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Prevenção e Controle

de Perdas
Prof. Léo Roberto Seidel

2010
Copyright © UNIASSELVI 2010

Elaboração:
Prof. Léo Roberto Seidel

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

658
S4581p Seidel, Léo Roberto.

Prevenção e Controle de Perdas / Léo Roberto Seidel.


Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial:
Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 168. p.: il

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-305-1

1. Prevenção 2. Administração da Produção I. Centro Universitário


Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico!

Você tem em mãos o Caderno de Estudos da disciplina de Prevenção


e Controle de Perdas que lhe servirá de importante meio para a aquisição de
conceitos fundamentais concernentes à Segurança do Trabalho. No decorrer
deste caderno, serão apresentados conceitos, exemplos, comentários e
também alguns exercícios a respeito dos vários assuntos abordados. Encorajo
você a cumprir cada etapa com empenho e entusiasmo. Também não deixe
de fazer as leituras recomendadas, pois são de fundamental importância.

Na primeira unidade, serão estudados os acidentes de trabalho e as


maneiras de se evitá-los. Certamente, grande quantidade de informações
novas será apresentada e é muito importante que você a compreenda para a
boa continuidade de seu aprendizado.

A segunda unidade aborda os riscos encontrados no ambiente


de trabalho. Nesta etapa do estudo são demonstradas várias técnicas
de identificação e análise de riscos, bem como alguns métodos para sua
eliminação.

Por fim, a terceira unidade estuda as consequências que os riscos


trazem para as empresas e seus trabalhadores. Nesta unidade, vamos
analisar a melhor maneira de se lidar com os riscos com base na sua
gravidade e frequência. Também são vistos alguns parâmetros importantes
a serem considerados para a elaboração de um plano de ação para o caso de
emergências.

Um grande abraço para você e ótimos estudos!

Prof. Léo Roberto Seidel

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – ACIDENTES DE TRABALHO................................................................................... 1

TÓPICO 1 – CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO............................................................................. 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 O ACIDENTE DO TRABALHO......................................................................................................... 4
2.1 DIFERENÇA FUNDAMENTAL ENTRE AS DEFINIÇÕES TÉCNICA E LEGAL . ............... 6
2.2 BENEFÍCIOS INDIRETOS RESULTANTES DA PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE
TRABALHO....................................................................................................................................... 8
3 A COMUNICAÇÃO DE UM ACIDENTE DE TRABALHO – CAT............................................. 8
3.1 ACIDENTE SEM AFASTAMENTO................................................................................................ 9
3.2 ACIDENTE COM AFASTAMENTO.............................................................................................. 9
3.2.1 Incapacidade temporária........................................................................................................ 10
3.2.2 Incapacidade parcial............................................................................................................... 10
3.2.3 Incapacidade total.................................................................................................................... 10
3.3 FORMULÁRIO CAT......................................................................................................................... 11
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 12
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 13

TÓPICO 2 – LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE ACIDENTES................................................ 15


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 15
2 ACIDENTE, LESÃO E RISCO............................................................................................................. 16
3 FATORES DE ACIDENTES................................................................................................................. 17
3.1 AGENTE DA LESÃO ...................................................................................................................... 17
3.2 CONDIÇÃO INSEGURA ............................................................................................................... 18
3.3 ATO INSEGURO .............................................................................................................................. 19
3.4 ACIDENTE-TIPO . ........................................................................................................................... 20
3.4.1 Batida contra............................................................................................................................. 20
3.4.2 Batida por.................................................................................................................................. 20
3.4.3 Queda de objeto....................................................................................................................... 21
3.4.4 Queda da pessoa...................................................................................................................... 21
3.4.5 Prensagem entre....................................................................................................................... 21
3.4.6 Esforço excessivo..................................................................................................................... 21
3.4.7 Exposição a temperaturas extremas...................................................................................... 22
3.4.8 Contato com produtos químicos agressivos........................................................................ 22
3.4.9 Contato com eletricidade........................................................................................................ 22
3.4.10 Outros acidentes-tipo............................................................................................................ 22
3.5 FATOR PESSOAL INSEGURO ...................................................................................................... 24
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 25
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 26

TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES............................................................................... 27


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 27
2 INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTE (OU INCIDENTE) .................................................................. 27
2.1 POR QUE SE DEVEM INVESTIGAR OS ACIDENTES?............................................................ 27

VII
2.2 QUANDO A INVESTIGAÇÃO DEVE SER REALIZADA........................................................ 28
2.3 PROPORÇÃO ENTRE ACIDENTES E INCIDENTES................................................................ 28
2.4 QUAIS ACIDENTES E INCIDENTES SE DEVE INVESTIGAR................................................ 29
2.5 VANTAGENS DA INVESTIGAÇÃO............................................................................................. 29
2.6 QUEM DEVE CONDUZIR A INVESTIGAÇÃO.......................................................................... 29
2.7 QUEM DEVE PARTICIPAR DA INVESTIVAÇÃO DE ACIDENTES E INCIDENTES.......... 30
3 ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO............................................ 30
3.1 OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE O ACIDENTE......................................................... 31
3.1.1 Ir ao local do acidente............................................................................................................. 31
3.1.2 Entrevistar os envolvidos e as testemunhas........................................................................ 31
3.1.3 Reconstituir o acidente............................................................................................................ 31
3.2 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES SOBRE O ACIDENTE.......................................................... 31
3.2.1 Identificação das causas do acidente.................................................................................... 32
3.2.2 Proposição de recomendações e medidas de controle....................................................... 32
3.3 FORMULÁRIO DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES............................................................ 33
4 A COMUNICAÇÃO DO ACIDENTE................................................................................................ 33
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 34
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 35

TÓPICO 4 – ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO.............................................................. 37


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 37
2 IMPROPRIEDADE DO TERMO “DESCUIDO”............................................................................. 37
2.1 TEORIA DE HEINRICH.................................................................................................................. 38
3 ELIMINAÇÃO DAS CAUSAS DE ACIDENTES............................................................................ 41
4 ESTATÍSTICA DOS ACIDENTES..................................................................................................... 42
4.1 CÁLCULO DAS HORAS-HOMEM DE EXPOSIÇÃO AOS RISCOS (HHT)........................... 43
4.2 COEFICIENTE DE FREQUÊNCIA (CF)........................................................................................ 43
4.3 COEFICIENTE DE GRAVIDADE (CG)......................................................................................... 44
4.4 TAXA DE FREQUÊNCIA DE ACIDENTES (FA)......................................................................... 44
4.5 TAXA DE FREQUÊNCIA DE ACIDENTADOS COM LESÃO E COM PERDA DE
TEMPO (FL)....................................................................................................................................... 45
4.6 TAXA DE FREQUÊNCIA DE ACIDENTADOS COM LESÃO SEM PERDA DE
TEMPO (FS)....................................................................................................................................... 45
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 46
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 50
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 51

UNIDADE 2 – RISCOS PROFISSIONAIS.......................................................................................... 53

TÓPICO 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS................................................................................... 55


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 55
2 TECNOLOGIA VERSUS RISCO........................................................................................................ 56
2.1 DESENVOLVIMENTO DE ESTUDOS DE ANÁLISE DE RISCO.............................................. 56
2.2 INFLUÊNCIA DO RISCO NAS ATIVIDADES E NEGÓCIOS................................................... 56
2.3 QUESTÕES NORTEADORAS........................................................................................................ 57
3 CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS SEGUNDO SUA NATUREZA............................................... 57
3.1 RISCOS QUÍMICOS......................................................................................................................... 58
3.2 RISCOS FÍSICOS............................................................................................................................... 58
3.3 RISCOS BIOLÓGICOS..................................................................................................................... 58
3.4 CONCEITOS COMPLEMENTARES.............................................................................................. 59
3.4.1 Tempo de exposição................................................................................................................ 59
3.4.2 Concentração ou intensidade................................................................................................. 59

VIII
4 CLASSIFICAÇÃO CONFORME FREQUÊNCIA E INTENSIDADE......................................... 59
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 62
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 63

TÓPICO 2 – SEGURANÇA DE PROCESSOS.................................................................................... 65


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 65
2 OBJETIVOS E METAS.......................................................................................................................... 65
3 ABRANGÊNCIA.................................................................................................................................... 66
4 SUCESSO NA APLICAÇÃO............................................................................................................... 66
5 BASES...................................................................................................................................................... 66
6 DOCUMENTAÇÃO E CONHECIMENTO...................................................................................... 67
7 REVISÕES E AUDITORIAS................................................................................................................ 67
8 ANÁLISE DE RISCOS DE PROCESSO............................................................................................ 68
8.1 OBJETIVOS........................................................................................................................................ 68
8.2 RECURSOS NECESSÁRIOS............................................................................................................ 68
8.3 DEFINIÇÕES BÁSICAS................................................................................................................... 69
8.4 DEFINIÇÕES COMPLEMENTARES............................................................................................. 69
8.4.1 Estudo de análise de risco...................................................................................................... 69
8.4.2 Objetivos da análise de riscos................................................................................................ 69
8.4.3 Etapas da análise de risco....................................................................................................... 70
8.5 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCO............................................................................................ 71
8.6 ESCOLHA DA TÉCNICA............................................................................................................... 71
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 73
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 74

TÓPICO 3 – IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS................................................................................... 75


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 75
2 WHAT IF...? (E SE...?)............................................................................................................................. 76
2.1 O MÉTODO WHAT IF...................................................................................................................... 76
2.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS............................................................................................... 76
2.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES................................................................................................. 76
2.4 FORMULÁRIO.................................................................................................................................. 77
3 TÉCNICA DO INCIDENTE CRÍTICO - TIC................................................................................... 78
3.1 MODO DE APLICAÇÃO................................................................................................................ 78
3.2 TÉCNICAS AUXILIARES................................................................................................................ 78
3.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES................................................................................................. 78
4 LISTA DE VERIFICAÇÃO - CHECKLIST........................................................................................ 79
4.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS............................................................................................... 79
4.2 TÉCNICAS COMPLEMENTARES................................................................................................. 80
4.3 FORMULÁRIO.................................................................................................................................. 80
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 81
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 82

TÓPICO 4 – ANÁLISE DE RISCOS...................................................................................................... 83


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 83
2 ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS – APR.................................................................................. 83
2.1 MÉTODO DA APR........................................................................................................................... 84
2.2 TÉCNICAS AUXILIARES................................................................................................................ 85
2.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES................................................................................................. 85
2.4 FORMULÁRIO.................................................................................................................................. 85
2.5 VANTAGENS E DESVANTAGENS............................................................................................... 87
3 ANÁLISE DE RISCOS E OPERABILIDADE – HAZOP................................................................ 87

IX
3.1 O MÉTODO..................................................................................................................................... 87
3.2 TÉCNICAS COMPLEMENTARES............................................................................................... 91
3.3 FORMULÁRIO................................................................................................................................ 91
3.4 DANDO SEGUIMENTO AO HAZOP......................................................................................... 93
3.5 VANTAGENS E DESVANTAGENS............................................................................................. 93
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 94
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 95

TÓPICO 5 – AVALIAÇÃO DE RISCOS............................................................................................. 97


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 97
2 ANÁLISE POR ÁRVORE DE FALHAS – AAF............................................................................... 97
2.1 MÉTODO ........................................................................................................................................ 97
2.2 TÉCNICAS AUXILIARES.............................................................................................................. 97
2.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES............................................................................................... 98
2.4 SIMBOLOGIA................................................................................................................................. 98
2.4.1 Representação de eventos..................................................................................................... 98
2.4.2 Diagramas Lógicos “E” e “OU”........................................................................................... 99
2.5 ANÁLISE QUANTITATIVA.........................................................................................................100
2.6 SEQUÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO.......................................................101
2.7 VANTAGENS DO MÉTODO.......................................................................................................102
3 ANÁLISE POR ÁRVORE DE EVENTOS (AAE) OU SÉRIE DE RISCOS...............................103
3.1 APLICAÇÃO DA AAE.................................................................................................................103
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................105
RESUMO DO TÓPICO 5.....................................................................................................................107
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................108

UNIDADE 3 – TRATAMENTO DE RISCOS...................................................................................109

TÓPICO 1 – ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS..............................................................................111


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................111
2 CONDIÇÕES DO CENÁRIO...........................................................................................................112
3 ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS PARA VAZAMENTOS DE SUBSTÂNCIAS
PERIGOSAS........................................................................................................................................113
3.1 METODOLOGIA...........................................................................................................................113
3.1.1 Modelos de desprendimento do líquido...........................................................................113
3.1.2 Modelos de dispersão previstos.........................................................................................113
3.1.3 Modelos de inflamabilidade...............................................................................................114
3.1.4 Avaliação de toxidez.............................................................................................................114
3.1.5 Direção do vazamento.........................................................................................................114
3.1.6 Tempo médio de exposição.................................................................................................115
3.1.7 Modelos de inflamabilidade utilizados.............................................................................115
3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS............................................................................116
3.3 ANÁLISE DE VULNERABILIDADE..........................................................................................117
3.3.1 Exposição ao IDLH...............................................................................................................117
3.3.2 Nível de letalidade de 1% e de 50%...................................................................................118
3.3.3 Radiação térmica...................................................................................................................118
3.3.4 Sobrepressão..........................................................................................................................119
4 BENEFÍCIO DA ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS................................................................ 121
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 122
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 123

X
TÓPICO 2 – ESTUDO DE FREQUÊNCIAS...................................................................................... 125
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 125
2 OBJETIVO............................................................................................................................................ 126
3 ESTUDO DE FREQUÊNCIA............................................................................................................ 126
3.1 SELEÇÃO DE EVENTOS INICIADORES.................................................................................. 126
3.2 EVENTO INICIADOR.................................................................................................................. 126
3.2.1 Simples................................................................................................................................... 126
3.2.2 Complexo............................................................................................................................... 127
3.3 AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA PARA EVENTOS INICIADORES SIMPLES.................. 127
3.4 AVALIAÇÃO DE FREQUÊNCIA PARA EVENTOS INICIADORES COMPLEXOS.......... 127
4 CÁLCULOS DIVERSOS................................................................................................................... 128
4.1 CÁLCULO DA CONFIABILIDADE........................................................................................... 128
4.2 PROBABILIDADE DE FALHA DE UM COMPONENTE TESTADO PERIODICAMENTE... 129
4.3 TAXA DE FALHAS DE UM COMPONENTE MONITORADO . .......................................... 130
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 132

TÓPICO 3 – CÁLCULO DO RISCO.................................................................................................. 133


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 133
2 TOLERABILIDADE OU ACEITABILIDADE DO RISCO......................................................... 134
2.1 RISCO INDIVIDUAL.................................................................................................................... 134
2.2 RISCO SOCIAL.............................................................................................................................. 136
2.2.1 Dados necessários................................................................................................................. 137
2.2.2 Frequência do evento........................................................................................................... 137
2.2.3 Frequência das condições climáticas................................................................................. 137
2.2.4 Fontes de ignição.................................................................................................................. 137
2.2.5 Densidade demográfica....................................................................................................... 138
2.2.6 Etapas finais........................................................................................................................... 139
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................140
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................141

TÓPICO 4 – INSPEÇÃO DE SEGURANÇA.....................................................................................143


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................143
2 OBJETIVOS..........................................................................................................................................144
3 CONCEITOS E PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA.............................................................144
4 TIPOS DE INSPEÇÃO DE SEGURANÇA.....................................................................................145
4.1 INSPEÇÃO INFORMAL................................................................................................................145
4.2 INSPEÇÃO FORMAL OU PLANEJADA....................................................................................147
4.2.1 Inspeção de partes críticas....................................................................................................147
4.2.2 Inspeção Geral........................................................................................................................148
5 ETAPAS DA INSPEÇÃO....................................................................................................................149
5.1 PREPARAÇÃO................................................................................................................................150
5.2 REALIZAÇÃO DA INSPEÇÃO....................................................................................................150
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................151
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................152

TÓPICO 5 – PLANOS DE AÇÃO DE TRATAMENTO DE RISCOS............................................153


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................153
2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RISCOS........................................................................153
3 DEFINIÇÃO DE RESPONSABILIDADES.....................................................................................153

XI
3.1 RESPONSABILIDADE DA GERÊNCIA.....................................................................................153
3.2 RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS.........................................................................153
4 DISPONIBILIDADE DE RECURSOS.............................................................................................154
4.1 RECURSOS INTERNOS.................................................................................................................154
4.2 RECURSOS EXTERNOS................................................................................................................154
5 DEFINIÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA (PLANOS DE AÇÃO)......................................154
6 EQUIPE DE CONTROLE DA EMERGÊNCIA..............................................................................155
7 ELABORAÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA.........................................................................155
8 ATIVAÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA................................................................................155
8.1 IDENTIFICAÇÃO DA EMERGÊNCIA.......................................................................................156
8.2 COMUNICAÇÃO DA EMERGÊNCIA.......................................................................................156
8.3 REUNIÃO DA EQUIPE DE CONTROLE DA EMERGÊNCIA E DAS BRIGADAS
DE APOIO........................................................................................................................................156
9 TREINAMENTO DO PESSOAL.......................................................................................................156
10 TESTES PERIÓDICOS DO PLANO (SIMULADOS).................................................................157
11 MANUTENÇÃO DO PLANO.........................................................................................................157
12 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES............................................................................................157
12.1 DESORDEM CIVIL.......................................................................................................................157
12.2 POLUIÇÃO DAS ÁGUAS E DO AR..........................................................................................157
13 TOMADAS DE DECISÕES E AVALIAÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA....................158
13.1 DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES PREVENTIVAS E CORRETIVAS.................................158
13.2 ACOMPANHAMENTO DAS AÇÕES PREVENTIVAS E CORRETIVAS............................159
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................160
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................163
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................164
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................165

XII
UNIDADE 1

ACIDENTES DE TRABALHO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender tecnicamente o conceito prevencionista de acidente;

• identificar as causas dos acidentes;

• investigar acidentes;

• identificar as causas de acidentes a serem eliminadas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos, sendo que no final de cada
um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos
estudados.

TÓPICO 1 – CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO

TÓPICO 2 – LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE ACIDENTES

TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES

TÓPICO 4 – ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Desde os tempos antigos, o homem tem desenvolvido atividades e
ferramentas (faca, fogo etc.) que apresentam riscos potenciais e que podem
se materializar causando acidentes com lesões pessoais ou perdas materiais.
Registros esparsos relatam que já na Antiguidade havia o conhecimento de
que algumas profissões poderiam prejudicar a saúde do trabalhador, a saber,
dificuldades respiratórias nos mineradores do Egito, ou ainda, alguns distúrbios
característicos a muitos atletas, descrito por Aristóteles na Grécia Antiga. Em
1556, Georgius Agricola, publicou um interessante livro, Dere Metallica, que
descrevia com detalhes as más condições de trabalho dos mineradores e possíveis
medidas para melhorar aqueles ambientes. No entanto, foi no ano de 1700 que
o médico italiano Bernardino Ramazzini, publicou sua obra-prima intitulada De
morbis artificum diatriba (As doenças dos trabalhadores), em que relatava diversos
males e sua relação com as profissões da época. Considera-se que esta publicação
foi o marco inicial para a sociedade encarar o trabalho como possível causa de
doenças e acidentes em escala preocupante.

Posteriormente, com a Revolução Industrial, o crescente número de


acidentes de trabalho começou a captar a atenção de governos e sociedade
quando, em virtude do seu elevado número, adquiriram as dimensões de um
problema social. Naquela época, iniciou-se a concentração de grandes massas de
trabalhadores em torno das fábricas que possuíam novas fontes de energia como
o vapor e a eletricidade. Este novo ambiente de trabalho era muito diferente
daquele caracterizado pela Idade Média, onde artesãos realizavam trabalhos
quase que exclusivamente manuais em suas pequenas oficinas.

No início do século XX, devido ao crescente número de acidentes e doenças


de trabalho, surgiu um movimento social que levou a mudanças na legislação
trabalhista. Inicia-se, desta maneira, a intervenção do Estado nas relações de
trabalho a favor do trabalhador.

3
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

Até aquele momento, os princípios do direito comum exigiam do


empregado a prova de que ele não era culpado pelo acidente sofrido, condição
muitas vezes impossível de ser atendida. Então, em 1883 na França, foi
apresentada a Teoria do Risco Profissional cujo entendimento era que, uma vez
que o empregador arcava com os custos diversos de sua empresa (manutenção,
riscos de incêndio, responsabilidade civil e outros), este também deveria ser
responsável pelos custos decorrentes dos acidentes com seus empregados, cujo
trabalho era feito em seu proveito.

No Brasil, os acontecimentos caminharam de maneira semelhante aos


fatos ocorridos na Europa e também nos Estados Unidos, sendo que no ano de
1919 foi promulgado o Decreto nº 3.724, que constituiu a primeira lei brasileira
em favor do trabalhador acidentado. A partir daquele momento, o trabalhador
estava amparado legalmente quando na ocorrência de acidentes e doenças de
trabalho. (CAIRO JUNIOR, 2009)

2 O ACIDENTE DO TRABALHO
Para nosso estudo é fundamental que se compreenda bem o conceito
de acidente de trabalho, que se constitui o elemento gerador de toda ciência
envolvida na questão da Segurança do Trabalho.

Leia com atenção as três situações descritas a seguir:

1 Um trabalhador está carregando duas caixas quando, repentinamente, uma


delas cai sem lesioná-lo ou danificar seu conteúdo;
2 Semelhantemente, um trabalhador carrega duas caixas, quando uma cai e se
quebra;
3 O trabalhador está carregando duas caixas, uma delas cai sobre seu pé,
causando lesão e se quebra.

Quais situações descritas acima representam acidente de trabalho? Reflita


um pouco e depois continue a leitura.

A legislação brasileira define o acidente de trabalho como aquele ocorrido


no exercício do trabalho ou serviço da empresa e que pode provocar, de forma
direta ou indireta, permanente ou temporária, lesão corporal, perturbação
funcional, redução da capacidade de trabalho ou ainda doença. Mais estritamente
o acidente do trabalho é tratado como um acontecimento imprevisível, cujos
danos são inevitáveis. Resumidamente, o acidente de trabalho fica restrito ao
conceito de prejuízo físico sofrido pelo trabalhador (lesão, redução da capacidade
de trabalho, doença ou perturbação funcional). (MICHEL, 2008)

Na realidade, o acidente laboral não passa de um acontecimento


determinado, previsível e que, na maioria das vezes, é passível de prevenção, pois
suas causas são perfeitamente identificáveis dentro do meio ambiente de trabalho,

4
TÓPICO 1 | CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO

podendo ser neutralizadas ou eliminadas. Pode-se ampliar ainda o conceito


de acidente de trabalho considerando-se qualquer ocorrência que interfira no
andamento normal da produção, seja relativo a máquinas, ferramentas ou perda
de tempo.

Voltando às três situações do trabalhador levando caixas, expostas


anteriormente, o que pode ser concluído?

Na primeira situação, há acidente de trabalho, pois a queda da caixa leva à


perda de tempo (interrupção do fluxo de produção normal). Na segunda ocorrência,
também há acidente de trabalho, pois houve perda de material (prejuízo). Na
última situação fica mais evidente a constatação do acidente de trabalho devido
à lesão sofrida pelo trabalhador, no entanto os fatores “interrupção do processo
produtivo” e “perda de material” também devem ser considerados!

NOTA

Doenças profissionais também são consideradas acidentes de trabalho!

Segundo Michel (2008), as doenças do trabalho (ou doenças profissionais)


se classificam em:

• Doença ocupacional: é aquela que se origina pelo exercício do trabalho peculiar


à determinada tarefa. Exemplo: os mineiros tendem a desenvolver a silicose
(doença respiratória), caso não estejam devidamente protegidos.
• Doença do trabalho: é uma doença ocupacional que se origina (ou é adquirida)
em função de certas condições especiais em que o trabalho é realizado.
Exemplo: um operário que trabalha num ambiente muito ruidoso sem a proteção
recomendada está sujeito à perda auditiva. Esta doença, no entanto, não está
relacionada necessariamente à função desempenhada pelo trabalhador, mas
sim, às condições do meio em que este se encontra.

São consideradas, também, doenças do trabalho:

• Acidente sofrido pelo trabalhador no local e horário de trabalho em decorrência


de ato de agressão ou sabotagem praticado por companheiro de trabalho ou
terceiros; inundação, desabamentos.
• Doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de
sua atividade.

5
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

FIGURA 1 – EXEMPLO: A AIDS ADQUIRIDA POR PROFISSIONAL DA SAÚDE AO MANIPULAR


INSTRUMENTO CONTAMINADO

FONTE: Cartilha SESI (2005)

• Acidente sofrido no percurso entre a residência e o local de trabalho.


• Acidentes sofridos no período de repouso ou alimentação, pois o empregado é
considerado no exercício de seu trabalho.

2.1 DIFERENÇA FUNDAMENTAL ENTRE AS DEFINIÇÕES


TÉCNICA E LEGAL
No século XIX, o acidente do trabalho era considerado um acontecimento
súbito, traumático, decorrente de obra do acaso e dentro do ambiente do trabalho.
Sob este entendimento, o acidente de trabalho era relacionado com força maior
ou caso fortuito, pois era considerado um evento imprevisível e/ou inevitável.
Havia, ainda, um conceito de infortúnio, que considerava o acidente do trabalho
como decorrente da ausência de sorte acompanhado de infelicidade e desgraça.

Com o passar do tempo, o conceito de acidente do trabalho foi evoluindo


sob a ótica de diversos legisladores e correntes de pensamento que levavam em
conta as mudanças sociais e as condições do trabalhador e de seu ambiente de
trabalho. Mais recentemente, a Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976, parágrafo 2º,
estabelece que acidente de trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho
a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que
cause morte, perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, artigo 19, também dispõe sobre o
acidente de trabalho de forma muito semelhante àquela já citada anteriormente.

6
TÓPICO 1 | CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO

Logo, percebe-se que o conceito legal de trabalho, segundo sua concepção


clássica, é tido como caso fortuito ou de força maior, cujo acontecimento é
imprevisível e de consequências inevitáveis. Nota-se, ainda, que o acidente é
entendido como causa de ferimento ao trabalhador. Nessa situação, a proteção ao
trabalhador se dá através de uma compensação financeira, seja por determinada
renda mensal, no caso de lesão temporária, ou, adicionalmente, por indenização
no caso de dano incapacitante permanente.

No entanto, o conceito de acidente de trabalho deve ser ampliado e ir além
da proposta de reparação de danos. Nesse contexto, segundo Almeida e Binder,
os acidentes do trabalho são fenômenos socialmente determinados, previsíveis e
passíveis de prevenção. Ao contrário de constituir obra do acaso como sugere a
citada palavra, os acidentes do trabalho são fenômenos previsíveis, dado que os
fatores capazes de provocá-los se encontram presentes na situação de trabalho
(passíveis de identificação) muito tempo antes de serem desencadeados. A
eliminação e/ou neutralização de tais fatores são capazes de evitar ou limitar
a ocorrência de novos episódios semelhantes, ou seja, além de previsíveis, os
acidentes do trabalho são preveníveis. Além disso, deve-se entender que a lesão
sofrida pelo trabalhador é apenas uma das consequências possíveis decorrentes
de um acidente de trabalho. Logo, do ponto de vista prevencionista, qualquer
ocorrência não programada que prejudique a produtividade, por perda de tempo
ou de material, já pode ser considerada um acidente de trabalho.

NOTA

Acidentes de trabalho sem lesão são denominados INCIDENTES.

Estatisticamente, foi demonstrado, em 1931, por H. W. Heinrich que, para


cada grupo de 330 acidentes de um mesmo tipo, 300 vezes não ocorre lesão nos
trabalhadores, enquanto que em apenas 30 casos há danos à integridade física
dos envolvidos.

DICAS

Veremos uma variação desta proporção no Tópico 3 demonstrada por um


estudo realizado por Frank E. Bird entre 1966 e 1969.

7
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

Do exposto, se conclui que se deve procurar evitar todo e qualquer tipo de


acidente, havendo lesão ou não. Na situação hipotética anterior, se o trabalhador
tivesse evitado a queda da caixa no chão, esta não o teria lesionado. É mais seguro
(e simples) evitar a queda da caixa, do que desviar o pé da mesma!

2.2 BENEFÍCIOS INDIRETOS RESULTANTES DA PREVENÇÃO


DE ACIDENTES DE TRABALHO
A política governamental brasileira tem, nos últimos anos, colaborado
para a atualização da legislação trabalhista com vistas a aumentar os esforços de
empregadores e empregados na diminuição do número de acidentes de trabalho.

Embora o objetivo primeiro da prevenção de acidentes seja a manutenção


da integridade física do trabalhador, não se pode desconsiderar a influência
dos custos relativos à implantação e manutenção de programas preventivos.
É importante salientar que um programa de prevenção de acidentes, embora
oneroso, pode-se tornar economicamente viável se avaliadas também as
consequências indiretas das perdas e danos sofridos pelo trabalhador. Um
trabalhador acidentado, aposentado precocemente por incapacidade permanente,
pesa nos custos de toda a população por deixar de ser um membro produtivo
da sociedade para se tornar um membro passivo, que necessitará de sustento
permanente do restante da população.

