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Quer dizer, se entre os antigos o indivíduo era serviente em seus assuntos privados
mas soberano nas questões públicas, entre os modernos, ao contrário, o indivíduo
independente na vida privada se encontra “interrompido” pelo corpo coletivo,
estando sua liberdade senão no exercício pacífico da independência privada.
Isso porque na Antiguidade a cidadania era efetiva, e não como na Modernidade,
uma suposição abstrata. A vontade de cada um tinha uma influência real, por isso
eles se dispunham a fazer enormes sacríficos no âmbito político e social. Porque
havia liberdade, eles podiam suportar as privações. Todavia, entre os modernos, diz
Constant, onde há privação, é preciso da escravidão para que alguém se resigne a
ela. O indivíduo agora se encontra perdido na multidão, sem consciência de qual a
sua real cooperação comunitária, por isso aqui e acolá eles aplaudem as instituições
republicanas e a liberdade individual, sendo esta a verdadeira liberdade moderna.
Constant dá à primeira liberdade ênfase mais política e coletiva e à segunda, ênfase
mais jurídica e individual. Dessa forma, enfatiza o exercício ativo da participação
política como instrumento indispensável da proteção da liberdade individual.
Assim, defende que a liberdade dos modernos estará sob forte ameaça toda vez que
a liberdade dos antigos não seja adequadamente exercitada por aqueles mesmos que
têm interesse na proteção de suas liberdades.
Para demonstrar o porquê dessas diferenças, o autor descreve as nações modernas e
os Estados antigos, ambos caracterizados sob a ótica de três aspectos: extensão
territorial, atividade econômica e forma de trabalho.
Os estados Antigos eram territorialmente pequenos, portanto seus recursos eram
insuficientes para suprir todas suas necessidades. Inevitavelmente, possuíam um
espírito belicoso, pois era a única forma desses Estados obterem os recursos
necessários para subsistirem, conseguindo aquilo que precisavam através da guerra.
Existia, portanto, em estado de constante pressão e insegurança, os Estados
atacavam-se com certa freqüência, a preocupação com a guerra era contínua, esta
tensão impedia o florescimento do comércio. Da guerra eram extraídos escravos
destinados ao penoso trabalho mecânico-braçal. A escravidão compunha um
elemento importante à liberdade dos antigos, sem ela os cidadãos não teriam a
disponibilidade de tempo que a atividade política exige.
As nações modernas, por outro lado, ocupam grandes extensões territoriais,
impossibilitando que seus cidadãos se reúnam, assim como nos governos antigos,
em praça pública para deliberarem sobre questões do Estado. O trabalho escravo
está extinto neste período; a grande massa da população era composta por
trabalhadores assalariados ou, em menor número, pelos detentores dos meios de
produção — Constant aparentemente dialoga com este último. Não há tempo hábil,
portanto, para o homem moderno concentrar-se integralmente na política do Estado.
Devido a sua grande extensão, observam-se duas características: primeiro, a guerra
nestas circunstâncias trariam mais custos que benefícios; segundo, em virtude disso,
o comércio é o meio mais viável de conseguir recursos externos nos tempos
modernos.
A guerra é, portanto, anterior ao comércio. Esta é uma crítica que Constant desfere
aos políticos franceses que cultivavam o espírito de guerra; para o autor, a guerra é
inteiramente incompatível com as nações modernas.
A última discussão desse texto versa sobre a participação dos indivíduos modernos
na política, o autor admite que o cidadão moderno frequentemente negligencie sua
participação política. Como já discorrido, o moderno não possuem tempo hábil para
exercer plena função política da mesma forma que os antigos, pois isso lhes custaria
à liberdade individual, que é sagrada para o autor. Daí a necessidade do sistema
representativo, que se constrói sobre a procuração dada a certo número de homens
pela massa do povo, que deseja ter seus interesses defendidos e não tem, no entanto,
tempo para defendê-los sozinho.
Os cidadãos de um governo com sistema representativo têm a obrigação de exercer
constante vigilância sobre seus representantes e cabe-lhes o direito exclusivo de
afastá-los, caso tenham traído suas promessas, assim como o direito de revogar os
poderes dos quais eles tenham eventualmente cometidos excessos.
