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O PRINCÍPIO SOLA SCRIPTURA NO ADVENTISMO

Isaac Malheiros Meira Junior1


RESUMO:
O objetivo deste artigo é fazer uma avaliação do recente debate a respeito da
posição da Bíblia como fonte de verdades doutrinárias na Igreja Adventista do
Sétimo Dia (IASD). Para isso, a posição oficial e majoritária da teologia Adventista
sobre o tema será exposta, e a tensão entre teólogos adventistas em torno de
definições e conceitos de sola Scriptura e prima Scriptura será analisada.
Também será descrita a posição de Ellen White, figura importante no movimento
Adventista, e as consequências do debate dentro da perspectiva da IASD serão
avaliadas. Por fim, será sugerida uma definição de sola Scriptura que faça justiça
à posição histórica da IASD sobre a autoridade das Escrituras. A pesquisa
utilizará o método da revisão bibliográfica. Com base no artigo, é possível concluir
que, qualquer que seja a posição defendida no debate, é urgente ter seus
conceitos plenamente esclarecidos, tendo consciência de como o conceito de sola
Scriptura afeta a relação entre os escritos de Ellen White e a Bíblia na teologia
Adventista.

PALAVRAS-CHAVE: Sola Scriptura. Prima Scriptura. Teologia Adventista. Ellen


White.

ABSTRACT:
The goal of this paper is to review the recent debate about the position of the Bible
as a source of doctrinal truths in the Seventh-day Adventist Church (SDA). To this
end, the official and mainstream position of the Adventist theology on the subject
will be exposed. Then this paper will analyze the tension between Adventist
theologians around definitions and concepts of sola Scriptura and prima Scriptura.
Later, the consequences of the debate will be assessed from the perspective of
the SDA. Finally, the position of Ellen White, a major figure in the Adventist
movement, will be described. The research uses the method of literature review.
Based on the article, it is possible to conclude that, whatever the position defended
in the debate, it is urgent to have concepts fully explained and clarified, knowing
how the concept of sola Scriptura affects the relationship between the writings of
Ellen White and the Bible in Adventist theology.

KEYWORDS: Sola Scriptura. Prima Scriptura. Adventist theology. Adventist


doctrines. .

1
O autor é mestrando em Teologia na Escola Superior de Teologia, São Leopoldo-RS. E-mail:
pr_isaac@yahoo.com

1
INTRODUÇÃO

Como bem demonstrou George Knight, o adventismo não nasceu num vácuo,
mas foi influenciado pelas diversas correntes teológicas relacionadas às origens de
seus pioneiros.2
A presente pesquisa demonstrará que, desde o início, prevaleceu no
adventismo um conceito radical de sola Scriptura, ligado às raízes
anabatistas/restauracionistas de alguns de seus líderes pioneiros, e que tal visão se
tornou majoritária e oficialmente aceita na IASD até os dias de hoje. Mas, em razão da
forte influência do metodismo wesleyano e seu “quadrilátero wesleyano”3 no
adventismo, e a fim de conciliar o impacto dos escritos de Ellen G. White na teologia
adventista, alguns autores recentemente têm proposto um conceito de prima Scriptura
(no qual a Bíblia teria primazia, não exclusividade) como substituto de sola Scriptura.4
Essa pesquisa fará uma descrição panorâmica do recente debate a respeito do
conceito de sola Scriptura na teologia da IASD. Ao analisar as principais visões sobre o
assunto, fica claro que há uma carência de definições mais precisas de termos e
conceituações mais objetivas, o que pode gerar desentendimentos.
Diante desse quadro, surge uma pergunta essencial: será que o princípio sola
Scriptura entra em conflito com o uso que os adventistas fazem dos escritos de Ellen
G. White? Alguns autores entendem que se sola Scriptura for um princípio radical, isso
removeria Ellen White de sua posição como fonte de autoridade além da Bíblia no
adventismo. Outros entendem que nem mesmo o conceito restauracionista radical de
sola Scriptura poderia invalidar o ministério de Ellen G. White. E é possível verificar que
a própria Ellen White defendia um conceito radical de sola Scriptura. Cada uma dessas
posições tem profundos desdobramentos na teologia adventista.

2
KNIGHT, George R. Em busca de identidade: o desenvolvimento das doutrinas Adventistas do Sétimo
Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005. p. 29-37.
3
O “quadrilátero wesleyano” é a teoria metodista que ensina a existência de quatro autoridades em
assuntos religiosos: a Bíblia, a Razão, a Tradição, e a Experiência As Escrituras devem ser interpretadas
pela Razão, pela Tradição e pela Experiência pessoal com Deus. Mas as Escrituras são a suprema
autoridade.
4
WHIDDEN, Woodrow. Sola Scriptura, Inerrantist Fundamentalism, and the Wesleyan quadrilateral: Is
‘No Creed but the Bible’ a workable solution? Andrews University Seminary Studies. 1997. p. 216-223.
Disponível em: < http://documents.adventistarchives.org/ScholarlyJournals/AUSS/AUSS19971001-V35-
02.pdf>. Acesso em 15 de Janeiro de 2014.

2
Não faz parte dos objetivos desse artigo discutir se sola Scriptura é ou não é
um princípio bíblico.

2. A POSIÇÃO OFICIAL DA IGREJA ADVENTISTA

Desde o seu início, os Adventistas do Sétimo Dia têm mantido o conceito de


que a Bíblia é a sua “única regra de fé e prática”,5 o “único credo”,6 e o meio através do
qual “Deus transmitiu ao homem o conhecimento necessário para a salvação”. 7 Todo
membro da IASD concorda que a Bíblia é “a única regra de fé e prática para o cristão”.8
O livro Questões sobre Doutrina, fruto do diálogo entre líderes adventistas e
líderes evangélicos nos anos 1950, afirma que os adventistas reconhecem a Bíblia
como “última e definitiva autoridade sobre o que é verdade”, e “sustentam a posição
protestante de que a Bíblia, e somente a Bíblia, é a única regra de fé e prática para os
cristãos”.9
O documento Métodos de Estudo da Bíblia, aprovado oficialmente pela IASD
em 1986, declara que a Bíblia é “a revelação clara e infalível da vontade de Deus e de
Sua salvação. [...] e o único padrão pelo qual todos os ensinos e experiências devem
ser provados”.10 Em 1995, a IASD aprovou e divulgou oficialmente uma declaração que
descrevia a Bíblia como “a revelação infalível da vontade de Deus, a norma para os
valores cristãos, a medida de todas as coisas dentro da experiência humana e o único
guia confiável para a salvação em Cristo”.11
Ao utilizar expressões como “única regra” e “único padrão”, o adventismo
remete ao conceito resumido na expressão em latim sola Scriptura,12 que significa

5
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA. Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 47.
6
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2011, p. 163.
7
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2011, p. 163.
8
Ver o item n. 5, em IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2011, p. 47, 49.
9
KNIGHT, George R (ed.). Questões sobre doutrina: o clássico mais polêmico da história do
adventismo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008. p. 53-54.
10
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA. Declarações da Igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,
2003. p. 180.
11
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2003, p. 81.
12
Literalmente, sola Scriptura significa “somente pela Escritura”, e não “a Escritura somente”. Assim,
quando o adventismo advoga “a Bíblia, e a Bíblia só” está indo além do que o conceito expressa

3
“somente pela Escritura” e foi um dos lemas da Reforma Protestante.13
Publicada em 1974, uma das principais e mais influentes exposições da
hermenêutica adventista do sétimo dia, afirma que “intérpretes adventistas da Bíblia
geralmente tem aceitado esse princípio [sola Scriptura] e mantido que a Bíblia somente
é nossa infalível regra de fé, doutrina, reforma, e prática”.14 A mesma publicação revela
que, na visão adventista, sola Scriptura aponta para a suprema e exclusiva autoridade
da Bíblia em matéria de doutrina e salvação.15
No entanto, na literatura adventista, existem várias nuances e aplicações do
conceito sola Scriptura, desde o conceito radical e exclusivo16 até o conceito que
admite outras fontes além da Bíblia (como a tradição) e submissas a ela.17
Aparentemente, existem diferentes versões de sola Scriptura coexistindo na
teologia adventista. Por isso, não fica imediatamente claro ao leitor a que exatamente
os autores se referem quando utilizam a expressão sola Scriptura. E essa dificuldade
de definir com precisão e de maneira consensual o termo vem desde os tempos da
Reforma Protestante.

