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LÓGICA, LINGUAGEM E CIÊNCIA NO TRACTATUS DE L.

WITTGENSTEIN

Eduardo Simões
Doutor em Filosofia, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia - FACIT

Resumo: O objetivo do presente artigo é o de expor, em termos bastante panorâmicos, a relação


entre lógica, linguagem e ciência no Tractatus de Ludwig Wittgenstein. Mais especificamente,
nossa pretensão é a de apresentar a ciência como explicitada na obra: como sua inspiração é de
caráter hertziano e como a mesma teve um reflexo direto no entendimento de Wittgenstein
acerca da representação, da causalidade e da indução. Como os demais temas do Tractatus, sua
Filosofia da Ciência não pode ser entendida fora de um contexto mais amplo que é o contexto
próprio da crítica da linguagem. Sendo assim, o que aqui se apresenta pretende não estar
divorciado da relação entre lógica, linguagem e ciência, visto que esses são os três pilares de
sustentação do Tractatus Logico-Philosophicus.
Palavras-chave: Ciência. Linguagem. Lógica. Tractatus. Wittgenstein.

1. Introdução seminais do fazer ciência na


contemporaneidade.
Quem lê o Tractatus Logico-
Philosophicus de L. Wittgenstein e 2. Ciência e Representação no
encontra ao seu final, especificamente a Tractatus
partir do aforismo 6.3, comentários
acerca das ciências naturais, tem a A teoria da figuração foi parte
impressão (pela própria organização integral da filosofia da ciência de
“crescente” dos seus aforismos) que Wittgenstein, advogada como uma
aqueles comentários são uma espécie de tentativa de interpretar o difícil
anexo e aparecem ali como problema da relação entre teoria e
consequência de suas reflexões a natureza, enquanto evitava a disputa
respeito da lógica e da matemática. realista/antirrealista no interior de uma
Mas, observadas as reais intenções de teoria científica. Que sua concepção de
Wittgenstein, de alguém que saiu da teoria científica, tratada como o único
engenharia mecânica em busca da campo passível de proposições
fundamentação filosófica das ciências significativas, fosse bem sucedida, era o
naturais, verifica-se que a realidade não que se desejava – embora viesse como
é esta: os comentários a respeito das consequência infortunosa inspirar uma
ciências naturais são parte integrante do interpretação ontológica. Um modo de
seu projeto. Sendo assim, a proposta “desviar” de tal interpretação era
central desse artigo, será a de enfatizar em seu sistema o caráter
apresentar, em linhas gerais, o modo puramente representacional tal como o
como Wittgenstein entende a ciência e da teoria física, demonstrando sua
quais as suas restrições em torno do independência dos fundamentos
método indutivo, bem como, do externos através de uma clara e simples
princípio da causalidade, procedimentos

SIMÕES, Eduardo. Lógica, Linguagem e Ciência no Tractatus de L. Wittgenstein.


