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CIÊNCIA POLITICA

 Joao Ubaldo em “Politica: quem manda, por que manda, como


manda”
 Ribeiro inicia seu livro dissertando sobre o que é a política e sua s implicações.
Atesta o fato de que a política não é meramente um exercício de poder -
considerando esta uma definição muito pobre para um assunto tão complexo,
mas sim um processo em que um determinado interesse é tomado como
objetivo, no qual será necessária profunda análise antes de uma tomada d e
decisão. Afirma que a política pode ser analisada como a relação de quem
manda, por que manda e como manda, e que ela pode ser vista tanto como
ciência quanto como uma arte. CAP 1
 Ribeiro afirma que o exercício do poder é inerente a cada pessoa, de forma
que o exercemos até mesmo inconscientemente. Os preconceitos, por exemplo,
em suas mais variadas formas, são o reflexo da influência d e um poder que é
exercido sobre os indivíduos de uma sociedade durante sua criação, de forma
quase sutil. Até mesmo quando um indivíduo se considera apolítico ele está,
sem perceber, exercendo seu direito político de não se envolver. A vida
cotidiana moderna é marcada por divisões de funções que levam a tomadas de
decisão específicas , evidenciando que a conduta humana está necessariamente a
trelada ao senso político na maioria de seus aspectos. Ainda que um
indivíduo não atue no cenário político per si, ele pode e provavelmente
estará enquadrado em algum aspecto representativo daquela sociedade. O simples
ato de votar é precisa e irrefurtávelmete político. CAP 2
 Toda sociedade é, de alguma forma, politizada, definida por mecanismos
estabelecidos através dos quais as decisões públicas são formuladas e
efetivadas. Isso n o significa, entretanto, que há sempre um governo
centralizado. O autor aqui destrincha esse conceito através de um a “linha
histórica” hipotética que retrata a evolução de uma sociedade primitiva até a
formação daquilo que podemos identificar como uma organização política, e
como esta organização pode levar essa sociedade a situações conflitantes
internas e externas, b em como ao surgimento de uma religião. CAP 3
 Neste capítulo, o autor evidencia a diferença entre Estado e Nação, dois
conceitos que são considerados muito semelhantes entre os leigos. O Estado é
um a instituição organizada politica mente, socialmente e juridicamente,
dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto interna como
externamente. A Nação, por outro lado, é o representativo de um conjunto
cultural, formado por hábitos e valores compartilha dos por uma população, o
que lhe dá um sentido de id entidade e união. Algo que tanto o Estado
quanto a N ação tem em comum é o fato d e não necessitarem de um território
fixo para existirem. Os ciganos são dados como exemplo – um povo com uma
cultura diferenciada e identidade próprias, mas de comportamento nômade. CAP 4
 Ribeiro explica que para um Estado ser soberano, ele não pode ser
submetido à lei nenhum outro. Se uma nação faz parte d e um Esta do
submisso, ela então “pertence” ao Estado dominante – algo que caracteriza
alguns países subdesenvolvidos. Atualmente, graças à interdependência estatal
resultante da globalização, mais especificamente no âmbito econômico, não
existe um Estado plenamente soberano. Da mesma forma, Estados menores
possuem uma soberania relativa, pressionados pelo peso d os gigantes que
dominam a economia. CAP 5
 Em tese, o Estado deveria representar os interesses públicos, o bem -estar da
população, atendendo a todas as suas necessidades. A triste realidade,
entretanto, especialmente no Brasil, é que a maior parte das decisões tende a
ser tomada visando os interesses da elite. Tudo isto por que a ordem jurídica –
a lei – é monopolizada pelo Estado. Através da lei, o Estado te m o direito
tanto d e absolver quanto de punir, de inicia r ou terminar guerras, de reprimir
ou marginalizar. Um instrumento poderoso de controle sobre a população. O
que o auto r declara como sendo uma “violência” se refere ao fato de que,
concordando ou não, c ada indivíduo se vê obrigado a cumpri r um conjunto
de leis definidas por terceiros, esteja ele ciente disso ou não. CAP 6
 Ribeiro explica com poucas palavras a atuação do Estado num país.
