à sua efetivação, quer quanto aos meios utilizados. Ela deve ser
objetivamente adequada à remoção do dano, contendo-se nos limites aqui exigíveis.
Dada a clara teleologia do art.º 339º/1 – permitir um dano para evitar um dano
desmesuradamente maior – não vemos qualquer dificuldade em alargar a referência a “coisa”,
aí feita, a todo e qualquer bem, incluindo bens imateriais e bens de personalidade. Aliás, no
Direito Civil, “coisa” não é, apenas e em rigor, a coisa corpórea – art.º 202º/1. Haverá que ir
ainda mais longe, alargando o preceito às próprias pessoas.
Verificada a situação de necessidade, a ação do agente é lícita. O dano causado não lhe
poderá ser imputado a título aquiliano, contudo será justo os danos serem suportados pelo
titular dos bens? O art.º 339º vem dispor sobre o destino ou a repartição desse dano, prevendo:
• A sua imputação ao agente, quando o perigo tenha sido provocado por sua culpa
exclusiva;
• A sua imputação equitativa ao próprio agente, àqueles que tenham tirado
proveito do ato ou que hajam contribuído para o estado de necessidade.
Temos situações de imputação de danos por atos lícitos. Quanto à distribuição
“equitativa” dos danos, haverá que, quando possível, seguir o Direito positivo:
• Se algum dos intervenientes causou o estado de necessidade de modo a lhe ser
imputável por culpa ou a título de risco, responderá;
• Não sendo esse o caso, haverá uma diferenciação na base do risco representado
pelos bens em presença.
P á g i n a | 18
• Não deve sacrificar interesses superiores aos que o agente vise realizar ou
assegurar.
A ação direta é lícita e é legitimadora. Verificados os seus pressupostos, o agente não
tem qualquer dever de indemnizar os danos que dela decorram. Eles serão imputáveis ou ao
“resistente” ou a quem haja ocasionado a situação ou, finalmente, ao risco próprio das
circunstâncias.
P á g i n a | 19
1.4. O dano
O dano é a supressão ou diminuição de uma situação favorável, reconhecida ou
protegida pelo Direito.
O nível axiológico do dano pode advir de uma de duas situações:
• Ou a de existir um bem atribuído, em termos permissivos, a uma pessoa, isto é,
um direito subjetivo;
• Ou a de vingar, simplesmente, uma vantagem garantida pelo Direito, mas que
ou por não corporizar um bem, ou por não assumir a forma de uma permissão
específica, surge, simplesmente, como interesse protegido.
P á g i n a | 20
P á g i n a | 21
indemnização, que cumpre aplaudir. Mas a sua natureza primeira, não é a de pena, mas a de
verdadeira indemnização, efetivamente:
• Não faria sentido que um particular beneficiasse diretamente de uma pena
aplicada a outrem, se fosse esse o caso, o montante da indemnização deveria
reverter para o Estado, a título de multa ou similar;
• A indemnização por dano moral é ditada, sem primeira linha, pela extensão
deste, só acessoriamente pode ser chamada a intervir a culpa ou a perigosidade
do agente, como deveria suceder se de pena se tratasse.
O art.º 496º/1 acolhe a ideia de dano moral desde que “… pela sua gravidade, mereçam
a tutela do direito”.
O dano não patrimonial é qualquer um que tenha essas características, tal como resulta
da consciência socialmente dominante, trata-se de dano autónomo.
P á g i n a | 22
o morto, do funeral e as demais (nº1) e que recaiam sobre os intervenientes (nº2). Estão, ainda,
cobertos os danos provocados nas pessoas que dependiam economicamente do falecido (nº3).
O art.º 496º versa os danos patrimoniais causados, também, nas pessoas mais próximas
do morto. Repare-se que a morte de uma pessoa que provocasse, efetivamente, danos morais
complexos nas pessoas que a rodeavam, levanta delicados problemas atinentes a dois pontos:
• Quem sofre os danos;
• Como calcular esses danos.
Em rigor, a morte de uma pessoa pode causar desgosto a um número indeterminado de
pessoas, havendo então uma necessidade de restringir para efeitos de Direito. A tal delimitação
procede o art.º 496º/2, que refere, em conjunto, o cônjuge não separado, os filhos e outros
descendentes e, na falta deles, os pais e outros descendentes, surgindo, finalmente, os irmãos
ou sobrinhos que os representem.
