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Interculturalidade e descolonização do

saber: relações entre saber local e saber


universal no contexto da globalização

José Marin*

Resumo
para a educação é partir de cada rea-
O conceito de interculturalida- lidade, com base na revalorização das
de que assumimos neste artigo é o línguas e culturas locais e na adapta-
reconhecimento mútuo de todas as ção de suas possibilidades ao contexto
culturas, sem hierarquização. Essa global.
é nossa primeira condição para ela-
borar a análise da descolonização do Palavras-chave: Interculturalidade.
saber e do poder que lhe é inerente. Saber local e saber global. Eurocen-
O processo histórico da colonização trismo. Descolonização do saber.
europeia foi constituído num contex-
to de dominação cultural, social, eco-
nômica e política. Na medida em que
a cultura eurocêntrica não respeita
a biodiversidade nem a diversidade
*
Doutor em Antropologia pela Universidade da
Sorbonne e diplomado pelo Instituto de Altos
cultural, as referências reais e as sig-
Estudos da América Latina em Paris. Pesqui-
nificações simbólicas dos contextos sador da problemática do desenvolvimento e
locais são pervertidas. A abordagem ecologia humana. Diplomado pelo Instituto
da relação entre o saber local e o sa- Universitário de Estudos do Desenvolvimento
ber “universal”, imposto pela cultura e da Academia Internacional do Meio Ambien-
te de Genebra. Foi professor da Universidade
dominante, é nossa principal refe-
de Genebra e colaborador da rede Universitá-
rência para a proposição teórica da ria Internacional de Genebra (RUIG). Atual-
descolonização do saber. A educação é mente é colaborador de diferentes instituições
compreendida como sendo a conquis- e publicações da Europa e da América Lati-
ta pelas novas gerações das visões de na e da Unesco na África. E-mail: p-marin@
bluewin.ch
mundo, dos sistemas de valores e dos
fundamentos para construir seus pró-
prios conhecimentos. O desafio atual Recebido: 06/07/09 – Aprovado: 13/07/09

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Introdução se realiza com base na perspectiva in-
tercultural, porque acreditamos que
A luz e a verdade não pertencem essa é uma possibilidade de análise que
a ninguém, e é melhor que assim seja. permite descolonizar o saber e, conse-
Igualmente, a luz não pode ser proprie- quentemente, o imaginário que o sus-
dade de ninguém e vive no brilho dos tenta. (QUIJANO 2005, 2007).
olhos das crianças, nos reflexos do sol Assumir a interculturalidade como
na água e na pele das folhas das árvores perspectiva possibilita-nos o reconheci-
nos bosques. mento e a valorização de outros sistemas
A luz é como a verdade: todos nós culturais, para além de toda a hierar-
possuímos um pouco de luz e cada um quização, num contexto de complemen-
de nós tem dela apenas uma parte. Se taridade que possibilita a construção de
quisermos que nasça um novo amanhe- um diálogo. Este, por sua vez, permite a
cer, devemos juntar todos os fragmentos partilha de conhecimentos para além de
de luz e unir toda a energia que possuí- toda falsa oposição entre o moderno e o
mos, para que volte a nascer a vida. tradicional, a cultura escrita e a cultura
Essa é nossa primeira reflexão, da oral, a racionalidade e a dimensão afeti-
qual partimos para relacionar a proposi- va. Essas falsas oposições impregnam as
ção da interculturalidade com a descolo- relações humanas e as aprendizagens.
nização do poder e do saber. Trata-se da (NARBY, 1997, 2005).
fundamentação para propor um projeto O eixo dessa reflexão permite-nos
viável de sociedade diante dos desafios questionar a separação perversa da na-
ecológicos e dos desafios da diversidade tureza e da cultura, posta em prática
cultural e religiosa. Tem o significado pela visão eurocêntrica centrada na ra-
não somente de respeito à diversidade, cionalidade do positivismo, sobre a qual
mas, principalmente, de aproveitar a foram construídas a ciência e a tecnolo-
riqueza da diversidade nas culturas, gia do mundo ocidental.
como faz a natureza na metáfora que Repensar esse desafio epistemoló-
mencionamos de início. gico pode nos ajudar a imaginar a re-
Essa opção teórica implica, igual- construção de uma visão global, multidi-
mente, assumir o desafio epistemológi- mensional e interdisciplinar, que associe
co do reconhecimento da existência de a natureza e a cultura como sendo o eixo
outras visões de mundo e de aceitar a fundamental para compreender melhor
validade de outros conhecimentos e de o mundo no qual vivemos e, assim, per-
outras formas de construir conhecimen- mitirmo-nos imaginar um projeto social
tos. (MARÍN, 2005, 2006, 2008; PORTO- e político que seja capaz de assumir os
GONÇALVES, 2004, 2006). desafios impostos pelo contexto atual da
Um bom exemplo para compreen- globalização.
der esse processo parece-nos ser o tema Refletir sobre a relação dos conhe-
das relações entre o saber local e o saber cimentos locais com os conhecimentos
pretensamente universal, imposto no globais num contexto determinado leva-
contexto da globalização. Nossa reflexão nos a estudar a história das relações de