Fazendo uma análise restrita ao campo de abrangência de uma empresa,


a diminuição do número de acidentes pode e deve levar a um aumento na
produção, bem como a um custo final menor do produto (ou serviço) oferecido.
Se nos remetermos novamente ao exemplo anterior das caixas, a lesão sofrida
pelo trabalhador certamente acarretará em custos à empresa, mas mesmo se
evitando a ocorrência da queda da caixa (evento sem lesão muito mais frequente)
certamente haverá mais agilidade no processo produtivo. Ainda, do ponto de
vista social, uma empresa que sabidamente possui um baixo índice de acidentes
e, por consequência, preza pela saúde de seus trabalhadores, gozará de simpatia
e boa imagem frente à população. (MICHEL, 2008)

3 A COMUNICAÇÃO DE UM ACIDENTE DE TRABALHO – CAT


A esquematização do sistema de comunicação de acidentes será elaborada
a partir das consequências do acidente, que podem ser classificadas em:

• sem lesão;
• lesão leve (acidente sem afastamento);
• lesão incapacitante (acidente com afastamento).

8
TÓPICO 1 | CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO

A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT publica a NBR-14280


“Cadastro de Acidentes de Trabalho” que regulamenta a maneira e procedimentos
necessários ao cadastro dos acidentes, bem como indica cálculos de coeficientes
estatísticos relativos a acidentes de trabalho e define uma série de termos técnicos
pertinentes.

Qualquer acidente, mesmo aquele sem lesão, já, ocasiona perda de tempo
para normalização das atividades, podendo ocasionar ainda, danos materiais.
Não existe a necessidade legal de comunicação aos órgãos da Previdência Social
quando não há lesão que ocasione o afastamento do trabalhador, se este retornar
ao trabalho no mesmo dia ou no dia seguinte, no horário normal. O acidente
sem afastamento seria aquele que o acidentado, embora tenha sofrido uma lesão,
pode retornar ao trabalho no mesmo dia ou no dia seguinte, em seu horário
regulamentar de entrada.

Ocorrido o acidente e não acontecendo o retorno do acidentado ao


trabalho no mesmo dia ou dia seguinte de trabalho, no horário normal, passamos
a considerar esse acidente como acidente com afastamento, cuja consequência é
uma incapacidade temporária total, ou uma incapacidade permanente parcial ou
total, ou mesmo a morte do acidentado.

Esquematizando, os acidentes com lesão ou perturbação funcional


compreendem os seguintes casos, de acordo com a NBR14280.

3.1 ACIDENTE SEM AFASTAMENTO


É aquele em que o acidentado pode exercer sua função normal, no mesmo
dia do acidente, ou no próximo, no horário regulamentar. 

O acidente sem afastamento deve ser investigado, mas, por convenção,


não entra nos cálculos dos coeficientes de frequência e gravidade.

3.2 ACIDENTE COM AFASTAMENTO


É o acidente que provoca a:

• incapacidade temporária;
• incapacidade parcial;
• incapacidade total.

9
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

3.2.1 Incapacidade temporária


É a perda total da capacidade de trabalho por um período limitado
de tempo, nunca superior a um ano. É aquela em que o acidentado, depois
de algum tempo afastado do serviço, devido ao acidente, volta ao mesmo
serviço executando suas funções normalmente, como fazia antes do acidente.
(MICHEL, 2008)

3.2.2 Incapacidade parcial


É a redução parcial da capacidade de trabalho do acidentado, em caráter
permanente:

Exemplos: Perda de um dos olhos. Perda de um dedo.

3.2.3 Incapacidade total


É a perda da capacidade total para o trabalho em caráter permanente.

Exemplo: Perda de uma das mãos e dos dois pés, mesmo que a prótese
seja possível.

A comunicação de acidentes será tanto mais complexa quanto mais grave


for a sua consequência. Os acidentes que não ocasionam lesão (como a simples
queda de um fardo de algodão da respectiva pilha) tornam-se importantes pela
possibilidade de que, no caso do exemplo citado, havendo repetição do fato, o
fardo pode atingir algum operário. Deverão, portanto, serem estudadas as causas
dessa queda para evitar fatos semelhantes, acionando-se o encarregado do setor,
o chefe do departamento e o Serviço Especializado de Segurança do Trabalho,
quando houver, ou então a CIPA. No caso de um acidente sem afastamento, com
uma lesão leve, portanto, além dos elementos citados anteriormente, também o
enfermeiro ou o médico será envolvido.

De acordo com Cairo Júnior (2009), quando em virtude do acidente


ocorre lesão ou perturbação funcional que cause incapacidade temporária
total, incapacidade permanente parcial ou total, ou a morte do acidentado,
as providências a serem tomadas quanto à sua comunicação no âmbito da
empresa são:

a) da própria vítima ou de colegas ao encarregado do setor (normalmente oral);


b) do encarregado do setor ao chefe do departamento (normalmente oral);
c) do chefe de departamento à direção da empresa e ao departamento de
segurança (por escrito).

10
TÓPICO 1 | CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO

3.3 FORMULÁRIO CAT


A empresa deverá comunicar ao INSS, em, no máximo, vinte e quatro horas,
da ocorrência do acidente, através do preenchimento da ficha de Comunicação de
Acidente do Trabalho.

Essa ficha (conhecida como CAT) solicita uma série de informações, tais
como Cardoso, (2005):

• Nome, profissão, sexo, idade, residência, salário de contribuição.


• Natureza do acidente sofrido.
• Condições.
• Local, dia e hora do evento, nome e endereço de testemunhas.
• Tempo decorrido entre o início do trabalho e a hora do acidente.
• Indicação do hospital a que eventualmente foi recolhido o acidentado.
• Se doença profissional, quais os empregadores acometidos anteriormente nos
últimos dois anos.

NOTA

O INSS exige duas testemunhas (CAT) oculares ou circunstanciais, e quando


ocorrer a morte do acidentado, deverá ser informada a autoridade policial. O sistema de
comunicação de acidentes, portanto, difere de acordo com as consequências.

TUROS
ESTUDOS FU

Caro acadêmico! Para aprofundar seus conhecimentos sobre este assunto


recém abordado, sugerimos a leitura do texto “Legislação Comentada: NR4” disponível
em: <http://pro-sst1.sesi.org.br/portal/data/files/FF8080812733A91B01279688802E44D6/
NR%204.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2010.

11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, foram apresentados os seguintes assuntos:

• Os acidentes e também as doenças do trabalho são relatados desde a


antiguidade, fato que torna indissociável sua ocorrência com qualquer que seja
o tipo de trabalho realizado pelo homem. No entanto, os acidentes não devem
ser entendidos como acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, mas sim como
ocorrências cujas consequências podem ser neutralizadas ou limitadas.

• No início do século XX, na ocorrência de um acidente de trabalho, cabia


ao empregado acidentado provar sua inocência frente ao fato acontecido.
Atualmente, o entendimento legal é justamente o contrário: cabe ao empregador
a prova da culpabilidade do funcionário.

• Nem todo acidente do trabalho resulta em lesão ao trabalhador.

• O acidente do trabalho, mais do que uma situação de dano para o acidentado,


acarreta em perdas para toda a sociedade.

• A implantação de medidas para a diminuição de acidentes e doenças do


trabalho contribui para o aumento da lucratividade da empresa, dentre outros
fatores benéficos.

12
AUTOATIVIDADE

Baseado no que você estudou até agora, responda as questões a seguir:

1 A partir de que momento histórico os acidentes de trabalho começaram a ser


analisados com mais seriedade pelo Estado? Por quê?

2 Qual a relação existente entre o acidente do trabalho e a lesão corporal


sofrida pelo trabalhador?

3 Qual a principal diferença entre o conceito legal e o prevencionista


concernente ao acidente de trabalho?

4 Cite alguns benefícios que uma empresa pode receber quando implementa
medidas para redução dos acidentes do trabalho.

13
14
UNIDADE 1
TÓPICO 2

LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE ACIDENTES

1 INTRODUÇÃO
Uma questão fundamental no estudo da prevenção e minimização dos
acidentes de trabalho é a correta identificação das causas. De um ponto de vista
mais amplo, podemos considerar três fatores causadores:

• condições inseguras do ambiente;


• atos inseguros do trabalhador;
• eventos catastróficos climáticos.

As condições inseguras podem ser eliminadas a partir de estudos técnicos


com base em metodologias apropriadas e conhecimento prévio adquirido. Os atos
inseguros, por envolverem o elemento humano, são de solução mais complexa,
requerendo, muitas vezes, o auxílio de diversas ciências como a Psicologia e
Sociologia, além das habituais técnicas das áreas administrativa e prevencionista.

Analisando-se a questão do ponto de vista da prevenção, a causa é


qualquer fator que, se eliminado em tempo hábil, impede a ocorrência do acidente.
Como já citado anteriormente, os acidentes de trabalho não são acontecimentos
inevitáveis. Na verdade há, em geral, uma série de acontecimentos que os
precedem e, portanto, dão indícios de que alguma medida preventiva precisa ser
tomada, no caso, a eliminação a tempo do fator de causa. Estes fatores podem ser
de natureza pessoal (dependentes do homem) ou material (inerentes ao ambiente
do local de trabalho), segundo Cardoso (2005).

Conforme Michel (2008) é comum, na análise de um acidente de trabalho,


considerar como causa do acidente a ação ou condição que originou a lesão ou
o prejuízo. No entanto, há causas que precedem a ação ou condição que gera
o acidente, sendo estas também carentes de estudos, pois consistem em fato
importante na neutralização dos riscos. Com base nesta consideração, é de se
prever a grande abrangência de fatores que devem ser considerados nesta
situação, o que solicita o conhecimento de profissionais das áreas das ciências
humanas.

15
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

Segundo Michel (2008, p. 52), “Até o presente momento, nenhuma das


máquinas construídas, nenhum dos produtos químicos obtidos por síntese e
nenhuma das teorias sociais formuladas alterou fundamentalmente a natureza
humana. As formas de comportamento, que devem ser levadas em consideração
no esforço de prevenir atos inseguros, deverão ser analisadas de modo bastante
abrangente”.

Ainda, segundo o mesmo autor, no treinamento de integração baseado


na função a ser desenvolvida pelo novo empregado ou na reciclagem dos
funcionários mais antigos, deverá ser reforçado o conhecimento das regras
de segurança, instruções básicas sobre prevenção de incêndio e treinamento
periódico de combate ao fogo, informações sobre ordem e limpeza, cor na
segurança do trabalho, sinalização, cursos de primeiros socorros, levantamento,
transporte e manuseio de materiais, integram uma política de segurança, visando
à diminuição dos acidentes causados por atos inseguros. Sendo a segurança
do trabalho basicamente de caráter prevencionista, recomenda-se, ainda, uma
pesquisa bibliográfica, no sentido de identificar possíveis riscos no processo de
produção, antes mesmo que ocorram acidentes, isto é, a simples análise de risco
ou estatística, mesmo que não acuse nenhum acidente, deve ser encarada como
mais um subsídio para a prevenção de acidentes e eliminação de causas.

A ocorrência de uma única morte, além da perda para a família do


trabalhador, representa um prejuízo para a nação de 20 anos ou 6.000 dias, em
média, de trabalho produtivo.

2 ACIDENTE, LESÃO E RISCO


Pode-se considerar que todo ser humano está sujeito a três tipos de risco
Cardoso, (2005):

• Risco genérico – aquele a que todas as pessoas estão expostas como, por
exemplo, um acidente de trânsito.
• Risco específico – se refere ao risco inerente de um determinado trabalho.
Pode-se citar a condição de um pintor de paredes que trabalha em altura.
• Risco agravado – se trata de um risco genérico agravado pelas condições do
trabalho. O pintor, do exemplo anterior, está sujeito ao risco genérico do sol,
no entanto as condições em que está exposto (longos períodos), agrava esta
situação.

Para a determinação dos riscos específicos de uma indústria, é necessária


a verificação das condições e os métodos de trabalho existentes, pois o produto
produzido não determina, necessariamente, os processos, maquinários e
procedimentos empregados.

16
TÓPICO 2 | LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE ACIDENTES

É comum haver uma compreensão errônea do que seja um acidente.


Frequentemente nos deparamos com a classificação de um acidente “grande”
ou “pequeno” tendo como base a lesão sofrida pelo trabalhador. Nesta situação,
além de se classificar erroneamente um acidente como “pequeno”, apenas porque
a lesão sofrida não foi grave, há também prejuízo no reconhecimento das causas
do acidente. (CARDOSO, 2005)

De acordo com Michel (2008, p. 53) “O reconhecimento e a caracterização


das causas podem ser simples, como no caso de um degrau quebrado de uma
escada ou complexo quando se trata de determinar a causa ou as causas de uma
sequência, em cadeia, que originaram o acidente, cada uma delas relacionada
à outra. De uma maneira geral, pode-se dizer que na maior parte dos casos, os
acidentes são ocasionados por mais de uma causa“.

3 FATORES DE ACIDENTES
Havendo lesão na ocorrência de um acidente, este é o ponto de partida
na análise dos fatos ocorridos e para a determinação das medidas preventivas a
serem estabelecidas. No estudo das causas de acidentes, existem cinco fatores a
serem investigados que, de alguma maneira, estão relacionados com a ocorrência
do acidente. Estes são denominados Fatores de Acidentes e se encontram listados
a seguir, conforme indicado por Michel (2008):

• agende da lesão;
• condição insegura;
• acidente tipo;
• ato inseguro;
• fator pessoal inseguro.

3.1 AGENTE DA LESÃO


De acordo com Michel (2008), agente da lesão é aquilo que, em contato
com a pessoa determina a lesão. Pode ser, por exemplo, um dos muitos materiais
com características agressivas, uma ferramenta ou a ponta de uma máquina. A
lesão e o local da lesão no corpo são o ponto inicial para identificarmos o agente
da lesão. Convém observar qual a característica do agente que causou a lesão.
Alguns agentes são essencialmente agressivos, como os ácidos e outros produtos
químicos, a corrente elétrica etc., basta um leve contato para ocorrer a lesão. Outros
determinam ferimentos por atritos mais acentuados, por batidas contra a pessoa
ou da pessoa contra eles, por prensamento, queda etc. Por exemplo: a dureza de
um material não é essencialmente agressiva, mas determina sempre alguma lesão
quando entra em contato mais ou menos violento com a pessoa. O mesmo se pode
dizer do peso de objetos; o peso, em si, não constitui agressividade, mas é um fator
que aliado à dureza do objeto, determina ferimentos ao cair sobre as pessoas.

17
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

3.2 CONDIÇÃO INSEGURA


Michel (2008) afirma que condição insegura em um local de trabalho são as
falhas físicas que comprometem a segurança do trabalhador; em outras palavras,
as falhas, defeitos, irregularidades técnicas, carência de dispositivos de segurança
e outros, que põem em risco a integridade física e/ou a saúde das pessoas, e a
própria segurança das instalações e dos equipamentos.

Nós não devemos confundir a condição insegura com os riscos inerentes


a certas operações industriais. Por exemplo: a corrente elétrica é um risco
inerente aos trabalhos que envolvem eletricidade, ou instalações elétricas. A
eletricidade, no entanto, não pode ser considerada uma condição insegura, pois,
se acondicionada convenientemente, não oferecerá riscos aos trabalhadores. No
entanto uma instalação elétrica precária com falhas nos isolamentos, proteção
deficiente, improvisos oferece grandes riscos de lesão.

Conclui-se, portanto, que a condição insegura pode ser neutralizada ou


corrigida, no entanto, ela é responsável por 16% dos acidentes, segundo Michel.

Conforme Michel (2008), eis alguns exemplos comuns de condição


insegura:

• ausência de proteção mecânica;


• defeito do equipamento (partes perfuro cortantes, escorregadio);
• escadas sem parapeito ou corrimão muito inclinadas, escorregadias;
• tubulações com vazamento de líquidos tóxicos;
• iluminação deficiente;
• ventilação inadequada;
• processos, operações ou arranjos perigosos;
• obstrução de passagens;
• sobrecarga do piso e/ou estruturas de sustentação.

de
autoativida

Caro acadêmico! Observe as figuras a seguir e procure identificar as condições


inseguras existentes.

18
TÓPICO 2 | LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE ACIDENTES

FONTE: Getty Images (2010)

3.3 ATO INSEGURO


É um comportamento que, contrariando os preceitos da segurança, pode
causar ou favorecer a ocorrência de um acidente. De modo geral, ocorre quando
o trabalhador se expõe, de maneira consciente ou não, a fatores de risco.

Segundo Michel (2008), 84% do total dos acidentes de trabalho são oriundos
do próprio trabalhador. Portanto, os atos inseguros no trabalho provocam a
maioria dos acidentes; não raro o trabalhador se serve de ferramentas inadequadas
por estarem mais próximas ou procura limpar máquinas em movimento por ter
preguiça de desligá-las, ou se distrai e desvia sua atenção do local de trabalho,
ou opera sem os óculos e aparelhos adequados. Ao se estudar os atos inseguros
praticados, não devem ser consideradas as razões para o comportamento da
pessoa que os cometeu, o que se deve fazer tão somente é relacionar tais atos
inseguros.

Para Michel (2008), dentre os atos inseguros mais comuns, podemos


destacar:

19
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

• levantamento impróprio de cargas (com sobrecarga na coluna);


• permanência do trabalhador sob cargas suspensas ou não;
• manutenção, lubrificação ou limpeza de máquinas em movimento;
• abusos, brincadeiras grosseiras, ou outros atos inadequados ao ambiente de
trabalho;
• realização de operações sem a devida qualificação;
• remoção de dispositivos de proteção ou alteração de seu funcionamento;
• operação de máquinas fora dos seus limites de trabalho nominais (sobrecarga
mecânica, velocidade excessiva, ambiente muito úmido);
• uso incorreto do equipamento de proteção individual necessário para a
execução de sua tarefa.

3.4 ACIDENTE-TIPO
O termo “acidente-tipo” é utilizado para classificar a maneira como os
trabalhadores sofrem a lesão, ou como acontece o contato entre a pessoa e o
agente da lesão.

Uma boa compreensão do conceito de “acidente-tipo” é muito útil para


a identificação correta dos atos e condições inseguras existentes. Os principais
“acidentes tipo” são apresentados a seguir.

3.4.1 Batida contra


De acordo com Cardoso (2005), este tipo de acidente é aquele em que
o trabalhador colide (bate) com o corpo, ou parte dele, contra obstáculos. Sua
ocorrência é mais frequente quando há movimentos bruscos, descoordenados
ou imprevistos, características de atos inseguros, mas também ocorre em
movimentos normais quando na presença de condições inseguras, como, por
exemplo, no caso de uma ferramenta perigosa deixada fora do lugar sem
nenhuma proteção ou aviso.

3.4.2 Batida por


Nesta situação o que ocorre é o oposto do descrito anteriormente: o objeto
é que colide com o trabalhador. Segundo Michel (2008), muitas vezes acontece
tal evento pelo fato de a pessoa estar num lugar perigoso, por não utilizar
equipamentos de proteção adequadamente ou ainda por não haver barreiras que
isolem os elementos agressivos como, por exemplo, estilhaços.

20
TÓPICO 2 | LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE ACIDENTES

3.4.3 Queda de objeto


É o acidente que ocorre quando algum objeto cai sobre o trabalhador. Esta
queda pode ser do braço da pessoa, das suas mãos ou mesmo de algum local em
que o objeto está (mal) acondicionado.

É importante ressaltar que nesses casos, embora a pessoa também seja


batida por, considera-se esta classificação à parte, pois a ação do agente da lesão é
diferente: houve queda devido à gravidade e não por arremesso, de modo que as
medidas de prevenção também são específicas.

3.4.4 Queda da pessoa


Nesta ocorrência, a pessoa sofre lesão ao bater também contra algum
obstáculo, conforme descrito no item 3.4.1, porém o que a leva a bater contra
alguma coisa é algo bem específico que demanda medidas preventivas também
específicas. A queda da pessoa acontece por fator bem evidente como um tropeço
ou desequilíbrio ou ainda por condições do meio como a quebra de um andaime
ou o rompimento de um cabo de sustentação.

3.4.5 Prensagem entre


Ocorre quando a pessoa tem o corpo, ou parte dele, prensado entre dois
objetos. É uma ocorrência de relativa frequência por estar diretamente ligada ao
ato inseguro no manuseio de peças, ou ainda na manutenção de equipamentos
ligados. Pode ocorrer também no momento em que o trabalhador se apoia
em algum lugar perigoso do equipamento. Este tipo de acidente, bem como
o anterior, requer, além de dispositivos de segurança nos equipamentos,
treinamento, conscientização e responsabilidade do trabalhador concernentes
às regras de segurança.

3.4.6 Esforço excessivo


Também denominado de “mau jeito”. Este tipo de lesão não advém
de algum agente lesivo externo, mas de distensão muscular decorrente da má
postura do corpo na realização de algum movimento brusco em más condições ou
simplesmente pelo excesso de força empregado. Estes casos ocorrem, geralmente,
na região lombar (CARDOSO, 2005). É uma questão de Ergonomia e existe vasto
material explicativo a respeito, no entanto a prevenção deste tipo de ocorrência
envolve reciclagem contínua dos trabalhadores.

21
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

3.4.7 Exposição a temperaturas extremas


São casos em que a pessoa se expõe a temperaturas muito altas ou baixas
sem a devida proteção requerida, cujo resultado pode ser alguma lesão ou mesmo
doença ocupacional. É importante ressaltar que nessas situações a pessoa não
entra em contato direto com a fonte de temperatura extrema. Pode-se exemplificar
este tipo de ocorrência citando as queimaduras ocasionadas pelos raios de solda,
choque térmico pela exposição prolongada ao sol.

3.4.8 Contato com produtos químicos agressivos


Nestes casos, a lesão pode acontecer pela aspiração, ingestão ou contato com
a pele. São considerados também produtos que causam efeitos alérgicos. Ocorre
muitas vezes pela má condição dos equipamentos destinados à manipulação
segura dos produtos agressivos, ou também pela falta de conhecimento adequado.

3.4.9 Contato com eletricidade


Este tipo de acidente ocorre quando há contato direto do trabalhador com
partes energizadas de equipamentos ou sistema de energia ou ainda por arco
voltaico. É mais comum em alta tensão.

Os acidentes com eletricidade são especialmente perigosos, pois há risco


de morte em praticamente todas as ocorrências. Muitas vezes estes acidentes
acontecem por desconhecimento do trabalhador, por falta de equipamentos
de proteção adequados ou por excesso de confiança. Além disso, a eletricidade
é, geralmente, um potencial agente de lesão silencioso e invisível, fatos que
requerem treinamentos e rotinas de segurança muito rígidos.

É interessante ressaltar, ainda, que no caso dos trabalhadores das


empresas de distribuição de energia elétrica, o risco de morte devido ao contato
com eletricidade está, muitas vezes, também associado às quedas subsequentes
ao choque elétrico, conforme Cardoso (2005).

3.4.10 Outros acidentes-tipo


Nota-se que alguns dos tipos relacionados agrupam acidentes semelhantes
que, no entanto, poderiam ser considerados separadamente. Pode-se fazer este tipo
de desdobramento sempre que ele for vantajoso para a prevenção de acidentes.

Na construção civil, pode ser importante subdividir os tipos de queda a que


uma pessoa está sujeita, em função das diferentes alturas de trabalho presentes.

22
TÓPICO 2 | LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE ACIDENTES

Numa indústria química que lide com variados produtos, pode ser útil
subdividir o acidente tipo de acordo com a agressividade do agente de lesão,
fato que provavelmente não compensaria numa indústria de alimentos. Para um
armazém de carga e descarga, que emprega muito trabalho manual, é interessante
subdividir o esforço excessivo, já numa empresa de instalação elétrica, podem-se
classificar as várias maneiras possíveis de contato com a eletricidade.

Existem, ainda, outros tipos de acidentes que são menos comuns e,


portanto, não requerem uma classificação específica. São de fácil identificação
por não se enquadrarem em nenhuma situação anteriormente descrita.

É de fundamental importância que a classificação dos acidentes-tipo


proposta, se baseie na forma pela qual a pessoa sofre a lesão, não tendo relação
com o meio físico do ambiente (acidente-meio), tampouco com a extensão das
lesões.

Um mesmo acidente-meio pode causar diferentes acidentes-tipo.


Imaginemos o rompimento de uma tubulação de vapor de alta pressão: uma
pessoa próxima da falha poderá sofrer queimaduras decorrentes da exposição ao
vapor, no entanto, outra pessoa mais afastada, poderia cair ao tentar se esquivar
do jato de vapor.

Existem casos em que a classificação do tipo de acidente é mais difícil,


quando este parecer pertencer a dois tipos. É importante conhecer os pontos mais
importantes da classificação. Tomemos o seguinte exemplo: um eletricista está
efetuando reparos num painel de comando energizado quando, repentinamente,
tropeça e entra em contato com alguma parte condutora energizada, levando um
choque. O acidente-tipo, neste caso é “contato com eletricidade” e não “queda
da pessoa”, pois o que determinou efetivamente a lesão não foi a queda, mas
sim o contato com o agente agressivo. Outra situação hipotética envolvendo
eletricidade: o eletricista está efetuando reparos na iluminação de um galpão no
alto de uma escada quando toma um choque e cai, batendo a cabeça no chão.
Caso a lesão sofrida seja apenas devido à queda, então o acidente é “queda de
pessoa”, se, no entanto, houver também lesão decorrente do choque elétrico,
então também haveria “contato com eletricidade”, sendo que a ocorrência deveria
ser registrada sob as duas classificações.

Pode-se complementar este assunto citado por Michel (2008):

Em alguns casos, apesar de todo o cuidado, poderá restar alguma dúvida,


pelo fato de a classificação proposta ser apenas genérica. Porém, para ganhar
tempo, ou melhor, para não desperdiçar tempo em detalhes que podem não
compensar o esforço e o tempo despendidos em sua análise, é preferível optar
pela generalidade e dentro dela dar a devida atenção aos fatos específicos de
destaque que possam servir para a conclusão geral do relatório - que é objetivo
visado - isto é, o que fazer para prevenir novas ocorrências.

23
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

3.5 FATOR PESSOAL INSEGURO


É a característica, mental ou física, que leva ao ato inseguro e que em
muitos casos, também criam condições inseguras. São fatores inerentes à pessoa
e, muitas vezes, de difícil identificação.

Citam-se alguns fatores impessoais inseguros:

• atitude imprópria (desrespeito voluntário às instruções ou normas de


segurança);
• má interpretação das normas;
• nervosismo;
• excesso de confiança;
• falta de conhecimento das práticas seguras (carência de instrução);
• incapacidade física para o trabalho (pouca audição ou visão, mobilidade
limitada).

24
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você estudou os seguintes conteúdos:

• Existem três fatores principais causadores de acidentes: condições inseguras,


atos inseguros e eventos catastróficos.

• Os riscos a que uma pessoa está sujeita podem ser classificados em três
modalidades: risco genérico, risco específico e risco agravado.

• A gravidade de um acidente não deve ser definida com base nas lesões sofridas
pelos trabalhadores.

• Existem cinco tipos de fatores acidentários que devem ser considerados para a
prevenção de acidentes: agente da lesão, condição insegura, acidente-tipo, ato
inseguro e fator pessoal inseguro.

• Agente da lesão é aquilo que, em contato com o trabalhador, determina a lesão.

• Condição insegura são as características do local de trabalho que põem em


risco a segurança e a saúde do trabalhador.

• Ato inseguro é a maneira pela qual o trabalhador se sujeita a riscos.

• Acidente-tipo é o conceito utilizado para definir a maneira pela qual a pessoa


sofreu a lesão.

25
AUTOATIVIDADE

Responda as seguintes questões:

1 Por que não se deve classificar a gravidade de um acidente com base na


lesão sofrida pelo trabalhador?

2 O que é o agente da lesão?

3 O que é uma condição insegura? Cite um exemplo.

4 Cite três exemplos de atos inseguros.

5 Qual a importância de se classificar os acidentes em tipos?

6 O que é fator pessoal inseguro?

26
UNIDADE 1
TÓPICO 3

INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES

1 INTRODUÇÃO
A investigação de acidentes faz parte da maioria dos programas
tradicionais de segurança. Porém, o objetivo de uma boa investigação de
acidentes geralmente não é bem compreendido e, como resultado, a maioria
das investigações se transforma em exercícios de achar culpados, responsáveis,
deficiências ou falhas, e raras vezes se preocupam em realmente identificar quais
foram as causas básicas do acontecimento e não chegam a soluções efetivas para
prevenir a repetição dos mesmos.

A investigação deve identificar as causas e possibilitar as suas correções. É


importante que haja a comunicação dos acidentes/incidentes, entre as áreas, para
prevenir que acidentes semelhantes ocorram e que incidentes se transformem em
acidentes, segundo Michel (2008).

