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Carlos Alberto da Silva Júnior

COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL

Juiz de Fora

2014
Carlos Alberto da Silva Júnior

COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL

Monografia de Conclusão de
Curso apresentada ao curso de
Direito das Faculdades Integradas
Vianna Junior como requisito parcial
à obtenção do título de Bacharel em
Direito. Orientador: Prof. Leandro
Bissoli.

Juiz de Fora

2014
Carlos Alberto da Silva Júnior

COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL

Monografia de Conclusão de
Curso apresentada ao curso de
Direito das Faculdades Integradas
Vianna Junior como requisito parcial
à obtenção do título de Bacharel em
Direito. Orientador: Prof. Leandro
Bissoli

Prof. Leandro Bissoli (orientador)

Faculdades integradas Vianna Junior

(banca avaliadora)

Juiz de Fora

2014
RESUMO

O Presente trabalho estabelece um estudo acerca da coisa julgada


inconstitucional, mostrando como a doutrina trata da existência dela em nosso
ordenamento, apresenta a teoria da relativização da coisa julgada, teoria esta
que apresenta a possibilidade de desconstituir a decisão judicial emanada de
grande injustiça e/ou que esteja em desacordo com valores, princípios ou
normas constitucionais. Neste sentido será desenvolvido um estudo baseado,
sobre tudo, na vasta doutrina existente, uma vez que, por se tratar de um
Instituto consagrado no Direito moderno, vários autores se manifestaram sobre
o tema. Será mostrado como a coisa inconstitucional pode ser um entrave à
nossa Lei maior, indo ao desencontro do princípio da efetividade normativa da
constituição, em contra partida, será mostrado também que, a relativização da
coisa julgada, poderá trazer consequências negativas, sobretudo no que tange
ao princípio da segurança jurídica. Fato é que o tema é muito divergente, e
necessita de discussões válidas para sua pacificação, o presente estudo
pretende, portanto, contribuir neste sentido.

Palavras-chaves: Processo civil. Coisa julgada inconstitucional. Teoria da


Relativização da coisa Julgada.
SUMMARY

The present work establishes a study on the matter adjudged unconstitutional,


showing how the doctrine treats her existence in our system, presents the theory
of relativity of res judicata, a theory that has the ability to deconstruct the
judgment emanating from great injustice and / or is at odds with the values,
principles and constitutional standards. In this sense one based study, about
everything, will be developed in the vast existing doctrine, since, because it is a
consecrated Institute in modern law, several authors have spoken on the
subject. Will be shown, as unconstitutional thing can be an obstacle to our
highest law, going to the mismatch of the principle of effectiveness of normative
constitution, matched against, will also be shown that the relativization of res
judicata may have negative consequences, especially regarding the principle of
legal certainty. Fact is that the theme is very divergent, and requires valid for
pacification discussions, the present study therefore aims to contribute to this.

Keywords: Civil Procedure. Res judicata unconstitutional. Theory


Relativization. Res Judicata.
SUMÁRIO
6

INTRODUÇÃO

De incontestável relevância para todos os sistemas processuais


modernos, a coisa julgada, ao lado do ato jurídico perfeito e do direito adquirido,
está totalmente ligado à ideia de um Estado Democrático de Direito.

Tal instituto tem o dever de gerar a segurança nas relações jurídicas-


sociais, dando assim, a estabilidade inerente a qualquer sociedade moderna.
Contudo, é sabido que os aplicadores do direito podem cometer equívocos ao
prolatar decisões, ou, o procedimento pode conter alguns erros e vícios.

Diante disso, está se tornando cada vez maior a provocação à tribunais


do país no sentido de analisar situações, onde já existem sentenças transitadas
em julgado, em que se discute a justiça e a constitucionalidade da mesma.

A esse movimento da desmistificação do dogma do instituto da coisa


julgada passou a ser conhecido como teoria da relativização da coisa julgada
inconstitucional, que consiste, basicamente, em rever situações onde, uma
sentença que afronta norma constitucional, possa ser revista e reavaliada, não
permanecendo, assim, mais no ordenamento jurídico, o que, para aqueles que
defendem tal teoria, seria um quebra direta à Constituição.

Um do enfoques do presente trabalho, é mostrar como a flexibilização da


coisa julgada inconstitucional seria encarada diante os princípios mais básicos
do direito, como o da segurança jurídica e o da razoabilidade e
proporcionalidade, e se, em caso de não aplicação, como seria permitir a
existência jurídica de uma decisão contrária à nossa lei maior, enfraquecendo,
dessa forma, o princípio da força normativa da constituição.

A partir do estudo histórico, mostrando como o direito germânico-romano


influenciou na forma pela qual conhecemos o instituto da coisa julgada nos dias
atuais, e conceitual, mostrando como a doutrina define e estabelece os limites
de referido instituto, o presente trabalho, através da pesquisa bibliográfica,
analisando e expondo doutrinas, julgados e nossas normas jurídicas, busca
abarcar os principais pontos do instituto ora estudado, mostrando como
doutrinadores consagrados abarcam o tema, e expondo a teoria de maior
controvérsia dentro do assunto, tal qual seja, a da relativização da coisa julgada
inconstitucional.
COISA JULGADA

O instituto da coisa julgada nasce com o objetivo de não perpetuar os


conflitos intersubjetivos, trazendo um caráter de imutabilidade às decisões
judicias, algo de suma importância, uma vez que há a necessidade do poder
estatal de compor as lides pela a aplicação do direito.

HISTÓRICO

Por uma retrospectiva história da coisa julgado no direito brasileiro,


podemos verificar grande influência do direito medieval, sendo possível apontar
de onde tais característica nasceram, qual seja, a grande influência do direito
romano-germânico em nosso ordenamento jurídico.

Traçando uma breve visão histórica, é possível visualizar que, no Direito


romano, o processo objetivava a atuação direta da vontade da lei em relação a
denominado bem da vida (res in iudicium deducta).

O processo romano, de um modo geral, girava em torno da sentença, no


qual se sacramentava a vontade concreta da lei.

Como bem nos traz CHIOVENDA (1998, p. 85) em relação à autoridade da


coisa julgada, os romanos a justificaram com razões muito práticas, de utilidade
social. Com o intuito de que, a vida social se desenvolva o mais possível segura
e pacífica, diante disso era necessário imprimir certeza ao gozo dos bens da
vida, e garantir o resultado do processo, entendendo-o como instituto público
destinado à atuação da vontade da lei em relação aos bens da vida por ela
garantidos.

Por sua vez, no direito germânico, o que prevalecia era o decidido pelas
chamadas ‘‘assembleias populares’’, ali ocorriam os julgamentos e o que fosse
decidido, pelo o povo, estava resolvido em definitivo, para os litigantes e para
toda a comunidade. Após a implantação dos juízes leigos, o conceito de
imutabilidade continuou intacto, não tendo se quer recursos.

Nasce assim, pelas mãos do direito germânico, o que passou a ser


chamado de validade formal da sentença, a sentença como uma atividade
jurisdicional, como ato de autoridade e externando a vontade do Estado.

