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HISTÓRIA DE ISRAEL

HISTÓRIA DE
ISRAEL

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HISTÓRIA DE ISRAEL

HISTÓRIA
DE
ISRAEL

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HISTÓRIA DE ISRAEL

CONTEÚDO

CAPÍTULO 01 .................................................................................................................... 8

A HISTÓRIA DE ISRAEL NO DEBATE ATUAL.............................................................. 8

A. O CONSENSO NA HISTÓRIA DE ISRAEL ................................................................. 8


B. OS QUESTIONAMENTOS ......................................................................................... 10
C. O MUNDO PATRIARCAL........................................................................................... 12
D. ATÉ ONDE VAI A DISCUSSÃO ATUAL .................................................................... 17

CAPÍTULO 02 .................................................................................................................. 20

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO (1) .................................. 20

O CRESCENTE FÉRTIL .......................................................................................... 20


A. OS POVOS ................................................................................................................. 20
B. AS LÍNGUAS SEMÍTICAS.......................................................................................... 21
C. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS LÍNGUAS SEMÍTICAS................................. 24

CAPÍTULO 03 .................................................................................................................. 26

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO (2) .................................. 26

A MESOPOTÂMIA ................................................................................................... 26
A. A MESOPOTÂMIA...................................................................................................... 26
B. OS SUMÉRIOS .......................................................................................................... 27
C. A CRONOLOGIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO .................................................... 31
D. BABILÔNIA ................................................................................................................. 32

CAPÍTULO 04 .................................................................................................................. 36

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO (3) .................................. 36

A PALESTINA DE 3000 A 1700 A.C. ....................................................................... 36


A SÍRIA E FENÍCIA .................................................................................................. 36
A. A PALESTINA NA IDADE DO BRONZE.................................................................... 36
B. A SÍRIA ....................................................................................................................... 38
A. A FENÍCIA .................................................................................................................. 39

CAPÍTULO 05 .................................................................................................................. 44

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO (4) .................................. 44

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HISTÓRIA DE ISRAEL

A PALESTINA .......................................................................................................... 44
A. A ORIGEM .................................................................................................................. 44
B. A GEOGRAFIA ........................................................................................................... 46
C. O VALE DO JORDÃO ................................................................................................ 49
D. A REGIÃO CENTRAL DA PALESTINA ..................................................................... 51
E. A COSTA MEDITERRÂNEA ...................................................................................... 54

CAPÍTULO 06 .................................................................................................................. 56

AS ORIGENS DE ISRAEL (1) ...................................................................................... 56

AS TEORIAS DA OCUPAÇÃO ................................................................................ 56


A. A TEORIA DA CONQUISTA ...................................................................................... 56
B. A TEORIA DO DOMÍNIO PACÍFICO ......................................................................... 59
C. A TEORIA DA REVOLTA ........................................................................................... 59

CAPÍTULO 07 .................................................................................................................. 64

AS ORIGENS DE ISRAEL (2) ...................................................................................... 64

AS TEORIAS DA OCUPAÇÃO ................................................................................ 64


A. A TEORIA DA EVOLUÇÃO PACÍFICA E GRADUAL................................................ 64

CAPÍTULO 08 .................................................................................................................. 74

OS GOVERNOS DE SAUL, DAVI E SALOMÃO (1) ..................................................... 74

ASCENSÃO E QUEDA DE SAUL ............................................................................ 74


A. A MONARQUIA ISRAELITA ...................................................................................... 74
B. A ASCENÇÃO DE SAUL............................................................................................ 76

CAPÍTULO 09 .................................................................................................................. 80

OS GOVERNOS DE SAUL, DAVI E SALOMÃO (2) ..................................................... 80

DAVI E A CRIAÇÃO DO ESTADO ........................................................................... 80


A. O REINO DAVÍDICO .................................................................................................. 80
B. O ESTADO SOB O GOVERNO DE DAVI ................................................................. 81

CAPÍTULO 10 .................................................................................................................. 84

OS GOVERNOS DE SAUL, DAVI E SALOMÃO (3) ..................................................... 84

SALOMÃO E A CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO ..................................................... 84


A. SALOMÃO NÃO ERA O HEDEIRO NATURAL ......................................................... 84
B. A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO ................................................................................ 87

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HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 11 .................................................................................................................. 88

O REINO DE ISRAEL (1) ............................................................................................. 88

ISRAEL – O REINO DO NORTE.............................................................................. 88


A. A DIVISÃO DO REINO ............................................................................................... 88
B. OS REIS DE ISRAEL ................................................................................................. 91
C. DE JEROBOÃO I A JEROBOÃO II ............................................................................ 92

CAPÍTULO 12 ................................................................................................................ 100

O REINO DE ISRAEL (2) ........................................................................................... 100

ISRAEL – O REINO DO NORTE............................................................................ 100


A. O FIM CHEGA PARA ISRAEL .................................................................................100
B. A ASSÍRIA ................................................................................................................101

CAPÍTULO 13 ................................................................................................................ 106

O REINO DE JUDÁ (1)............................................................................................... 106

JUDÁ – O REINO DO SUL .................................................................................... 106


A. O REINO DE JUDÁ ..................................................................................................106
B. OS REIS DE ISRAEL ...............................................................................................106
C. A REFORMA DE EZEQUIAS E A INVAÇÃO DE SENAQUERIBE ......................... 107

CAPÍTULO 14 ................................................................................................................ 114

O REINO DE JUDÁ (2)............................................................................................... 114

JUDÁ – O REINO DO SUL .................................................................................... 114


A. A REFORMA DE JOSIAS ........................................................................................114
B. OS ÚLTIMOS DIAS DE JUDÁ .................................................................................116

CAPÍTULO 15 ................................................................................................................ 120

PERÍODO INTERBÍBLICO (1) .................................................................................... 120

A ÉPOCA PERSA E AS CONQUISTAS DE ALEXANDRE .................................... 120


A. O PERÍODO PERSA ................................................................................................120
B. O PERÍODO HELÊNICO (GREGO)......................................................................... 121

CAPÍTULO 16 ................................................................................................................ 126

PERÍODO INTERBÍBLICO (2) .................................................................................... 126

A DIVISÃO DO IMPÉRIO DE ALEXANDRE ........................................................... 126

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HISTÓRIA DE ISRAEL

A. OS GENERAIS LUTAM PELA HERANÇA DE ALEXANDRE ................................. 126


B. PTOLOMEUS VERSUS SELÊUCIDAS ................................................................... 131

CAPÍTULO 17 ................................................................................................................ 138

PERÍODO INTERBÍBLICO (3) .................................................................................... 138

A HELENIZAÇÃO DA PALESTINA ........................................................................ 138


A. OS SELÊUCIDAS .....................................................................................................138
B. O GOVERNO DE ANTÍOCO III, O GRANDE .......................................................... 138
C. ANTÍOCO IV .............................................................................................................140

CAPÍTULO 18 ................................................................................................................ 146

PERÍODO INTERBÍBLICO (4) .................................................................................... 146

OS MACABEUS – A RESISITÊNCIA ..................................................................... 146


A. OS MACABEUS .......................................................................................................146
B. MATATIAS E O COMEÇO DA REVOLTA ............................................................... 147
C. A LUTA DE JUDAS MACABEU (166 – 160 A.C.) ................................................... 150
D. JÔNATAS – O PRIMEIRO SACERDOTE MACABEU (160-143 A.C.) ................... 155
E. A DINASTIA DOS SELÊUCIDAS .............................................................................160

CAPÍTULO 19 ................................................................................................................ 162

PERÍODO INTERBÍBLICO (5) .................................................................................... 162

OS MACABEUS – A INDEPENDÊNCIA ................................................................ 162


A. A LUTA DOS MACABEUS CONTINUA ................................................................... 162
B. A INDEPENDÊNCIA DA JUDÉIA.............................................................................163
C. JOÃO HIRCANO I E AS DIVISÕES INTERNAS DOS JUDEUS ............................ 165
D. A REAPROXIMAÇÃO COM O HELENISMO .......................................................... 167
E. O PRIMEIRO REI MACABEU ..................................................................................168
F. SALOMÉ ALEXANDRA E PODER DOS FARISEUS .............................................. 171
G. ARISTOBULO II E A INTERVENÇÃO DE POMPEU .............................................. 172

CAPÍTULO 20 ................................................................................................................ 176

PERÍODO ROMANO .................................................................................................. 176

O DOMÍNIO ROMANO........................................................................................... 176


A. A “PAX ROMANA” CHEGA A JERUSALÉM ........................................................... 176
B. HERODES MAGNO (O GRANDE) ..........................................................................178
C. DE AGRIPA II AO FIM DA JUDÉIA ......................................................................... 183

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HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 21 ................................................................................................................ 192

O DOMÍNIO ESTRANGEIRO (1) ................................................................................ 192

O DOMÍNIO BIZANTINO, ÁRABE, CRUZADOS, MAMELUCO E OTOMANO ....... 192


A. O DOMÍNIO BIZANTINO – 313 - 636 ...................................................................... 192
B. O DOMÍNIO ÁRABE – 636 - 1099 ...........................................................................193
C. OS CRUZADOS – 1099 - 1291 ................................................................................193
D. O DOMÍNIO MAMELUCO – 1291 - 1516................................................................. 194
E. O DOMÍNIO OTOMANO – 1517 - 1917 ................................................................... 195

CAPÍTULO 22 ................................................................................................................ 198

O DOMÍNIO ESTRANGEIRO (2) ................................................................................ 198

O DOMÍNIO BRITÂNICO ....................................................................................... 198


A. O DOMÍNIO BRITÂNICO – 1918 - 1948 .................................................................. 198
B. O HOLOCAUSTO .....................................................................................................203

CAPÍTULO 23 ................................................................................................................ 206

O ESTADO DE ISRAEL (1) ........................................................................................ 206

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL .................................................................. 206


A. A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL ................................................................... 206
B. GUERRA EM BUSCA DE PAZ ................................................................................210
C. AS GUERRAS ÁRABES - ISRAELENSES .............................................................. 212

CAPÍTULO 24 ................................................................................................................ 216

O ESTADO DE ISRAEL (2) ........................................................................................ 216

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL .................................................................. 216


A. AS PERSPECTIVAS DE PAZ NO ORIENTE MÉDIO ............................................. 216
B. O FUNDAMENTALISMO..........................................................................................218
C. OLP – ORGANIZAÇÃO PARA LIBERTAÇÃO DA PALESTINA ............................. 220
D. PRINCIPAIS OBSTÁCULOS PARA A PAZ NA PALESTINA.................................. 222
E. ENTENDENDO A CRISE ATUAL ............................................................................224

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 226

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HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 01

A HISTÓRIA DE ISRAEL NO DEBATE ATUAL

A. O CONSENSO NA HISTÓRIA DE ISRAEL

Até meados da década de 70 do século XX, havia um razoável


consenso na História de Israel. Entre outras coisas, o consenso dizia
que a Bíblia Hebraica era guia confiável para a reconstrução da história
do antigo Israel. Dos Patriarcas a Esdras, tudo era histórico. Se algum
dado arqueológico não combinava com o texto bíblico, arranjava-se
uma interpretação diferente que o acomodasse ao testemunho dos
textos, como no caso da destruição das muralhas de Jericó pelo grupo
de Josué.

1. OS PATRIARCAS

Os patriarcas eram personagens históricos, o que podia ser


comprovado pelos textos mesopotâmicos de Nuzi, do século XIV
a.C., em seus muitos paralelos, de estruturas socioeconômicas as
tradições legais, com Gn 12-35. E a migração dos amoritas, que
ocuparam a Mesopotâmia e a Palestina no final do terceiro milênio
a.C., criava as condições ideais para a entrada dos patriarcas na
região da Palestina e explicava seus nomes, sua língua e sua

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HISTÓRIA DE ISRAEL

religião.

2. JOSUÉ

José era personagem historicamente possível, pois havia grande


quantidade de evidências egípcias que testemunhava os costumes
contados em Gn 37-50. Semitas poderiam ter chegado a altos
postos de governo no Egito, incluindo o de grão-vizir, especialmente
durante o governo dos invasores asiáticos hicsos.

3. A ESCRAVIDÃO

A escravidão dos hebreus no Egito e o êxodo não podiam ser


questionados, pois textos egípcios testemunham que Ramsés II
utilizou hapirus (= hebreus) na construção de fortalezas no delta do
Nilo em regime de trabalho forçado. A Estela de Merneptah, faraó
sucessor de Ramsés II, comprova a existência de israelitas na terra
de Canaã na segunda metade do século XIII a.C., o que nos
permitia fixar a data do êxodo aí por volta de 1250 a.C.

4. A CONQUISTA DA PALESTINA

A conquista da Palestina pelas 12 tribos israelitas sob o comando


de Josué, como narrada no livro que leva o seu nome, contava com
testemunhos arqueológicos respeitáveis, como a destruição de
importantes cidades cananeias na segunda metade do século XIII
a.C., embora muitos autores preferissem explicar a entrada na terra
de Canaã de outro modo, como pacífica e progressiva infiltração de
seminômades pastores a partir da Transjordânia.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

5. O IMPÉRIO DAVÍDICO-SALOMÔNICO

A construção e a consolidação do poderoso império davídico-


salomônico eram consideradas como pontos fixos e imutáveis na
historiografia israelita, constituindo marco seguro para qualquer
manual de História de Israel ou de Introdução à Bíblia quanto às
datas dos acontecimentos e às realizações da sociedade israelita.

6. O REINO DIVIDIDO

Os reinos separados de Israel e Judá, após a morte de Salomão,


eram bem testemunhados pelos textos assírios e babilônicos, e até
pela Estela de Mesha, rei do vizinho país de Moabe, sendo tudo, por
sua vez, muito bem detalhado nos livros dos Reis, parte da confiável
Obra Histórica Deuteronomista.

7. O EXÍLIO BABILÔNICO

O exílio babilônico e a volta e reconstrução de Jerusalém


durante a época persa, marcando o nascimento do judaísmo
baseado no Templo e na Lei que passa a ser lida sistematicamente
nas sinagogas, constituíam matéria real e sem maiores problemas,
graças à confiabilidade dos textos bíblicos que detalhavam os
acontecimentos desta época.

B. OS QUESTIONAMENTOS

O uso dos textos bíblicos como fonte para a ‘História de Israel’ é


questionado por muitos. A arqueologia ampliou suas perspectivas e
falar de ‘arqueologia bíblica’ hoje é proibido: existe uma ‘arqueologia da
Palestina’, ou uma ‘arqueologia da Síria/Palestina’ ou mesmo uma

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HISTÓRIA DE ISRAEL

‘arqueologia do Levante’.

1. OS MÉTODOS LITERÁRIOS

O uso de métodos literários sofisticados para explicar os textos


bíblicos, afasta-nos cada vez mais do gênero histórico, e as ‘estórias
bíblicas’ são abordadas com outros olhares. A ‘tradição’ herdada
dos antepassados e transmitida oralmente até à época da escrita
dos textos frequentemente não consegue provar sua existência.

2. A CONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA

A construção de uma ‘História de Israel’ feita somente a partir da


arqueologia e dos testemunhos escritos extrabíblicos é uma
proposta cada vez mais tentadora. Uma ‘História de Israel’, que
dispense o pressuposto teológico de Israel como ‘povo escolhido’ ou
‘povo de Deus’ que sempre a sustentou. Uma ‘História de Israel e
dos Povos Vizinhos’, melhor, uma ‘História da Síria/Palestina’ ou
uma ‘História do Levante’ parece ser o programa para os próximos
anos.

E há pesquisadores de renome na área, como Rolf Rendtorff,


exegeta alemão, professor em Heidelberg, que já em 1993 afirmava
em artigo na revista Biblical Interpretation 1, pp. 34-53, que os
problemas da interpretação do Pentateuco estão intimamente
ligados aos problemas mais amplos da reconstrução da história de
Israel e da história de sua religião.

Esta introdução quer traçar um panorama destas mudanças pelas


quais vem passando a ‘História de Israel’ nos últimos vinte e tantos
anos, apontar as dificuldades que a crise vem criando e propor
algumas pistas de leitura para os interessados no assunto.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

C. O MUNDO PATRIARCAL

1. THOMAS L. THOMPSON

Em 1967, o norte-americano Thomas L. Thompson começou sua


tese de doutorado na Universidade de Tübingen, na Alemanha. O
tema: as narrativas patriarcais. Sua ideia fundamental: se algumas
das narrativas sobre os patriarcas hebreus estavam se referindo
historicamente ao segundo milênio a.C., como quase todos os
arqueólogos e historiadores acreditavam naquela época, então
Thompson poderia distinguir nelas as mais antigas histórias bíblicas
da tradição posterior mais ampliada.

Quando Thompson começou seu trabalho, ele estava tão


convencido da historicidade das narrativas sobre os patriarcas no
Gênesis, que aceitou, sem questionar, os paralelos feitos entre os
costumes patriarcais e os contratos familiares encontrados na
cidade de Nuzi, no norte da Mesopotâmia, e datados da época do
Bronze Recente ( 1500-1200 a.C.).

Dois anos mais tarde, porém, em 1969, Thompson percebeu que os


costumes familiares de Nuzi e as leis sobre propriedades não eram
exclusivos nem de Nuzi, nem do segundo milênio, mas, mais
provavelmente, refletiam práticas típicas do primeiro milênio a.C.
Isto quebrava o paralelismo feito pelos autores entre Nuzi e o
mundo patriarcal e tirava a garantia de que os costumes patriarcais
refletiam práticas do segundo milênio.

Além do mais, examinando a hipótese amorita, segundo a qual


teria havido grande migração de nômades vindos das fronteiras do
deserto siro-arábico para a Mesopotâmia e para a Síria-Palestina no

12
HISTÓRIA DE ISRAEL

final do terceiro milênio, Thompson percebeu que não havia prova


alguma para tal pressuposto, pois o que se descobriu nos últimos
anos é que os amoritas são sedentários do norte da Mesopotâmia,
vivendo da agricultura e da criação de gado. Isto é testemunhado
pelas centenas de povoados espalhados do Eufrates até os vales
dos rios Khabur e Balikh e datados pelos arqueólogos como
existentes desde o Calcolítico. O crescimento populacional dos
amoritas deve ter provocado a ampliação de seus territórios e a
ocupação de várias cidades da região. Além do que, muitas das
mudanças ocorridas em todo o Antigo Oriente Médio que antes
eram atribuídas a invasões mal documentadas de povos, podem ser
explicadas, hoje, mais cientificamente, pelas mudanças climáticas
na região, sujeita a períodos de secas prolongadas e devastadoras.

Thompson passou, então, a defender que as narrativas patriarcais


estavam refletindo muito mais o primeiro do que o segundo milênio,
e a datação tradicional dos patriarcas e sua historicidade caíram por
terra.

O resultado foi academicamente desastroso. Thompson, que


terminou a pesquisa em 1971, não pôde defender sua tese na
Europa nem publicar seu livro nos Estados Unidos. O livro só foi
publicado em 1974 e Thompson conseguiu seu PhD na Temple
University, Philadelphia, Estados Unidos, em 1976.

John Van Seters, de quem falaremos mais detalhadamente no


próximo item a propósito do Javista, pesquisando a historicidade
dos patriarcas, independente de Thomas L. Thompson, chegou a
conclusões semelhantes, não atribuindo qualquer valor histórico às
estórias sobre Abraão.

Em 1987 Thomas L. Thompson começou a trabalhar a questão das


origens de Israel, retomando a argumentação publicada em um

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HISTÓRIA DE ISRAEL

artigo de 1978, sob o título de “O Background dos Patriarcas”, no


Journal for the Study of the Old Testament, da editora Sheffield,
Reino Unido. Neste artigo, Thompson localizava as origens de um
Israel histórico na região montanhosa ao norte de Jerusalém
durante o século IX a.C. Isto implicava a exclusão de qualquer
unidade política de Israel que abrangesse toda a Palestina, ou seja,
não podia ter existido uma ‘Monarquia Unida’ sob Saul, Davi e
Salomão em Jerusalém, no século X a.C.

O estudo completo resultou no livro Early History of the Israelite


People from the Written and Archaeological Sources [Antiga
História do Povo Israelita a partir de Fontes Escritas e
Arqueológicas], Leiden, Brill, 1992 [1994]. Diz Thompson que a
reação a este livro foi pior do que à tese sobre os patriarcas,
levando ao afastamento do autor da Marquette University, nos
Estados Unidos, onde trabalhava.

Mas, em 1993, Thompson foi convidado para trabalhar no


Departamento de Estudos Bíblicos da Universidade de
Copenhague, onde até hoje se encontra, e onde encontrou um
grupo com ideias avançadas sobre a ‘História de Israel’, os hoje
chamados ‘minimalistas’.

2. JOHN VAN SETRS REINVENTA O JAVISTA

Ainda em 1964, o canadense John Van Seters aceita o desafio de


um seu professor e começa a revisão da ‘Hipótese Documentária’
do Pentateuco, examinando as tradições sobre Abraão.

A ‘Hipótese Documentária’ afirmava, desde o século XIX, que o


Pentateuco era composto pelas fontes JEDP – Javista, Eloísta,
Deuteronômio e Sacerdotal, elaboradas desde o século X a.C. na

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HISTÓRIA DE ISRAEL

corte davídico-salomônica até o século V a.C., com Esdras, na


Jerusalém pós-exílica.

F. V. Winnet, professor de Van Seters, em conferência feita em


1964, levantou uma série de dúvidas sobre os fundamentos da
Hipótese Documentária. Winnet não aceitava a fonte E como um
documento independente. Quando muito, admitia o pesquisador, ela
poderia ser uma revisão de mais antiga tradição patriarcal e não
poderia ser encontrada no Êxodo e Números. Isto porque o
desenvolvimento literário do Gênesis teria ocorrido de modo
independente de Êxodo e Números até o estágio final da
composição do Pentateuco, quando então foram organizados e
combinados pelo Sacerdotal (P). Assim, duas diferentes fontes
deveriam ser vistas dentro do material J do Gênesis: uma mais
antiga e outra da época do exílio. Com um detalhe: estas fontes não
seriam documentos independentes, mas complementos de outras
mais antigas. O mesmo deveria ser dito do P.

Embora a proposta de Winnet não tenha causado repercussão, Van


Seters, examinando as tradições sobre Abraão, como dissemos,
percebeu que episódios paralelos – como a história de Sara “irmã”
de Abraão em Gn 12,10-20;20,1-18;26,1-11 – não são documentos
independentes agrupados por redatores, mas sua relação é de
complementação: Gn 12,1-20 corresponde ao J mais antigo de
Winnet, Gn 20, 1-18 ao complemento E e Gn 26,1-11 ao J mais
recente da proposta do professor.

Van Seters concluiu também que o material atribuído ao J mais


antigo era muito pequeno, que o E consistia de uma única estória e
que todo o material não-P pertencia ao javista mais recente.

Percebendo igualmente a forte afinidade do J com o Dêutero-Isaías,


e também que a forma da promessa da terra no J era um

15
HISTÓRIA DE ISRAEL

desenvolvimento posterior daquela encontrada no Deuteronômio e


na tradição deuteronomista, Van Seters concluiu que o J deveria ser
visto como um autor pós-D, e que a ‘Hipótese Documentária’
deveria ser totalmente revista. Van Seters publicou sua pesquisa em
1975.

H. H. Schmid, em 1976, contestou a tese de G. Von Rad de um


‘Iluminismo Salomônico’, do qual não se percebia nenhum sinal,
como o ambiente no qual o javista teria nascido. Examinando uma
série de textos amplamente aceitos como javistas, Schmid procurou
mostrar que o J dependia fortemente da tradição profética e estava
muito próximo da escola deuteronômica. A conclusão a que se
chegou foi de que o Pentateuco era o produto do movimento
profético, assim como o era o livro do Deuteronômio, e de que o J
deveria ser visto em estreita associação com a escola
deuteronômica nos últimos anos da monarquia ou na época do
exílio.

Embora não tenha discutido a datação do J em relação ao D, seu


discípulo Martin Rose, em 1981, chegou à conclusão de que o
Deuteronômio e a Obra Histórica Deuteronomista eram anteriores
ao javista.

Rolf Rendtorff, por sua vez, em 1977, retomando a ideia de M.


Noth da formação do Pentateuco a partir de temas independentes
chega à conclusão de que tal independência não deve ser limitada
ao período pré-literário, mas o alcança. Rendtorff não vê nenhuma
conexão original entre Gênesis e Êxodo-Números, mas sim uma
posterior costura deuteronomista ligando estas tradições. Donde se
conclui que a idéia de fontes, tal como a J, deve ser abandonada, e
que o desenvolvimento dos temas é que deve ser enfocado. Ele
defende que cada unidade maior teve seu próprio processo de

16
HISTÓRIA DE ISRAEL

redação antes de ser colocada em contato com outras unidades.


Seu aluno Ehard Blum, mais tarde, confirma as intuições de seu
mestre estudando as tradições patriarcais de Gn 12-50.

Van Seters estendeu seu estudo sobre o J a todo o Tetrateuco e


defendeu, em livros publicados em 1992 e 1994, que o Javista
compõe uma obra unificada que vai da criação do mundo até a
morte de Moisés. O J faz o trabalho de um historiador - semelhante
ao trabalho do historiador grego Heródoto - no qual ele se baseia
em fontes orais e escritas, dando-lhe, porém um significado
teológico próprio.

O objetivo da obra do J é o de corrigir o nacionalismo e o ritualismo


da Obra Histórica Deuteronomista, da qual ela é uma espécie de
introdução. Por isso, o Javista é posterior ao Deuteronômio e à Obra
Histórica Deuteronomista (Deuteronômio, Josué, Juízes, 1 e 2
Samuel e 1 e 2 Reis), sendo contemporâneo do Dêutero-Isaías e
tendo afinidades com Jeremias e com Ezequiel. Mas é anterior ao
Sacerdotal (P), que, por sua vez, não é uma obra independente,
mas uma série de suplementos pós-exílicos ao D+J. O Eloísta (E)
não se sustenta como documento independente e desaparece.

Van Seters conclui: “Deste modo, eu procuro resolver o problema


existente entre os argumentos de Noth a favor de um Tetrateuco
separado do D/OHDtr e a insistência de Von Rad em um Hexateuco,
com Josué como o objetivo das promessas patriarcais. Já que o J
era posterior ao D/OHDtr, ele ligou as duas grandes obras e
acrescentou sua própria conclusão final ao Hexateuco através do
segundo discurso de Josué em Js 24".

D. ATÉ ONDE VAI A DISCUSSÃO ATUAL

17
HISTÓRIA DE ISRAEL

Só para entendermos por onde pode caminhar a discussão atual, cito


aqui a proposta do arqueólogo Israel Finkelstein e do historiador Neil
Asher Silberman, no livro The Bible Unearthed. Archaeology's New
Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts, New York,
The Free Press, 2001, sustentando que a arqueologia hoje dá suporte
à hipótese de que tanto o Pentateuco quanto a Obra Histórica
Deuteronomista foram escritos no século sétimo a.C.

Os autores defendem que boa parte do Pentateuco é uma criação da


monarquia da época de Josias, elaborada para defender a ideologia e
as necessidades do reino de Judá. E que a Obra Histórica
Deuteronomista foi igualmente compilada, em sua maior parte, no
tempo do rei Josias, para fornecer suporte ideológico para sua reforma
política e religiosa.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

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HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 02

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE


MÉDIO (1)

O CRESCENTE FÉRTIL

A. OS POVOS

Se partirmos do Golfo Pérsico e traçarmos uma meia-lua, passando

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HISTÓRIA DE ISRAEL

pelas nascentes dos rios Tigre e Eufrates, colocando a outra ponta na


foz do Nilo, no Egito, teremos uma região bastante fértil, onde se
desenrolaram os acontecimentos narrados na Bíblia. É a chamada
"meia-lua fértil" ou "Crescente Fértil", dentro do qual está também a
Palestina.

Esta faixa de terra é regada por importantes rios, que condicionavam a


vida do oriental antigo. Foram os rios que determinaram o
estabelecimento da agricultura, da sedentarização e das rotas
comerciais por onde passavam as caravanas que iam desde a
Mesopotâmia até o Egito ou a Arábia.

A região é habitada pela raça branca, especialmente semitas e


hamitas. No seu conjunto, a raça branca é constituída pelos:

1. OS SEMITAS

Semitas (acádios, amoritas, hebreus, árabes, cananeus, fenícios


etc.).

2. HAMITAS

Hamitas (que habitavam o Egito, a Abissínia e o Magrebe -


Marrocos, Argélia e Tunísia atuais).

3. INDO-EUROPEUS

Indo-europeus (eslavos, gregos, itálicos, celtas, iranianos etc)

B. AS LÍNGUAS SEMÍTICAS

21
HISTÓRIA DE ISRAEL

As línguas semíticas constituem um ramo da grande família das


línguas afro-asiáticas, anteriormente chamada camito-semítica. A
família afro-asiática compreende seis ramos: semítico, egípcio,
berbere, cuxita, homótico e chádico.

A família das línguas semíticas é bem antiga, documentada desde a


metade do terceiro milênio a.C. com o acádico e o eblaíta, até os dias
atuais com o árabe, o amárico e o hebraico.

Nos três quadros a seguir pode-se ver um panorama simplificado das


principais línguas semíticas.

1. AS LÍNGUAS SEMÍTICAS

PROTO-SEMÍTICA

OESTE LESTE

CENTRAL SUL ACÁDICO

SIRO-PALESTINENSE ASSÍRIO
ÁRABE DO SUL
(Semítica do Norte)

ANTIGOS DIALETOS
ÁRABE ETIOPE ACÁDICOS

DIALETOS
BABILÔNICOS

22
HISTÓRIA DE ISRAEL

2. AS LÍNGUAS SEMÍTICAS: O SIRO-PALESTINENSE

SIRO-PALESTINENSE (Semítico do Noroeste)

ARAMAICO DEIR ÁLLA CANANEU UGARÍTICO

ANTIGOS DIALETOS ARAMAICOS

ARAMAICO MÉDIO ARAMAICO IMPERIAL

SIRÍACO LESTE RECENTE

BABILÔNICO (Talmud)

MANDEU

3. AS LÍNGUAS SEMÍTICAS: O CANANEU

CANANEU

MOABITA HEBRAICO EDOMITA AMONITA AMARNA FENÍCIO

NORTE SUL PADRÃO BIBLOS

HEBRAICO MISHNAICO LITORÂNEO MEDITERRÂNICO

HEBRAICO MEDIEVAL PÚNICO

HEBRAICO MODERNO

23
HISTÓRIA DE ISRAEL

C. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS LÍNGUAS SEMÍTICAS

1. A ESTRUTURA GRAMATICAL

a. Grande número de guturais muito especiais, mormente na


vocalização

b. Raízes ternárias

c. Verbos com apenas dois tempos

d. Dois gêneros

e. Casos oblíquos, pronomes possessivos e objeto pronominal do


verbo são anexados como sufixos

f. Ausência de nomes e verbos compostos

g. Pequeno número de partículas e predominância da coordenação


sobre a subordinação.