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poder entre as culturas dominantes e as • Quem efetivamente consegue o
culturas dominadas. não reconhecimento e marginali-
Saber é poder. Essa afirmação re- za certos conhecimentos perten-
sume nossa premissa. O saber é um dos centes aos saberes dominados,
pontos de sustentação da dominação reduzindo-os a um valor local,
em todos os territórios das atividades ou terminando por “folclorizá-
humanas. E no processo atual da globa- los”?
lização, o domínio do saber tecnológico é • Qual é a visão de mundo que
simbolicamente determinante das rela- sustenta a interpretação e o con-
ções de poder. teúdo dos conhecimentos?
Há uma longa história de valo- • Quais são as relações entre os
rização e desvalorização dos conheci- conhecimentos que determinam
mentos, que marcou a relação entre as se eles respondem às nossas ne-
culturas dominantes e as dominadas. cessidades e aos nossos interes-
Esses conhecimentos são reproduzidos ses?
pelos sistemas educativos por meio do Tratar de estabelecer as relações
mecanismo da imposição de uma políti- fundamentais entre os conhecimentos
ca educacional oficial, desde a época da locais e os conhecimentos universais,
dominação colonial e pós-colonial. no contexto da globalização leva-nos a
A escola oficial encarregou-se de refletir sobre o sentido da educação es-
transmitir a visão de mundo, a língua colar.
e a cultura dominante, sendo uma insti- É necessário superar a fragmen-
tuição eficaz no seu objetivo de reduzir, tação do conhecimento para reunir as
denegrir e marginalizar as línguas, as partes com o todo e, assim, cumprir a
visões de mundo e os conhecimentos ou primeira condição para encontrar as
saberes locais. melhores formas de trabalhar com a
No contexto da América Latina, a aprendizagem dos conhecimentos.
Santa Inquisição foi um símbolo dessa Para a abordagem introdutória
época. A Igreja e a escola executaram dessa problemática, trataremos breve-
a função, mediante a evangelização e mente da análise do contexto histórico
a alfabetização, de impor uma visão de da globalização, na medida em que se
mundo e determinados conhecimentos constitui o entorno no qual se inscrevem
valorizados pela cultura dominante. as relações entre os conhecimentos lo-
A reflexão sobre esse tema leva-nos cais e os conhecimentos globais.
a delinear algumas perguntas: Com a intenção de repensar as al-
• Quem determina o valor de um ternativas para imaginar um futuro
conhecimento e lhe atribui um diferente, centramos nossas esperanças
caráter universal? na educação em suas diferentes formas,
• Quais são os conhecimentos re- como sendo o lugar no qual podem se ini-
conhecidamente componentes da ciar a descolonização de nosso imaginá-
cultura dominante? rio e a revalorização de nossos saberes.

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A importância da educação se reve- trabalho e defende o livre intercâmbio
la na medida em que é o território histó- econômico e financeiro, mesmo quando
rico e cultural no qual se constrói o ima- protege suas economias.
ginário de toda a sociedade. A educação Esse processo teoricamente se tra-
é o espaço no qual se produzem a elabo- duziria na especialização de cada país
ração e a recriação das visões de mundo, em função de suas vantagens compara-
dos sistemas de valores e das maneiras tivas e numa divisão internacional do
de construir os conhecimentos. Essa re- trabalho. Todos esses postulados não
criação é que nos permite a elaboração resistem a uma análise mínima de suas
de um projeto social capaz de adaptar- múltiplas incoerências, já demonstradas
se às necessidades, às potencialidades e na realidade, como no caso da Argenti-
aos interesses de nossas sociedades. na. (STIGLITZ, 2002).
Finalmente, propomos algumas
modestas reflexões e reafirmamos o va- A deslocalização
lor de outros grandes aportes, como os
Denomina-se “deslocalização” ao
que têm realizado Edgar Morin (2000,
desalojamento da produção industrial
2006), entre outros.
rumo aos países com baixos salários e
melhores vantagens fiscais. A transfe-
Globalização: conceitos, rência de numerosas empresas dos paí-
interpretações, paradoxos e ses industriais a países como a China
desafios e outros do Sudeste Asiático é um bom
exemplo desse processo. Essa região já
A palavra “globalização” é a tradu-
concentra vários setores da economia
ção castelhana do termo inglês globa-
industrial em nível mundial. A deslo-
lization, utilizado nos Estados Unidos
calização também ocorre em direção a
da América do Norte desde a década de
certos países da Europa do Leste, que
1980. Originalmente, esse conceito se
oferecem melhores vantagens e baixos
refere a uma suposta liberação planetá-
salários para as multinacionais, o que
ria dos intercâmbios econômicos. Desde
atualmente divide a Comunidade Euro-
a década de 1990 o termo tem sido ree-
peia dos 25.
laborado e se aplica para além do campo
Esse fenômeno é um produto da
econômico, na informação e no âmbito
globalização e é sinônimo da desindus-
da cultura, entre outros. Atualmente, a
trialização e da destruição do mercado
globalização está associada à hegemonia
de trabalho nos países industriais. Esse
da geopolítica dos Estados Unidos.
fato produz um crescente desemprego e
A globalização está fundamentada
exclusão social nos países industriais e
na ideologia neoliberal, que impõe uma
provoca profundas mutações econômi-
“liberdade” do setor empresarial, para
cas, sociais e culturais.
beneficiá-lo com vantagens fiscais e al-
A deslocalização nos países ricos,
fandegárias. Preconiza, igualmente, o
em médio prazo, com a exclusão e a
“livre” emprego, que na realidade se tra-
marginalidade que são geradas, será
duz pela precariedade das condições de

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a demonstração catastrófica de que os pós-colonialismo até a atual dominação
efeitos perversos da globalização tam- hegemônica ocidental na África, Améri-
bém emergem nos países que a impul- ca, Ásia e Oceania. Essa interpretação
sionaram e fomentaram. (MONNIER, se afirma na perspectiva do respeito à
2004; RAMONET, 2004). biodiversidade como sustento vital para
A precarização de grandes setores todos os seres viventes e como condição
sociais representa um grande desafio para assumir o desafio ecológico.
para a dignidade humana no âmbito A interpretação cultural compreen-
planetário. de todo o processo de dominação cultu-
ral que envolve a globalização em seu
Os movimentos afã por impor uma cultura hegemônica.
antiglobalização Essa perspectiva também nos recorda a
necessidade de respeitar a diversidade
São movimentos que tiveram sua cultural, que compreende as diversas vi-
origem no desmantelamento da ex- sões de mundo e os diferentes sistemas
URSS (União das Repúblicas Socialis- e concepções religiosas, fundamentais
tas Soviéticas), realizado na década de para preservar a pluralidade e para as-
1990. Opõem-se à privatização dos seto- segurar as condições vitais para a con-
res públicos como a saúde, a educação vivência democrática e intercultural na
e os serviços sociais, que são concebidos sociedade humana.
pela globalização neoliberal como mer- A interpretação social é referente
cadorias que devem ser administradas à ausência de um modelo de sociedade
pelo mercado, com a perda total de suas viável, como resposta às mutações e aos
dimensões social e humana. A essas paradoxos provocados pela globalização,
proposições se opõe esse movimento incluídos na problemática da exclusão e
nos campos ecológico, econômico, social, no desafio da dignidade humana.
educativo e cultural. Suas ações políti- A interpretação econômica vem da
cas denunciam as consequências per- importância da dimensão econômica e
versas e os paradoxos que a globalização financeira da imposição do capitalismo
provoca. no âmbito mundial.
Essa oposição é explicitada por di- A interpretação geopolítica é refe-
ferentes organizações não governamen- rente à hegemonia geopolítica que em
tais e por iniciativas cidadãs, como a do nível planetário exercem os Estados
Fórum Mundial de Porto Alegre no Bra- Unidos, nos termos econômicos, políticos
sil, entre outras experiências. e militares. A atual invasão e destruição
do Iraque são exemplo, com mais de cem
As interpretações da definição mil vítimas civis. Encontramo-nos dian-
de globalização te de uma hegemonia impregnada de
etnocentrismo, racismo, nacionalismo
A interpretação histórica é referen-
e fundamentalismo religioso, como na
te aos diferentes episódios da dominação
época colonial.
ocidental desde o início do colonialismo e

