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Crítico ao capitalismo verde, que anseia tornar o capital menos agressivo ao meio
ambiente, o cientista social brasileiro radicado na França, Michael Löwy, enfatiza que é
preciso reorganizar o modo de produção e consumo, atendendo às necessidades reais da
população e à defesa do equilíbrio ecológico. Michael Löwy é cientista social e leciona na
Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da Universidade de Paris.
Então, trata-se de destruir esse aparelho de Estado e de criar um outro tipo de poder.
Essa lógica tem que ser aplicada também ao aparelho produtivo: ele tem que ser, senão
destruído, ao menos radicalmente transformado. Ele não pode ser simplesmente
apropriado pelos trabalhadores, pelo proletariado e posto a trabalhar a seu serviço, mas
precisa ser estruturalmente transformado. É impossível separar a ideia de socialismo, de
uma nova sociedade, da ideia de novas fontes de energia, por exemplo.
As economias emergentes dos países do Sul, da Ásia, África e América Latina devem
se desenvolver, mas isto não significa copiar o modelo de desenvolvimento capitalista do
Ocidente e seu padrão de consumo insustentável. Trata-se de buscar outro modelo, um
desenvolvimento ecossocialista, baseado na agricultura orgânica dos camponeses e nas
cooperativas agrárias, nos transportes coletivos, nas energias alternativas e na satisfação
igualitária e democrática das necessidades sociais da grande maioria. O modelo ocidental
não so é absurdo e irracional, mas não é generalizável: se os chineses quisessem imitar o
American way of life, cinco planetas seriam necessários.
Já não é mais possível oferecer uma análise social completa ou minimamente consequente
sem falar da relação do ser humano com o seu entorno, com a natureza e as outras
formas de vida. Isso se dá, por um lado, devido à percepção da finitude material do planeta,
que se faz cada vez mais óbvia. A exploração daquilo que muitos chamam “recursos
naturais” tem um limite – o limite de sua existência. Logo, o pensamento ‘econômico’ de
crescimento linear infinito não pode se ajustar em um mundo finito, e precisa ser revisto,
principalmente, no que diz respeito à sua interface com o mundo natural.
O trabalho é, por definição, uma forma de intercâmbio dos humanos com a natureza.
Tudo que é produzido é natureza transformada. A produção deveria funcionar para a
satisfação das necessidades humanas, pois essa relação com a natureza é fundamental
para a própria manutenção da vida, porém, no capitalismo, que busca o lucro em tudo que
produz, essa relação com a natureza sofre modificações profundas. Cada vez mais, a
produção deixa de atender às necessidades humanas para manter ou aumentar os lucros
dos empresários.
– a temperatura da atmosfera se elevará pelo menos mais 1,8º Celsius além do que já
subiu, e alcançará entre 4º e 6,4º até o fim deste século. Caso se confirme essa elevação
da temperatura, 3,2 bilhões de pessoas sofrerão com a falta de água.
– a camada de gelo sobre o Oceano Ártico pode desaparecer totalmente até o fim do
século; a geleira existente na Groenlândia também desaparecerá em alguns milênios; e,
desde 1960, a cobertura de neve no mundo já diminuiu 20%.
– o aquecimento hoje é o pior em 20 mil anos e cinco dos seis anos mais quentes
ocorreram nos últimos cinco anos, causando secas e agravando a fome no mundo: entre
200 e 600 milhões de pessoas ficarão sem alimentos nos próximos 70 anos.
Sobre a causa dessas mudanças no clima, o relatório afirma que “é muito provável (90%
de chances) que as atividades humanas estejam fazendo a atmosfera esquentar desde
meados do século 20”.
Logo após a divulgação do relatório, os grandes meios de comunicação da burguesia
estamparam manchetes culpando o ser humano pelo aquecimento global. Mas que
culpa têm, pela existência de furações e tsunamis, os 900 milhões de pessoas que vivem
com fome no mundo, ou os 40% da população urbana da África que vivem com menos de
US$ 1 dólar (pouco mais de dois reais) por dia? Que responsabilidade têm, por essas
alterações climáticas, os 350 mil indígenas brasileiros que tiveram suas terras roubadas e
sobreviveram após cinco séculos de “civilização”? Qual a culpa dos dois bilhões de
pessoas que, jogadas na sarjeta pela burguesia, sofre com a falta d’água e vivem abaixo
da linha de pobreza? E os países que foram bombardeados – como o Iraque, o
Afeganistão e a Líbia – têm a mesma responsabilidade que os governos dos EUA e da
Inglaterra, que lançaram milhares de bombas sobre aquelas nações? Que culpa tem para
o aquecimento global um país como Cuba, que não possui nenhuma arma nuclear e
raciona o pouco petróleo importado, quando sabemos que os EUA já realizaram quase 2
mil testes nucleares e possuem mais da metade de todas as armas nucleares existentes
no mundo?
Questão Indígena
Enquanto 20% da floresta amazônica brasileira foi desmatada nos últimos 40 anos, as
Terras Indígenas na Amazônia Legal perderam, somadas, apenas 2% de suas florestas
originais.
A série Guerreiros da Floresta parece o enredo ideal para ilustrar as contradições do atual
cenário nacional, marcado por vozes que protestam contra a exploração dos madeireiros e
de grandes mineradoras, além dos interesses políticos justificados em nome do
“desenvolvimento”. Desde a chegada dos colonizadores europeus, há mais de 500 anos, o
Brasil acumula uma dívida em relação aos indígenas. Uma conta que ainda está longe de
ser fechada e que demanda como parte do pagamento um processo de reconhecimento,
escuta e visibilidade.
Nas vozes dos líderes Davi Kopenawa, Almir Suruí e Ninawa Inu Huni Kuin, das etnias
Yanomami, Suruí e Huni Kuin, respectivamente, é possível adentrar na cultura indígena
para além das referências particulares e perceber que, apesar das distâncias geográficas e
culturais que separam uma comunidade da outra e também do restante da população
brasileira, a luta pela preservação da natureza e da herança dos povos originários é, na
verdade, um compromisso de todos. Mas é no limite com as grandes produções de soja,
com a criação de gado e ao lado das zonas de garimpos expandidas sobre o território da
Amazônia que etnias como Yanomami, Huni Kuin e Suruí precisam reafirmar sua luta pela
conquista da terra, principalmente em estados como Roraima, Rondônia, Acre e Amazonas.
Ninawa, da etnia Huni Kuin afirma que as propostas do novo governo vão no sentido
contrário ao da preservação, soberania nacional e preocupação com a sobrevivência de
todos. “As ideias dele (Bolsonaro) são geradas a partir de interesses de alguns grupos, que
não entendem nada sobre a questão indígena”, afirma Almir Suruí. “Se o governo
entendesse a importância dos indígenas, das nossas comunidades para a humanidade,
jamais nos trataria dessa forma. O problema é que nós não temos um poder econômico
para poder bancar a campanha deles”, ironiza Ninawa.