Basicamente: elabora a s l eis, administra os negócios públicos e aplica a lei a
casos particulares. Estes sã o considerados os pontos que descreveriam os t rês
poderes do Estado (Executivo, Legislativo, Judiciário), algo que o autor
desmistifica de imediato, constatando que estes poderes não são tão divididos
e definidos quanto se crê popularmente. Na verdade, seria esta uma recente
forma de “mascarar” o simples e assombroso fato que de o Estado tem todo
esse poder concentrado em um único lugar. Outro ponto importante apontado
por Ribeiro é a interferência do Estado no meio econômico, onde ele muitas
vezes precisa atuar como mediador para evitar um desequilíbrio grande o
suficiente para resultar em monopólio, ou ainda investir nas áreas que não d
espertam interesse na iniciativa privada. CAP 7
 Ribeiro expõe algumas dentre as muitas opiniões que os cidadãos podem ter
a respeito do Estado e sua atuação sobre a sociedade que rege. Alguns
acreditam que o homem, o animal que é , precisa ser controlado salvo de si
mesmo por um poder superior, enquanto outros podem acreditar que o
próprio Estado é responsável pelo negativismo que o ser hum ano desenvolve
ao longo da vida. Pode-se ainda pensar que o Estado é tanto uma bênção
quanto uma mal dição, uma evolução ou m esmo uma regressão, entre tantas
as vertentes teóricas existentes. CAP 8
 Este capítulo trata sobre democracia e a ambiguidade ao qual seu
significado remete em virtude das diferentes aplicações de alguns d e seus
conceitos em diferentes países. Ou mesmo, alguma s vezes, quando a barra é
forçada para fazer o povo acreditar que existe qualquer democracia realmente
– nem sempre a realidade acompanha o que está escrito no papel. N em
mesmo o voto popular, tido como a mais pura representação democrática,
garante que não possa haver manipulações por debaixo dos panos. A
democracia em sua forma mais pura e direta é algo distante da realidade
atual, o que exige uma profunda análise das possibilidades existentes dentro
de cada Estado. E, é claro, a vontade de fazer. CAP 9
 A ditadura, em sua essência , representa o extremo oposto de tudo a quilo pelo
qual o ideal democrático luta . O poder concentrado mãos de um ou de
poucos, a falta de liberdade de ir e vir, de expressão – o mais completo
domínio sobre a vida da população. Entretanto, da mesma forma como
muitos Estados disfarçam seu poder autônomo com uma máscara democrática
, a maioria d os ditador es não aceita ser vista como tal. Há, inclusive, casos
de Esta dos democratizados onde existem movimentos exigindo o retorno da s
antigas ditaduras, evidenciando que é possível enraizar no povo essa
preferência. Para estes temperamentos políticos, a democracia é prejudicial ao
bom andamento da administração pública. Porém, a realidade da ditadura é que
ela se desmascara como o meio pelo qual um grupo preserva seus privilégios e
utiliza o Estado por motivos egoístas. CAP 10
 Ribeiro procura destrinchar, da maneira mais simples possível, aquilo que define
uma Constituição. Ela pode ser entendida como uma lei suprema, a pedra sobre
a qual um Estado contemporâneo é construído. Sua existência determina a
direção para a qual todas as demais leis e decisões estatais devem esta r aponta
das, como um roteiro a ser seguido independente de tempo e circunstância.
Embora não seja, d e fato, imutável, a Constituição de um país/Estado não é
algo que deveria ser alterada com a mesma frequência das demais leis,
embora isto tenha acontecido várias vezes em alguns países, como o Brasil, devido
à sua conturbada história política. CAP 11
 O autor aqui fala sobre as diversa s formas de se definir um governante para
uma nação. Em países monárquicos ou ditatoriais, é comum a ascensão ao
poder através da hereditariedade, embora o primeiro tipo seja mais raro a cada
dia. Países cujo Estado está fortemente ligado à uma estrutura religiosa
tendem a depender da “qualificação divina” antes que um indivíduo assume
seu suposto lugar de direito – uma prática bastante comum na antiguidade
que surpreendentemente ainda sobrevive. Há ainda casos em que um
governante, ou mais deles, são impostos, como quando ocorre um golpe
estatal. Ri beiro então aborda o sistema democrático. Ele traz com o primeira
questão a qualificação dos candidatos e eleitor es. Muitos são os fatores que
podem se mostrar contra ou a favor de um indivíduo poder disputa r a um
cargo, como idade, sexo, condição econômica, convicções ideológicas, entre
outros. No c aso dos eleitores, o que explicita seu direito ao voto é o
sufrágio, que pode ser universal ou restritivo dependendo da realidade daquele
país. Há a inda casos como nos Estados Unidos, onde o voto é indireto e,
embora o povo tenha voz ao decidir seus líderes, o fato é que a palavra
final fica por conta dos delegados dos partidos CAP 12
 Ribeiro fala neste capítulo sobre os tipos existentes de sistemas eleitorais. O
primeiro e mais conhecido é o majoritário, que se sustenta num raciocínio
simples: quem tem mais votos, ganha . Ele pode ser aplica do das seguintes
formas: uni nominal , quando se voto em um só nome para um cargo;
plurinominal, quando mais de um nome ocupará um mesmo cargo; e por
lista, quando se voto num grupo inteiro de pessoas, como acontecesse nos
grêmios das faculdades. O óbvio problema do sistema majoritário é que a
minoria fica sem representatividade. N o sistema d e voto proporcional, c ada
partido apresenta sua relação de candidatos para que os eleitor es votem em
um candidato ou simplesmente no partido de sua escolha, o chamado “voto
de legenda”. Há ainda os sistemas mistos, que procuram mescla r o q e
consideram os melhores fatores d e ambos os tipos, como acontece no Japão e
especialmente no Egito. CAP 13
 Os partidos políticos são uma via natural de ação política . A maior parte d eles é
d e cunho especializado, pois tem como função quase única agregar certos
grupos de interesse sob um denominador comum. Na maioria dos Estados,
costumam ser o ú nico caminho institucionalizado pelo qual se p ode busca r
for malmente o a cesso ao poder. A organização interna dos partidos varia de
país para país, conforme a legislação que os discipline; mas , d e maneira geral,
os sistemas partidários sã o analisa dos de ac ordo com o número de partidos
envolvidos na competição e com a dinâmica de funcionamento . No regime
democrático é permitido que todas as esferas, em suas mais variadas opiniões,
participem desta disputa. Estas esferas antagonistas podem ser classificadas em
três tipos: reivindicatórias, reformistas e revolucionárias. CAP 14
 Ribeiro afirma que todo indivíduo inserido numa sociedade acaba
invariavelmente desenvolvendo um conjunto de ideologias , as quais o auxiliam a
viver e exercer suas respectivas funções neste meio, embora o grau de
profundidade varie bastante de uma pessoa para a outra . A ideologia é
uma maneira de pensar, como uma fôrma na qual moldamos o mundo,
incorporada por uma teoria de caráter globalizante que está diretamente
relacionada com a existência das cl asses sociais, que por sua vez são definidas em
termos econômicos. CAP 15
 O último capítulo retorna ao título da obra e traz a seguinte perspectiva :
quem manda é aquele que leva vantagem sobre algo. Mandar é al go relativo,
mas o critério d e “levar vantagem” é bastante elucidativo. A percepção dessa
posição de poder é muito relativa , em geral resumindo à nossa visão de que
m está diretamente acima de nós, desconsiderando que “aquele que manda”
pode ser u m indivíduo que se vê em desvantagem contra um terceiro, as sim
como nós. Ou ainda, as pessoas de uma “classe superior” podem fazer as
outras acreditarem que elas realmente estão em uma posição inferior, baseando
-se em argumentos muita s vezes vazios, baseados em puro achismo ou
preconceito. É importante estar ciente da fonte de qualquer informação antes
de tomar qualquer falácia como verdade, seja qual for a sua natureza. CAP 16
 Moses Finley em “Democracia Antiga e Moderna”
 Neste capitulo autor trata da relação entre líderes e liderados, termo que dá nome ao
capítulo, e a forma como essa relação se dá em Atenas e hoje.
