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À luz do quadro classificatório elencado por Marcuschi (2008), é possível afirmar que
as perguntas dos itens a e c são objetivas, dado que podem ser respondidas a partir de
informações que estão presentes no texto, o que não configura propriamente uma atividade de
compreensão e interpretação, mas sim de extração de informações objetivamente inscritas no
texto. Nesse sentido, é válido destacar, como afirma Marcuschi (2008), que perguntas desse
tipo não são inúteis, mas também não deveriam estar entre as que se caracterizam como de
compreensão e interpretação, dado que as respostas esperadas se baseiam em uma atividade
de pura decodificação.
Em contrapartida, a pergunta do item b – como já sugere o verbo deduza – exige do
aluno uma atividade inferencial, o que está além de extrair informações apresentadas no texto.
Assim, pelo conteúdo da pergunta e a reflexão exigida do aluno, ela pode ser classificada
como global, considerando-se que para respondê-la será necessário, a partir da leitura do texto
como um todo, recuperar conhecimentos de mundo, que, desse modo, não estão diretamente
inscritos no corpo do texto.
Dando sequência, partamos para a leitura e análise da questão de número 2:
2. Releia este trecho:
“Procedimentos estéticos, como clareamento de dentes, spas e, claro plásticas, são muito pedidos, ao
1
Chamaremos de questão um grupo de perguntas. As seis questões da subseção aqui analisada – Compreensão e
interpretação – apresentam duas ou três perguntas dispostas em itens (a, b, c).
2
No Anexo 2, pode-se observar a imagem da página do LD em que se encontra a subseção Compreensão e
interpretação, com as questões aqui analisadas e suas respectivas expectativas de respostas.
lado de roupas de grife, excursões, joias, celulares e todo tipo de eletrônico.”
Em relação a essa questão, é possível afirmar que as perguntas contidas nos itens a e b
são de caráter inferencial. Embora a resposta do item a esteja ligada a informações
apresentadas no trecho do texto, o aluno precisará fazer uma operação de sintetização3,
inferindo de que tipo são os pedidos trazidos no excerto. Na pergunta b, como sugere a
expressão levante hipóteses, o estudante deverá, numa atitude de inferência – que se
caracteriza como atividade de compreensão, segundo Marcuschi (2008) – mobilizar os seus
conhecimentos e relacioná-los às informações apresentadas no trecho do texto que compõe a
questão. Já a pergunta do item c assemelha-se às de tipologia subjetiva, tendo em mente que
solicita ao aluno a exposição de sua opinião sobre as atitudes dos adolescentes no que diz
respeito ao consumo desenfreado, juntamente com uma justificativa (por quê?) para a
resposta dada. Assim, sendo classificada como subjetiva, não depende do texto para ser
respondida. Isso impede que a rotulemos como pergunta de compreensão textual.
Em seguida, nas questões 3 e 4 temos:
a) Por que os pais se submetem à pressão de seus filhos, mesmo quando não têm condições?
b) Que consequências negativas podem ocorrem para a família, quando os pais cedem sem ter condições para
isso?
4. Sem condições, os pais se veem diante de duas opções: fazer sacrifícios e ceder aos pedidos dos filhos, ou
não ceder.
3
Condensação de várias informações tomando por base saliências lexicais sem que ocorra uma eliminação de
elementos essenciais. (MARCUSCHI, 2008, p. 255)
4
Sistema de Avaliação Educacional de Pernambuco.
Tal como assumiu Marcuschi, não pretendemos aqui rotular como descartáveis as
perguntas classificadas como objetivas e subjetivas – dentre outras que fogem do que se
deveria entender por compreensão de texto –, mas reconhecer o equívoco por parte dos
organizadores de LD, a exemplo do analisado, ao incluir questões desse tipo numa subseção
que tem o objetivo de trabalhar a compreensão textual, que é uma atividade de natureza
essencialmente inferencial (MARCUSCHI, 2008).
Na continuidade da atividade da subseção, temos a questão 5:
5. Já no final do texto, o narrador diz: “Uma coisa é certa: algumas equiparações são impossíveis”.
O enunciado dessa questão sugere que nela serão feitas reflexões acerca do título do
texto. Para responder à pergunta do item a, o aluno deverá não se limitar apenas às
informações do texto e isso se configura como atividade inferencial, ao passo em que sua
resposta deverá envolver também uma reflexão acerca do que o autor do texto pensa sobre os
jovens. Por esse motivo, a pergunta é classificada como inferencial. No entanto, a pergunta
contida no item b é tida como vale-tudo, pois poderia ser proposta desassociada do texto sem
grandes prejuízos, já que admite qualquer resposta (MARCUSCHI, 2008). Portanto, não
pode ser concebida como pergunta de compreensão e interpretação textual.
5
Note-se a presença da expressão já no final do texto no enunciado da questão (que é a penúltima).
Dessa forma, tendo chegado ao final da análise da primeira subseção, com questões
tomadas como de compreensão e interpretação, podemos montar um quadro das tipologias de
perguntas encontradas, com base na classificação elencada por Marcuschi (2008).
