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ISSN 0103-5150

Fisioter. Mov., Curitiba, v. 25, n. 1, p. 195-205, jan./mar. 2012


Licenciado sob uma Licença Creative Commons

[T]

Exercício resistido no cardiopata: revisão sistemática


[I]

Resistance exercise in heart disease:


systematic review

[A]

Ana Clara Campagnolo Real Gonçalves[a], Carlos Marcelo Pastre[b], José Carlos Silva Camargo
Filho[c], Luiz Carlos Marques Vanderlei[d]

[a]
Mestre em Fisioterapia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Departamento de Fisioterapia, Presidente
Prudente, SP - Brasil, e-mail: clara_camp@ig.com.br
[b]
Doutor em Ciências da Saúde, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Departamento de Fisioterapia, Presidente
Prudente, SP - Brasil, e-mail: pastre@fct.unesp.br
[c]
Doutor em Cirurgia Experimental, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Departamento de Fisioterapia, Presidente
Prudente, SP - Brasil, e-mail: camargo@fct.unesp.br
[d]
Doutor em Odontologia – área de concentração: Farmacologia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Departamento de
Fisioterapia, Presidente Prudente, SP - Brasil, e-mail: lcmvanderlei@fct.unesp.br

[R]

Resumo
Introdução: A perda de massa muscular secundária à idade e à inatividade física é clinicamente relevante na po-
pulação cardíaca; contudo, a prescrição do exercício resistido dinâmico para esses pacientes apresenta-se incon-
clusiva na literatura. Objetivos: Reunir informações e apresentar as principais diretrizes relacionadas à prescri-
ção de exercícios resistidos em cardiopatas. Materiais e métodos: Foi realizada busca sistemática de literatura,
a partir das bases de dados LILACS, SciELO e MEDLINE, utilizando os seguintes descritores na língua portuguesa:
força muscular, exercício isométrico, esforço físico, cardiopatia e coronariopatia, e seus correspondentes na lín-
gua inglesa (muscle strength, isometric exercise, physical effort, heart disease e artery coronary disease), os quais
foram pesquisados separadamente e em cruzamentos, sendo considerados para esta revisão apenas artigos pu-
blicados entre 2005 e 2010. Resultados e discussão: De um total de 806 artigos foram selecionados 22 para
integrar a revisão, sendo 14 estudos classificados como artigos originais, 2 artigos de atualização da literatura e 6
artigos de revisão, além do capítulo 8 do livro intitulado Diretrizes do ACSM (American College of Sports Medicine)
para os testes de esforço e sua prescrição, publicado em 2007. Conclusão: O exercício resistido, independente da

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variada metodologia utilizada na prescrição dos componentes específicos do treinamento, mostrou-se eficiente
para aumentar a força muscular de membros superiores e inferiores em cardiopatas e sua aplicação pode ser
considerada segura para esses pacientes, desde que prescrito corretamente. [#]
[P]

Palavras-chave: Força muscular. Exercício isométrico. Esforço físico. Cardiopatia. Coronariopatia. [#]
[B]

Abstract
Introduction: Loss of muscle mass secondary to age and physical inactivity is clinically relevant in cardiac pop-
ulation, however dynamic resistance exercise prescription to these patients presents inconclusive in literature.
Objectives: Collecting information and presenting the main guidelines related to resistance exercise prescribed
in cardiac patients. Materials and methods: Systematic search was performed, using the data bases LILACS,
SciELO and MEDLINE. The descriptors used were: muscle strength, isometric exercise, physical effort, heart dis-
ease and artery coronary disease, which were surveyed separately and combined, considering for this review
articles that were published between 2005 and 2010. Results and discussion: From a total of 806 articles, 22
were selected to compose the review, 14 original articles, 2 dates literature articles and 6 review articles, beyond
the chapter 8 of the book ACSM´s guidelines (American College of Sports Medicine) for exercise testing & pre-
scription, published in 2007. Conclusion: Resistance exercise, regardless of the varied methods used to prescribe
the specific components of training, has proved effective for increasing muscle strength of upper and lower limbs
in patients with and its application can be considered safe for these patients, provided that prescribed correctly. [#]
[K]

Keywords: Muscle strength. Isometric exercise. Physical effort. Heart disease. Artery coronary disease. [#]

Introdução

Exercícios físicos como terapia associada à tera- Assim, sugere-se o aumento de massa muscular
pia medicamentosa são largamente empregados em em cardiopatas, por meio de exercícios resistidos,
pacientes cardiopatas. Na literatura, encontram-se a fim de promover: otimização da resposta do con-
bem descritos os benefícios do treinamento físico dicionamento aeróbico, aumento da densidade mi-
aeróbico, seus riscos e suas limitações. Nesse âm- neral óssea, aprimoramento do tecido conjuntivo,
bito, destaca-se a própria especificidade de estímu- aumento ou manutenção do peso corporal magro,
los relacionada à endurance e não ao aumento de redução do risco de osteoporose e diabetes e con-
força muscular (1). Por isso, a prescrição de exer- trole da hipertensão arterial (2, 3, 5).
cícios resistidos associados ao treinamento físico Contudo, a literatura parece não apresentar con-
aeróbico, anteriormente contraindicado para car- senso quanto às características da prescrição do
diopatas, tem sido recomendada visando a uma in- exercício resistido, classificadas como seguras aos
tervenção mais abrangente (2-4). cardiopatas visando ao ganho de força, como valo-
A perda de massa muscular secundária à idade res da carga de intensidade e volume de trabalho,
e à inatividade física é clinicamente relevante na períodos de recuperação, frequência, duração e so-
população cardíaca, pois associada a menores taxas brecarga do exercício.
metabólicas de repouso favorece o ganho de massa Portanto, o objetivo desta revisão é reunir informa-
gorda e a diminuição do desempenho funcional. ções e apresentar as principais diretrizes relacionadas
Somado a isso, esses pacientes apresentam alta pre- à prescrição de exercícios resistidos em cardiopatas.
valência de fatores de risco cardiovasculares, baixo
nível de independência funcional e maiores índices
de mortalidade. Além disso, reduções da força e da Materiais e métodos
resistência muscular contribuem para aumento do
risco de lesões por quedas e diminuição das apti- A busca científica foi realizada nos meses de abril
dões físicas para atividades diárias (2-5). e maio de 2010, por meio de pesquisas nas bases de

