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Audiocena para Composição VI, de W.Kandinksy:


processo criativo e resultados
Marcus Mota e Alexandre Rangel1

Resumo Palavras-Chave

Desde 2016, a equipe do LADI (Laboratório de Kandinsky, Orquestração, Composição VI, Audiocena.
Dramaturgia-UnB)está envolvida no detido estudo e
análise de um conjunto de quadros de Kandinsky Abstract
denominado Composições (MOTA 2018). Trata-se
de um projeto financiado pelo Edital CNPq Universal Since 2016, the LADI team (DramaLab-UnB) has
2016 para a elaboração de ‘audiocenas’ para estas been involved in the study and analysis of a set of
pinturas. ‘Audiocenas’ aqui tem o significado de paintings by Kandinsky named ‘Compositions’ (MOTA
um ciclo de composições orquestrais elaborados 2018). It is a project financed by CNPq Universal
em diálogo com a poética de uma obra. No caso 2016 for the elaboration of ‘audiocenas’ for these
deste projeto, as orquestrações se transformam em paintings. ‘Audio scene’ here has the meaning of a cy-
arquivos de vídeo que são o roteiro para vídeos a cle of orchestral compositions elaborated in dialogue
partir dos quadros, vídeos estes que depois são dis- with the poetics of a work. In the case of this project,
ponibilizados no Youtube. Após elaborar a primeira the orchestrations are transformed into video files that
audiocena para a Composição IV, agora o trabalho are the script for videos from the frames. Thus these
se direcionou para a Composição VI, que toma como videos that are later made available on Youtube.
ponto de partida, entre outras coisas, as imagens em After elaborating the first audiocena for Compo-
torno do Dilúvio Bíblico. sition IV, the work was now moved toward Composi-
Na pintura, temos uma diversidade de referências tion VI, which takes as a starting point, among other
a sons: os gritos dos que morrem ,- animais e seres things, the images around the Biblical Flood.
humanos-, da fúria da natureza, e das trombetas dos In this painting, we have a diversity of references to
anjos anunciando o cataclismo universal. Em seus sounds: the cries of those who die, animals and human
escritos, Kandinsky chega a explicitar que no meio beings, the fury of nature, and the trumpets of angels
do quadro realizava a forma musical da fuga. announcing the universal cataclysm. In his writings,
Assim, em meio a destruição e recriação de tudo, Kandinsky goes so far as to explain that in the middle
o som se converte em metalinguagem: os processos of the painting he realized the musical form of a fugue.
sonoros são atualizados nas figuras distorcidas e abs- Thus, in the midst of the destruction and
traídas e os traços mesmos e as cores se aproximam re-creation of everything, sound becomes metalan-
de eventos acústicos. guage: sound processes are updated in distorted
Nesta comunicação, apresentamos as etapas da and abstracted figures and the very strokes and
elaboração da audiocena baseada na Composição VI. colors approach acoustic events.

#17.ART • 17º Encontro Internacional de Arte e Tecnologia • 2018 ISSN: 2238-0272


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Contextos da Pesquisa
In this paper, we present the stages of elabo-
ration of the audio scene based on Composition VI. O conjunto de pinturas denominado “Compo-
sições” pode ser visto como um diário criativo que
Keywords acompanha diversas mutações na carreira de Kan-
Kandinsky, Orchestration, Composition VI, Audio scene. dinsky. A tabela abaixo apresenta algumas informa-
ções básicas sobre tais obras:

Obra Ano Cidade Dimensões Status Link audiocena Duração


Audiocena

I 1910 Munique/ ? Destruída 3.min, 30s.


Murnau
II 1910 Munique/ 200 x 275 cm Destruída https://www. 3min, 35s.
Murnau youtube.com/
watch?v=fvdqIQnkACQ

III 1910 Munique/ 190 x 250cm Destruída 3 min, 14s.


Murnau
IV 1911 Munique/ 159.5 × 250.5 Dusseldorf, https://youtu.be/- 5min, 29s.
Murnau cm Kunstsammlung Ph550fz94c
Nordrhein-Westfalen

V 1911 Munique/ 190.0 x 275.0 Coleção Privada https://www.youtube. 3min, 42s.


Murnau cm com/watch?v=HjGxN-
d9EMeo

VI 1913 Munique/ 195.0 × 300.0 São Petersburgo, https://youtu.be/ 5min, 04s.


Murnau cm Museu Hermitage BvT0nmWXFnA

VII 1913 Munique/ 200.0 × 300.0 Moscou, Galeria


Murnau cm Estatal Tretiakov
VIII 1923 Dassau 140.0 × 201.0 Nova York, Museu https://youtu.be/ 3min, 26s.
cm Solomon Gugge- JM1Hv2fSjok
nheim

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IX 1936 Paris 113.5 × 195.0 Paris, Centro Geor-


cm ges Pompidou
X 1939 Paris 130.0 × 195.0 Dusseldorf, Kuns- 3min, 18s
cm tsammlung Nor-
drhein-Westfalen