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representação1 e, desse modo, o sistema numérico, poder escrever
eximindo-se da confusão sobre o status qualquer número, deve-se, com o
dos elementos formais do sistema sistema da mecânica, poder escrever
construído. É por isso que o objeto2 qualquer proposição da física” (TLP,
absolutamente simples do Tractatus 6.341)3.
além de indestrutível é também De acordo com o entendimento de
indescritível. Sua funcionalidade além Wittgenstein no Tractatus, o sistema de
de garantir a consistência formal do Hertz fez uma representação coerente da
sistema, ainda tem como vantagem mecânica. Sua mecânica funciona como
adicional, enquanto contraface uma espécie de sistema geométrico de
ontológica da linguagem, garantir a coordenadas4, no qual as localizações
determinabilidade do sentido são definidas por meio de um plano que
linguístico. permite estabelecer a mensuração de um
Para Wittgenstein a demanda do sistema sem referência a qualquer
caráter representacional da ciência era outro.
preenchida pela mecânica, a qual se Wittgenstein parece, então, usar
tornou prototípica para a ciência no desse procedimento para arquitetar um
Tractatus. Na análise das proposições “método” e definir uma configuração,
da ciência natural, a mecânica foi descrevendo-a completamente por meio
exemplar porque ela, de acordo com de uma determinada rede de malhas de
Wittgenstein, apresenta uma tentativa uma determinada finura (TLP, 6.342). É
bem sucedida de fazer a descrição do aqui que ocorre a afinidade de sua
mundo de uma forma singular: “a noção de teorias científicas com
mecânica é uma tentativa de construir imagens ou sistemas que, enquanto
todas as proposições de que constituintes da linguagem por meio de
necessitamos para a descrição do suas proposições, também figuram o
mundo segundo um plano singular” mundo:
(Notebooks, 06/12/1914); e no mesmo Concebamos uma superfície branca
sentido diz: “assim como se deve, com sobre a qual houvesse manchas pretas
irregulares. Dizemos, então: qualquer
1
“Mas quão singular: nos conhecidos teoremas que seja a configuração que disso
da física matemática não aparecem nem coisas, possa resultar, sempre poderei
nem funções, nem relações, nem sequer formas
3
lógicas de objeto! Em vez de coisas, temos Aqui a obra Tractatus Logico-Philosophicus
números, e as funções e as relações tornam-se, será abreviada por TLP e o número que
sem exceção, puramente matemáticas” acompanha a sigla, refere-se ao seu respectivo
(Notebooks, 20/06/1915). aforismo.
2
O “objeto” tractariano é o constituinte último 4
“Um sistema de coordenadas é, sem dúvida,
da realidade. Aquele em cuja base estariam uma importante peça de simbolismo nas
ligados todos os termos linguístico, dotados de ciências. Aqui é utilizado para descrever o
sentido, em um espaço denominado por movimento de um corpo. Também pode
Wittgenstein como “espaço lógico”. Em suma, descrever, por hipótese, a relação entre a massa
trata-se da contraface ontológica da e o volume. Em escalas unidimensionais as
representação linguística. É para onde os termos temperaturas também podem ser expostas dessa
da linguagem apontam. forma” (GRIFFIN, 1998, p. 148).

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aproximar-me o quanto quiser de sua uma rede quadriculada. Se as malhas da
descrição recobrindo a superfície com
uma rede quadriculada de malhas rede fossem suficientemente finas,
convenientemente finas e dizendo, a haveria condições para se afirmar se
respeito de cada quadrado, se é cada quadrado da rede é branco ou
branco ou preto. Terei posto assim a
descrição da superfície numa forma preto. Nesse caso, possuir-se-ia uma
unitária [...] (TLP, 6.341). descrição da superfície sob forma
“A rede, contudo, é puramente unitária. Esta forma, contudo, é
geométrica, todas as suas propriedades arbitrária, pois a rede poderia constituir-
podem ser especificadas a priori” (TLP, se de malhas triangulares ou hexagonais
6.35). E o que é certo a priori é ou outras, inclusive combinações de
puramente lógico (TLP, 6.3211). figuras geométricas, como triângulos e
A antiga noção de Novalis, de que hexágonos. A rede em si é o sistema de
“teorias são redes; somente aqueles que coordenadas pelo qual a distribuição das
as lançam pescarão alguma coisa”, manchas é definida e cada rede
utilizada por Karl Popper como epígrafe corresponderia a um diferente sistema
de seu livro A Lógica da Investigação de descrição do mundo, uma diferente
Científica, também foi utilizada por mecânica (TLP 6.341).
Wittgenstein para ilustrar as diferentes Um exemplo é possibilitado pela
representações das ciências naturais. Ele comparação do que ocorre no espaço
usa da imagem de uma rede-metafórica, lógico do Tractatus com a rede-
pretendendo que a descrição de uma metafórica: a essência da metáfora é a
teoria específica oferecida fosse comparação de uma proposição como
comparada a uma rede sendo um ponto num sistema de coordenadas e
atravessada pelos fatos. Essa rede de nomes com números singulares
poderia ser mais ou menos fina e, desse coordenados. Num dado sistema de
modo, descrever fatos mais ou menos coordenadas, colocar dois números em
acuradamente – “Por exemplo, a conjunto define um ponto; numa dada
mecânica dos Princípios de Newton linguagem, juntar dois nomes faz uma
poderia representar uma rede de uma afirmação. Desse modo, as linguagens
certa finura. Mais tarde, com o são uma espécie de sistema lógico
desenvolvimento da mecânica analítica coordenado. E tal como existem
de Lagrange esta descrição representaria diferentes sistemas como resultados da
uma rede mais fina” (KJAERGAARD, escolha de diferentes pontos de origem,
2002, p. 132). Esta imagem da mancha diferentes escalas, e por aí adiante,
sobre uma superfície branca é a assim também existem diferentes
projeção da distribuição dos simples formas de representação na linguagem
pontos materiais no espaço. Há pontos (GRIFFIN, 1998).
no espaço combinando com formas de A noção fundamental de
manchas. Para descrever essa superfície, Wittgenstein com relação à ciência, por
pode-se, por exemplo, recobri-la com exemplo, é a de que não existe uma

