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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

LUAN LUCAS ARAÚJO MORAIS

RESENHA: “SINAIS: RAÍZES DE UM PARADIGMA INDICIÁRIO”

FORTALEZA - CEARÁ
2015
2

GINZBURG, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In: _________. Mitos,


Emblemas, Sinais: morfologia e história. Trad.: Federico Carotti. 2ª ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2009, p. 143-179.
Luan Lucas Araújo Morais1
luanlucas7@hotmail.com

Um dos historiadores mais conhecidos e produtivos de sua geração, o italiano Carlo


Ginzburg se destacou entre seus pares por ser um dos intelectuais pioneiros no estudo da
corrente historiográfica conhecida como “micro-história”2. Nascido em 1939 na cidade de
Turim, filho do professor e tradutor Leone Ginzburg e da romancista Natalia Ginzburg, desde
muito cedo o primeiro contato com as letras e o saber educativo foram comuns ao historiador.

Estudou e graduou-se em história pela Universidade de Pisa, em seguida partindo para


o Warburg Institute em Londres, onde concluiu seu doutoramento. Durante duas décadas foi
professor de História Moderna nas universidades de Bolonha, Harvard, Yale e Princeton,
passando também pela Universidade da Califórnia. Desde 2006, Ginzburg é professor da
cátedra de História Cultural Europeia na Escola Normal Superior de Pisa. Seus interesses como
pesquisador dedicam-se ao campo das atitudes mentais e crenças religiosas na Europa moderna,
produzindo assim um conjunto de obras que dão enfoque a tal linha de pesquisa. Dentre alguma
de suas principais produções estão: Os andarilhos do bem (1966); O queijo e os vermes
(1976); Mitos, emblemas, sinais (1986); História Noturna (1989); Olhos de madeira (1996)
e O fio e os rastros (2006), todas publicadas em português pela editora Companhia das Letras.

Ginzburg distingue-se de boa parte de seus colegas de profissão por ser adepto de um
estilo textual e teórico menos formal e em certo caso até, mais poético. Grande parte de sua
produção historiográfica tem no texto ensaístico as bases de suas posturas reflexivas sobre a
relação da história com outros campos do saber, colocando o italiano como um dos historiadores
que buscam discutir de forma mais concisa, crítica e abrangente a interdisciplinaridade nas mais
diversas esferas do conhecimento científico.

1
Graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e membro do Grupo de Pesquisa em Cultura
Escrita e Oralidade na Antiguidade e na Medievalidade (ARCHEA/UECE).
2
Diante das muitas “definições” sobre tal corrente teórica, a micro-história, grosso modo, pode ter em suas
múltiplas explicações um elemento comum, que trata em suma de “uma história das coisas pequenas e dos temas
circunscritos, voluntária, ou involuntariamente tomando distância das estruturas, dos processos históricos de longa
duração e dos grandes modelos interpretativos.” C. LIMA, Henrique Espada. Micro-História. In: FLAMARION,
Ciro; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 207, cap.11.
3

O ensaio aqui brevemente estudado pretende em seu desenvolver conceber as relações


que um determinado modelo de investigação pautado nos vestígios, indícios e procura de rastros
empreende na busca de um objeto ou de um acontecimento que possui raízes em algo muito
além da superficialidade costumeira.

Mas que caminho seguir para entender tal modelo, ou tal “paradigma”, utilizando a
nomenclatura do próprio Ginzburg? Na primeira parte de “Sinais”, a preocupação do autor é
logo apontar em sua fala o direcionamento do projeto, quando afirma que buscará “(...) mostrar
como, por volta do final do século XIX, emergiu, silenciosamente no âmbito das ciências
humanas um modelo epistemológico (caso se prefira, um paradigma) ao qual até agora não se
prestou suficiente atenção” (GINZBURG, 2009: 143).

Buscando primeiramente no campo das artes os primeiros indícios, Ginzburg (2009:


144) disserta sobre o médico italiano Giovanni Morelli (1816-1891), que sob o pseudônimo de
Ivan Lermolieff publica diversos artigos sobre um “novo método para atribuição dos quadros
antigos”, visto que para Morelli (Lermolieff) “devolver cada quadro ao seu verdadeiro autor é
difícil: muitíssimas vezes encontramo-nos frente a frente com obras não-assinadas, talvez
repintadas ou num mal estado de conservação”. Além de toda uma preocupação com a devida
atribuição entre obra/autor, o destaque inicial à Morelli se dá por conta do modelo adotado pelo
mesmo para realizar tal tarefa: o “método morelliano” consistia no enfoque e observação de
fatores mais “negligenciáveis” nas obras de arte, denotando uma atenção maior não nas
“características mais vistosas, portanto, mais facilmente imitáveis, dos quadros” mas sim nos
“pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados pelas características da escola a que
o pintor pertencia: os lóbulos das orelhas, as unhas, as formas dos dedos das mãos e dos pés”
(GINZBURG, 2009: 144).