Figura 1. Tabela com dados das Composições de Kandinsky

Como podemos observar, há uma concentração pensador, educador e agitador cultural, mas em pou-
de obras (I a VII) no período de Munique/Murnau, cas oportunidades discorria sobre sua própria obra.
onde Kandinsky desenvolve suas pesquisas expres- Um dos aspectos fundamentais da investigação aqui
sivas na abstração. Depois, frente à interrupção proposta é uma aproximação entre os escritos de
desse ciclo criativo alemão em virtude da Primeira Kandinsky e sua produção pictorial. Por isso, inicia-
Grande Guerra, temos uma nova composição dez mos a realização deste projeto seguindo as pinturas
2
anos depois (VIII), a partir da ligação de Kandinsky para as quais Kandinsky havia escrito algum texto .
com Bauhaus entre 1922 a 1933. Finalmente, as A isso se juntava a leitura dos outros textos de Kan-
últimas duas Composições relacionam-se com sua dinsky (livros, ensaios) e bibliografia complementar
estadia em Paris, onde ele morre em 1944. (estudos, pesquisas). Toda essa pesquisa bibliográ-
A Composição VI, pois, integra este amplo e in- fica se encontrava relacionada com a análise mesma
tenso período de experimentações e autoafirmação dos quadros como levantamento de direções para
de Kandinsky, tendo ainda a particularidade de ter elaboração de um orquestração para cada quadro
sido alvo de comentários do próprio pintor. Como do conjunto Composições. O diagrama abaixo apre-
sabermos, Kandinsky se desdobrava entre artista, senta o contexto da pesquisa aqui empreendida:

Figura 2. Diagrama sobre a metodologia da pesquisa

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Em suma, temos uma investigação multidiscipli- relâmpagos, chuva, etc. Quando a pintura sobre vi-
nar e interartística que se vale de realizações esté- dro ficou pronta,  quis trabalhar este tema em uma
ticas como exploração de possibilidades teóricas e Composição, e então estava claro para mim o modo
expressivas. Em todo o caso, vemos Kandinsky em pelo qual eu deveria fazer isso.  Mas esse desejo
um amplo projeto que propõe um tipo de intercam- logo se esvaneceu, e eu me vi perdido em meio a
po entre traço, som e metafísica que negocia com formas corpóreas, as quais eu havia pintado antes
diversas tradições intelectuais e artísticas (erudição apenas para intensificar e clarificar minha imagem
livresca, cultura popular, Pintura, Esoterismos, Ciên- do quadro.  Assim, eu ganhava mais em confusão
cias da Matéria, etc.), promovendo uma trama mul- que em clareza. Em diversos esboços, dissolvi as
tissensorial de acontecimentos que não se esgota formas objetivas e em outros tentei encontrar a im-
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em seu suporte material . pressão por recursos mais abstratos. Mas nada dis-
O caso de Composição VI esclarece aspectos so funcionou. Isso aconteceu pois eu estava fixado
do projeto de Kandinsky e aponta para os desdo- na expressão do Dilúvio, no lugar de prestar atenção
bramentos metodológicos e resultados da pesquisa na palavra ‘Dilúvio’ . Eu estava sendo dirigido não
ora em curso. pela ressonância interior mas por impressão externa.
Várias semanas se passaram e eu tentei novamente,
Composição VI mas sem sucesso. Usei o método de me afastar por
um tempo do trabalho, na esperança de examinar os
Em texto que integra um longo ensaio de autoa- esboços com um olhar renovado. Então observei que
nálise (Rückblicke) publicado em Berlin em 1913, Kan- eles continham muita coisa correta, mas não havia
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dinsky explicita o processo criativo de Composição VI : conseguido separar o miolo das cascas. Seria como
“Eu carreguei esse quadro em minha mente por uma cobra que não consegue remover sua pele. A
um ano e meio e muitas vezes pensei que não seria pele está completamente morta, mas ainda está pre-
capaz de realizá-lo. O ponto de partida foi o Dilúvio. O sa ao corpo da cobra. Do mesmo modo, por um ano
Ponto de partida foi uma pintura sobre vidro que eu e meio o elemento que estava ausente em minha
fiz pra meu próprio deleite . Nela, diversas formas ob- pintura interior da catástrofe chamada Dilúvio ainda
jetivas estão registradas, das quais umas são diver- permanecia preso a mim (KANDINSKY 1955:37).”
tidas (adoro misturar formas sérias com expressões Dessa pintura em vidro perdida, restam apenas
externas atrativas): nus, a arca, animais, palmeiras, uma foto:

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Figuras 3 e 4. Fotos de Déluge (para Composição VI), 1911. Pintura em Vidro .

Nas imagens em preto e branco a partir de ori- podemos notar, seguindo o texto que Kandinsky
ginal perdido, aqui apresentado em dois ângulos, escreveu, a presença bem destacada de elementos

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figurativos com animais marinhos, aves, seres huma- mas não havia conseguido separar o miolo das cascas.
nos, vegetação, ondas do mar, montanhas, como na Seria como uma cobra que não consegue remover
continuidade de seu ensaio é comentado: sua pele. A pele está completamente morta, mas
“Mas esse desejo logo se esvaneceu, e eu me ainda está presa ao corpo da cobra. Do mesmo
vi perdido em meio a formas corpóreas, as quais eu modo, por um ano e meio o elemento que esta-
havia pintado antes apenas para intensificar e clari- va ausente em minha pintura interior da catástrofe
ficar minha imagem do quadro. Assim, eu ganhava chamada Dilúvio ainda permanecia preso a mim
mais em confusão que em clareza. Em diversos es- (KANDINSKY 1955:37).”
boços, dissolvi as formas objetivas e em outros tentei Essa primeira parte do texto demonstra o ponto
encontrar a impressão por recursos mais abstratos. de partida e as diversas tentativas em encontrar a
Mas nada disso funcionou. Isso aconteceu pois eu forma pela qual a ideia motivadora seria transforma-
estava fixado na expressão do Dilúvio, no lugar de da materialmente pela pintura.
6
prestar atenção na palavra ‘Dilúvio’ . Eu estava sendo Após esse período de um ano e meio, Kan-
dirigido não pela ressonância interior mas por im- dinsky realizou a pintura em três dias, tendo feito
pressão externa. Várias semanas se passaram e eu antes alguns estudos e esboços prévios, dos quais
tentei novamente, mas sem sucesso. Usei o método alguns vão aqui reproduzidos.
de me afastar por um tempo do trabalho, na esperan- As duas imagens abaixo são desenhos prepara-
ça de examinar os esboços com um olhar renovado. tórios para a Composição VI, encontradas na mesma
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Então observei que eles continham muita coisa correta, folha de papel-cartão :

