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POR: FÁBIO LEITE PEREIRA

LITERATURA SAPIENCIAL:
SABEDORIA E ESPIRITUALIDADE DA VERDADEIRA RELIGIÃO

Este trabalho é de natureza acadêmica na área da


Disciplina de Pesquisa Científica, com o objetivo
de avaliação, sob orientação do Prof. Pr. Walcir
Ney de Souza.

CABO FRIO - 2019


RESUMO

A literatura sapiencial está registrada nos livros de sabedoria da bíblia Hebraica. Nesta literatura
estão refletidos os problemas, as experiências, as crenças, a filosofia e a atitude dos israelitas
diante de suas experiências de ordem éticas, espiritualidade e prosperidade. Estes livros tratam
com problemas e verdades familiares a todo o gênero humano inclusive em nossos dias.
Contudo, mesmo sendo diferente em tempo, cultura e civilização, as palavras e ideias
expressadas pelos israelitas em sua cosmovisão de sociedade e religião, são de nosso interesse,
pois são escritos inspirados. A sabedoria israelita, ocupa um lugar de destaque na História desse
povo. Contudo, é preciso ter um olhar mais atento com as teologias modernas que, na verde, é
um reflexo da leitura teológica erronia acerca de temas tratados em livros como o de Jó, por
exemplo. Esta literatura retrata os pensamentos e atitudes do povo israelita perante a vida social,
religiosa, ética e moral. Tal sabedoria refletida na Palavra nos orienta contra falsas teologias
como a teologia da retribuição, as colocações teológicas dos amigos de Jó, e por fim, essa
sabedoria nos capacita a compreender de forma mais sóbria, questões difíceis da religião.
Primeiro, mostraremos o que é sabedoria no sentido bíblico, pois cremos ser a chave para o
entendimento de livros como Salmos, Jó, Provérbios e Eclesiastes. Segundo, trataremos de
modo mais aprofundado o livro do Jó e sua verdadeira teologia, analisando os discursos de cada
uma das personagens e a intenção do autor.

PALAVRAS CHAVE: Sabedoria – Teologia – Sofrimento – Prosperidade


ABSTRACT

Wisdom literature is recorded in the books of wisdom of the Hebrew bible. This literature
reflects the problems, experiences, beliefs, philosophy, and attitude of the Israelites toward their
ethical experiences, spirituality, and prosperity. These books deal with problems and truths
familiar to all mankind even today. However, while different in time, culture, and civilization,
the words and ideas expressed by the Israelites in their worldview of society and religion are of
interest to us because they are inspired writings. Israelite wisdom occupies a prominent place
in the history of this people. However, one needs to take a closer look at modern theologies,
which, in green, is a reflection of erroneous theological reading about topics dealt with in books
such as Job's, for example. This literature portrays the thoughts and attitudes of the Israeli
people towards social, religious, ethical and moral life. Such wisdom reflected in the Word
guides us against false theologies such as the theology of retribution, the theological statements
of Job's friends, and ultimately, this wisdom enables us to more soberly grasp difficult issues
of religion. First, we will show what wisdom is in the biblical sense, for we believe it to be the
key to understanding books such as Psalms, Job, Proverbs, and Ecclesiastes. Second, we will
deal more thoroughly with the book of Job and his true theology by analyzing the discourses of
each of the characters and the author's intent.

KEY WORDS: Wisdom - Theology - Suffering - Prosperity


INDICE OU SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO

I. SABEDORIA NO ANTIGO TESTAMENTO

1.1 LITERATURA SAPIENCIAL

1.1.1 Conhecimento sapiencial

O que significa ser sábio? Seria uma pessoa mais inteligente que outra? Alguém que estudando
torna-se doutor? Não seria verdade que por causa dessa consciência do que supostamente seja
uma pessoa sábia e cheia de sabedoria, hierarquizamos as pessoas segundo o que elas sabem e
o que deixam de saber? Então, para as pessoas mais sábias, os melhores lugares; para as menos
sábias, os últimos lugares. Quando pesquisamos sobre o significado de sabedoria na Bíblia
Hebraica, verificamos que com frequência, sabedoria significa a posse de uma habilidade
particular. Um exemplo seria a habilidade do ferreiro Jeremias 10.9, do padeiro 1 Crônicas
22.15, ou do construtor de navio Ezequiel 27.89. Outro exemplo bem significativo é o de
Bezalel e seus amigos que convocados para fazer a tenda e a arca, podem ser considerados
“sábios”, no sentido de que foram dotados com a técnica e habilidade artística necessária Êxodo
31.1-11.

Portanto, a sabedoria não indica, em primeiro lugar, uma virtude intelectual, um conhecimento
teórico. A relação que se deve fazer é com a prática, ou seja, a aptidão que alguém possui para
conduzir bem a vida e agir com sensatez.

Ser sábio sempre nos levaria a uma pergunta de fundamental importância: qual a atitude que
temos diante da vida e de sua complexidade? Sabedoria antes de mais nada é uma arte de viver,
um modo de conceber a existência individual, familiar e social. Não são os títulos acadêmicos
que fazem uma pessoa ser sábia. O que vale de fato, é como se vive e para que se vive. Estamos,
portanto, ao redor da descoberta do sentido e da finalidade da vida.

Os livros sapienciais representam a expressão do pensamento do povo de Deus no cotidiano, A


partir do dia a dia, o pensamento se verbaliza, se organiza, e a vontade de Deus se dá a conhecer.
Com qual objetivo? O objetivo é o de que a vida sempre melhore. Por isso, é possível dizer que
a sabedoria é algo que sempre nos coloca a caminho, uma procura constante que nos leva a
caminhar e descobrir novos caminhos de viver e ser feliz. São caminhos que o povo de Deus
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buscava antigamente para melhor viver, e hoje, também devemos compreender os livros
sapienciais como textos que nos estimulam a interpretar a nossa própria realidade. Para que
possamos extrair o melhor viver da existência.

Podemos observar que ao longo da história, foram surgindo os desvios doutrinários, os falsos
religiosos, mercadores da fé, nosso objetivo é fazer teologia para combater a antiteologia que é
um sub produto de uma hermenêutica equivocada, sobre tudo, não meramente equivocada, mas
leviana, tendenciosa. Os frutos dessa antiteologia, é fácil de se identificar nos temas de livros
de autoajuda, temas, palestras, músicas, pregações.

Queremos mostrar a atual faceta da teologia da retribuição que recebe uma roupagem teológica
que mais espalha do que ajunta, que não tem apoio da Bíblia. Para tanto, vamos abordar o livro
que mais trabalha esse tema, Jó. Mas será preciso mostrar o pano de fundo e contexto histórico
cultural, político e econômico deste livro. Ainda, para se ter a melhor visão da mensagem deste
livro, seria conhecer a forma de literatura que o autor Jobiano usou, e a compreensão da
LITERATURA SAPIENCIAL fará toda a diferença em nossa investigação.
Vamos descrever nas próximas linhas como se deus tal sabedoria, ou seja, como aconteceu seu
processo de nascimento e desenvolvimento através da história desse povo.

1.1.2 A sabedoria não é especulação filosófica


Algo importante de dizer é que nos livros sapienciais não encontramos muito espaço para
especulação filosófica. Nesta literatura, o mais importante são os interesses imediatos. O estilo
sapiencial não se detém na observação e na reflexão, pois a sua meta é desenvolver estratégias
de vida que integrarão a existência do indivíduo com a ordem percebida no mundo. A sabedoria
se vai em direção ao estilo ético e de comportamento prático e compreensivo, adequado às
situações nas quais seus seguidores vivem, trabalham e atuam reciprocamente um sobre o outro.
Trata-se de viver bem e, como sempre vimos em sociedade, da arte de viver bem não apenas
consigo mesmo, mas também e principalmente, com os outros.
Devemos nos aproximar dos livros dos livros sapienciais na perspectiva de que eles
representam o testemunho de que o lugar de encontro com Deus é a própria vida.1 Deus jamais
é encontrado fora da experiência de vida de cada pessoa. A coisa mais cara que a pessoa possui
é justamente a vida que elas vivem.

