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Gláucia Nascimento
A disciplina
Caro(a) aluno(a),
Ementa
Estudo dos fenômenos linguísticos da língua portuguesa, envolvendo a reflexão crítica sobre as
implicações pedagógicas decorrentes de transposições didáticas fundadas em diferentes
concepções de língua.
Conteúdo Programático
Versão provisória em PDF do conteúdo da disciplina. O autor é o titular dos direitos autorais desta obra. Reprodução não autorizada. Uso
estritamente pessoal. Para outra utilização, solicitar autorização prévia do titular dos direitos autorais.
Fundamentos do Ensino da Análise Linguística – Profa. Gláucia Nascimento
Referências bibliográficas
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola
Editorial, 2003.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
MENDONÇA, Márcia. Análise linguística: refletindo sobre o que há de especial nos gêneros. In:
SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Márcia; CAVALCANTE, Marianne C. B. (orgs.). Diversidade
textual: os gêneros na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 73-88. Disponível para
download gratuito em: http://www.ceelufpe.com.br/e-books/Diversidade_Livro.pdf Acesso em: 10
de julho de 2011.
MARCUSCHI, Beth. Redação escolar: breves notas sobre um gênero textual. In: SANTOS, Carmi
Ferraz; MENDONÇA, Márcia; CAVALCANTE, Marianne C. B. (orgs.). Diversidade textual: os
gêneros na sala de aula. Belo Horizonte, Autêntica, 2006: 59-72.
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Sumário
1. Reflexão Inicial
3. Escuta, fala, leitura e escrita como práticas sociais e algumas implicações pedagógicas
1. Reflexão inicial
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(ou o vocabulário) constituinte da língua, além de muitos outros elementos que envolvem o
fenômeno da interação verbal. Enquanto no ensino que privilegia a gramática normativa o enfoque
principal é a identificação e a classificação de elementos linguísticos, na análise linguística o
enfoque principal é a reflexão sobre os usos da língua.
Quando nos referimos aos usos da língua, ou à língua em uso, naturalmente, referimo-nos à forma
de concretização da língua: o texto, que se apresenta em diferentes modos de organização e que
cumpre diferentes funções, de acordo com as especificidades dos gêneros em que se enquadram.
Ao tomarmos, portanto, os gêneros textuais como objetos de estudo das aulas de português, o
ensino de língua materna, na perspectiva da AL, deve ter como base o ensino da leitura e da
produção textual (oral e escrita) como práticas sociais. Sendo atividades discursivas, os gêneros se
constituem também de elementos linguísticos, sobre os quais podemos refletir, para aprimorarmos
nossa competência interacional para ouvir/falar, ler/escrever.
Nesta disciplina, vamos conhecer as bases em que se fundamenta a AL e refletir sobre algumas
possibilidades de transposição didática que essa perspectiva de ensino de língua oferece.
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Portanto, é importante, nas aulas de português, ampliar as possibilidades de reflexão sobre os usos
da língua, para ajudar os estudantes a desenvolverem sua autonomia, como leitores e autores de
textos orais e escritos, dos mais diferentes gêneros, presentes nas diversas esferas sociais.
Antes, o ensino de língua materna se dava, primordialmente, por meio do estudo de frases, com
base, quase que exclusivamente, nos princípios da gramática normativa . Em geral, nas aulas
de português, os professores se limitavam a apresentar aos estudantes conteúdos que
contemplavam os elementos constituintes das palavras (nos níveis fonológico e morfológico), das
classes gramaticais a que pertencem as palavras e dos modos de organização dos termos que as
palavras constituem nas frases, por meio de atividades de identificação e classificação desses
elementos, com ênfase no ensino da metalinguagem . Esse tipo de prática de ensino tem como
base uma concepção de língua, segundo a qual esta é um sistema pronto, acabado, inflexível, que
não admite variações, nem mudanças. Evidentemente, sabemos que essa é uma concepção
ultrapassada.