Figura 5. Hauptlinien der ‘Komposition VI’ {Linhas principais de Composição VI}

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COMPOSIÇÃO VI / Hauptlinien der ‘Komposition VI’

Figuras 6 e 7. Comparação entre a Composição VII e o esboço de suas linhas principais

Na comparação entre o quadro e o esboço de Já na imagem abaixo, podemos perceber um


linhas, vemos a atratividade exercida pela imagem plano-detalhe da parte inferior esquerda do qua-
do cordofone e a do gradiente de linhas sobre a dro, mostrando o contorno do barco engolido pelas
imagem do casal. Tal atratividade é confirmada pela águas, uma das trombetas e outras silhuetas.
estrutura da música orquestral.

Figura 8. Entwurf zu “Komposition VI” {Estudo para Composição VI}

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Figura 9. Composição VI, de Kandinsky. Wikipedia Commons


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.

Seguindo a análise da pintura em sua forma identificáveis, que são como indutores para o es-
final, podemos identificar algumas decisões criativas tabelecimento de algumas decisões criativas nas
do pintor. Ao partir do dilúvio e dissolver suas for- orquestrações, no caso o da elaboração de um
mas, Kandinsky não deixou de evocar alguns objetos roteiro-guia. Entre essas figuras, temos:

1 - Trombetas;

Figura 10. Plano detalhe de Composição VI.Trombetas.

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2 -Cordofone;

Figura 11. Plano detalhe de Composição VI. Cordofone.

3 - Feto;

Figura 12. Plano detalhe de Composição VI. Feto.

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4 - Amantes.

Figura 13. Plano detalhe de Composição VI. Amantes.

Tomando por base o resultado na tela, Kandinksy Essa mesma ausência de superfície e de incerteza
assim descreveu a obra: pode ser observada nas casas de banho russas. Um
“Neste quadro há dois centros distinguíveis: homem de pé no vapor não está nem próximo, nem
1- à esquerda, um centro delicado, róseo e algo distante: ele está justamente em algum lugar.  Esse
borrado, com linha indefinidas e frágeis no meio;  sentimento de ‘algum lugar’ quanto ao centro principal
2- à direita, (um pouco mais acima que ao da determina a ressonância interior de todo o quadro. Eu
esquerda), um centro mais bruto, vermelho-azul,  dis- trabalhei nisso  até que conseguir criar aquilo que an-
cordante, com linhas agudas quase ferinas, fortes e tes eu vagamente queria mas que depois ficou claro
muito precisas.  para mim (KANDINSKY 1955:39)”.
Entre estes dois centros, há um terceiro (perto
do esquerdo), que só mais tardiamente será reco-
nhecido como centro, mas ele é , ao fim, o centro Audiocena
principal. Nele o rosa e o branco são misturados em
uma espuma que parece não estar nem na superfície Seguindo os dados da análise, a orquestração
da tela, nem em qualquer superfície ideal. Em vez construiu uma ordem de eventos sonoros que assim
disso, parece perdurar no ar e se cercar de neblina. se explicita:

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Motivo Material Musical Minutagem aproximada
1 -Trombetas Tema apresentado pelas trompas em diálogo 0:00 - 0:42
com os trombones/trompetes com um percus-
são ampliando o ambiente de tormenta. Sopros
e cordas silenciados.
2 - Céus revoltos Entrada dos sopros e cordas. 0:43 - 1:16
3 - Dos céus para as Diálogos e contrastes entre os conjuntos or- 1:17- 2:30
águas questrais retomando materiais anteriores.
4 - Cordofone Escalas ascendentes nas cordas que retomam 2:31-3:05
5 - Transição para a Temas quebrados nos sopros e depois nas 3:06- 3:52
paz cordas, diminuição do peso dos metais e da
percussão
6 - Casal Valsa irônica, retomando material da Compo- 3:53-4:15
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sição IV , com uma harmonia mais funcional
(progressão harmônica)
7- Feto Retomadas de frases interrompidas já a presen- 4:16-4:50
tadas e distribuídas entre as famílias
8 - Coda Fechamento 4:51-5:04

Figura 14. Tabela de seções da Orquestração para a Composição VI.

As decisões composicionais partem da seleção entre as diversas interpretações, tanto de Kandinsky


de referências apresentadas pela análise da pintura, quando da recepção crítica. Desde já se instaura
do texto de Kandinsky sobre a pintura e da biblio- uma sobreatuação sobre a tela, uma ampliação do
grafia complementar. Essa seleção funciona com tempo se sua compreensão. O quadro é decomposto
um pré-roteiro que orienta a orquestração. Ao fim a e recomposto de divertes modos e essa arena de
orquestração mesma se transforma em um roteiro. discursos rematerializava versões da pintura inicial.
É importante aqui ressaltar que no trabalho de Assim, no trabalho criativo musical com o quadro
criação a partir de estudo e análise de materiais pré- há uma superabundância de enfoques e exames que
vios, há um complexo jogo multidisciplinar e inteartís- pluraliza e dinamiza também o intérprete criador. Além
tico entre os dados produzidos durante as análises de fornecer insights, impulsos, formas de organiza-
(pré-produção) e a realização da composição musical ção, essa dinamogenia expressiva fornece acesso
(produção). A música produzida não é uma mera a procedimentos de composição, a uma poética da
ilustração da pintura e grande parte deste descola- obra focalizada. Desse modo, o ato de composição
mento advém da mediação intelectual dos estudos e se torna a interação entre uma poética reconsidera-
análises. Aqui, a pintura escolhida como ponto de par- da por sua análise e uma poética a se constituir no
tida é reconstruída diversas vezes pelo entrechoque ato de sua performance.