2. VOCABULÁRIO SEMÍTICO

a. Quase nenhum contato com o indo-europeu

b. Semelhanças apenas em palavras onomatopaicas

c. Poucos empréstimos de um grupo linguístico para o outro

3. A ESCRITA SEMÍTICA

a. Consonantal

b. Da direita para a esquerda

c. Exceções: escritas da esquerda para a direita são o sabeu, o


etíope e o cuneiforme.

24
HISTÓRIA DE ISRAEL

25
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 03

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE


MÉDIO (2)

A MESOPOTÂMIA

A. A MESOPOTÂMIA

A planície situada nos vales dos rios Tigre e Eufrates é chamada

26
HISTÓRIA DE ISRAEL

comumente de Mesopotâmia, nome que vem do grego e significa


(terra) entre rios, notadamente o Tigre e o Eufrates. A Bíblia chama a
esta terra de paddan aram ou aram naharayim (Síria dos dois rios). A
Mesopotâmia foi berço de civilizações antiquíssimas e importantes,
como os sumérios, os acádios, os assírios e os babilônios.

B. OS SUMÉRIOS

Os sumérios construíram a sua civilização na Baixa Mesopotâmia


entre os anos de 2800 e 2370 a.C., mais ou menos. As escavações
feitas em Uruk revelaram o uso da escrita cuneiforme (sinais em forma
de cunha) desde o início do III milênio. Foram os sumérios os
inventores da escrita.

1. O GOVERNO DAS CIDADES SUMÉRIAS

O chefe da cidade suméria tem o título de En (= senhor), de


conotação religiosa. Ele dirige o culto, nas cenas gravadas nos
cilindros. As únicas construções oficiais são os templos: as cidades
eram dirigidas por senhores eclesiásticos, auxiliados por "anciãos",
que formavam uma assembleia.

É impossível saber quando chegaram os sumérios à Baixa


Mesopotâmia. Mas, pelo menos pode-se perceber que eles se
misturaram às antigas culturas populares locais, talvez subários e
populações de língua semítica. Parece que estavam na região na
segunda metade do IV milênio a.C.

2. AS CIDADES MAIS IMPORTANTES

As cidades mais importantes eram: Adab, Zabalam, Umma, Bad-

27
HISTÓRIA DE ISRAEL

Tibira, Lagash, Akshak, Kish, Nippur, Shurupak, Uruk e Ur.


Permaneceram sempre isoladas, na forma de cidades-estado. Cada
uma possuía ao seu redor um cinturão de aldeias e eram separadas
por pântanos e desertos, característicos da região.

Avançando um pouco mais no tempo e pesquisando outros lugares


além de Uruk, os especialistas descobriram que as cidades
organizavam-se ao redor dos templos e palácios reais.

No palácio vivia o rei, que era apenas um administrador do Estado,


pertencente, na verdade, ao deus. Lugal (rei) era o seu título ou Ensi
(chefe das cidades, governador, vice-rei), que indicava um poder
menor do que o primeiro. O rei era sacerdote (mantinha os
santuários), era juiz supremo, chefe militar e administrador dos
canais de irrigação. Sua residência era mais uma fortaleza do que
um palácio. Suas tropas chegavam a uma média de 600 a 700
homens, reforçados, na guerra, por camponeses. Além de uma
infantaria armada de lanças, abrigada por grandes escudos e
capacetes, havia carros de guerra com 4 rodas compactas, puxados
por quadrigas de burros.

Não se sabe quando se formou a monarquia suméria; mas era uma


monarquia militar, que entrou em luta com os chefes religiosos pelo
controle interno das cidades e com as outras cidades em massacres
periódicos. Contudo não permaneceram unificadas por muito tempo.
Foi a função guerreira que fez surgir a realeza.

Esta fase de guerras constantes, a partir de 2800 a.C., mais ou


menos, início da idade clássica sumeriana, levou à construção de
grandes muralhas nas cidades. Uruk tinha muralhas de 9,5 km de
extensão, com mais de 900 torres semicirculares, cobrindo uma
superfície de 5 km2.

28
HISTÓRIA DE ISRAEL

Lagash e Umma foram duas das cidades que mais dominaram suas
vizinhas. Já a cidade de Nippur parecia ser uma espécie de território
neutro, centro de uma anfictionia ou confederação.

3. O SAGRADO

Os templos podiam ter várias formas, mas a disposição interna era a


mesma em qualquer lugar. As estátuas não são muito bonitas, são
toscas demais. Revelam-nos o vestuário da época: o mais usado
era o Kaunakés, espécie de saia com longas franjas estilizadas, em
forma de linguetas.

O culto era celebrado para Inanna (a futura Ishtar), deusa da


fecundidade e do amor, e para An, deus do céu. O templo era um
centro econômico: possuía terras, onde cultivavam-se a cevada e o
trigo. Também a horticultura, a vinha e a palmeira eram conhecidas.
Usavam arados. Criavam principalmente carneiros e cabras e, mais
raros, bois. Aparece o asno e o porco, assim como um carro de 4
rodas e o barco.

Há, no trabalho dos templos, marceneiros, ferreiros, ourives e


ceramistas. O metal mais citado é o cobre. Também já conheciam a
prata e o ouro. Havia mercadores e um comércio privado.

4. A LITERATURA

Na literatura produziam-se textos sapienciais, hínicos, épicos e


mitológicos. A religião tem predominância naturista: os cultos da
fertilidade estavam em primeiro plano. No ritual exerciam funções
importantes a grã-sacerdotisa e o rei, simbolizando o casamento
sagrado entre um deus (Dumuzi?) e uma deusa (Inanna). Em
meados do III milênio, porém, deu-se uma transposição da temática

29
HISTÓRIA DE ISRAEL

naturista para a cósmica (os deuses passam a figurar elementos do


cosmos), embora a primeira permanecesse.

5. AMORITAS

Na luta entre os vários grupos observamos que a maioria deles


ostenta nomes amoritas, consequência de grandes migrações que
foram uma das causas da queda de Ur. Esta entrada em cena dos
amoritas (ou amorreus) assinala um fato fundamental na história da
época.

Em sumério são chamados de MAR.TU, em acádico AMURRU,


significando "ocidentais" ou "povo do oeste", chamados também de
semitas do oeste.

A caracterização dos amoritas é feita em uma epopéia da época


que, descrevendo o mito do casamento do seu deus Amurru, diz: "É
um homem que desenterra trufas [espécie de cogumelo comestível]
no sopé das montanhas, que não sabe dobrar os joelhos para
cultivar a terra, que come carne crua, que não tem casa durante a
vida, e não é sepultado após a morte".

Durante muito tempo existiu certo consenso entre os especialistas,


baseados em sátiras como esta dos sumérios, citada acima, e em
uma visão romântica do nomadismo, típica do século XIX, de que os
amoritas eram nômades que invadiram a Mesopotâmia e também a
Palestina vindos do deserto siro-arábico.

Hoje, porém, não é mais possível sustentar esta posição, pois o que
se descobriu nos últimos anos é que os amoritas são sedentários do
norte da Mesopotâmia, vivendo da agricultura e da criação de gado.
Isto é testemunhado pelas centenas de povoados espalhados do
Eufrates até os vales dos rios Khabur e Balikh e datados pelos

30
HISTÓRIA DE ISRAEL

arqueólogos como existentes desde o Calcolítico. O crescimento


populacional dos amoritas deve ter provocado a ampliação de seus
territórios e a ocupação de várias cidades da região mesopotâmica.
Além do que, muitas das mudanças ocorridas em todo o Antigo
Oriente Médio que eram atribuídas a invasões mal documentadas
de povos, podem ser explicadas, hoje, mais cientificamente, pelas
mudanças climáticas na região, sujeita a períodos de secas
prolongadas e devastadoras.

É assim que se chega à luta pela hegemonia na Baixa


Mesopotâmia, onde a disputa era entre as dinastias de Isin e Larsa,
enquanto na Alta Mesopotâmia a luta se dava entre Assur e Mari,
também governadas por amoritas.

C. A CRONOLOGIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO

Mapa Cronológico do Antigo Oriente Médio

Período Bronze Bronze Ferro Ferro


Arqueológico Médio Recente Antigo Recente

Assírio Assírio Assírio Assírio


antigo médio médio recente

Mesopotâmia do Shamsi-
Mitani
Norte Adad

Cartas de
Mari

Domínio
Isin Larsa Cassita
assírio
Mesopotâmia do
Sul
Babilônico Babilônico Babilônico
antigo médio médio

Síria/Palestina Influências Domínio Israel Israel

31
HISTÓRIA DE ISRAEL

do Egito egípcio

Cartas de
Povos do Estados
Hicsos Tell el-
mar fenícios
Amarna

Estados
arameus
Israelitas
e neo-
hititas

Elamita Elamita
Medos
antigo médio

Tribos Invasões
Irã/Golfo Pérsico Godin III
iranianas de Urartu

Invasões
Dilmun
assírias

Comércio
da antiga Hitita Urartu
Assíria

Anatólia
Hitita
Frígios Frígios Frígios
antigo

Lídios

Camelos Cavalaria
Carros
Galinhas Algodão
Rodas
Desenvolvimento Ferro
com raios Vidro Moedas
cultural e técnico fundido
Alfabeto Cerâmica Latão
primitivo vidrada Aramaico

D. BABILÔNIA

No final deste período a cidade que emergiu com maior poder foi
Babilônia. Sob a III dinastia de Ur fora governada por um ensi e
progressivamente seu poder cresceu, tornando-se um principado

32
HISTÓRIA DE ISRAEL

independente e controlando algumas cidades vizinhas.

1. HAMURABI

Em 1792 a.C., Hammurabi (1792-1750 a.C.) subiu ao trono de


Babilônia. Consolidou sua posição frente aos vizinhos da Baixa
Mesopotâmia e em seguida estendeu seu domínio a Mari, aos
elamitas, assírios e gútios. No 31º ano de seu reinado Hammurabi já
era senhor da Suméria e de Akkad.

2. AS TERRAS

As terras na Babilônia pertenciam ao Estado, aos templos e a


particulares. As terras do Estado eram exploradas por arrendatários,
colonos, homens de corvéia e funcionários do Estado que recebiam
glebas em troca de serviços prestados.

3. O COMÉRCIO

O comércio era dominado pelos tamkarum, espécie de mercadores


itinerantes e corretores, que agiam em nome do Estado, mas
acumulando também fortunas particulares. O Estado intervinha em
todos os setores da economia, determinando preços, contratos de
trabalho, salários etc.

4. A LÍNGUA

Na Mesopotâmia governada pelos babilônios da época de


Hammurabi temos populações que, na sua maioria, falam línguas
semíticas, como o assírio, o babilônio e os idiomas semitas do
noroeste. No campo viviam agricultores sedentários e nômades. Nas

33
HISTÓRIA DE ISRAEL

cidades, pequenos artesãos e comerciantes. As regiões


intermediárias eram habitadas também pelos amoritas, além de
haver grupos hurritas.

5. O CÓDIGO DE HAMURABI

Hammurabi desenvolveu uma legislação que ficou famosa através


de seu conhecido código. Através dele podemos conhecer a
estrutura social da época. Três classes compunham a sociedade: os
ricos (awilum), o povo (mushkenum) e os escravos. Além disso,
havia os prisioneiros de guerra (asiru) e os deportados, categorias
estas sem nenhum estatuto jurídico e que viviam a verdadeira
escravidão.

O casamento era monogâmico, mas existia o concubinato,


especialmente quando a esposa era estéril. E interessante é
observar que a mulher casada tinha certa autonomia, pois podia
exercer diversas profissões, demandar em juízo e até assumir
cargos públicos.

6. A LITERATURA

A literatura e as artes alcançaram grande esplendor na época de


Hammurabi. Havia muitas escolas de escribas ao redor de palácios
e templos. A cultura suméria foi organizada e preservada, a história
começou a se desenvolver sob a forma de listas reais e a literatura
religiosa cresceu enormemente.

34
HISTÓRIA DE ISRAEL

35
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 04

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE


MÉDIO (3)

A PALESTINA DE 3000 A 1700 A.C.

A SÍRIA E FENÍCIA

A. A PALESTINA NA IDADE DO BRONZE

Começaremos a falar da Palestina na Idade do Bronze Antigo (3200-


2050 a.C.), quando houve um notável progresso na vida urbana, na
indústria (sobretudo na cerâmica) e um aumento geral da população,
provável resultado da sedentarização de grupos novos que se
estabeleciam na região.

1. AS CIDADES

Muitas das cidades que conhecemos através da história bíblica já


existiam, como Jericó, Meguido, Bet-Shan, Gezer, Ai, Laquish. No
centro e no norte da Palestina é que se situa a maior parte destas
cidades, sendo mais rarefeita a população no sul.

36
HISTÓRIA DE ISRAEL

2. A AGRICULTURA

A agricultura era a atividade básica. Cultivavam, nesta época, o


trigo, a cevada, lentilhas, favas. Havia também a cultura da oliveira e
da amendoeira. A vinha teria sido ali introduzida nesta época.

3. O COMÉRCIO

O comércio funcionava em direção à Síria do norte e do Egito. Os


utensílios de pedra dominavam ainda, embora já se começasse a
fabricação de armas de cobre.

Na Síria, a cidade de Biblos conheceu um progresso semelhante e a


influência egípcia tornou-se marcante graças ao comércio marítimo.

4. OS CANANEUS

Podemos chamar convencionalmente estes povos de cananeus.


Sua língua era um semítico do noroeste, provavelmente a
ascendente do cananeu falado nos tempos israelitas, do qual o
hebraico bíblico é uma derivação.

5. A DECADÊNCIA

Por volta de 2300 a.C. esta civilização sofreu forte decadência. Até a
década de 70 do século XX se acreditava que povos teriam
invadido, a partir do norte, seu território e as cidades teriam sido
destruídas, algumas bem violentamente. O mesmo aconteceu na
Síria. O curioso é que se observa que seus novos habitantes não
reconstruíram imediatamente as cidades: ou acamparam sobre as
ruínas, ou viveram em cavernas e quando reconstruíram as casas
estas eram bastante modestas, e isto depois de alguns séculos de

37
HISTÓRIA DE ISRAEL

ocupação. Só por volta de 1900 a.C. é que há sinais de nova vida


urbana. Dizia-se que possivelmente eram estes povos os mesmos
amoritas ou semitas do oeste que invadiram também a
Mesopotâmia. Hoje se reconhece que as mudanças ocorridas então
se devem muito mais a mudanças climáticas do que a qualquer
entrada de povos na região.

6. A PROSPERIDADE

A Palestina conheceu a sua fase antiga mais próspera entre os anos


de 1800 e 1550 a.C. Cidades populosas e bem guarnecidas,
cercadas por poderosas muralhas floresceram, tais como Hazor,
Taanak, Meguido, Siquém, Jericó, Jerusalém, Bet-Shemesh, Gezer,
Tell Beit Mirsim, Tell el-Duweir, Tell el-Farah do sul etc. Já a
Transjordânia não teve civilização sedentária até cerca de 1300 a.C.
e o Negueb até o século X a.C.

B. A SÍRIA

1. OS ARAMEUS

Para falar da Síria, com sua capital Damasco, temos que falar dos
arameus. Dizia-se, até pouco atrás, que estes eram nômades
semitas que a partir do deserto siro-arábico invadiram a Alta
Mesopotâmia, a Anatólia (Ásia Menor) e a Síria. Mas hoje não temos
mais tanta certeza disso, por isso seria melhor não falar mais dos
arameus desta maneira. Certo é que nunca houve uma união
política aramaica, sendo a Síria a sede de vários reinos arameus.

A primeira menção segura dos documentos antigos sobre os

38
HISTÓRIA DE ISRAEL

arameus data do ano 1110 a.C., mais ou menos, e está em textos


cuneiformes do reinado do assírio Tiglat-Pileser I (1115-1077 a.C.).
No quarto ano de seu reinado ele combateu os Ahlamu-Arameus no
Eufrates e lhes queimou seis acampamentos no Djebel Bishri.

Eis o comunicado real: "Marchei contra os ahlamu-arameus,


inimigos do deus Assur, meu senhor. Em um só dia realizei
uma incursão desde as proximidades da terra de Suhi até
Carquemish da terra de Hatti. Infligi-lhes baixas e trouxe
prisioneiros, bens e gado sem conta".

E ainda:"Por vinte e oito vezes, à razão de duas por ano,


cruzei o Eufrates em perseguição aos ahlamu-arameus. Da
cidade de Tadmor (Palmira) da terra de Amurru, da cidade
de Anat da terra de Suhi, até a cidade de Rapigu da terra de
Karduniash (Babilônia), sua derrota foi por mim
consumada".

Com o tempo, os termos ahlamu e arameu tornaram-se sinônimos,


mas é possível que fossem dois grupos diversos, aparentados,
contudo.

2. O REINO DE ARAM-DAMASCO

O reino de Aram-Damasco era pequeno, mas depois que Davi


conquistou todos os outros, segundo os textos bíblicos, Damasco
se impôs como principal, dominando todo o território sírio. Foi
aniquilado pelos assírios, um pouco antes de Israel do norte. A
província síria destacou-se depois, sob o domínio romano.

A. A FENÍCIA

39
HISTÓRIA DE ISRAEL

A Fenícia, a faixa costeira ao norte de Israel e ao lado da Síria, era


muito fértil. Seu nome vem da púrpura que era extraída ali de certas
conchas. Em fenício-hebraico, "púrpura" se dizia canaan e em grego
foinix, donde "Fenícia". Líbano, seu nome atual, é devido à cadeia de
montanhas assim chamada e significa "o branco", por causa da neve
no pico dos montes.

1. TIRO

Começando pelo sul da Fenícia, encontramos a cidade de Tiro,


existente desde o III milênio a.C., construída metade sobre uma ilha,
metade no continente. Por isso resistiu maravilhosamente a terríveis
assédios assírios e babilônicos. Foi tomada por Alexandre Magno
após sete meses de cerco. Tiro era famosa por seu comércio e suas
naves. Foi quase sempre aliada de Israel.

2. SIDON

Sidon, habitada por cananeus, foi famosa por causa de seus


navegantes. Os assírios conquistaram-na, mas foi cidade livre sob
os romanos. Concorrente de Tiro no comércio e navegação.

3. UGARIT

Ugarit (Ras Shamra), habitada por cananeus. É importante por


causa de sua grande literatura, relacionada com a literatura bíblica e
sua língua, parente da hebraica. As escavações aí realizadas
enriqueceram muito os estudos bíblicos nos últimos tempos. Foi
destruída pelos filisteus.

40
HISTÓRIA DE ISRAEL

4. AS DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS

Em março de 1928, um lavrador alauíta, arando sua propriedade a


cerca de 12 km ao norte de Latakia, antiga Laodicea ad mare,
remove uma pedra na qual seu arado bate e encontra os restos de
uma tumba antiga. Colocado a par da descoberta, o Serviço de
Antiguidades da Síria e do Líbano, na época sob mandato francês,
encarrega um especialista, M. L. Albanese, que imediatamente
notifica a presença de uma necrópole e identifica a tumba como
sendo do tipo micênico, datável aí pelos séculos XIII ou XII a.C..

Uma necrópole supõe a existência de uma cidade. Por isso,


Albanese e Dussaud prestaram atenção à colina vizinha, chamada
Ras Shamra, de uns 20 metros de altitude, que tinha toda a
aparência de ser um tell arqueológico, ou seja, um acúmulo de
ruínas antigas, e que podia corresponder à cidade procurada.

Um ano mais tarde, no dia 2 de abril de 1929, sob o comando de


Claude F. A. Schaeffer começaram as escavações, primeiro da
necrópole, e logo em seguida, no dia 8 de maio, no tell, que tem
uma extensão de uns 25 hectares e se encontra a cerca de 800
metros da costa. Ao norte se vê o Jebel Aqra', "monte pelado", ou
Monte Zafon (o monte Casius, dos romanos) que separa a região
dos alauítas do vale e da desembocadura do rio Orontes.

Poucos dias mais tarde, foram feitas as primeiras descobertas:


tabuinhas de argila escritas em caracteres cuneiformes, objetos de
bronze e de pedra... Foi o começo de uma série de descobertas
numa escavação que se prolonga até os nossos dias. De 1929 a
1980 foram realizadas 40 campanhas arqueológicas no local,
empreendimento só suspenso durante II Guerra Mundial. E as
pesquisas ainda continuam.

41
HISTÓRIA DE ISRAEL

5. A IDENTIFICAÇÃO DA CIDADE

A identificação do nome do local não foi difícil, pois os textos


descobertos sugeriram imediatamente que se tratava de Ugarit (ú-
ga-ri-it), já conhecida por referências da literatura egípcia e
mesopotâmica, sobretudo pelas Cartas de Tell el-Amarna, onde se
encontram algumas provenientes da própria Ugarit. Entre os textos
encontrados aparece o nome da cidade.

6. OS TEXTOS UGARITICOS

Os textos foram encontrados todos no primeiro nível, pertencendo,


portanto, à última fase da cidade. Estavam principalmente na
"Biblioteca" anexada ao templo de Baal e no "Palácio Real" ou
"Grande Palácio", que possuía diversas dependências para
arquivos. As tabuinhas estão redigidas em sete sistemas diferentes
de escrita, correspondente a sete línguas diferentes: em hieróglifos
egípcios, em hitita hieroglífico e cuneiforme, em acádico, em hurrita,
em micênico linear e cipriota e em ugarítico. Os textos que nos
interessam estão em ugarítico, um sistema cuneiforme alfabético,
que foi decifrado em poucos meses por H. Bauer, E. Dhorme e Ch.
Virolleaud. Nesta língua, que é uma forma do cananeu, foram
encontrados cerca de 1300 textos.

7. O UNIVERSO MITOLÓGICO DE UGARIT

Entre os muitos deuses que constituem o panteão de Ugarit, apenas


uns dez ou doze são ativos em sua literatura, enquanto alguns
outros que ali aparecem têm um papel muito impreciso. Destacam-
se:

42
HISTÓRIA DE ISRAEL

deus supremo, criador dos deuses e


ILU (=EL)
do homem

chefe dos deuses, deus da chuva e


BA'LU (=BAAL)
da fertilidade, senhor da terra

YAMMU (=YAM) deus do mar

KÔTHARU (=KOSHAR-WAHASIS) deus artesão

'ATHTARU (='ATHTAR) deus do deserto

deusa do amor, da guerra e da


'ANATU (= 'ANAT)
fertilidade - esposa de Baal

ATIRATU (= 'ASHERAH) esposa de El, deusa mãe

MÔTU (= MÔT) deus da morte e da esterilidade

esposa de Baal, deusa da guerra e


'ATHTARTU (= ASTARTÉ)
da caça

SHAPSHU deusa sol

43
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 05

NOÇÓES DE GEOGRAFIA DO ANTIGO ORIENTE


MÉDIO (4)

A PALESTINA

A. A ORIGEM

Palestina é um nome derivado de "filisteus", em hebraico pelishtim, um


povo que habitava a faixa costeira situada entre o Egito e a Fenícia.
Os filisteus são de origem egéia, talvez de Creta. Faziam parte dos
"povos do mar", que após 1175 a.C., mais ou menos, tentaram invadir
o Egito, mas foram vencidos pelo faraó Ramsés III e passaram a viver
naquela parte da Palestina.

Canaã, ou terra de Canaã, é outro nome da região usado para


designar esta terra, nome proveniente de seus antigos habitantes, os
cananeus. Sob os hebreus, passou a ser chamada de terra de Israel, e
mais tarde Judá ou Judéia, que era apenas uma parte de seu território.

44
HISTÓRIA DE ISRAEL

1. EXTENSÃO TERRITORIAL E CLIMA

A superfície da Palestina é de 16.000 km2, sem a Transjordânia.


Contando com a Transjordânia, que nem sempre pertenceu a Israel,
são 25.000 km2 de território. A superfície da Bélgica, mais ou
menos.

45
HISTÓRIA DE ISRAEL

Do Mediterrâneo ao Jordão, no norte, são cerca de 48 km de largura


e na altura do mar Morto são cerca de 80 km. O comprimento é de
250 km de Dan a Bersheba, ou de 320 km de Dan a Cades-Barnea,
incluindo o deserto do Negueb nesta última, que não era
propriamente território de Israel.

Israel é uma zona subtropical, com chuvas de novembro a março e


seca de abril a outubro. A temperatura vai de -2 a 45 graus Celsius,
variando também segundo os lugares graças à topografia. Cai neve
em Jerusalém e Jericó é muito quente. Tel-Aviv, Haifa e Tiberíades
são quentes e úmidas.

2. POPULAÇÃO

A população foi estimada por W. F. Albright e R. de Vaux, dois


renomados biblistas e arqueólogos, em 800 mil habitantes, no
período de Davi e Salomão, considerado até meados da década de
70 do século XX como o mais florescente da história de Israel. Mas
hoje nem sabemos se houve um monarquia unida, quanto mais um
Império davídico-salomômico. Por isso, é melhor não projetarmos a
população para este período. Para a época do NT calcula-se: 500
mil habitantes na Palestina e 4 milhões no exterior (diáspora).

Samaria, quando foi destruída pelos assírios em 722 a.C., teria


cerca de 30 mil habitantes e a Jerusalém do tempo de Jesus
também não passava de 25 a 30 mil habitantes fixos.

B. A GEOGRAFIA

A configuração geográfica é a seguinte: há duas cadeias de


montanhas que percorrem a Palestina de norte a sul e são: a
continuação do Líbano, Cisjordânia, e a continuação do Antilíbano, a

46
HISTÓRIA DE ISRAEL

Transjordânia. Entre estas duas cadeias está o vale do Jordão, numa


depressão de 390 metros abaixo do nível do mar que vai do lago de
Hule, ao norte, até o mar Morto, ao sul.

Assim, podemos descrever a Palestina, quanto ao relevo em quatro


faixas verticais, norte-sul: a Transjordânia, o vale jordânico, a
Cisjordânia e a costa mediterrânea.

A Transjordânia - As montanhas da Transjordânia são altas e


apresentam profundas gargantas, por onde correm os afluentes
ocidentais do Jordão. Do sul para o norte, os afluentes são: Zered,
Arnon, Jabbok e Yarmuk. Na Transjordânia estavam antigamente os
seguintes países ou regiões: Edom, Moab, Ammon, Galaad e
Bashan.

1. EDOM

Edom é o país ocupado por um povo semita do deserto siro-arábico


aí por volta de 1300 a.C. O país está ao sul do mar Morto, em um
planalto de 1600 metros de altitude, 110 km de comprimento e 25
km de largura. Seu limite ao norte é o rio Zered, ao sul o golfo de
Aqaba. Sua capital, Sela. Outras cidades: Teman, uma fortaleza
perto de Sela; Bosrah e Tofel, ao norte. A Bíblia costuma unir
Teman e Bosrah para designar todo o país de Edom.

2. MOABE

Moabe está situado entre os vales do Zered e do Arnon, porém


levava frequentemente sua fronteira ao norte do Arnon. Seu território
principal está situado em um planalto de 1200 metros de altitude.

As cidades do ano 3000 a.C. foram destruídas e abandonadas. Aí

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HISTÓRIA DE ISRAEL

por volta de 1300 a.C. o país foi novamente ocupado por semitas
nômades e pastores.

Sua capital era Kir-hareseth (Kir, Kir-heres), a moderna Kerak.


Outras cidades: Aroer, Dibon, Medeba e Heshbon. Cerca de oito km
a oeste de Medeba está o monte Nebo (para a tradição sacerdotal)
ou Pisgah (para a tradição eloísta) de onde Moisés teria
contemplado a terra de Canaã e morrido.

No tempo do NT, a sudoeste do monte Nebo estava a fortaleza de


Maqueronte, onde Herodes Antipas mandou matar João Batista.
Moab e Israel nunca foram amigos. A tribo de Rubens tentou se
estabelecer na parte norte de seu território, mas foi expulsa. Sob
Davi e Salomão, Moab foi submetida, mas se libertou logo após a
divisão de 931 a.C.

Antes de Israel adotar a monarquia como forma de governo, Moab já


o fizera. Seu deus principal era Kemosh, ao qual eles ofereciam
sacrifícios humanos. Sua língua se assemelha bastante ao hebraico.

3. AMMON

Ammon era uma tribo aramaica que se estabeleceu na região


superior do Jabbok. Sua capital era Rabbath-Ammon, a atual
Amman, capital da Jordânia. Parece que se estabeleceram aí em
1300 a.C., mais ou menos. Os limites de seu território não são bem
definidos, e Ammon foi o mais fraco dos reinos transjordânicos.
Esteve freqüentemente submetido a Israel, de quem sempre foi
inimigo. Cultuavam os amonitas o deu Moloc (ou Melek), e
sacrificavam-lhe crianças. Sua língua se assemelha ao aramaico.

4. GALAAD

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HISTÓRIA DE ISRAEL

Galaad (ou Gileade) está também na região do Jabbok. Esta região


foi conquistada pelos israelitas e habitada pelas tribos de Gad e
Manassés. Seu território tem uns 60 km de norte a sul por 40 km
leste-oeste e é bastante fértil. Chove bem e era coberta antigamente
por densos bosques. Famoso era seu bálsamo e abundantes suas
vinhas. Suas cidades principais: Penuel, Mahanaim, Succoth,
Jabesh-Galaad, Ramoth-Galaad. No tempo do NT: Gerasa, Gadara,
Pella.

5. BASHAN

Bashan (ou Hauran) é uma região ao norte do Galaad, formada por


férteis planícies, boas para o cultivo do trigo e ótimas para
pastagens. Seus bosques eram comparáveis aos do Líbano. A
região sempre foi objeto de luta entre Israel e Síria, que se
revezavam na sua posse. Não possuía cidades de destaque.

C. O VALE DO JORDÃO

À sombra do monte Hermon, sempre coberto de neve, com seus 2750


metros de altitude, nasce o rio Jordão, na confluência de quatro
torrentes que descem das montanhas do Líbano. Perto de suas
nascentes estão as cidades de Dan e, na época do NT, Cesaréia de
Filipe (Baniyas).

1. JORDÃO

Jordão significa aquele que desce ou também lugar onde se desce


(bebedouro). Nome bem adaptado ao maior rio da Palestina, pois
realmente ele nasce acima do nível do Mediterrâneo, atravessa o

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HISTÓRIA DE ISRAEL

lago de Hule, ainda a 80 metros acima do nível do mar, forma a 16


km ao sul o lago de Genezaré, que já está a 210 metros abaixo do
nível marítimo e tem sua foz no mar Morto, 110 km abaixo, situado
nada menos que a 390 metros abaixo do nível do Mediterrâneo.