2 INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTE (OU INCIDENTE)


A investigação de acidente consiste, basicamente, numa análise do evento
ocorrido, realizada pelo superior acompanhado por um grupo de pessoas, com
base em fatos e informações reunidas mediante um exame detalhado de todos os
fatores relevantes envolvidos no contexto.

A qualidade e utilidade da informação estão relacionadas diretamente
com o grau de detalhamento e consistência da investigação.

2.1 POR QUE SE DEVEM INVESTIGAR OS ACIDENTES?


Em se tratando de acidentes, sua investigação tem por objetivo evitar que
eles se repitam. No caso de incidentes, objetiva-se que os mesmos não venham a
se tornar acidentes, pois, ao se identificar e corrigir as causas prevenir-se-á a sua
repetição, o que caracteriza atitude preventiva, conforme Cardoso (2005).

27
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

2.2 QUANDO A INVESTIGAÇÃO DEVE SER REALIZADA


O momento de realizar a investigação dependerá, em grande parte, do
tipo de acidente ocorrido. Em geral, o evento deve ser investigado o mais rápido
possível, pois quanto menos tempo decorrer entre o acidente e a sua investigação,
melhor será a qualidade da informação obtida.

Justifica-se o atraso no início das investigações apenas para proceder com


o devido atendimento do(s) envolvido(s), eliminação de riscos ainda existentes no
local do evento ou pela perturbação emocional dos trabalhadores em decorrência
do acidente, conforme Michel (2008).

2.3 PROPORÇÃO ENTRE ACIDENTES E INCIDENTES


O “Estudo das Proporções de Acidentes”, realizado por Frank BIRD, em
1969, baseado nas informações contadas nos registros de 1.753.498 acidentes,
fornecidas por 297 empresas, envolvendo mais de 3 bilhões de horas-homem
trabalhadas, teve como resultado o gráfico na figura a seguir:

FIGURA 3 – RAZÃO ENTRE ACIDENTES E INCIDENTES

1 LESÃO SÉRIA OU INCAPACITANTE

10 LESÕES LEVES

30 ACIDENTES COM DANOS À PROPRIEDADE

600 ACIDENTES

FONTE: BIRD, 1969.

Os programas tradicionais de segurança se preocupam com o topo da


pirâmide, ignorando os acidentes com danos à propriedade que representam
grande parte das perdas e os incidentes através dos quais se pode trabalhar de
maneira preventiva.

28
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES

2.4 QUAIS ACIDENTES E INCIDENTES SE DEVE INVESTIGAR


Devem ser investigados todos os acidentes que provocarem perdas,
cujos valores e gravidade devem ser definidos por normas preestabelecidas
pela empresa.

Em relação aos incidentes, devem ser investigados todos aqueles com


potencial de causar uma perda grave. É importante lembrar que para poder haver
investigação de um incidente, este deve ser comunicado.

2.5 VANTAGENS DA INVESTIGAÇÃO


Uma investigação concisa e bem elaborada apresenta inúmeras vantagens
para o supervisor e também para a empresa, dentre as quais podemos citar:

• identificação das causas prováveis do evento indesejado, oferecendo meios de


prevenção, redução ou controle da repetição do mesmo;
• redução dos riscos e das perdas;
• preservação do patrimônio físico e humano;
• orientação na tomada de decisões pela identificação de carências nas instalações,
equipamentos, manutenção, operações e treinamento.

2.6 QUEM DEVE CONDUZIR A INVESTIGAÇÃO


O supervisor deve assumir a responsabilidade imediata da investigação
sempre que haja um acidente / incidente em seu setor e dela participar
pessoalmente. Esta escolha se justifica pelo fato de o supervisor (MICHEL, 2008):
• ter interesse pessoal a proteger;
• conhecer melhor as pessoas e condições;
• saber como obter as informações;
• é a pessoa que tomará as medidas necessárias.

Por outro lado, existem benefícios para o próprio supervisor:


• evidencia e demonstra interesse e preocupação pelo seu pessoal;
• aumenta a produtividade;
• reduz o custo de operação e as perdas;
• demonstra que controle é liderança.

29
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

2.7 QUEM DEVE PARTICIPAR DA INVESTIVAÇÃO DE


ACIDENTES E INCIDENTES
As pessoas envolvidas na investigação variam conforme o tipo e
gravidade do evento ocorrido. No quadro a seguir são demonstradas as pessoas
/ funções que devem integrar a equipe de investigação na ocorrência de um
evento indesejado.

QUADRO 1 – PARTICIPANTES DA INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES

PARTICIPANTES

GRAVIDADE Gerente Supervisor Envolvidos /


TIPO / chefe / Chefe Testemunhas/
/ VALOR Superintendente
de Depto de setor Membros da
Produção Produção CIPA

Investigar ou
INCIDENTES
Registrar *
Com
lesão sem X X
afastamento
ACIDENTES Com lesão e
COM PERDAS afastamento X X
HUMANAS
Incapacidade
permanente X X X X
ou morte
Investigar ou
Até R$ 500,00
Registrar *
ACIDENTES De R$ 500,00
COM PERDAS a R$ 5.000,00 X X
MATERIAIS
Acima de R$
X X X X
5.000,00

FONTE: Neto (2006)

* Os incidentes/acidentes com perdas materiais (cujo valor for de até R$ 500,00), mas que possuam
potencial de causar perdas elevadas devem também ser investigados pelo supervisor.

3 ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO


A seguir são demonstrados os passos necessários para a condução de uma
investigação de acidentes.

30
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES

3.1 OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE O ACIDENTE


Para obter informações sobre o acidente, deve-se proceder da seguinte
forma.

3.1.1 Ir ao local do acidente


É essencial que os responsáveis pela investigação (time de investigação)
examinem pessoalmente o local do acidente / incidente, a fim de ter uma
representação visual do que se deve investigar e quais informações devem ser
colhidas. Se for prático, é sempre aconselhável ter uma “imagem real” de tudo
o que está relacionado com o acidente, antes de iniciar qualquer análise sobre o
que aconteceu.

3.1.2 Entrevistar os envolvidos e as testemunhas


Na investigação de acidentes, é importante saber o que aconteceu. A forma
adequada de chegar à resposta é perguntar às pessoas direta ou indiretamente
envolvidas no evento. Certas técnicas relacionadas com as entrevistas ajudarão a
obter um melhor resultado.

3.1.3 Reconstituir o acidente


Frequentemente, durante uma investigação de acidente o time de
investigação pode pedir às testemunhas que mostrem “como aconteceu”. Embora
isto possa facilitar a obtenção de informações valiosas, em certas situações poderá
se transformar em fonte de novos acidentes ou incidentes.

A reconstituição de um acidente ou incidente deverá ser feita unicamente


nas seguintes circunstâncias:

• quando a informação não puder ser obtida de outra forma;


• quando for essencial para as medidas de prevenção;
• quando for necessária a verificação de acontecimentos-chaves.

3.2 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES SOBRE O ACIDENTE


A seguir, veja como é feita a análise das informações sobre o acidente.

31
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

3.2.1 Identificação das causas do acidente


A identificação das causas é de fundamental importância na realização
de uma boa investigação, pois permite a obtenção de recomendações ou soluções
que visem à eliminação ou atenuação destas causas.

A figura a seguir relaciona as causas prováveis de um acidente.

FIGURA 4 – QUADRO DE CAUSAS DE ACIDENTES

FONTE: Neto (2006)

3.2.2 Proposição de recomendações e medidas de


controle
As medidas de controle podem variar em grau (dependendo do efeito),
do custo, da confiabilidade e de possíveis efeitos colaterais que possam aparecer.
Em geral, estas se classificam em dois tipos (NETO, 2006):

• Ações Temporárias: aquelas que correspondem às respostas obtidas durante


a investigação “O que pode ser feito AGORA para se evitar a repetição do
acidente”? Exemplos: melhorar a iluminação do ambiente; colocar anteparos
junto às valas abertas; trocar o equipamento defeituoso.
• Ações Permanentes: são os procedimentos que, uma vez adotados, resolvem
em definitivo os problemas ou suas causas. Também se enquadram nesta
classificação os casos de omissões e erros em programas, padrões e normas.

32
TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES

3.3 FORMULÁRIO DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES


Os formulários de investigação de acidentes podem se diferenciar entre e
as empresas, porém as informações requeridas são, em geral, muito similares. As
principais informações constantes num formulário de investigação de acidentes
devem ser (NETO, 2006):
1. Identificação da ocorrência (dados gerais).
2. Descrição do evento e bens materiais danificados.
3. Pessoa(s) envolvida(s).
4. Valores envolvidos.
5. Material em anexo.
6. Resumo das causas prováveis.
7. Resumo das ações corretivas e preventivas.
8. Comentários.

4 A COMUNICAÇÃO DO ACIDENTE
Um dos valores mais significativos da comunicação de todos os acidentes
está na possibilidade de descobrir as causas que podem ocasionar eventos
com perdas no futuro. Quando determinados acidentes (e incidentes) não
são comunicados, não há a formação de uma base de dados para análise com
informações suficientes para a prevenção destes acontecimentos indesejados.

As principais causas que levam a não comunicação de um acidente são


(NETO, 2006):

• temor de medidas disciplinares (sanções);


• preocupação com a reputação pessoal;
• evitar burocracia;
• desejo de manter um baixo nível (fictício) de acidentes;
• desconhecimento dos benefícios da comunicação.

33
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou os seguintes conteúdos:

• O que é e como se realiza uma investigação de acidentes.

• Etapas da investigação de acidentes.

• Análise das informações coletadas com a investigação de acidentes.

• A importância da comunicação e registro dos acidentes.

34
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos, responda as seguintes questões:

1 O que é uma investigação de acidente?

2 Quando a investigação deve ser realizada?

3 O que se conclui com a pirâmide de proporções de Bird?

4 Quais as principais etapas de uma investigação de acidentes?

35
36
UNIDADE 1
TÓPICO 4

ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

1 INTRODUÇÃO
Foram apresentados no capítulo anterior os cinco fatores de acidentes:
agente da lesão, condição insegura, acidente-tipo, ato inseguro e o fator pessoal
inseguro.

A análise das causas de acidentes, com finalidade de prevenção, reside


no estudo dos fatores como diretriz para o exame das condições de trabalho e
determinação da origem dos acidentes, para a adoção de medidas preventivas
adequadas. Logo se percebe que é necessária a correta identificação de cada
agente a fim de se levantar as causas do acidente de maneira eficaz.

Segundo Michel (2008), o melhor método de pôr em prática a análise


das causas de um acidente com a finalidade de prevenção, reside na utilização
dos fatores como guia de análise das condições de trabalho, e determinação das
fontes de acidentes, de modo a permitir a adoção de medidas preventivas. Isso
pressupõe a identificação de cada agente para o competente levantamento das
causas de acidente. Resumindo, podemos dizer que na determinação da causa
devemos levar em conta: fatores pessoais, que são dependentes do homem,
os quais originam o ato inseguro e fatores materiais que são dependentes das
condições existentes nos locais de trabalho e que originam a condição insegura.
Os dois fatores se encadeiam o que nos leva a dizer que o acidente resulta do ato
mais condição insegura.

2 IMPROPRIEDADE DO TERMO “DESCUIDO”


De acordo com Michel (2008), o descuido foi e continua sendo, apresentado
como a maior causa de acidentes do trabalho. Em vários levantamentos de
acidentes com perda de tempo examinado, tivemos oportunidade de constatar
que as causas mais frequentes dos acidentes investigados eram o descuido,
a falta de atenção, a distração e outras mais, nenhuma, porém, relacionada a
condições inseguras.

37
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

Pode ser tentador se utilizar do termo descuido para descrever a causa de


um acidente. Certamente, esta seria uma maneira fácil e rápida, afinal, nada mais
simples do que atribuir o descuido ao trabalhador!

Deve-se ter em mente, no entanto, que o descuido por si só não caracteriza


a causa direta de um acidente. É necessário que se realize uma análise mais
minuciosa e técnica a fim de se encontrar a real causa que levou ao ato inseguro.

Uma análise de acidentes geralmente é iniciada pelas consequências da lesão


(cortes, queimaduras, fraturas, choque etc.) Como já comentado anteriormente,
estes fatores são o resultado do acidente e não suas causas. Na sequência, verifica-
se o tipo de acidente, de acordo com o exposto no capítulo anterior.

A partir deste ponto, inicia-se a procura por quaisquer condições


inseguras que possam ter influência direta ou indireta na causa do acidente,
como iluminação deficiente, equipamento defeituoso, ausência de sinalização,
barreiras ineficazes e outras.

Também se investigam quaisquer atos inseguros que possam ter precedido


o acidente, a exemplo:

• não uso de equipamento de segurança;


• uso incorreto de equipamento;
• execução de tarefa sem autorização/capacitação;
• trabalho em velocidade insegura;
• uso de equipamento defeituoso ou inadequado para a tarefa;
• carregamento de risco;
• postura inadequada (fator ergonômico);
• manutenção de máquinas em movimento;
• brincadeiras (atos inadequados ao ambiente);
• dispositivos de segurança desabilitados (ex: remoção de trava de segurança).

Logo, verifica-se que a utilização do termo descuido, como causa de


acidente, além de não caracterizar um processo de avaliação técnico e eficiente,
baseado nos procedimentos até então descritos, ainda não aponta devidamente
as reais causas do ocorrido, o que vem a prejudicar os procedimentos seguintes à
análise, segundo afirma Michel (2008).

2.1 TEORIA DE HEINRICH


Um dos estudos mais conhecidos na área da Segurança do Trabalho foi
uma pesquisa que levou ao que se denomina Teoria de Heinrich. Segundo esta
proposição, todo acidente de trabalho e, como consequência, a lesão, ocorrem
devido a um ou mais fatos ocorridos anteriormente, ou seja, um acidente não
acontece simplesmente de forma imprevista, é causado porque o trabalhador
cometeu um ato inseguro (por imperícia ou imprudência) e/ou por condições
inseguras do ambiente.
38
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

Heinrich comparou a ocorrência de acidentes de trabalho a uma série de


cinco peças de dominó enfileiradas de modo que o cair de uma, faz com que
caiam também as peças seguintes. Nesta conjectura a primeira peça do dominó
representa a personalidade do trabalhador; a segunda, as falhas humanas
no exercício do trabalho; a terceira se refere às causas de acidentes estudados
anteriormente (atos inseguros e condições inseguras); a quarta peça representa o
acidente propriamente dito e, por fim, a quinta pedra é a lesão.

Sobre cada peça, pode-se verificar o seguinte:

• Personalidade: ao integrar o quadro de funcionários de uma empresa, o


trabalhador carrega consigo um conjunto de características positivas e
negativas, referentes às suas virtudes e defeitos, que, em conjunto, definem a
sua personalidade. Esta se formou ao decorrer dos anos, em parte influenciada
por fatores hereditários e em parte pela vivência social e familiar do indivíduo.
Algumas destas características negativas (irresponsabilidade, teimosia,
temeridade, impaciência e outras) podem constituir causa de atos inseguros
ou a criação de condições inseguras.
• Falhas humanas: “errar é humano” diz o ditado e, de fato, independente
da sua posição hierárquica ou educação, mas fortemente influenciadas pela
personalidade, as falhas humanas podem levar a erros no exercício do trabalho
culminando com acidentes.
• Causas de acidentes: esta peça do dominó se refere às condições inseguras e
atos inseguros.
• Acidente: é o provável resultado da presença de atos inseguros e/ou causas
inseguras no local de trabalho.
• Lesões: é o dano sofrido pelo trabalhador como consequência de um acidente, no
entanto, nem todo acidente implica lesões, como já comentado anteriormente.

FIGURA 5 – PEÇAS DE DOMINÓ E SEUS SIGNIFICADOS DE ACORDO COM A TEORIA


DE HEINRICH
CONDIÇÕES INSEGURAS
FALHAS HUMANAS
PERSONALIDADE

ATOS INSEGUROS

ACIDENTE

LESÃO

FONTE: Michel (2008)

39
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

Segundo Michel (2008), uma vez que não se consegue eliminar os traços
negativos da personalidade, surgirão em consequência, falhas no comportamento
do homem no trabalho, de que podem resultar atos inseguros e condições inseguras,
que poderão levar ao acidente e às lesões. Quando isso ocorrer, tombando a pedra
"personalidade", ela ocasionará a queda, em sucessão de todas as demais.

FIGURA 6 – CADEIA DE ACONTECIMENTOS DA TEORIA DE HEINRICH


E

A S
ALIDAD

AN
UM

OS AS
UR GUR
SH

G
E E
PERSON

NS NS TE
S I ES I EN
HA

TO Õ I D
A IÇ AC
L

ND
FA

O LESÃO
C

FONTE: Michel (2008)

Considerando-se que é impraticável modificar radicalmente a


personalidade de todos que trabalham de tal sorte a evitar as falhas humanas
no trabalho, deve-se procurar eliminar as causas de acidentes, sem que haja
preocupação em modificar a personalidade de quem quer que seja. Por isso,
deve-se buscar a eliminação tanto das condições inseguras, apesar da avareza,
do desprezo pela vida humana ou quaisquer outros traços negativos da
personalidade de administradores ou supervisores. Também é necessário procurar
que os operários, apesar de teimosos, desobedientes, temerários, irascíveis,
não pratiquem atos inseguros, o que se pode conseguir através da criação nos
mesmos, da consciência de segurança, de tal sorte que a prática da segurança, em
suas vidas, se transforme em um verdadeiro hábito. (MICHEL, 2008)

FIGURA 7 – INTERRUPÇÃO DA CADEIA DE EVENTOS


FALHAS HUMANAS
PERSONALIDADE

ACIDENTE

LESÃO

ATOS INSEGUROS
CONDIÇÕES INSEGURAS

FONTE: Michel (2008)


40
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

Eliminando-se os atos inseguros e as condições inseguras, ou seja, as


causas de acidentes, é possível impedir a ocorrência dos acidentes sem que
seja necessária a modificação da personalidade dos trabalhadores que, como já
mencionado, não seria viável.

3 ELIMINAÇÃO DAS CAUSAS DE ACIDENTES


A prevenção de acidentes só pode ser bem realizada a partir de um
programa consistente, que contenham objetivos muito claros e levem em conta
desde um pequeno incidente até acidente com graves repercussões. (CAMPOS,
1999, p. 41)

Para se eliminar efetivamente os acidentes do trabalho, é necessária a análise


das suas causas, ou seja, identificar os riscos que venham a provocar lesões.

Segundo Tavares (1996, p. 31), no controle de identificação das causas dos


acidentes, podem ser considerados os seguintes elementos:
• inspeções programadas de segurança;
• estudo de doenças ocupacionais;
• observação de segurança;
• análise de segurança do trabalho;
• permissão do trabalho;
• delimitação de área restrita;
• relatório de incidentes/acidentes;
• investigação de incidentes/acidentes.

Tendo-se em vista que as causas majoritárias de acidentes decorrem de


falhas humanas e falhas materiais, para a prevenção de acidentes, deve-se ter
em foco:
• a eliminação da prática de atos inseguros;
• a eliminação das condições inseguras.

Resumidamente, os atos inseguros podem ser eliminados através da


seleção profissional e exames médicos adequados com posterior capacitação e
educação. Já as condições inseguras podem ter suas causas eliminadas através
das técnicas das engenharias.

Nesse ínterim, convém mencionarmos a "Regra EDE", relativa aos


problemas de segurança do trabalho:
• "E" – engenharia - medidas de ordem técnica;
• "D" – disciplina – rigor na observação dos métodos de segurança;
• "E" – educação – o ensino da segurança a todos. Demonstrar e comprovar aos
setores administrativos da empresa a necessidade da correção das condições
inseguras reveladas pela engenharia, além de implantar um programa de
segurança e treinamento dos trabalhadores.

41
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

"A segurança do trabalho não é somente um problema de pessoal,


mas envolve uma engenharia, um conhecimento de legislação específica, cujo
sucesso é função direta da habilidade de vender o programa à gerência e aos
trabalhadores". (MICHEL, 2008)

4 ESTATÍSTICA DOS ACIDENTES


A CIPA, de acordo com a NR-5 da portaria nº 3214/78, é obrigada a
preencher uma ficha com dados sobre qualquer acidente ocorrido. Esta ficha
deverá ser aberta, quando da ocorrência de acidentes com afastamento e será
discutida em todas as reuniões até que as medidas propostas, para evitar a
repetição, tenham sido tomadas.

Ao tomar conhecimento da ocorrência, o Departamento de Segurança
deverá providenciar a investigação do acidente. Um elemento do Departamento
(técnico, tecnólogo ou engenheiro) se dirigirá ao local, onde fará uma
inspeção detalhada e colherá depoimentos dos trabalhadores daquela seção
e, posteriormente, do encarregado ou supervisor. Quando houver vítima, esta
deverá também descrever o ocorrido, conforme já mencionado em tópico anterior.

Qualquer programa de segurança deve incluir métodos de controle


e avaliação dos resultados. A reunião das informações e dados relativos às
ocorrências, a partir dos diversos formulários como Ficha de Comunicação de
Acidente (CAT), Ficha de Investigação de Acidentes, Ficha de Inspeção de
Segurança, possibilita a fixação das metas e objetivos.

Para um resumo dos acidentes em tabelas e gráficos que possibilitem


controle e avaliação mais rápidos e precisos, podem ser estimados resumos
periódicos, por exemplo, mensais e anuais. De maneira geral, considera-se como
ano estatístico o período compreendido entre 1º de janeiro a 31 de dezembro e o
mês estatístico do primeiro ao último dia desse mês.

Vários coeficientes e taxas podem ser utilizados. Os índices citados a


seguir são os mais comuns, e, embora alguns autores critiquem uns em defesa de
outros, acredita-se que todos são válidos em termos estatísticos, pois se baseiam
na norma NBR14280:2001 – “Cadastro de Acidentes de Trabalho – Procedimento
e Classificação”.

Basicamente são utilizados dois coeficientes: de frequência, que dá a ideia


do número de acidentes, e de gravidade, que nos dá a ideia da extensão das lesões
sofridas pelos trabalhadores. Na comparação entre diversos períodos de tempo
ou entre diversas empresas, consideram-se os dados obtidos com os acidentes de
trabalho em comparação ao tempo de exposição ao risco dos trabalhadores ou a
soma das horas efetivamente trabalhadas.

42
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

4.1 CÁLCULO DAS HORAS-HOMEM DE EXPOSIÇÃO AOS


RISCOS (HHT)
As horas-homem são calculadas pelo somatório das horas de trabalho de
cada empregado.

Horas-homem, em um determinado período, se todos trabalham o
mesmo número de horas, é o produto do número de homens pelo número
de horas. Por exemplo: 25 homens trabalhando, cada um, 200 horas por mês,
totalizam 5 000 horas-homem. Quando o número de horas trabalhadas varia de
grupo para grupo, calculam-se os vários produtos, que devem ser somados para
obtenção do resultado final.

EXEMPLO: 25 homens, dos quais 18 trabalham cada um 200 horas por


mês, quatro trabalham 182 horas e três, apenas 160 horas, totalizam 4808 horas-
homem, como está demonstrado abaixo:

(18 × 200) = 3.600


+ (4 × 182) = 728
+ (3 × 160) = 480
Total = 4.808

4.2 COEFICIENTE DE FREQUÊNCIA (CF)


É igual ao número de acidentes com afastamento dividido pelo total de
horas-homem trabalhadas, vezes 106. Portanto, representa-se por:

N CA
CF = x 106
HHT

CA = acidentes com afastamento


HHT = horas-homem trabalhadas com exposição ao risco

Para se obter o total de horas-homem trabalhadas, é suficiente somar as
horas trabalhadas pelos empregados e registradas no cartão ponto. Nota-se que
as horas extras serão incluídas, enquanto que faltas, abonos, licenças médicas não
serão consideradas. Em outras palavras, o coeficiente de frequência dá o número
de acidentes com afastamento por milhão de horas-homem trabalhadas.

Este coeficiente isolado não é de grande valia, pois, por exemplo, em uma
empresa com coeficiente de frequência igual a 50, os acidentes foram somente de
incapacidade temporária total, enquanto que outra empresa com coeficiente de
frequência igual a 5, pode ter acidentes com incapacidade permanente ou mesmo
morte. Para dar ideia das lesões, criou-se outro coeficiente. (MICHEL, 2008)

43
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

4.3 COEFICIENTE DE GRAVIDADE (CG)


Corresponde aos dias perdidos em decorrência de acidentes com
incapacidade temporária total somada aos dias debitados por acidentes com
incapacidade permanente parcial ou total, ou morte do acidentado, dividido pelo
total de horas trabalhadas pelos empregados e registradas no cartão ponto.

dd + dp
CG = x 106
HHT
dp = dias perdidos
dd = dias debitados

Os dias perdidos são contados a partir do dia seguinte ao do acidente, nos
casos de afastamento por incapacidade temporária total, até o dia da alta médica
ou retorno ao trabalho do acidentado em seu horário normal. Na contagem, são
incluídos feriados e dias de descanso semanal obrigatório, portanto são dias
corridos.

Os dias debitados são retirados de uma tabela, constante na NR-5 Portaria


3214, de 8 de junho de 1978, que, a partir de uma avaliação percentual de perda
de capacidade para o trabalho causada por lesão com incapacidade permanente,
determina quantos dias deverão ser computados. Quando a incapacidade
permanente decorrer de uma perturbação funcional, a avaliação da perda de
capacidade será determinada pela empresa seguradora, considerando-se para
100% com total de 6.000 dias debitados.

Esses coeficientes foram um pouco modificados, tendo em vista que


alguns termos, se aplicados literalmente, não teriam significado. Por exemplo: a
explosão de uma caldeira poderia causar lesões em dez operários que estivessem
nas proximidades. Ter-se-ia, portanto, apenas um acidente de produção que
causaria dez acidentes do trabalho, ou dez acidentados com lesão ou com perda
de tempo, pela nomenclatura atualizada. Como, porém, o mínimo que se exige
do profissional de segurança é bom senso, além dos conceitos técnicos básicos,
não se acredita que essa modificação cause qualquer diferença na compilação dos
dados. (MICHEL, 2008)

4.4 TAXA DE FREQUÊNCIA DE ACIDENTES (FA)


É o número de acidentes (com e sem lesão) por milhão de horas-homem
de exposição ao risco. Assim como o coeficiente de frequência deve ser calculado
até a 2ª casa decimal (aproximação de centésimos) as horas-homem de exposição
ao risco conceitualmente possuem o mesmo significado de horas-homem
trabalhadas.

44
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

N x 106
FA =
H
N = número de acidentes com e sem lesão
H = horas-homem de exposição ao risco ou HHT

4.5 TAXA DE FREQUÊNCIA DE ACIDENTADOS COM


LESÃO E COM PERDA DE TEMPO (FL)
É o número de acidentados com lesão incapacitante (morte ou
incapacidade permanente ou incapacidade temporária total) em relação a um
milhão de horas-homem de exposição ao risco. Seu significado é o mesmo do
coeficiente de frequência.

N x 106
FL =
H
N = número de acidentados com lesão
H = horas-homem de exposição ao risco ou HHT

4.6 TAXA DE FREQUÊNCIA DE ACIDENTADOS COM LESÃO


SEM PERDA DE TEMPO (FS)
É o número de acidentados com lesão leve (acidente sem afastamento) por
milhão de horas-homem de exposição ao risco.

N x 106
FS =
H
N = número de acidentados sem lesão incapacitante
H = horas-homem de exposição ao risco ou HHT

A partir da análise estatística dos dados observados, para a empresa


como um todo, poderão ser determinados os índices por setor, ou por seção da
empresa, possibilitando delimitar as áreas de maior número de ocorrências e as
áreas onde os acidentes atingem maior gravidade, visando ao estabelecimento de
ações de controle.

45
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

LEITURA COMPLEMENTAR

A SUBNOTIFICAÇÃO DOS ACIDENTES DE TRABALHO

Josevan Ursine Fudoli

CONCEITOS LEGAIS

Sob o ponto de vista legal, o acidente do trabalho é definido como “o que


ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho
dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 da Lei 8.213/91, provocando lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho".

São consideradas também como acidentes do trabalho as doenças


profissionais e as doenças do trabalho, sendo que a doença profissional é a
produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada
atividade (constante de relações elaboradas pelo Ministério do Trabalho e
Emprego e pelo Ministério da Previdência Social) e a doença do trabalho é a
adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho
é realizado e com ele se relacione diretamente.

Equiparam-se também ao acidente do trabalho o acidente ligado ao trabalho


que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a
morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho,
ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação, o acidente
sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de ato
de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de
trabalho; ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa
relacionada ao trabalho; ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de
terceiro ou de companheiro de trabalho; ato de pessoa privada do uso da razão;
desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de
força maior; a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no
exercício de sua atividade.

Equipara-se ainda como acidente do trabalho o acidente sofrido pelo


segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho, na execução de ordem ou
na realização de serviço sob a autoridade da empresa; na prestação espontânea de
qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; em
viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente
do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

46
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

Até nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou por ocasião da


satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante
este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

Pela vertente do conceito legal, é muito difícil descaracterizar um acidente


do trabalho, pois ele pode ocorrer durante o trabalho, no horário do almoço, fora
do local do trabalho (a serviço da empresa), no trajeto (casa/trabalho/casa) e ainda
sob a forma de doença profissional.