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Um método desenvolvido durante a elaboração notação, cada sessão de composição/escrita se torna


das orquestrações foi o de numerar progressivamente um documento. Para a Composição VI, foram realiza-
os documentos. Como trabalho em um programa de dos 09 sessões/ documentos entre 2/4 a 30/4 2018:

Figura 15. Lista das sessões de trabalho no Finale.

Uma análise das sessões mostra sua hetero- Em todo caso, como os programas de notações
geneidade: atos de proposição de novos materiais, permitem ouvir o que se escreve, há uma aproxima-
de retomada de materiais já apresentados, de revi- ção entre uma modelagem performativa-composicio-
sões (notação, instrumentação, etc.). Além disso, é nal, com a simultânea correlação entre as indicações
possível medir a duração dessas sessões, indicar das escolhas da análise(pré-produção), as decisões
os atos/decisões criativas efetivados, e estabelecer criativas de cada sessão, e as retomadas de sessão.
relativas escalas que indiquem tanto a aceleração ou
não do processo criativo (quantas páginas escritas Vídeo
por sessão), quanto a taxa de inserção ou não de
novos materiais. Então podemos ter sessões mais Elaborado a escrita musical e o arquivo de som
lentas, mais intensas devido a vários fatores, como a partir dessa escrita, o próximo passo é o vídeo,
a produção de estruturas mais complexas (contra- em uma reunião de equipe. Alexandre Rangel e eu
pontos, combinações de timbres). Ou ainda podemos trabalhamos discutindo as possibilidades visuais das
observar sessões mais moderadas, nas quais se lida imagens em movimento do quadro a partir do arqui-
mais com revisões, correções, e outras mais frenéti- vo de som. Assim, a composição musical se torna
cas, com o registro de diversos materiais. o roteiro para as decisões do vídeo. Desde o início

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da pesquisa, tivemos de escolher que modalidade A superfície de Composição VI possui diversos


de relação entre a composição musical e a imagem elementos para a materialização dessa catástrofe
do quadro queríamos. Após muita discussão, ficou cósmica: não apenas as figuras de animais (aves,
acertado que o foco é produzir uma clareza do ma- peixes), seres humanos, barcos e instrumentos musi-
terial visual apresentado em função da proposta da cais, mas sim os volumes no traço denso e as cores
pesquisa, que foi a de explicitar o potencial multis- e as linhas riscando a mistura de céu e terra, água
sensorial da poética de Kandinsky a partir da ênfase e ar, a confusão de todos os elementos.
desse não visto, dessa sonoridade como agencia- Como havia muita coisa a se mostrar e a compo-
mento de procedimentos e intepretações. Com isso, sição musical selecionou e dispôs diversos eventos,
os movimentos de imagem a partir do quadro esco- o vídeo segue um movimento ágil que do plano aberto
lhidos bem como as técnicas de tratamento desses que engloba a pintura inteira já ruma para o canto
movimentos e imagens seriam escolhidos em função inferior onde está o motivo da trombeta. A partir daí o
da composição musical. vídeo não cessa em seguir do plano inferior esquer-
Isso, claro gerou um descompasso, um não do para o superior, depois passar por toda a metade
atrelamento entre a criatividade sonora e a visual. superior para dai mergulhar nas águas/nuvens da
Pode-se questionar que há uma ancoragem mais segunda metade do quadro. Depois disso, seguindo
conservadora na visualidade adotada. Contudo, esses céus invertidos, temos vertigens no centro
dentro dos limites da pesquisa, não se intentou róseo do quadro, apontado por Kandinsky como área
realizar um produto autônomo dos objetivos da in- focal entre os dois centros de atenção de Composição
vestigação. Menos que o possível mas mais que o 6, um “centro dos centros”.
necessário, o que se fez realizou foi um intercampo Uma das questões bem interessantes desse
entre investigação acadêmica e exploração estética. projeto é a opção mesma de ter um arquivo de som
O que de fato não se procurou fazer foi nem tentati- fechado sobre o qual as decisões de vídeo são fei-
va de estreita correlação entre dados da imagem e tas. Quanto mais víamos a imensidade do mundo da
dados sonoros, nem exercício ensimesmado de livre catástrofe cósmica gerado por Kandinsky mais perce-
negociação de intimidades. bíamos diversos detalhes que não foram apreendidos
No caso dos vídeo, um fator fundamental aplica- na fase de pré-produção. Os zooms no quadro abriam
do à esta pesquisa foi o ato de navegar na superfície uma amplo horizonte de sensações e formas, que não
multidimensional da pintura, coisa somente possível necessariamente respondiam ao material sonoro. A
pelos softwares editores de imagem e vídeo. Durante orquestração densa da peça, porém, projetou um
as análises das pinturas, esses recursos de edição ambiente que interage com esse visualidade extrema,
da imagem tornavam acessíveis outros modos de ler sem ter de indicar correspondências imediatas.
as obras: por meio de zooms, análises de cores, Como esta foi a segunda composição/vídeo
rotações, etc, novas imagens tanto da totalidade elaborada no projeto, tínhamos o trabalho com
quanto de partes das pinturas eram acessadas. Em Composição IV como referência. E essa referência
se tratando de Composição VI, que leva a catástrofe dizia respeito tanto ao que empreender quanto ao
do dilúvio a sua dimensão cósmica, tal imersão dentro desejo de inserir diferenças, novos aspectos na re-
do quadro, tal fluxo de movimentos foi imprescindível. lação entre vídeo e som. Na Composição IV, tudo