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dados online MEDLINE (Medical Literature, Analysis haver a convicção de que todas as referências obti-
and Retrieval System Online), SciELO (Scientific Eletronic das já tivessem sido identificadas. Foram conside-
Library Online) e LILACS (Literatura Latino-Americana rados para análise artigos publicados nas línguas
e do Caribe de Informação em Ciência da Saúde). inglesa e portuguesa.
Em função da importância e do valor científico
das recomendações do American College of Sports
Critérios de inclusão Medicine (ACSM) para a prescrição de exercícios e
levando em consideração que sua última publica-
Para as buscas nessas bases de dados, as pala- ção de diretrizes para prescrição de exercício em
vras-chave foram selecionadas a partir dos Des- pacientes cardiopatas foi no ano 2000, foi incluído
critores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical nesta revisão o capítulo 8 (Modificações na prescri-
Subject Headings (MeSH), sendo utilizadas as se- ção de exercício para pacientes cardíacos) do livro
guintes palavras-chave: muscle strength, isometric intitulado Diretrizes do ACSM para os testes de es-
exercise, physical effort, weightlifting, artery coro- forço e sua prescrição, publicado em 2007.
nary disease e heart disease. Nas bases de dados
LILACS e SciELO foram também utilizados os ter-
mos em português: força muscular, exercício isomé- Tipo de estudo
trico, esforço físico, levantamento de pesos, corona-
riopatia e cardiopatia. Foram incluídos nesta revisão apenas artigos
A pesquisa de artigos na base de dados MEDLINE que abordassem pacientes portadores de cardiopa-
foi realizada a partir dos cruzamentos dos uniter- tia, sendo selecionados ensaios clínicos randomiza-
mos: muscle strength, isometric exercise, phyisical dos controlados e não controlados e estudos de re-
effort, weightliftin com artery coronary disease ou visão baseados em treinamento resistido, associado
heart disease. Resultando, com a palavra-chave “ar- ou não ao treinamento aeróbico. Foram analisados
tery coronary disease”, 138 artigos; e com “heart di- os componentes da prescrição do exercício e a sua
sease” 295 artigos. influência sobre os sistemas cardiovascular, muscu-
Já nas bases de dados LILACS e SciELO foram uti- loesquelético e a qualidade de vida.
lizadas isoladamente todas as palavras-chave na lín- Dos 806 artigos iniciais foram selecionados 22
gua inglesa e portuguesa, e também em cruzamen- para integrar a revisão, sendo 14 estudos classifica-
tos, como realizado para a base de dados MEDLINE. dos como artigos originais, 2 artigos de atualização
Na base de dados SciELO foram encontrados 351 da literatura e 6 artigos de revisão, além do capítulo
artigos ao se realizar a pesquisa com todos os uni- do livro anteriormente relacionado. O restante dos
termos de maneira isolada, mas não foi encontrado artigos encontrados não preencheu o principal cri-
nenhum artigo ao se repetir a busca, por meio do tério para sua inclusão nesta revisão, ou seja, abor-
cruzamento dos descritores. Em contrapartida, na dar exercício resistido em pacientes cardiopatas.
base de dados LILACS, foram obtidos 23 artigos re-
ferentes ao tema dessa revisão somente quando se
usou o cruzamento das palavras-chave com o des- Tipo de participantes e intervenção
critor “cardiopatia” ou “heart disease”.
Foram considerados para o presente estudo ape- Foram analisados estudos com pacientes inseri-
nas artigos publicados entre o período de 2005 a dos em programa de reabilitação cardiovascular su-
2010. A pesquisa realizada originou um total de 804 pervisionado ou não supervisionado, independen-
artigos, os quais inicialmente tiveram seus resumos temente da fase de intervenção (fase 1, fase 2 e fase
analisados para identificação daqueles que atendes- 3 da reabilitação cardiovascular), que praticassem
sem aos critérios de inclusão desta revisão. Os tex- atividade física exclusivamente resistida ou asso-
tos completos dos artigos potencialmente relevan- ciada ao exercício aeróbico. Graças ao limitado re-
tes foram recuperados para avaliação final e suas ferencial bibliográfico referente ao tema proposto,
listas de referências foram checadas para identificar optou-se ainda por não restringir a condição clínica
estudos com potencial relevância não encontrados da amostra de cada estudo e a modalidade do exer-
na busca eletrônica. Esse trabalho foi repetido até cício resistido (dinâmico, isométrico, circuito, pesos

