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mediaXXI [Sumário]
ADMINISTRADOR EXECUTIVO
PAULO FERREIRA

DIRECTOR
PAULO FAUSTINO
37 58 61
EDITOR
MÁRIO GUERREIRO | @ editor@mediaxxi.com

REDACÇÃO
GUILHERME PIRES | @ redaccao@mediaxxi.com

COLABORADORES
CÁTIA CANDEIAS
DULCE MOURATO
HERLANDER ELIAS
FERNANDO COSTA
INÊS BLU RODRIGUES
REPORTAGEM DE EDUCOMUNICAÇÃO ENTREVISTA SECTORIAL
PAULA DOS SANTOS CORDEIRO COMUNICAÇÃO III Seminário de Nuno von Amman de
VERA LANÇA Jornais económicos Marketing Infantil Campos, presidente
OPINIÃO apostam na qualidade da ACMedia
ALEXANDRE NILO FONSECA
CARLA MARTINS
FRANCISCO RUI CÁDIMA
4 EDITORIAL 48 DINÂMICAS DA COMUNICAÇÃO
FRANCISCO A. VAN ZELLER
JAVIER RIVERO-DIAZ 6 SOCIEDADE BIT 50 ENTREVISTA/ ROBERT PICARD
JUAN PABLO ARTERO MUÑOZ Diz-me o que escreves…
KJELD JAKOBSEN
REGINALDO RODRIGUES DE ALMEIDA
53 AULA ABERTA/ CARLA MARTINS
8 CANAL DA MANCHA Mulheres, Beleza e Consumo
DESIGN
RTP, Ano 50
NUNO MURJAL | @ design@mediaxxi.com 54 REPORTAGEM DE COMUNICAÇÃO
MARKETING E PUBLICIDADE
10 DOSSIER As crianças e as novas tecnologias
Oportunidades para os media
AMÉLIA SOUSA | @ publicidade@mediaxxi.com
MARIANA GREGÓRIO
65 IBERMEDIA
20 ENCONTRO NACIONAL DE RÁDIOS DA ARIC
ASSINATURAS 66 CENTROS DE CONHECIMENTO
@ publicidade@mediaxxi.com 21 ACTUALIDADE DE TECNOLOGIA
IMPRESSÃO
67 INSTITUIÇÕES DA COMUNICAÇÃO
HESKA PORTUGUESA – INDÚSTRIAS TIPOGRÁFICAS, S.A. – CAMPO RASO 22 ACTUALIDADE DE PUBLICIDADE E MARKETING
2720-139 SINTRA – TEL.: 21 923 89 00 68 CIBERCULTURA
DISTRIBUIÇÃO
23 ACTUALIDADE DE RÁDIO 24 – A série de culto da Fox
VASP/ CTT – CORREIOS DE PORTUGAL
24 ACTUALIDADE DE IMPRENSA 70 OPINIÃO INTERNACIONAL/JAVIER RIVERO-DIAZ
SOCIEDADE GESTORA DA REVISTA Vídeo Games and Health Care I
FORMALPRESS – PUBLICAÇÕES E MARKETING, LDA. 26 ACTUALIDADE DE SI
73 LEITURAS
*
ESCRITÓRIOS
27 INTERNACIONAL/ CHRISTIAN MARRA
2
 RUA PROFESSOR ALFREDO DE SOUSA, Nº 8, LOJA A 1600-188 LISBOA
 21 757 34 59 |  21 757 63 16 | @ geral@mediaxxi.com
*
Integração Forçada 74 NUESTRA OPINIÓN/ JUAN PABLO ARTERO MUÑOZ
2
 PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL, Nº 70, 4000-390 PORTO As incógnitas do negócio da televisão
 |  22 502 91 37 30 FORMAÇÃO EM EDIÇÃO E PRODUÇÃO DE REVISTAS
76 EUROMEDIA
REVISTA FUNDADA POR NUNO ROCHA, EM 1996
DEPÓSITO LEGAL Nº 995 16/96; REGISTO Nº 120427
32 ACTUALIDADE DE TELEVISÃO
TIRAGEM: 7000 EXEMPLARES 79 CASA PLAYSTATION
34 ENTREVISTA/ MARIA ASSUNÇÃO ESTEVES
ED. 91 MAR/MAI 2007 80 LÁ FORA/ KJELD JAKOBSEN
36 OPINIÃO/ FRANCISCO A. VAN ZELLER Os meios de comunicação têm candidato
A vez das empresas (2007-2009)
84 ALDEIA GLOBAL
40 EMPRESAS XXI
85 AGENDA
42 ENTREVISTA CENTRAL/ ANTÓNIO PEDRO
VASCONCELOS 86 ÚLTIMO OLHAR

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[Editorial]

POLÍTICAS E NEGÓCIOS DA TELEVISÃO


s movimentações que se observam no sector dos media.Antecipando futuras ameaças, os canais

A media, especialmente no segmento televisivo,


prometem acentuar-se nos próximos tempos.
Neste contexto, o lançamento do concurso para a Tele-
televisivos já iniciaram a comercialização de
formatos alternativos de publicidade, como
por exemplo, o product placement, a inserção
visão Digital Terrestre vai ser o grande “driver” dos jogos de logótipos das marcas no ecrãn ou a inserção
de bastidores que estão a ser planeados pelos principais de uma barra em simultâneo com a exibição
operadores, incluindo alguns players que estando já pre- dos programas, entre outras. Com o apareci-
sentes nos media, não possuem actividade relevante na mento da TDT, é expectável que a “ofensiva” às PAULO FAUSTINO
televisão. Esta “euforia” pela actividade televisiva poderá receitas da indústria televisiva se intensifique. DIRECTOR
vir a ser um bocado “resfriada” numa análise mais cuida- A TDT insere-se no âmbito de um vasto con-
da sobre o que ainda está para vir, nomeadamente o en- junto de tecnologias que permitem difundir “A tecnologia
durecimento da concorrência no mercado informativo. conteúdos, com a particularidade de ter uma digital está a
Existem já muitas evidências de algumas das principais potência no espectro incomparável com as ou- possibilitar a
tendências ao nível da televisão, como é o caso da seg- tras tecnologias já existentes no mercado (Sa- multiplicação
mentação temática e geográfica. Nos últimos 10 anos, a telite, Cabo, PPTV, etc). No entanto, as ques- do número
segmentação temática, visível através do cabo, teve um tões - chave que se impõe, são: Como de canais”
crescimento significativo e a segmentação geográfica optimizar economicamente esses canais de te-
ainda está a dar sinais tímidos. Já existem alguns projec- levisão (em sinal aberto ou por assinatura)? O
tos, mas irão, com o desenvolvimento da IPTV e outras mercado português será ou não relativamente inelástico
tecnologias, surgir uma diversidade de projectos dirigi- quer ao nível do investimento publicitário quer ao nível
dos a nichos de mercado quer de âmbito temático que da capacidade de consumo? A TDT vai fazer com que o
de âmbito geográfico, que também serão alavancados mercado televisivo seja irreversivelmente mais competi-
através da publicidade. Durante 2006 registou-se a en- tivo, embora se coloquem algumas reservas sobre a capa-
trada no mercado de televisão por subscrição da AR Te- cidade de resposta do mercado para tanta oferta prevista.
lecom (operador de telecomunicações do grupo SGC A propósito de TDT, Robert Picard admite que nos paí-
que opera nas áreas da Grande Lisboa e Porto) e do Clix ses pequenos, a IPTV poderá ter mais sucesso uma vez
SmarTV (grupo Sonaecom) que disponibilizam televi- que tem custos de produção e emissão de conteúdos
são por subscrição com base, respectivamente, em tec- mais baixos. Destaque ainda para a entrevista de António
nologia proprietária wireless e IPTV sobre a tecnologia Pedro Vasconcelos, que faz uma análise crítica das políti-
ADSL2+. Dada a sua recente introdução no mercado, cas públicas para o sector dos media, em particular o au-
estes dois últimos operadores ainda não têm qualquer diovisual. No âmbito das políticas públicas, a questão da
relevância em termos de número de subscritores. A privatização da RTP tem vindo a ser (re)colocada na
própria PT anunciou recentemente o desenvolvimento agenda política. Contudo, convém tentar responder an-
de uma plataforma de IPTV. A tecnologia digital está a tecipadamente a 4 questões: i) Qual o impacto dessa de-
possibilitar a multiplicação do número de canais e a in- cisão nos actuais operadores em sinal aberto?; ii) O plu-
duzir a fragmentação das audiências de cada canal, assim ralismo da informação será afectado pelo impacto na
como a fragmentar o respectivo investimento publicitá- redução da publicidade para a imprensa e rádio, que já é
rio. Esta combinação de situações está a contribuir para atípico no contexto europeu? ; iii) Se a justificação para
diminui o valor da quota de mercado publicitário dispo- se privatizar um canal é evitar a interferência dos gover-
nível para cada operador.As formas de comunicação pu- nos, será que essa situação não se manterá por outras
blicitária estão sofrer alterações substanciais, com espe- vias?; iv) Temos alguma vantagem comparativa em inovar
cial destaque para o crescimento de formas de com base na alteração do modelo de serviço público de
publicidade alternativas fora do conceito clássico dos televisão que possui tradição na Europa?

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[Sociedade Bit]

DIZ-ME O QUE ESCREVES...

uma tentação. Digitamos uma palavra, es- fessor a quem se entregou o trabalho até aos

É peramos uns segundos e...já está! Imedia-


tamente, surgem-nos centenas, para não
dizer milhares, de páginas com informação,
leitores do jornal que recebeu o artigo, sem
esquecer o público que lê a obra literária.
Pelos mais variados motivos, sabemos que a
mais ou menos estruturada, sobre o assunto leitura é uma obrigação e a apropriação
que pretendemos. mental que fazemos daquilo que lemos, as
Já quase esquecidos, vão os tempos em que se notas que se retiram, os apontamentos que
calcorreavam as bibliotecas em busca de livros, se retêm, servem para nos ajudar a escalar o REGINALDO RODRIGUES DE
reunindo informação, compilando ideias, dige- muro da inovação, com recurso à imagina- ALMEIDA
rindo maços de fotocópias que se perdiam ou ção, relacionamento e encadeamento de PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
simplesmente se misturavam, a par do regres- ideias, à reflexão e associação de conceitos, REGINALDODEALMEIDA@IOL.PT
so, vezes sem conta, às salas de leitura para re- ou seja, ao pensamento próprio.
ver ou recuperar referências bibliográficas, Facilidade, rapidez e aparente impunidade são
confirmar uma nota de rodapé, enfrentar a des- alguns dos motivos pelos quais muitos arris- “A sigla mágica
crição maçuda dos catálogos onomásticos ou cam ao plágio através da “ciência da surpresa”, WWW, entre
didascálicos, tantas vezes inseridos em caixas ficando a ética e a auto dignidade relegadas pa- oceanos de ou-
metálicas, frias, distantes e psicologicamente ra segundos planos, esquecidas, como quem tras possibili-
inacessíveis ao ritmo da câmera lenta, enfim, esquece aquilo de que se não quer lembrar. dades, abre-nos
um mundo –felizmente- em vias de extinção. Mas facilidade e rapidez são também cada vez um caminho
Hoje modificamos os critérios de pesquisa num mais pilares da sociedade actual e, nesta ver- alcatifado e irre-
ápice, entramos e saímos (paradoxalmente, tente, em detrimento da produção individual, sistível para as
sentados, sem sairmos do mesmo local físico) do esforço, da disciplina, do empenho, do cópias”
da mais variadas bibliotecas, centros de docu- compromisso e da paixão do prazer de criar.
mentação e arquivos espalhados pelo mundo, Plagiar é literalmente roubar. É mostrar
encontramos referências às obras que procura- uma incompetência académica, científica e,
mos, lemos romances ou livros científicos inte- acima de tudo, social. É dar provas da mais
gralmente sem sair de casa; tudo numa espécie sórdida ignorância intencional por conside-
de puzzle que fornece as condições ideais para rarmos que aquilo que está ao nosso alcan-
nos apropriarmos do que não é nosso, como ce é simplesmente nosso.
quem encontra uma moeda no chão e se baixa A Internet é uma caixa de Pandora e está ao
para a apanhar, guardando-a no bolso. nosso critério sabermos abri-la e gerirmos o
A sigla mágica WWW, entre oceanos de outras que de lá sair, usando os instrumentos adequa-
possibilidades, abre-nos um caminho alcatifado dos através do respeito, da consideração, da
e irresistível para as cópias, os plágios dos tra- justiça e da razão. Caso contrário, o amontoa-
balhos de outros e rapidamente se transfor- do de caracteres rotulado de capital intelec-
mam em ideias luminosas, por vezes geniais tual nem sequer seria digno dos copistas me-
aos olhos de terceiros. Depois, vive-se espe- dievais, muito menos de cabeças
rançado que ninguém descubra, desde o pro- minimamente esclarecidas do século XXI.

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[Canal da Mancha]

RTP, ANO 50

história da RTP pode contar-se, em abrigo da “dinamização cultural” do MFA e

A termos muito esquemáticos, em três


mil caracteres. Dos 50, dezassete fo-
ram vividos em ditadura e os restantes 33
da nova realidade democrática.
Até que a “revolução” deu lugar à institu-
cionalização do regime com a AD. Na RTP
nesta jovem e atribulada democracia. entravam Cunha Rego e logo depois Pro-
Com Salazar, a RTP manteve-se rigorosa- ença de Carvalho, e com eles, o “aparelho
mente institucional, sendo a montra privi- ideológico de Estado”. Desaparecia, pelas
legiada da agenda protocolar do regime e mãos de Proença, o Informação/2 e o jor-
das suas figuras proeminentes. Isto sem que nalismo independente de Hernâni Santos, FRANCISCO RUI CÁDIMA
alguma vez tivesse conseguido transformar Carlos Pinto Coelho, António Mega Ferrei- DOCENTE UNIVERSITÁRIO
o ditador num líder panfletário ou mesmo ra, Joaquim Furtado, certamente o melhor
carismático. Salazar cultivava uma espécie espaço de informação da história da RTP.
de “telefobia” que o mantinha a uma distân- Com Soares e o Bloco Central, dispositivo
cia razoável quer das mundaneidades tele- instrumental e aparelho institucional de-
jornalísticas, quer da propaganda organiza- ram-se as mãos sempre que solicitado. Dis- “Já Marcello
da em torno da sua figura. No fundo, como so mesmo, Soares viria a fazer o seu pró- Caetano, com a
bem foi reconhecido, entrou para a política prio “mea culpa”. Seguiam-se as duas ajuda da tele-
como poderia ter entrado para uma qual- legislaturas de Cavaco e a angústia do mo- visão, apareceu
quer ordem monástica. nopólio de Estado perante o “penalty” da aos olhos do
Já Marcello Caetano, com a ajuda da televi- liberalização da televisão. Se se imaginava povo como um
são, apareceu aos olhos do povo como um que doravante a RTP se distinguiria dos ‘Salazar’ um
“Salazar” um pouco mais simpático. Ele que projectos comerciais pela qualidade, o fac- pouco mais
fora um quase “santo patrono” RTP, que to é que, de início, mais depressa se en- simpático”
tinha inclusive redigido as bases da conces- contrava “serviço público” nas privadas do
são da empresa e que era, enquanto líder que na pública. Daí para cá muito mudou,
do governo, o seu “supremo inspirador”. mas permanece a angústia, tão bem enun-
No imediato pós-25 de Abril, a televisão foi ciada por Paulo Branco: “Serviço Público?
a grande tentação da política emergente. A que horas passa?”
Um complexo e hiperactivo “caldo” de mili- Daí que, pela intermediação da tecnologia,
tares, comunistas, esquerda revolucionária pela interposição da cidadania e pela emer-
e socialistas fizeram da RTP um campo de gência daquilo a que se chama o “egocas-
batalha de estratégias político-partidárias, ting”, a pós-televisão estará certamente
acalmado no pós-25 de Novembro de 1975. mais próxima do cidadão do que a sua
Apesar de tudo, por essa altura a televisão velha “tia” RTP.
esteve muito próxima das realidades sociais Chegada a esta bonita idade, quanto mais
e históricas do país. Centenas de documen- anos terá pela frente? Fará outros 50?
tários, produzidos pelas cooperativas de ci- Não é nada provável. Pelo menos en-
nema e televisão, foram então emitidos ao quanto “televisão”.

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[Dossier/ Oportunidades para os media]

OS MEDIA EM EQUAÇÃO
Opiniões e estudos sobre que media vamos ter no futuro

Que futuro para os media, quando a web passou a ser uma face obrigatória
de qualquer meio que se pretenda competitivo e as gerações mais jovens
exigem outras ofertas
POR MÁRIO GUERREIRO

consenso existe apenas num ponto; trata- damente a qualidade dos produtos noticiosos

O se de um período de extrema importân-


cia para os media. Os que não acompan-
harem as novas tendências e conseguirem
torna-se tão má que o resultado imediato é a
perda de dinheiro”.

responder às cada vez mais exigentes necessi-


dades do público arriscam o desaparecimento. O FUTURO DIGITAL
O jornalista Joaquim Vieira, actual presidente
do Obervatório da Imprensa, refere no seu Recentemente editado pela Edeline, o livro
recente livro “Os media entre a Era Guten- Jornalismo Contemporâneo – Os media entre
berg e o Paradigma Digital”, que se vive de a Era Gutenberg e o Paradigma Digital, da
momento uma “autêntica revolução”. autoria de Joaquim Vieira, aborda o futuro
dos media e do próprio jornalismo, numa al-
Vários estudos recentes têm abordado o pre-
tura em que se vive uma “autêntica re-
sente momento, dando algumas pistas e conse- volução”. Para Joaquim Vieira, antigo direc-
lhos sobre opções e oportunidades para os me- tor-adjunto do Expresso e director da revista
dia. Um recente estudo nor te-americano, Grande Reportagem, e actual presidente do
realizado pela Universidade de Missouri - Co- Observatório da Imprensa – Centro de Estu-
lumbia, assegura que a melhor forma dos jor- dos Avançados de Jornalismo, “um website
nais realizarem maior lucro é investindo mais não pode ser a mera transcrição do conteúdo
nas suas redacções. Essa foi a conclusão a que de um órgão de informação clássico”. O jor-
chegou este estudo que analisou a evolução dos nalista defende que “os media tradicionais,
jornais norte-americanos na última década. Os ao alojarem-se na rede, terão não só de
que resistiram à tentação de cortar postos de adaptar os seus conteúdos ao novo meio co-
trabalho, e que optaram por investir nas suas mo de criar conteúdos específicos”. Analisan-
DOSSIER

do a convergência de meios, Joaquim Vieira


redacções, são os que actualmente apresentam
acredita que “os media tradicionais dificil-
melhor situação financeira. Segundo o estudo mente poderão concorrer com a internet, so-
norte-americano, a qualidade das notícias afec- bretudo à medida que esta for sendo mais
ta mais os ganhos dos jornais que os gastos em acessível”. O futuro, esse, pertencerá a quem,
circulação, publicidade e outros sectores do entre outras opções, “ocupar com infor-
negócio. Esther Thorson, professora e vice-rei- mação, e numa linguagem adaptada, os me-
tora da Escola de Jornalismo da Universidade dia preferencialmente utilizados pelas ge-
de Missouri – Columbia resumiu desta forma a rações mais jovens”, e a quem investir “nas
principal conclusão do estudo: “Se se baixa o novas formas e formatos de comunicação”.
valor de dinheiro gasto com a redacção, rapi-

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[Dossier/ Oportunidades para os media]

CASA DA IMAGEM

O impacto da digitalização
A KPMG empresa interna-
cional de consultoria, lançou
recentemente um relatório
intitulado “The Impacto f
Digitalization”, onde analisa
os desafios emergentes para
as companhias de media tra-
dicionais, devido aos hábitos
da chamada Geração Y. O re-
latório foi elaborado a pen-
sar nos responsáveis de em-
presas de media ainda não
totalmente não familiariza-
dos com as características da
Web 2.0 e conta também
com as opiniões de vários
especialistas na área dos no-
vos media, como David
Weinberger ou Paul Saffo.
Weinberger aconselha as
empresas de media a prepa-
rarem-se para trasformações ainda mais profun-
das, trazidas pelo advento da Web 2.0, que num OBERCOM DIZ QUE O SECTOR NÃO ESTÁ TÃO MAL
futuro próximo irá entregar mais poder aos
seus utilizadores. “A superabundância de infor- O Observatório da Comunicação (Obercom)
mação irá transferir poder dos detentores de refere, num seu recente estudo sobre a
conhecimento para os utilizadores, sejam eles evolução da situação financeira dos princi-
clientes, estudantes, leitores, cidadãos ou tra- pais grupos de comunicação social em Por-
balhadores”, refere. Também Chris Anderson, tugal, entre 2001 e 2004, que o sector se tem
autor do livro “The Long Tail”, sobre os novos conseguido adaptar ao ciclo económico, e
media, alerta para o declínio dos media tradi- que voltou a ter rendibilidade positiva.
De acordo com o estudo do Obercom, as re-
cionais, entre os mais jovens, e indica um
ceitas de exploração dos grupos de media
exemplo concreto: “Enquanto a chamada gera- nacionais cresceram a uma média anual de
ção Y passa mais tempo no YouTube, irá passar 3,6 %, uma evolução 0,2 % acima do cresci-
dispender menos do seu tempo a ver televisão”.

DOSSIER
mento económico do país. O estudo do Ober-
Também um estudo datado do final de 2006 e com indica que, no início da década, quando
elaborado pelo Deutsche Bank aborda o con- se aperceberam do ambiente económico difí-
texto actual como o mais conturbado, desde cil, os grupos de media adaptaram-se e
Gutenberg. O relatório da instituição alemã re- emagreceram e cortaram custos, tendo
força a importância que a tecnologia tem ac- desinvestido nos sectores que não tinham
tualmente nos media que se querem competiti- resultados positivos.
vos, e indica que a aposta na internet e uma
maior aproximação aos interesses dos novos pú-
blicos são essenciais.

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[Dossier/ Oportunidades para os media]

OS JORNAIS COMO EMPRESAS DE INFORMAÇÃO


Rich Gordon defende a mudança como forma de assegurar o futuro

O professor da Universidade de Northwestern critica a forma como os


jornais ainda se encaram, e acredita que o jornalista do futuro tem de ser
capaz de trabalhar em vários formatos
POR MÁRIO GUERREIRO

ich Gordon é professor e director de tecnolo- desktop do Windows; ou sites como o Google, o

R gia digital na Medill School de Jornalismo, da


Universidade de Northwestern, dos Estados
Unidos da América, e considera que as companhias
Yahoo! Ou MySpace. Para maximizarem audiên-
cia, as empresas de media têm de tornar os seus
conteúdos disponíveis através destes intermediá-
de media necessitam de começar a pensar de forma rios. Poucas companhias de media podem almejar
global, disponibilizando os seus conteúdos em vá- a criar um site de destino massivo.
rios formatos. Para o norte-americano, é também
essencial que os jornalistas se adaptem à interacção Num futuro próximo, pode a convergência de
da web, interagindo com o público através de fó- meios ser a solução ideal para as empresas
runs, blogues ou comentários em artigos. de media sobreviverem num mercado onde o
valor da internet tende a aumentar?
Como podem os media responder aos dese- Admito que tenho alguns problemas com a questão
jos de toda uma nova geração que prefere da convergência porque significa muitas coisas dife-
uma informação condensada e acessível em rentes para pessoas diferentes. Pode significar a
quase todos os lugares, via web? promoção interligada entre plataformas (jornais a
As empresas de media têm de trabalhar no senti- promoverem o que passa na televisão e vice-versa).
do de disponibilizarem os seus conteúdos onde as Pode também significar a propriedade de múltiplas
pessoas já estão, em vez de presumirem que estas platafor mas.
irão ao seu encontro. Qualquer pessoa tem geral- Pode significar a “Qualquer pessoa tem geral-
mente apenas alguns sites ou aplicações que são criação de con- mente apenas alguns sites ou
verdadeiramente destinos digitais – locais onde teúdos em múl- aplicações que são verdadeira-
começam o seu dia digital e onde regressam re- tiplos formatos. mente destinos digitais”
petidas vezes. Estes destinos podem incluir apli- Pode referir-se
cações como o Outlook, um leitor de RSS ou o a histórias multimédia integradas. Não tenho a cer-
teza se todas estas definições de convergência têm
VERA LANÇA
DOSSIER

de ser aplicadas a todas as companhias de media.


Penso que será muito difícil ou até mesmo impossí-
vel uma empresa de media sobreviver apenas em
formato impresso ou audiovisual, na era digital. No
mínimo, todas as companhias de media necessitam
de uma estratégia interactiva e de uma presença na
web. Ao passo que outras plataformas (mobile, te-
levisão interactiva) amadurecem e evoluem, as em-
presas de media irão necessitar de ter igualmente
uma presença nesses mercados.