1
ROSSI, LUIZ ALEXANDRE SOLANO. Sapienciais sabedoria a favor da libertação pg. 6
Uma constatação importante é saber que a Palavra de Deus nasce no chão da vida, por isso, é
uma palavra encarnada na realidade do povo. Palavra que fala ao coração das pessoas e altera
o curso da história, gerando esperança contra toda esperança. Mas aonde se dava a manifestação
dessa sabedoria? Se dava nos espaços sociais e políticos nos quais a vida era vivida e desafiada.
Ceresko declara em seu livro que a feira era o lugar de manifestação da sabedoria.
Pensar a respeito de Deus e de seu projeto somente tem sentido a partir dos contextos vitais que
o homem e a mulher vivem. Deus não pode ser imaginado como um elemento de alienação que
se deixa escapar por entre os nossos dedos, nossos sonhos de viver com qualidade.
Veja a seguir alguns desses lugares registrados na história do povo de Deus:
a) O ambiente da casa. A educação familiar era de extrema importância. Os pais levavam seus
filhos a abrir os olhos para a realidade e ver a vida de forma objetiva. As experiências
acumuladas eram passadas através das gerações. Poderíamos dizer que “sábio” seria
considerado aquele que conseguia formular determinada experiência de vida num único
provérbio, ou seja, a experiência era sintetizada em pouquíssimas palavras; b) O trabalho no
campo. O campo é uma realidade do povo de Deus em contraste com a cidade. No campo
encontram-se as tradições da história da salvação mais caras ao povo de Deus. c) A vida na
cidade. Há muitas críticas às cidades, principalmente nos profetas. Nas cidades há um acúmulo
de riquezas e poder. E se existe o acúmulo de riquezas de um lado, do outro lado, justamente
por causa do acúmulo de alguns o empobrecimento de outros se espalha. d) O palácio. No
palácio se encontra o sistema nervoso da nação. e) O templo. Templo não é, necessariamente,
sinônimo de uma religião libertadora. Muitas vezes, os templos foram utilizados para legitimar
a política real e, por isso, os cultos neles realizados foram veementemente condenados pelos
profetas. A crítica dos profetas soava radical: a hipocrisia marcava a vida dos que iam ao
templo. Nele eram piedosos, mas fora dele, viviam de forma impiedosa e sem misericórdia.
Na origem da sabedoria está o povo e a sua reflexão ativa, ou seja, uma reflexão que procura
por respostas diante dos caminhos da vida: Como viver? Como agir de forma correta? Como
posso me sair bem na vida? Essas perguntas são bem atuais e que exigem respostas. Até aqui,
podemos entender a importância da literatura de sabedoria para nossos dias. Todos desejam
vencer na vida, e não ser derrotado por ela. A preocupação principal da sabedoria, portanto,
é a de enfrentar as contradições da vida. E a vida acontece e se resolve na ordem do cotidiano.
A sabedoria do povo de Deus é um instrumento que permite ao povo sobreviver em dias maus
e não se deixa vencer pelos problemas. Por isso, ela deve ser lida tendo como cenário a vida
diária. “Feliz o homem que encontrou a sabedoria e alcançou o entendimento, porque a
sabedoria vale mais do que a prata, e dá mais lucro que o ouro” (Provérbios 3,13). A sabedoria
jamais nos leva a olhar para os céus a fim de encontrar Deus. Mas, sim, encontrar Deus nas
contradições que atingem diariamente a pessoa.

1.1.3 A sabedoria é de baixo para cima


Outro elemento importante da sabedoria é que o seu crescimento se dá debaixo para cima. A
raiz da sabedoria, portanto, é o chão da história. Por isso, ela somente aceita o que a prática
comprova. Teoria são boas, mas é o colocar as mãos na massa que evidencia a sabedoria. A
experiência do chão da vida atingi todos indistintamente. A sabedoria não procura o bem
individualista e egoísta. Ninguém possui exclusividade sobre a sabedoria porque ela pertence
ao povo.
A literatura sapiencial aborda, em grande parte, porém, não de forma exclusiva, os problemas
universais. Sabedoria, é portanto, uma abordagem à vida (tanto a de ontem como a de hoje)
uma maneira de olhar o mundo, um modo de viver, de viver bem, mas é claro, sob os
mandamentos e liderança de Deus. Essa literatura pode ser considerada como expressão
literária de uma classe social econômica e politicamente elevada. Mas, um dos traços mais
marcantes da literatura sapiencial é a corrente critica libertadora. Essa crítica questiona de um
modo muito próprio, a sabedoria dos que parecem ter se esquecido de que a proteção vulnerável
é tarefa prioritária, por exemplo, dos governantes do povo de Deus. Sua faceta libertadora se
apresenta na medida em que propõe a justiça e a solidariedade com o oprimido como caminho
de realização pessoal e comunitária. Por isso, os autores e estudiosos deste assunto, usam via
de regra a expressão espiritualidade libertadora. É interessante perceber que o objetivo da
literatura sapiencial é “profano” no sentido de que ela não está no campo da metafísica ou
sobrenatural. Ao contrário, ela se ocupa da vida no cotidiano, com a vida diária, ou seja, como
educar uma criança rebelde, os perigos que rodam o relacionamento interpessoal, como a
fofoca; porque as pessoas injustas parecem prosperar e as justas passam por necessidades,
morte, fome, sofrimento e castigo; também se ocupa com temas como amor, educação de filhos,
qualidades necessárias para vencer na vida, pobreza, riqueza, justo ou injusto, empréstimos,
paciência, prudência, amizade, respeito à mulher, temor de Deus, , adultério, luxúria, controle
da língua, saber desconfiar. Todas são situações do dia a dia de todas as pessoas em todos os
tempos, em todas as épocas. Portanto, fica mais claro entender a expressão “profano”, ou de
baixo para cima.
Mas chaga um momento que essa literatura toma um aspecto informal, e passa a se tornar uma
instituição com objetivo de organizar a sociedade. Se antes, a sabedoria era vista como
instrumento de organização pessoal e familiar, agora ela passa a ser vista como instrumento de
organização e o governo do povo. Por exemplo, ela começa a ser associada com a figura do rei
Salomão, considerado sábio por excelência 1 Reis 4. 27-54. É importante salientar que a
sabedoria não é um tema exclusivo somente no texto bíblico, ela está registrada na cultura do
antigo Oriente Próximo, como Egito, Assíria e Babilônia só para citar alguns. O tema da justiça
social, também é um tema presente nos povos vizinhos de Israel.
A título de compreensão, mostro algumas características da literatura sapiencial dentro dos
povos do Oriente Próximo, e o tema da libertação e justiça social.
 O caminho da libertação dos oprimidos tem como fundamento a justiça dos deuses.
 O oprimido está sob a proteção dos deuses.
 O critério para a recompensa ou o castigo é o pobre, isto é, a prática opressora
corresponde ao castigo e a prática libertadora à recompensa.
 A solidariedade com o oprimido é considerada como uma virtude do homem sábio, isto
é, como algo que agrada a Deus.
 Deus escuta o clamor dos oprimidos e vai sempre em seu auxílio. Ela, em determinado
momento rompe as fronteiras do círculo familiar, é o que veremos nos próximos
tópicos.

1.2 O NASCIMENTO DA SABEDORIA


1.2.1 Sabedoria de clã ou família

Nos tempos antigos enquanto se formavam as comunidades lutavam por sua sobrevivência,
nesse processo, essas comunidades colhiam os frutos da reflexão acerca da sua própria
experiência e os resultados dessa reflexão, assumiu uma de duas formas. Em primeiro lugar, no
que diz respeito a vida e a boa ordem da comunidade mais ampla desembocaram na elaboração
de códigos legais e na fixação de costumes a fim de regular e orientar a vida da sociedade e do
povo como um todo.

Em segundo lugar, no tocante aos indivíduos e a vida cotidiana no lar e na família, a reflexão
sobre a experiência redundou no que consideramos um tipo de “sabedoria”. Essa sabedoria em
um conjunto coerente de pressupostos e conclusões sobre a vida da sociedade, veio a se
formalizar e surgir espontaneamente a partir da necessidade da criação e educação da nova
geração.