NOTA
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NOTA
Com o avanço das pesquisas da área da linguística, percebeu-se que o estudo de frases não dava
conta da complexidade dos modos como se concretiza a língua, que se constitui de um conjunto de
variedades e que só se concretiza, na verdade, por meio de textos. Percebeu-se que o estudo da
língua restrito à frase impede os estudantes de perceberem aspectos que, muitas vezes,
condicionam e delineiam os usos da língua e que estão “fora” da língua, os chamados aspectos
pragmáticos. Esses aspectos são ligados aos interlocutores, considerando-se os diferentes papéis
sociais que estes exercem no dia a dia, e ao contexto social em que se dá a interação verbal.
Você poderia perguntar agora: “Mas não há textos que se constituem de apenas uma frase?”. Sim,
existem textos que se organizam em apenas uma frase. Existem até mesmo textos que se
constituem de apenas uma palavra. Vejamos, por exemplo, a placa de
trânsito ao lado.
É um texto. Não há dúvida quanto a isso. Mas, por que será que num texto
como este apenas uma palavra basta? Para compreender isso, é preciso ir
além da palavra, ou da constituição linguística desse texto. Na verdade, é preciso ir além do texto,
ou seja, é necessário considerar o contexto social em que o texto é usado
(ruas das cidades), os objetivos pretendidos (disciplinar o tráfego de veículos),
os interlocutores (de um lado, as autoridades locais; de outro, pessoas que
passam rapidamente pelas ruas e não dispõem tempo de ler textos longos),
entre outros fatores. Imagine se, no lugar dessa placa, houvesse esta:
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Certamente, se esta fosse uma placa real, que estivesse numa rua, os motoristas não teriam
tempo hábil para fazer a leitura e atender à solicitação nela expressa. Caso alguns motoristas
tentassem ler essa placa, talvez até ocorressem acidentes, você não acha? O que motiva, então,
nesse caso, a produção de um texto que se constitui apenas uma palavra? Aspectos de natureza
gramatical? Claro que não. A motivação é de natureza pragmática, ou seja, tem a ver com
aspectos que não estão no texto, mas fora dele. A partir disso, podemos entender que o estudo da
língua não pode se restringir ao estudo da gramática dessa língua e menos ainda ao estudo da
gramática normativa. Há fenômenos ligados à produção de sentidos de um texto que estão muito
além da gramática, ou melhor, das “gramáticas”. Como você sabe, o termo ‘gramática’ tem
diferentes acepções: gramática internalizada, gramática descritiva, gramática funcional, gramática
gerativa, gramática histórica, gramática normativa, entre outras. O tipo de gramática adotado pela
escola é a gramática normativa. A AL veio para ampliar os estudos de língua materna, que, antes,
como já dissemos, privilegiavam o estudo das normas prescritas pela gramática normativa.
Agora, vamos rever conceitos importantes que fundamentam o modelo de ensino denominado de
análise linguística. Então? Preparado(a)? Vamos em frente.
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de que uma língua envolve aspectos de natureza social, que podem levar, por vezes, um falante a
expressar um pensamento, dizendo exatamente o contrário do que pensou. As ironias, por
exemplo, comprovam esta nossa reflexão.
b) Na concepção de língua como instrumento de comunicação, a língua é vista também,
como um sistema, como um código que serve para transmitir uma mensagem de um emissor a um
receptor. Nessa concepção, também não se consideram os usos da linguagem em situações reais,
que podem afetar e modelar a expressão linguística dos falantes. O foco recai na estrutura da
língua.
c) Na concepção de língua forma de ação interindividual, ou sociointeracionista, a língua é
tida como um fenômeno heterogêneo, não transparente, que é produzido por seres sócio-
historicamente situados, que praticam atividades por meio do uso da língua. Isto é, o uso da língua
equivale a uma forma de prática social, que é modelada em função dos falantes e do contexto
social em que é produzida.