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A interpretação humanista está Os paradoxos da globalização
relacionada à ausência de respeito aos
e as incontestáveis evidências
direitos humanos e à ausência de princí-
pios éticos que articulem os fundamen- da ausência de um projeto de
tos essenciais da dignidade humana. sociedade viável
A interpretação demográfica é con- Elencar esses paradoxos foi um tra-
cernente às migrações provocadas pelas balho elaborado com algumas reflexões
mutações e pela ordem injusta que foi do próprio autor, em grande parte ins-
instituída pela globalização do sistema pirado pelo Informe da 46ª Conferência
capitalista. A emigração desesperada, Internacional de Educação da Unesco:
principalmente dos países pobres para Aprender a conviver: estamos fracassan-
os mais ricos, apresenta-se como uma do? (UNESCO, 2003). Os paradoxos são
miragem e com a única alternativa para produzidos, na sua maioria, pelos efei-
sair da pobreza. Este é um fenômeno a tos perversos da globalização.
ser estudado nas relações econômicas e O primeiro paradoxo localiza-se en-
sociais do local e do global. A perda de tre a abertura para um desenvolvimento
quadros profissionais qualificados, da compartilhado entre os países indus-
qual essa situação é coadjuvante, tem o triais e a destruição das potencialidades
significado de uma sangria inestimável de desenvolvimento, particularmente
de recursos humanos. nas nações menos favorecidas.
A deslocalização de indústrias nos O incremento do comércio interna-
países ricos vindas de outras regiões cional, as oportunidades de mobilidade
provoca a destruição do tecido social e pessoal e o avanço extraordinário das
a ruptura do mercado de trabalho. Esse telecomunicações oferecem, entre ou-
fato será a causa de um novo capítulo da tros aspectos, uma base material para a
exclusão e marcará uma nova etapa na vida em comum. Sem embargo, a forma
história de migrações dos países indus- como se promove a globalização provo-
trializados do norte. ca problemas graves em muitos lugares
A interpretação relacionada à edu- do mundo. Esses problemas têm conse­
cação defronta-se com as tendências de quências principalmente na destruição
domínio que a globalização impõe, por do meio ambiente e na deterioração
meio do controle da informação e dos da qualidade de vida de centenas de
meios de comunicação, assim como da milhões de habitantes de todos os con-
mensagem ideológica e cultural que tinentes, acentuando-se as distâncias
esses meios veiculam. Esses desafios à entre ricos e pobres.
educação, em termos de visões de mun- O segundo paradoxo consiste em
do, em relação aos sistemas de valores, uma profunda contradição que se dá
às identidades e suas referências, de- entre a proliferação dos conhecimentos
mandam um importante desafio no qua- científicos e os desequilíbrios que provo-
dro das relações entre o local e o global. cam nas áreas em que se aplicam.

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As formas de produção e de consu- nem se aprendem de forma equitativa.
mo energético do século XXI, a moder- Quase um bilhão de pessoas vive sem
nização transferida do Norte para o Sul acesso à água potável; 2 bilhões e 400
e o crescimento da população em certas milhões não têm acesso à sanidade bási-
regiões do mundo são fatores que produ- ca; mais de dois milhões morrem por ano
zem efeitos perversos e sérios danos no em virtude da contaminação ambiental
meio ambiente. (UNESCO, 2003). e 34 milhões sobrevivem com aids ou
Um bom exemplo desse paradoxo é HIV. (PNUD, 2001, p. 11). Em apenas
a bacia Amazônica, cuja órbita se esten- dois anos a porcentagem da população
de por 5,5 milhões de quilômetros qua- mundial que utiliza internet passou de
drados, quase o equivalente a uma vez e 2,4% a 6,7%, ao passo que essa cifra se
meia o atual território da Comunidade eleva a mais de 50% na Suécia, Estados
Europeia. A Amazônia está repartida Unidos e Noruega. Na China, África do
entre sete países, entre os quais o Bra- Sul e Brasil, o percentual está abaixo de
sil, que possui aproximadamente 70% de 10%. A brecha no uso de novas tecnolo-
seu território. Incêndios involuntários e gias da informação é cumulativa, com
desflorestamento têm destruído mais de diferenças no acesso à eletricidade, aos
630.000 km2 de florestas, o equivalente tratores, ao telefone e a outras inume-
a duas vezes o território da Itália. No ráveis tecnologias do século XX. (PNUD
ano de 2003, mais de 24.000 km2 foram 2001, p. 42-43).
desflorestados, ou seja, um território O quarto paradoxo: nunca antes a
equivalente à Ilha da Sardenha. A de- humanidade produziu tanta riqueza,
vastação é provocada pela expansão de porém nunca antes tanta desigualdade.
cultivos agroindustriais como a soja, Em 1990, dois bilhões e 718 mi-
o gado e o desflorestamento. (ALLE- lhões de pessoas, ou seja, 45% da po-
MAND, 2004). pulação mundial, viviam com menos de
A biotecnologia avança na cons- dois dólares por dia; em 1998 eram dois
trução de conhecimentos para resolver bilhões e 800 milhões, segundo relató-
problemas muito diversos, porém se rio do Banco Mundial em 2001 (p. 29).
desconhecem as consequências e os Atualmente se estima que um bilhão e
efeitos posteriores de suas aplicações. A duzentos milhões de pessoas vivem com
utilização dessas tecnologias em áreas menos de um dólar por dia.
da produção de alimentos deve levar em Atualmente, sob essas condições,
conta esses riscos. cada vez mais assistimos a uma emigra-
O terceiro paradoxo: na etapa atual ção desesperada em nível planetário,
a humanidade dispõe de um desenvol- dos países mais pobres para os países
vimento de conhecimentos em nível mais ricos. A miragem da migração,
internacional, os quais poderiam me- como opção para melhorar a qualidade
lhorar consideravelmente a qualidade de vida, restaura o mito do desenvolvi-
de vida de toda a humanidade, porém mento, proposto pelos países ricos como
são conhecimentos que não se aplicam solução à pobreza na década de 1960.