2.1 As raízes anabatistas do conceito adventista de sola Scriptura

O princípio sola Scriptura não foi entendido e aplicado de maneira uniforme

literalmente. Isso pode ser explicado pelas raízes que ligam o adventismo aos reformadores radicais,
especialmente os anabatistas, que defendiam um conceito sola Scriptura bem restrito e radicalizado.
13
DAVIDSON, Richard M. Interpretação bíblica. In: DEDEREN, Raoul (ed.). Tratado de teologia
Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 70-71.
14
HASEL, Gerhard F. Principles of biblical interpretation. In: HYDE, Gordon M. (Ed.). A Simposyum on
Biblical Hermeneutics. Washington, DC: Biblical Research Committee, 1974. p. 167.
15
HASEL, 1974. p. 167.
16
Também é chamado de nuda Scriptura, ou “solo” Scriptura. Trata-se de uma redefinição para
diferenciar esse conceito exclusivo, dos Reformadores Radicais, do conceito sola Scriptura mais amplo
dos Reformadores Magisteriais – o conceito correto na opinião de alguns. Ver, por exemplo, MATHISON.
Keith A. The Shape of Sola Scriptura. Moscow, ID: Canon Press, 2001. p. 237-254.
17
Esse seria o conceito correto para MATHISON. 2001. p. 161. Mathison classifica a influência da
tradição na abordagem às Escrituras em níveis: Tradição 0 (“solo” Scriptura): a total ausência de
tradição, em sua opinião, um ponto de vista radical e censurável, defendido por alguns evangélicos
tradicionais; Tradição 1 (sola Scriptura): o autêntico princípio reconhecido por evangélicos tradicionais e
progressistas, que reconhece o valor da tradição em submissão à Bíblia e vinculada a ela; Tradição 2
(posição católica do Concílio de Trento):defende a validade da tradição adicional da Igreja como
autoridade; esta é uma posição inválida para evangélicos; e Tradição 3 (posição católica atual): a
Escritura e a Tradição são interpretadas pelo Magistério da igreja.

4
entre os reformadores Magisteriais e Radicais.18 Lutero e os Reformadores Magisteriais
não defendiam um conceito de sola Scriptura tão estrito como os Radicais (anabatistas,
por exemplo). C.D. Allert sugere que o apelo “a Bíblia e a Bíblia somente” deveria ser
aplicado apenas ao ramo radical da Reforma (especialmente os anabatistas), 19 pois os
Reformadores conhecidos como Magisteriais tinham uma compreensão de sola
Scriptura mais aberta, diferente dos Radicais.20 Segundo Alister McGrath, os únicos
protestantes que aplicaram consistentemente o princípio sola Scriptura foram os
Reformadores Radicais (ou anabatistas).21
Nesse ponto de vista, alguns eruditos defendem que o lema da ala não radical
da Reforma Protestante seria mais bem representado pelo conceito prima Scriptura em
vez de sola Scriptura.22 Isso revela a ausência de um significado único para sola
Scriptura, o que gera ambiguidades e confusões, como veremos.
Por ser fruto de um contexto multidenominacional, o adventismo herdou as
variadas concepções de sola Scriptura. Entre os pioneiros adventistas havia o
pensamento “restauracionista”23 (que defendia um sola Scriptura radical) e o
pensamento reformado clássico (que defendia um sola Scriptura mais moderado).
Assim, é compreensível que sola Scriptura não tivesse (e não tenha) uma definição e
uma aplicação padronizada.
Mesmo assim, a história mostra que os adventistas eram, em geral, mais
radicais na aplicação do conceito que os Reformadores Magisteriais, reduzindo muito a
importância da tradição.24 A visão adventista das Escrituras está ligada à da Reforma

18
O termo Reforma Magisterial designa um ramo da Reforma que contou com o apoio das autoridades
institucionais para sua realização (ramo representado por nomes como Lutero, Zwínglio, Calvino, Knox).
Por outro lado, a Reforma Radical prosseguiu fora e em dissidência do Estado (Karlstadt, Müntzer, Meno
Simons). LINDBERG, Carter. Reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001. p. 26-27.
19
ALLERT, C.D. What are we trying to conserve? Evangelicalism and sola Scriptura. Evangelical
Quarterly.Volume 76, número 4, 2004. p. 340 (nota 5). Disponível em <
http://www.biblicalstudies.org.uk/pdf/eq/sola-scriptura_allert.pdf>. Acesso em 12 de Abril de 2014.
20
ALLERT, 2004, p. 338.
21
MCGRATH, Alister E. Reformation Thought: An Introduction. Chichester: Wiley-Blackwell, 2012. p.
101.
22
STEINMETZ, David C. Luther and formation in faith. In: VAN ENGEN, John H. (Ed.) Educating People
of Faith: Exploring the History of Jewish and Christian Communities. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2004.
p. 257. O autor afirma que para os Reformadores, sola Scriptura geralmente significava prima Scriptura.
23
O restauracionismo foi um movimento de retorno à Bíblia que influenciou outros movimentos religiosos
no início do século XIX. Os restauracionistas, assim como os antigos anabatistas, eram radicais em sua
visão de sola Scriptura.
24
TIMM, 2007, p. 7.

5
Radical anabatista, cujo conceito exclusivo de sola Scriptura moldou a abordagem
bíblica adventista, especialmente através da influência do conceito “restauracionista” da
Conexão Cristã, a denominação de alguns dos líderes pioneiros do adventismo.25 Essa
postura bíblica radical proporcionou a desconstrução e o recomeço doutrinário que
marcou o adventismo primitvo.26

3. O DEBATE ATUAL: SOLA SCRIPTURA OU PRIMA SCRIPTURA?

Fernando Canale descreve duas correntes de pensamento competindo a


respeito das fontes da teologia cristã no adventismo: sola Scriptura e prima Scriptura.
De acordo com as definições de Canale:

“o ponto de vista sola Scriptura sustenta que somente a Escritura pode


prover dados teológicos. O ponto de vista prima Scriptura sustenta que
a teologia adventista deve construir suas doutrinas sobre uma
pluralidade de fontes, entre as quais a Escritura tem o papel principal ou
normativo. Círculos evangélicos identificam essa pluralidade de fontes
como o Quadrilátero Wesleyano”.27

Para alguns autores adventistas, a expressão sola Scriptura aponta um


conceito um mais radical e exclusivo, no qual a Bíblia é vista como a única
autoridade.28 Essa visão não admite o “Quadrilátero Wesleyano”, pois tal conceito
rebaixaria a Escritura de sua posição soberana.29 Nessa versão radical de sola
Scriptura, a exclusividade e a suficiência da Bíblia tornariam desnecessária a utilização
de outras fontes.30

25
KNIGHT, 2005, p. 29-30.
26
KNIGHT, George R. If I were the devil: seeing through the enemy’s smokescreen: contemporary
challenges facing Adventism. Hagerstown, MD: Review and Herald, 2007. p. 32-33.
27
CANALE, Fernando. Creation, Evolution, and Theology: The Role of Method in Theological
Accommodation. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2005. p. 98.
28
TIMM, Alberto R. Antecedentes históricos da interpretação bíblica adventista. In: REID, George W.
(Ed.). Compreendendo as Escrituras: uma abordagem adventista. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress,
2007. p. 3-4; VAN BEMMELEN, Peter M. Revelação e inspiração. DEDEREN, Raoul (Ed.). Tratado de
teologia Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 49; GULLEY, Norman
R. Systematic Theology: Prolegomena. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2003. p. 373.
29
GULLEY, 2003, p. 557.
30
HASEL, Frank M. Pressuposições na interpretação das Escrituras. In: REID, George W. (Ed.).
Compreendendo as Escrituras: uma abordagem adventista. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007. p.
37.

6
Essa tem sido a posição histórica da IASD com relação a sola Scriptura. Para
George Knight, graves controvérsias teológicas surgiram por causa do afastamento por
parte de alguns líderes adventistas dessas “raízes radicais e bíblicas da sola Scriptura
dos fundadores de sua mensagem”.31 Essas raízes radicais incluíam um conceito
exclusivista de “a Bíblia, e a Bíblia somente” (sola Scriptura, e não prima Scriptura).
Em defesa de sola Scriptura, Canale alerta que, no final do século XX, alguns
setores da comunidade teológica adventista abandonaram o princípio sola Scriptura
sobre o qual os pioneiros haviam construído seu sistema teológico, substituindo-o pelas
múltiplas fontes sobre as quais os teólogos católicos e protestantes construíram suas
teologias.32
Van Bemmelen alerta que o princípio da autoridade suprema das Escrituras
(sola Scriptura) corre o perigo, nos dias atuais, de ser ostensivamente atacado ou
sutilmente substituído.33 Segundo ele, “ao ser exaltada a autoridade da razão, da
tradição e da ciência, muitos passaram a negar ou a limitar a autoridade das
Escrituras”.34
Mesmo assim, alguns autores adventistas têm proposto um conceito de prima
Scriptura como substituto de sola Scriptura. Tais autores entendem que um sola
Scriptura como dos Reformadores Radicais excluiria Ellen White, que é considerada
outra fonte de autoridade além da Bíblia no adventismo.35
Fritz Guy, por exemplo, afirma que o lema sola Scriptura:

tem sido um exagero polêmico. Historicamente e por experiência, um


lema mais acurado é prima Scriptura, ‘pela Escritura primeiramente’,
talvez ainda melhor seria a afirmação de algo semelhante ao
“quadrilátero Wesleyano” que inclui a Escritura, tradição, razão e

31
KNIGHT, 2005. p. 95.
32
CANALE, Fernando. From Vision to System: Finishing the Task of Adventist Theology, Part I: Historical
Review. Journal of the Adventist Theological Society. Vol. 15. Número 2, 2004. p. 20. Disponível em:
< http://www.atsjats.org/publication_file.php?pub_id=4>. Acesso em 23 de Maio de 2014.
33
VAN BEMMELEN, 2011, p. 49.
34
VAN BEMMELEN, 2011, p. 49.
35
Ver, por exemplo, GUY, Fritz. Thinking Theologically: Adventist Christianity and the Interpretation of
Faith. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1999. p. 220; MUELLER, Ekkerhardt. Diretrizes
para a interpretação das Escrituras. In: REID, George W. (Ed.). Compreendendo as Escrituras: uma
abordagem adventista. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007. p. 131-132; WHIDDEN, Woodrow. Ellen
White and John Wesley: Wesley and his American children laid the foundation for the core of Adventist
teachings of Salvation. Spectrum. Vol. 25. Número 5, Setembro de 1996. p. 48; WHIDDEN, 1997. p.
215.