Da fusão entre o direito romano e o germânico, preservou-se o princípio


da validade formal da sentença, contudo, aproveitou-se, do direito romano, uma
ação que tinha o intuito de corrigir os eventuais erros de fato da sentença, nos
casos em que, uma prova nova ou fato novo, contrariasse a verdade de sentença
anterior, a chamada restitutio in integrum.

Com a evolução do direito medieval surgiu a querela nullitatis, criada com


a finalidade de anular a sentença eivada de vício processual. Referida ação é
apontada como origem do que conhecemos como ação rescisória.

Assim, o direito romano-germânico, que influenciou o direito que


conhecemos hoje, transmitiu o princípio da validade formal da sentença, porém,
transmitiu também duas possibilidades de revisão da sentença: a restitutio in
integrum e a querela nullitatis.

Conceito

Após o momento em que é proferida a sentença terminativa ou definitiva,


inicia-se o prazo para a interposição do devido recurso, para que, o próprio
órgão jurisdicional, no caso dos embargos, ou outro órgão faça o reexame da
sentença prolatada.

O nosso sistema jurídico traz a previsão de um número limitado de


recursos e do momento certo para as suas interposições, de tal forma que em
determinado momento a decisão judicial tornar-se-á irrecorrível, seja por não
terem sido apresentados no prazo estipulado, ou por terem esgotados os
recursos previstos, tanto por um motivo quanto pelo o outro, é nesse momento
que ocorre o trânsito em julgado da decisão judicial, surgindo, assim, o
fenômeno da coisa julgada.

Portanto, após o esgotamento das possibilidades de que a declaração


judicial seja alterada é que surgirá a coisa julgada, adquirindo o seu caráter de
imutabilidade. Pelos ensinamentos de WAMBIER (2002, p. 217) é de natureza
processual o fenômeno da coisa julgada, pelo o qual, se torna firme e imutável
a parte decisória da sentença, que deve guardar simetria com o pedido
elaborado na peça inaugural. Decorre do princípio da segurança jurídica, pelo o
fato que, em certo momento, a ordem contida na sentença adquire solidez.

Alexandre CÂMARA (2004, p. 466) dispõe que “diversas são as definições


do fenômeno encontradas na doutrina, mas a dominante entre os
processualistas brasileiros é da de Liebman, segundo a qual a coisa julgada
deve ser considerada em dois aspectos: o formal e o substancial (ou material).
Assim sendo, chamar-se-ia coisa julgada formal a imutabilidade da sentença, e
coisa julgada material a imutabilidade de seus efeitos”

O importantíssimo princípio da segurança jurídica, trazido de forma


abstrata no art. 5º, inciso XXXVI, de nossa constituição, for levado ao mundo
dos fatos pelo instituto da coisa julgada. Princípio esse de suma importância
para a organização e pacificação da sociedade.

Alexandre de MORAES (2003, p. 106) dispõe que:


Na coisa julgada o direito incorpora-se ao patrimônio de seu titular por
força da proteção que recebe da imutabilidade da decisão judicial. Daí
falar-se em coisa julgada formal e material. Coisa julgada formal é
aquela que se dá no âmbito do próprio processo. Seus efeitos
restringem-se, pois, a este, não o extrapolando. A coisa julgada
material, ou substancial, existe nas palavras de Couture, quando à
condição de impugnável no mesmo processo, a sentença reúne a
imutabilidade até mesmo em processo posterior. Já para Wilson de
Souza Campos Batalha, coisa julgada formal significa sentença
transitada em julgado, isto é, preclusão de todas as impugnações, e
coisa julgada material significa o bem da vida, reconhecido ou
denegado pela sentença irrecorrível. O problema que se põe, do
ângulo constitucional, é o de saber se a proteção assegurada pela Lei
Maior é atribuída tão somente à coisa julgada material ou também a
formal. O art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal não faz qualquer
discriminação; a distinção mencionada é feita pelos processualistas. A
nosso ver, a Constituição assegura uma proteção integral das
situações de coisa julgada”.

O código de processo civil em seu artigo 467, nos traz que a decisão judicial só
passa a ser isenta de qualquer questionamento, apenas a partir do momento em que
não comporte qualquer tipo de recurso, interpretação que também pode ser retirada
do §3º do art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil

Barbosa MOREIRA (1998. Pg. 9) não identifica a coisa julgada nem com a
sentença transitada em julgado, nem com o atributo da imutabilidade que ela se
reveste, e sim com a situação jurídica em que passa a existir após o trânsito em
julgado. A decisão judicial transitada em julgado que confere um direito em
favor de um dos litigantes, consolida um estado jurídico que a torna imune a
discussões posteriores.

A coisa julgada possui dois aspectos que lhe dão sustentação: ela terá
configuração tão-somente em determinado processo ou, conforme o caso, em
outras relações processuais em que eventualmente se venha a discutir o que já
foi anteriormente decidido.

MODALIDADES DA COISA JULGADA


Como o direito brasileiro sofreu influência direta do direito romano, a concepção
de coisa julgado não poderia fugir na ideia original romana sobre tal instituto, sendo
assim, a posição dominante na doutrina brasileira se baseia na distinção que deve ser
feita entre os efeitos da sentença e sua possível imutabilidade, posição essa que veio
da ideia romana de que a sentença era a própria coisa julgada, e partir disso foram
desenvolvidas duas teorias: A primeira entendia que a coisa julgada como efeito da
sentença, adquirindo caráter de imutabilidade e de eficácia, e a segunda que via a
coisa julgada como característica dos efeitos da sentença ou da própria sentença,
imutabilidade essa que, não é um efeito da sentença, propriamente dito, mas uma
qualidade que pode ser agregado a esses efeitos.

Tem-se como coisa julgado, portanto, o caráter de imutabilidade adquirido


pelos efeitos da sentença ou da própria sentença, derivado do esgotamento das vias
recursais cabíveis. Liebman apud MARINONI (2006, p. 15-16) esclarece que “a
autoridade da coisa julgada não é o efeito da sentença, mas uma qualidade, um modo
de ser e de manifestar-se dos seus efeitos, quaisquer que sejam, vários e diversos,
consoante as diferentes categorias das sentenças.”

Não se pode deixar de falar que a própria Constituição da República


Federativa do Brasil de 1998 previu e definiu o fenômeno da coisa julgada,
inscrito no rol dos direitos fundamentais, art. 5°, XXXVI, o bastante para lhe dar
a proteção máxima da cláusula pétrea, nos termos do art. 60, § 4°, IV.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada;
Art. 60.
(...)
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir:
(...)
IV - os direitos e garantias individuais.
Nesse sentido, no ordenamento jurídico brasileiro, o instituto jurídico da
coisa julgada não poderá ser suprimido nem mesmo por emenda à Constituição,
vez que protegido pelo manto da cláusula pétrea.