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Curso Integrado de Venda de


4
Media e Publicidade
Módulo 1: Comportamento, Módulo 3: Venda de
Organização e Técnicas de Produtos de Media e
Negociação Publicidade

 F ORMADOR : J OÃO P AULO P EREIRA /  F ORMADOR : D OUTOR F RANCISCO P EREZ


P SICÓLOGO E D OCENTE U NIVERSITÁRIO L ATRE /U NIVERSIDADE N AVARRA
1.1. Atitude e inteligência emocional 3.1. Intangibilidade e Especificidades
em vendas dos Produtos de Media
1.2. Perfil e competência dos execu- 3.2. Estratégias e Tendências de
tivos de vendas Venda de Media e Publicidade
1.3. Discussão e Análise de Caso 3.3. Análise de Caso: Branding e
Vendas de Produtos de Media
 FORMADOR: S R . C ARLOS B RAVO / EX -D IRECTOR
DE P UBLICIDADE DO D IÁRIO DE N OTÍCIAS  F ORMADOR : M ANUEL F ALCÃO / D IRECTOR DA
1.4. Organização de um N OVA E XPRESSÃO
Departamento Comercial 3.4. Audiências e Gestão da Comu-
1.5. Negociação com Agências e nicação Publicitária
Anunciantes 3.5. Apresentação e Negociação com
1.6. Caso Prático: Negociação e as Agências de Meios
Fecho de Venda 3.6. Caso Prático: Simulação e
Apresentação de Venda

Módulo 2: Mercado e
Estudos sobre a
Comunicação

 F ORMADOR : D R . L UÍS L ANDERSET / D OCENTE Lisboa: 24, 31 de Maio e 6 de Junho


U NIVERSITÁRIO E C ONSULTOR Leiria: 14, 21 e 28 de Junho
2.1. Es trutura e Tendências do Porto: 5, 12 e 19 de Julho
Mercado da Comunicação
Horário: 9h30 – 13h30 e 14h30-18h30
2.2. Es tudos e Investigação em
Media e Publicidade Para mais informações e inscrições:
2.3. Discussão e Análise Caso: Tel.: 217 573 459 | Fax: 217 576 316
Decisões de Planeamento e-mail: geral.iacv@gmail.com

 F ORMADOR : M ESTRE P AULO F AUSTINO /


D OCENTE U NIVERSITÁRIO NA UAL E IPL
2.4. Gestão e Estratégias
Empresariais dos Media
2.5. Tendências do Investimento
Publicitário em Portugal
2.6. Elaboração Caso Prático: Ciclo
de Vida e Venda do Produto
ed.91 07/02/27 10:05 Page 14

[Dossier/ Oportunidades para os media]

CASA DA IMAGEM
O que podem ou devem os
jornais fazer, de forma a
assegurarem o seu futuro?
Desde logo, precisam de parar
de se encararem como jornais
e agirem como empresas de
informação. Têm de deixar de
publicarem uma ou um núme-
ro reduzido de edições diárias,
e tornarem-se em fontes cons-
tantes de informação para o
seu público, 24 horas por dia.
Precisam de desenvolver bases
de dados compostas por infor-
mação local – desde listagens
de eventos a dados relaciona-
dos com a criminalidade – on-
de as pessoas possam regressar
repetidamente. Esta é uma
abordagem à informação dife-
rente da habitual entre os ele-
mentos de um jornal, que pen-
sam edição a edição em vez de
a uma escala global. Os jornais
precisam também de aderir ao
“clickstream” da web, ou seja,
necessitam de “linkar” a outras
fontes frequentemente, e de
cultivarem links “inbound”.
Por último, e mais importante,
precisam de perceber como tornar o modelo de Também precisam de estabelecer uma comunica-
negócio de conteúdos “web” rentável. Correndo o ção com o seu público através de blogues, comen-
risco de simplificar demasiado, os jornais necessi- tários em artigos, fóruns de discussão e sites de
tam de aumentar a sua capacidade de gerar receitas “networking” social. Muitos jornalistas tradicionais
através da “web” e encontrar formas de criarem sentem-se desconfortáveis com esta ideia, mas é
conteúdos “web” a custos mais baixos. uma grande
DOSSIER

parte do futuro “Os jornais precisam tam-


Será correcto dizer que que um novo tipo do jornalismo. bém de aderir ao ‘click-
de jornalista é necessário para ter suces- A companhia de stream’ da web, ou seja,
so neste século XXI? E quais serão as media do futuro necessitam de ‘linkar’ a ou-
suas características? tem de ser ca- tras fontes frequentemente”
O jornalista do futuro tem de ser capaz de contar paz de publicar
histórias em múltiplos formatos de media. O tex- em múltiplas plataformas, e os seus líderes têm de
to apenas não será suficiente; precisarão de ter al- compreender profundamente quais são as suas au-
guma proficiência com imagens, som e vídeo. diências e como interagir com elas.

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[Dossier/ Oportunidades para os media]

ONLINE É A MÁXIMA
Steve Wildman acredita que os media devem apostar nos conteúdos na rede

Autor e investigador norte-americano defende que no futuro todos os


media devem investir em conteúdos acessíveis através de várias
plataformas móveis
POR MÁRIO GUERREIRO

teve Wildman, professor na Universidade de bretudo à existência de outras formas alternativas de

S Michigan e autor de vários livros sobre os me-


dia, em particular os digitais, refuta qualquer
ideia de desaparecimento da imprensa, mas admite
receitas (apesar de algumas violarem leis de proprie-
dade intelectual) poderem ser facilmente encontradas
à distância de alguns toques de rato.Apesar das vendas
que terá de saber adaptar-se a um futuro onde a in- online de anúncios estarem a aumentar monstruosa-
ternet continuará a ver crescer a sua importância. mente, ainda há muito a ser aprendido, e à medida que
as tecnologias direccionadas ao utilizador melhorarem,
Quais os principais desafios para as as receitas publicitárias irão aumentar ainda mais.A se-
empresas de media nos próximos anos? gunda forma de responder ao desafio das novas tecno-
O maior desafio será perceber como integrar estrate- logias e serviços é desenvolver novas parcerias que
gicamente as parcerias entre novos media, baseados possam explorar as potencialidades inerentes aos ser-
na internet, com negócios dos media tradicionais. Isto viços centrados na internet; potencialidades essas que
pode suceder de os media tradicionais não têm. O marketing baseado
“Os media devem ter uma duas formas. no comportamento de quem acede a esses conteúdos
presença online visível” Uma é a exten-

D.R.
são na internet de produtos vindos dos media tradi-
cionais: jornais online e edições online de suplemen-
tos de revistas são exemplos vindos do domínio dos
formatos impressos. Os sites que permitem aos me-
dia extenderem o alcance da sua programação e tor-
narem-na disponível para novos públicos são exem-
plos com que todos estamos familiarizados devido aos
media tradicionais. Incluo aqui os serviços de televi-

DOSSIER
são por satélite e cabo. O desafio é perceber como
maximizar os ganhos da expansão rápida de um con-
junto de canais de distribuição. Se a audiência ganha
num canal online reflecte em parte a perdida nos ca-
nais tradicionais, é importante que as receitas dos no-
vos canais possam cobrir as que se perderam nestes.
Contudo, ainda se está numa fase de experiências re-
lativamente aos modelos de negócio para os novos ca-
nais de distribuição. Receitas de assinaturas e outras
formas de lucro têm sido desapontantes devido so-
APOSTA NA TECNOLOGIA IRÁ SER FUNDAMENTAL

mediaXXI | 15
ed.91 07/02/20 11:59 Page 16

[Dossier/ Oportunidades para os media]

na internet, e a selecção de anúncios através de dida que os mercados de conteúdos se forem tornan-
pesquisas são outras duas formas de responder a do mais competitivos, aqueles que não conseguirem
este desafio. A longo prazo, à medida que a inter- explorar todas as
net se for integrando com os media tradicionais, oportunidades de “Os modelos de negócio
estas potencialidades irão também tornar-se carac- receitas disponíveis baseados na convergência
terísticas dos media tradicionais, em particular as irão ficar para trás. serão muito importantes”
potencialidades electrónicas. É discutível pensar-
se que iremos chegar a um ponto de convergência em
De que forma podem as companhias de torno de uma plataforma tecnológica comum para to-
media apelar às novas gerações? dos os media, até porque a imprensa, por exemplo,
Devem ter uma presença online visível e acessível em irá existir ainda durante muito tempo.
todos os aparelhos que utilizam a internet, incluindo
os telemóveis cada vez mais sofisticados. A longo pra- E o que pode então a imprensa fazer para
zo, penso que os serviços baseados em RSS irão tor- assegurar uma posição relevante no futuro?
nar-se cada vez mais importantes. Os media devem Quando existem conteúdos similares de diversas fon-
desenvolver uma estratégia de forma a tornarem os tes disponíveis online, torna-se difícil para qualquer
seus conteúdos disponíveis através destes serviços, ou uma das fontes ter lucro. Os jornais necessitam de ter
até criarem um ou mais destes serviços. algum tipo de vantagem, através da criação de conteú-
dos que não podem ser facilmente duplicados pela
E que papel desempenhará a convergência competição. Essa vantagem pode ser a cobertura de
de meios num futuro próximo? eventos locais, cachas sobre temas específicos como a
Os modelos de negócio baseados na convergência se- política, ou reportagens. Se os jornais conseguirem
rão muito importantes. E com isto quero dizer estra- chamar pessoas ao seu site para lerem estes conteúdos,
tégias que exploram o valor dos conteúdos difundidos estas irão também ler outros conteú-
através de vários canais, novos e velhos.A rentabilida- dos. O formato impresso dos
de aumenta através da difusão de conteúdos em ca- media irá inevitavelmente
nais múltiplos.As empresa de media que con- diminuir para uma fracção
do total, mas não há qual-
quer razão para o seu des-
D.R.

aparecimento completo. Os
media impressos têm vantagens
para a maioria dos consumidores, que
tão depressa não irão encontrar rival nas
alternativas online. A resposta é menos ób-
via para os canais de televisão. A diferenciação
DOSSIER

de conteúdos é muito importante para as televi-


sões, como o é para o jornais. Contudo, à medida
que os custos do armazenamento online e das ligações
de banda larga forem diminuindo, o valor dos progra-
mas de televisão sujeitos a horários e inseridos em se-
seguirem quências pré-determinadas torna-se cada vez mais
fazer isto questionável. A distribuição online irá eventualmente
irão ter maior lu- oferecer maior flexibilidade, e as televisões que não
cro do que as que não conseguirem providenciar acesso de horários flexíveis
o conseguirem, pois à me- aos seus programas irão perder audiência.
MEDIA DEVEM PRODUZIR CONTEÚDOS ACESSÍVEIS ATÉ
NOS TELEMÓVEIS MAIS SOFISTICADOS

16 | mediaXXI
ed.91 07/02/20 16:35 Page 17

[Oportunidades para os media/ Sistema CompraFácil]

SIMPLIFICAR OS NEGÓCIOS
Sistema da Hi-Media agiliza assinaturas e classificados de jornais

Dá pelo nome de CompraFácil e permite uma maior facilidade na angari-


ação de anúncios e assinaturas nos jornais, sendo já utilizado por títulos
como o Diário de Notícias, Sol, ou Jornal de Notícias
POR MÁRIO GUERREIRO

CASA DA IMAGEM
Hi-Media desenvolveu um sistema, que entre-

A tanto recebeu o nome de CompraFácil, que


simplifica todo o processo de angariação de
anúncios classificados, e o próprio “e-commerce”
que cada vez mais tem lugar nas páginas dos jornais.
Todos estes processos passam a estar à distância de
uma mensagem escrita. Como explica Benedita Si-
mas, managing director da Hi-Media, o sistema pos-
sibilita duas modalidades: a sms-sibs, “muito utiliza-
do pelos jornais para a angariação de anúncios classi-
ficados”, e o click sibs, “utilizado por entidades de
comércio electrónico”.
Referindo-se ao sistema de pagamento sms-sibs,
Benedita Simas explica que é uma forma “segura e
prática” de se pagarem serviços. O sistema possibi-
lita uma maior rapidez na colocação de anúncios
pessoais em jornais e revistas, mas também pode
ser utilizado para o pagamento de assinaturas. As
marcas de produtos também podem recorrer a es-
te produto, com sucesso comprovado na venda
por impulso de produtos anunciados nas páginas
de jornais, revistas ou catálogos. “Isto tudo sem ter
de fornecer o número de cartão de crédito, que
podem até nem possuir, ou sem recorrer ao tele-
fone ou internet”. O cliente apenas envia o pedido
que pretende (anúncio a publicar ou produto a en-
comendar) “por sms e recebe um código de paga-
acredita que aqui reside o “poder ilimitado deste
serviço, que poderá mesmo revolucionar o merca-
DOSSIER
mento de serviços no seu telemóvel”. Como do de comércio na internet”. O cliente que reco-
exemplo, em páginas dedicadas à crítica de livros, rrer a esta funcionalidade do sistema CompraFácil,
discos, filmes ou espectáculos pode ser adicionado quando chegar à confirmação de encomenda no
um código que permita ao cliente comprar e en- seu carrinho de compras “clica na opção ‘pagar por
comendar qualquer um dos itens mencionados. multibanco’ e na página web onde está aparece um
Quanto à funcionalidade click-sibs, Benedita Simas código de pagamento de serviços”.

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ed.91 07/02/20 12:08 Page 18

[Dossier/ Opinião: A importância do comércio electrónico]

O COMÉRCIO ELECTRÓNICO

m Março de 2000, o Conselho Eu- adopção de novos modelos de negó-

E ropeu realizado em Lisboa aprovou


as linhas directrizes que conduzi-
ram ao desenvolvimento e aplicação do
cios pela empresa.
Mas também de país para país, esta
adopção varia substancialmente: no Rei-
que viria a ser conhecida como Estraté- no Unido mais de metade das empresas
gia de Lisboa, em que se estabeleceu o já encomendam online. A realidade por-
objectivo da União Europeia (UE) se tuguesa ainda não é tão desenvolvida,
ALEXANDRE NILO FONSECA tornar na economia de conhecimento sendo que somente 12% das empresas
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO mais competitiva e dinâmica do mundo, compra através de sistemas electrónicos
DO COMÉRCIO ELECTRÓNICO capaz de gerar um crescimento econó- e somente 9 % vende pela internet.
EM PORTUGAL (ACEP) mico sustentável, com mais e melhores Muitos julgam que, neste ambiente
empregos e maior coesão social. competitivo à escala global, as empresas
“Cerca de um Passados 7 anos, Portugal vai voltar a portuguesas terão maior dificuldade em
quarto de todas presidir à União Europeia, entre Julho e sobreviver. Mas não tem de ser assim: a
as empresas na Dezembro de 2007, o que constitui uma Internet oferece às empresas portugue-
União Europeia excelente oportunidade para voltar a sas um conjunto de oportunidades que
(EU25) utilizam colocar Lisboa no centro da definição minimizam o impacto de estarem num
sistemas elec- de politicas e boas-práticas em matéria país pequeno. Num ecrã de computador
trónicos para de sociedade de informação. O Estado e não há pequenas e grandes empresas.
fazer compras” as empresas portuguesas devem apro- Antes da Internet, para que uma empre-
veitar para mostrar, mas também para sa pudesse chegar aos consumidores e às
conhecer, o que de melhor se faz pre- empresas de um outro país, seria neces-
sentemente em matéria de economia di- sário abrir uma operação nesse país com
gital por essa Europa fora. todos os custos e riscos associados ao
Segundo o mais recente relatório do investimento, na verdade, impossível
Eurostat, cerca de um quar to de to- para a larga maioria.
DOSSIER

das as empresas na União Europeia Graças a mecanismos de negócio


(EU25) utilizam sistemas electróni- electrónico, e com um investimento
cos para fazer compras, enquanto relativamente reduzido, uma empresa
que somente uma em cada 10 empre- pode agora ter ao seu alcance
sas assegura fazer vendas através da o m e r c a d o mu n d i a l . Pa s s a a p o d e r
internet. Esta diferença verificada no localizar facilmente novos fornecedo-
indíce de utilização da venda online res, novos clientes e novos parceiros.
prende-se com a maior complexida- Graças a uma base maior de clientes
de, por compa ra çã o co m a co mp ra e de for necedores é possível vender
online, já que normalmente implica a mais e comprar mais barato.

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[Dossier/ Opinião: A importância do comércio electrónico]

É também possível aproveitar os inves- Hoje, esta dicotomia já não existe. O


timentos realizados em tecnologia e conceito “economia digital” aplica-se,
expandir a actividade da empresa a ou- actualmente, a todas as empresas. Para
tros sectores. as empresas que já actuam no mercado
E não é só no mundo empresarial que a (ainda que, de uma forma tradicional),
internet está a revolucionar a forma co- o negócio electrónico já não é uma es-
mo se vende: o crescimento que se tem colha: passou a ser uma necessidade es-
verificado do número de indivíduos a tratégica. A empresa de hoje tem de ter
aceder à Internet (seja através do compu- algum tipo de presença na Internet, co-
tador ou por dispositivos móveis), asso- meçando pela presença mais básica (i.
ciado à crescente adesão à banda larga, é e., site institucional), passando por um
uma boa notícia para os comerciantes estágio intermédio (i. e., catálogo elec-
que apostam ou querem apostar numa trónico de produtos e serviços) e cul-
presença online. minando na utilização de processos de
No actual contexto económico, o cres- negócio com clientes, for necedores,
cimento sustentado das vendas online funcionários ou parceiros, em que todas
nos últimos anos é um sinal importante as transacções são integralmente reali-
para as empresas portuguesas. A adesão zadas de forma electrónica.
do consumidor – e também das empre- Estes avanços tecnológicos e processuais
sas – ao negócio electrónico é uma rea- ocorreram num tão curto período de
lidade que deve ser aproveitada pelo te- tempo que, muitas vezes, os gestores não
cido empresarial, por um lado, para se deram conta de que os vários proces- “O cliente actual
chegar a novos mercados e, por outro, sos de negócios, que antes exigiam uma é muito infor-
para cr iar novas opor tunidades nos infra-estrutura de hardware, software e mado e quer
mercados existentes. alguns recursos humanos, podem agora aceder a produ-
O cliente actual é muito informado e ser realizados na Internet de uma forma tos e serviços,
quer aceder a produtos e serviços, quan- mais eficiente e com custos surpreenden- quando e como
do e como entender, da forma que mais temente mais baixos. entender”
lhe convier, no momento e ao preço que A Internet é uma auto-estrada digital ca-
está disposto a pagar. As empresas que da vez mais rápida, com mais capacidades
não conseguirem responder adequada- e funcionalidades a cada dia que passa e
mente a este novo cliente, não vão sub- que chega praticamente a todas as em-
sistir no século XXI. presas do mundo.
As empresas (e até os Estados) têm de Um gestor pode decidir não utilizar es-
criar múltiplos canais de contacto e de ta infra-estrutura, mas é fundamental
distribuição (físicos, Internet, telefone
e outros) de forma a conseguirem ven-
der serviços e bens físicos ou digitais.
que tenha consciência de que a sua
concorrência (a actual e a futura) o fa-
r á , e d e q u e, n e s s a a l t u r a , p o d e j á
DOSSIER
No final do século XX, na “era das dot- não ser possível inver ter uma situ-
com”, os modelos de negócios assenta- ação competitiva adversa. Esta é uma
vam numa dicotomia: por um lado os batalha sem tréguas a que muitos não
modelos da “antiga economia” (i. e., irão sobreviver.
sem a Internet), e por outro, os mode- É esta alteração de paradigma que tem
los da “nova economia” (i. e., exclusiva- de ser operada também no mercado
mente na Internet). português, o mais cedo possível.

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[Evento/ Encontro Nacional de Rádios da Associação de Rádios de Inspiração Cristã]

A IMPORTÂNCIA DOS MEDIA


ARIC debateu sector

A Associação de Rádios de Inspiração Cristã, levou mais uma vez junto


dos seus associados a discussão dos problemas do sector
POR FERNANDO COSTA

Em política não basta existir, é necessário fazer-se tacou ainda o facto de cada vez mais ser necessário,

“ existir”. Esta foi uma das ideias que transparece-


ram da participação de André Bradford, jornalista
de formação, e actualmente nas funções de assessor
tomar medidas concretas com vista à “Educação para
os Media”. É cada vez mais importante educar os ci-
dadãos com vista a que sejam capazes de descodificar
para os Assuntos Políticos do Governo Regional dos as mensagens que todos os dias nos chegam através
Açores, na sua apresentação que versou a temática da dos mais variados meios de comunicação, e isso de-
“Relação entre a Governação e os Media”. A apresen- verá acontecer desde a mais tenra idade, inclusive
tação esteve inserida no Encontro Nacional de Rádios nos primeiros anos da sua formação.
da Associação de Rádios de Inspiração Cristã (ARIC), Este Encontro Nacional de Rádios, o último destina-
realizado em Março na Ilha Terceira, nos Açores. do às comemorações do décimo quinto aniversário da
A necessidade de compreender o funcionamento ARIC, ao qual se associaram as comemorações do 60º
dos media, as suas dificuldades e a realidade do sec- Aniversário do Rádio Clube de Angra, contou ainda
tor foi destacada por André Bradford, como sendo a com os painéis e comunicações de Rui Magalhães e
pedra de toque para um relacionamento que deve Engenheiro António Lima Martins, representado res-
ser sempre leal e transparente. As responsabilidades pectivamente o Grupo Renascença e a Escola Supe-
do órgão de comunicação social terão que conside- rior de Tecnologia de Castelo Branco.
rar “a capacidade de fazer alargar a mensagem e de a O director técnico do Grupo Renascença, Rui Ma-
fazer acontecer”. Porque, segundo este responsável; galhães, referiu que “o futuro da Rádio será digital,
“A maior parte do nosso conhecimento de hoje é- só não saberemos quando e como, mas acima de tu-
nos reportada, não é por nós vivida”. O orador des- do será de convergência e terá sempre que ser com
qualidade”. Para além da digitalização
CORTESIA: ARIC

das emissões, para além da adopção


de novas tecnologias como o DAB, o
IBOC, o DRM ou o RDSat, o futuro
da rádio terá sempre, que ter em
consideração as premissas da conver-
gência e qualidade. Por seu lado An-
tónio Lima Martins explorou na sua
explanação, a temática dos caminhos
alternativos disponibilizados pelo
“open source” e que poderão vir a ser
solução para alguns dos problemas e
dificuldades que se põem a quem tra-
balha e depende diariamente das faci-
lidades proporcionadas pelas Novas
Tecnologias de Informação.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: JOAQUIM SOUSA QUEIROZ, PRESIDENTE DA ARIC; GARCIA ESPARTEIRO,
PRESIDENTE DA ASS. GERAL; CARLOS TERRA, PRESIDENTE DA C.M. ANGRA DO HEROÍSMO

20 | mediaXXI
ed.91 07/02/20 16:40 Page 21

[Actualidade Tecnologia]

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Uma meta empresarial baseada em serviços

A IBM Portugal propõe-se demonstrar às empresas e instituições académi-


cas como a Ciência de Serviços, Gestão e Engenharia pode transformar ve-
lhas estratégias de negócio em novas competências técnicas e sociais.
POR DULCE MOURATO

IBM Portugal obteve no último ano receitas na activo das universidades e dos institutos politécnicos

A ordem dos 293 Milhões de euros, montante


auferido na sua maioria pelos serviços, que re-
presentam sessenta por cento da actividade global.
quando criam espaços de trabalho colaborativo, favo-
ráveis à reflexão, ao conhecimento, à discussão e à
partilha de ideias com as empresas. Começam agora
Aquela organização, presente no nosso país desde a surgir cursos, um pouco por todo o lado, que apro-
1938, “procura fornecer uma oferta integrada de so- veitam esta experiência da Ciência de Serviços e o
luções aos clientes e parceiros, novas tendências na efeito catalisador da IBM para enquadrarem novos
criação de valor, investindo na indústria das Tecnolo- profissionais com perfis generalistas. Em Portugal já
gias da Informação e disponibilizando serviços de surgiu a primeira experiência curricular no mestrado
transformação de negócio a grandes empresas no em Engenharia de Serviços da Faculdade de Engen-
mercado nacional e internacional, favorecendo com haria da Universidade do Porto (FEUP), em fase de
a sua acção a nível local, a Investigação e Desenvolvi- aprovação ministerial para o ano lectivo de 2007/08.
mento e a angariação do investimento estrangeiro”, Para que esta tendência da Ciência de Serviços se
salientou Luís Barata, director dos sectores de Co- vulgarize, Luís Barata garante que a IBM pode ajudar
municações, Distribuição e Público, numa conferên- através do apoio de projectos de investigação, da cria-
cia organizada pela IBM Portugal sobre áreas cientí- ção de prémios e incentivos para investigadores e es-
ficas em emergência. tudantes, na organização de eventos e na cooperação
A Ciência de Serviços, Gestão e Engenharia supõe com instituições públicas e governamentais.
usar as competências adquiridas no percurso acadé-

D.R.
mico e desenvolvê-las no meio empresarial, com a
ajuda de equipas multidisciplinares que integram ges-
tores, sociólogos, comunicólogos, médicos, enge-
nheiros, entre outros profissionais, numa cadeia de
oportunidades de mercados emergentes e globais.
De acordo com Luís Barata, “estamos perante a chave
da inovação e do empreendorismo, que pode surgir
como disciplina académica, proposta de área de in-
vestigação, mas é concretamente um dos factores
chave do século XXI, conjuntamente com globaliza-
ção e a acessibilidade”. A Ciência de Serviços implica
uma abordagem transversal e a união entre a estraté-
gia empresarial, o Direito, as vertentes sociais e cog-
nitivas, a tecnologia, a sociedade, a cultura, os negó-
cios e as finanças. O impacto dos serviços no
crescimento da Economia depende assim do papel
SEDE DA IBM PORTUGAL

mediaXXI | 21
ed.91 07/02/20 12:33 Page 22

[Actualidade Publicidade e Marketing]

CTT REINVENTAM SELOS


Correios pedem aos portugueses que desenhem novos selos

A mais recente campanha dos Correios de Portugal pretende renovar o interesse dos
portugueses pelos selos, convidando-os a desenhar novos selos para o ano de 2008
POR MÁRIO GUERREIRO

campanha dos CTT intitula-se “Aqui Há Se- serão depois transformados em emissões filatéli-

A lo” e visa estimular a relação entre os por-


tugueses e a filatelia. O objectivo final passa
pela criação de novos selos para 2008, da autoria
cas do próximo ano.
Só no ano passado, os CTT imprimiram cerca de 29
milhões de selos destinados ao coleccionismo, a que
do mais comum dos portugueses. O projecto es- se juntam ainda os 65 milhões impressos para envio
tá alojado no site www.aquihaselo.com, e até 15 de correspondência comum. A filatelia continua a ser
de Maio, os participantes podem criar e enviar a uma actividade com muitos seguidores em Portugal,
concurso as suas propostas de novos selos. Os apesar do declínio no uso do selo e correspondência
formatos aceites são a fotografia e o desenho, e escrita, principalmente entre os mais jovens.Todos os
até ao final desse mês irá decorrer a votação. O anos são produzidos em Portugal perto de 15 milhõ-
autor da proposta mais votada irá receber 1500 es de selos que são depois arquivados em colecções
euros de prémio e o melhor, ou melhores selos, privadas e portfolios filatélicos.
ed.91 07/02/20 12:36 Page 23

[Actualidade Rádio]

A PRIMEIRA PÁGINA DA RÁDIO


Renascença Multimédia

A Rádio Renascença inovou a rádio. Criou um jornal para acompanhar o


ouvinte durante os períodos em que não pode ouvir as suas emissões
POR PAULA DOS SANTOS CORDEIRO

ançado na última semana de Fevereiro, o

L jornal “Página 1” marca em definitivo a


entrada da Rádio Renascença numa nova
era. Esta, de carácter multimédia e natureza
interactiva representa um cor te
com o passado, de uma rádio so-
nora em direcção a um meio que
cr uza o som com a imagem e o
texto. Às fotografias para acom-
panhar as notícias no website da
Renascença, a estação juntou, ain-
da o ano passado, um arquivo so-
noro em podcast. Mais tarde, jun-
t o u o v í d e o, p a r a a c o m p a n h a r
repor tagens ou as notícias mais
importantes. Agora, estreia num
novo género de redacção que a
transfor ma na primeira estação
multimédia, revelando, uma vez
mais que, em Portugal, a conco-
rrência no sector se faz tanto em
função dos ouvintes, como da evo-
lução multimédia que está a ser
definida para os media, e a conco-
rrência entre estações, antecipan-
do as expectativas da audiência.
O grande objectivo do “Página 1”
é a a p r ox i m a ç ã o a o o u v i n t e,
acompanhando-o onde este não pode escutar tário e outro para trabalhos mais extensos,
a rádio, através da leitura das principais notí- de entrevista ou repor tagem. Não revela
cias desse dia, oferecendo, de forma gratui- uma organização fixa e acrescenta ainda a
ta, um jornal com as principais notícias, em informação meteorológica e notícias de úl-
duas edições diárias (12.30 e 17.30). tima hora, complementando a infor mação
O “Página 1” está organizado em duas gran- da rádio e usando os exclusivos noticiosos
des áreas: um espaço para notícias e comen- da Renascença.

