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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE AMAMBAI


CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISOLAINA RIQUERME BENITES

JEGUAKA ARTESANATO EM EXPRESSÃO DA CULTURA GUARANI


KAIOWÁ

AMAMBAI/MS
2019
1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE AMAMBAI
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISOLAINA RIQUERME BENITES

JEGUAKA ARTESANATO EM EXPRESSÃO DA CULTURA GUARANI


KAIOWÁ

Trabalho apresentado como requisito parcial para a


obtenção do título de licenciada em Ciências Sociais
na Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul/UEMS - Unidade Universitária de Amambai MS.
Orientadora: Profª Anna Carolina Hostmann
Amorim

AMAMBAI/MS
2019
2
DISOLAINA RIQUERME BENITES

JEGUAKA ARTESANATO EM EXPRESSÃO DA CULTURA GUARANI


KAIOWÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em forma de artigo à Universidade Estadual de


Mato Grosso do Sul - UEMS, como pré-requisito para obtenção do título de licenciatura do
Curso de Ciências Sociais.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

_______________________________________________________

_____________________________________________________

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RESUMO

Este artigo traz uma pesquisa muito interessante, através dela consegui várias explicações para
trazer mais informação sobre o tema do artesanato indígena. Para realizar esse trabalho fiz
pesquisa de campo, realizei entrevistas com rezadores e com uma pessoa que está praticando o
e fabricando nosso artesanato no presente. Hoje em dia os objetos para construir o colar, brinco
e para pessoa fabricar o artesanato tem que ser primeiro encomendados e são trazidos de outro
lugar, então as pessoas tem que comprar para ter essas sementes para daí fabricar os artesanatos
aqui em Amambai/ MS. Não é que queiram fazer desaparecer a cultura por falta das sementes
para fazer os brincos ou colares, mas como precisam encomendar elas de outros lugares fica
mais difícil produzir as peças. Então, é importante pesquisar para compreender e saber a
realidade da produção de cada objeto que tem os seus valores e o seu significado e é e bem
interessante saber cada detalhe pois através de cada artesanato e da sua produção podemos saber
sobre o passado e também sobre o presente. O meu objetivo de pesquisa foi trabalhar com esse
tema porque ele, o artesanato, está em risco de desaparecimento e eu tento buscar entender as
relações envolvidas nisso. Percebemos que a mudança vem dentro da nossa comunidade através
da nossa língua e fala também. O meu interesse de entender a questão do tema artesanato
Guarani e Kaiowá é identificar o saber e modo de fazer artesanato, valorizando e preservando
a nossa cultura. Assim, nesta pesquisa vou trabalhar com o tema da cultura indígena Guarani
Kaiowá. Abordo a cultura a partir do artesanato produzido por alguns indígenas na aldeia
Amambai, localizada no município de Amambai, MS na fronteira Brasil/Paraguai. O grande
problema de pesquisa que apresentamos aqui é a falta de conhecimento por parte dos mais
jovens em relação ao artesanato Guarani Kaiowá. A falta de valorização e preservação da nossa
cultura serão temas abordados no trabalho, já que busco saber quais são as razões que levaram
ao processo de ruptura da nossa arte. Outro problema de pesquisa é entender como os estudiosos
da cultura Guarani Kaiowá tem apresentado resultados de investigações que mostram que os
jovens estão aprendendo tradições de culturas diferentes ao universo do nosso povo. Assim,
entrevistar os mais velhos, especialmente, os rezadores é importante para conhecermos as
práticas e valores culturais que fazem parte das nossas tradições.

Palavras-chave: jeguaka; patrimônio imaterial; cultura Guarani Kaiowá.

