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JOGOS E BRINCADEIRAS
Os jogos da criança pequena são fundamentais para o seu desenvolvimento e para a aprendizagem, pois
envolvem diversão e ao mesmo tempo uma postura de seriedade. A brincadeira é para a criança um
espaço de investigação e construção de conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo. Brincar é uma
forma de a criança exercitar sua imaginação. A imaginação é uma forma que permite às crianças
relacionarem seus interesses e suas necessidades com a realidade de um mundo que pouco conhecem. A
brincadeira expressa a forma como uma criança reflete, organiza, desorganiza, constrói,destrói e
Bruno Bettelheim, fala que a brincadeira é uma ponte para a realidade e que nós, adultos, através de
uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela vê e constrói o mundo: quais são as suas
preocupações, que problemas ela sente, como ela gostaria que fosse a sua vida. Ela expressa o que teria
dificuldade de colocar em palavras. Ou seja, brincar é a sua linguagem secreta que devemos respeitar
JOGO LIQUIDAÇÃO -> quando a criança busca superar situações desagradáveis. É como se ela zombasse
JOGOS DE EXERCÍCIO -> ou jogos funcionais, têm início aproximadamente aos quatro meses de idade,
quando a criança começa a ter uma melhor coordenação da visão e da apreensão. Os jogos de exercício
que envolve ações mentais, isto é, o pensamento, como acontece nos jogos de combinações de palavras.
EX: “Hoje é domingo pede cachimbo...”, ou “Um, dois, feijão com arroz...”
Essas atividades lúdicas não necessitam de qualquer técnica particular, são simples exercícios.
JOGOS DE MANIPULAÇÃO -> são praticados a partir do contato da criança com diferentes materiais,
JOGOS DE CONSTRUÇÂO -> acontecem quando a criança faz ordenações sobre os objetos. São
responsáveis por aquisições para o desenvolvimento motor e intelectual da criança, tais como
classificação, a seriação, o equilíbrio, as noções de quantidade, tamanho e peso, bem como a
JOGOS SIMBÓLICOS -> também chamados de “faz-de-conta”. Por meio deles, a criança expressa a sua
Entre 1 ano e meio e 3 anos de idade, acriança começa a imitar suas ações cotidianas e passa a atribuir
COMPENSAÇÃO -> vai se imaginar realizando coisas que os adultos podem e ela não. EX: a criança
brinca que está dirigindo automóvel, ou apagando um incêndio. A criança aprende agindo “como se
TRANSPOSIÇÂO: a criança age com um determinado objeto (real), mas utiliza-o com uma função
(imaginária) diferente da habitual. EX: a criança deseja montar em um cavalo, então ela toma uma
Dos 4 aos 7 anos, a busca pela aproximação ao real vai caracterizar os jogos simbólicos. A criança
Segundo a professora Vera Lúcia dos Santos, no decorrer da fase do jogo simbólico, existem três
1) Forte tendência à ordenação. As crianças preocupam-se em ordenar seus jogos, escolhendo objetos
de composição.
2) Evidencia-se a intenção de realismo que conduz o jogo para a imitação exata do real. As crianças
buscam objetos mais próximos dos objetos reais que funcionem como suporte para suas cenas;
JOGOS DE REGRAS -> é necessário que haja cooperação entre os jogadores e isso exige, certamente,
um nível de relações sociais mais elevados. As brincadeiras e os jogos são espaços privilegiados para o
O papel do professor
Cientes da importância dos jogos e das brincadeiras na Educação Infantil, o professor deve elaborar
propostas de trabalho que incorporem as atividades lúdicas. Deve também, propor jogos e brincadeiras.
Não há necessidade de o jogo ser espontâneo, idealizado pela criança. “O que faz do jogo um jogo é a
liberdade de ação física e mental da criança nessa atividade”. (BRASIL, 1995b, p.103).