Mesmo em épocas bem primitivas há provas de que foi aplicado muita energia na concepção
dessa sabedoria, e a medida de que iam surgindo novas geração os pais iam se equipando com
a sabedoria. Assim a medida que surgem os filhos cria-se a necessidade de adquirir habilidades
e conhecimento para lidar com a vida e o mundo. Esse processo de preparação dos jovens
produziu um rico repertório de parábolas e de provérbios, bem como de narrativas, orais e
escritas, destinada a instruir a geração mais jovem. Esse volume de “sabedoria” e o conselho
prático que recebem refletem os valores e crenças dessa cultura, seja uma cultura do passado,
seja do presente. Ou seja, é dentro do clã/família que surge uma sabedoria para lidar com
questões da vida.

1.2.2 Sabedoria na escola dos escribas

Foi por volta do final do quarto milênio e começo do terceiro que desenvolveu-se o sistema de
organização social de cidades-estados nos grandes vales dos rios do sul da Mesopotâmia
(Suméria antiga) e do Egito. Tal sistema foi largamente imitado e disseminou dominando a vida
no mundo antigo. Existia uma elite dirigente minoritária, um a cinco por cento da população
que vivia nos centros urbanos mais amplos cercados por muralhas, ali eles controlavam a
população e a economia das regiões rurais próximas. Essa estrutura centralizada e burocrática
demandava um tipo de profissional: a escola dos escribas. Estes atendiam as necessidades dessa
estrutura. Segundo Ceresko, pag. 15, a escola dos escribas proporcionava treinamento
primordial nas habilidades mais fundamentais do burocrata antigo: leitura e escrita, habilidades
que requeriam longas horas de estudo e prática. Ainda segundo Ceresko, essa configuração era
decorrente de uma natureza complexa dos primeiros sistemas de escrita cuneiformes
mesopotâmicos e hieróglifos egípcios.

Além da escrita, a escola trabalhava os elementos fundamentais da administração e uma ética


de sobrevivência. O intuito era produzir um material para fins de segurança e realização bem-
sucedida de manobras no âmbito da instituição real. Eles também dependiam do sucesso do seu
tralho para manter a sobrevivência. Sobre este assunto existe uma documentação histórica no
texto egípcio A Instrução do Visir Ptá Hotep, que data da metade do terceiro milênio cerca de
2450 a.C.
Além das atividades de produção de documentos administrativos como correspondência
administrativa, comercial e diplomática, eles também compunham e copiavam obras literárias:
coletâneas de provérbios e fábulas, épicos, mitos e os primeiros materiais que parecidos com a
história que eram as crônicas das façanhas dos reis. Isso também lhes dava uma certo status
privilegiado.

Aqueles que eram membros da instituição real, entenderam o potencial propagandístico dessas
obras. Por isso o monarca apoiava e incentivava a produção de relatos favoráveis de suas
incursões. Registro dos sucessos do rei em batalha, seus projetos de construção e sua relação
com a divindade, tudo isso era trabalho do escriba. O rei e seus conselheiros sabiam bem como
usar o potencial para produzir escritos e alavancar seu prestígio, como por exemplo os anais de
Tiglat Pileser I (1114 – 1076 a.C.).

A escola dos escribas imbuíam os alunos dos valores práticos e éticos necessários à realização
bem-sucedida e eficiente de suas funções profissionais oficiais. Também tinham por alvo ajudar
os alunos a alcanças o bem-estar e a satisfação em sua existência diária. Mas esses escribas
também tinham consciência da natureza ambígua, ambivalente, da condição humana. Havia
aspectos da vida e interrogações aos quais o conhecimento e as habilidades que estavam
aprendendo não podiam responder. Para preparar os alunos para lidar com a possível desilusão
e frustação, a instrução abordava igualmente o caráter paradoxal da natureza humana, assim
como as ambiguidades da existência humana. Em consequência, encontramos entre suas obras
literárias provérbios, histórias e reflexões que abordam alguns dos problemas humanos perenes
como o sofrimento dos inocentes, o sentido da vida e a mortalidade humana. Podemos ver aqui
os ancestrais de alguns livros da bíblia, como Jó e de Coélet, que tratam de temas similares.

Um bom exemplo desse tipo de literatura é o famoso Épico de Gilgamés composto pouco antes
ou depois de 2000 a.C. Obras que versam sobre o sofrimento dos inocentes e a morte da maneira
mais explicitamente especulativa e questionadora surgiram tanto no Egito como na
Mesopotâmia.

1.3 Experiência que produz sabedoria


II. O MOVIMENTO SAPIENCIAL NA HISTÓRIA DE ISRAEL

Nas linhas anteriores, expomos sobre a sabedoria, seu nascedouro e algumas características.
Agora, iremos investigar o contexto histórico em que essa sabedoria é refletida, esse
entendimento nos dará uma visão mais clara de livros como Jó, Salmos, Provérbios e
Eclesiastes. Afirmo que na nossa pesquisa, trataremos especificamente do livro de Jó, mesmo
assim, trataremos alguns pontos dentro de outros livros.

A catástrofe da destruição babilônica de Jerusalém em 587 a.C. significou o final da escola de


escribas reais enquanto instituição. A escola como tal, não desapareceu, mas os escribas em sua
tradição resolveu incluir-se na tradição continua o cultivo da sabedoria, mas tratava de uma
sabedoria que assumiu novas direções, como resultado, os dramáticos eventos históricos.

A essa tradição que sobreviveu e teve prosseguimento devemos alguns dos melhores exemplos
daquilo que designamos por literatura sapiencial, livros de Provérbios Eclesiastes (Coelet).
Como essa tradição de escribas sobreviveu e quais foram algumas conquistas e ocasiões das
obras sapienciais a elas atribuídas? No contexto no qual essa tradição escritas e sua sabedoria
continuaram a coletividade dos estilos da corte levados para o exílio pelos babilônios. A esses
escribas se uniram sobrevivente dos grupos de escritas associados ao templo de Jerusalém.
Círculos deuteronômios do final da monarquia do período posterior ao seu fim contavam entre
seus membros com escritas treinados na sabedoria. A “escola” ou tradição deuteronômica
produziu a História de Deuteronômica, o complexo de sete livros que abrange do Deuteronômio
a 2 Reis. Assim, esses escritas treinados em sabedoria que figuravam entre os aderentes da
escola deuteronômica constituíam um segundo grupo que cultivava a sabedoria. Ceresko, A sabedoria
no Antigo Testamento pg. 28

Uma possível base institucional da sabedoria e veio com a restauração de uma Comunidade
Judaica em Judá e em Jerusalém depois de 539 a.C. Os persas haviam substituído os babilônios
como os novos senhores imperiais do oeste asiático. Ciro, o novo dirigente persa, ordenou a
reconstrução de Jerusalém e o estabelecimento da província de Judá. A nova província
precisava de pessoal treinado para compor o aparato administrativo. Não resta dúvida de que
os persas recrutaram um bom número de escriba judeus, tanto entre os que estavam no exílio
na Babilônia como entre a população local. Mais uma vez Jerusalém tinha sua “escola de
escribas” não para servir a um monarca nativo, mas a regentes estrangeiros.
O templo reconstruído também necessitava de escritas tanto para administrar seus recursos
como para produzir e copiar textos rituais e outras obras religiosas. Famílias de sacerdotes e
sobreviveram a destruição de Jerusalém e de seu templo em 587 a. C. também incluíam alguns
membros treinados com escribas que ulteriormente mostraria o interesse pela sabedoria. O
sacerdote Esdras, por exemplo, é identificado como um escriba ou secretário da corte persa:
Esdras 7.10-11.
A menção do interesse de Esdras Pelo estudo e pela prática da lei de Javé assinar um novo
desenvolvimento no Israel-exílico: A gradual fusão da sabedoria com o estudo e a reflexão
sobre a Torá ou a lei de Moisés o pentateuco ou cinco livros de Moisés na nossa Bíblia atual.
Essa fusão vai florescer no modo pleno na obra do sacerdote escriba Sirac que considerava a
Torá a própria personificação da sabedoria, uma sabedoria com uma fonte divina ou seja,
revelada pelo próprio Deus.