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Introdução

Sou da etnia Kaiowá, minha mãe Graceli Riquerme é da etnia Guarani e o meu pai Elias
Benites também da etnia Kaiowá, a minha família é natural da aldeia Amambai localizada no
município de Amambai-MS. Tenho cinco irmãs e quatro irmãos, através do apoio da família
consegui alcançar o meu objetivo que é escrever esse artigo sobre o artesanato Guarani e
Kaiowá.
No começo, quando eu tinha oito anos de idade, achavam que era tudo difícil para eu
frequentar a escola. No primeiro ano de ensino fundamental estudei na escola Municipal
Mbo’eroy Guarani Kaiowá e achavam que eu não conseguiria ler e escrever, mas aprendi o
mais rápido possível, até que fiquei assustada por aprender muito rápido.
Desde que comecei a frequentar a escola nunca reprovei e passava cada ano, mesmo que
faltasse alguma coisa para mim. Naquela época a minha mãe e o meu pai não eram aposentados
e eu passava frio e calor no caminho da escola. Mesmo assim, continuei sempre firme para não
desistir da escola.
Quando eu tinha dez anos de idade entrei no grupo de dança JIGA com o professor
Ismael Morel, nós ensaiávamos a dança e o Guachire para apresentar em qualquer lugar e foi
muito bom aprender a dança. Com esse professor aprendi vários tipos de conhecimentos da
cultura Guarani Kaiowá. A partir daí comecei a prestar atenção na nossa cultura e comecei a
gostar de praticar a nossa arte. Também comecei a prestar atenção na peças que eram
importantes nas apresentações. Para apresentar na cidade nós temos que comprar roupas típicas
e cocares, dentre outros itens, que irei apresentar mais para frente como fazendo parte da arte
Guarani Kaiowá.
Depois me interessei por praticar esporte e também comecei a falar com o professor
Ismael para entrar no treino. Eu gosto muito de praticar esporte até hoje, o nosso time feminino
sempre foi campeão e nós representávamos a escola. Em 2010 o nosso time foi participar da
copa da juventude na cidade de São Gabriel do Oeste, nós saímos campeões de novo.
Quando eu estava estudando no primeiro ano do ensino médio na escola Estadual
Indígena Mbo’eroy Guarani Kaiowá, achavam que quando eu alcançasse o terceiro ano do
ensino médio já seria o fim do desafio. Em 2011 quando eu tinha dezessete anos de idade parei
de estudar no 2°ano de ensino médio por causa de um problema que veio na minha vida. O meu
pai sempre me deu um bom conselho: voltar a frequentar a escola e em 2014 comecei a

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frequentar o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) e terminei o Ensino Médio. Em 2015 fiz o
ENEN, mas eu não sabia como fazer inscrição para entrar na faculdade.
Em 2016, no começo do mês de março fui jogar futebol e fiquei sentada ao lado do
campo de futebol, daí que o meu primo Algacir Amarília me chamou para tomar tereré com ele
e aí começou a falar sobre a inscrição e perguntou se eu tinha feito o ENEN, falei que fiz, ele
me passou a informação de como me inscrever para entrar na faculdade, então falei para ele me
inscrever. Através do meu primo consegui entrar na faculdade, sem ele não estaria aqui
cursando licenciatura em ciências sociais.
No final de 2016 consegui a vaga na UEMS, entrei pela cota para estudantes indígenas
para cursar licenciatura em ciências sociais na unidade de Amambai/MS. Durante esses quatros
anos e curso aprendi muita coisa, é muito bom estudar ciência sociais, essas teorias
extremamente importantes trazem mais informação, mais olhares novos para refletir sobre a
educação e buscar entender o ensino de sociologia como parte da educação que chega com a
escola dentro da aldeia. Daí que veio o conhecimento que não tinha na minha vida, fiquei muito
feliz por ter conseguido essa vaga para estudar essa licenciatura.

Fazendo a pesquisa

Agora vou contar um pouco mais sobre a minha pesquisa de Conclusão de Curso. Esta
pesquisa é fruto de observação participante realizada e de entrevistas com rezadores e artesã.
Foi muito bom trabalhar com esse tema do artesanato Guarani kaiowá. Em primeiro lugar, na
hora de entrevista e da observação, aprendi que é interessante, segundo o antropólogo Roberto
Cardoso de Oliveira (1996) "olhar, ouvir e escrever". No entanto, como acadêmica e futura
docente é fundamental, para além de ouvir, ver e escutar, procurar explicar os diálogos dentro
de uma compreensão epistemológica que demonstra e valoriza o conhecimento tradicional
indígena, apontando como as relações eram no passado e como era nosso costume tradicional,
sem perder de vista as transformações que fazem o presente da nossa cultura. A cultura
tradicional do povo Guarani Kaiowá tem muita importância para nossa comunidade da aldeia
Guapo’y, localizada no município de Amambai. Assim, buscar identificar e entender como os
conhecimentos sobre o artesanato foram repassados de geração a geração pode nos ajudar a
conhecer mais ainda sobre nossa cultura, especialmente, a dos antepassados.