Para que um professor introduza jogos no dia-a-dia de sua classe ou planeje atividades lúdicas, é
preciso, que ele acredite que brincar é essencial na aquisição de conhecimentos, no desenvolvimento da
A professora Vera Lúcia dos Santos diz que a atitude do professor é, sem dúvida, decisiva no que se
refere ao desenvolvimento do faz-de-conta. Ela destaca três funções diferenciadas que podem ser
1) Função de observador, na qual o professor procura intervir o mínimo possível, de maneira a garantir a
3) Função de participante ativo nas brincadeiras, quando como um mediador das relações que se
Piaget (1998) acredita que os jogos são essenciais na vida da criança. De início tem-se o jogo de
exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter
Em torno dos 2-3 e 5-6 anos (fase Pré-operatória) nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que
Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos socialmente de criança para
criança e por conseqüência vão aumentando de importância de acordo com o progresso de seu
Vamos analisar uma entrevista feita por Piaget com crianças sobre o jogo “Bola de gude”.
O experimentador fala mais ou menos isso. “Aqui estão algumas bolas de gude… você deve me mostrar
como jogar. Quando eu era pequeno eu costumava jogar bastante, mas agora eu me esqueci como se
joga. Eu gostaria de jogar novamente. Vamos jogar juntos. Você me ensinará as regras e eu jogarei com
você…”. Você deve evitar fazer qualquer tipo de sugestão. Tudo o que precisa é parecer completamente
ignorante (sobre o jogo de bola de gude) e até mesmo cometer alguns erros propositais de modo que a
criança, a cada erro, possa dizer claramente qual é a regra. Naturalmente, você deve levar a coisa a
sério, e se as coisas não ficarem muito claras você começará uma nova partida.(Piaget, 1965, p.24).
Com os jogos de regras podemos analisar por traz das respostas, informações sobre seus conhecimentos
e conceitos. Esses níveis de conhecimento podem ser classificados como: Motor, Egocêntrico,
Motor: Nível apresentado nos primeiros anos de vida e que normalmente se estende até o estágio pré-
regras. O prazer da criança parece advir grandemente do controle motor e muscular, e não há atividade
Egocêntrico: Em geral, essa fase se dá dos 2 aos 5 anos, a criança adquire a consciência da existência de
regras e começa a querer jogar com outras crianças – vemos nesse ponto os primeiros traços de
socialização. Mas notamos também que algumas crianças insistem em jogar sozinhas, sem tentar
vencer, assim revelando uma atividade cognitiva egocêntrica. As regras são percebidas como fixas e o
Cooperação: Normalmente a cooperação acontece em torno dos 7 a 8 anos. Há uma compreensão quase
Codificação das Regras: Por volta dos 11 a 12 anos, a maioria das crianças passa a entender que as
regras são ou podem ser feitas pelo grupo, podem ser modificadas, mas nunca ignoradas. A presença de
Segundo Piaget (1976): “… os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para
gastar energias das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual”.
O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo,
uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando
o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças
exigem a todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas
cheguem a assimilar as realidades intelectuais e que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência
Já Vygotsky (1998), diferentemente de Piaget, considera que o desenvolvimento ocorre ao longo da vida
e que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo dela. Ele não estabelece fases para
explicar o desenvolvimento como Piaget e para ele o sujeito não é ativo nem passivo: é interativo.
Segundo ele, a criança usa as interações sociais como formas privilegiadas de acesso a informações:
aprendem a regra do jogo, por exemplo, através dos outros e não como o resultado de um engajamento
individual na solução de problemas. Desta maneira, aprende a regular seu comportamento pelas
Enquanto Vygotsky fala do faz-de-conta, Piaget fala do jogo simbólico, e pode-se dizer, segundo Oliveira
“O brinquedo cria uma Zona de Desenvolvimento Proximal na criança”. (Oliveira, 1977: 67), lembrando
que ele afirma que a aquisição do conhecimento se dá através das zonas de desenvolvimento: a real e a
consigo, já a proximal, só é atingida, de início, com o auxílio de outras pessoas mais “capazes”, que já
“As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-
Piaget (1998) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança sendo
que a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto
cultural e social.