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teoria privilegiada, e sim diferentes tremendo sucesso da ciência natural. E,
pontos de vista. Se as teorias físicas são com isso, pretende também dar uma
figuras da realidade e, desse modo, correta interpretação para a famigerada
somente têm uma relação descritiva lei da causalidade.
com a natureza, isso leva à
possibilidade de as ciências naturais 3. A determinação do sentido
integrarem múltiplos modelos de proposicional e o fundamento
explicação. Em outras palavras, não há psicológico da causalidade
teoria física privilegiada.
A partir deste ponto pode-se
(...) Nada diz sobre o mundo a discutir a afinidade da concepção de
possibilidade de descrevê-lo por meio
da mecânica newtoniana; mas diz modelo como uma imagem e aproximá-
algo sobre ele a possibilidade de que la do trato de Wittgenstein às teorias
seja descrito por meio dela
precisamente como vem a ser o caso.
científicas. Nos modelos produzidos em
E também diz algo sobre o mundo a ciência estão incutidos os diversos
possibilidade de descrevê-lo mais princípios, leis, teoremas, axiomas e
simplesmente por meio de uma
mecânica que por meio de outra definições e se pretende uma análise de
(TLP, 6.342). como Wittgenstein os avaliava, bem
Se não há teoria privilegiada, há como de sua postura restritiva com
com certeza vários modos possíveis de relação a eles, a começar pela lei da
representar fatos. Um não é mais causalidade. Quanto às reflexões a
correto que os outros, mas um poderia respeito da causalidade, apresentadas no
ser mais apropriado para dar uma Tractatus, pode-se dizer que existem
imagem mais detalhada ou prestativa duas possíveis interpretações: a primeira
daquela parte da natureza que a teoria delas ligada a uma suposta influência de
física específica deveria descrever. Hertz, que havia antecipado que uma
Segundo Wittgenstein (1980, p.18), “o imagem não descreve a natureza, mas a
que um Copérnico ou um Darwin representa por meio de equações
realmente alcançou não foi a descoberta diferenciais e sistema de coordenadas –
de uma teoria verdadeira, mas um fértil ou, em termos wittgensteinianos, por
ponto de vista” ou “a teoria darwiniana meio da rede-metafórica: “Leis como o
não tem mais a ver com a filosofia que princípio da razão (lei da causalidade),
qualquer outra hipótese da ciência etc. tratam da rede, não do que a rede
natural” (TLP, 4.1122). Chamando a descreve” (TLP, 6.35 – complemento
atenção para dois dos mais célebres nosso). O que ele quer dizer é que a lei
cientistas na construção histórica da da causalidade não foi concebida como
visão do mundo moderno, Wittgenstein uma proposição dizendo algo sobre o
ao mesmo tempo demonstra o caráter mundo e sim como pertencente à
geral de seu argumento e desconstrói as imagem representando os fatos do
falsas concepções de verdade difundidas mundo, exatamente como a lei
pelas teorias da ciência, nutridas pelo