mediaXXI | 23
ed.91 07/02/20 12:45 Page 24

[Actualidade Imprensa]

UMA REVISTA MASCULINA DIFERENTE


Best Life dirige-se a um nicho de mercado inexplorado

Homens com mais de 40 anos e com poder de compra – é este o target


da nova publicação da Motorpress e é isso que a distingue dos restantes
títulos dirigidos ao sector masculino
POR VERA LANÇA

ançada no mercado em meados de Dezembro, a da ao leitor e

L Best Life é a mais recente aposta da Motorpress


no sector editorial português. Cerca de um mi-
lhão de euros foi quanto o grupo investiu nesta revista
os produtos
que propõe
sejam de qua-
trimestral que tem uma filosofia muito própria que a lidade e aci-
torna diferente das restantes publicações masculinas. ma da média.
Destinada a homens da classe A com mais de 40 anos, “Mesmo a
a Best Life vem cobrir um nicho que até agora não nossa agenda
tinha um produto específico. “Acreditamos no projec- é internacio-
to e achamos que ainda há espaço no mercado das re- nal. A revista
vistas masculinas”, diz Paulo Sousa Costa, director da destina-se ao
Best Life. “O homem Best Life é aquele que já con- homem que
quistou, tem poder económico e agora quer desfru- tem um esti-
tar”, acrescenta. lo de vida aci-
ma da média
Para os que querem mais e por isso a
Por ser um novo conceito de publicação, a Best Life linha editorial tem de ir nesse sentido”, esclarece.
“espantou um pouco o mercado porque foi um lança- Bem-estar, viagens, saúde, família, estilo e gastrono-
mento inesperado. Não era previsível que a esta altura mia são alguns dos temas abordados na Best Life.
aparecesse mais uma revista pa- A revista tem uma redacção e colaboradores pró-
ra homens”, afirma Pau- prios, mas partilha alguns profissionais com a Men’s
D.R.

lo Sousa Costa. A Best Health. Metade dos conteúdos são inteiramente pro-
Life não vem compe- duzidos em Portugal, os restantes são adaptações de
tir directamente com artigos publicados nas edições estrangeiras à realidade
outras revistas mascu- portuguesa. “Há um conceito do artigo estrangeiro
linas no mercado, como mas a informação foi adaptada ao mercado português,
é o caso da Men’s Health caso contrário o leitor sentir-se-ia defraudado, por is-
do mesmo grupo, porque so costumo dizer que a revista é 100% portuguesa”,
os targets não são os mes- diz Paulo Sousa Costa.
mos. O lema da Best Li- Se a reacção do mercado for positiva, a Motor-
fe é “Para Homens Que press planeia editar a revista mensalmente. “Este
Querem Mais” e isso ano será claramente trimestral e depois em 2008
implica, segundo o faremos as contas e aí saberemos se o mercado já
seu director, que a está preparado para uma publicação mensal ou
informação ofereci- não”, conclui o director da Best Life.
PAULO SOUSA COSTA, DIRECTOR DA BEST LIFE

24 | mediaXXI
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ed.91 07/02/27 10:18 Page 26

[Actualidade SI]

A MALDADE ANDA POR AÍ


Movimento diferente e irrequieto constitui-se na web

Apostado em despertar a capital, o MAL – Movimento Acorda Lisboa –


prima por ter uma filosofia de abertura e receptividade à originalidade.
Para tal, a interacção entre o movimento e as pessoas é essencial.
POR VERA LANÇA

oi no Verão de 2006 que quatro amigos de- Interactividade por princípio

F cidiram fazer algo para que as potencialida-


des culturais e sociais de Lisboa não passas-
sem despercebidas. Nascia assim o MAL, que
Como não podia deixar de ser, o MAL apresenta
as suas propostas e projectos num site próprio.
Mas não se trata de uma simples página de inter-
tem como missão “acordar as consciências ador- net. Aqui, o visitante pode dizer de sua justiça e
mecidas dos lisboetas”, como explica um dos interagir com outros visitantes e com os membros
fundadores, Vasco Barbosa. A cidade apresenta e do MAL, potenciando-se desta forma a democrati-
propõe uma vasta panóplia e opções que não cidade e interactividade da internet. Esta interacti-
chegam às pessoas por diversos motivos, entre vidade era um dos imperativos do movimento. “Na
eles o desconhecimento, situação que o movi- prossecução dos seus objectivos, o MAL assume
mento se propõe a mudar. No entanto, o MAL uma filosofia fundamentalmente aberta e receptiva
não promove apenas muitas dessas ofertas, vai a temas originais e criativos, onde a irreverência e
mais longe e introduz projectos próprios numa liberdade dinamizam o factor espectáculo e o sen-
agenda peculiar. tido cooperativo do público”, diz Vasco Barbosa.
Esta interacção entre visitantes do site e os mem-
bros do MAL foi também fruto de uma constata-
ção, como explica: “O MAL achou que a publici-
dade típica online não funcionava, então decidimos
interagir com o nosso público, o que provou ser
vital para um site com as características do nosso”.
Um dos eventos que mais adesão teve por parte
dos lisboetas foi o Ledbombing Lisbon, um con-
ceito novo em Portugal. O MAL organizou e fez
uma forte divulgação do evento no seu site, mas
também através de mailling-lists. O público apro-
vou de tal forma o primeiro Ledbombing em te-
rras lusas que bombardeou o site do MAL com
mensagens de entusiasmo. O movimento diz que a
adesão das pessoas tem sido superior à que espera-
vam inicialmente. Para o MAL, este é um forte in-
centivo, pois a forma como as pessoas interagem
no site é “fantástica! As pessoas estão mesmo inte-
ressadas em alguém que faça algo de novo e irre-
verente que puxe por elas”, diz Vasco Barbosa.

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ed.91 07/02/20 13:04 Page 27

[Internacional/ Christian Marra]

INTEGRAÇÃO FORÇADA
Problemas da convergência digital

A integração das redações do jornal impresso e da internet numa


mesma empresa é uma questão cujas dificuldades ainda estão longe
de ser superadas.
POR CHRISTIAN MARRA

integração das redações é uma questão que conforme pôde ser lido numa mensagem interna

A se encontra na pauta dos debates desde


quando começou a crescer a relevância do
jornalismo digital. Hoje praticamente todos jor-
dirigida aos seus funcionários e que acabou circu-
lando pela internet1. Ainda nos Estados Unidos,
o grupo Gannet, que edita o jornal líder em cir-
nais possuem pelo menos duas redações: uma pa- culação Usa Today, iniciou um processo similar
ra o veículo impresso e outra para a web. A partir em grande parte de sua cadeia de diários regio-
dessa novidade, os dirigentes dos jornais passa- nais. Outros que seguiram a mesma rota foram os
ram a enfrentar dúvidas novas: como tais equipes britânicos Daily Telegraph e Financial Times.
devem ser integradas? Que status deve ser confe- Contudo, a integração entre as equipes do jornal
rida à equipe do jornalismo na web dentro da impresso e da internet está longe de apresentar
empresa? Terá a mesma relevância que a equipe uma solução unânime. Um exemplo contrário
do jornal impresso? Terão condições trabalhistas vem do extremo oriente, onde a empresa japone-
similares? Eles trabalharão de modo integrado ou sa Nihon Kenzai Shimbum, responsável pela edi-
cada qual terá seu espaço? Seus conteúdos serão ção do principal jornal econômico do Japão, o
compartilhados? Não são poucas, nem simples, as diário Nikkei, decidiu, em novembro de 2006,
questões que pairam até hoje. separar as operações do jornal e de seus serviços
Alguns dos principais jornais mundiais optaram na web2. Desse modo, as operações desses dois
pela integração total. Uma decisão que não se segmentos da empresa ganharam maior indepen-
limitou à mera integração física das redações, dência entre si, apostando num rumo distinto ao
mas que incluiu também igualdade salarial e de outras grandes empresas jornalísticas dos Es-
planos de carreira similares. Em outros casos, tados Unidos e da Europa. A variedade de pro-
essa unificação implicou no compartilhamento blemas oriundos da integração – e ainda hoje sem
de funções, convertendo jornalistas do veículo respostas claras – pode ter levados os japoneses a
impresso em profissionais dos novos meios, e adotar uma estratégia distinta.
vice-versa. Foram criadas as chamadas “redações De fato, a questão ainda continua aberta. Para
24 horas”, nas quais profissionais do jornal e da tentar encontrar referências mais seguras, a
web passaram a oferecer serviços informativos WAN (World Association of Newspapers) pro-
ininterruptos, com todas as implicações traba- moveu um fórum de debates em 2006 centrado
lhistas que isto supõe. na transformação das empresas jornalísticas em
Esse foi o caminho trilhado, por exemplo, pelo empresas multimídia (com ênfase nas platafor-
New York Times, a partir de agosto de 2005. A mas digitais). A questão da integração das reda-
decisão, ousada, era a de “diminuir, e eventual- ções mereceu destaque especial. E dentre os
mente eliminar, a diferença entre os jornalistas principais problemas a serem vencidos, podem
do veículo impresso e os jornalistas da web”, ser mencionados os seguintes:

mediaXXI | 27
ed.91 07/02/20 16:41 Page 28

[Internacional/ Christian Marra]

a) Cortes nas redações c) Duas formas de pensar


Normalmente, quando duas redações se integram, a Um erro que parece ser claro e inquestionável
tendência é o corte dos jornalistas que passam a ocu- neste processo de integração das redações é o de
par postos de trabalho redundantes. No caso do diário forçar os jornalistas do meio impresso a atuar na
britânico Daily Telegraph, cuja integração se deu no internet, e vice-versa. Muitos profissionais do jor-
segundo semestre de 2006, o corte foi de 54 jornalis- nal, sobretudo os mais experientes, simplesmente
tas – além de profissionais de outras áreas –, o que não se sentem confortáveis trabalhando nos infor-
gerou uma ameaça de greve que quase paralisou o mativos on-line. Do mesmo modo, profissionais
jornal. No Financial Times, as demissões previstas ao mais jovens, habituados aos formatos digitais, tam-
final do processo atingiriam 50 jornalistas, o equiva- bém se sentem desconfortáveis com a mídia im-
lente a 10% de sua equipe editorial. Mas o grande te- pressa. Isso é natural.Trata-se de dois meios de co-
mor que permanece entre os profissionais quando um municação completamente diferentes. Tal como
processo de fusão é iniciado é o contínuo receio de per- não é o mesmo informar no jornal, na revista, no
der o emprego, o que torna o trabalho habitual desgas- rádio ou na televisão, também não é o mesmo in-
tante, com reflexos negativos na qualidade do serviço. formar na internet. Cada veículo possui suas pecu-
liaridades. Raríssimos profissionais na imprensa
b) Perfil dos diretores elaboram reportagens simultaneamente para o jor-
A partir do momento em que uma empresa jornalís- nal e para a televisão, por exemplo. No caso da in-
tica passa a atuar em duas mídias simultâneas (jornal e ternet, o mesmo raciocínio é válido. Compartilhar
internet), e quanto mais essas duas mídias se equipa- conteúdos informativos é uma coisa; compartilhar
ram em relevância, certamente surgirá uma grande tarefas é outra completamente distinta.
dúvida na cabeça entre os diretores: como comandá-
las de modo equilibrado? Com efeito, não é simples d) Multiplicação de tarefas
encontrar um profissional capaz de entender perfeita- As redações 24 horas unificadas têm recebido
mente o modo de funcionamento das duas áreas in- numerosas críticas, tanto por parte dos especia-
formativas, e que seja capaz de liderar eficazmente listas em jornalismo quanto da parte dos profis-
uma perfeita integração entre elas. Profissionais da sionais das redações que, repentinamente, vê-
mídia impressa muitas vezes possuem uma enorme em-se mais atarefados do que nunca. Como é
dificuldade em compreender como funciona um veí- sabido, em boa parte do mundo as redações dos
culo on-line e multimídia. O exemplo oposto tam- jornais estão enfrentando um contínuo enxuga-
bém pode ser verdadeiro. Em virtude dessa dificulda- mento por razões financeiras. Como se não bas-
de, o que se vê hoje são empresas que acabam dando tasse essa diminuição das equipes, obrigá-las a
maior relevância a um ou outro dos meios informati- também publicar na internet suas informações
vos, não conseguindo determinar uma política de co- mais relevantes de última hora parece ser uma
municação integrada e que se complemente. péssima política.
MÁRIO GUERREIRO

28 | mediaXXI
ed.91 07/02/27 10:25 Page 29

[Internacional/ Christian Marra]

VERA LANÇA

Os profissionais do
jornal necessitam de
tempo para apurar e
editar as matérias
mais relevantes à co-
munidade que com-
põe a sua audiência.
Por que dispersar-se
ao envolver-se com
uma mídia de alcance
global, como a inter-
net? Que sentido há
em apressar-se em pu-
blicar uma notícia de
âmbito local na web,
quando esta poderia
ser bem melhor ela-
borada para a edição
do veículo impresso,
que será destinada es-
pecificamente ao seu
público? Para piorar, nem sempre esse aumento uma central comum de conteúdos informativos.
de tarefas é traduzido em maior remuneração sa- Integrar os conteúdos, não as tarefas dos jornalis-
larial. O grau de descontentamento nas redações tas. O que é importante é que cada equipe se
acaba aumentando.Para enfrentar esses proble- concentre em fazer bem o trabalho que lhe com-
mas, alguns jornais estão encontrando saídas in- pete: apurar e editar as informações, do modo
teressantes. O editor do diário norte-americano melhor e mais ético possível em seu próprio veí-
Roanoke Times (Virginia, EUA), Michael Riley, culo, dominando as técnicas que lhe são próprias.
explica que estabeleceu uma equipe de profissio- Assim cada profissional poderá exercer com
nais na redação do jornal para “pensar de modo competência o seu ofício, livre de dispersões e de
on-line” 3. São jornalistas encarregados de fazer a ocupações que não servem para mais que preju-
ligação entre as duas mídias, analisando e suge- dicar a qualidade de seu serviço.
rindo como os conteúdos do jornal podem ser
aproveitados na web, e vice-versa. Jornalistas * Christian Marra, Doutor em Comunicação pela Universi-
com maior familiaridade com as duas mídias (im- dade de Navarra (Espanha), é coordenador do programa
pressa e on-line) podem atuar nos portais de no- Master em Jornalismo em São Paulo (Brasil) –
tícias e identificar como tais conteúdos podem cmarra@ceu.org.br
ser aproveitados adequadamente pelo jornal. O
enorme potencial de interação com o público
que a internet oferece também poderia colaborar 1Cfr.http://www.bizcommunity.com/Article/196/15/
para um incremento dos conteúdos informativos 12072.html
que o jornal diariamente publica. 2Cfr.www.editorsweblog.org/news/2006/11/japan_dig
Essa parece ser a solução mais razoável a uma ital_media_and_publishing_dont.php
empresa informativa. Estabelecer redações com 3Cfr.http://www.bizcommunity.com/Article/196/15/
atuação independente, porém com livre acesso a 12072.html

mediaXXI | 29
ed.91 07/03/02 17:16 Page 30

[Formação em Edição e Produção de Revistas]

APRENDER A PERCEBER O MERCADO


Formalpress organiza curso de edição de revistas

Em Lisboa e no Porto, acção de formação abordou o presente e futuro do


mercado de revistas e deu dicas de como atingir o sucesso, com vários
profissionais da área
POR MÁRIO GUERREIRO

epois de Lisboa e Porto, no mês de Janeiro, é a Outra das opiniões expressas abordou o cada vez

D vez de Leiria receber a primeira edição do


Curso de Organização, Produção e Edição de
Revistas, no dia 19 de Junho, na sede da OED Con-
mais comum hábito dos “add-ons” de produtos
(brinquedos, DVD’s, artigos de beleza, USB’s, etc)
aos títulos de revistas. Para os intervenientes esta é
sultores. À semelhança das sessões em Lisboa e no uma estratégia a evitar, dado que “prejudica seria-
Porto, a formação irá abordar a evolução do merca- mente a indústria editorial, restando o valor das
do das revistas nos últimos anos, e que opções de- nossas publicações.
vem ser tomadas para aumentar a competitividade

AMÉLIA SOUSA
destes títulos.
A Universidade Autónoma, em Lisboa, foi a primei-
ra a receber a acção de formação da Formalpress,
com a presença de Luís Landerset, professor no Ins-
tituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Luís
Penha e Costa, director do grupo Entusiasmo Me-
dia, Paulo Faustino, docente universitário e investi-
gador, e ainda de Teresa Marta, docente universitária
e consultora de comunicação.
A Media XXI apresenta algumas das principais ideias
e conclusões abordadas nas sessões de formação.
Abordando o futuro do segmento das revistas, os in-
tervenientes indicaram que este é o século da Ásia-
Pacífico, com especial relevo para as oportunidades
de mercado na China e Índia, e ainda a possibilidade
de algum potencial crescimento nos EUA e Europa.
Entre as conclusões, referiu-se a importância da in-
ternet no mercado das revistas, que deve ser utiliza-
da como ferramenta de crescimento, e a opção pela
construção das marcas, em detrimento de uma es-
tratégia virada apenas para a venda de publicidade.
Entre as receitas deixadas para as revistas continua-
rem a singrar, lançou-se o repto para que haja uma
maior concentração na circulação rentável, bem co-
mo o respeito perene pela integridade do título.
LUÍS PENHA E COSTA, DIRECTOR DO GRUPO ENTUSIASMO MEDIA

30 | mediaXXI
ed.91 07/02/27 10:34 Page 31

[Formação em Edição e Produção de Revistas]

DEZ LIMITES DA “CONTAMINAÇÃO PUBLICITÁRIA” NO CON-


TEÚDO EDITORIAL DAS REVISTAS AMÉLIA SOUSA

- Quanto mais especializada é uma revista, mais


afinidade existe entre o conteúdo editorial e a publici-
dade dentro da mesma
- Os anúncios pagos que surgem nos conteúdos
editoriais devem estar claramente identificados co-
mo sendo publicidade
- O director de uma revista é responsável pela credibi-
lidade do conteúdo editorial, mas também pelo suces-
so económico da sua publicação
- Assim sendo, o conteúdo editorial de uma revista deve
ter uma atitude de respeito para com os seus anunciantes
- Também a publicidade deve respeitar o conteúdo edi-
torial da publicação.
- Em caso de conflito entre uma revista e um anun-
ciante, o director da publicação deve estar seguro de
que poderá contar com o apoio da empresa…
- … sempre e quando o artigo em questão contenha
informação correcta e confirmada.
- As revistas têm futuro se: aproximarem os seus con-
teúdos das exigências dos seus leitores; souberem dis-
tinguir o verdadeiro do falso; conseguirem divulgar
com interesse e paixão; se mantiverem níveis de quali-
dade de fotografia e textos elevados
- As revistas são hoje em dia mais importantes do que
nunca porque reivindicam a dignidade da palavra escrita.
- É do interesse dos anunciantes que as revistas o con-
tinuem a fazer bem, porque sem a palavra escrita não
há desenvolvimento
TERESA MARTA, DOCENTE UNIVERSITÁRIA E CONSULTORA DE COMUNICAÇÃO

Evolução recente do modelo “ideal” do consumidor


MOMENTO DA SOCIEDADE MODELO “IDEAL” DO MEIOS
DE CONSUMO CONSUMIDOR
FINAL DOS Sociedade de consumo Consumidor “informado” e Media generalistas (TV)
ANOS 80 “maduro” experiente vendedores
MEADOS DOS Crise da sociedade de Consumidor analítico que Prevenção face aos meios que
ANOS 90 consumo tradicional procura a melhor relação vendem tudo (saturação).
custo/benefício e que Procura de fontes de opinião
compara as informações. diversas. Revalorização das
revistas como “conselheiras”.
FINAIS DOS Pós-crise e emergência de Segmentação dos Consolidação das revistas
ANOS 90 novas formas de consumo consumidores. Consumidor como “conselheiras” prévias
mais autónomo. De para a tomada de decisão
consumidor a utilizador. pessoal. Mais interacção
com os vendedores.
RUMO AO Consolidação das novas Consolidação do modelo de Necessidade de formação de
FUTURO formas de consumo e consumidor “utilizador”. critério próprio e de conhe-
modelos de consumo cimento dos novos produtos.
Revistas como meios seg-
mentados de informação e
conselho.

mediaXXI | 31
ed.91 07/02/20 14:30 Page 32

[Actualidade Televisão]

A NOVA 2
Canal volta a chamar-se RTP 2 e apresenta novidades

O segundo canal da emissora pública apresenta-se com o slogan


“Quem Vê, Quer Ver”, e com uma grelha de programação apostada
em reforçar a qualidade
POR MÁRIO GUERREIRO

om um logótipo onde predominam o la-

C ranja e o castanho, a nova RTP2 já mostra


as novidades prometidas pela sua direc-
ção. Depois de três anos a responder pelo no-
FLEXIBILIDADE PARA A TDT

Em debate na Assembleia da República, em torno da


nova lei da Televisão, o ministro dos Assuntos Parla-
me de 2, o canal dirigido por Jorge Wemans
mentares, Augusto Santos Silva, defendeu uma maior
volta a assumir o seu nome original, por que flexibilidade para os operadores da Televisão Digital Ter-
era conhecido desde a sua criação em 1968. restre (TDT) e internet e também renovada exigência nas
O canal retomou a sua designação original de licenças para operadores de televisão em sinal aberto.
acordo com o novo quadro legal da operadora Defendendo a nova lei da Televisão, Augusto Santos Sil-
va admitiu que a mesma contempla “maior flexibilidade
pública de televisão, em vigência desde Janeiro. no acesso à televisão que não é de sinal aberto”.
Este novo quadro indica que o canal deve estar
inserido numa só concessão de serviço público.
A nova RTP2 pretende afirmar-se como “o canal como vontade da direcção de sublinhar o seu en-
onde o conhecimento e o entretenimento são um tendimento da relação do canal com os públicos,
só conceito”. Como afirmou Jorge Wemans na os criadores e o espaço audiovisual".
apresentação pública da nova imagem, a RTP 2
surge "sem imposição externa de uma qualquer Aposta nacional
necessidade de mudança, a nova imagem surge Entre os destaques de programação contam-se
várias séries documentais de produção nacional,
como “O Meu Bairro”, onde em 10 episódios se
visitam os bairros emblemáticos de várias cida-
des nacionais. O programa tem a apresentação
de Ana Sousa Dias, que em cada episódio é
acompanhada por uma figura pública na visita ao
“seu” bairro, que ajuda a perceber as característi-
cas únicas de cada local.
A RTP2 irá também exibir o documentário “Pátria
Incerta”, centrado na herança portuguesa ainda en-
contrada na Índia, em par ticular em Goa.
No total, são cinco documentários de produção na-
cional, que a par da aposta em séries estrangeiras,
são as mudanças imediatas na programação do se-
gundo canal. Entre as séries estrangeiras, contam-
se “Casa Sombria”, e ainda os episódios finais da sé-
rie norte-americana”Os Sopranos”.

32 | mediaXXI
ed.91 07/03/02 16:04 Page 33

11 ANOS A COMUNICAR

Siga a nossa linha


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ed.91 07/03/02 17:14 Page 34

[Entrevista/ Maria Assunção Esteves]

OS MEDIA E A EUROPA
Centro Cultural de Belém debateu o futuro dos media europeus

Eurodeputada considera que a valorização da televisão e rádio podem


ajudar a uma melhor cobertura mediática dos assuntos europeus
POR VERA LANÇA

radora na conferência “Os Media na Cons- que o centro político busca agora uma legitima-

O trução da Europa Política”, organizada pela


Fundação Konrad Adenauer, a 22 de Janeiro,
no Centro Cultural de Belém, a eurodeputada do
ção directa, que só pode vir de uma cidadania eu-
ropeia, de uma consciência de Europa. Por isso,
as resoluções do Parlamento Europeu e os pro-
PSD Maria da Assunção Esteves analisou a impor- gramas da Comissão Europeia sobre comunicação
tância dos media na Europa actual. A conferência e sobre Constituição falam já claramente da im-
juntou oradores como o director do Expresso, portância estratégica dos media.
Henrique Monteiro, a jornalista do Público,Teresa
de Sousam ou ainda o embaixador alemão em Por- O que poderá ser feito para que a cober-
tugal, Joachim Broudré-Grober. tura mediática das temáticas europeias
assuma mais importância e mais prox-
Os media e a Europa têm sido um tema imidade (junto dos europeus) na agenda
recorrente nos últimos tempos, que dos media?
importância têm os media na construção Desde logo, deveriam ser valorizados os meios
da Europa? de comunicação clássicos, de grandes audiên-
A Europa vive um tempo de mudança. Ao mesmo cias, como a rádio e a televisão. Faria sentido
tempo que se alarga, busca uma maior integra- recorrer à publicidade institucional, mostrando
ção, uma integração política e jurídica. O projec- o perfil político da União Europeia e o seu pro-
to de uma Constituição é exemplo disso. Se bem grama político fundamental. De um modo sim-
que a Europa ples e atraente. Faria também sentido captar
“Os media e os políticos pre- do presente para esses meios de comunicação as experiên-
cisam de renovação nos ainda se radica cias de cidadania e cruzamento de culturas dos
espaços em que intervêm” nos ideais do Estados-membros promovidas pela Comissão
Tratado de Europeia - Erasmus, Contactus, Cidadãos pela
Roma, a verdade é que ela os assume agora com Europa - são programas abrangentes, de que a
maior intensidade e uma nova projecção.Vivendo maioria das pessoas não toma consciência. Faria
a passagem de uma lógica intergovernamental pa- ainda sentido um canal de televisão a cobrir
ra uma lógica constitucional, a Europa constrói permanentemente os trabalhos do Parlamento
uma democracia ampla que não é apenas a soma Europeu. 24 horas por dia. Em directo e em di-
das Democracias dos Estados que a compõem. ferido. Os Europeus não conhecem o rosto dos
Para isso precisa de um centro político (institui- seus representantes, não conhecem o essencial
ções fortes), de uma base (cidadania) e de uma do que debatem. No ano passado, escrevi uma
relação legitimadora que assenta na comunicação carta ao presidente do Parlamento Europeu e à
(media). É por isso que os media têm uma im- comissária Wallström nesse sentido. A resposta
portância crucial neste momento da Europa. Por- foi tíbia, foi uma não resposta.