7
36
experiência.

Whidden afirma que é impossível fugir de alguma moldura ou influência da


tradição, e por isso “nenhum crente bíblico é estritamente sola Scriptura em qualquer
área do discurso teológico”.37 Tim Crosby sugere sem ambiguidades que, em vez de
sola Scriptura, os cristãos deveriam pensar em termos de prima Scriptura.38
Na mesma direção, David Larson afirma que é mais vantajoso seguir a
compreensão metodista e da Reforma inglesa de sola Scriptura, que entende tal
princípio como uma referência à primazia, e não à exclusividade, da autoridade
bíblica.39 A justificativa de Larson é que o princípio sola Scriptura “é muitas vezes
usado não só para promover a primazia da Bíblia, mas também para proteger
interpretações particulares das Escrituras, interpretações que frequentemente
trabalham para a vantagem de alguns à custa dos outros”.40
Mesmo os teólogos adventistas que se opõem à substituição de sola Scriptura
por prima Scriptura reconhecem que há outras fontes que contribuem para o
desenvolvimento da teologia adventista.41 E esse reconhecimento também pode gerar
confusões. Frank Hasel, por exemplo, defende que o princípio sola Scriptura aponta
para o reconhecimento da “autoridade única das Escrituras”.42 No entanto, ele afirma,
tomando emprestado um conceito luterano, que as Escrituras são a norma
predominante (norma normans), e outras autoridades tais como experiência religiosa,
razão humana e tradição são regidas pelas Escrituras (elas são normas dirigidas,
norma normata).43 Em outras palavras, Hasel reconhece a existência e a autoridade de
outras fontes, mas todas se submetem à Bíblia. Esse é um conceito que, sem
esclarecimentos adicionais, aproxima-se da essência de prima Scriptura.44

36
GUY, 1999, p. 137.
37
WHIDDEN, 1997. p. 220.
38
CROSBY, Tim. Why I don't believe in Sola Scriptura. Ministry. Outubro de 1987. p. 13-15.
39
LARSON, David. Wesley keeps Dad and Me Talking: Rediscovering Wesley’s loom of faith (faith,
tradition, reason, and experience) can reknit the Adventist Community. Spectrum. Vol. 25. Número 5,
Setembro de 1996. p. 43.
40
LARSON, 1996, p. 44.
41
Ver HASEL, 2007, p. 38, 42; DAVIDSON, 2011, p. 70.
42
HASEL, 2007, p. 36.
43
HASEL, 2007, p. 36.
44
No entanto, Hasel admite essas fontes apenas como ferramentas úteis para a compreensão da Biblia,
e não como fontes de verdades doutrinárias essenciais para a salvação.

8
No entanto, apesar de usar uma linguagem que se aproxima de prima
Scriptura, Hasel rejeita claramente tal princípio. Ele esclarece que “afirmar que as
Escrituras são a fonte final e exclusiva para sua própria interpretação é mais do que
defender a primazia delas. Isto é afirmado até mesmo pela Igreja Católica Romana”.45
Só então fica claro em que sentido o conceito de exclusividade da Bíblia é utilizado por
Hasel. A linguagem utilizada para defender sola Scriptura nem sempre é clara e
esbarra em definições imprecisas.

3.1 O problema das definições imprecisas

Na discussão teológica a respeito de sola Scriptura existem definições


diferentes, obscuras e conceitos soterrados por palavras e expressões não muito
claras. Ao falar sobre a Escritura como fonte da verdade e da doutrina, adjetivos como
"primário", "supremo", "final", abrem espaço para a possibilidade da Bíblia não ser a
"única" fonte da verdade e da doutrina.
Nessas definições, sola Scriptura pode significar desde “exclusividade” até
“primazia” das Escrituras. Com definições imprecisas, não fica claro se ao promoverem
a troca de sola Scriptura por prima Scriptura os autores estão propondo apenas uma
mudança na nomenclatura de um mesmo conceito ou uma mudança essencial na visão
adventista da autoridade das Escrituras. O que está claro é que não há consenso
quanto ao significado exato dos termos.
É possível identificar na literatura teológica basicamente quatro definições
principais do conceito de sola Scriptura:
1) Sola Scriptura refere-se apenas ao conceito de Lutero e outros reformadores
não radicais, que era mais amplo. O conceito mais estrito dos Reformadores Radicais é
renomeado e chamado de nuda Scriptura ou “solo” Scriptura.46 Nessa visão, o conceito
prima Scriptura é embutido em sola Scriptura, mas não se usa a nomenclatura prima
Scriptura. Tais autores defendem o conceito da primazia das Escrituras em termos bem

45
HASEL, 2007, p. 43.
46
MATHISON. 2001, p. 237-254.

9
parecidos com o princípio prima Scriptura.47 No entanto, em suas declarações mais
claras, alguns deles denominam tal princípio de sola Scriptura.
2) Sola Scriptura significa prima Scriptura, pois o conceito dos Reformadores
Magisteriais não é radical, e é melhor expresso no lema prima Scriptura.48 Trata-se
apenas de uma questão de mudança de nomenclatura. Tais autores tendem a
desvalorizar ou ignorar a Reforma Radical.
3) Sola Scriptura é bem diferente de prima Scriptura. Na verdade, são
conceitos opostos. Apenas os Reformadores Radicais (anabatistas) teriam seguido
sola Scriptura. Lutero e outros reformadores Magisteriais teriam praticado prima
Scriptura.49 Trata-se de uma diferença conceitual, não apenas de nomenclatura.
4) Não há distinção entre Reformadores Radicais e Magisteriais. Tais autores
escrevem como se todos seguissem sola Scriptura de maneira uniforme. Tal posição
não se sustenta diante das evidências históricas que comprovam as diferentes
posições diante de outras fontes de autoridade, como a tradição por exemplo.
É possível identificar cada uma dessas abordagens também na teologia
adventista. Isso já demonstra que a expressão sola Scriptura passou por várias
revisões desde a Reforma, e hoje precisa ser bem descrita a fim de que se saiba do
que o autor está falando. Não se pode pensar que hoje sola Scriptura tem um
significado unívoco.50
Para citar um exemplo adventista, o conceito sola-tota-prima Scriptura, de
Canale, é uma abordagem que busca extrair pressuposições da própria Bíblia.51 Mas,
curiosamente, esse princípio inclui conceitos aparentemente contraditórios: sola

47
Por exemplo, DAVIDSON, 2011, p. 70; MUELLER, 2007, p. 111-112, 131-132, 133 (nota 18);
CANALE, 2005, p. 99; HASEL, 2007, p. 36-37; CANALE, 2006, p. 36-80;
PIPIM, Samuel Koranteng. Receiving the Word: How new approaches to the Bible impact our biblical
faith and lifestyle. Berrien Springs, MI: Berean Books, 1996. p.111.
48
CROY, N. Clayton. Prima Scriptura: An Introduction to New Testament Interpretation. Grand Rapids,
MI: Baker Academic, 2011. p. 130-134.
49
MCGRATH, 2012, p. 101.
50
DONKOR, Kwabena. Contemporary Responses to Sola Scriptura: Implications for Adventist
Theology. Biblical Research Institute General Conference of Seventh-day Adventists. Disponível em: <
https://adventistbiblicalresearch.org/sites/default/files/pdf/Contemporary_Responses_to_Sola_Scriptura_
0.pdf>. Acesso em 12 de Junho de 2014.
51
CANALE, Fernando. From Vision to System: Finishing the Task of Adventist Theology, Part III
Sanctuary and Hermeneutics. Journal of the Adventist Theological Society. Vol. 17. Número 2, 2006.
p. 36-80. Disponível em: < http://www.atsjats.org/publication_file.php?pub_id=317&journ>. Acesso em 03
de Março de 2014.