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O caso trágico da emigração do norte de do racismo, da xenofobia e da margi-
da África para a Europa e a situação nalidade? Essas são as grandes pergun-
dos imigrantes clandestinos nos Esta- tas a se responder hoje em dia e consti-
dos Unidos, entre outros, são dois dos tuem, entre outros, os grandes desafios
dramas humanitários contemporâneos atuais. A educação, nesse contexto, tem
mais importantes e constituem um um grande combate a assumir.
grande desafio para todos nós: o desa- A globalização é apresentada como
fio de assumir o respeito pela dignidade uma grande abertura, mas é, na verda-
humana. de, uma ameaça de uniformização cul-
Cada vez mais pessoas jovens e tural, que põe em perigo a preservação
educadas abandonam seus lugares de da diversidade cultural, despertando
origem para buscar – com ou sem êxito – conflitos e recolhimentos identitários e
uma melhor qualidade de vida, onde for nacionais, facilitando, assim, a emer-
possível. As migrações sempre vieram a gência das inevitáveis consequências da
enriquecer os países, porém represen- intolerância e do racismo.
tam, igualmente, um grande desafio e Atualmente, o racismo, no contexto
criam novos dramas e problemas. Os europeu, constitui uma ideologia política
pobres buscam nos países ricos espaços de massas. (MARÍN, 2002). Não somen-
de sobrevivência que não são acolhedo- te se renegam as culturas, mas também
res, nem generosos. Os casos de maus- os idiomas maternos. A língua tem uma
tratos, de racismo e de xenofobia que extraordinária importância, uma vez
sofrem os imigrantes são inumeráveis. que organiza o conhecimento de nossos
A história das migrações tem mar- ecossistemas pela nominação. A língua é
cado a história da humanidade. Atual­ vital para construir nossas identidades
mente, com o fenômeno da deslocali- e expressar nossa percepção de mundo e
zação, que provoca o fechamento das a concepção de nossas sociedades.
empresas e a destruição do mercado de A dominação cultural e linguística
trabalho nos países ricos, muitos dos ha- é coadjuvante da perda do patrimônio
bitantes de origem, que participaram do cultural de toda a humanidade. A impo-
povoamento desses países, são também sição do inglês como língua veicular em-
excluídos e serão obrigados, igualmente, pobrece as culturas e as línguas locais.
a emigrar, como os excluídos do Sul. O sexto paradoxo: em 1980, 81 paí-
O quinto paradoxo: Como assumir ses deram passos significativos para a
a diversidade cultural? Como respeitar democracia; 33 regimes militares foram
as diferentes visões de mundo, as diver- retomados por governos civis; fizeram-
sas crenças religiosas? se mais transparente a presença e a
Como assumir a multiculturalida- ingerência das ONGs. (PNUD, 2002,
de de nossas sociedades? Como assumir p. 10). Porém, a possibilidade de reali-
nossa pluralidade e como poderíamos zar a democracia encontra grandes obs-
conviver, respeitando nossas diferenças, táculos. É evidente o enfraquecimento
sem chegar aos extremos da perversida- dos Estados nação como modelos políti-

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cos para organizar institucionalmente a interesses das empresas multinacionais
sociedade, diante da emergência dos po- e dos organismos internacionais, como o
deres e das instituições transnacionais, Banco Mundial (BM), o Fundo Monetá-
que controlam os novos setores de poder rio Internacional (FMI) e a Organização
das finanças, da informação e das comu- Mundial do Comércio (OMC). A influên-
nicações, e determinam as decisões do cia preponderante dessas instituições
poder político sobre a sociedade. O caso sobre a orientação que deve tomar o
da crise argentina é um bom exemplo desenvolvimento econômico, social, cul-
dessa dramática realidade. (LEWKO- tural e educativo do mundo é um dos as-
WICZ, 2003; STIGLITZ, 2002; UNES- pectos da globalização importante a ser
CO, 2003). assinalado e mais investigado. (MARÍN;
Entre 1992 e 1995 morreram na DASEN, 2007).
Bósnia aproximadamente duzentas mil Os setores democráticos e todas as
pessoas e quinhentas mil em Ruanda instituições da sociedade civil teriam de
em 1994. De março de 2003 a outubro assumir um papel fiscalizador mais im-
de 2004, são cem mil as vítimas civis da portante nesse processo. Necessitamos
invasão norte-americana no Iraque. ter uma visão global de nossas socieda-
Na atualidade, a imposição militar des para melhor compreender as impli-
da hegemonia geopolítica dos Estados cações e consequências da globalização
Unidos cria a insegurança no destino da sobre as mesmas e sobre nossa vida
humanidade. Essa incerteza se encarna cotidiana, em outros trabalhos e outros
na tragédia imposta ao povo iraquiano. setores importantes, como o social, a
saúde pública e a educação.
A globalização e seus Os antecedentes históricos da glo-
paradoxos balização, entendida como um complexo
processo histórico de dominação, têm
Primeiramente, é necessário com- suas origens na colonização da América,
preender que a globalização atual do da África e, posteriormente, da Ásia e
sistema econômico capitalista sob o sig- da Oceania. Esse processo de dominação
no da ideologia neoliberal não é sinôni- nos mostra a tendência a universalizar
mo de “livre-comércio”. Assinalar essa os sistemas econômicos, políticos, reli-
premissa nos permitirá compreender as giosos, culturais e educativos.
transformações sociais que se estão pro- Entre os desafios mais importantes
duzindo nos últimos vinte anos. a assinalar no terreno do conhecimento,
Identificamos a ideologia neolibe- no quadro da dominação cultural, po-
ral com a depauperação e o desmantela- deríamos pensar no elevado custo das
mento do Estado. Esse processo histórico novas tecnologias, que são a origem e
implica que as decisões mais importan- a criação de novas dependências, como
tes escapam da gestão dos governos es- sustento da dominação e do intercâmbio
tatais pretensamente democráticos. As desigual.
decisões são tomadas de acordo com os

