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tos tecnológicos” desde que tenha acesso a tecno- e seus interesses. Os conflitos de interesse perma-
logias limpas e que estas escolhas se estabeleçam necerão, mesmo depois de vencida a crise. Os jor-
dentro de um debate democrático e ético. nais mostram, a cada dia, impasses dos diversos
O que gostaria de ressaltar nesse texto é que projetos em curso no Brasil: a construção de es-
esta crise, como as demais crises que ocorreram no tradas e hidrelétricas na Amazônia, a expansão das
capitalismo desde a sua origem, passará. Esta pas- favelas nas metrópoles, a ampliação da cultura da
sagem pode ter consequências dramáticas, geran- cana-de-açúcar, o aumento da produção de auto-
do desemprego, desespero e desilusão. Possivelmen- móveis, entre vários outros. Cada um desses pro-
te, irá também remodelar a atual estrutura de pro- jetos produz ganhadores e perdedores e, por isso,
dução e consumo. Durante a crise, a vida do país e promove a cisão entre grupos e disputas6.
das famílias é alterada de modo significativo, pro- Esses conflitos são inevitáveis, e mesmo neces-
vocando insegurança e perdas materiais. Mas as sários, para que se estabeleçam bases sociais e
alternativas para a saída da crise estão já sendo pro- ambientais sustentáveis para o desenvolvimento.
jetadas, durante a crise. Nesse momento surgem Como essas disputas emergem em diversos fóruns
idéias, oportunidades e oportunistas, são identifi- técnicos e políticos, é imprescindível que o movi-
cados novos caminhos e barreiras. Essa passagem mento social e os órgãos de governo estejam aten-
pode gerar modelos de desenvolvimento ainda mais tos e preparados, o que demanda a capacitação e
perversos ou mais humanos, ecológicos e solidári- fortalecimento das agências de controle ambiental
os. Os exemplos de projetos de desenvolvimento e de vigilância em saúde; a organização e embasa-
citados no início deste texto foram gestados em mento técnico da sociedade civil; a democratização
contextos de crise econômica e política: a introdu- e difusão de informação sobre projetos de desen-
ção da cana-de-açúcar, a implantação da indústria volvimento e seu monitoramento. Qualquer ou-
automobilística e o agronegócio de grãos. tro caminho, que tente suprimir essas disputas,
É difícil recuperar com precisão o momento e pode se tornar uma perigosa aventura.
os participantes dessas decisões. Os exemplos da
cana, indústria e agronegócio mostram um delica-
do equilíbrio entre Estado, cidadão e empresa. Em Referências
alguns momentos, como durante a ditadura mili-
1. Acselrad H. As práticas espaciais e o campo dos con-
tar, o Estado prevaleceu, acima das relações entre flitos ambientais. In Acselrad H, organizador. Confli-
empresa e funcionários. No escravismo da cana, o tos ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Du-
Estado legitimou a empresa em detrimento dos se- mará; 2004. p. 13-35.
micidadãos, escravos. No caso da chacina de Unaí, 2. Kuznets S. Economic Growth and Income Inequality.
como em diversos outros que ocorrem no Brasil American Economic Review 1955; 49:1–28.
3. Ansuategi A, Perrings C. Transboundary externalities
contemporâneo, a empresa atentou contra o Esta- in the Environmental Transition Hypothesis. Envi-
do e seu dever de proteger o cidadão. Essas relações ronmental and Resource Economics 2000; 17:353–373.
entre Estado, cidadão e empresa, na verdade, são 4. Navarro V, Shi L. The political context of social ine-
bastante complexas, sendo uma das características qualities and health. Social Science & Medicine 2001;
da sociedade moderna a interação entre essas par- 52(3):481-491.
5. Udo VE, Jansson PM. Bridging the gaps for global
tes. A dinâmica econômica cria, ou degenera cida- sustainable development: A quantitative analysis. Jour-
dãos. Os cidadãos e empresas conformam o Esta- nal of Environmental Management 2009; 90(12):3700-
do. Além disso, Estado, cidadão e empresa não 3707.
constituem unidades. São fragmentados por inte- 6. Banerjee SB. Quem sustenta o desenvolvimento de
resses de classe, de setores da economia e de gover- quem? O desenvolvimento sustentável e a reinvenção
da natureza. In: Fernandes M, Guerra L, organizado-
no. Um exemplo desses diversos interesses é a coe- res. Contra-discurso do desenvolvimento sustentável. 2a
xistência dentro do aparelho de Estado dos defen- ed. Belém: UNAMAZ/UFPA-NAEA; 2006.
sores do agronegócio e sua expansão e, por outro
lado, os que advogam pela agricultura familiar e a
reforma agrária. Também as empresas não coinci-
dem em seus interesses, sendo notável a oposição
entre capital financeiro e capital industrial.
Diante desse quadro de conflitos, é preciso pen-
sar e agir. A democracia política, duramente con-
quistada no Brasil, se ainda não trouxe a plena
cidadania e distribuição de riquezas, permite ao
menos enxergar essa pluralidade de atores sociais