Para o autor, o grande risco do governo representativo é que os indivíduos possam
negligenciar a política. Faz parte do esforço de alguns governantes para que isso
seja efetivado e a participação política do indivíduo seja apenas funcional: pagar
impostos e obedecer às leis.
Concluindo, Benjamin Constant faz um pequeno resumo de seus ideais: conciliar as
instituições à liberdade dos modernos; extinguir a educação moral; e respeitar a
liberdade individual dos cidadãos, sem, no entanto, excluir a população da atividade
política.
Norberto Bobbio em “Teoria das Formas de Governo” (Aristóteles
e Bodin)
Aristóteles:
Norberto Bobbio utiliza o termo “politeia”, que diz que, a constituição é a estrutura
que organiza a cidade, determinando o funcionamento de todos os cargos públicos,
sobretudo da autoridade soberana, para designar a “forma de governo”, que também
pode ser chamada de “ordenação das magistraturas”, a lei fundamental de um
Estado, que estabelece seus órgãos, as relativas funções, relações recíprocas, entre
outras. Há muitas constituições distintas por isso que, Aristóteles chama atenção,
que é preciso descrevê-las e classificá-las. Os critérios que Aristóteles utiliza são
“quem” governa e “como” governa.
Neste capitulo, temos as escritas de Aristóteles referentes a essas diferentes
constituições. A ordem hierárquica das seis formas é: Monarquia, Aristocracia,
Política, democracia, Oligarquia e Tirania.
BODIN:
Bodin passou para a história das formas de governo como teórico da soberania. Para
ele, a soberania significa o poder absoluto e perpétuo que é próprio do Estado.
Segundo Bodin, “Quem é soberano não deve estar sujeito, de modo algum, ao
comando de outrem; deve poder promulgar leis para seus súditos, cancelando ou
anulando as palavras inúteis dessas leis, substituindo-as – o que não pode fazer
quem está sujeito às leis ou a pessoas que lhe imponham poder”.
Contudo, poder absoluto não quer dizer poder ilimitado. Essas leis que regem o
soberano são leis naturais e divinas. Outros limites impostos ao soberano são as leis
fundamentais do Estado, as hoje chamadas leis constitucionais. Assim, o rei fica
impossibilitado de se tornar um tirano. De acordo com este pensamento, percebe-se
em Bodin a preocupação com a esfera pública e privada, nesta última, o soberano só
poderá inferir caso tenha um motivo-confisco legítimo ou para salvação estatal. É,
também, o precursor da divisão entre Estado e Governo.
Bodin acredita na existência de três formas de governo. As clássicas: monarquia,
aristocracia e democracia. Não acredita na forma mista e diz que não se deve
classificar entre formas boas e más porque essa distinção causaria o surgimento de
infinitas formas de governo. Afirma que se reunissem as três formas de governo
clássicas, o resultado não seria um governo misto, e sim um governo da democracia.
O porquê disso é que ou o povo não tem o poder de legislar (neste caso seria
aristocrático), ou este poder está com o povo, formando um Estado democrático.
Através da sua distinção entre governo e Estado, Bodin afirma que as três formas
clássicas de Estado podem se combinar com as três formas clássicas de Governo.
Monarquia, Aristocracia e Democracia. Cruzando-as, chegamos a nove diferentes
tipos. “Essa variedade de formas de governo tem induzido alguns a erro, ‘levando-
os a postular formas mistas de Estado’, sem perceber que o governo de um Estado é
coisa bem diferente da sua administração e do modo de governá-lo”.
Essa distinção entre regime e governo, é útil para compreender a realidade
complexa dos Estados sem recorrer à teoria do governo misto, que para Bodin, era
pura ficção. Também permite compreender o fenômeno das formas degeneradas,
que representam não um vício da soberania em si mesma, mas do seu exercício.
Cada um dos regimes pode assumir três formas diferentes: real, despótica e tirânica.
A real corresponde ao respeito do governante às leis da natureza e seus súditos; a
despótica, o governante" assenhora "os próprios súditos pela guerra justa e pelo
direito das armas; e a tirânica, o governante desrespeita as leis da natureza e abusa
de seus súditos. Para ele, a corrupção não afeta o Estado e sim o Governo.
