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A TEORIA DA FORMATIVIDADE VOLTADA PARA O PROCESSO


INVENTIVO EM SALA DE AULA POR UMA ESTÉTICA DO FAZER

Sara Cecília Cesca


sara.cesca@gmail.com
Universidade Estadual de Campinas

Jorge Luiz Schroeder


schroder@unicamp.br
Universidade Estadual de Campinas

Resumo: Fundamentado a partir da teoria estética do filósofo Luigi Pareyson, este


trabalho se apropriará de sua proposta para refletir sobre o processo formativo da arte
no contexto escolar. De maneira concisa, lançaremos um olhar para a obra de arte em
seu estágio inventivo com o intuito de investigarmos os problemas de ordem filosóficos
presentes na produção escolar. Uma vez desvelados os aspectos constitutivos desta
estética formativa, a luz do pensamento pareysoniano discorreremos sobre a importância
de conscientizar nossos alunos tanto para os problemas da arte - enquanto estágio
formante -, como também para o campo mais amplo da educação (vida) como um todo.

Palavras-chave: Estética. Teoria da formatividade. Educação Musical.

ESTÉTICA E FORMATIVIDADE: UMA BREVE APRESENTAÇÃO DOS


CONCEITOS.

Elaborada pelo filósofo Luigi Pareyson, a teoria da formatividade resulta


de uma pesquisa ampla e profunda voltada para o processo inventivo da obra
arte. Com ênfase na contemplação de todos os problemas filosóficos que
permeiam a obra em seu estado formativo, o autor Pareyson desloca o conceito de
estética, até então responsável por estudar os fenômenos do belo1 na arte, para
desvelar a beleza da obra de arte enquanto matéria formante. Nas palavras do
próprio autor, “era mais que tempo, na arte, de pôr ênfase no fazer mais que
simplesmente contemplar”. (PAREYSON, 1993, p. 9)

1 No período clássico a disciplina estética designou entre vários autores uma reflexão analítica da
experiência sensível e revelativa do gosto; neste mesmo contexto histórico, houve entre os alemães
uma tendência a compreender a estética não só como teoria da belo, mas também difundir uma
teoria geral da arte. Ao expandir o termo ampliando suas atribuições, no final do século XVIII a
estética passou a ser compreendida como filosofia da arte, e o filósofo Georg Wilhelm Friedrich
Hegel (1770-1831) foi o principal responsável por aprofundar esta abordagem. Assim sendo, é no
romantismo alemão que a estética enquanto disciplina filosófica ganhará forças para analisar a
arte (e a música em suas especificidades) como um objeto de reflexão cujo aprofundamento
pudesse levantar problemas filosóficos de primeira ordem.
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A partir desta abordagem estética, apresentaremos como educadores em


música uma proposta atenta e consciente destinada à produção artística em sala
de aula, isto é, a produção dos nossos próprios alunos.
A experiência estética vivenciada por Luigi Pareyson juntamente com
artistas em pleno ato criativo, foi decisiva para o autor refletir sobre o itinerário
deste fazer inventivo que se reinventa enquanto faz. Para o filósofo a estética
pressupõe, a priori, uma experiência com a arte. Com base na experiência que
funda e verifica a prática do pensamento dos filósofos acerca de diversos
assuntos, o conceito de estética será compreendido por Pareyson como um
instrumento investigativo e especulativo da obra de arte. Segundo o autor, tanto
a experiência filosófica como a experiência estética pressupõe como condição o ato
experiencial. Em suas palavras,

A filosofia como tal tem um caráter ao mesmo tempo concreto e


especulativo: suas afirmações só têm valor quando são o resultado
de uma reflexão sobre a experiência e somente se, quando nascidas
precisamente no contato com a experiência, conseguem fornecer
esquemas para interpretá-la e critérios para avaliá-la. Filosofia e
experiência estão inseparavelmente ligadas, e o círculo que entre
ambas se estabelece não é vicioso, mas extremamente fecundo, e
condição essencial para a validade do pensamento filosófico.
(PAREYSON, 1993, p.10)