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foi mais roteirizado, programado, a preponderância na expressão do Dilúvio, no lugar de prestar atenção
do arquivo de som sobre a imagem a imagem mais na palavra ‘Dilúvio’. Eu estava sendo dirigido não
relevante. Isso em parte se deve ao arranjo mes- pela ressonância interior mas por impressão externa.
mo estrutural da obra: Composição IV é claramente Várias semanas se passaram e eu tentei novamente,
dividida em duas metades, duas histórias, duas con- mas sem sucesso. Usei o método de me afastar por
traposições de afetos. Aqui não: em Composição um tempo do trabalho, na esperança de examinar
VI há mais mistura de elementos, mais movimento, os esboços com um olhar renovado. Então observei
mais dimensões em entrechoque. Assim, o trabalho que eles continham muita coisa correta, mas não
com Composição VI, dentro do projeto geral das havia conseguido separar o miolo das cascas. Seria
audiocenas, foi uma oportunidade de redefinir as como uma cobra que não consegue remover sua
correlações entre as orquestrações e as imagens pele. A pele está completamente morta, mas ainda
em movimento. está presa ao corpo da cobra. Do mesmo modo, por
um ano e meio o elemento que estava ausente em
Conclusão minha pintura interior da catástrofe chamada Dilúvio
ainda permanecia preso a mim.
Para terminar, devolvo a palavra a Kandinsky, Minha pintura sobre vidro esteve em exposição
oferecendo a tradução completa de seu ensaio so- por um tempo. Mas ela me foi devolvida e eu a exami-
11
bre Composição VI, seguida de seu original . nei novamente, e recebi outra vez o mesmo impacto
"Eu carreguei esse quadro em minha mente por interior que sentira quando eu havia terminado essa
um ano e meio e muitas vezes pensei que não seria pintura. Mas eu havia perdido a confiança, não acre-
capaz de realizá-lo. O ponto de partida foi o Dilúvio. ditava que seria capaz de criar o grande quadro. De
O Ponto de partida foi uma pintura sobre vidro que vez em quando, eu observava a pintura sobre vidro
eu fiz pra meu próprio deleite. Nela diversas formas que estava dependurada em meu ateliê. E quando
objetivas estão registradas, das quais umas são di- isso acontecia, primeiro eu me sentia atraído pelas
vertidas (adoro misturar formas sérias com expres- cores, depois pela composição e enfim pela forma do
sões externas atrativas): nus, a arca, animais, palmei- desenho, isso sem referência ao objeto. Essa pintura
ras, relâmpagos, chuva, etc. Quando a pintura sobre sobre vidro havia se desprendido de mim. Era estra-
vidro ficou pronta, quis trabalhar este tema em uma nho saber que eu a havia pintado. E isso me afetou do
Composição, e então estava claro para mim o modo mesmo modo como muitos objetos reais ou conceitos
pelo qual eu deveria fazer isso. Mas esse desejo que possuem a capacidade de despertar em mim, por
logo se esvaneceu, e eu me vi perdido em meio a meio de fazer vibrar a alma, imagens pictóricas puras,
formas corpóreas, as quais eu havia pintado antes e que me impulsionam a criar um quadro. Enfim che-
apenas para intensificar e clarificar minha imagem gou o dia, e uma familiar, tranquila tensão interior me
do quadro. Assim, eu ganhava mais em confusão trouxe plena certeza. Então de uma vez só, quase sem
que em clareza. Em diversos esboços, dissolvi as modificações, eu elaborei o esboço final, o qual muito
formas objetivas e em outros tentei encontrar a im- me agradou. Agora eu sabia que sob circunstâncias
pressão por recursos mais abstratos. Mas nada dis- normais eu seria capaz de pintar quadro. Logo que
so funcionou. Isso aconteceu pois eu estava fixado recebi a tela que eu havia encomendado, comecei