2. O LAGO DE HULE

O lago de Hule era pequeno e pouco profundo. Tinha cerca de 4 km


e foi drenado pelo atual Israel, pois provocava malária. Para ir da
Palestina para a Síria era necessário atravessar o Jordão ao sul de
Hule. Por isso foi construída aí uma fortaleza, Hazor, que se tornou
a principal cidade do norte da Palestina.

Entre o lago de Hule e o lago de Genezaré, o Jordão corre


violentamente no fundo de uma garganta de 350 metros de
profundidade. Perto da desembocadura do Jordão no lago de
Genezaré estão as ruínas de Corazim, mencionada em Mt 11.21.

3. O LAGO DE GENEZARÉ

O lago de Genezaré (do hebraico Kinneret = harpa) é chamado


também de lago de Tiberíades ou mar da Galileia. É um belo lago,
de 21 km de comprimento por 12 de largura, rico em peixes. O NT
fala continuamente destas paragens, por onde andou Jesus.
Cidades como Cafarnaum, Betsaida, Magdala, Tiberíades etc
estavam nas suas margens.

4. JERICÓ E GILGAL

A 9 km ao norte do mar Morto está Jericó, uma das mais antigas


cidades do mundo. E também Gilgal, santuário cananeu e depois

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HISTÓRIA DE ISRAEL

israelita.

5. O MAR MORTO

O mar Morto tem 75 km de comprimento por 16 km de largura, e é


o ponto mais baixo da superfície terrestre: está a cerca de 390
metros abaixo do Mediterrâneo e tem outro tanto de profundidade.
Nada vive nas suas águas, que contêm um alto teor de sal, cerca de
25%.

6. QUMRAN

A noroeste do mar Morto vivia, nos últimos séculos de Israel, a


comunidade dos essênios, e nas grutas de Qumran foram
encontrados em 1947 importantes manuscritos bíblicos que eles, os
essênios, esconderam em cavernas, para salvá-los dos romanos
que tudo destruíram em 68 d.C.

7. ARABÁ

Ao sul do mar Morto está a Arabá, continuação da depressão


palestina, que se eleva progressivamente, nos seus 150 km de
extensão, do mar Morto ao golfo de Aqaba. No extremo sul da Arabá
estava a fortaleza de Elat e o porto de Esion-geber. Era das colinas
da Arabá que Salomão extraía o cobre para sua indústria. A região é
desértica.

D. A REGIÃO CENTRAL DA PALESTINA

No extremo sul está o Negueb (deserto de Sin). Importante no Negueb


era Cades-Barnea, oásis onde os israelitas estiveram após o êxodo do

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HISTÓRIA DE ISRAEL

Egito, segundo o texto bíblico. Cerca de 80 km ao norte estava


Bersheba (Bersabéia), por onde passavam importantes rotas de
caravanas. Um pouco mais ao nordeste, Arad, cidade cananeia.

Ao norte do Negueb se estende o território montanhoso de Judá, desde


Bersheba até perto de Betel, alguns quilômetros ao norte de
Jerusalém.

Há em Judá várias cidades e localidades importantes na história do


povo de Israel, como por exemplo:

1. HEBRON

Hebron (Kiriat-arbá), a cidade mais alta da Judéia - está a 1000


metros de altitude - ligada à história de Abraão e de Davi. Fica a 32
km de Jerusalém

2. BELÉM

Belém, pátria de Davi e lugar tradicional do nascimento de Jesus,


estão a 7 km de Jerusalém.

3. JERUSALÉM

Jerusalém, a cidade conquistada por Davi aos jebuseus e


transformada em sua capital.

4. TECOA

Tecoa, pátria do valente profeta Amós, apenas um povoado a 19 km


de Jerusalém.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

5. ANATOT

Anatot, povoado onde nasceu Jeremias

6. BETÂNIA

Betânia, terra de Lázaro etc.

7. REGIÃO DE SAMARIA

Continuando a subir em direção norte, chegamos à região de


Samaria, capital do reino do norte, localizada a 60 km de
Jerusalém. Nesta região central encontramos: Ai, Betel, Siquém,
Silo, Tirsá, Dotã, cidades cujas histórias deveriam ser
cuidadosamente estudadas. Aí estão os mais antigos santuários de
Israel.

8. PLANICE DE ESDRELON

Ao norte de Samaria está a planície de Esdrelon (Jezreel), um vale


ótimo para a agricultura. Por ali passavam as principais vias de
comunicação entre o Egito e a Síria, e para guardar a passagem
foram construídas as fortalezas de Ibleam, Taanaque, Meguido e
Jokneam, cidades com um longo passado de lutas e guerra.
Merecem ainda atenção: Bet-seã e Jezreel.

9. REGIÃO DA GALILEIA

Finalmente chegamos à região da Galileia, que aparece muito


pouco no AT, crescendo, contudo, em o NT, por ser a pátria de
Jesus.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

E. A COSTA MEDITERRÂNEA

Vamos começar de novo pelo sul, de Gaza. De Gaza, sul, até Tiro,
norte, são cerca de 200 km de costa. Aí por volta de 1150 a.C. os
filisteus, vindo do Egeu, ocuparam uma faixa costeira formando a
conhecida pentápoles filistéia, uma confederação de cinco cidades:
Gaza, Ascalon, Asdode, Gate e Ecron.

1. A PLANICE FILISTÉIA

A planície filistéia tem de 7 a 15 km de largura, onde eram cultivados


o trigo e a oliveira. Por ali passava a estrada que ia do Egito para a
Síria. Caravanas em tempo de paz e exércitos destruidores em
tempo de guerra eram uma constante.

2. SHEFELAH, SHARON E CARMELO

Entre a planície filistéia e as montanhas de Judá há uma faixa de


terra de 15 a 25 km de largura chamada Shefelah (= terras baixas).
Os vales da Shefelah, caminhos entre a filistéia e Judá, eram
defendidos pelas fortalezas de Debir, Laquis, Libna, Azecah,
Maggedah, Bet-Semes e Gezer. Ao norte da planície filistéia está a
planície de Sharon, com as cidades de Jope, Lod, Afeque etc. Mais
para o norte está finalmente a cidade de Dor, em seguida o
promontório e o monte Carmelo, com o porto de Acco na planície
de Asher. Depois já é a Fenícia.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

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HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 06

AS ORIGENS DE ISRAEL (1)

AS TEORIAS DA OCUPAÇÃO

A. A TEORIA DA CONQUISTA

Israel invade a terra de Canaã, vindo da Transjordânia, pelo final do


século XIII a.C. As tribos lutam unidas e, fazendo uma campanha
militar em três fases, dirigidas ao centro, sul e norte, ocupam o país,
destruindo seus habitantes, no espaço de uns 25 anos.

1. A VISÃO DE JOSUÉ

Esta é a visão de Js 1-12 e a que dominou no mundo judaico. A


síntese de Js 10.40-43 diz o seguinte:

• "Assim Josué conquistou toda aquela terra. Derrotou os reis


que moravam nas montanhas, na região sul, nas planícies e
ao pé das montanhas. Ele não deixou ninguém vivo; todos
foram mortos. Era isso o que o SENHOR, o Deus de Israel,
havia mandado.

Josué os derrotou desde Cades-Barnéia até Gaza e toda a


região de Gosém até Gibeão.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

O SENHOR, o Deus de Israel, lutava pelo seu povo, e por isso


Josué dominou todos esses reis e as suas terras numa só
guerra.

Depois disso Josué e o seu exército voltaram para o


acampamento de Gilgal.".

2. DEFENSORES DESTA NARRATIVA

Alguns defendem esta teoria, com matizes, baseados na "evidência"


arqueológica como William Foxwell Albright, George Ernest Wright,
Yehezkel Kaufmann, Nelson Glueck, Yigael Yadin, Abraham
Malamat, John Bright, este último moderadamente.

3. TESTEMUNHO ARQUEOLÓGICO

A arqueologia confirma que houve uma ampla destruição de cidades


cananeias no final do século XIII a.C. Do norte para o sul, são essas
as cidades:

a. Hazor,

b. Megido,

c. Sucote,

d. Betel,

e. Bete-Semes,

f. Asdode,

g. Laquis,

h. Eglom e Debir.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

4. CIDADES DESTRUÍDAS POR JOSUÉ

Destas 9 cidades, 4 são ditas especificamente como destruídas por


Josué:

a. Hazor: Js 11.10-11

b. Laquis: Js 10.31-33

c. Eglom: Js 1034-35

d. Debir: Js 10.38-39

5. CIDADES NÃO DESTRUÍDAS

A não destruição de cidades que os textos confirmam como não


tendo sido tomadas por Josué:

a. Gibeão: Js 9

b. Taanaque: Jz 1.27

c. Siquém: Js 24

d. Jerusalém: Js 15.63; 2Sm 5.6-9

e. Bet-Seã: Jz 1.27-28

f. Gezer: Js 10.33

6. A REOCUPAÇÃO DAS CIDADES DESTRUÍDAS

A reocupação das cidades destruídas foi homogênea e pode ser


relacionada com a ocupação israelita que se seguiu à conquista.
Além do que tal ocupação mostra, na sua maior parte, um
empobrecimento técnico, típico do assentamento de populações
seminômades (o tipo de cerâmica, de construções, de utensílios
etc.).

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HISTÓRIA DE ISRAEL

B. A TEORIA DO DOMÍNIO PACÍFICO

Modelo defendido por Albrecht Alt (1925; 1939), Martin Noth (1940;
1950), Manfred Weippert, Siegfried Hermann, José Alberto Soggin,
Yohanan Aharoni e outros.

1. RELATOS ETIOLÓGICOS

Os relatos de conquista de Josué são etiológicos e Josué não


passou de um chefe local efraimita. As tribos foram ocupando os
espaços vazios entre as cidades-estado cananeias, sem um conflito
generalizado e organizado. Os conflitos aconteciam quando um clã
invadia o território de uma cidade-estado.

2. ANÁLISE CRÍTICA – JUSTIFICATIVA DESTA TEORIA

Tal teoria baseia-se na análise crítica dos textos bíblicos e interpreta


à sua luz os dados arqueológicos, que assim acabam confirmando-
a. Apoia-se também nas tradições patriarcais do Gênesis: os
patriarcas viviam, mais ou menos pacificamente, nas proximidades
das cidades cananeias.

Defende uma entrada diferenciada na Palestina, para as tribos


israelitas.

C. A TEORIA DA REVOLTA

A teoria da revolta foi defendida primeiro por George Mendenhall, com


um artigo chamado The Hebrew Conquest of Palestine, publicado em
Biblical Archaeologist 25, pp. 66-87, 1962. O artigo já começa com uma
constatação, que hoje se tornou lugar comum em congressos ou salas

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HISTÓRIA DE ISRAEL

de aula: "Não existe problema da história bíblica que seja mais difícil do
que a reconstrução do processo histórico pelo qual as Doze Tribos do
antigo Israel se estabeleceram na Palestina e norte da Transjordânia".

1. A NARRATIVA BÍBLICA

De fato, a narrativa bíblica enfatiza os poderosos atos de Iahweh


que liberta o povo do Egito, o conduz pelo deserto e lhe dá a terra,
informando-nos, deste modo, sobre a visão e os objetivos teológicos
dos narradores de séculos depois, mas ocultando-nos as
circunstâncias econômicas, sociais e políticas em que se deu o
surgimento de Israel.

Frente a isso, os pesquisadores sempre utilizaram modelos ideais


para descrever as origens de Israel, como o fez Martin Noth com a
tese da anfictionia, importada do mundo grego. O que George
Mendenhall propôs com o seu artigo foi apresentar um novo modelo
ideal em substituição a modelos que não mais se sustentavam,
sugerindo uma linha de pesquisa que levasse em conta elementos
que até então não tinham sido considerados.

2. GEORGE MENDENHALL E SEUS POSTULADOS

G. Mendenhall começa descrevendo os dois modelos existentes até


então para a entrada na terra de Canaã, o da conquista militar e o da
infiltração pacífica de seminômades e elenca os três pressupostos
presentes em ambos:

a. As doze tribos entram na Palestina vindo de outro lugar na época


da "conquista".

b. As tribos israelitas eram nômades ou seminômades que tomam

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HISTÓRIA DE ISRAEL

posse da terra e se sedentarizam.

c. A solidariedade das doze tribos é do tipo étnico, sendo a relação


de parentesco seu traço fundamental, caracterizando-as, inclusive,
em contraste com os cananeus.

Mendenhall continua, o primeiro e o terceiro pressupostos até que


podem ser aceitos, mas "a suposição de que os israelitas primitivos
eram nômades, entretanto, está inteiramente em contraste com as
evidências bíblicas e extra-bíblicas, e é aqui a reconstrução de uma
alternativa deve começar".

3. A CRÍTICA DE MENDENHALL

Mendenhall critica a visão romântica do modo de vida dos beduínos,


erroneamente vistos como nômades contrastando com os
sedentários das cidades, que foi assumida sem criticidade pelos
pesquisadores bíblicos e usada como modelo para o Israel primitivo.
Mostra que os próprios relatos bíblicos jamais colocam os
antepassados de Israel como inteiramente nômades, como, por
exemplo, Jacó e Labão, Jacó e os filhos, onde há sempre uma parte
do grupo que é sedentária. Igualmente critica a noção de tribo como
um modo de organização social próprio de nômades, mostrando que
tribos podem ser parte ou estar em relação com povoados e
cidades.

Aproximando o conceito de hebreu ao de Hab/piru, e utilizando as


cartas de Tell el-Amarna, Mendenhall procura demonstrar que
ninguém podia nascer hebreu já que este termo indica uma situação
de ruptura de pessoas e/ou grupos com a fortemente estratificada
sociedade das cidades cananeias. E conclui: "Não houve uma real
conquista da Palestina. O que aconteceu pode ser sumariado, do

61
HISTÓRIA DE ISRAEL

ponto de vista de um historiador interessado somente nos processos


sócio-políticos, como uma revolta camponesa contra a espessa rede
de cidades-estados cananeias".

4. A REVOLTA CAMPONESA

Estes camponeses revoltados contra o domínio das cidades


cananeias se organizam e conquistam a Palestina, diz Mendenhall,
"porque uma motivação e um movimento religioso criou uma
solidariedade entre um grande grupo de unidades sociais
preexistentes, tornando-os capazes de desafiar e vencer o complexo
mal estruturado de cidades que dominavam a Palestina e a Síria no
final da Idade do Bronze". Esta motivação religiosa é a fé javista que
transcende a religião tribal, e que funciona como um poderoso
mecanismo de coesão social, muito acima de fatores sociais e
políticos... Por isso a tradição da aliança é tão importante na
tradição bíblica, pois esta é o símbolo formal através da qual a
solidariedade era tornada funcional.

A ênfase na mesma herança tribal, através dos patriarcas, e na


identificação de Iahweh com o "deus dos pais", pode ser creditada à
teologia dos autores da época da monarquia e do pós-exílio que
deram motivações políticas a uma unidade que foi criada pelo fator
religioso.

5. NIELS PETER LEMCHE CONTESTA A TEORIA DE


MENDENHALL

Niels Peter Lemche, por outro lado, critica Mendenhall, por seu uso
arbitrário de macro teorias antropológicas, mas especialmente por
seu uso eclético destas teorias, coisa que os teóricos da

62
HISTÓRIA DE ISRAEL

antropologia não aprovariam de modo algum. Segundo Lemche,


Mendenhall usa os modelos de Elman Service expostos em sua
obra Primitive Social Organization, New York, Random, 1962. Sem
dúvida, seu ponto mais crítico é o idealismo que permeia o seu
estudo e coloca o "javismo", um javismo não muito bem explicado,
mas principalmente só o javismo e nenhuma outra esfera da vida
daquele povo, como a causa da unidade solidária que faz surgir
Israel.

63
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 07

AS ORIGENS DE ISRAEL (2)

AS TEORIAS DA OCUPAÇÃO

A. A TEORIA DA EVOLUÇÃO PACÍFICA E GRADUAL

O crescente consenso entre os arqueólogos é de que a distinção entre


cananeus e israelitas no primeiro período do assentamento na terra é
cada vez mais difícil de ser feito, pois estes parecem constituir um só
povo. As diferenças entre os dois aparecem apenas mais tarde. Por
isso, os arqueólogos começam a falar cada vez mais do processo de
formação de Israel como um processo pacífico e gradual, a partir da
transformação de parte da sociedade cananeia. “A teoria sugere que,
de alguma maneira, cananeus gradualmente tornaram-se israelitas,
acompanhando transformações políticas e sociais no começo da Idade
do Bronze”.

Os defensores deste ponto de vista argumentam com o declínio cultural


ocorrido no Bronze Antigo, com a deterioração da vida urbana causada
pelas campanhas militares egípcias, com a crescente tributação, e,
talvez, com mudanças climáticas. Mas o processo de evolução pacífica
de onde surgiu Israel é descrito de maneira diferente pelos
especialistas, de modo que R. K. Gnuse prefere classificar as teorias

64
HISTÓRIA DE ISRAEL

em quatro categorias, que são:

1. A RETIRADA PACÍFICA

a. Joseph Callaway foi um dos primeiros a observar nas


escavações de Ai e Khirbet Raddana, no território de Efraim, que
os habitantes destas pequenas localidades situadas nas
montanhas usavam as mesmas técnicas dos cananeus na
agricultura, na fabricação de ferramentas, na perfuração de
cisternas, na construção de casas e de terraços para a retenção
da água da chuva. Isto implica uma continuidade cultural com os
cananeus das cidades situadas nos vales e sugere que as
pessoas se deslocaram para Ai e Raddana para fugir de
possíveis conflitos nos vales. Entre 1200 e 900 a.C. o número de
povoados nas montanhas passou de 23 para 114, o que sugere
uma significativa retirada.

b. David Hopkins, por sua vez, em uma avaliação detalhada da


agricultura na região montanhosa da Palestina na Idade do Ferro
I (1200-900 a.C.), observou que o desenvolvimento social
aconteceu junto com a intensificação do cultivo da terra. Para
Hopkins, estas pessoas desenvolveram um sistema de
colaboração ao nível de clã e de famílias, o que lhes permitia
uma integração de culturas agrícolas com a criação de animais,
evitando, deste modo, os desastres comuns a que uma
monocultura estava sujeita nestas regiões tão instáveis,
especialmente em recursos hídricos. Hopkins valorizou mais o
sistema cooperativo baseado no parentesco do que o uso de
técnicas como terraços, cisternas e o uso do ferro para explicar o
sucesso destes assentamentos agrícolas. Para Hopkins,
diferentes unidades clânicas e tribais israelitas devem ter surgido

65
HISTÓRIA DE ISRAEL

a partir de diferentes atividades agrícolas.

c. Frank Frick acredita que os assentamentos israelitas surgiram


após um colapso das cidades cananeias. Esta nova sociedade
teria então evoluído de uma 'sociedade segmentária' (época dos
Juízes) para uma 'sociedade com chefia' (Saul) e, finalmente,
para o 'Estado' (Davi).

d. James Flanagan também acredita que o Israel pré-davídico


surgiu da movimentação de grupos sedentários que deixaram os
vales para uma organização mais descentralizada nas
montanhas e na Transjordânia, onde eles se dedicaram à
agricultura e ao pastoreio.

e. Gösta Ahlström, entretanto, foi quem desenvolveu mais


amplamente este modelo de uma retirada pacífica em vários de
seus escritos. Ele trabalha a continuidade entre israelitas e
cananeus, evidente na cultura material, e busca reler os textos
bíblicos dentro desta lógica. O próprio nome do povo, 'Israel',
reflete esta lógica, já que construído com o nome de El, divindade
cananeia. Ahlström contesta a tese de Gottwald de uma
'retribalização' ocorrida nas montanhas, já que sua estrutura
social de base familiar não corresponde, segundo ele, ao tipo
nômade. Nenhuma 'revolta' de camponeses pode ser
documentada. Os recursos tecnológicos menores, igualmente,
não indicam a chegada de um grupo de pessoas vindas de fora
da terra, mas sim a escassez de recursos da área dos
assentamentos. Talvez um grupo tenha vindo de Edom e se
juntado a estes camponeses, trazendo com eles o culto a Iahweh.

2. O NOMADISMO INTERNO

66
HISTÓRIA DE ISRAEL

a. C. H. J. de Geus, antigo defensor das teorias de Mendenhall e


Gottwald, propõe que os israelitas eram etnicamente unidos,
morando nas montanhas e usando categorias tribais. Eles seriam
os hapiru das cartas de Tell el-Amarna, vivendo nas áreas
intermediárias entre as cidades e com elas interagindo,
experimentando, por isso, uma 'simbiose cultural'. Eles estavam
na região há séculos e pertenciam à cultura amorita siro-palestina
do Bronze Médio. Quando as cidades sofreram um colapso eles
expandiram seu controle.

b. Volkmar Fritz, antes defensor da ideia de infiltração pacífica de


Albrecht Alt, ao escavar no norte do Negev, percebe que a cultura
israelita viveu um longo período em contato com a cultura
cananeia e deslocou um pouco sua perspectiva. A casa israelita
de quatro cômodos significa uma evolução da arquitetura
cananeia e a sua familiaridade com a criação de animais
domésticos e seus trabalhos em metal e cerâmica mostram que
eles não eram verdadeiros nômades, mas que estavam em
contato comercial com as culturas das cidades da região. Para
Fritz, porém, a arquitetura diferenciada dos povoados israelitas
nas montanhas mostra que eles não saíram simplesmente das
cidades das planícies, mas que foram proto-israelitas, que, vindos
de fora, antes de se sedentarizarem, entraram em contato
simbiótico com as culturas citadinas. Ou seja: eles estavam
culturalmente próximos dos cananeus, mas eram etnicamente
diferentes e trouxeram consigo suas próprias estruturas sociais e
sua cultura material. Eles seriam os hapiru ou os shasu dos
textos egípcios, que eventualmente deram origem a Israel,
Moabe e Edom.

c. Israel Finkelstein é o principal defensor da ideia do 'nomadismo

67
HISTÓRIA DE ISRAEL

interno'. Talvez resumindo excessivamente seu matizado


pensamento, eu diria que, para Finkelstein, os israelitas eram
'nômades internos', gente que vivia na Palestina, por toda a Idade
do Bronze, na proximidade das cidades. Com o declínio destas,
estes pastores se dedicaram também à agricultura para
conseguir cereais e outros alimentos não mais oferecidos pelas
cidades. Eles teriam se assentado em grande número na região
montanhosa de Efraim e, a partir dali, se espalhado, como
defendia Alt, para o norte e para o sul da região. O aumento
populacional posterior colocou-os em conflito com populações
das planícies até que se chegou à unificação davídica.

3. A TRANSIÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO PACÍFICA

a. Niels Peter Lemche, um dos mais brilhantes 'minimalistas' da


Escola de Copenhague, acredita que muito pouco pode ser dito
das origens de Israel antes do século X a.C. a não ser a
percepção de um processo gradual de aumento da população
nas montanhas da Palestina. Lemche, assim como outros
minimalistas, questiona o uso da Bíblia Hebraica na reconstrução
da História de Israel, já que esta é um produto pós-exílico,
possivelmente da época helenística. Na verdade, diz Lemche,
não há época patriarcal, êxodo, juízes, monarquia unida...
Lemche expõe a sua visão no livro de 1998, The Israelites in
History and Tradition, p. 74, ao mesmo tempo que procura
superá-la com uma nova proposta nas páginas 75-77.

Diz Lemche que o modelo 'evolucionário' por ele defendido na


obra de 1988, Ancient Israel: A New History of Israelite Society
pressupõe que o aumento dos assentamentos tenha sido uma
conseqüência natural da deterioração das condições de vida das

68
HISTÓRIA DE ISRAEL

cidades da Palestina durante a última parte do Bronze Recente,


até cerca de 1200 a.C. Segundo esta explicação, diferenças
étnicas só apareceram com o passar do tempo, motivadas por
interesses econômicos, políticos, regionais e religiosos diferentes,
levando os habitantes dos povoados a se agrupar em grupos de
parentesco, linhagens e, no final do processo, em tribos.

Mas Lemche vê problemas nesta proposta, pois ela pressupõe


um vazio de poder egípcio na região e a conseqüente decadência
das cidades, provocada pela perda das rendas do comércio
internacional, no conturbado enfrentamento de grandes potências
no século XIII a.C. Entretanto, o que hoje se sabe é que a
ausência egípcia na região não coincide com o aparecimento dos
povoados na região montanhosa da Palestina. Daí, que o
afastamento desta população, saindo das cidades, pode ter sido
causado não pela ausência, mas pelo aumento da pressão
egípcia sobre as mesmas, em sua exigência de mais tributos e
mais trabalho forçado. Assim o Egito compensava as perdas do
comércio internacional.

Mas esta proposta não inclui a participação dos nômades na


formação desta nova sociedade, e a presença de elementos
nômades nestes assentamentos deve ser considerada. Então,
por que não creditar à política egípcia o processo de criação de
assentamentos sem fortificações, por um lado, e por outro, a
fixação dos migrantes, consolidando o poder do império na
região? Pois, deste modo, o Egito transferia parte da população
de cidades, agora improdutivas, para novas regiões e garantia os
seus rendimentos na região.

b. William Stiebing, por outro lado, coloca as mudanças climáticas


ocorridas na região do Mediterrâneo entre 1250 e 1200 a.C.

69
HISTÓRIA DE ISRAEL

como fator fundamental para explicar o declínio da cultura urbana


da Grécia Micénica à Palestina. Afugentados pela seca, os
sobreviventes da fome que se abateu sobre as cidades foram
para as montanhas. Condições climáticas mais favoráveis por
volta do ano 1000 a.C. possibilitaram o aumento desta população
e à criação do Estado. Israel, portanto, surgiu não pelo simples
deslocamento de determinados grupos, mas pelo crescimento
populacional tornado possível pelas condições climáticas
favoráveis à agricultura.

c. Robert Drews defende que os 'povos do mar' que invadem a


região não eram simples migrantes, mas mercenários treinados e
com armamento superior ao dos exércitos locais. Daí o massacre
das cidades e o aumento populacional dos habitantes das
montanhas, com mudanças, inclusive, em seu comportamento
ético, agora mais igualitário. Ele dá pouca importância aos fatores
climáticos na explicação dos acontecimentos.

d. Robert Coote & Keith Whitelam vêem as origens de Israel como


parte de um processo de integração milenar entre as regiões das
cidades e as regiões das montanhas. Processo que pode ser
chamado de 'realinhamento' ou 'transformação', pois nos
períodos de prosperidade as regiões das montanhas
providenciavam recursos para as cidades dos vales, enquanto
que nos momentos das crises elas absorviam as populações que
deixavam tais cidades. No surgimento de Israel o colapso do
comércio foi o fator mais significativo, segundo estes autores,
pois colocou em crise a sobrevivência das cidades e exigiu dos
povoados das montanhas uma forma mais eficaz de colaboração
e cooperação para a sobrevivência, levando a um aumento
populacional significativo. Com o desenvolvimento destas regiões

70
HISTÓRIA DE ISRAEL

o comércio foi recuperado, promovendo mais tarde o


aparecimento do Estado.

e. Rainer Albertz faz uma espécie de síntese de várias escolas,


indo de Albright a Lemche, não propondo uma teoria específica.
Albertz fala de 'digressão', processo pelo qual o colapso do
comércio internacional forçou os habitantes das cidades a se
deslocarem para os povoados das montanhas e aí se
desenvolverem. Para tais comunidades o grupo do êxodo trouxe
as idéias do deus Iahweh.

4. AMÁLGAMA PACÍFICO

Finalmente, a ideia de um amálgama pacífico de diferentes grupos


nas regiões montanhosas da Palestina para explicar as origens de
Israel tem como defensores especialistas como Baruch Halpern,
William Dever, Thomas Thompson e Donald Redford. A opinião de
R. K. Gnuse, que aqui se alinha, é de que este grupo de
pesquisadores prevalecerá sobre os outros, por considerar melhor
os pressupostos teóricos do debate atual[24].

a. Baruch Halpern foi um dos primeiros a descrever o processo de


assentamento como uma complexa interação de diferentes
grupos nas montanhas: poucos habitantes dos vales, muitos
habitantes da região montanhosa, um grupo vindo do Egito com a
experiência do êxodo, grupos vindos da Síria... O grupo do Egito
trouxe Iahweh, enquanto o grupo sírio, de agricultores
despossuídos, trouxe a circuncisão e a proibição da criação do
porco e criou o nome 'Israel' no século XIII a.C. Todos estes
grupos foram reunidos pela necessidade de manter rotas de
comércio abertas com a ausência do Egito na região.

71
HISTÓRIA DE ISRAEL

Progressivamente controlaram também as planícies, levando ao


surgimento da monarquia. Halpern sublinha ainda que o Israel
histórico não é o Israel da Bíblia Hebraica, mas foi o Israel
histórico que produziu o Israel bíblico.

b. William Dever já foi simpatizante do modelo da revolta de


Gottwald, das propostas de Coote & Whitelam e do modelo de
simbiose de Fritz. Hoje ele vê o surgimento de Israel entre as
populações que praticavam a agricultura na Palestina e rejeita a
dicotomia cananeu/israelita, dizendo que a distinção entre urbano
e rural explica as diferenças, que são funcionais e não étnicas.
Para Dever Israel se formou de refugiados das cidades, 'bandidos
sociais' (social bandits), alguns revolucionários, uns poucos
nômades, mas, principalmente, cananeus saídos das cidades. Na
região das montanhas eles progressivamente criaram uma
identidade que os diferenciou dos cananeus das planícies.

c. Thomas L. Thompson, um dos mais polêmicos 'minimalistas' é


ferrenho defensor de uma História da Palestina escrita somente a
partir dos dados arqueológicos e crítico de qualquer história e
arqueologia bíblicas. Thompson observa que a população da
Palestina permaneceu inalterada durante milênios, movendo-se
os grupos entre as cidades das planícies e os povoados das
montanhas segundo as estratégias de sobrevivência exigidas
pelas mudanças climáticas, principal fator de transformação
social e política da região. A população das montanhas era
formada por nativos da região, que se misturaram com gente que
veio das planícies, pastores de outras áreas e imigrantes da Síria,
Anatólia e do Egeu. A unidade política de Israel só aparece na
época das interferências assírias na região, no século VIII a.C.,
no que diz respeito a Samaria, e no século VII a.C., quando

72
HISTÓRIA DE ISRAEL

Jerusalém, após a destruição de Lakish por Senaqueribe, torna-


se líder da região sul, como cidade cliente da Assíria. Toda a
'estória bíblica' do império davídico-salomônico e dos reinos
divididos de Israel e Judá é, para Thompson, pura ficção pós-
exílica.

d. Por fim, Donald Redford, egiptólogo, defende que existe uma


diferença entre os habitantes das planícies e os habitantes das
montanhas. Ele sugere que o núcleo da população nas
montanhas era formado por pastores que se sedentarizaram,
mas que pastores shasu vindos de Edom, e trazendo consigo o
culto a Iahweh, também ali se assentaram, dando início ao futuro
Israel, para ele, distinto dos cananeus.