Bodin defende a monarquia despótica justificada pela aquisição de servos em
“guerra justa”, quando um povo é conquistado por outro e tem a escravidão como
castigo ante a morte. Uma crucial diferença com a tirânica é que a despótica é
legítima, já a tirânica não.
Maquiavel em “O príncipe”
CAP I: Os principados ou são hereditários, cujo senhor é príncipe pelo sangue, por
longo tempo, ou são novos. Os novos são totalmente novos, como Milão com
Francesco Sforza, ou são como membros acrescentados a um Estado que um
príncipe adquire por herança. Estes domínios assim adquiridos são, ou acostumados
à sujeição a um príncipe, ou são livres, e são adquiridos com tropas de outros ou
próprias, pela fortuna ou pelo mérito.
CAP II: Nos principados hereditários, são muito menores as dificuldades de mantê-
los, pois basta somente que não seja abandonada a praxe dos antecessores, e depois
se contemporize com situações particulares, de modo que, se tal príncipe é de
engenho ordinário, sempre se manterá no seu Estado, se não houver uma força
extraordinária e excessiva que o prive deste; e, mesmo que assim seja, o
readquire, por pior que seja o ocupante.
CAP III: Mas a dificuldade consiste nos principados novos. Não se trata de
principado inteiramente novo, mas sim de membro ajuntado a um Estado
hereditário (caso em que este pode chamar – se um principado misto), as sua
variações nascem principalmente de uma dificuldade comum a todos os principados
novos, a saber, que os homens mudam de boa vontade de senhor, supondo
melhorar, e esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual. São teus inimigos
todos aqueles que se sentem ofendidos pelo fato de ocupares o principado; e
também não podes conservar como amigos aqueles que te puseram ali, pois estes
não podem ser satisfeitos como pensavam. O conquistador, para manter-los deve ter
duas regras: primeiro, fazer extinguir o sangue do antigo príncipe, segundo, não
alterar as leis nem os impostos. Quando se conquista uma província de língua,
costumes e leis diferentes começam então as dificuldades, sendo necessária uma
grande habilidade e boa sorte para poder conservar. Uma forma eficaz é organizar
colônias, em um ou dois lugares, as quais serão uma espécie de grilhões postos à
província, pois é necessário fazer isso, ou ter lá muita força armada. Conservando,
em vez de colônias, força armada, gasta – se muito mais, e tem de ser despendida
nela toda a receita da província. A conquista torna – se, pois, perda. O desejo de
conquista é coisa verdadeiramente natural e ordinária e os homens que podem faze-
lo serão sempre louvados e não censurados. Mas se não podem e querem faze-lo, de
qualquer modo, é que estão em erro, e são merecedores de censura. Conclui-se daí
uma regra geral, que nunca ou muito raramente falha: quando alguém é causa do
poder de outrem, arruína – se, pois aquele poder vem de astúcia ou força, e qualquer
destas é suspeita ao novo poderoso.
CAP V: Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre, e não a
destrói, será destruído por ela, porque ela sempre invocará, na rebelião, o nome
de sua liberdade e de sua antiga ordem, como aconteceu em Pisa após cem anos de
submissão aos florentinos. O remédio contra isso é destruí-la, ir viver pessoalmente
nela ou deixá-la viver sob suas próprias leis, impondo-lhe um tributo criando dentro
dela um governo de poucos que se conserve amigo.
CAP VI: Aqueles que, por suas virtudes, se tornam príncipes, conquistam o
principado com dificuldade, mas se mantêm facilmente. As dificuldades que se
encontram na conquista do principado nascem, em parte, da nova ordem legal e
costumes que são forçados a introduzir para a fundação do seu Estado e da sua
própria segurança. Deve – se considerar que não há coisa mais difícil, nem de êxito
mais duvidoso, nem mais perigosa, do que o estabelecimento de novas leis. O novo
legislador terá por inimigos todos aqueles a quem as leis antigas beneficiam, e terá
tímidos defensores nos que forem beneficiados pelo novo estado de coisas. Essa
fraqueza nasce parte do medo dos adversários, parte de incredulidade dos homens,
que não acreditam na verdade das coisas novas senão depois de uma firme
experiência. Nos principados completamente novos, onde há um novo príncipe,
existe maior ou menor dificuldade para mantê-lo conforme seja maior ou menor
a virtù de quem o conquistou. Exemplos que corroboram o que Nicolau acabou de
citar são homens que pela própria virtù e não pela fortuna se tornaram príncipes,
exemplos como Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu. Tais personagens depois de
vencerem perigos e passarem a ser venerados, tendo aniquilado os que tinham
inveja de suas qualidades, tornaram-se poderosos, seguros, honrados e felizes. É
possível acrescentar à lista o caso de Hierão de Siracusa Hierão extinguiu a milícia
antiga e organizou uma nova, deixou as amizades antigas e contraiu novas, e
assim que teve seus próprios amigos e soldados pôde construir, sobre esta base,
todo um edifício. Assim, teve muito trabalho para conquistá-lo, mas pouco para
conservá-lo.