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preparar as camadas. E tudo foi indo bem rápido, 1- à esquerda, um centro delicado, róseo e algo
e quase tudo estava pronto de primeira. Em dois ou borrado, com linha indefinidas e frágeis no meio;
três dias o quadro como um todo estava acabado. 2- à direita, (um pouco mais acima que ao da
A grande batalha, a conquista da tela havia termina- esquerda), um centro mais bruto, vermelho-azul,
do. Se por alguma razão eu tivesse interrompido o discordante, com linhas agudas quase ferinas, for-
trabalho no quadro, mesmo assim ele não deixaria tes e muito precisas.
de existir – o principal fora feito. Então veio a sutil,
agradável e deveras exaustiva tarefa de balancear os Entre estes dois centros, há um terceiro (perto
elementos individuais uns contra os outros. Ah, como do esquerdo), que só mais tardiamente será reco-
antigamente eu costumava me torturar quando algum nhecido como centro, mas ele é , ao fim, o centro
detalhe parecia equivocado e eu tentava corrigi-lo ! principal. Nele o rosa e o branco são misturados
Anos de experiência me ensinaram que o equívoco em uma espuma que parece não estar nem na su-
dificilmente se acha onde é buscado. Mais comum é perfície da tela, nem em qualquer superfície ideal.
o caso de que, ao se quer melhorar o canto inferior Em vez disso, parece perdurar no ar e se cercar de
esquerdo, acabarmos por modificar o canto superior neblina. Essa mesma ausência de superfície e de
direito. Se o prato esquerda da balança fica mais pe- incerteza pode ser observada nas casas de banho
sado, é necessário colocar mais peso no direito- daí russas. Um homem de pé no vapor não está nem
o da esquerda vai subir em contrapartida. A exaustiva próximo, nem distante: ele está justamente em algum
busca pelo ajuste de pesos, pelo equilíbrio ausente, lugar. Esse sentimento de ‘algum lugar’ quanto ao
o modo pelo qual a prato da esquerda estremece no centro principal determina a ressonância interior de
simples contato com o da direita, os ínfimos altera- todo o quadro. Eu trabalhei nisso até que conseguir
ções retoques no desenho e cor em um espaço espe- criar aquilo que antes eu vagamente queria mas que
cífico que fazem a pintura vibrar como um todo- essa depois ficou claro para mim.
permanência vivaz, incomensurável qualidade sensi- As pequenas formas no quadro demandaram
tiva de um quadro bem-sucedido – este é o terceiro, um efeito que era ao mesmo tempo bem simples e
belo e atormentador momento na pintura. São justa- amplo (largo). Para tanto, me vali das longas e sole-
mente estes ínfimos pesos aqui utilizados e que exer- nes linhas que usei em Composição 4. Fiquei muito
cem um tão poderoso efeito na totalidade do quadro satisfeito em perceber como o mesmo recurso aqui
– a indescritível acurácia da ação de uma lei oculta, produziu diferente efeito. Essa linhas são vinculadas
que dá espaço para a intervenção da mão treinada e com as que estão acima delas, mais grossas, oblí-
também a subjulga – que são tão prazeirosas quan- quas, formando um conflito direto entre ambas.
to o primeiro lançar massas sobre a tela. Cada um Para arrefecer o efeito dramático das linhas,
desses momentos possui sua própria tensão. Quantos isto é, distorcer a voz excessivamente inoportuna do
quadros, mal realizados ou inacabados, devem seu elemento dramático (colocar uma focinheira nelas),
destino doentio simplesmente ao fato de uma tensão elaborei um fuga completa de diversas manchas cor
equivocada ter sido a eles aplicada. de rosa, que se espraia autônoma sobre o quadro. A
partir disso, a grande perturbação se reveste de uma
Neste quadro há dois centros distinguíveis: grande tranquilidade, a ação total é objetivada. Este
caráter solene e tranquilo é, de outro lado, interrompi-

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do por diversas manchas de azul, as quais produzem Formen mit lustigen äußeren Ausdrücken zu vermen-
um calor interior. Esse efeito do calo produzido por gen): Akte, Arche, Tiere, Palmen, Blitze, Regen usw.
essa cor fria intensifica mais uma vez o elemento Als das Glasbild fertig wurde, entstand in mir der
dramático de um modo nobre e objetivo. A grande Wunsch, dieses Thema für eine Komposition zu be-
profundidade das formas marrons (em particular as arbeiten, und es war mir damals ziemlich klar, wie ich
do lado superior esquerdo) introduz uma sonoridade es machen soll. Sehr bald verschwand aber dieses
bem embaçada, abstrata, que traz à mente uma falta Gefühl, und ich verlor mich in körperlichen Formen,
de esperança. Verde e amarelo trazem vida à alma, die ich nur um die Vorstellung des Bildes zu klären
recobrando sua agitação. und zu heben gemalt hatte. Statt Klarheit gewann ich
A alternância do áspero e do liso, e outros re- Unklarheit. Auf einigen Skizzen löste ich die körper-
cursos no tratamento da tela mesma, foram muito lichen Formen auf, auf anderen versuchte ich, den
explorados em um nível extremo. A partir disso, o Eindruck rein abstrakt zu erreichen. Es ging aber
espectador vai experienciar uma diferente resposta doch nicht. Und das kam nur daher, weil ich dem
cada vez que se aproximar da tela mais atentamente. Ausdruck der Sintflut selbst unterlag, statt dem Aus-
Assim, todos esses elementos, mesmo aqueles drucke des Wortes “Sintflut” zu gehorchen. Nicht der
que se contradizem entre si, atingem um total equilí- innere Klang, sondern der äußere Eindruck beherrs-
brio interior, de modo que nenhum deles predomina. chte mich. Es vergingen Wochen, und ich versuchte
Disso, o tema original do quadro (O Dilúvio) é dis- wieder, aber immer ohne Erfolg. Ich versuchte auch
solvido e transformado em uma existência interior, das erprobte Mittel, mich zeitweise von der Aufgabe
puramente imagética, independente e objetiva. Nada abzuwenden, um dann plötzlich die besseren En-
seria mais afastado da verdade que chamar esse twürfe mit fremden Augen anschauen zu können. Ich
quadro uma representação de um evento. sah dann auch Richtiges darin, konnte aber den Kern
O que então irrompe diante de nós é que um von der Schale nicht trennen. Ich erinnerte mich an
poderoso colapso objetivo ressoa, quando alguém eine Schlange, der es nicht recht gelingen wollte, aus
isola sua sonoridade, como um altaneiro hino de der alten Haut zu kriechen. Die Haut sah schon so
louvor de uma nova criação que se sucede após a unendlich tot aus – aber sie klebte. So klebte auch
destruição do mundo." an mir anderthalb Jahre das dem inneren bild fremde
Element der Katastrophe, die Sintflut heißt.
Texto original: Mein Glasbild war damals in Ausstellungen. Als
es aber zurückkam, und ich es wieder gesehen hatte,
“Dieses bild habe ich anderthalb Jahre in mir bekam ich sofort den inneren Schock, welchen ich
getragen, und oft mußte ich denken, daß ich es nicht nach der Herstellung des Glasbildes erlebt hatte. Ich
fertigbringe. Der Ausgangspunkt war die Sintflut. Der war aber schon mißtrauisch und glaubte nicht, daß
Ausgangspunkt war ein Glasbild, das ich mehr zu ich jetzt das große Bild machen können würde. Trotz-
meinem Vergnügen gemacht habe. Hier sind vers- dem guckte ich von Zeit zu Zeit auf das Glasbild, das
chiedene gegenständliche Formen gegeben, die bei mir im Atelier hing. Jedesmal erschütterten mich
teilweise lustig sind (es machte mir Spaß, die ernsten wieder erst die Farben, dann das Kompositionelle