10
Scriptura e prima Scriptura. Afirmar que a Bíblia é a “única” fonte e, ao mesmo tempo,
“a mais importante” fonte dentre outras pode parecer uma afronta à lógica. Como algo
pode ser o “único” e o mais importante dentre outros? Tal conceito só subsiste se
houver uma redefinição dos termos a fim de harmonizá-los, como o fez Canale.52
Apesar de incluir prima Scriptura, o conceito de Canale não nega a
exclusividade da Bíblia como fonte de verdade doutrinária. Nesse conceito, prima
Scriptura relaciona-se apenas às fontes que auxiliam na compreensão das Escrituras
(e a Bíblia teria a primazia na tarefa de interpretar a si mesma) e não às fontes de
verdades doutrinárias.

3.2 Prima Scriptura e a aproximação do catolicismo

Os adventistas se descrevem como “continuadores da Reforma protestante”.53


Essa identidade leva os autores adventistas a descreverem negativamente a
abordagem católica à Bíblia. Em suma, na visão adventista, o valor que o catolicismo
dá a outras fontes de autoridade, especialmente à tradição e à autoridade da Igreja,
rebaixa a Bíblia de sua posição de suprema autoridade.
Por isso, Gulley sugere que trocar sola Scriptura por prima Scriptura seria um
retrocesso na obra de continuar a Reforma, “e uma posição não muito diferente da do
Concílio de Trento [1545 a 1563]”.54 O princípio prima Scriptura e até mesmo o conceito
Sola Scriptura não radical aproximam-se da mais recente visão católica a respeito das

52
CANALE, 2005, p. 99. Canale define o sola-tota-prima Scriptura assim: “A aplicação do princípio sola
Scriptura significa que a condição hermenêutica do método teológico, incluindo os princípios de
realidades divinas, humanas, e do mundo: é interpretado somente a partir do pensamento bíblico. O
princípio tota Scriptura refere-se à interpretação de todos os conteúdos bíblicos e da lógica interna da
condição hermenêutica biblicamente interpretada do método teológico (sola Scriptura). O princípio prima
Scriptura refere-se ao fato de que o princípio hermenêutico interpretado do pensamento bíblico (sola
Scriptura) e de todo o conteúdo do pensamento bíblico (tota Scriptura), vai orientar os teólogos na
seleção e incorporação, de maneira crítica, de informação a partir de outras fontes (filosofia, ciência,
experiência), como os ensinamentos e a lógica interna do pensamento bíblico podem exigir”.
53
“A Reforma não terminou com Lutero, como muitos supõem. Ela continuará até o fim da história deste
mundo”. WHITE, Ellen G. O grande conflito. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988. p. 148. Em
1998, a Federeção Luterana Internacional reconheceu os adventistas como continuadores da Reforma e
os adventistas reconheceram que não são os únicos possuidores da “verdade”, conforme KILPP, Nelson.
FEDERAÇÃO LUTERANA MUNDIAL. GENERAL CONFERENCE OF SEVENTH-DAY ADVENTISTS.
Lutherans and Adventists in conversation: Report and papers presented 1994-1998. Silver Springs:
General Conference of Seventh-day Adventists, Geneva: Lutheran World Federation, 2000.
54
GULLEY, 2003, p. 557.

11
Escrituras, e isso é visto como um problema.
Van Bemmelen resume a preocupação a respeito dessa aproximação nas
seguintes palavras:

Alguns protestantes estão migrando para mais perto da posição


católica. Até mesmo eruditos evangélicos começaram a imprimir grande
ênfase ao consenso e à autoridade da tradição cristã. Parece inevitável
que isso conduza a uma redução do sola Scriptura, regra que durante
muitos séculos se manteve como o princípio fundamental do
protestantismo.55

Apesar de terem a Bíblia em alta estima (e até mesmo em primazia, como será
demonstrado a seguir), autores católicos afirmam que a Bíblia não é a única fonte de
doutrina.56 O apologeta católico L. Rumble nega o sola Scriptura dizendo que:

a dificuldade surge somente quando se exprime a pretensão de que a


Bíblia é completa, simples e clara, dizendo-nos tudo o que precisamos
saber sobre as doutrinas a serem cridas, e tudo o que precisamos fazer
a fim de nos comportarmos, como cristãos se comportariam, durante a
nossa vida neste mundo.57

Ele afirma que sola Scriptura é um ensino que não se encontra na Bíblia,58 e
que “[...] Cristo nunca pretendeu que a Bíblia sozinha fosse o Livro-Guia para a
verdade religiosa”.59 Essa é uma posição aparentemente extrema. Os adventistas
defensores de prima Scriptura geralmente não usam uma linguagem tão contundente
quanto a de Rumble, mas suas argumentações levam às mesmas conclusões.
Os adventistas adeptos de prima Scriptura não teriam necessariamente que
concordar com a argumentação de Rumble, mas não poderiam negar que o seu
esforço em rejeitar sola Scriptura seria útil para justificar o conceito prima Scriptura. E,
de fato, o catolicismo defende a primazia das Escrituras, em lugar da exclusividade.
Na teologia católica, a Palavra de Deus escrita é a norma normans non
55
VAN BEMMELEN, 2011, p. 60.
56
RUMBLE, L. A teoria de “A Bíblia somente”. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1959. p. 7. Rumble faz
seguinte a observação: “Em primeiro lugar devemos perguntar se jamais Deus pretendeu que a Bíblia
sozinha fosse a única e exclusiva fonte de doutrina para os cristãos”.
57
RUMBLE, 1959. p. 7-8. Rumble cita Mt 28:20, Jo 21:25 e 2 Ts 2:15 para demonstrar que existem
verdades de fé que ficaram de fora da Bíblia e teriam sido mantidas pela tradição.
58
RUMBLE, 1959. p. 8. Ele diz: “Quem declara que a Bíblia por si mesma é um guia completo está,
portanto, professando uma doutrina não somente não contida na Bíblia, mas também uma doutrina em
divergência com a Bíblia”.
59
RUMBLE, 1959. p. 9.

12
normata,

’a norma que normaliza’ nossa vida cristã, que é ela própria ‘não
normalizada’. Juntamente com a Palavra escrita da Escritura, a tradição
dogmática da Igreja também desempenha um papel nesse processo
normativo e revelador, mas é norma normata, ‘a norma que é
60
normalizada’, isto é, pela Escritura, da qual ela se origina.

A tradição é uma norma de fé e vida no catolicismo, mas, pelo menos em suas


declarações oficiais mais recentes, a Bíblia tem certa primazia sobre a tradição também
na teologia católica.61
Joseph Fitzmyer, emérito professor e diretor do Pontifício Instituto Bíblico,
afirma que a Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina (Dei Verbum [A Palavra
de Deus]) reconhece que a Escritura tem de ser a alma da teologia católica.62 O
Concílio Vaticano II (1962-1965) já havia estabelecido a mesma ideia, e o papa Leão
XIII também já havia escrito em Providentissimus Deus (1893) que era muito
necessário “que a prática da divina Escritura se difunda por meio de toda a teologia, e
se lhe torne, por assim dizer, a alma”.63 Fitzmyer afirma que a ideia da Bíblia como
“alma da teologia” católica remonta ao século XVII.64
Fitzmyer reconhece, no entanto, que nem sempre foi assim no catolicismo. Ele
afirma que até antes da Segunda Grande Guerra, “os teólogos não raro usavam a
Escritura apenas como fonte de informações para textos probatórios [textos-prova] a
fim de apoiar teses produzidas de maneira quase independente da Bíblia”.65 Ele
demonstra historicamente o processo de mudança rumo à valorização dos estudos
bíblicos a partir do Concílio Vaticano II, e desde antes, com os papas Pio XII e Leão
XIII.66 Assim, a tradição católica é definida por Karl Rahner como nada mais que “uma
legítima revelação de dados bíblicos”.67

60
FITZMYER, Joseph A. A interpretação da Escritura: em defesa do método histórico-crítico. São
Paulo: Loyola, 2011. p. 120.
61
HAHN, Scott W. Scripture Matters: Essays on reading the Bible from the heart of the Church.
Steubenville: Emmaus Road Publishing, 2003. p. 178-181.
62
FITZMYER, 2011, p. 22.
63
FITZMYER, 2011, p. 22.
64
FITZMYER, 2011, p. 22 (nota 18).
65
FITZMYER, 2011, p. 22.
66
FITZMYER, 2011, p. 13-28.
67
RAHNER, Karl. Scripture and Theology, Theological Investigations. Vol 6. Baltimore, MD: Helicon,
1969. p. 93.