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livres, corda elástica ou aparelhos de musculação), de exercícios para pessoas com e sem doenças car-
associado ou não ao treinamento aeróbico. diovasculares (DCV) (5). A Diretriz Brasileira de
Reabilitação Cardíaca (3) e a ACSM (1) relatam que
a força muscular é fundamental para a saúde, para
Tipo de resultados relatados a manutenção de boa capacidade funcional e para
atingir qualidade de vida satisfatória.
Estudos que investigaram modificações e altera- Os benefícios potenciais do exercício resistido in-
ções, nas variáveis do sistema cardiovascular e mus- cluem não só melhora na saúde e controle de fatores
cular, relacionadas à prática de atividade resistida de risco para doenças cardiovasculares como hiper-
combinada ou não à atividade física aeróbica por tensão arterial, dislipidemia, sensibilidade à insulina,
pacientes que apresentam cardiopatia. melhor controle do peso, prevenção de deficiências e
quedas e aumento da capacidade funcional (1-6).
A inclusão do treinamento de força em progra-
Resultados e discussão mas de reabilitação cardíaca produz efeitos favo-
ráveis ao bem-estar geral do paciente, pois auxilia
A maioria de nossas atividades de vida diária in- na melhora da força e resistência muscular, do me-
clui atividades como subir e descer escadas, levan- tabolismo, da função cardiovascular, evidenciada
tar, empurrar, ou carregar algum objeto, as quais a partir de aumento do consumo máximo de oxi-
exigem força muscular na sua execução e, conse- gênio e melhora do débito cardíaco e significante
quentemente, geram estresse sobre o sistema mus- redução da percepção do esforço para atividades
culoesquelético. Adicionado a isso, muitos pacien- submáximas (1, 3, 5, 6).
tes cardiopatas possuem redução da força física e/ Para esta revisão, dos 14 artigos originais selecio-
ou da autoconfiança necessárias para a realização nados quatro utilizaram o exercício resistido como
dessas atividades e, ao considerar as necessidades intervenção isolada, somente um artigo avaliou
e os objetivos específicos dos indivíduos participan- um programa não supervisionado de treinamento
tes de um programa de reabilitação cardíaca, o exer- resistido e os nove artigos restantes submeteram
cício resistido deve ser estimado (1, 5, 6). cardiopatas a um programa de treinamento resis-
A atualização da literatura publicada por Adams tido supervisionado com intervenção, associado
et al. (6) relata que pacientes após evento cardíaco ou comparado ao treinamento aeróbico (Tabela 1),
recebem orientações de médicos que implicam res- e relataram benefícios no incremento de força e na
trições excessivas e limitantes à prática de exercício melhora da capacidade funcional, sem a presença
resistido, o que aumenta a insegurança e a falta de de complicações cardiovasculares ou lesões muscu-
motivação para o retorno às atividades rotineiras. loesqueléticas durante o treinamento.
Contudo, força e resistência muscular são importan- Estudos demonstram que pacientes com doença
tes habilidades físicas que garantem ao indivíduo arterial coronária (DAC) e insuficiência cardíaca
o retorno seguro e eficaz para executar as ativida- (IC) apresentam menor força muscular máxima de
des de vida diária e profissionais. Assim, pacientes membros inferiores (MMII) quando comparados a
com evolução não complicada após infarto agudo indivíduos de mesma faixa etária e saudáveis (7-9).
do miocárdio (IAM) estão aptos para o retorno ao Ghroubi et al. (7) avaliaram 30 voluntários entre
trabalho dentro de quatro semanas, e à prática do cardiopatas e controles saudáveis, com o objetivo
exercício de resistência na fase II da reabilitação de investigar se a baixa capacidade aeróbica de pa-
cardíaca faz-se fundamental para essa readaptação. cientes com DAC está acompanhada pelo déficit de
Os artigos de revisão selecionados e o capítulo do força muscular em MMII. Os autores observaram,
livro da ACSM justificam a prática do treinamento por meio de teste de capacidade máxima, teste de
resistido de maneira segura e eficaz para cardiopa- caminhada de seis minutos e avaliação pelo dina-
tas. Desde a primeira recomendação da American mômetro isocinético, que os pacientes cardiopatas
Heart Association (AHA) e do American College of apresentaram redução da capacidade cardiorrespi-
Sports Medicine (ACSM) para o treinamento resis- ratória e fadiga precoce nos músculos avaliados.
tido, em 2000, essa modalidade de exercício tor- O estudo de Okada et al. (8) verificou se a mio-
nou-se ainda mais aceita e utilizada em programas patia presente em pacientes portadores de IC está

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Tabela 1 - Síntese dos artigos originais apresentando: população do estudo, variáveis analisadas, características do programa de treinamento supervisionado de exercício
resistido isolado ou associado ao exercício aeróbico em pacientes cardiopatas (Continua)

Autores População do estudo Variáveis analisadas Programa de treinamento Resultados

Feiereisen TA (treinamento aeróbico): 15 pa- Fração de ejeção do ven- 3 grupos de intervenção: 40 sessões, 3 vezes por semana: Os parâmetros avaliados aumentaram signi-
et al., cientes com IC (59,4 ± 6,5 anos); trículo esquerdo (FEVE), - TA: 20' cicloergômetro (60%-75% Vo2pico); ficativamente nos três grupos de exercício,
2007 TR (treinamento resistido): consumo oxigênio de pico - TR: 40' de 10 diferentes tipos exercícios, 4 séries de 10 repeti- exceto para a força dos músculos extensores
15 pacientes com IC (57,9 ± (VO2pico), carga de pico, ções (60%-70% 1RM), intervalo de 2', tempo de execução 3"; do joelho no grupo de exercício aeróbico. Ao
5,8 anos); força do músculo exten- - TRA: 20' cicloergômetro (60-75%Vo2pico) seguido de 20' de 4 comparar os grupos exercitados ao GC todas
TRA (treinamento resistido e sor do joelho, volume do séries de 10 repetições, 5 tipos diferentes de exercício (60%- as variáveis foram superiores, sendo signifi-
aeróbico): 15 pacientes com IC músculo da coxa, resistên- 70% 1RM), intervalo de 2', tempo de execução 3". cante apenas para VO2pico .
(60,6 ± 5,6 anos); cia e qualidade de vida.
GC (grupo controle): 15 pacien-
tes com IC (55,5 ± 7,5 anos).