As duas primeiras concepções de língua são a base de práticas de ensino centradas no estudo do
sistema linguístico em sua imanência, como se este fosse imutável e não fosse produto de uma
construção coletiva, histórica e social. Nessas concepções, se baseiam os práticas de ensino que
privilegiam o estudo da língua por si mesma, muitas vezes, segundo as prescrições da gramática
normativa, para que se possa falar e escrever “corretamente”; para que se possa imprimir clareza
ao que se diz. Bem, sabemos que a correção gramatical não é o suficiente para que os processos
de comunicação sejam eficientes. Se assim o fosse, não haveria mal-entendidos em situações reais
de uso da língua, quando os interlocutores atendessem plenamente ao que orienta essa gramática.
Afinal, o uso de uma língua se dá em contextos sociais, constituídos por inúmeros outros
elementos além dos exclusivamente linguísticos. Fatores de natureza social e cultural também
concorrem para que determinada produção de linguagem possa ser clara e eficiente. As práticas de
ensino que se preocupam com elementos sócio-históricos que envolvem a produção da linguagem
têm como base a terceira concepção de língua, que é aquela defendida pelos PCN: a
sociointeracionista.
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Agora, vamos fazer uma pausa na leitura, para que você possa realizar atividades que o(a)
ajudarão a refletir e a consolidar as aprendizagens sobre o tema discutido.
ATIVIDADE 1
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Os atos de falar e escrever também se prestam a vários tipos de atividades: fazer solicitações,
reclamações; para fazer declarações de amor e de amizade; para dar informações a alguém sobre
como preparar um alimento e assim por diante.
Falar/escutar, escrever e ler, são, portanto, práticas sociais, formas de ação que praticamos para
atender a demandas do dia a dia. Tudo o que falamos/escutamos, lemos e escrevemos, com o
objetivo de interagir por meio da língua, são artefatos linguísticos, ou seja, são objetos construídos
pelo homem por meio da linguagem. Esses artefatos linguísticos são o que denominamos de
gêneros textuais, que, como afirma Bakhtin, são formas relativamente estáveis de enunciados
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“(orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da
atividade humana” (2003, p. 261), em determinadas situações sociais.
Alguns exemplos de gêneros textuais que as pessoas em geral leem de forma frequente no dia a
dia são: contas de energia elétrica e telefone, boletim escolar, torpedos de celular, e-mails, cartas,
poemas, crônicas, notícias, reportagens, receitas médicas, manuais de instrução para o uso de
aparelhos eletrodomésticos, entre muitos outros. Alguns desses e muitos outros gêneros também
são produzidos por nós no cotidiano, uns, por meio da fala, outros, por meio da escrita: palestras,
torpedos de celular, e-mails, cartas, bilhetes, poemas, requerimentos, receitas culinárias e muito
mais.
Sempre que falamos, lemos ou escrevemos na vida social, temos como objetivo a alcançar um
objetivo comunicacional, resolver um problema, ou seja, dar conta de alguma demanda. Ao lermos
uma conta de energia elétrica, por exemplo, temos como objetivo conhecer o valor que devemos
pagar à companhia responsável pelo fornecimento de energia o que consumimos em determinado
mês. Realizando o pagamento, garantimos a continuidade de um serviço essencial para a nossa
vida atualmente. Ou seja, resolvemos uma demanda da nossa vida social.
Como vivemos numa sociedade letrada, isto é, numa sociedade que dispõe da escrita, nossa vida
diária é, em grande parte, regida por essa modalidade de explicitação da língua, nas diferentes
práticas de letramento que precisamos desenvolver cotidianamente para resolver muitas demandas
pessoais e coletivas. Por isso, para garantir uma sobrevivência de boa qualidade, é importante
saber ler e escrever com autonomia. Além disso, saber falar com adequação e clareza,
especialmente em contextos sociais públicos; assim como saber escutar com respeito o outro, são
atividades igualmente importantes para a boa convivência social.