DISTORÇÕES E SUBNOTIFICAÇÃO

Com relação a acidentados, podemos classificá-los nas seguintes


categorias: a) acidentados com lesão sem afastamento; b) acidentados com lesão
com afastamento; c) doença ocupacional; d) acidentados de trajeto. A estatística
dos acidentes apresenta geralmente tais categorias, que nem sempre retratam a
realidade, pois costumam não computar os trabalhadores sem carteira assinada,
as empregadas domésticas, os acidentes de trânsito e os acidentes não informados
ao INSS, gerando o que se chama de subnotificação.

Existem empresas que costumam transformar seus acidentes com lesão


com afastamento em acidentes com lesão sem afastamento ou “em proteção
ocupacional” ou então reclassificar seus acidentes com lesão sem afastamento em
“primeiros socorros”. Ocorrendo tais situações, as empresas não emitem CAT,
ferindo a legislação e configurando, burla ao registro oficial de acidentes no INSS.

Existem algumas empresas que adotam as curiosas e indevidas expressões


de “proteção ocupacional” e “primeiros socorros”. Essas empresas chamam de
“proteção ocupacional” a situação do acidentado com lesão, se tal acidentado
retornar até o dia seguinte ou até dias depois, desde que ele tenha capacidade para
exercer qualquer atividade de sua função ou de outra função. Nestes casos, não se
emite CAT. Com a criativa adoção da “proteção ocupacional”, ficaria decretado o
fim dos acidentes com e sem afastamento, pois sempre o acidentado poderá fazer
alguma coisa. Excluir-se-iam do trabalho os casos trágicos, como a morte, a perda
dos dois olhos, a perda dos dois braços ou de duas pernas. Coisa de louco!

Segundo as empresas que adotam a política da “proteção ocupacional”,


os empregados acidentados, normalmente, estão aptos para o trabalho, só não
estando aptos para exercerem a plenitude de suas atividades. Segundo essa visão,
esses trabalhadores detestam ficar em casa olhando para o teto, sem fazer nada,
sentindo-se inúteis nessa situação, gostando mesmo é de trabalhar.

Segundo apurado, a prática da proteção ocupacional poderia estar coberto


por um acordo firmado entre os representantes dos trabalhadores, a empresa com
o aval do INSS e o representante da área médica da empresa, esclarecendo que a
palavra final de aceitar trabalhar ou não seria do empregado acidentado.

47
UNIDADE 1 | ACIDENTES DE TRABALHO

O “acidente com lesão sem afastamento” só seria classificado, quando não


se chegasse a um acordo com a “proteção ocupacional”. Ou seja, extraoficialmente,
essas inventivas empresas criaram um novo tipo de classificação de acidentes: os
acidentes com proteção ocupacional.

Já os “primeiros socorros” é a expressão também indevidamente utilizada,


para classificar a situação do acidentado com lesão, se tal acidentado retornar ao
trabalho no mesmo dia. Neste caso, as empresas não emitem CAT. Pela legislação,
este acidente seria com lesão sem afastamento e emissão de CAT.

A “proteção ocupacional” e os “Primeiros Socorros” são evidentes burlas


à legislação e configuram claramente a subnotificação dos acidentes, devendo
a Ministério do Trabalho e o INSS punirem exemplarmente as empresas que
praticam tais práticas delituosas.

Adicione-se ainda à subnotificação de acidentes com afastamento, a


prática equivocada das empresas de conceituar acidente com afastamento
somente aquele que ocorrer com o empregado afastado após 16º dia de trabalho,
com o entendimento de que os ônus financeiros dos primeiros 15 dias ficam por
conta do empregador, não onerando a sociedade, representada pelo INSS.

INDICADORES DE (IN)SEGURANÇA

Os tradicionais indicadores reativos (taxa e frequência com afastamento,


taxa de frequência sem afastamento e taxa de gravidade) são determinados pelas
fórmulas abaixo:

Taxa de frequência com afastamento – é o número de acidentados com


lesão com afastamento, por um milhão de homens-hora de exposição ao risco, em
determinado período.

n° de acidentados com afastamento x 1.000.000


TFCA =
hom ens − hora de exposição ao risco

Taxa de frequência sem afastamento – é o número de acidentados com


lesão sem afastamento, por um milhão de homens-horas de exposição ao risco,
em determinado período.

n° de acidentados sem afastamento x 1.000.000


TFSA =
hom ens − hora de exposição ao risco

48
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE ACIDENTES DE TRABALHO

Taxa de Gravidade – é a soma dos dias perdidos e debitados. Por um


milhão por milhão de homens-hora de exposição ao risco, em determinado
período.

(dias perdidos + dias debitados) x 1.000.000


TG =
hom ens − hora de exposição ao risco

Considerando que os numeradores dos TFCA e TFSA são formados


por nº de acidentados com afastamento e nº de acidentados sem afastamento,
respectivamente, e que tais numeradores não possuem confiabilidade, pelo já
exposto, pode-se avaliar a fragilidade de tais indicadores, sem, contudo, abandoná-
los, mas requerendo incentivo e pesquisa na busca de novos indicadores (ativos)
que possam representar o desempenho das empresas em matéria de segurança.

Com relação à taxa de gravidade, ela também se apresenta fria e sem


parâmetro de comparação, tendo sido até desconsiderada para fins de avaliação
de empresas, mas mantida na NBR-14280, ao longo destes mais de 40 anos, por
tradição e por falta de um indicador substituto mais representativo.

CONCLUSÃO

Os conceitos técnicos, legais e prevencionistas dos acidentes do trabalho


devem ser seguidos e praticados, para construir uma estatística confiável e
representativa da situação acidentária brasileira, visando ao estudo das causas
raízes dos acidentes, para evitar sua repetição, não cabendo às empresas extrapolar
sua criatividade em matéria legalmente normalizada pelos órgãos competentes.

FONTE: FUDOLI, Josevan Ursine. A subnotificação dos acidentes de trabalho. Art. Revista CIPA nº
345, ago. 2008.

49
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você estudou os seguintes conteúdos:

• A Teoria de Heinrich sobre a relação entre acidentes com e sem lesão.

• Como identificar as causas de acidentes e proceder com sua eliminação.

• Cálculo de coeficientes estatísticos sobre acidentes de trabalho.

• Algumas empresas se utilizam de subterfúgios para diminuírem de maneira


irreal os coeficientes estatísticos a seu favor.

50
AUTOATIVIDADE

Responda às seguintes questões:

1 Por que o termo “descuido” não é apropriado para usar como causa de
acidentes?

2 Segundo a Teoria de Heinrich, quais dos fatores da cadeia de acidentes


devem ser eliminados, a fim de se evitar a lesão ao trabalhador?

3 Qual a importância dos coeficientes estatísticos sobre acidentes para uma


empresa?

4 Numa empresa, trabalham 40 funcionários sendo que 30 trabalham 200h/


mês e 10 trabalham um total de 180h/mês. Em um ano, foram registrados os
seguintes acidentes nesta empresa:

Nº de acidentes Dias de afastamento


17 0
1 10
1 3
2 4
1 1

Considerando o período de um ano, calcule:

a. O número total de horas-homem de exposição ao risco;


b. O coeficiente de frequência de acidentes com afastamento;
c. O coeficiente de gravidade;
d. A taxa de frequência de acidentes;
e. As taxas de frequência de acidentados com lesão com perda e sem perda de
tempo.

51
52
UNIDADE 2

RISCOS PROFISSIONAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• classificar os riscos do trabalho segundo sua gravidade, frequência e


natureza;

• compreender e aplicar os conceitos de segurança de processos;

• identificar perigos nas empresas e processos;

• analisar os riscos do trabalho e propor melhorias;

PLANO DE ESTUDOS
Essa unidade está dividida em cinco tópicos, sendo que no final
de cada uma delas, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os
conteúdos estudados.

TÓPICO 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS

TÓPICO 2 – SEGURANÇA DE PROCESSOS

TÓPICO 3 – IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS

TÓPICO 4 – ANÁLISE DE RISCOS

TÓPICO 5 – AVALIAÇÃO DE RISCOS

53
54
UNIDADE 2
TÓPICO 1

CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS

1 INTRODUÇÃO
Desde as épocas mais remotas, grande parte dos ofícios aos quais o
homem se tem dedicado, apresentou riscos em potencial, que frequentemente se
concretizaram em lesões que afetaram a sua integridade física ou a saúde.

Tais riscos, característicos das diversas profissões, são chamados de riscos


profissionais. Riscos profissionais são, portanto, condições inseguras inerentes ao
ambiente de trabalho, ou à própria execução das várias atividades profissionais,
que direta ou indiretamente possam provocar acidentes do trabalho.

Entre as condições inseguras inerentes ao ambiente, mencionam-se: o


ruído e o calor excessivos, a presença de gases, vapores e poeiras tóxicas etc. Estes
riscos, chamados de riscos de ambiente podem provocar doenças do trabalho ou
moléstias profissionais nos trabalhadores.

Entre as condições inseguras inerentes à execução das atividades,


mencionam-se as máquinas desprotegidas, os pisos defeituosos ou escorregadios,
os empilhamentos precários ou fora de prumo etc. Estes riscos, responsáveis
por uma série de lesões nos trabalhadores como cortes, fraturas, escoriações,
queimaduras etc. podem ser chamados de riscos de operação ou riscos de local.
(NETO, 2006)

Os riscos profissionais podem provocar direta ou indiretamente os


acidentes do trabalho. Diretamente, por exemplo, no caso de uma exposição
acidental a uma poeira nociva que produzirá uma intoxicação no trabalhador.
Indiretamente, no caso de fratura ocasionada por uma queda em escada mal
iluminada.

55
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

2 TECNOLOGIA VERSUS RISCO


Atualmente, nas indústrias existem sistemas de alta confiabilidade
e desenvolvimento constante de novas tecnologias, porém o erro humano e a
ausência de um sistema de Gerenciamento de Riscos sãos os maiores contribuintes
para a ocorrência de acidentes.

As empresas modernas, que buscam também a melhoria da qualidade de


vida e da produtividade, veem na Segurança, uma ferramenta de auxílio para o
cumprimento de seus objetivos.

2.1 DESENVOLVIMENTO DE ESTUDOS DE ANÁLISE DE RISCO


Segundo Neto (2006), os principais fatores relativos ao desenvolvimento
de um trabalho de gerenciamento de riscos são:

• ocorrência de acidentes extremamente graves;


• preocupação do público quanto aos processos de fabricação e quanto aos
próprios produtos químicos em si;
• aumento da consciência do risco;
• mudança da atitude das empresas (compromissos com melhoria contínua,
qualidade, custos, seguro etc.);
• maior preocupação com a imagem da empresa;
• imposições legais.

2.2 INFLUÊNCIA DO RISCO NAS ATIVIDADES E NEGÓCIOS


Para Neto, (2006), a empresa:
• imagem (reputação);
• mercado;
• ações de poder público;
• seguro.

Para o meio ambiente:


• poluição;
• esgotamento de recursos naturais;
• mudanças no ecossistema;
• indenizações;
• queixas e reclamações.

Para os clientes:
• insegurança;
• confiabilidade;

56
TÓPICO 1 | CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS

• danos à saúde;
• indenizações;
• queixas e reclamações.

Para os funcionários:
• acidentes de trabalho;
• danos à saúde;
• dificuldades na operação;
• falta de comprometimento (desmotivação).

2.3 QUESTÕES NORTEADORAS


Quando na implantação de um sistema de gerenciamento de riscos, deve-
se procurar responder a alguns questionamentos conforme Neto, (2006):
• O que pode acontecer de errado?
• De quanto em quanto tempo estes acidentes podem acontecer?
• Quais as consequências destes acidentes?
• A frequência ou a probabilidade prevista para a ocorrência desses danos é
aceitável (ou tolerável) pelas pessoas envolvidas?
• Quais as medidas necessárias para tornar os riscos aceitáveis ou toleráveis?

3 CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS SEGUNDO SUA NATUREZA


A maioria dos processos, pelos quais o homem modifica os materiais
extraídos da natureza, para transformá-los em produtos úteis, segundo as
necessidades tecnológicas atuais, são capazes de dispersar no ambiente dos
locais de trabalho substâncias que, ao entrarem em contato com o organismo dos
trabalhadores podem acarretar moléstias ou danos à sua saúde.

Assim, também estes processos poderão originar condições físicas de
intensidade inadequada para o organismo humano, sendo que ambos os riscos
(físicos e químicos) são geralmente de caráter acumulativo e chegam, às vezes, a
produzir graves danos aos trabalhadores.

Para facilitar o estudo dos riscos ambientais, podemos classificá-los em


três grupos: Riscos Químicos - Riscos Físicos - Riscos Biológicos.

Por sua vez, cada um destes grupos subdivide-se em função das


características físicas e químicas dos agentes, de acordo com as consequências
fisiológicas que estas podem provocar, segundo sua ação sobre o organismo etc.
(CARDELLA, 2009)

57
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

3.1 RISCOS QUÍMICOS


As substâncias ou produtos químicos que podem contaminar um ambiente
de trabalho classificam-se, segundo as suas características físico-químicas em:
aerodispersoides - gases e vapores.

Ambos os grupos comportam-se de maneira diferente, tanto no que diz


respeito ao período de permanência no ar, quanto às possibilidades de ingresso
no organismo.

Conforme Neto (2006), os aerodispersoides sólidos e líquidos são


classificados em relação ao tamanho da partícula e a sua forma de origem são
poeiras e névoas, os aerodispersoides, originados por ruptura mecânica de sólidos
e líquidos respectivamente, e fumos e neblina, aqueles formados por condensação
ou oxidação de vapores, provenientes, respectivamente, de substâncias sólidas
ou líquidas à temperatura e pressão normal (25°C e 1 atmosfera de pressão).

3.2 RISCOS FÍSICOS


Ordinariamente, os riscos físicos representam uma troca brusca de energia
entre o organismo e o ambiente, em quantidade maior de que o organismo é
capaz de suportar, podendo acarretar uma lesão ou doença profissional. Entre os
mais importantes, podemos citar:
• temperaturas extremas: calor, frio, ruído, vibrações, pressões anormais;
• radiações: ionizantes e não ionizantes.

3.3 RISCOS BIOLÓGICOS


Neste último grupo, estão classificados os riscos que representam os
organismos vivos, tais como:
• Vírus.
• Bactérias.
• Fungos.
• Parasitas.

ATENCAO

Esta classificação citada anteriormente não tem por objetivo o rigor científico-
biológico sobre o conceito de ser vivo.

58
TÓPICO 1 | CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS

De tudo quanto se tem exposto, pode-se concluir que a presença de


poluentes e agentes agressivos nos locais de trabalho representam um risco, mas
isto não quer dizer que todos os trabalhadores expostos venham a adquirir uma
doença. Para que isto aconteça, devem concorrer vários fatores, que são:

3.4 CONCEITOS COMPLEMENTARES


A seguir, veja alguns conceitos complementares, de acordo com Neto
(2006).

3.4.1 Tempo de exposição


Quanto maior o tempo de exposição, maiores serão as possibilidades de
se produzir uma doença do trabalho.

3.4.2 Concentração ou intensidade


Quanto maior a concentração ou intensidade dos agentes agressivos
presentes no ambiente de trabalho, tanto maior será a possibilidade de danos à
saúde dos trabalhadores expostos.

4 CLASSIFICAÇÃO CONFORME FREQUÊNCIA E INTENSIDADE


Os riscos podem ser classificados com relação à sua frequência e gravidade,
como apresentado pela expressão:

R=F x G

R = risco
F = frequência
G = gravidade

Os níveis de frequência dos riscos são determinados de acordo com o
quadro a seguir:

59
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

QUADRO 2 – NÍVEIS DE FREQUÊNCIA DOS ACONTECIMENTOS

FREQUÊNCIA PERÍODO
Ocorrência em intervalo superior a 100 anos ou improvável
Improvável
que ocorra.
Ocorrência possível entre 10 e 100 anos ou não esperada
Possível
nesta planta, contudo é possível que ocorra.
Ocasional Ocorrência entre 1 e 10 anos, pelo menos uma vez.

Frequente Ocorrência entre 0 e 1 ano, normalmente mais de uma vez.

FONTE: Neto (2006)

Já os níveis de gravidade podem ser determinados pelo quadro seguinte:

QUADRO 3 – NÍVEIS DE GRAVIDADE

Meio
Ser humano (na
Gravidade Ambiente e Recursos Perda Imagem
empresa)
Comunidade

Pequenos Podem
acidentes A área resultar De
Afeta apenas
Desprezível pessoais, sem resolve a numa perda conhecimento
a área.
perda de tempo situação. de até R$ da área.
com o trabalho. 10.000,00

Podem
Lesões
resultar
graves não
A área numa perda De
incapacitantes, Afeta áreas
Moderada resolve a entre R$ conhecimento
com afastamento vizinhas.
situação. 10.000,00 da empresa.
do trabalho
e R$
inferior a 30 dias.
100.000,00.

Necessita
de recursos
Lesões Afeta o meio internos Podem
graves não ambiente e para seu resultar De
incapacitantes, pequenos controle numa perda conhecimento
Crítica com afastamento danos à (Corpo de entre R$ da
do trabalho comunidade Bombeiros 100.000,00 comunidade
superior a 30 (lesões da empresa, e R$ local.
dias. leves). enfermaria, 500.000,00.
brigadistas
etc.).

60
TÓPICO 1 | CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS

Necessita
de recursos
As externos
proporções para seu
podem controle
colocar em (Corpo de Podem
Morte ou risco o meio Bombeiros, resultar De
Catastrófica invalidez ambiente e a Polícia em perdas conhecimento
permanente. comunidade Militar, acima de R$ público.
(lesões Civil ou 500.000,00.
graves, Rodoviária,
pânico ou Defesa
morte). Civil,
Hospitais
etc.).

FONTE: Neto (2006)

Da união dos dois quadros anteriores, chega-se a um quadro geral de


classificação de riscos denominado Matriz de Riscos.

QUADRO 4 – MATRIZ DE RISCO

Gravidade
Desprezível Moderada Crítica Catastrófica
Frequência
Frequente Médio Alto Muito Alto Muito Alto
Ocasional Baixo Médio Alto Muito Alto
Possível Muito Baixo Baixo Médio Alto
Improvável Muito Baixo Muito Baixo Baixo Médio

FONTE: Neto (2006)

61
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você estudou:

• Os fatores a serem considerados na análise de risco.

• A influência negativa dos riscos nos negócios.

• A classificação dos riscos segundo sua natureza.

• A classificação dos riscos de acordo com sua frequência e intensidade.

62
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a


seguir:

1 Cite cinco influências do risco nas atividades e negócios de uma empresa.

2 Quais as categorias que classificam os riscos, de acordo com sua natureza?


Cite um exemplo de cada.

3 Cite um exemplo de cada risco, conforme sua frequência de acontecimento.

4 Quais são as categorias de risco segundo sua gravidade? Para cada categoria,
quais os valores estimados em perdas?

63
64
UNIDADE 2 TÓPICO 2

SEGURANÇA DE PROCESSOS

1 INTRODUÇÃO
Todo projeto de análise de riscos de uma indústria deve demandar a
devida atenção à segurança dos processos, focos de grande parte dos acidentes.
Nesta análise, estão incluídos três campos de aplicação:

• controle dos riscos;


• saúde ocupacional;
• segurança do trabalhador.

FIGURA 8 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA SEGURANÇA DE PROCESSOS

IDENTIFICAR

PROCESSOS

CONTROLAR ENTENDER

FONTE: Neto (2006)

2 OBJETIVOS E METAS
Conforme indica Neto (2006), são os seguintes:
• demonstrar o status de segurança do processo como uma função de
gerenciamento em relação a outros objetivos do negócio;
• destacar a importância de estabelecer critério para uma operação segura na
empresa;
• reforçar o valor do estabelecimento de objetos em segurança de processos, os
quais podem ser usados como medida desempenho e auxílio em tomada de
decisões comerciais.
65
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

3 ABRANGÊNCIA
Os sistemas e setores que englobam a segurança em processos são:
• processo de fabricação;
• distribuição e armazenamento;
• mistura e embalagem (transformação, regulação, preparação e disponibilização
para o consumo);
• plantas piloto;
• tubulações;
• tratamento de resíduos (meio ambiente);
• sistemas de energia.

4 SUCESSO NA APLICAÇÃO
Depende diretamente da liderança exercida. Os resultados são percebidos:
• no processo (fisicamente e operacionalmente);
• maior segurança aos funcionários;
• redução do histórico de acidentes;
• redução no pagamento de seguros.

5 BASES
Neto (2006), afirma que alguns fatores fundamentais na segurança de
processo são:

• Declaração de valores e política: deve haver o comprometimento da empresa em


elevar a importância da segurança do trabalho aos mesmos níveis dos demais
objetivos (sucesso, desenvolvimento, melhoria na qualidade de vida etc.);
• Dilema Produção × Segurança: sempre haverá possibilidade de conflito entre
estes dois interesses. Deve-se, no entanto, dispor de mecanismos para evitar
que tal ocorrência surja. Na medida do possível, ambos devem ser atendidos.
• Processo de qualidade: o desenvolvimento deve ser contínuo;
• Comunicação: deve haver em todos os níveis da organização. Deve-se
estimular o livre acesso de ideias e opiniões. A garantia desta política trará
como benefícios:
о lmelhoria na conscientização;
о propagação de conhecimentos;
о redução na possibilidade de dissimulação do sistema;
о alcance de um padrão mais elevado de performance;
о facilitação na tomada de decisões;
о aumento do nível geral de confiança dos funcionários.

66
TÓPICO 2 | SEGURANÇA DE PROCESSOS

6 DOCUMENTAÇÃO E CONHECIMENTO
No início da elaboração de um projeto de segurança em processos, é
necessário disponibilizar informações das seguintes áreas ou setores, de acordo
com Neto (2006):
• recursos técnicos (áreas elétrica, civil, mecânica);
• diagramas de fluxo do processo;
• balanços de energia;
• planta geral, com tubulação de água e incêndio;
• equipamentos de processo;
• catálogos;
• principais variáveis de controle e seus valores;
• arquivos CAD;
• outros documentos (manuais de operação, softwares etc.;
• condições normais e anormais de operação: valores de projeto;
• memória da empresa:
о registro da experiência de engenheiros seniores;
о causas e ações corretivas de acidentes;
о desvios de quase-acidentes;
о possibilidade de transferência para um sistema inteligente.


Por outro lado, a manutenção de uma documentação atualizada e
completa trará benefícios para a empresa:
• manutenção do registro e condições do projeto;
• memorização da lógica;
• facilidade para a compreensão de todo o processo;
• referência para mudanças futuras;
• registros de acidentes (causas, consequências etc.);
• respaldo em situações legais.

7 REVISÕES E AUDITORIAS
Cardoso (2005) afirma: é de suma importância a realização de revisões e
auditorias periódicas para que o planejamento das medidas de segurança esteja
em consonância com a planta industrial e processos existentes.

Deve-se ter em mente a revisão e reclassificação dos riscos da seguinte
maneira:
• Alto: processos novos, produtos perigosos ou grandes quantidades.
• Médio: tecnologia testada, porém sem análise de riscos. Grandes impactos.
• Baixo: riscos já conhecidos e avaliados de baixo impacto.

67
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Em relação aos recursos humanos, deve-se contemplar:


• Tecnologia/Engenharia de operação;
• Engenharia de manutenção / mecânica;
• Operações de fabricação ou de planta;
• Engenharia de Segurança;
• Engenharia de Projeto.

O conteúdo das auditorias deve conter:


• Programas de ações e procedimentos;
• Organização do gerenciamento;
• Planejamento do processo;
• Avaliação de riscos e atividades de gerenciamento de riscos.

8 ANÁLISE DE RISCOS DE PROCESSO


A análise de riscos de processo se refere a uma metodologia sistemática
para a identificação e análise de riscos inerentes a processos ou operações.

8.1 OBJETIVOS
Podemos citar que esta análise objetiva:
• identificação de riscos do processo;
• identificação de falhas que podem causar um acidente;
• avaliação do risco;
• proposição de mudanças;
• documentação sistemática.

8.2 RECURSOS NECESSÁRIOS


Para a execução de uma análise completa e confiável são necessários
recursos de diversas áreas/setores para a montagem de um banco de dados de
pesquisa e apoio. Neto (2006) cita:
• engenheiro, tecnólogo ou técnico de segurança;
• engenheiro, tecnólogo ou técnico da área de área (elétrica, civil, mecânica etc.);
• técnico de operação;
• técnico de manutenção;
• representante da área de projetos ou desenvolvimento;
• documentação (conforme descrito no item 3), onde se destaca(m):
о diagramas do fluxo de processo (operação);
о planta geral mostrando tubulações de água e incêndio;
о desenhos de instrumentação de tubulação (diagramas unifilares);
о equipamento de processo;
о folha de dados das válvulas de segurança e instrumentação (especialmente
os sistemas de alívio de pressão);
о detalhes dos intertravamentos existentes.

68
TÓPICO 2 | SEGURANÇA DE PROCESSOS

8.3 DEFINIÇÕES BÁSICAS


A seguir, veja a definição de perigo e risco.
• Perigo: situação que contém certo potencial (conjunto de eventos indesejáveis)
para causar dano àquilo que o ser humano valoriza (vida, saúde, bens, materiais
etc.).
• Risco: é a avaliação do cenário de perigo, associando a probabilidade de
ocorrência e a gravidade de suas consequências.

NOTA

RISCO = GRAVIDADE × PROBABILIDADE.

8.4 DEFINIÇÕES COMPLEMENTARES


Veja a seguir, algumas definições complementares, de acordo com
Cardoso (2005):

8.4.1 Estudo de análise de risco


Consiste no exame sistemático de uma instalação industrial, de modo
a identificar os riscos presentes no sistema, fornecendo informações sobre
ocorrências potencialmente perigosas e suas possíveis consequências.

Tem por objetivo promover métodos capazes de fornecer elementos


concretos que fundamentem um processo de decisão de redução dos riscos e
perdas.

8.4.2 Objetivos da análise de riscos


São os seguintes:
• identificação dos riscos inerentes do processo ou atividade;
• identificação das falhas;
• avaliação das consequências de probabilidades dos cenários de acidentes ou
incidentes;
• proposta de mudanças ao design do equipamento, às condições do processo e
aos procedimentos de operação, mitigando o risco a um nível tolerável;
• documentação do estudo (análise de risco) de uma maneira suficientemente
completa, precisa e concisa.

69
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

8.4.3 Etapas da análise de risco


FIGURA 9 – DIAGRAMA DA ANÁLISE DE RISCOS

IDENTIFICAÇÃO ELIMINAÇÃO

PREVENÇÃO

AVALIAÇÃO REDUÇÃO

AUTOSEGURO

FINANCIAMENTO AUTOADOÇÃO
TRATAMENTO

SEGURO

FONTE: Neto (2006)

FIGURA 10 – ETAPAS DA ANÁLISE DE RISCO

PROCESSO

CARACTERÍSTICAS CONDIÇÕES CONDIÇÕES


DO DE "AMBIENTAIS"
PRODUTO OPERAÇÃO

PERIGO
(evento indesejável)

GRAVIDADE PROBABILIDADE
falhas: materiais,
produto, pessoal, meio instrumentação,
ambiente, material, etc. humanas, etc.

RISCO
(conhecimento)

MEDIDAS
prevenção/ proteção

FONTE: Neto (2006)

70
TÓPICO 2 | SEGURANÇA DE PROCESSOS

8.5 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCO


Existem diversos métodos de análise de risco que variam em grau de
complexidade e aplicabilidade. Dentre os mais utilizados, Cardoso (2005) cita:

• inspeção de segurança;
• lista de verificação (checklist);
• análise de classificação relativa;
• análise preliminar de riscos – APR;
• “What-if?” (E se...?);
• estudo de risco e operabilidade (HAZOP);
• modos de falha e análise dos efeitos (FMEA);
• análise de árvore de falhas (AAF);
• análise de árvore de eventos (AAE).

8.6 ESCOLHA DA TÉCNICA


A definição sobre qual técnica de análise de riscos utilizar para um
determinado programa de gerenciamento de riscos depende de alguns fatores
importantes:

• objetivo do estudo;
• tempo;
• custo;
• grau de complexidade;
• grau de importância;
• dados disponíveis.

71
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

QUADRO 5 – TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCOS

Análise de Modos de Falha e Efeito

Análise de Confiabilidade Humana


Análise Preliminar de Riscos - APR

Análise de Causa - Consequência


Análise por Árvore de Eventos

Análise por Árvore de Falhas


Inspeção de segurança

What-if / Checklist
Relative Ranking
Checklist

HAZOP
What-if
Pesquisa e Desenvolvimento
Projeto Conceitual
Operação de planta piloto
Projeto Detalhado
Contrução / Start-up
Operação de Rotina
Expansão ou Modificação
Investigação de Incidente
Retirar de Operação

Raramente usado ou inapropriado


Geralamente usado

FONTE: Neto (2006)

72
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, foram apresentados os seguintes assuntos:

• As definições políticas, objetivos e abrangência dos projetos de análise de risco.