34 | mediaXXI
ed.91 07/02/27 10:40 Page 35

[Entrevista/ Maria Assunção Esteves]

D.R.

DA ESQUERDA PARA A DIREITA: JOACHIM BROUDRÉ-GRÖGER, MARIA ASSUNÇÃO ESTEVES, MICHAEL DÄUMER E MARQUES MENDES

Que aspectos estão actualmente errados O que é preciso fazer para que os
no que toca ao debate europeu nos media? cidadãos se envolvam mais na cons-
Desde logo, um claro predomínio do debate da trução da Europa?
política nacional sobre a política europeia. Pas- Torná-la mais política, aprovar uma Consti-
se a expressão, a perspectiva "paroquial" da po- tuição, mobilizar os cidadãos com uma men-
lítica ainda domina os media. Compare a trans- sagem clara e atraente para o programa fun-
missão das temáticas do Parlamento Europeu e damental das instituições europeias. Saber
a transmissão das temáticas do Parlamento na- explicar que a justiça só é possível num mun-
cional, por exemplo. Pode mesmo compará-las? do para todos.
Por outro lado, os jornalistas que fazem a co- Ora, aqui, chamar os media, comprometê-
bertura das instituições europeias surgem, às los com a democracia e os direitos huma-
vezes, demasiado instalados nelas. Deveria ha- nos, não é pedir nada à sua isenção.
ver mais renovação. Deveria haver mais o senti- Penso também que a multiplicação de pro-
do do exterior. Só assim pode haver ligação, em cessos eleitorais na União Europeia (se-
sentido verdadeiro e próprio. Eu diria mesmo, g u n d a c â m a r a , e l e i ç ã o d o p re s i d e n t e d a
os media e os políticos precisam de renovação Comissão pelo Parlamento Europeu) atrai-
nos espaços em que intervêm. ria mais os europeus.

mediaXXI | 35
ed.91 07/03/02 17:17 Page 36

[Opinião/ Francisco A. Van Zeller]

A VEZ DAS EMPRESAS (2007-2009)

s primeiros dois anos de actuação deste Havendo ainda vários pendentes, como a ques-

O Governo foram um verdadeiro massa-


cre para as empresas de comunicação
social. O programa então apresentado em
tão da concentração dos media ou o arranque da
televisão digital terrestre, parece claro que este
ímpeto “reformador” vai abrandar, dando alguma
2005 causou desde logo muitas reservas aos folga aos meios para se preocuparem com outras
meios, tendo-se confirmado as suas piores coisas (para eles muito mais importantes).
expectativas. Num cenário de estagnação da Por isso, chegou agora a vez das empresas
economia e do mercado publicitário, o Mi- apresentarem a sua agenda para o sector, onde
nistro da tutela foi propondo e aprovando, em muitas matérias o Estado não é, nem deve
com a ajuda do Parlamento, várias medidas – ser, chamado. Matérias relacionadas sobretudo
muito ideologicamente vincadas - que têm com o funcionamento das organizações e com FRANCISCO A. VAN ZELLER
interferido, condicionado e encarecendo a a auto-regulação em várias áreas. SECRETÁRIO-GERAL DA
actividade dos media no nosso País. Algumas associações, como a Confederação de CONFEDERAÇÃO DOS MEIOS DE
Por razões de calendário, interessou acelerar to- Meios, precisam de rever o seu modelo de go- COMUNICAÇÃO SOCIAL
do o “pacote” para a comunicação social e enfiá- vernance, para ganharem flexibilidade e eficá-
lo no espaço de dois anos, obrigando as associa- cia; a CAEM (entidade privada que regula os es- “Algumas associ-
ções do sector a se organizarem e defenderem. tudos de audiências) tem que ser urgentemente ações, como a
O resultado para as empresas de media, porém, reestruturada, para impor as melhores metodo- Confederação de
não é brilhante. Mas tal não se deve certamente logias na elaboração dos estudos dos meios; o Meios, precisam
à falta de empenho de todos os que, nos últimos ICAP (organismo privado que fiscaliza a publici- de rever o seu
dois anos, têm colaborado com o Governo e dade) deve cumprir todos os requisitos exigidos modelo de
com o Parlamento procurando chamar a aten- internacionalmente – já não faltam muitos… - governance”
ção para o desequilíbrio das propostas. para demonstrar ao poder político que não ne-
Assim, ainda se conseguiu tornar a ERC um cessita de concorrência pública. Last but not le-
pouco mais “self e co-regulation friendly” e insti- ast, este é o momento para as empresas de co-
tuir-lhe um conselho consultivo (sem evitar no municação social começarem a apresentar, de
entanto a taxa de regulação e supervisão…até forma sistemática e, quando necessário, em co-
agora), adiar ou mesmo abolir a criação de ou- laboração com a ERC, o seu “pacote” de propos-
tra entidade reguladora para a publicidade (que tas de auto e co-regulação em matérias de pro-
seria financiada pelo mercado), introduzir algu- dução e transmissão de conteúdos.Existe uma
mas – modestas – melhorias no diploma que janela de oportunidade com dois anos de dura-
revê o estatuto do jornalista bem como no ante- ção para que nos organizemos e evitemos males
projecto da nova Lei da Televisão (estando esta maiores no futuro. Compete-nos, por isso, estar
ainda muito longe do que é desejável). à altura do momento.

36 | mediaXXI
ed.91 07/02/20 14:51 Page 37

[Reportagem de Comunicação/ Jornais económicos]

ECONÓMICOS APOSTAM NA QUALIDADE


Toda a terra na palma da mão com o Ndrive

A crise na imprensa generalista faz-se sentir também entre os títulos


económicos, embora de forma atenuada, mas parece existir a confiança
que produtos com qualidade irão continuar a apelar aos leitores
POR MÁRIO GUERREIRO

ntre os títulos económicos, continuam

E a existir leitores fiéis, apesar de se re-


gistarem quebras de circulação entre
quase todas as publicações. Num mercado
exíguo, mas onde coexistem mais títulos do
que noutros países europeus de maior di-
mensão, os responsáveis por algumas das
publicações económicas nacionais, contac-
tados pela Media XXI, acreditam que ainda
pode haver espaço para novos títulos. A es-
tratégia de sucesso terá de passar inevitavel-
mente pela inovação.
O director do semanário Vida Económica,
João Peixoto de Sousa, admite que “tal co-
mo os meios generalistas, os meios econó-
micos são confrontados com uma conjuntu-
ra adversa caracterizada por um longo
período de baixo crescimento”, e que afecta
o “potencial de circulação das publicações e
as vendas de publicidade”. Peixoto de Sousa
refere que este cenário se tem agravado
"com o aparecimento da imprensa gratuita
e a política de preços baixos praticada pelos
canais de televisão, que reduz a quota de
mercado da imprensa em termos de publi-
cidade”. Ainda assim, admite que “é possível
que continuem a surgir novos títulos”, até
porque se trata do sector de actividade onde os Avillez Figueiredo, acredita que, apesar da satura-
“investidores aceitam défices de exploração mais ção não ser uma medida clara do mercado, “pode
longos e de valor mais elevado, com a esperança ser facilmente anulada pela inovação”. Opinião
de os recuperar no futuro numa conjuntura mais idêntica tem Tiago Cortez, administrador-delega-
favorável”. Mas vaticina: “é difícil vislumbrar do do Oje, que acredita que, no segmento econó-
grande margem de crescimento do sector”. mico, “as boas ideias podem vingar, nomeadamen-
O director do Diário Económico (DE), Martim te em novos formatos, como é o caso da internet”.

mediaXXI | 37
ed.91 07/02/20 14:55 Page 38

[Reportagem de Comunicação/ Jornais económicos]

presa decide oferecer jornais aos seus quadros,


OJE JÁ É O SEGUNDO TÍTULO MAIS LIDO
as pessoas gostam e lêem”, tornando a assina-
O último boletim da Associação Portuguesa para tura “um modelo de sucesso”, diz. Desta for-
o Controlo de Tiragem (APCT) referente ao último ma, “decidimos ter um produto com qualidade
trimestre e ano de 2006, indicam que entre as e com um baixo custo para as empresas, refere
publicações do segmento económico, a revista Tiago Cortez.
Exame continua a liderar, apesar de ter sofrido
O responsável do Oje descarta a possibilidade
uma queda de 11 % na sua circulação paga,
dizendo respeito a uma perda de três mil exem- de uma futura distribuição nas bancas. “Os nú-
plares por edição. A Exame terminou 2006 com meros desaconselham-nos a fazer isso, a im-
uma circulação paga de 24.012 exemplares, se- prensa económica tem as mais altas taxas de
gundo os dados da APCT. Entre as publicações sobras de toda a imprensa”, justifica.
económicas, o diário Oje surge no segundo lu-
gar, com uma circulação paga média de 17.258
Até à data, Tiago Cortez define como “exce-
exemplares, apesar de só ter começado a ser lente” a receptividade registada pelo Oje. “So-
distribuído em Junho, e de não ser vendido em mos lidos quer por presidentes de bancos e
banca, como os demais títulos, mas sim através grandes empresas, altos responsáveis pelos
de assinatura. Nos dados da APCT, surge de principais organismos públicos, mas também
seguida o semanário Vida Económica, que
sofreu uma perda de 9,37 % da sua circulação
por jovens quadros de empresas que também
paga, menos 1442 exemplares por edição quan- se interessam por temas económicos”, partilha
do comparado com os dados do período homólo- Tiago Cortez. A razão parece residir também
go de 2005. O Vida Económica terminou 2006 nas diferenças de conteúdo do Oje, quando
com uma circulação paga de 13.9455 exem- comparado com os demais títulos. O jornal
plares. Entre os diários económicos com venda
nas bancas, o Diário Económico voltou a posi-
apresenta “notícias curtas e muito objectivas”,
cionar-se à frente do Jornal de Negócios, com dado que “as pessoas têm pouco tempo”, além
um ligeiro crescimento de 80 exemplares em de temas que “interessam à maioria dos qua-
2006, e uma circulação paga de 11.979 exem- dros, como o desporto e ‘lifestyle’”, conclui.
plares. No ano transacto, o diário económico do
grupo Cofina registou uma quebra de 0,62 %, o
que corresponde a menos 40 exemplares vendi-
A CONTINUAÇÃO DO BOLETIM DO CONTRIBUINTE
dos. Refere o boletim da APCT que a circulação
paga do Jornal de Negócios é actualmente de
7.161 exemplares. O Vida Económica começou a ser publicado na
década 80, mas na origem da sua actividade edi-
torial está o Boletim do Contribuinte, “que se pub-
lica há 74 anos”, como explica Peixoto de Sousa.
A vitória das assinaturas Abordando as diferenças entre o título que dirige
Lançado no final do primeiro trimestre de e os restantes, o director do Vida Económica indi-
2006, através de uma parceria entre os seus ca que “a principal diferença está no posiciona-
accionistas (MNF Capital e quadros promoto- mento. Enquanto os outros jornais económicos
circulam essencialmente ao nível das grandes
res) e o diário londrino CITY AM, o Oje já é empresas, multinacionais e da classe política”, o
lida na Grande Lisboa, Porto e Coimbra, em Vida Económica “tem um espectro de leitores
mais de “700 empresas directas e mil indirec- mais vasto com uma implantação forte nas pe-
tamente, nos grandes escritórios”, refere Tiago quenas e médias empresas, profissionais liberais
Cortez. O título não é vendido nas bancas, e quadros das empresas e Administração Públi-
ca”. Para Peixoto de Sousa, outra das diferenças
mas sim através de assinatura. Uma opção que reside na “abordagem mais técnica e aprofunda-
o administrador-delegado justifica com a o da, numa linguagem simples e acessível” que o
facto de se comprarem poucos jornais econó- Vida Económica concede aos temas.
micos em Portugal. “Mas quando alguma em-

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ed.91 07/02/27 10:45 Page 39

[Reportagem de Comunicação/ Jornais económicos]

MÁRIO GUERREIRO

Que futuro para os económicos leitores”. O director do DE exemplifica com a per-


Abordando o futuro dos títulos económicos, João formance “incrível” do formato online do jornal:
Peixoto de Sousa admite que “os conteúdos online “saltámos de 85 mil ‘page-views’ para 343.957”.
disponíveis em várias plataformas aceleram a ne-
cessidade de mudança e de adaptação”, e que esta
evolução não pode ser parada. Por isso, acredita “PRIMEIRO O PÚBLICO”
que, às publicações que querem continuar a ser
Para Martim Avillez Figueiredo, o DE é um jornal
opção no futuro, resta um grande esforço de adap- que coloca o público em primeiro lugar. E o
tação, interpretando as necessidades dos leitores, e público alvo do DE, segundo estudos de mercado
explorando a complementaridade com o online”. internos, tem entre 18 e 55 anos, tendo “o seu
O director do Vida Económica considera que os coração” entre os 25 e 35 anos, “liderando em
“novos suportes são ameaças, mas também repre- absoluto os CEO’s de empresas”, refere o seu di-
rector. E acrescenta ainda: “No último ano ultra-
sentam novas oportunidades”. Como tal, relembra passámos o Diário de Notícias nos quadros diri-
“a enorme revolução na forma com os serviços fi- gentes médios”. Para o director do DE, as
nanceiros são acedidos e distribuídos”verificada na características editoriais do título justificam a
banca, com sinais positivos. sua preferência. O DE pugna por “esclarecer
Martim Avillez Figueiredo afirma que o “papel é um com rigor todas as dúvidas do seu leitor-tipo”, e
aposta na “descodificação das ‘policies’ na-
formato fundamental neste segmento”, mas não re- cionais”. Esta opção verifica-se no jornal, no seu
jeita as potencialidades do online. Até porque “a todo, e também “na opinião da sociedade aber-
marca DE é olhada como veículo de comunicação”, ta”, que Avillez Figueiredo define como “um ver-
sendo “online e papel duas plataformas distintas do dadeiro portal de pensamento e reflexão único
objectivo do jornal: descodificar o mundo para os nos jornais portugueses”.

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ed.91 07/02/20 15:24 Page 40

[Empresas XXI]

SISTEMAS DE GEORREFERENCIAÇÃO
Toda a terra na palma da mão com o Ndrive

Viajar e ter à disposição uma extensa base de dados georreferenciada e


conteúdos digitais de entretenimento é a proposta da InfoPortugal com a
NDrive, a sua solução de navegação pessoal
POR DULCE MOURATO

o final do ano falou-se muito da InfoPortu- O NdriveGo é um dispositivo de navegação GPS ime-

N gal, uma empresa criada em 2001, especia-


lizada em conteúdos digitais, Sistemas de
Informação Geográfica (SIG) e em soluções de
diata com funcionalidades multimédia, cartão de me-
mória com mapas e o motor de pesquisa e de navega-
ção Ndrive, especialmente concebido para ser usado
mobilidade, por ter produzido o Ndrive (que o numa viatura. Para além destas características, o
presidente Cavaco Silva ofereceu ao Rei de Es- NdrivePhone acrescenta um PDA com sistema de
panha por ocasião da sua vi- navegação e um telemóvel com
DR

sita de Estado), pelo empre- receptor GSM e GPS. Assegura


endorismo e por a Google a ainda informação em tempo real
considerar uma das poten- com pontos de interesse dinâmi-
ciais apostas de investimen- cos. A mais-valia do NdriveGPS
to em território nacional. é poder transformar um telemó-
Em pouco tempo a InfoPor- vel com sistema operativo Win-
tugal internacionalizou-se dows Mobile ou Symbian num
com o Ndrive, estando já sistema de navegação e receptor
presente em Espanha, Singa- Bluetooth GPS.
pura, Malásia e Tailândia e, Eduardo Carqueja acredita que
segundo Eduardo Carqueja, o valor do Ndrive “está nos
director-geral da Infoportu- conteúdos incomparavelmente
gal, novos mercados se avi- (em cartografia e pontos de in-
zinham a curto prazo, como teresse) melhores sobre Portu-
por exemplo Itália que está a gal, na facilidade de uso e no
ganhar força, tal como o Mé- preço mais acessível face à con-
xico e o Brasil. corrência e no reforço das par-
O Ndrive é uma solução móvel de na- cerias com inclusão dos conteú-
vegação pessoal (já na sua segunda versão, dos do Jor nal Expresso (o
com a capacidade de recolher mapas de treze roteiro Boa Cama e Boa Mesa)
países, em oito línguas diferentes) com informa- e com a HP (o iPAQ rx5710 Travel Compa-
ção dinâmica actualizada permanentemente à nion, um sistema de navegação com funcionalida-
medida que o utilizador se desloca e a possibili- des de PDA, especificamente destinado a viajan-
dade de escolher entre o caminho mais rápido, o tes) que virá a dar bons frutos. Por questões de
mais curto, com e sem portagens e efectuar o concorrência não queremos falar de números,
ajuste nas velocidades máximas. Agora é disponi- apesar de estarmos muito seguros que neste ano
bilizada em três opções: o NdriveGo, o Ndrive- obteremos a liderança em termos de quota de
Phone e o NdriveGPS. mercado.”, garantiu aquele responsável.

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ed.91 07/03/02 16:29 Page 41

Curso De
Técnicas Base De Televisão

Duração: 48 horas > DIA 1 > DIAS 4, 5 E 6


Local: Porto e Lisboa MÓDULO 1 – LINGUAGEM E MÓDULO 4 – REPORTAGEM, ENTRE-
Data: 1, 2, 8, 9, 15, 16 Junho 2007 NARRATIVA TELEVISIVA VISTA, DIRECTOS E MONTAGEM
Valor: 450 €
1.Os planos fixos e em movimento; os 1.Preparar todo o material e equipamento
enquadramentos fechados, abertos e necessários à produção de uma reportagem
intermédios dos planos. 2. Articular com o repórter de imagem os passos
OBJECTIVOS:
2.Os “travellings”, as panorâmicas e o necessários à produção de uma reportagem
“zoom” 3.Recolher, “in loco”, todas as imagens e
Esta acção de formação destina-
3.Os planos picados e contra informações necessárias ao sucesso de
se a aproximar os formandos das
-picados uma reportagem
técnicas básicas de produção de
4. A reportagem de televisão 4.Preparar o directo de reportagem,
materiais televisivos. Ao longo de 48
sumariando os temas principais e
horas, os participantes serão convi-
definindo um esquema de articulação e
dados a conhecer e aplicar as téc-
exposição das ideias-chave
nicas de escrita jornalística para
> DIA 2 5.A preparação da entrevista
televisão; de produção de reporta-
MÓDULO 2 – A ESCRITA a) conhecer o tema
gens; de realização de directos e de
JORNALÍSTICA DE TELEVISÃO b) conhecer o entrevistado
realização de entrevistas; e de apre-
6.A condução da entrevista em directo
sentação de jornais de televisão,
1.A escrita de televisão deve ser curta, 7.A condução da entrevista gravada
com leitura de teleponto.
clara, forte e sugestiva 8.Comportamento em conferência
Sendo esta uma acção de for-
2.A escrita de televisão está subordina- de Imprensa
mação eminentemente prática,
da à imagem 9.Visionamento das imagens recolhidas
serão privilegiados os contactos
10. A utilização do time-code do sistema
com todas as fases de produção e
Betacam
criação de materiais. A avaliação
11. O som
será feita através da medida de
> DIA 3 12. O “vivo”
aptidão funcional demonstrada.
MÓDULO 3 – MONTAGEM DIGITAL 13. O vídeo
14. A relação entre o texto e as imagens
1.Aprender as noções básicas e teóricas 15. A harmonização narrativa
Inscrições e Informações:
da edição vídeo digital.
T: 217 573 459
2.Conhecer o equipamento AVID, e > DIA 6 (TARDE)
F: 217 576 316
aprender a utilizá-lo para editar peças MÓDULO 5 - APRESENTAÇÃO E
@: cursos.cenjor@gmail.com
para televisão. DOMÍNIO DO TELEPONTO
organização: 3.Praticar com o equipamento AVID
utilizando as técnicas adquiridas, 1. O apresentador de um telejornal deve ser
para o formando alcançar como sóbrio, seguro, comunicativo e confiante
objectivo final, a sua independên- 2.Ler textos de “pivot”, sem teleponto

apoio: cia na edição vídeo da sua 3.Ler textos de “pivot”, com teleponto
reportagem. Formadores: Jorge Nuno Oliveira, João
Ferreira, Francisco Prates, Pedro Pinto
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[Entrevista Central/ António Pedro Vasconcelos]

“HÁ UMA CLIQUE QUE CONTINUA A


DOMINAR O CINEMA EM PORTUGAL”
António Pedro Vasconcelos aborda estado do cinema português

Cineasta critica inoperância dos Governos relativamente ao cinema


nacional, que considera não ter evoluído nas últimas décadas
POR MÁRIO GUERREIRO, FOTOS POR GUILHERME PIRES

ctualmente a preparar um novo filme, de que nacionalmente, do Manoel de Oliveira, por ter a

A irá iniciar a rodagem em Maio, António Pe-


dro Vasconcelos, um dos fundadores do Cen-
tro Português de Cinema e figura de destaque do
Catherine Deneuve ou o Michel Piccoli. O cinema
português é tão conhecido lá fora como o cinema
esquimó. O próprio cinema iraniano ou outras ci-
cinema nacional, não deixa de reiterar as críticas nematografias de países mais pobres, mesmo do
que tem repetido desde há largos anos. Para o rea- ponto de vista cultural, têm outra projecção. Por
lizador de filmes como Jaime e O Lugar do Mor- outro lado, o Manoel de Oliveira funcionou um
to, o cinema português não tem evoluído, existin- bocado como um eucalipto, secou tudo à volta. O
do hoje uma clique que domina o pensamento e cinema português foi confundido com o Manoel
concursos em torno da sétima arte nacional, uma de Oliveira. E o Manoel de Oliveira, com os méri-
contínua desvirtuação do papel das televisões e tos que teve no passado, que os teve seguramente,
ainda uma lei marcelista a pautar o comportamen- é hoje em dia um cineasta póstumo e que é visto
to do Estado perante o cinema. mais como um caso do Guinness do que propria-
mente como um grande mestre do cinema.
Em que estado se encontra o cinema por-
tuguês hoje em dia? E quais as razões para este estado de coisas?
Eu acho que está no mesmo estado em que sem- A revolução do 25 de Abril ocorreu em 1974 e os
pre esteve. O facto de não ter evoluído faz com meados dos anos 70 são um período decisivo em
que seja cada vez pior. O balanço que se faz, so- que o cinema europeu sofre uma mudança radical.
bretudo depois do 25 de Abril, é desolador. O ci- E isso foi devastador. Numa altura em que nos tín-
nema português, de uma maneira geral, não criou hamos libertado do fascismo e que iríamos ter
nenhuma em- oportunidade de fazer os nossos filmes, tínhamos
“O Manoel de Oliveira funcio- patia com o perdido quinze anos. A verdadeira revolução do
nou como um eucalipto, secou público. São as chamado Cinema Novo foi nos anos sessenta e
tudo à volta” telenovelas que houve quinze anos em Portugal, a seguir à primei-
preenchem es- ra leva de filmes do Paulo Rocha, do Fernando Lo-
se espaço. Do ponto de vista externo contam-se pes e do António de Macedo, de verdadeira estag-
pelos dedos da mão os prémios significativos em nação até 70 e poucos. É preciso perceber que nós
festivais e a presença de filmes nos ecrãs estrangei- continuamos com uma filosofia herdada do marce-
ros é inexistente. Não há um filme português em lismo. O IPC, que foi IAC, e depois ICAM e ac-
Espanha. Há de vez em quando um filme portu- tualmente é ICA, é uma emanação do marcelismo.
guês em Paris. Há um ou outro distribuído inter- Isto vem ainda da lei 7/71, que criou uma taxa so-

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ed.91 07/02/27 10:56 Page 43

[Entrevista Central/ António Pedro Vasconcelos]

bre os bilhetes de cinema, de 15 por cento, com os


quais se iria financiar o cinema português, segundo
uma lógica que dizia que aqueles que vivem da ex-
ploração do cinema estrangeiro devem contribuir
para que haja um cinema português, que de outra
maneira seria abafado e esmagado pela concorrência
americana e europeia. Esse princípio foi consagrado
na lei de 7/71, em grande parte devido à pressão
que a minha geração, do chamado Cinema Novo,
tinha feito nos anos Gulbenkian. Como sabe, houve
um protocolo com a Fundação Calouste Gulbenkian
em que esta durante três anos financiou os novos ci-
neastas. O Governo marcelista compreendeu que
não podia acabar com os cineastas, mandá-los para a
cadeia ou para o exílio, ou proibir-nos de fazer fil-
mes, pois já tínhamos adquirido uma certa visibilida-
de. Criaram então uma lei que nos dava algumas
possibilidades e que iria prolongar os subsídios da
Gulbenkian. Mas simultaneamente, como era um
regime autoritário, não queria perder o controlo
dos filmes que se faziam, sobretudo na escolha nos
argumentos e das histórias, mas também o controlo
“a posteriori”. A solução do Governo marcelista foi inteligente para moldar o sistema a seu favor. Aqui-
criar um instituto, o IPC [Instituto Português de Ci- lo a que se assistiu foi a um circuito fechado, uma
nema]. Nós tínhamos o CPC [Centro Português de espécie de clique que domina os júris, domina os
Cinema], o Estado marcelista criou o IPC. Com jornais principais que fazem opinião, nomeada-
uma mão ia dar-nos dinheiro, e com a outra contro- mente o Público e o Expresso, domina a Cinemate-
lava o cinema, pois só apoiava os filmes que não ca e as escolas de cinema. Todos os anos saem for-
agredissem a imagem do regime. Essa tentação do nadas de cineastas das escolas de cinema que são
Estado de, por um lado, intervir no mercado, e por favorecidos sistematicamente pelos júris, e em al-
outro lado controlar a criação, manteve-se inalterá- guns casos até é gente com talento. Há muita gente
vel até hoje. Trinta anos depois nós continuamos com talento e a fazer filmes interessantes em Por-
com júris e concursos. Continuamos com uma deci- tugal. Não estou a dizer que o cinema português
são política, porque os concursos não são necessaria- seja desinteressante. O que eu critico é o sistema,
mente isentos. O Estado arrogou-se de ter o direito favorável a quem beneficia dele e que assenta numa
de ter uma política de gosto, e decide quem filma e coisa perfeitamente
quem não filma. Isto é tão absurdo como o Ministé- per versa, que é a “Continuamos com uma
rio da Cultura decidir todos os anos se pintava o Jú- negação de toda a filosofia herdada do
lio Pomar ou a Paula Rego, se escrevia a Lídia Jorge história do cinema, marcelismo”
ou o José Saramago. Isto é impensável, e próprio dos a de que o cinema
regimes soviéticos. Como ninguém tocou nesse sis- não é uma arte popular e que os filmes que têm
tema, porque era confortável para muita gente, público são necessariamente maus. Isso é negar o
criou-se uma forma de parasitismo e uma clique, Griffith, o Chaplin, o John Ford, o Frank Capra, o
que quase imperceptivelmente, passou a dominar. Fellini, o Truffaut, o Hitchcock e por aí fora. Isto
Na maioria dos casos com os filmes produzidos pelo levou o cinema nacional a esta pauperização e a es-
Paulo Branco, que foi um produtor suficientemente te isolamento total no plano interno e externo.