Volaklis 16 pacientes com doença arterial VO2pico e força muscular. Duração: 8 meses Melhora significativa da capacidade cardior-
et al., coronária (DAC) (1656,2 ± 8,6 TRA: 60' 2 sessões de exercício aeróbicos semanais, incluindo respiratória e na força muscular em MMSS
2006 anos) e 14 pacientes saudáveis esteira, cicloergômetro e caminhada (60%-85%). 60' 2 sessões e MMII e redução significativamente do es-
(56,9 ± 12,3 anos). semanais de treinamento resistido em circuito com pesos livres tresse hemodinâmico durante o repouso e
(60% 1 RM), 8 tipos diferentes de exercício envolvendo (MMSS esforço submáximo. Contudo, após três me-
e MMII) em membros superiores e inferiores, 3 séries de 12 a ses de cessação do esforço foram perdidas
15 repetições, com intervalo de 30" entre as séries e 5' entre os alterações significantes.
tipos de exercício.

Schimid TRA: 17 (54,7 ± 9,4 anos); Volume diastólico final Dois grupos de intervenção com 6 sessões por semana e 12 Observaram aumentos significantes somente
et al., 2008 TA: 21 (57 ± 9,6 anos). do ventrículo esquerdo meses de duração: após um ano de seguimento para as variáveis
(VSDVE), massa do ven- TA: cicloergômetro (70% a 85% do pico FC); VDFVE, MVE, FEVE, VO2pico e força muscular.
trículo esquerdo (MVE) TRA: (4 sessões de TA e 2 de TR); TR: 6 tipos diferentes de exer-
FEVE, FCpico, força mus- cícios (40%-60% 1RM) 2 séries, 10 repetições – intervalo 60".
cular.

Arthur Mulheres menopausadas após an- VO2pico e na força muscu- Realizaram 6 meses de seguimento Após seis meses de treinamento físico super-
et al., gioplastia coronária transluminal lar e SF-36. TA: 40' 2 sessões por semana, fase aquecimento (10 -15"), visionado, ambos os grupos apresentaram
2007 percutânea (ACTP) ou IAM dividi- fase endurance: (40%-70% VO2pico) bicicletas estacionárias, es- melhoras estatisticamente significativas no
das em dois grupos IAM dividi- teiras e ergômetros de braço e escaladas e fase de recuperação VO2pico, na força muscular e na qualidade de
das em dois grupos TRA (37) e (10-15"); vida.
TA (35). TRA: após 2 meses de TA exclusivo foi adicionado o TR: 20" 2
séries de 8 a 10 repetições (30%-70% 1RM) para MMSS e 10
a 12 (50%-70% de 1 RM) para MMII. Período de execução de 2
segundos na concêntrica e 4 na excêntrica.

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Tabela 1 - Síntese dos artigos originais apresentando: população do estudo, variáveis analisadas, características do programa de treinamento supervisionado de exercício
resistido isolado ou associado ao exercício aeróbico em pacientes cardiopatas (Conclusão

Autores População do estudo Variáveis analisadas Programa de treinamento Resultados

Miche Pacientes com IC mulheres (69 ± FEVE,VDFVE, volume sis- Quatro semanas de TRA: TA com 15-20', três vezes na semana A FEVE aumentou nos dois grupos estuda-
et al., 9 anos) e homens (66 ± 9 anos). tólico final do ventrículo (60%-80% do VO2pico), fase aquecimento de 5'. Caminhada de 6' dos; contudo, para o VO2pico foi verificado
2008 esquerdo (VSFVE), VO2pico, TR: 2 na semana e TR 2-3 vezes com número de séries e repe- apenas para homens. O grupo feminino foi o
SF36 e força muscular, tições (3-5), e intensidades de carga diferentes (MMSS e MMII) que menos andou no teste de caminhada de 6
teste de caminhada 6'. e definidos a partir do VO2pico. minutos, mas ambos os grupos aumentaram
significantemente as suas distâncias. Houve
melhora significante na força muscular.

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Marzolini DAC entre homens e mulheres VO2pico, o limiar ventilató- 29 semanas de treinamento, TRA1 e TRA3 três dias na semana Foi obtida melhora dos valores de VO2pico,
et al., TA: 16 (57,9 ± 2,6 anos) TRA1 rio (LA) e força muscular, e TA cinco dias na semana. limiar anaeróbico ventilatório, composição
2008 (1série): 19 (60,9 ± 2,3 anos) e composição corporal. TA: 60" caminhada (60ª 80% Vo2pico). TR: 6 tipos diferentes de corporal e força muscular. Sendo que esses
TRA 3 (3 séries): 18 (62.7 ± 2,7 exercícios (60%-75% 1RM) 10 a 15 repetições. benefícios podem ser ainda maiores quando
anos). se utilizam múltiplas séries.
Gonçalves ACCR, Pastre CM, Camargo Filho JCS, Vanderlei LCM.