 Ele começa mostrando as concepções de democracia e a forma como o poder é
exercido. Traz um conceito chave da nossa sociedade que é a “apatia política” que
será tratado com mais detalhes mais à frente no texto.
 A democracia na Grécia Antiga era participativa e dava-se por meio da assembleia
em que todos tinham poder e voz de decisão. Apesar de muitos serem contra essa
forma de governo como, por exemplo, Platão e Aristóteles, era a forma de governo
vigente e mesmo aos trancos e barrancos funcionava.
 É importante ressaltar que na Grécia Antiga nem todos tinham os mesmos
privilégios, nem eram considerados cidadãos com voz e voto na assembleia, ao
passo que quando se tinha esse privilégio a idade não era importante pois haviam na
Assembleia homens de várias faixas de idade, desde os 18 anos até os mais velhos.
 Em Atenas, os líderes e os liderados se viam, pelo menos na teoria, da mesma
forma, pois todos eram iguais, cidadãos com voz e voto.
 A nossa tão sonhada democracia que era tão rejeitada por muitos pensadores
antigos, rejeição que é expressa por Finley quando ele diz que a iniciativa popular é
desastrosa, que “governo do povo, pelo povo e para o povo” é ingênua ideologia.
Esse sentimento contrário à democracia também se reflete nos dias de hoje por
muitos estudiosos e uma das justificativas usadas por eles é a própria apatia política.
 A apatia política consiste no sentimento de rejeição à política causada pela
frustração em poder participar da política apenas como eleitor (uma vez a cada
quatro anos, por exemplo), escolhendo os governantes e esperando tomem decisões
sem poder tira-los do cenário político depois de escolhidos e sem poder participar
das decisões diretamente. Esse fenômeno moderno não se aplicava à Atenas, pois
havia participação.
 Tucídides relata muitos episódios do processo decisório em assembleias e o poder
de convencimento de oradores na mesma. Um desses episódios foi a invasão da
Sicilia, ao ter em vista que o autor cita que Platão foi o único a destacar que a
maioria dos atenienses tinha uma “educação incompleta”. Podia-se perceber,
segundo o autor, uma clara diferença entre conhecimento técnico e discernimento
político, o que fez com que essa invasão fosse catastrófica, segundo o próprio
Tucidides: “havia uma paixão pela expedição que se apoderou de todos. Os mais
velhos achavam que , ou conquistariam os lugares para onde navegavam ou, em
qualquer caso, com uma força tão grande, não lhes poderia suceder nada de mal;
os jovens ansiavam por ver lugares diferentes e pelas experiências, e estavam
confiantes que voltariam sãos e salvos; a massa, inclusive os soldados, via a
perspectiva de ganhar dinheiro no momento e depois ao anexar a Sicilia ao
Império, assegurar uma renda futura. O resultado desse excessivo entusiasmo da
grande maioria foi que aqueles que realmente se opunham à expedição ficaram
com medo de serem considerados antipatriotas se votassem contra e, portanto,
mantiveram-se calados”
 Esse relato ilustra muito bem o porque de muitos serem contra a democracia e
serem a favor da aristocracia.
 Ao analisar o fato de que democracia moderna não se dá de forma igual e que os
cidadãos não tem esse poder decisório em relação às questões militares do país, por
exemplo, reforça a questão da apatia política.
 A rotatividade da Assembleia é um ponto crucial da Grécia Antiga. Essa
rotatividade não faz dos seus participantes, políticos profissionais, o que hoje em
dia é comum, pois quando perguntamos a um político qual é a sua profissão ele
dirá, com muita certeza, que é deputado, vereador, senador e assim por diante,
como se essas funções fossem vitalícias. A rotatividade, que é positiva em muitos
aspectos a fim de evitar a oligarquia, tinha como contraponto o fato de que os
participantes da Assembleia não serem devidamente educados e preparados para
tomarem decisões importantes que influíram na vida cotidiana e no futuro de
Atenas.