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ed.91 07/02/27 10:57 Page 44

[Entrevista Central/ António Pedro Vasconcelos]

Que medidas concretas seriam necessárias do lugar, devia retirar esse dinheiro do ICAM, que não
em termos imediatos? O Fundo de Cinema é era deveria ter essa tarefa de gestão das verbas. O
uma opção correcta? ICAM tinha muitas outras coisas para fazer, no plano da
Quando o Marcelo Caetano faz a lei que faz, a economia formação, da projecção do cinema, dos apoios ao inte-
do cinema dependia fundamentalmente das salas. A te- rior, às salas, da promoção do talento, do financiamen-
levisão em Portugal tinha surgido há pouco tempo, as to das curtas-metragens, dos protocolos a celebrar com
receitas das televisões não tinham significado… E entre- as televisões, etc. Esse apoio do Estado deveria ser su-
tanto surge, a partir dos anos 70, na economia do cine- pletivo e não tota-
ma, a importância das televisões, do audiovisual, das te- litário, como se “Ouvimos o Pinto Balsemão a
lecomunicações, a televisão por cabo, o pay-per-view… faz em Portugal. falar como se a televisão fosse
e aparece o vídeo, que é uma fonte de receitas brutal Não se faz um fil- dele. Mas não é”
para o cinema. Hoje em dia a sala continua a ser a gran- me, sem ser finan-
de vitrina e o grande motor do sucesso dos filmes, mas ciado a 100 % pelo ICAM, em alguns casos. Em segun-
só se fazem cerca de 20 % das receitas nas salas. Mais de do lugar, o Governo de Cavaco Silva também deveria
50 % das receitas vêm do vídeo ou DVD e cerca de 30 ter retirado ao Estado a carga de decisor cultural. O Es-
% da televisão. Alterou-se radicalmente a economia do tado deveria apenas ter um papel legislador e regula-
cinema e a sua forma de financiamento e ninguém em dor.Vamos supor que a Lusomundo, pelo seu volume
Portugal teve a percepção disso. O que aconteceu foi de negócios, tinha de meter todos os anos um determi-
que a partir de determinada altura, os ditribuidores e nado valor no cinema. O Estado fiscalizava se esse di-
exibidores começaram a fazer uma pressão legítima pa- nheiro era aplicado, mas era a própria Lusomundo que
ra que, essa taxa que os estava a asfixiar, fosse extinta. decidia onde queria aplicar esse dinheiro. O Estado de-
Como o cinema português fomentou um divórcio com pois teria eventualmente de dar um suplemento de fi-
o público, foi criado um grande inimigo para os distri- nanciamento, porque mesmo com estas obrigações o
buidores e exibidores. É impensável ter-se um produto mercado seria insuficiente para produzir todo o cinema
em que o principal inimigo é quem tem a missão de o português. Mas o financiamento público era supletivo.
comprar. Isso é fatal. Quando o Cavaco Silva é convenci- Ou seja, um realizador chegava ao ICAM com um fil-
do a acabar com a taxa, porque simultaneamente passou me que tinha uma garantia de ter dinheiro do distribui-
licenças às televisões privadas, foi mal aconselhado e a dor, do exibidor, do vídeo, de uma televisão em aberto
meu ver cometeu dois erros brutais, difíceis de reparar. ou do cabo, etc. O Estado analisava depois esse dossier
Cavaco Silva deveria ter dividido essa taxa pelas três fon- em função da credibilidade do financiamento e não em
tes de rendi- função dos méritos do realizador, que são totalmente
mento, ou seja, subjectivos. Esta recente lei vai no sentido de abrir uma
tinha posto 5 % porta para esta nova política, mas foi tímida, ficou a
para as salas, meio. Criou um fundo de cinema que é uma fórmula
outros 5 % para pouco satisfatória. O que sempre defendi era que se
o vídeo e mais 5 devia multiplicar as fontes de financiamento e diversifi-
% para a televi- car os centros de decisão, e assim afunda-se tudo neste
são. Com isto Fundo.Agora vamos ver a prática, e se os ministros são
multiplicava as ou não pressionáveis por essa clique que continua a
fontes de rendi- mandar no cinema em Portugal.
mento e conse-
guia fazer co- Que papel deverá desempenhar a televisão
rrespondê-las à no apoio ao cinema?
realidade eco- O grande problema da cultura em Portugal é a educa-
nómica do cine- ção, nós temos um défice de espectadores. Não temos
ma. Em segun- um défice de pintores, escritores, etc. E esta política

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ed.91 07/02/27 10:58 Page 45

[Entrevista Central/ António Pedro Vasconcelos]

cultural não se pode dissociar da televisão. Os vários deve ser o papel fiscalizador e regulador do Estado.
Governos têm cometido diversos erros. Nomeada- Hoje em dia, se não houver a capacidade de estabele-
mente, os Governos do professor Cavaco Silva come- cer protocolos e obrigações com as televisões privadas
teram erros grosseiros, como a forma como permiti- e públicas, também não há cinema em Portugal. Uma
ram o surgimento da televisão privada, de uma forma das razões é que a economia do cinema não se baseia
completamente desregulada, sem cadernos de encar- exclusivamente nas salas. O dinheiro vem das televisõ-
gos, sem acautelar que o serviço público se mantinha es e do vídeo também.A outra razão é que, ainda para
forte e com a sua identidade. A retirada da taxa dos mais num país como Portugal, a profissão tem de estar
emissores foi uma tragédia, a forma como apareceu o integrada. É impossível haver actores ou argumentistas
cabo foi outra. que vivem só de trabalhar no cinema, também têm de
“Somos o país mais atrasado Hoje em dia, trabalhar na televisão. Mesmo que multipliquemos por
e mais pobre da Europa, em quem tiver res- dois os filmes não vamos ter isso. E como também não
termos de prime-time e ponsabilidades se assegurou a qualidade da televisão, nós somos o país
ficção televisiva” no plano da mais atrasado e mais pobre da Europa, em termos de
educação e cul- prime-time e ficção televisiva. Somos um país de ter-
tura tem que ter uma voz activa sobre a televisão. Per- ceiro mundo, sem ter a qualidade por exemplo da in-
deu-se uma oportunidade excelente na renovação das dústria brasileira de telenovelas. Que o prato forte do
licenças para se fazer aquilo que não se fez há 20 anos. imaginário popular seja a telenovela que diz muito so-
Ouvimos o Pinto Balsemão a falar como se a televisão bre nós. Depois espantam-se que o Salazar ganhe con-
fosse dele. Mas não é. É uma licença que é concedida cursos. A responsabilidade dos sucessivos Governos
pelo Estado a troco de qualquer coisa. É esse troco neste estado de coisas é enorme, principalmente de-
que nunca foi assegurado, nem com as entidades regu- pois do início das televisões privadas. E mais uma vez,
ladoras, que têm sido uma farsa. Esta ERC continua a ninguém está a pensar na Televisão Digital Terrestre,
ser relativamente desprovida de meios e poderes e, so- nos futuros meios de produção e difusão de ima-
bretudo, não há legislação que enquadre aquilo que gem…estamos ainda com 50 anos de atraso.

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[Entrevista Central/ António Pedro Vasconcelos]

Hoje em dia é mais difícil fazer cinema em com outros meios. O Spielberg, o Scorsese e outros co-
Portugal, do que no final da década de 60 meçaram a fazer filmes marginais, mas no fundo a aspi-
quando ajudou a fundar o CPC? ração de todo eles é ganhar um Óscar. Não há nenhum
Nessa altura, nós tínhamos mais ilusões. Eu pelo menos cineasta, se for sério, que não queira falar ao máximo de
tinha a ambição de fazer um cinema que acabasse por público possível. Se realmente acredita no que está a fa-
ser popular e que dissesse alguma coisa às pessoas. Não zer, quer é que a sua voz seja ouvida, e que marque a so-
tenho medo do termo popular, porque a minha paixão ciedade em que vive. Foi isso, por exemplo, que aconte-
pelo cinema começou com o Hitchcock e o Capra, e ceu com o Almodóvar, que começou a fazer filmes em
depois com o Truffaut e o Fellini.A popularidade do ci- Super-8 e que hoje é o grande embaixador do cinema
nema não era pejorativa. Para mim, era normal que os espanhol e intérprete daquilo que é a Espanha moderna,
realizadores, actores, directores de fotografia que tives- com uma verdadeira projecção internacional. É isso que
sem êxito podiam ter à sua frente uma carreira. E em nos falta; um Almodóvar. E o sistema não permite que
Portugal isso nunca aconteceu. Eu falo de mim, mas po- surja um Almodóvar, porque a popularidade é mal vista.

Falando concretamente no serviço público, o


que considera faltar para se chegar a um pon-
to em que tenhamos ficção de qualidade?
É preciso que os canais públicos sejam dotados de ver-
bas significativas para fazer com regularidade boas séries
de ficção e bom entretenimento.Veja-se o que estão a
fazer hoje em dia os americanos com as sitcoms, que
têm uma qualidade absolutamente prodigiosa.

E teremos espectadores?
Eu acho que sim, se forem boas. O que é caro na televi-
são é a ficção. E a única ficção barata são as telenovelas.
Uma telenovela custa 10 vezes menos que um telefilme
e 50 a 100 vezes menos do que um filme. Portanto, é
deria falar de outros. Eu não consigo filmar com regula- natural que se optem pelas telenovelas, mas esta é a for-
ridade. E não quero que seja o Estado a assegurar-me is- ma mais fútil e mais pobre de ficção audiovisual.A todos
so. É evidente que quanto mais o cinema se afundar, e os níveis, até porque qualquer pessoa representa numa
maior se tornar o fosso com o público, mais necessária é telenovela. E uma telenovela praticamente não tem rea-
a acção do Estado. Se neste momento o Estado se reti- lizador, faz-se quase por si.
rasse das suas responsabilidades, deixava de haver cine-
ma português. Já não será para mim, mas para que as Está neste momento a trabalhar em algum
novas gerações tenham a possibilidade de ver o seu mé- novo projecto?
rito reconhecido. Estou a preparar um filme que será uma espécie de ver-
são moderna de O Anjo Azul, a história de um autarca
Falando nessas gerações, a aposta no digi- alentejano que se “A única ficção barata são as
tal e em canais de distribuição alternativos deixa corromper telenovelas”
pode ser uma forma de fugir ao escrutínio por uma mulher fa-
da clique que já mencionou? tal. Será uma história que se passa nos dias de hoje, com
Eu acho que é uma maneira de escapar a essa clique, argumento a partir de uma ideia minha e escrita a cargo
mas não é a solução. São opções importantes e pode-se de um jovem em que aposto muito, o Tiago R. Santos.
descobrir amanhã um tipo que é um génio a fazer filmes O filme vai-se chamar Call-Girl, e devemos começar a
no telemóvel. Mas amanhã irá querer fazer um filme gravar a 28 de Maio. Espero tê-lo pronto no Natal.

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[Dinâmicas da Comunicação]

Arquivo da Web
portuguesa ainda é protótipo
Dá pelo nome de Tomba e pretende ser um arquivo
da web nacional, criado por investigadores
portugueses da Faculdade de Ciências de Lisboa: o
docente Mário Silva, o aluno de doutoramento
Daniel Gomes e o aluno de mestrado Sérgio Freitas.
Em http://tumba.tomba.pt é possível pesquisar
“cerca de 57 milhões de documentos, equivalentes
aproximadamente a 1.5 Tb”, refere Mário Silva. A
informação é pesquisável através do motor de busca
Tumba (Temos Um Motor de Busca Alternativo),
criado em 2002. Já na altura um dos principais
objectivos do projecto Tumba era o “estudo do
desenho e requisitos de um sistema de arquivo da
web”. Com a evolução do projecto, os
investigadores nunca apagaram as recolhas da web A revista mensal Pais e Filhos, título do
Pais e Filhos inaugura site
portuguesa efectuadas, e quando esgotaram o grupo Motorpress já tem um site onde
espaço de armazenamento, no início de 2006, apresenta os conteúdos até agora apenas
decidiram disponibilizar o acesso às recolhas. disponíveis em papel. O site, disponível em
Por isso, defendem agora que o projecto possa www.paisefilhos.pt, apresenta os habituais
tornar-se um verdadeiro arquivo online da web por- temas da revista, com artigos e conselhos
tuguesa, para “que esta informação não se perca para os pais e famílias, que abordam os
irremediavelmente e esteja acessível às gerações períodos da gravidez e infância e ainda
futuras”, diz Mário Silva. “Temos procurado ao sugestões para actividades familiares ao ar
longo dos últimos anos sensibilizar as entidades livre, ou espectáculos. O site da revista
competentes para a necessidade e urgência da permite também a consulta de artigos de
criação de arquivo da web portuguesa e temos rece- pedopsiquiatras como Pedro Strecht, e o
bido opiniões favoráveis e interesse da parte dessas acesso aos fóruns e blog da Pais e Filhos.
entidades”, refere o investigador. Para já, e apesar da
sua qualidade, o Tomba continua ainda a ser um pro-
tótipo. Ainda assim, Mário Silva acredita que se está Emprego & Negócios chega em Maio
actualmente mais perto de uma iniciativa oficial de
arquivo da web portuguesa. Já teve data prevista de lançamento para Abril de
2006, mas parece que será Maio de 2007 o mês em
que o título da Tele7 irá chegar às bancas. Em decla-
rações à Meios & Publicidade, o director e
proprietário do projecto, Paulo Lavadinho, refere
que em 2006 o “produto ainda não estava
devidamente afinado”. Os principais temas deste
novo título serão “o empreendedorismo, a inovação
e o emprego”, revela ainda.
O título irá ter uma tiragem de 25 mil exemplares, e
um preço de capa de 1,95 euros. O investimento em
torno deste novo projecto ronda os 100 mil euros.

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[Dinâmicas da Comunicação]

Jaime Quesado lança livro


Jaime Quesado, gestor do Programa
Operacional de Sociedade do
Conhecimento lançou recentemente
o seu livro O Novo Capital, editado
RÉS XXI/Formalpress. A cerimónia
de lançamento decorreu na
Fundação Portuguesa das
Comunicações, e contou com a pre-
sença do ex-ministro das Finanças,
Ernâni Lopes, do CEO da YDreams,
António Câmara e moderação de
Jorge Nascimento Rodrigues, do
jornal Expresso. Em O Novo
Capital, Jaime Quesado aborda o
futuro da economia e da própria so-
ciedade, numa altura em que o con-
hecimento é cada vez mais um
verdadeiro capital.

O site desportivo Maisfutebol renovou-se,


Maisfutebol de cara lavada

Metro chega mais a sul


com a apresentação de um novo logotipo e
O diário gratuito Metro começou a ser distribu- imagem gráfica, e ainda a inclusão de uma
ído em Évora e Faro, as primeiras cidades a sul secção de vídeos, onde irá ser possível
de Lisboa onde o título chega. Em 2006, o aceder a reportagens, conferências de
diário gratuito chegou a Aveiro, Braga, imprensa em directo e chats com nome do
Coimbra, Guimarães e Leiria, e passa agora a desporto. O site de conteúdos noticiosos
ser lido em nove capitais de distrito. O jornal gratuitos, principalmente sobre futebol,
conta actualmente com uma tiragem de 180 mil pertence à Media Capital e é, segundo os
exemplares, sendo 110 mil distribuídos em dados da Marktest, o maior media
Lisboa, 40 mil no Porto e os restantes pelas português online, devido aos seus mais de
demais cidades onde está agora presente. dez milhões de “page views” mensais.

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[Entrevista/ Robert Picard]

“A IMPRENSA ESCRITA NUNCA IRÁ DESAPARECER”


Sector tem de encontrar formatos alternativos

Robert Picard, prestigiado docente da Jönköping Business School,


defende que a internet não será o ”carrasco” da imprensa escrita. O
futuro pode residir no e-paper
POR GUILHERME PIRES

a deslocação a Portugal para encerrar a come- relação entre os dois tipos de media tem de ser

N moração dos 50 anos da RTP, em entrevista


exclusiva à MediaXXI, Robert Picard perspec-
tiva o futuro da indústria da comunicação. Entre ou-
saudável. Está criado um ambiente em que os dois
meios têm de cooperar com muita eficácia, de for-
ma a que o fluxo de negócio da imprensa escrita
tros temas, o investigador destaca a necessidade de possa replicar-se na web.
co-existência entre os meios de comunicação tradi-
cionais e os new media, as dificuldades que a rádio e Os jornais tradicionais podem co-existir
imprensa atravessam e o potencial da IPTV. com os media online?
Podem e irão conseguir. As pessoas usam os media
online com objectivos distintos daqueles que as le-
vam a procurar os meios tradicionais. Actualmen-
te, a necessidade constante pela actualização da in-
formação confere algum destaque à web e às
televisões, mas os públicos usam os dois tipos de
meios. É possível criar um modelo de negócio que
utilize as duas plataformas e atraia consumidores.

Em Portugal, verifica-se um decréscimo nas


audiências dos jornais “de referência”. Será a
internet uma ameaça para estes títulos?
A curto prazo não podemos falar de ameaça, mas nu-
NUNO MURJAL

ma perspectiva a longo prazo sim, devido à entrada


no mercado das gerações mais jovens, enquanto con-
sumidores de produtos de media. Estes públicos sen-
Num contexto de crescimento dos media online, tem-se mais confortáveis com a informação nos ecrãs
como deverá a imprensa tradicional posicionar-se? de computadores, porque sempre os utilizaram.
Hoje em dia existe uma boa relação entre a im- No futuro, vão ganhar poder de compra e influenciar
prensa tradicional e os meios de comunicação que o comportamento
operam na web. Isto sucede porque, apesar de te- do mercado, o que “As gerações actuais con-
rem custos reduzidos, os media online apresentam terá um efeito tinuam a ler jornais, ver
receitas muito limitadas - precisam de ter audiên- considerável. Mas televisão e ouvir rádio nas
cias 20 vezes superiores para obterem os mesmos hoje isso não se plataformas tradicionais”
resultados que a imprensa. verifica, porque as
A maioria destes órgãos tem dificuldade em existir gerações actuais continuam a ler jornais, ver televisão
isoladamente dos meios tradicionais, pelo que a e ouvir rádio nas plataformas tradicionais.

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[Entrevista/ Robert Picard]

NUNO MURJAL

A falta de leitores e de
receitas estão a colocar em
risco a sobrevivência da
imprensa tradicional?
Penso que não, mas têm de ser en-
contradas soluções, que no caso da
imprensa podem passar pelo papel
electrónico. Depende da forma
como se conceptualiza o jornal: se
o pensarmos apenas como tinta
impressa em papel, então é possí-
vel que venha a desaparecer; mas
se o conceptualizarmos como ins-
trumento de recolha, produção
e distribuição de informação,
esse risco não existe.
Haverá sempre a necessidade
de ter uma imprensa que trabalhe com as au- to, concluímos que, quando compramos um jornal,
diências e os anunciantes, de forma a aproximá- apenas estamos a pagar a sua distribuição. A ideia de
los. A imprensa escrita nunca irá desaparecer. um jornal gratuito não é assim tão diferente dos for-
matos que temos neste momento. Se há qualidade no
A imprensa étnica é um sector de grande conteúdo, então sim, os novos gratuitos podem ter
sucesso nos EUA e Reino Unido. Serão estes futuro. Mas os modelos são muito variados.
meios uma oportunidade futura para os mer- Actualmente, existem jornais tradicionais que são
cados mais pequenos, como o português? distribuídos gratuitamente no centro das cidades e
São uma possibilidade. Vejo como exemplo a Ho- continuam a ser pagos fora dessa área. Tudo de-
landa, onde existe espaço para os media dedicados pende dos modelos adoptados.
aos imigrantes
“A ideia de um jornal gratui- da zona dos Estes projectos representam uma ameaça
to não é assim tão diferente balcãs, o que para a imprensa tradicional? Ou são uma
dos formatos que temos também sucede oportunidade?
neste momento” na Suécia em A curto prazo, penso não são ameaça alguma. O
relação aos fin- problema é se as pessoas que lêem os novos gratui-
landeses. Nestes países, a imprensa étnica é um su- tos, como o Metro ou Destak, deixam de ler os
cesso relativo. No mercado português poderá jornais de referência. Nesse caso, os media que
existir esta oportunidade, mas depende muito dos publicam os conteúdos de referência perdem
movimentos populacionais motivados pelos movi- anunciantes, capacidade financeira e deixam de
mentos laborais, de refugiados e de imigração. poder funcionar. Mas as empresas têm hoje muita
abertura para novos projectos.
Em Portugal, os jornais gratuitos estão a A tendência é que os grupos criem jornais gra-
expandir-se para as cidades mais peque- tuitos, paralelos aos títulos já existentes, mas
nas, após ganharem uma parte conside- com uma diferente abordagem editorial, para
rável do mercado em Lisboa e Porto. Será que não percam leitores. Vêm aí grandes mudan-
este um modelo de negócio com futuro? ças na forma como as empresas jornalísticas
Os jornais têm sido quase gratuitos durante grande pensam a indústria – estamos ainda na fase de
parte da sua existência. Se pensarmos bem no assun- colocar questões e levantar dúvidas.

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[Entrevista/ Robert Picard]

NUNO MURJAL

A indústria dos existência de mais canais


media assiste permitirá alcançar au-
hoje a uma clara diências especializadas e
tendência para a ter televisões de qualida-
concentração de em regiões que anti-
empresarial. Que gamente não as tinham,
vantagens e atraindo os anunciantes.
desvantagens Mas existem também
identifica neste desvantagens, como no
processo? caso da rádio. De todos
A principal razão para os media, a rádio é aque-
a concentração em- le que atravessa mais di-
presarial são as estru- ficuldades, porque o que
turas de custos das estamos a fazer através
empresas, que são dos nossos computado-
muito elevadas, pelo res e iPod é criar uma
que é difícil manter estação de rádio indivi-
as operações separa- dual e sem publicidade.
damente. É inevitável Como é evidente, as
que alguns projectos, empresas radiofónicas
por não serem rentá- terão muita dificuldade
veis, sejam compra- em manter a sua posição
dos por outras em- dominante enquanto
presas. É importante para a sociedade que existam fornecedoras de música e entretenimento áudio.
grupos de media fortes e saudáveis financeiramen- Contudo, a tecnologia está também a permitir
te, para que possam ser independentes do poder que estes media coloquem os seus conteúdos on-
político e dos grandes interesses económicos. line através de podcasts, audio streaming e ou-
Contudo, o problema reside no comportamento dos tras plataformas, expandindo o seu mercado pa-
grandes grupos: se estes tomam partido de determi- ra além das limitações geográficas.
nados interesses económicos ou políticos, e ignoram
outras posições, então surgem dificuldades no que A televisão digital terrestre está num
respeita ao pluralismo e à capacidade dos media em impasse em Portugal. Poderá esta tec-
representarem a sociedade como um todo. nologia tornar-se um sucesso num mer-
cado pequeno como o português?
Como caracteriza o impacto das novas tec- É mais provável que a IPTV (televisão através de
nologias nas empresas de media? protocolo por ip) tenha sucesso, porque tem cus-
A indústria dos media é onde as mudanças tecnológi- tos mais reduzidos na produção e emissão de
cas sucedem mais rapidamente, em particular no sec- conteúdos. Quando os países conseguem ter uma
tor da imprensa distribuição global de internet por banda larga,
“A principal razão para a e televisão. As este tipo de soluções funcionam muito bem e são
concentração empresarial transformações mais vantajosas para as empresas de media.
são as estruturas de custos sucedem-se a Não acredito que as principais emissoras de televi-
das empresas” um ritmo ele- são por satélite deixem de colocar os seus canais na
vadíssimo, o internet, mal o consigam fazer. Sempre que tive-
que tem um efeito importante para estas plataformas. rem hipótese de aumentar a sua audiência, a custos
Temos, por exemplo, o caso da televisão digital: a reduzidos, irão certamente fazê-lo.

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[Aula Aberta]

MULHERES, BELEZA E CONSUMO

universo da imprensa magazine, em- o papel social destas publicações e a for-

O bora mais multifacetado, fragmenta-


do e volátil, pelo menos em compa-
ração com os jor nais, ocupa uma
ma não só como acompanharam a recon-
figuração do papel social das mulheres
como induziram esta reconfiguração. E a
relevante posição de mercado. Segundo emergência da “nova mulher” – combi-
apontam os dados da Marktest, as publi- nando múltiplos objectivos de vida e in-
cações de informação geral concentram teresses – assenta em qualidades tais co-
CARLA MARTINS cerca de metade do investimento publici- mo a or ientação para o mercado de
*JORNALISTA E DOCENTE tário em imprensa, reservando-se o res- trabalho, um estilo de vida urbano, o
UNIVERSITÁRIA tante a outro tipo de publicações. cuidado com a aparência, a disponibilida-
Neste conjunto multiforme, identifico de financeira.
“A procura de pontos de convergência na evolução das Este último factor é especialmente im-
aproximação do revistas de sociedade, de televisão e fe- portante – a feminilidade contemporânea
real ao ideal de mininas. As figuras promovidas pela tele- constrói-se por uma combinação de múl-
beleza torna a visão (e pelas revistas televisivas) são de- tiplos aspectos, sendo um dos mais signi-
mulher particu- pois celebradas pela imprensa do social e ficativos o estético. A procura de aproxi-
larmente propen- também pelas femininas. Estas revistas mação do real ao ideal de beleza torna a
sa a consumir os configuram, naturalmente, uma esfera mulher particularmente propensa a con-
produtos pública, prolongando através de fórmulas sumir os produtos anunciados ou verti-
anunciados” ritualizadas de apresentação a visibilida- dos em artigos supostamente informati-
de de “per sonagens” cr iadas pelo vos. E o que há de novo nisto? É quase
sistema mediático. um cliché associar as mulheres ao cartão
Há outros aspectos comuns entre estas de crédito e às compras! E, porém, como
publicações. Para começar, desafiam os se chegou a esta inseparabilidade?
limites dos territórios da prática jornalís- Considero bastante interessante a pers-
tica. Depois, na perspectiva da classe jor- pectiva de alguns autores que sustentam
nalística, os profissionais que ali traba- que, na contemporaneidade, as revistas
lham não são facilmente reconhecidos femininas vêm ocupar o espaço cultural
pelos pares. Em terceiro lugar, estas pu- do feminismo mas sem o seu conteúdo
blicações estão demasiado próximas do político e ideológico. Questionar critica-
“pólo comercial”, servindo fundamental- mente o conceito de feminilidade nos
mente como suporte publicitário de pro- nossos dias e a relação entre feminismo e
dutos e como estímulo ao consumismo. comercialismo são sem dúvida bons tópi-
A ocasião recente da defesa de uma tese cos para o politicamente correcto e nor-
de pós-graduação sobre revistas femini- malmente inócuo Dia Inter nacional
nas, no ISCTE, levou-me a reflectir sobre da Mulher.