O art.º 496º/2 corresponde, visceralmente, a toda uma conceção restritiva, relativa aos
danos morais. Admite-se uma prudente interpretação extensiva, não devendo apenas
considerar o elenco taxativo. O Direito civil não é um jogo burocrático de normas e de remissões,
lida com valores profundos, devendo mostrar-se à altura de o fazer.
O cálculo de danos, em tal condição, é extremamente difícil.
O nº4 do mesmo artigo, vem dar indicações ao juiz, para esse cálculo, que tenderá a ser
fortemente variável, consoante as circunstâncias. Assim, além de se ter em conta a fórmula
dolosa ou negligente da imputação, por remissão do art.º 494º, manda a lei atender aos danos
não patrimoniais sofridos pela vítima e aos sofridos pelos beneficiários acima referidos.
Aqui está, segundo MC, em causa todos os danos morais que emergem da morte de uma
pessoa que não diretamente a morte. Esta constitui a base da indemnização para determinação
dos confins desta é que se deve atender ao tipo de morte. Não é indiferente, para avaliar o
sofrimento dos sobreviventes, o padecimento da vítima que todos tiveram conhecimentos. Ou
seja, para computar os danos sofridos pelas pessoas referidas no art.º 496º/2, há que computar
não só o sofrimento delas, mas o próprio sofrimento do morto.
Nos termos gerais do fenómeno sucessório, as indemnizações a que tais danos deem
lugar transmitem-se aos sucessores do morto que podem coincidir ou não, com as pessoas
referidas no nº2 do art.º 496º. Quando haja coincidência, essas pessoas acumularão
indemnizações, diretamente, pelos danos por elas sofridos e a título de sucessão, pelos danos
suportados, pelos danos suportados pelo morto.
Entre os danos sentidos pelo morto que se transmitem aos sucessores, na ótica da
indemnização, compreende-se a própria morte?
Se a morte dá lugar a um dano imputável face à própria vítima, em que termos de
originar responsabilidade civil, é evidente que o direito à indemnização se transmite aos
sucessores. Duvida-se, no entanto, da existência de tal dano. Pois:
• A morte sobrevém com a extinção da personalidade da vítima,
consequentemente, esta já não seria pessoa em termos de poder sofrer o dano
morte;
• O art.º 496º/2, ao determinar os beneficiários da indemnização por morte,
excluiria quaisquer outros, por via sucessória.
Quanto ao último argumento, não se trata de saber se o artigo exclui a indemnização,
por via sucessória de quaisquer beneficiários à face das regras gerais, mas se exclui a própria
vítima e tal indemnização.
P á g i n a | 23
P á g i n a | 24
P á g i n a | 25
P á g i n a | 26
P á g i n a | 27
1.3. As indemnizações
Em termos de indemnização, a violação do direito ao credito ou ao bom nome pode
determinar danos patrimoniais e morais. Os primeiros devem ser ressarcidos, até ao montante
do prejuízo, sendo ainda computáveis danos emergentes e lucros cessantes. Os segundos
colocam um problema de danos morais, a arbitrar de acordo com art.º 496º/4, 1ª parte. A
indemnização deve ser suficientemente pesada, para exprimir a reprovação do Direito e ter
efeitos no futuro, nota que o art.º 484º não faz quaisquer restrições e reporta-se a pessoas
singulares e coletivas.
Os quantitativos são sensíveis ao facto de ser condenada uma pessoa singular, uma empresa
ou uma grande empresa. Também releva o tipo de órgão de informação usado para a ofensa.
Quanto mais eficaz, maior terá de ser a reparação.
A tutela indemnizatória prevista no art.º 484º é insuficiente. Em regra, mais importante do
que a compensação monetária é a reposição da verdade ou a reparação da ofensa feita.
2.1. A desresponsabilização
Segundo o art.º 485º/1, ”Os simples conselhos, recomendações ou informações não
responsabilizam quem os dá, ainda que haja negligência da sua parte”.
P á g i n a | 28
O nº2 tenta delimitar esta regra, fixando que, afinal, o dever de indemnizar existe em três
circunstâncias:
1. Quando se tenha assumido a responsabilidade pelos danos;
2. Quando havia o dever jurídico de dar conselho, recomendação ou informação e se tenha
procedido com negligência ou intenção de prejudicar;
3. Quando o procedimento do agente constitua facto punível.
Este artigo parte do postulado de desresponsabilização de quem dê conselhos,
recomendações ou informações, mesmo quando haja negligência da sua parte e sejam quais
forem as consequências.
