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Hannah Arendt, considerada uma das mais importantes filósofas políticas do

século XX, já consagrada e respeitada pela autoria da obra “As origens do


Capitalismo”, que versava sobre o fenômeno totalitário do século XX, e já
radicada no Estados Unidos, foi convidada pelo jornal estadunidense The New
Yorker, a ser jornalista correspondente no julgamento de Otto Adolf Eichmann,
criminoso nazista de guerra, ex-tenente-coronel da SS, capturado pelo serviço
secreto israelense na Argentina em maio de 1960, e levado para Israel. O
julgamento, considerado o mais importante desde os que aconteceram no
Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, ocorreu na Corte Distrital de
Jerusalém em 11 de abril de 1961.

Enquanto judia, tendo vivenciado na pele os terrores do nazismo e sendo


profunda conhecedora das atrocidades advindas da instituição desse regime, o
que se esperava é que Arendt pudesse narrar com riqueza de detalhes não só
toda as etapas dos julgamento, bem como fosse feita uma descrição coerente
com a imagem de monstro que todos imaginavam.

Diferente do que se esperava a filósofa ao invés de encontrar um homem de


crueldade aparente, se deparou com um sujeito normal, burocrata que a todo o
momento se utiliza de clichês para alegar inocência, justificando suas ações a
simples cumprimento de ordens dentro do Estado Totalitário instituído e que se
encontrava vigente.

Eichman não passava de um sujeito medíocre, de inteligência mediana, que


não questionava ordens, apenas as cumpria, sem nenhuma reflexão acerca das
conseqüências que tais ordens poderiam trazer aos indivíduos a quem se
destinavam. Apesar da aparente normalidade apresentada , ele era incapaz de
distinguir o bem do mal.

O mal exercido por Eichmann não era um mal radical, mas um mal banal, raso,
sem profundidade, um mal burocrático, que em nome do cumprimento da
ordem, foi capaz das piores atrocidades sem que isso representasse para ele
qualquer tipo de culpa ou constrangimento.

“Não estávamos interessados aqui na maldade,


que a religião e a literatura têm tentado
entender, mas no mal; não estávamos
interessados nos pecados e nos grandes vilões,
que se tornaram os heróis negativos na literatura
e que, geralmente, agiam por inveja e
ressentimentos, mas em todos os que não são
maldosos, que não tem motivos especiais e, por
essa razão, são capazes de um mal infinito; ao
contrário do vilão, eles nunca encontram sua
mortal meia-noite” (ARENDT, 2004, p. 256).

A banalização do mal encontra campo fértil nas sociedades massificadas, nas


quais as pessoas tendem a se sentir sem poder, solitários, submissos e quase
condicionados. Os homens sistematizam as suas obrigações e se tornam,
desse modo, incapazes de pensar as conseqüências das ordens dadas pelos
seus superiores ou grupos.

Ao relacionar o mal ao vazio reflexivo, Arendt aponta para uma possível compreensão da
violência nas sociedades contemporâneas. Nessas sociedades, o mal realiza-se na
banalidade, na injustiça e nas radicais práticas de violência contra apátridas, imigrantes,
mulheres, desempregados, índios, negros, crianças, idosos e a natureza.

Diante de tais fatos podemos nos questionar se estamos sendo


profundos o bastante? Estamos nos questionando?
Não estamos envolvidos em banalidades? Ou será
que ainda não somos como Eichmann apenas porque
ainda não encontramos a voz de um sistema que
pretende pensar pela gente? Ou será que essa voz já
surte efeito, mas no lugar de um sistema totalitário,
como foi no caso Eichmann, o que nos "imbeciliza"
dessa vez é a generalização das banalidades que nos
envolvem?
Para Hannah Arendt, o desumano se esconde em
cada um de nós. Continuar a pensar e interrogar a si
próprio e não sermos superficiais é a única condição
para não sermos tragados por esse mal.

Nós vos pedimos com insistência:


Nunca digam - Isso é natural –
diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão,
em que escorre o sangue,
em que se ordena a desordem,
em que o arbítrio tem força de lei,
em que a humanidade se desumaniza....
Não digam nunca - Isso é natural! –
Para que nada passe a ser imutável.
(Bertold Brecht)

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