 Os críticos da democracia defendem que a mesma só pode ser aplicada em uma
sociedade “pequena e rural”, em que os cidadãos não se cruzem no dia-a-dia e se
vejam apenas em dia de reunião da Assembleia, que é totalmente se viver num
regime democrático quando a população é muito grande.
 Na Atenas Clássica, havia uma reciprocidade entre governo e sociedade, pois os
dois eram uma “única instituição” e já na democracia contemporânea a relação
governo/sociedade é oposta e totalmente separada. A ideia é a de que o governo é
superior e comanda a sociedade o que, segundo o autor, não pode ser chamada de
democracia.
 Benjamin Constant em “Da liberdade dos antigos comparada à dos
modernos”
 Benjamin Constant recai sobre o dualismo entre a liberdade dos antigos e a
liberdade dos modernos, onde alega que cada uma é atribuída a determinado
momento histórico. O autor propõe a distinguir duas formas de liberdade, qual seja,
a da Antiguidade e da Modernidade, sendo a primeira sumamente entendida como
liberdade política, e a segunda, como liberdade individual. Afirma também que a
confusão entre os dois conceitos, foi, por muito tempo, a causa de muitos males.
 Constant trabalha com dois elementos para caracterizar o conceito de liberdade: a
liberdade individual, e a liberdade política. Quando o autor se refere à liberdade dos
modernos, ele leva em consideração o conceito de liberdade das grandes nações do
capitalismo da época — a França, os Estados Unidos da América e a Inglaterra — e
quando se refere à liberdade dos antigos ele cita Esparta, Atenas, Roma, dentre
outros.

 A LIBERDADE DOS ANTIGOS: “…consistia em exercer coletiva, mas


diretamente, várias partes da soberania inteira, em deliberar na praça pública
sobre a guerra e a paz, em concluir com os estrangeiros tratados de aliança, em
votar as leis, em pronunciar julgamentos, em examinar as contas, os atos, a
gestão dos magistrados; em fazê-los comparecer diante de todo um povo, em
acusá-los de delitos, em condená-los ou em absolvê-los; mas, ao mesmo tempo
que consistia nisso o que os antigos chamavam liberdade, eles admitiam, como
compatível com ela, a submissão completa do indivíduo à autoridade do todo. Não
encontrareis entre eles quase nenhum dos privilégios que vemos fazer parte da
liberdade entre os modernos. Todas as ações privadas estão sujeitas a severa
vigilância. Nada é concedido à independência individual, nem mesmo no que se
refere à religião. A faculdade de escolher seu culto, faculdade que consideramos
como um de nossos mais preciosos direitos, teria parecido um crime e um
sacrilégio para os antigos. Nas coisas que nos parecem mais insignificantes, a
autoridade do corpo social interpunha-se e restringia a vontade dos indivíduos.
Em Esparta, Terpandro não pode acrescentar uma corda à sua lira sem ofender
os Ëforos. Mesmo nas relações domésticas a autoridade intervinha. O jovem
lacedemônio não pode livremente visitar sua jovem esposa. Em Roma, os
censores vigiam até no interior das famílias. As leis regulamentavam os costumes
e, como tudo dependia dos costumes, não havia nada que as leis não
regulamentassem”.

 LIBERDADE DOS MODERNOS: “É o direito de não se submeter senão às leis,


de não podar ser preso, nem detido, nem condenado, nem maltratado de
nenhuma maneira, pelo efeito da vontade arbitrária de um ou de vários
indivíduos. É para cada um o direito de dizer sua opinião, de escolher seu
trabalho e de exercê-lo; de dispor de sua propriedade, até de abusar dela; de ir e
vir, sem necessitar de permissão e sem ter que prestar conta de seus motivos ou de
seus passos. É para cada um o direito de reunir-se a outros indivíduos, seja para
discutir sobre seus interesses, seja para professar o culto que ele e seus
associados preferirem, seja simplesmente para preencher seus dias e suas horas
de maneira mais condizente com suas inclinações, com suas fantasias. Enfim, o
direito, para cada um, de influir sobre a administração do governo, seja pela
nomeação de todos ou de certos funcionários, seja por representações, petições,
reivindicações, às quais a autoridade é mais ou menos obrigada a levar em
consideração.”

 Quer dizer, se entre os antigos o indivíduo era serviente em seus assuntos privados
mas soberano nas questões públicas, entre os modernos, ao contrário, o indivíduo
independente na vida privada se encontra “interrompido” pelo corpo coletivo,
estando sua liberdade senão no exercício pacífico da independência privada.
 Isso porque na Antiguidade a cidadania era efetiva, e não como na Modernidade,
uma suposição abstrata. A vontade de cada um tinha uma influência real, por isso
eles se dispunham a fazer enormes sacríficos no âmbito político e social. Porque
havia liberdade, eles podiam suportar as privações. Todavia, entre os modernos, diz
Constant, onde há privação, é preciso da escravidão para que alguém se resigne a
ela. O indivíduo agora se encontra perdido na multidão, sem consciência de qual a
sua real cooperação comunitária, por isso aqui e acolá eles aplaudem as instituições
republicanas e a liberdade individual, sendo esta a verdadeira liberdade moderna.
 Constant dá à primeira liberdade ênfase mais política e coletiva e à segunda, ênfase
mais jurídica e individual. Dessa forma, enfatiza o exercício ativo da participação
política como instrumento indispensável da proteção da liberdade individual.