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daran und die zeichnerische Form ohne bezug auf in einem richtig gemalten Bild ist der dritte schöne
den Gegenstand. Dieses Glasbild war von mir getren- und quälende Moment in der Malerei. Gerade die
nt. Es war mir merkwürdig, daß ich es gemalt habe. minimalen Gewichte, die man hier braucht und die
Und es wirkte auf mich so, wie manche objektiven eine so starke Wirkung auf das ganze Bild ausüben,
Gegenstände oder Begriffe, welche die Kraft haben, die unbeschreibliche Genauigkeit im Wirken eines
durch eine Seelen - vibration in mir rein malerische verborgenen Gesetzes, das die glücklich gestimm-
Vorstellungen zu wecken, und welche mich schließli- te Hand wirken läßt und dem sie folgsam unterliegt,
ch zur Herstellung eines Bildes bringen. Endlich kam ist ebenso verlockend, wie das erste gewaltige Au-
der Tag, und eine mir bekannte ruhige innere Span- f-die- Leinwand-Werfen der großen Massen. Jedem
nung machte mich vollkommen sicher. Ich machte so- dieser Momente entspricht eine eigene Spannung,
fort beinahe ohne Korrekturen den definitiven letzten und wieviel falsche oder unfertig gebliebene Bilder
Entwurf, der mich im ganzen sehr befriedigte. Jetzt verdanken ihr krankes Dasein nur dem Umstand, daß
wußte ich, daß ich bei normalen Zuständen das Bild eine falsche Spannung angewendet wurde.
malen werde. Kaum hatte ich die bestellte Leinwand,
so ging ich schon an die Zeichnung. Es ging schnell, In diesem Bilde sieht man zwei Zentren:
und beinahe alles wurde sofort gut. In zwei bis drei 1. links das zarte, rosige, etwas zerschwomme-
Tagen war das Bild im allgemeinen da. Der große ne Zentrum mit schwachen unsicheren Linien in der
Kampf, die große Bezwingung der Leinwand war Mitte,
geschehen. Wenn ich später aus irgendeinem Grund 2. rechts (etwas höher als das linke) das grobe,
an diesem bild nicht mehr hätte malen können, so rot-blaue, etwas mißklingend, mit scharfen, etwas
wäre es doch da: die große Hauptsache war schon bösen, starken, sehr präzisen Linien.
gemacht. Dann kam also das unendlich feine, ange- Zwischen diesen zwei Zentren das dritte (dem
nehme und doch sehr anstrengende Abwiegen der linken näher liegend), welches erst später als Zen-
einzelnen Teile gegeneinander. Wie quälte ich mich trum erkannt werden kann und doch im letzten Grun-
früher, wenn ich irgendeinen Teil unrichtig fand und de das Hauptzentrum ist. Hier schäumt die rosa und
ihn zu bessern suchte! Die Erfahrungen der Jahre weiße Farbe so, daß sie weder auf der Fläche der
haben mich gelehrt, daß der Fehler manchmal gar Leinwand zu liegen scheint, noch auf irgendeiner
nicht da liegt, wo man ihn sucht. Oft ist es so, daß idealen Fläche. Sie ist vielmehr in der Luft schwe-
man die linke untere Ecke dadurch verbessert, daß bend und sieht wie von Dampf umgeben aus. Solche
man an der oberen rechten etwas ändert. Wenn die Abwesenheit der Fläche und die Unbestimmtheit der
linke Waagschale zu tief geht, so muß man auf die re- Entfernung kann man z. B. im russischen Damp ad
chte etwas mehr Gewicht legen – dann geht die linke beobachten. Der in dem Dampf stehende Mensch
von selbst hinauf. Das anstrengende Suchen nach ist weder nahe, noch weit; er ist irgendwo. Dieses
dieser rechten Schale im Bilde, das Finden des ge- “Irgendwo” des Hauptzentrums bestimmt den inne-
nauen noch fehlenden Gewichtes, das Erzittern der ren Klang des ganzen Bildes. Ich habe so viel an
linken Schale durch die Berührung der rechten, die dieser Stelle gearbeitet, bis ich das erst undeutlich
minimalsten Änderungen in Zeichnung und Farbe an Gewünschte und später immer klarer in meinem In-
einer Stelle, die das ganze Bild vibrieren lassen, die- nern Verlangte gestaltet hatte.
ses unendlich Lebendige, unermeßlich Empfindliche