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fundamental de Hertz5. A causalidade é concebida pelas ciências naturais
instrumental na informação integrada (enquanto uma relação entre evento e
sobre os fatos do mundo, assim sendo causa), trata-se de algo supérfluo, que
uma forma da lei em vez da verdadeira carece de sentido e não representa nada.
lei da natureza. A “conexão” não é uma O princípio da causalidade é em si
relação em si, mas apenas um meio de um conceito formal; não descreve a
mostrar a existência da relação. Afirmar realidade, mas, como “rede”,
o contrário, ou seja, que a causalidade é correspondente a uma forma de
de fato uma explicação dos fenômenos representar a realidade que, na
da natureza constitui a ilusão que verdade, é opcional. Como diz
fundamentou a visão de mundo dos Wittgenstein: “‘Lei de causalidade’,
modernos – “toda a moderna visão do esse é um nome genérico. E assim como
mundo está fundada na ilusão de que as há na mecânica, dizemos, leis do
chamadas leis naturais sejam as mínimo – por exemplo, a de mínima
explicações dos fenômenos naturais” ação –, há na física leis de causalidade,
(TLP, 6.371): leis com a forma da causalidade” (TLP,
Assim, detêm-se diante das leis 6.321 – grifos nossos). A lei da
naturais como diante de algo causalidade nada mais seria do que a
intocável, como os antigos diante de prescrição metodológica de que as
Deus e do Destino.
E uns e outros estão certos e estão proposições da ciência assumam a
errados. Os antigos, porém, são mais forma de leis hipotéticas: toda sua
claros, na medida em que
reconhecem um termo final claro,
relevância para a representação
enquanto, no caso do novo sistema, é proposicional do mundo concentra-se
preciso aparentar que está tudo em seu núcleo prescritivo, “tudo tem
explicado (TLP, 6.372).
uma causa”.
Isso significa que a causalidade No aforismo 6.36 do Tractatus
não é uma lei da lógica, nem uma Wittgenstein afirma que “se houvesse
generalização empírica, tampouco uma uma lei da causalidade, poderia
proposição sintética a priori. Na formular-se assim: ‘Há leis naturais’.
verdade, não é sequer uma proposição, Mas isso não se pode, é claro, dizer:
uma vez que tenta dizer aquilo que mostra-se”. E se mostra justamente
somente pode ser mostrado. O que ela porque, sendo forma e não conteúdo é
indica é uma certa forma de descrição para ser entendida enquanto uma
que é crucial para a teorização científica imagem representando fatos do mundo,
(TLP, 6.321 e seg.). Nesse sentido, a lei isto é, estritamente como representação
da causalidade, da forma como é e não como lei. As leis da mecânica, por
exemplo, “são as leis do nosso método
5
Sobre a Mecânica e Filosofia da Ciência de H. para representar fenômenos mecânicos,
Hertz eis uma referência:
SIMÕES, Eduardo. Hertz, Wittgenstein e a
e... uma vez que escolhemos,
Representação do Mundo. Curitiba: Editora efetivamente, um método de
CRV, 2012.