Partindo assim, destes indícios menores, podemos visualizar uma perspectiva que se
abre no campo da investigação intelectual: características que até então não eram observadas
por serem “insignificantes” podem oferecer todo um leque de possibilidades no desenvolver de
uma investigação destinada a encontrar no diminuto, no micro, um panorama macro, envolto
de detalhes signicativos e simbólicos sobre o que ele mesmo se propõe a fornecer.

Seguindo adiante em suas observações sobre o modelo indiciário, Ginzburg relaciona


três personagens devido justamente à suas características profissionais e intelectuais como parte
de um processo maior de desenvolvimento sobre as relações entre os indícios e seus possíveis
significados: Sigmund Freud (1856-1939), Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) e o já
4

mencionado Morelli. O que os três possuem em comum? Quais suas ligações com o paradigma
estudado?

A relação entres os três indivíduos, em um primeiro momento impensável, torna-se clara


quando o autor expõe que o método morelliano se aproxima do método investigativo do detetive
criminal, ou mais especificamente, da maior criação de Conan Doyle, Sherlock Holmes: “O
conhecedor de arte é comparável ao detetive que descobre o autor do crime (do quadro) baseado
em indícios imperceptíveis para a maioria. Os exemplos da perspicácia de Holmes ao interpretar
pegadas na lama, cinzas de cigarro etc. são, como se sabe, incontáveis” (GINZBURG, 2009:
145).

Ademais, o historiador italiano cita um dos exemplos da aptidão intelectual de Holmes


e o uso de sua observação minuciosa sobre os pormenores. Um caso que o detetive mais famoso
da literatura mundial soluciona com a observação e descrição precisa de uma orelha feminina.
Como? Ginzburg ressalta que Conan Doyle antes de se dedicar às letras em tempo integral tinha
uma formação em medicina. E Morelli também era médico. E onde estaria Freud nessa relação?
O psicanalista austríaco, em uma proposta interpretativa da mente humana, sobre os dados
marginais que podem ser considerados reveladores, utilizava-se de um método centrado nos
resíduos discursivos de seus pacientes. Assim, os pormenores considerados sem importância
ou triviais, forneciam a chave interpretativa para aceder “aos produtos mais elevados do espírito
humano. Por fim, o próprio Ginzburg (2009: 150-151) finaliza tal ligação e a primeira parte do
ensaio da seguinte maneira:

[...] Nos três casos, pistas talvez infinitesimais permitem captar uma realidade mais
profunda, de outra forma inatingível. Pistas, mais precisamente, sintomas (no caso de
Freud), indícios (no caso de Sherlock Holmes), signos pictóricos (no caso de Morelli).
[...] Nos três casos, entrevê-se o modelo da semiótica médica: a disciplina que permite
diagnosticar as doenças inacessíveis à observação direta na base de sintomas
superficiais, às vezes irrelevantes aos olhos do leigo [...].

No segundo momento do ensaio, Ginzburg se dedica a detalhar ainda mais as raízes


antigas desse saber indiciário, atrelando-o ao conhecimento intuitivo e cognoscitivo que o
homem sempre possuiu em sua essência. Seja como um caçador que vigia e observa os rastros
deixados por sua presa, além de “farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais
como fios de barba” (GINZBURG, 2009:151). Ademais, o autor emparelha o paradigma do
médico/detetive/caçador com o modelo divinatório, ligado à adivinhação. Como ele mesmo
demonstra “pode-se falar de paradigma indiciário ou divinatório, dirigido, segundo as formas
de saber, para o passado, o presente ou o futuro. [...] Mas, por trás desse paradigma indiciário
5

ou divinatório, entrevê-se o gesto talvez mais antigo da história intelectual do gênero humano:
o do caçador agachado na lama, que escruta as pistas da presa” (GINZBURG, 2009: 154).