Considerando essas reflexões e sabendo que à escola cabe formar as pessoas para que estas
sejam capazes de exercer sua cidadania, cumprindo seus deveres e garantindo seus direitos,
entendemos que é importante levar os estudantes a compreenderem a seguinte ideia:
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Logo, as práticas sociais de leitura e de escrita, além das de oralidade, precisam estar dentro da
escola, à semelhança dos modos como se desenvolvem fora do ambiente escolar. Em outras
palavras, os professores devem oferecer aos alunos oportunidades para que os estudantes possam
ler, escrever, além de escutar e falar, em situações didáticas que “copiem” as situações sociais.
Essa é uma estratégia de didatização numa perspectiva mimética , em que os professores
planejam atividades de escuta, de fala, de leitura e de escrita que considerem como modelos as
reais condições de leitura e produção de textos que ocorrem no dia a dia.
NOTA
O que significa isso na prática, afinal? Ora, primeiramente, é importante selecionar, para o ensino
de língua, exemplares de gêneros que circulam na sociedade. Deve-se, então, planejar situações
para que os estudantes possam lidar com notícias, reportagens, bilhetes, cartas, palestras, debates
etc, em condições parecidas com as que ocorrem fora da escola, de modo a levar os estudantes a
refletirem sobre os modos de organização linguística, mas com objetivo de que conheçam esses
modos para poderem compreender e produzir textos orais e escritos de forma eficiente. Para isso,
o ideal é que as práticas de ensino integrem a oralidade, a leitura e a escrita a atividades de
análise linguística e que se organizem por meio de sequências didáticas, que deem aos
estudantes a oportunidade de compreender as relações que existem entre esses eixos de ensino,
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assim como de conhecerem os recursos linguísticos constituintes dos textos e suas funções para a
produção de sentidos.
O que prova a necessidade de adoção desse perfil de prática de ensino de língua são os resultados
das avaliações de rede, nacionais e internacionais (PISA; SAEB; ENEM), em que os estudantes
brasileiros demonstraram dificuldades para ler e escrever. Esses resultados indicam que o ensino
tradicional não contribui muito para que os estudantes desenvolvam bem suas competências
interacionais. Ao se considerar, em sala de aula, a língua em uso, os professores dão aos
estudantes a chance de vivenciarem experiências de interação verbal e refletir sobre essas
experiências, de modo que possam interagir no cotidiano com mais autonomia. É muito importante
que todas as formas de interação verbal (escuta/fala, leitura/escrita) sejam vistas de modo
integrado, como práticas complementares que são, e que a AL seja feita em função do
desenvolvimento das competências interacionais.
Sobre essa necessária integração para que se possam obter bons resultados, Mendonça (2006, p.
208), apresenta “três possibilidades, igualmente válidas, mas que supõem metas distintas”. A
autora informa que “outras possibilidades podem ser pensadas para atender a outros objetivos”.
Abaixo, transcrevemos um esquema formulado por Mendonça (2006, p. 209), para que você
conheça essas possibilidades.
Leitura Produção AL Reescrita/ “O ensino de gramática não deve ser visto como um fim em si
e de textos refacção mesmo, mas como um mecanismo para a mobilização de recursos
escrita orais e do texto úteis à implementação de outras competências, como a interativa e
escritos oral a textual” (proposta dos PCN+, 2002: 81, para desenvolver
competências de leitura/escuta e escrita).
Leitura Produção AL Reescrita/ Analisar os gêneros lidos, para conhecer suas características e,
e de textos refacção então, produzi-los, na proposta de Dolz, Schneuwly ([1996] 2004):
escrita orais e do texto segundo a qual se deve conhecer o gênero, lendo-o, analisando-o,
escritos oral para depois produzi-lo e, então, reelaborá-lo após (auto)avaliação,
por meio de AL.
