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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca apresentar um panorama geral sobre alguns aspectos que
envolvem a vida, o contexto histórico, obras e conceitos chave (abarcando os debates gerados
por ambos), de um autor que marcou a transição do pensamento da idade medieval para
moderna: Guilherme de Ockham, no qual, faremos um paralelo entre suas ideias e alguns
aspectos da realidade do mundo contemporâneo.
Debruçar-se sobre um trabalho desta natureza é importante para a aquisição de um
arcabouço teórico que nos permite obter uma maior compreensão dos processos que acabaram
por construir nossa própria realidade. Isso verifica-se nas discussões que Ockham realiza
sobre os conceitos de liberdade, individualismo e até mesmo a defesa relacionada separação
do poder, antes unificado, entre império e igreja. Estas discussões realizadas por ele motivou
princípios que influenciaram na constituição de estado laico e na mudança do pensamento do
homem ao rumo de uma mentalidade moderna.
Este trabalho abordará o período entre final do séc. XIII e início do Séc. XIV onde
segundo Vilani (2000) inicia-se uma mudança do cenário social, com o desenvolver das
cidades e do comércio proporcionou transformações na Idade Média gerando maior
autonomia na ação do homem no medievo. Guilherme de Ockham foi um dos que
impulsionaram essas transformações, onde podemos encontrar as bases da democracia
moderna, diferente das bases do mundo grego.
“Quando hoje falamos em democracia, estamos falando de um governo representativo,
de um Estado constitucional e da garantia das liberdades individuais” (VILANI, 2000, p.20).
Este perfil de democracia só pode ser constituído a partir de uma “perspectiva individualista
que resultou em uma nova visão da liberdade humana” constituído neste período (VILANI,
2000).

2 O AUTOR E SEU CONTEXTO

Guilherme de Ockham nasceu no condado de Surrey, próximo a Londres, numa vila


chamada Ockham, no fim do século XIII. Ingressou ainda cedo à Ordem de São Francisco e
posteriormente se filiou a uma subdivisão da Ordem que defendia a pobreza material e a
espiritualidade da igreja em face à opulência de Roma e às interferências do papado nos
assuntos do governo temporal.

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Os bens materiais e a interferência política da igreja nos assuntos do império foram
exatamente os pontos interrogados por Ockham com maior proeminência, com ênfase maior
ao governo e a teoria do poder papal, como criação de São Pedro. Um acontecimento que
instigou a reflexão crítica de Ockham sobre esse contexto, foi a mudança do papado para
Avinhão, respondendo ao rei Felipe IV da França que buscava fortalecer e opor-se aos seus
inimigos políticos que gerou um maior conflito entre os poderes, sendo que o papa João XXII
chegou a defender sua superioridade sobre o império, onde até mesmo o poder do imperador
provinha dele (MAGALHÃES, 2008).
Após seu bacharelado em Oxford, Ockham tentou obter o titulo de magister regens em
Teologia e foi-lhe negado por suspeitas de uma suposta intencionalidade ofensiva de seus
escritos às doutrinas da igreja, tendo que se apresentar ao tribunal pontifício, em Avinhão,
para responder à acusação de erros cometidos nos comentários às Sentenças. De acordo com
Vilani (2000), em 1328, em companhia do Ministro Geral da ordem e de alguns confrades
fugiu de Avinhão e procurou ajuda na corte de Luís de Baviera, que na época travava intensa
luta contra o papa por causa da recusa do pontífice em reconhecê-lo como imperador da
cristandade.
É possível perceber que tornou-se uma figura de grande relevância no plano das
discussões da época, capaz de provocar um certo “incômodo” ao pensamento tradicional
vigente naqueles tempos. Como fica evidente no decorrer do texto, esse embate entre papado
e Império vinha ocorrendo há um certo tempo, demonstrando que ambas as instituições
estavam se distanciando numa busca por independência. Ockham emergiria como defensor da
causa imperial, aplicando seu conhecimento à causa política.

3 OBRA

De acordo com Reale (2003), Ockham trouxe uma ruptura no pensamento com suas
obras, “além de suas contribuições lógicas também se destacam suas teorias físicas e,
sobretudo, a concepção do conhecimento físico de natureza especificamente empírica, bem
como a separação entre a filosofia e a teologia” (REALE e ANTISERI, 2003, p. 298). Seus
primeiros escritos provocaram uma reação negativa da igreja, sendo julgados como heréticos.
A situação se complicou com a questão da pobreza evangélica pregada por sua ordem o que o
colocou em conflito direto com o Papa em Avinhão.

