CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS
Disciplina: Psicologia Aplicada às Organizações
SEMINÁRIO
Diversidade e o mundo do trabalho: “Gênero”
1. A discriminação do gênero feminino no ambiente de trabalho é um fenômeno social
isolado ou se mistura com outros impactos de discriminações?
As mulheres vêm conquistando gradativamente seu espaço em diversas áreas da esfera social,
econômica, laboral e política. Espaços que antes eram ocupados exclusivamente por homens já
contam agora com a presença do sexo feminino e sua particular visão. Embora progressos tenham
sido feitos quanto aos direitos sociais femininos, ainda restam espaços em que obstáculos freiam a
sua efetiva consolidação (ARRIEIRA, 2016).
Através de uma pesquisa realizada por Irigaray e Vergara, no ano de 2006, presentes no texto
“Mulheres no Ambiente de Trabalho: Abrindo o Pacote (Gênero)”, buscou-se averiguar se a
discriminação do gênero feminino no ambiente de trabalho é um fenômeno social isolado ou ela se
imbrica com outros tipos de discriminações. Para tal, foram entrevistados 33 mulheres e 37 homens,
de variadas idades, etnias e orientações sexuais, em empresas públicas e privadas.
Os dados obtidos na pesquisa mostraram que as mulheres são, de fato, submetidas a práticas
discriminatórias no ambiente de trabalho; que apesar de atitudes e comentários machistas, os homens
não se percebem como tal; a cultura nacional brasileira prevalece sobre as culturas organizacionais e
que ao contrário do que acontece com os negros, feios e homossexuais, os quais veem a discriminação
ser atenuada por uma posição social ou hierárquica mais favorecida, o mesmo não acontece com as
mulheres. Sendo assim, é possível concluir que a discriminação por gênero não pode ser tratado como
uma categoria sólida, uma vez que é agravada por questões estéticas, orientação sexual, posição
hierárquica, identidade organizacional, etária , assim como pelas condições sociais.
2. Diferenciar sexo biológico - a pessoa nasce macho ou fêmea - do gênero, que é uma
construção social, assim como mulheres CIS de mulheres TRANS.
Segundo Hélio Irigaray, no texto “Identidades Sexuais Não-Hegemônicas”, tem-se que “[...] na visão
modernista, a qual pauta a lógica burguesa, o sexo, bem como o gênero, caráter, orientação sexual,
se reduz a uma lógica binária dicotômica: lícito ou ilícito; permitido ou proibido (FOUCAULT, 1988)”.
No entanto, a ótica queer citada por Irigaray nos permite enxergar além destes limites binários
dicotômicos e apresentar as seguintes definições:
● sexo biológico: está associado às distinções fisiológicas entre os corpos; nesse critério os
indivíduos se caracterizam como macho, fêmea ou intersexual. Pessoas biologicamente do
sexo masculino apresentam pênis; do sexo feminino apresentam a vagina, e intersexuais
possuem genitálias ambíguas ou ausentes. As pessoas que se submetem a procedimentos
cirúrgicos para alteração do sexo de nascimento são chamadas transexuais.
● identidade de gênero: está relacionada à forma como a pessoa se enxerga e identifica. Nesse
aspecto, pode-se identificar pessoas cisgênero (estão em acordo com o gênero registrado no
nascimento), transgêneras (não estão de acordo com o gênero atribuído) e bigêneras. Há
ainda outros termos como queer e pangênero.
● expressão de gênero: é a forma que a pessoa escolhe para se manifestar em público;
abrange seu comportamento, forma de vestir e falar, entre outros aspectos da interação social.
Algumas fontes optam por não realizar uma classificação, já em outras podemos observar a
divisão entre masculino, feminino e não-binário ou andrógeno.
● orientação sexual: está associado ao perfil afetivo, sexual e amoroso de cada pessoa.
Quando o interesse é no sexo e gênero oposto, a pessoa é dita heterossexual; já no caso de
interesse por sexo e gênero semelhantes ao próprio, a pessoa configura-se homossexual;
quando há interesse por ambos sexos e gêneros, a pessoa é dita bissexual e não havendo
interesse, assexual. Há ainda outros termos como panssexual.
O texto de Irigaray ainda apresenta as seguintes definições não citadas acima: “travestis são
indivíduos do sexo masculino que se vestem de mulher durante todo o dia”; “drag queens são homens
que se vestem de mulher, geralmente de forma caricaturesca para espetáculos”.
3. Entender a discriminação por gênero no ambiente de trabalho e na sociedade - causas,
manifestações e consequências.
De acordo com a pesquisa de Irigaray e Vergara, de 2009, a discriminação por gênero é fato tanto no