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[Reportagem de Comunicação – As crianças e as novas tecnologias]

OS MAIS JOVENS E AS NOVAS TECNOLOGIAS


Com peso, conta e medida

As novas tecnologias começam a fazer parte do dia-a-dia das cri-


anças e adolescentes cada vez mais cedo. Os mais jovens dominam-
nas de trás para a frente, mas é importante saber orientar o consumo
das novas gerações
POR VERA LANÇA

ara os especialistas é claro – o domínio que meios que os outros”. A investigadora considera

P as crianças começam a mostrar cada vez mais


cedo sobre as Novas Tecnologias são com-
portamentos estimulados pela vivência da socie-
ainda que as crianças sofrem uma pressão vinda
das indústrias de entretenimento, tornando-se,
assim, num target fácil de atingir devido à sua
dade actual e pela evolução tecnológica. O con- rendição face às campanhas que se lhes destinam.
ceito do “Homo videns”, criado por Giovani A explicação para esta rápida e precoce assimila-
Sartori, da sociedade “teledirigida” aplica-se cada ção das crianças prende-se com o pensamento vi-
vez mais à vivência dos mais novos. Não é raro ver sual do ser humano. “Este é o primeiro pensamen-
uma criança de dois ou três anos à frente compu- to que nós temos”, diz a pedopsiquiatra Ana
tador dos pais. Para Cristina Ponte, investigadora Vasconcelos. “Quando se dá a uma criança o ma-
e docente da Universidade Nova de Lisboa e terial de pensamento em imagens, que é o mais
membro da equipa portuguesa do projecto EU acessível para ela, é lógico que vai ser rapidamen-
Kids Online, “a precocidade destes comporta- te hábil nisso. Este tipo de comportamento não é
mentos vem das condições à sua volta e das preo- estranho, é um mecanismo de adaptação desde
cupações de muitos pais que receiam que os seus que tenha acesso ao comando da televisão ou ao
filhos fiquem de fora se não tiverem os mesmos teclado do computador” conclui. Se antes havia
apenas a televisão e os videojogos, mais sofistica-
dos a cada dia que passa, actualmente há também
“LISTA NEGRA” DE VIDEOJOGOS o telemóvel, a internet e um vasto leque de dis-
positivos repletos das mais variadas funcionalida-
Em Janeiro, o comissário de Justiça, Segurança e des que fazem as delícias dos mais jovens.
Liberdades da União Europeia, Franco Frattini,
anunciou uma ofensiva contra os videojogos vio-
lentos. Será criada uma autêntica “lista negra” cen-
Potencialidades e perigos
tralizada de jogos violentos e impróprios para Para Ana Vasconcelos, as Novas Tecnologias po-
menores, num reforço ao actual controlo efectuado dem trazer benefícios às crianças, “desde que aju-
através da classificação etária. O combate à difusão dem a aumentar o seu conhecimento”, não se tor-
de jogos na internet é outro dos objectivos. No en- nem num vício nocivo ou a coloquem em
tanto, Frattini revelou que não existem critérios co-
muns aos 27 estados-membros para a proibição de
situações de risco. “Uma coisa é utilizarmos uma
jogos e que nem todos os países têm mecanismos técnica para dominar a parte da natureza, aí a
de controlo sobre a idade do comprador. nossa inteligência está a ser útil. Outra coisa é fi-
carmos dependentes porque usamos uma técnica
em que eventualmente ficamos apenas no lúdico,”

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[Reportagem de Comunicação – As crianças e as novas tecnologias]

CASA DA IMAGEM

afirma a pedopsiquiatra. Segundo Cristina Ponte, ternet, é necessário que haja desde logo diálogo e
a televisão e a internet têm perigos diferentes, educá-los para o consumo positivo. Diz Ana Vas-
pois são tecnologias distintas. “Os perigos da in- concelos que “são aparelhos que têm de entrar no
ternet são muito mais os perigos da vida real do contexto dos mecanismos de educação dos filhos
que os da televisão – os perigos de sofrer pressõ- e em vez de reprimir, é melhor haver um entendi-
es, ameaças e outras situações desconfortáveis e mento pela palavra. Essa educação deve começar a
não saber como lidar com elas”, diz. O consumo partir do momento em que a criança começa a ter
excessivo de Novas Tecnologias poderá indicar linguagem”. É importante se estabeleçam regras e
uma dependência das crianças e dos adolescentes limites “desde que as crianças tenham acesso a es-
e muitos procuram em comunidades virtuais algo ses meios, e os pais o permitam. É importante
que não encontram no seu dia-a-dia. “Muitos jo- que acompanhem de perto o que os filhos fazem e
vens afirmam que nesses meios são capazes de di- como os usam”, explica Cristina Ponte.
zer coisas que não diriam face a face. Mas ainda é
necessário perceber melhor esse fenómeno”, Preocupação na Europa
explica Cristina Ponte. Uma das grandes batalhas assumidas pela Comis-
Para evitar que os seus filhos fiquem presos a dis- são Europeia (CE) é promover o uso correcto das
positivos como videojogos ou corram riscos na in- Novas Tecnologias, em particular da internet que

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[Reportagem de Comunicação – As crianças e as novas tecnologias]

CASA DA IMAGEM

mover outras iniciativas


nesta área. É o caso do
projecto EU Kids Onli-
ne, integrado no progra-
ma Safer Internet Plus,
ou do programa Educau-
net. Este último tem a
sua missão no desenvol-
vimento de uma cons-
ciência crítica da inter-
net baseada no ensino
para os media. Questio-
nando a eficiência dos
filtros e demais mecanis-
mos de selecção e pro-
tecção de conteúdos on-
line, o Educaunet aposta
numa literacia para os
meios audiovisuais. Já o
projecto EU Kids Onli-
se transformou num dos meios de comunicação ne faz a avaliação do nível de conhecimento que
mais utilizados pelos mais jovens. O Eurobaróme- os mais jovens têm sobre as Novas Tecnologias,
tro 2006 revelou que metade dos pais europeus como é o caso da internet e do telemóvel, para
têm filhos menores que navegam na internet, o além de fazer uma estimativa sobre as oportuni-
que levanta para os responsáveis da CE a preocu- dades e situações de risco que estas representam.
pação com os conteúdos impróprios ou ilegais, O projecto procede ainda à formulação de reco-
pois quase 20% dos inquiridos afirmou que os mendações de políticas públicas em termos de se-
seus filhos já se depararam com este tipo de con- gurança. Diz Cristina Ponte que os pais não são os
teúdos online. Um dado alarmante para a CE é únicos responsáveis pela segurança dos filhos. “É
que 60% dos pais não define nem impõe aos fi- preciso também que o Estado, com legislação
lhos regras de utilização da internet. Quando as adequada aos tempos que correm e meios de in-
há, as mais frequentes são a proibição de aceder a
determinados conteúdos ou controlar o tempo
passado online. Os filtros são também uma das POR CÁ…
medidas mais frequentes. No entanto, 44% dos Um bom exemplo de promoção da segurança online
pais afirma que gostaria de ter mais informação de crianças e jovens genuinamente português é o
sobre medidas de protecção. site MiudosSegurosNa.Net. Criado por Tito de
O centro das medidas de protecção de menores Moraes, este projecto tem como objectivo a pro-
que navegam na internet contra conteúdos noci- moção da utilização responsável e segura da inter-
net. Aqui, apela-se às famílias, escolas e sociedade
vos ou indesejados é o programa Safer Internet em geral que trabalhem juntas para criar um ambi-
Plus da CE, que tem como alguns dos principais ente com menos riscos e mais potencialidades para
focos os conteúdos ilegais. Além disso, este pro- os mais novos. O site oferece aos pais conselhos so-
grama fomenta também a criação de um ambiente bre protecção, notícias e a possibilidade de subscr-
mais seguro e a sensibilização para este problema. ever a newsletter.
A CE tem ainda a preocupação de apoiar e pro-

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[Reportagem de Comunicação – As crianças e as novas tecnologias]

CASA DA IMAGEM

tervenção em criminalidade informática, e as em-


presas fornecedoras de serviços de internet, fa-
çam parte desta barreira de segurança. (…) Pôr
toda a responsabilidade em cima dos pais é uma
forma de escamotear a importância das políticas
públicas de segurança e a responsabilidade social
das empresas”, conclui.

A outra perspectiva
O site Fixeland.com é um exemplo de serviços
destinados aos mais jovens. “Foi um projecto pio-
neiro no mercado nacional e de língua portugue-
sa”, explica Tânia de Sá da rede Fixe.com.Trata-se
de uma página online, cujo target são as crianças e
jovens entre os 10 e os 22 anos, onde se pode en-
contrar jogos ou falar com outros visitantes do si-
te. No entanto, existem serviços, como o chat,
que apenas são disponibilizados mediante inscri-
ção. A grande atracção do Fixeland.com são os Fi-
xes, animais virtuais.Tânia de Sá explica o concei-
to: “Procuramos que se estabeleça uma relação de
afectividade entre o utilizador e o seu animal vir-
tual e se desperte um sentimento pertença a uma
comunidade subaquática (o mundo dos Fixes)”.
O site alcançou uma base de visitantes na ordem
6000 e cerca de 200 novos utilizadores por dia,
contabilizando 125 mil inscrições. Criado em
2004, o site lançou-se recentemente no mercado
brasileiro com algum sucesso. Aqui a média de
idades dos utilizadores são os 14 anos, menos
quatro do que a dos portugueses. Para o Fixe-
land.com a se-
gurança dos idade do utilizador, nomeadamento no acesso ao
seus utilizado- chat. Em relação à necessidade de consentimento
res é importan- dos pais, não existe nenhuma regra explicita, mas
te, como expli- antes um conjunto de cuidados que visam preser-
ca Tânia de Sá: var a privacidade da criança e filtrar a sua capaci-
“O acesso ao si- dade para navegar no site”. Apesar de considerar a
te não está blo- internet como um mercado vasto e acelerado que
queado a nen- pode trazer alguns perigos para os mais novos,Tâ-
hum escalão nia de Sá acredita que este é um serviço de extre-
etário, mas há ma utilidade às crianças e jovens, “remetendo para
uma estratifica- um mundo imaginário com desafios reais como as
ção de conteú- noções de responsabilidade e interacção. E isso é
dos mediante a bastante gratificante”, conclui Tânia de Sá.

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[Educomunicação]

COMUNICAR COM OS MAIS NOVOS


III Seminário de Marketing Infantil realizou-se em Lisboa

Numa era em que cada vez mais cedo as crianças têm contacto com a
internet, o marketing vira as atenções para um mercado massivo com-
posto por jovens consumidores
POR CÁTIA CANDEIAS*
MESTRANDA EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

ivemos num período de “webolution”, como fas de que fazem parte a “linguagem digital, a comu-

V notou Frank Feather, um dos optimistas da


tecnologia, na abertura do segundo dia do III
Seminário de Marketing Infantil, em Lisboa, pro-
nicação e o trabalho online em simultâneo e a com-
paração de produtos do dia-a-dia na internet”.
Considerando que as crianças e os adolescentes de
movido pela BrandKey, empresa especialista em hoje estão a viver num “estilo de vida web” e que a
comunicação below-the-line. internet “será a ferramenta mais utilizada na próxi-
A cada segundo que passa, uma criança acede à inter- ma geração”, o adepto da rede acrescentou que as
net e, por isso, o marketing deve estar atento para de- marcas têm de se adaptar às novas exigências e
finir estratégias e seduzir as crianças, lembrou o inves- apostar cada vez mais no online, seguindo estraté-
tigador aos profissionais presentes no seminário. gias definidas (ver caixa).
“Estamos a sair da era da ‘mass production’ para en- “Falar com eles e não para eles” é a regra de ouro,
trar na era ‘mass media one to one’”, reforçou. Os afirmou o especialista. De acordo com vários estudos
adultos e as crianças relacionam-se de modo diferente que tem conduzido e que o ajudaram a caracterizar o
com as tecnologias. Para Frank Feather, enquanto os comportamento dos jovens consumidores, estes não
adultos fazem uma utilização mais limitada à pesquisa gostam de pop-ups nem de banners, de claims ou
e ao email, as crianças concentram-se em multi-tare- conceitos publicitários tradicionais ou antiquados.
Muito menos apreciam que os mais velhos
CÁTIAS CANDEIAS

falem com eles de “cima para baixo” e,


por isso mesmo, Frank Feather aconselha
os profissionais da comunicação e do mar-
keting a comunicarem com os mais novos
através da linguagem que eles utilizam pa-
ra socializar: instant messenger, chats ou
blogues, por exemplo.
Por outro lado, o especialista reforçou a ne-
cessidade de cativar os novos consumidores
através do “conceito Disney”, ou seja, através
de conceitos como a fantasia, o mistério, o
amor, medo, estabilidade ou o humor. Isto
para os pré-adolescentes, pois para os ado-
lescentes, a orientação a seguir deve ser, se-
gundo Feather, “think MTV and cable TV”.
FRANK FEATHER ACREDITA QUE SE VIVE UM PERÍODO DE “WEBOLUTION”

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[Educomunicação]

CÁTIAS CANDEIAS

Mais chaves para a comuni-


cação Infantil
“A música é a sua linguagem e o mp3 o seu
profeta”, afirmou Miguel Gonzalez da “Kids
and Teens Group” para caracterizar a nova
geração de consumidores e para reforçar a
importância da música em qualquer cam-
panha de publicidade dirigida a este target.
Considerando que as crianças são “consumi-
dores do presente, consumidores de in-
fluência e consumidores do futuro”, o mar-
keting infantil não deve esquecer que a
“naturalidade” e a “credibilidade” são as cha-
ves decisivas para garantir a eficácia da co-
municação. Até porque, “as crianças têm
uma memória muito prodigiosa” e não gos-
tam de se sentir enganadas, sublinhou.
Até aos oito anos, a comunicação deverá
ser dirigida aos pais mas, a partir daí, de-
fende Miguel Gonzalez que a comunicação
pode ser dirigida às crianças directamente.
“Poucas cores (mas alegres), um slogan
com ritmo, palavras evocadoras e frases
curtas” são alguns dos ingredientes que
uma campanha publicitária deve combinar
para fazer a diferença entre os mais de 35
mil impactos de publicidade experiencia-
dos anualmente pelas crianças. Tudo isto
sem esquecer de contar uma história, com
um princípio e um fim, apostando também “FALAR COM ELES E NÃO PARA ELES” É A REGRA DE OURO, AFIRMOU O ESPECIALISTA
numa divulgação multi-meios.

Frank Feather apresentou as 6 características do Marketing do Futuro:

1) Produto – deverá ser “mass” customizado, com densidade digital e desenhado à medida do consumidor
2) Lugar – em qualquer lugar, a qualquer hora; 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano; aces-
so à marca em tempo real e via wireless
3) Preço – baseado num valor dinâmico, segundo a lei da oferta e da procura
4) Posicionamento – necessidade de apostar na individualização da mensagem (os anúncios e a promoção
em massa estão a ficar obsoletos)
5) Personalização – apostar na satisfação do consumidor; desenvolvimento de uma relação íntima com o
cliente; fazer com que o consumidor se sinta um indivíduo e não fazendo parte das massas
6) Profundidade – posicionar o cliente como centro do universo (especialmente quando se tratam de cri-
anças); proporcionar ao cliente online uma experiência de confiança da marca.

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[Entrevista Sectorial/ Nuno von Amman de Campos]

“O PORTUGUÊS É MAIS SILENCIOSO”


Presidente da ACMedia analisa os media ibéricos

Nuno von Amman de Campos defende que a melhor regulação é a


auto-regulação e pretende uma maior intervenção cívica da parte dos
consumidores de media
TEXTO POR CÁTIA CANDEIAS, FOTOS POR VERA LANÇA

eeleito para a presidência da Federação Ibérica vir, à semelhança do que a AC Media já faz em Por-

R de Associações de Telespectadores e Ouvintes


(FYATIR), Nuno von Amann de Campos, tam-
bém presidente da Associação Portuguesa de Consu-
tugal. É uma plataforma de intervenção cívica. A so-
ciedade civil intervém muito pouco em Portugal e
em Espanha.As pessoas criticam mas não participam.
midores de Media (ACMedia), contou à Media XXI
quais os grandes planos para o futuro. E sublinhou a Talvez porque não sabem como participar…
necessidade de educar os consumidores, especial- Este projecto de intervenção cívica tem como acção
mente os portugueses, “mais passivos”. pedagógica levar as pessoas a assumirem a responsa-
bilidade, a tomarem conhecimento da importância
Foi recentemente reeleito para a presidência que têm e a possibilidade de agirem através da recla-
da FYATIR. Quais as suas prioridades para mação. No entanto, é preciso enviar mensagens aos
2007, num mandato que vai até 2009? órgãos de comu-
Em relação a Espanha a grande necessidade é a de nicação social que “A sociedade civil intervém
implementar um órgão regulador a nível nacional. d e s e m p e n h a m muito pouco em Portugal e
O plano estratégico da FYATIR assenta na sensibili- bem a sua missão, em Espanha”
zação das associações das várias regiões autónomas que fazem bons
para que, independentemente das especificidades re- conteúdos, porque precisam de ser acarinhados e
gionais, valorizem o denominador comum que é a precisam de saber que o público os entende e apre-
defesa dos interesses legítimos dos consumidores. cia o seu trabalho.
Faz igualmente parte do plano de acção a alteração
dos estatutos das diferentes associações em Espanha Qual é o procedimento para um consumidor
para que modifiquem o seu objecto social e passem de media dirigir uma reclamação a um
de associações de telespectadores e radiouvintes pa- órgão via AC Media?
ra associações dos media, integrando-se no Ministério Muitas vezes quando se reclama para a AC Media, as
que tutela as associações de defesa dos consumidores. pessoas desejam que a AC Media actue com acto
contínuo a uma determinada reclamação. Mas, devi-
E em relação aos públicos? Como é o com- do à responsabilidade e ao o envolvimento a nível
portamento do público português e do internacional, a AC Media não pode actuar sem uma
espanhol? Parece-lhe que o público por- análise cuidada. Esta queixa passa por uma comissão
tuguês é menos activo? específica que monitoriza o programa em si e verifi-
Digamos que há uma actividade mais silenciosa, mais ca se a queixa tem ou não fundamento. A ACMedia
característica do povo português. O espanhol faz procura depois encaminhar a queixa para o respecti-
mais ruído, o português é mais silencioso... vo órgão de comunicação.
No entanto, um dos projectos que estamos a desen- As queixas aparecem vários dias, via telefone, fax,
volver em Espanha, é precisamente o Quero Inter- carta ou email. Muitas vezes as que nos chegamvia

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[Entrevista Sectorial/ Nuno von Amman de Campos]

que não me é possível ter. Fa-


ço votos para que continue a
ter uma acção pedagógica.
A figura do provedor é um
elemento determinante pa-
ra poder sensibilizar o órgão
a que está afecto e proteger
o público. Gostaria de ver
isso também nos canais pri-
vados.Acho que é possível e
desejável. Teríamos muito a
ganhar com isso.

Está previsto para este


ano o concurso para a
atribuição das licenças
para a televisão digi-
tal. Parece-lhe haver
aqui necessidade de
mais regulação?
carta são de tal maneira extensas, que temos dificulda- A melhor regulação é aquela que é feita por auto-re-
de em perceber qual a razão da queixa. Por isso mes- gulação.A auto-regulação é um processo de longo pra-
mo, a queixa deve ser feita de uma forma objectiva e zo. Quando aparecem para fazer uma auditoria social
simples, e explicitar a sua razão. eu costumo dizer que eles certamente também são
pais e não gostariam que os seus filhos fossem no dia
Portanto, vocês só encaminham a queixa? de amanhã resultado de um produto que os afasta de
Depende. Se não for uma queixa isolada, se são várias forma continuada da sua formação.
queixas e se depois de uma monitorização cuidada ve-
rificamos que há matéria de facto, assumimos essa Parece-lhe então que a responsabilidade
queixa como nossa. O facto de a AC Media ser mem- deverá partir mais de quem produz do que de
bro consultivo do órgão regulador [ERC] dá-nos al- quem consome?
gum acesso a poder expor a nossa opinião e fazer se- Sim, é evidente. No entanto, a televisão digital vai
guir uma linha de critério que é nossa. permitir ao telespectador seleccionar aquilo que quer
ver. O que significa também que todo este nosso pro-
E depois o consumidor tem algum feed- cesso de educação
back ou não? do consumidor “A figura do provedor é um
Sim. Nós próprios damos ao consumidor esse feedback. numa linha visio- elemento determinante
nária e responsá- para poder sensibilizar o
Parece-lhe que o Provedor do Telespectador vel, o vai levar a órgão a que está afecto e
tem motivado a intervenção do público? poder agir em proteger o público”
Deveria ser alargado às televisões privadas? conformidade.
Julgo que ele tem utilizado bem o tempo de antena. Já
lhe escrevi várias vezes, até com um sentimento de in- Como se educa para os media?
veja pois ele acaba por dispor de um tempo de antena O nosso projecto actua nas escolas e começa logo

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[Entrevista Sectorial/ Nuno von Amman de Campos]

por levar as crianças a funcionar de maneira diferente. Há algum


É preciso que os pais e educadores se identifiquem outro projecto
também com essa mudança. É preciso, por exemplo, da ACMedia
saber se os professores nas escolas estão suficiente- em foco para
mente familiarizados com as novas tecnologias. Como este ano?
reagem perante isso? Como analisam o comporta- Sim, o Fórum
mento de um aluno ao longo do ano? O nosso projec- Internacional das
to visa a preparação dos professores para que, nos Universidades.
tempos livres, eduquem os seus alunos para os media, O Fórum reúne
nomeadamente a ver televisão. É necessário também professores liga-
que os eduquem para a Internet, pois a Internet é ho- dos à área da co-
je muito mais perigosa do que a televisão. municação social
e fomenta um
E os consumidores mais novos são também os relacionamento
maiores consumidores das novas tecnologias... com os vários
Precisamente. E, pior do que isso, é que os pais centros de inves-
desses novos consumidores não estão preparados tigação nesta área. Não é possível caminhar com segu-
para acompanhar essa evolução. rança numa área destas sem o suporte da investigação.
Os académicos são fundamentais para nos transmitir as
O tal fosso geracional... novas descobertas, conclusões, contribuindo assim pa-
Sim, tremendo! ra a concretização destes projectos.Temos muitos pro-
fessores voluntários na AC Media que, generosamente,
A ACMedia tem algum projecto de edu- nos apoiam em várias áreas de actuação.
cação para o online?
Nós somos parceiros do CRIE e, por isso, estamos Como caracteriza o consumidor português?
envolvidos em projectos desse âmbito. É um consumidor muito passivo.

Para 2007, quais serão as principais acções da E os media portugueses?


ACMedia no sentido da Educação para os Media? Portugal não tem de se sentir inferiorizado em
O nosso objectivo é conseguir um protocolo com o comparação com outros países, nem em relação à
Ministério da Educação (ME), no sentido de ACMe- televisão, nem em relação à rádio.
dia se fazer formação de formadores e conseguir que
o ME desenvolva esta actividade com as equipas que Parece-lhe positiva a OPA lançada pela
tem nas escolas, fazendo um melhor aproveitamento Prisa à Media Capital?
do seu corpo docente nos vários estabelecimentos de É uma resposta difícil...Pessoalmente inquieta-
ensino. Conseguimos isto há dois anos em Espanha e me a tomada de posição de um grupo que em
estou esperançado que este ano vamos conseguir em Espanha não
Portugal também. Isto poque a ACMedia recebe tem sido a mais “Temos muitos professores
inúmeros pedidos de formação de um ponto ao outro favorável em re- voluntários na AC Media
do país e é muito difícil gerir tantas solicitações. lação à defesa que, generosamente, nos
dos interesses apoiam em várias áreas de
As políticas públicas têm estado um pouco leg ítimos dos actuação”
adormecidas neste campo, não lhe parece? consumidores.
É possível que sim. Mas a ACMedia tem estado Preocupa-me se essa linha de programação e in-
muito empenhada desde 2000 nesta matéria. fluência se vier a concretizar.

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[Ibermedia]

El Mundo recebe galardões O Governo da Andaluzia adjudicou uma licença


A versão para exploração de um canal de Televisão
online do Digital Terrestre, de natureza autonómica, com
jornal El Mun- possibilidade de desconexões provinciais ao
do foi o título grupo Prisa. O novo canal irá contar com uma
espanhol com audiência potencial de oito milhões de
mais galardões espectadores, e a sua exploração comercial e
na XV edição programação irão alternar entre o âmbito auto-
dos Prémios nómico e o local. Entre os requisitos apontados
Internacionais pelo Governo andaluz para a entrega da licença
Malofiej de In- à Prisa, estiveram a possibilidade de fomentar a
fografia, cultura local, a capacidade de garantir um
organizados pela secção espanhola da Society for volume mínimo de produção própria de pelo
News Design, e pela Faculdade de Comunicação menos 32 horas semanais, entre outros.

Prisa explora canal autonómico


da Universidade de Navarra. O jornal recebeu
um total de cinco prémios (quatro prémios de
bronze e um de prata), tornando-o no diário digi-
tal espanhol mais premiado, num certame que
contou com 1500 trabalhos provenientes de 22
países. Esta edição dos prémios Malofief, conside-
rados os pulitzer do género foi dominada pela
edição online do jornal norte-americano New
York Times, distinguido com o Prémio Peter
Sullivan, o galardão máximo destes prémios. A vi-
tória é também inédita, já que é primeira vez que
um jornal online, a título individual, consegue o
galardão mais importante destes concurso
internacional de infografia.