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Tal como informa a autora, nessas três alternativas, “a AL constitui ferramenta, auxílio, para as
práticas de leitura/escuta e de escrita”. (MENDONÇA, 2006, p.209). Ou seja, a AL não existe
isolada do universo da oralidade e do letramento. Na verdade, fazer AL só faz sentido se essa
atividade puder ajudar os estudantes a escutar/falar; ler/escrever melhor.
ATIVIDADE 2
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Os elementos que constituem os textos além das palavras (no caso dos textos orais: a entonação,
o alongamento da pronúncia de uma vogal, o ritmo; no caso dos textos escritos: os sinais de
pontuação, os recursos gráficos como o negrito e o itálico, entre outros) funcionam como pistas
para que o ouvinte/leitor levante hipóteses e chegue a certas conclusões. Para chegar às
conclusões consonantes com os sentidos pretendidos pelos autores dos textos, o ouvinte e o leitor
precisam dispor de conhecimentos partilhados com os produtores dos textos. Isto é, ao entrar
em contato com um texto, temos mais possibilidades de compreendê-lo se tivermos conhecimentos
semelhantes aos de quem produziu esse texto.
Para refletir mais sobre isso, imagine a seguinte manchete de jornal, no caderno esportivo:
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compreender o a manchete, é preciso saber que o ‘engolir’ é também usado, em nossa sociedade,
com o sentido de ‘derrotar’, ‘vencer’, entre outros sentidos. E a ‘ilha’ a que o autor da manchete se
refere é lugar onde fica o estádio de futebol sede do time pernambucano, o bairro da Ilha do
Retiro, no Recife. Então, a manchete anuncia o conteúdo de uma matéria sobre um jogo de
futebol, em que o time do Santos promete vencer o time do Sport na sede deste time. Sem os
conhecimentos prévios acerca dos personagens da matéria, do outro sentido possível para o verbo
e do nome local em que fica a sede do Sport, apenas pela leitura da manchete, na perspectiva da
mera decodificação das palavras, não seria o suficiente o leitor chegar a essa conclusão. O mesmo
ocorreria se esse texto produzido por meio da fala, numa conversação informal, por exemplo.
Agora, você poderia perguntar: e onde entra a AL nessa reflexão? Bem, primeiramente, vamos
considerar o gênero manchete de jornal. As manchetes se constituem, em geral, de textos curtos e
funcionam como títulos ou chamadas de matérias jornalísticas, tendo como função principal atrair o
interesse do leitor para a matéria. E o que uma manchete pode ter de especial para cumprir a
função de chamar a atenção do leitor para a leitura da matéria? Recursos de persuasão, ou seja,
elementos que atraiam a atenção do leitor, que o “seduzam” para a leitura. No caso da manchete,
um gênero que se organiza, as mais das vezes, apenas com palavras, esses recursos são de
natureza linguística. Considerando a manchete citada acima, que recursos ganham relevo para a
persuasão do leitor? São os usos metafóricos das palavras. Ou seja, usos figurados, que se valem
de um tipo de comparação implícita (por exemplo, uma possibilidade de explicação para o sentido
de ‘derrotar’ atribuído ao verbo ‘engolir’ nesse texto pode ser dada a partir do conhecimento que
temos sobre as coisas que servem de alimento para os animais em geral. Os alimentos são
conquistados e deglutidos (engolidos), ou seja são “vencidos” por quem os obtém). Uma tarefa
interessante para ajudar os estudantes a refletir sobre as especificidades dessa manchete seria
solicitar que eles pensassem nesse texto organizado de outra forma, sem as metáforas. Uma
possibilidade poderia ser:
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A manchete seria igualmente informativa, mas, de fato, menos atraente. Apesar disso, demandaria
menos trabalho do leitor para compreendê-la. Não é mesmo?