Na opinião de MC, o Direito não pode pactuar com uma cultura de desresponsabilização e
de laxismo, em que todos falem de tudo, mesmo em circunstâncias ponderosas, enganando,
sem consequências, o seu semelhante.
Além da política legislativa, o art.º 485º/1, tal como resulta da sua letra, e fortemente
contrário à lógica do sistema. Basta ver que ele legitima quaisquer danos, pessoais ou
patrimoniais, desde que levados a cabo com negligência e através de conselhos, recomendações
ou informações. Hoje, a maioria dos danos advém, justamente, de (más) informações. Procede,
ainda, a uma distinção entre dolo e negligência que não tem lugar na nossa tradição jurídico-
civil.
2.3. A responsabilidade
O artigo 485º/2 prevê explícitas situações de responsabilidade por conselhos,
recomendações ou informações. Em suma, há três hipóteses:
P á g i n a | 29
P á g i n a | 30
P á g i n a | 31
P á g i n a | 32
P á g i n a | 33
No essencial, temos:
• Um princípio geral (499º);
• A responsabilidade do comitente (500º);
• A responsabilidade do Estado e de outras pessoas coletivas públicas (501º);
• Os danos causados por animais (502º);
• Os acidentes rodoviários (503º a 508º);
• Os danos causados por instalações de energia elétrica ou gás (509º a 510º).
As diferenciações dogmáticas entre a responsabilidade comum, de tipo delitual e os
diversos casos de responsabilidade pelo risco são tidas em conta pelo art.º 499º, “são extensivas
aos casos de responsabilidade pelo risco, na parte aplicável e na falta de preceitos legais em
contrário, as disposições que regulam a responsabilidade por factos ilícitos”.
Temos dois filtros:
• “na parte aplicável”: não operam as regras atinentes ao facto, à imputabilidade,
à ilicitude, à culpa e ao próprio nexo de causalidade, o “facto risco” terá de ser
reconstruído, caso a caso, outro tanto sucedendo com a causalidade;
• “na falta de preceitos legais em contrário”: por “preceitos legais” deve
entender-se, em geral, o Direito especialmente aplicável, envolvendo normas,
princípios e interconexões que entre eles se estabeleçam.
1. A responsabilidade do comitente
Seguindo a ordem o Código, a responsabilidade do comitente é a primeira hipótese
prevista da responsabilidade pelo risco (500º/1) pelo que nos diz “aquele que encarrega outrem
de qualquer comissão responde, independentemente de culpa, pelos danos que o comissário
causar, desde que sobre este recaia também a obrigação de indemnizar”.
1.1. Os pressupostos
1.1.1. A comissão
O primeiro pressuposto inserido no artigo 500º/1, para a responsabilidade do
comitente, é a situação de alguém encarregar outrem de uma comissão ou, se se quiser, o ato
e o efeito de comitir. Podemos distinguir os elementos seguintes:
• A presença de liberdade de escolha do comitente;
• A incumbência de uma comissão a outrem;
• A aceitação dessa incumbência, pelo escolhido que, assim, se torna comissário
ou comitido;
• A existência de uma relação, daí resultante;
• A atuação do comissário, no âmbito da comissão, por conta do comitente.
A liberdade de escolha do comitente é o ponto de partida para a aplicação desta figura.
Na sua falta haverá uma relação legal ou uma gestão de negócios, consoante a relação que
derive da lei ou da iniciativa do próprio agente, verificados os competentes pressupostos.
O comitente deverá também ter incumbido o eleito de uma determinada atuação ou
comissão. Podendo esta refletir-se num ato isolado ou num desempenho continuado, de
natureza jurídica, material ou mista, gratuito ou oneroso, manual ou intelectual. A incumbência
pode ou não ser acompanhada da concessão de poderes de representação.
P á g i n a | 34
P á g i n a | 35
P á g i n a | 36
P á g i n a | 37
P á g i n a | 38
Segundo este DL, os titulares dos órgãos ou os agentes culpados só respondiam, perante
o Estado, por via do regresso, pelas indemnizações que ele fosse obrigado a satisfazer, se
tivessem “procedido com diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a que se achavam
obrigados em razão do cargo”. O Estado só responderia solidariamente com os titulares do
órgão e os agentes administrativos responsáveis, por atuações que tivessem excedido os limites,
quando tais titulares ou agentes tivessem agido com dolo.
Na doutrina, diz-se que há gestão privada quando o Estado que no âmbito do Direito
Privado, e gestão pública, quando o faça em termos de Direito Público. Contudo, uma situação
jurídica não é por si, pública ou privada, o que levanta a problemática de determinar qual o
Tribunal competente.
