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A polêmica “Bíblia White”

https://michelsonborges.wordpress.com/2019/04/11/a-polemica-biblia-white/

[Muitas pessoas têm perguntado nas redes sociais


se a recém-lançada “Bíblia White” se trata de uma
produção oficial da Igreja Adventista do Sétimo
Dia, uma espécie de tradução particular como a
Novo Mundo, das Testemunhas de Jeová. A
resposta é “não”, e quem explica tudo aqui é o
jornalista e estudante de Direito Davi Boechat, que
investigou o assunto. Esta é uma análise meramente
editorial e acadêmica, feita por um estudioso, como
se poderia fazer com qualquer outra publicação, e
nada tem que ver com a vida pessoal das pessoas
citadas. O próprio organizador da “Bíblia White”
fez críticas à “Bíblia de Estudos Andrews”, essa,
sim, distribuída oficialmente pela Igreja
Adventista.]

[Muitas pessoas têm perguntado nas redes sociais se a recém-lançada “Bíblia White” se trata de uma
produção oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma espécie de tradução particular como a Novo
Mundo, das Testemunhas de Jeová. A resposta é “não”, e quem explica tudo aqui é o jornalista e estudante
de Direito Davi Boechat, que investigou o assunto. Esta é uma análise meramente editorial e acadêmica,
feita por um estudioso, como se poderia fazer com qualquer outra publicação, e nada tem que ver com a vida
pessoal das pessoas citadas. O próprio organizador da “Bíblia White” fez críticas à “Bíblia de Estudos
Andrews”, essa, sim, distribuída oficialmente pela Igreja Adventista.]

Meses atrás, uma parceria entre movimentos dissidentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia resultou no
lançamento de um projeto audacioso: a publicação de uma Bíblia de estudos com notas de Ellen G. White,
algo inédito em língua portuguesa. A obra foi nomeada de “Bíblia White” e é resultado de uma parceria
firmada entre o Instituto Bíblico de Capitólio (IBC) e do Instituto de Agricultura de Evangelismo (IAGE),
ambos sediados no interior de Minas Gerais. As entidades, que andam de mãos dadas também em outros
projetos, têm em comum a defesa enfática da Teologia da Última Geração (TUG), que sustenta ideias
heterodoxas sobre os conceitos de pecado, salvação e perfeição cristã, dentre outros temas teológicos de
pouca flexibilidade para discussão.

A “Bíblia White” é um similar nacional da “Remnant Study Bible”, editada por norte-americanos alinhados
com a TUG e vendida nos Estados Unidos com edições em inglês e espanhol desde 2012. Como Bíblias de
estudo, ambas reúnem breves textos explicativos (nesse caso, citações de EGW) que correspondem a versos
bíblicos presentes na mesma página. O projeto brasileiro, entretanto, conta com uma considerável distinção.
Além das notas de White, a obra traz ainda uma tradução inédita da Bíblia em língua portuguesa.[1]
Nomeada Almeida Antiga (AA), a versão também foi preparada pela coalização IAGE/MV, algo pouco
comum quando o assunto são Bíblias de estudo.[2]

O lançamento da “Bíblia White” aconteceu em 2018, durante o Congresso MV, evento itinerante que reúne
seguidores da TUG no Brasil. A apresentação da novidade, que levou dois anos para ser preparada, foi feita
por Daniel Silveira, organizador do MV, fundador do IBC e um dos responsáveis pela preparação da “Bíblia
White”.

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O processo de impressão, realizado em uma gráfica no Paraná, foi narrado ao vivo através das redes sociais
por Silveira. No vídeo, ele chegou a afirmar: “Aulas de homilética, hermenêutica, exegese […] toda essa
sabedoria humana nos impede de encontrar as preciosas gemas da verdade”, uma indiscutível demonstração
de desprezo para com alguns dos conhecimentos envolvidos na tradução de uma Bíblia.

Com essa frase, Silveira fez uma declaração preocupante para alguém que encabeçou uma equipe editorial.
Em certo sentido, ele parece crer que a ignorância impulsiona a busca pela verdade. Talvez por essa razão
sinta-se habilitado para tal serviço. Para Silveira, o chamado para a reforma não acontece apesar da
incapacidade, mas por causa dela. A falta de conhecimento, para Silveira, é vantagem. Seguindo essa lógica,
o que diríamos de Lutero, um doutor em línguas bíblicas? Assim, proponho um bom lema para a Almeida
Antiga: “E não conhecereis as técnicas, a ignorância os libertará.”