Essa abordagem de Pareyson pode ser ainda associada ao exame filosófico


que Martin Heidegger propõe, especialmente em A Origem da Obra de Arte
(2005). Neste exame, Heidegger propõe uma filosofia onde o pensamento sobre a
arte e suas obras, independentemente da possibilidade de encontrarmos nelas
uma essência, deve ter como pressuposto fundamental a experiência de deixar a
obra em seu "puro-estar-em-si-mesma".
A partir desta concepção o autor dedicou seu pensamento à obra enquanto
processo inventivo, caracterizando-a em sua completude formante e formada.
Pareyson soube colher e perscrutar o espírito aventureiro do fazer inventivo e
realizativo presente no trabalho dos artistas. Em seu tratado a Teoria della
formatività, o autor distingue a obra de arte em duas categorias: a obra de arte
enquanto matéria formada (quando acabada) e matéria formante (enquanto
processo formativo). Podemos compreender estes dois estágios da obra de arte
como campo da criação e da recepção, e ao destacar as nuances e problemas do
aventureiro itinerário da produção artística, o autor ressalta que em ambos os
estágios a obra se constituirá em permanente “formação”, ora entre o diálogo
autor e obra, ora entre o diálogo obra e receptor.
A obra de arte em seu estágio formante pressupõe todo o processo de
realização e invenção pelo qual vive a obra; o mundo do autor se desvela na obra
que constrói, porém a própria matéria (escolhida pelo autor) possui leis que a
regem internamente proporcionando caminhos diferentes que fogem ao controle
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do autor, assim sendo, para compreender a obra de arte em sua totalidade


formante é fundamental que tenhamos ciência do aspecto inventivo, ou seja, “ela
é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer”.
(PAREYSON, 2001, p. 25) A obra de arte em seu estágio enquanto matéria
formada, diz respeito à obra em sua completude acabada. A partir deste estágio a
obra pertencerá ao campo das interpretações, suscetível às mais variadas
leituras. O campo da relação entre obra e receptor.
Ao compreendermos a estética enquanto fruto de uma experiência
artística, poderemos então afirmar, como educadores, que nossas aulas de música
são verdadeiros laboratórios geradores de estética, tanto da obra em seu estágio
formante como formada. Na maioria das vezes, as obras que compõem o cenário
das salas de aula, são criações dos próprios alunos. Levando em consideração as
práticas de ensino que valorizam as atividades de composição, interpretação,
apreciação, entre outras, poderíamos então concebê-los (alunos) como verdadeiros
compositores, intérpretes, estetas ou críticos? Se a estética é filosofia da arte, será
que nós a exercitamos em sala de aula? No próximo sub-capítulo deste artigo Por
uma estética na educação musical retomaremos estas questões.
Baseado nos estudos pareysonianos que elegemos como guia para a nossa
reflexão acerca do ensino musical, o caráter filosófico que sustenta o conceito é
uma espécie de último desdobramento das tendências surgidas na primeira
metade do século XX2. Oriundo de concepções que compreendem a estética
enquanto investigação dos problemas filosóficos da arte, Luigi Pareyson buscará
delimitações para o termo, afirmando que,

A estética é e não pode deixar de ser filosofia; melhor, só pode


salvar-se na sua autonomia – sem reduzir-se a crítica, ou a
poética, ou a técnica – sob condição de apresentar-se como
indagação puramente filosófica, isto é, como reflexão que se
constrói sobre a experiência estética e, por isso, não se confunde
com ela. (PAREYSON, 2001, p. 4)

