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CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
FORTALEZA - CEARÁ
2015
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Ginzburg distingue-se de boa parte de seus colegas de profissão por ser adepto de um
estilo textual e teórico menos formal e em certo caso até, mais poético. Grande parte de sua
produção historiográfica tem no texto ensaístico as bases de suas posturas reflexivas sobre a
relação da história com outros campos do saber, colocando o italiano como um dos historiadores
que buscam discutir de forma mais concisa, crítica e abrangente a interdisciplinaridade nas mais
diversas esferas do conhecimento científico.
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Graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e membro do Grupo de Pesquisa em Cultura
Escrita e Oralidade na Antiguidade e na Medievalidade (ARCHEA/UECE).
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Diante das muitas “definições” sobre tal corrente teórica, a micro-história, grosso modo, pode ter em suas
múltiplas explicações um elemento comum, que trata em suma de “uma história das coisas pequenas e dos temas
circunscritos, voluntária, ou involuntariamente tomando distância das estruturas, dos processos históricos de longa
duração e dos grandes modelos interpretativos.” C. LIMA, Henrique Espada. Micro-História. In: FLAMARION,
Ciro; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 207, cap.11.
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Mas que caminho seguir para entender tal modelo, ou tal “paradigma”, utilizando a
nomenclatura do próprio Ginzburg? Na primeira parte de “Sinais”, a preocupação do autor é
logo apontar em sua fala o direcionamento do projeto, quando afirma que buscará “(...) mostrar
como, por volta do final do século XIX, emergiu, silenciosamente no âmbito das ciências
humanas um modelo epistemológico (caso se prefira, um paradigma) ao qual até agora não se
prestou suficiente atenção” (GINZBURG, 2009: 143).
Partindo assim, destes indícios menores, podemos visualizar uma perspectiva que se
abre no campo da investigação intelectual: características que até então não eram observadas
por serem “insignificantes” podem oferecer todo um leque de possibilidades no desenvolver de
uma investigação destinada a encontrar no diminuto, no micro, um panorama macro, envolto
de detalhes signicativos e simbólicos sobre o que ele mesmo se propõe a fornecer.
mencionado Morelli. O que os três possuem em comum? Quais suas ligações com o paradigma
estudado?
[...] Nos três casos, pistas talvez infinitesimais permitem captar uma realidade mais
profunda, de outra forma inatingível. Pistas, mais precisamente, sintomas (no caso de
Freud), indícios (no caso de Sherlock Holmes), signos pictóricos (no caso de Morelli).
[...] Nos três casos, entrevê-se o modelo da semiótica médica: a disciplina que permite
diagnosticar as doenças inacessíveis à observação direta na base de sintomas
superficiais, às vezes irrelevantes aos olhos do leigo [...].
ou divinatório, entrevê-se o gesto talvez mais antigo da história intelectual do gênero humano:
o do caçador agachado na lama, que escruta as pistas da presa” (GINZBURG, 2009: 154).
Mais à frente do texto, o autor ocupa-se por discutir o lugar das disciplinas indiciárias
(filologia, história, medicina, etc.) e sua relação com o conhecimento dito “galileano”, ou seja,
de cunho experimental e quantitativo, pois “a ciência galileana tinha uma natureza totalmente
diversa, que poderia adotar o lema escolástico indiviuduum est ineffabile, do que é individual
não se pode falar” (GINZBURG, 2009: 156). Dessa forma, Ginzburg (2009: 156-157) mostra
o porquê do saber histórico não se encaixar em tal quadro, visto que para ele “a história se
manteve como uma ciência social sui generis, irremediavelmente ligada ao concreto”,
justificando que suas formas de expressão se mantém dentro de uma lógica individualizante,
comparando o historiador ao médico, dado que como o saber ligado à medicina “o
conhecimento histórico é indireto, indiciário, conjetural”. Em um outro escrito sobre a noção
de prova, evidência e indício, Ginzburg aponta que:
Em vista disso, Ginzburg (2009: 177) infere que o mesmo paradigma indiciário usado
para elaborar formas de controle social, sutis e minuciosas, por outro lado, pode se converter
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GINZBURG, Carlo. Controlando a Evidência: o juiz e o historiador. In: DA SILVA, André Forastieri; NOVAIS,
FERNANDO A (orgs.). Nova História em Perspectiva V.1: propostas e desdobramentos. São Paulo: Cosac
Naify, 2011, p. 348, cap. 13.
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num instrumento para dissolver as “névoas da ideologia que obscurecem uma estrutura social”,
ressaltando que alguns indícios mínimos eram assumidos como elementos reveladores de
fenômenos gerais, como para a visão de mundo de uma dada classe social, de um escritor ou de
toda uma sociedade. Sobre o rigor que o paradigma esmiuçado teria no âmbito cotidiano e
acadêmico, Ginzburg expõe um entrave, deveria este modelo “assumir um estatuto científico
frágil para chegar resultados relevantes, ou assumir um estatuto científico forte para chegar a
resultados de pouca relevância”?
Uma das “saídas” propostas pelo autor seria o uso do imponderável, de elementos como
o “faro, golpe de vista, intuição” (GINZBURG, 2009: 179). Se anteriormente o homem tinha
como “irracional” o saber meramente divinatório e adivinho, com o desenvolver do campo
cognoscitivo inerente ao seu “ser”, este passa a apoderar-se do “racional”, do concreto, de modo
a permiti-lo compreender a dinâmica na qual está inserido. A “intuição” aqui evocada pelo
italiano está “difundida no mundo todo, sem limites geográficos, históricos étnicos, sexuais ou
de classe” (GINZBURG, 2009: 179), pretende demonstrar que “se a realidade é opaca, existem
zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la.
Ainda que o paradigma indiciário não se resuma somente ao campo das ciências
humanas, o autor que tenta destrinchá-lo pertence à uma formação localizada em tal âmbito.
Temos um historiador em diálogos profundos e profícuos com a arte, a medicina, a linguística
e a literatura. Por tal motivo, talvez a noção de “embate” seja muito frequente ao longo de todo
o ensaio. Entretanto, como o próprio Ginzburg procura demonstrar de maneira detalhada, aquilo
que torna o saber indiciário atuante é justamente o fato do mesmo articular-se muito bem nas
mais diversas esferas do conhecimento.