• As principais bases de estudo para a segurança de processo.

• A importância da documentação de um projeto de segurança em processos.

• Conceitos básicos e fluxogramas de auxílio para a realização de um plano de


análise de riscos.

• Algumas técnicas de análise de riscos e maneira de escolher a mais indicada.

73
AUTOATIVIDADE

Baseado no que você estudou até agora, responda as questões a seguir:

1 Cite os principais fatores para considerados na segurança de processos.

2 Quais os objetivos de se realizar uma análise de riscos em uma empresa?

3 Quais as definições de risco e perigo, segundo a análise de riscos de processo?

4 Quais as técnicas mais utilizadas na elaboração de um plano de análise de


riscos?

74
UNIDADE 2 TÓPICO 3

IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS

1 INTRODUÇÃO
Conforme Oliveira (1991), de um modo geral, todas as técnicas de
análise e avaliação de riscos passam antes da fase principal por uma fase de
identificação de perigos.

FONTE: Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disserta96/anete/cap4/cap4_ane.htm>. Acesso


em: 8 jul. 2010.

Mas o que é perigo? Segundo Cardella (2009), perigo é a qualidade daquilo


que pode causar danos. Logo, identificar perigos significa, em termos práticos,
identificar as seguintes situações ou eventos perigosos:

• substâncias;
• agentes;
• produtos;
• situações;
• eventos (perigosos ou danosos);
• operações.

A escolha do tipo de perigo depende do método adotado e dos objetivos


do estudo, mas a análise dos riscos associados sempre requer a identificação de
eventos perigosos, pois a eles podemos associar frequências e consequências
(CARDELLA, (2009). A identificação de eventos perigosos se baseia na
determinação de agentes com potencial agressivo.

Os conceitos de segurança tradicionais tinham por objetivo maior a


identificação dos perigos sem, no entanto, dar muita ênfase à continuidade do
programa, isto é, sem efetuar as fases de análise e avaliação de riscos.

Uma visão mais moderna para a identificação de perigos inclui a utilização


das técnicas What If...? (E se...?) e a Técnica de Incidentes Críticos (TIC), a serem
vistas na sequência.

75
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

2 WHAT IF...? (E SE...?)


É uma técnica de identificação de perigos e análise de riscos que se baseia
em suposições expressas através da pergunta “E se...?” ou “O que aconteceria se...?”.
Esta técnica pode ser implementada para um sistema, processo, equipamento
ou mesmo evento. O foco da análise é “tudo que pode acontecer de errado”. O
método What If é bastante amplo por permitir questionamentos livres de diversos
graus de complexidade.

2.1 O MÉTODO WHAT IF


Segundo Cardella, a técnica What If admite tanto o questionamento livre
quanto o sistemático. No questionamento livre, o objeto é questionado por meio
da pergunta “E se...?” em relação a qualquer aspecto que se julgar conveniente
ou que vier à mente no momento. Assim, teremos perguntas do tipo: E se for
colocado mais um produto? E se a matéria-prima estiver contaminada? E se
ocorrer um vendaval? No questionamento sistemático, o objeto é focalizado
do ponto de visão de diversos especialistas como, por exemplo, nas áreas de
eletricidade, instrumentação, combate a incêndio, preservação ambiental e
Medicina Ocupacional. Fazem-se reuniões específicas onde a pergunta “E se...?”
é aplicada a cada especialidade.

2.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS


As principais vantagens são:
• tempo reduzido;
• fácil adequação;
• possibilidade de identificação de situações novas;
• fácil aplicação.

Desvantagens:
• requer experiência e conhecimento do processo;
• não tem apresentação sistemática;
• depende do nível de variedade de pessoas integradas;
• menos eficaz.

2.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES


Podem ser utilizadas as técnicas de Análise por Árvore de Falhas, Série
de Riscos, Análise de Consequências ou outras que permitam a análise mais
aprofundada dos eventos detectados pelo What If.

76
TÓPICO 3 | IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS

2.4 FORMULÁRIO
O formulário da análise What If consiste em, basicamente, relacionar
os possíveis problemas (aquilo que pode sair de errado) com suas respectivas
consequências e as devidas recomendações (medidas de controle de riscos e de
emergência).

A seguir é apresentado um formulário What If hipotético empregado para


uma festa de aniversário.

QUADRO 6 – EXEMPLO DE UM FORMULÁRIO DE WHAT IF (E SE...?)

E se...?
Identificação de Perigos
Órgão Folha
Objeto da análise: festa de aniversário

Número Data
Executado por:

Medidas de Controle de
E se...? Perigo / Consequência
Risco e Emergência
Avaliar a possibilidade
de comparecerem mais
Vierem mais pessoas
Falta de espaço, falta de bebidas. convidados e prever
que o esperado?
alimentos e bebidas com
folga.
As pessoas não Desagradar amigos, criar clima Anexar mapa aos convites,
encontrarem o local de insatisfação, não receber acrescentando número do
da festa? presentes, perda de alimentos. telefone.
Adquirir guarda-chuva
Dificuldades na chegada, grande para ajudar as
Chover?
pessoas com roupas molhadas. pessoas a se deslocarem do
carro à porta da casa.

FONTE: Cardella (2009 p.145)

77
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

3 TÉCNICA DO INCIDENTE CRÍTICO - TIC


A Técnica do Incidente Crítico (Incident Recall) consiste na identificação
e análise qualitativa de perigos relacionados a quase-acidentes, incidentes ou
acidentes de pequena gravidade. A TIC é aplicada a sistemas e instalações em
fase operacional com o objetivo de analisar eventos, condições das instalações,
atitudes ou comportamentos e relação entre pessoas, equipamentos e instalações.
(CARDELLA, 2009)

3.1 MODO DE APLICAÇÃO


A técnica se baseia na entrevista de trabalhadores de determinada seção
ou sistema para a obtenção de relatos referentes a situações que quase produziram
acidentes ou ainda, a manifestação de algum fator de risco relacionado a
comportamentos ou atitudes de outros funcionários.

Para a entrevista, é importante realizar a seleção de funcionários de
diversos setores da empresa de forma a contemplar diferentes operações e, por
consequência, categorias de risco.

É importante que, na aplicação periódica da técnica, se efetue a reciclagem
dos participantes a fim de se detectar novas situações de perigo, bem como
verificar a eficácia das medidas já implementadas.

3.2 TÉCNICAS AUXILIARES


O sucesso de aplicação da TIC depende fundamentalmente da qualidade
dos dados obtidos nas entrevistas, de forma que é necessário o desenvolvimento
de técnicas de relacionamento interpessoal para que se conquiste a confiança do
entrevistado. Pode-se contar com o apoio de um setor de atendimento psicológico
para esta tarefa.

3.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES


Segundo Cardella (2009), utiliza-se da técnica da Inspeção Planejada para
a verificação das condições inseguras identificadas pela TIC.

78
TÓPICO 3 | IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS

4 LISTA DE VERIFICAÇÃO - CHECKLIST


A técnica de Checklist, ou também conhecida por Lista de Verificação,
é um método que aborda o objeto em estudo e verifica a conformidade de seus
atributos com padrões. Segundo Cardella (2009), o objeto do Checklist pode ser
área, sistema, instalação, processo ou equipamento. A lista pode ser subdividida
por especialidades de trabalho ou qualquer outra que se julgar conveniente.
O foco são desvios em relação aos padrões da lista. Quando os atributos são
funções ou desempenho de funções, a lista é constituída de testes e respectivas
respostas-padrão.

A Lista de Verificação é utilizada com eficácia em trabalhos repetitivos


cujos riscos são conhecidos e os padrões bem estabelecidos. Esta técnica é
utilizada como complemente para o controle de riscos identificados e analisados
por outras técnicas, como APR, Hazop e AAF. (CARDELLA, 2009)

Resumidamente, a Lista de Verificação apresenta as seguintes


características:
• consiste, basicamente, na comparação dos atributos do objeto com os padrões
da lista;
• é uma técnica baseada em experiência;
• o analista precisa selecionar a lista de verificações apropriada;
• se indisponível, deve adequar o Checklist existente (experiência-cuidado);
• o analista deve estar familiarizado com o processo.

4.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS


Como vantagens podem-se citar:
• fácil utilização;
• aplicável por pessoas menos experientes (depois de desenvolvido);
• eficiência nos itens abordados;
• requer pouco tempo para a aplicação.

As principais desvantagens da Lista de Verificação são:


• fácil desatualização;
• aplicação restrita aos itens abordados;
• limitação durante a identificação (foco centrado);
• a preparação das listas geralmente requer bastante tempo.

79
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

4.2 TÉCNICAS COMPLEMENTARES


Segundo Cardella (2009), técnicas de controle de andamento de projetos
são utilizadas para acompanhar a implantação das medidas corretivas.

4.3 FORMULÁRIO
A lista de verificação, ponto chave deste método de análise, deve ser
elaborada com muito discernimento e cautela. Sua composição inclui campos
para o registro dos itens a serem verificados bem como os resultados desta
verificação. A seguir, apresentamos um formulário exemplo para verificação de
um automóvel antes de uma viagem.

QUADRO 7 – EXEMPLO DE UMA LISTA DE CHECKLIST

Verificado ?
Item Descrição Observação
Sim/Não, S/N
1 Estado dos pneus
2 Pressão dos pneus
3 Pressão do estepe
4 Nível de óleo do motor
5 Óleo do freio
6 Funcionamento dos freios
7 Nível de água de arrefecimento
8 Filtro de ar
9 Filtro de gasolina
10 Gasolina
11 Lavar
12 Amortecedores
13 Alinhamento das rodas
14 Balanceamento dos pneus
15 Documentos de porte obrigatório
16 Carteira de habilitação
17 Caixa de primeiros socorros
18 Manual de manutenção
19 Pano e solução limpa vidros
20 Limpador de para-brisa – estado e funcionamento
21 IPVA – Seguro obrigatório
22 Lanterna de mão
23 Saco para lixo
24 Dinheiro trocado para pedágio
FONTE: Cardella (2009 p. 146)

80
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, foram apresentados os seguintes assuntos:

• O que é a identificação de perigos, principais conceitos e técnicas;

• O método What-If.

• Aplicação da técnica do acidente crítico.

• Elaboração de uma lista de verificação para a conferência do estado de sistemas


e equipamentos.

81
AUTOATIVIDADE

Baseado no que você estudou até agora, responda as questões a seguir:

1 Quais são os tipos de perigos que se identificam num programa de


Identificação de Riscos?

2 Para que situações ou sistemas se recomenda o uso da técnica What-if?

3 O que é a Técnica do Acidente Típico e como ela deve ser aplicada?

4 No que consiste o Checklist (Lista de Verificação)?

82
UNIDADE 2
TÓPICO 4

ANÁLISE DE RISCOS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, veremos a análise de riscos. Entre eles estão a análise
preliminar de riscos e a análise de riscos e operabilidade.

2 ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS – APR


APR é uma técnica de identificação de perigos e análises de riscos que
consiste em identificar eventos perigosos, causas e consequências e estabelecer
medidas de controle. É preliminar, porque é utilizada como primeira abordagem
do objeto de estudo. O objeto da APR pode ser área, sistema, procedimento,
projeto ou atividade. O foco da APR são todos os perigos do tipo evento perigoso
ou indesejável. A APR também é conhecida por Análise Preliminar de Perigos –
APP. (CARDELLA, 2009)

NOTA

Relembrando o conceito de evento perigoso: é um evento indesejável não


programado de forma controlada que libera ou gera agentes agressivos, cria fontes ou
coloca alvos em campo de ação agressiva. Não constituem eventos perigosos as operações
pré-programadas como o acendimento de um maçarico ou o ateamento de fogo em um
tanque de treinamento de combate a incêndio. Estes são operações e trabalhos perigosos.
(CARDELLA, 2009)
Já os eventos indesejáveis são aqueles que podem provocar perdas (incluindo aquelas
decorrentes da baixa produtividade ou qualidade) de material, de tempo, lesões.

83
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

A APR foi desenvolvida nos EUA para a identificação de Riscos Potenciais.


As principais vantagens no uso desta técnica são:

• Identificação de riscos potenciais num espaço de tempo relativamente curto;


• Auxilia o desenvolvimento da equipe e das diretrizes do trabalho através da
“vida” (funcionamento) do processo.

Desta forma, os principais riscos podem ser eliminados, minimizados


ou controlados através da análise do funcionamento do processo, de maneira
eficiente.

2.1 MÉTODO DA APR


Segundo Cardella (2009), os métodos da APR são:

a. Descrever o objeto de estudo, fazendo a subdivisão que se julgar adequada.


Se o objeto é um processo, estabelecer o diagrama de funções e analisar cada
fase. Numa viagem, por exemplo, podemos analisar as etapas: deslocamento
de casa ao aeroporto, transporte aéreo, deslocamento do aeroporto ao hotel,
instalação no hotel.
b. Selecionar um elemento do objeto.
c. Selecionar um evento perigoso ou indesejável.
d. Identificar as causas possíveis do evento. Exemplo: quebra do táxi, sair atrasado,
trânsito congestionado.
e. Identificar as consequências do evento.
f. Estabelecer medidas de controle de risco e de controle de emergências.
Exemplos: fazer lista de verificação para evitar esquecimentos, sair com boa
antecedência e selecionar táxi de qualidade. Utilizar táxi com rádio para rápida
substituição em caso de defeito.
g. Repetir o processo para outros eventos perigosos. Exemplo: esquecer o bilhete
aéreo.
h. Selecionar outro elemento do objeto e repetir o processo.

NOTA

Objeto de segurança é tudo que pode ser escolhido para análise quanto a
eventos indesejáveis que causem agressão a pessoas, meio ambiente e patrimônio,
provocando danos físicos, psicológicos e morais, degradação ambiental, danos ao
patrimônio e dos diversos tipos de perda. Quando escolhemos um objeto para estudo
é porque pretendemos simplesmente conhecê-lo ou conhecê-lo e transformá-lo.
(CARDELLA, 2009)

84
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE RISCOS

2.2 TÉCNICAS AUXILIARES


A APR deve ser utilizada em conjunto com outras técnicas de análises de
riscos, conforme cita Cardella (2009):
• Análise por Árvore de Falhas (qualitativas) para identificar as causas do evento
perigoso.
• Análise por Árvore de Eventos (qualitativa) para identificar as consequências
do evento perigoso.
• Lista de Verificação (Checklist) para identificar agentes agressivos e alvos.
• Registro e Análise de Ocorrências Anormais para identificar perigos semelhantes
aos que se manifestaram no passado.
• Inspeção Planejada para identificar perigos de uma instalação ou atividade
existente.

2.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES


Para melhorar a eficácia da APR é importante a implementação de métodos
de análise adicionais que visem a suprir determinadas deficiências, visto que seu
ponto forte são a identificação e recomendação, mas não o controle direto dos
riscos. Neste sentido, podem ser indicadas:
• Análise por árvore de falhas para analisar as causas com profundidade.
• Análise por Árvores de Eventos para verificar as consequências com
profundidade.
• Checklist.

2.4 FORMULÁRIO
A técnica da APR exige um formulário próprio com campos
destinados à descrição de eventos perigosos, causa, consequências, categoria
de consequência, medidas de controle de risco e de emergência. O registro
de muitos itens pode tornar o formulário “carregado”. Por isso, os agentes
agressivos que auxiliam a identificação de eventos perigosos podem ser
listados à parte. (CARDELLA, 2009)

Uma sugestão de formulário, com definições e descrições é apresentada
a seguir.

85
QUADRO 8 – FORMULÁRIO PARA APR
ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS – APR
Objeto da análise (ou Sistema): é o sistema sob o qual é realizado o estudo.
ÓRGÃO FOLHA
Subsistema (ou Fase): parte do processo que está sendo analisado.
DATA
Equipe: Nome das pessoas que fazem parte da equipe de Referência: Plantas, diagramas, relatórios ou outros
NÚMERO
trabalho. documentos que estão sendo utilizados na análise.
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Modos de
Risco Causas Efeitos Frequência Gravidade Classificação Recomendações Cenário
Detecção
Os cenários
Os cenários
acidentais devem
Riscos são acidentais devem
ser classificados
probabilidades ser classificados
em categorias de
(não em categorias de Esta coluna
severidade, as
conformidades) Principais efeitos frequência, as representa a
quais fornecem
de eventos As causas dos acidentes. quais fornecem conjugação
uma indicação

86
acidentais, com envolvem A detecção Por exemplo: uma indicação da categoria
qualitativa da
potencial para tanto falhas do perigo l explosões; qualitativa do de frequência Atribuir
perda esperada
causar danos intrínsecas pode se dar l incêndios; número de vezes com a um
para a ocorrência
às instalações, dos por meio de l mortes; esperado para a categoria de Medidas número
de cada um
operadores, equipamentos instrumentos l danos elétricos; ocorrência de cada gravidade, mitigadoras sequencial
dos cenários
público ou como erros ou pela l vazamentos; um dos cenários mediante a dos riscos. a cada
identificados.
meio ambiente. humanos percepção l nuvem tóxica; identificados. noção de um um dos
As categorias
Esses eventos durante testes, humana l quebra de As categorias de risco global. cenários.
de gravidade
devem ser operação e direta. máquina; frequência não (ver Matriz de
não são
identificados manutenção. l parada de são padronizadas. Categoria de
padronizadas,
para cada produção. Sugere-se: Riscos) mais
sugere-se:
subsistema l improvável; adiante.
l desprezível;
de análise em l possível;
l moderada;
estudo. l ocasional;
l crítica;
l frequente.
l catastrófica.

FONTE: N+eto (2006)


TÓPICO 4 | ANÁLISE DE RISCOS

2.5 VANTAGENS E DESVANTAGENS


Algumas das vantagens da APR, apresentadas por Cardella (2009), são:
• grande eficácia;
• tempo de desenvolvimento e implementação reduzido;
• facilita o estudo da análise de riscos;
• apresentação sistemática e avaliação qualitativa;
• fácil adequação a variados sistemas.

Dentre suas desvantagens podemos destacar:


• requer experiência e conhecimento do processo;
• é dependente do nível e variedade de pessoas integrantes;
• é de difícil aplicação em sistemas mais complexos.

3 ANÁLISE DE RISCOS E OPERABILIDADE – HAZOP


A Análise de Riscos e Operabilidade se baseia no princípio de que diversos
especialistas, com diferentes conhecimentos, podem interagir de forma criativa
e sistemática na identificação da maior quantidade de cenários em trabalho
conjunto do que trabalhando em separado.

Esta técnica foi desenvolvida originalmente para avaliação de um projeto


ou de uma tecnologia e sua essência é uma revisão dos desenhos dos processos
e/u procedimentos numa série de reuniões, durante a qual a equipe utiliza
um protocolo preestabelecido, para avaliar metodicamente os significantes
desvios da intenção normal do projeto. Trata-se de uma ferramenta sofisticada
e especializada que depreende grande quantidade de tempo em resultados
extremamente confiáveis.

3.1 O MÉTODO
O líder da equipe orienta o grupo através de um conjunto de palavras-
guias que focaliza os desvios dos parâmetros estabelecidos para o processo ou
operação em análise.

87
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

QUADRO 9 – PALAVRAS GUIA PARA O MÉTODO HAZOP

PALAVRA-GUIA SIGNIFICADO
NÃO Negação da intenção de projeto.
MENOR Diminuição quantitativa.
MAIOR Aumento quantitativo.
PARTE DE Diminuição qualitativa.
BEM COMO Aumento qualitativo.
REVERSO Oposto lógico da intenção de projeto.

FONTE: Neto (2006)

Para a elucidação do uso destas palavras-guias é apresentado o diagrama


no quadrado a seguir contendo algumas combinações comuns de palavras-guias
e parâmetros.

QUADRO 10 – EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO

PARÂMETRO PALAVRA-GUIA DESVIO


NÃO SEM FLUXO
MENOR MENOS FLUXO
FLUXO
MAIOR MAIS FLUXO
REVERSO FLUXO REVERSO
MENOR PRESSÃO BAIXA
PRESSÃO
MAIOR PRESSÃO ALTA
MENOR BAIXA TEMPERATURA
TEMPERATURA
MAIOR ALTA TEMPERATURA
MENOR NÍVEL BAIXO
NÍVEL
MAIOR NÍVEL ALTO
FONTE: Neto (2006)

Segundo Cardella (2009), o Hazop deve ser aplicado por uma equipe
cujo número de componentes não seja maior do que sete para não prejudicar a
produtividade. O núcleo básico deve ser constituído por:
• um líder experiente em Hazop;
• um assistente;
• um engenheiro, tecnólogo ou técnico de processos;
• um engenheiro, tecnólogo ou técnico de manutenção mecânica, elétrica e/ou
instrumentação;
• um engenheiro ou tecnólogo de segurança;
• um operador.

88
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE RISCOS

Há quatro etapas distintas na aplicação do Hazop:


• obtenção de dados;
• marcação de reuniões;
• planejamento de estudos;
• colocação dos dados de forma conveniente.

Segundo Cardella (2009), a aplicação do Hazop a um sistema de processos


contínuos abrange os seguintes passos:

a) Selecionar uma linha de processo. As linhas e equipamentos são elementos


do sistema. Linha de processo é qualquer ligação entre dois equipamentos
principais. Equipamento principal é qualquer máquina que provoca
modificações profundas no fluxo do processo. Bombas, válvulas e permutadores
de calor são considerados elementos das linhas. Como a escolha dos
equipamentos principais depende de critérios do analista, o número de linhas
pode ser muito pequeno ou muito elevado. A divisão em muitas linhas torna
o trabalho cansativo; por outro lado em poucas linhas pode haver prejuízos na
identificação dos perigos.
b) Imaginar a linha operando nas condições normais de projeto. Os desvios das
variáveis são considerados em relação a essas condições.
c) Selecionar uma variável de processo (exemplo: vazão); aplicar as palavras-
guias a essa variável (exemplo: mais); identificar desvios (exemplo: vazão
maior). Apenas os desvios considerados perigosos devem ser selecionados
para análise.
d) Determinar as causas dos desvios perigosos.
e) Avaliar qualitativamente as consequências dos desvios perigosos (tanque
transborda, produto inflamável entra em ebulição).
f) Verificar se há meios para o operador tomar conhecimento de que o desvio
perigoso está ocorrendo (registrador de vazão no painel, indicador no campo);
g) Estabelecer medidas de controle de riscos e de controle de emergências. As
medidas de controle de risco, como implantar sistema de monitoramento do
nível do tanque e aplicar programa de treinamento, têm por finalidade evitar
o evento perigoso. As de controle de emergência, como implantar sistema de
detecção de gases, de combate a incêndio e de evacuação têm por finalidade
reduzir as consequências do evento, caso ele venha a ocorrer.
h) Selecionar outra variável de processo e aplicar-lhe as palavras-guias.
Temperatura, viscosidade, pressão, composição, verificando se são perigosos
os desvios. Temperatura maior, temperatura menor, viscosidade maior,
viscosidade menor, pressão maior, mudança na composição, componentes a
mais etc.
i) Analisar as variáveis, selecionar outra linha de processo e repetir os passos de
a a h.
j) Analisadas as linhas, selecionam-se os equipamentos e aplicam-se às palavras-
guias às funções por ela exercidas e a sua variável de processo. Exemplo: se
a função do equipamento é decantação, podemos analisar os desvios mais
decantação, menos decantação, decantação inversa (flutuação).

89
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Para auxiliar no entendimento geral do procedimento, podemos ilustrar


os passos acima descritos através de um fluxograma do método Hazop:

FIGURA 11 – FLUXOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO HAZOP

Divisão do sistema em nós de estudo

Seleção do nó de estudo

Combinação das palavras guia


em cada parâmetro de processo. Não
Existem riscos e/ou problemas
de operabilidade?

Sim

Registro de:
- Causas
- Consequências
- Ações requeridas

FONTE: Neto (2006)

90
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE RISCOS

3.2 TÉCNICAS COMPLEMENTARES


Segundo Cardella (2009), a análise de riscos iniciada com Hazop pode ser
complementada por técnicas como Análise por Árvore de Falhas, Série de Riscos
ou Análise de Consequências para analisar com maior profundidade os perigos
maiores e quantificar os riscos a ele associados. A Lista de Verificação (Checklist) é
de grande utilidade no controle da implantação das medidas recomendadas pelo
Hazop, seja nas fases subsequentes do projeto, seja nas de compra, montagem,
condicionamento e partida.

3.3 FORMULÁRIO
O formulário para a implementação do Hazop deve conter campos
destinados ao registro dos desvios, causas, consequências, medidas de controle de
risco e emergência. Deve-se também deixar claro qual o nó de estudo, abordado
no formulário em questão, e também a que processo se refere.

Um exemplo de formulário Hazop, aplicado a um processo de produção


de DAP (Diamônio Fosfato) numa indústria de fertilizantes:

91
QUADRO 11 – EXEMPLO DE APLICAÇÃO DE UM FORMULÁRIO HAZOP
HAZOP – Identificação de Perigos e Operabilidade
Unidade de processo: Produção do DAP ÓRGÃO
FOLHA
Nó de estudo: 01 Parâmetro de Processo: Fluxo
Executado por: NÚMERO DATA
Palavra
Desvio Causas Consequências Ações Sugeridas
Guia
1. Válvula “A” não abre.
2. Suprimento de ácido fosfórico Fechamento automático da válvula B
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Ausência de Excesso de amônia no reator e liberação para


Nenhum esgotado. na redução do fluxo da tubulação de
Fluxo a área de trabalho.
3. Entupimento ou ruptura da suprimento de ácido fosfórico.
linha de ácido fosfórico.
Excesso de amônia no reator e liberação para
Fechamento automático da válvula
1. Válvula “A” parcialmente a área de trabalho; a quantidade liberada
B na redução do fluxo da tubulação
fechada. está relacionada à redução quantitativa do
Menos Menor Vazão de suprimento do ácido fosfórico. O
2. Entupimento ou vazamento da suprimento. Um dos integrantes do grupo
ajuste depende do cálculo de grau de
tubulação. ficou designado para calcular a relação grau
toxicidade × redução de fluxo.
de toxicidade × redução do fluxo.

92
1. Válvula aberta além do
Excesso de ácido fosfórico degrada o Controle automático da válvula A
parâmetro
Mais Maior vazão produto, mas não apresenta riscos ao local de em função do nível do tanque para
2. Elevação do nível de ácido
trabalho. regulagem da vazão.
fosfórico.
1. Fornecedor entrega produto
Excesso de amônia no reator e liberação para Estabelecer procedimento de checagem
Decréscimo da errado ou com concentração
a área de trabalho; a quantidade liberada da concentração de ácido fosfórico do
Parte de concentração de diferente.
está relacionada à redução quantitativa do tanque suprimento de ácido após o
ácido fosfórico 2. Erro no carregamento do tanque
suprimento. carregamento do tanque.
de ácido fosfórico.
Esta é uma consideração não
Aumento da
passível de ocorrência, uma vez que
Além de concentração de
a concentração de armazenagem é a
ácido fosfórico
mais alta possível.
1. Fornecedor entregou produto Depende do produto substituído. Um dos
Outro material
Outro que errado. integrantes do grupo ficará encarregado de
que não o ácido
não 2. Contaminação da linha com testar as substituições potenciais buscando na
fosfórico
outro produto. disponibilidade de outros materiais na planta.
FONTE: Neto (2006)
TÓPICO 4 | ANÁLISE DE RISCOS

3.4 DANDO SEGUIMENTO AO HAZOP


O que deve ser feito com os resultados obtidos pelo método Hazop?
Certamente a análise e levantamento dos riscos por si só não serão de grande
utilidade se não forem acompanhadas das medidas necessárias. Os passos
seguintes podem ser resumidos em:
• utilização de planilhas para melhor visualização dos dados;
• tomada de decisões baseadas nos dados obtidos;
• estudo das ações a serem providenciadas, a citar:
о modificações no processo;
о mudança nas condições do processo;
о alterações no projeto;
о variação no método de operação.
• ações que objetivem:
о a remoção das causas;
о a redução das consequências.

3.5 VANTAGENS E DESVANTAGENS


O método de análise e levantamento de riscos Hazop também apresenta
algumas características que devem ser ponderadas no momento da sua escolha.
Cardella (2009) elenca as principais características deste método:

Vantagens:
• muito eficaz;
• desenvolvida especialmente para o desenvolvimento de Estudo de Avaliação
de Riscos;
• indicado para sistemas complexos.

Desvantagens:
• exige muito tempo para aplicação e desenvolvimento;
• requer análise concisa e precisa na divisão dos nós, aplicação e desenvolvimento;
• requer diagramas de instrumentação e processos atualizados e confiáveis;
• equipe precisa ter conhecimentos aprofundados das diversas etapas do
processo.