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representação quando descrevemos o De uma proposição elementar,
nenhuma outra se pode deduzir.
mundo, é impossível que as leis do Da existência de uma situação
nosso método digam alguma coisa sobre qualquer não se pode, de maneira
o mundo” (WATSON, 1938, p. 52) – alguma, inferir a existência de uma
situação completamente diferente
elas representam, mostram, o mundo. dela.
Mais uma vez surge no Tractatus Um nexo causal que justificasse uma
uma noção cujos fundamentos tal inferência não existe.
Os eventos do futuro, não podemos
remontam à mecânica de Hertz: a derivá-los dos presentes.
análise da funcionalidade de um sistema A crença no nexo causal é a
superstição.
não permite dizer nada acerca do
próprio sistema e nem mesmo dos fatos “De uma proposição elementar,
do mundo; tudo isso, mostra-se – nenhuma outra se pode deduzir” (TLP,
“Nossa Lei Fundamental nos permite 5.134), isto é, proposições elementares
pesquisar todo o domínio da mecânica, têm que ser plenamente determinadas;
mostra-nos o que são os limites deste não é possível que uma proposição
domínio” (HERTZ, 1956, p. 38). esteja inserida em outra – exceto
Outra interpretação que se pode enquanto função de verdade de uma
dar à questão da causalidade está proposição complexa. Isso quer dizer
diretamente relacionada à lógica que o sentido das proposições
proposicional do Tractatus, mais elementares independe de sentidos mais
especificamente à questão da elementares dos quais ela seria
determinabilidade do sentido composta (diferentemente do sentido da
proposicional que também tem um proposição complexa que é determinado
fundo hertziano, no sentido de que uma pelo sentido das elementares), como
teoria científica não pode ser descrição também independe dos sentidos de
de necessidades implícitas na natureza, outras proposições. Cada uma dessas
ela tem que ser determinada; cabe a ela proposições é positiva e descreve um
a função de ser somente imagem, estado de coisas possível, que constitui
independente dos fenômenos naturais – seu sentido. Deste modo, a proposição
“imagens produzidas por nossa mente e tem um sentido independente dos fatos
necessariamente afetadas pelas (TLP, 4.061), ou seja, o sentido é
características de seu modo de anterior à afirmação ou negação da
representação” (HERTZ, 1956, p. 2). E proposição (TLP, 4.064):
Wittgenstein fundamenta a Esta tese (...), significa que se as
impossibilidade de representar proposições elementares fossem
logicamente dependentes seria, então,
necessidades da natureza (por exemplo, possível deduzir uma proposição
o nexo causal), quando adjudica que o elementar a partir de outra. Esta
sentido da proposição deve ser consequência, se aceita, implicaria,
por sua vez, a possibilidade de inferir
completamente independente. Assim diz os próprios estados de coisas que as
Wittgenstein (TLP, 5.134 - 5.1361): proposições elementares afiguram,
i.e., seria possível aplicar o cálculo

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lógico a priori aos estados de coisas “um nexo causal que justificasse uma
atribuindo, assim, à relação empírica
de causalidade, o estatuto de tal inferência não existe” (TLP, 5.136).
necessidade lógica. Ora, como não é Se o sentido proposicional deve ser
possível calcular a priori a ocorrência completamente determinado, a
de estados de coisas, uma vez que só
há necessidade na Lógica (...) então concepção de um nexo causal (de que
as proposições elementares que toda causa produz um efeito) é
afirmam a subsistência (das superstição.
Bestehen) de estados de coisas devem
ser logicamente independentes
(MORENO, 1995, p. 203-204). 4. O método indutivo e a
Uma vez que não existe uma anterioridade das proposições da
proposição elementar que possa ser ciência em Wittgenstein
deduzida de outra, a crença na
Estas reflexões a respeito do nexo
existência de um nexo causal não pode
causal, obviamente, estendem-se ao
ser logicamente justificada, pois não se
princípio ou método de indução. Se a lei
pode deduzir a existência de uma
da causalidade assenta-se em princípios
situação a partir da existência de outra
como, por exemplo, a terceira lei de
situação. Tal recusa da existência do
Newton, segundo a qual “para qualquer
nexo causal, no entanto, não tem os
ação existe sempre um reação oposta”,
mesmos fundamentos pelos quais Hume
o princípio de indução objetiva-se por
também o rejeitou. O que Hume recusa
fazer generalizações a partir da
é a noção de um princípio associativo
observação de casos particulares, visto
que possibilita fazer inferências sobre
não ser possível realizar experiências
fatos e eventos que não se apresentam
concretas em todos os casos – “O
aos sentidos. Tais inferências são
processo de indução consiste em
possibilitadas pelo hábito, que
adotarmos a lei mais simples que se
fundamenta o sentimento de que há uma
possa pôr em consonância com nossas
regularidade na natureza. Esta
experiências” (TLP, 6.363). Neste caso,
regularidade, no entanto, teria um
trata-se de um processo psicológico
fundamento psicológico uma vez que é
pelo qual se supõe hipoteticamente que
expressão de crenças; seu estudo trata-
se tem motivo para se afirmar a
se de “investigações irrelevantes”
possibilidade de um evento futuro a
(HUME, 2001, p. 28). Em Wittgenstein,
partir de um conjunto de ocorrências do
no entanto, a rejeição do nexo causal
passado. “Que o sol se levantará
não tem origem nas expressões
amanhã, é uma hipótese; e isso quer
psicológicas do sujeito, que o fazem
dizer: não sabemos se ele se levantará.
crer que na natureza as coisas
Não há coerção em virtude da qual,
acontecem assim e assim, e sim em
porque algo aconteceu, algo mais
inferências lógicas que prescrevem que
deverá acontecer” (TLP, 6.36311, 6.37).
o sentido proposicional deve ser
independente de outros sentidos, pois Nada pode garantir logicamente que
os eventos a serem conhecidos no