2.1 Israel antes do exílio


Fizemos um esboço nos contextos históricos e emergente do movimento sapiencial e da tradição
sapiencial em Israel. Examinaremos agora mais de perto os contextos e fatores históricos que
levaram aos escritos sapienciais tais como os livros de Provérbios, Jó, Eclesiastes Sabedoria
Sirácida e a Sabedoria de Salomão.
Procuramos traçar a base histórica dos escritos sapienciais como por meio de um panorama
porque assim nós podemos ter uma compreensão mais profundo do contexto socioeconômico
cultural em que os escritos sapienciais foram redigido.
Nossa preocupação com uma hermenêutica séria é justamente produto dessa pesquisa. Quando
propomos falar sobre o livro de Jó e sua teologia dos discursos dentro do mesmo, não
poderíamos deixar de ter o compromisso com o texto inspirado, pois este, no seu contexto
imediato, no seu pano de fundo, registra verdadeiros princípios relevantes para nossa vida. Esse
é o nosso compromisso.
O movimento sapiencial e as tradições de Sabedoria em Israel refletem uma clara continuidade
com pensamento sapiencial por todo o mundo antigo, remontando a mais de 2000 anos a partir
daquela época a invenção da escrita, primeiro na Mesopotâmia e depois do Egito por volta de
3000 a.C. Podemos entender que a história própria de Israel tem início no século XVIII a.C.
A sabedoria familiar e de clã já florescerá há vários séculos entre os povos que formaram o
Israel primitivo, a sabedoria popular evoluiu ao longo de gerações por meio da atividade
parental, e da preparação de cada nova geração para lidar com a vida e alcançar algum grau de
sucesso de satisfação. A partir deste ponto, do Êxodo e da subsequente formação das tribos de
Israel no país montanhoso de Canaã, a sabedoria Israelita tirar a marca da cultura religiosa
dessas pessoas e essa cultura ela era marcada especialmente pelo culto a Javé, o Deus que se
põe ao lado do pobre e liberto oprimido.
O novo fator aparece com a chegada de Davi e Salomão, o estabelecimento de uma monarquia
isso por volta de 1000 a.C. Uma nova dimensão da sabedoria israelita marcada especificamente
pelo seu vínculo com a escrita e com as preocupações da corte e do tempo real escola de escritas
estabelecidas como uma parte vital da estrutura administrativa do Palácio e do Templo de
Jerusalém tornaram-se também no centro do “pensamento sapiencial”. Ocorreram contatos com
a sabedoria Internacional e uma abertura às tradições de outros povos do Egito em especial.
Talvez seja mais importante para nós o desenvolvimento do interesse pela criação de obras
sapienciais em forma escrita, e esse interesse resultará nos períodos exílico e pós-exílios, nas
obras literárias encontradas na Bíblia - Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria de Salomão,
Sabedoria Sirácida e o livro que é alvo da nossa pesquisa, o livro de Jó.
Vamos ver o final da Monarquia e destruição de Jerusalém:
Entre o final do século VII e o começo do século VI a.C., a grande potência mesopotâmica da
época, a Babilónia, lutava com o Egito pelo controle da área fronteiriça entre os dois países.
Essa área de fronteira inclui o pequeno Reino de Judá. Quem venceu essa guerra foram os
babilônios, suas ambições imperiais não toleravam a mínima oposição ou ameaça ao seus
planos, esse era o regime deles. Veja como eles reagiram com devastadores resultados no
sentido de esmagar as pretensões de autonomia e da independência dos regentes e do Povo de
Judá e de Jerusalém. Jerusalém foi destruída, suas muralhas derrubadas, e o templo e o Palácio
Real reduzido a cinzas, um grande número de líderes – família real e a nobreza e sacerdotes –
e funcionários do templo, mercadores e artesãos foram levados para o exílio na Babilônia ali
permaneceram por duas gerações aproximadamente 539 a.C.

2.2 A crise exílica

A destruição de Jerusalém pelos babilônios em 587 a.C. marca um dramático ponto de ruptura
na história veterotestamentária. Durante seis séculos, a comunidade de Israel uso de certo grau
de autonomia de controle sobre sua própria história e seu próprio futuro.

Tudo isso chegou ao fim de uma maneira dramática que espantou e abalou esse povo,
ameaçando enviá-lo para o caminho do esquecimento histórico.
A isso seguiram-se uma confusão e uma crise de identidade em um único golpe, tudo que
parecer estar no âmago da sua vida como o povo a cidade santa de Jerusalém, seu tempo e suas
ricas tradições cúlticas, assim como a casa real davídica, foram levado a um tribunal. Foi
tremendo o esforço de compreensão do que acontecer, sem contar o de começar a reunir as
peças e reconstruir. O desafio para o povo Judeu durante o envio e no período pós-exílio não
foi só o da sobrevivência. Mas também o do assentamento de bases para o futuro, sem que suas
raízes passadas fossem abandonadas. Eles tiveram literalmente de reconstruir e recriar sua
identidade como povo.
No esforço para essa recriação e reconstrução seguiram duas direções: houve, por um lado, a
reconstrução física concreta, com o restabelecimento de uma comunidade judaica em Judá e
em Jerusalém. Por outro lado, essa reconstrução e recriação envolveram uma enorme atividade
literária que resultou na produção de largas parcelas do que hoje constituem nossa Bíblia.