Em suma, segundo o referido autor, a estética é compreendida como uma


teoria especulativa designada para desvelar as singularidades da obra de arte e
sua teoria da formatividade uma estética voltada para o fazer. Podemos deduzir
de seu pensamento, que o caráter não normativo da abordagem estética
possibilita um encontro sem barreiras entre obra e apreciador, como também
entre autor e obra. Nestes encontros a estética "tem a incumbência de dar conta
do significado, da estrutura, da possibilidade e do alcance metafísico dos
fenômenos que se apresentam na experiência estética". (PAREYSON, 2001, p.4)

2Uma hermenêutica dos problemas mais gerais da Arte e das obras de Arte, que enredam numa
ontologia cujas especificidades são delimitadas pela busca da origem e da essência na Arte. Tais
aspectos foram desdobrados principalmente a partir do pensamento de Heidegger e Gadamer,
culminando com as distinções conceituas mais específicas de Pareyson.
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Podemos compreendê-la como um ramo da filosofia, ou mesmo a própria filosofia.


Quando nos dispomos, por exemplo, a reconhecer numa produção artística
aspectos técnicos, históricos ou estruturais, segundo Pareyson, adentramos no
campo da poética, ou seja, delimitamos nossa experiência no que diz respeito às
ferramentas do autor, da crítica ou do historiador3. Assim sendo, a estética e a
poética diferenciam-se na abordagem pareysoniana, sendo a estética
caracterizada por sua essência reflexiva, experimental e contemplativa da obra,
contrária à poética, que legisla preceptiva e sistematicamente em relação à
mesma. Após esta breve explicação que remonta à origem teórica da nossa
abordagem, seguiremos expondo nossas reflexões, direcionando-as para a
educação musical.

POR UMA ESTÉTICA NA EDUCAÇÃO MUSICAL.

A educação estética pressupõe uma experiência artística pautada num


diálogo especulativo com a arte de maneira geral. Antes de adentrarmos os
aspectos constitutivos da obra enquanto processo inventivo no contexto escolar
conforme discorremos nos parágrafos anteriores, apresentaremos de maneira
geral, o modo como compreendemos uma educação musical estética.
Contemplar o belo em arte proporciona admiração e atrai olhares, porém a
atitude filosófica transcende o mundo das meras coisas (cf. A origem da obra de
arte do filósofo Martin Heiddeger) de maneira que o diálogo, a observação e a
reflexão em torno da obra de arte aprimoram e elevam as indagações do ser
humano para além da arte, isto é, para a o desconhecido da vida como um todo.
De acordo com o pesquisador Gabriel Perissé, “a postura filosófica nos incita a
perguntar de novo e sempre, quantas vezes for preciso, em que, afinal, consiste a
beleza. Atitude que nos ajuda a descobrir novas belezas, a desenvolver, ampliar e
aperfeiçoar nossa visão estética”. (PERISSÉ, 2009, p.26) Numa aula de
apreciação musical, por exemplo, poderíamos selecionar algumas obras musicais
do gênero canção e convidar nossos alunos para refletir sobre a beleza de algumas
canções interpretadas, como por exemplo, por João Gilberto, Cego Oliveira, Take
6, Canções sinfônicas de Mahler, Milton Nascimento, Dorival Caimmi ou Elomar;
para tanto, a experiência estética na qual reside a nossa abordagem, consiste
num ensino que possa saber questionar a obra, saber perscrutá-la, saber ouvi-la;
sua aplicabilidade pressupõe em alfabetizar aquele que aprecia tanto para a
sonoridade rústica da rabeca do intérprete Cego Oliveira, como para o violão
orquestral do intérprete e compositor Elomar Figueira de Mello, “fazendo-nos