Assim, defende que a liberdade dos modernos estará sob forte ameaça toda vez que
a liberdade dos antigos não seja adequadamente exercitada por aqueles mesmos que
têm interesse na proteção de suas liberdades.
 Para demonstrar o porquê dessas diferenças, o autor descreve as nações modernas e
os Estados antigos, ambos caracterizados sob a ótica de três aspectos: extensão
territorial, atividade econômica e forma de trabalho.
 Os estados Antigos eram territorialmente pequenos, portanto seus recursos eram
insuficientes para suprir todas suas necessidades. Inevitavelmente, possuíam um
espírito belicoso, pois era a única forma desses Estados obterem os recursos
necessários para subsistirem, conseguindo aquilo que precisavam através da guerra.
Existia, portanto, em estado de constante pressão e insegurança, os Estados
atacavam-se com certa freqüência, a preocupação com a guerra era contínua, esta
tensão impedia o florescimento do comércio. Da guerra eram extraídos escravos
destinados ao penoso trabalho mecânico-braçal. A escravidão compunha um
elemento importante à liberdade dos antigos, sem ela os cidadãos não teriam a
disponibilidade de tempo que a atividade política exige.
 As nações modernas, por outro lado, ocupam grandes extensões territoriais,
impossibilitando que seus cidadãos se reúnam, assim como nos governos antigos,
em praça pública para deliberarem sobre questões do Estado. O trabalho escravo
está extinto neste período; a grande massa da população era composta por
trabalhadores assalariados ou, em menor número, pelos detentores dos meios de
produção — Constant aparentemente dialoga com este último. Não há tempo hábil,
portanto, para o homem moderno concentrar-se integralmente na política do Estado.
Devido a sua grande extensão, observam-se duas características: primeiro, a guerra
nestas circunstâncias trariam mais custos que benefícios; segundo, em virtude disso,
o comércio é o meio mais viável de conseguir recursos externos nos tempos
modernos.
 A guerra é, portanto, anterior ao comércio. Esta é uma crítica que Constant desfere
aos políticos franceses que cultivavam o espírito de guerra; para o autor, a guerra é
inteiramente incompatível com as nações modernas.
 A última discussão desse texto versa sobre a participação dos indivíduos modernos
na política, o autor admite que o cidadão moderno frequentemente negligencie sua
participação política. Como já discorrido, o moderno não possuem tempo hábil para
exercer plena função política da mesma forma que os antigos, pois isso lhes custaria
à liberdade individual, que é sagrada para o autor. Daí a necessidade do sistema
representativo, que se constrói sobre a procuração dada a certo número de homens
pela massa do povo, que deseja ter seus interesses defendidos e não tem, no entanto,
tempo para defendê-los sozinho.
 Os cidadãos de um governo com sistema representativo têm a obrigação de exercer
constante vigilância sobre seus representantes e cabe-lhes o direito exclusivo de
afastá-los, caso tenham traído suas promessas, assim como o direito de revogar os
poderes dos quais eles tenham eventualmente cometidos excessos.
 Para o autor, o grande risco do governo representativo é que os indivíduos possam
negligenciar a política. Faz parte do esforço de alguns governantes para que isso
seja efetivado e a participação política do indivíduo seja apenas funcional: pagar
impostos e obedecer às leis.
 Concluindo, Benjamin Constant faz um pequeno resumo de seus ideais: conciliar as
instituições à liberdade dos modernos; extinguir a educação moral; e respeitar a
liberdade individual dos cidadãos, sem, no entanto, excluir a população da atividade
política.
 Norberto Bobbio em “Teoria das Formas de Governo” (Aristóteles
e Bodin)

Aristóteles:
 Norberto Bobbio utiliza o termo “politeia”, que diz que, a constituição é a estrutura
que organiza a cidade, determinando o funcionamento de todos os cargos públicos,
sobretudo da autoridade soberana, para designar a “forma de governo”, que também
pode ser chamada de “ordenação das magistraturas”, a lei fundamental de um
Estado, que estabelece seus órgãos, as relativas funções, relações recíprocas, entre
outras. Há muitas constituições distintas por isso que, Aristóteles chama atenção,
que é preciso descrevê-las e classificá-las. Os critérios que Aristóteles utiliza são
“quem” governa e “como” governa.
 Neste capitulo, temos as escritas de Aristóteles referentes a essas diferentes
constituições. A ordem hierárquica das seis formas é: Monarquia, Aristocracia,
Política, democracia, Oligarquia e Tirania.

 Monarquia (governo BOM de um só); Governo mau – Tirania;


 Aristocracia (governo BOM de poucos); Governo mau – Oligarquia;
 Politia (governo BOM de muitos); Governo mau – Democracia.
 O critério usado por Aristóteles para separar as formas boas das más é diferenciado:
o interesse comum ou o interesse pessoal irão determinar a classificação das formas.
As formas boas são aquelas em que os governantes visam ao interesse comum; más
são aquelas em que os governantes têm em vista o interesse próprio. Seria por isso,
então, que as populações se reuniriam em cidades, ou seja, em comunidades
políticas, procurando um “viver bem”. Quando os governantes se aproveitam do
poder que receberam ou conquistaram para perseguir interesses particulares, a
comunidade assume uma forma política corrompida com relação à forma pura.