2.3 A crise pós-exílica


A queda do império babilônico diante dos persas sob a liderança de Ciro, em 539 a.C., ofereceu
a oportunidade do reestabelecimento da comunidade judaica em Judá e em Jerusalém. Era
vantajoso para a administração central persa, contar com um regime local amigável e
cooperativo local estrategicamente importante como a Palestina, localizada na distante
extremidade oeste do império. Assim, o regente persa Ciro, promulgou um decreto que
encorajava os grupos de judeus à voltar a sua terra natal e a reconstruir a cidade de Jerusalém e
seu templo ao Deus de Israel, Javé.
Em março de 515 a.C., o novo templo foi dedicado e iniciou-se a realização regular do culto
regular. A restauração do templo e do ritual sacrificial regular exerceu um forte efeito sobre a
comunidade judaica, não só em Judá mais em todo o mundo Mediterrâneo. Os judeus, embora
habitassem em grande número de lugares distantes de Judá e de Jerusalém, agora tinham um
centro comum para o qual podiam voltar, um símbolo de esperança no futuro e de um maior
restabelecimento.
Mas repare que a batalha do povo pela sobrevivência e pela recriação de sua identidade como
Israel acelerou a produção de documentos escritos durante o exílio e depois dele.
A história da monarquia foi contada na história Deuteronômica, os sete livros que vão de
Deuteronômio a 2 Reis. Essa segunda edição, completou-se em algum momento entre a morte
do Rei Josias em 609 e o começo do exílio em 587 a.C. Durante o próprio exílio, esse
documento foi revisado para fins de inclusão de eventos históricos ulteriores.
Surgiram outros escritos neste período pós-exílio, incluindo os escritos chamados sapienciais
do Antigo Testamento, a lei e os profetas e trata de maneira mais direta das preocupações
comunitárias articulação da identidade do grupo, sua origem e o modo de vida em específico e
o caracterizava. Esses escritos sapienciais por sua vez, tratam de questões familiares e
preocupações individuais, tomados em conjunto esses escritos sapienciais não representam
totalmente, todo um conjunto de “estratégias de sobrevivência” em meio ao confuso e
desafiador mundo pós-exílio. Mais do que isso, eles oferecem um modo de um indivíduo
“sábio” levar uma vida gratificante e satisfatória de amor de lealdade ao Deus da Aliança de
Israel, Uma “espiritualidade” para lidar com as pressões e desafios da vida cotidiana como
judeu fiel. Neste ponto, Rossi, ao contrário de Ceresko, vai tratar deste período específico, nesse
momento em que esse povo vivia como um período pesado tenebroso, obscuro em termos de
economia da vida social familiar e religiosa. Rossi vai olhar mais para o foco do problema
dessa comunidade, para ele, a teologia vigente era de que aquela parte da nobreza que assistia
junto ao império era considerado pura, porquê tinha uma vida melhor, ao passo que os pobres
eram considerados impuros. Ele está falando da teologia do puro e do impuro. Antes, a benção
de Deus era vista pela posse da terra como em Gênesis 12, agora, a crença de que a riqueza era
um sinal irrevogável da benção de Deus por que um grupo de nobres prosperava. Nessa
teologia, os mais puros seriam os mais ricos, e os pobres doentes. Para Rossi, os 40 capítulos
dos discursos do livro de Jó, são um eco das mulheres do capítulo 5 de Neemias.
Mas vamos voltar ao que Ceresko chama de desordem econômica e social.
Repare alguma familiaridade com as medidas sociais, e especialmente econômicas, impostas
aos povos subjugados pelos sucessivos regimes imperiais, pode lançar luz sobre os desafios
específicos que os judeus enfrentaram na vida cotidiana do período pós-exílio.
Repare a organização econômica. Cada família ampliada possui uma “casa” ou porção de terra,
um “legado”, que era passado de geração para geração e que garantiria o acesso aos recursos
básicos necessários a providência. Essa “propriedade ancestral” devia permanecer nas mãos da
família e não se esperava que fosse vendida ou hipotecada.
O sistema de “ajuda mútua” foi instituído com o fim de assistir famílias em crise financeira, por
causa da seca ou da perda da lavoura por exemplo. Esse sistema exigia dos membros de um clã
ou tribo o oferecimento de empréstimos a juros baixos, ou doações diretas a família em crise
para que estas não se vissem obrigadas a vender ou a hipotecar sua “casa”. No curso da
monarquia, essa economia comunitária entrou em conflito com as exigências dos Reis de Israel
e da Judeia, de tributos na forma de pagamento de impostos ou de trabalhos forçados. Essa
imposição de medidas tributárias de um governo monárquico centralizado, enfraqueceu mas
não destruiu a ordem comunitária e isenta de tributos profundamente arraigado herdada dos
primeiros momentos de cada confederação tribal. Nos períodos exílio e pós-exílio, tanto os
judeus que permaneceram na Palestina, como aqueles que fugiram, ou que foram deportados,
recorreram a valores e práticas comunitárias para sobreviver enquanto povo.
Não obstante, a crise socioeconômica se aprofundou e ameaçou mais essas tradições. Quando
assumiram o poder, os persas impuseram novo sistema de cobrança de impostos. A partir do
reinado de Dário 522- 486 a.C., exigia-se dos judeus que pagassem os impostos não mais como
uma porcentagem de sua produção agrícola, mas sem dinheiro. Em outras palavras, eles
precisavam antes vender a produção e depois, com o dinheiro obtido na venda desses produtos,
pagar uma soma fixa às autoridades persas em dinheiro vivo. Tempos de seca ou de frio,
desfavorecia os preços de mercado, e se mostravam especialmente difíceis para os donos de
pequenas propriedades rurais e suas famílias. Muitos eram obrigados a se endividar e a
hipotecar sua propriedade. Alguns chegaram mesmo a vender a si e/ ou aos filhos para a
escravidão estrangeira a fim de pagar suas dívidas, Neemias 5.1-5. O livro de Provérbios como
o de Jó se veem às voltas com as questões teológicas e espirituais geradas por esses
desenvolvimentos e por essa crise.
III. SABEDORIA EM: JÓ – PROVÉRBIOS –ECLESIASTES

SABEDORIA SAPIENCIAL EM JÓ:

Estrutura

Qualquer estudante da Bíblia que deseja conhecer o texto bíblico de forma mais profunda, deve
iniciar sua investigação pela literatura. Sobre a divisão do livro de Jó, concordamos sobre a
seguinte divisão proposta por Terrien: cinco partes distintas, sendo a) um prólogo em prosa (1,
1-2. 13) que descreve o herói e seus sofrimentos: b) uma discussão em verso (3. 1-31. 40) entre
Jó e três de seus amigos, em três ciclos de seis ou sete poemas cada um; c) um discurso em
verso (32. 1- 37. 24), pronunciado por um quarto amigo chamado Eliú; d) duas séries de
questões em verso, propostas por Iahweh, e as duas respostas de Jó (38. 1- 42.6); e) um epílogo
em prosa (42. 7-17), que conta a restauração do herói e sua morte depois de uma longa e feliz
velhice. Alguns outros comentaristas adotam uma divisão tríplice, de qualquer forma, uma
leitura rápida do livro em uma só assentada, nos mostra uma divisão em primeira parte, prólogo,
uma segunda em discursos e uma terceira em epílogo.

Texto

Sobre a forma da composição do livro, segundo Samuel Terrien, ela não é homogênea e o
prólogo e epílogo lembram o gênero literário das tradições patriarcais: anedota folclórica. Mas
o poema pertence ao gênero literário sapiencial, porém, este livro se diferencia de Provérbios
e Coélet e outros, por conta de algumas peculiaridades que para nós, uma das mais relevantes
seria que o autor trata de um só tema e usa a forma dialogada, no entanto, essa forma dialogada
é complexa. Esse estilo literário do poema jobiano (prólogo), é uma obra literária extraordinária.
A riqueza de Jó, por exemplo, dentro desse estilo literário é uma hipérbole lendária, e a cena
da corte celeste faz referência ao mito mesopotâmico politeísta. A chegada dos mensageiros, é
uma simplificação dramática da situação: consciência simétrica, ou seja, a chegada dos
mensageiros da forma como se conta, tem uma certa simetria.

Essa obra é verdadeiramente sem paralelos na literatura hebraica no que se refere a sua
composição, Terrien menciona que esta obra vai além, podendo ter sofrido influência de
literaturas estrangeiras. É sabido que o cenário do Antigo Testamento não surgiu em um vazio
cultural. Descobertas arqueológicas mostram que Israel recebeu influência dos vizinhos do
Oriente. A literatura sapiencial do Antigo Testamento e o livro de Jó em particular demonstram
uma atmosfera internacional e não contêm aqueles temas especificamente hebraicos: eleição,
aliança, terra prometida, o templo, a lei, o Messias e a escatologia. Para fins de fundamentação,
mostraremos algumas dessas literaturas paralelas ao poema jobiano, mesmo que de forma
resumida. Folclore internacional. O tema do homem justo posto à prova porque os deuses ou
seres celestes em rivalidade é comum nos contos dos orientais e ocidentais. Por exemplo, a
lenda de Hariscandra aparece na Índia em formas diferentes baseadas em tradições muito
antigas. Confira a citação de Samuel Terrien.2
Vamos mencionar uma variante dessa história. Os deuses e as deusas estavam reunidos com os
sete Menus no céu da Indra. A questão que seria debatida era a de que se se podia encontrar
entre os humanos um só príncipe sem defeito. Os membros em sua maioria declararam que era
impossível. Vasishta, ao contrário, insistiu que certo Atschandira (Hariscandra) tinha todas as
perfeições. Shiva Rudra (“o Destruidor”) se oferece para demonstrar o contrário, com a
condição de que o príncipe seja entregue a ele. Vasishta aceita o desafio e combinam os termos
da aposta, onde o perdedor deveria ceder ao adversário todos os méritos adquiridos. Atschandira
é submetido a toda sorte de provas. Entre os suahelis encontra-se outra forma de aposta entre
seres celestes, arcanjos Miguel e Gabriel.
Esse tema é comum a diversas culturas em diferentes épocas. O narrador hebreu ao contrário
ignora o valor e os méritos entre os seres divinos. Para o narrador a finalidade principal era
mostrar precisamente que o herói servia a Deus por nada.
Muito mais interessante do que o folclore internacional são os paralelos do poema de Jó com o
Pessimismo egípcio. Nesse estilo literário é costume enquadrar um diálogo poético por uma
narrativa em prosa, prática comum no Egito. Em As lamentações do camponês eloquente os
discursos são precedidos por um prólogo e um epílogo em prosa. Da mesma forma acontece
em A profecia de Nefer-Rohu contém um prefácio e uma conclusão em estilo narrativo.
Provavelmente o poeta de Jó, conhecia a corrente egípcia, ou até pudesse conhecer a língua. A
mais significativa comparação que se pode fazer entre o poema de Jó e um paralelo seria O
diálogo entre o homem cansado da existência e sua alma.
Assim como a personagem bíblica caiu doente e foi, em consequência, maltratado por sua
comunidade, seus amigos e até os membros de sua família, pensavam que a doença era sinal de
maldição divina. Logo que se tornou vítima do infortúnio, as boas ações que ele praticara