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futuro continuarão a exemplificar a sem sentido e não dizerem nada a
regularidade descrita pelo conjunto
mais simples de leis compatível com respeito do mundo. As proposições da
a experiência passada e presente. lógica são necessariamente verdadeiras
Como Hume, o Tractatus conclui: o (tautologias) ou necessariamente falsas
procedimento de indução não tem
fundamento lógico, mas apenas (contradições), ou seja, elas não
psicológico. Não há razão lógica que possuem condições de verdade, não são
possamos alegar como base para “propostas” de concordância com o
nossa crença de que o sol se levantará
amanhã; de fato, não sabemos se ele mundo, pois a bipolaridade do sentido
realmente se levantará. Agimos como (V,F), característica indelével das
se soubéssemos por que não temos
coisa melhor a fazer (SANTOS, proposições significativas, não lhes
2001, p. 98-99). subjaz. Sua função é mostrar os casos-
Essa noção só é mantida pela limite da ligação de sinais, isto é, a sua
coerção da “visão moderna do mundo dissolução enquanto sinais
está fundada na ilusão de que as significativos – “Tautologia e
chamadas leis naturais sejam as contradição são casos-limite da ligação
explicações dos fenômenos naturais” de sinais, ou seja, sua dissolução” (TLP,
(TLP, 6.371). 4.466). Os valores de verdade se
Se assim o é, se o método cancelam tanto na tautologia quanto na
indutivo que é baseado em proposições contradição. “A tautologia deixa à
ditas científicas não procede, porque realidade todo o – infinito – espaço
Wittgenstein ainda elege as proposições lógico; a contradição preenche todo o
da ciência são as únicas passíveis de espaço lógico e não deixa nenhum
valores de verdade? ponto à realidade. Por isso, nenhuma
Segundo o Tractatus, são três os delas pode, de maneira alguma,
tipos de proposições: as proposições da determinar a realidade” (TLP, 4.463).
filosofia, as da lógica e as significativas Quanto à verdade de uma proposição da
(proposições da ciência). Quanto às lógica, esta é reconhecida apenas
proposições da filosofia, estas não são olhando-se para o sinal:
falsas, mas “contrassensos”; e “a É a marca característica particular das
maioria das questões e proposições dos proposições lógicas que sua verdade
se possa reconhecer no símbolo tão-
filósofos provém de não entendermos a somente, e esse fato contém em si
lógica de nossa linguagem” (TLP, toda a filosofia da lógica. Assim, é
também um dos fatos mais
4.003) e, com isso, tentarmos dizer algo importantes que a verdade ou
de metafísico. Ele sugere, então, que falsidade das proposições não lógicas
“sempre que alguém pretendesse dizer não possa ser reconhecida na
proposição tão-somente (TLP, 6.113).
algo de metafísico, mostrar-lhe que não
conferiu significado a certos sinais de A verdade das proposições não-
suas proposições” (TLP, 6.53). Quanto lógicas, ou significativas, ou da ciência,
às proposições da lógica, estas não são só pode ser reconhecida através da
representações, por serem proposições comparação com a realidade – “a