 A politia é uma mistura de oligarquia e democracia. Acontece que, sendo ela uma
forma boa, como pode ser constituída na fusão de duas formas más? Desse modo,
Aristóteles buscou um equilíbrio entre as duas formas, conciliando os aspectos
positivos das duas e descartando as eventuais falhas. Por exemplo: a promulgação
de lei que penalize os ricos que não participem das atividades públicas e dê um
prêmio aos pobres participantes, já que não se concede abonos à classe menos
favorecida nesse sentido; diminuir o limite mínimo de renda para participar de
eleições (imposto pelo regime dos ricos), elevando o admitido regime dos pobres.
 Está claro então, para Aristóteles, que a melhor comunidade política é a que se
baseia nos interesses da classe média. Para ele, um dos critérios que nos permite
distinguir o bom governo dos maus é a estabilidade, sendo, então, a mistura
democracia-oligarquia uma forma positiva, já que se encontra menos sujeita às
mutações rápidas provocadas pelos conflitos sociais existentes no mundo.

BODIN:

 Bodin passou para a história das formas de governo como teórico da soberania. Para
ele, a soberania significa o poder absoluto e perpétuo que é próprio do Estado.
Segundo Bodin, “Quem é soberano não deve estar sujeito, de modo algum, ao
comando de outrem; deve poder promulgar leis para seus súditos, cancelando ou
anulando as palavras inúteis dessas leis, substituindo-as – o que não pode fazer
quem está sujeito às leis ou a pessoas que lhe imponham poder”.
 Contudo, poder absoluto não quer dizer poder ilimitado. Essas leis que regem o
soberano são leis naturais e divinas. Outros limites impostos ao soberano são as leis
fundamentais do Estado, as hoje chamadas leis constitucionais. Assim, o rei fica
impossibilitado de se tornar um tirano. De acordo com este pensamento, percebe-se
em Bodin a preocupação com a esfera pública e privada, nesta última, o soberano só
poderá inferir caso tenha um motivo-confisco legítimo ou para salvação estatal. É,
também, o precursor da divisão entre Estado e Governo.
 Bodin acredita na existência de três formas de governo. As clássicas: monarquia,
aristocracia e democracia. Não acredita na forma mista e diz que não se deve
classificar entre formas boas e más porque essa distinção causaria o surgimento de
infinitas formas de governo. Afirma que se reunissem as três formas de governo
clássicas, o resultado não seria um governo misto, e sim um governo da democracia.
O porquê disso é que ou o povo não tem o poder de legislar (neste caso seria
aristocrático), ou este poder está com o povo, formando um Estado democrático.
 Através da sua distinção entre governo e Estado, Bodin afirma que as três formas
clássicas de Estado podem se combinar com as três formas clássicas de Governo.
Monarquia, Aristocracia e Democracia. Cruzando-as, chegamos a nove diferentes
tipos. “Essa variedade de formas de governo tem induzido alguns a erro, ‘levando-
os a postular formas mistas de Estado’, sem perceber que o governo de um Estado é
coisa bem diferente da sua administração e do modo de governá-lo”.
 Essa distinção entre regime e governo, é útil para compreender a realidade
complexa dos Estados sem recorrer à teoria do governo misto, que para Bodin, era
pura ficção. Também permite compreender o fenômeno das formas degeneradas,
que representam não um vício da soberania em si mesma, mas do seu exercício.
Cada um dos regimes pode assumir três formas diferentes: real, despótica e tirânica.
A real corresponde ao respeito do governante às leis da natureza e seus súditos; a
despótica, o governante" assenhora "os próprios súditos pela guerra justa e pelo
direito das armas; e a tirânica, o governante desrespeita as leis da natureza e abusa
de seus súditos. Para ele, a corrupção não afeta o Estado e sim o Governo.
 Bodin defende a monarquia despótica justificada pela aquisição de servos em
“guerra justa”, quando um povo é conquistado por outro e tem a escravidão como
castigo ante a morte. Uma crucial diferença com a tirânica é que a despótica é
legítima, já a tirânica não.
 Maquiavel em “O príncipe”
 CAP I: Os principados ou são hereditários, cujo senhor é príncipe pelo sangue, por
longo tempo, ou são novos. Os novos são totalmente novos, como Milão com
Francesco Sforza, ou são como membros acrescentados a um Estado que um
príncipe adquire por herança. Estes domínios assim adquiridos são, ou acostumados
à sujeição a um príncipe, ou são livres, e são adquiridos com tropas de outros ou
próprias, pela fortuna ou pelo mérito.
 CAP II: Nos principados hereditários, são muito menores as dificuldades de mantê-
los, pois basta somente que não seja abandonada a praxe dos antecessores, e depois
se contemporize com situações particulares, de modo que, se tal príncipe é de
engenho ordinário, sempre se manterá no seu Estado, se não houver uma força
extraordinária e excessiva que o prive deste; e, mesmo que assim seja, o
readquire, por pior que seja o ocupante.