2
TERRIEN, SAMUEL. Jó CITA: (P. Volz, Hiob und Weisheit, Gotinga, 1921, pg 8-9; P. Bertie, Le poème de
Job, Paris 1929, pg 54).
quando era rico e gozava de boa saúde foram esquecidas. Os inícios do espírito filosófico
aparecem também em discussões dialogadas como a conversa dos dois abutres sobre a
retribuição, e entre o gato e o chacal sobre a morte. Em o Ceticismo mesopotâmico que são
uma multidão de textos acádicos que atestam a ideia segundo a qual prosperidade, boa saúde e
longa vida são resultados da virtude. Mas inversamente consideram a doença, a pobreza, a
aflição e a morte prematura como punição por atos criminosos, ou por pecados dissimulados,
muitas vezes desconhecidos até inconscientes de quem os cometem. Alguns documentos
revelam uma crença popular que se opõe com ousadia essas crença popular. O Poema do justo
sofredor é um desses textos, mas como coloca Terrien, esses textos algumas vezes é chamado
de Jó babilônico.
Podemos observar que os povos mesopotâmios do crescente fértil tinham um conhecimento
acerca de relatos sobre o sofrimento humano. Agora, a inovação está na inspiração do poeta
jobiano, ou seja, o autor do livro de Jó, somo se nos apresenta no cânon de nossa Bíblia, foi
inspirado pelo Espírito Santo, que lhe deus condições de mostrar uma teologia para combater a
antiteologia do contexto histórico. Essa orientação do Espírito sobre o autor, torna o texto de Jó
relevante porque nos mostra como lidar com o problema do sofrimento humano, que não é o
tema central do livro como pensam alguns comentaristas e a maioria dos crentes.
O núcleo do livro de Jó, escrito em poesia, demonstra uma nova teologia. Nele não se encontra
a teologia da paciência, mas contrariamente nos deparamo-nos com o tema de um Jó rebelde.
Uma análise do seu cotidiano nos permite afirmar que ele é uma negação dos dogmas oficiais
defendidos por seus amigos (confira no tópico sobre os discursos) estamos diante da
representação da crise da teologia oficial. O autor usou o infortúnio temporário do herói como
cenário do seu poema, cuja sabedoria tradicional é posta em questão. O problema principal do
livro se encontra dessa forma: Jó o justo, sofre dores indizíveis para as quais nem ele, nem seus
amigos encontram uma explicação satisfatória.

Tempo composição e crítica textual


A composição e a data do livro não é um assunto unanime. Há um debate controverso a respeito
da formação oral e a redação final por escrito do livro de Jó. Foi composto por um só poeta?
Ou por uma escola de sábios seguido de editores, anotadores e escribas? São questões que
Samuel Terrien levanta em seu comentário. Uma resposta a esta questão é importante para os
que desejam colocar o livro em sua situação existencial (Sitz im Leben)3 e que se recusam a
separar, apesar das tendências de alguns biblistas, a interpretação de sua mensagem do
conhecimento de seu meio de origem, de sua data e da natureza de sua composição.
Se o livro em seu estado atual, for uma compilação, ele não pode ser a priore uma coleção de
unidades de origem heterogêneas e autônomas, mas representam um todo orgânico cujo
crescimento teria procedido por desenvolvimento interno.
Para descobrir se o livro de Jó é obra de um só poeta, ou se é produto de uma longa evolução
oral e literária, a crítica textual deve seguir o que propõe Terrien: analisar cada seção
separadamente. Aqui vamos falar de forma bem resumida os principais problemas que Samuel
Terrien levanta em seu comentário que ocupam 16 páginas, 19-35.
A questão da dupla autoria, que segundo alguns comentadores, o Jó do prólogo e do epílogo
parece ser nômade porque tem grandes rebanhos que pastam em vasto território. Na discussão
poética embora crie ovelhas ele é agricultor. No prólogo e no epílogo ele e seus filhos habitam
em casas, ao passo que no poema, ele faz várias alusões à sua tenda. Na totalidade do livro, Jó
é representado como seminômade que no inverno vivia em aldeia e na estação seca, se tornava
beduíno migrador. No prólogo e no epílogo Jó perdeu todos os seus filhos, (1. 19; 42.13), mas
no poema ele fala de seus filhos ainda vivos (19.17). O prólogo explica o sofrimento de Jó como
resultado de uma provação (l ,6-12; 2, l -7a), mas o poema ignora completamente esse motivo,
mesmo que na forma de hipótese imaginada por Jó ou por algum de seus amigos. Esses são
alguns pontos que a crítica literária levanta.
Propomos que o poeta que não pode ter vivido antes do século VI a.C. tomou como ponto de
partida de sua obra literária uma narração folclórica de caráter “clássico”, em forma quase
inalterável já há várias gerações. A consequência dessa observação é da mais alta importância:
graças a ela devemos concluir que a teologia do poeta é independente das implicações da
narração em prosa, como, por exemplo, o motivo do orgulho ingénuo de lahweh por causa de
seu servo Jó (l ,8), a ideia de que lahweh permitia o sofrimento humano para ganhar uma aposta
(1,12; 2,6) e sobretudo a conclusão fabulosa do conto, com a recompensa divina, especialmente
de ordem material que contradiz grosseiramente a soteriologia do poema.

3
Na crítica bíblica Sitz im Leben é uma frase alemã que pode ser traduzida como “posição na vida”. Em outras
palavras, não há texto sem contexto. https://www.missaojovem.org/sitz-im-leben/
O diálogo entre Jó e seus três amigos parece formar um todo homogéneo. Entretanto, foi
detectada a mão de um editor ou de vários copistas que, acidental ou intencionalmente,
introduziram no diálogo certo número de alterações.
Neste ponto, gostaria de salientar nossa posição teológica de que o livro como um todo, teve
um autor/redator no que se refere a produção escrita final. Mas reconhecemos que no processo
pode ter havido uma edição. Sobre tudo, devemos ter em mente que seja qual foi o processo, o
Espírito de Deus esteve por trás direcionando e inspirando a forma final do livro.

Teologia
Na organização deste conteúdo, intencionalmente resolvemos agrupar os tópicos de forma que
se pudesse compreender o que de fato, é sabedoria, e, sabedoria sapiencial, sua concepção nas
famílias/clã, na escola dos escribas e expomos alguns de seus temas. Sobre os tópicos de
sabedoria no Antigo Testamento, fizemos uso de grande parte do livro de Ceresko. Também
tivemos a oportunidade de conhecer os livros de Rossi, que nos dá um panorama bem claro
sobre este tipo de literatura.