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Pesquisar o artesanato, o canto, a reza e o guachire (dança específica dos mais velhos) é
de grande interesse nessa pesquisa, considerando que hoje muito jovens desconhecem essa
tradição por causa das rupturas que foram acontecendo ao longo dos anos. Estudar o artesanato
Guarani Kaiowá é importante para que a relações entre a cultura e natureza estejam sempre
presentes em nossas práticas e valores tradicionais, como assinala Schaden (2015). Atualmente
a comunidade tem lutando pelo direito de revalorizar o artesanato e usá-lo novamente no seu
cotidiano.
O meu objetivo ao escolher esse tema é identificar o saber fazer e modo de fazer
artesanato Guarani Kaiowá entre os membros da nossa comunidade, com a finalidade de
entender como os detentores desses saberes podem auxiliar as futuras gerações a ressignificar
o seu modo de vida na aldeia Guapo’y, valorizando e preservando a nossa cultura.
Escolhi esse tema porque me interessa estudar as mudanças e continuidades existentes
no artesanato Guarani Kaiowá, minha preocupação é mostrar como a nossa cultura, a partir do
artesanato, expressa valores e práticas tradicionais apesar das transformações que o nosso povo
vem sofrendo ao longo dos anos.
Para realizar a presente proposição realizei entrevistas com dois caciques/ rezadores e
com uma parteira que faz artesanatos e busquei catalogar os significados de cada objeto da arte
que nós temos: cocar, brinco, colar, pulseira, cruzes, mimby, mbaraka e takua.
Durante as entrevistas visei mapear e discutir sobre o canto, a reza, o batismo das
crianças, o batismo da planta medicinal, o canto que serve para expulsar os espíritos do mal e
conhecer a realidade do rezador, ou seja, do curandeiro. Tudo isso vem de uma preocupação
que nasceu diante da problemática de que nossa cultura tem passado e sofrido com a pressão
dos não indígenas.

Jekuaha (artesanato) na comunidade

Trabalhar com esse tema cultura Guarani Kaiowá é extremamente importante para se
compreender as mudanças dentro da nossa comunidade. Através da minha pesquisa pode ser
possível redirecionar nosso olhar para a relação presente/passado, através da figura do rezador,
que é sujeito social fundamental no processo de continuidade de nossa cultura.

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A cultura para Geertz (1989) significa uma teia de significados. Assim, a partir disso,
vou catalogar e mapear o artesanato Guarani Kaiowá e seus significados, buscando a
valorização e preservação dessa cultura imaterial como valorização da cultura indígena.
Para realizar essa pesquisa adotei a entrevista e a descrição densa. As entrevistas foram
realizadas na aldeia com os mais velhos, detentores do saber e modo de fazer artesanatos. Deste
modo, o caminho teórico-metodológico proposto para essa pesquisa está baseado em Clifford
Geertz (1989). Adotar este caminho é se inscrever no campo da observação e da “descrição
densa”. Acima de tudo, é tentar entender como são operadas as tramas, os enredos escritos por
certos agentes sociais. Para esse autor a cultura significa uma teia de significados.
Sobre o campo das entrevistas, Alberti (2005) diz que a História oral permite o registro
de testemunhos e o acesso a “história dentro da História” e, dessa forma, amplia as
possibilidades de interpretação do passado. A História oral é uma metodologia de pesquisa e de
constituição de fontes para o estudo da antropologia e da história contemporânea. Consiste na
realização de entrevistas gravadas com indivíduos que participaram ou testemunharam
acontecimentos e conjunturas do passado e presente (op.cit 2005).
Segundo o autor Alberti (2005), existem vários tipos de significados do artesanato, um
deles é pensá-lo como se fosse uma teia de aranha que amarra muitas questões. Concordei com
a ideia do autor e por isso optei por perguntar para os entrevistados cada significado do objeto
de artesanato e percebi que esses significados não têm fim.
O grande problema de pesquisa é a falta de valorização da cultura Guarani e Kaiowá e
do artesanato por parte dos jovens indígenas, o que pode levar ao desaparecimento de nosso
artesanato. Hoje em dia os jovens têm deixado a sua cultura dentro da nossa comunidade em
razão de outros valores externos à nossa prática cultural.
O patrimônio pode ser conceituado como a herança de uma sociedade no conjunto das
realizações construídas ao longo de sua história, no que se refere à sua cultura (DORSA,
CASTILHO, SANTOS, 2015). Todavia, signos materias ou imateriais (objetos, construção,
costumes, vestimentas) só podem ser considerados patrimônio se a comunidade ou alguém lhes
conferir valor (SANTOS, 2011). Se os jovens não valorizam nosso artesanato, pode ser que
essa herança vá se perdendo.
Neste sentido, o que justifica o presente projeto é estudar o artesanato do povo Guarani
Kaiowá com interesse em sua valorização e preservação para que as novas gerações possam
conhecer a nossa cultura.

