Вы находитесь на странице: 1из 2

Os espaços e a convivência

Túlio Madson Galvão

A vivência

A vivência exige a presença, para vivenciar é preciso estar presente. Mas nem tudo
aquilo que acontece quando estamos presentes torna-se uma vivência. Vivenciamos algo
que foi significativo, uma vivência é sempre algo que nos muda, nos molda.
Construímos quem somos através de nossas vivências, mas nossas vivências não são
regidas por um eu, por uma racionalização de quem somos. O ego consolida uma
vivência mas não interfere nela no momento do ocorrido. Vivenciamos sem o
intermédio de uma consciência racional, um ego, a vivência é mais próxima da paixão.
Uma ação tem sempre algo de planejado, intencional, consciente, mas a vivência só é
apreendida depois de experenciada. Quando estamos presentes e vivenciamos não
representamos nem problematizamos conscientemente esta experiência, apenas a
vivemos. Depois transformamos o vivido em vivência quando o simbolizamos e damos
a ele um sentido, embora nesta representação sempre há uma perca do vivido. A
vivência é mais próxima da paixão pela sua espontaneidade, já a ação envolve alguma
intencionalidade, alguma razão.

A convivência

A convivência é a possibilidade de uma vivência compartilhada. Para que se efetive é


preciso que as pessoas dispostas a conviver estejam presentes e que essa presença
conjunta seja significativa para ambos. Despidos dos códigos normativos que regiam de
modo arbitrário os espaços de convivência, passamos a encará-los com temor, de modo
mais racional, ponderado. O problema dos espaços de convivência é que neles não há
uma convivência, mas uma tolerância. As pessoas não estão presentes diante umas das
outras nos espaços de convivência, tornaram-se espaços para vivências pessoais ou de
pequenos grupos, ou ainda para acessar espaços de convivência virtual. O afeto do
medo permeia as relações nos espaços de convivência, toleramos o outro com
desconfiança, mas preferimos a reclusão nestes espaços, o outro é uma presença
incômoda, porque é estranha, alheia e desconhecida. Nesse sentido a convivência virtual
é mais segura, seus integrantes possuem mais afinidades, porém é menos vívida, porque
é menos presente e significativa. O convívio virtual é menos vivo, os espaços de
convivência virtual facilitam na mesma medida em que esvaziam as vivências
compartilhadas, tornando-as mais superficiais e homogêneas.

Os espaços de convivência

O abandono dos espaços de convivência reflete nossa incapacidade em interagir com


outras vivências. Colocamos uma tela entre nós e o outro, que pode ser bloqueado com
um toque, por isso prezamos o espaço virtual pela incapacidade de convivermos nos
espaços físicos. Nesta convivência intermediada por um algoritmo, uma inteligência
artificial, perde-se algo de humano, passional. Mais paixão e menos ação nos espaços de
convivência significa ser menos desconfiado e premeditado e mais presente e
espontâneo nestes espaços. Não adianta apostar em espaços físicos de convivência sem
um esforço para promover uma convivência efetiva nestes espaços. Do contrário os
espaços de convivência convertem-se em meros espaços de tolerância, onde suportamos
com alguma distância a presença do outro. As normas que regem os espaços de
convivência também devem preservar a espontaneidade das condutas e incentivar
relações significativas entre os que ali convivem. Garantir a segurança e promover a
vigilância destes espaços é necessário, mas não é o essencial. Quando esta vigilância
proporciona uma perca de espontaneidade e significabilidade ela deve ser repensada.

Conviver é mais do que sobreviver juntos.

Publicado originalmente em 17/10/2019 no site Carta Potiguar

http://www.cartapotiguar.com.br/2019/10/17/os-espacos-e-a-convivencia/

Вам также может понравиться