73
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 08

OS GOVERNOS DE SAUL, DAVI E SALOMÃO (1)

ASCENSÃO E QUEDA DE SAUL

A. A MONARQUIA ISRAELITA

Até meados da década de 70 do século XX, raras vozes no mundo


acadêmico ousariam contestar a versão abaixo para descrever a
origem e as características da monarquia israelita.

1. OS FILISTEUS

Os filisteus, um dos "povos do mar" rechaçados pelo Egito, haviam


ocupado uma fértil faixa costeira no sudoeste da Palestina. Isto
aconteceu por volta de 1150 a.C. Os filisteus formaram uma
confederação de cinco cidades: Gaza, Ascalom, Asdode, Gate e
Ecrom.

2. OS FILISTEUS SUBJUGAM ISRAEL

Ou porque viam em Israel uma ameaça às suas rotas comerciais ou


por algum outro motivo, os filisteus avançaram com um exército
organizado contra os agricultores israelitas. Usavam armas de ferro,

74
HISTÓRIA DE ISRAEL

metal que sabiam trabalhar bem e perigosos carros de combate,


além de possuírem uma longa tradição militar.

Aí por volta de 1050 a.C. os filisteus atacam e vencem os israelitas


perto de Afeque, na região norte. De acordo com 1Sm 4, a Arca da
Aliança, levada pelos sacerdotes de Silo para o campo de batalha,
como última esperança, foi capturada, os israelitas derrotados. Silo,
destruído.

Os filisteus não ocuparam todo o país, mas posicionaram-se em


postos estratégicos, cortando as comunicações entre os vários
grupos israelitas. Além do mais, proibiram o trabalho em metal em
todo o território israelita - o que equivalia a um desarmamento geral
do povo e à sua dependência dos filisteus até mesmo para os
trabalhos mais elementares da agricultura - e saquearam os
produtos de boa parte do país.

3. SAMUEL SE LEVANTA PARA ORGANIZAR O POVO PARA LUTA

Samuel tentou por todos os meios levantar e organizar o povo para


uma luta de libertação. Em vão.

4. A ESPERANÇA MONÁRQUICA

A saída, então, foi a escolha de um chefe único, colocado acima de


todos os grupos israelitas autônomos. Nem que fosse alguém com
poder despótico, superior às tribos todas em poder, com perigoso
precedente de utilização de este poder contra parte da população,
como acontecia nos reinos vizinhos e como demonstra o apólogo
de Jotão em Jz 9.8-15, em uma das mais brilhantes manifestações
literárias antimonárquicos que se conhece na história. Eis o texto:

75
HISTÓRIA DE ISRAEL

Aí Jotão disse: —Uma vez as árvores resolveram procurar


um rei para elas. Então disseram à oliveira: “Seja o nosso
rei.”

E a oliveira respondeu: “Para governar vocês, eu teria de


parar de dar o meu azeite, usado para honrar os deuses e
os seres humanos.”

—Aí as árvores pediram à figueira: “Venha ser o nosso rei.”

Mas a figueira respondeu: “Para governar vocês, eu teria de


parar de dar os meus figos tão doces.”

—Então as árvores disseram à parreira: “Venha ser o nosso


rei.”

Mas a parreira respondeu: “Para governar vocês, eu teria


de parar de dar o meu vinho, que alegra os deuses e os
seres humanos.”

—Aí todas as árvores pediram ao espinheiro: “Venha ser o


nosso rei.”

---- E o espinheiro respondeu: “Se vocês querem mesmo


me fazer o seu rei, venham e fiquem debaixo da minha
sombra. Se vocês não fizerem isso, sairá fogo do espinheiro
e queimará os cedros do Líbano.” (BLH).

B. A ASCENÇÃO DE SAUL

Sobre a ascensão de Saul, um impetuoso benjaminita, a líder do povo,


há duas versões opostas que refletem duas tendências: uma que
aclama e defende a ideia (1Sm 9.1-10.16), outra que se opõe e alerta
contra o perigo do empreendimento (1Sm 8).

76
HISTÓRIA DE ISRAEL

1. A ADVERTÊNCIA DE SAMUEL

1Sm 8.11-19 – “e disse: Este será o direito do rei que houver de


reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos e os empregará no
serviço dos seus carros e como seus cavaleiros, para que corram
adiante deles;

e os porá uns por capitães de mil e capitães de cinquenta; outros


para lavrarem os seus campos e ceifarem as suas messes; e outros
para fabricarem suas armas de guerra e o aparelhamento de seus
carros.

Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras.

Tomará o melhor das vossas lavouras, e das vossas vinhas, e dos


vossos olivais e o dará aos seus servidores.

As vossas sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos


seus oficiais e aos seus servidores.

Também tomará os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos


melhores jovens, e os vossos jumentos e os empregará no seu
trabalho.

Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos.

Então, naquele dia, clamareis por causa do vosso rei que houverdes
escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia.

Porém o povo não atendeu à voz de Samuel e disse: Não! Mas


teremos um rei sobre nós”.

Alguns acham que Samuel pode ser considerado um herdeiro de


uma tradição antimonárquica que se manifesta já na época de Saul.

2. SAUL SE TORNA REI

77
HISTÓRIA DE ISRAEL

De qualquer maneira, numa atuação carismática e espontânea, Saul


conseguiu uma vitória sobre os amonitas que entusiasmou o povo e
o convenceu de suas capacidades guerreiras (1Sm 11). Depois
disso ele foi aclamado rei em Gilgal (1Sm 11.14-15).

Mas, podemos dizer que Saul não foi propriamente um rei.


Continuou a viver em sua terra, Gibeá, e não tocou na estrutura
interna da organização tribal. Era um chefe militar: mantinha um
pequeno exército permanente e regular e seu governo oferecia
alguns cargos: seu primo Abner era general de seu exército, Davi,
seu escudeiro. Se houve mais, pouco foi.

3. SAUL E JÔNATAS

Saul e seu filho Jônatas conseguiram uma boa vitória sobre os


filisteus reunidos em Gibeá e Micmás (1Sm 13-14), o que deu a
Israel um alívio temporário.

4. A QUEDA DE SAUL ERA APENAS UMA QUESTÃO DE TEMPO

A queda de Saul devia acontecer em breve. As causas poderiam ser


identificadas na ambiguidade de sua posição (rei ou chefe tribal?),
na independência tribal, na sempre constante ameaça dos filisteus e
principalmente no desentendimento entre a antiga ordem tribal e as
exigências da nova ordem.

Segundo as fontes bíblicas de que dispomos, Saul teria usurpado


funções sacerdotais (1 Sm 13) e violado antigas leis da guerra santa
que não favoreciam sua estratégia militar (1Sm 15).

5. O ROMPIMENTO DE SAMUEL COM SAUL

78
HISTÓRIA DE ISRAEL

Samuel, significativo representante da antiga ordem, acabou


rompendo com Saul. As coisas se agravaram, porém, quando o
jovem pastor de Belém, Davi, amigo de Jônatas e marido de Mical,
filhos de Saul, tornou-se seu rival. Saul assassinou a família
sacerdotal de Silo, agora estabelecida em Nobe, porque esta
defendera Davi (1Sm 22) e a partir daí perseguiu Davi
implacavelmente.

6. DAVI FOGE DE SAUL

Davi refugiou-se no deserto e formou um bando de guerreiros que


fugiam de Saul e atacavam os filisteus. Não se aguentando, porém,
nesta posição, Davi e sua tropa oferecem seus serviços ao rei
filisteu de Gate. Este o acolhe e lhe dá como feudo a cidade de
Ziclague, no Neguebe.

7. A QUEDA DE SAUL

A queda de Saul acontece quando os filisteus partiram mais uma


vez de Afeque e, escolhendo posição favorável, entraram em
choque com o exército de Saul a noroeste do monte Gilboa. A
batalha estava perdida antes mesmo de começar, mas Saul não
voltou atrás. Resultado: seus três filhos morreram em combate e ele
mesmo, muito ferido, "se lançou sobre a sua espada" e seu exército
foi totalmente desfeito (1Sm 31).

Os filisteus cortaram-lhe a cabeça e fixaram seu corpo e os de seus


filhos nos muros de Bete-Seã, como exemplo para os israelitas.
Então, ocuparam toda a terra. Saul liderou os israelitas de 1030 a
1010 a.C.

79
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 09

OS GOVERNOS DE SAUL, DAVI E SALOMÃO (2)

DAVI E A CRIAÇÃO DO ESTADO

A. O REINO DAVÍDICO

Para substituir Saul não ficara ninguém válido a não ser seu último filho
Isbosete. Com efeito, Abner refugiou-se com ele em Maanaim, na
Transjordânia, e de lá pretendeu que fosse dada continuidade ao
governo de Saul através do fraco Isbosete. Foi só uma pretensão,
realmente.

1. DAVI SE TORNA REI DO SUL E NORTE

Enquanto isso, Davi dirigiu-se com seus homens para Hebron e,


com o consentimento dos filisteus e o apoio da população do sul,
tornou-se o líder de Judá (2Sm 2.1-4). Isto teria acontecido por volta
de 1010 a.C.

Segundo as fontes bíblicas, dois anos mais tarde, Isbosete é


assassinado e, através de hábeis manobras políticas, Davi é
também aclamado rei da região norte do território por todo o povo
(2Sm 5.1-5).

80
HISTÓRIA DE ISRAEL

Em seguida, ele conquista Jerusalém, cidade jebuséia situada no


sul, e faz dela a sua cidade. Assim, Davi consegue uma união, ainda
que frágil, dos vários grupos israelitas.

2. OS FILISTEUS RECONHECEM A SUPREMACIA DE ISRAEL

Competia agora a Davi vencer os filisteus e acabar de vez com suas


ameaças. Ele não se fez de rogado. Os filisteus atacaram
repetidamente e foram totalmente derrotados: tiveram que
reconhecer a supremacia de Israel e tornaram-se seus vassalos.

Segundo o texto bíblico, Davi construiu, na verdade, um grande


reino: submeteu Amon, Moabe, Edom, os arameus etc. Todos os
reis da região, até o Eufrates, pagavam-lhe tributos.

B. O ESTADO SOB O GOVERNO DE DAVI

E o Estado sob Davi funciona, segundo o texto bíblico, de maneira


austera e modesta, mantendo uma administração baseada no respeito
às instituições tribais e alguns funcionários.

1Sm 8.15-18 – “As vossas sementeiras e as vossas vinhas dizimará,


para dar aos seus oficiais e aos seus servidores.

Também tomará os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos


melhores jovens, e os vossos jumentos e os empregará no seu
trabalho.

Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos.

Então, naquele dia, clamareis por causa do vosso rei que houverdes
escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia”.

81
HISTÓRIA DE ISRAEL

1. O EXÉRCITO

Seu exército compunha-se de israelitas convocados das várias


tribos, de sua guarda pessoal - seus homens de confiança desde os
tempos da clandestinidade - e de mercenários estrangeiros.

2. A CORVEIA

Os países dominados pagavam tributo, instituiu-se a corveia -


estrangeiros obrigados a trabalhar grátis nos projetos do Estado – e
Davi não interferiu na administração da justiça tribal.

3. DAVI TRANSFERE A ARCA PARA JERUSALÉM

Davi levou para Jerusalém a Arca da Aliança, nomeou os chefes dos


sacerdotes e fez tudo o que pôde para o culto, procurando assim
manter o consenso da população ao redor da nova instituição.

4. AS TENSÕES ENFRENTADAS POR DAVI

Apesar de tudo isto, Davi enfrentou tensões surgidas entre a antiga


e a nova ordem: por exemplo, o recenseamento (com fins fiscais e
militares) que ele mandou fazer gerou conflitos e críticas (2Sm 24) e
a luta de seus filhos pela sucessão enfraqueceu muito seu prestígio.

Salomão substituiu-o no poder em 971 a.C. Davi governara 39 anos.

82
HISTÓRIA DE ISRAEL

83
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 10

OS GOVERNOS DE SAUL, DAVI E SALOMÃO (3)

SALOMÃO E A CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO

A. SALOMÃO NÃO ERA O HEDEIRO NATURAL

Salomão não era o herdeiro natural de Davi e sua posse foi recheada
de intrigas e inimizades. Assim, logo que se viu garantido no poder,
Salomão eliminou drasticamente seus inimigos. Mandou matar seu
irmão Adonias, também o general Joabe e desterrou o sacerdote chefe
Abiatar.

1. A CORTE DE SALOMÃO

Criou, segundo o texto bíblico, uma corte imensa e dispendiosa. 1Rs


4.22-23 conta de seus gastos. Um absurdo em cereais e carne:

“Os mantimentos que Salomão precisava todos os dias eram: três


mil quilos de farinha de trigo e seis mil quilos de farinha de outros
cereais;

dez bois gordos, vinte bois de pasto e cem carneiros; fora veados,
gazelas, corços e aves domésticas” (BLH).

De acordo com Ne 5.17s, 150 homens eram alimentados por

84
HISTÓRIA DE ISRAEL

Neemias diariamente com 1 boi e 6 ovelhas, mais algumas aves.


Com base nesta notícia, poder-se-ia imaginar que a corte de
Salomão se tenha composto de 3.000 a 4.500 pessoas, uma vez
que consumia 20 a 30 vezes mais carne que o grupo de Neemias.
Se acrescentarmos ao consumo ainda a farinha, o número será bem
maior.

2. A ADMINISTRAÇÃO DE SALOMÃO

Quanto à administração, Salomão introduziu novidades enormes,


como, por exemplo, a divisão do norte em 12 províncias,
desrespeitando a divisão tribal e nomeando prefeitos estranhos às
populações locais. E tem mais: cada província cuidava da
manutenção da corte durante um mês (1Rs 4.1-19).

3. A ORGANIZAÇÃO MILITAR E AS FRONTEIRAS DE ISRAEL

Embora não fosse um guerreiro, Salomão sabia fazer se respeitar


no armamento e na organização militar. Seu exército era poderoso
na época e seus carros de combate temíveis. Estes carros foram
uma inovação de Salomão. Davi só usava a infantaria. A população
pagava por este exército, fornecendo "a cevada e a palha para os
cavalos e os animais de tração, no lugar onde fosse preciso, e cada
qual segundo o seu turno", diz 1Rs 4.28.

Apesar de algumas revoltas nos reinos vassalos e de um possível


enfraquecimento de poder, Salomão, conseguiu, em geral, manter o
país nos limites estabelecidos por seu pai Davi.

4. O COMÉRCIO E A INDÚSTRIA

85
HISTÓRIA DE ISRAEL

Mas sua habilidade revelou-se totalmente foi no comércio e na


indústria, sempre segundo o texto bíblico. Construiu uma frota
mercante que comerciava até com Ofir (atual Somália) e com todos
os portos do Mar Vermelho, enquanto outra parte fazia a rota do
Mediterrâneo até a Espanha. Seus navios eram construídos e
tripulados pelos fenícios, mestres na arte da navegação.

Salomão dominou igualmente o comércio da Arábia, com o controle


das caravanas: o comércio de cavalos da Cilícia e do Egito, através
de suas agências de compra e venda. Exportava cobre e outros
metais...

Toda esta atividade comercial gerou uma expansão interna muito


grande no país: cidades que se fortaleciam, construções de grandes
obras públicas por toda a parte, a população que aumentava
consideravelmente em número.

5. A BASE DA CONSTRUÇÃO DO REINO DE SALOMÃO

Porém, se olharmos menos ingenuamente este florescimento todo,


veremos sobre quais bases foi construído. Sobre a exploração de
uma boa parte da população. Vejamos.

A burocracia estatal requeria um número respeitável de funcionários,


altos cargos distribuídos a gente nascida na corte e que se julgava
superior a todos os demais.

As obras públicas requeriam dinheiro para sua concretização. O


exército, recrutado entre o povo, não mais respeitando as tribos,
precisava de muito dinheiro para funcionar com eficiência e assim
por diante.

Resultado: Salomão colocou pesados impostos sobre a população


israelita, forçou seus vassalos estrangeiros e a população cananeia

86
HISTÓRIA DE ISRAEL

à corveia (trabalho grátis para o Estado) e usou o trabalho escravo


em grande escala nas suas minas e fundições no sul do país (1Rs
9.20-22). Usou também, embora haja notícias controvertidas na obra
deuteronomista, a mão-de-obra grátis em Israel (segundo 1Rs 9.22
os israelitas não foram submetidos à corveia, mas segundo 1Rs
5.27;11,28 também os israelitas foram submetidos ao trabalho
forçado para o Estado).

O Estado classista estava em pleno funcionamento. Com o correr do


tempo, as diferenças de classe e as contradições internas foram se
aprofundando até levar à divisão do território.

B. A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO

A construção do Templo em Jerusalém, servindo ao mesmo tempo


como santuário nacional e como capela real, transferia para o Estado
todo o poder religioso. Muito interessante é a observação de C. A.
DREHER, sobre os motivos porque Salomão construiu o Templo:
"Que fazer, num tempo de paz, para continuar a garantir o direito ao
tributo? Pode-se recorrer às armas e impor um governo através da
força policial. Mas isso tem lá seus riscos na época de uma monarquia
incipiente (...) Um motivo religioso lhe será bem mais útil. A construção
do templo, a casa de Javé, cuja arca já se encontra em Jerusalém, lhe
dará cobertura ideológica para garantir seu Estado e seu direito ao
tributo".

Salomão governou a região de 971 a 931 a.C., durante 40 anos.

87
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 11

O REINO DE ISRAEL (1)

ISRAEL – O REINO DO NORTE

A. A DIVISÃO DO REINO

Segundo o texto bíblico, com a morte de Salomão, em 931 a.C.,


desabou a unidade do reino. O norte, agora chamado de Israel,
separou-se do Estado davídico que permaneceu em Judá. E o reino do
norte existiu durante 209 anos, até ser massacrado pelo poderoso
Império assírio, em 722 a.C.

Para começar, podemos anotar que o processo de sucessão de


Salomão não foi bem visto, especialmente porque o norte tinha
consciência da exploração a que era submetido pelo poder central e
levantou, então, a bandeira da rebelião.

1. ROBOÃO SE TORNA REI

Proclamado rei em Judá, Roboão (931-914 a.C.), filho de Salomão,


foi a Siquém para que o norte o aclamasse senhor também das
outras tribos. Em Siquém, os israelitas impuseram-lhe uma
condição: aceitariam o seu governo, caso fossem retiradas as
pesadas leis impostas ao povo por seu pai Salomão. Roboão não

88
HISTÓRIA DE ISRAEL

aceitou as condições e foi a gota d'água. Podemos seguir o


desenrolar dos acontecimentos a partir do capítulo 12 do primeiro
livro dos Reis.

1Rs 12.3-11 – “Foi Roboão a Siquém, porque todo o Israel se reuniu


lá, para o fazer rei.

Tendo Jeroboão, filho de Nebate, ouvido isso (pois estava ainda no


Egito, para onde fugira da presença do rei Salomão, onde habitava

e donde o mandaram chamar), veio com toda a congregação de


Israel a Roboão, e lhe falaram:

Teu pai fez pesado o nosso jugo; agora, pois, alivia tu a dura
servidão de teu pai e o seu pesado jugo que nos impôs, e nós te
serviremos.

Ele lhes respondeu: Ide-vos e, após três dias, voltai a mim. E o povo
se foi.

Tomou o rei Roboão conselho com os homens idosos que estiveram


na presença de Salomão, seu pai, quando este ainda vivia, dizendo:
Como aconselhais que se responda a este povo?

Eles lhe disseram: Se, hoje, te tornares servo deste povo, e o


servires, e, atendendo, falares boas palavras, eles se farão teus
servos para sempre.

Porém ele desprezou o conselho que os anciãos lhe tinham dado e


tomou conselho com os jovens que haviam crescido com ele e o
serviam.

E disse-lhes: Que aconselhais vós que respondamos a este povo


que me falou, dizendo: Alivia o jugo que teu pai nos impôs?

E os jovens que haviam crescido com ele lhe disseram: Assim


falarás a este povo que disse: Teu pai fez pesado o nosso jugo, mas

89
HISTÓRIA DE ISRAEL

tu alivia-o de sobre nós; assim lhe falarás: Meu dedo mínimo é mais
grosso do que os lombos de meu pai.

Assim que, se meu pai vos impôs jugo pesado, eu ainda vo-lo
aumentarei; meu pai vos castigou com açoites, porém eu vos
castigarei com escorpiões”.

2. O REINO DO NORTE ROMPE COM O REINO DO SUL E


JEROBOÃO É ACLAMADO REI

Israel do norte, chamado doravante simplesmente de Israel,


Samaria ou ainda Efraim, constituído pelas 10 tribos rebeldes,
escolheu para seu rei a Jeroboão, um nobre da tribo de Efraim e
inimigo de Salomão, que se encontrava exilado.

Inicialmente nem guerra houve entre os dois povos irmãos, pois


assim debilitados viram-se ameaçados pelos inimigos externos e
deixaram suas rixas para acertar mais tarde. Quando o norte se
rebelou, Roboão quis partir para a repressão armada, mas foi
desaconselhado.

3. SIQUÉM TORNA-SE A CAPITAL DO REINO DO NORTE

Jeroboão escolheu a cidade de Siquém para capital do seu reino,


onde permaneceu apenas 5 anos. Transferiu-a seguidamente para
Penuel e Tirza. Só mais tarde, sob outro rei, foi construída Samaria,
a capital definitiva.

4. NOVOS LUGARES DE CULTO

Rejeitando o governo de Jerusalém, os nortistas rejeitaram também


o Templo e as peregrinações nas grandes festas. Para substituir o

90
HISTÓRIA DE ISRAEL

Templo e mesmo para evitar que o povo fosse a Jerusalém e


passasse para o lado de lá, Jeroboão construiu dois touros de ouro
e colocou-os em antigos santuários: Dã, no extremo norte, e Betel,
perto de Jerusalém, no sul. E isto deu o que falar. Para o sul, já era
a idolatria que dominava o norte, embora a intenção do rei fosse
apenas reavivar o culto naqueles santuários.

5. A INSTABILIDADE POLÍTICA DE ISRAEL

Israel caracterizou-se pela instabilidade política. No curto espaço de


209 anos, teve 19 reis de diferentes dinastias que se sucederam
com golpes de Estado, assassinatos e chacinas várias.

A incerteza quanto à localização da capital e ainda o perigo da


pressão estrangeira (Fenícia, Síria e Assíria) fizeram do novo país
um foco de problemas e de crises sucessivas. E quem saía
perdendo, como sempre, era o povo. Os mesmos camponeses e
pescadores antes explorados pelo sul passaram a sê-lo pelo norte.

Por outro lado, tanto o norte quanto o sul perderam, segundo o texto
bíblico, todas as suas possessões estrangeiras: definitivamente os
tempos do Israel forte haviam acabado. Divididos, tanto Israel
quanto Judá eram fracos demais para dominar seus vizinhos como
fizera Davi e Salomão.

B. OS REIS DE ISRAEL

REI DATA (a.C.) REF. DURAÇÃO

1 Jeroboão I 931-910/9 1Rs 11.28 21 anos

2 Nadabe 910-909 1Rs 14.20 2 anos

91
HISTÓRIA DE ISRAEL

3 Baasa 909/8-886 1Rs 15.16 22 anos

4 Elá 886/5-885 1Rs 16.8 2 anos

5 Zinri 885/4 1Rs 16.15 7 dias

6 Onri 885/4-874 1Rs 16.16 11 anos

7 Acabe 874/3-853 1Rs 16.29 21 anos

8 Acazias 853-852 1Rs 22.40 2 anos

9 Jorão 852-841 2Rs 1.17 11 anos

10 Jeú 841-813 1Rs 19.16 28 anos

11 Joacaz 813-797 2Rs 10.35 16 anos

12 Jeoás 797-782 2Rs 13.10 15 anos

13 Jeroboão II 782/1-753 2Rs 14.23 29 anos

14 Zacarias 753 2Rs 14.29 6 meses

15 Salum 753/2 2Rs 15.10 1 mês

16 Manaém 753/2-742 2Rs 15.14 11 anos

17 Pecaías 742/1-740 2Rs 15.23 2 anos

18 Peca 740/39-731 2Rs 15.25 9 anos

19 Oséias 731-722 2Rs 15.30 9 anos

C. DE JEROBOÃO I A JEROBOÃO II

1. DE JEROBOÃO I A ONRI

De Jeroboão I a Onri (cerca de 50 anos) houve muita instabilidade

92
HISTÓRIA DE ISRAEL

em Israel. Nadabe foi assassinado por Baasa; seu filho Ela foi
também assassinado por Zinri, que, por sua vez, se suicidou,
quando viu a morte trazida pelo general Onri. Houve também vários
conflitos com Judá por causa das fronteiras.

2. ONRI

Onri, que deu um golpe militar em 885 a.C., foi um válido artífice da
paz com Judá. Fez aliança com a Fenícia, casando seu filho Acabe
com Jezabel, filha de Etbaal, rei de Tiro. Levou vantagem no
confronto com Moabe e com os arameus de Damasco.

Onri construiu Samaria em 880 a.C. para capital do reino e


desenvolveu bastante o país. Porém, como sempre, o progresso do
país empobrecia largas camadas da população e levava a
exploração classista ao máximo.

3. ACABE

Sob Acabe, filho de Onri, a situação do povo era muito difícil. O


intenso comércio com a Fenícia aumentou a riqueza da classe
dominante em Israel. Faltava dinheiro no país? O povo precisava de
empréstimos? Os privilegiados emprestavam a juros exorbitantes. A
lavoura não produzia quando a seca era forte? Os ricos vendiam
mantimentos à população camponesa, em "suaves prestações"...

Para termos uma ideia da situação: a partir desta época ficou muito
comum o camponês se vender ao rico credor para saldar suas
dívidas, trabalhando como escravo. Ou entregava seus filhos.

O rei - e sua gloriosa corte - puxava a procissão das explorações


(1Rs 21).

93
HISTÓRIA DE ISRAEL

Em Samaria, Acabe construiu um templo para sua mulher Jezabel


cultuar seu deus Baal. Isto era costume naquela época. Mas Jezabel
arrastou a corte toda e a aristocracia atrás de si neste culto.
Resultado: por todo o país proliferaram os sacerdotes de Baal.

O profeta Elias, contemporâneo de Acabe, vai lutar com todas as


forças contra tamanha deterioração do javismo e de seus ideais de
justiça.

Originário do Gileade, Elias faz ver ao povo, segundo a


interpretação deuteronomista dos livros dos Reis, que a idolatria e o
abandono do javismo era um problema muito sério, de âmbito
nacional e causador de todos os males que dominavam o país, o
mais sério deles sendo a exploração da maioria da população.

Perseguido pela rainha Jezabel, que prontamente percebeu o perigo


por ele representado contra o seu culto e os seus privilégios, Elias
tornou-se no seu tempo um símbolo da fidelidade a Iahweh, como
demonstra o significado de seu nome (Elias = só Iahweh é Deus).
Suas ações estão narradas em 1Rs 17-22 e 2Rs 1-2, embora de
forma lendária e extremamente carregadas pelas cores teológicas
do Deuteronomista.

Encontrando muita oposição entre as autoridades religiosas e entre


o próprio povo explorado, a dinastia de Onri vai cair de maneira
violenta: Jeú, em 841 a.C., com a aprovação do profeta Eliseu, dá
um golpe militar sangrento, assassinando toda a família de Jorão, o
rei de turno.

4. JEÚ

Jeú e seus descendentes enfrentaram graves problemas na política


externa: Jeú pagou tributo ao rei assírio Salmaneser III e perdeu a

94
HISTÓRIA DE ISRAEL

Transjordânia para Hazael, rei de Damasco.

5. JEROBOÃO II

Mas com a subida ao trono de Jeroboão II (782/1-753 a.C.) o país


se recupera - também Judá, sob o governo de Ozias, cresce
bastante nesta mesma época - graças a uma série de circunstâncias
favoráveis.

Havia paz entre os dois reinos irmãos. A Síria fora vencida pela
Assíria. Esta, por sua vez, atravessava um período de dificuldades.
E então, livres de pressões maiores, os dois reinos começaram a
sua expansão.

Jeroboão II, bom militar, levou a fronteira norte de seu país onde
anteriormente a colocara Salomão (2Rs 14.23-29). Tomou Damasco
e submeteu a Síria, inclusive as regiões da Transjordânia até
Moabe.

Israel controlou as rotas comerciais de então. Em Samaria os


arqueólogos encontraram os restos de esplêndidos edifícios, provas
da riqueza alcançada.

O sistema administrativo adotado por Jeroboão II foi aquele mesmo


próspero e injusto de Salomão: concentração da renda nas mãos de
poucos com o consequente empobrecimento da maioria da
população.

Criaram-se extremos de riqueza e de pobreza. Os pequenos


agricultores, endividados, viam-se nas mãos de seus credores,
enquanto os tribunais, regados a bom dinheiro, só achavam a razão
do lado dos ricos.

À desintegração social somou-se a religiosa. Com os santuários

95
HISTÓRIA DE ISRAEL

cheios de adoradores, bem providos do bom e do melhor, a religião


javista foi sendo colocada de lado em favor de outros deuses menos
exigentes quanto à justiça e à igualdade social.

Nesta época, os profetas Amós (760 a.C.) e Oséias (755-725 a.C.)


destacaram-se na denúncia da situação em que se encontrava
Israel.

Am 2.6-8 – “Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Israel


e por quatro, não sustarei o castigo, porque os juízes vendem o
justo por dinheiro e condenam o necessitado por causa de um par
de sandálias.

Suspiram pelo pó da terra sobre a cabeça dos pobres e pervertem o


caminho dos mansos; um homem e seu pai coabitam com a mesma
jovem e, assim, profanam o meu santo nome.

E se deitam ao pé de qualquer altar sobre roupas empenhadas e, na


casa do seu deus, bebem o vinho dos que foram multados”.

Amós, com os termos tsaddîq (justo), 'ebyôn (necessitado), dal


(fraco) e 'anaw (pobre), designa as principais vítimas da opressão
na sua época. Sob estes termos, Amós aponta o pequeno
camponês, pobre, com o mínimo para sobreviver e que corre sério
risco de perder casa, terra e liberdade com a política expansionista
de Jeroboão II.

Am 6.4-6 – “que dormis em camas de marfim, e vos espreguiçais


sobre o vosso leito, e comeis os cordeiros do rebanho e os bezerros
do cevadouro;

que cantais à toa ao som da lira e inventais, como Davi,


instrumentos músicos para vós mesmos;

que bebeis vinho em taças e vos ungis com o mais excelente óleo,
mas não vos afligis com a ruína de José”.