13
Joseph Ratzinger crê que a tradição católica ensina a primazia das Escrituras
(prima Scriptura).68 No entanto, Ratzinger reafirma a visão do Vaticano II de afirmar
uma “fonte” de tradição como "regra de fé". E as Escrituras seriam a parte principal
dessa tradição.69 Segundo ele, "toda a Escritura é nada mais do que a Tradição".70
Em sua tese doutoral, Aleksandar Santrac analisa os recentes
desenvolvimentos da teologia católica a respeito da autoridade das Escrituras e
demonstra como a visão católica corresponde ao conceito prima Scriptura.71 Dessa
forma, um conceito de primazia das Escrituras (em vez de exclusividade das
Escrituras) é defendido pelo catolicismo romano, que tem a tradição em alta conta,
mas, em certo sentido, submissa às Escrituras.72
Os adventistas não negam o valor da tradição,73 e também possuem tradições
hermenêuticas e interpretações tradicionais. Existem no adventismo diferentes
“escolas” de interpretação profética, umas mais tradicionais que outras. Tais exemplos
demonstram que, numa proporção menor, a tradição também se faz sentir na teologia
adventista. No entanto, não há no adventismo nada equivalente ao Magistério católico.
Comentando a Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, Fitzmyer
afirma que o Magistério católico “não está acima da Palavra de Deus, mas a seu
serviço, não ensinando senão o que foi transmitido”.74 Tal informação oficial é uma

68
HAHN, Scott W. Prefácio. In: RATZINGER, Joseph. Many Religions—One Covenant: Israel, the
Church and the World. San Francisco: Ignatius Press, 1999. p. 13-15.
69
RATZINGER, Joseph. Verbum Domini. Post-Synodal Apostolic Exhortation. Setembro de 2010.
Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-
xvi_exh_20100930_verbum-domini_en.html>. Acesso em 17 de Maio de 2013.
Ratzinger declara: “A Igreja vive na certeza de que o seu Senhor, que falou no passado, continua até
hoje a comunicar sua Palavra na Tradição viva e na Sagrada Escritura. De fato, a palavra de Deus nos é
dada na Sagrada Escritura como um testemunho inspirado da revelação; juntamente com a Tradição
viva da Igreja, constitui a regra suprema da fé”.
70
HAHN, 1999, p. 21.
71
SANTRAC, Aleksandar S. Sola scriptura: Benedict XVI’s Theology of the Word of God. Tese
(doutorado). North-West University, 2012. Disponível em: <
http://dspace.nwu.ac.za/bitstream/handle/10394/8225/Santrac_AS.pdf?sequence=2>. Acesso em 07 de
dezembro de 2013.
72
Guardadas as devidas proporções, essa frase poderia ser escrita também a respeito da autoridade de
Ellen G. White na teologia adventista.
73
Outras autoridades tais como tradição, razão e experiência se submetem as Escrituras. Ver: HASEL,
2007, p. 36.
74
FITZMYER, 2011, p. 21.

14
novidade no catolicismo75, afirma a primazia da Palavra e desfaz a noção popular de
que para os católicos a norma suprema de crença é o Magistério.
No entanto, é preciso notar que, no catolicismo, a revelação divina “expressa-
se na Tradição e na Escritura, um depósito único da Palavra de Deus”.76 A tradição e a
Escritura teriam a mesma origem divina e constituiriam “um só sagrado depósito da
Palavra de Deus confiado à Igreja” e “transmitido pelo Magistério vivo e pelo culto”.77
Rumble defende o Magistério afirmando que “a Igreja Católica, e só a Igreja
Católica, pretende ser divinamente nomeada e infalível, disponível para esse fim
[interpretar a Bíblia]; e dela é a única posição bíblica verdadeira”. 78 Os adventistas não
creem assim. Na visão adventista, interpretar a Escritura é tarefa de toda a igreja, e
não apenas de uns poucos especialistas.79
Mas, em suma, o conceito prima Scriptura não diferenciaria o adventismo do
moderno catolicismo com relação à posição das Escrituras como principal fonte de
verdade doutrinária. A diferença se daria apenas na forma como esse conceito é
aplicado no exercício da teologia. No catolicismo, o fato das Escrituras serem a fonte
primária para a teologia, (prima Scriptura) e não a fonte exclusiva (sola Scriptura)
submete a Bíblia às pressuposições hermenêuticas da Igreja e sua tradição. Segundo
Hasel, foi contra isso que os reformadores protestantes protestaram quando afirmaram
sola Scriptura.80
Sobre as possibilidades ecumênicas dessa nova postura do catolicismo com
relação às Escrituras, Berkouwer afirma que “a virada da teologia católica para a
Escritura e o retorno da teologia evangélica à tradição oferece-nos a esperança de um
diálogo frutífero sobre a Escritura e a tradição”.81 Na ecumênica Conferência de Fé e
Ordem, em Montreal (1963), grupos protestantes mostraram uma disposição de fazer

75
FITZMYER, 2011, p. 21. Fitzmyer diz: “Essa relação do Magistério com a Palavra de Deus é noção
nova, nunca antes enunciada nos ensinamentos da Igreja sobre a Escritura”.
76
FITZMYER, 2011, p. 18.
77
FITZMYER, 2011, p. 20 e 21.
78
RUMBLE, L. 1959. p. 13.
79
DAVIDSON, 2011, p. 69.
80
HASEL, 2007, p. 43.
81
BERKOUWER, G.C. The Second Vatican Council and the New Catholicism. Grand Rapids:
Eerdmans, 1965. p. 98.

15
concessões quanto à tradição em contraste com a posição radical de sola Scriptura.82
Embora a IASD não condene completamente o movimento ecumênico, ela tem
sido crítica de vários aspectos e atividades. Apesar de não negar que o ecumenismo
tem tido objetivos louváveis e algumas influências positivas, a IASD mantém uma
postura de alerta quanto aos perigos da relativização das crenças e da “amenização
doutrinária”.83
Dessa forma, o conceito prima Scriptura também precisa ser plenamente
esclarecido no adventismo. Dificilmente um adventista defensor de prima Scriptura
concordaria com o conceito católico de primazia das Escrituras, com todas as suas
pressuposições e consequências. Tal conceito atingiria frontalmente a reivindicação
dos adventistas de serem “continuadores da Reforma”.
E como o reconhecimento da autoridade dos escritos de Ellen G. White está no
centro da discussão sobre sola Scriptura no adventismo, será útil analisar como ela
mesma aborda a questão.

4. A POSIÇÃO DE ELLEN G. WHITE SOBRE SOLA SCRIPTURA

Aparentemente, Ellen White era mais radical em seu conceito de sola Scriptura
do que os tentam elevar seus escritos ao mesmo nível das Escrituras. Ela reafirma
categoricamente o princípio sola Scriptura. Douglass afirma que, para Ellen G. White, a
expressão “a Bíblia e somente a Bíblia” significava que, como autoridade, a Bíblia era
superior e exclusiva.84
Ellen G. White descreve o lema protestante como o princípio da “autoridade
infalível das Escrituras Sagradas como regra de fé e prática”.85 Ao descrever as ações
de Lutero, ela afirma que o princípio vital da Reforma era o ensino de que “os cristãos
não deveriam receber outras doutrinas senão as que se apoiam na autoridade das

82
DULLES, Avery. Scripture: Recent Protestant and Catholic Views. Theology Today. Vol. 37, Abril de
1980. p. 16.
83
CENTRO WHITE . Os Adventistas do Sétimo Dia e o Movimento Ecumênico. Disponível em: <
http://centrowhite.org.br/os-adventistas-do-setimo-dia-e-o-movimento-ecumenico/>. Acesso em
18/07/2014.
84
DOUGLASS, Herbert E. Mensageira do Senhor: o ministério profético de Ellen G. White. Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2001. p. 377.
85
WHITE, 1988, p. 249.

16
Sagradas Escrituras”.86
Comentando a postura firme dos reformadores, ela elogia a noção deles de
que a Bíblia é “a única infalível autoridade em religião”.87 Ela sempre reconheceu a
Bíblia como a “única regra de fé e doutrina”,88 a norma suprema, por meio da qual
todas as coisas, incluindo suas próprias publicações, deveriam ser testadas.89
Para Ellen G. White, “A Bíblia, e a Bíblia somente, deveria ser nosso credo”.90
Ela apela para um retorno “ao grande princípio Protestante – a Bíblia, e a Bíblia só,
como regra de fé e prática”.91 A revelação na Escritura é plenamente adequada e
suficiente, contendo tudo que o homem precisa saber sobre Deus,92 o “conhecimento
necessário para a salvação”.93
Mesmo em meio a fortes controvérsias teológicas, Ellen G. White não autorizou
a utilização de seus escritos para servirem de árbitro e enfatizou insistentemente o
papel da Bíblia na elaboração doutrinária.94 Ela mesma admite que “os testemunhos
escritos não são para dar nova luz”, e que em seus escritos “não é trazida nenhuma
verdade adicional”.95
Jemison afirma que os escritos de Ellen G. White “não introduzem nenhum
assunto novo, nenhuma revelação nova, nenhuma doutrina nova. Eles simplesmente
dão detalhes adicionais sobre assuntos que já são parte do relato bíblico”.96 Mas os
detalhes e aplicações adicionais fornecidos por Ellen G. White “levam a uma percepção
mais aguçada e a uma compreensão mais profunda da verdade já revelada”.97
Douglass diferencia “nova luz – verdade adicional” de “detalhes adicionais”.
Segundo ele, “nova luz – verdade adicional” refere-se às verdades necessárias à

86
WHITE, 1988, p. 126.
87
WHITE, 1988, p. 238.
88
WHITE, Ellen G. Fundamentos da educação cristã. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999. p.
126.
89
WHITE, 2005, p. 32.
90
WHITE, Ellen G. Mensagens Escolhidas. Vol. 1. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001. p. 416.
91
WHITE, 1988, p. 204-205.
92
WHITE, 1999, p. 415
93
WHITE, 1988, p. 7.
94
KNIGHT, 2003, p. 43-49, 58-64.
95
WHITE, Ellen G. Testemunhos para a Igreja. Vol. 5. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p.
665.
96
JEMISON, T. H. A Prophet Among You. Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association,
1955. p. 365.
97
JEMISON,1955, p. 371.