El Pais.com com mais leitores


A edição digital do jornal El Pais, do Grupo Prisa, é o site espanhol de in-
formação geral que mais leitores somou nos primeiros meses do ano. Só
em Janeiro de 2007, o site registou um aumento de 9 % de utilizadores,
situando-se actualmente em quase três milhões o número de usuários
únicos do ElPais.com. O aumento de utilizadores do ElPais.com
contrasta com a evolução inversa registada pelo seu maior competidor, a
versão digital do El Mundo, que perdeu cerca de 8 por cento da sua
audiência. Os dados foram divulgados pelo sistema internacional de
medição Nielsen, e no topo da tabela mundial continua o Google,
seguido do site da Microsoft,Yahoo e France Telecom.
O início do ano também foi positivo para a Prisa, que somou perto
de 4,3 milhões de utilizadores únicos no seu site, quedando-se pelo
sexto lugar em termos de acesso a portais e grupos, na Espanha.

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[Centros de Conhecimento]

ATITUDE CRIATIVA NO ENSINO


Na Restart valorizam-se as novas tecnologias

Desde 2003 que a Restart proporciona aos seus alunos uma formação
profissional vocacionada para a comunicação criativa e procura estar
sempre dentro das mais recentes novas tecnologias
TEXTO E FOTO POR VERA LANÇA

egundo João Tovar, director-geral da Restart, Vanguarda tecnológica

S Escola de Criatividade e Novas Tecnologias, a


área geral em que a escola se move é a comu-
nicação criativa. Do audiovisual ao som e dos
Estar sempre em cima do acontecimento em ter-
mos de novas tecnologias é uma das premissas da
Restart. “Damos muita importância à tecnologia
eventos à criatividade publicitária, quem quiser como meio para atingir uma comunicação criativa,
frequentar esta escola poderá escolher entre 13 o que nos impõe estar sempre actualizados e im-
cursos diferentes de formação profissional. Além plica uma boa parte do nosso orçamento”, diz o
disso, a Restart organiza anualmente entre 30 a 40 director-geral. A recompensa está na taxa de colo-
workshops no mesmo âmbito temático. Idealizada cação dos alunos no mercado, que segundo a
e formalizada em 2003, a Restart tem presente- escola é “relativamente alta”.
mente 360 alunos anuais, não contabilizando os A admissão na Restart obedece a uma série de
frequentadores dos workshops. Um dos aspectos a requisitos. O nível académico mínimo de entrada
que a escola dá muita importância é o corpo de é o 12º ano, sendo que alguma formação superior
formadores que são profissionais activos no mer- na área em que a escola da formação é um factor
cado, o que, segundo João Tovar, permite dar aos desejável, como explica João Tovar, e, quando se
alunos “uma formação sobretudo muito prática e trata de cursos de perfil criativo, o aluno tem ainda
ligada ao mercado de trabalho”. de apresentar um pequeno portfolio. “A Restart
aposta numa atitude criativa em relação à comuni-
cação por parte dos alunos e quer que estes sejam
criativos na forma de pensar e de agir e que ten-
ham uma perspectiva mais alargada do ponto de
vista cultural e criativo para fazer coisas mais inte-
ressantes e virem a ser os melhores profissionais
possíveis”, diz o director-geral. Aos melhores alu-
nos de cada curso, a escola garante um estágio
não curricular em várias empresas, sendo esta
uma das faces das parcerias – pedagógicas, téc-
nicas e culturais – desenvolvidas com
outras entidades.
A animação cultural, também aberta ao público, é
outro dos destaques da Restart, com ciclos, expo-
sições, concertos, etc., em que são chamados mui-
tos intervenientes de fora, embora os alunos tam-
bém mostrem os seus trabalhos, como uma forma
de estímulo daquela comunidade escolar.

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[Instituições da Comunicação]

EM PROL DA COMUNIDADE CIENTÍFICA


A b-on disponibiliza milhares de conteúdos online

Em actividade desde 2004, a b-on (Biblioteca do Conhecimento Online)


tem como grande objectivo a promoção do acesso electrónico às princi-
pais fontes de conhecimento a nível mundial
TEXTO E FOTOS POR VERA LANÇA

m Abril de 2004 a b-on era lançada com

E 3500 títulos em texto integral de seis edi-


toras internacionais. Hoje, esse número já
vai longe e actualmente são disponibilizados
cerca de 17 mil textos completos à comunida-
de académica e científica portuguesa, forneci-
dos por cerca de duas dezenas de editoras. “O
balanço destes três anos é claramente positivo.
A comunidade acolheu o projecto de forma
carinhosa e entusiasta e os principais indicado-
res mostram um crescimento progressivo da
sua utilização” afirma José Fernandes, coorde-
nador da b-on na FCCN (Fundação para a
Computação Científica Nacional), uma das en-
tidades responsáveis pelo projecto. Para além
da FCCN, que tem a seu cargo a gestão técni-
ca, a b-on conta também com a coordenação
do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior e da UMIC (Unidade de Missão Ino- ser docente ou discente nas mesmas. “Em média
vação e Conhecimento). são feitas cerca de 1570 visitas por dia à b-on,
Os princípios da b-on são simples. Fomentar o mas há utilizadores que pesquisam directamente
acesso electrónico às grandes fontes internacionais no portal das editoras [outra forma de pesquisa
de conhecimento, dar o seu contributo na melho- possível]. Nos primeiros seis meses de 2006 re-
ria do sistema científico nacional através da parti- gistámos uma média diária de cerca de 10670
cipação activa ou dinamizar e estimular a comuni- downloads de artigos”, explica José Fernandes.
dade académica e científica tanto na utilização “Os utilizadores podem encontrar conteúdos
como na produção de conteúdos científicos são al- científicos com elevada qualidade e impacto em
guns dos objectivos definidos por este projecto. Ao várias áreas, nomeadamente Arte e Humanida-
todo são 74 as instituições inscritas na b-on. Aliás, des, Ciência e Tecnologias, Ciências da Saúde,
apenas se podem inscrever na b-on instituições do Ciências Sociais e Física, Química e matemáti-
ensino superior, de investigação e desenvolvimen- ca”, acrescenta. Entre as editoras que disponibi-
to, da administração pública ou hospitais e ainda lizam actualmente conteúdos para a b-on estão,
instituições privadas sem fins lucrativos. Os utili- por exemplo, a Taylor & Francis, a Annual Re-
zadores da b-on têm de estar ligados a essas enti- views, o American Institute of Physics ou a Ro-
dades, ou seja, devem ter um vínculo laboral, ou yal Society of Chemistry.

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ed.91 07/02/27 12:09 Page 68

[Cibercultura]

24 – A SÉRIE DE CULTO DA FOX


Primeira série de televisão inspirada nos novos media

Série usou a sua inovação para se tornar numa marca global, com pre-
sença no mercado dos videojogos e banda-desenhada, entre outros
POR HERLANDER ELIAS
INVESTIGADOR E DOCENTE UNIVERSITÁRIO

2
4 é o nome da série de culto produzida pelo ca- Inovação
nal Fox em 2001 por Joel Surnow e Robert Em termos de inovação 24 é a primeira série de TV
Cochran. Nesta série de TV o que mais a distin- inspirada nos novos media e no multimédia, na edi-
gue das demais séries é o facto de primar por uma edi- ção não-linear de imagem, e que consegue ser cati-
ção de imagem inovadora, nada vulgar em televisão, vante sem ser complexa. Baseia-se num ritmo acuti-
uma lógica de levar o espectador a sentir cada minuto lante e numa narrativa também ela escrita de modo
e segundo que passa ao longo de cada hora (na prática não-linear, sugerindo a edição de imagem em qua-
45 minutos) de um episódio.Ao todo, cada temporada dradinhos, com múltiplas perspectivas. Na prática
corresponde a 24 episódios, que por sua vez represen- 24 é a primeira série de TV global, um frenético
ta todas as horas de um só dia crítico em que se desen- drama de acção, também é um thriller, que tem tec-
rola a história. Graças aos vários pontos de vista, às vá- nicamente inspiração na obra de Dziga Vertov e de
rias cenas presentes num só ecrã, 24 permite que Alfred Hitchcock. Por outro lado, também consegue
vejamos várias situações ao mesmo tempo proposita- ser a série de TV mais cativante desde os X-Files da
damente, em tempo-real. Além disso, a vincar todo o década de 90, de Chris Carter. Nota-se por demais a
suspense está um relógio digital a contabilizar cada se- influência dos videojogos de acção e dos romances
gundo que passa no centro do ecrã, sempre que algo de espionagem e política de Tom Clancy (Rainbow
mais complicado ocorre em simultâneo. Six, Splinter Cell,The Sum of All Fears); e também
D.R.

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ed.91 07/02/23 11:55 Page 69

[Cibercultura]

toda uma modernização de séries antigas com ção de uma bom-


Missão Impossível e O Santo e de sagas como ba nuclear em Los
James Bond. Angeles, a propa-
gação de um vírus
Estrutura letal nos EUA, vá-
A estrutura dos episódios de 24 implica interroga- rios outros atenta-
tórios, perseguições, tiroteios, cenas de acção com dos e até interro-
multi-câmara, narrativa muito enredada, temas in- gou o presidente dos EUA Charles Logan. Ficou
teressantes e inspirados na política internacional viúvo, desmantelou um cartel de droga e viciou-se
contemporânea, reviravoltas na história, densidade em drogas. Mas no final houve sempre maneira de a
emocional das personagens e argumento cautelo- verdade vir ao de cima. Claro que há uma mensagem
samente bem escrito. política, uma promoção das forças armadas (por
Sem tempo perdido, com forte componente emo- exemplo SWAT e Marines). Também se mostram as
cional nos actores, narrativa intricada e situações dificuldades que as brigadas de luta contra o terroris-
imperdíveis, 24 é uma aposta ganha no mercado mo enfrentam no terreno, mas, mais do que isso, 24
de séries de TV. Toda a acção decorre em tempo- elege as forças de autoridade como heróis de uma
real, não há memórias nem futurologias (nem flas- América do Norte repleta de conspirações perigosas,
hbacks, nem flash-forwards); só existe o presente como se os EUA não estivessem a salvo nem de si
a 24 horas por dia. Esta fórmula reprojectou Kie- mesmos.A moral da história é que a Democracia exi-
fer Sutherland para o estrelato, e ao fim de seis ge uma luta constante para que prevaleça.
episódios a Fox sabia que tinha que comprar mais.
Passados cincos anos eis que já foram feitas 5 tem- 24: Uma Marca
poradas e Kiefer Sutherland, o actor principal, já é Neste momento 24 é já uma marca de ficção, tendo
co-produtor executivo. E a 6ª temporada no canal originado livros, romances, banda desenhada (por
Fox norte-americano obteve mais de 33 milhões exemplo 24: One Shot ou 24: Midnight Sun), uma
de pessoas a assistir à sua estreia. Revista (24 Magazine) e é claro, o videojogo: 24:The
Para trás do topo de 24 ficam séries como Bones Game. Como se não bastasse, a temporada 6 já está
("Ossos") e Prison Break, também da Fox. Mais no ar, aguardando a edição em DVD, e algures entre
atrás ficam Grey's Anatomy ("Anatomia de o lançamento da 7ª e a 8ª temporada deverá começar
Grey"), Lost ("Perdidos") e Desperate Housewi- a rodagem de 24:The Movie. O sucesso da marca 24
ves ("Donas de Casa Desesperadas"), todas da deriva da conciliação de qualidade de temas e técnica
ABC; deixando igualmente para trás CSI ("CSI – de execução, aliada ao inteligente product place-
Crime Sob Investigação"), da CBS. ment, pois em inúmeros episódios exibem-se logóti-
pos de marcas como DELL, HP, Chrysler, GMC e
História Apple. O fruto de tudo isto é que em termos de pré-
O cenário de 24 é o da actualidade política norte- mios 24 conquistou dois Globos de Ouro, dois
americana. O protagonista, desempenhado por Kiefer Emmys, outros trinta e três prémios e cento e onze
Sutherland, é o herói quase sempre traído e quase nomeações.A questão é: "o que nos reservam as pró-
sempre bem sucedido, de seu nome Jack Bauer. Ao ximas vinte e quatro horas?"
longo da história, Bauer demonstra ser um eficaz e
nem sempre politicamente correcto agente secreto da SITES A VISITAR:
CTU ("Counter Terrorist Unit"), uma unidade de lu-
www.fox.com/24
ta anti-terrorismo. www.kiefer-rocks.com
Ao longo de 120 episódios das 5 temporadas, Bauer www.fox.com
impediu o assassinato do presidente Palmer, a detona-

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[Opinião Internacional/ Javier Rivero-Diaz]

VIDEO GAMES AND HEALTH I


- HEALTH CARE
ovies, music, … are already behind of rring to diseases such as overweight, diabetes,

M the impact of the Video Games in the


International market. In spite of that,
these entertainment products receive so much
and smoking, etc. In many cases people are not
aware of problems or the consequences of it.
In that respect, research must continue develo-
criticism regarding the negative effects in peo- ping video games that educate the population
ple.Though many people consider them as un- understand the illnesses.
desirable entertainment, it would be possible Lieberman from the University of Califor-
JAVIER RIVERO-DIAZ that they could help someone? Is there any nia, Santa Barbara has done research using
UCLA / INVESTIGADOR possibility that this may happen in any aspect the games as a health promotion message, es-
INTERACTIVE MEDIA of society? Is this a business opportunity to ex- pecially with asthma, diabetes and smoking
plore or is this an impossible market? prevention games. These games helped chil-
In order to be able to answer that, we are going dren to understand these illnesses and conse-
to describe what the current status of the video quences of smoking. She discovered that as-
games industry is and apply it to one of the thma’s and diabetes’ patients loved the game
most important concerns of society: Health! because it was about them, and they were le-
“These games In the field of medicine there are many ways to arning new aspects that they didn’t now and
helped children help patients get better from health problems. would help them while dealing with their ill-
to understand Science has done, and will continue resear- ness. (Lieberman, 2006 A)
these illnesses ching ways in which people’s health problems One example of a video game that contributes
and conse- can be overcome. Some solutions are based on to these objectives is Immune Attack.
quences of drugs, others, in physical therapy, and exerci-
smoking” se, etc. There are some areas in which video
games are playing a role in the healing process
of the patients. These areas are constantly
being redefined while research is done and
new areas are tested in order to discover appli-
cations for them. This article is followed in
next publications of Media XXI by other two
parts and it is focused on the three areas that
are considered the most important.

1. Health Care.
Understanding, preventing and improv-
ing dealing with diseases
United States has invested millions and mi-
llions of dollars in the prevention of illnesses Immune Attack
and health problems that are having a big im- The Federation of American Scientists has been
pact in the cost of the treatments.We are refe- worked in a project called Immune Attack,

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ed.91 07/02/23 12:01 Page 71

[Opinião Internacional/ Javier Rivero-Diaz]

where the gamers understand how works the One of the ways by which people achieve a
immunologic system. Then, they learn how sense of accomplishment and self-develop-
the body works and what actions create situ- ment is by not doing things alone but with a
ations in which the body is under risk. group of people. In the case of such disease it
They build their own immune system, and is all the more important to the patients and
they realize of the efforts and the processes for the healing of the disease.When they are
that the body does to overcome problems. able of communicate with peers in similar
The game challenge students to build power- situations, they become supporters of one
ful defense system. Demonstrate that simula- another. In other words, this video game has
tions and the challenges of games can make built a healing chain.
learning more engaging. (Glinert, 2006) The video game helps patients to better
This game promotes healthy habits in chil- understand the disease and, in fact, to
dren that help them in having a healthier life combat as a part of the solution. When
and also saving millions of dollars in treating they become a part of the solution, an
diseases that can be prevented. active part, they are promoting their own
healing and self-esteem.
The researchers of HopeLab demonstrated
that video games can create positive behavior
changes in real life. They found other advan-
tages, too, such as the low cost. But, is it real-
ly low cost to develop a whole video game?
If we consider the cost of the treatments of
the cancer disease with the improvements “This game pro-
that this game can do in the patient’s health, motes healthy
definitely it is low cost and worthy. Another habits in chil-
advantage is that it is very easily distributable dren that help
since it is downloadable and able to be them in having a
ordered through the mail. (Cole, 2006) healthier life”
Re-Mission Dance Dance Revolution
Re-Mission is a video game created by the Why do people play DDR? What are the
HopeLab with the objective of helping effects of physical activity? What are the
patients with cancer. This game creates a effects of dancing?
social network that brings people together. Some of the effects that have been demon-
Cancers patients many times feel alone and strated in several studies (Lieberman,
don't know other people who share their 2006) are the development of thinking
problem. They have difficulties socializing skills, creativity, attention, academic per-
and sharing the problems related to their formance, physical coordination,
disease. This video game provides a net- improved reading skills (receptive coding)
work of people with the same disease, can- for poor readers with ASHD in grade 6 and
cer. This aspect of the game has created a increases heart rate.
new world for them. But why is it so Is it not amazing that thousands of people
important simply knowing other people? are finally taking care of their weight by
Is it really possible for a mere video game moving their bodies in Dance Dance
to help cancer patients? Revolution (DDR)?

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ed.91 07/02/27 12:13 Page 72

[Opinião Internacional/ Javier Rivero-Diaz]

Are they real


benefits?
Yes, it raises
the heart rate
for aerobic
workout and
cardio benefits
in normal and
overweight
children (Un-
nithan et al,
2005)
Meets stan-
dards for deve-
loping and
maintaining
cardio-respira-
tory fitness
(Tan et al.,
2002)

There are many people with weight problems 3. Music


“Is it really pos- who have tried several different methods to 4.Workout
sible for a mere exercise and to remain motivated to do it on a 5. Dancing
video game to regular basis. Gyms, special nutrition treat- 6. Making new friends
help cancer ments… these are some of the solutions that 7. Challenging
patients?” people try. But do they work? Do people conti- (Lieberman, 2006)
nue exercising on a regular basis? Are they mo-
tivated enough to do it? In West Virginia this video game is going to be
People enjoy and do more exercise or continue used in 765 public schools.
exercising if they have rewards. These can be Other games for exercising:
obtained from a game that motivates them to be Pump It Up: Exceed
focuse or challenged.And, the ability to play the In the Groove
game with other people gives it a social compo- DanceAlong
nent. Such a component allows DDR players to Para Para Paradise
make more friends than console players. Addi- Mario, Sesame Street, Disney
tionally, it is very difficult to get bored by DDR.
What has been found is that DDR is helping These video games gather:
people to lose weight and be healthier. How A: Health video game (challenges, motivation,
can a video game get people exercising? Why role model, feedback, simulation, repetition).
do gyms have major difficulties getting people B: Self concepts; increase self-efficacy; knowled-
to do the same? ge & skills; communication & social support
Reasons people enjoy playing DDR: C: Better health behaviors: prevention, self-care.
1. Enjoyable, fun game D: Better health: better quality of life, lo-
2. Playing with others wer health costs.

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ed.91 07/02/27 12:16 Page 73

[Leituras]

A Voz dos Leitores na Imprensa – Um estudo de caso sobre


as “Cartas ao Director” no jornal Público
Marisa Torres da Silva
Colecção Media e Jornalismo - Livros Horizonte
Neste livro, Marisa Torres da Silva analisa o verdadeiro espaço de reflexão sobre um
jornal, que é a secção de cartas ao director, através de um estudo de caso sobre o
jornal Público.A autora analisa as mais variadas características da correspondência diri-
gida ao director do diário da Sonaecom, responde a algumas questões essenciais:Até
que ponto é que a secção das cartas dos leitores se constitui como um espaço público?
Que tipo de debate ocorre nessa secção? Quais são os principais motivos de exclusão
ou de rejeição das cartas dos leitores?, etc.A autora é actualmente membro e vogal da
assembleia geral do Centro de Investigação e Jornalismo, e jornalista freelancer, tendo
colaborado com o jornal Público e com várias outras publicações, como a Jornalismo e
Jornalistas ou Magazine das Artes.
POR MÁRIO GUERREIRO

Introdução aos Cultural Studies


Armand Mattelart e Érik Neveu
Porto Editora
A corrente dos Cultural Studies, que apareceu nos anos 60 em Inglaterra, é
explicada neste livro a partir da sua génese pelos seus dois autores, Armand
Mattelart, professor de Ciências da Informação e da Comunicação na
Universidade de Paris – VIII, e Érik Neveu, professor de Ciências Sociais e
membro da equipa de Rennes do CRAPE – CNRS. Mattelart e Neveu explicam
como ocorreu a internacionalização dos Cultural Studies e a crise pela qual esta
corrente passou, concluindo que “a análise do cultural continua a ser uma
prioridade no mundo actual”, devido a factores relacionados com a globalização,
mobilidade das populações e o consequente mix de culturas.
POR VERA LANÇA

Jornalismo Contemporâneo – Os Media entre a Era


Gutenberg e o Paradigma Digital
Joaquim Vieira
Edeline
Joaquim Vieira, jornalista reconhecido e actual presidente da direcção do Observatório
da Imprensa – Centro de Estudos Avançados de Jornalismo é o autor deste livro que
procura desenhar a ponte entre o presente e futuro dos media, e o seu passado.
Joaquim Vieira traça um retrato da evolução global do universo dos media, desde o ad-
vento da palavra impressa, passando pela Revolução Francesa e pela Primeira Emenda
da Constituição norte-americana, até aos mais recentes desenvolvimentos, para
questionar depois o futuro que estará reservado ao quarto poder, na era onde a
modernidade pede mudanças consideráveis.A convergência dos meios, o papel da
web, a informação participada são temas actuais dissecados pelo autor, e necessários a
uma reflexão sobre o papel do próprio jornalismo, que para Joaquim Vieira continua a
ser uma actividade com “sentido e a apontar para o futuro”.A terminar, o autor refere
16 filmes onde os media saem superiormente retratados.
POR MÁRIO GUERREIRO

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[Nuestra Opinión/ Juan Pablo Artero Muñoz]

AS INCÓGNITAS DO NEGÓCIO
DA TELEVISÃO
s últimas movimentações no sector te- são em directo através do telemóvel está a

A levisivo parecem antever uma nova


etapa de incerteza perante o futuro se-
melhante à que se deu com o “boom” tecno-
ganhar adeptos, isto obrigará as cadeias de
televisão a adaptarem o seu sinal e caracte-
rísticas visuais a um modo de ver os progra-
lógico das dot.com. Não obstante, as pers- mas muito distinto do tradicional sofá e
pectivas de crescimento da televisão a curto ecrã de 20 polegadas. Outra forma de aces-
prazo, tanto em sinal aberto, como pago, so cada vez mais difundida é a IPTV. Segun-
JUAN PABLO ARTERO MUÑOZ são positivas. O panorama dos operadores do a consultora Gartner, esta opção conta já
DIRECTOR-GERAL DA televisivos está a ampliar-se nos países oci- com mais de 6,4 milhões de utilizadores. A
MEDIACCIÓN CONSULTORES, dentais. Na televisão em sinal aberto, so- sua previsão para 2010 é de 48,8 milhões.
DIRECTOR DE INVESTIGAÇÃO DO mam-se novos “players”. Na televisão paga, As dúvidas sobre o futuro tecnológico do
CENTRO INTERNACIONAL DE as ofertas tradicionais por satélite e cabo es- sector aconselham à adopção de estratégias
EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO tão a ser complementadas com pacotes dis- de difusão válidas para todo o tipo de su-
(IESE BUSINESS SCHOOL) E tribuídos por ADSL. Além do mais, a televi- portes. Como exemplo, a nova política da
PROFESSOR DE EMPRESAS são digital terrestre pode mudar por ARTE, a televisão temática cultural franco-
INFORMATIVAS (FACULDADE completo o panorama dos operadores na- alemã, baseia-se na distribuição dos seus
DE COMUNICAÇÃO, cionais, regionais e locais. Se a isto somar- conteúdos por todas as plataformas tecnoló-
UNIVERSIDADE DE NAVARRA) mos as potencialidades da IPTV, em poucos gicas possíveis, principalmente a rede te-
anos a oferta audiovisual a disposição dos rrestre analogia e digital, cabo, satélite,
“Na televisão em públicos poderá desenvolver-se exponen- ADSL, telefones móveis, DVD e internet.
sinal aberto, cialmente. Mas que expectativas de rentabi- No caso particular da rede, muitas empre-
somam-se novos lidade podemos esperar de um mercado tão sas de televisão duvidam sobre a atitude que
‘players’” competitivo? À incógnita sobre o crescente devem adoptar ante a proliferação dos por-
número de concorrentes no mercado há tais de vídeo. O mais popular de todos, o
que somar as questões relativas à tecnolo- YouTube, acaba de ser adquiriro pelo Goo-
gia. A Televisão Digital Terrestre não é a gle. Em sites como este, são os próprios in-
única novidade tecnológica no horizonte. ternautas que põem à disposição do públi-
Dois dos principais fabricantes de telefones co, entre outros tipos de imagens,
móveis, Nokia e Motorola, celebraram um fragmentos de emissões televisivas. Mas
acordo para impulsionar o consumo de con- também já se começou a explorar a capaci-
teúdos televisivos através do telemóvel. dade promocional destas páginas em novos
Prevêem-se testes conjuntos em vários paí- lançamentos. No último Festival Internacio-
ses, para equiparem os seus terminais com a nal de Televisão de Edimburgo, Marissa Me-
tecnologia DVB-H (Digital Vídeo Broadcas- yer, a vice-presidente do Google, recomen-
ting Handhelds). A previsão destas empresas dou às televisões a reserva de conteúdos
é que em 2010 os serviços de televisão atra- para a sua emissão puramente televisiva.
vés do telemóvel tenham mais de 50 milhõ- Referindo-se à possível ameaça que os por-
es de subscritores. Se o consumo de televi- tais de vídeo representam para as empresas

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ed.91 07/02/27 12:20 Page 75

[Nuestra Opinión/ Juan Pablo Artero Muñoz]

MÁRIO GUERREIRO

de televisão, apontou que estes podem ser são para a difusão das suas mensagens. Deve-
aliados e não concorrentes. De modo grá- se esperar, por seu lado, que a capacidade de
fico, sentenciou a discussão com uma frase captar investimento das grandes campanhas
lapidar: “Somos informáticos, e não conta- se faça de forma cada vez mais dura, entre
dores de histórias”. os principais operadores. “A Televisão
E como podem reagir os clientes perante Nos próximos anos, a indústria da televisão Digital Terrestre
um número crescente de operadores e tec- irá viver um período de transição para um não é a única
nologias de recepção? Para se poder esboçar novo modelo mais competitivo, com mais novidade tec-
algumas implicações do cenário futuro da opções de recepção e com audiências e nológica no hori-
procura agregada, há que diferenciar entre a anunciantes progressivamente mais exigen- zonte”
audiências e os anunciantes. Por um lado, o tes. Apesar disso e da relativa perda de con-
aumento da oferta é sempre teoricamente fiança dos mercados de valores neste sec-
positivo para os espectadores. Por outro la- tor, as previsões de crescimento para os
do, sem dúvida que a audiência se fragmenta próximos anos são encorajadoras. Segundo
com maior profundidade e os utilizadores de a PricewaterhouseCoopers, a televisão pa-
ofertas de televisão paga se estão a repartir ga será um dos segmentos da indústria de
entre as diferentes opções. A televisão em comunicação que mais irá crescer até 2010,
aberto pode ter dificuldades como meio pu- e televisão em sinal aberto manterá aumen-
blicitário se a sua audiência for cada vez mais tos superiores ao crescimento das econo-
envelhecida e as crianças e jovens preferirem mias. As incógnitas sobre concorrentes,
outras opções de entretenimento. Ainda as- tecnologias e clientes serão sempre menos
sim, os grandes anunciantes continuam a se o volume de negócios da indústria ofere-
precisar de um meio massivo como a televi- ce perspectivas tão boas.