96
HISTÓRIA DE ISRAEL

Estes são, segundo Amós, os opressores de sua época. São os que


vivem em palácios e acumulam (3.10), são as senhoras da alta
sociedade (4.1), são os que constroem boas casas e plantam
excelentes vinhas (5.11), são os que aceitam suborno na
administração da justiça (5.12), são os que vivem no luxo e na boa
vida (6.4-6), são os que controlam o comércio (8.4-6).

Enfim, "Amós, como outros profetas após ele, identifica os


opressores com os que detêm o poder econômico, político e
judicial".

Os 4.1-3 – “Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque


o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque
nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus.

O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há


arrombamentos e homicídios sobre homicídios.

Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com
os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar
perecem”.

Temos aqui três categorias negativas superpostas:

a. A falta de conhecimento de Deus (da'at 'elohîm), que se


manifesta como ausência de fidelidade ('emeth) e solidariedade
(hesedh).

b. As desordens sociais, causadas pela falta de conhecimento:


perjúrio, mentira, assassínio, roubo, adultério, homicídio.

c. A morte, com a desagregação do universo. As feras, os pássaros


e os peixes desaparecem. O homem fenece.

Portanto, segundo Oséias, a raiz mais profunda do mal é a falta de


conhecimento de Deus. Que não é conhecimento intelectual ou

97
HISTÓRIA DE ISRAEL

cultual. É a experiência ou vivência do javismo que está em jogo.


Oséias está dizendo que o problema em Israel é que não há mais
espaço para os valores do javismo e isso causa a desagregação da
sociedade.

98
HISTÓRIA DE ISRAEL

99
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 12

O REINO DE ISRAEL (2)

ISRAEL – O REINO DO NORTE

A. O FIM CHEGA PARA ISRAEL

Com a morte de Jeroboão II desabou tudo o que ainda restava em


Israel, apesar de tudo. De 753 a 722 a.C. seis reis se sucederam no
trono de Samaria, abalado por assassinatos e golpes sangrentos.
Houve 4 golpes de Estado (golpistas: Salum, Manaém, Peca e Oséias)
e 4 assassinatos (assassinados: Zacarias, Salum, Pecaías e Peca):

• Zacarias, filho de Jeroboão II, governou 6 meses (753 a.C.) e foi


assassinado

• Salum ben Jabes governou 1 mês (753/2 a.C.): foi assassinado

• Manaém ben Gadi (753/2-742 a.C.) já teria começado a pagar


tributo à Assíria

• Pecaías, filho de Manaém, reinou de 742/1-740 a.C. e foi


assassinado

• Peca, filho de Remalias, governou de 740/39 a 731 a.C.

• Oséias, filho de Ela, assassinou Peca e foi o último rei do norte, de


731a 722 a.C.

100
HISTÓRIA DE ISRAEL

1. A ADVERTÊNCIA DO PROFETA OSÉIAS

O profeta Oséias lamenta o golpismo da época:

Os 7.5-7 – “No dia da festa do nosso rei, os príncipes se tornaram


doentes com o excitamento do vinho, e ele deu a mão aos
escarnecedores.

Porque prepararam o coração como um forno, enquanto estão de


espreita; toda a noite, dorme o seu furor, mas, pela manhã, arde
como labaredas de fogo.

Todos eles são quentes como um forno e consomem os seus juízes;


todos os seus reis caem; ninguém há, entre eles, que me invoque”.

B. A ASSÍRIA

A grande ameaça internacional era a Assíria. Em 745 a.C. subiu ao


trono assírio um hábil rei: Tiglate-Pileser III.

Ele começou por resolver os problemas com os babilônios no sul da


Mesopotâmia, dominando-os. Depois, tomou Urartu, ao norte. Pacificou
os medos no norte do Irã. Em seguida, pôde ocupar-se com o oeste:
começou pela Síria, contra a qual efetuou várias campanhas a partir de
743 a.C.

1. MANAÉM

Em 738 a.C. Tiglate-Pileser III já submetera grande parte da Síria e


da Fenícia. Israel começou a pagar-lhe tributo possivelmente já sob
o governo de Manaém. Foi um imposto per capita que atingiu cerca
de 60 mil proprietários de terras. Mas grupos patrióticos
assassinaram em Israel o rei submisso à Assíria. E o oficial que

101
HISTÓRIA DE ISRAEL

subiu ao poder imediatamente tornou-se chefe de uma coalizão anti-


assíria que congregava a Síria, os filisteus e outros.

2. PECA

Peca, este era seu nome, queria que Judá se aliasse a ele. Judá,
sabiamente não quis. Então, o rei de Damasco e o rei de Israel
invadiram Judá pelo norte e cercaram Jerusalém. Isto foi no ano de
734 a.C. e é a chamada guerra siro-efraimita. Em Judá reinava
Acaz.

3. OS EDOMINTAS

Os edomitas, que dependiam de Judá, aproveitaram a ocasião e


declararam sua independência. Derrotaram as tropas de Judá em
Elate e destruíram a cidade.

4. OS FILISTEUS

Os filisteus, também dominados por Judá, igualmente não perderam


tempo. Invadiram o Neguebe e a planície da Shefelah, conquistando
algumas cidades de Judá.

Deste modo, Judá foi invadido por três lados e não tinha como
resistir. A saída foi pedir o auxílio da Assíria. Isaías foi contra este
passo e avisou Acaz de que suas consequências seriam terríveis.

5. TIGLATE-PILESER III VENCE A FORÇAS ALIADAS

Tiglate-Pileser III destruiu rapidamente as forças aliadas. Começou


pela costa e avançou sobre os filisteus desbaratando-os

102
HISTÓRIA DE ISRAEL

completamente. Estabeleceu uma base no extremo sul, cortando


qualquer possível ajuda egípcia. Virou-se, em seguida, contra Israel
e saqueou toda a Galileia e a Transjordânia. Deportou uma parte do
povo e destruiu numerosas cidades.

Neste ínterim, Peca de Israel foi assassinado e seu sucessor,


Oséias (não se confunda o rei Oséias com o profeta homônimo),
submeteu-se imediatamente à Assíria e pagou-lhe tributo.

A destruição foi paralisada. Faltava só Damasco. Tiglate-Pileser III


conquistou-a, executou o rei e deportou a população, em 732 a.C.

Depois da tempestade, o que se viu foi o seguinte: a Síria não


existia mais, passara a província assíria. De Israel pouco restara:
toda a costa, a Galileia e o Gileade passaram para a Assíria.

Entretanto, ainda não era tudo. O rei Oséias só se submetera à


Assíria porque não tinha outra saída. Quando Tiglate-Pileser III foi
sucedido por Salmaneser V, Oséias pensou ser o momento bom
para a revolta. Começou a negar o tributo à Assíria e a ligar-se ao
Egito.

Foi um suicídio. O Egito estava todo dividido e muito fraco. Não veio
ajuda nenhuma. Salmaneser V atacou, prendeu o rei, ocupou o país
e cercou Samaria em 724 a.C.

6. SALMANESER

"Salmaneser, rei da Assíria, marchou contra Oséias e este


submeteu-se a ele, pagando-lhe tributo. Mas o rei da Assíria
descobriu que Oséias o traía: é que este havia mandado
mensageiros a Sô, rei do Egito, e não tinha pago o tributo ao rei da
Assíria, como o fazia todo ano. Então o rei da Assíria mandou
encarcerá-lo e prendê-lo com grilhões. Depois, o rei da Assíria

103
HISTÓRIA DE ISRAEL

invadiu toda a terra e pôs cerco a Samaria durante três anos. No


nono ano de Oséias, o rei da Assíria tomou Samaria e deportou
Israel para a Assíria, estabelecendo-o em Hala e às margens do
Habor, rio de Gozã, e nas cidades dos medos" (2Rs 17.3-6).

Samaria caiu em 722 a.C. e o filho de Salmaneser V, Sargão II foi


quem se encarregou da deportação e substituição da população
israelita por outros povos que foram ali instalados.

7. SARGÃO II

Segundo os anais de Sargão II, o número de deportados


samaritanos foi de 27.290 pessoas. Com a instalação, no território,
de outros povos e outros costumes chegou para Israel do norte o fim
definitivo.

104
HISTÓRIA DE ISRAEL

105
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 13

O REINO DE JUDÁ (1)

JUDÁ – O REINO DO SUL

A. O REINO DE JUDÁ

Em Judá, a dinastia davídica durou até o fim do reino. Não houve


tantas lutas e golpes de Estado, como no norte. Um ou outro
assassinato, coisas normais nas cortes.

B. OS REIS DE ISRAEL

REI DATA (a.C.) REF. Duração

1 Reoboão 931-914 1Rs 11.43 17 anos

2 Abias 914-912 1Rs 14.31 3 anos

3 Asa 912-871 1Rs 15.8 41 anos

4 Josafá 871/0-848 1Rs 15.24 23 anos

5 Jorão 848-841 2Cr 21.1 7 anos

6 Acazias 841 2Rs 8.25 1 ano

7 Atalias 841-835 2Rs 8.26 6 anos

106
HISTÓRIA DE ISRAEL

8 Joás 835-796 2Rs 11.2 40 anos

9 Amazias 796-767 2Rs 14.1 29 anos

Uzias ou
10 767-739 2Rs 14.21 28 anos
Azarias

11 Jotão 739-734 2Rs 15.5 5 anos

12 Acaz 734/3-716 2Rs 15.38 18 anos

13 Ezequias 716/15-699/8 2Rs 16.20 17 anos

14 Manasses 698-643/2 2Rs 21.1 55 anos

15 Amon 643/2-640 2Rs 21.19 2 anos

16 Josias 640-609 1Rs 13.2 31 anos

17 Joacaz 609 2Rs 23.30 3 meses

18 Joaquim 609-598 2Rs 23.34 11 anos

19 Jeoaquin 598/7 2Rs 24.6 3 meses

20 Zedequias 597-586 2 Rs 24.17 11 anos

C. A REFORMA DE EZEQUIAS E A INVAÇÃO DE SENAQUERIBE

1. DE REOBOÃO A JOTÃO

De Reoboão a Jotão (de 931 a 734 a.C.) temos pouco a assinalar.


Resumidamente:

a. Ataque e a destruição de boa parte do país promovida pelo faraó


Sheshonq (Siisaque) em 929 a.C., no tempo de Roboão.

b. Os conflitos constantes com o norte nos primeiros 50 anos de

107
HISTÓRIA DE ISRAEL

separação.

c. A tensão sempre presente entre a aristocracia de Jerusalém e a


massa da população rural. Também a tensão entre o javismo e
os cultos e costumes estrangeiros, especialmente o culto a Baal.

d. A derrota de Amasias por Joás, de Israel, e o saque de


Jerusalém pouco depois de 796 a.C. pelas tropas do norte.

2. A HISTÓRIA DE JUDÁ COM O REI ACAZ (734 A 716 A.C.)

Como vimos, a ameaça conjunta das forças israelitas do norte e


sírias em 734 a.C. levou o desprotegido Judá a invocar o auxílio da
Assíria. Judá teve a proteção assíria, mas perdeu sua
independência. Acaz acabou vassalo da Assíria, pagando-lhe tributo
e rendendo homenagem aos deuses assírios.

a. Is 7.1-17 e a Guerra Siro-Efraimita

Is 7.1-9 relata o encontro de Isaías com Acaz, às vésperas da


guerra siro-efraimita, em 734 ou 733 a.C. Os reis de Damasco e
de Samaria planejam invadir Judá para depor Acaz e no seu lugar
colocar um rei não-davídico - que envolveria o país na coalizão
anti-assíria.

Isaías vai ao encontro de Acaz que está cuidando das defesas de


Jerusalém. A mensagem de Isaías está registrada em Is 7.

Is 7.10-17 relata novo encontro de Isaías com Acaz, desta vez,


talvez, no palácio, no qual o profeta oferece ao rei um sinal de
que tudo se arranjará diante da ameaça siro-efraimita.

b. O sinal de Deus

Com a recusa do rei em pedir um sinal a Iahweh, Isaías muda de


tom e relata a Acaz que Iahweh, por própria iniciativa, dar-lhe-á

108
HISTÓRIA DE ISRAEL

um sinal.

Que consiste no seguinte: a jovem mulher ('almâh) dará à luz um


filho, seu nome será Emanuel (Deus-conosco) e ele comerá
coalhada e mel até que chegue ao uso da razão. Até lá Samaria e
Damasco serão destruídas.

Os LXX, na sua versão grega da Bíblia, traduziram 'almâh por


parthénos (= virgem). Mt usou a versão dos LXX (cf. Mt 1.23):
"Idoù he parténos (= a virgem) en gastrì hécsei (= conceberá) kai
técsetai hyón...". Entretanto, a palavra hebraica para designar
virgem é bethûlâh. A palavra 'almâh significa uma jovem mulher,
virgem ou não. Em muitos casos designa uma mulher jovem já
casada. Além do que esta jovem é uma pessoa concreta,
conhecida e, provavelmente, presente na ocasião, porque o texto
diz: "Eis aqui (hinnêh) a jovem...".Do que é razoável concluir que
a mulher aqui chamada de 'almâh é muito provavelmente a jovem
rainha, talvez designada assim antes do nascimento do primeiro
filho.

É bem provável que o menino seja Ezequias, filho de Acaz. Isaías


falou a Acaz nos primeiros meses de 733 a.C., e Ezequias teria
nascido no inverno de 733-32 a.C.

O nascimento do menino garante, desta maneira, a continuidade


da dinastia davídica, atualizando a promessa e resumindo a
aliança de Iahweh com o povo através de seu nome, Emanuel
('immânû 'el), que evoca fórmula frequente no AT, especialmente
no deuteronomista.

Por outro lado, o sinal não seria, segundo alguns, de salvação,


mas de castigo. Acaz é rejeitado porque não confia em Iahweh. O
alimento do menino, do mesmo modo, supõe um período de

109
HISTÓRIA DE ISRAEL

devastação e miséria em Judá, como consequência da política


filo-assíria de Acaz. É mais provável, entretanto, que seja um
alimento de tempos de abundância, como sugerem as passagens
de Êx 3.8.17 e 2Sm 17.29.

3. A REFORMA DO REI EZEQUIAS

A esperança reapareceu com seu filho Ezequias. Associado ao


trono desde criança, em 728/7 a.C., ao ser coroado em 716/15
a.C. este rei começou uma reforma no país para tentar debelar a
crise.

Um dos alvos da reforma teria sido a ruptura com práticas


cultuais não-javistas dos agricultores. Entre outras coisas, teria
abolido os lugares altos (bâmôt), quebrado as estelas (matsêbôt),
cortado o poste sagrado (‘asherâh). Até mesmo do Templo de
Jerusalém Ezequias teria retirado símbolos dos cultos da
fertilidade, como uma serpente de bronze. É o que nos conta 2Rs
18.4, embora aqui a OHDtr tente apresentar uma justificativa para
a presença desta serpente de bronze no Templo (“que Moisés
havia feito, pois os israelitas até então ofereciam-lhe incenso” –
cf. Nm 21.8-9).

a. Senaqueribe

Enquanto isso, na Assíria, Senaqueribe subiu ao trono em 705


a.C. e imediatamente teve que enfrentar nova revolta na
Babilônia. Todas as províncias do oeste então se levantaram.
Acreditavam ter chegado o momento da libertação. O Egito
prometeu ajuda, mais uma vez. A coalizão integrava Tiro, com
outras cidades fenícias; Ascalom e Ecrom, com algumas
cidades filistéias; Moabe, Edom e Amon; e Ezequias, de Judá,

110
HISTÓRIA DE ISRAEL

entrou como um dos líderes da revolta. Fortificou suas defesas


e preparou-se cuidadosamente para esperar a Assíria.
Senaqueribe não se fez de rogado e já em 701 a.C. ele
começou por Tiro, vencendo-a. Logo os reis de Biblos, Arvad,
Asdode, Moabe, Edom e Amon se entregaram e pagaram
tributo a Senaqueribe. Somente Ascalom e Ecrom, juntamente
com Judá, resistiram. Senaqueribe tomou primeiro Ascalom.
Os egípcios tentaram socorrer Ecrom e foram derrotados. E foi
a vez de Judá. Senaqueribe tomou 46 cidades fortificadas em
Judá e cercou Jerusalém.

b. Testemunhos arqueológicos

Testemunhos arqueológicos da devastação foram encontrados


em várias escavações por todo o território. Especialmente
significativos são a representação assíria da tomada de Laquis
encontrada no palácio de Senaqueribe em Nínive - hoje está
no British Museum - e a escavação, feita pelos britânicos na
década de 30 e por David Ussishkin, da Universidade de Tel
Aviv, na década de 70 do século XX, da poderosa fortaleza,
esta que era a segunda mais importante cidade do reino e
protegia a entrada de Judá.

c. Senaqueribe volta para a Assíria

Entretanto, por motivos ainda hoje desconhecidos, talvez uma


peste, Senaqueribe levantou o cerco de Jerusalém e retornou
à Assíria. A cidade voltou a respirar, no último minuto, mas
teve que pagar forte tributo aos assírios. Não se sabe porque
Jerusalém se salvou. 2Rs 19.35-37 diz que o Anjo de Iahweh
atacou o acampamento assírio.

111
HISTÓRIA DE ISRAEL

4. MANASSÉS

Manassés, filho e sucessor de Ezequias, para o Deuteronomista, é


o oposto do pai: governou 55 anos como o pior rei de Judá,
especialmente por ter restaurado os cultos não-javistas.

Manassés foi um dos piores governos de Judá. E um longo


governo: 55 anos. Estando fortíssimo o império assírio, sua
influência se espalhou. Deuses, cultos, costumes, domínio assírio.
Um grande sincretismo religioso ameaçava o javismo. Quem
protestava era duramente reprimido.

5. AMON E JOSIAS

Manassés foi sucedido pelo filho Amon que acabou assassinado


por elementos anti-assírios, provavelmente.

Josias, seu filho, com apenas oito anos, é declarado rei de Judá.
Durante seu reinado, Judá alcançou esperançosa independência.

112
HISTÓRIA DE ISRAEL

113
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 14

O REINO DE JUDÁ (2)

JUDÁ – O REINO DO SUL

A. A REFORMA DE JOSIAS

A Assíria estava nos seus estertores finais, enfrentando uma violência


proveniente de vários pontos do império. Povos dominados e oprimidos
pela extrema violência e crueldade assírias levantaram as cabeças.
Principalmente os babilônios e os medos, artífices da derrocada
definitiva da Assíria, entre 626 e 610 a.C.

Foi um momento bom para Judá. Sob a influência de um forte espírito


nacionalista, o rei Josias deu início a uma ampla reforma, descrita em
pormenores em 2Rs 22.3-23,25 como o obra mestra deste rei. Parece
que a reforma começou aí pelo ano de 629 a.C., décimo segundo do
reinado de Josias, que contaria então com 20 anos de idade.

1. A FRAQUEZA ASSÍRIA

Aproveitando a fraqueza assíria, Josias recuperou o controle sobre


as províncias do antigo reino de Israel, aumentando seus tributos e
melhorando suas defesas. Houve uma limpeza geral no país: cultos
e práticas estrangeiras, introduzidos em Judá sob a influência

114
HISTÓRIA DE ISRAEL

assíria, foram definitivamente eliminados. A magia e os vários


modos de adivinhação, banidos. Os santuários do antigo reino de
Israel, considerados idólatras, destruídos.

2. O LIVRO DA LEI

Do Templo de Jerusalém foi recuperado um código de leis, o núcleo


do atual livro do Deuteronômio, como se lê em 2Rs 22. Segundo
alguns, escrito no reino do norte e levado para Jerusalém em
seguida à destruição de Samaria em 722 a.C.; segundo outros,
escrito em Jerusalém mesmo, durante o governo de Ezequias, por
grupos fugidos do norte, o Deuteronômio original compreendia os
capítulos 12.1-26.15 - um código de leis, segundo alguns, uma
espécie de ritual de renovação da aliança - ornamentados por uma
introdução (os atuais capítulos 4.44-11.32) e uma conclusão, os
capítulos 26.16-28.68.

Ao ser promulgado por Josias em 622 a.C. como lei oficial do


Estado, o Deuteronômio deu vida à reforma, mostrando que a
certeza do povo de que Judá era indestrutível devido à promessa
davídica era uma loucura. Era preciso reviver as antigas tradições
mosaicas, pois só elas valiam a pena.

3. OS EFEITOS DA REFORMA DE JOSIAS

A reforma de Josias surtiu efeito? Sim e não. Positiva no geral, teve,


contudo, pontos negativos. Na mesma direção de elemento
legitimador da reforma vai a afirmação sobre a celebração da
Páscoa em 2Rs 23.21-22.

Não encontrou uma independência prolongada para poder se


desenvolver; foi feita de cima para baixo, imposta pelo governo, sem

115
HISTÓRIA DE ISRAEL

base popular mais ampla; suas medidas ficaram no exterior apenas


sem levar o povo a uma reconstrução real do javismo; a
centralização do culto não deu bons resultados, esvaziando a vida e
a religiosidade do povo...

Ainda sobre as incertezas que cercam a reforma de Josias, não se


pode esquecer o profeta Jeremias, que vivia em Jerusalém na
época de Josias e que, segundo aparece em seu livro, embora
opinasse sobre os acontecimentos políticos e as práticas religiosas
de maneira veemente, aparentemente não deixou uma palavra
sequer sobre a reforma de Josias, por mais que os comentaristas se
esforcem em encontrar a sua avaliação sobre o que teria sido o fato
mais importante de sua época.

Por outro lado, os sinais da expansão territorial de Judá sob Josias


são visíveis, a população aumentou, fortalezas, como Laquis, foram
restauradas. Talvez Josias tenha conseguido um território
semelhante ao de Manassés, embora com outras características.

B. OS ÚLTIMOS DIAS DE JUDÁ

Como assírios e egípcios nada conseguiram contra os babilônios, o


faraó Neco II procurou consolidar seu poder na Palestina. Chama
Joacaz até seu quartel-general na Síria, depõe o rei e deporta-o para o
Egito. Coloca no trono de Judá o irmão de Joacaz, Joaquim, que tinha
25 anos de idade. Joacaz reinara três meses. Judá passou então a
pagar pesado tributo ao Egito, o que durou até 605 a.C., quando o rei
babilônio Nabucodonosor derrotou as forças egípcias e desceu até a
Palestina. Joaquim fez com ele um acordo e Judá não foi destruído.

1. A MORTE DE JOAQUIM

116
HISTÓRIA DE ISRAEL

Mas não durou nada. Em 600 a.C. Nabucodonosor tentou invadir o


Egito e não conseguiu. Judá rebelou-se, acreditando na libertação.
Seu erro foi fatal. Enquanto os babilônios marchavam para
Jerusalém, morreu Joaquim (provavelmente assassinado), em
dezembro de 598 a.C. e foi substituído por seu filho Joaquin, de 18
anos, que capitulou no dia 16 de março de 587 a.C. O rei foi
deportado para a Babilônia com a corte e toda a classe dirigente.

2. ZEDEQUIAS

No lugar de Joaquim os babilônios deixaram o tio, Zedequias, então


com 21 anos de idade. Judá estava mesmo arruinado. Com várias
cidades destruídas, sua economia desorganizada e o melhor da
nação exilado, pouco restava ao fraco Zedequias que pudesse ser
feito. Algumas tentativas de revolta foram abafadas. Finalmente, em
588 a.C., Judá começou uma clara rebelião contra a Babilônia, que
o levou à destruição final. Os babilônios destruíram, em 588 mesmo,
as cidades fortificadas de Judá, assediando a desesperada
Jerusalém em 587 a.C., no mês de janeiro. Na fortaleza de Laquis
foram encontrados, em 1935 e 1938, vinte e um óstraca.
Testemunhos dramáticos da invasão babilônica de 588 a.C., os
óstraca [pedaços de cerâmica sobre os quais se escrevia uma
mensagem] falam do cerco, da situação crítica em que se
encontram e das medidas tomadas.

3. O FIM DE ZEDEQUIAS – O FIM DE JUDÁ

Durante um breve período, o cerco de Jerusalém foi levantado:


havia a esperança egípcia. Que não se concretizou. Finalmente, em
19 de julho de 586 a.C., Jerusalém cedeu. Zedequias fugiu na

117
HISTÓRIA DE ISRAEL

direção de Amon. Não adiantou. Foi preso e levado diante de


Nabucodonosor a Ribla, na Síria, assistiu à execução de seus filhos,
foi cegado, acorrentado e levado para a Babilônia, onde morreu.

4. O TEMPLO É DESTRUÍDO

Em agosto, o comandante da guarda de Nabucodonosor entrou em


Jerusalém, incendiou tudo, derrubou o Templo, as muralhas, levou
as pessoas de maior destaque que executou em Ribla, diante de
Nabucodonosor, enquanto deportava outro grupo para a Babilônia.
Calcula-se que cerca de 4.600 homens da classe dirigente judaica
tenham ido para o exílio. Somadas as mulheres e as crianças, seu
número poderia chegar a quase vinte mil pessoas. A população
restante, camponesa, foi deixada no país.

5. O REGISTRO DE JEREMIAS

Estes dados estão em Jr 52.27-30, que documenta três


deportações:

a. A de 597 a.C., sob Joaquim;

b. A de 586 a.C., sob Zedequias; e uma última,

c. De 582 a.C., talvez em represália ao assassinato de Gedalias.


Porque, de fato, na Judéia, os babilônios colocaram Gedalias
como governador. Gedalias acabou assassinado pelo
nacionalista Ismael, em outubro do mesmo ano. Acabara-se
Judá. A história do povo, e sua literatura, vão continuar no exílio,
que durou mais de 70 anos.

6. OS DEPORTADOS DE JUDÁ

118
HISTÓRIA DE ISRAEL

Uma observação sobre esta deportação numericamente modesta:


enquanto os assírios deportavam grandes contingentes da
população, os babilônios deportavam apenas a classe dirigente.
Tanto assírios quanto babilônios obtinham, com esta estratégia,
mão-de-obra especializada e quebravam a resistência política dos
vencidos. Mas, enquanto os assírios buscavam uma uniformidade
“assíria” nas províncias, com rigoroso controle político-militar, os
babilônios deixavam as terras conquistadas nas mãos das
populações locais - sem chance de se rebelar porque politicamente
desorganizadas - ao mesmo tempo em que permitiam às elites
deportadas a manutenção de sua identidade. Pode ser que isto
explique o destino bem diferente dos israelitas, que nunca mais
voltaram, em relação aos judaítas, que irão reconstruir o seu país
quando terminar o exílio.

119
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 15

PERÍODO INTERBÍBLICO (1)

A ÉPOCA PERSA E AS CONQUISTAS DE ALEXANDRE

A. O PERÍODO PERSA

Neemias fora muito benquisto na corte, à qual noventa mil, dos judeus
deveram (mais cedo) a sua volta do exílio; e, em geral, o
remanescente, a despeito do tributo e outros elementos dolorosos da
sua sujeição, ficou leal ao grande rei. Nesse período foram
reconstruídos o templo e a cidade de Jerusalém com seus muros.
Entretanto, cerca de 350 a.C., muitos judeus, por tomarem parte de
uma revolta, foram deportados para Babilônia e outros lugares por
Artaxerxes Ocus. Ao último século do domínio pérsico pertencem o
rompimento final entre os judeus e os samaritanos, a substituição lenta
entre os judeus do hebraico pelo dialeto aramaico tão difundido, e o
início da nova conquista da Galileia pela religião de Jeová.

1. O FIM DO IMPÉRIO PERSA

Em 334 a.C., Alexandre, rei da Macedônia, entra com seus exércitos


na Ásia Menor, depois de controlar toda a Grécia. Aos 23 anos de
idade, o macedônio derrota o principal exército persa em Isso.

120
HISTÓRIA DE ISRAEL

Estamos no ano de 333 a.C. e o controle macedônio de todo o


Oriente, até o vale do rio Indo, vai acontecer sem interrupções
significativas. É o fim do Império Persa e o começo de uma nova
era, a do helenismo.

B. O PERÍODO HELÊNICO (GREGO)

A rota das conquistas de Alexandre passa pela Síria, Fenícia,


Palestina, Egito. E, de volta, em direção à Babilônia, Susa, Persépolis e
além. Na Fenícia e na Palestina somente as cidades de Tiro e Gaza
oferecem a Alexandre alguma resistência: Tiro resiste heroicamente a
7 meses de cerco e Gaza, fiel aos persas, cai após 2 meses.

Durante estas campanhas, toda a Palestina, pertencente à V satrapia


persa, é anexada ao novo império, sem maiores problemas. Inclusive a
comunidade judaica que vive em Jerusalém e arredores.

1. ALEXANDRE MAGNO

A cronologia das conquistas de Alexandre não é suficiente para se


entender o macedônio e suas atitudes. É preciso perguntarmos
agora: quem é Alexandre? Por que Alexandre invade a Ásia? Quais
são os seus propósitos?

Segundo os historiadores antigos, Alexandre é um jovem brilhante.


Costuma-se explicar, às vezes, a personalidade de Alexandre
através da dupla influência do pai Filipe - espírito moderado,
apolínio, regrado pela disciplina militar e pela educação grega - e da
mãe Olímpia, totalmente imoderada, dionisíaca, dada a exaltação e
a "furores divinos".

Alexandre tem vários preceptores, pedagogos e professores, entre

121
HISTÓRIA DE ISRAEL

eles o filósofo Aristóteles, na época ainda sem a fama que mais


tarde o caracteriza. No castelo de Mieza, próxima a Pela, Aristóteles
orienta Alexandre durante 4 anos.

A educação ministrada a Alexandre por Aristóteles é a típica de um


jovem grego. Homero é a leitura básica. Alexandre leva nas suas
campanhas uma edição da Ilíada anotada por Aristóteles.

Além de Homero, Eurípedes, Píndaro, Heródoto, Xenofonte,


Tucídides, entre outros, são as suas leituras. Estuda, com
Aristóteles, moral, dialética, metafísica, retórica, medicina, geografia.

Apesar dos conselhos de Aristóteles - que Alexandre não seguirá - é


preciso lembrar que o macedônio é excelente soldado e estrategista
brilhante. Vários episódios de luta e coragem são contados a seu
respeito. Enfrentando exércitos persas muito superiores aos seus,
vence-os com lances de genialidade e ousadia, às vezes contra os
conselhos de seus melhores generais que recomendam maior
prudência.