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Na concepção politica, Vilani chama atenção para sua mais importante obra, “O
Breviloquium de Principatu Tyrannico” (Brevilóquio sobre o Principado Tirânico), onde
podemos apreciar os argumentos do autor contra a teocracia, em defesa da autonomia do
governo temporal e de um poder ascendente. Ockham atacou o problema do poder arbitrário
(Plenitudo Potestatis), propondo uma distribuição do poder para o povo, e mesmo direitos de
não aceitação desse poder além das leis. Nesse quadro político a cristandade estaria também
sujeita e essas leis, sendo a legitimação do governo vinda do próprio povo. “O que se
pretendia era um poder público independente, oriundo da vontade popular e tendo por
finalidade a realização da felicidade dos homens aqui na terra” (p. 65). Toda forma de
absolutismo e tirania deveria ser combatida em ambas as esferas de poder, temporal e
espiritual.
No que tange em sua obra ao direito de propriedade, ele narra que, reis e príncipes
fiéis não tinham direito aos bens de seus antepassados infiéis, pelo fato de que, por serem
infiéis não tinham verdadeiro domínio e jurisdição sobre seus bens. Além de perderem seus
bens, poderiam perder também o direito sobre sua família caso permanecessem infiéis.

Existia um verdadeiro domínio das coisas temporais, uma verdadeira jurisdição


temporal além do povo de Deus e da igreja católica. É a partir desta visão que surge o direito,
ou seja, a desvinculação da justiça com o sagrado.

4 O DEBATE

Muitas são as questões que Ockham discutiu. Dentre esta amplitude de temáticas,
selecionamos alguns pontos que acreditamos ser essenciais, os quais, discutiremos
brevemente, são eles: fé e razão; universalismo, individualismo e liberdade; teocracia e poder
unificado (espiritual e temporal).

Vilani mostra que Tomás de Aquino havia construído um pensamento onde fé e razão
não entravam em conflito. A negação da possibilidade da mediação entre fé e razão pelos
tomistas, para Ockham “o conhecimento cientifico só é possível através da observação
empírica enquanto que o conhecimento de Deus provém da Revelação”(2000, p. 61). Numa
perspectiva política, se essas esferas eram independentes também deverão ser a Igreja e o
Estado, dando ao individuo a liberdade de tomar decisões na esfera secular. Apesar das
características humanas básicas serem dadas por Deus, para Ockham não haveria interferência

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nos assuntos humanos por parte de Deus constantemente cabendo aos próprios homens criar
organizar e estabelecer seus negócios aqui na terra, decidindo sobre sua vida.
Contudo, em seus escritos ,Vilani, com base em estudos feitos sobre Duns Scoto,
mostra que Ockham notou que essa junção, entre fé e razão, carecia de estabilidade. Essa
totalidade na explicação das coisas era incoerente, então critica a ideia de totalidade (contra os
universalistas); o individuo experimenta a realidade de forma particular, sendo a totalidade
constituída apenas de abstrações.
“Essa perspectiva analítica foi fruto de uma concepção de liberdade humana, frente à
liberdade de Deus, inteiramente distinta daquela formulada por Agostinho” (VILANI, 2000,
p.63). Na concepção de Ockham deveria haver direito de “divergência” e “distribuição do
poder”, contrastando com a defesa do absolutismo pelos papistas e mesmo da “submissão de
todos a uma autoridade única” de Marsilio de Padua.

Assim, Ockham aprofunda seu debate recusando os excessos teocráticos dos papistas e
defende a autonomia do poder temporal, não negando a autoridade especifica da jurisdição
eclesiástica. Cada uma das instancias teria esfera própria de ação, atuando em mútua
colaboração(2000, p. 68). Portanto, haveriam rupturas e continuidades no processo.
Fica claro nos escritos de Ockham em seu livro “O Breviloquium de Principatu
Tyrannico” uma ênfase no que definimos como último ponto de debate: o poder unificado
(espiritual e temporal). Neste item preocupava-se em partir dos próprios escritos sagrados que
subsidiam a união entre os dois poderes e refutar constantemente este vínculo político e
defender a autonomia imperial e eclesiástica.
O trecho abaixo explicita o pensamento do autor ao dizer que:

O poder imperial é distinto do sacerdotal, em nada dependendo regularmente


deste. Mas não é supérfluo, antes é útil e necessário, responder às alegações
pelas quais alguns, mesmo através da Sagrada Escritura, tentam mostrar que
o império romano provém do papa, pois pela refutação de tais alegações
haverão de melhor brilhar à luz dos direitos temporais e as liberdades tanto
dos imperadores, como de outros reis e príncipes mundanos, e mesmo de
todos os mortais (OCKHAM,1988, p.157).