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Die sämtlichen kleineren Formen verlangten in und objektives Wesen verwandelt wird. Nichts wäre
diesem bilde etwas, das sehr einfach und sehr breit falscher, als dieses Bild zur Darstellung eines Vor-
(“largo”) wirkt. Ich habe zu diesem Zweck die langen ganges zu stempeln.
feierlichen Striche verwendet, die ich schon in der Ein großer, objektiv wirkender Untergang ist
Komposition 4 gebracht habe. Es war sehr schön, ebenso ein vollständig und im Klang abgetrennt le-
dieses schon angewendete Mittel hier auf eine so bendes Loblied, wie ein Hymnus der neuen Entste-
andere Weise wirken zu sehen. Diese Striche sind hung, die dem Untergang folgt.
mit den oberen quer und präzis zu ihnen gehenden Mai 1913”
dicken Strichen verbunden, mit denen sie direkt zu-
sammenprallen. Referências
Um die zu dramatisch klingende Handlung der
Linien zu mildern, d. h. um das zu aufdringlich spre- BARNETT, V.E. Kandinsky Drawings. Catalogue
chende dramatische Element zu vertuschen (ihm ei- Raisonne. Vol. One. Londres: I.B. Tauris, 2007.
nen Maulkorb anzulegen), ließ ich auf dem bild eine
ganze Fuge von verschieden gefärbten Rosaflecken FRIEDEL, H. (Org.) Wassily Kandinsky : gesammelte
sich abspielen. Sie kleiden die große Unruhe in Schrif ten 1889-1916 ; Farbensprache,
große Ruhe und objektivieren den ganzen Vorgang. Kompositionslehre und andere unveröffentlichte
Diesen feierlich ruhigen Charakter unterbrechen an- Texte. Munique: Prestel, 2007.
dererseits verschiedene blaue Flecken, die innerlich
warm wirken. Das warme Wirken der an sich kalten KANDINSKY, W. Rückblick. Baden-Baden: Woldemar
Farbe steigert also das dramatische Element in einer Klein Verlag,1955.
wieder objektiven und vornehmen Art. Die ganz tiefen
braunen Formen (besonders links oben) bringen eine LINDSAY, K. & VERGO, P. Kandinsky:Complete
abgestump e und sehr abstrakt klingende Note, die Writings on Art. Da Capo Press, 1994.
an das Element des Hoffnungslosen erinnert. Grün
und Gelb beleben den Seelenzustand und geben ihm MOTA,M. Dramaturgia. Conceitos, Exercícios e
die fehlende Aktivität. Análises. Brasília: Editora Universidade de
Die Glattheiten und Roheiten und andere Griffe Brasília, 2017.
in der Behandlung der Leinwand selbst habe ich hier
in hohem Maße angewandt. Deshalb bekommt der MOTA, M. O quadro e a partitura: A Poética
Beschauer neue Erlebnisse, wenn er auch nahe vor Multissensorial segundo Kandinsky. Anais
die Leinwand tritt. Online XVII SEMPEM - Seminário Nacional de
So sind alle und auch die sich widersprechen- Pesquisa em Música da UFG. Goiânia: Programa
den Elemente in volles inneres Gleichgewicht ge- de Pós-Graduação em Música UFG, 2017a,p.
bracht, so daß kein Element Oberhand bekommt, 48-53. Disponível em https://mestrado.emac.
das Entstehungsmotiv des Bildes (Sintflut) aufgelöst ufg.br/n/31464-sempem-anais-on-line . Acesso
und in ein inneres rein malerisches, selbständiges em : 31 ago. 2018.

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3 Ou Dramaturgia Multissensorial. Sobre os


MOTA, M. “Dramaturgie & multisensorialité a partir conceitos aqui empregados, v. MOTA 2017
de Kandinsky”. In: B. D’Angelo; F. Soulages; S.
4 Todas as traduções são minhas. V. ainda
Venturelli. (Orgs.). Esthétique & Connectivité.
LINDSAY & VERGO 1994:355-357,385-388. No
Paris: L’Hamarttan, 2018,pp. 119-130. anexo C, seguem original e tradução completa
do texto de Kandinsky.
MOTA, M” The dramaturgy and multisensoriality of
5 Imagens respectivamente em ROETHEL &
kandinsky: the audioscenes project”. Revista BENJAMIN 1982, n. 425 e ROETHEL 1966: 36
Dramaturgias, 8.3(2018a):112-126. Link: http://
6 Em alemão, no original é ‘Sinflut’{Dilúvio}, mais
periodicos.unb.br/index.php/dramaturgias/
associado ao relato bíblico que ‘Flut’{Inundação}.
article/view/21122 . V. WASHTON LONG 1980:93.
7 Imagens em BARNETT 2007: 150.
ROETHEL, H. Kandinsky. Painting on Glass. Nova York:
The Solomon R. Guggenheim Museum, 1966. 8 Link da imagem: https://commons.wikimedia.
org/wiki/Category:Composition_VI_-_Wassily_
Kandinsky . Para esboços, v. Anexo B.
ROETHEL, H.&BENJAMIN, J.K. Kandinsky. Catalogue
Raisonné of the Oil Paintings. Vol.One. Londres: 9 Sigo a marcação de tempo presente no
vídeo online, link: https://www.youtube.com/
Sotheby Publications, 1982.
watch?v=BvT0nmWXFnA

WASHTON LONG, R. Kandinsky, the development of an 10 Em seu texto sobre Composição VI, Kandinsky
havia afirmado que: “As pequenas formas no
abstract style. Clarendon University Press, 1980.
quadro demandaram um efeito que era ao
mesmo tempo bem simples e amplo (largo).
Para tanto, me vali das longas e solenes linhas
Notas que usei em Composição 4. Fiquei muito
satisfeito em perceber como o mesmo recurso
1 Marcus Mota, Universidade de Brasília. aqui produziu diferente efeito. Essa linhas são
marcusmotaunb@gmail.com. Alexandre Rangel vinculadas com as que estão acima delas, mais
doutorando PPG-Arte UnB, alexandregqrangel@ grossas, oblíquas, formando um conflito direto
gmail.com entre ambas(KANDINSKY 1955:39)”.

2 Sobre o projeto das audiocenas de Kandinsky, 11 Sigo texto em KANDINSKY 1955:37-40.


v. MOTA 2018, MOTA 2018a.

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