Para Vygotsky, citado por Wajskop (1999:35): “… A brincadeira cria para as crianças uma zona de
desenvolvimento proximal que não é outra coisa senão à distância entre o nível atual de
Vygotsky, citado por Lins (1999), classifica o brincar em algumas fases: durante a primeira fase a
criança começa a se distanciar de seu primeiro meio social, representado pela mãe, começa a falar,
andar e movimentar-se em volta das coisas. Nesta fase, o ambiente a alcança por meio do adulto e
pode-se dizer que a fase estende-se até em torno dos sete anos. A segunda fase é caracterizada pela
imitação, a criança copia os modelos dos adultos. A terceira fase é marcada pelas convenções que
Vygotsky (1989: 109), ainda afirma que: “é enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de
uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de agir numa
esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos
As brincadeiras que são oferecidas à criança devem estar de acordo com a zona de desenvolvimento em
que ela se encontra, desta forma, pode-se perceber a importância do professor conhecer a teoria de
Vygotsky.
No processo da educação infantil o papel do professor é de suma importância, pois é ele quem cria os
espaços, disponibiliza materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da construção do
conhecimento.
e formalizado ignora as dimensões educativas da brincadeira e do jogo como forma rica e poderosa de
estimular a atividade construtiva da criança. É urgente e necessário que o professor procure ampliar
cada vez mais as vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e com outras
crianças.
O jogo, compreendido sob a ótica do brinquedo e da criatividade, deverá encontrar maior espaço para
ser entendido como educação, na medida em que os professores compreenderem melhor toda sua
NEGRINE (1994, 20), em estudos realizados sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, afirma que
“quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas
Segundo esse autor, é fundamental que os professores tenham conhecimento do saber que a criança
construiu na interação com o ambiente familiar e sócio-cultural, para formular sua proposta pedagógica.
Entendemos, a partir dos princípios aqui expostos, que o professor deverá contemplar a brincadeira
encontrarem significado pela ludicidade presente na relação que as crianças mantêm com o mundo.
Porém essa perspectiva não é tão fácil de ser adotada na prática. Podemos nos perguntar: como colocar
conhecimentos se não forem desafiados a construírem os seus? O caminho que parece possível implica
“… é preciso que os profissionais de educação infantil tenham acesso ao conhecimento produzido na área
da educação infantil e da cultura em geral, para repensarem sua prática, se reconstruírem enquanto
cidadãos e atuarem enquanto sujeitos da produção de conhecimento. E para que possam, mais do que
1996 p.19).
“Os professores podem guiá-las proporcionando-lhes os materiais apropriados mais o essencial é que,
para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos
algo a uma criança estamos impedindo que ela descubra por si mesma. Por outro lado, aquilo que
permitimos que descubra por si mesma, permanecerá com ela.” ( Jean Piaget)
CONCLUSÃO
Em seus estudos sobre crianças, Jean Piaget descobriu que elas não raciocinam como os adultos. Esta
descoberta levou-o a recomendar aos adultos que adotassem uma abordagem educacional diferente ao
lidar com crianças. Ele modificou a teoria pedagógica tradicional que, até então, afirmava que a mente
de uma criança é vazia, esperando ser preenchida por conhecimento. Na visão de Piaget, as crianças são
as próprias construtoras ativas do conhecimento, constantemente criando e testando suas teorias sobre
o mundo. Grande parte desse conhecimento é adquirida através das zonas do conhecimento onde os
jogos e brincadeiras infantis têm sua principal influencia, onde as noções de regras são criadas, a
socialização se faz presente, o simbólico é exercitado, além do físico e o mental. Fazendo uma
Piaget forneceu uma percepção sobre as crianças que serve como base de muitas linhas educacionais
atuais. De fato, suas contribuições para as áreas da Psicologia e Pedagogia são imensuráveis.
Piaget com apenas 10 anos publicou, em Neuchâtel, um artigo sobre um pardal branco.