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Os desafios da globalização cas e suas consequências posteriores e
o uso irracional de tecnologias, em cuja
O início do terceiro milênio está concentração está ausente a dimensão
marcado por mutações econômicas, so- ecológica, são os fatores de uma nova
ciais e culturais profundas, que questio- geração de enfermidades.
nam as certezas e as verdades univer- Necessitamos integrar a dimensão
sais impostas desde há muito tempo e ecológica não só em termos da economia,
nos obrigam a recriar o sentido da vida mas, também, em todos os domínios nos
e a realizar esforços para imaginar um quais se constrói o conhecimento. A edu-
projeto de sociedade viável. Entre os cação é o território no qual pode se pro-
desafios mais importantes a assinalar, duzir a reconciliação entre a natureza e
poderíamos pensar no desafio ecológico, a cultura. Evidentemente, este é um as-
no desafio ético e da dignidade huma- pecto que implica repensar nossas visões
na, no desafio social e econômico e nos de mundo, que são aquelas nas quais se
desafios da globalização no domínio da encontram as raízes da crise ecológica
educação. contemporânea. (WHITE, 1976).
O desafio ecológico traduz-se pelo A preservação dos climas e o respei-
respeito à biosfera e pelo respeito à bio- to pela biodiversidade foram os temas
diversidade, o que implica evitar toda a de discussão nas reuniões internacio-
destruição sistemática dos ecossistemas nais do Rio de Janeiro em 1992 e, ulti-
por um processo de industrialização que mamente, em Kyoto em 1997. (RAMO-
não integrou a natureza como fator pri- NET; CHAO; BOSNIAK, 2003). Esses
mordial da produção. Os conhecimentos acordos internacionais para preservar a
científicos e as tecnologias que susten- biodiversidade e o clima contam com a
tam o processo de industrialização igno- oposição aberta dos Estados Unidos da
raram a capacidade da natureza para América, que argumentam com a opo-
suportar todos os efeitos contrários à sição entre esses acordos e o “progresso
sustentação de seu equilíbrio. econômico”.
É urgente repensar a aliança vital
entre natureza e cultura como funda-
O desafio ético e a dignidade
mento essencial na construção do saber
científico e tecnológico. humana
A catástrofe de Chernobyl na Ucrâ- É primordial considerar esses as-
nia, em 1986, revela os limites dessa pectos como premissa para afrontar
visão de mundo e nos expõe um grande o desafio ecológico e assumir um novo
desafio epistemológico. A ausência da projeto de sociedade. A capacidade de
natureza no pensamento científico atual respeitarmos os demais é a base da
nos explica a incapacidade tecnológica construção da dignidade humana.
para controlar a radioatividade, a des- Atualmente, a falta de ética se
truição da camada de ozônio, o manejo traduz na corrupção do sistema político
dos resíduos industriais e radioativos. que supostamente deveria administrar
O perigo das manipulações biogenéti- a democracia. O caso dramático da in-

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vasão norte americana e seus aliados no nas quais as culturas e os idiomas como
Iraque pretende se justificar em nome o quechua e o aymara durante muitos
da imposição militar da liberdade e da séculos conseguiram classificar mais
democracia, que disfarça muito mal uma de mil variedades de batatas, dando-
verdadeira guerra de saques imperiais, lhes um nome a cada variedade, é um
para apropriar-se pela força dos jazigos ato de destruição cultural, um etnocí-
petrolíferos desse país. dio. Proibir os idiomas que organizam
A dignidade nos permite ocupar o conhecimento dos saberes locais pela
um lugar na sociedade, sustentada no nominação dos ecossistemas significa
reconhecimento e no respeito de nossos um ato de destruição do patrimônio cul-
direitos. Esse reconhecimento é a base tural andino, o qual levou séculos para
sobre a qual se constroem nossas iden- se construir. O castelhano tem somente
tidades, a partir das quais logramos dar uma palavra para nominar a batata.
um sentido à nossa existência. A educa- Este exemplo histórico é muito eloquen-
ção tem uma grande tarefa na proteção te para revelar a relação desigual entre
e na preservação da dignidade, desde o os saberes locais e os saberes pretensa-
âmbito familiar até a escola. Entretan- mente universais, ou globais.
to, essas afirmações se contrapõem aos O idioma é o espírito e o veículo
paradoxos da exclusão desumanizante da dimensão afetiva das culturas. Re-
que a globalização produz, com mais da conhecer que os “outros” também pos-
metade da humanidade completamente suem conhecimentos é admitir o va-
marginalizada e em condições miserá- lor e a pertinência de suas culturas e,
veis (conferir os paradoxos anterior- também, outorgar-lhes uma posição de
mente explanados). interlocutores. Todas essas são premis-
Trabalhar contra a depreciação, ou sas fundamentais para se construir o
autodepreciação que impõe a dominação diálogo intercultural como fundamento
é uma das grandes tarefas da educação. democrático da educação.
Não esqueçamos que depreciar, para
justificar a opressão, foi regra de ouro O desafio social e econômico
desde a época da dominação colonial.
O desenvolvimento das novas tec-
Reconstruir a estima e o respeito, de que
nologias da informação e da comunica-
todos necessitamos é uma árdua tarefa.
ção representa um grande avanço tecno-
Não somente se valorizam as pessoas,
lógico para a educação, com o paradoxo
mas também se devem valorizar suas
de que nem todos os seres humanos
culturas e seus idiomas, uma vez que
podem ter acesso a essas tecnologias,
esses organizam seus conhecimentos
em razão dos seus custos elevados. Os
pela nominação. O exemplo de impor na
paradoxos demonstram bem esse fato.
região andino-sul-americana uma edu-
A fragmentação social se estende e con-
cação oficial, com a cultura ocidental
tém os riscos da crescente exclusão que
e o castelhano como cultura e idioma
a globalização provoca.
oficiais, dominantes nas zonas andinas,