A citação de Silveira, transcrita acima, me parece suficiente para que sejam levantadas dúvidas a respeito da
lisura e precisão da tradução Almeida Recebida, bem como de toda a “Bíblia White”. E é pela análise de tal
tradução que começo minhas avaliações dessa obra.

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TRADUÇÃO PRECÁRIA. O maior problema da “Bíblia White” está na tradução, produto de um trabalho
extremamente amador. Como visto acima, Silveira, um dos responsáveis pela obra, desdenha de métodos e
conhecimentos acadêmicos necessários para a tradução de uma Bíblia. Silverino Kull, diretor do IAGE,
segue a mesma linha do parceiro e rejeita também a validade dos estudos, especialmente os da área de crítica
textual, ciência que visa a reconstruir com o ajuntamento de evidências textos antigos que tiveram os
originais perdidos, caso da Bíblia. Em resposta às objeções levantadas na primeira versão deste texto – que,
para minha surpresa, circulou por todo o Brasil, apesar de inicialmente ter sido publicado em um grupo
fechado –, disse Kull: “Não importa o que a alta crítica ou os estudiosos e linguistas falem, o que prevalece é
a inspiração, e Ellen White disse que a King James foi sim a melhor tradução.”[3]

A afirmação de Kull, entretanto, encontra conflitos com uma declaração do Centro White a respeito das
traduções bíblicas utilizadas por Ellen: “Mesmo sendo costume de Ellen White usar a King James
Version, ela fez uso ocasional de outras traduções inglesas que estavam se tornando disponíveis em seus
dias. Contudo, ela não comenta diretamente sobre os méritos dessa ou daquela versão, mas fica claro pela
sua prática que ela achava desejável que se fizesse uso da melhor versão disponível da Bíblia. Por exemplo,
em seu livro A Ciência do Bom Viver, Ellen White empregou oito textos da English Revised Version (ERV),
55 da American Revised Version (ARV), dois da tradução de Leeser, e quatro de Noyes, além de sete
variantes marginais. Entretanto, em suas pregações, Ellen White preferia usar a linguagem da King James
Versionporque era a mais familiar para os seus ouvintes.”[4] Cabe dizer que a ERV e ARV não são baseadas
no Textus Receptus, ardorosamente defendido por Kull e Silveira, e foram, sim, utilizados por Ellen White.
Mais do que isso, diz o Centro White, a preferência de Ellen pela KJV seria por conta da familiaridade do
público, não de sua superioridade.

Kull e Silveira, que admitem não ter domínio ou familiaridade com as línguas bíblicas – e talvez por isso
desdenhem dos conhecimentos técnicos –, exaltam a suposta superioridade de sua Almeida Antiga (AA)
defendendo uma pretensa fidelidade superior, baseada no Textus Receptus, em detrimento das demais
traduções atualmente disponíveis em português. Silveira, aliás, citou nominalmente em vídeo as versões
publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) como não sendo confiáveis. Se considerado o Textus
Receptus como balizador para a qualidade, dentro do catálogo de versões disponibilizadas pela SBB, a
Almeida Revista e Corrigida, seria a mais próxima do ideal. Entretanto, mesmo tendo sido baseada
no Textus Receptus, utiliza-se de outros manuscritos em alguns trechos. Apesar disso, outras opções em
língua portuguesa preenchem tais requisitos. Feita inteira e exclusivamente a partir do Textus Receptus, a
Almeida Corrigida Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana, seria uma boa opção. Outra possibilidade seria a
tradução King James 1611, da BV Books. Ambas são traduções em nosso idioma que prezam pelo uso
exclusivo do Textus Receptus. Se esse fosse o critério, elas deveriam ser consideradas opções válidas para a
“Bíblia White”. Entretanto, em nenhuma delas poderia haver qualquer modificação, por mínima que fosse.
Assim, as “correções” criativas de Silveira (como em João 5:32) não seriam admitidas no texto. O uso
irrestrito do Textus Receptus, conforme exposto, não pode ser colocado como uma novidade trazida pela
Almeida Antiga.

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Cabe dizer ainda que a AA é resultado de uma comparação entre a tradução de Almeida (1848) e a King
James Version (1611), conforme dito pelo próprio Silveira na apresentação da Bíblia White, com algumas
correções ortográficas e mudanças realizadas por conveniência teológica, conforme será exposto mais
adiante. É possível dizer que a AA se trata de uma paráfrase, um arremedo de traduções. Não se trata de uma
versão proveniente do tão exaltado Textus Receptus, mas de traduções dele derivadas.