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Os jovens valorizam a sua própria cultura hoje em dia no dia 19 de abril, que é o dia do
índio. Essa data foi marcada para comemoração dos povos indígenas para mostrar suas
resistências e mostrar que a sua cultura se mantém firme no presente. Mas, mesmo que os
jovens comemorem o dia 19 de abril, a maiorias dos jovens não tem interesse de praticar o
artesanato, pois dizem que não tem tempo para praticar a arte. A maioria deles fala que não
tem mais matéria prima para fabricar o nosso artesanato aqui dentro da aldeia e que isso é o
grande problema. Então, abordar a cultura a partir do artesanato produzido por alguns indígenas
na aldeia Amambai parece relevante.
Trabalhar com a cultura Guarani Kaiowá é extremamente importante, através da minha
pesquisa consegui trazer essa a análise do passado e do presente. Para realizar essa pesquisa de
campo fiz entrevistas com rezadores para saber e ver a realidade e a dificuldade que nós
indígenas estamos passando por falta de materiais para praticar e construir o artesanato, pois
não somente os jovens dizem não realizar essa arte por falta de materiais, mas a maioria das
pessoas entrevistadas me falou que tem que comprar sementes que estavam faltando para
construir o artesanato.
Fiz entrevista com a dona Lucila Assis de 60 anos de idade. O apelido dela e jári, ela
começou a trabalhar e praticar artesanato com 19 anos, naquela época estava trabalhando toda
a família dela na construção de artesanatos porque naquela época não era tão difícil encontrar
os materiais para praticarem o artesanato. Ela tem outra profissão que permite ela praticar a sua
arte e conseguir, assim, se manter firme. Além de ser artesã, ela trabalhar como parteira
também, ela trabalha com as mulheres na hora do parto, sua naturalidade é a aldeia Amambai e
nós conversamos na nossa língua materna na casa dela. O conhecimento que ela teve desde o
começo é o de trabalhar com a sua própria cultura Guarani Kaiowá e ela mostra que está
praticando ainda a sua cultura.

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Figura 1 Lucila Assis

Para dona Lucila é muito fácil a construção da arte. Ela consegue fazer três colares e
pulseiras antes de meio dia, no resto da tarde ela consegue fazer cinco, ou seja, oito peças no
total. Para fazer um arco e flecha ela leva três dias para colocar em forma porque esse é mais
difícil de construir. Já a cestaria, ela leva um dia para fabricar, o cocar leva meio dia de
fabricação.
Dona Lucila também falou do seu passado, como era a vivência dentro da casa dela. Ela
começou a se interessar a fabricar artesanato para mostrar a sua própria cultura que ainda
sobrevive. Ela contou como começou a utilizar a pintura e urucum para decorar a sua arte. Na
família dela hoje em dia tem três pessoas que tem interesse em fabricar a arte. A família da
dona Lucila relatou que é muito importante trabalhar com esse artesanato para mostrar a cultura
indígena Guarani Kaiowá.

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Figura 2. Arte da dona Lucila

A maioria dos nossos parentes não fabrica mais arte, então a família da dona Lucila
ainda consegue fazer esse artesanato para ajudar o nosso povo. Ela consegue vender a sua arte
para os jovens e para adultos. Hoje em dia a roupa típica, brinco, pulseira, cocar e arco e flecha
são usados pelos os jovens tanto do sexo masculino, quanto do feminino nos desfiles e para
apresentar nas escolas e mostrar a sua cultura.
Os jovens precisam de artesanatos como arco e flecha e roupa típica para participar de
eventos como o do dia 19 de abril e o JOIND (jogos da integração indígena), eventos
importantes para os jovens Guarani Kaiowá. Estes artesanatos também são necessários para
desfiles outros, então o adolescente ou jovem que não tem condições de fabricar a sua própria
arte, compra.
A família da dona Lucila tenta construir uma nova prática de levar para qualquer lugar
seus artesanatos para mostrar que a sua cultura Guarani Kaiowá ainda está viva. O problema
para eles é que eles têm que comprar de outra aldeia o material que falta para fabricar a sua arte
favorita. Na maioria das vezes ela consegue o material para fabricar o artesanato perto da sua
casa, mas objetos para proteção ela compra da outra aldeia, mais distante.
A nossa cultura Guarani Kaiowá tem muita importância, com ela nós conseguimos
expressar o nosso canto, praticar nossa arte, através da nossa cultura nós conseguimos defender
os nossos direitos, principalmente, através da nossa língua originária. Ao realizar esta pesquisa