Entre as competências de leitura que atividades de análise linguística ajudam a desenvolver estão:
IMPORTANTE
Bem, vamos refletir um pouco mais, entretanto, vamos nos dedicar agora à prática de escutar (ou
ouvir). Esta prática está, ao lado da prática de falar, no âmbito da oralidade, âmbito que têm tido,
historicamente, menos espaço na sala de aula do que âmbito de escrita. Recentemente, esse
quadro tem mudado, pois sabemos que a fala é tão importante quanto a escrita. Por isso,
advertem Ávila; Nascimento; Góes (no prelo), que os professores de língua materna precisam:
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Acerca da atividade de escutar (ou de ouvir), no processo da interação verbal, Antunes (2003, p.
112) informa que esta “constitui parte da competência comunicativa dos falantes, uma vez que ela
implica um exercício de ativa interpretação, tal como acontece com o leitor em relação à escrita”. A
autora continua, informando que “existem muitas regras sociais que definem o comportamento
adequado do ouvinte, frente ao outro ou aos outros que falam. Tais regras são convenções que
precisam ser, criticamente, avaliadas e exercitadas na escola”.
Muitas dessas regras são de natureza pragmática, isto é, estão ligadas aos eventos sociais que,
quanto mais formais, serão mais “ritualizados”. Em determinados contextos sociais, é preciso saber
quando se pode falar e quando se deve ouvir. Pense, por exemplo, no contexto da sala de aula. Ou
num evento religioso. Se não se respeitarem as regras sociais convencionadas, esses eventos
podem não acontecer a contento, não é verdade? Há situações, inclusive, em que se um indivíduo
falar num momento impróprio, este será convidado a se retirar do ambiente e poderá até ser
preso. Nos tribunais da justiça, por exemplo. Durante um julgamento, só se pode falar com a
autorização do juiz.
Entre outras, apresentamos, a seguir, algumas competências de escuta que devemos contribuir
para que os alunos desenvolvam:
E onde entra a análise AL? Como exemplo para essa reflexão, pensemos numa situação de
entrevista para emprego. Como um indivíduo deve agir numa situação dessas? Certamente, para
poder se comportar adequadamente nesse tipo de evento interacional, é importante saber falar
bem, com clareza, mas imprescindível saber ouvir, escutar o interlocutor. Ao ouvir atentamente a
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fala do entrevistador, o entrevistado poderá observar as “pistas” que seu interlocutor der para que
possa falar e responder adequadamente às perguntas. E que pistas são estas? Muitas são de
natureza linguística.
Um bom exercício para desenvolver as competências com esse gênero é, primeiramente, conhecê-
lo. O professor pode selecionar algumas entrevistas na internet e levar para a sala de aula para
que encaminhe a análise junto com os estudantes, a fim de identificar as pistas linguísticas que
indicam o momento de o entrevistado falar e o conteúdo sobre o que falar. Em seguida, o professor
pode planejar a realização de uma entrevista de emprego em sala de aula, em que os estudantes
envolvidos devem demonstrar as competências de ouvir com atenção antes de falar.
ATIVIDADE 3
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Iniciamos esta seção, com uma interessante reflexão de Antunes (2003, p. 45), acerca da
atividade de escrita, que também se aplica a atividades de fala.
Considerando essa reflexão, entendemos que quem fala ou quem escreve deve se preocupar em
ser cooperativo com os indivíduos que serão os seus interlocutores, no momento da escuta ou da
leitura de seu texto. Para isso, é necessário conhecer bem as condições pragmáticas em que o
texto deve ser produzido, com base na proposta de Geraldi (2003, p. 137), as condições
pragmáticas são respostas às seguintes questões:
Quando conhecemos essas condições, temos mais segurança para produzir o texto que desejamos.
Todas essas condições devem ser consideradas no momento de planejamento de atividades
didáticas de fala e de escrita. Vejamos duas propostas que consideram essas condições.