Tokmakidis 21 pacientes com DAC foram di- IMC, dobras cutâneas, Programa de 4 meses TRA. Medidas antropométricas, força muscular, ca-
et al., vididos em dois grupos TRA: 11 1RM, lactato, teste de ca- O programa de exercício consistiu de quatro sessões por se- pacidade aeróbica e o limiar de lactato me-
2008 (52,4 ± 11,8 anos ) e GC: 10 minhada (andar por 6' na mana: duas sessões. TA de exercícios diversos na água (50%- lhoraram significantemente após os quatro
(50,8 ± 9,4 anos). piscina com altura até a 85% da FCmáx) e duas sessões de TR em circuito de exercí- meses de treinamentos iniciais. Esses efeitos
linha do quadril), e VO2máx. cios na água – 60%-80% 1RM – e valores de escala de Borg positivos tenderam a diminuir parcialmente
de 14/11, com proporção trabalho: descanso de 1: 1,5 para ou totalmente com o destreinamento nos
os 1º e 2º meses e de 1,5:1 a partir do 3º mês). Duração: quatro meses seguintes. Nos últimos quatro
75'(aquecimento, exercício e relaxamento). TR: três séries meses, com a retomada das atividades, o
de 6 a 8 tipos diferentes de exercícios. Cada exercício durou organismo reagiu positivamente alcançando
de 30-45", o que permitiu a conclusão de 15-20 repetições. novamente melhoras dos itens avaliados.
O período de descanso entre os exercícios foi de 30" e 2' entre
as séries.

Vona et al., Os pacientes pós-IAM foram divi- Função endotelial (ultras- Treinamento quatro vezes por semana durante quatro semanas. O estudo demonstra que todos os tipos de
2009 didos em quatro grupos: sonografia bidimensional) TA: aquecimento 10', 40' bicicleta (75% da FCmáx) e 10' desa- exercícios (TA, TR TRA) são seguros, sendo
TA: 52 (56 ± 6 anos), TR: 54 FCmáx. quecimento; estratégias eficazes para corrigir a disfunção
(57 ± 8 anos), TRA: 53 (55 ± 9 TR: 10' aquecimento, desaquecimento e período alongamento, endotelial em pacientes após IAM recente.
anos), e GC: 50 (58 ± 7 anos). circuito 10 exercícios de (pesos e elásticos - 60% 1RM), 4 sé- Esses achados poderiam ajudar a promover
ries 10 a 12 repetições, 45" a 1' de execução, com intervalos de a variedade na prescrição do exercício e, fi-
recuperação de 15 a 30", alternando MMSS e MMII; nalmente, promover melhor aderência a longo
TRA: duas sessões do TR e duas sessões de TA por semana; prazo no treinamento físico.
GC: pacientes orientado a evitar a atividade física regular.
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201

associada a alterações funcionais das proteínas con- melhoras significativas nos valores de índice de
tráteis das fibras musculares. Foi observada redução massa corpórea (IMC) e das dobras cutâneas após o
da força musculoesquelética nesses indivíduos sem treinamento, sendo essas melhoras perdidas com a
alterações específicas funcionais nos filamentos fi- cessação do treinamento. Após quatro meses do re-
nos e para a miosina. Contudo, foi confirmado menor torno das atividades, constataram-se novamente as
conteúdo dessas proteínas miofibrilares, o que pode melhorias verificadas na fase inicial da intervenção.
justificar a fraqueza muscular desses pacientes. Melhorias na composição corporal também fo-
Já o estudo publicado por Baum et al. (9) compa- ram observadas no artigo de autoria de Marzolini
rou a força muscular dos flexores de cotovelo e ex- et al. (4), sendo avaliadas por meio de absorcio-
tensores de joelho de 638 cardiopatas, selecionados metria com raios x de dupla energia (DEXA) antes
de programa de reabilitação cardiovascular, após 3 e após treinamento aeróbico isolado (TA) e treina-
semanas de treinamento aeróbico e resistido, e 961 mento associado resistido e aeróbico com uma série
voluntários saudáveis, e observou declínio significa- (TRA1) e com três séries (TRA3). Observaram-se
tivo da força muscular tanto em membros superiores alterações positivas significativas no aumento na
(MMSS) quanto em MMII, em ambos os grupos, com massa magra total nos grupos TRA1 e TRA3 e uma
o aumento da idade. Na análise intergrupos foi ob- tendência para o aumento dessa variável no grupo
servado déficit de força significante apenas em MMII, TA. Contudo, não foram verificadas mudanças signi-
sendo o subgrupo de pacientes cardiopatas, com his- ficativas em nenhum dos grupos estudados para as
tórico de inatividade física antes do evento cardíaco, medidas de cintura e circunferência do quadril, ou
o que apresentou maior fraqueza muscular. índice de massa corporal.
Os estudos apontam que a fraqueza muscular em Estudos publicados com a intervenção do trei-
pacientes cardiopatas decorre da inatividade física namento resistido apresentam variada descrição
e, particularmente nos pacientes com insuficiência dos componentes para sua prescrição. Fator que
cardíaca, é consequente da atrofia muscular, sendo dificulta para agrupá-los, uma vez que em todos os
essa uma das características que compõem o estado artigos selecionados foram obtidos ganhos de força
patológico do sistema musculoesquelético em con- e capacidade funcional, sem oferecer risco cardio-
sequência da cardiopatia (10). Esses estudos refor- vascular ou de incidência de lesões musculoesque-
çam a importância da prática do exercício resistido, léticas em suas populações. Dessa maneira, serão
uma vez que a força muscular é uma aptidão física apresentados nove ensaios clínicos e seis revisões
treinável e um fator importante para a execução das da literatura e um capítulo do livro do ACSM sobre
atividades de vida diária e profissionais (1, 11). esse tema.
De acordo com a sistematização do presente es- De acordo com o capítulo do livro do ACSM (1),
tudo, não foram encontrados artigos, publicados no caracteriza-se o exercício especificamente como
período de 2005 a 2010, que relatassem efeitos do resistido quando realizado com carga entre 50% a
exercício resistido sobre fatores de riscos cardio- 100% da carga máxima atingida no teste de repe-
vasculares em portadores de cardiopatias, mas so- tição máxima (1RM). Para pacientes cardiopatas,
mente estudos que abordaram população jovem ou recomendam-se de 8 a 10 tipos diferentes de exer-
idosa que apresentou isoladamente fatores de risco, cícios, que envolvam os principais grupos muscula-
como hipertensão arterial, diabetes mellitus ou dis- res e uma série de 10 a 15 repetições, sempre res-
lipidemias, os quais não preencheram o principal peitando os valores de 11 a 13 na escala de Borg.
critério para sua inclusão nesta revisão. Além disso, o duplo-produto alcançado durante o
Entre os artigos selecionados, medidas antropo- treinamento não pode ser superior ao alcançado na
métricas foram avaliadas somente por dois ensaios atividade física aeróbica, prescrita de acordo com a
clínicos, o primeiro de autoria de Tokmakidis et al. estratificação de risco cardiovascular do paciente.
(12) e o segundo por Marzolini et al. (4). Nesse pri- Durante a execução dos exercícios o ritmo das re-
meiro artigo, após quatro meses de treinamento petições deverá ser controlado para que sejam len-
aeróbico e resistido na água, seguido por avaliação tos e a manobra de Valsalva deve ser evitada. Para
após quatro meses de interrupção do treinamento iniciar a atividade sugerem-se halteres leves com
e, por fim, após os quatro meses seguintes, no pe- carga entre 990 g a 2.270 g para membros superio-
ríodo de retreinamento, os autores observaram res e 2.270 a 4.500 g para membros inferiores.