Por sua vez, a coisa julgada, se apresenta através de duas modalidades: A


coisa julgada formal e a coisa julgada material. Para que se entendam as
consequências jurídicas advindas de cada relação, substantiva e processual, é de
grande importância que se estabeleça a distinção entre ambas.

COISA JULGADA FORMAL

Há clara necessidade de buscar cada vez mais um procedimento judicial sem


vícios, irregularidades e defeitos, a de não comprometer a credibilidade da tutela
jurisdicional, buscando sempre, a segurança jurídica. O desenvolvimento da relação
jurídico-processual faz necessário que condições e pressupostos deem validade ao
processo legal.

Neste cenário, pode-se dividir em termos gerais, a coisa julgada formal como
aquela decorrente do próprio trânsito em julgado de uma sentença, fazendo com que
o reexame seja impossível por parte do magistrado das questões decididas ao longo
da relação jurídica processual, caracterizando, para alguns doutrinadores, o fenômeno
da preclusão máxima.

Para Fredie DIDIER JR (2008, pag. 533)

A coisa julgada formal é imutabilidade da decisão judicial dentro do


processo em que foi proferida, porquanto não possa ser mais
impugnada por recurso – seja pelo esgotamento das vias recursais,
seja pelo decurso do prazo do recurso cabível. Trata-se de fenômeno
endoprocessual, decorrente da irrecorribilidade da decisão judicial.
Revela-se, em verdade, como uma espécie de preclusão, (...)
constituindo-se na perda do poder de impugnar a decisão judicial no
processo em que foi proferida. Seria a preclusão máxima dentro de um
processo judicial. Também chamada de ‘trânsito em julgado.

Podemos concluir então que a coisa julgada formal pode ser entendida
como a preclusão máxima dentro de um processo, pois é a irrecorribilidade da
sentença, fazendo com que o direito de provocar ou emitir uma nova decisão no
processo seja excluído por completo.

COISA JULGADA MATERIAL

Poderá ocorrer que, após serem, as condições e pressupostos de existência e


validade da relação jurídica, devidamente analisados, seja constatado pelo o órgão
julgador, irregularidade de formação da demanda o que levará também à coisa julgada
formal e, portanto, à necessidade de se adentrar ao conteúdo meritório com o intuito
de fazer valer o escopo máximo da atividade jurisdicional, tal qual seja, a pacificação
com justiça. Em hipótese descrita irá ocorrer o chamado coisa julgado material, como
bem nos deixa claro o texto de lei, Artigo 467 do Código de Processo Civil, ‘’
denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível
a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário’’ valendo-se
ressaltar que, tem como pressuposto lógico, a ocorrência da coisa julgada
formal.

É oportuna a definição de DIDIER (2008, pag. 534), de coisa julgada


material.

A coisa julgada material é a indiscutibilidade da decisão judicial no


processo em que foi produzida e em qualquer outro. Imutabilidade que
se opera dentro e fora do processo. A decisão judicial (em seu
dispositivo), cristaliza-se, tornando-se inalterável. Trata-se de
fenômeno com endo/extraprocessual. (...) Para que determinada
decisão judicial fique imune pela coisa julgada material, deverão estar
presentes quatro pressupostos: a) há de ser uma decisão jurisdicional
(a coisa julgada é característica exclusiva dessa espécie de ato
estatal); b) o provimento há que versar sobre o mérito da causa (objeto
litigioso); c) o mérito deve ter sido analisado em cognição exauriente;
d) tenha havido a preclusão máxima (coisa julgada formal)

Diante disto, tem-se que, o instituto da coisa julgada material foi concebido com
a clara finalidade de impossibilitar a fixação de demanda idêntica. Trazendo, assim,
uma eficácia processual marcante, que é a força vinculativa de eu caráter preclusivo
que se estende aos processos vindouros, fazendo com o que restou decidido
imperativo, criando a possiblidade de se aproveitar, em outra seara, o resultado obtido
no processo original, sendo válido citar os ensinamentos de José Arnaldo
VITAGLIANO (2008, pag.64-65), que diz que:

O fundamento da coisa julgada material é a necessidade de


estabilidade das relações jurídicas. A coisa julgada material, que é a
imutabilidade do dispositivo da sentença e seus efeitos, torna
impossível a rediscussão da lide, reputando-se repelidas todas as
alegações e defesas que a parte poderia opor aos acolhimento ou
rejeição do pedido. Na coisa julgada material, concentra-se a
autoridade da coisa julgada, ou seja, o mais alto grau de imutabilidade
a reforçar a eficácia da sentença que decidiu sobre o mérito ou sobre a
ação, para assim impedir, no futuro, qualquer indagação sobre a
justiça ou injustiça de seu pronunciamento. (...) Exauridos e resolvidos
os recursos manifestados contra a sentença, ou não sendo
manifestado nenhuma sentença transita em julgado. Com tal
ocorrência, operam-se dois fenômenos simultâneos. O primeiro é o
advento da coisa julgada formal, isto é, a sentença, como ato
processual, torna-se imutável dentro da relação processual. Este
fenômeno só se faz presente dentro do processo. O segundo
fenômeno é a formação da coisa julgada material ou substancial. Esta,
que tem como pressuposto lógico a coisa julgada formal, caracteriza-
se pela imutabilidade dos efeitos declaratórios, condenatórios ou
constitutivos da sentença de mérito, chamados principais, como
imutáveis também se mostram os efeitos secundários da sentença.
Tais efeitos - principais e secundários – adquirem uma qualidade, que
é a sua imutabilidade. Fala-se assim em autoridade da coisa julgada.

LIMITES DA COISA JULGADA

O instituto da coisa julgada apresenta alguns limites, eles podem ser divididos
em objetivos e limites subjetivos, veremos algumas peculiaridades sobre eles a seguir.
LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA

É sabido que a sentença é composta de três partes, relatório,


fundamentação e dispositivo, Iremos verificar agora qual dessas partes são
abrangidas pela coisa julgada.

Analisando nosso Código de Processo Civil, pode-se encontrar alguns


artigos que tratam dessa temática, como o 468: " A sentença que julgar total ou
parcialmente a lide tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas'',
e também o 128: " O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-
lhe defeso conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito à lei exige a
iniciativa da parte''. Ambos fazem referência aos ‘‘limites da lide’’, o que significa
dizer que, o juiz decidirá somente aquilo que foi pedido, pleiteado, e nada a mais,
e, é no dispositivo que o juiz se pronuncia a respeito do pedido, acolhendo-o ou
rejeitando-o. A sentença no seu dispositivo se liga ao pedido que, por sua vez,
se liga à coisa julgada. Assim, a coisa julgada se restringe ao dispositivo da
sentença.

Para não deixar dúvidas, o CPC elenca as partes da sentença que não
fazem coisa julgada:

Art. 469. Não fazem coisa julgada:


I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da
parte dispositiva da sentença;
Il - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;
III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no
processo.