Outra afirmação questionável é a de que o Textus Receptus é o mais confiável de todos os manuscritos
disponíveis. Essa informação contraria eruditos da área. Michael J. Gorman, por exemplo, avalia que a KJV
foi baseada em manuscritos sabidamente menos confiáveis nos dias de hoje: “Desde 1611, muitos
manuscritos mais antigos e melhores da Bíblia foram descobertos, e a pesquisa moderna na área de crítica
textual […] nos deu uma base diferente de textos originais para traduzir do que a usada pelos tradutores da
KJV. Isso significa que uma exegese baseada nessa versão poderá, por vezes, analisar uma ou
mais palavras, frases ou versículos que não aparecem no texto original bíblico.”[5]

O erudito adventista Johannes Kovar, em artigo para o Instituto de Pesquisas Bíblicas da Associação Geral,
destaca a história do Textus Receptus para questionar o valor superestimado que lhe é atribuído. “Para a
publicação de seu texto, Erasmo [de Roterdã (1467-1536)] confiou em [apenas] seis manuscritos datados
dentre os séculos XI e XV [ou seja, cópias com afastamento superior a mil anos desde que o texto foi
escrito], estando bem ciente de sua qualidade inferior. Nenhum desses manuscritos era completo, e Erasmo
mudou o texto grego aqui e ali, frequentemente de acordo com a Vulgata Latina. Os manuscritos que
Erasmo usou, incluindo as anotações que fez neles, ainda existem, de forma que seu trabalho pode ser
analisado de maneira relativamente fácil.”[6]

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Também adventista, o brasileiro Wilson Paroschi afirma que com a descoberta de manuscritos mais antigos,
o trabalho de Erasmo em seu Textus Receptus perdeu espaço: “Apesar de os críticos ainda divergirem com
relação a algumas das teorias textuais, todos buscavam um texto que estivesse o mais próximo possível do
original e, nesse novo período, sob os mais violentos protestos, romperam definitivamente com o Texto
Recebido.”[7]

Em seu livro, Paroshi desmonta ainda algumas das argumentações de Silveira a respeito das diferenças entre
o texto da Almeida Antiga e traduções contemporâneas, tecnicamente chamadas de variantes textuais.
Silveira afirma que as novas traduções estão retirando trechos bíblicos inteiros e reage dizendo, também em
vídeo: “Nós queremos a Bíblia inteira, não adulterada, não cropada.” Ele dá Mateus 6:13 como exemplo de
texto bíblico “depenado” em versões modernas, mas que se encontra intacto na Almeida Antiga, dizendo
que o trecho “Porque Teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém” desapareceu.

Sobre o verso, entretanto, crítico textual afirma: “Na tradição protestante, a oração termina com a doxologia
‘pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém’, que está ausente na tradição católica. E parece
que esta é a que está correta, tanto que as modernas edições evangélicas da Bíblia já estão omitindo essa
leitura. […] As evidências documentais, portanto, sugerem que a doxologia do Pai-nosso consiste num
acréscimo posterior.[8] Em outras palavras, o trecho que Silveira reivindica, na realidade, não estava
presente nos originais bíblicos. A retirada consiste, portanto, em um texto mais fiel, e não menos, como
defendido por ele.

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INTERPRETAÇÕES DENOMINACIONAIS. Outro problema sério da tradução são os trechos editados


de modo a facilitar a utilização de textos-prova.[9] João 5:39 é um bom exemplo da criatividade mostrada na
AA. Nesse verso, houve uma mudança arbitrária no tempo verbal para favorecer a interpretação de que Jesus
teria recomendado o estudo da Bíblia, quando, na verdade, condenava a deturpação que era feita por
intérpretes que, mesmo estudando, não encontravam a Cristo. Na AA é grafado: “Examinai as Escrituras,
porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de Mim.” No vídeo de apresentação da
Bíblia, Silveira chama atenção para a mudança que fez no texto dizendo que sua mudança discorda até
mesmo das edições que ele usou como prova. Entretanto, mais uma vez Silveira errou. No grego, o verbo se
encontra na segunda pessoa do plural do presente do indicativo, não no imperativo. Jesus chamou Seus
ouvintes a constatar seus estudos nEle e não para que eles se aprofundassem em seus estudos. A fala de
Jesus tem que ver com a cegueira e não com a falta de conhecimento.