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O estudo de Lamotte et al. (13) sugere que o trei- máxima) e duas de exercícios resistidos (60% 1RM).
namento resistido aos cardiopatas deve ser inciado Entretanto, após três meses de cessação do programa
a partir de 2 a 3 séries de 8 a 10 repetições com ocorreram perdas significativas desses ganhos, o que
pesos correspondentes a 30%-40% de 1RM, o que indica que pacientes com DAC devem realizar conti-
deve aumentar a autoconfiança dos pacientes ao nuamente exercícios físicos, a fim de melhorar e/ou
treinamento, e que a sobrecarga seja aumentada de manter a função cardiovascular e força muscular e,
maneira progressiva e gradual, preferencialmente consequentemente, seu estado de saúde.
aumentando o percentual da intensidade de carga A associação de atividades aeróbicas e resistidas
e o número de séries, em vez do número de repe- realizadas na água em pacientes cardíacos de baixo
tições, até alcançar o máximo de 70% da força de risco melhorou valores antropométricos, força mus-
contração voluntária máxima previamente avaliada. cular, capacidade aeróbica e o limiar de lactato após
Corroboram-se as recomendações da Diretriz quatro meses de treinamento. Esses efeitos positi-
Brasileira de Reabilitação Cardiovascular (3) e vos adquiridos tenderam a diminuir parcialmente
da revisão de autoria de Vicent and Vicent (5), as ou totalmente com o destreinamento nos quatro
quais definem que a sobrecarga do esforço deve meses seguintes e foram recuperados com a reto-
ser aplicada a partir da evolução do peso do com- mada do programa por mais quatro meses (12).
ponente estático, de maneira gradual e progressiva. Graças à importância da continuidade do treina-
Contudo, eles diferem na maneira pela qual deve mento, visando à manutenção dos benefícios promo-
ser realizado esse incremento: a diretriz sugere au- vidos pelo treinamento resistido associado ao exer-
mentar pelo percentual da carga máxima obtida no cício aeróbico, sugerida pelos artigos supracitados,
teste prévio e apresenta limite de intensidade entre a aderência de pacientes cardiopatas ao longo de 72
50%-60% RM, já a revisão sugere aumentos 1 a 3 kg meses de treinamento resistido não supervisionado
por semana, controlados a partir dos valores limites foi avaliada por meio da aplicação de um questioná-
determinados na escala de Borg, ou dos valores de rio de análise retrospectiva. A desistência ocorreu
duplo produto cardíaco. principalmente nos seis primeiros meses de treina-
Outro componente importante na prescrição do mento, e o principal motivo apontado pelo abandono
exercício resistido é a definição do número de séries, foi a frustração quanto à expectativa irreal de grande
no estudo de Marzolini (4), em que, por meio da com- perda de peso. Os pacientes que permaneceram em
binação de treinamento aeróbico associado a treina- treinamento relataram que o apoio familiar, de ami-
mento resistido com cargas progressivas, 60% a 75% gos e de seu médico responsável foi fundamental
do VO2 pico e 60% a 75% da RM, objetivou-se avaliar para a aderência ao programa. A taxa de interrupção
se diferentes números de séries (1 x 3) implicariam por lesões musculares foi de apenas 3%. O autor re-
melhores benefícios ao cardiopata. Nesse trabalho os lata que a taxa de evasão dos programas não super-
autores relataram que os diferentes protocolos asso- visionados é similar aos programas de treinamento
ciando o exercício aeróbico ao resistido foram bem supervisionado e sugere que, para minimizar a desis-
tolerados pelos voluntários, além disso, foram obti- tência, devem ser consideradas adequadas a supervi-
das melhoras nos valores de VO2 pico, limiar anaeró- são e as orientações ao praticante, a fim de diminuir
bico ventilatório, força e endurance musculares e na suas dúvidas quanto ao treinamento (15).
composição corporal, quando se comparou ao grupo Em um ensaio clínico com intervenção durante
treinado exclusivamente por exercícios aeróbicos, um ano, 92 mulheres, após serem submetidas à
sendo que esses ganhos podem ser ainda maiores angioplastia ou que apresentaram infarto agudo
quando se utilizam múltiplas séries. do miocárdio, foram subdivididas em dois grupos
Na associação do exercício resistido ao aeróbico, e submetidas a dois tipos de intervenção: treina-
Volaklis et al. (14) obtiveram aumento em média de mento combinado (aeróbico e resistido) ou exclu-
28% na força muscular de MMSS e MMII e melhora sivamente aeróbico. As voluntárias foram avaliadas
da aptidão cardiorrespiratória em coronariopatas, em relação à qualidade de vida (SF-36), força má-
com a realização por oito meses de um programa xima e consumo máximo de oxigênio (VO2pico) nos
de exercício supervisionado com frequência de qua- períodos: inicial, dois meses, seis meses e após um
tro vezes por semana, sendo duas sessões de exer- ano de seguimento. Ambos os grupos apresentaram
cícios aeróbicos (60%-75% da frequência cardíaca aumento do VO2 pico, da força muscular e da qualidade