93
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, foram apresentados os seguintes assuntos:

• A técnica da Análise Preliminar de Risco.

• O que é e como aplicar o HAZOP.

• Técnicas complementares para aumentar a eficiência do HAZOP.

94
AUTOATIVIDADE

Baseado no que você estudou até agora, responda as questões a seguir.

1 Explique, com suas próprias palavras, o que é uma APR

2 Quais as etapas de aplicação do Hazop?

3 Quais as vantagens e as desvantagens na aplicação do Hazop?

4 Cite os principais passos da aplicação do Hazop.

95
96
UNIDADE 2 TÓPICO 5

AVALIAÇÃO DE RISCOS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos as avaliações de risco. Entre elas, veremos a
Análise por Árvore de Falhas e a Análise por Árvore de Eventos ou Série de Riscos.

2 ANÁLISE POR ÁRVORE DE FALHAS – AAF


Esta técnica de identificação de riscos se baseia num processo lógico
dedutivo que parte de um evento topo (acontecimento indesejado) e busca
as possíveis causas para tal evento. O objeto de aplicação desta análise são os
sistemas e o foco é o evento topo em si.

De acordo com Oliveira e Makaron (1987), a AAF é uma técnica dedutiva
que se focaliza em um acidente particular e fornece um método para determinar
as causas deste acidente, é um modelo gráfico que dispõe várias combinações de
falhas de equipamentos e erros humanos que possam resultar em um acidente.

2.1 MÉTODO
Seleciona-se um evento indesejável, através de alguma outra técnica de
identificação de riscos e desenvolve-se uma árvore constituída dos diversos eventos
e falhas contribuintes. Pelo método da AAF, é possível calcular a frequência de
ocorrência do evento indesejável a partir de dados de probabilidade e frequência
previamente conhecidos e registrados, conforme Cardella (2009) e Neto (2006).

2.2 TÉCNICAS AUXILIARES


O sucesso obtido pelo método da AAF depende fortemente do evento
topo selecionado e, por este motivo, é importante que a escolha seja feita de
maneira criteriosa com base em técnicas devidamente desenvolvidas como APR,
Hazop ou What-If.

97
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

2.3 TÉCNICAS COMPLEMENTARES


Para se analisar as consequências do evento indesejável utilizam-se as
técnicas da Análise por Árvore de Eventos ou Análise de Consequências.

2.4 SIMBOLOGIA
A Análise de Árvore de Falha utiliza uma série de símbolos para sua
representação esquemática, bem como alguns conceitos de Álgebra Booleana,
conforme veremos a seguir.

2.4.1 Representação de eventos


A seguir, apresentamos os principais símbolos e seus significados para a
descrição dos eventos na AAF.

FIGURA 12 – PRINCIPAIS SÍMBOLOS DOS EVENTOS NA AAF

EVENTO Evento que não requer nenhum desenvolvimento,


BASE pois é o evento de nível mais baixo na árvore.
Também é denominado Falha Primária.

EVENTO NÃO
Um evento que ainda não foi examinado ou
DESENVOLVIDO desenvolvido por falta de informações ou de
consequências suficientes.

EVENTO
Evento que resulta da interação de outros eventos
INTERMEDIÁRIO cujo desenvolvimento se dá através de portas
lógicas.

FONTE: O autor

98
TÓPICO 5 | AVALIAÇÃO DE RISCOS

TUROS
ESTUDOS FU

Caro acadêmico. Existem ainda algumas outras portas lógicas utilizadas na


elaboração de uma AAF mais complexa e minuciosa. Sugiro que você procure textos e
livros a respeito.

2.4.2 Diagramas Lógicos “E” e “OU”


São os blocos utilizados para representar as operações básicas da
álgebra booleana entre os eventos da Árvore de Falhas. Sua simbologia já será
conhecida para quem estudou Eletrônica Digital, uma vez que os princípios
lógicos são os mesmos.

FIGURA 13 – PRINCIPAIS SÍMBOLOS DOS EVENTOS NA AAF

Simbologia por
Simbologia por Operação Equivalente
Blocos de
Portas Lógicas Booleana Aritmético
Confiabilidade

E X
Eventos Paralelos

OU +
Eventos em Série

FONTE: O autor

Para auxiliar na compreensão dos blocos lógicos, vamos utilizar dois


exemplos simples, descritos a seguir.

Situação 1: Um eletricista está efetuando reparos numa rede elétrica


quando leva um choque. Após uma rápida análise do acidente, verificou-se que o
serviço deveria ser executado com a instalação desenergizada e, adicionalmente,
o trabalhador não utilizava os EPIs necessários (luvas isolantes). Logo, conclui-se
que o acidente ocorreu porque duas falhas simultâneas aconteceram: instalação
energizada E falta de equipamento de proteção. Utilizando-se a simbologia da
AAF, temos o seguinte diagrama.

99
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Situação 2: Um incêndio se inicia num setor de uma indústria, mas o


alarme não dispara. Basicamente há duas possibilidades: o detector de fumaça
OU a sirene do alarme não funcionou.

FIGURA 14 – AAF REFERENTE ÀS SITUAÇÕES ACIMA

Choque Alarme não


Elétrico Dispara

Rede Senso não Sirene


Elétrica Falta detecta o falha em
Ligada de EPI fogo ligar

AFF referente à Situação 1 AFF referente à Situação 2


FONTE: O autor

ATENCAO

Caro acadêmico! As situações representadas acima poderiam ser “desdobradas”


em mais elementos. Poder-se-ia verificar quais as causas que levariam o sensor a não
detectar a fumaça (Instalação inapropriada? Obstrução dos orifícios por sujeira?). Antes de
iniciar o desenvolvimento da Árvore de Falhas, é importante ter em mente quais os tipos
de riscos que se quer analisar.

2.5 ANÁLISE QUANTITATIVA


A análise efetuada da forma descrita pelos dois exemplos anteriores é
qualitativa, pois o interesse foi de verificar quais os eventos primários responsáveis
pelo evento topo, bem como a inter-relação entre os mesmos.

Porém, uma das características que torna a AAF uma poderosa ferramenta
para análise de riscos é a possibilidade de se analisar o sistema descrito de forma
quantitativa, isto é, com cálculo de probabilidades. Para tanto se faz necessário
conhecer a probabilidade de ocorrência dos eventos-base e pelo diagrama, pode-
se determinar a probabilidade de ocorrer o evento topo.

100
TÓPICO 5 | AVALIAÇÃO DE RISCOS

Voltando aos exemplos anteriores, vamos considerar que, pelos registros


da empresa, a energia da rede elétrica fica inadvertidamente ligada uma vez em
cada 20 intervenções realizadas no sistema. Vamos denotar este probabilidade
como P(E1) = 1/20 (onde P(E1) lê-se como “probabilidade de ocorrer o Evento 1”).
Ainda pelos registros, verificou-se que os eletricistas costumam ignorar o uso de
luvas de proteção em 1% dos casos, ou uma vez a cada 100 serviços realizados,
o que pode ser descrito como P(E2) = 1/100. Partindo da Árvore de Falhas,
verificamos que o choque elétrico (ou evento topo, ET) é resultado do Evento 1 E
do Evento 2 simultaneamente, ou pela representação algébrica:

ET = E1 × E2

Logo, a probabilidade do choque elétrico acontecer, P(ET), conhecidas as


probabilidades dos eventos base é:

P(ET) = P(E1) × P(E2) = 1/20 × 1/100 = 1/2000

Finalmente, verifica-se que a probabilidade de o eletricista levar um


choque, considerando-se as condições descritas é de uma em duas mil, ou
percentualmente, 0,05%.

2.6 SEQUÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO


O método de AAF pode ser desenvolvido nesta sequência, segundo
Cardella, (2009):

I – seleção do evento topo (evento indesejável) cuja probabilidade se deseja


determinar;
II – revisão dos fatores intervenientes, ou seja, aqueles que contribuem para
a ocorrência do evento topo. Consideram-se ambiente, dados de projeto,
eventos particulares ou falhas de outros sistemas;
III – inicia-se a diagramação esquemática dos eventos através da representação
gráfica própria, de modo a se obter a maneira como os eventos contribuintes
se inter-relacionam diretamente com o evento topo. A relação entre os
eventos é efetuada através dos blocos lógicos adequados;
IV– determina-se a expressão matemática que relaciona o evento topo com os
demais fatos intervenientes utilizando-se as operações implícitas a cada
porta lógica adotada. No final é recomendável realizar a simplificação do
sistema através dos postulados da Álgebra Booleana;
V – determinam-se as probabilidades de falha ou ocorrência de um determinado
evento de cada componente do sistema simplificado da Árvore de Falhas;
VI – aplicam-se os valores das probabilidades na equação reduzida obtida
anteriormente e, assim, tem-se a probabilidade de ocorrência do evento topo
indesejado.

101
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Esquematicamente, podemos representar o AAF da seguinte maneira,


conforme Cardella (2009):

FIGURA 15 – ESTRUTURA FUNDAMENTAL DE UMA ÁRVORE DE FALHAS

Falha do sistema ou acidente


(Evento Topo)

A árvore de falhas consiste em sequências de


eventos que levam à falha ou ao acidente.

As sequências de eventos são construídas


com o auxílio de portas lógicas E/OU

Os eventos intermediários (evento saída) são representados


por retângulos, com o evento descrito dentro do mesmo

As sequências levam, finalmente, a falhas primárias (básicas)


que permitem calcular a probabilidade de ocorrência do
evento-topo. As falhas básicas são indicadas por círculos e
representam o limite de resolução da árvore de falhas.

FONTE: Henley; Kumamoto (1981)

2.7 VANTAGENS DO MÉTODO


Dentre as muitas vantagens da AAF, podem-se citar, segundo Tavares
(1996):
• direciona a análise para a investigação das falhas do sistema;
• chama a atenção para os aspectos do sistema que são importantes para a falha
de interesse;
• fornece auxílio gráfico, pela visibilidade ampla, àqueles que devem administrar
sistemas e que, por qualquer razão, não participaram das mudanças nos
projetos desses sistemas;
• fornece opções para análise quantitativa e qualitativa da confiabilidade de
sistemas;
• permite ao analista concentrar-se em uma falha específica do sistema num
certo instante;
• permite compreender o comportamento do sistema. (FUSSELL, citado por
TAVARES, 1996).
102
TÓPICO 5 | AVALIAÇÃO DE RISCOS

3 ANÁLISE POR ÁRVORE DE EVENTOS (AAE) OU SÉRIE DE


RISCOS
A técnica de análise por Árvore de Eventos, também denominada por
alguns autores como Série de Riscos. É um método lógico e dedutivo que
busca identificar e analisar as sequências de eventos que podem suceder um
evento inicial. Utilizando-se de encadeamentos lógicos aplicados a cada etapa
do sistema, a técnica objetiva a determinação da frequência de ocorrência de
eventos indesejáveis.

3.1 APLICAÇÃO DA AAE


A Análise por Árvore de Eventos é efetuada seguindo-se os passos
descritos, conforme Tavares (1996) e Cardella (2009):
• definição do Evento Iniciador (semelhantemente ao Evento Topo da AAF), por
exemplo, vazamento de líquido inflamável;
• seguindo-se em frente (ao contrário da AAF) determinam-se as ações e sistemas
de segurança que podem minimizar os efeitos do Evento Iniciador, como
sistemas de ventilação e de aspersão de água;
• traçar uma árvore lógica às várias sequências de acontecimentos que podem
surgir dependendo do sucesso ou não das medidas de contenção;
• após a construção da árvore de eventos, deve-se associar a cada ramo as
probabilidades de eventos que conduzam a determinada falha (acidente).

A Árvore de Eventos é lida da esquerda para a direita, partindo-se do


evento iniciador e seguindo os eventos subsequentes. Cada linha se divide em
duas possibilidades (ramos): SIM e NÃO seguidos dos respectivos valores de
probabilidade.

Uma representação esquemática generalizada da Árvore de Eventos é


apresentada a seguir.

FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ÁRVORE DE EVENTOS

EVENTO SISTEMA DE AÇÃO AÇÃO


CONSEQUÊNCIAS
INICIADOR SEGURANÇA CORRETIVA 1 CORRETIVA 2

SIM
NENHUMA

SIM SIM
SIM NENHUMA
NÃO
NÃO FALHA TIPO 1
NÃO
FALHA TIPO 2

FONTE: O autor

103
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Para melhor ilustrar, vamos apresentar o exemplo de um descarrilhamento


de um trem, ocorrida por falha nos trilhos, trazido por Anete Alberton.

FIGURA 17 – EXEMPLO DE UM DESCARRILHAMENTO DE UM TREM

DEFEITO NA TREM COM


DEFEITO FALHA NO
DEFEITO SEVERO EQUIPAMENTO ESTRUTURA VELOCIDADE ACIDENTE PROBABILIDADE
DOS TRILHOS EXCESSIVA

NÃO (0,200)
NÃO 0,200
NÃO (0,999) NÃO (0,995)
NÃO 0,794
NÃO (0,999)
SIM (0,800) SIM 0,004
SIM (0,005)
SIM
SIM 0,001
SIM (0,001)
SIM 0,001
SIM (0,001)

FONTE: O autor

No exemplo acima, o descarrilhamento pode ser causado por qualquer uma


das três falhas apontadas, de modo que a probabilidade de que um defeito nos trilhos
produza descarrilhamento é a soma simples das três probabilidades: 0,001 + 0,001 +
0,004 = 0,006 = 0,6%.

104
TÓPICO 5 | AVALIAÇÃO DE RISCOS

LEITURA COMPLEMENTAR

DO PAPIRO EGÍPCIO A BERNARDINO RAMAZZINI

Mario Fantazzini

Os mais jovens podem não ter tido contato com este texto ou similares;
é sempre bom reposicionar o histórico da preocupação com os acidentes e as
doenças.

O problema dos acidentes e doenças ocupacionais ano é um problema


recente; ao contrário, tem acompanhado o desenvolvimento das atividades do
homem através dos séculos. Assim, o homem primitivo teve sua integridade
física ameaçada e sua capacidade produtiva diminuída pelos acidentes próprios
da caça, da pesca e da guerra, atividades que eram as mais importantes de sua
época.

Mais tarde, o caçador que habitava as cavernas, transformou-se em artesão


e passou a trabalhar em minas e com os metais, gerando as primeiras doenças
do trabalho, provocadas pelos próprios materiais que utiliza na sua atividade
laboral.

As primeiras referências escritas, relacionadas com estes problemas,


encontram-se num papiro Egípcio, que data de 2360 a.C., o chamado Papiro Seller
II, e que diz:

Eu jamais vi ferreiros em embaixadas e fundidores em missões. O que


eu vejo sempre é o operário em seu trabalho; ele se consome nas goelas de seus
fornos. O pedreiro exposto a todos os ventos, enquanto a doença o espreita,
constrói sem agasalho, seus dois braços se gastam no trabalho; seus alimentos
vivem misturados com os detritos, ele se come a si mesmo, porque só tem como
pão os seus dedos. O barbeiro cansa os seus braços para encher o ventre. O tecelão
vive encolhido, joelho ao estômago, ele não respira. As lavadeiras sobre as bordas
do rio são vizinhas do crocodilo. O tintureiro fede a morrinha do peixe; seus olhos
são abatidos de fadiga, suas mãos não param e suas vestes vivem em desalinho.

Em 460 a.C., Hipócrates, considerado o pai da medicina, também fala dos


acidentes e doenças do trabalho. Quatro séculos mais tarde, Plínio (23-79 d.C.),
após visitar alguns locais de trabalho, principalmente galerias de minas, descreve
impressionado o aspecto dos trabalhadores expostos ao chumbo, ao mercúrio e a
poeiras. Menciona então a iniciativa dos escravos em utilizarem à frente do rosto
a guisa de máscaras, panos ou membranas (de bexiga de carneiro) para atenuar a
inalação de poeiras.

105
UNIDADE 2 | RISCOS PROFISSIONAIS

Em 1556, um ano após a sua morte, Georg Bauer, mais conhecido pelo
seu nome latino de Georgius Agricola, publica em latim seu livro De Re Metalica.
Após estudar diversos aspectos relacionados à extração de metais argentíferos e
auríferos e à sua fundição, dedica o último capítulo aos acidentes do trabalho e às
doenças mais comuns entre os mineiros. Agricola dá destaque especial à chamada
“asma dos minérios”, provocada por poeiras que descreveu como “corrosivas”. A
descrição dos sintomas e a evolução da doença faz lembrar a silicose. Segundo as
observações de Agricola, em algumas regiões extrativas, as mulheres chegavam
a casar sete vezes, roubadas que eram de seus maridos, pela morte prematura
encontrada na ocupação que exerciam.

Onze anos mais tarde, surge a publicação de Paracelso (Aureolus


Theophrastus Bombastus von Hohenheim): “Dos ofícios e das doenças da
montanha”. Seu autor nasceu e viveu durante muitos anos em um centro mineiro
da Boêmia, e são numerosas as suas observações relacionando métodos de
trabalho ou substâncias manuseadas, com doenças, sendo de destacar-se, por
exemplo, que em relação à intoxicação pelo mercúrio, os principais sintomas
dessa doença profissional encontram-se ali assinalados, bem como da silicose.

Em 1700, era publicada em Módema, na Itália, a primeira edição do livro


DE MORBIS ARTIFICUM DIATRIBA, escrito pelo médico Bernadino Ramazzini
(1633-1714). Nesta obra fundamental que lhe valeu o epíteto de “Pai da Medicina
do Trabalho”, Ramazzini descreve em rara sensibilidade e grande erudição
literária, doenças que ocorrem em trabalhadores de mais de cinquenta ocupações.
Às perguntas Hipocráticas, fundamentais na anamnese, propõe Ramazzini que
se acrescente mais uma: QUAL É A SUA OCUPAÇÃO?

FONTE: FANTAZZINI, Mario. Do papiro egípcio a Bernardino Ramazzini. Revista Proteção, N. 215,
p.104, Nov. 2009.

106
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, foram apresentados os seguintes assuntos:

• Principais conceitos a serem seguidos na Avaliação de Riscos.

• O método da Análise por Árvore de Falhas (AAF).

• Diagramas lógico “E” e “OU” e a aplicação da álgebra booleana em associação


com a AAF.

• Análise por Árvore de Eventos (AAE).

107
AUTOATIVIDADE

Exercite seus conhecimentos, resolvendo as questões a seguir:

1 Conceitue com suas próprias palavras, o método de Avaliação por Árvore


de Falhas;

2 Qual a relação da Análise por Árvore de Falhas com o cálculo da


probabilidade?

3 Com base nos eventos descritos, atribua às portas lógicas convenientes e


faça sua interligação adequada.

Torrada sai
queimada da
torradeira

O dono se distrai
Falha no sistema
não notando a
de controle da
demora da
torradeira
torradeira

Falha no
Ajuste interno da
dispositivo
torradeira muito
automático de
alto
desligamento

4 No exercício anterior, considerando-se uma probabilidade de ocorrência


de 1 em 1000 para cada evento base ou evento não desenvolvido, qual a
probabilidade (percentual) de a torrada sair queimada?

108
UNIDADE 3

TRATAMENTO DE RISCOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• avaliar as consequências de eventos perigosos;

• calcular a probabilidade de falha de um componente ou sistema;

• quantificar numericamente os riscos encontrados;

• definir um plano de ação no caso de uma emergência.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos, sendo que no final de cada
um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos
estudados.

TÓPICO 1 – ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS

TÓPICO 2 – ESTUDO DE FREQUÊNCIAS

TÓPICO 3 – CÁLCULO DO RISCO

TÓPICO 4 – INSPEÇÃO DE SEGURANÇA

TÓPICO 5 – PLANOS DE AÇÃO DE TRATAMENTO DE RISCO

109
110
UNIDADE 3
TÓPICO 1

ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS

1 INTRODUÇÃO
O objetivo do estudo das consequências dos eventos perigosos é avaliar o
campo de ação do agente agressivo. Evento agressivo é qualquer elemento com
capacidade de produzir danos ou perdas, por exemplo, líquido pressurizado,
carga suspensa, veículo em movimento, radiação etc.

Segundo Cardella (2009), a avaliação das consequências se baseia na


escolha do evento perigoso adequado. Em vazamentos de líquidos inflamáveis,
os eventos perigosos são incêndio e explosão. Estes eventos perigosos, dos quais
se inicia a avaliação das consequências, são denominados Eventos Iniciadores.

Para a determinação dos eventos iniciadores, devem-se escolher


aqueles classificados nas categorias “Crítica” ou “Catastrófica” na APR,
independentemente da frequência. Desta maneira, fica assegurado que todos os
cenários causadores de grandes danos estarão quantificados no cálculo do risco.

Para cada processo analisado, o número de eventos iniciadores varia de


15 a 60, dependendo do tamanho do sistema.

Um dos pontos importantes na avaliação dos efeitos de um evento


indesejado é a análise do tipo do evento, conforme demonstrado no gráfico a
seguir:

111
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

FIGURA 18 – EVENTOS INDESEJÁVEIS E SEUS POSSÍVEIS EFEITOS

FONTE: Adaptado de: Neto (2006)

A determinação do impacto, isto é, da extensão do dano, também precisa


ser identificada e avaliada adequadamente.

FIGURA 19 – EVENTOS INDESEJÁVEIS E SEUS POSSÍVEIS EFEITOS

FONTE: Neto (2006)

2 CONDIÇÕES DO CENÁRIO
As condições ambientais também compõem um importante fator a ser
considerado no estudo das consequências. Alguns pontos importantes são
destacados, conforme Neto (2006):

• tipo de produto (composição);


• estado físico do produto (líquido, gasoso ou bifásico);
• forma de armazenamento (normal, refrigerado, saturado ou inertado);
• inventário;
• elevação em relação ao solo;
• pressão do produto;
• temperatura do produto;
• direção do vazamento (vertical, horizontal, impinging, angular);
• área da bacia de contenção;

112
TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS

• tipo de piso onde está instalado;


• localização (área externa ou interna);
• condições climáticas.

3 ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS PARA VAZAMENTOS DE


SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS
Uma das situações mais críticas na Análise das Consequências é a
ocorrência de vazamento de líquidos perigosos, devido às suas implicações
(incêndios, intoxicações etc.).

Uma boa ferramenta de análise de consequências para estes casos deve


abordar:
• comportamento do produto no meio ambiente;
• estimativa dos efeitos físicos (toxidez, inflamabilidade, ondas de pressão etc.).

Os resultados desta análise são utilizados como auxílio na elaboração


de Planos de Respostas Emergenciais. Estas análises envolvem, muitas vezes,
conhecimentos aprofundados das características físico-químicas dos produtos
analisados de forma que pode ser necessário o auxílio de profissionais competentes
no assunto. Conjuntamente podem-se utilizar programas de computador
especializados na modelagem de cenários envolvendo produtos perigosos.

3.1 METODOLOGIA
A análise de eventos indesejados envolvendo derramamentos ou
vazamentos de líquidos apresenta alguns fatores a serem analisados a seguir.

3.1.1 Modelos de desprendimento do líquido


São eles:
• líquidos, gases ou fluidos bifásicos;
• produtos simples ou multicomponentes;
• vazamentos internos ou externos;
• vazamentos em tubulações longas (dutos);
• derrames instantâneos ou contínuos.

3.1.2 Modelos de dispersão previstos


São importantes para predizer a forma, tamanho e concentração das
nuvens bem como são utilizados para estimar os efeitos tóxicos.

113
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

Os tipos de dispersão podem ser:


• nuvens gaussianas (passivas);
• formação de poças;
• formação de jatos;
• formação de aerossóis (sprays).

3.1.3 Modelos de inflamabilidade


São eles:
• níveis de radiação:
О incêndios em poças;
О incêndio em jato;
О bolas de fogo;
• áreas de deflagração (atmosfera explosiva);
• níveis de sobrepressão:
О explosões de nuvens em vapor;
О explosões confinadas.

3.1.4 Avaliação de toxidez


São as seguintes:
• concentração em função da distância na direção do vento;
• concentração em função do tempo em qualquer ponto da nuvem;
• nuvens baixas;
• comportamento da concentração no interior de edificações;
• valores probit (probabilidade de morte).

3.1.5 Direção do vazamento


É importante também a consideração da direção do vazamento,
demonstrado na figura a seguir:

114
TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS

FIGURA 20 – DIREÇÕES DE VAZAMENTOS

FONTE: Neto (2006)

3.1.6 Tempo médio de exposição


É um parâmetro utilizado na modelagem de concentrações instantâneas de
substâncias tóxicas. Aplicam-se quando há dificuldades de previsão decorrentes
de fatores meteorológicos ou na presença de focos locais.

Segundo Cardella (2009), os efeitos da exposição aos campos de ação


agressiva são estimados quantitativamente por estudos que utilizam modelos
de vulnerabilidade. Estes modelos matemáticos, desenvolvidos para cada tipo de
evento, fornecem previsões de danos causados a pessoas, ambiente e patrimônio
que forem expostos ao impacto.

Segundo Neto (2006), os modelos de seleção adotados variam de acordo


com o nível de interesse da análise, que podem ser:
• ERPG – 60 minutos;
• IDLH – 30 minutos;
• STEL – 15 minutos.

3.1.7 Modelos de inflamabilidade utilizados


Os modelos utilizados são:
• bola de fogo;
• incêndio em jato;
• incêndio em poças;
• explosões;
• deflagração.

115
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS


Qualitativamente, as consequências de eventos danosos podem ser
classificadas conforme o quadro a seguir. Deve-se ter em mente que esta tabela
tem como foco o dano sofrido pelo homem, mas podem ser elaboradas relações
referentes a danos causados ao meio ambiente ou patrimônio.

QUADRO 12 – CATEGORIAS DE CONSEQUÊNCIAS

Categoria Qualitativa Caracterização Eventos típicos

0 Desprezível Incômodos passageiros. Cotoveladas, batidas leves.

Lesões de recuperação muito Torções muito leves,


1 Muito leve rápida, queimaduras de contato com substâncias
vermelhidão passageira. quentes.

Lesões que provocam


Torções muito leves, cortes
sofrimentos passageiros e não
provocados por folha de
levam à incapacidade para o
2 Leve papel, picadas de abelha,
trabalho ou atividades normais
contato com corpos ou
do quotidiano; queimaduras de
materiais quentes.
primeiro grau.

Lesões que não resultam


em danos permanentes,
Torções leves, contato com
mas provocam sofrimentos
substâncias quentes, ação
3 Média baixa e incapacidade temporária
de corpos cortantes ou
por período menor que
perfurantes.
uma semana. Fraturas,
queimaduras, cortes.
Lesões que não resultam
em danos permanentes, Quedas, contato com
mas provocam sofrimentos corpos ou materiais com
4 Média consideráveis e incapacidade temperatura elevada, ação
temporária por período maior de corpos cortantes ou
que uma semana. Fraturas, perfurantes.
queimaduras, cortes.

Lesões que resultam em Exposição a ruídos de


perda permanente de funções, elevado nível de pressão
mas não afetam de forma sonora, corpos e materiais
5 Média alta
acentuada as essenciais a uma a temperaturas muito
vida normal. Surdez parcial, elevadas, ação de corpos
queimaduras e cicatrizes. cortantes ou perfurantes.

Projeções de líquidos
Lesões que incapacitam para o muito quentes ou muito
6 Grave trabalho ou outras atividades. corrosivos sobre os
Cegueira, perda de membros. olhos, ação de máquinas
prensantes ou cortantes.

116
TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS

Descarga elétrica em
tensão elevada ou mesmo
baixa se a pessoa estiver
7 Muito grave Uma morte.
molhada, inalação de gases
tóxicos em concentração
elevada e quedas.

Explosões, vazamentos
Extremamente
8 Algumas mortes. de gases tóxicos,
grave
desabamentos.
Explosões de grandes
quantidades de material,
bolas de fogo de grandes
9 Catastrófica Grande número de mortes.
dimensões, radiações
por fontes de elevada
atividade.
FONTE: Cardella (2009)

3.3 ANÁLISE DE VULNERABILIDADE


A análise de vulnerabilidade tem como objetivo principal verificar a
toxidez da substância derramada bem como seus efeitos sobre o ser humano.
Este último é realizado com base em dois parâmetros:

• exposição com nível de letalidade de 1% a 50%;


• exposição ao IDLH.

3.3.1 Exposição ao IDLH


A sigla IDLH (Immediately Dangerous to Life or Health) pode ser traduzida
para o português como “Imediatamente perigoso à vida e à saúde (IPVS) e se
refere à máxima concentração no ar de alguma substância em que um trabalhador
saudável (do sexo masculino) pode ficar exposto por 30 minutos e ainda ser capaz
de escapar sem perda de vida ou dano irreversível à saúde. (NETO, 2006)

Alguns valores de IDLH, segundo a classificação mais recente da NIOSH


(Instituto Americano de Saúde e Segurança Ocupacional):

117
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

QUADRO 13 – ÍNDICES DE IDLH

Substância Concentração
Amônia 300 ppm
Benzeno 500 ppm
Álcool Etílico 3.300 ppm
Sílica 25 a 50 mg/m³
Chumbo 100 mg/m³

FONTE: NIOSH (2010)

3.3.2 Nível de letalidade de 1% e de 50%


Os níveis de letalidade se referem à concentração de substância no ar
capaz de matar 1% (ou 50%, dependendo do índice) de cobaias expostas.