Em miúdos, aquilo que não tiver integrado o objeto do processo, por não
ter sido objeto do pedido, não será abarcado pelo manto da coisa julgada. O
pedido, para ser válido e adequado, depende essencialmente da causa de pedir,
que é o que irá defini-lo e delimita-lo. Com isso, conclui-se que apenas aquilo
foi objeto de cognição judicial, será alcançado pelos poderes da coisa julgada.
Portanto, com o disposto no já citado art. 469, e no 470 ‘‘Faz, todavia,
coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a parte o requerer (arts. 5o e
325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir pressuposto
necessário para o julgamento da lide.’’ Pode-se afirmar que, o relatório e a
fundamentação, por não conter qualquer elemento decisório, não transitam em
julgado.

Em relação a isso MARINONI (2006, p. 625) dispõe que:

A imutabilidade, ínsita à coisa julgada, somente atinge a parte


dispositiva da sentença, na qual se estabeleceu a lei do caso concreto.
Todo o restante, ou seja, a fundamentação e o relatório, não restam
imutáveis. Vale dizer que, se proposta uma ação por alguém que se
supõe filho de outrem, para o fim de perceber deste alimentos, sendo
julgada procedente a pretensão, a única certificação que se torna
imutável é a do recebimento de alimentos, não se atingindo a afirmação
da condição de filho (que no exemplo dado, constitui mero fundamento
do pedido). Em ação subsequente, portanto, em que esse suposto filho
venha a habilitar-se a receber seu quinhão na herança do assim
considerado pai (após seu falecimento), nada impede que o magistrado
dessa ação entenda que aquele que se afirma filho não tenha direito à
herança (por não ser filho). Embora logicamente essas duas sentenças
possam ser antagônicas - na medida em que uma reconhece como
existente algo que a outra supõe não ocorrido – juridicamente elas não
têm defeito. As premissas estabelecidas pela primeira sentença não
transitam em julgado, não se tornam imutáveis, nem vinculam a
apreciação de outros juízes em casos futuros”.

LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

Os limites subjetivos, por sua vez, definem quem será o destinatário final
da eficácia jurígena produzida decisão transitada em julgado.

A importância de se estudar os limites subjetivos da coisa julgada é


identificar quais os sujeitos serão alcançados pela autoridade da coisa julgada
e, com isso, ficando impedidos de rediscutir, em demanda futura, o conteúdo de
determinada decisão.

Em nosso ordenamento jurídico, podemos verificar norma expressa que


define a regra geral concernente aos limites subjetivos da coisa julgada em
nosso sistema, qual seja, a do art. 472, CPC:
Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,
todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.

A finalidade da limitação da coisa julgada às partes atende ao valor da


justiça, na medida em que não seria justo obstar de discutir o conteúdo de uma
determinada decisão judicial em processo futuro, aquele que deste não
participou e, consequentemente, não pôde apresentar suas razões e influir na
formação do convencimento do Juiz. (MOURÃO 2008. p. 233)

Foram elaboradas diversas teorias objetivando justificar os limites


subjetivos da coisa julgada, entre elas , a teoria da representação de Savigny,
em que os efeitos da coisa julgada poderia alcançar terceiros , porque, estes,
estariam representados pela parte com a qual mantinham laços de
representação; a teoria dos efeitos reflexos da coisa julgada de Von Ihering,
também defendida por Wact, em que a sentença também produz efeitos diretos
entre as partes e efeitos indiretos ou reflexos em relação a terceiros; já para
Chiovenda, pode haver prejuízos, por parte de terceiros, podendo ser eles de
fato ou jurídicos. Prejuízo de fato é aquele que não afeta direitos de terceiros,
mas apenas interesses de ordem prática. Prejuízo jurídico seria aquele
decorrente do fato de a sentença reconhecer, à parte, direito incompatível com
direito de terceiro. Dessa maneira, o terceiro que sofresse prejuízo de fato não
poderia opor-se à autoridade da coisa julgada. Mas se a sentença transitada em
julgado causasse prejuízos de ordem jurídica a terceiros, estes não ficavam
subjugados pela autoridade da coisa julgada e contra ela poderiam se insurgir.
(VITAGLIANO, 2008, pag. 90)

Em nosso ordenamento jurídico prevalece o estabelecido no Art. 472 ‘‘a


sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando,
nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se
houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os
interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.’’
Porém, há casos em que terceiros podem ser beneficiados ou
prejudicados, é a chamada coisa julgada ultra partes, sendo aquela que seu
campo de alcance vai além das partes envolvidas na relação processual.

De tal forma, os efeitos da coisa julgada irão vincular terceiros. Exemplo


positivado é o previsto no art. 42, § 3°, CPC:

Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular,


por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes.
(...)
§ 3° A sentença, proferida entre as partes originárias, estende
os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.

Contudo, esse fenômeno somente ocorrerá se o terceiro adquirente não


suceder o alienante; se o terceiro ingressar no processo no lugar do cedente ou
intervier na qualidade de assistente (art. 42, § 2°, CPC).

No mesmo sentido temos como exemplo, a hipótese trazida por


MARINONI (2007, p. 417):

(...) a sentença que decreta o despejo de alguém opera efeitos,


indubitavelmente, perante o inquilino (que deverá deixar o imóvel), mas
também em relação à sua família (que o acompanhará), a seus amigos
(que haverão de reconhecer que aquela pessoa não reside mais naquele
determinado local), a seus credores (que, para cobrar dívidas quesíveis,
deverão procurá-lo em seu novo endereço) etc. Da mesma forma, tal
sentença atuará perante o sublocatário, que tenha, por hipótese,
alugado um quarto no imóvel alugado.

Mais uma hipótese onde a coisa julgada terá seus efeitos recaindo sobre
terceiros, é a prevista no artigo 274 do CC:
‘‘Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não
atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que
se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve’’.

Por fim, temos a coisa julgada com eficácia erga omnes, que é aquela qual
seus efeitos se estendem à todos os jurisdicionados, independente de terem
participado no processo, é o que acontece, por exemplo, na ação de usucapião
de imóveis e aquelas oriundas das decisões do Supremo Tribunal Federal,
através das súmulas vinculantes, em sede de controle abstrato de
constitucionalidade.

COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL

A nossa atual Carta Magna, garante, em seu artigo 5º, XXXVI, que o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, não serão prejudicados pela
a lei. Referido dispositivo legal não veda a atividade retroativa da lei, quando
expressa, ou a atividade retrospectiva da mesma, que decorre da sua aplicação
imediata, desde que não prejudique o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e
a coisa julgada. Vejamos que este dispositivo constitucional, não diz respeito
diretamente à questão da coisa julgada inconstitucional, e ainda coloca em
pauta um aspecto importante para a sua análise, o qual seja, a segurança
jurídica.

Quando temos a violação de uma norma constitucional, não podemos


salientar que a coisa julgada está calcada na segurança, estabilidade e certeza
jurídica, pois, diante de uma violação, seja ela direta ou indireta, à Constituição,
os princípios que mantém a coisa julgada não podem ser suficientes para
mantê-la de forma definitiva, pois, caso contrário, comprometeria a ordem de
todo um sistema.