2. RAZÕES DE ALEXANDRE PARA DOMINAR O IMPÉRIO PERSA

As opiniões dos historiadores são variadas a respeito.

a. Alguns acreditam que é para vingar as afrontas de Xerxes contra


os gregos em 480 a.C., quando este rei persa avançara através
da Trácia, da Macedônia, da Tessália e da Ática, chegando a
tomar Atenas. Somente no ano seguinte, em 479 a.C., os gregos
conseguem repelir Xerxes em Platéias e em Mícales, após
derrotarem sua frota em Salamina, em setembro de 480 a.C.

b. Outros acreditam que o objetivo inicial de Alexandre seja o de


libertar as cidades gregas da Ásia Menor, dando assim
continuidade ao projeto de seu pai Filipe II que já enviara para lá

122
HISTÓRIA DE ISRAEL

um exército de 10 mil homens comandado por Parmênion e que


está prestes a ser empurrado de volta para o mar.

c. É bem provável que a conquista de todo o Império Persa não


faça parte de seus planos originais. Mas as circunstâncias levam-
no a isto.

3. ALEXANDRE CONQUISTA O IMPÉRIO PERSA

Foi fácil vencer o enorme exército de Dario em Isso, mas se não


fossem anuladas as suas possibilidades navais ao longo da Fenícia
e da Palestina - daí a razão do duro cerco de Tiro e a tomada de
Gaza - a Grécia e a Ásia Menor continuariam ameaçadas.

Se a perseguição a Dario não continuasse após a volta do Egito,


mais tarde Alexandre teria que se medir com ele para sustentar as
suas conquistas asiáticas. Parece que a própria lógica da conquista
é que leva avante sua expedição.

A possibilidade de fusão das culturas grega e persa deve ter surgido


provavelmente como consequência e necessidade, após as
conquistas das regiões mais diretamente persas. É certo que não
faz parte do plano original do macedônio. Alexandre necessita de
uma burocracia persa para administrar os territórios conquistados e
precisa de exércitos nativos para sustentar as conquistas.

4. A ANEXAÇÃO DA JUDÉIA POR ALEXANDRE

Durante as campanhas de Alexandre contra Tiro e Gaza, em 332


a.C., a Palestina é anexada ao novo império.

Sobre a atitude de Jerusalém para com Alexandre, a principal fonte


que possuímos é um texto de Flávio Josefo.

123
HISTÓRIA DE ISRAEL

Alexandre jamais esteve em Jerusalém ou na Judéia, que fica fora


de sua rota em direção ao Egito. O que ele pode ter feito foi enviar
até lá um de seus oficiais para obter a submissão da comunidade
judaica aos novos senhores da região.

Já em Samaria a situação é diferente. Anexada sem maiores


problemas, acontece, em seguida, uma revolta, quando o prefeito de
Alexandre na Síria, Andrômaco, é queimado vivo pelos samaritanos.
A punição determinada por Alexandre, ao voltar do Egito, é terrível.
Samaria é destruída e no lugar se estabelece uma colônia
macedônia.

5. A MORTE DE ALEXANDRE

Alexandre morre, em 323 a.C., sem deixar herdeiros. Roxana, sua


mulher, está grávida. E há um meio-irmão, com problemas mentais -
parece que por causa de drogas ministradas à criança por Olímpia -,
chamado Filipe Arrideu, 4 anos mais novo que Alexandre, filho
bastardo de Filipe II com Filêmora, uma bailarina tessália.

Os generais de Alexandre, conhecidos como Diádocos (sucessores)


decidem inicialmente manter unido o Império, esperando pelo
herdeiro, enquanto o administram. Na verdade, os diádocos seguem
uma política personalista e se enfrentam em várias guerras, cada
qual querendo herdar o Império para si.

124
HISTÓRIA DE ISRAEL

125
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 16

PERÍODO INTERBÍBLICO (2)

A DIVISÃO DO IMPÉRIO DE ALEXANDRE

A. OS GENERAIS LUTAM PELA HERANÇA DE ALEXANDRE

Quando morre Alexandre em Babilônia, o exército macedônio designa


como seus herdeiros seu meio-irmão Filipe Arrideu (com o nome de
Filipe III) e o filho que vai nascer de Roxana, caso seja homem. De
fato, um menino nascerá em outubro de 323 a.C. e seu nome será
Alexandre IV.

1. POR QUE DOIS HERDEIROS?

Porque Pérdicas e o conselho real, apoiados pela cavalaria,


entendem que o herdeiro deve ser o filho de Roxana. Isto lhes
convém, já que a perspectiva de uma longa regência durante a
menoridade do herdeiro é extremamente sedutora para os
companheiros de Alexandre. Mas Roxana não é macedônia e o
herdeiro seria meio-persa, o que desagrada à falange que toma
posição contra a orientalização do poder. Por isso a infantaria
escolhe Filipe Arrideu para herdeiro, que, entretanto, é incapaz de
assumir o governo por causa de sua deficiência mental. Daí que o

126
HISTÓRIA DE ISRAEL

único modo de evitar o conflito dentro do exército ser, assim, a


designação de dois herdeiros que partilhariam o poder.

2. A ADMINISTRAÇÃO DO IMPÉRIO

Para administrar o Império, enquanto isso, Pérdicas fica com a


função máxima. Ele é nomeado quiliarca e detém a autoridade geral
sobre o exército, o Império e os outros generais. Cratero é o regente
do Império, controlando as finanças (pelo menos da Ásia), enquanto
Antípater, o velho regente que governa a Macedônia desde a partida
de Alexandre, é o estratego, encarregado dos negócios da Europa,
responsável, portanto, pela Macedônia e pela Grécia. Pérdicas,
Cratero e Antípater são os tutores dos reis, constituindo uma
espécie de triunvirato que administra a herança de Alexandre a
partir da Babilônia, virtual capital do Império.

Tudo parece em ordem, mas as coisas não são o que parecem. "As
relações pessoais entre os protagonistas são extremamente
complexas. No momento da morte de Alexandre, Antípater estava
em franco desentendimento com o rei por causa de sua política
orientalizante e Cratero" - que seguira para a Macedônia no
comando de veteranos que voltavam para casa - "deveria substituí-
lo. A morte do rei muda tudo, pois Pérdicas - que não confia na
lealdade de Cratero à sua pessoa - precisa do apoio de Antípater, a
quem propõe imediatamente uma aliança matrimonial. Percebe-se
porque Cratero não tem pressa, nem de voltar a Babilônia para
assumir suas novas funções, nem de chegar à Macedônia.

Já o governo das satrapias é assim distribuído:

a. Ptolomeu, filho de Lagos, administra o Egito, que inclui a


Cirenaica (= Líbia) e a Arábia;

127
HISTÓRIA DE ISRAEL

b. Laomedonte de Anfípolis governa a Síria;

c. Eumênio de Cárdia, a Anatólia do centro e do norte (Capadócia e


Paflagônia);

d. Antígono Monoftalmo, a Anatólia do sul (Grande Frígia, Lícia,


Panfília);

e. Lisímaco, a Trácia;

f. Antípater, a Macedônia.

g. As satrapias mais orientais ficam nas mãos de sátrapas locais,


não-macedônios. As decisões devem ser tomadas em conjunto e
aplicadas às respectivas satrapias.

O que, entretanto, vai acontecer é uma série de conflitos entre os


diádocos na sua luta pelo poder. Um só exemplo ilustra bem as
manobras políticas desse momento.

3. 22 ANOS DE CONFLITO ENTRE O DIÁTOCOS

Em 321 a.C. Ptolomeu leva o corpo de Alexandre para Mênfis. Seu


sucessor o colocará em Alexandria. Esta é uma manobra política e
militar:

a. Política, porque o corpo ou deveria ir para a Macedônia para a


necrópole da família, ou para o oásis líbio de Siwah, já que
Alexandre se via como filho de Amon;

b. Militar, porque permite a Ptolomeu desfilar com seu exército no


território da Celessíria, diante da população admirada com a
beleza do cortejo fúnebre. A Celessíria é cobiçada por Ptolomeu,
que lutará, em seguida, por ela.

Tentando impedir os projetos de Ptolomeu, Pérdicas morre ao


pretender invadir o Egito. Parte de seu exército passa para o outro

128
HISTÓRIA DE ISRAEL

lado e os oficiais sobreviventes executam Pérdicas,


responsabilizado pelo enorme desastre que foi a tentativa de
invasão. Seu cargo é oferecido a Ptolomeu, que o recusa, pois ele
quer é separar o Egito e não manter a unidade do Império de
Alexandre. Enquanto isso, Cratero é morto em batalha contra
Eumênio de Cárdia, que agora controla quase toda a Anatólia.

Antípater assume as funções de Pérdicas na tutela dos reis, que


voltam assim para a Macedônia. Selêuco, antes comandante da
cavalaria, recebe a satrapia da Babilônia. Antígono Monoftalmo,
além de manter sua satrapia, recebe o título de "estratego da Ásia" e
a função de destruir Eumênio de Cárdia, que é condenado à morte
pelos outros diádocos. Ptolomeu permanece com o Egito.

Assim, as mortes de Pérdicas e de Cratero conduzem ao


desaparecimento dos dois últimos companheiros de Alexandre que
poderiam manter o Império unido. Unidade que repousava sobre sua
pessoa, daí sua impossibilidade após a sua morte. O que se vê
agora não é um Estado único, mas um agregado artificial de pelo
menos três Estados: Macedônia, Egito e "Ásia". Não há mais
dúvidas: Triparadisos, dois anos apenas após a morte de Alexandre,
já sepulta seu projeto.

4. A REDIVISÃO DO IMPÉRIO

Após Ipsos acontece nova redivisão de territórios:

a. Lisímaco fica com a Ásia Menor,

b. Cassandro com a Macedônia,

c. Selêuco com a Síria, e

d. Ptolomeu com o Egito e a Celessíria.

129
HISTÓRIA DE ISRAEL

Selêuco quer a Celessíria para si, mas Ptolomeu não a entrega.


Selêuco funda, em 300 a.C., Antioquia para ser a capital de seu
reino.

5. A SITUAÇÃO DA PALESTINA DE 323 A 301 A.C.

Qual é a situação da Palestina neste período de 22 anos de conflito


entre os herdeiros de Alexandre?

É claro que há uma enorme dificuldade de se seguir uma política


coerente, pois os senhores da região mudam constantemente.

Entre 323 e 301 a.C. a Palestina é cruzada cerca de oito vezes por
exércitos em luta. Daí as desgraças que atingem a região:
pilhagens, requisições, deportações, desmantelamento de defesas e
bens imóveis para prejudicar o inimigo, sustento das guarnições etc.

Ptolomeu I, por exemplo, na sua luta pela posse da Celessíria, toma


Jerusalém em 312 a.C., deportando alguns milhares de judeus para
o Egito. A maioria é destinada ao trabalho escravo das minas e da
agricultura.

Aliás, somadas às migrações e aos mercenários, tais situações


acabam aumentando espetacularmente o número de judeus no
Egito, fazendo da diáspora alexandrina a maior comunidade judaica
fora de Israel.

Entretanto, é muito difícil calcular a população judaica da diáspora.


Os dados são escassos e problemáticos. Em Alexandria, porém,
dois dos cinco bairros da cidade são ocupados prioritariamente por
judeus. A cidade possui, na época romana, cerca de 1 milhão de
habitantes e a comunidade judaica alcança o significativo número de
200 a 400 mil pessoas.

130
HISTÓRIA DE ISRAEL

Apesar das atribulações, as guerras trazem também alguns


benefícios para a região. A presença do exército macedônio, seja
sob o comando de Pérdicas, Antípater, Eumênio ou Antígono,
produz uma movimentação política e econômica incomum na
Palestina. A região da Síria, na verdade, acaba ficando bem no
centro das disputas entre os diádocos.

Junto com o exército vem o comércio, pois milhares de civis


acompanham as tropas: mercadores, traficantes de despojos,
escravos, mulheres, crianças... Os veteranos se fixam nas colônias
militares, núcleos de futuras cidades.

A guerra coloca em circulação, além disso, enormes quantias de


dinheiro. As grandes construções navais - pois esquadras são
montadas e destruídas - fazem prosperar as cidades da costa.

B. PTOLOMEUS VERSUS SELÊUCIDAS

O domínio dos Ptolomeus sobre a Celessíria dura 103 anos. Durante


todo este tempo Ptolomeus e Selêucidas lutam pela Síria. Os
Ptolomeus, porque não podem se sentir seguros no Egito se suas
fronteiras não estiverem protegidas pela Celessíria. E também por
razões comerciais: a posse dos portos da Celessíria lhes garante o
controle do Mediterrâneo Oriental e a ligação com a terra-mãe, a
Macedônia. Os Selêucidas lutam pela região porque precisam cortar as
bases dos Ptolomeus instaladas na costa da Ásia Menor. Deste conflito
decorrem as chamadas "guerras sírias".

1. OS JUDEUS EM ALEXANDRIA

O governo dos Ptolomeus se faz a partir de Alexandria. Como é


Alexandria? Qual é a sua relação com o Egito? Como vivem aí os

131
HISTÓRIA DE ISRAEL

judeus?

Alexandria está localizada a oeste do delta do Nilo, no istmo entre o


Mar Mediterrâneo e o lago Mareótis, perto do braço canópico do
Nilo.

Os monumentos que se destacam em Alexandria são o ginásio, o


tribunal, o túmulo de Alexandre, o palácio, a biblioteca, o museu e o
teatro.

• A biblioteca de Alexandria, a maior e mais célebre das


bibliotecas da antiguidade, é fundada por Ptolomeu I e
notavelmente aumentada por Ptolomeu II. Localizada no bairro
real, próxima ao Museu, é complementada por outra localizada
no Serapeum (o templo de Serápis). A biblioteca teria chegado
a possuir cerca de 700 mil volumes, segundo autores antigos,
como Aulo Gélio, gramático latino do século II d.C. que vive
em Atenas. Em 47 a.C., por acidente, cerca de 40 mil volumes
são destruídos pelo fogo. E em 642 d.C. a biblioteca teria sido
queimada por ordem do califa Omar, conquistador árabe da
região.

• O Museu, anexo ou próximo à biblioteca, é uma academia


literária fundada por Ptolomeu II. O Museu é sustentado pelo
Estado e ali os sábios convivem, discutem e produzem a
ciência da época. Um poeta e filósofo satírico grego do século
III a.C., que vive na corte de Ptolomeu II Filadelfo, de nome
Timão, chama o Museu de "gaiola das Musas", onde "são
criados uns garatujadores livrescos que se bicam
eternamente"[15].

Alexandria é praticamente a única cidade do Egito, pois as outras


duas que têm o estatuto de pólis, Náucratis e Ptolemaida, não

132
HISTÓRIA DE ISRAEL

podem rivalizar com ela.

Entretanto, Alexandria é uma cidade totalmente isolada do Egito.


Do ponto de vista comercial exporta vários produtos do campo
egípcio, mas praticamente o Egito nada consome do que é
produzido em Alexandria.

a. A situação dos judeus em Alexandria

Os judeus ocupam dois dos cinco bairros de Alexandria.


Exercem, em todo o Egito - pois não estão apenas em
Alexandria - várias profissões: são soldados, agricultores,
artesãos, funcionários. Mais raramente comerciantes. E nisto
diferem da imagem clássica que temos do judeu, que é uma
imagem medieval.

Os judeus têm em Alexandria um etnarca, certamente


escolhido pela comunidade e referendado pelo rei. O etnarca
exerce funções administrativas e judiciárias. Não se sabe bem
o alcance dessas funções judiciárias: as sentenças são
executadas pela comunidade judaica ou por instâncias reais?
O etnarca tem competência jurídica sobre todos os casos ou
somente sobre aqueles em que a lei judaica difere do direito
grego?

b. A “politéia” (cidadania)

O políteuma é um recurso que permite às comunidades


preservarem sua cultura e seus direitos. É uma espécie de
cidade dentro da cidade, como a própria etimologia do nome
indica (do grego pólis = "cidade" + sufixo que indica o
resultado da ação). E por isso os judeus não têm o título de
cidadãos de Alexandria. A cidadania alexandrina exigiria do
judeus um modo de vida que violaria as regras específicas da

133
HISTÓRIA DE ISRAEL

Lei judaica, especialmente no que se refere às práticas


alimentares.

É A. Paul quem explica: "Segundo a tradição grega antiga, a


primeira condição para alguém adquirir a 'cidadania' ou a
politeía era a educação recebida no ginásio com a formação
específica no ephebeîon. Em Alexandria provavelmente era
este o meio habitual para se obter legalmente o título de
cidadão, título que a administração real confirmava quase
automaticamente. À diferença da época romana, com seus
rigorosos critérios de raça, o período dos Ptolomeus foi um
pouco laxo neste ponto. Para os judeus, todavia, a politeía, ou
'cidadania' grega total (isopoliteía) significava inegavelmente a
apostasia".

2. A ADMINISTRAÇÃO PTOLOMAICA DA PALESTINA

Este sistema administrativo ptolomaico é também implantado na


Palestina, durante os 103 anos de domínio de Alexandria sobre a
região. Mas, com algumas modificações, pois a estrutura social da
região é diferente da egípcia e a complexidade política é maior.

Os Ptolomeus implantam um sistema de arrendamento, a famílias


ricas da terra, do direito de cobrar os impostos locais, repassados,
por elas, aos senhores estrangeiros. O centro administrativo parece
ser Acco, que tem seu nome mudado para Ptolemaida.

Politicamente a região da Celessíria é composta das seguintes


etnias:

o cidades fenícias ao longo da costa, de Ortozia a Gaza

o o distrito do Templo de Jerusalém, com seu povo judeu

134
HISTÓRIA DE ISRAEL

o os povos samaritano e idumeu

o grupos descendentes de cananeus e sírios

o várias cidades no interior, incluindo as colônias militares


macedônias

o as tribos dos nabateus e dos árabes, no sul e na Transjordânia.

O modo de vida grego se implanta mais rapidamente nas cidades


fenícias, mas também as póleis mais significativas do interior, tanto
na Judéia quanto na Iduméia, na Samaria como na Galileia, são
inexoravelmente helenizadas.

Não há cidades livres, no sentido da Grécia clássica, dentro do reino


ptolomaico. Mas há cidades que se aproximam do modelo da pólis
grega, com seus magistrados e seu território. Assim são as mais
importantes cidades fenícias e palestinas, como Tiro, Sidom, Acco-
Ptolemaida, Gaza, Ascalom, Jope e Dor. Ou Marisa, na Iduméia[37].

Os judeus que habitam na Galileia, na Iduméia e na Transjordânia


não têm qualquer estatuto especial, mas o distrito de Judá é
considerado como "Estado do Templo", território sagrado, onde
valem as leis tradicionais do povo judeu e onde o sumo sacerdote é
o chefe principal.

Acredita-se, entretanto, que já teria havido, no tempo dos


Ptolomeus, um oficial especial que se encarrega, ao lado do sumo
sacerdote, da administração das finanças.

Outra instituição que se desenvolve provavelmente durante o


domínio ptolomaico é a gerousia (= senado), uma assembleia
aristocrática composta pelos chefes das famílias mais influentes,
pelos sacerdotes e pelos escribas do Templo. Será o conhecido
Sinédrio da época de Jesus. Uma de suas funções é a de limitar o
poder do sumo sacerdote.

135
HISTÓRIA DE ISRAEL

De modo geral, convém observar que o desenvolvimento econômico


da região da Celessíria faz parte de uma estratégia política bem
definida por parte dos Ptolomeus. É a maneira mais eficaz de
impedir o avanço de seus rivais Selêucidas sobre a região. E tal
política se implanta principalmente através da aliança grega com os
aristocratas locais, dos quais já falei a propósito da crise agrária da
época de Neemias.

Um dado interessante para se conhecer a administração ptolomaica


da Palestina é a história de José, o Tobíada e de seu filho
Hircano, transmitida por Flávio Josefo.

3. A CRONOLOGIA DOS PTOLOMEUS

1 Ptolomeu I Soter 323-285

2 Ptolomeu II Filadelfo 285-247

3 Ptolomeu III Evergetes 247-221

4 Ptolomeu IV Filopator 221-205

5 Ptolomeu V Epífanes 205-181

6 Ptolomeu VI Filometor 181-145

7 Ptolomeu VII Néos Filopator 145-144

8 Ptolomeu VIII Evergetes (Físcon) 144-116

9 Ptolomeu IX Soter (Latiro) 116-107

10 Cleópatra III 107-101

11 Ptolomeu X Alexandre 101-88

12 Ptolomeu IX Soter (Latiro) 88-80

136
HISTÓRIA DE ISRAEL

13 Ptolomeu XI Alexandre II 80

14 Ptolomeu XII Aulete 80-58; 55-51

15 Cleópatra VII Filopator 51-30

137
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 17

PERÍODO INTERBÍBLICO (3)

A HELENIZAÇÃO DA PALESTINA

A. OS SELÊUCIDAS

Em 198 a.C. o Selêucida Antíoco III, o Grande (223-187 a.C.) vence os


egípcios em Panion (Baniyas), junto às nascentes do Jordão, e expulsa
definitivamente os Ptolomeus da Ásia. A anexação da Celessíria se dá
a seguir.

Pressionados por Roma, com quem entram em conflito, os Selêucidas


assistem aos progressivo declínio de seu Império. Para solidificar o
fragmentado Império, os reis Selêucidas, e especialmente Antíoco IV
Epífanes (175-164 a.C.), implantam um acelerado processo de
helenização dos vários povos e cidades da região.

B. O GOVERNO DE ANTÍOCO III, O GRANDE

Quando Antíoco III, o Grande, vence os exércitos dos Ptolomeus, os


judeus de Jerusalém o apoiam nesta luta, segundo Flávio Josefo. O
partido selêucida em Jerusalém está mais forte do que o ptolomaico.
Por isso, Jerusalém é contemplada com um decreto de Antíoco III, em
197 a.C.

138
HISTÓRIA DE ISRAEL

Entretanto, a expansão selêucida sob Antíoco III, o Grande, será


impedida por Roma na medida em que seus interesses entram em
choque com a forte república na Europa.

1. ANTÍOCO É DERROTADO POR ROMA

Aníbal, após ser derrotado por Roma, refugia-se na corte selêucida


e instiga Antíoco III a lutar contra Roma. Após muitas negociações
frustradas, Roma enfrenta e vence Antíoco III na batalha de
Magnésia, no começo de 189 a.C. O exército romano é comandado
por Lucius Cornelius Cipião - depois cognominado "o Asiático" -,
ajudado por seu irmão Cipião, o Africano. Antíoco, que tem 72 mil
soldados, perde 50 mil homens de infantaria, 3 mil cavaleiros, 15
elefantes e Cipião faz 1400 prisioneiros. Os romanos perdem
apenas 400 homens.

Em 188 a.C. a paz entre Roma e os Selêucidas é estabelecida em


Apaméia da Frígia, quando são impostas humilhantes condições a
Antíoco III.

2. O DECLÍNIO DOS SELÊUCIDAS

Assim começa o declínio do império selêucida. Daqui para frente,


Antíoco III e seus sucessores debater-se-ão em crescentes lutas
internas pelo poder, assistindo à fragmentação progressiva dos seus
domínios e lutando com grandes dificuldades financeiras. Só a
Roma Antíoco deve pagar 15.000 talentos eubóicos. O talento
eubóico, do nome da ilha de Eubéia, pesa cerca de 26 kg. Logo,
Antíoco deve pagar a Roma o equivalente a 390.000 kg de prata.

O que ocorrerá é que, em relação a cidades como Jerusalém, por


exemplo, os sucessores de Antíoco III não terão condições de

139
HISTÓRIA DE ISRAEL

manter a prometida isenção tributária, premidos que estarão por


Roma. O próprio Antíoco III é morto em 187 a.C., pela população
revoltada, quando saqueia um templo elamita, para conseguir
dinheiro com que pagar aos romanos.

C. ANTÍOCO IV

Em 175 a.C. Selêuco IV é assassinado. Assume o poder o seu irmão


Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.), que voltava de Roma, onde era
refém desde 188 a.C., quando seu pai Antíoco III perdera a batalha de
Magnésia e assinara o tratado de Apaméia.

A instabilidade do reino selêucida aumenta e Antíoco IV toma medidas


helenizantes como forma de consolidar o seu poder. Concede o status
de pólis a várias cidades, promove a adoração de Zeus e reivindica
para si prerrogativas divinas.

A fundação de cidades é um instrumento fundamental para a


helenização do Oriente com o consequente fortalecimento do poder
macedônio.

1. REI ANTÍOCO THEOS EPÍFANES

Antíoco IV que, de 175 a 169 a.C., aparece nas moedas cunhadas


em Antioquia apenas com a inscrição "Rei Antíoco", a partir desta
época começa a ter sobre sua cabeça uma estrela, símbolo da
divindade. E a partir de sua vitória sobre o Egito, a inscrição das
moedas selêucidas é "Rei Antíoco Theos Epífanes".

2. AS DIFICULDADES FINANCEIRAS

As dificuldades econômicas enfrentadas por Antíoco IV Epífanes,

140
HISTÓRIA DE ISRAEL

geradas pela pressão romana, a quem deve pagar mil talentos por
ano, leva-o a sobrecarregar seus súditos e o instiga ao saque de
templos para a obtenção de fundos.

3. A HELENIZAÇÃO DE JERUSALÉM

Enquanto isto, em Jerusalém, o processo de helenização avançara


bastante desde o século anterior, especialmente entre a aristocracia
sacerdotal e leiga. Forma-se um forte partido pró-helênico, que
pretende incrementar o avanço civilizatório grego e, por isso, está
em luta com os judeus tradicionais e fiéis à Lei.

Estes helenizantes defendem urgente revogação do decreto de


Antíoco III, que os impede de se integrarem totalmente no modo de
vida grego.

A ocasião favorável aos partidários da helenização surge quando


Onias III, o conservador sumo sacerdote, está em Antioquia
cuidando dos interesses de seu povo e Antíoco IV assume o poder.

Um irmão de Onias III, Jasão (Joshua), oferece ao rei alta soma em


dinheiro e um rápido programa de helenização dos judeus em troca
do cargo de sumo sacerdote.

Antíoco IV Epífanes aceita a oferta de Jasão, pois precisa de


dinheiro, tem urgência em helenizar a região para garantir sua
fronteira sul e, ao que parece, suspeita de tendências pró-
ptolomaicas em Onias III.

Assim, em 174 a.C. é instalado um ginásio em Jerusalém, aos pés


da acrópole, contíguo à esplanada do Templo.

Um ginásio grego não é mera praça de esportes. É uma instituição


cultural das mais importantes, usada no processo de helenização de

141
HISTÓRIA DE ISRAEL

várias cidades orientais.

Além dos esportes gregos, praticados nus - o que causa embaraço


aos jovens judeus circuncidados -, o ginásio implica a presença de
divindades protetoras, como Héracles (= Hércules) e Hermes e
ensina a maneira grega de se viver e de se ver o mundo. Falar o
grego corretamente, vestir-se à moda grega, conhecer e discutir a
cultura grega, são algumas das atividades praticadas no ginásio.

A situação, entrementes, se complica, quando um sacerdote não-


sadoquita, chamado Menelau, apoiado pela poderosa família dos
Tobíadas, faz uma oferta maior a Antíoco IV e obtém o sumo
sacerdócio. Menelau, irmão de Simão - aquele Simão que entrara
em conflito com Onias III por causa da agoranomia - oferece a
Antíoco 300 talentos de prata (cerca de 7.800 kg) suplementares na
época de pagar o tributo.

Como protestasse contra a venda de vasos sagrados do Templo


(vendidos por Menelau para conseguir o dinheiro prometido a
Antíoco IV), Onias III é assassinado a mando de Menelau. A
população de Jerusalém, revoltada com as ações de Menelau, vê
três membros da assembleia serem executados por Antíoco IV,
quando oficialmente denunciam as arbitrariedades cometidas pelo
sumo sacerdote.

4. O TEMPLO É SAQUEADO

Em 169 a.C., na volta de sua primeira campanha egípcia, campanha


vitoriosa, Antíoco IV saqueia o Templo de Jerusalém, com a
aprovação de Menelau. 1 Macabeus 1.21-23 narra este saque do
Templo, do qual se desconhece a causa. Talvez seja a sempre
crescente necessidade de dinheiro.

142
HISTÓRIA DE ISRAEL

5. ANTÍOCO IV É IMPEDIDO PELOS ROMANOS DE ANEXAR O


EGITO

Já em 168 a.C., em sua segunda campanha contra o Egito, Antíoco


IV é impedido de entrar em Alexandria, e de assim anexar o país,
pelo legado romano Popilius Laenas. Roma defende, deste modo,
o fraco Egito e vigia de perto os Selêucidas.

Políbio comenta o episódio do encontro de Antíoco IV e Popilius


Laenas, interessante para se avaliar o poder de Roma neste
momento histórico:

• "Quando ele viu o general romano Popilius, o rei [Antíoco IV],


de longe o saudou e estendeu-lhe a mão. Mas o outro, que
tinha uma tabuinha onde estava transcrito o senatus-consulto,
lha estendeu e pediu que a lesse imediatamente (...) O rei a
leu e declarou desejar deliberar com seus amigos acerca
desta novidade. Ao ouvir isto, Popilius fez um gesto
aparentemente intolerável e de uma arrogância inusitada. Ele
tinha na mão uma vara de videira. Traçou com esta vara um
círculo ao redor de Antíoco e convidou-o a lhe dar, antes de
sair, a resposta ao documento. O rei, aturdido com esta
insolência, pensou um instante, e em seguida declarou que
faria tudo o que os romanos pediam. Então Popilius e seus
acompanhantes apertaram sua mão e o cumprimentaram com
amizade. O senatus-consulto ordenava-lhe parar
imediatamente a guerra contra Ptolomeu".

6. CONVULSÃO NA PALESTINA

Na Palestina corre o falso boato de que Antíoco morrera no Egito e

143
HISTÓRIA DE ISRAEL

Jasão ataca Jerusalém. Menelau refugia-se na acrópole. Jasão


promove sangrento massacre na cidade, mas foge com a chegada
de Antíoco IV, que restabelece Menelau no poder.

Consta que, no final do verão de 168 a.C., o rei Selêucida,


pensando estar havendo uma revolta, pune Jerusalém, executando
muitos judeus e vendendo a outros como escravos. Antíoco IV deixa
na cidade o frígio Filipe com uma guarnição, mas este não consegue
controlá-la (2Mc 5.5-14).

No começo de 167 a.C. Antíoco IV envia a Jerusalém Apolônio, o


misarca (comandante das tropas mísias), com forte contingente.
Ataque, assassinatos em massa, escravidão. Muralhas demolidas e
construção de poderosa fortaleza em Jerusalém, conhecida, em
grego, como Acra (= cidadela), sede de uma guarnição e verdadeira
pólis, no coração de Jerusalém, encostada no Templo. Durante
cerca de 25 anos a Acra será o braço armado selêucida em
Jerusalém, espinho atravessado na garganta dos judeus fiéis.

7. OS DIREITOS CIVIS SÃO CASSADOS

É nesta época que começa verdadeira caçada aos Oníadas e a


seus partidários. Como é de praxe em tais circunstâncias, suas
propriedades são confiscadas e transferidas para os Tobíadas ou
para as colônias militares reais.