CAP VII: Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes pouco trabalho
têm para isso, é claro, mas se mantêm muito penosamente. Não têm nenhuma
dificuldade em alcançar o posto, porque para aí voam; surge, porém, toda sorte de
dificuldades depois da chegada. É o que acontece quando o Estado foi concedido ao
príncipe, ou por dinheiro, ou por graça de quem o concedeu. Aqueles que, somente
pela fortuna, de cidadãos particulares se tornam príncipes fazem-no com pouco
esforço, mas com muito esforço se mantém. Ele aduz então dois exemplos recentes
na época, Francesco Sforza e Cesare Borgia. Francesco, pelos devidos meios e
grande virtù, passou de cidadão privado a duque de Milão, e o que havia
conquistado com enorme empenho com pouco esforço manteve. Por outro lado
Cesare Borgia, vulgarmente chamado duque Valentino, conquistou o Estado com
a fortuna do pai e com ela o perdeu. Quem não prepara as bases antes, poderá
fazer depois esse trabalho.
CAP VIII: Maquiavel diz que ainda existem outros dois modos de se ascender a
príncipe sendo reles particular sem ser pela fortuna nem pela virtù, isto é, ascender
ao principado de maneira acelerada e nefanda ou através do favor de seus
concidadãos. Agátocles Siciliano, filho de oleiro, teve sempre uma conduta
criminosa durante toda a vida. Ingressando na milícia, conseguiu promover-se até
chegar a ser pretor de Siracusa. Decidiu tornar-se príncipe. Reuniu certa manhã o
povo e o Senado de Siracusa como se estivesse interessado em deliberar coisas
pertinentes à república, e, a um sinal combinado, fez seus soldados assassinarem
todos os senadores e as pessoas mais ricas do povo. Irrompe-se à minha memória
uma passagem conhecida da classe, a de Catarina de Médici. A semelhança entre a
emboscada de Agátocles e a de Catarina (usando como pretexto o casamento de sua
filha Margot com o rei Henrique de Navarra, líder protestante, para matar todos os
protestantes importantes que faziam frente no conflito entre tais e os católicos) não
me passou despercebida e, tanto um como outro, governaram sem controvérsia civil
após os banhos de sangue. Não se pode, nas palavras de Nicolau Maquiavel, atribuir
à fortuna ou a virtù tais feitos, pois sem uma nem outra foram conseguidos.
CAP IX: Quando um cidadão, não por suas crueldades ou outra qualquer
intolerável violência, e sim pelo favor dos concidadãos, se torna príncipe de sua
pátria – o que se pode chamar principado civil (o que o autor chama de principado
civil e que para alcançá-lo não é necessário ter muita virtù nem muita fortuna, mas
uma astúcia afortunada) digo que se chega a esse principado ou pelo favor do povo
ou pelo favor dos poderosos. Quem se tornar príncipe pelo favor do povo deverá
manter sua amizade, o que será fácil, pois tudo que lhe pedem é não serem
oprimidos. Mas quem se tornar príncipe pelo favor dos grandes e contra o povo
deverá, antes de qualquer coisa, procurar conquistá-lo, o que também será fácil,
se lhe der proteção.