Neste sentido José Augusto DELGADO 2004, (apud ROCCO ANTONIO,


2011, p. 15) diz que:
A coisa julgada é uma entidade definida e regrada pelo direito formal,
via instrumental, que não pode se sobrepor aos princípios da legalidade,
da moralidade, da realidade dos fatos, das condições impostas pela
natureza ao homem e as (...)a segurança jurídica da coisa julgada impõe
certeza. Esta não se apresenta devidamente caracterizada no mundo
jurídico quando não ostentar, na mensagem sentencial, a qualidade do
que é certo, o conhecimento verdadeiro das coisas, uma convicção sem
qualquer dúvida. A certeza imposta pela segurança jurídica é a que gera
estabilidade. Não se enfrenta a realidade dos fatos. A certeza é uma
forma de convicção sobre determinada situação que se pretende
objetiva, real e suficientemente subjetiva. Ela demonstra evidência
absoluta e universal, gerando verdade.

Portanto, para tocar na problemática da relativização da coisa julgada,


quando esta afronta norma constitucional, e se ter uma melhor compreensão do
tema proposto, é relevante que se faça a análise de alguns princípios que se
fazem presente na análise do instituto ora estudado.

PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

Um dos objetivos principais buscados pela sociedade através do Direito


é, sem dúvida, a estabilidade e clareza nas relações jurídicas-sociais, a
possibilidade de poder buscar a ordem social é dos componentes primordiais
do Estado Democrático de Direito, não poderia ser diferente, pois, é impossível
pensar em valores como a liberdade, dignidade, democracia e justiça em uma
sociedade onde não há um grau de segurança nas relações interpessoais.

Uma brilhante relação entre o princípio da segurança jurídica e uma


sociedade de direito é a estabelecida por ZIMMER, 1999 (apud Humberto
THEODORO JR, 2006, p. 100) da seguinte forma:

O princípio de segurança jurídica é um elemento essencial, como a


justiça (Gerechtigheit), do princípio do Estado de Direito e tem, por
conseguinte, como todos os elementos estruturadores da noção de
Estado de Direito, um valor constitucional. Isso decorre de uma
concepção teórica mais global da liberdade individual e da sociedade
liberal que é aquela onde se nutre a democracia. No seio desta
sociedade onde a liberdade individual se determina a ser um valor de
referência e onde o Estado de Direito se empenha a ser a garantia, a
segurança jurídica aparece como componente essencial de tal proteção.

Portanto, primordial, à uma sociedade de direito é a segurança jurídica,


tal princípio, segundo Humberto THEODORO JR,2006 (apud ALMEIDA e SOUZA
BRITO, 2010, p. 187) pode ser distinguido em dois sentidos, a saber, “a) a
segurança que deriva da previsibilidade das decisões que serão adotadas pelos
órgãos que terão de aplicar as disposições normativas; e b) a segurança que se
traduz na estabilidade das relações jurídicas definitivas.

Ainda nos ensinamento de Humberto THEODORO JR (2006, p 103):

O primeiro cuidado a ser tomado pelo legislador, para garantir


segurança jurídica aos indivíduos, é o da publicidade adequada, em que
se inclui o período de vacatio legis compatível com a necessidade de
conhecer a lei nova a tempo de adaptar-se aos seus preceitos
inovadores. Mas, acima da publicidade, há também, na consciência
jurídica italiana, a convicção de que é fundamental o problema ligado a
exigência de que os atos normativos sejam redigidos de modo a serem
compreensíveis pelos destinatários

Sendo assim, como não poderia ser diferente, podemos perceber o


cuidado do legislador com citado princípio em nosso ordenamento
constitucional, sendo materializado através dos institutos do direito adquirido,
ato jurídico perfeito e da coisa julgada.

De tal forma, ao estabelecer a Constituição da República de 1988, em seu


art. 5º, inciso XXXVI, que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada”, fez, o legislador, a clara externalização do princípio
em tela.

Dessa forma, vemos que tanto o legislador quanto os doutrinadores,


atribuíram o prestígio e cuidado devido ao tema, tendo em conta que o objetivo
do princípio é proporcionar uma estabilidade definitiva das decisões judiciais,
quer porque está excluída a possibilidade de recurso ou a reapreciação de questões
já decididas dentro do mesmo processo.
Princípio da constitucionalidade

É de competência da Constituição, identificar as fontes de produção normativa


determinando um parâmetro de validade e eficácia, tal encargo se origina da
consagrada pirâmide normativa, elaborado por Hans Kelsen no início XX, vindo a ser
hoje um dos postulados mais difundidos pela Ciência Jurídica.

Diante disso, veio a se tornar clássica no âmbito jurídico a assertiva


segunda a qual “contra a Constituição nada prospera, tudo fenece”

Baseado nessa concepção, temos um Direito formado por um conjunto de


normas jurídicas hierarquicamente superpostas, estando no primeiro escalão as
normas constitucionais, no segundo as normas legais e os atos com força de lei, e no
terceiro estão os atos administrativos, em miúdos, temos que as normas legais devem
ser produzidas em conformidade com a Constituição, assim como os atos
administrativos, os negócios jurídicos e as decisões judicias.

Diante disso, verificamos que todos os atos e normas emanados do


Estado, devem estar de acordo com a constituição, sendo assim, a decisão
judicial não ficaria de fora dessa regra, ainda mais, por, com previsão legal, ter
ela força de lei, mesmo que só nos limites da lide a qual ela pertenceu, como
preceitua o art. 468 do Código de Processo Civil (CPC): “A sentença que julgar
total ou parcialmente a lide tem força de lei nos limites da lide e das questões
decididas”.

Portanto, a obrigação de se firmar a total força vinculante dos dispositivos


constitucionais fez com que se criasse o princípio da constitucionalidade, atuando,
dessa forma, como grande assegurados da vontade política da nação, real fonte de
poder constituinte.

PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE/PROPORCIONALIDADE
Referido princípio é bastante discutido no tocante ao seu fundamento, alguns
doutrinadores defendem a inserção dele no âmbito dos direitos fundamentais, outros
entendem como uma derivação do Estado de Direito, existindo aqueles que ainda
dizem ser ele uma qualidade da regra da razoabilidade, pelo qual o juiz, em uma
análise do caso concreto, levando em conta a situação fática e os precedentes
jurisprudências, faz uma avaliação do comportamento humano razoável.

Sobre o assunto, VALESCHKA E SILVA BRAGA (2004, p.79-80) afirma que:

Para os jusnaturalistas, o princípio da proporcionalidade poderia ser


considerado um princípio de validade universal, não se restringindo aos
limites de determinado ordenamento jurídico. Seu fundamento de
validade é apontado pela doutrina nacional como sendo: o Estado de
Direito, o devido processo legal, o princípio da legalidade, o catálogo
geral dos direitos fundamentais, a unidade da Constituição ou mesmo
na conjugação desses critérios, enquanto Alexy o entende como
derivado da própria estrutura das normas jurídicas fundamentais.