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Exercício resistido no cardiopata: revisão sistemática
203

de vida ao longo de um ano de seguimento, sem di- de forma isolada ou em combinação com exercícios
ferenças entre os grupos, indicando que as mulhe- aeróbicos, é segura e induz adaptações histoquí-
res se beneficiaram tanto do programa combinado micas, metabólicas e funcionais na musculatura
quanto do programa exclusivamente aeróbico (16). esquelética, que contribuem para neutralizar o es-
A disfunção endotelial parece ser particular- tado de atrofia muscular periférica e melhorar a
mente relevante em pacientes com doença arterial força muscular, influenciando de forma positiva na
crônica que apresentam isquemia aguda ou crônica, qualidade de vida de pacientes com IC estável. Essa
por relacioná-los a um prognóstico pouco favorá- revisão recomenda que o treinamento com 8-10 re-
vel, sendo, por meio da prática do exercício físico, petições deve ser realizado lentamente, em torno de
possível melhorar essa função. Contudo, pouco se 60 segundos de execução, seguido por um período
sabe dos efeitos produzidos da aplicação de dife- de recuperação adequado, na proporção de 1:2, com
rentes tipos de modalidade de exercício. Para isso, intensidade geralmente na faixa de 50%-60% 1RM.
investigou-se a resposta dessa função em pacien- E, particularmente, pacientes com menor tolerância
tes pós-IAM submetidos aleatoriamente ao treina- ao esforço podem realizar os exercícios de resistên-
mento físico exclusivamente resistido ou aeróbico, cia de forma segmentar, por meio de pequenos pe-
ou ao exercício combinado (aeróbico e resistido). Os sos livres (0,5 a 3 kg) ou cordas elásticas.
resultados mostraram que todos os grupos de exer- Da mesma forma, a revisão de Benton (20), re-
cício foram seguros e eficazes na correção da dis- alizada entre os anos de 1996 a 2006, sugere a in-
função endotelial nesses pacientes, o que promove clusão do treinamento resistido como atividade ro-
variedade na prescrição do exercício e influencia tineira em programa de exercício terapêutico, visto
positivamente na aderência em longo prazo ao trei- que essa modalidade mostra-se segura e eficiente
namento físico (17). para pacientes com IC na promoção de ganho de
A revisão de autoria de Vicent and Vicent (5), força e capacidade funcional, bem como melhora
baseando-se também nas recomendações do ACSM do comportamento hemodinâmico. Para manuten-
publicadas em 2000, recomenda a inclusão do trei- ção desses benefícios, o treinamento deve ser con-
namento resistido de baixa intensidade a partir da tinuado ao longo da vida. Segundo o autor, o teste
fase II dos programas de reabilitação cardiovascu- de 1RM tem sido consistentemente recomendado
lar, nas primeiras duas a três semanas após evento como técnica segura para a mensuração da força
coronariano agudo. Essa recomendação foi aplicada muscular nessa população.
no estudo prospectivo, randomizado e controlado Feiereisen et al. (21) avaliaram a fração de eje-
de Schimid JP et al. (18), o qual investigou em pa- ção do VE, consumo de oxigênio de pico, carga de
cientes cardíacos isquêmicos, com fração de ejeção pico, volume do músculo da coxa, força do exten-
de no máximo 45%, os efeitos da prática de 12 se- sor do joelho, resistência e qualidade de vida de
manas de exercício resistido (40%-60% de 1-RM) 60 pacientes portadores de insuficiência cardíaca,
combinado ao aeróbico (70%-85% de frequência submetidos a 40 sessões de treinamento com dura-
cardíaca de pico) em comparação ao exercício ae- ção de 45 minutos cada, três vezes por semana. Os
róbico isolado (70%-85% de frequência cardíaca de voluntários foram divididos em quatro grupos que
pico) no remodelamento do ventrículo esquerdo na realizaram: treinamento exclusivamente resistido,
fase aguda após IAM. Concluiu-se que a combinação treinamento aeróbico isolado, treinamento com-
do exercício não produziu dilatação do ventrículo binado (aeróbico e resistido) e um grupo controle
esquerdo quando comparado ao grupo que realizou sem atividade. Todos os parâmetros mensurados
exercício aeróbico isolado e em ambos os grupos melhoraram de forma significativa nos três grupos
ocorreram aumentos significantes nos valores de de exercício, exceto para a força de extensores do jo-
VO2pico e força muscular, sem aumentos despropor- elho no grupo de exercício aeróbico. Dessa maneira,
cionais na frequência cardíaca e pressão arterial e o independentemente da modalidade o treinamento
duplo produto permaneceu abaixo dos valores cor- físico é eficiente no aumento da função cardíaca, na
respondentes da atividade aeróbica. capacidade do exercício, na função muscular peri-
Volaklis and Tokmakidis (19), com base na revi- férica e na qualidade de vida em pacientes com IC.
são da literatura, apontam que a aplicação do trei- Para entender os efeitos da combinação entre trei-
namento com exercício de força dinâmica, realizado namento aeróbico e resistido foram selecionados 285