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consigo ver a realidade e as dificuldades que nós indígenas estamos passando por falta de
valorização da nossa cultura e do costume tradicional.
Fiz também entrevista com o Cacique (xamã ou rezador) Valdemar Lima de 76 anos de
idade. conversamos na língua materna na casa dele, perguntei a questão do significado de cada
objeto de artesanato Guarani Kaiowá e quais são os objetos de artesanato que pertencem a
ñanderu.
O cacique Valdemar relatou uma parte bem interessante sobre como o nome do cacique
de verdade era antigamente. Segundo ele, o rezador era conhecido como ñembi’ara em Guarani.
A nova geração já o chama de qualquer modo e isso mostra a questão da língua na nossa etnia
Guarani Kaiowá. Nós já deixamos a nossa fala de antigamente para o passado. Hoje em dia a
nossa fala já se mistura com a língua português e espanhol, mudando a maneira de chamar o
rezador, por exemplo.
Valdemar também relata que esse nome do passado o ñembi’ara foi recebido lá no céu,
onde ele foi batizado na yvanga onde ele falava com o espírito que não vive nessa terra, ele fala
que conheceu vários lugares na yvanga, lugares bonitos e cheios de flores, mas não é igual da
terra onde nós pisamos, aqui na terra tem vários tipos de mosquito, dengue, cobra, larva dentre
outras.
Somente o rezador consegue alcançar esse lugar, chegar lá e conversar com o pessoal
que ele conheceu. Para ele batizar uma criança, primeiramente ele vai fazer jehovasa antes de
começar a cerimônia, o primeiro passo para começar a fazer esta cerimônia é o canto, através
do canto ele consegue falar com os espíritos para dar o nome específico para a criança. O nome
o espírito vai dar na yvanga, quando é meia noite se começa a batizar a criança recém-nascida
na casa de reza.
Antigamente a maioria da nossa comunidade indígena conhecia a casa de reza em
Guarani: ongusu. Atualmente a comunidade já começa a chamar casa de reza oga pysy. Para o
rezador a casa de reza chama-se ongusu até agora e oga pysy significa, para ele, cemitério.
Através das mudanças que acontecem se inverte e transforma a sua própria língua e
muitas palavras estão correndo risco de desaparecer. Existem palavras mais antigas que nós não
usamos mais no dia de hoje, pois falamos de forma diferente no presente. Aqui existe uma
questão importante, a questão da geração, pois as crianças hoje desde pequenas já aprendem a
falar em português.

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Na aldeia Guapo'y, observamos que o rezador, a parteira e alguns jovens tentam resgatar
a arte e a cultura indígena para seu uso novamente. Assim, vamos conhecendo o significado de
cada objeto dado pelo rezador e que pertence a ñanderu e o significado destes objetos para as
demais pessoas que não são rezadores. Esses objetos ganham seus próprios significados quando
criados como artesanatos, para além da experiência do rezador os objetos têm sentidos outros
como cruz, apitos, colares, brincos, pulseiras, takua, cocar e mbaraka. A seguir vou dar uma
breve descrição do que são esses artesanatos.
Cruz conhecido em Guarani como kurusu é feito de uma planta que se chama yvyra
ryakua, aqui na nossa aldeia Guapo’y é muito difícil achar essa planta. Essa cruz é muito
importante para o rezador que a usa em qualquer lugar já que serve para fazer um remédio usado
para batizar as crianças e as planta medicinais. No passado era obrigatório batizar plantas de
consumo como a mandioca, o milho, a batata doce, a banana e o mamão, que seriam plantas
medicinais também, hoje já é mais difícil ver essa prática. As plantas medicinais que pertencem
a nossa comunidade, como o algodão de campo ou o mba’egua- conhecido como vitamina
dentro da aldeia, precisam ser batizadas para serem utilizadas.
O rezador fala que não pode nem tocar o kurusu que é a cruz sem saber ñembo’e que é
o canto para cruz. Nós que não sabemos o canto não podemos nem tocar na cruz pois é perigoso.
Já o mimby, conhecido como apito, é feito de uma planta yvyra ryakua e é um instrumento do
rezador que é tocado antes de começar o jehovasa (e a iniciação da cerimonia de mais velhos).
O mimby tanto funciona para se comunicar com o espírito na yvanga como também serve para
falar com outros espíritos. Tem também vários significados e muitos símbolos e formatos
diferentes no mimby.
O Mbaraka é conhecido como chocalho e é um instrumento que acompanha a voz
quando o rezador faz o ñembo’e. O mbaraka tem muito poder e é muito poderoso para expulsar
o espírito do mal que se chama angue em guarani e que fica na terra para a tormenta das pessoas
que vivem. Quando tem o símbolo da vaca no chocalho ele tem um significado específico, todo
rezador ou rezadora diz que esse símbolo é muito importante para quando as pessoas lutam para
defender os seus direitos e para retomar a sua terra de volta. Pelo que me contaram, este desenho
da vaca nos mbaraka estão lá porque representam o gado que tirou, dos indígenas, a sua terra
própria.