5 CONCEITOS CHAVE

Segundo Vilani (2000) o conciliarismo surgiu como uma resposta a percepção de que a
falta de limites do poder papal estava a causar grandes problemas e que como a própria

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autoridade do papa havia sido outorgada pelos fieis, esses mesmos deveriam participar e
opinar nas decisões e processos nesse âmbito. Em Ockham esse Concílio poderia ter
representantes fora do âmbito religioso (homens e mulheres) e poderia ser convocado
funcionando sem a ação papal.”Em primeiro lugar e acima de tudo, Ockham lutou contra a
monarquia teocrática na defesa de um poder representativo, limitado e distribuído” (p. 68).
O nominalismo , foi para Vilani, sem duvida, uma ruptura radical com o pensamento
medieval, o qual se apoiava na ideia de totalidade e em categorias gerais a abstratas. Essa
corrente permitiu a afastamento de uma visão mais ampla para uma mais particular, marcando
a via moderna do pensamento. Nesse processo a autora acrescenta o princípio conhecido
como “Navalha de Ockham”, onde, nada deve nos afastar do contato com o mundo concreto
e imediato. A economia da “razão” recomenda evitar, como supérfluo, todo e qualquer recurso
a entidades mediadoras e não admitir nada fora dos indivíduos e da realidade empírica.
Para Souza (1988), na Plenitudo Potestates somente a Igreja poderia conceder e
legitimar o poder do Imperador (poder temporal submisso ao poder espiritual) e para Ockham,
o Santo Padre não possuiria e nem deveria exercer este poder arbitrário tanto na esfera
espiritual como na temporal, pois iria contradizer as leis de liberdade da comunidade cristã
que teriam como base a Lei Evangélica. O poder descendente convergiria para poder
ascendente, colocando a teocracia em cheque em detrimento da soberania do povo, que para
Ockham teria participação nas decisões políticas.
No Brevilóquio, Ockham (1988) relata que, para a Igreja, o fato de alguém não
compartilhar de suas doutrinas tornava o indivíduo passível de cerceamento do direito sobre o
domínio e jurisdição temporais. Isso significa dizer que o direito de propriedade e o direito de
herança não existiam para tais indivíduos uma vez que seus bens pertenciam à igreja

6 PROBLEMATIZAÇÃO

Durante a produção do trabalho algumas questões surgiram, e uma das questões que
mais nos chamou a atenção está relacionada ao fato de que: como uma pessoa interna ao
âmbito religioso, influenciada e oprimida, pode ter o ímpeto de criticar e libertar conceitos
antes subordinados a Igreja? Também refletimos sobre o refúgio oferecido por Luiz de
Baviera a Ockham. Até que ponto foi o jogo de interesse entre eles? Outra questão que
também apareceu como aspecto político da época de Ockham foi: o que motivou a volta do
papado a Roma?

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Com relação aos aspectos da atualidade, foi possível perceber ao longo desta produção
que as discussões realizadas por Ockham não deixaram de estar presente no nosso cotidiano.
O tema central da influência do poder divino sobre o poder, que hoje chamamos de estado ou
governo, não deixou de ser questionada. Vivemos em uma sociedade em que, é possível
empiricamente observar, uma grande massa de população influenciada por uma formação de
opinião religiosa que ultrapassa as instâncias institucionais e atuam nas decisões políticas.
Isso se verifica, por exemplo, no período das eleições onde vereadores, deputados, senadores
são muitas vezes eleitos por representarem um “ideal cristão” de sociedade. Temos no
Congresso Nacional brasileiro bancadas evangélicas que atuam diretamente nas decisões
públicas a partir de suas referências ideológicas e não se importam ou não estão interessados
na imparcialidade.
Há também a questão de herança e propriedade, aspectos que do modo que
funcionavam na Idade Media foram pensador por Ockham. Por exemplo direito de posse,
direito de uso, que ainda hoje provocam conflitos de opinião entre governo, proprietários de
terra e sem terra, por exemplo.

7 CONCLUSÃO

A partir de todas essas leituras e reflexões, acreditamos conseguir atingir nossos


objetivos de apresentar um panorama geral sobre os conhecimentos relacionados à Guilherme
de Ockham. De forma sistematizada, não pretendíamos esgotar todas as possibilidades
permitidas nas obras consultadas, mas sim contribuir com um primeiro contato teórico com o
autor.
E assim, consideramos o esforço intelectual de Ockham, uma valiosa contribuição a
teoria política, uma vez que encontramos em seus textos, uma grande gama de conceitos até
então, na época de Ockham não muito trabalhados, como por exemplo, democracia,
individualidade e liberdade. Trabalhar com textos de uma época tão distinta das nossa nos
surpreendeu, porém, impôs uma série de desafios. Ficaram evidentes os problemas
explicitados nas definições de conceitos que ao longo do tempo foram ressignificados.

REFERÊNCIAS

7
VILANI, Maria Cristina. Origens medievais da democracia. Belo Horizonte: Inédita, 2000.

SABINE, George H. Histórias das Teorias Políticas. Lisboa: Editora Fundo de Cultura,
1964, Volume 1 capítulo XV – Marsílio de Pádua e Willian de Occam.

GUILERME DE OCKHAM. Brevilóquio sobre o Principado Tirânico. Trad. Luiz Alberto De


Boni. Petrópolis: Vozes, 1988.

MAGALHÃES, A.P.T. . O pensamento franciscano no século XIV: Guilherme de Ockham e a


revisão da noção de "plenitudo potestatis". 2008. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou
palestra, pg 8).

REALI, Giovanne e ANTISERI, Dario. História da filosofia: patrística e escolástica, v. 21. -


São Paulo: Paulus, 2003.

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