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ed.91 07/02/27 12:27 Page 76

[Euromedia/ A Europa em discussão]

A EUROPA EM DISCUSSÃO
Conferências da presidência alemã para a Cultura, Educação e Media

Para o cidadão europeu aprender mais alguma coisa nas áreas das novas tecnologias
de informação, cultura e educação, foram preparadas muitas conferências ao abrigo da
presidência da União Europeia neste primeiro semestre de 2007. Espreite as principais
POR INÊS BLU RODRIGUES, EM BRUXELAS

CASA DA IMAGEM
ste mês decidi compilar as princi-

E pais conferências na área das no-


vas tecnologias de informação,
cultura e educação da presidência ale-
mã. Bem como algumas descrições e
links que me parecem relevantes. De
28 a 30 de Março, realiza-se em Frank-
furt a conferência “Knowledge for Ac-
tion Research Strategies for an Eviden-
ce-Based Education Policy”, que irá
abordar as bases científicas da política
educativa do conhecimento vista pelo
ponto da investigação. Na primeira se-
mana de Abril, de 2 a 6, Berlim irá
acolher a “35th Annual Conference on
Computer Applications and Quantita-
tive Methods in Archaelogy”. O objec-
tivo desta conferência é reunir especialistas em diferentes cação, que teve lugar em Dezembro de 2006, em Helsín-
áreas e disciplinas e as suas aplicações informáticas dos quia. Esta conferência resumirá o debate sobre o futuro
métodos quantitativos e arqueologia. As aplicações e re- desenho de uma cooperação europeia no campo do ensi-
construções em 3D e sistemas de informação geográfica no profissional e do ensino ao longo da vida.
são partes integrantes desta conferência. Os estados-membros da União Europeia são partes da
Os arquivos utilizam cada vez mais a internet para oferece- convenção da UNESCO sobre a protecção e promoção
rem acesso gratuito aos seus documentos independente- da diversidade cultural. Em Essen, capital Europeia da
mente do lugar e do tempo.A utilização das normas inter- de 2010, representantes internacionais e da sociedade
nacionais EAD (Encoged Archival Description), EAC civil a diversidade cultural irão analisar quais os perigos
(Encoged Archival Context) e METS (Metadata Encoding desta diversidade, as suas oportunidades, e os desafios
and Transmisión Standard) é uma condição essencial para que se põem à sociedade e aos Governos. Nesta confe-
o intercâmbio desta informação. Este tema irá estar em rência, a ter lugar entre 26 e 28 de Abril, com o título
destaque na conferência “Internacional Standards for Digi- original de “Cultural Diversity – Europe's Wealth. Brin-
tal Archives – 3rd European Conference on EAD, EAC ging the UNESCO Convention to Life” é de destacar os
and METS”, a ter lugar em Berlim de 24 a 26 de Abril. diferentes fóruns sobre cinema, música, ou o papel da
Em Tessalónica, na Grécia, de 26 a 27 de Abril (“Towards sociedade civil, entre outros.
a European area of VET”) irão ser apresentadas as conclu- Maio inicia-se com a discussão em torno das indústrias
sões da reunião informal dos ministros europeus da Edu- culturais. De 3 a 4, Berlim irá receber vários responsáveis

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ed.91 07/02/23 14:16 Page 78

[Euromedia/ A Europa em discussão]

europeus com o objectivo de continuar a desenvolver o


OS MEDIA DIGITAIS
conceito de coordenação de políticas relativas à indústria
cultural, objecto de debate em presidências europeias ante- Entre 9 e 11 de Maio, a cidade alemã de Leipzig irá rece-
riores.Também em Maio, e a alguns quilómetros de Ber- ber mais de 250 especialistas em media, que irão debater
lim, na cidade alemã de Potsdam, irá decorrer uma confe- as seguintes questões: estarão cobertas as necessidades
dos cidadãos de informação? Em que medida as infor-
rência dedicada à igualdade de oportunidades na educação mações propostas são fiáveis? A conferência dá pelo
europeia, e de que forma as políticas educativas podem nome de “More Trust in Contents – The Potential of Co and
contribuir para o reforço dessa mesma igualdade. Esta con- Self- Regulation in the Digital Media.
ferência decorre de 11 a 12 de Maio.

DATA TÍTULO ORIGINAL LOCAL DESCRIÇÃO


21-22/05/2007 Meeting of EU Directors General Hamburgo Esta conferência será organizada pela
for Vocational Training direcção geral de educação e cultura da
comissão Europeia. Participarão 100
representantes dos estados membros da
União Europeia.
24-25/05/2007 Education for Sustainable Berlim Esta conferência é organizada pela
Development in Europe comissão europeia para a UNESCO, com
outros organismos colaboradores. Este
evento oferece uma boa oportunidade para
o intercâmbio de diferentes modelos e
conceitos de " educação para o desen-
volvimento sustentável" na UE
31/05/2007-01/06/2007 CREATIVE EUROPE – The Power Hamburgo Este congresso examinará as “performanc-
of Culture in European Cities es” culturais e o potencial das entidades
criativas e dos criadores culturais.
04-05/06/2007 European Vocational Training Munique Esta conferência tem o objectivo de
Conference: Realizing the promover o debate da política educativa
European Learning Area sobre a estratégia de cooperação europeia
no campo da formação profissional. A
chave é dirigir as prioridades do processo
de Copenhaga e relacioná-lo com os
actuais processos dobre os créditos
europeus para a formação profissional e
ensino (ECVET). As prioridades incluem:
Programa de qualificações europeias e
promoção da mobilidade.
07-08/06/2007 Federal Congress on Cultural Berlim Esta conferência examinará as relações
Policy: "kultur.macht.europa – eu- Entre a política cultural nacional e
ropa.macht.kultur" europeia. Os temas centrais serão a
“identidade cultural” da Europa e o
“diálogo intercultural”.
13-14/06/2007 UNESCO World Heritage Sites in Lubeck Esta conferência tratará o turismo
Europe – A Network for Cultural cultural baseando-se nos sites do
Dialogue and Cultural Tourism património mundial a nível europeu
28-29/06/2007 Kinder zum Olymp! – Saarbrücken Este congresso reunirá os responsáveis
Communicating the Arts: The culturais dos museus, as orquestras, os
Educational Role of Culture teatros e os artistas de todas as
especialidades, assim como os
representantes do mundo político.

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[Evento Tecnologia/ Casa Playstation3]

CASA PLAYSTATION3-PLAYHOUS3
O agente 007 já pode vir visitar Lisboa

A PlayStation3 promete transformar vulgares casas em espaços de tec-


nologia de terceira geração, dignas de James Bond.
POR DULCE MOURATO

Casa da PlayStation3-Play- mes Place que para além da deco-

A Hous3, situada na Avenida


24 de Julho em Lisboa,
digna do novo filme 007-Casino
ração, apoia acções de dinamiza-
ção para os visitantes da casa.
De acordo com Sandra Páscoa,
Royale, foi inaugurada pela filial gestora de produto e relações pú-
portuguesa da Sony Computer blicas da Sony Computer Enter-
Entertainment para preparar o tainment Portugal “em cada uma
lançamento da PlayStation3 no das divisões desta casa encontra
mercado nacional, um dispositi- mais de uma razão para usar a
vo que está presente em todas PlayStation3 pois é um verdadei-
as divisões daquele local de ro centro de entretenimento
convergência entre a tecnologia multimédia de alta definição, que
e o entretenimento, num con- D.R. integra a relação perfeita entre
ceito “This is Living”. Jogos, Musica, Filmes, Fotos e
A Casa da PlayStation3- Play- Internet, com diferentes públi-
Hous3, mobilada pela empresa BoConcept e equi- cos”, sublinhou aquela responsável, garantindo
pada com ecrãs de Alta Definição (Sony Bravia) que estamos perante um novo fenómeno designa-
ocupa uma área high tech de alta-definição de cer- do ‘Social Gaming’ que privilegia o jogo com
ca de quatrocentos metros quadrados que reúne pessoas de todas as idades como por exemplo o
oito divisões: quarto, sala de estar, área lounge, Buzz! (Quiz de Cultura Geral, Desporto, Música,
sala de jantar, screening room, casa de banho e Junior), que se joga com campainhas e que simu-
despensa e health place gerido pelo ginásio Hol- la a realidade de um verdadeiro concurso de tele-
visão, o Eye Toy (a câmara que detecta movimen-
DULCE MOURATO

tos) ou o SingStar (o Karaoke na PlayStation).


A PlayStation3, que custa seiscentos euros, pos-
sui um processador Cell, um disco rígido (HDD)
pré-instalado como standard de 60 GB e Ether-
net que permite aos utilizadores transferir uma
variedade de conteúdos, bem como aceder a jo-
gos e serviços online através da rede (inclusive
fazer compras à distância e conversar com os
amigos). Para além das funcionalidades de conso-
la com periféricos sem fios, ainda é um reprodu-
tor de filmes blu-ray (realismo gráfico e imagens
de alta definição) e possibilita a interactividade
com a consola PlayStation Portable, para além de
outras características.
VIVER A TECNOLOGIA COMO UMA PERSONAGEM DE FICÇÃO NA
CASA PLAYSTATION3-PLAYHOUS3

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[Lá Fora/ Kjeld Jakobsen]

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
TÊM CANDIDATO

Observatório Brasileiro de Mídia não se lembra do clássico exemplo do

O foi fundado em Janeiro de 2005


durante a quarta edição do Fórum
Social Mundial, em Porto Alegre, co-
papel que a TV Globo exerceu para
eleger Collor de Mello presidente em
1989? Centenas de políticos brasileiros
mo uma contribuição a mais para a de- ou seus familiares detêm a concessão
mocratização dos meios de comunica- de meios de comunicação e não por
ç ã o e j á n a s c e u f i l i a d o a u m a re d e meros interesses comerciais.
KJELD JAKOBSEN Se não houver isenção, imparcialidade
internacional de organizações congêne-
PRESIDENTE DO INSTITUTO e transparência da mídia, a opinião das
res, o “Media Watch Global”. Sua dire-
OBSERVATÓRIO SOCIAL E pessoas pode ser modificada, mesmo
ção é composta basicamente por pro-
DIRETOR DO OBSERVATÓRIO que temporar iamente, o que é uma
fissionais ligados à área de jornalismo.
BRASILEIRO DE MÍDIA ameaça à democracia, pois uma decisão
O objetivo do seu trabalho é mostrar à
sociedade como a mídia trata os temas adotada à luz de informações distorci-
mais relevantes e se de fato respeita a das ou equivocadas muitas vezes não
“Os gráficos imparcialidade e a isenção que prega pode mais ser corrigida.
demonstram nos seus manuais de redação enquanto Para cumprir com seu objetivo o Ob-
claramente que princípios do bom jor nalismo. Entre servatório Brasileiro de Mídia mede a
houve desequi- estes temas podemos mencionar elei- exposição dada aos diferentes temas
líbrio na cober- ções, políticas públicas, mundo do tra- nos meios de comunicação e se são
tura das candi- balho, cultura, questões de gênero, en- tratados positivamente, negativamen-
daturas” tre tantos outros. te ou de forma neutra. Isto foi feito
Existem inúmeros acontecimentos que no período de julho a outubro de
justificam esta preocupação, pois, ape- 2006 sobre o tema mais relevante da
sar dos princípios e códigos de ética conjuntura: a eleição presidencial.
que deveriam nortear os meios de co- Foram acompanhados cinco g randes
municação, frequentemente a mídia se jornais (Folha de São Paulo, Estado de
auto-atribui o papel de árbitro dos fa- São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil
tos e de porta-voz da opinião pública, e Correio Braziliense) e quatro revis-
além de defender os interesses econô- tas semanais (Veja, Isto É, Época e
micos e empresariais dos seus donos. Car ta Capital), obser vando-se como
Não é sem razão que a imprensa é con- foram tratados os quatro candidatos
hecida como o “Quarto Poder” pela in- melhor situados nas pesquisas eleito-
fluência que pode exercer sobre a polí- rais, Lula, Alckmin, Heloisa Helena e
tica por meio da sua capacidade de Cristovam Buarque, bem como a figu-
incidir sobre a opinião pública. Quem ra de Lula como presidente.

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[Lá Fora/ Kjeld Jakobsen]

Durante praticamente três meses consta- Entre as figuras dos quatro candidatos -
tamos o seguinte: Lula, Alckmin, Heloísa Helena, Cristo-
vam Buarque e a figura de Lula presiden-
te - quem teve a cobertura mais positiva
As figuras de Lula candidato e Lula foi o candidato Alckmin, seguido por He-
presidente receberam a maior exposi- loisa Helena e Cristovam. Lula candidato
ção na mídia. e Lula presidente tiveram o menor per-
centual de notícias positivas.

QUADRO 1- PARTICIPAÇÃO NEGATIVA SOBRE O TOTAL DE CADA


CANDIDATO NOS CINCO JORNAIS: SEMANA A SEMANA EM % QUADRO 3- GRÁFICO DE EXPOSIÇÃO DOS CANDIDATOS NOS CINCO
JORNAIS: SEMANA A SEMANA EM %

As figuras de Lula candidato e Lula


presidente receberam a maior parte da Os dois jornais que trataram as figuras de “Ou não queriam
c o b e r t u r a n e g at i va . C o n f o r m e a s Lula candidato e Lula presidente de for- correr o risco de
c i r c u n s t â n c i a s , a u m e n t ava a d e u m ma mais negativa foram o Estado de São perder leitores
o u a d e o u t ro, m a s s e m p re n e g a - Paulo e O Globo. A maior parte do tem- ou não queriam
tivamente. po foi acima de 60%. admitir sua par-
cialidade”

QUADRO 2- PARTICIPAÇÃO POSITIVA SOBRE O TOTAL DE CADA QUADRO 4- REPORTAGENS NEGATIVAS À CANDIDATURA LULA NOS
CANDIDATO NOS CINCO JORNAIS: SEMANA A SEMANA EM % JORNAIS O GLOBO E O ESTADO DE S. PAULO EM %

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[Lá Fora/ Kjeld Jakobsen]

A partir destes dados podemos tirar uma que fiou evidente nas pesquisas feitas pelo
série de conclusões. Em primeiro lugar, Observatório Brasileiro de Mídia tanto no
considerando os percentuais de exposiçõ- primeiro como no segundo turno da eleição
es negativas. Já seria ruim para qualquer presidencial. O único órgão de imprensa
candidato ser o mais exposto negativa- pesquisado e que anunciou sua posição
mente nos jornais e revistas, porém para abertamente foi a revista Carta Capital ao
Lula esta situação se agravou durante a apoiar a reeleição de Lula. Pode ser que esta
campanha do primeiro turno porque ele posição leve a perda de alguns de seus leito-
também foi o mais exposto negativamente res, por terem outras preferências eleito-
na sua função de presidente do país (Qua- rais, mas a revista foi transparente e honesta
dro 2). Como as suas figuras de candidato com eles. Os demais, ou não queriam co-
e presidente tiveram maior exposição rrer o risco de perder leitores ou não que-
quantitativa em geral nestes órgãos de im- riam admitir sua parcialidade.
prensa (Quadro 1), o dano para sua ima- Além da maneira desequilibrada como os
gem cresceu de forma exponencial. O “es- candidatos foram tratados, os jornais O Es-
tranho” é que as duas curvas de exposição tado de São Paulo e O Globo foram os que
negativa coincidem. Quando aumenta a mais cobriram a candidatura Lula e o des-
cobertura negativa do candidato, aumenta empenho do presidente Lula de forma ne-
também a do mandato presidencial. gativa. O Estado, em particular, fez o que
Em segundo lugar, entre todos os candida- pode para criar o clima de segundo turno
tos, o que era tratado mais positivamente, quando isto ainda era uma possibilidade dis-
era Geraldo Alckmin com aproximadamen- tante, sempre anunciando que a distância
te 40% das matérias, embora Heloisa Hele- entre a candidatura Lula e a dos demais es-
na e Cristovam Buarque também tivessem tava se reduzindo, chegando a publicar com
“Quando aumen- mais cobertura positiva do que negativa. Já alarde uma pesquisa no dia 16 de setembro,
ta a cobertura Lula candidato e Lula presidente tiveram aonde esta chegava a apenas 3%, totalmente
negativa do can- exposições positivas inversamente propor- incongruente com os resultados das demais
didato, aumenta cionais às negativas (Quadro 3). pesquisas, tanto é que poucos dias depois
também a do Diante de fatos positivos ou negativos não voltou a acompanhar as tendências dos de-
mandato presi- há como a imprensa não publicá-los mesmo mais institutos de pesquisa.
dencial” quando beneficiam ou prejudicam algum Por fim, notaremos que a exposição nega-
candidato. O problema é quando há des- tiva do candidato Lula alcançou índices
equilíbrio na cobertura e subjetivismo apli- médios de 60% nas duas semanas que pre-
cado de forma a prejudicar a um e a benefi- cederam o primeiro turno e continuou
ciar a outro, pois, particularmente, na sendo exposta negativamente ao longo de
cobertura dos casos dos “Sanguessugas” e do todo o segundo turno, pois a maioria das
“Dossiê Vedoin” houve envolvidos de dois matérias dos jornais tentou ligar a candi-
lados, mas é apenas um deles foi menciona- datura ao episódio, ainda não devidamente
do e com destaque. explicado em sua totalidade, do “Dossiê”.
Os gráficos demonstram claramente que É o que o professor de jornalismo da
houve desequilíbrio na cobertura das candi- UNB, Venicio de Lima, chama de produzir
daturas e que os cinco jornais e três das re- matérias a partir do princípio de presun-
vistas tiveram preferências na eleição presi- ção de culpa até que se prove a inocência e
dencial, sem que o declarem abertamente. não o contrário que é muito mais razoável
Queriam Alckmin e não queriam Lula. Fato numa sociedade democrática.

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[Aldeia Global]

Yahoo! Mail com capacidade ilimitada


Leitor online é mais atento O Yahoo!
vai passar
Os leitores de notícias online prestam geralmente adisponibili-
mais atenção aos conteúdos que estão a ler que os lei- zar capa-
tores de formatos impressos, conclui um estudo do cidade ili-
norte-americano Poynter Institute. O estudo, intitu- mitada de
lado EyeTrack07 nega a ideia que os cibernautas armaze-
geralmente não lêem muito. Segundo o estudo do namento de
instituto norte-americano, os leitores online lêem 77 e-mail para
% dos conteúdos a que acedem, enquanto os leitores os seus mais
de formatos impressos lêem 62 % do conteúdo. O de 250 mil-
estudo do Poynter Institute recorreu a 600 leitores hões de clientes, a partir de Maio. Esta decisão
de quatro mercados norte-americanos, entre os 18 e do Yahoo! termina com o actual limite gratuito
os 60 anos, que durante 30 dias se dedicaram a ler a de 1 GB nas suas caixas de e-mail, em resposta
edição do dia de jornais impressos e online. ao aumento do tamanho de ficheiros
anexados, mas também aos seus principais
VERA LANÇA

concorrentes, o Gmail, do Google, e o


Hotmail, da Microsoft. Há dez anos atrás,
quando o Yahoo! lançou o seu serviço de e-
mail, a capacidade máxima de armazenamento
era de 4 Mb. Com o crescimento do mercado
de leitores áudio portáteis, e o aumento da ca-
pacidade de armazenamento dos discos rígidos
de computadores, as empresas que oferecem
serviços de e-mail tiveram igualmente de
aumentar a sua capacidade. Actualmente, os
Apple Tv chega à Europa

O novo produto da Apple, a Apple TV, deve come-


çar a ser comercializado no mercado europeu até principais concorrentes do Yahoo!, os também
ao final do mês de Abril.A distribuição da Apple norte-americanos Google e Microsoft
TV no mercado norte-americano iniciou-se no in- disponibilizam,respectivamente, 2,8 GB e 2
ício de Março, com resultados positivos. O novo GB de e-mail gratuito.
produto da Apple liga o computador à televisão,
sem quaisquer cabos, e possibilita a reprodução de Brasil leva banda larga a aldeias remotas
conteúdos multimédia em qualquer computador
ou televisão, sendo também possível a ligação a O Governo Federal do Brasil assinou um
um iPod.A Apple Tv irá ser comercializada a 299 acordo com instituições privadas para levar
euros, e possui internet de banda lagar e computadores a 150
um disco de aldeias remotas dos estados do Acre, Amapá,
40 Gb, capaci- Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Minas
dade de arma- Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Santa
zenamento pa- Catarina, Bahia, Rondónia e Sergipe.
ra 50 horas de Com esta iniciativa, o Governo brasileiro
vídeo, cerca pretende diminuir os obstáculos à inclusão digital
de nove mil no país, em particular nas zonas mais remotas das
músicas e comunidades indígenas e rurais. Cada centro
25 mil foto- informático irá ser composto por cinco
grafias. computadores com acesso à internet via satélite.

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ed.91 07/03/02 14:45 Page 85

[Agenda XXI]

MAIO, 2007 JUNHO, 2007

Lisbon Village Festival


Concurso de Fotografia de Corroios
Data: 7 a 24 de Junho
Envio de trabalhos até 16 de Maio
Local: Cinema São Jorge, Palácio Galveias e
Organização: Junta de Freguesia de Corroios,
Fundação Portuguesa das Comunicações
com o apoio da Câmara Municipal do Seixal
informações: lisbon.villagefestival.net/pt/home.aspx
Para mais informações: cfotografia.jf-
corroios.pt/index.htm
Curso Web 2,0: Introdução à blogosfera e uti-
lização de meios sociais, com José Luis
Curso Integrado de Venda de Media e
Orihuela
Publicidade
Data: 22 de Junho
Data: 24, 31 de Maio e 6 de Junho
Local: Lisboa
Local: Lisboa
Para mais informações:
Data: 14, 21 e 28 de Junho
ntime.formalpress@gmail.com
Local: Porto
Data: 5, 12 e 19 de Junho
Local: Leiria Falar de blogues com José Luis Orihuela
Para mais informações: geral.iacv@gmail.com Data: 22 de Junho
Organização: Universidade Autónoma de Lisboa, Local: Livraria Almedina, Atrium Saldanha, 19h
Formalpress e OED Consultores
Curso Web 2,0: Introdução à blogosfera, com
1º Workshop sobre Comunicação, Educação e José Luis Orihuela
Formação no Second Life Data: 23 de Junho
Local: Universidade de Aveiro Local: Porto
Data: 23 a 25 de Maio 2007 Para mais informações:
Para mais informações: ntime.formalpress@gmail.com
http://cefsl.blogs.ca.ua.pt/

JUNHO, 2007 SETEMBRO, 2007


Curso de Técnicas Base de Televisão 5º Congresso da SOPCOM – Comunicação e
Data: 1, 2, 8, 9. 15, 16 de Maio cidadania
Local: Porto e Lisboa Local: Universidade do Minho
Para mais informações: Data: 6 a 8 de Setembro 2007
cursos.cenjor@gmail.com Para mais informações:
Organização: Cenjor, com o apoio Media XXI www.5sopcom.uminho.pt

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ed.91 07/02/23 16:10 Page 86

[Último Olhar]

PSD quer privatização da RTP 1 O gigante norte-

NBC com planos para Portugal


americano de
O PSD está a preparar um projecto-lei pa- media, NBC
ra votação na Assembleia da República, Universal, tem
onde requer a privatização do canal 1 da actualmente um
RTP. Em ano de comemoração do 50º ani- plano de expan-
versário da emissora pública, o PSD quer são mundial, on-
voltar a levar à discussão a natureza do de se englobam
serviço público, embora não pretenda 23 países, entre
levar a votação esta proposta durante esta eles Portugal.
legislatura, dado que “seria obviamente Com este plano,
chumbada pela maioria socialista”, referiu a NBC Univer-
o deputado Agostinho Branquinho, em de- sal visa duplicar as suas receitas no segmento da
clarações à Lusa. Para o deputado social- televisão. A companhia apresentou oficialmente
democrata, é “duvidoso pedir aos a sua estratégia para vários países da Europa,
portugueses para continuarem a sustentar América Latina e Ásia, que passa pelo lançamen-
um canal generalista igual aos outros”. to de 20 canais por subscrição em 23 países.
A NBC Universal espera atingir o objectivo de
duplicar as suas receitas internacionais, num
espaço de dois a três anos. Na apresentação
deste projecto da NBC Universal International,
o seu presidente, Peter Smith adiantou que a
grupo norte-americano pretende investir
“centenas de milhões de dólares”, em particular
no lançamento de canais como o Universal Channel,
o Sci-Fi ou o 13Th Street Channel.
API critica alterações ao porte-pago
A Associação Portuguesa de Imprensa (API) teceu críticas à forma como
foram aprovadas as novas regras do porte-pago, que irão ditar a redução
do mesmo. Em comunicado, a API, presidida por João Palmeiro, referiu
que não irá haver nenhum período de adaptação ao novo regime de
porte-pago, que diminui de 90 % para 60 % o apoio aos custos de envio
por correio dos jornais regionais. Para a API, os jornais que já pagaram a
sua assinatura de 2007 irão ser os principais prejudicados. Os planos
iniciais da tutela passavam pela eliminação da comparticipação no envio
de jornais para territórios fora de Portugal, e pela criação de um portal
onde todos os títulos estariam disponíveis numa versão digital, mas o Go-
verno acabou por recuar nas suas intenções originais, aprovando uma
diminuição no porte-pago.A API não deixa de elogiar a manutenção do
subsídio à distribuição dos títulos regionais, mas deixa outras críticas à posição do Governo, como a supressão “das
ofertas de publicações destinadas a instituições de promoção de leitura”, como são as bibliotecas ou as escolas.
O recente lançamento do portal da Imprensa Regional também mereceu críticas por parte da API, que lamenta não ter
sido consultada sobre o mesmo, que foi então desenvolvido “sem qualquer consulta ou troca de informações”.

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