Alguns valores típicos são mostrados a seguir:

QUADRO 14 – ÍNDICE DE LETALIDADE DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS

1% de fatalidade 50% de fatalidade


Ácido Sulfídrico 863,94 ppm 2.944,86 ppm
Amônia 9.446,75 ppm 30.285,56 ppm

‘FONTE: Neto (2006)

3.3.3 Radiação térmica


A radiação térmica, seja emitida pelo Sol ou por fonte de calor artificial,
também é um aspecto importante a ser considerado na Análise de Vulnerabilidade,
dada sua periculosidade e relativa frequência.

A seguir são demonstrados dois quadros que descrevem, respectivamente,


a relação entre o nível de radiação térmica e a taxa de mortalidade, bem como o
nível de radiação com os efeitos causados sobre uma pessoa.

QUADRO 15 – NÍVEIS DE RADIAÇÃO × TEMPO DE EXPOSIÇÃO × FATALIDADE

Tempo de Exposição (s)


Radiação Térmica
Probabilidade de Fatalidade (%)
(kW/m²)
1 50 99
5,0 150 370 930
12,5 30 80 200
37,5 8 20 50
FONTE: Neto (2006)

118
TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS

QUADRO 16 – EFEITOS DOS NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO

Radiação Térmica (kW/m²) Efeito Observado


1 Sol ao meio-dia.
1,6 Não causa efeito por longa exposição.
1,75 Limite de dor alcançado após 60 segundos.
2 Danos a cabos de energia com isolação em PVC.
4 Limite de dor alcançado após 20 segundos.
5 Limite de dor alcançado após 15 segundos.
Limite de dor alcançado após 8 segundos.
6,4
Queimaduras de 2º grau após 20 segundos.
Fusão de tubulações plásticas.
Ignição de roupas.
12,5
Ignição de madeira.
Queimaduras de 1º grau após 10 segundos.
16 Queimaduras graves após 5 segundos.
Ignição espontânea da madeira.
25
Perigo à vida.
Danos aos equipamentos industriais.
37,5
Perigo à vida.

FONTE: Neto (2006)

3.3.4 Sobrepressão
Explosões ou deflagrações de substâncias inflamáveis provocam
deslocamentos de ar cuja consequência é uma variação de pressão brusca
(sobrepressão). Dependendo da intensidade do fenômeno, as consequências
sobre o organismo humano podem ser fatais, conforme ilustrado pelos quadros
a seguir.

QUADRO 17 – EFEITOS DA SOBREPRESSÃO SOBRE O MEIO AMBIENTE

Sobrepressão (psig) Dano Esperado


0,02 Estrondo alto (137 dB, baixa frequência – 10 a 15 Hz).
Quebra ocasional de janelas grandes que já estejam
0,03
sob tensão.
Estrondo muito alto 143 dB. Trinca de vidros
0,04
abaulados.
0,10 Quebra de janelas pequenas sob pressão.
0,15 Pressão típica para trinca de vidros.
Alguns danos nos tetos das casas. Quebra de 10% dos
vidros das janelas. “Distância segura” (probabilidade
0,30
de 95% de não ter dano sério além desta área). Limite
de estilhaços.
0,40 Limite inferior de dano estrutural.

119
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

As janelas normalmente são destruídas e algumas


0,50 a 1,00
apresentam a armação danificada.
0,70 Pequenos danos nas estruturas das casas.
1,0 Demolição parcial de casas, que ficarão inabitáveis.
Destruição de asbesto corrugado. Falhas nas amarras
das chapas de aço ou painéis de alumínio, seguido
1,0 a 2,0
de deformação. Destruição da amarração dos painéis
(tábuas) de madeira das casas comuns.
Faixa onde os estilhaços podem causar ferimentos
1,0 a 8,0
leves ou graves na pele.
Leve distorção da armação de aço dos edifícios
1,3
fechados.
2,0 Colapso parcial das paredes e telhados das casas.
Destruição das paredes de concreto ou de blocos não
2,0 a 3,0
reforçados.
2,3 Limite inferior de sérios danos na estrutura.
Faixa de 1 a 90% de ruptura dos tímpanos das
2,4 a 12,2
populações expostas (ver tabela seguinte).
2,5 Destruição de 50% das casas de alvenaria.
Distorções das construções com armação de aço, que
3,0 são movidas do fundamento. Pequenos danos em
máquinas pesadas (1.400 kg), nos edifícios industriais.
Destruição das construções de painéis de aço sem
3,0 a 4,0 armação. Ruptura de tanques de armazenagem de
óleo.
4,0 Ruptura de construções industriais leves cobertas.
Destruição de áreas arborizadas. Leves danos em
5,0 grandes prensas hidráulicas (18.200 kg), no interior
das construções.
5,0 a 7,0 Destruição quase total das casas.
7,0 Tombamento de vagões de trens carregados.
Trinca nos tijolos não reforçados de 20-30 cm de
7,0 a 8,0
espessura, por tensão de cisalhamento.
9,0 Demolição de vagões fechados de trem.
Provável destruição total de construções. Partes
pesadas de máquinas (3.200 kg) se movem e ficam
10,0
muito danificadas. Partes muito pesadas de máquinas
resistem.
Faixa de 1 a 99% de fatalidade das populações
15,5 a 29,0 expostas, devido ao efeito direto da explosão (ver
tabela seguinte).
300 Limite de borda da cratera.
FONTE: Neto (2006)

120
TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS

QUADRO 18 – EFEITOS DA SOBREPRESSÃO SOBRE A SAÚDE HUMANA

Sobrepressão necessária para causar: (em psig)


Probabilidade do dano (%) Morte por hemorragia
Ruptura de tímpano
pulmonar.
1 2,23 14,5
10 2,76 17,4
50 6,24 20,3
90 12,18 25,4
99 - 29,0
FONTE: Neto (2006)

Um dos grandes problemas causados pela sobrepressão é o que se


denomina “efeito dominó”, que aparece quando os danos causados são tão
grandes nas estruturas e equipamentos vizinhos que podem causar um novo
vazamento.

4 BENEFÍCIO DA ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS


Segundo Neto (2006), o estudo das consequências é importante para:
• rever as atuais localizações, distribuição e projeto das instalações (equipamentos
e edificações);
• determinar modificações;
• cumprir regulamentações;
• promover a conscientização da segurança;
• auxiliar na elaboração de planos de contingência.

121
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, foram apresentados os seguintes assuntos:

• Avaliação das condições dos cenários de acidentes.

• Análise de agentes agressivos quanto à sua toxidez, modo de dispersão,


inflamabilidade e tempo médio de exposição.

• Classificação das consequências quanto à sua gravidade.

• Análise da vulnerabilidade do ser humano quanto à exposição de substâncias


agressivas.

• Efeitos da sobrepressão no organismo humano e meio ambiente.

122
AUTOATIVIDADE

Com base no conteúdo estudado, resolva as questões a seguir.

1 O que são eventos iniciadores? Como é feita a sua escolha?

2 Qual o objetivo de se realizar uma Análise de Consequências?

3 O que é o tempo médio de exposição?

4 Quais os benefícios de se fazer uma Análise de Consequências?

123
124
UNIDADE 3
TÓPICO 2

ESTUDO DE FREQUÊNCIAS

1 INTRODUÇÃO
Antes de prosseguirmos, vamos relembrar alguns conceitos vistos
anteriormente.

E
IMPORTANT

• RISCO é a avaliação do cenário de perigo, associando probabilidade de


ocorrência e a gravidade de suas consequências. Podemos representar este conceito por:

RISCO = GRAVIDADE × PERIGO

• ANÁLISE DE RISCOS é a avaliação qualitativa ou quantitativa dos riscos apresentados por


uma instalação ou atividade.

• PREVENÇÃO é a diminuição da probabilidade de ocorrência do evento indesejável.

• PROTEÇÃO é a diminuição da gravidade das consequências do evento indesejável.

Vimos também a avaliação qualitativa de frequência:

QUADRO 19 – MATRIZ DE RISCO

Gravidade
Desprezível Moderada Crítica Catastrófica
Frequência
Frequente Médio Alto Muito Alto Muito Alto
Ocasional Baixo Médio Alto Muito Alto
Possível Muito Baixo Baixo Médio Alto
Improvável Muito Baixo Muito Baixo Baixo Médio

FONTE: Neto (2006)

125
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

2 OBJETIVO
Segundo Neto (2006), o objetivo do estudo de frequências é identificar
combinações de falhas em equipamentos e erros humanos que podem resultar
num acidente.

É utilizado para realizar análises em sistemas e/ou com grande


redundância.

3 ESTUDO DE FREQUÊNCIA
Inicia-se pela determinação do evento iniciador:
• é o evento responsável pela ocorrência do acidente;
• um evento iniciador pode dar origem a vários cenários diferentes.

Determinação do cenário de acidente:


• refere-se a cada uma das várias possibilidades de evolução de um acidente, a
partir do evento iniciador.

3.1 SELEÇÃO DE EVENTOS INICIADORES


Selecionar os eventos iniciadores identificados na APR como pertencente
às categorias de consequência Crítica ou Catastrófica, independente das categorias
de frequência.

3.2 EVENTO INICIADOR


O evento iniciador pode ser simples ou complexo, vejamos a seguir.

3.2.1 Simples
É quando um único evento dá origem a um acidente com características
bem definidas. Por exemplo: ruptura intrínseca de uma tubulação.

126
TÓPICO 2 | ESTUDO DE FREQUÊNCIAS

3.2.2 Complexo
Várias causas concorrem para dar origem ao acidente. Como exemplo,
podemos citar o transbordamento de um tanque, a explosão de um tanque devido
a uma reação descontrolada.

3.3 AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA PARA EVENTOS


INICIADORES SIMPLES
Para eventos simples, a avaliação das frequências pode ser determinada
como a soma de todas as taxas de falhas relativas aos modelos considerados,
conforme a expressão:

f(EI)
= ∑ nλn

Onde:

λn = taxa de falhas

3.4 AVALIAÇÃO DE FREQUÊNCIA PARA EVENTOS


INICIADORES COMPLEXOS
Nestes casos em que várias causas colaboram para a ocorrência do
acidente, é necessário recorrer ao auxílio da Análise por Árvore de Falhas.

Vamos analisar o transbordamento de um tanque sob esta metodologia.

127
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

FIGURA 21 – ÁRVORE DE FALHAS DO TRANSBORDAMENTO DE UM TANQUE


Frequência de
transbordando
do tanque

Frequência Probabilidade de
anual de falha do sistema
de controle de
enchimento enchimento do
do tanque tanque

Falha do Falha do
controle sistema de
manual de controle
enchimento automático

Falha do Falha humana:


Falha no Falha do Falha em
sensor de operador não
transmissor alarme de fechar a
nível do atende ao
de nível nível alto válvula
tanque alarme

FONTE: Neto (2006)

4 CÁLCULOS DIVERSOS
A seguir, você irá conhecer os vários tipos de cálculos e sua finalidade.

4.1 CÁLCULO DA CONFIABILIDADE


É a avaliação da (não) confiabilidade de um componente ou sistema
no intervalo de tempo da sua vida útil. Em outras palavras, é o cálculo da
probabilidade de falha do componente antes deste completar sua vida útil
esperada. Utiliza-se a expressão a seguir:

P(t) = e −λ.t

128
TÓPICO 2 | ESTUDO DE FREQUÊNCIAS

Onde:
• P(t) = confiabilidade do componente;
• λ = taxa de falhas (dados do fabricante ou levantamento histórico);
• t = é a vida útil considerada.

Define-se, ainda, como probabilidade de falhas, ou não confiabilidade, o


complemento de P(t), expresso por:

Q(t) = 1 − P(t)

Para auxiliar a compreensão deste conceito, vamos analisar o exemplo a


seguir.

Exemplo 1: Uma bomba de combate a incêndio tem uma taxa de falhas


de 1,4 ×10-4 falhas/hora. Qual a probabilidade de ela falhar antes de completar
um ano de uso?

Solução:

O tempo considerado é de 1 ano, ou 8.760 horas e a taxa de falhas λ = 1,4×10-


4
/h, portanto, aplicando-se a expressão para o cálculo da confiabilidade temos:

−4
−λ .t
P(
= t ) e= e −( 8.760 x1,4 x10
= )
0 , 2933

Ou, percentualmente, P(t) = 29,33%

Logo, a probabilidade de falhas será: Q(t) = 100% - P(t) = 70,67%

4.2 PROBABILIDADE DE FALHA DE UM COMPONENTE


TESTADO PERIODICAMENTE
A probabilidade de um componente não atuar corretamente quando
solicitado é calculada pela expressão:

λ.θ
Q med =
2

Onde:
• λ é a taxa de falhas;
• θ é o intervalo entre os testes.

129
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

Para ilustrar uma aplicação envolvendo o conceito de probabilidade de


falha aplicada a componentes testados periodicamente, vamos estudar a situação
a seguir.

Exemplo 2: Um pressostato é colocado em um tanque com o objetivo


de comandar o fechamento de uma válvula em caso de pressão alta naquele
recipiente. Sabendo-se que o pressostato é testado semestralmente, qual a
probabilidade de ele não enviar o sinal de atuação da válvula quando da
ocorrência de pressão alta no tanque? Dado do fabricante: a taxa de falhas do
pressostato é de 2,0 × 10-5 /h.

Solução:

Sendo o teste efetuado a cada 6 meses, corresponde a um intervalo de 4.380


horas. Aplicando-se este valor na expressão temos:

λ.θ 2 x10−5 x 4.380


Qmed
= = = 4 , 38 x10−2 / semestre
2 2

4.3 TAXA DE FALHAS DE UM COMPONENTE MONITORADO


Avalia-se a indisponibilidade média de um componente de funcionamento
contínuo para um dado período de atividade. O valor corresponde a uma fração do
período em que o componente não está funcionando (está parado para manutenção).

Qmed = λ.τ

Onde:
• λ é a taxa de falhas;
• τ é o tempo médio de reparo.

Um exemplo para o cálculo de indisponibilidade de um componente não


reparável é apresentado a seguir.

Exemplo 3: Uma bomba opera continuamente fornecendo a


matéria-prima para uma determinada instalação do processo. Calcule a
indisponibilidade média da planta devido a falhas da bomba bem como o
número médio de horas paradas por ano. Dados: λ = 6,0 × 10-5/h; tempo médio
para reparo: 8 h.

Solução:
Qmed = λ.τ = 6,0 ×10-5 × 8 = 4,8 × 10-4
Horas paradas por ano: 4,8 × 10-4 × 8.760 = 4,3 h/ano.
130
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, foram apresentados os seguintes assuntos:

• Como escolher adequadamente os eventos iniciadores para uma Análise de


Frequências eficaz.

• Distinção entre eventos iniciadores simples e complexos.

• Como realizar o cálculo da probabilidade de ocorrência de um evento iniciador


simples e de um complexo.

• Cálculo da confiabilidade de um sistema.

• Cálculo de falhas de sistemas ou equipamentos de funcionamento contínuo.

131
AUTOATIVIDADE

Baseado no que você estudou até agora, responda as questões a seguir.

1 Qual a diferença entre um evento iniciador simples e um complexo?

2 Um sensor de fumaça de um alarme de incêndio possui uma taxa de falhas


de 2,25 × 10-5 /h. Qual a probabilidade percentual do sensor falhar num
prazo de 5 anos?

3 Um distribuidor tem à venda dois modelos de sensores de temperatura


fabricados por diferentes empresas. O sensor da empresa 1 apresenta uma
taxa de falhas de 1,5 × 10-5 /h e, segundo o fabricante, deve ser testado a cada
6 meses. Já o sensor da empresa 2 apresenta uma taxa de falhas de 20 × 10-
6
/h e tem a recomendação de ser verificado uma vez por ano. Seguindo-se
as recomendações das empresas, qual sensor terá uma probabilidade de
falhas menor?

4 O motor do sistema de ventilação de um equipamento industrial apresenta


uma taxa de falhas de 4,60 × 10-5 /h e um tempo de reparo de 4 horas. Qual
a indisponibilidade média, percentual, deste motor? Quantas horas por ano
se esperam que ele fique parado para reparos?

132
UNIDADE 3
TÓPICO 3

CÁLCULO DO RISCO

1 INTRODUÇÃO
Vimos, anteriormente, que o risco pode ser compreendido como a
avaliação do cenário de perigo, associando a probabilidade de ocorrência e a
gravidade de suas consequências.

A problemática referente ao risco associa o conceito de valor que pode ser


percebido de maneira diferente pelas pessoas, em função da época, local, política,
enfim, em função do ambiente em que o risco está inserido. (NETO, 2006)

Segundo Cardella (2009), a Tolerabilidade ou Aceitabilidade do Risco


é a análise dos riscos cotidianos da população através de dados estatísticos
disponíveis.

Alguns valores de probabilidade de riscos são apresentados a seguir:

QUADRO 20 – PROBABILIDADE DE RISCOS DIVERSOS

CAUSA PROBABILIDADE
Doenças do coração 3,4 × 10-3
Câncer 1,6 × 10-3
Acidentes do trabalho 1,5 × 10-4
Veículos automotivos 2,1 × 10-4
Homicídios 9,3 × 10-5
Quedas 7,4 × 10-5
Afogamentos 3,7 × 10-5
Queimaduras 3,0 × 10-5
Sufocamento 1,3 × 10-5
Acidentes com armas 1,1 × 10-5
Trens 9,0 × 10-6
Aviação Civil 8,0 × 10-6
Transporte marítimo 7,8 × 10-6
FONTE: Neto (2006)

133
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

2 TOLERABILIDADE OU ACEITABILIDADE DO RISCO


É a comparação dos riscos causados pela empresa com os riscos sociais
“normais”, ou seja, riscos externos aos da empresa.

Para tanto foi necessária a geração de critérios baseados em estudos


avançados em Análise de Riscos. Há, portanto, duas formas de avaliação de riscos:
• Risco Individual
• Risco Social

2.1 RISCO INDIVIDUAL


Refere-se ao nível de risco de uma determinada área durante o período de
um ano. Sua determinação é feita da seguinte maneira:
• Faz-se uma condensação da probabilidade de fatalidade de uma pessoa
presente no local, sobre cada incidente.
• A somatória é realizada pelas diversas localizações individuais, desenhadas ao
redor de um mapa padrão de toda a área. Estas curvas são chamadas de curvas
de ISO-risco.
• Os contornos de risco são desenhados então, unindo todas as áreas de riscos de
valores iguais.
• Normalmente o risco decai rapidamente com a distância, por isso os contornos
são somente desenhados pelo decréscimo ordenado do valor do risco (escala
logarítmica), por exemplo: 10-5, 10-6, 10-7 etc.

FIGURA 22 – MAPA COM LINHAS ISO-RISCO

FONTE: O autor

134
TÓPICO 3 | CÁLCULO DO RISCO

No mapa acima, a linha mais espessa representa o valor 1 × 10-5, considerado


o limite aceitável (este valor pode variar dependendo da situação). À medida que
as linhas se afastam do centro, o nível de risco decai. Em direção ao centro do
círculo, os valores vão aumentando até o ponto de risco máximo que é 1.

Existem diversos critérios para a aceitação de um determinado Risco


Individual de acordo com o órgão ambiental local. O estabelecimento desses
níveis envolve a discussão da tolerabilidade dos riscos, que depende de um
julgamento por vezes subjetivo e pessoal, envolvendo temas complexos, como
por exemplo, a percepção dos riscos, que varia consideravelmente de indivíduo
para indivíduo. (NETO, 2006)

Os níveis de risco podem ser divididos conforme demonstrado na figura


a seguir.

FIGURA 23 – REGIÕES DE RISCO

Região de risco limite superior


intolerável

Região de risco
gerenciável ou de
"julgamento"

Região de risco
limite inferior
tolerável

FONTE: Neto (2006)

Os valores limites de risco adotados por alguns órgãos e países são


mostrados a seguir:

QUADRO 21 – LIMITES DE RISCO ADOTADOS


LOCAL SUPERIOR (fatalidades/ano) INFERIOR (fatalidades/ano)
São Paulo (CETESB) 1 ×10-5 1 ×10-6
Rio de Janeiro (FEEMA) 1 ×10 -5
1 ×10-6
Inglaterra 1 ×10 -5
1 ×10-6
Holanda (antigo) 1 ×10-5 1 ×10-6
Holanda (novo) 1 ×10 -6
1 ×10-8
FONTE: Neto (2006)

135
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

Os contornos de risco também podem ser usados para a determinação do


nível de exposição de populações críticas, como por exemplo, escolas, conjuntos
residenciais ou hospitais. Desta forma, tem-se uma noção do reisco a que estas
populações estão sujeitas. (Neto, 2006).

2.2 RISCO SOCIAL


O risco social leva em consideração o número de vítimas resultante de
cada incidente. O risco é apresentado na forma de um gráfico que fornece o
risco cumulativo de múltiplas fatalidades (frequências por ano, F) em função do
número de fatalidades (N). Isto é denominado Curvas FN.

As Curvas FN são apresentadas em um gráfico com escala log-log, e como


resultado, percebe-se que qualquer pequena mudança na curva gera uma grande
alteração do risco.

FIGURA 24 – CURVA DE TOLERABILIDADE DE RISCO SOCIAL PROPOSTA PELO CETERB

1E-02
FREQUÊNCIA DE FATALIDADES

1E-03
intolerável
1E-04

1E-05

1E-06 gerenciável

1E-07

1E-08 negligenciável

1E-09
1 10 100 1000 10000
Nº DE FATALIDADES

FONTE: Ceterb (2010)

As curvas FN são úteis na obtenção de percepção da natureza total do risco.


O risco descrito na Curva FN pode indicar uma preponderância de incidentes
de baixa fatalidade, ou uma grande chance de ocorrerem eventos com grande
número de fatalidades.

Como no Risco Individual, no Risco Social também existem diversos


critérios para a aceitação de riscos, de acordo com o órgão ambiental vigente
no local.

136
TÓPICO 3 | CÁLCULO DO RISCO

2.2.1 Dados necessários


Para a elaboração de um gráfico de curvas FN, são necessários os seguintes
dados:
• frequência dos eventos;
• frequência relativa das direções do vento na região;
• frequência relativa das intensidades das velocidades do vento na região;
• frequência relativa das classes de estabilidade atmosférica na região;
• probabilidade e mapeamento de presença das fontes de ignição;
• densidade demográfica por região ou tipo de população.

2.2.2 Frequência do evento


Pode ser:
• através do estudo de frequência;
• consulta a banco de dados;
• utilização da análise de árvore de falhas.

2.2.3 Frequência das condições climáticas


Coleta e estudo estatístico das incidências das diversas condições
climáticas.

QUADRO 22 – REGISTRO DOS VENTOS EM NA REGIÃO CENTRO


Classe de
Frequência do Vento por Direção (%) Total
Velocidade
(m/s) N NE E S SE SW W NW (%)
0 – 2,0 7,81 8,71 7,34 3,67 4,86 2,31 3,27 4,48 42,46
2,0 – 4,0 3,71 6,48 7,40 4,70 5,29 0,97 3,36 3,41 35,32
> 4,0 0,55 0,50 1,01 6,69 7,59 2,08 2,70 1,10 22,22
TOTAL 12,07 15,70 15,75 15,06 17,74 5,36 9,33 8,99 100
FONTE: Neto (2006)

2.2.4 Fontes de ignição


As fontes de ignição utilizadas são aquelas de maior representação, ou
seja, que tenha uma das características a seguir:
• presença contínua;
• alta probabilidade de ignição;
• alta frequência de ocorrência;
• proximidade do armazenamento de produtos inflamáveis;
• grande área ou extensão.

137
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

2.2.5 Densidade demográfica


Regiões com alta concentração demográfica impõem maiores cuidados na
análise de riscos.

QUADRO 23 – EXEMPLO DE DENSIDADES DEMOGRÁFICAS VARIADAS

População Densidade Demográfica


Bairro Área (ha)
(hab) (hab/ha)
Açude 8955 104,12 86,01
Aeroclube 1433 116,82 12,27
Água limpa 9306 5,64 97,30
Aterrado 5753 112,93 50,94
Barreira cravo 2174 28,2 77,09
Bela Vista 910 19,28 47,20
Belmonte 15610 285,75 54,63
Belo Horizonte 3421 20,11 170,11
Brasilândia 3579 70,63 50,67
Conforto 8500 88,29 96,27
Dom Bosco 2079 32,54 63,89
Eucaliptal 7279 45,86 158,72
Jardim Amália 6167 152,33 40,48
Jardim Belvedere 1070 65,78 16,27
Jardim Europa 810 14,04 57,69
Jardim Pe. Josimo Tavares 3122 126,36 24,71
FONTE: Neto (2006)

QUADRO 24 –TAXA DE MORTALIDADE DE ALGUNS RISCOS VOLUNTÁRIOS E INVOLUNTÁRIOS


NO REINO UNIDO

Taxa de mortalidade (óbitos/


Riscos
ano)
Tomar pílula anticoncepcional 2 × 10-5
Voluntário

Jogar futebol 4 × 10-5


Risco

Subir montanha 4 × 10-5


Dirigir um carro 17 × 10-5
Fumar (20 cigarros/dia) 500 × 10-5
Transporte de petróleo e produtos químicos 0,2 × 10-7
Queda de avião 0,2 × 10-7
Risco Involuntário

Explosão de vaso de pressão 0,5 × 10-7


Relâmpago 1 × 10-7
Enchente de rios 1 × 10-7
Vazamento de uma usina nuclear 1 × 10-7
Incêndio 150 × 10-7
Leucemia 800 × 10-7
Queda de meteorito 6 × 10-11
FONTE: Cardella (2009)

138
TÓPICO 3 | CÁLCULO DO RISCO

2.2.6 Etapas finais


Por fim, para o tratamento de risco, ficam as seguintes etapas a serem
realizadas:
• implementação das recomendações (medidas preventivas e de proteção);
• recálculo do risco;
• conclusão final.

139
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você viu que:

• Há dois conceitos de risco: o risco individual e o risco social.

• Risco individual é aquele considerado numa determinada área pelo período de


um ano.

• Risco social é aquele que leva em consideração o número de fatalidades bem


como a sua frequência durante um determinado período.

• Condições climáticas, fontes de ignição e densidade demográfica são fatores


que contribuem para o risco.

140
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir:

1 Na análise de risco individual, o que significa a Região de Risco Gerenciável?

2 O que são curvas FN?

3 Quais os dados necessários para a elaboração das curvas FN?

141
142
UNIDADE 3
TÓPICO 4

INSPEÇÃO DE SEGURANÇA

1 INTRODUÇÃO
Um programa de prevenção de acidentes do trabalho é composto de
dois tipos de atividades a serem desenvolvidas pelo Serviço de Segurança: a
inspeção de Segurança e a Investigação de Acidentes. A primeira, a partir de uma
verificação de riscos mais comuns, inerentes a qualquer instalação industrial,
como instalações elétricas inadequadas ou falta de equipamento de combate ao
fogo, possibilita propor uma série de medidas que visem eliminar ou neutralizar
os riscos encontrados. (CARDOSO, 2005)

E
IMPORTANT

Risco é um fator que pode provocar perdas.

Risco = Gravidade x Probabilidade

É um acontecimento: possível, incerto, passível de perdas, acidental.


Perigo: potencial, ou energia, que em determinado cenário (ou situação) causa danos (é
inerente ao cenário/situação).

Existem, no entanto, determinados riscos que variam muito de uma


empresa para outra, por terem relação com o espaço físico, produto fabricado,
processos e outros. Portanto é necessário que haja uma análise dos acidentes
ocorridos e através deles, identificar condições ou atitudes inseguras mais
específicas, objetivo pelo qual se executa a Inspeção de Segurança.

143
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

2 OBJETIVOS
Os principais objetivos das inspeções são a identificação:
• das deficiências em ambientes de trabalho, equipamentos, treinamentos,
normas e procedimentos;
• dos riscos e problemas potenciais nas instalações e operações;
• dos efeitos resultantes das modificações de processo, materiais ou ambiente;
• das deficiências nas ações preventivas e/ou corretivas;
• das ações recomendadas em inspeção anteriores e que não foram implementadas.

Além disso, as inspeções buscam fornecer informações para tomadas de


decisões bem como demonstram compromisso com o Programa de Gerenciamento
de Riscos.

3 CONCEITOS E PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA


A inspeção de segurança consiste numa busca esquematizada de riscos
comuns, já conhecidos teoricamente. Esse conhecimento teórico facilita a
eliminação ou minimização do risco, pois as soluções necessárias são conhecidas
e documentadas.