3O pensamento filosófico de Pareyson é especialmente fecundo no que diz respeito à possibilidade


e utilidade de distinções conceituais mais profundas. É o caso de sua abordagem sobre a arte,
onde poética (que pode ser compreendida dentro da concepção aristotélica da poiésis/ποιεσισ) se
distingue de estética.
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pensar o quanto de contemporâneo há no que é clássico, e de clássico no que é


contemporâneo”. (PERISSÉ, 2009, p.29)
Um ensino musical conduzido pela estética no sentido filosófico é aquele
que, primeiramente, tem à frente um professor consciente dos problemas da arte,
reflexivo e atento à construção do processo artístico dos seus alunos. Poderíamos
ser interpelados no seguinte sentido: Quais são os problemas que envolvem a
obra de arte e quais seriam as contribuições do conhecimento destes problemas
para vida do aluno? Pois bem, em primeiro lugar, as dificuldades pelo qual passa
o autor tentando, corrigindo e refazendo a obra é uma experiência presente em
qualquer atividade humana; o diálogo com a matéria (neste caso o material
musical) no sentido de respeitar seus limites; a perseverança no longo processo
que consiste a criação do insight até a obra terminada; a obra acabada e os
problemas que envolvem a fidelidade ou liberdade da execução são alguns
problemas levantados pela estética pareysoninana e que podem ser trabalhados
de maneira reflexiva entre os alunos. Assim sendo, cientes destes
desdobramentos que perpassam o fazer artístico, consideramos nossos alunos
como legítimos compositores, intérpretes, estetas e apreciadores, pois verificamos
que embora suas invenções, interpretações ou apreciações muitas vezes pareçam
ingênuas ou sem valor artístico, baseados na teoria da formatividade
constatamos que no fazer ou no pensar ainda incipiente dos nossos alunos, o
processo inventivo que orienta um adulto é o mesmo que as orientam. De acordo
com Pareyson, a formatividade está presente em toda operosidade humana, e
para afirmar este pensamento destacaremos um trecho da obra Imaginação e
criação na infância do autor Vigotski:

Da mesma forma, a criação, na verdade, não existe apenas quando


se criam grandes obras históricas, mas por toda parte em que o
homem imagina, combina, modifica e cria algo novo, mesmo que
esse novo se pareça a um grãozinho, se comparado às criações dos
gênios. Se levarmos em conta a presença da imaginação coletiva,
que une todos esses grãozinhos não raro insignificantes da criação
musical, veremos que grande parte de tudo o que foi criado pela
humanidade pertence exatamente ao trabalho criador anônimo e
coletivo e inventores desconhecidos. (VIGOTSKI, 2009, p.15)

A relação que permite o diálogo e a reflexão entre aluno, processo criativo e


obra “formada” (seja ela de outro autor ou sua própria criação), estimula não só a
criação do ser humano, mas sua conduta e aprimoramento para a o desconhecido
da vida como um todo. Nas palavras do pesquisador Gabriel Perissé sobre
estética e educação, a atitude filosófica

(...) reflete sobre a beleza, faz nos pensar detidamente sobre ela,
(descobrindo novas nuances de beleza, descobrindo que há beleza
até mesmo em realidades não tão belas...) faz-nos distinguir suas
qualidades, problematizá-la, levantar hipóteses a respeito de sua
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apreensão, faz-nos desejar produzir outras belas em resposta


àquele estímulo. (PERISSÉ, 2009, p. 25)

O fazer musical pressupõe o pensar sobre a obra, assim sendo, pensamos


que o pensar também consiste no fazer da obra. O primeiro passo nesta
caminhada reside na conscientização de que a imposição das nossas "respostas
corretas" e a concepção informativa de ensino impede que nossos alunos pensem e
descubram por meio de seus próprios caminhos. A experiência estética "se
devidamente questionada, há de mostrar, ela mesma, e destacar no seu imenso
âmbito os aspectos ou as regiões que têm um caráter estético ou artístico"
(PAREYSON, 2001, p. 20). Alcançaremos alunos reflexivos, criativos e
criticamente autônomos tanto para a arte como para a vida através de perguntas
e não de respostas prontas e para que isto aconteça, é preciso que professores e
alunos tenham coragem de saírem de suas “zonas de conforto” mergulhando na
experiência sem medo do diferente4.
Qualquer atividade musical pode ser passível de uma abordagem estética.
Uma aula de instrumento, que requer instruções técnico-operacionais para o
manuseio do mesmo, pode ser também guiada por um pensamento filosófico5. De
acordo com Pareyson, "seja qual for a atividade que se pense em exercer, sempre
se trata de colocar problemas, constituindo-os originalmente dos dados informes
da experiência, e de encontrar, descobrir, ou melhor, inventar as soluções desses
problemas". (PAREYSON, 1993, p. 21)