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A informática e a robótica trans- Os desafios da globalização no
formaram profundamente a paisagem
industrial, e conhecemos a gravidade
domínio da educação
das fraturas sociais que vieram com sua Os desafios são múltiplos, na me-
implementação. O mercado de trabalho dida em que uma grande parte das re-
foi reduzido ou destruído, em muitos ferências e fundamentos sobre os quais
casos provocando altos percentuais de temos construído nossos conhecimentos
desocupação, o que, por sua vez, pro- encontra em uma profunda mutação. A
voca uma grande destruição do tecido época das certezas da mitologia do saber
social, fragmentando as famílias e os universal já teve seu colapso com a ca-
indivíduos que sofrem esse processo de tástrofe de Chernobyl. O mundo contem-
marginalização. porâneo tem sofrido profundas mudan-
A perda dos postos de trabalho pro- ças, e o grande desafio para todos nós é
voca uma crise de identidade, uma crise contribuir coletivamente para construir
existencial, mais ainda na sociedade um projeto de sociedade viável.
industrial, na qual a única identidade A sociedade humana necessita se
que os trabalhadores possuem é a de reconstruir e refletir sobre a função da
seu próprio trabalho. Perder o trabalho educação no contexto atual da globaliza-
é perder seu lugar na sociedade, o que ção. Refletir sobre a educação, construir
pode significar um grande drama, o qual conhecimentos e didáticas para realizar
se estende igualmente a suas famílias, suas ações já não é mais a tarefa de al-
que sofrem o estigma implicado nessa guns indivíduos, e, sim, uma tarefa que
situação. Essa exclusão crescente des- compromete o conjunto da sociedade,
trói a dignidade e a identidade de quem que se confronta com múltiplos desa-
sofre, como sujeito, esse processo. fios.
Atualmente não existe um projeto A educação é a instituição social
de sociedade viável, capaz de responder por excelência, que responde à pergun-
aos desafios ecológicos e éticos e aos ta universal que se propõe a todas as
aspectos concernentes à dignidade hu- culturas: Como proceder à ação com os
mana. A construção de um projeto de conhecimentos e as visões de mundo, os
sociedade somente será possível se as- sistemas de valores e outras referências
sumirmos o respeito à biodiversidade, à necessários para dar um sentido a nos-
diversidade cultural e às diversas visões sas vidas?
de mundo e de crenças religiosas que os Haveria necessidade de se propo-
diversos povos do planeta possuem. rem muitas perguntas:
O grande desafio é pensar em uma • Como proceder ao trabalho pe-
sociedade que nos permita ser para po- dagógico com as visões de mun-
dermos realizar nossas aspirações mais do que associam a natureza e a
nobres e não nos limitarmos a possuir, cultura?
reduzindo nossa vida a produzir e a con- • Como proceder a uma educação
sumir, como fazemos compulsivamente que preserve a biodiversidade, a
hoje em dia.

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diversidade cultural, a plurali- vive. O individualismo encarna um ego-
dade e as diferentes concepções centrismo no qual se incorporam os no-
religiosas? vos valores que asseguram o êxito, tais
• Como proceder a sistemas de como a competitividade, a mobilidade, o
valores que recriem a solidarie- pragmatismo, o utilitarismo e a mone-
dade e reforcem uma dimensão tarização das relações humanas.
humana coletiva, sabendo que A concepção neoliberal não leva em
todos necessitamos de todos os conta uma realidade na qual o homem
demais? não se constrói só, em que todos nós nos
• Como proceder a concepções que construímos mutuamente e onde não
associem o global e o local? pode existir o “eu” sem o “tu”.
• Como proceder a concepções que
restabeleçam em nosso pensa- Algumas modestas sugestões
mento as relações entre as par-
• Definir o contexto local a partir
tes e o todo?
do qual trabalhamos, valorizan-
• Como proceder aos conhecimen-
do o que somos e o que sabemos,
tos que associem as projeções, as
para podermos nos relacionar
identidades e as transferências
nas melhores condições com o
entre o racional, o emocional e
global.
o afetivo, concebidos como uma
• Assinalar a importância de defi-
totalidade?
nirmos, desde a realidade e des-
• Como construir os conhecimen-
de a prática, nas quais se cons-
tos e como proceder para comu-
troem nossos conhecimentos, os
nicá-los a partir do contexto na-
aspectos da complexidade e da
tural de nossos sistemas ecológi-
multidimensionalidade de nos-
cos e de nosso contexto histórico,
sas sociedades.
cultural, social e político?
• Projetarmos o futuro com base
• Como projetar nosso trabalho
em nossas referências espaciais
educativo a partir de nossos
e culturais, na diversidade, no
próprios sistemas de valores, le-
contexto ecológico no qual se
vando em conta que o processo
constroem nossos conhecimen-
de globalização, ao privilegiar o
tos e na rica diversidade cultu-
individualismo, tende a perver-
ral que impregna a realidade
ter os fundamentos da solida-
brasileira e latino-americana.
riedade e, dessa maneira, busca
• Construirmos nossas vidas a
degradar os princípios da coleti-
partir de nós mesmos, de nossa
vidade?
própria autoestima, valorizan-
A ideologia neoliberal considera
do o que somos como condição
que o indivíduo é o ator principal da so-
primeira para crescermos em
ciedade, totalmente isolado dos demais,
nossas possibilidades, a partir
divorciado da sociedade real na qual
de nossa realidade, reforçando,