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Figura 3 chocalho Mbaraká

Estes instrumentos são dos homens, antigamente as mulheres não podiam nem tocar em
um mbaraka e o instrumento específico das mulheres era o takua. Mas hoje em dia não se usa
mais essa regra, no momento atual as mulheres ñandesy (rezadoras) também têm direito de usar
esse instrumento mbaraka. Tanto o mbaraka quanto o takua são instrumentos originários do
nosso povo indígena Guarani Kaiowá que acompanham as vozes.

Figura 4. Cocar

Essa figura acima mostra a foto da Lucila no momento em que ela estava explicando onde
conseguiu as penas de águia para construção de jeguaka, o cocar A maioria das penas que ela
usa para construção de cocares ela compra do pássaro nativo de outra aldeia. Lucila relata que
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aqui na aldeia Amambaí é muito difícil conseguir penas do pássaro nativo. Esses jeguaka são
feitos de penas de pássaro nativo. Os cocares servem para o uso do rezador e para o uso de
jovens, já que com esse cocar nós indígenas temos mais força para enfrentar o nosso objetivo
na nossa frente de lutar pelos nossos direitos.
Os grafismos e pinturas corporais dos Guarani Kaiowá são feitos de jenipapo e urucum. Para
fabricar um símbolo no seu corpo para algum evento é preciso se preparar antes, pois para
realizar o símbolo demora mais ou menos duas horas. O uso destes grafismos é muito
importante para embelezar o corpo. Os símbolos do nosso grafismo Guarani Kaiowá eram
usados para proteção. As pinturas variam se a pessoa é casada ou solteira, existem grafismos
específicos para que o mal não se aproxime de meninas ou meninos e para que eles fiquem
protegidos.
Os colares são extremamente importantes para as mulheres e servem para a proteção e
também como remédio. Uma das pessoas que foi entrevistada comentou que ele é o melhor
remédio para mulheres. Durante a gravidez a mulher pode utilizar o colar para fazer chá para
tomar. No primeiro dia de gravidez a mulher pode passar pela orientação de ñandesy e ñanderu
para batizar o colar para dar o melhor resultado na gravidez. Colares e pulseira têm vários
significados, temos alguns para proteção e alguns que não são. Os colares e pulseiras que são
feitos de sementes precisam ser batizados para que sejam protegidos e poderem ser usados.

Figura 5 Colar

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A foto abaixo, que consegui no caminho da pesquisa, é bem interessante. Durante a
entrevista eu consegui tirar essa foto da unha de onça do seu Valdemar que passou a informação
sobre ela. Segundo Valdemar, as pessoas usam colar que foi feito de unha de onça para proteção,
esse objeto é contra o espírito do mal e inveja, entre outras coisas ruins. Para Valdemar a unha
de onça é boa para proteger durante viagens já que garante que não aconteça algo errado.
Quando a pessoa tem esse colar costuma andar com ele mesmo sem perigos aparentes. O dente
de onça usado como colar também é sagrado. Esse é um bom colar que vai te proteger em
qualquer lugar de toda maldade, porém, para que a proteção seja efetiva é preciso primeiramente
saber o canto.

Figura 6. Unha de onça

Outro artesanato Guarani Kaiowá é Araity. Araity é feito de mel de abelha e primeiro
tem que secar para ser utilizada como vela para o batismo das crianças quando elas recebem o
seu nome. O nome é dado pelo rezador quando a criança ainda é recém-nascida. Segundo o
rezador, a luz desta vela vai mostrar o caminho para a criança ver a realidade do mundo.

Canto, reza e a cultura dos Guarani Kaiowá

Realizei entrevista com o cacique Emiliano Ilario, nós conversamos na língua materna
na casa dele, o nome indígena dele é Kunumi Ava Rory, ele recebeu esse nome quando foi
batizado, ele tem 66 anos de idade. Em 1961 quando ele era uma criança de oito ano de idade
ele começou a praticar o canto a reza e o guachire junto com o mestre que nós indígenas