Nas palavras de Leonardo de FARIAS BERALDO (2005, p.172), o princípio


da proporcionalidade pode ser entendido pela análise da:

[...] relação entre o fim e o meio com o sentido teleológico ou finalístico,


reputando arbitrário ato que não observar que os meios destinados a
realizar um fim são por si mesmos apropriados ou quando a
desproporção entre o fim e o fundamento é manifesta. Aquele em que
os meios e os fins devem ser equacionados, para se avaliar se o meio
utilizado é ou não proporcional em relação ao fim.

A doutrina pátria segue claramente uma tendência em considerar os


princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, ora equivalente, ora não, e
ainda um incluso no outro.

Embora os objetivos de ambos sejam semelhantes, a regra da


proporcionalidade se distingue da razoabilidade, pela sua forma, estrutura e
origem. (SILVA 2002, p 29)
Sobre tal ponto também se manifesta Leonardo de Farias BERALDO
(2005, p.172) no sentindo de que:

O princípio da razoabilidade pode ser entendido como a relação de


congruência lógica entre o motivo ou o fato e a atuação concreta da
Administração, que possibilita averiguar se o ato administrativo está
dentro da moldura legal. Princípio que serve de parâmetro à
interpretação das leis e aos atos da administração ao preconizar o bom
senso na aplicação do direito, apoiando a legalidade e o respeito à
Constituição.

E continua no tocante ao princípio da proporcionalidade:

É o que tem por objetivo a aferição da relação entre o fim e o meio com
o sentimento teleológico ou finalístico, reputando arbitrário ato que não
observar que os meios destinados a realizar um fim não por si mesmo
apropriados, ou quando a desproporção entre o fim e o fundamento for
manifesta. Aquele em que os meios e os fins devem ser equacionados,
para se avaliar se o meio utilizado é ou não proporcional em relação ao
fim. (BERALDO, 2005, p.172).

Toda via, a distinção ou não, de um ou de outro, não traz grandes


consequências fáticas.

PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO

É através de referido princípio que a nossa Lei Máxima ganha plena


eficácia. Deriva desse princípio a necessidade de se ter uma perfeita harmonia
na interpretação e aplicação do restante da legislação em relação à Lei
fundamental.

Diante disso, fica claro a necessidade dos direitos e garantias nortearem


a aplicação dos mais diversos ramos do Direito.

Neste sentindo, Adolfo Mamoru NISHIYAMA (2011, p. 215)

A resolução dos problemas jurídico-constitucionais que se apresentam


ao intérprete deve se dar mediante a garantia da maior eficácia,
aplicabilidade e permanência das normas constitucionais.
Consequentemente, deve-se dar prioridade às soluções interpretativas
que, compreendendo a historicidade das estruturas constitucionais,
possibilitem a atualização normativa, garantindo-lhe eficácia e
permanência.

De tal forma, tem-se que, o texto constitucional, como um todo, não deve
sofrer embates no momento de sua aplicação, devendo sempre prevalecer o seu
caráter de efetividade.

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

O atual debate acerca da relativização da coisa julgada é totalmente


justificável, uma vez que, os efeitos causados podem desastrosas, se tal
instituto for aplicado de maneira errônea.

A coisa julgada, é, talvez, a externalização mais forte do Princípio da


segurança jurídica, o qual garante a estabilidade decisões emanadas pelo o
Estado, não podendo tal decisão ser afetada por lei superveniente.

Porém, em alguns casos, o julgador pode proferir decisões, a priori,


inadequadas. Exemplo típico é o das as ações de paternidade, onde, é prolatada
uma decisão tornando improcedente o pedido, ou seja, expondo a não
vinculação de paternidade e, anos depois, o autor obtém êxito em um exame de
DNA, que confirme a referida paternidade anteriormente afastada pelo
Judiciário. Nesta situação, estará de um lado, a evidente injustiça em, apenas
com o intuito de fazer valer um instituto consagrado pelo Direito, impedir o
reconhecimento da paternidade, e do outro, se o julgador desconstituir a coisa
julgada, estará negando um forte pilar de nosso ordenamento jurídico.

Sem dúvida, a relativização da coisa julgada causaria certo abalo à


segurança jurídica, porém, maior prejuízo seria permitir a existência de um
julgado contrário à Constituição.
Desse modo, se mostra necessária a discussão acerca do tema, deve-se
procurar a existência de possibilidades para compatibilização da coisa julgada
inconstitucional e o princípio da segurança jurídica e outros princípios do
direito.

AÇÃO RESCISÓRIA

Ação rescisória é um dos instrumentos legais existente hoje para a não


perpetuação da coisa julgada eivada de vícios, contudo, ela tem alguns limites.

Limites esses estabelecidos pelo os artigos 485 e seguintes do CPC, que


trazem, entre outas, as hipóteses de cabimento, os quais sejam:

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser


rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção
do juiz;
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida,
ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar literal disposição de lei;
Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou seja provada na própria ação rescisória;
Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja
existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de
Ihe assegurar pronunciamento favorável;
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou
transação, em que se baseou a sentença;
IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da
causa;
§ 1o Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando
considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido.
§ 2o É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido
controvérsia, nem pronunciamento judicial sobre o fato.
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que
esta for meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os
atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.

Define, no artigo 487, os legitimados para propor referida ação


Art. 487. Tem legitimidade para propor a ação:
I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou
singular;
II - o terceiro juridicamente interessado;
III - o Ministério Público:
a) se não foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatória a
intervenção;
b) quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de
fraudar a lei.

Já o artigo 495 prevê o prazo de 2 (dois) anos, contados a partir do trânsito


em julgado da decisão. Prazo esse que, Marcelo CUNHA DE ARAÚJO (2007, p.
169), comentou da seguinte maneira:

O prazo é decadencial e não prescricional, conforme se depreende da


emenda que o Congresso introduziu no projeto do Min. 59 Buzaid, para
substituir a expressão “prescreve” por “extingue-se” no texto do art.
495. Não se dá, em face do caráter decadencial, a possibilidade de
suspensão ou interrupção do prazo extintivo do direito de propor
rescisória, ao contrário do que ocorre com a prescrição. Como, no
entanto, os prazos processuais não vencem em dias não úteis,
prevalece o entendimento na jurisprudência de que “concluído o prazo
para ingresso da ação rescisória durante as férias forenses, fica o
mesmo prorrogado até o primeiro dia útil seguinte ao término daquele
período”.

Sobre referida ação Pontes de MIRANDA (1976, p. 72)

Não se trata de um meio jurídico que julgue a prestação jurisdicional


apenas apresentada, como os recursos, e sim remédio jurídico para
exame da prestação já entregue, em casos que mais interessam à ordem
social que ao direito das partes.

Contudo, o que discutiremos aqui é a possibilidade da relativização da


coisa julgada sem o uso da ação rescisória.

POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS
Como todo tema polêmico, e esse não foge à regra, a doutrina é
divergente ao trata-lo, colocando, vários juristas e doutrinadores em lados
diversos.

Exemplo consagrado pela doutrina como fundamento à tese da


relativização é o da investigação de paternidade, cuja sentença, transitada em
julgado, declarou que o autor não é filho do réu (ou o inverso), vindo depois um
exame de DNA a demonstrar o contrário. Diante de tal fato, e com o intuito de
tornar rediscussão do que foi trazido pela sentença transitada em julgado,
argumenta-se que a indiscutibilidade da coisa julgada não pode prevalecer
sobre a realidade, e que assim deve ser possível rever a conclusão formada.
(MARINONI, 2009, p.3)

Importante é frisar que, a questão de ter a sentença graves vícios, para


ser desconsiderada independente da ação rescisória, não é relevante. Há muito
tempo, foi sustentado, a existência de sentenças nulas e inexistentes, que não
necessitaria de rescisão, por meio de ação rescisória própria, entendendo que
a sentença nula não prescinde de rescisão, cabendo ao juiz a própria
desconstituição. (PONTES DE MIRANDA, 1976, p. 74)

Sendo assim, o principal enfoque, nesse altura, é a reflexão acerca da


oportunidade de ter sentenças transitadas em julgado revista, sem a utilização
da ação rescisória, e, se tal possibilidade seria conveniente, levando em conta,
que isso acarretaria a aceitação de que a coisa julgada deva ser relativizada.

Adentrando às questões específicas, vale dizer que, ao se tratar da


questão de relativizar a coisa julgada, quer-se, relativizar a coisa julgada
material, uma que, é através dela que o Estado demonstra sua efetividade, nesse
sentido (MARINONI, 2009, p. 4)

Contudo, não é possível esquecer a razão pela qual a jurisdição foi, por
muito tempo, caracterizada pela coisa julgada material. Quando se
afirma que a coisa julgada material não deve ser vista como
característica fundamental da jurisdição, alude-se a provimentos que,
embora não contenham carga declaratória capaz de fazer surgir coisa
julgada material, são fundamentais para a efetividade da tutela dos
direitos, como aquele que põe fim ao processo cautelar. Porém, note-se
bem: entender que a coisa julgada material não é característica da
jurisdição não é o mesmo do que dizer que a jurisdição não deva zelar
pela coisa julgada material peculiar ao processo de conhecimento. A
coisa julgada material é atributo indispensável ao Estado Democrático
de Direito e à efetividade do direito fundamental de acesso ao Poder
Judiciário.

Pode-se perceber que relativização da coisa julgada eivada de


inconstitucionalidade é algo bem defendido pela doutrina, neste sentindo temos
uma interessante abordagem de Paulo OTERO (1993, p 93), fazendo o uso do
princípio da constitucionalidade da seguinte forma:

A ideia da defesa da segurança e certeza da ordem jurídica constituem


princípios fundamentadores de uma solução tendente a limitar ou
mesmo excluir a relevância da inconstitucionalidade como fator
autônomo de destruição do caso julgado. No entanto, se o princípio da
constitucionalidade determina a insusceptibilidade de qualquer ato
normativo inconstitucional se consolidar na ordem jurídica, tal facto
poderá fundamentar a possibilidade, senão a exigência, de destruição
do caso julgado desconforme com a Constituição.

O mesmo caminho, segue Humberto THEODORO JR (2006, p. 76-81) ao


afirmar que:

A coisa julgada não pode suplantar a lei, em tema de


inconstitucionalidade, sob pena de transformá-la em um instituto mais
elevado e importante que a lei e a própria Constituição. (...) a noção de
intangibilidade da coisa julgada, no sistema jurídico brasileiro, não tem
sede constitucional, mas resulta, antes, de norma contida no Código de
Processo Civil (art. 457), pelo que de modo algum pode estar imune ao
princípio da constitucionalidade, hierarquicamente superior (...)A coisa
julgada não pode servir de empecilho ao reconhecimento da invalidade
da sentença proferida em contrariedade à constituição Federal.

Tal questão, tem em seu favor, além do princípio da constitucionalidade,


outros três, o da instrumentalidade, da legalidade e o da proporcionalidade. Pelo
o princípio da instrumentalidade, o processo, quando encarado em sua
dimensão instrumental, somente estará exercendo sua função quando o
julgamento estiver sendo pautado pelos ideias de justiça e adequado à
realidade. Quanto ao princípio da legalidade, entende-se que, como poder do
Estado deve ser exercido nos limites da lei, não é possível pretender conferir a
proteção da coisa julgada a uma sentença alheia ao direito positivo. No tocante
ao princípio da proporcionalidade, sustenta-se que a coisa julgada, por se tratar
apenas de um dos valores protegidos constitucionalmente, não deve prevalecer
sobre outros valores que possuem o mesmo grau hierárquico. (MARINONI, 2006,
p. 87)

Também há aqueles que doutrinam em sentido diverso, se baseando no


fato de que seria temerário essa relativa sacarificação do princípio da segurança
jurídica, fundamentada no conceito de justiça, por se tratar esta, de algo muito
abstrato e que possibilita margem à várias interpretações, podendo, assim,
comprometer a própria função do poder judiciário, sendo assim, um critério
muito subjetivo e que poderia colocar em a segurança jurídica e,
consequentemente, o bem estar coletivo em risco, e ainda argumentam que a
própria lei, quando quer se valer da relativização da coisa julgada o faz
expressamente.

Neste sentido, DIDIER (2008, p. 442) se pauta na falta de definição de justo


e injusto, e que, diante disso, tal critério seria falho e inseguro:

Disto se extrai que a justiça depende dos costumes, do espaço, do


tempo e dos indivíduos, o que a torna demasiadamente volúvel para que
possa servir de fundamento à relativização da coisa julgada
principalmente tendo-se em vista que esta tem por objetivo assegurar o
princípio fundamental da segurança jurídica, sem a qual não se poderia
sustentar o ordenamento jurídico.

O mesmo, se pauta também no perigo de se basear uma teoria em


situações excepcionais, indagando as consequências que tal ato pode trazer:

Não se pode teorizar o absurdo casuístico e pontual. Explico: o


movimento da relativização da coisa julgada surgiu da necessidade de
revisão de algumas sentenças, que revelam situações específicas
marcadas pela desproporcionalidade. Situações particulares absurdas
não podem gerar teorizações, que são sempre abstratas, exatamente
porque são excepcionais. Pergunto: vale a pena, por que o absurdo
pode acontecer, criar, abstratamente, a possibilidade de revisão atípica
da coisa julgada? Não é correto criar uma regra geral por indução,
partindo-se de uma situação absurda. Admitimos a criação de regras
gerais por indução (a partir do caso concreto), o que, aliás, está
ratificado pela previsão constitucional da "súmula vinculante" (art. 103-
A, CF/88) e pela força normativa que se vem emprestando aos
precedentes judiciais. Mas a regra geral induzida parte de uma situação-
tipo, padrão, comum, trivial, prosaica; não de uma situação excepcional.
A coisa julgada é instituto construído ao longo dos séculos e reflete a
necessidade humana de segurança. Ruim com ela, muito pior sem ela.
Relativizar a coisa julgada por critério atípico é extermina-la. (DIDIER,
2008. p. 509)

O jurista e atual Ministro do STF Celso de Mello (2011, p. 1), faz sua crítica
quanto à teoria ora estudada, através de informativo constante no site do STF:

EMENTA: COISA JULGADA EM SENTIDO MATERIAL.