ambiente de trabalho quanto na sociedade, como um todo. Foi descrito que, diferentemente dos
demais tipos de discriminação, a por gênero não depende de classe social ou posição da mulher, que
relata, de forma geral, se sentir discriminada no ambiente de trabalho pela existência de barreiras para
ascensão profissional e restrição aos cargos de responsabilidade na empresa; de um maior nível de
exigência e cobrança por parte dos superiores quando são casadas e tem filhos; ocuparem posições
hierárquicas de níveis inferiores aos dos homens mesmo quando possuem maior qualificação
profissional; comportamentos machistas dos chefes e colegas de trabalho e discurso e atitudes
impostas pelo modelo masculino para obter ascensão ou sucesso profissional. Já na sociedade, as
mulheres entrevistadas relataram sentir-se desvalorizadas pelo marido e família, além das dificuldades
da jornada dupla de trabalho. Tal discriminação se manifesta pelo assédio moral, ou seja, condutas
abusivas, comportamentos, palavras, gestos ou atos que possam trazer danos à personalidade,
dignidade, integridade física ou psíquica da mulher.
Além das consequências individuais da discriminação por gênero como depressão ou da mulher, a
discriminação por gênero tem relação inclusive com a pobreza segundo publicação da Fundação
Getulio Vargas. A autora diz que por volta de 90% dos miseráveis do mundo são mulheres e crianças
delas dependentes, muitas vezes por abandono de homens.
Diante do viés organizacional e social das implicações do estudo, os autores deixam como sugestão
para as empresas a implementação de medidas que impeçam a prática de assédios morais e a
consciência, por parte da sociedade, de que há indivíduos sujeitos a essas práticas.
4. Apresentar o conceito de hegemonia masculina
Hegemonia é uma supremacia ou influência preponderante exercida por um grupo; é uma autoridade
soberana, liderança, predominância ou superioridade. Ela consiste na persuasão da maioria da
população por meio da mídia, das organizações e da institucionalização dos conceitos de “normal”,
“natural” e “comum”.
Masculinidade é associada aos valores de “coragem”, “autonomia”, “habilidade”, “aventura” e
“solidariedade grupal”. Hegemonia masculina é a soberania do sexo masculino em todos os âmbitos,
seja em casa ou na indústria. Ela ocorre quando um grupo particular de homens (brancos,
heterossexuais, ricos) apossa das posições privilegiadas de riqueza e poder.
A lógica da dominação masculina se manifesta e perpassa todas as relações sociais, com o reforço
dos estereótipos a serem seguidos, como: a) da língua e da linguagem (a maneira de falar, expressões
que podem ser utilizadas, uso de gênero); b) da cristalização da maneira de pensar (o homem deve
ser mais objetivo que a mulher); c) do culto à forma de falar (o homem deve ser mais silencioso); d) da
imposição de estilos de vida específicos (determinação do vestuário, de cores masculinas e cores
femininas) e, principalmente, e) pelo controle do corpo.
As mulheres são educadas a fim de participarem de jogos de disputa pelo poder por meio de
procurações, ou seja, por intermédio de homens e são sempre alocadas a uma posição exterior e
subordinadas. A socialização diferencial predispõe os homens a amar jogos de poder e as mulheres,
a amarem os homens que os jogam.
O princípio da inferioridade e da exclusão da mulher, ratificado e ampliado por meio do sistema da
sociedade, é a dissimetria fundamental instaurada entre o homem e a mulher no terreno das trocas
simbólicas. Elas têm função principal de cuidar dos homens e zelar pelos seus lares.
Para autores de diversos sistemas filosóficos, o “outro” representa homens, apenas. Isso influencia na
ideia de que o nascimento de um menino é preferível ao de uma menina, sendo que em algumas
culturas o casamento só é consolidado quando um menino nasce.
5. Fenômeno "telhado de vidro"
O que temos nas ocupações é que de modo geral, na grande maioria, as mulheres ganham menos.
As maiores proximidades de rendimento, ainda que não haja igualdade, ocorreram no caso dos
professores do ensino fundamental, em que as mulheres recebiam 9,5% menos que os homens
Já entre as ocupações com a maior desigualdade, podem ser destacados os agricultores e
trabalhadores qualificados da agricultura e dos gerentes de comércios varejistas e atacadistas, em que
mulheres recebem 35,8% e 34% menos que os homens, respectivamente.
Bibliografia Obrigatória
IRIGARAY, Hélio Arthur Reis; VERGARA Sylvia Constant. Mulheres no Ambiente de Trabalho: Abrindo
o Pacote “Gênero”. XXXIII EnNAPAD. São Paulo, 2009