 CAP III: Mas a dificuldade consiste nos principados novos. Não se trata de
principado inteiramente novo, mas sim de membro ajuntado a um Estado
hereditário (caso em que este pode chamar – se um principado misto), as sua
variações nascem principalmente de uma dificuldade comum a todos os principados
novos, a saber, que os homens mudam de boa vontade de senhor, supondo
melhorar, e esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual. São teus inimigos
todos aqueles que se sentem ofendidos pelo fato de ocupares o principado; e
também não podes conservar como amigos aqueles que te puseram ali, pois estes
não podem ser satisfeitos como pensavam. O conquistador, para manter-los deve ter
duas regras: primeiro, fazer extinguir o sangue do antigo príncipe, segundo, não
alterar as leis nem os impostos. Quando se conquista uma província de língua,
costumes e leis diferentes começam então as dificuldades, sendo necessária uma
grande habilidade e boa sorte para poder conservar. Uma forma eficaz é organizar
colônias, em um ou dois lugares, as quais serão uma espécie de grilhões postos à
província, pois é necessário fazer isso, ou ter lá muita força armada. Conservando,
em vez de colônias, força armada, gasta – se muito mais, e tem de ser despendida
nela toda a receita da província. A conquista torna – se, pois, perda. O desejo de
conquista é coisa verdadeiramente natural e ordinária e os homens que podem faze-
lo serão sempre louvados e não censurados. Mas se não podem e querem faze-lo, de
qualquer modo, é que estão em erro, e são merecedores de censura. Conclui-se daí
uma regra geral, que nunca ou muito raramente falha: quando alguém é causa do
poder de outrem, arruína – se, pois aquele poder vem de astúcia ou força, e qualquer
destas é suspeita ao novo poderoso.
 CAP V: Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre, e não a
destrói, será destruído por ela, porque ela sempre invocará, na rebelião, o nome
de sua liberdade e de sua antiga ordem, como aconteceu em Pisa após cem anos de
submissão aos florentinos. O remédio contra isso é destruí-la, ir viver pessoalmente
nela ou deixá-la viver sob suas próprias leis, impondo-lhe um tributo criando dentro
dela um governo de poucos que se conserve amigo.
 CAP VI: Aqueles que, por suas virtudes, se tornam príncipes, conquistam o
principado com dificuldade, mas se mantêm facilmente. As dificuldades que se
encontram na conquista do principado nascem, em parte, da nova ordem legal e
costumes que são forçados a introduzir para a fundação do seu Estado e da sua
própria segurança. Deve – se considerar que não há coisa mais difícil, nem de êxito
mais duvidoso, nem mais perigosa, do que o estabelecimento de novas leis. O novo
legislador terá por inimigos todos aqueles a quem as leis antigas beneficiam, e terá
tímidos defensores nos que forem beneficiados pelo novo estado de coisas. Essa
fraqueza nasce parte do medo dos adversários, parte de incredulidade dos homens,
que não acreditam na verdade das coisas novas senão depois de uma firme
experiência. Nos principados completamente novos, onde há um novo príncipe,
existe maior ou menor dificuldade para mantê-lo conforme seja maior ou menor
a virtù de quem o conquistou. Exemplos que corroboram o que Nicolau acabou de
citar são homens que pela própria virtù e não pela fortuna se tornaram príncipes,
exemplos como Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu. Tais personagens depois de
vencerem perigos e passarem a ser venerados, tendo aniquilado os que tinham
inveja de suas qualidades, tornaram-se poderosos, seguros, honrados e felizes. É
possível acrescentar à lista o caso de Hierão de Siracusa Hierão extinguiu a milícia
antiga e organizou uma nova, deixou as amizades antigas e contraiu novas, e
assim que teve seus próprios amigos e soldados pôde construir, sobre esta base,
todo um edifício. Assim, teve muito trabalho para conquistá-lo, mas pouco para
conservá-lo.
 CAP VII: Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes pouco trabalho
têm para isso, é claro, mas se mantêm muito penosamente. Não têm nenhuma
dificuldade em alcançar o posto, porque para aí voam; surge, porém, toda sorte de
dificuldades depois da chegada. É o que acontece quando o Estado foi concedido ao
príncipe, ou por dinheiro, ou por graça de quem o concedeu. Aqueles que, somente
pela fortuna, de cidadãos particulares se tornam príncipes fazem-no com pouco
esforço, mas com muito esforço se mantém. Ele aduz então dois exemplos recentes
na época, Francesco Sforza e Cesare Borgia. Francesco, pelos devidos meios e
grande virtù, passou de cidadão privado a duque de Milão, e o que havia
conquistado com enorme empenho com pouco esforço manteve. Por outro lado
Cesare Borgia, vulgarmente chamado duque Valentino, conquistou o Estado com
a fortuna do pai e com ela o perdeu. Quem não prepara as bases antes, poderá
fazer depois esse trabalho.
 CAP VIII: Maquiavel diz que ainda existem outros dois modos de se ascender a
príncipe sendo reles particular sem ser pela fortuna nem pela virtù, isto é, ascender
ao principado de maneira acelerada e nefanda ou através do favor de seus
concidadãos. Agátocles Siciliano, filho de oleiro, teve sempre uma conduta
criminosa durante toda a vida. Ingressando na milícia, conseguiu promover-se até
chegar a ser pretor de Siracusa. Decidiu tornar-se príncipe. Reuniu certa manhã o
povo e o Senado de Siracusa como se estivesse interessado em deliberar coisas
pertinentes à república, e, a um sinal combinado, fez seus soldados assassinarem
todos os senadores e as pessoas mais ricas do povo. Irrompe-se à minha memória
uma passagem conhecida da classe, a de Catarina de Médici. A semelhança entre a
emboscada de Agátocles e a de Catarina (usando como pretexto o casamento de sua
filha Margot com o rei Henrique de Navarra, líder protestante, para matar todos os
protestantes importantes que faziam frente no conflito entre tais e os católicos) não
me passou despercebida e, tanto um como outro, governaram sem controvérsia civil
após os banhos de sangue. Não se pode, nas palavras de Nicolau Maquiavel, atribuir
à fortuna ou a virtù tais feitos, pois sem uma nem outra foram conseguidos.