INDISCUTIBILIDADE, IMUTABILIDADE E COERCIBILIDADE:
ATRIBUTOS ESPECIAIS QUE QUALIFICAM OS EFEITOS RESULTANTES
DO COMANDO SENTENCIAL. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL QUE
AMPARA E PRESERVA A AUTORIDADE DA COISA JULGADA.
EXIGÊNCIA DE CERTEZA E DE SEGURANÇA JURÍDICAS. VALORES
FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.
EFICÁCIA PRECLUSIVA DA “RES JUDICATA”. “TANTUM JUDICATUM
QUANTUM DISPUTATUM VEL DISPUTARI DEBEBAT”. CONSEQÜENTE
IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DE CONTROVÉRSIA JÁ
APRECIADA EM DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO, AINDA QUE
PROFERIDA EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA
PREDOMINANTE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A QUESTÃO DO
ALCANCE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 741 DO CPC. MAGISTÉRIO
DA DOUTRINA. RECONHECIDO, PORÉM IMPROVIDO.
- A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída
mediante ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação
(ação rescisória) que haja sido proposta na fluência do prazo
decadencial previsto em lei, pois, com o exaurimento de referido lapso
temporal, estar-se-á diante da coisa soberanamente julgada,
insuscetível de ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre
fundamento em legislação que, em momento posterior, tenha sido
declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, quer em
sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de
constitucionalidade (...)A exigência de respeito incondicional às
decisões judiciais transitadas em julgado
traduz imposição constitucional justificada pelo princípio da separação
de poderes e fundada nos postulados que informam, em nosso sistema
jurídico, a própria concepção de Estado Democrático de Direito (...)Nem
se diga, ainda, para legitimar a pretensão jurídica da parte ora
recorrente, que esta poderia invocar, em seu favor, a tese da
“relativização” da autoridade da coisa julgada, em especial da
(impropriamente) denominada “coisa julgada inconstitucional”, como
sustentam alguns autores (...) Tenho para mim que essa postulação, se
admitida, antagonizar-se-ia com a proteção jurídica que a ordem
constitucional dispensa, em caráter tutelar, à “res judicata”. (...) A
pretendida “relativização” da coisa julgada provocaria consequências
altamente lesivas à estabilidade das relações intersubjetivas, à
exigência de certeza e de segurança jurídicas e à preservação do
equilíbrio social (...) O vírus do relativismo contaminará, fatalmente,
todo o sistema judiciário. Nenhum veto, ‘a priori’, barrará o vencido de
desafiar e afrontar o resultado precedente de qualquer processo,
invocando hipotética ofensa deste ou daquele valor da Constituição (...)
Ademais, os litígios jamais acabarão, renovando-se, a todo instante, sob
o pretexto de ofensa a este ou aquele princípio constitucional. Para
combater semelhante desserviço à Nação, urge a intervenção do
legislador, com o fito de estabelecer, previamente, as situações em que
a eficácia de coisa julgada não opera na desejável e natural extensão e
o remédio adequado para retratá-la (...)

Como visto, o tema é complexo, necessitando, portanto, de intensa


discussão, com argumentos e possibilidades claras, para o melhor
desenvolvimento do assunto.

CONCLUSÃO
Como visto no desenvolvimento do trabalho, o instituto da coisa julgada,
é suma importância, não só para o sistema jurídico pátrio, mas para todo os
sistemas modernos.

A perpetuação de conflitos era algo totalmente temerário, e foi para evitar


isso, que surgiu a ideia de coisa julgada, nosso ordenamento, como recebedor
de grandes influências do direito romano-germânico, abraçou por completo
essa ideia, fazendo referido instituto a manifestação clara do princípio da
segurança jurídica, tornando-o um pilar jurídico.

A coisa julgada, como instrumento de estabilidade jurídica, recebe


proteção constitucional, tendo portanto, evidente força, sendo, em alguns
casos, efetiva até mesmo para aqueles que não participaram da relação
processual, como já visto. É evidente a importância da ideia de estabilidade
jurídica em uma sociedade moderna, e essa é a função da coisa julgada, fazer
com que, diante da impossibilidade de alteração da sentença, o conflito tenha
decisão definitiva e conhecida pelas partes envolvidas, e que essas, saibam
exatamente que aquilo decidido tem caráter definitivo.

No entanto, existem aquelas decisões que, às vezes mesmo seguindo o


procedimento correto, não estão de acordo com as normas constitucionais, seja
por afrontamento direto à Constituição ou não, ou então, vão de desencontro
com o ideal de justiça, o fato é que, elas estão em trânsito em julgado, não se
enquadram nas hipóteses de cabimento da ação rescisória, e de alguma forma
estão em desacordo com o que prevê a nossa Lei Maior.

Diante disso, surge os defensores da teoria da relativização da coisa


julgada constitucional, usando do pressuposto que, permitir a existência de
uma decisão, estando esta em desacordo com a constituição, seria algo
inaceitável, pois, seria colocar tal decisão acima da Constituição Federal, o que
se tornaria uma aberração jurídica.

Por sua vez, a doutrina que é contrária a referida teoria, alega que, permitir
o reexame de decisões, pautando-se, em um conceito totalmente indefinido,
seria algo totalmente temerário, e de desencontro com os princípios basilares
do direito.

Fato é que, tal situação da relativização ou não, é muito delicada, coloca


de lados opostos princípios de grande importância do nosso direito, pode-se
justificar a aplicação da teoria fundamentando-se no princípio da força
normativa da Constituição, quando a decisão afronta nossa lei maior, por outro
lado, pode-se fazer uso do consagrado princípio da segurança jurídica para ir
contra tal teoria, mostrando que relativizar a coisa julgada além dos limites
previsto em lei, seria algo que traria grande insegurança nas relações jurídicas-
sociais.

Diante de todo o exposto, parece que o mais recomendado é a aplicação


da teoria forma restritiva, pois, não existe, ainda, um elemento concreto para
definir o que é justo ou não justo, o que está ou não em desacordo com a alguma
norma constitucional, em caso contrário, os resultados seriam muito mais
negativos do que positivos, pois, a busca pela decisão justa e de nenhuma
forma contraria a Lei Maior, pode falhar também uma segunda vez, causando
assim graves danos a esfera jurídica. Sendo assim, acredita-se que para a
possibilidade de total efetivação da teoria, deve haver um desenvolvimento
maior dos critérios de sua aplicação.
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