Quando nos deparamos com os textos do Antigo Testamento, entendemos que não é uma leitura
fácil. Há um grande abismo entre aquele tempo e o nosso. Ao estudar sobre o livro de Jó,
conseguimos compreender que a melhor chave para o entendimento desses textos difíceis foi a
compreensão dos escritos sapienciais. O entendimento correto do tipo de literatura na qual este
livro foi escrito, nos dará uma compreensão mais profunda. Cada texto têm suas
particularidades, mas a leitura que se tem feito, via de regra, acaba sendo distorcida. A leitura
correta dos livros sapienciais como os livros de Jó, Eclesiastes e Salmos, mostrará que
normalmente se cria dogmas como a “paciência de Jó”. Algumas pessoas ao fazer a leitura do
livro de Jó, por exemplo, não compreendem algumas questões do livro como por exemplo a
figura de Satã, as cenas da corte celeste. Não fazem uma separação do que é narrativo ou do
que é discurso, e assim, criam teologias que na sua maioria não traz a verdadeira intenção do
autor. Para nós, quando começamos a pesquisar sobre o assunto, quando começamos a nos
aprofundar em questões que o livro trata, tivemos que mergulhar no contexto socioeconômico,
cultural e sobretudo, mergulhamos no conhecimento da sabedoria sapiencial. Portanto, de
acordo com Teresa Akil, a maior chave para compreensão do livro é compreender primeiro o
texto sapiencial. Nele conseguimos romper o abismo cultural entre o antigo testamento e os
nossos dias. O conhecimento da literatura sapiencial proporciona o melhor entendimento desses
livros. Uma vez que compreendemos esta literatura sapiencial, podemos entender a teologia no
livro de Jó, ou seja, a mensagem que o autor passou. A boa hermenêutica nos ensina que a
intenção do autor, lá, naquele texto, deve ser a mesma e não outra para nós, para nosso tempo.
Uma hermenêutica séria, nos ajuda a fazer a ponte do lá e então, para o aqui, e agora. Vamos
tentar de acordo com Samuel Terrien compreender a teologia deste livro, porque entendemos
que este autor está muito bem documentado em seu livro. Com certeza, o comentário do livro
de Jó que este autor escreveu, é, em nossa opinião, um dos mais belos comentários sobre este
livro.
Como escreve Samuel Terrien, muitas vezes tem-se admitido que o livro de Jó considere a
questão: porque sofrem os justos? Ele nos mostra que a antiga narração folclórica como
também o poema se servem do problema do sofrimento injusto a fim de galgar um fim mais
amplo. Muito embora, o enigma da dor tenha sido para os antigos hebreus e sobretudo para os
judeus do século VI a.C. um problema urgente, havia outro de importância crucial: no momento
em que seus mundo acabava de ruir, eles se perguntavam qual era o significado de sua fé. A
aliança rompida, o templo arrasado, a terra violada, a população dizimada ou no exílio, e a
família real massacrada na prisão. Os sobreviventes da destruição de Jerusalém (587 a.C.),
espalhados em volta do Crescente Fértil, deixaram-se levar ao desespero ou se estagnaram num
quietismo tenazmente orientado para o futuro. "É bom esperar em silêncio a salvação de
Iahweh " Lamentações 3,26. Certos gregos diriam algumas gerações mais tarde: “a vida boa
consiste em não meditar”. Mas o poeta de Jó, depois da catástrofe que atingiu seu povo,
enfrentou resolutamente a existência e levou até o fim a lógica interna de sua fé no Deus que
escapava às pretensões do homem. Foi então que ele tomou o exemplo clássico do homem
íntegro atirado na adversidade.
A situação do Jó da lenda permitiu-lhe perscrutar o homem enquanto homem, despojado de
todos os reconfortos e de todas as ilusões. E explorando o desconhecido teológico, ele foi
conduzido a pedir que fosse lançada urna ponte entre o Deus incognitus e o homem abandonado
no universo. Finalmente, aprendeu que a religião e a moralidade não conferem nenhum direito
à felicidade, e se encontrou então na esfera de um novo horizonte no qual a graça é suficiente.
Com o senso agudo da incerteza dramática e da psicologia do isolamento religioso, o poeta
mantém até a culminação de sua obra o segredo de sua intenção, que consiste em mostrar a
divindade de Deus, a humanidade do homem e a natureza específica da relação entre o Deus
que é verdadeiramente Deus e o homem que é verdadeiramente homem. Em outros termos, o
poeta estava à procura da religião pura, que é a resposta à graça só, apreendida pela fé só.
A história arcaica do príncipe de Us oferecia-lhe a ocasião de considerar um representante da
espécie humana que não fosse limitado por contingências religiosas ou nacionais. À
personagem de Jó, embora de naturalidade edomita, transcendia o espaço e o tempo.
Conferindo-lhe uma linguagem, o poeta estava na posição de apresentar o homo sapiens ou,
melhor, simplesmente o homo vivens, isolado de toda restrição racial, política, religiosa e
cultural.
Jó é considerado um dos “filhos do Oriente”, ou seja, não existe uma preocupação do narrador
precisar um lugar geográfico, o que importa, neste momento é a informação de que Jó não era
israelita e que pertencia aos clãs de sabedoria. Nosso personagem não tem um lugar preciso,
um tempo definido e muito menos relações de parentesco conhecidas. Assim, a estória de Jó
pode ser considerada a história de cada um de nós. Jó é um representante legitimo de todos
os seres humanos. Os aspectos que esse livro foi escrito, socioeconômico e teológico no qual o
autor descreve para Deus a condição do homem justo que sofre, constituindo-se ele mesmo um
exemplo de todos. Confira o tópico Configuração econômica no período pós-exílio para uma
compreensão do pano de fundo histórico, ou o capítulo 2.

Mas qual é de fato a teologia deste tão importante livro que registra discursos? Que usa
cenas folclóricas do período patriarcal como prólogo, e registra um epílogo onde ele
declara que conhecia Deus de ouvir falar?

Dentre os livros pesquisados, julgamos a opinião de Samuel Terrien a mais plausível, embora
seu livro não seja um leitura “confortável”, pois, seu texto contém um estilo bem erudito,
contudo, expressa uma profundidade teológica impressionante. Mas Rossi por outro lado, nos
dá uma clara visão sintética do livro.

A suficiência da graça, segundo Terrien “que o Todo-poderoso me responda” (31,35) esse é o


último desafio de Jó e do homem natural. Mas a resposta de Deus é sempre diferente do que o
homem espera. Do meio da tempestade, Iahweh não responde às questões; ele põe outras
(38,3ss). Como ele não explica o mistério da providência, não resolve filosoficamente (segundo
Rossi, a sabedoria sapiencial não está preocupada com o filosófico) o problema do mal nem
declara publicamente a justiça de seu servo, muitos estudiosos, especialmente desde a metade
do séc. XVIII, mostraram-se desapontados. Alguns foram mais longe. Com efeito, eles
condenaram a ironia divina e a chamaram de demonstração de crueza refinada, mais conforme
à de um diabo do que a de um deus. Aparentemente não é o que Jó mesmo sentiu ou pensou
(42,5). Dando com audácia termos humanos à divindade transcendente, o poeta consegue
realizar a tarefa mais delicada: mostrar que Jó descobre ao mesmo tempo a santidade e o amor
de Deus, isto é, os dois polos da divindade. O herói aprende que o Deus que é verdadeiramente
Deus não só ordena o cosmo, mas também consente em inclinar-se para sua criatura. Aquele
que enviou a chuva sobre as estepes, onde "não há homem" (38.26), oferece a Jó a intimidade
de um diálogo. Comunica-lhe suas preocupações com o cosmo e ensina-o a sair da prisão do
eu e a contemplar o universo. É nesse momento preciso que o poeta, com a maestria do teólogo
honesto e do psicólogo lúcido, põe na boca de Iahweh a questão fundamental:
“Cinge agora teus rins como um homem valente!
Interrogar-te-ei, e tu me instruirás.
Quererias realmente anular meus julgamentos
E condenar-me, a fim de te justificares?”(40.7-8).

Aqui está a chave de todo o livro.