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realidade é comparada com a malhas. A rede metafórica simboliza a
proposição” (TLP, 4.05). Somente as possibilidade de que diversos sistemas
proposições da ciência podem ser de referência ou diversas teorias
eleitas como figura, pois somente elas científicas digam algo a respeito do
são capazes de representar a mundo, não permitindo que haja a
contingência das concatenações dos antecedência de uma teoria sobre a
objetos no espaço lógico. Somente elas outra – todas são legítimos modos de
são figuras, pois somente elas mantêm representação, cada uma funcionando à
para com o pensamento e a realidade a sua própria maneira. No entanto, viu-se
condição de identidade interna (por suas que as noções de funcionamento dos
possibilidades combinatórias) e externa métodos científicos no Tractatus, longe
(pelo fato de estarem combinadas). Uma de terem tido um tratamento pejorativo
proposição só é figuração se ela respeita por parte de Wittgenstein, fazem parte
as identidades dos dois pontos de vista de uma concepção lógica, fruto da
(interno e externo) e isso não acontece inspiração hertziana, de que uma
nem com os contrassensos (com as proposição elementar deve ter seu
proposições da filosofia, por exemplo) e sentido plenamente determinado e,
nem com as proposições da lógica, ainda, não ser contraditória. Tal noção
como se viu acima. tem reflexo direto sobre sua avaliação
do nexo causal, ou de que há desígnios
5. Considerações finais na natureza. Segundo Wittgenstein, uma
vez que uma proposição elementar, que
Propôs-se nesse artigo, um breve
é figura do mundo, deve ter seu sentido
esboço da Filosofia da Ciência do
plenamente determinado e, portanto,
Tractatus de Ludwig Wittgenstein. É
não pode depender do sentido de outras
sabido que sua concepção de ciência é
proposições, o nexo causal é
tributária do sistema mecânico
superstição. Sendo assim, sua
hertziano. É da noção de Hertz de que é
sustentação só se faz por questões de
possível ter diversas imagens da
ordem psicológica: pela crença de que,
natureza, desde que por meio de um
se um evento ocorre diversas vezes de
sistema de coordenadas sistemas de
determinada maneira, deve ser assim
pontos materiais sejam representados,
que ocorrerá na próxima vez. Isso se
que se pode deduzir o significado da
aplica também ao método indutivo,
metáfora da rede de Wittgenstein. Tal
segundo Wittgenstein, “este processo
como o sistema de coordenadas
não tem, contudo, nenhum fundamento
representa uma realidade da natureza
lógico, mas apenas psicológico” (TLP,
por meio de suas coordenadas
6.3631); não é porque o Sol sempre
fundamentais, a rede metafórica
nasceu pela manhã, que se garantirá de
tractariana possibilita que sejam
ele se levantará no dia seguinte.
descritos fatos a partir de sua
configuração e da finura de suas

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Estas concepções parecem claras propôs acima tem como objetivo
quando entendidas sobre a luz a imagem mostrar que isso é possível.
hertziana da mecânica e tudo o que se

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_____. Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. apresentação e estudo introdutório Luiz


Henrique Lopes dos Santos. [Introdução Bertrand Russell]. 3. ed. São Paulo: EDUSP,
2001.

Abstract: The purpose of this article is to present, in a very panoramic, the relationship
between logic, language and science in Tractatus Ludwig Wittgenstein. More
specifically, our intention is to present science as explained in the work: as your
inspiration is hertzian character and how it had a direct impact on the understanding of
Wittgenstein on representation, causality and induction. Like all topics of the Tractatus,
his philosophy of science can’t be understood outside of a broader context that is proper

SIMÕES, Eduardo. Lógica, Linguagem e Ciência no Tractatus de L. Wittgenstein.


Revista Pesquisa & Extensão, Montes Claros/MG, v. 3, n. 1, p. 7-13, 2013. ISSN
2236-7160
context of the critique of language. Thus, what is present here do not want to be
divorced from the relationship between logic, language and science, since these are the
three pillars of the Tractatus Logico-Philosophicus.

Keywords: Science. Language. Logic. Tractatus. Wittgenstein.

SIMÕES, Eduardo. Lógica, Linguagem e Ciência no Tractatus de L. Wittgenstein.


Revista Pesquisa & Extensão, Montes Claros/MG, v. 3, n. 1, p. 7-13, 2013. ISSN
2236-7160

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