A partir da leitura do quadro, percebemos que a maior parte das perguntas da subseção
analisada é objetiva. Como apontamos anteriormente, as perguntas desse tipo convergem para
o descritor 6 do SAEPE: localizar informação explícita em um texto. Entretanto, isso não
significa que as questões sejam vistas como de compreensão e interpretação de texto, pois a
atividade de localizar informação explícita não necessita de inferências e pode ser resolvida
por meio da decodificação. Esse fato apenas reforça o que Marcuschi (2008) afirma sobre
sistemas de avaliação como o SAEB6: não estão isentos de falhas no que diz respeito ao
trabalho com a compreensão e a interpretação de textos.
Em contrapartida, o segundo grupo de perguntas – inferenciais e globais – contempla o
sétimo descritor da matriz do SAEPE: inferir informação em um texto. Como analisamos, as
perguntas desse tipo extrapolam os limites do próprio texto, sem, no entanto, perdê-lo de
vista. Nesse descritor, avalia-se a capacidade do aluno de, a partir do texto, identificar
informações que com ele dialogam. Isso contrasta o que acontece com as perguntas tipificadas
como subjetiva e vale-tudo. Estas não se enquadram em nenhum descritor da matriz de
referência do SAEPE, dado que, para ele, são elaboradas apenas questões de múltipla escolha,
não permitindo ao aluno expressar o seu posicionamento acerca dos textos lidos. Aqui, cabe
destacar também a importância de associar às atividades de compreensão os exercícios de
produção textual, pois, como destaca Marcuschi (2008), tais atividades não podem ser
desintegradas das de produção, já que, na perspectiva defendida pelo linguista, compreender
um texto é um trabalho de coautoria e de construção de sentidos.
Agora, analisando a segunda subseção de Estudo do texto, denominada A linguagem
do texto (Anexo 3), há um trabalho voltado para uma reflexão sobre a língua. A atividade
proposta é composta por três questões, as quais estão transcritas a seguir.
6
Sistema de Avaliação da Educação Básica, que serviu de base para a elaboração do SAEPE.
1. Na frase “agora ele queria uma camiseta „da hora‟”, o que significa a expressão da hora?
2. Na frase “(Não conseguiu. Hoje trabalha como vendedora em uma loja.)”, por que foram empregados os
parênteses?
Junte-se a um colega e leiam, um para o outro, o último parágrafo do texto, revezando a leitura.
Durante a leitura, procurem dar à voz entonações adequadas aos trechos de reflexão do narrador, que ficam
entre a indignação, a crítica e a ironia.
2. Considerando que o funk é um gênero musical de grande popularidade nas favelas e na periferia, discuta: Até
que ponto o conteúdo da canção é compatível com o perfil social dos consumidores desse gênero musical?
4. Compare o texto “A crueldade dos jovens”, de Walcyr Carrasco, com as letras das canções.
a) O que há em comum entre os valores dos adolescentes retratados na crônica e os valores veiculados nessas
canções?
b) Que diferença há entre os textos quanto à visão sobre o consumismo?
Nesta atividade, podemos perceber a interação das questões e perguntas com alguns
descritores da matriz de referência do SAEPE. Na questão 1 e em ambas as perguntas da
questão 4, há uma proposta de reflexão que envolve o décimo quarto descritor: reconhecer
semelhanças e/ou diferenças de ideias e opiniões na comparação entre textos que tratem da
mesma temática. Isso fica claro quando notamos que a primeira questão e o item a da questão
quatro indagam acerca das semelhanças existentes entre os textos; já o item b da última
questão leva o aluno a refletir sobre as diferenças existentes entre os textos no tratamento do
mesmo tema. Ademais, a questão de número 3 está ligada ao vigésimo sexto descritor:
identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e/ou o interlocutor. Em
contrapartida, a segunda questão da atividade exige do aluno uma inferência que deverá ser
feita a partir da leitura dos trechos de funk. Assim, podemos dizer que se trata de uma
pergunta de compreensão e interpretação textual do tipo global, conforme a classificação
elaborada por Marcuschi (2008).
Portanto, como a análise de uma das seções de Estudo do texto da coleção Português:
Linguagens nos permitiu mostrar, mesmo que o LD apresente um espaço voltado ao trabalho
com a compreensão e a interpretação de textos, muito ainda precisa ser maturado e melhorado
para que tenhamos resultados mais satisfatórios em pesquisas a exemplo desta e, mais do que
tudo, nos índices avaliativos da educação básica nesse tocante. Afirmamos isso, tendo em
vista que a maior problemática identificada, a partir da análise aqui realizada, está associada
às perguntas colocadas como de interpretação e compreensão textual. No entanto, como
afirma Marcuschi (2008), perceber nos organizadores de LD a tentativa de inserir atividades
desse tipo nas coleções de língua portuguesa já é um caminho andado. Sigamos nessa direção,
aprimorando o nosso olhar no que diz respeito ao ato de compreender um texto e sobre como
trabalhar com isso em sala de aula, em uma época em que a renovação das práticas docentes
no tocante a esse assunto está dando os seus primeiros passos.
REFERÊNCIAS