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O Bode “expiatório”

A vida de Sócrates reflete uma situação recorrente nas tragédias gregas, ou seja, o sujeito que
descobre uma Lei que está para além da constituição da sociedade e ao encarnar e/ou
expressar essa Lei se coloca em oposição à sociedade que então se volta contra ele ao mesmo
tempo que reconhece de algum modo a sua superioridade, esse mecanismo deveria ser
comparado com a famosa Teoria do “bode expiatório” (René Girard).

Sócrates é o exemplo desse “bode expiatório” que se torna objeto de culto àqueles que o
matam, seus executores de certa forma estão reconhecendo que quem vai sobreviver é ele e
não eles. A partir do momento da morte de Sócrates está inaugurada uma nova modalidade de
defesa da Verdade cuja durabilidade histórica colocou-se acima da contagem cronológica do
tempo. A execução de Sócrates assegura de algum modo o resgate permanente de certas
verdades universais que só podendo ser reveladas ao o coração do indivíduo e não à
coletividade como tal, arriscam ser submergidas pela “verdade” socialmente admitida.

Apesar de o Ser Humano carregar a dualidade de modo estrutural e permanente, por um lado
é um membro da coletividade, deve a ela a sua subsistência, seus meios de expressão e meios
de conhecimento começando pela própria linguagem, ou seja, não poderia dar nada disso a sí
mesmo, nesse sentido ele é um participante da “verdade” socialmente estabelecida e não teria
sentido voltar-se totalmente contra a mesma. Por outro lado também tem como indivíduo que
é, faculdades cognitivas que pela própria natureza transcendem a órbita de consciência do
grupo social e o mérito do despertar para essa condição individual pertence a Sócrates e seu
sacrifício.

Esta tensão do indivíduo enquanto membro de uma comunidade historicamente determinada


e enquanto representante da espécie humana, isto não é solúvel, e o anseio de resolver essa
questão tem gerado no decorrer dos séculos muitas utopias revolucionárias, ideologias, ideias
e jeitos de pensar. Sócrates nos mostrou que essa tensão longe de ser uma mal, na verdade é
um elemento constitutivo do Ser humano, Sócrates se opõe à coletividade não enquanto
indivíduo, mas como representante da espécie humana como um todo, transcendendo
infinitamente o círculo de uma comunidade particular.

Sócrates é o Filósofo que sabe que não pode ser Rei, sabe que o império da Verdade universal
é supra temporal, ele abrange os tempos e por tanto não se pode manifestar em nenhum
tempo em particular, a morte de Sócrates e o fato dele aceita-la como sendo uma sentença
justa e sob certo aspecto benéfica, mostra que de ante mão ele já conhecia a falácia da Teoria
do Rei Filósofo.

Por:Geann F.S

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