Desencadeia-se feroz perseguição a todos os inimigos de Menelau.


Os habitantes do distrito judaico transformam-se em cidadãos sem
direitos. Os fiéis seguidores da Lei, os assideus (= piedosos) são
obrigados a fugir para os desertos e montanhas. Jerusalém é, enfim,
uma cidade contaminada: os gentios controlam a sua população.

144
HISTÓRIA DE ISRAEL

8. O JUDAÍSMO É PROIBIDO

Acredita-se que tenha sido para vencer a, por enquanto pacífica,


resistência judaica ao programa de helenização é que Antíoco IV
decide proibir a prática do judaísmo, no verão de 167 a.C.

Por outro lado, é preciso considerar que esta intervenção direta e


brutal contra os costumes e os deuses de outros povos não é uma
praxe grega. É quase certo que o partido helenista de Jerusalém
tenha pedido a intervenção real e tenha apontado as medidas
necessárias para aniquilar os judeus tradicionais.

Como norma geral, duas medidas são tomadas (1Mc 1.41-53):

a. A abolição da Torá, com seus mandamentos e suas


proibições: ficam proibidas as práticas do sábado, das festas, da
circuncisão, da distinção de alimentos puros e impuros. Todos os
manuscritos da Lei devem ser destruídos. Qualquer violação
destas normas tem a morte por punição

b. Uma reforma do culto em toda a Judéia: a abolição dos


sacrifícios e da sacralidade do santuário e dos sacerdotes, a
ereção de altares em todo o país e o sacrifício de porcos e outros
animais impuros a deuses estrangeiros.

Para completar, em dezembro de 167 a.C., é introduzido o culto de


Zeus Olímpico no Templo de Jerusalém, com respectiva imagem e
sacrifício.

Os judeus são também obrigados a participar da festa de Dionísio e


do sacrifício mensal em honra do aniversário do rei (2Mc 6,7).

Enfim, uma verdadeira cruzada contra a Lei. Por detrás disso tudo
podemos ver as tristes figuras de Menelau e dos Tobíadas.

145
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 18

PERÍODO INTERBÍBLICO (4)

OS MACABEUS – A RESISITÊNCIA

A. OS MACABEUS

Com a proibição das tradicionais práticas judaicas em 167 a.C.


desencadeia-se feroz perseguição àqueles que não se submetem às
ordens do rei selêucida Antíoco IV Epífanes. A posse de livros da Lei, a
prática da circuncisão ou qualquer observância de um ritual judaico
leva a pessoa à morte.

Recusando-se a prestar culto aos deuses gregos, um sacerdote de


Modin, que se retirara de Jerusalém desgostoso com o rumo das
coisas, chamado Matatias, começa um movimento de rebelião armada
contra os gregos e seus associados da aristocracia judaica.

Com seus cinco filhos e grande grupo de camponeses fiéis às tradições


judaicas ele faz uma guerra constante aos helenizantes, que culminará,
nesta primeira fase, com seu filho Judas Macabeu, na libertação de
Jerusalém e na purificação do Templo apenas três anos após a
proibição dos sacrifícios javistas.

Jônatas, irmão de Judas Macabeu, será o primeiro sumo sacerdote da


família, ocupando um cargo que, embora esteja vago, não lhe

146
HISTÓRIA DE ISRAEL

pertence. Isto começa a criar divisões internas, pois os judeus mais


tradicionais não podem admitir esta atitude.

Aproveitando-se do aprofundamento da divisão interna do império


selêucida e de seu enfraquecimento político e econômico, os irmãos
Macabeus vão pouco a pouco consolidando as suas conquistas na
Judéia.

Neste capítulo abordarei exatamente a luta de Matatias, de Judas


Macabeu e de Jônatas pela independência da Judéia.

B. MATATIAS E O COMEÇO DA REVOLTA

Como vimos, é em 167 a.C. que as práticas tradicionais do judaísmo


são proibidas pelo decreto de Antíoco IV Epífanes e o culto de Zeus
Olímpico é introduzido no Templo de Jerusalém.

É então que muitos judeus fiéis à Lei morrem, mas não abdicam da
aliança javista herdada de seus pais. Falando da perseguição
desencadeada pelo decreto real e da resistência dos judeus fiéis,
assim descreve 1 Macabeus 1.56-64 os fatos:

"Quanto aos livros da Lei, os que lhes caíam nas mãos eram rasgados
e lançados ao fogo. Onde quer que se encontrasse, em casa de
alguém, um livro da Aliança ou se alguém se conformasse à Lei, o
decreto real o condenava à morte. Na sua prepotência assim
procediam, contra Israel, com todos aqueles que fossem descobertos,
mês por mês, nas cidades. No dia vinte e cinco de cada mês
ofereciam-se sacrifícios no altar levantado por sobre o altar dos
holocaustos. Quanto às mulheres que haviam feito circuncidar seus
filhos, eles, cumprindo o decreto, as executavam com os mesmo
filhinhos pendurados a seus pescoços, e ainda com seus familiares e
com aqueles que haviam operado a circuncisão. Apesar de tudo,

147
HISTÓRIA DE ISRAEL

muitos em Israel ficaram firmes e se mostraram irredutíveis em não


comerem nada de impuro. Eles aceitaram antes morrer que
contaminar-se com os alimentos e profanar a Aliança sagrada, como
de fato morreram. Foi sobremaneira grande a ira que se abateu sobre
Israel".

O dia 25 de cada mês é a data do aniversário do rei e da inauguração


do altar a Zeus Olímpico: o dia 25 de Casleu, que equivale, em nosso
calendário, ao dia 15 de dezembro. A comemoração do aniversário do
rei é uma prática persa retomada pelos macedônios no Oriente.

Segundo 2 Macabeus 6.7, os judeus devem participar também da festa


de Dionísio:

"Eram arrastados com amarga violência ao banquete sacrifical que se


realizava cada mês, no dia do aniversário do rei. E ao chegarem as
festas dionisíacas, obrigavam-nos a acompanharem, coroados de hera,
o cortejo em honra de Dionísio".

1. O SACERDOTE MATATIA

Entre os judeus que permanecem fiéis à Lei, encontra-se um


sacerdote chamado Matatias, da linhagem de Joiaribe, neto de
Simeão, bisneto de um certo Asmoneu.

Matatias se recusa a oficiar no Templo profanado pelo culto


estrangeiro e se retira com a sua família para a sua propriedade
situada em Modin, povoado localizado a cerca de 12 km a leste de
Lida.

Matatias tem cinco filhos, como nos relata 1Macabeus 2.2-5:

"Tinha cinco filhos: João, com o cognome de Gadi, Simão, chamado


Tasi, Judas, chamado Macabeu, Eleazar, chamado Abaron, e

148
HISTÓRIA DE ISRAEL

Jônatas, chamado Afus".

Quando os emissários reais chegam a Modin e convocam a


população para o sacrifício sacrílego, pedindo a Matatias que
oficiasse por ser um chefe ilustre na localidade, ele não só se
recusa, mas ainda mata outro sacerdote que se oferecera no seu
lugar e mata também o emissário real.

2. MATATIAS INICIA A REVOLTA DOS MACABEUS

Convoca, em seguida, os judeus fiéis e foge com seus filhos para as


montanhas (1Mc 2.27-28). Começa assim a luta desta célebre
família contra os Selêucidas e seus aliados helenistas de Jerusalém
e povoados vizinhos.

Mas a família de Matatias não está sozinha nesta luta. E 1Mc 2.42
acrescenta que os assideus, homens valorosos e apegados à Lei
se unem a Matatias e a seus filhos.

Matatias e os seus percorrem o território destruindo altares


sacrílegos, circuncidando à força os meninos incircuncisos e
recuperando a Lei das mãos dos gentios.

As proibições de Antíoco IV Epífanes tocam em práticas bastante


arraigadas no judaísmo pós-exílio. Vamos comentar algumas delas.

a. A prática do sábado parece ser muito antiga. A etimologia da


palavra é incerta. Pode derivar do acádico shabattu ou shapattu,
que significa "duas vezes sete" e indica o dia da lua cheia para os
babilônios. Para os judeus é um dia de descanso e dedicação do
tempo a Iahweh. A ênfase sobre a observância do sábado cresce
a partir do exílio e se torna lei, porque ela passa a ser uma marca
característica do judeu fiel.

149
HISTÓRIA DE ISRAEL

b. A circuncisão, que consiste na remoção do prepúcio, operação


feita pelo pai da criança, deve ser cumprida no oitavo dia pós o
nascimento, segundo Lv 12.3. Para a cerimônia usam os
israelitas, naqueles tempos, facas de pedra lascadas, o que
atesta a sua origem arcaica.

c. As três principais festas (hag = peregrinação) israelitas, agora


proibidas por Antíoco IV, são: a Páscoa/Ázimos; a festa das
Semanas ou Pentecostes e a festa dos Tabernáculos ou das
Tendas.

d. Além destas três grandes festas, é preciso lembrar que há outras


celebrações no Israel da época grega, que são igualmente
proibidas por Antíoco IV Epífanes. Como o Yom Kippur, ou Dia
da Expiação pelo santuário, clero e povo, celebrada no dia 10 de
Tishri; ou a festa dos Purim, celebrada nos dias 14 e 15 de Adar
(fevereiro/março), recordando a vitória dos judeus da Pérsia
contra aqueles que querem exterminá-los, segundo o livro de
Ester.

e. Há ainda um culto diário, típico do pós-exílio, celebrado de


manhã e à tarde, segundo Êx 29.,38-42 e Nm 28.2-8.

C. A LUTA DE JUDAS MACABEU (166 – 160 A.C.)

Matatias morre logo, no começo de 166 a.C., mas seu filho Judas,
assumindo o comando da luta, desenvolve uma guerra de guerrilhas
cada vez mais ampla e vence um a um os generais selêucidas
enviados para detê-lo.

1. A ESTRATÉGIA DE JUDAS MACABEU

150
HISTÓRIA DE ISRAEL

É o segundo livro de Macabeus (2Mc 8.1,5-7) que nos conta a


estratégia de Judas:

"Entretanto Judas, também chamado Macabeu, e os seus


companheiros, iam introduzindo-se às ocultas nas aldeias.
Chamando a si os coirmãos de raça e recrutando os que haviam
perseverado firmes no judaísmo, chegaram a reunir cerca de seis
mil pessoas (...) Transformada a sua gente em grupo organizado, o
Macabeu começou a tornar-se irresistível para os gentios, tendo-se
mudado em misericórdia a cólera do Senhor. Chegando de
improviso às cidades e aldeias, ateava-lhes fogo; e, apoderando-se
dos pontos estratégicos, punha em fuga a não poucos de entre os
inimigos. Para tais incursões, escolhia de preferência a noite como
colaboradora. De resto, a fama de sua valentia propagava-se por
toda parte".

2. JUDAS MACABEU VENCE AS TROPAS SELÊUCIDAS

As primeiras tropas selêucidas mandadas contra Judas são


comandadas por Apolônio, governador da Samaria, provavelmente o
misarca que saqueara Jerusalém no começo de 167 a.C. Este
pequeno exército, composto de gregos e de samaritanos é
facilmente vencido por Judas (1Mc 3.10-12).

Forças maiores vêm com o general Seron, comandante do exército


da Síria, mas são igualmente vencidas em Bet-Horon (1Mc 3.13-26).
Em seguida, são vencidas as forças dos generais Nicanor e
Górgias, até que Lísias, o encarregado da pacificação judaica pelo
rei Antíoco IV, vem pessoalmente combater Judas. Contudo, nem
mesmo Lísias consegue vencê-lo e uma trégua é estabelecida entre
as duas forças (1Mc 3.38-4,35).

151
HISTÓRIA DE ISRAEL

3. JUDAS RECUPERA JERUSALÉM

É então que, livre de represálias selêucidas, Judas e os seus tomam


Jerusalém, purificam e dedicam novamente o Templo. É dezembro
de 164 a.C., exatamente três anos após a profanação do santuário.
Para comemorar o fato é instituída a festa da Hanukka, isto é,
"Dedicação", celebrada no dia 25 de Casleu (15 de dezembro).

1Macabeus 4.52-54,59 descreve assim este fato:

"No dia vinte e cinco do nono mês - chamado Casleu - do ano centro
e quarenta e oito, eles se levantaram de manhã cedo e ofereceram
um sacrifício, segundo as prescrições da Lei, sobre o novo altar dos
holocaustos que haviam construído. Exatamente no mês e no dia
em que os gentios o tinham profanado, foi o altar novamente
consagrado com cânticos e ao som de cítaras, harpas e címbalos
(...) E Judas, com seus irmãos e toda a assembléia de Israel,
estabeleceu que os dias da dedicação do altar seriam celebrados a
seu tempo, cada ano, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco
do mês de Casleu, com júbilo e alegria".

Judas dedica-se à proteção dos judeus que se veem acuados pelos


gentios em várias localidades. Sucedem-se assim as campanhas
contra os idumeus e os amonitas, a expedição em Gileade, na
Galileia e na Judéia (1Mc 5.1-68).

4. A MORTE DE ANTÍOCO IV

Entretanto, morre Antíoco IV Epífanes, provavelmente na mesma


época em que o Templo é retomado e purificado, no final de 164
a.C. Segundo uma tabuinha conservada no British Museum,
Londres, o rei morre em outubro de 164 a.C., ou seja, no nono mês

152
HISTÓRIA DE ISRAEL

do ano 148 da era selêucida.

Segundo 1Mc 6.12-13, entre outras coisas, diz Antíoco aos seus
amigos antes de morrer:

"Agora, porém, assalta-me a lembrança dos males que cometi em


Jerusalém quando me apoderei de todos os objetos de prata e de
ouro que lá se encontravam e mandei exterminar os habitantes de
Judá sem motivo. Reconheço agora que é por causa disso que
estes males se abateram sobre mim. Vede com quanta amargura eu
morro em terra estrangeira".

5. A LUTA DE JUDAS CONTINUA CONTRA ANTÍOCO V

Morre Antíoco IV, mas a luta de Judas Macabeu continua contra


Antíoco V (164-162 a.C.), seu filho, e o regente Lísias e, em
seguida, contra Demétrio I (161-150 a.C.).

Quando parte em campanha para as províncias mais orientais de


seu Império, Antíoco IV deixa Lísias encarregado dos negócios do
reino em Antioquia. Mas, pouco antes de morrer, ele confia a seu
conselheiro Filipe o encargo de governar o reino em nome de seu
filho menor de idade Antíoco V. É a ele que Antíoco IV entrega "o
diadema, o manto e o anel do sinete, encarregando-o de tutelar
Antíoco, seu filho e de prepará-lo para o trono" (1Mc 6.15).

Judas aproveita-se destas circunstâncias e assedia a Acra em


Jerusalém. Lísias e Antíoco V, que tem apenas 12 anos de idade,
vêm então combater Judas. Atacam Betsur e Judas, deixando o
cerco da Acra, enfrenta o exército selêucida em Bet-Zacarias. Judas
acaba cercado no monte Sião.

153
HISTÓRIA DE ISRAEL

6. ANTÍOCO V ESTABELECE A PAZ COM OS JUDEUS

Só que com a chegada de Filipe a Antioquia, Lísias tem que voltar


às pressas para enfrentá-lo e decide fazer a paz com os judeus.

A carta de Antíoco V a respeito está conservada em 2Mc 11.22-26


nos seguintes termos:

"O rei Antíoco a seu irmão Lísias, saudações. Tendo-se trasladado


nosso pai para junto dos deuses, querendo nós que os súditos de
nosso reino estejam livres de qualquer incômodo a fim de poderem
dedicar-se ao cuidado dos próprios interesses, ouvimos dizer que os
judeus não consentem na adoção dos costumes gregos, querida por
nosso pai. Mas antes, preferindo o seu modo de vida particular,
desejam que se lhes permita a observância das suas leis.
Querendo, pois, que também este povo possa viver sem temor,
decidimos que o Templo lhes seja restituído e que eles possam
governar-se segundo os costumes de seus antepassados. Por isso,
bem farás enviando-lhes embaixadores que lhes deem as mãos, a
fim de que, sabedores de nossa intenção fiquem de ânimo sereno e
se entreguem prazerosamente às próprias ocupações".

Filipe não consegue o controle do reino e foge para o Egito, E os


judeus obtêm, por decreto real, a liberdade religiosa novamente. O
que Antíoco V faz é revogar o decreto de seu pai que proibia as
práticas judaicas.

O helenizante sumo sacerdote Menelau é convocado a Antioquia e,


por ordem de Lísias, é executado (2Mc 13,3-8). No seu lugar é
nomeado o sumo sacerdote Alcimo.

7. ANTÍOCO V É MORTO POR SEU PRIMO DEMÉTRIO

Porém, um filho de Selêuco IV, Demétrio, de vinte e cinco anos de

154
HISTÓRIA DE ISRAEL

idade, que vive como refém em Roma, consegue fugir, chega à


Síria, mata seu primo Antíoco V e Lísias e assume o poder.
Demétrio I governará de 161 a 150 a.C .

E então assistimos a uma primeira dissidência entre os


revolucionários judeus. Alcimo "confirmado em sua dignidade [por
Demétrio], voltara a Jerusalém acompanhado de Báquides, um dos
amigos do rei, e fizera propostas de paz, que os assideus se viram
pressionados a aceitar, enquanto Judas e seus partidários preferiam
continuar na oposição" .

Segundo 1Mc 7.8-9, Alcimo é um "ímpio", ou seja um helenizante:

"O rei escolheu a Báquides, um dos seus amigos, governador das


regiões de Além-do-Rio, homem poderoso no reino e fiel ao
soberano, e o enviou com o ímpio Alcimo, a quem assegurou o
sumo sacerdócio, dando-lhe ordens de exercer a vingança contra os
filhos de Israel".

Os Macabeus continuam a sua luta e só em 160 a.C., após seis


anos de guerra, é que os Selêucidas vencem Judas, morto em
Beerzet, 20 km ao norte de Jerusalém, em combate contra Báquides
(1Mc 9.1-18).

D. JÔNATAS – O PRIMEIRO SACERDOTE MACABEU (160-143 A.C.)

Com a morte de Judas, o comando da luta passa para Jônatas, seu


irmão. E entre 160 e 143 a.C. as vitórias dos Macabeus multiplicar-se-
ão.

Após a morte de Judas, Báquides reforça as posições selêucidas no


território judeu. A situação fica difícil, ainda mais que uma fome terrível
alastra-se na Judéia. Diz 1Mc 9.23-26:

155
HISTÓRIA DE ISRAEL

"Depois da morte de Judas, reapareceram sobre todo o território de


Israel os iníquos, e reergueram-se todos os que praticavam a injustiça.
Por aqueles dias também alastrou-se uma fome terrível, de modo que o
país se passou para o lado deles. Báquides, por seu turno, escolheu
dentre os homens ímpios aqueles a quem constituiu senhores do país.
Estes instauravam perquirições e devassas contra os amigos de Judas,
fazendo-os comparecer diante de Báquides, o qual deles se vingava e
os cobria de irrisão".

1. RESSURGE A TENDÊNCIA HELENIZANTE

É então que, face à fome e à restauração da tendência helenizante,


Jônatas assume a liderança dos judeus para enfrentar a situação.

Jônatas é perseguido por Báquides e se refugia no deserto, na


região de Tecoa. Os wadis (riachos secos) que descem para o Mar
Morto são ótimos refúgios para os revolucionários Macabeus, como
já o tinham sido para os partidários de Davi (1Sm 24) e,
futuramente, o serão também para os partidários de Bar-Kosibah por
ocasião da revolta judaica de 132-135 d.C.

2. JOÃO, IRMÃO DE JÔNATAS, É MORTO

O irmão de Jônatas, João, cai numa emboscada em Mádaba e é


morto por nabateus, os filhos de Iambri. Jônatas vinga-se do
massacre de seu irmão. Neste meio tempo morre o sumo sacerdote
Alcimo, em 159 a.C.

3. JÔNATAS PASSOU A GOVERNAR O POVO

Jônatas enfrenta e vence Báquides em Bet-Basi e em seguida

156
HISTÓRIA DE ISRAEL

estabelece a paz com este governador selêucida, que se retira para


a Síria. Diz 1Mc 9.73: "Cessou, assim, a espada, de afligir Israel. E
Jônatas estabeleceu-se em Macmas, onde começou a governar o
povo. Ele fez desaparecer os ímpios do meio de Israel".

1Mc 9.73 diz literalmente que Jônatas começa a "julgar o povo"


(krínein tón laón): para o autor do livro, Jônatas é assimilado aos
antigos juízes de Israel que "julgavam" o povo.

O que Jônatas faz daqui para frente é se aproveitar das lutas


internas dos Selêucidas nas suas disputas dinásticas e consolidar
um espaço cada vez mais amplo de liberdade judaica. Com efeito,
aparece um novo pretendente ao trono selêucida, Alexandre Balas,
que se diz filho de Antíoco IV e tem o apoio dos romanos.

4. JÔNATAS É NOMEADO SUMO SACERDOTE

Para consolidar a sua posição na região, Alexandre Balas precisa


ganhar o apoio dos judeus. Por isso nomeia Jônatas sumo
sacerdote em 152 a.C. Jônatas oficia pela primeira vez na festa dos
Tabernáculos, em outubro de 152 a.C. Além disso, ele recebe o
título honorífico de "amigo do rei".

Para superar as ofertas de Alexandre Balas, Demétrio I oferece aos


judeus uma isenção de tributos, além de vários outros benefícios. É
o que narra 1Mc 10.25-45.

5. DEMÉTRIO II

Mas as complicações continuam, pois Demétrio II, o filho mais velho


de Demétrio I, desembarca na Cilícia, vindo de Creta, em 147 a.C. e
toma a Síria. Ptolomeu VI, do Egito apoia o novo rei, combate e

157
HISTÓRIA DE ISRAEL

vence Alexandre Balas - na verdade ambos morrem - enquanto


Demétrio II torna-se o rei selêucida. Durante estas lutas, Jônatas se
apossa de Azoto e de Jope.

Demétrio II baixa novo decreto em favor dos judeus (1Mc 11.30-37),


que retoma em parte o de seu pai Demétrio I (recusado por
Jônatas). Neste decreto Jônatas é chamado de "irmão" por Demétrio
II, o que sugere que ele tenha se tornado "parente do rei", título
superior ao de "primeiro amigo" concedido antes por Alexandre
Balas.

Entretanto, "o decreto de Demétrio II é menos vantajoso (para os


judeus) que o de seu pai: não se fala mais da cessão da Cidadela,
nem de ofertas para a reconstrução de Jerusalém ou para prover ao
culto". Além disso, não há a isenção dos três distritos de Aferema,
Lida e Ramataim, como queria Jônatas (1Mc 11.28), e os 300
talentos pagos anualmente pelo sumo sacerdote como tributo
continuavam a ser cobrados.

6. ANTÍOCO VI

Contudo, uma vez mais, complica-se a situação entre os Selêucidas:


um certo Trifão proclama rei a Antíoco VI, filho de Alexandre Balas,
e Demétrio II foge (1Mc 11.54-56).

Antíoco VI confirma Jônatas no cargo de sumo sacerdote, nomeia-o


governador da Celessíria, "amigo do rei", e a seu irmão Simão dá o
cargo de estragego do litoral de Tiro até o Egito (1Mc 11.57-60).

7. JÔNATAS MORRE

Jônatas ainda continua a sua luta. Ocupa algumas cidades, vence

158
HISTÓRIA DE ISRAEL

os generais de Demétrio II, mas cai vítima de Trifão, que o mata.

8. A CONSOLIDAÇÃO DO PODER DOS MACABEUS

Assim, pouco a pouco, em meio a muitas intrigas, vai se


consolidando o poder dos Macabeus e o espaço dos judeus. É
interessante observar que as três conquistas mais importantes dos
irmãos Macabeus acontecem, curiosamente, em intervalos de dez
anos:

a. Judas conquista a liberdade religiosa em 162 a.C.

b. Jônatas torna-se sumo sacerdote em 152 a.C.

c. Simão consegue a isenção de impostos em 142 a.C.[30].

9. O INÍCIO DA COMUNIDADE DOS ESSÊNIOS

Por outro lado, não sendo os Macabeus de família sadoquita, a


ocupação do sumo sacerdócio é considerada uma usurpação pelos
judeus mais tradicionais. É assim que, por esta época, um sacerdote
do Templo de Jerusalém, conhecido apenas como Mestre da
Justiça, retira-se da cidade, fundando a comunidade dos essênios,
que mais tarde veremos estabelecida em Qumran.

10. OS ONÍADAS

É também nesta ocasião - cerca de 150 a.C. - que Onias IV, filho de
Onias III, que fora morto em Dafne por ordem de Menelau, funda em
Leontópolis, no Egito, no delta do Nilo, perto de Mênfis, um Templo
semelhante ao de Jerusalém. Com a ascensão dos Macabeus, os
Oníadas, família da qual provinham os sumos sacerdotes, ficam
excluídos.

159
HISTÓRIA DE ISRAEL

Ptolomeu VI Filometor (181-145 a.C.) e sua esposa Cleópatra II


concedem a Onias IV uma cleruquia, tornando-se este Oníada
general e sumo sacerdote.

Onias IV interfere nas lutas ptolomaicas pela sucessão, defendendo


a rainha Cleópatra contra seus rivais. Também seus filhos Ananias e
Helquias são generais que lutam mais tarde no exército ptolomaico.

E. A DINASTIA DOS SELÊUCIDAS

1 Selêuco I Nicator 312-280 a.C.

2 Antíoco I Soter 280-261

3 Antíoco II Théos 261-246

4 Selêuco II Calínicos 246-226

5 Selêuco III Ceráunos 226-222

6 Antíoco III, o Grande 222-187

7 Selêuco IV Filopator 187-175

8 Antíoco IV Epífanes 175-164

9 Antíoco V Eupator 164-162

10 Demétrio I Soter 162-150

11 Alexandre Balas 150-145

12 Demétrio II Nicator 145-139

13 Antíoco VI Théos 145-142

14 Trifão 142-139

15 Antíoco VII Sidetes 139-128

16 Demétrio II Nicator 128-122

160
HISTÓRIA DE ISRAEL

17 Selêuco V 125

18 Antíoco VIII Filometor 125-113

19 Antíoco IX Filopator 113-95

20 Antíoco VIII Filometor 111-96

21 Antíoco X contra 5 filhos de Antíoco VIII 95-93

22 Antíoco XIII 69-65 a.C.

161
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 19

PERÍODO INTERBÍBLICO (5)

OS MACABEUS – A INDEPENDÊNCIA

A. A LUTA DOS MACABEUS CONTINUA

Após a morte de Jônatas, a luta dos Macabeus continua com seu irmão
Simão a partir de 143 a.C. Simão, ao dominar a Acra, a poderosa
fortaleza selêucida de Jerusalém, consegue, finalmente, a
independência da Judéia.

1. JOÃO HIRCANO I

Assassinado, Simão é sucedido por seu filho João Hircano I, que


continua o processo de judaização da Palestina. Mas, por adotar
medidas militares políticas helenizantes, João Hircano I começa a
enfrentar a oposição dos fariseus, grupo que vai se tornando cada
vez mais popular.

2. ARISTÓBULO I

Aristóbulo I, filho e sucessor de João Hircano, apesar de ter


governado apenas um ano, continua o processo de reaproximação

162
HISTÓRIA DE ISRAEL

com o helenismo. E a luta pelo poder no seio da família dos


Macabeus é forte: Aristóbulo encarcera sua mãe e seus irmãos.

3. ALEXANDRE JANEU

Seu irmão Alexandre Janeu casa-se com a rainha viúva, Salomé


Alexandra, proclama-se rei, e continua o processo de anexação de
territórios na Palestina, levando suas fronteiras a um ponto que o
país nunca mais tivera desde que fora destruído por Nabucodonosor
em 586 a.C.

Entretanto, Janeu vai enfrentar pesada guerra civil no seu confronto


com os fariseus. Agindo com crueldade extrema, ele controla a
situação após 6 anos de sangrentos conflitos.

Sua mulher Salomé Alexandra assume o poder depois dele e faz a


paz com os fariseus, governando com grande habilidade.

4. HIRCANO II E ARISTÓBULO II

Mas seus dois filhos, Hircano II e Aristóbulo II, após a morte da


rainha, entram em violenta disputa pelo poder, que só acaba com a
chegada definitiva dos romanos na região. O general Pompeu anexa
a Judéia à República Romana em 63 a.C.

B. A INDEPENDÊNCIA DA JUDÉIA

Simão sucede a seu irmão Jônatas em 143 a.C. e, enfrentando Trifão,


agora rei, repele um seu ataque na Judéia. Demétrio II ainda comanda
a Cilícia e a Mesopotâmia e Simão faz aliança com ele. Consegue
muitos benefícios para o povo judeu, como consta do decreto de
Demétrio II citado em 1Mc 1336-42.

163
HISTÓRIA DE ISRAEL

1. SIMÃO AVANÇA EM SUAS CONQUISTAS

Simão toma Gazara, estratégica cidade helenística. Gazara (=


Gezer) é judaizada à força e João Hircano, filho de Simão, torna-se
o seu governador militar.

E a independência da Judéia do jugo dos Selêucidas é garantida


com a destruição da Acra por Simão em 141 a.C. e a expulsão dos
gentios do território. A importante fortaleza é transformada no
palácio dos Macabeus.

Simão fortalece também as alianças com Esparta e com Roma,


restituindo, afinal, à Judéia, sua importância política. Como narra
1Mc 14.24: “Simão enviou Numênio a Roma com um grande escudo
de ouro, de mil minas de peso, para confirmar a aliança com eles”.

2. A MORTE DE SIMÃO

Simão acaba assassinado, com dois filhos, por um genro seu,


Ptolomeu, filho de Abrebo, perto de Jericó, durante um banquete.
Este seu genro está em conluio com Antíoco VII Sidetes (irmão de
Demétrio II), que entre 139 e 128 a.C. é o rei selêucida. Este
Antíoco VII inicialmente reafirma os acordos dos reis anteriores, mas
em seguida reclama de Simão as localidades por ele conquistadas e
o tributo dos territórios anexados por Simão à Judéia (1Mc 15.25-
26). Como não chegam a um acordo, Antíoco VII apoia a ação
criminosa de Ptolomeu contra Simão.

Entretanto, Simão é, durante seu governo, muito querido pelos


judeus que resolvem fazer-lhe um elogio, gravado em placas de
bronze e afixado no monte Sião, segundo 1Mc 14.25-26. O decreto
é de setembro de 140 a.C.

164
HISTÓRIA DE ISRAEL

1Mc 14.27-49 traz a inscrição sobre os feitos de Simão e da família


dos Macabeus. Aí vemos que ele é etnarca (líder da etnia judaica),
tem o direito de usar a púrpura e a fivela de ouro (v. 44) - o que faz
dele um dinasta - é estratego (tem autoridade sobre o exército), é
chefe (hegoumênos, expressão grega usada na LXX para traduzir
sar, "príncipe", ou rosh, "chefe") e sumo sacerdote hereditário.