17
salvação. O que Ellen White fornece são “detalhes adicionais sobre as verdades da
salvação e o caráter de Deus. Em outras palavras, a Sra. White não introduz doutrinas
que não estejam na Bíblia”.98
Segundo Damsteegt, Ellen White sempre usou a expressão “a Bíblia e a Bíblia
somente” em contraste com posições antibíblicas de tradições religiosas, experiências,
posições eclesiásticas e a razão humana.99 Frequentemente ela relacionou o princípio
sola Scriptura a expressões como “doutrinas”,100 “ponto de fé religiosa. [...] doutrina ou
preceito”,101 e “grandes verdades indispensáveis para a salvação”.102 Isso revela que,
para ela, “a Bíblia, e a Bíblia só” era um princípio relacionado especialmente a
questões doutrinárias e questões relacionadas à salvação. Isso não exclui o uso de
outras fontes de autoridade como base em outras questões não essenciais.
Dessa forma, fica patente que Ellen G. White deixou clara a diferença de
função entre seus escritos inspirados e as Escrituras.103 Ellen G. White não tem o
propósito de estabelecer verdades doutrinárias. A sua autoridade não pode ser
utilizada nesse sentido, pois não tem tal objetivo. A Bíblia é a única fonte de verdades
doutrinárias.

5. O QUE SIGNIFICA SOLA SCRIPTURA NO ADVENTISMO?

Faz parte dos objetivos desse artigo fornecer subsídios para uma definição de
sola Scriptura que solucione o já apontado problema das conceituações imprecisas.
Antes, porém, é necessário apontar e esclarecer brevemente alguns conceitos que
estão na base dos desentendimentos a respeito da autoridade única e exclusiva das

98
DOUGLASS, 2001, p. 420.
99
DAMSTEEGT, P. Gerard. Ellen White on theology, is methods, and the use of Scripture. Journal of
the Adventist Theological Society. 4/2, 1993. p. 129. Disponível em: <
http://www.atsjats.org/publication_file.php?pub_id=480&journal=1&type=pdf>. Acesso em 23 de Janeiro
de 2014.
100
WHITE, 1988, p. 7.
101
WHITE, 1988, p. 595.
102
WHITE, Ellen G. Caminho a Cristo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1987. p. 89.
103
Para uma análise mais detalhada da relação entre os escritos de Ellen G. White e a Bíblia, ver BURT,
Merlin D. Ellen G. White and Sola Scriptura. Seventh-day Adventist Church and Presbyterian Church
USA Conversation Office of the General Assembly PC (USA), Louisville, KY, August 23, 2007.
Disponível em: <
https://adventistbiblicalresearch.org/sites/default/files/pdf/Burt,%20Ellen%20White%20%26%20Sola%20
Scriptura.pdf>. Acesso em 12 de Maio de 2014.

18
Escrituras no adventismo.

5.1 Sola Scriptura não é necessariamente sinônimo de “primazia das Escrituras”

O uso de adjetivos insuficientemente definidos para qualificar o princípio sola


Scriptura é uma receita para a confusão. Apesar de continuar defendendo sola
Scriptura na teologia, o adventismo do sétimo dia ainda não forneceu uma definição
clara e unificada do significado desse princípio.
Em certo sentido, a primazia das Escrituras é também defendida em
publicações adventistas.104 No entanto, o adventismo, como exposto em suas
declarações oficiais, tem um compromisso histórico com um conceito mais radical de
sola Scriptura – enfatizando a exclusividade da Bíblia.
Quando é relacionado a questões doutrinárias essenciais, o conceito de mera
“primazia das Escrituras” pode abrir espaço para o conceito de “insuficiência das
Escrituras”, que justificou o prima Scriptura católico. Por isso, o conceito deve ser bem
qualificado. No Tratado de Teologia Adventista, por exemplo, Richard Davidson utiliza a
expressão “norma final da verdade” em vez de utilizar o adjetivo “única”. No entanto,
ele afirma que a Escritura é o guia infalível da verdade, e “é suficiente para nos dotar
da sabedoria que nos leva à salvação (2Tm 3:15)”.105
Por isso, em vez de “norma final”, Gulley enfatiza sem ambiguidades a
exclusividade da Bíblia dizendo que “sola Scriptura é a norma, e não uma norma, nem
mesmo a suprema norma entre muitas normas. Só pode haver uma norma, que é a
própria Escritura”.106
A defesa desse conceito radical fica clara nas palavras de Hasel:

Optar meramente pela primazia das Escrituras, em vez de pelas


Escrituras somente como a norma final e autoridade suprema para a fé
e prática, é separar-se do princípio protestante de que as Escrituras

104
DAVIDSON, 2011, p. 70.
105
DAVIDSON, 2011, p. 70-71.
106
GULLEY, 2003, p. 373.

19
somente são a norma final para a teologia e a fonte exclusiva de sua
própria interpretação. O protestantismo reivindicava mais do que a
superioridade das Escrituras diante de outras fontes, ou mesmo sua
prioridade. Reivindicava que as Escrituras somente são a fonte
exclusiva de sua própria exposição. Caso contrário, as Escrituras não
podem ser mais a autoridade final em teologia, nem podem ser o lugar
em que se origina a reflexão teológica e atinge sua conclusão.107

5.2 Sola Scriptura não significa a negação de recursos que auxiliem a


compreensão do texto bíblico

Sola Scriptura não nega o valor de outros recursos para uso no


empreendimento teológico. A “Escritura como sua própria intérprete” não elimina a
possibilidade de existirem instrutores bíblicos humanos, como Filipe fez com o eunuco
etíope (At 8:26-40) e o próprio Cristo fez com os discípulos no caminho de Emaús (Lc
24:13-35).
Trata-se de uma abordagem na qual o que importa é a evidência interna, a
harmonia das Escrituras. Qualquer intervenção externa que contribua para uma melhor
compreensão de um texto bíblico, ou de como um texto bíblico lança luz sobre outro, é
desejável e não é uma negação do princípio sola Scriptura. No final das contas, o
conteúdo da verdade essencial à salvação surge da Bíblia e não do instrutor ou dos
recursos utilizados. A verdade continua brotando “da Bíblia, e da Bíblia somente”.
Mas reconhecer que outras fontes podem contribuir para a melhor
compreensão da Bíblia não precisa gerar confusões a respeito de sola Scriptura.
Contribuir para o desenvolvimento da teologia não é a mesma coisa que servir de fonte
ou base para verdades doutrinárias.
Nesse sentido, o conceito prima Scriptura (que se referiria às Escrituras como a
principal fonte de luz na compreensão de seu próprio conteúdo) não precisa substituir
sola Scriptura (que se refere às Escrituras como a fonte exclusiva das verdades
doutrinárias).