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assim, nossa dignidade, que é • Como unificar em uma só óti-
fundamental para crescermos e ca os conhecimentos locais e os
projetarmos nós mesmos. A to- conhecimentos globais, estabe-
mada de consciência histórica é lecendo-os em seus diferentes
fundamental para compreender contextos e buscando construir
o presente e imaginar o futuro. sua complementaridade?
• Superar a perda da autoestima
é uma conquista que está na re- Algumas prováveis respostas
lação direta com a aceitação da
Na busca de uma perspectiva in-
valorização de nossos saberes e
tercultural que admita a igualdade
percepções, considerados como
dos conhecimentos, para além de toda
inferiores ou subdesenvolvidos.
categorização e hierarquização que nos
• Revalorizar os saberes locais
foram impostas pelo etnocentrismo da
passa por revalorizar a estima
dominação cultural ocidental, a pers-
e a dignidade das pessoas que
pectiva intercultural pode nos permitir
os possuem. A dimensão afetiva
revalorizar os saberes locais e criar as
é capital no trabalho educativo:
condições para compartilhá-los em uma
não somente se procede à comu-
perspectiva de complementaridade, que
nicação dos conhecimentos, mas
vá para além da mesquinha realidade
também de afetos portadores do
da lógica do saber, traduzido como poder
reconhecimento de que todos ne-
e como dominação.
cessitamos.
Trata-se de associar os conhecimen-
• Definir o local e o global para
tos produzidos pelo Ocidente com os co-
construir um conhecimento que
nhecimentos produzidos pelas culturas
explique as relações e as impli-
tradicionais, locais ou regionais, consi-
cações que existem entre essas
derando seus contextos de produção.
duas dimensões.
Como exemplo concreto dessas
Algumas questões reflexões podemos citar o caso da ex-
periência do Programa de Formação
• Como integrar os fragmentos de Professores Indígenas em Educação
para reconstruir a totalidade Bilíngue e Intercultural que atualmen-
e ter em conta suas múltiplas te funciona em Zungarococha, perto
dimensões, sua complexidade e da cidade de Iquitos, na Amazônia pe-
sua multiculturalidade?
ruana. Essa experiência educativa é
• Como refazer o “olhar de peixe”,
muito importante, na medida em que
para recuperar uma visão global
nos permite imaginar como assumir as
de 360o, longe da focalização na
relações entre os conhecimentos locais e
qual nos temos encerrado e limi-
tado por tanto tempo, utilizan- os conhecimentos universais ou globais
do-nos da educação dominante, utilizando a perspectiva intercultural.
da racionalidade e do positivis- O programa parte do princípio de que é
mo ocidental? possível construir um sistema educati-

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vo capaz de elaborar um programa de a seus saberes. Estas são as condições
estudos que incorpore os saberes locais para construir um programa desse tipo:
indígenas, aduzidos pelos especialistas uma educação que parte do reconheci-
indígenas de cada uma das etnias que mento de todos os atores, respeitando
participam do programa, associando-os sua dignidade e fundamentando-se no
aos saberes da educação ocidental (uni- diálogo.
versal/global), que são elaborados pela Uma das principais originalidades
equipe interdisciplinar de professores. da revalorização dos conhecimentos eco-
Os princípios em que se baseia esse lógicos tradicionais indígenas pode ser a
programa são: “Proposta de regime de proteção aos co-
• a associação da educação tradi- nhecimentos dos povos indígenas sobre
cional com a escola ocidental; a regulação, ao acesso aos recursos ge-
• a impugnação de um sistema néticos”. O Peru é um dos poucos países,
único de escola; juntamente com o Panamá, a Bolívia e
• a repulsa por uma oposição da as Filipinas, que propôs um regime sui
escola tradicional com a escola generis para preservar conhecimentos
“moderna” (oficial); ancestrais. (GALVIN, 2002).
• a oposição a uma ideologia as- Esses conhecimentos locais sobre a
sistencialista; biodiversidade da Amazônia, reconheci-
• a rejeição de uma simples tra- dos globalmente, podem ser, talvez, um
dução da cultura ocidental aos exemplo para imaginar uma relação de-
moldes da educação bilíngue; mocrática entre os conhecimentos locais
• a afirmação de uma educação e os conhecimentos globais ou univer-
bilíngue e intercultural; sais. Esse programa obteve em 2002 o
• a aprovação da aprendizagem reconhecimento da Cooperação Interna-
do castelhano como segunda lín- cional da América Latina como um dos
gua; melhores projetos e, no ano de 2004, a
• a sinalização favorável a uma Fundação Andrés Bello veio a conceder-
educação vinculada à ecologia lhe um prêmio.
(associando a natureza com a • A perspectiva intercultural se
cultura); dá num processo de interapren-
• a afirmação de uma educação dizagem, sem as perversidades
associada à realidade socioeco- que criaram as relações entre
nômica, política e cultural. (MA- culturas dominantes e culturas
RÍN, 2002, p. 135). dominadas. (MARÍN, 2002). A
Esses fundamentos educativos tra- ótica intercultural nos permite
tam de evitar as falsas oposições, pró- criar as condições para realizar
prias à imposição de uma cultura domi- um diálogo intercultural que
nante, e buscam a complementaridade, permita o reconhecimento de
o diálogo dos saberes, a interaprendiza- que todos somos capazes de pro-
gem, com base na modéstia e na escuta duzir conhecimentos.
do “outro”, no respeito à outra cultura e