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A produção textual será mais produtiva se esta for proposta após o estudo do gênero em foco,
numa sequência didática. Ou seja, primeiro, o professor propõe atividades para que os estudantes
conheçam um gênero, oferecendo aos alunos diferentes exemplares desse gênero. Depois, o
professor apresenta a proposta para a produção desse gênero. E quanto à análise linguística nesse
processo? Em se tratando de produção de textos, a análise linguística entra no momento da análise
do texto produzido pelo estudante, realizada primeiramente pelo professor, que pode indicar usos
pouco apropriados para aquele gênero; depois, pelo próprio estudante, autor do texto, que poderá,
a partir do resultado da avaliação do professor, selecionar elementos para melhorar o texto
produzido e reelaborá-lo, no processo da refacção ou da reescrita.
ATIVIDADE 4
Agora, sua tarefa é ler e avaliar um artigo de opinião escrito por uma
aluno do 6º ano do ensino fundamental, a partir da seguinte proposta:
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As crianças que precisam trabalhar são as que tem más condições financeiras, e as
crianças que não precisam trabalhar são as que tem boas condições financeiras. O
mais importante para uma criança, é estudar porque estudando terá coragem de
enfrentar o mercado de trabalho, quando crescer.
Um fato incontestável que deve nortear nossas reflexões como futuros professores de língua
materna é que todas as línguas variam e mudam com o passar do tempo. Toda língua é um
conjunto de variedades; um conjunto de normas e dialetos falados pelas diferentes comunidades
linguísticas que constituem um povo. Segundo Faraco (2008, p. 37), norma é:
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As normas que têm prestígio social são a norma culta e a norma padrão. Embora muitas
pessoas usem esses dois termos como sinônimos, cada um deles denomina um fenômeno
diferente:
Norma culta, ou, dialeto culto, é o conjunto de usos linguísticos reais, espontâneos dos
falantes mais letrados de uma sociedade. Esses falantes se concentram nas regiões urbanas
do país.
Norma padrão é um modelo de língua “ideal” que, como informa Bagno (2003, p. 63), é
“inspirado na grande literatura do passado”. Se é “ideal”, está no mundo das ideias, não está na
realidade existencial e, por isso, não ocorre de modo espontâneo. Depende de aprendizado formal
(na escola) e de muita atenção e monitoramento do falante para o seu uso.
Além dessas duas normas, existem muitas outras atualmente em uso, que caracterizam o jeito de
falar das diferentes comunidades de fala.
Apesar de a variação linguística ser muito perceptível no dia a dia, pelo fato a escola não ter dado,
ao longo da história, a devida atenção a esse fenômeno nas atividades de ensino de língua
materna, muitas pessoas acreditam que só existe uma forma legítima de falar a língua, a forma
“correta”: a forma padrão; aquela que é baseada nas regras da gramática normativa. Em geral, as
muitas outras formas de falar a língua são simplesmente desconsideradas pela maioria das
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pessoas. Uma prova disso é que, quando uma pessoa fala algo que foge à norma padrão, como,
por exemplo: “Não gosto de chicrete.”, é comum essa pessoa ser objeto de piada e até de
discriminação.
As pessoas que riem, fazem piada ou discriminam quem fala “chicrete” ignoram que essa é uma
pronúncia não-padrão da palavra, cuja pronúncia padrão é ‘chiclete’. As pessoas em geral
simplesmente negam a variação linguística, ignorando as diferentes formas de falar que ouvem e
que elas mesmas expressam por meio da fala diariamente.
Enfim, reiteramos que todas as línguas variam e essas variações produzem mudanças nas formas
de falar as línguas ao longo da história. É por isso que, hoje, não falamos português exatamente
como as pessoas falavam essa língua há 50, 100 e a 150 anos.
A variação linguística ocorre em todos os seus níveis constituintes da língua. Veja alguns
exemplos:
(b) nível morfológico – observe as palavras ‘pegajoso’ e ‘peguento’. Ambas as palavras são
derivadas de ‘pegar’. Em algumas regiões do Brasil, predomina o uso da primeira, em que aparece
o sufixo ‘-oso’. Já em outras regiões, a palavra mais usada é a segunda, formada com o sufixo ‘-
ento’.