Mais à frente do texto, o autor ocupa-se por discutir o lugar das disciplinas indiciárias
(filologia, história, medicina, etc.) e sua relação com o conhecimento dito “galileano”, ou seja,
de cunho experimental e quantitativo, pois “a ciência galileana tinha uma natureza totalmente
diversa, que poderia adotar o lema escolástico indiviuduum est ineffabile, do que é individual
não se pode falar” (GINZBURG, 2009: 156). Dessa forma, Ginzburg (2009: 156-157) mostra
o porquê do saber histórico não se encaixar em tal quadro, visto que para ele “a história se
manteve como uma ciência social sui generis, irremediavelmente ligada ao concreto”,
justificando que suas formas de expressão se mantém dentro de uma lógica individualizante,
comparando o historiador ao médico, dado que como o saber ligado à medicina “o
conhecimento histórico é indireto, indiciário, conjetural”. Em um outro escrito sobre a noção
de prova, evidência e indício, Ginzburg aponta que:

[...] os historiadores – lidem eles com fenômenos recentes ou mesmo em processo –


nunca se aproximam diretamente da realidade. Seu trabalho é necessariamente
inferencial. Uma evidência histórica pode ser tanto involuntária (um crânio, uma
pegada, despojos de comida) quanto voluntária (uma crônica, um ato notorial, um
garfo). Mas, em ambos os casos, um paradigma interpretativo específico é necessário,
devendo ser relacionado (no último caso) a um código específico, segundo o qual a
evidência se constrói.3

Adentrando na terceira e última parte de “Sinais”, o autor propõe uma desarticulação do


modelo indiciário. Pois o mesmo percebe que com o desenvolver dos séculos, o paradigma
vinha desenvolvendo em seu âmago “uma tendência cada vez mais nítida de controle qualitativo
e minucioso sobre a sociedade por parte do poder estatal, que utilizava uma noção de indivíduo
baseada, também ela, em traços mínimos e involuntários” (GINZBURG, 2009: 171). De fato,
a preocupação existente numa Europa que aos poucos sentia os efeitos do sistema capitalista
sobre a questão da individualidade e identidade remete o autor sobre a ponte que conecta o
saber indiciário com a questão criminal de reconhecer, classificar e identificar reincidentes nos
delitos. Nesta parte, Ginzburg discursa sobre as formas que o Estado empregou para um melhor
controle das ações individuais: sistema carcerário, retratos falados, impressões digitais, o
desenvolver da paleografia, etc.

Em vista disso, Ginzburg (2009: 177) infere que o mesmo paradigma indiciário usado
para elaborar formas de controle social, sutis e minuciosas, por outro lado, pode se converter

3
GINZBURG, Carlo. Controlando a Evidência: o juiz e o historiador. In: DA SILVA, André Forastieri; NOVAIS,
FERNANDO A (orgs.). Nova História em Perspectiva V.1: propostas e desdobramentos. São Paulo: Cosac
Naify, 2011, p. 348, cap. 13.
6

num instrumento para dissolver as “névoas da ideologia que obscurecem uma estrutura social”,
ressaltando que alguns indícios mínimos eram assumidos como elementos reveladores de
fenômenos gerais, como para a visão de mundo de uma dada classe social, de um escritor ou de
toda uma sociedade. Sobre o rigor que o paradigma esmiuçado teria no âmbito cotidiano e
acadêmico, Ginzburg expõe um entrave, deveria este modelo “assumir um estatuto científico
frágil para chegar resultados relevantes, ou assumir um estatuto científico forte para chegar a
resultados de pouca relevância”?

Uma das “saídas” propostas pelo autor seria o uso do imponderável, de elementos como
o “faro, golpe de vista, intuição” (GINZBURG, 2009: 179). Se anteriormente o homem tinha
como “irracional” o saber meramente divinatório e adivinho, com o desenvolver do campo
cognoscitivo inerente ao seu “ser”, este passa a apoderar-se do “racional”, do concreto, de modo
a permiti-lo compreender a dinâmica na qual está inserido. A “intuição” aqui evocada pelo
italiano está “difundida no mundo todo, sem limites geográficos, históricos étnicos, sexuais ou
de classe” (GINZBURG, 2009: 179), pretende demonstrar que “se a realidade é opaca, existem
zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la.

Ainda que o paradigma indiciário não se resuma somente ao campo das ciências
humanas, o autor que tenta destrinchá-lo pertence à uma formação localizada em tal âmbito.
Temos um historiador em diálogos profundos e profícuos com a arte, a medicina, a linguística
e a literatura. Por tal motivo, talvez a noção de “embate” seja muito frequente ao longo de todo
o ensaio. Entretanto, como o próprio Ginzburg procura demonstrar de maneira detalhada, aquilo
que torna o saber indiciário atuante é justamente o fato do mesmo articular-se muito bem nas
mais diversas esferas do conhecimento.

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