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• Reconhecer que cada um pos- • a cultura contra a natureza;
sui conhecimentos é o princípio • a cultura escrita à cultura oral;
fundamental para construir a • a intuição à racionalidade.
dignidade de que todos necessi- • Como pensar a partir de nós
tamos. mesmos, dos povos do Brasil,
• A preservação da dignidade e a do contexto sul-americano, do
incorporação da dimensão afeti- nosso continente indígena, euro-
va são essenciais para realizar peu, africano, asiático e de nossa
toda a aprendizagem, nas me- mestiçagem cultural, para cres-
lhores condições. cermos e construirmos um pro-
• Denegrir as percepções e os sa- jeto de sociedade viável a partir
beres locais implica, igualmen- do que somos?
te, um processo que vem erodin- • Como crescer a partir de nossas
do a dignidade e a identidade de raízes, desde nossas flores e des-
quem sofre essa agressão e que, de nossos frutos, desde nossas
em muitos casos, termina assu- realidades e em função de nossas
mindo “sua inferioridade”. necessidades, abertos ao mundo
• Refletir sobre os efeitos nefastos como se abrem os ramos de uma
do colonialismo mental, sobre a araucária, para namorar o hori-
necessidade de pensar a partir zonte?
de nossas realidades e construir • Como estar abertos ao mundo
a teoria, a metodologia e a didá- exterior e pensar localmente
tica apropriadas a nossas reali- para agir globalmente?
dades cotidianas, sem negar a Algumas proposições, inspiradas
valiosa abordagem do conheci- na valiosa contribuição de Edgar Morin,
mento teórico, metodológico e em suas reflexões sobre “os sete saberes
didático de outras realidades. necessários para uma educação do futu-
ro”, parecem-me pertinentes. (MO­RIN,
As perguntas são: 2000).
• Como relacionar em uma só
ótica os conhecimentos locais Educar para construir uma
e os conhecimentos universais
ou globais, estabelecendo-os
visão global
em seus diferentes contextos e • Utilizar uma ótica e uma prática
buscando assinalar os aspectos interdisciplinar que nos permita
comuns e válidos que nos permi- abordar a multidimensionalida-
tam construir a complementari- de da realidade para tratar de
dade, para evitar todas as falsas compreender a complexidade.
e aberrantes oposições que a • Entender e valorizar a diver-
dominação cultural criou e que sidade das inteligências para
opõem: criar as condições de um diálogo
intercultural que nos permita

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compartilhar os conhecimentos tolerância; educação por uma
numa perspectiva de comple- ética como fundamento de uma
mentaridade. Por exemplo, en- cultura planetária.
tre os conhecimentos da medici- • Educação política: uma educa-
na tradicional e os da medicina ção que fomente a participação e
ocidental. o diálogo entre os cidadãos como
• Educação para o erro, para a seu fundamento. Uma educação
ilusão e para o conflito: educar política por uma democracia
para os diferentes tipos de er- participativa, capaz de fazer vi-
ros; para entender a rigidez dos ver os princípios desse paradig-
paradigmas; para acompanhar ma, tão evocado, nas tão pouco
a incerteza e a dinamicidade do praticado.
conhecimento. O conflito tam-
bém é uma fonte de aprendiza- Algumas reflexões finais
gem.
• Definir a importância da his-
• Educação sobre nossa condição
tória como uma contribuição
humana: educar sobre nossa
fundamental para compreender
condição cósmica e sobre a di-
as origens e para saber nos si-
versidade humana. Educação
tuarmos no presente e, assim,
intercultural, que nos permita
podermos vislumbrar o futuro.
respeitar a diversidade e a plu-
• Definir a importância da inter-
ralidade dos indivíduos. Valori-
disciplinaridade como a única
zação da dimensão afetiva, fun-
possibilidade para recuperar a
damental para a comunicação e
visão global e manejar os concei-
a ação com os conhecimentos.
tos de totalidade, de globalidade
• Educação para a importância
e de interculturalidade.
da ética: tomada de consciência
• Associar a democracia como base
sobre os desafios éticos, ecoló-
para a gestão social e política e
gicos e as ameaças que deve-
apoiar-nos na perspectiva inter-
mos enfrentar para defender a
cultural, como fundamento para
dignidade humana. Tomada de
a gestão de nossa diversidade
consciência sobre os limites da
cultural.
modernidade. Educação para a
• Definir os conhecimentos locais
necessidade do otimismo e da
em função do contexto ecológico
esperança.
no qual se produzem, valorizan-
• Educação para a compreensão:
do seu domínio e relativizando-
contra o egocentrismo e o etno-
os em razão da existência de ou-
centrismo e contra todo redu-
tros conhecimentos, produzidos
cionismo. Tomada de consciên-
em outros contextos, com carac-
cia da complexidade humana;
terísticas próprias, e circunscre-
interiorização da modéstia e da
vê-los a essas realidades.

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• Construir uma concepção educa- saber local y el saber “universal”, que
tiva para associar conhecimentos impone la cultura dominante, es una
locais e conhecimentos globais buena referencia para plantearnos el
que nos permitam pensar local- análisis de cómo imaginar la descoloni-
mente para atuar globalmente. zación del saber. El desafío actual para
Esse debate sobre a globalização, la educación, como proceso cultural de
como quadro histórico das relações entre transmisión de visiones del mundo, de
conhecimentos locais e globais ou uni- sistemas de valores y fundamentos para
versais, está em construção. Portanto, construir los conocimientos es partir de
esse ensaio tem um caráter introdutório nuestras realidades, basándose en la
e limitado sobre uma problemática mui- revalorización de las lenguas y culturas
to ampla e complexa. Isso pode explicar locales, adaptando a las posibilidades y
por que nossa reflexão contribui com limitaciones de cada realidad en función
mais perguntas do que respostas. del contexto global.

Palabras claves: Interculturalidad. Sa-


Interculturalidad y ber local y saber global. Eurocentrismo.
descolonización de saber: Descolonización del saber.
relación entre el conocimiento
local y el conocimiento Referências
universal en el contexto de la ALLEMAND, A. Lula parle sur les indus-
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A dónde va el Peru. Balance del fujimorismo
to mutuo de todas las culturas, lejos de
y preguntas para el futuro. Cusco-Genève:
toda jerarquización, es la condición pri- CBC/IUED, 2002.
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política. En la medida que la cultura mutación. El caso de la Amazonía peruana,
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dad, ní la diversidad cultural, pervierte A dónde va el Perú. Balance del fujimorismo
y preguntas para el futuro. Cusco - Genève:
las referencias reales y las significacio-
CBC/IUED, 2002.
nes simbólicas de los contextos locales.
_______. Saber local e saber pretensamente
Creemos que el caso de la relación del
universal. In: ROMANOWSKI, J. P.; MAR-

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