Com a transformação proveniente da industrialização e consolidação de um sistema capitalista, a
mulher passou a marcar presença nas organizações conquistando espaços no mercado de trabalho.
Alguns fatores contribuíram para essa consolidação da mulher como: a descoberta do
anticoncepcional, o direito ao voto, a necessidade de compor a renda familiar, leis protegendo a mulher
trabalhadora e o acesso ao estudo.
Na década de 80, começou-se a perceber o fenômeno chamado de telhado de vidro que, é uma
barreira invisível enfrentada por mulheres quando tentam alcançar níveis hierárquicos mais elevados
na organização. Se apresenta então como uma a discriminação, como as barreiras enfrentadas para
ingressar no ensino superior e a dificuldade de submeter os homens às suas ordens; e a diferença
comportamental no qual, tributos mais presentes nas mulheres (habilidade nos relacionamentos e
capacidade de conciliação de conflitos) são menos valorizados e estereótipos considerados como
masculinos (agressividade e assertividade) são gerenciais.
A mulher também passa por conflitos cotidianos tendo que priorizar o cuidado da família e do lar pois,
lhe é atribuída essa responsabilidade. É possível perceber então que a diversidade de posturas
profissionais, tanto de homens quanto de mulheres, deve ser melhor considerada, uma vez que a
conduta humana jamais será única, e o sucesso não são prerrogativas de gênero.
6. Expor, com dados estatísticos atualizados, as diferenças salariais e de oportunidades
profissionais existentes no mercado de trabalho para homens e mulheres.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mulher no mercado de trabalho:
perguntas e respostas. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
IRIGARAY, Hélio Arthur Reis. Identidades Sexuais Não-Hegemônicas: A Inserção dos Travestis e
Transexuais no Mundo do Trabalho Sob a Ótica Queer. VI ENEO. Florianópolis,2010.
KANAN, Lilia Aparecida. Poder e liderança de mulheres nas Organizações de trabalho. O&S, Salvador,
v.17 - n.53, p. 243-257 - Abril/Junho, 2010.
Bibliografia Adicional
ARRIEIRA SIMÕES, Ana Paula; ANDRIELE DE MELLO, Kauana. A discriminação de gênero no
ambiente de trabalho: Particularidades e efeitos do assédio moral contra as mulheres. Seminário
Internacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea, 2016.
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS . Professora da EBAPE analisa consequências da diferença entre
homens e mulheres. Disponivel em: <https://portal.fgv.br/noticias/professora-ebape-analisa-
consequencias-desigualdade-entre-homens-e-mulheres>.
Rebecca Solnit. Como a hegemonia masculina branca usa a violência para se apegar ao poder nos
EUA. Disponível em: <https://jornalggn.com.br/politica/como-a-hegemonia-masculina-branca-usa-a-
violencia-para-se-apegar-ao-poder-nos-eua-por-rebecca-solnit/>

Mesmo com uma leve queda na desigualdade salarial entre 2012 e 2018, as mulheres ainda ganham,
em média, 20,5% menos que os homens no país, de acordo com um estudo especial feito pelo IBGE
para o Dia Internacional da Mulher, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua).

Dado relativos ao quarto trimestre de 2018 mostram que a disparidade entre os rendimentos médios
mensais de homens (R$ 2.579) e mulheres (R$ 2.050) ainda é de R$ 529. A menor diferença foi de R$
471,10 em 2016, quando as mulheres ganhavam 19,2% menos.

Dois outros fatores explicam essa diferença no rendimento médio entre os sexos. As mulheres
trabalham menos horas (37h54min) que os homens (42h42min), além de receberem valores menores
(R$ 13) que seus pares masculinos (R$ 14,20) por hora trabalhada.

Quando a comparação entre os rendimentos das mulheres e dos homens é feita de acordo com a
ocupação, o estudo mostra que a desigualdade é disseminada no mercado de trabalho, embora varie
de intensidade. A mulher acaba tendo participação maior na população desocupada e na população
fora da força de trabalho. Temos muitas procurando trabalho ou na inatividade, ou seja, não procuram
emprego, por inúmeras questões, como por exemplo ocupações com família e/ou com a casa.