5.3 Sola Scriptura não significa que a Bíblia é a única revelação disponível

107
HASEL, 2007, p. 43.

20
A Bíblia aponta para a existência de outras fontes de revelação divina, como a
natureza e o dom profético. Mas elas não revelarão nenhuma verdade necessária à
salvação que a Bíblia já não revele. Sola Scriptura significa que qualquer “nova
verdade” ou “detalhe adicional” deduzido a partir dessas outras fontes de revelação
deve passar pelo crivo das Escrituras. Nesse sentido, sola Scriptura abre espaço para
prima Scriptura.
A palavra de Deus não se restringiu à sua forma escrita. As palavras de Jesus
não foram imediatamente escritas. Os apóstolos, por exemplo, ensinavam a doutrina
oralmente a princípio. Mas com o encerramento do Canon, a forma escrita tornou-se
definitiva. É fato que, ao longo da história, Deus revelou verdades essenciais à
salvação através de outros meios além das Escrituras. Mas hoje só é possível saber
desse fato através das Escrituras.
As variadas revelações divinas dificilmente serviriam às gerações posteriores
se tais testemunhos não tivessem sido preservados e transmitidos de forma fiel sob a
guia do Espírito Santo, como é o caso da Bíblia.108

5.4 Sola Scriptura não quer dizer que só a Bíblia tem verdades

A primeira das crenças fundamentais da IASD afirma que a Bíblia tem as


verdades necessárias à salvação.109 Ela tem tudo o que é necessário para
regulamentar a fé/crença cristã. Tudo o que é preciso saber para ser cristão, fazer
parte da igreja de Jesus Cristo, está na Bíblia. Sola Scriptura significa que “como única
norma de fé, a Bíblia diz o quê, ou, melhor, em quem se deve crer. Como norma de
vida, ela, e só ela, diz que vida é agradável a Deus (2Tm 3.14-17)”.110
De fato, existem muitas verdades fora da Bíblia. Mas sola Scriptura não
pretende afirmar que a Bíblia é um compêndio exaustivo de verdades sobre todos os
assuntos. Assim, para justificar a adoção de prima Scriptura em lugar de sola Scriptura,

108
VAN BEMMELEN, 2011, p. 35.
109
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2011, p. 163.
110
SCHOLZ, Vilson. Princípios de interpretação bíblica: introdução à hermenêutica com ênfase em
gêneros literários. Canoas, RS: Ed. ULBRA, 2006. p. 10.

21
é desnecessário apontar para o fato de que existem muitas verdades úteis não
abordadas pela Bíblia. As Escrituras são plenamente suficientes “para cumprir o
objetivo proposto por Deus”.111

5.5 Sola Scriptura não representa uma negação do ministério de Ellen G. White

Para os defensores de prima Scriptura, a experiência demonstraria que os


adventistas, na prática, não limitam radicalmente as bases de sua fé e prática às
Escrituras somente, mas incluem outras fontes, especialmente Ellen G. White. O senso
comum a respeito da relação dos escritos de Ellen G. White com a Bíblia pode
entender que a frase “a Bíblia e a Bíblia somente” (sola Scriptura) exclui esses escritos.
Mas a correta compreensão de sola Scriptura revela que isso não nega a autoridade
divina dos escritos de Ellen G. White, apenas indica que eles não são a base para
doutrinas.
A relação entre a Bíblia e os escritos de Ellen White no adventismo é assim
descrita: “Conquanto os adventistas mantenham os escritos de Ellen G. White na mais
elevada estima, eles não são a fonte de nossas exposições. Baseamos nossos ensinos
nas Escrituras, o único fundamento de toda verdadeira doutrina cristã”. 112
A IASD se alinha ao lema sola Scriptura, declarando que toda crença teológica
deve ser medida e julgada pela Bíblia, e qualquer ensino que não passe nesse teste,
ou esteja em desarmonia com sua mensagem, deve ser rejeitado.113 Declara também
que Ellen G. White jamais foi considerada “na mesma categoria dos escritores do
cânon das Escrituras”,114 e nem foi igualada com as Escrituras.115
No entanto, também desde o início, sempre houve vozes adventistas que
discordaram dessas afirmações, e colocaram os escritos de Ellen White no mesmo
nível de autoridade que a Bíblia. Herbert E. Douglass afirma que no início do
Adventismo as revelações de Deus através de Ellen White foram formalmente

111
VAN BEMMELEN, 2011, p. 51.
112
KNIGHT, 2008, p. 100.
113
KNIGHT, 2008, p. 54.
114
KNIGHT, 2008, p. 99.
115
KNIGHT, 2008, p. 101.

22
reconhecidas pela igreja como tendo autoridade teológica.116
George Knight escreveu que, apesar da posição oficial da igreja apontar uma
direção, “alguns indivíduos e subgrupos tradicionais dentro da denominação parecem
basear alguns de seus ensinos nos escritos de Ellen White”.117
A questão da autoridade de Ellen G. White parece ser o ponto nevrálgico da
questão. Afirmar o princípio sola Scriptura significa negar, ou diminuir, a autoridade de
Ellen G. White?
Discorrendo sobre o dom profético de Ellen G. White, Gerhard Pfandl esclarece
que “a Igreja [IASD] não aceita graus de inspiração” e reconhece que “sua inspiração,
embora não sua autoridade, é do mesmo tipo de inspiração dos profetas do Antigo e do
Novo Testamento”. Ao contrário, Douglass escreve que “os escritos dela diferem em
função e objetivo, mas não em autoridade”.118 Aparentemente, os autores não se
referem à mesma coisa quando escrevem sobre a autoridade dos escritos de Ellen
White.
O documento Confiança no Espírito de Profecia, votado na assembleia da
Conferência Geral realizada em Utrecht, na Holanda, em 30 de junho de 1995 afirma:
“Consideramos o cânon bíblico encerrado. Contudo, cremos também, como o fizeram
os contemporâneos de Ellen G. White, que seus escritos têm a divina autoridade tanto
para o viver piedoso quanto para a doutrina”.119
O documento não faz uma comparação entre a autoridade de Ellen White e a
da Bíblia, mas abre espaço para a compreensão de que os escritos de Ellen G. White
podem servir como regra (“tem a divina autoridade”) de fé (“para a doutrina”) e prática
(“para o viver piedoso”).
Contrário a essa noção, Peter van Bemmelen afirma que nenhuma outra fonte
tem autoridade igual à da Bíblia.120 Ele descreve a autoridade da Bíblia como

116
DOUGLASS, 2001. p. 428.
117
KNIGHT, 2008, p. 100.
118
DOUGLASS, 2001, 416. No entanto, na mesma obra, citando o ex-presidente da Associação geral da
IASD, George Butler, Douglass escreveu: “As Escrituras são a regra pela qual provamos tudo, inclusive
as visões e tudo o mais. Essa regra, portanto, possui a autoridade mais elevada [...]”. p. 418. Isso deixa
claro que “autoridade” pode ter diferentes sentidos.
119
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2003, p. 97.
120
VAN BEMMELEN, 2011, p. 49.

23
“exclusiva”121 e “suprema”.122 Gulley defende que a Bíblia deve ser a única
autoridade.123
Na mesma direção, Fernando Canale diz que “a nenhum outro livro sagrado,
sejam histórias sacras, tradições antigas, declarações eclesiásticas ou credos, pode-se
atribuir autoridade igual à da Bíblia”.124 Frank Hasel também defende a Bíblia seja a
“autoridade suprema”125, e que o princípio sola Scriptura aponta para o reconhecimento
da “autoridade única das Escrituras”.126
Em contrapartida, Roger Coon defende que a autoridade de Ellen White é a
mesma que a dos profetas canônicos, e que a diferença estaria apenas na função dos
seus escritos.127
Esclarecendo tal conceito (de “autoridade igual, mas funções diferentes”), um
documento divulgado pelo White Estate, depositário oficial do patrimônio literário de
Ellen G. White, reafirma a autoridade dos escritos dela, mas nega que eles funcionam
como a “base e autoridade final da fé cristão como são as Escrituras” e que seus
escritos podem ser usados como “base de doutrina”.128
Assim, “autoridade” é outro conceito que também precisa sempre de definições
mais claras e objetivas para não causar confusões. Mas, de qualquer forma, Ellen G.
White sempre recusou que apelassem à autoridade de seus escritos para resolver
questões doutrinárias, mesmos nos momentos mais críticos. 129 Ela deixou claro que
seus escritos tinham a intenção de levar os adventistas de volta à Bíblia. 130
Douglass esclarece que sola Scriptura significa que tudo o que a Bíblia fala

121
VAN BEMMELEN, Peter M. A autoridade das Escrituras. In: REID, George W. (Ed.).
Compreendendo as Escrituras: uma abordagem adventista. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007. p.
79.
122
VAN BEMMELEN, 2007, p. 80.
123
GULLEY, 2003, p. 373.
124
CANALE, Fernando. Revelação e Inspiração. In: REID, George W. (Ed.). Compreendendo as
Escrituras: uma abordagem adventista. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007. p. 49.
125
HASEL, 2007, p. 43.
126
HASEL, 2007, p. 36.
127
COON, Roger W. The Relationship Between the Ellen G. White Writings and the Bible. Journal of
Adventist Education. Vol. 44. Número 3. Março de 1982. Disponível em
<http://www.whiteestate.org/issues/rev-insp.html#part3>. Acesso em 13 de Janeiro de 2014.
128
CENTRO WHITE. A Inspiração e autoridade dos escritos de Ellen G. White. Disponível em
<http://centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-sobre-ellen-g-white/a-inspiracao-e-autoridade-dos-
escritos-de-egw/>. Acesso em 3 de Março de 2014.
129
KNIGHT, George R. A Mensagem de 1888. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003. p. 59-63.
130
WHITE, Ellen G. Mensagens Escolhidas. Vol. 3. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005. p. 30.