Outra mudança lamentável é a de Mateus 28:19. A ordem de Jesus com “Portanto, vão e façam discípulos de
todas as nações” (NVI) é traduzida por “Ide, portanto, ensinai todas as nações”. Silveira justifica tal
mudança dizendo que discipulado “tem a ver com coaching”, e que a tradução correta é “ensinai”, uma vez
que é assim que está na KJV. Mais uma vez Silveira pisa no Textus Receptus, no qual o verbo grego
encontrado aponta para o equivalente em português a “discípulos” e não “ensino”.

Com os exemplos supramencionados, pode-se ver que tais adaptações de conveniência adotadas nos textos
lembram muito a tradução Novo Mundo, das Testemunhas de Jeová. Temos, portanto, elementos abundantes
para reprovar essa tradução da “Bíblia White” com veemência.

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PODERIA SER DIFERENTE. Acredito que uma alternativa que daria algum ar de legitimidade ao
trabalho do IAGE/MV com a “Bíblia White” seria a publicação de um volume de comentários separados
dessa tradução trágica, como já foi feito no passado pela extinta Review and Herald (se bem que a
publicação de textos de Ellen White em novos volumes deve contar sempre com a aprovação dos
Depositários do Patrimônio Literário White). Ainda hoje esse material é vendido nos Estados Unidos.[10]
Isso não daria margem para interpretações incorretas no que diz respeito à falsa equidade entre os escritos de
White e a Bíblia.

Por fim, a Bíblia White apresenta-se com falhas graves provenientes de um trabalho editorial ineficaz.
Lamentavelmente, essa obra será recebida com tapete vermelho por alguns adventistas desavisados. Mal
sabem que se trata de um “cavalo de Troia”. Se não podemos confiar na tradução, o que dizer da compilação
dos Testemunhos realizada? Mas isso é assunto para outra oportunidade.

Davi Boechat trabalhou no Correio da Lavoura, Jornal de Hoje e Conecta Baixada, veículos da Baixada
Fluminense, na região metropolitana do Rio de Janeiro; atualmente cursa Direito na Universidade Iguaçu
(UNIG)

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Referências:

1. “Daniel Silveira, agricultor em Capitólio MG, começou seus trabalhos na “Bíblia White” em 2016,
partindo da versão Almeida Recebida, de domínio público. […] Em seguida foi feito um trabalho de
comparação e igualação à versão em inglês King James (KJV) de 1611 em grandes extensões do texto
bíblico, especialmente nos profetas do Antigo Testamento, por Daniel Silveira. Onde EGW lança luz
sobre um texto em que mesmo na King James de 1611 está errado, também foi efetuada a correção.”
Disponível em: http://bibliawhite.org/sobre

2. Em geral, editoras que lançam Bíblias para estudo optam por traduções consagradas e conhecidas no
mercado editorial, geralmente com o reconhecimento de sociedades bíblicas. A “Bíblia de Estudos
Andrews”, publicada pela Casa Publicadora Brasileira, por exemplo, utiliza a versão Almeida Revista e
Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil. A própria “Remnant Study Bible” é disponibilizada em duas
versões: além da clássica King James Version, que está em domínio público, conta ainda com uma edição
que utiliza a New King James Version, licenciada pela Thomas Nelson Publishers.

3. Esse texto é parte de uma mensagem enviada por Kull a Reginaldo Castro.
4. Centro White. “Ellen White usou outras traduções de Bíblia além da King James Version?” <disponível
em: http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-sobre-ellen-g-white/os-ensinos-de-ellen-g-
white/>

5. Introdução à Exegese Bíblica, p. 71, Thomas Nelson Brasil.

6. “O ‘Textus Receptus’ e as traduções modernas da Bíblia.” <Disponível


em: https://adventistbiblicalresearch.org/pt-br/materials/bible-canon-and-versions/o-%E2%80%9Ctextus-
receptus%E2%80%9D-e-tradu%C3%A7%C3%B5es-modernas-da-b%C3%ADblia>

7. Crítica Textual do Novo Testamento, p. 123, 124, Edições Vida Nova.

8. Para uma definição de hermenêutica texto-prova e sua influência no meio adventista, consulte o artigo de
Isaac Malheiros “Dicta Probantia: Uma Reflexão sobre o uso de ‘textos-prova’ na hermenêutica
adventista” <Disponível em: http://www.seer-
adventista.com.br/ojs/index.php/hermeneutica/article/view/495>

9. Ellen G. White Comments from the Seventh-day Adventist Bible Commentary <Disponível
em: https://www.adventistbookcenter.com/ellen-g-white-comments-from-the-seventh-day-adventist-
bible-commentary.html>
10. https://www.adventistbookcenter.com/ellen-g-white-comments-from-the-seventh-day-adventist-bible-
commentary.html

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