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Gonçalves ACCR, Pastre CM, Camargo Filho JCS, Vanderlei LCM.
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pacientes com IC, entre homens e mulheres, os quais dividuais, sobre as quais foram baseadas as prescri-
realizaram exercício de força muscular (2-3 vezes por ções dos componentes do treinamento.
semana com 3 a 5 séries e 20 repetições para MMSS e Em relação à prescrição dos componentes espe-
MMII com intensidades diferenciadas definidas a par- cíficos do treinamento resistido, as fontes seleciona-
tir do VO2pico) associado ao exercício de bicicleta e ca- das para essa revisão convergem quanto à aplicação
minhada. Os autores observaram aumentos na fração do teste de 1RM como modo de avaliação para força
de ejeção do ventrículo esquerdo e na força muscular, muscular; todavia, em relação aos outros componen-
tanto nos homens quanto nas mulheres. Contudo, mu- tes da prescrição mostram-se bastante diversifica-
danças no pico de oxigênio foram verificadas apenas das. No entanto, pode-se observar maior frequência
no grupo dos homens. Além disso, ambos os grupos de recomendação do treinamento resistido asso-
aumentaram significantemente as suas distâncias. Os ciado ao treinamento aeróbico e às seguintes carac-
autores confirmaram a viabilidade de um programa terísticas: 6 a 10 tipos diferentes de exercício envol-
de exercício combinado (aeróbico e resistido) e su- vendo a maioria dos grupos musculares de membros
geriram a realização de atividade não supervisionada superiores e inferiores, 3 séries de exercício, 10 a 15
domiciliar, a fim de manutenção dos benefícios (22). repetições, intensidade de carga entre 60% a 75% de
Outro estudo de Beckers et al. (23) teve como 1RM com sobrecarga a partir do aumento do número
objetivo comparar os efeitos promovidos pelo trei- de repetições ou da carga do componente estático,
namento resistido combinado ao aeróbico (TC: 6 a 8 execução das repetições de forma ritmadas e contro-
tipos de exercício, 50%-60% 1RM, 1 a 2 séries, 10 a 15 ladas em até dois segundos para cada fase (concên-
repetições) e pelo treinamento aeróbico exclusivo (TA: trica e excêntrica), proporção de 2:1 entre o período
90% FCpico) em 58 pacientes com IC, classe funcional II de execução e recuperação entre números de séries e
e III. Após seis meses de intervenção, o TC promoveu repetições e, no mínimo, frequência de duas vezes na
melhorias mais acentuadas para capacidade funcio- semana e quatro semanas de treinamento.
nal submáxima, força muscular e qualidade de vidas
desses pacientes, quando comparados aos efeitos pro-
movidos pelo TA. Além disso, os autores relataram a Referências
ausência de efeitos desfavoráveis sobre os parâmetros
do remodelamento do ventrículo esquerdo, apon- 1. Taranto G, editor. Modificações na prescrição de
tando esse resultado como animador e convincente exercício para pacientes cardíacos In: Diretrizes do
para implementação desse tipo de treinamento. ACSM para os testes de esforços e sua prescrição,
American College of Sports Medicine. 7a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
Conclusão
2. Williams MA, Haskell WL, Ades PA, Amsterdam EA,
Bittner V. Franklin BA, et al. Resistance exercise in
Os artigos revisados sugerem que o treinamento
individuals with and without cardiovascular dise-
resistido é uma modalidade de exercício importante
ase: 2007 Update - A scientific statement from the
para a população cardiopata, pois, independente da
American Heart Association council on clinical car-
variada metodologia utilizada na sua prescrição,
diology and council on nutrition, physical activity, and
mostrou-se eficiente para aumentar a força mus-
metabolism. Circulation. 2007;116(5):572-84.
cular de membros superiores e inferiores, uma das
principais habilidades físicas que contribuem para 3. Moraes RS, editores. Diretriz de Reabilitação Car-
melhora da capacidade funcional e da qualidade de díaca. Arq Bras Cardiol. 2005;84(5):431-40.
vida desses pacientes.
4. Marzolini S, Oh P, Thomas SG, Goodman JM. Aerobic
Além disso, essa modalidade também pode ser
and resistance training in coronary disease: sin-
considerada segura a essa população, uma vez que
gle versus multiple Sets Med Sci Sports Exerc.
todos os artigos selecionados afirmam boa tole-
2008;40(9):1557-64.
rância de seus voluntários ao longo do período de
treinamento e ausência de eventos ou complicações 5. Vincent KR, Vincent HK. Resistance training for in-
cardiovasculares. Entretanto, deve ser destacada a dividuals with cardiovascular disease. J Cardiopulm
importância de avaliações prévias específicas e in- Rehabil. 2006;26(4):207-16.

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Exercício resistido no cardiopata: revisão sistemática
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Aprovado: 19/07/2011
Approved: 07/19/2011

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