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chamamos de ñanderu. Quando ele tinha 17 anos de idade já começava a batizar crianças e já
fazia remédios caseiros para seus pacientes e benzia estes pacientes para curá-los.
Emiliano morava na aldeia Te’ykue no município de Caarapó, mas mudou-se para aldeia
Amambai há 5 anos atrás. Desde que era jovem começou a construir a casa de reza na aldeia e
ele disse que sem a casa de reza não tem vida para ele. Muitas vezes perguntaram para ele como
ele conseguiu tudo tão rápido para construir a casa de reza, achavam que era muito difícil para
conseguir sape, mas para ele tudo foi fácil.
Para construção de oga pysy ele precisou de materiais como sape e madeira, só isso. Ele
conseguiu erguer tudo em cinco dias. Após a construção ele precisa fazer uma grande festa
como guachire para batizar a casa de reza, após o batismo a casa de reza já tem o seu grande
valor para uso. Para o ñanderu tem muita importância essa casa de reza, pois ela é sagrada. É
através da casa de reza que nós conseguimos manter firme a nossa cultura.
Esse é o objetivo do cacique Emiliano que faz o canto para manter firme a sua cultura.
Segundo ele o canto tem o seu valor em qualquer lugar. Emiliano tem um grupo que trabalha
junto com ele. O seu Emiliano não fica muito na sua casa, ele sempre sai para apresentar o seu
trabalho em eventos para manter firme a sua cultura. Ele viaja sempre com a FUNAI,
principalmente para fazer jehovasa antes de começar os eventos, por isso ele tem o seu próprio
conhecimento de como defender a sua própria aldeia e manter firme a sua cultura e costume
tradicional.

O conhecimento do cacique é muito interessante, ele fala que através da nossa língua
materna consegue cantar muito, ele e curandeiro de todos, para ele ter uma vida tranquila tem
que fazer festa de guachire, canto e reza a cada fim de semana dentro da casa de reza, ele tem
orgulho de ser rezador. Até de fora vem gente para fazer pesquisa sobre ele, os demais usam a
casa de reza para fazer reuniões com o capitão da aldeia ou usam para fazer palestras sobre a
cultura e os costumes dos Guarani Kaiowá.
Muitos antropólogos conhecem o seu Emiliano como cacique da aldeia de Amambai,
ele sempre está de braços abertos para receber os visitantes, ele é um enfermeiro para os
indígenas e sabe de tudo sobre os remédios que vai servir. Hoje em dia nós conseguimos
reencontrar novamente o costume da nossa etnia, temos de novo parteiras dentro da aldeia que
cuidam das mulheres e temos o seu Emiliano cuidando do povo para curá-lo de toda maldade
que mora dentro da nossa aldeia.

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O grande problema de pesquisa que apresentamos aqui é a falta de conhecimento por
parte dos mais jovens em relação ao artesanato Guarani Kaiowá. Assim, entrevistar os mais
velhos especialmente o rezador é importante para conhecermos as práticas e valores culturais
que fazem parte das nossas tradições.
A nova geração dos jovens consegue interpretar a sua cultura de outro jeito, a maioria
deles já esqueceram da sua própria cultura Guarani Kaiowá. Eles gostam de praticar e valorizam
alguns elementos da cultura indígena, mas o problema é que eles, em sua maioria, estão usando
a cultura de etnia Terena.
Os jovens gostam e praticam o grafismo no corpo, usam o cocar que foi feito de pena
de pássaros nativos, como a arara, a meninas usam sutiã e saias que foram feitas de sementes,
o problema é que estes artesanatos não são dos Guarani Kaiowá. Segundo o rezador, estes são
artefatos da etnia Terena, os jovens desconhecem a cultura Guarani Kaiowá. O rezador me
informou isso, que a maioria dos jovens já não pratica sua cultura Guarani Kaiowá. Segundo
ele, na cultura original dos Guarani Kaiowá as vestimentas são simples, não são muitas coisas
que se veste. Os Guarani Kaiowá de verdade usam apenas urucum, jenipapo e roupas feitas de
pano e não de sementes, o que mostra as transformações da cultura no presente.

Considerações finais

Ao realizar essa pesquisa de campo sobre a cultura Guarani Kaiowá me chamou bastante
atenção o tema do artesanato Guarani Kaiowá, através da pesquisa, entrevistas e leituras
consegui maiores informações sobre a convivência dos Guarani Kaiowá no passado e no
presente.
Percebi como a cultura Guarani Kaiowá está em risco de desaparecimento dentro da
aldeia Guapo’y no município de Amambai-MS, mas não por falta da fabricação de artesanatos
e artefatos, mas devido à falta de valorização por parte dos mais jovem destes itens culturais. O
cacique da aldeia me informou que a cultura e o costume do Guarani Kaiowá estão em risco de
desaparecimento, mas que já é possível observar que muitos indígenas estão resgatando a sua
própria cultura para ser usada na atualidade. Na nossa realidade Guarani Kaiowá é importante
em primeiro lugar, manter a nossa língua materna originária, pois através dela nós conseguimos
manter firme o canto, a reza, o guachire e o guahu, através do nosso canto conseguimos
expressar essa questão cultural e da nossa tradição. Ainda vive um pouco da nossa cultura