FIGURA 25 – PROCEDIMENTOS PARA CONTROLE E GERENCIAMENTO DE RISCOS

IDENTIFICAR ANALISAR TRATAR

RISCOS

MEIO
EMPRESA PESSOAS COMUNIDADE
AMBIENTE

FONTE: Neto (2006)

Os riscos mais comuns detectados numa inspeção de segurança são:


• ausência de proteção nas máquinas;
• desordem e higiene ambiental inadequadas;
• ferramentas em mau estado;
• iluminação deficiente;

144
TÓPICO 4 | INSPEÇÃO DE SEGURANÇA

• instalações elétricas fora de qualquer padrão de segurança;


• pisos escorregadios ou em más condições de conservação;
• obstrução ou ineficiência de saídas;
• equipamentos de proteção contra incêndio danificados ou insuficientes.

A inspeção de segurança pode envolver, além do corpo técnico da área


de Segurança do Trabalho, demais funcionários da empresa. Um operador que
receba determinada ferramenta defeituosa deverá, mediante inspeção visual,
solicitar a sua substituição. Não há motivos para se aguardar o momento da
inspeção de segurança para efetuar a troca da ferramenta defeituosa.

4 TIPOS DE INSPEÇÃO DE SEGURANÇA


As inspeções de segurança podem ser classificadas da seguinte maneira,
de acordo com sua abrangência e objetivos.

FIGURA 26 – ETAPAS DE UMA INSPEÇÃO DE RISCOS

Inspeção de Riscos

Inspeção Informal Inspeção Planejada

Partes Críticas S.O.L / Geral

FONTE: Neto (2006)

4.1 INSPEÇÃO INFORMAL


É aquela efetuada pelos próprios trabalhadores (operadores e supervisores)
no exercício de seu trabalho normal. Os operadores têm a necessidade de
instrução e educação conveniente no sentido de inspecionarem suas ferramentas,
EPIs, máquinas, antes de iniciarem seus respectivos trabalhos. Trata-se de
uma inspeção simples e rápida, mas que possibilita a descoberta de falhas com
potencial para causar acidentes.

Os encarregados de setor têm algumas atribuições, inerentes às suas


funções normais, referentes à prevenção, por exemplo, verificação da utilização
correta de EPI, inspeção diária das ferramentas e outros.

145
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

Os supervisores de segurança devem realizar inspeções diárias com


o objetivo de identificar os riscos mais comuns. Situações como instalações
elétricas deficientes, desobediência às normas de segurança pelos empregados,
armazenagem incorreta, não utilização de equipamentos de proteção, são os tipos
mais comuns de problemas detectados.

A inspeção informal deve ser feita com o auxílio de uma ficha para o
auxílio na descrição dos riscos verificados. Um exemplo de ficha é demonstrado
a seguir.

QUADRO 25 – TABELA DE REGISTROS DE INSPEÇÃO INFORMAL

REGISTRO DE INSPEÇÃO INFORMAL


Nome (opcional): Data:
Descrição dos itens fora dos padrões

FONTE: Neto (2006)

Destacam-se as seguintes vantagens do método de inspeção informal:


• Grande Abrangência – pois envolve todos os trabalhadores.
• Rapidez – se deve ao fato de a inspeção ocorrer conjuntamente com o trabalho
normal do empregado.
• Simplicidade – método de aplicação direta.
• Hábito – a implementação da inspeção informal torna as rotinas de verificação de
segurança algo corriqueiro de modo a promover o contínuo acompanhamento
dos processos.

No entanto, podem-se relacionar algumas desvantagens:


• Cegueira Industrial – a rotina de verificação pode fazer com que determinados
riscos passem despercebidos.
• Capacidade limitada e pouca profundidade – por se tratar de uma inspeção
realizada conjuntamente com o ofício do trabalhador e, ainda, por este não
contar com capacitação específica para tal tarefa, alguns quesitos de segurança
podem ser negligenciados.

146
TÓPICO 4 | INSPEÇÃO DE SEGURANÇA

4.2 INSPEÇÃO FORMAL OU PLANEJADA


É aquela realizada dentro de uma programação com predefinição dos
integrantes, local, roteiro data e hora.

Em empresas desprovidas de SESMT, é comum que a CIPA contrate


profissional da área de segurança para a realização de uma inspeção geral.
Havendo o Serviço Especializado, a necessidade desse tipo de inspeção diminui,
pois a própria empresa deverá dispor de profissionais com os conhecimentos
técnicos necessários para a identificação e eliminação dos riscos mais comuns.
Havendo a necessidade de inspeções mais detalhadas como, por exemplo, a
inspeção de uma caldeira ou de um elevador, é aconselhável a contratação de
serviço especializado nesta determinada área.

A Inspeção Planejada pode ser classificada em dois tipos:


• inspeção de partes críticas;
• inspeção de Segurança, Ordem e Limpeza (SOL) ou Inspeção Geral.

4.2.1 Inspeção de partes críticas


É aquela cujo objetivo é a verificação de determinadas partes críticas, por
exemplo, algum componente de uma máquina, equipamento, material, estrutura
ou área, cuja falha pode provocar grandes perdas.

FIGURA 27 – ALGUNS EXEMPLOS DE PARTES CRÍTICAS DE UM SISTEMA

Válvulas de Segurança Proteção

Detectores Alarmes

FONTE: Getty Images (2010)

147
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

São aquelas realizadas com o objetivo de fiscalização. Em geral, não há


preocupação com uma análise posterior que objetive a eliminação do risco. O
responsável analisa os pontos conflitantes com a legislação e notifica os superiores
responsáveis.

Um exemplo de formulário a ser utilizado neste tipo de inspeção é


apresentado a seguir:

QUADRO 26 – MANUTENÇÃO DE REGISTROS DE PARTES CRÍTICAS

MANUAL DE PARTES CRÍTICAS


FILIAL: ÁREA / EQUIPAMENTO:
Partes Críticas O Que Inspecionar Frequência Inspetor

FONTE: O autor

4.2.2 Inspeção Geral


Consiste numa caminhada planejada por uma área completa (seção,
departamento, setor etc.) com enfoque vasto e geral com o objetivo de identificar
as exposições às perdas.

Suas principais características são:


• preparação e treinamento;
• utilização de checklist;
• mudança no foco da “visão” (olhar estimativo sobre o todo);
• elaboração de relatório.

Para melhor ilustrar a aplicação de uma Inspeção Geral, observe um


relatório criado após a inspeção, bem como uma figura do risco encontrado.

148
TÓPICO 4 | INSPEÇÃO DE SEGURANÇA

QUADRO 27 – RELATÓRIO DE UMA INSPEÇÃO GERAL

Item 01
LOCAL Subestação de energia
CAUSA
Quadro elétrico principal com barramentos sem proteção ao contato direto.
RECOMENDAÇÕES
Instalar barreira de proteção (chapa protetora) de material isolante (acrílico, fenolite
ou similar) conforme determinação da NR 10 (Instalação e Serviços em Eletricidade) e
NBR5410 (Instalações Elétricas em Baixa Tensão).
CLASSIFICAÇÃO IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES CORRETIVAS E/OU
DO RISCO PREVENTIVAS
Alto Data Prevista Data Realizada Responsável
(Possível e Dep. Manutenção
Catastrófico) 08/05/2011 06/05/2011
Elétrica
FONTE: Neto (2006)

FIGURA 28 – FOTO DA SITUAÇÃO DE RISCO DESCRITA NO RELATÓRIO DA INSPEÇÃO GERAL

FONTE: Getty Images (2010)

5 ETAPAS DA INSPEÇÃO
Uma inspeção de segurança é classificada, tipicamente, em quatro etapas:
• preparação;
• realização da inspeção;
• desenvolvimento de ações preventivas e corretivas;
• acompanhamento das ações preventivas e corretivas.

149
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

5.1 PREPARAÇÃO
Antes de iniciar-se a inspeção propriamente dita, convém realizar a
preparação de alguns aspectos importantes que vão se traduzir em maior
eficiência da aplicação do método. Nesta questão, citam-se:
• enfoque positivo na inspeção dos inspetores (a inspeção deve ser vista como
algo benéfico a todos e não como uma tentativa de descobrir falhas para apontar
culpados);
• planejamento da inspeção (reuniões);
• determinação dos setores e/ou equipamentos a inspecionar;
• determinação do tipo de não conformidades a serem investigadas;
• preparação (ou adequação) do checklist;
• revisão de relatórios anteriores;
• levantamento dos recursos (material, equipamentos) necessários à realização
da inspeção.

5.2 REALIZAÇÃO DA INSPEÇÃO


Com o auxílio dos elementos elaborados na etapa de preparação, a
inspeção deve:
• ser orientada por checklist;
• reforçar os pontos positivos;
• inspecionar itens de difícil visualização;
• providenciar a adoção de medidas temporárias imediatas para os riscos
encontrados;
• descrever com clareza e concisão as situações fora do padrão que forem
encontradas;
• identificar as causas das não conformidades;
• identificar as possíveis consequências das não conformidades;
• classificar os riscos verificados.

O desenvolvimento de ações preventivas e corretivas, bem como sua


implantação, são estudados em outros tópicos deste caderno.

150
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você estudou estes assuntos:

• O conceito e o objetivo de uma de inspeção de segurança.

• Tipos de inspeção de segurança.

• Procedimentos de segurança aplicados nas inspeções.

• Documentação efetiva de uma inspeção de segurança.

151
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir:

1 Quais são os objetivos da realização da inspeção de segurança?

2 O que é uma inspeção informal de segurança?

3 Quais as principais características de uma inspeção de segurança planejada?

4 Quais as etapas de uma inspeção de segurança?

152
UNIDADE 3 TÓPICO 5

PLANOS DE AÇÃO DE TRATAMENTO DE RISCOS

1 INTRODUÇÃO
Há várias etapas que devem ser seguidas na preparação de um plano de
emergência. Elas serão discutidas na sequência.

2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RISCOS


Os riscos principais devem ser identificados e avaliados de forma
qualitativa em termos de frequência e consequências, conforme visto em vários
tópicos anteriores.

3 DEFINIÇÃO DE RESPONSABILIDADES
A seguir, veja a responsabilidade da gerência e dos funcionários.

3.1 RESPONSABILIDADE DA GERÊNCIA


O gerente tem a responsabilidade direta de garantir a existência de um
Plano de Ação (ou Plano de Emergência) de Tratamento de Riscos bem como
sua organização adequada para a sua unidade. É recomendável que ele designe
um coordenador do Plano de Emergência ou um comitê para dar assistência no
cumprimento desta responsabilidade. (NETO, 2006)

3.2 RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS


Segundo Neto (2006), cada funcionário deve conhecer bem todos os
planos de emergência, responsabilizar-se pelo seu cumprimento e saber agir de
acordo com estes planos no caso de uma emergência.

153
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

4 DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
A seguir, veja a disponibilidade de recursos internos e externos.

4.1 RECURSOS INTERNOS


Dependendo do tamanho da unidade, poderá haver uma equipe de
emergência interna treinada com equipamentos apropriados para responder
e atuar nas pequenas emergências, que, evidentemente, podem se transformar
em emergências maiores. Estas equipes terão um papel fundamental nas
emergências maiores. Enquanto não existam equipes fixas, podem ser
desenvolvidas e preparadas brigadas de combate ao fogo, com o próprio
pessoal de operação, usando as habilidades e conhecimentos pessoais. Outros
especialistas como mecânicos de manutenção, eletricistas, engenheiros
de processos, médicos etc., podem ser chamados a atuar em caso de uma
emergência maior. (CARDELLA, 2009)

4.2 RECURSOS EXTERNOS


É recomendável fazer um levantamento e avaliação dos elementos
existentes na comunidade, como corpo de bombeiros, hospitais, polícia militar
e rodoviária, defesa civil etc. É necessário conhecer os recursos com que possam
contar, o tempo que demorarão em chegar até a fábrica, pessoal e equipamento
disponível, entre outros, no caso de uma emergência, para verificar qual será a
ajuda efetiva que poderão dar.

5 DEFINIÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA (PLANOS DE


AÇÃO)
Cada fábrica ou unidade é diferente, portanto não há um plano geral que
possa ser aplicado a todas as fábricas. Cada uma deverá definir e desenvolver o
plano que melhor se ajuste às suas necessidades. (CARDELLA, 2009)

A definição do plano é um processo em que se deve pensar em cada


emergência potencial identificada, determinar o que é necessário fazer para
controlá-la, definir as ações necessárias, definir as responsabilidades e, finalmente,
escrever tudo numa forma simples e clara.

Segundo Neto (2006), os objetivos devem ser definidos para que todos
saibam o que fazer. As metas principais mais comuns utilizadas no planejamento
de emergência são:
• proteger as pessoas em geral;
• resgatar as vítimas e providenciar o seu tratamento;

154
TÓPICO 5 | PLANOS DE AÇÃO DE TRATAMENTO DE RISCOS

• minimizar os danos à propriedade, ao meio ambiente e à comunidade;


• manter a contenção dos produtos e água utilizada, evitando que atinjam
recursos hídricos;
• identificar vítimas;
• providenciar o envio das vítimas para hospitais e outros centros de tratamento;
• fornecer informações reais e verdadeiras às autoridades e à imprensa;
• providenciar a recuperação segura e rápida da área afetada;
• reunir informações, relatórios, registros, depoimentos etc., para a investigação
posterior do acidente.

6 EQUIPE DE CONTROLE DA EMERGÊNCIA


Neto afirma que uma vez identificados os tipos de emergências para as
quais se deve ter um planejamento e os tipos de serviços que serão necessários,
é preciso garantir que esses serviços sejam realmente fornecidos e estejam
disponíveis durante a emergência. Isto é feito, dando-se responsabilidades
às pessoas que estarão a cargo de cada serviço. Geralmente, há alguém na
organização que se encaixa bem em cada tipo de função ou serviço.

7 ELABORAÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA


O plano deverá identificar quem deve fazer o quê e onde deve ser
realizado. Em outras palavras, as pessoas devem ser identificadas, as atividades
e a localização definidas e fornecidas localizações alternativas para o Centro de
Controle.

Os seguintes elementos devem ser incluídos no plano:


• organograma;
• coordenador de emergência;
• descrição geral – fornece uma descrição breve para cada serviço, por exemplo:
• comunicações;
• outras informações – inclui a informação que pode ser importante durante
uma emergência.

8 ATIVAÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA


Para ativação do plano é preciso fazer a identificação da emergência, a
comunicação e a reunião da equipe de controle da emergência e das brigadas
de apoio.

155
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

8.1 IDENTIFICAÇÃO DA EMERGÊNCIA


Qualquer funcionário pode fazê-lo.

8.2 COMUNICAÇÃO DA EMERGÊNCIA


O Centro de Controle comunicará a situação à Equipe de Controle de
Emergência e, se for necessário, comunicará a emergência ao resto da empresa,
através do sistema de comunicação existente (rádio, alto-falantes, sirenes etc.).

8.3 REUNIÃO DA EQUIPE DE CONTROLE DA EMERGÊNCIA


E DAS BRIGADAS DE APOIO
O coordenador da emergência deverá reunir as informações disponíveis e
decidir as ações que devem ser tomadas. As brigadas de apoio serão ativadas, se
for necessário tomarão medidas de ação, como: combate a incêndios, controle de
derramamentos, resgates de vítimas, evacuação etc.

Na sequência, devem ser tomadas as seguintes medidas:


• solicitação de ajuda externa (se necessário);
• evacuação do pessoal não envolvido;
• constatação do fim da emergência.

O sinal de fim de emergência será dado quando cessarem as condições


que ativaram os sinais de emergência e evacuação e quando a área estiver em
condições seguras para receber o pessoal de volta.

9 TREINAMENTO DO PESSOAL
Após o plano estar pronto, é essencial que todo o pessoal da fábrica o
conheça, devendo receber um treinamento teórico, pelo menos uma vez por ano,
nas seguintes situações:
• na contratação;
• após qualquer modificação do plano;
• quando transferido de área ou setor.

É importante que este treinamento seja registrado e os registros arquivados


na folha de cada funcionário.

156
TÓPICO 5 | PLANOS DE AÇÃO DE TRATAMENTO DE RISCOS

10 TESTES PERIÓDICOS DO PLANO (SIMULADOS)


A melhor forma para atingir este objetivo é realizar treinamentos
periódicos em situações simuladas de emergência. Após cada simulação do
plano, devem ser feitas uma avaliação da atuação do pessoal durante o exercício,
críticas necessárias para identificar as debilidades, e como corrigi-las. Caso seja
necessário, o plano deve ser modificado, o pessoal treinado novamente e uma
nova simulação deve ser feita para verificar se as debilidades foram eliminadas.

11 MANUTENÇÃO DO PLANO
Quando já pronto um plano de emergência para uma fábrica ou unidade,
é importante que se mantenha atualizado com relação às mudanças que
normalmente acontecem em toda organização.

12 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
É importante considerar: a desordem civil e a poluição das águas e do ar.

12.1 DESORDEM CIVIL


Em tempos de crise social, este é um tipo de emergência que pode
facilmente acontecer. O gerente da fábrica deve permanecer alerta aos possíveis
danos que possam acontecer e aos efeitos resultantes no funcionamento seguro
das instalações da empresa. Podem ser necessárias outras medidas de segurança
para garantir a proteção do patrimônio.

12.2 POLUIÇÃO DAS ÁGUAS E DO AR


O plano de emergência deve ter providências para o controle de emissões
que possam vir a poluir em grande escala as águas ou o ar.

O planejamento deve incluir métodos para descontinuar a poluição na


fonte ou dirigi-las até áreas controladas de retenção predeterminadas.

Se não se consegue o controle na forma planejada, a vizinhança deve ser


alertada de modo que os efeitos para a população sejam minimizados.

157
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

13 TOMADAS DE DECISÕES E AVALIAÇÃO DO PLANO DE


EMERGÊNCIA
Algumas decisões devem ser tomadas para avaliar o plano de emergência
como: desenvolvimento de ações preventivas e corretivas e o seu acompanhamento.

13.1 DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES PREVENTIVAS E


CORRETIVAS
Com base nos riscos levantados pela inspeção e classificados pela matriz
de riscos, efetua-se o preenchimento do formulário a seguir. Sua utilização será
importante no balizamento das medidas de controle a serem providenciadas para
o devido tratamento dos riscos existentes.

QUADRO 28 – TABELA DE AUXÍLIO À TOMADA DE DECISÕES

GUIA PARA TOMADA DE DECISÕES NO CONTROLE DE RISCOS


Perguntas Chave
CLASSIFICAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
1. Qual será o potencial de perdas se ocorrer um acidente?
Grave ( ) Sério ( ) Leve ( )
PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA
2. Qual será a probabilidade de ocorrer perda a partir da exposição ao risco?
Alta ( ) Moderada ( ) Baixa ( )
CUSTO DO CONTROLE
3. Qual será o custo do controle recomendado?
Alto ( ) Médio ( ) Baixo ( )
GRAU DE CONTROLE
4. Qual será o grau de controle obtido mediante os gastos realizados?
Substancial ou Total ( ) Moderado ( ) Baixo ( )
ALTERNATIVAS
5. Quais são as alternativas de controle?

JUSTIFICATIVA
6. Quais as razões pelas quais se justificam a adoção das medidas de controle?
FONTE: Neto (2006)

158
TÓPICO 5 | PLANOS DE AÇÃO DE TRATAMENTO DE RISCOS

13.2 ACOMPANHAMENTO DAS AÇÕES PREVENTIVAS E


CORRETIVAS
Tão importante quanto determinar ações para a contenção dos riscos é
fazer o acompanhamento destas ações tendo em vista:
• verificar se as ações estão sendo implementadas de acordo com o que fora
planejado;
• avaliar as etapas de desenvolvimento, construção ou modificação das ações
para garantia dos propósitos especificados;
• verificar a adequação das ações executadas;
• revisar as medidas implementadas algum tempo após sua aplicação para
verificação da sua efetividade e confiabilidade com os padrões esperados.

Por fim, é importante o desenvolvimento de um relatório que comunique


os atos e as condições fora de padrões encontrados considerando os seguintes
aspectos:
• escrita de forma clara e legível;
• após a descrição de cada item, deixar algum espaço em branco para a adição de
informações adicionais;
• enumeração dos itens para melhor identificação e referência futura dos mesmos;
• descrição e identificação dos aspectos pendentes do último relatório.

159
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

LEITURA COMPLEMENTAR

PREVENÇÃO DE RISCOS
Percepção de Riscos – Como Aprimorar

O problema
Os gestores de riscos nas empresas se perguntam: será que as pessoas
realmente percebem os riscos? As pessoas correm riscos conscientemente?
Por que as pessoas não respeitam os riscos? Quantos acidentes não ocorreram
porque alguém não reconheceu ou compreendeu adequadamente um risco ou
subestimou suas consequências?

O que é a “Percepção de Riscos”?


Percepção de Riscos é um processo ou um estado permanente de espírito,
ou atitude, que resulta em um comportamento “capaz de reagir adequadamente
(reconhecer, interpretar, agir) frente a um estímulo do meio, que representa uma
condição com potencial para causar danos (lesões, dano ambiental, ao negócio)”.

O que é risco?
Um risco é um conceito primitivo, mas costuma-se organizar os conceitos,
diferenciando risco e perigo.
• Perigo é uma condição ou característica com potencial para causar danos.
• Risco é um conceito que conjuga a expectativa da ocorrência e as consequências
resultantes de um evento (que pode ser causado por um perigo).
Risco = probabilidade x dano

Observe que:
• reconhecemos os perigos, mas avaliamos os riscos;
• um mesmo perigo pode apresentar vários graus de risco, segundo diferentes
medidas de controle adotadas;
• um risco pode ser reduzido ao mínimo; todavia, o perigo permanece. Se as
medidas se deteriorarem, o risco aumentará.

Objetivo
Desejamos que as pessoas reconheçam os perigos e saibam avaliá-los
corretamente, adotando ações de controle.

“Um risco é respeitado na medida em que reconhecemos sua capacidade


de se manifestar e causar danos”.

O que é reconhecer?
Reconhecer é conhecer de novo, identificar. Reconhecemos apenas aquilo
que já conhecemos. Daí a importância da informação, do treinamento.

160
TÓPICO 5 | PLANOS DE AÇÃO DE TRATAMENTO DE RISCOS

O que é avaliar?
Avaliar não é apenas medir, quantitativamente. Avaliar é saber julgar,
apreciar. No caso nosso, avaliar a chance de ocorrer um evento devido ao perigo
e o dano resultantes.

Dessa avaliação, devemos concluir: O risco é tolerável?

Quais os riscos você voluntariamente aceita (tolera)?


• Fumar.
• Dirigir automóvel.
• Dirigir motocicleta.
• Fazer paraquedismo.
• Ter 60 anos e nunca ter feito um exame de próstata.

Quais lhe parecem toleráveis? Quais intoleráveis?


Observe: para o cidadão, os riscos são bem ou mal avaliados, mas
voluntários; para o trabalhador são uma decorrência de seu local de trabalho.

Tolerabilidade de Riscos em uma Frase


O local de trabalho é seguro...
... se meu filho pode trabalhar lá.

Etapas do Processo de Percepção de Riscos e como Aprimorá-las


1 O local contém um estimulo suficiente para a percepção. Quer dizer que o
perigo pode estimular visual, auditiva e olfativamente. Ou ainda, no sentido
da segurança, o local possui elementos artificiais (avisos de alerta).
2 Ocorre a percepção do risco, a partir do estímulo.
3 Ocorre a adequada avaliação do risco e sua (in)tolerabilidade.
4 São tomadas ações de acordo com essa (in)tolerabilidade, prevenindo-se os
acidentes.

Como Aprimorar o Processo

Etapa 1
• Assegurar-se de que o estímulo é perceptível.
• Para perigos sem estímulo sensorial, sinalizar, restringir acesso.
• Prover elementos artificiais de alerta.
• Possuir ferramentas comportamentais que permitam o alerta mútuo entre os
trabalhadores

Etapa 2
Para reconhecer um perigo como tal, é preciso (re)conhecer. Portanto, é
necessário:

161
UNIDADE 3 | TRATAMENTO DE RISCOS

• Treinamento geral de integração sobre os riscos na empresa.


• Treinamento específico sobre os perigos dos locais de trabalho em cada setor.
• Assegurar-se de que o perigo é culturalmente respeitado pela organização
(muitas vezes ocorre o contrário, há um desprezo de certos perigos pela cultura
organizacional).

Etapa 3
Para um bom julgamento do risco:
• Treinamento e conhecimento para o exercício do julgamento, com clareza sobre
o que é tolerável.
• Correção de problemas culturais e crenças, pessoais e coletivas, a respeito de
riscos e da capacidade de podermos controlá-los. Se o julgamento considerar
erroneamente que o risco é baixo, não serão tomadas medidas de controle.
• Prover ferramentas comportamentais que auxiliem no julgamento dos riscos
por uma interação constante entre as pessoas, desfazendo as crenças negativas
e promovendo um clima produtivo de segurança.

Etapa 4
Tomar medidas significa possuir uma atitude e exibir o comportamento
correto para a situação. As pessoas devem saber:
• Quais as medidas pertinentes para o controle de um risco.
• Ter acesso à orientação sobre os assuntos que desconhece.
• Ter o poder de intervir na situação, sabendo que seu comportamento não será
censurado (ao contrário, será elogiado).

Como vemos, a melhora da Percepção dos Riscos depende do entendimento


do processo, do reforço de conhecimento (treinamento), de uma cultura
organizacional favorável e que valorize as ações proativas, e, especialmente, de
um componente comportamental muito forte e bem dirigido. Não é simples,
nem fácil, mas é possível. Este é um tema de um Seminário que será oferecido
brevemente.

FONTE: Revista Proteção. Nº 220, abril 2010, p. 120.

162
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você estudou estes assuntos:

• Tipos de recursos necessários para a elaboração de plano de emergências.

• Como formar uma equipe para o plano de emergências.

• Elaboração de um plano de emergências eficaz.

• Quando ativar o plano de emergências.

• Tomada de decisões e avaliação do plano de ação.

163
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a


seguir:

1 Quais as responsabilidades da gerência e dos funcionários quanto ao plano


de emergência da empresa?

2 O que são os recursos internos de um plano de emergência e qual a sua


função?

3 Quais são os principais objetivos de um plano de ação (ou de emergências)?

4 Como deve ser feito o acompanhamento das ações preventivas e corretivas


de um plano de emergência?

164
REFERÊNCIAS
ALBERTON, Anete. Uma metodologia para auxiliar no gerenciamento de riscos
e na seleção de alternativas de investimentos em segurança. Florianópolis:
UFSC, 1996.

ALMEIDA, I. M. de; BINDER, M.C.P. Metodologia de Análise de Acidentes -


Investigação de Acidentes do Trabalho: Combate aos Acidentes Fatais Decorrentes
do Trabalho. MTE/SIT/DSST/FUNDACENTRO, 2000.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14280: cadastro de


acidente do trabalho – procedimento e classificação. Rio de Janeiro, 2001.

CAMPOS, Armando Augusto Martins. CIPA – Comissão interna de prevenção


de acidentes: uma nova abordagem. São Paulo: Editora Senac, 1999.

CARDOSO, Olga Regina. Introdução à engenharia do trabalho. Curso de


Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. Florianópolis: UFSC/FEESC/
FURB, 2005.

CARDELLA, Benedito. Segurança no trabalho e prevenção de acidentes: uma


abordagem holística. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009.

CAIRO Jr, José. O acidente do trabalho e a responsabilidade civil do empregador.


5. Ed. São Paulo: LTr editora Ltda, 2009.

FANTAZINI, Mario. Prevenção de Riscos: histórico e evolução. Revista Proteção,


Novo Hamburgo/RS, ano XII, n. 215, p. 104, nov. 2009.

FANTAZINI, Mario. Prevenção de Riscos: como aprimorar. Revista Proteção,


Novo Hamburgo/RS, ano XIII, n. 220, p. 120, abr. 2010.

FUDOLI, Josevan Ursine. A subnotificação dos acidentes de trabalho. Revista


CIPA, n. 345, ago. 2008.

HENLEY, Ernest J.; KUMAMOTO, Hiromitsu. Reliability engeneering and risk


assessment. Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1981.

MICHEL, Oliveira. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. 3ª ed. São


Paulo: LTr editora Ltda, 2008.

165
NIOSH - National Institute Of Occupational Safety & Health. Disponível em:
<http://www.niosh.com.my/>. Acesso em: 8 jul. 2010.

NR 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Disponível em: <http://


www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_05.asp>. Acesso em:
8 jul. 2010.

TAVARES, José da Cunha. Noções de prevenção e controle de perdas em


segurança do trabalho. São Paulo: Editora Senac, 1996.

OLIVEIRA, Maria Cecília, MAKARON, Ofélia M. Simões de M. Análise de árvore


de falhas. Coordenação: AWAZU, Luís Antônio Mello. São Paulo: CETESB, 1987.

SCHLEGEL NETO, Carlos. Gerenciamento de riscos. Curso de Especialização em


Engenharia de Segurança do Trabalho. Blumenau: FURB/GENE, junho 2006.

SESI – Saúde e segurança no trabalho. Brasília: SEBRAE. 2005.

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ANOTAÇÕES

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