Tentando uma síntese deste material, verifica-se:
• Que as condutas que envolvem violações da possa e de deveres gerais comuns
a todos os cidadãos e a ela ligados, integram a gestão privada;
• Que as atuações concretizadas em áreas nas quais não haja poderes de
autoridade são de gestão privada;
• Que os desempenhos ao abrigo de poderes de autoridade dentro de funções
específicas são de gestão pública, competindo ao foro administrativo;
• Que as declarações de ciência são de gestão privada e foro comum.
A concluir a pesquisa jurisprudencial relativa a este período, cabe ainda voltar a salientar
duas proposições sobre as quais não parecem ficar dúvidas:
• O foro competente para apreciar a questão principal é competente para
apreciar questões conexas;
• O pedido deve ser apreciado de acordo com a forma por que vem posto na
petição inicial.
Tudo visto, materialmente, a destrinça não é possível, tornava-se necessário indagar o
complexo normativo invocado pelo Estado para agir, ou melhor, para ter agido.
P á g i n a | 39
P á g i n a | 40
3.2. Natureza
No domínio dos danos causados por animais, o art.º 502º consagra um esquema de
responsabilidade pelo risco. Independentemente de saber se o dono ou detentor do animal
observou os deveres de cuidado que coubessem e mesmo que se mostre que os cumpriu, ele
responde pelo risco. Fica sempre subjacente a ideia de que, se houver danos, foi porque não se
tomaram as precauções necessárias. Temos, pois, presente, a ideia de ilicitude imperfeita,
subjacente a qualquer responsabilidade pelo risco.
4. Os acidentes de viação
Acidentes de viação é a expressão consagrada para designar a ocorrência de danos com
intervenção de veículos, em regra, motorizados.
O Direito tem de intervir. A priori fixando as regras da circulação, as normas sobre as
vias rodoviárias e os dispositivos aplicáveis aos veículos autorizados a circular. E a posteriori,
estabelecendo as regras de distribuição dos danos, humanos e patrimoniais, quando ocorram
acidentes. Num primeiro momento, afigurou-se que bastariam as regras gerais da
P á g i n a | 41
P á g i n a | 42
O proprietário que conduza o seu próprio automóvel sabe quanto lhe custou, quanto
custa a manutenção e quanto custa conservá-lo apresentável. Tem um grau de atenção e de
diligência elevado, já o automóvel pessoal é sentido, um pouco, com o prolongamento do
próprio corpo. O condutor de automóvel alheio, sobretudo quando o dono seja uma pessoa
coletiva, mesmo quando seja sério, torna-se desleixado. Conduz com maior aspereza,
solicitando mais o motor, os travões e a direção, descura a manutenção, que não lhe diz
respeito, sente, em suma, o veículo como algo estranho.
Verifica-se ainda que o condutor/comissário é, em regra, um profissional da condução.
Tem mais experiência e mais conhecimento, sendo-lhe exigível maior diligência. Em caso de
acidente ele saberá, melhor que um leigo envolvido na confusão, como proceder, recolhendo
elementos, acordando depoimentos e chamando logo as pessoas certas. Em suma, na estrada,
em todos são iguais, uma vez que, lado a lado, ombreiam profissionais e amadores. A presunção
de culpa contra o comissário faz, assim, sentido.
P á g i n a | 43
4.8. A Solidariedade
O artigo 507º/1 fixa uma regra de solidariedade, quando a responsabilidade pelo risco
recaia sobre várias pessoas e isso mesmo quando haja culpa de alguma ou algumas. Se a culpa
P á g i n a | 44
fosse de todas, já havia solidariedade por via do artigo 497º/1. Pretende-se um máximo de
esforço para que os danos resultantes de acidentes de viação sejam, efetivamente, ressarcidos.
Para tanto, faz-se correr, pelos co-responsáveis, o risco da insolvência ou da recusa de algum
deles.
Quando algum dos co-responsáveis solidários seja chamado a pagar a indemnização, há
que regular as relações entre eles. O que pague tem direito de regresso contra os demais (524º).
Mas tal regresso tem regime especial que resulta do art.º 507º/2:
• Se todos respondem pelo risco, a indemnização reparte-se entre os
responsáveis de harmonia com o interesse de cada um na utilização do veículo;
• Se houver culpa de algum ou alguns deles, apenas os culpados respondem, os
restantes têm direito de regresso pleno contra eles;
• Havendo vários culpados, há que atentar na medida das culpas respetivas
(507º/2 com remissão para o 497º/2).