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porque ainda falamos muito na nossa língua materna, através da nossa língua conseguimos
defender os nossos direitos.
Em segundo lugar vem para vida dos indígenas a língua português. É muito bom
aprender essa língua porque com ela nós conseguimos falar com outra cultura e nas duas
podemos a defender os nossos direitos.
A nossa cultura importa muito para nós indígenas. Perdemos o nosso costume um pouco
porque a nossa floresta foi destruída pelos próprios karai (brancos) que também proibiram nós
indígenas de entrar na floresta para caçar e para pescar. Então um pouco nós perdemos neste
processo.
Entretanto, temos a nossa cultura na nossa pele, a nossa cultura segue viva por isso o
meu objetivo neste trabalho foi trazer essa realidade, reconhecida e viva do nosso passado para
o presente através do estudo das mudanças e continuidades existentes na prática de artesanato
em nosso tekoha aldeia Amambai. Segundo o autor Clifford Geertz (1989), através da pesquisa
de campo e observação nós conseguimos chegar na realidade de como era o passado e pensar e
entender o presente.
Segundo o autor Benjamin (1994), quando a gente escuta uma história estamos sempre
em companhia do narrador, sem história não tem vida. Concordei com objetivo deste autor e
ouvir a história do passado é muito bom porque traz os testemunhos que dão certeza da história
e que mostram que o testemunhante estava presente no dia em que estava tudo acontecendo,
enfim. A história está sempre na nossa frente.
Mas como os demais dizem, nós indígenas valorizamos e praticamos muito ainda a
nossa cultura, temos, poderia dizer, uns 50% ainda da nossa cultura, da nossa própria etnia
Guarani Kaiowá. Nós ainda usamos muito o nosso costume de praticar artesanato dentro da
aldeia, nós mantemos a nossa cultura e os costumes que nós conhecemos muito bem. Hoje em
dia, por exemplo, o cacique segue batizando as crianças recém-nascidas dentro da aldeia
Conhecemos muito bem a nossa tradição, pensamos muito em como voltar e resgatar o
passado e uma possibilidade é um maior convívio com o cacique para saber os cantos e aprender
a tradição e os costumes. Até hoje o cacique canta, faz danças específicas como o guachire. É
relevante participar com ele destas atividades pois traz uma alegria para nós indígenas. Por
exemplo, gostamos de manter ativa a festa do guachire. No dia desta festa tem uma bebida que
nós chamamos de chicha, essa bebida é consumida durante a festa. Antes de acabar a festa

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ninguém pode sentar, tem que dançar até acabar a festa. Esta é uma tradição que mantemos viva
e que faz parte do patrimônio imaterial Guarani Kaiowá.
Por fim, agradeço a minha família por ter me ajudando durante este ano todo para não
desistir do meu objetivo, desde o começo do curso já pensava em fazer o projeto e escrever o
TCC sobre a cultura Guarani Kaiowá envolvendo artesanato. Me chamou bastante a atenção a
discussão sobre cultura e quis, neste trabalho entender e demonstrar um pouco como o
artesanato tem diminuído hoje em dia, as vezes por falta de matéria-prima para construir os
objetos, as vezes por falta de conhecimento dos jovens sobre como produzir este artesanato.
Ainda assim, posso concluir que não se desistiu de produzi-lo. Mesmo com as dificuldades,
existem pessoas que seguem mantendo viva essa tradição Guarani Kaiowá no presente.

Referências Bibliográficas

ALBERTI, V. História dentro da História. In: Fontes históricas/ Carla Bassanezi Pinsky,
(organizadora). – São Paulo: Contexto, 2005.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura /
Walter Benjamin; tradução Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1994.

DORSA, Arlinda Cantero; CASTILHO, Maria Augusta de; SANTOS, Maria Christina de Lima
Félix. Artesanato de etnias indígenas: patrimônio cultural de Mato Grosso do Sul. Interações
(Campo Grande), [S.l.], nov. 2015. ISSN 1984-042X. Disponível em:
<http://www.interacoes.ucdb.br/article/view/83/112>. Acesso em: 01 nov. 2019.
doi:http://dx.doi.org/10.20435/interações.v16i2.83.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Companhia das Letras, 1989.

SANTOS, Maria Christina de Lima Félix. Patrimônio cultural no contexto territorial da


Noroeste do Brasil - NOB: perspectivas de desenvolvimento local das comunidades
estabelecidas na rota do trem do pantanal, 2011. 122f. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Local) - Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2011.

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