 CAP IX: Quando um cidadão, não por suas crueldades ou outra qualquer
intolerável violência, e sim pelo favor dos concidadãos, se torna príncipe de sua
pátria – o que se pode chamar principado civil (o que o autor chama de principado
civil e que para alcançá-lo não é necessário ter muita virtù nem muita fortuna, mas
uma astúcia afortunada) digo que se chega a esse principado ou pelo favor do povo
ou pelo favor dos poderosos. Quem se tornar príncipe pelo favor do povo deverá
manter sua amizade, o que será fácil, pois tudo que lhe pedem é não serem
oprimidos. Mas quem se tornar príncipe pelo favor dos grandes e contra o povo
deverá, antes de qualquer coisa, procurar conquistá-lo, o que também será fácil,
se lhe der proteção.
 CAP XV: Resta agora ver como deve se comportar um príncipe para com seus
súditos e amigos. Muitos imaginam repúblicas e principados que jamais foram
vistos e que nem se soube se existiram na verdade, porque há tamanha distância
entre como se vive e como se deveria viver, que aquele que trocar o que faz por
aquilo que se deveria fazer aprende antes a ruina do que sua preservação. Senti
nessa última passagem uma crítica aos contratualistas e demais teóricos
abstracionistas que vieram antes de Nicolau. Não posso deixar de concordar com
ele quando diz que se trocarmos nossos atos reais pelos atos supostamente ideais
estaríamos tão somente caminhando para alienação, frustação, isolamento, ruína ou
desprezo dos demais membros da sociedade. Não tiro o mérito dos avanços
contratualistas, mas sou da tese que já absorvemos o que historicamente poderíamos
absorver disso e muito do resto é apenas título de curiosidade ou inadequação
temporal.
 CAP XII: Cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel: não
obstante isso, deve ter o cuidado de não usar mal essa piedade. Um príncipe não
deve, pois, temer a má fama de cruel, desde que por ela mantenha seus súditos
unidos e leais, pois que, com mui poucos exemplos, ele será mais piedoso do que
aqueles que, por excessiva piedade, deixam acontecer as desordens das quais
resultam assassínios ou rapinagens: porque estes costumam prejudicar a
comunidade inteira, enquanto aquelas execuções que emanam do príncipe atingem
apenas um indivíduo. Todo príncipe deve desejar ser considerado piedoso e não
cruel; entretanto, devo adverti-lo para não usar mal esta piedade. jO príncipe,
contudo, deve ser lento no crer e no agir, não se alarmar por si mesmo e proceder
por forma equilibrada, com prudência e humanidade, buscando evitar que a
excessiva confiança o torne incauto e a demasiada desconfiança o faça intolerável.
Mas quando o príncipe está à frente de seus exércitos e tem sob seu comando uma
multidão de soldados, então é de todo necessário não se importar com a fama de
cruel, eis que, sem ela, jamais se conservará exército unido e disposto a alguma
empresa. Concluo, pois, voltando à questão de ser temido e amado, que um príncipe
sábio, amando os homens como a eles agrada e sendo por eles temido como deseja,
deve apoiar-se naquilo que é seu e não no que é dos outros; deve apenas empenhar-
se em fugir ao ódio, como foi dito. O amor é mantido por vínculo de
reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido sempre que lhes
interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que nunca te
abandona.
 CAP XVIII: É importante ressaltar que existem dois tipos de combates: um com as
leis e o outro com a força. Um príncipe deve saber usar ambas as naturezas, uma
vez que uma sem a outra não é duradoura. Isto já foi dito aos príncipes, em
palavras veladas, pelos escritores antigos, que escreveram que Aquiles e muitos
outros príncipes antigos haviam sido criados por Quíron, o centauro, que os
guardava sob sua disciplina. Visto que um príncipe, se necessário, precisa saber
usar bem seu lado animal (metaforicamente chamado de Quíron pelas lendas
antigas), precisa saber escolher sua natureza animal optando ser leão e raposa
simultaneamente. Precisa ser leão para aterrorizar os lobos (ameaças) e deve valer-
se da raposa na simulação, dissimulação e astúcia.
 CAP XXV: Nicolau não ignora que muitos de seus contemporâneos foram de
opinião de que as coisas desse mundo são governadas pela fortuna e por Deus. Ele
rebate dizendo que já que nosso livre-arbítrio não desapareceu, é até possível ser
verdade que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que deixou ao
nosso governo a outra metade, ou quase. Com tudo isso nada mais ele quis dizer do
que afirmar que a sorte é imprevisível; devem-se tomar providências para
catástrofes, antes que ocorram. A fortuna demonstra sua força onde não encontra
uma virtù ordenada. Se um príncipe se conduz com prudência e paciência, e os
tempos e as coisas contribuem para que seu governo seja bom, será bem-
sucedido; mas, se mudarem os tempos e as coisas e ele não mudar seu modo de
proceder, então se arruinará. O Papa Júlio II procedeu em tudo impetuosamente,
mas, como sempre encontrou os tempos e as coisas conformes a seu modo de
agir, sempre alcançou um final feliz. Conclui ele o discurso dizendo que, variando
a fortuna e obstinando-se os homens em sua maneira de ser, serão felizes enquanto
ambas estiverem de acordo; mas quando discordarem serão infelizes.
 Renato Ribeiro em “Hobbes: o medo e a esperença”
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