A ESTÉTICA ENQUANTO FERRAMENTA PARA UM ENSINO DO FUTURO.

(...) o ensino do futuro não estará lastreado nas respostas, mas nas
perguntas. Aprender a formulá-las é essencial. Na lição de
Saramago, 'tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o
tempo das perguntas'. (GERALDI, 2010, p. 95)

A partir da afirmação do autor acima citado, pensamos que um ensino


pautado em perguntas possa contribuir para o futuro dos nossos alunos em várias
categorias do conhecimento, não esperamos resultados que os qualifiquem como
excelentes músico ou críticos de arte, mas como humanos criativos para a vida;
na citação abaixo podemos confirmar através das palavras do cientista e
pesquisador Marcelo Gleiser, as contribuições de um pensamento especulativo:

4 Isso pressupõe a possibilidade da inserção das manifestações musicais de qualquer cultura sem
levar em consideração os preconceitos em relação as identidades nacionais. Abre a possibilidade
das abordagens sobre a música contemporânea erudita ocidental, freqüentemente despreza pelos
educadores.
5 Sobre exemplos de construção e formatação de aulas (de instrumento, apreciação musical,

história da música) pautadas pela proposta de uso da estética, dentro da concepção que aqui
estamos propondo, conferir um outro artigo de nossa autoria, chamado Era um rabisco e pulsava
(publicado nos anais de 2011 da ABEM )
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A ciência vai muito além da sua mera prática. Por trás das
fórmulas complicadas, das tabelas de dados experimentais e da
linguagem técnica, encontra-se uma pessoa tentando transcender
as barreiras imediatas da vida diária, guiada por um insaciável
desejo de adquirir um nível mais profundo de conhecimento e de
realização própria. Sob esse prisma, o processo criativo científico
não é assim tão diferente do processo criativo nas artes, isto é, um
veículo de autodescoberta que se manifesta ao tentarmos capturar
a nossa essência e lugar no Universo. (GLEISER, 1997, p. 17)

As propostas educativas que prezam por uma aprendizagem humana e


criativa, que valorizam e respeitam o processo construtivo dos alunos, são
concepções de ensino que favorecem o diálogo e a aceitação. Nestes ambientes
escolares em que a prática reflexiva tem valor podemos afirmar que são espaços
em que há lugar para uma educação estética.
Diariamente, nós professores de música, lidamos com a arte e seus
desdobramentos em sala de aula. Autores de diferentes estilos e épocas e autores
como nossos próprios alunos, compõem o conteúdo geral do trabalho; é por esta
razão que apropriamo-nos da estética pareysoniana para que pudéssemos
capacitar nossos alunos a pensar sobre arte, e também sobre suas próprias
produções artísticas. Nossa preocupação é a de instrumentalizar nossos alunos
para o saber musical através dos problemas da estética e da arte. De acordo com
Pareyson,

A estética é constituída deste dúplice recâmbio ao caráter


especulativo da reflexão filosófica e ao seu vital e vivificante
contato com a experiência: não é estética aquela reflexão que, não
alimentada pela experiência de arte e do belo, cai na abstração
estéril, nem aquela experiência de arte ou beleza que, não
elaborada sobre um plano decididamente especulativo, permanece
simples descrição. (PAREYSON, 2001, p. 8)