Jó pôs realmente a justiça de Deus em dúvida. Então a ironia de Iahweh se carrega de profunda
melancolia. Deus não condena o homem, mas o poeta dá claramente a entender o caráter
estritamente teológico do pecado do homem. O esforço para justificar a sua conduta leva o
homem a condenar a de Deus. Todas as vezes que pronuncia um julgamento sobre o caráter
da divindade, ele transgride os limites de sua humanidade. Deus não condena o homem nem
pelos crimes de moralidade que ele não cometeu, nem pela ofensa teológica da qual ele, de
fato, foi culpado. Duvidou da justiça do Criador, embora, ao mesmo tempo, a reconhecesse,
uma vez que esperava dela a sua quitação. Exigindo de Deus a proclamação de sua justiça, na
verdade ele negou a liberdade de Deus. Tentando justificar-se, reduziu Deus à finitude.
Entendeu a justiça divina não em relação com o macrocosmo teocêntrico, mas em função de
um microcosmo antropocêntrico. Vivendo em sua egocentricidade, ignorou a teocentricidade
da vida.
Se Jó tivesse o poder de Deus, poderia salvar a si mesmo, e Deus não hesitaria em oferecer-lhe
os ritos da adoração cultual (40,14)! Mas o poder do homem, por mais vasto que ele seja nos
limites de sua mortalidade, está cercado pelo nada. Exerça Jó seu poder dentro e fora do seu
eu, e descobrirá logo sua fraqueza existencial! A ironia divina deve ser retomada, porque Jó
está reduzido ao silêncio, mas não ainda à rendição final de suas pretensões. Beemot e Leviatã
(40,15- 41,26) são caricaturas do abismo. Diferentes do hipopótamo e do crocodilo egípcios,
embora tirem deles sua enormidade física, eles representam o mal cósmico, cujo mistério é
resolutamente enfrentado pelo poeta. Não seria aquilo que o homem denomina o mal segundo
a implicação do poeta o símbolo da liberdade de Deus? A afirmação teológica da
transcendência não permite ao homem identificar Deus com a noção humana do bem. O Deus
que é verdadeiramente Deus deve escapar até à imagem moral que o homem se faz de Deus.
Deus não é criado à imagem do homem, mesmo que fosse um homem de bem.
A posição teológica de Terrien é fantástica. Enquanto Rossi nos dá uma interpretação mais
“libertadora”. Terrien nos apresenta uma profundidade teológica impressionante. Sobre a
poesia da religião pura este autor nos mostra que Jó aprende que Deus está mais longe e mais
alto do que os ideais e as tradições dos homens. Na presença do sagrado, mas de um sagrado
personalizado (42.5), o desejo da quitação se torna supérfluo. Aquele que esperava sair do
inferno existencial se prostra em adoração (42.6).
Agora Jó toma consciência de sua culpabilidade no momento de sua reconciliação. Ele é
salvo e consequentemente, reconhece-se pecador (42.7). Está aí o segredo da hamartiologia
profética. O senso do pecado é não a causa, mas o resultado da salvação. A alusão à
percepção visual da divindade (42.5b) deve ser interpretada em contraste com a percepção
auditiva (v. 5a). O poeta opõe a tradição à experiência. Agora o homem solitário é recebido
na sociedade de Deus. É, pois, em resposta a um movimento de amor que o herói confessa agora
não seu arrependimento de um erro moral, mas a perda de sua egocentricidade. Iahweh não o
justificou, mas veio a ele em pessoa. A motivação dessa intervenção não é outra senão o amor.
Talvez por conta da conotação do vocábulo 'ahabah (amor) que seus sinónimos assumem
muitas vezes, o autor não o usou. Todavia, um Deus infinitamente santo, que transcende sua
transcendência para se manifestar ao homem de dor, é um Deus que ama. O amor de Deus pelo
homem que sofre implica a participação desse Deus nos sofrimentos desse homem, porque não
há amor sem relacionamento de vida.
Samuel Terrien também trata na investigação da teologia de Jó, sobre a necessidade de um
mediador. Segundo este autor, o homem não tem condições de salvar-se a si mesmo. E ele vai
mais além, mostrando que no texto há um anseio por um mediador. Alguém que estivesse entre
Deus e o homem (9.31; 32,33). Se houvesse um homem que estivesse entre o divino e o humano,
e que pudesse pôr a mão nos ombros de Deus e do homem para ser seu “árbitro”. Jó manifesta
a ideia que para o judeu é estranha, (já que existia o monoteísmo), de um mediador.
Rossi, por sua vez, está mais focado nos contextos socioeconômico e político-religioso. Rossi
vai falar da teologia da retribuição em contraste com a teologia do templo. Rossi mostra que
Neemias está trabalhando profundamente para resolver os problemas de usura. Ele Fala da
teologia vigente: a teologia onde o Rico é alvo da irrevogável benção de Deus, ao passo que o
pobre é tido como impuro. A teologia do puro x impuro. Para Rossi, o contexto onde o império
Assírio governava sobre o sistema de satrapias, seria o grande problema dos judaítas das classes
mais ricas. Estes estavam mais ligados com a nobreza, e com os mini reis (satrapas) segundo
Seresko, estes mini reis deixavam o governo com os nobres judaítas, enquanto desfrutavam de
férias e viagens. Mas, os pobres e principalmente as mulheres, sofriam com a pobreza, a fome
e miséria, confira Neemias 5. Para Rossi, os 40 capítulos que compreendem os discursos de Jó,
são um eco do grito das mulheres em Neemias capítulo 5. O pobre ficava cada vez mais pobre,
com a exploração de impostos. Ceresko vai dizer que chegou a 60%, antes os pobres tinham
que contribuir com seus filhos ou produtos, ou servir na guerra. Agora, com a nova política de
Ciro o “bonzinho”, os impostos devem ser pagos em moeda espécie. Isso arrebentou com o
pobre. Por conta disso, o templo tinha a função de arrecadar os impostos e repassar ao império.
Gostaria de manifestar nossa posição quanto a teologia deste livro: o texto de Jó que está entre
os livros de Salmos e profetas não por acaso. Devemos levar em conta sim o contexto imediato,
cultural, histórico e social para entender a mensagem do autor. Para nós, o livro trata de dois
assuntos: a questão da justiça de Deus, e a teologia egoísta dogmática dos amigos nos discursos.
Em síntese, gostaria de enumerar os pressupostos teológicos que encontramos no poema
jobiano e do que ele trata:
Não trata de resolver o problema do mal, muito embora, trate em parte, mas, sem responder.
O esforço para justificar a sua conduta leva o homem a condenar a de Deus.

Duvidou da justiça do Criador, embora, ao mesmo tempo, a reconhecesse.

O que o homem denomina o mal parece ser a implicação do poeta torna-se o símbolo da
liberdade de Deus.

Jó aprende que Deus está mais longe e mais alto do que os ideais e as tradições dos homens.

O senso do pecado é não a causa, mas o resultado da salvação.

O poeta opõe a tradição à experiência.

Considerações

SABEDORIA SAPIENCIAL EM PROVÉRBIOS:

Sabedoria prática da vida

SABEDORIA SAPIENCIAL EM ECLESIASTES:


Questões difíceis da vida

EVIDÊNCIA TEXTUAL NO TEXTO BÍBLICO

O salmo 1

O salmo 73
IV. O PROPÓSITO DA LITERATURA SAPIENCIAL

COMO A LITERATURA SAPIENCIAL NORTEIA O PENSAMENTO


TEOLÓGICO MODERNO

TEOLOGIA DA RETRIBUIÇÃO

Dos discursos

Encontramos grandes discursos no livro de Jó. Nesses discursos, seus amigos,


Elifaz, Bildade, Sofar e Eliú debatem sobre a mesma tese: a de que o justo de deus
não sofre, não tem padecimentos, não experimenta provações nem opressões. A
teologia da retribuição é um círculo vicioso.

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

TEOLOGIA SAPIENCIAL NO NOVO TESTAMENTO


CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA

AKIL, TERESA & OLIVEIRA, EMERSEN. Antigo Testamento a Bíblia de Jesus – Editora:
Litteris.

CERESKO, ANTHONY R. A Sabedoria no Antigo Testamento espiritualidade libertadora-


Editora: Paulus.

CHAVALAS, WALTON MATTHEWS. Comentário Histórico –Cultural da Bíblia (Antigo


Testamento) - Editora: Vida Nova.

ROSSI, LUIZ ALEXANDRE SOLANO. A origem do sofrimento do pobre: teologia e


antiteologia no livro de Jó- Editora: Paulus.

ROSSI, LUIZ ALEXANDRE SOLANO. Sapienciais sabedoria a favor da libertação-


Editora: Paulus.

SCHOKEL, L.A. Salmos II 73-150 (série Grande Comentário) - Editora: Paulus.

TERRIEN, SAMUEL. Jó (comentário) - Editora: Paulus.

ARCHER, GLEASON L. JR. Merece confiança o Antigo Testamento? Editora: Vida Nova.

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