(c) nível sintático – veja duas possibilidades de uso, na oração, do verbo ‘preferir’’. Em algumas
situações, as pessoas dizem: “Eu prefiro o lápis do que a caneta.”, com o objeto indireto precedido
da expressão ‘do que’, Em outras situações, essas mesmas pessoas podem dizer: “Prefiro o lápis à
caneta?”, sem a expressão ‘do que’, recomendada pela gramática normativa.
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(d) semântico - a palavra ‘canjica’ é usada em diferentes regiões do país para denominar tipos
diferentes de alimentos: no sudeste, um mingau de milho branco em grão com leite; no nordeste,
uma papa de milho verde.
(e) lexical – um tipo de carne salgada é denominado de ‘carne seca’ em algumas regiões e, em
outras, é denominado de ‘charque’.
As variações linguísticas são muitas e de naturezas diferentes. Entretanto, aá algo importante para
refletir sobre isso: todas as variedades têm o mesmo valor, isto é, uma não é melhor do que a
outra. Por isso, todas devem ser valorizadas como marcas da nossa riqueza linguística, que é
também uma forma de riqueza cultural.
Para refletir sobre como a AL pode ajudar a desenvolver as competências acima citadas, leia a letra
da música Asa Branca de Luiz Gonzaga.
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"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Agora, imagine que você é um(a) professor(a) de uma turma de 7º ano e que tenha levado esse
texto para seus alunos lerem. Após a leitura, que pode ser acompanhada pela escuta da música e
de um diálogo com a turma, a fim de que os estudantes identificassem o autor e o universo de
referência do texto (nesse caso, aspectos ligados à vida no campo), o tema abordado (ao êxodo
rural em função da seca que, às vezes, se abate sobre o nordeste brasileiro) etc. você poderia
lançar à turma perguntas do tipo: “Por que será que há, na letra da música, várias palavras
escritas de modo diferente do que orientam as regras de grafia no português?”/ “Considerando o
gênero em estudo, vocês acham que a escrita dessas palavras está adequada? Por quê?”/
“Imaginem a letra dessa música escrita segundo as regras gráficas. Vocês acham que ela
representaria a fala de um personagem que vivesse no contexto social descrito na letra? O que isso
acarretaria para a construção dos sentidos pretendidos pelo autor do texto?”
Essas perguntas seriam motivadoras de uma análise oral, que possibilitaria os alunos observarem
os modos de uso da língua nesse gênero, que é bastante apropriado aos propósitos do autor e que,
por isso, não precisa ser “corrigido”. Precisa ser valorizado, como uma forma de expressão legítima
da língua.
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ATIVIDADE 5
Em função das orientações dos PCN e das análises realizadas por meio do PNLD (Plano Nacional do
Livro Didático), desde o final da década de 90 do século passado, os livros didáticos Os livros
didáticos (LD), manuais que servem de apoio aos professores para suas atividades de ensino, têm
mudado. Atualmente, os autores têm se esforçado por oferecer aos professores propostas de
ensino de língua que são mais adequadas à concepção sociointeracionista da língua. Entretanto, às
vezes, alguns autores ainda oferecem propostas que não revelam essa concepção.
Por isso, os professores devem estar atentos ao escolherem os manuais que desejam adotar como
um dos recursos didáticos para as suas aulas. É importante ler criticamente os livros didáticos,
analisá-los, a fim de verificar se atendem ao que propalam os PCN.
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ATIVIDADE FINAL
METODOLOGIA
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ANÁLISE 1 2 3 4 5
Apresentam gêneros
pertinentes à abordagem
do fenômeno X (por
exemplo, dos usos de
pronomes pessoais).
Apresentam propostas de
atividades de AL que
aguçam a percepção dos
estudantes em relação às
possibilidades de
construção de sentidos
nos textos por meio do
fenômeno estudado.
As atividades revelam a
concepção sociointera-
cionista da língua.
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A AVALIAÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Bons estudos.
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