CAP XV: Resta agora ver como deve se comportar um príncipe para com seus
súditos e amigos. Muitos imaginam repúblicas e principados que jamais foram
vistos e que nem se soube se existiram na verdade, porque há tamanha distância
entre como se vive e como se deveria viver, que aquele que trocar o que faz por
aquilo que se deveria fazer aprende antes a ruina do que sua preservação. Senti
nessa última passagem uma crítica aos contratualistas e demais teóricos
abstracionistas que vieram antes de Nicolau. Não posso deixar de concordar com
ele quando diz que se trocarmos nossos atos reais pelos atos supostamente ideais
estaríamos tão somente caminhando para alienação, frustação, isolamento, ruína ou
desprezo dos demais membros da sociedade. Não tiro o mérito dos avanços
contratualistas, mas sou da tese que já absorvemos o que historicamente poderíamos
absorver disso e muito do resto é apenas título de curiosidade ou inadequação
temporal.
CAP XII: Cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel: não
obstante isso, deve ter o cuidado de não usar mal essa piedade. Um príncipe não
deve, pois, temer a má fama de cruel, desde que por ela mantenha seus súditos
unidos e leais, pois que, com mui poucos exemplos, ele será mais piedoso do que
aqueles que, por excessiva piedade, deixam acontecer as desordens das quais
resultam assassínios ou rapinagens: porque estes costumam prejudicar a
comunidade inteira, enquanto aquelas execuções que emanam do príncipe atingem
apenas um indivíduo. Todo príncipe deve desejar ser considerado piedoso e não
cruel; entretanto, devo adverti-lo para não usar mal esta piedade. jO príncipe,
contudo, deve ser lento no crer e no agir, não se alarmar por si mesmo e proceder
por forma equilibrada, com prudência e humanidade, buscando evitar que a
excessiva confiança o torne incauto e a demasiada desconfiança o faça intolerável.
Mas quando o príncipe está à frente de seus exércitos e tem sob seu comando uma
multidão de soldados, então é de todo necessário não se importar com a fama de
cruel, eis que, sem ela, jamais se conservará exército unido e disposto a alguma
empresa. Concluo, pois, voltando à questão de ser temido e amado, que um príncipe
sábio, amando os homens como a eles agrada e sendo por eles temido como deseja,
deve apoiar-se naquilo que é seu e não no que é dos outros; deve apenas empenhar-
se em fugir ao ódio, como foi dito. O amor é mantido por vínculo de
reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido sempre que lhes
interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que nunca te
abandona.
CAP XVIII: É importante ressaltar que existem dois tipos de combates: um com as
leis e o outro com a força. Um príncipe deve saber usar ambas as naturezas, uma
vez que uma sem a outra não é duradoura. Isto já foi dito aos príncipes, em
palavras veladas, pelos escritores antigos, que escreveram que Aquiles e muitos
outros príncipes antigos haviam sido criados por Quíron, o centauro, que os
guardava sob sua disciplina. Visto que um príncipe, se necessário, precisa saber
usar bem seu lado animal (metaforicamente chamado de Quíron pelas lendas
antigas), precisa saber escolher sua natureza animal optando ser leão e raposa
simultaneamente. Precisa ser leão para aterrorizar os lobos (ameaças) e deve valer-
se da raposa na simulação, dissimulação e astúcia.
CAP XXV: Nicolau não ignora que muitos de seus contemporâneos foram de
opinião de que as coisas desse mundo são governadas pela fortuna e por Deus. Ele
rebate dizendo que já que nosso livre-arbítrio não desapareceu, é até possível ser
verdade que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que deixou ao
nosso governo a outra metade, ou quase. Com tudo isso nada mais ele quis dizer do
que afirmar que a sorte é imprevisível; devem-se tomar providências para
catástrofes, antes que ocorram. A fortuna demonstra sua força onde não encontra
uma virtù ordenada. Se um príncipe se conduz com prudência e paciência, e os
tempos e as coisas contribuem para que seu governo seja bom, será bem-
sucedido; mas, se mudarem os tempos e as coisas e ele não mudar seu modo de
proceder, então se arruinará. O Papa Júlio II procedeu em tudo impetuosamente,
mas, como sempre encontrou os tempos e as coisas conformes a seu modo de
agir, sempre alcançou um final feliz. Conclui ele o discurso dizendo que, variando
a fortuna e obstinando-se os homens em sua maneira de ser, serão felizes enquanto
ambas estiverem de acordo; mas quando discordarem serão infelizes.
Renato Ribeiro em “Hobbes: o medo e a esperença”
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