É importante que o professor atento aos problemas da arte atue como um


mediador propositalmente especulativo, isto é, levantando questões que possam
aguçar e direcionar o aprendizado de maneira filosófica, porém sem
"conceitualizar" ou induzir o aluno com questões históricas ou sociais dadas a
priori. Acreditamos na capacidade de imaginação e fruição do aluno, no entanto,
devemos ter consideração e respeito ao seu pouco tempo de experiência vivida, o
que resulta numa habilidade filosófica em estágio embrionário.
Assim sendo, quando é apresentado ao aluno um determinado repertório
para ser apreciado ou executado durante a aula, acreditamos que neste primeiro
contato com o novo, é preciso que o professor tenha cuidado para que suas
reflexões pré-concebidas não vençam como regras absolutas que possam
contaminar o momento contemplativo do aluno. Acreditamos na constituição do
desenvolvimento humano mediado pelas relações sociais e experiências coletivas
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e, para tanto, defendemos que o professor reflexivo, ou seja, o professor que


conduz seu trabalho pelo viés da estética deve conduzir seu trabalho com bases
especulativas, isto é, com indagações, dúvidas e perguntas, pois “a arte educa na
medida em que, atraindo nossa visão, encantando nossa audição, agindo sobre
nossa imaginação, dialoga com a nossa consciência”. (PERISSÉ, 2009: 36)
Por meio do questionamento o professor é capaz de gerar entre o aluno e o
objeto de estudo (a obra de arte) experiências substanciais e fecundas, suscitando
um espírito crítico, especulativo e criativo, de modo que possa transcender
conhecimentos cultuados pelo senso comum.
Em se tratando de educação musical, compreendemos que a estética é uma
das chaves da qual precisamos para adentrar nos problemas da arte e
transcender seus limites. Nas palavras de Vigotski, "quanto mais rica a
experiência da pessoa, mais material está disponível para a imaginação dela".
(VIGOTSKI, 2009, p. 22). Assim sendo, podemos conduzir nossos alunos através
de vivências filosóficas, desenvolvendo um espírito especulativo e imaginativo
para a vida. Segundo Perissé,

A experiência estética (todo o estudo pode converter-se em


experiência de beleza) torna-nos mais confiantes no poder criativo
do ser humano, em nossa capacidade para admirar belezas, ansiar
verdades, realizar coisas boas. E, pensando bem, até mesmo
reconhecer o que há de perverso na vida humana (perversão é a
pior versão) desperta nosso desejo de perfeição, outro “impossível
necessário”. (PERISSÉ, 2009, p. 94)

CONCLUSÃO

Assim sendo, podemos pensar uma possibilidade de educar mais


abrangente quando usamos a estética e a formatividade para acompanhar o
trabalho artístico em sala de aula. Pensadas dentro da concepção que buscamos
lançar mão neste artigo - a filosofia pareysoniana - que tão profundamente
relaciona a arte entre as mais eminentes propriedades da produção humana,
vemos que o que seria aparentemente um mero exercício de abstração pode se
tornar num verdadeiro modus operandi, que busca, a partir de qualquer
conteúdo, a qualidade e a fecundidade no processo educacional. Se a obra de arte
é fundamental para exercício dos filósofos, então poderíamos dizer que ela
também se presta ao serviço especulativo dos alunos e de todos nós professores de
arte.

REFERÊNCIAS:

GERALDI, João Wanderley. A aula como acontecimento. São Carlos: Pedro e


João Editores 2010.
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GLEISER, Marcelo. A dança do universo. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda.,


2007.
HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Lisboa: Edições 70, 2005
(Biblioteca de filosofia contemporânea).
PAREYSON, Luigi. Estética Teoria da formatividade. Petrópoles, RJ: Vozes, 1993
[1954].
PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. 3ª edição. São Paulo: Martins
Fontes, 2001 [1966].
PERISSÉ, Gabriel. Estética e Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
VIGOTSKI, Lev. S. Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico.
Tradução Zola Prestes. São Paulo: Ática, 2009.

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