Quando não se consiga determinar a medida do interesse de cada um, eles presumem-
se iguais e essa mesma igualdade se presume no tocante à medida das culpas (497º/2 e 506º/2).
P á g i n a | 45
Nos termos de toda uma evolução jurídico-científica, entende-se hoje que, havendo
expropriação, o atingido tem o direito a ser indemnizado por exigência do princípio da
igualdade. Os sacrifícios impostos pelo interesse coletivo devem ser igualmente distribuídos por
todos, dentro da sociedade e não apenas concentrados nalguns, pela mera causalidade de, no
momento considerado, serem titulares dos interesses a atingir.
Procurando fixar diretrizes de ordem geral, encontramos dois requisitos:
• A permissão de causar um dano, através da inobservância de direitos subjetivos
ou de interesses juridicamente tutelados;
• A imposição de um dever de indemnizar.
1. As previsões de sacrifício
No CC há diversas previsões de imputação pelo sacrifício, podendo ser agrupadas em
três blocos:
• O estado de necessidade;
• A lesão ao direito de propriedade (também aplicável na presença de direitos
reais de gozo);
• O incumprimento de contratos (mantém-se os deveres acessórios,
nomeadamente a tutela da confiança, e esta obriga à eliminação dos danos,
através da indemnização).
O dever de indemnizar
P á g i n a | 46
• Tem, como fonte, um simples facto jurídico, uma vez que a respetiva
constituição não depende da vontade humana, considerada como tal;
• Tem, como sujeitos, o lesado e o imputado (credor e devedor);
• Tem, como conteúdo, uma prestação que se traduz na atividade necessária à
supressão do dano;
• Tem, por escopo, a aludida supressão.
Encontra-se presente dos artigos 562º a 572º.
2. Modalidades
A indemnização, enquanto vínculo obrigacional, pode ser classificada em várias
modalidades:
• O dos sujeitos;
• O do tipo de imputação;
• O da espécie de dano;
• O do conteúdo;
• O do escopo.
Quanto aos sujeitos, podemos considerar a indemnização como plural ou singular,
consoante se verifique, ou não fenómenos de complexidade subjetiva. A indemnização plural
pode ser solidária ou parciária, conforme os regimes concretamente aplicáveis.
Quanto ao tipo de imputação, a indemnização é delitual, pelo risco ou pelo sacrifício.
Quanto à espécie de dano a ressarcir é que permite distinguir entre danos morais, danos
patrimoniais, lucros cessantes, danos emergentes, etc.
Quanto ao conteúdo, a indemnização pode ser:
• Específica: quando a respetiva prestação implique a entrega ao lesado, de um
bem igual ao prejudicado;
• Pecuniária: quando haja, apenas, lugar à restituição do valor correspondente ao
da lesão, normalmente através de uma entrega em dinheiro.
Esta distinção prende-se, de perto, com uma outra que atende ao escopo visado pela
indemnização, o qual pode ser reconstitutivo, quando vise colocar o lesado na situação idêntica
à da lesão ou, tão só, compensatório, quando pretenda conceder, ao ofendido, bens a título de
compensação.
Com referência à distinção entre a indemnização pecuniária e a indemnização
específica, cumpre citar o art.º 566º/1 que diz que “a indemnização é fixada em dinheiro, sempre
que a reconstrução natural não seja possível, não repare integramente os danos ou seja
excessivamente onerosa para o devedor”. Resulta deste pretexto, uma nítida preferência pela
indemnização específica, exceto nos casos especialmente previstos na letra da lei.
P á g i n a | 47
P á g i n a | 48
P á g i n a | 49
regime de solidariedade. Como, porém, os ilícitos praticados pelos co-responsáveis podem ser
objeto de valorações diferentes, manda o nº2 do mesmo artigo que os respetivos regressos
tenham em conta as aludidas valorações.
Repare-se que a imputação delitual a várias pessoas funciona não apenas em caso de
co-autoria, mas também quanto aos instigadores ou auxiliares do ato ilícito (490º).
Como sequência da refutação da total relatividade das obrigações, deve entender-se
que qualquer terceiro que viole um crédito ou, de alguma forma, colabore com o devedor em
tal violação, é responsável, nos termos gerais, pelos prejuízos causados. Nenhuma dúvida
encontramos, em semelhante eventualidade, na aplicação do artigo 497º/1, com a
consequência natural da solidariedade entre o devedor e terceiro.