24
deve ser honrado, inclusive seu ensino de que o “dom de profecia” continuaria até o fim
do tempo.131 Assim, em vez de estarem negando o princípio sola Scriptura,os
adventistas aceitam o ministério de Ellen G. White exatamente por causa do princípio
sola Scriptura.

5.5 Rumo a uma definição de sola Scriptura

A análise da literatura teológica adventista mostra que tanto sola Scriptura


quanto prima Scriptura são aplicáveis, mas em sentidos diferentes. Sola Scriptura está
relacionado ao conceito de exclusividade das Escrituras, e prima Scriptura se refere à
sua primazia. Mas em que sentido a Bíblia tem exclusividade? E em que sentido ela
tem a primazia? Como ela pode ser, ao mesmo tempo, a “única” e “a mais importante
dentre outras”?
Na literatura adventista, o conceito de exclusividade é afirmado em expressões
como “autoridade final”,132 “autoridade suprema”,133 autoridade exclusiva”,134 “exclusiva
e suprema autoridade”,135 “única autoridade”.136 Percebe-se que o conceito de
exclusividade é afirmado com termos que também podem ser aplicado ao conceito de
primazia (“final”, “suprema”), o que leva de volta ao problema das definições
imprecisas.
E o conceito de exclusividade está vinculado a “todas as matéria de crença e
estilo de vida”,137 e expressões como “norma de fé e doutrina”.138 A Bíblia é vista como
autoridade exclusiva para guiar à verdade divina, para se provar doutrinas e
experiências, conhecer a Deus e sua vontade.139 O conceito exclusivo caracteriza a
Bíblia como o único fundamento para teorias teológicas.140
Alguns autores também relacionam o conceito de exclusividade à interpretação

131
DOUGLASS, 378.
132
VAN BEMMELEN, 2007. p. 75.
133
VAN BEMMELEN, 2007. p. 79, 80.
134
VAN BEMMELEN, 2007. p. 79.
135
VAN BEMMELEN, 2007. p. 80.
136
VAN BEMMELEN, 2007. p. 81.
137
VAN BEMMELEN, 2007. p. 75.
138
VAN BEMMELEN, 2007. p. 80, 81.
139
HASEL, 2007. p. 37.
140
CANALE, 2007, p. 55.

25
bíblica: como sua própria intérprete, só a Bíblia estabelece as regras de interpretação e
possui a palavra final nesse assunto.141
Como na interpretação bíblica sola Scriptura não exclui o auxílio de outros
campos de estudo (arqueologia, antropologia, sociologia,história, etc) e outros recursos
(léxicos, dicionários, concordâncias, etc),142 surge então o espaço para o conceito de
primazia das Escrituras. Sola Scriptura também não exclui o auxílio da comunidade da
fé, da razão humana e da tradição na interpretação da Bíblia,143 mas submete todas
essas fontes às Escrituras (prima Scriptura).
Além das questões diretamente relacionadas à interpretação bíblica, o conceito
de primazia coloca a Bíblia acima de reivindicações da razão humana em diferentes
campos de estudo, como a “geologia, filosofia ou teologia”.144 Ainda que não seja um
compêndio científico, a Bíblia contém informações essenciais e princípios que não
podem ser contrariados pelo inconstante arrazoado humano e por pressuposições
filosóficas.
Então, a abordagem adventista pode ser assim resumida: a Bíblia tem a
exclusividade como fonte das doutrinas a serem cridas para a salvação e como fonte
autorizada para dizer como um cristão deve viver. Também detém a exclusividade
como norma para sua própria interpretação. E a Bíblia tem a primazia com relação aos
recursos que possam auxiliar a sua própria interpretação e como autoridade aferidora
de outras áreas do conhecimento.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os adventistas do sétimo dia acreditam que a Bíblia deve ser a “única” fonte de
doutrina e que a sua interpretação deve ser pela própria Bíblia (sola Scriptura). Em seu
início, o adventismo sabatista refletia o conceito anabatista/restauracionista radical de
sola Scriptura, e não o conceito mais aberto mantido por Lutero e outros Reformadores

141
HASEL, 2007, p. 36, 43; TIMM, 2007, p. 5.
142
HASEL, 2007, p. 36.
143
HASEL, 2007, p. 37.
144
BALDWIN, John T. Fé, razão e o Espírito Santo na hermenêutica. In: REID, George W. (Ed.).
Compreendendo as Escrituras: uma abordagem adventista. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007. p.
17.

26
Magisteriais do século XVI.
Mas uma análise da literatura adventista revela a diversidade de posições a
respeito de sola Scriptura. Existem os que enfatizam a primazia das Escrituras, e vêem
a Bíblia como a autoridade “primária” em matéria de fé e prática. E existem aqueles
que defendem um conceito mais estrito, enfatizando a exclusividade da Bíblia como
“única” regra de fé e prática.
Os eruditos adventistas que enfatizam sola Scriptura se recusam a permitir que
a Bíblia seja considerada mais uma dentre outras fontes de verdade teológica, como a
tradição, a razão e a experiência. No entanto, admitem o fato de que há outras fontes
que contribuem para o desenvolvimento da teologia cristã, mas nenhuma delas deve
ser considerada a base para doutrinas.
Entre os que enfatizam a primazia das Escrituras há quem sugira até mesmo
que o adventismo abandone o conceito sola Scriptura em favor do conceito prima
Scriptura, que refletiria a prática real em uso no desenvolvimento da teologia.
Outros não chegam a propor a troca de conceitos, mas redefinem sola
Scriptura de uma forma menos radical. Nesse caso, o lema sola Scriptura não deveria
ser entendido no sentido de que a Escritura é a "única" fonte da verdade e da doutrina.
Antes, a Escritura deveria ter a palavra final ou a suprema autoridade sobre o que deve
ser aceito como verdade doutrinária.
Tal conceito aproxima-se do conceito de primazia das Escrituras (prima
Scriptura) do catolicismo recente. E essa aproximação da posição católica é vista
negativamente, como um retrocesso, já que o adventismo deve ser a continuação da
reforma protestante.
Algumas expressões como “norma final”, “suprema” e “única”, não são usadas
de forma padronizada, e podem representar conceitos diferentes, dependendo do
autor. As abordagens ainda não parecem claras.
Qualquer que seja a posição defendida no debate, ela precisa ter seus
conceitos plenamente esclarecidos. Há um lamentável abismo entre a devoção popular
e a teologia erudita que deve ser transposto. Mas como educar teologicamente o povo
se eruditos utilizam as mesmas palavras para expressarem conceitos opostos? Os que
escrevem sobre assuntos bíblicos em nível popular podem se apropriar das

27
descobertas da pesquisa bíblica adventista e popularizá-las. Mas os conceitos devem
ficar claros antes disso, e, aparentemente, não é o que ocorre nesse assunto.
Continuar aplicando algo que não tenha sido definido de forma suficientemente
clara (como o princípio sola Scriptura) poderá ser uma fonte contínua de
desentendimentos e até mesmo divisões na teologia adventista. É necessário definir-se
com exatidão o que é sola Scriptura, prima Scriptura, “autoridade”, “norma final”, dentre
outras expressões.
Outra questão que afeta o conceito adventista de sola Scriptura é o
relacionamento entre as Escrituras e os escritos de Ellen G. White.
Alguns estudiosos adventistas acham que a autoridade de tais escritos entram
em conflito com o conceito sola Scriptura, e é por isso que promovem o uso de prima
Scriptura. Afinal, na opinião deles, outras fontes extra-bíblicas contribuem para o
empreendimento teológico adventista, especialmente Ellen G. White.
O principal objetivo de Ellen G. White foi dirigir a atenção para as Escrituras.145
Se o objetivo dela era levar os adventistas de volta à Bíblia, eles não fazem justiça a
ela “interpretando” a Bíblia através dela. Atender aos apelos de Ellen G. White significa
debruçar-se no estudo bíblico profundo, voltar à exegese.
Será que o adventismo deveria mesmo reconhecer a posição mantida por
Martinho Lutero, em contraste com a dos Reformadores Radicais? Tal visão tornaria
possível reconhecer e aceitar mais facilmente o ministério e os escritos dos profetas
não-canônicos posteriores, como Ellen G. White, mas deixaria uma porta aberta para
conceitos de primazia das Escrituras como o do catolicismo. Se aceitos, e
desenvolvidos às últimas conseqüências, tais conceitos provocariam profundas
alterações no adventismo e em sua identidade como um movimento bíblico.
Mas se continuar acreditando e afirmando que sola Scriptura significa “a Bíblia
somente”, e que a Bíblia é sua própria intérprete, então, como afirma George Knight, a
IASD “precisa lembrar-se constantemente de que qualquer coisa não ensinada
claramente pela Bíblia não pode se tornar uma doutrina”.146

145
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2003, p, 96.
146
KNIGHT, 2005, 211.

28
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