"Não se pode dizer que ele tenha um poder legislativo, porque o


povo é regido pela Lei; entretanto, ele tem o direito de fazer
'julgamentos' que não podem ser contestados por ninguém, nem
mesmo pelos sacerdotes, sob pena de condenação; não se pode
mais fazer reuniões sem a sua aprovação".

C. JOÃO HIRCANO I E AS DIVISÕES INTERNAS DOS JUDEUS

Quando Simão é assassinado, um filho seu, chamado João Hircano,


consegue escapar e assume o poder, governando de 134 a 104 a.C.

1. JOÃO HIRCANO I ENFRENTA DIFICULDADES PARA


GOVERNAR

Durante seus primeiros anos de governos João Hircano I enfrenta


enormes dificuldades para manter a independência da Palestina.
Antíoco VII, por exemplo, consegue cercar Jerusalém em 133 a.C.,
impor a João Hircano o tributo e obrigá-lo a combater ao seu lado
contra os partos. Sua intenção é a de submeter novamente a Judéia
ao poder selêucida, inclusive reocupando a Acra, o que não
consegue.

Quando o poder selêucida muda de mãos, entretanto, João Hircano


I continua as conquistas de seu pai Simão, judaizando importantes
localidades palestinas como Mádaba, Samega, Siquém, Adora,

165
HISTÓRIA DE ISRAEL

Marisa, a Iduméia.

2. JOÃO HIRCANO I APELA PARA ROMA

Para se libertar da tutela selêucida, João Hircano I apela para os


romanos, com quem renova o tratado de amizade, já antes
estabelecido por seus antepassados. Os romanos não morrem de
amor pelos judeus, mas apoiam qualquer iniciativa que possa
enfraquecer os Selêucidas, cujo território ambicionam.

O Senado romano renova então a amizade (filia) e a aliança


(symmachía) com os judeus em 126 ou 125 a.C., mas também
manda dizer que, no momento, há outros problemas mais urgentes
em Roma. Logo que puder, o Senado procurará defender os
interesses dos judeus.

3. JOÃO HIRCANO I ROMPE COM OS FARISEUS

Entretanto, as crueldades cometidas por João Hircano I contra as


cidades conquistadas e as populações forçadamente judaizadas
provocam a primeira reação dos fariseus contra os governantes
Macabeus.

João Hircano I, na verdade, para conseguir as suas conquistas e


garantir o seu território, começa a incorporar ao seu exército
mercenários gentios. Naturalmente pagos com os tributos recolhidos
do povo judeu. O que já desagrada bastante aos aliados dos
Macabeus. A partir deste momento João Hircano I alia-se aos
saduceus e rompe com os fariseus

É preciso considerar também que, pouco a pouco, o governo


macabeu toma rumos semelhantes aos de seus inimigos

166
HISTÓRIA DE ISRAEL

Selêucidas, afastando-se dos ideais originais da resistência. É isto


principalmente que provoca os atritos com os judeus mais rigorosos
na observância da Lei.

D. A REAPROXIMAÇÃO COM O HELENISMO

Segundo Flávio Josefo, João Hircano tem cinco filhos, quando morre
em 104 a.C. Mas ele não deixa o governo para nenhum deles, e sim
para sua mulher .

1. ARISTÓBULO USURPA O PODER

De qualquer maneira, Aristóbulo, o filho mais velho de João


Hircano I, aprisiona sua mãe e três de seus irmãos, assumindo o
poder. Sua mãe morre de fome na prisão. Apenas um de seus
irmãos, Antígono, fica livre. Contudo, as intrigas dos rivais de
Antígono levam Aristóbulo a mandar matá-lo, temendo,
provavelmente, sua concorrência, já que lhe fazem crer aspirar
Antígono ao poder supremo.

2. A PORTA ABERTA PARA O HELENISMO

Por outro lado, observe-se que tanto ele como seus irmãos têm
nomes gregos - Aristóbulo, Antígono, Alexandre -, embora use para
os judeus um nome semita, Judas. Isto significa que seu pai João
Hircano já abrira as portas da família para a helenização.
Helenização que um dia seus antepassados combateram.

E Flávio Josefo chama Aristóbulo I de "filo-heleno", o que


igualmente indica sua aproximação da cultura grega, certamente
apoiado pelos seus aliados saduceus.

167
HISTÓRIA DE ISRAEL

Certo é que Aristóbulo I continua as conquistas de sua família:


anexa e judaíza a Galileia, segundo as fontes antigas habitada por
tribos ituréias, obrigando seus habitantes a aceitar a circuncisão e a
Lei.

Aristóbulo I morre, de dolorosa doença, tendo governado apenas um


ano.

E. O PRIMEIRO REI MACABEU

Após a morte de Aristóbulo I, sua viúva Salomé Alexandra, liberta seus


irmãos da prisão e se casa com o mais velho, Alexandre Janeu, que
se torna, assim, rei e sumo sacerdote.

1. ALEXANDRE JANEU ENFRENTA PTOLOMEU IX

Nos primeiros anos de seu governo, Alexandre Janeu retoma, com


redobrado vigor, o processo de conquista, anexação e judaização de
várias cidades palestinas. Conquista a região costeira da Palestina,
desde a fronteira com o Egito, no sul, até o Monte Carmelo, ao
norte.

Porém, ao tentar tomar Ptolemaida, entra em cena um rei


ptolomaico: Ptolomeu IX Latiro, filho mais velho da rainha Cleópatra
III, do Egito, é um pequeno rei em Chipre, para onde fora expulso
por sua mãe.

Ptolomeu IX vence Alexandre Janeu, mas este recebe ajuda da


rainha Cleópatra III. Ela certamente teme as conquistas do filho e
provavelmente é também influenciada por conselheiros judeus, entre
os quais se destacam Ananias e Helquias, generais do exército
ptolomaico, filhos de Onias IV, da família sacerdotal de Jerusalém.

168
HISTÓRIA DE ISRAEL

Cleópatra III acaba tornando-se senhora de toda a Palestina, antigo


sonho dos Ptolomeus, mas se retira e deixa o território sob o
comando de Alexandre Janeu.

Alexandre Janeu continua, então, suas conquistas, desta vez a leste


do Jordão e, em seguida, no sul, apoderando-se inclusive da
importante cidade de Gaza em 96 a.C.

2. A INFLUÊNCIA DOS FARISEUS

Os fariseus vêm aumentando constantemente sua influência junto


ao povo, ao mesmo tempo que os Macabeus se distanciam
progressivamente de suas aspirações, colocando-se os dois
poderes em nítido contraste. E como podem os fariseus aceitar
como sumo sacerdote um guerreiro do tipo de Alexandre Janeu que
não cumpre as rigorosas prescrições que o cargo exige?

Pois terá sido após as conquistas acima mencionadas, aí por volta


do ano 90 a.C., que, durante a festa dos Tabernáculos, o povo
atinge Alexandre Janeu com limões no momento em que ele está
diante do altar para oferecer o sacrifício.

A reação de Alexandre Janeu é violenta: manda que seus


mercenários ataquem a multidão e cerca de seis mil pessoas são
massacradas. Em consequência desse episódio, ele manda
construir uma paliçada de madeira em torno do Templo e do altar,
para se proteger da população. Só os sacerdotes, que são
saduceus, podem atravessar esta paliçada. A ruptura com os
fariseus é total.

3. ALEXANDRE JANEU ENFRENTA REVOLTAS INTERNAS

169
HISTÓRIA DE ISRAEL

Alexandre Janeu acaba sofrendo mais uma derrota militar, desta vez
quando se confronta com os nabateus pela posse da região do
Golã, a leste do lago de Genezaré.

Ao fugir para Jerusalém encontra uma violenta rebelião armada


contra seu governo. Apoiado por seus mercenários estrangeiros,
Alexandre Janeu enfrenta uma guerra civil que dura seis anos e na
qual terão morrido pelo menos cinquenta mil judeus.

Os fariseus pedem, ao mesmo tempo, a ajuda de Demétrio III, rei de


parte da Síria, que enfrenta e vence Alexandre Janeu totalmente,
perto de Siquém. Isto terá sido por volta de 89 a.C.

Entretanto, Demétrio III abandona a Palestina e volta para a Síria.


Flávio Josefo diz que a razão é a reviravolta dos sentimentos
judaicos ao verem seu território ocupado pelos estrangeiros: cerca
de seis mil judeus teriam abandonado Demétrio III e passado para o
lado de Alexandre Janeu.

Alexandre Janeu consegue então controlar a revolta interna e,


segundo Flávio Josefo, ao retornar a Jerusalém crucifica 800 de
seus adversários enquanto participa de um alegre banquete, após
fazê-los assistir ao massacre de suas esposas e filhos. Este gesto
de terror teria desencorajado os seus adversários, de modo que oito
mil deles se retiram do país e não voltam enquanto ele permanece
no governo.

4. MAIS CONQUISTAS E A MORTE DE ALEXANDRE JANEU

Após a pacificação interna, Alexandre Janeu dedica-se novamente


às conquistas territoriais, expandindo o processo de judaização.
Consegue grandes vitórias, apesar de um confronto desastroso com
o rei nabateu Aretas tê-lo obrigado a fazer algumas concessões a

170
HISTÓRIA DE ISRAEL

este povo.

Alexandre consegue, durante seus 37 anos de reinado, levar o


território judaico à sua extensão máxima desde que o país fora
devastado pelos babilônios cerca de 500 anos antes.

Alexandre morre, em 76 a.C., quando combate os nabateus na


fronteira gerasena, enquanto sitia a fortaleza de Ragaba. Mas,
segundo F. Josefo, Alexandre morre de doença e não em combate,
provavelmente por consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

F. SALOMÉ ALEXANDRA E PODER DOS FARISEUS

Segundo Flávio Josefo, ao morrer, Alexandre Janeu deixa o trono


para sua esposa Salomé Alexandra e faz-lhe a seguinte
recomendação:

"Se quiserdes seguir o meu conselho podereis conservar o reino e


também os nossos filhos. Ocultai minha morte aos meus soldados até
que esta praça [Ragaba] tenha sido tomada. Depois que voltardes
vitoriosa a Jerusalém, procurai conquistar o afeto dos fariseus, dando-
lhes alguma autoridade, a fim de que a honra que lhes concedeis os
leve a louvar publicamente, perante o povo, a vossa magnanimidade.
Eles gozam de tanto poder sobre seu espírito, que fazem amar ou odiar
o que eles querem (...) Dai-lhes vossa palavra, em seguida, de que
nada fareis no governo do reino, senão por seu conselho".

Estas medidas desmobilizam os intermináveis conflitos internos. Conta


muito também o fato de ser nomeado para o sumo sacerdócio o filho
mais velho de Alexandre Janeu, Hircano, segundo Josefo, homem sem
ambições, pouco apto para o governo e que gosta de viver na
ociosidade. Isto deixa amplo espaço para a atuação dos fariseus.

Por outro lado, Salomé Alexandra não é nada ingênua nesta atribuição

171
HISTÓRIA DE ISRAEL

de poder aos fariseus. Além de reforçar a estrutura de seu exército com


novos mercenários e, de fato, comandá-lo, ela entrega a defesa das
fronteiras do país nas mãos de seu outro filho, Aristóbulo, mais jovem
que Hircano, ambicioso, ousado, empreendedor. E este comanda
várias fortalezas, assessorado por oficiais saduceus.

Obviamente os fariseus fazem várias tentativas para punir os


saduceus, que apoiavam Alexandre Janeu e eram também
responsáveis pela morte de tantos partidários seus; ao mesmo tempo
em que os saduceus, liderados por Aristóbulo fazem exatamente o jogo
contrário. Mas Salomé Alexandra controla a situação, que só irá
explodir após sua morte aos 73 anos de idade.

Talvez seja este o maior defeito de seu governo: a curto prazo, os


conflitos são controlados, gerando próspero e pacífico período; mas, a
longo prazo, a "bomba" está sendo armada para detonar nas mãos de
seus filhos.

G. ARISTOBULO II E A INTERVENÇÃO DE POMPEU

Mal morre a mãe Salomé Alexandra, o conflito explode entre os dois


irmãos, Hircano II e Aristóbulo II. Sendo o mais velho e, desde algum
tempo, sumo sacerdote, à morte de Salomé Alexandra, Hircano II
assume o posto de rei. Mas Aristóbulo II não concorda, acontece a
guerra entre os dois irmãos e, próximo a Jericó, Aristóbulo vence
Hircano. Este ainda se refugia em Jerusalém, mas é obrigado a render-
se ao irmão que possui forças superiores.

Um acordo é feito entre eles: Hircano volta à vida privada, enquanto


Aristóbulo II torna-se rei e sumo sacerdote dos judeus.

1. ANTÍPATER – UM FATOR COMPLICADOR

172
HISTÓRIA DE ISRAEL

Quando tudo parece resolvido, entra um complicador na história.


Seu nome: Antípater. Sua nacionalidade: idumeu. É o pai do futuro e
famoso Herodes Magno, que se tornará rei dos judeus de 37 a 4
a.C.

Segundo Flávio Josefo, Antípater é, na época do conflito entre


Hircano e Aristóbulo, o estratego (= governador militar) da Iduméia,
como o fora seu pai, também de nome Antípater, este nomeado
para o posto por Alexandre Janeu.

E isto explicaria a sua interferência nos negócios judaicos: para a


família de Antípater, que vem construindo seu poder através de
alianças e amizades com árabes, ascalonitas e gazenses, o
ambicioso Aristóbulo II representa real perigo, enquanto o fraco
Hircano II poderá ser mais facilmente manobrado. É então que
Antípater se posiciona politicamente do lado de Hircano II e começa
a manobrar para que este reconquiste o poder. Segundo Flávio
Josefo, Antípater procura influenciar os judeus mais ilustres,
lembrando-lhes que Aristóbulo é um usurpador do trono que
pertence a Hircano, por ser o mais velho.

2. HIRCANO II

Além destes "judeus ilustres", Antípater procura convencer o próprio


Hircano II de que deve lutar pelo poder e consegue, através de
presentes, o apoio do rei nabateu Aretas para o projeto.

Hircano II sai de Jerusalém, junta-se a Aretas em Petra, e negocia


com ele a retomada do poder: Aretas baterá Aristóbulo II e, em
troca, Hircano lhe devolverá as 12 cidades da Transjordânia que
Alexandre Janeu lhe tomara. E é de fato o que acontece. Aretas
vence Aristóbulo, que se refugia no Templo com poucos seguidores,

173
HISTÓRIA DE ISRAEL

onde fica assediado por Hircano e Aretas. Agora a maior parte do


exército que antes passara de Hircano a Aristóbulo na primeira
batalha, faz o caminho inverso: passa de Aristóbulo a Hircano.

Estes acontecimentos nos levam a pensar que nestes confrontos há


pelo menos dois fatores importantes.

a. Em primeiro lugar, o exército macabeu é baseado em tropas


mercenárias e não em judeus partidários, quer seja dos
saduceus, quer seja dos fariseus. Estão facilmente passando
para o lado do vencedor, pois este pode pagar mais.

b. Em segundo lugar, parece que o conflito não se explica mais


apenas pela luta entre fariseus e saduceus. Há outros judeus
poderosos e ricos, associados a Antípater que entram no jogo
político.

3. A INTERVENÇÃO ROMANA NA JUDÉIA

Hircano II e Aristóbulo II, em luta pelo poder, levam o seu caso ao


poderoso romano. Pompeu ordena que se levante o cerco a
Jerusalém, mas apoia Hircano II. Aristóbulo II refugia-se no Templo
com seus adeptos, entre eles muitos sacerdotes. Assediado, o
Templo é tomado por Pompeu e cerca de 1.200 judeus são mortos
pelos romanos. Aristóbulo e seu filho Antígono são levados presos
para Roma.

Hircano II é reconduzido ao sumo sacerdócio. E a Judéia fica sob a


jurisdição do legado romano na Síria, Emílio Escauro. Perde os
territórios não-judeus, conservando apenas a Judéia, a Galileia, a
Peréia (território "além do Jordão", em grego, perán tou Iordánou), o
sul da Samaria e o norte da Iduméia. O idumeu Antípater torna-se
uma espécie de ministro de Hircano II e controla, de fato, os

174
HISTÓRIA DE ISRAEL

negócios judaicos, trabalhando para os romanos. A Judéia paga os


tributos a Roma, recolhidos por uma sociedade de publicanos
sediada em Sodom.

No outono de 63 a.C., quando toma o Templo, Pompeu entra com


seu estado maior no Santo dos Santos, o mais sagrado espaço dos
judeus, acessível apenas ao sumo sacerdote. Este gesto marca
definitivamente o domínio de Roma sobre a terra de Israel e o povo
de Iahweh.

175
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 20

PERÍODO ROMANO

O DOMÍNIO ROMANO

A. A “PAX ROMANA” CHEGA A JERUSALÉM

Nos anos seguintes à interferência de Pompeu (63 a.C.) há paz na


Palestina. Porém, em Roma as coisas se complicam. De 69 a 62 a.C.
Roma é governada pelo triunvirato Crasso, Pompeu e César. Depois,
enquanto César luta nas Gálias, governam os cônsules Crasso e
Pompeu (55-54 a.C.), mas Crasso é derrotado em 53 a.C. pelos partos,
ficando somente Pompeu como cônsul (51-49 a.C.). Entretanto, chega
César, toma a Itália e a Espanha, confronta-se com Pompeu, que é
finalmente vencido em Farsália, na Grécia, no ano 48 a.C. No Egito,
um pouco mais tarde, Pompeu é assassinado.

1. CLEÓPATRA VII

César nomeia Cleópatra VII, a famosa herdeira dos Ptolomeus,


rainha do Egito e, nesta luta pelo controle do Egito, recebe apoio de
Hircano II que lhe envia tropas comandadas por Antípater. São
estas tropas que conquistam Pelúsio, no delta do Nilo, para César.

176
HISTÓRIA DE ISRAEL

2. HIRCANO II – O ETNARCA

Quando, em 47 a.C., César chega à Síria, como prêmio, dá a


Hircano II o título de etnarca (governador de um grupo racial com o
seu território) da Judéia, confirmando-o também no cargo de sumo
sacerdote. Antípater recebe a cidadania romana e é nomeado
prefeito ou procônsul da Judéia, enquanto seus dois filhos Fasael e
Herodes são nomeados respectivamente estrategos de Jerusalém e
da Galileia.

César é assassinado em meados de março de 44 a.C., e Roma


volta a ser governada por triúnviros: Antônio, Otaviano e Lépido.

3. ANTÍPATER MORRE E HERODES SE TORNA ETNARCA

Entretanto, as intrigas palestinenses continuam: Antípater é


envenenado em 43 a.C. pelo copeiro de Hircano II. Em 41 a.C.
Antônio nomeia Herodes e Fasael etnarcas, enquanto Hircano II
permanece apenas como sumo sacerdote.

4. ANTÍGONO

Devido à fraqueza do controle romano na província da Síria, esta é


invadida, em 40 a.C., pelos partos, descendentes do antigo império
persa. Os partos colocam Antígono, filho de Aristóbulo II, como
sumo sacerdote e rei na Judéia (40-37 a.C.).

Antígono corta as orelhas de Hircano II, seu tio, incapacitando-o,


assim, para o cargo de sumo sacerdote (cf. Lv 21,17-23). Fasael se
suicida. Herodes foge para Roma e no final do ano 40 a.C. e
nomeado, pelo Senado romano, rei da Judéia, com uma única
condição: terá que conquistar seu reino.

177
HISTÓRIA DE ISRAEL

B. HERODES MAGNO (O GRANDE)

Em 37 a.C. Herodes torna-se o senhor da Palestina. Casa-se com


Mariana I, parente de Aristóbulo II e Hircano II, entrando
definitivamente para a família asmonéia.

Herodes Magno governa o povo judeu durante 34 anos (37-4 a.C.).

1. O DELICADO JOGO DO PODER DE HERODES

Herodes se equilibra no delicado jogo do poder porque sabe ser


servil a Roma. Primeiro apoia Antônio, mas quando este é vencido
por Otaviano na famosa batalha naval de Áccio, no ano 31 a.C.,
Herodes vai imediatamente visitar o vencedor, que está na ilha de
Rodes, e, em gesto teatral, depõe a coroa a seus pés.

Resultado: volta para casa reconfirmado rei por Otaviano e ainda


consegue favores: como o engrandecimento de território, a
exoneração de tributo a Roma, a isenção de tropas de ocupação, a
autonomia interior para as finanças, a justiça e o exército.

Herodes luta com decisão para consolidar o seu poder. Isto significa,
antes de mais nada, que ele elimina, através de assassinatos e
intrigas várias, adversários seus, inclusive alguns membros de sua
família - como esposa e filhos.

2. OBRAS DE HERODES

Consolidado o poder, constrói obras grandiosas na Judéia. Templos,


teatros, hipódromos, ginásios, termas, cidades, fortalezas, fontes.
Reconstrói totalmente o Templo de Jerusalém, a partir do inverno de
20-19 a.C.

178
HISTÓRIA DE ISRAEL

Reconstrói Samaria, dando-lhe o nome de Sebaste, feminino grego


de Augusto, em homenagem ao Imperador romano; constrói um
importante porto, Cesaréia Marítima; Manre, lugar sagrado ligado a
Abraão, recebe uma grande construção que o valoriza; fortalezas
são reedificadas ou totalmente construídas como Alexandrium,
Heródion, Massada, Maqueronte, Hircania etc. Jericó é embelezada
e torna-se sua residência favorita.

3. HERODES VALORIZA O CULTO

Valorizando o culto, Herodes Magno ganha para si o povo.


Construindo fortalezas, controla possíveis revoltas. Matando seus
inimigos, seleciona seus herdeiros. Apoiando a cultura helenística,
aparece diante do mundo. Servindo fielmente a Roma, conserva-se
no poder...

Entretanto, Herodes não tem legitimidade judaica, pois descende de


idumeus e sua mãe é descendente de árabe. Assim, por ser
estrangeiro, não tem para com os judeus nenhuma relação de
reciprocidade e sua legitimidade se funda na própria estrutura do
poder exercido.

Quando vence os seguidores de Antígono, Herodes constrói uma


estrutura de poder independente da tradição judaica:

a. Nomeia o sumo sacerdote do Templo: destitui os Asmoneus e


nomeia um sacerdote da família sacerdotal babilônica e, mais
tarde, da alexandrina.

b. Exige de seus súditos um juramento que obriga a pessoa a


obedecer às suas ordens em oposição às normas tradicionais; se
a pessoa recusar o juramento, é perseguida.

c. Interfere na justiça do Sinédrio.

179
HISTÓRIA DE ISRAEL

d. Manda vender os assaltantes e os revolucionários políticos


capturados como escravos no exterior, sem direito a resgate.

e. A venda à escravidão e a execução pessoal (a morte) tornam-se


normas comuns do arrendamento estatal.

4. QUAL A LEGITIMIDADE DE HERODES?

Mas, se ele viola assim a tradição, como consegue legitimidade?

A estrutura de poder do Estado sob Herodes é bem diferente da


estrutura da época dos Macabeus:

a. O rei é legitimado como pessoa e não por descendência.

b. O poderio não se orienta pela tradição, mas pela aplicação do


direito pelo senhor.

c. O direito à terra é transmitido pela distribuição: o dominador a dá


ao usuário: é a "assignatio"

d. A base filosófica helenística é que legitima o poder do rei, quando


diz que o rei é "lei viva" (émpsychos nómos), em oposição à lei
codificada, ou seja: o rei é a fonte da lei, porque ele é regido pelo
"nous": o rei tem função salvadora e, por isso, dá aos seus
súditos uma ordem racional, através das normas do Estado. "O
rei em sua pessoa é a continuação do seu reino e o salvador de
seus súditos", diz H. G. Kippenberg.

e. O poder militar de Herodes se baseia em mercenários


estrangeiros que ficam em fortalezas ou em terras dadas aos
mercenários (cleruquias) por ele (terras no vale de Jezreel), e nas
cidades não-judaicas por ele fundadas, a cujos cidadãos ele dá
como posse o território que as rodeia, com os camponeses
dentro!

180
HISTÓRIA DE ISRAEL

Seus herdeiros: Arquelau, Herodes Antipas e Felipe.

5. OS PREFEITOS E PROCURADORES ROMANOS NA JUDÉIA

O procurador ou prefeito era um administrador em ligação com o


legado que governava a província romana da Síria e dependia dele.
Residia em Cesaréia, mas subia a Jerusalém e podia lá permanecer
conforme as circunstâncias ou as necessidades.

Tanto o prefeito como o procurador tinham funções fiscais, militares


e judiciais.

COPÔNIO 6-9

MARCOS ABÍLULO 9 - 12
PREFEITOS

ÂNIO RUFO 12 - 15

VALÉRIO GRATO 15 - 26

PÔNCIO PILATOS 26 - 36

MARCELO 36 - 37

MARULO 37 - 41

CÚSPIO FADO 44 - 46

TIBÉRIO ALEXANDRE 46 - 48
PROCURADORES

VENTÍDIO CUMANO 48 - 52

MARCO ANTÔNIO FÉLIX 52 - 60

PÓRCIO FESTO 60 - 62

ALBINO 62 - 64

CAIO GÉSSIO FLORO 64 - 66

181
HISTÓRIA DE ISRAEL

6. PÔNCIO PILATOS

Pôncio Pilatos, prefeito da Judéia, que pronuncia a sentença de


morte contra Jesus de Nazaré, é um governante duro e decidido,
que nunca simpatizou com os judeus.

Herodes Agripa I, escrevendo ao Imperador Calígula, descreve-o


como inflexível por natureza e cruel por causa de sua obstinação.
Acusa-o de venal, violento, extorsivo e tirânico.

Pertence à ordem dos cavaleiros, classe de pessoas ricas, muitos


de origem humilde e até descendentes de escravos, que fizeram
fortuna das mais variadas maneiras.

Pilatos é nomeado procurador por Tibério, graças à influência de


Sejano, o poderoso prefeito da guarda pretoriana em Roma que é
realmente quem manobra o poder.

Sejano faz de tudo para prejudicar os judeus. E consegue. Sob um


pretexto qualquer, faz com que Tibério tome decisões anti-judaicas.

Pilatos faz muitas coisas contrárias aos costumes judeus,


desrespeitando-os deliberadamente, para irritá-los e reprimi-los.

Embora saiba que os judeus abominam a reprodução de imagens


de qualquer espécie, ele manda cunhar moedas com símbolos
gentios. Símbolos como o lituus “um bastão recurvado numa das
extremidades, em forma de chifre, que servia para demarcar o
recinto onde os sacerdotes pagãos observavam as aves do
sacrifício”, e o simpulum, espécie de concha sagrada. Pilatos é o
único governante romano que tem tal ousadia.

Certa vez, Pilatos manda que seus soldados entrem em Jerusalém,


à noite, levando efígies do Imperador nos estandartes. Quando

182
HISTÓRIA DE ISRAEL

amanhece, o povo se revolta com tal afronta, e ele tenta reprimi-lo.


Mas tem que ceder diante da grande coragem dos judeus que
preferem morrer a transgredir a Lei.

C. DE AGRIPA II AO FIM DA JUDÉIA

Quando morre Herodes Agripa I (44 d.C.), os romanos não quiseram


entregar logo o governo para seu filho Agripa II que é apenas um
garoto de 17 anos e vive em Roma. O país é governado, então, pelos
procuradores.

1. AGRIPA II

Mas em 48 d.C. Agripa II recebe o governo de Cálcis, território antes


dirigido por seu tio. Em 52 d.C. Agripa recebe também a antiga
tetrarquia de Felipe e partes da Galileia e da Peréia. Já antes, em 49
d.C., ele havia sido nomeado Inspetor do Templo, com direito de
designar o sumo sacerdote, embora a Judéia continue governada por
procuradores romanos. Agripa II é o último governante da família
herodiana. Quando Jerusalém é destruída em 70 d.C., ele muda-se
para Roma, onde morre após o ano 93 d.C.

Agripa II vive incestuosamente, dizem, com sua irmã Berenice e não


é bem visto pelos judeus, especialmente pelos sacerdotes, graças às
mudanças arbitrárias de sumos sacerdotes que sempre fez. Teve
pouca influência sobre a comunidade judaica.

É diante de Agripa II e Berenice que Paulo comparece, quando


prisioneiro em Cesaréia, segundo At 25.23-26.3.

2. O ESPÍRITO NACIONALISTA JUDAICO

183
HISTÓRIA DE ISRAEL

A crescente revolta judaica contra a ocupação romana é, com


frequência, atribuída ao sempre vivo espírito nacionalista judaico e à
sua imorredoura fé na libertação messiânica, mas historicamente é
condicionada e ocasionada pela inabilidade dos procuradores e até
mesmo de alguns Imperadores.

Vimos como Pilatos cometera arbitrariedades sem conta, muitas


delas com o deliberado propósito de irritar os judeus, julgados
totalmente impotentes frente ao poderio romano.

E esta atitude prepotente não para com Pilatos, que afinal é punido
pelo que fizera, sendo destituído por Tibério e chamado a Roma,
onde tem que se explicar.

3. O IMPERADOR CALÍGULA

O Imperador seguinte, Calígula, proclama-se deus e obriga todas as


províncias, inclusive a Judéia, a cultuá-lo, oferecendo-lhe sacrifícios.
Quando os judeus se recusam a cultuá-lo, são perseguidos tanto na
diáspora (em Alexandria, por exemplo) como na Judéia e demais
províncias.

Calígula chega a exigir que uma estátua do Imperador seja colocada


no Templo, contra todo o bom senso. Petrônio, legado da Síria, tenta
demover o Imperador de seus propósitos: é condenado à morte, ou
seja, recebe ordem do Imperador para se suicidar. Só que
assassinam Calígula em 41 d.C., e Cláudio, seu sucessor, dispensa
os judeus do culto ao Imperador, salvando também a vida de
Petrônio.

4. AS CONDIÇÕES SOCIAIS DA PALESTINA

184
HISTÓRIA DE ISRAEL

Na Palestina do século I d.C. havia um verdadeiro clima de


terror. Richard L. Rohrbaugh, na Introdução de um volume sobre “As
Ciências Sociais e a Interpretação do Novo Testamento ”, diz sobre a
expectativa de vida da população do Império Romano nesta época:
“Cerca de 1/3 daqueles que ultrapassavam o primeiro ano de vida
(portanto, não contabilizados como vítimas da mortalidade infantil)
morriam até os 6 anos de idade. Cerca de 60% dos sobreviventes
morriam até os 16 anos. Por volta dos 26 anos 75% já tinha morrido
e aos 46 anos, 90% já desaparecido, chegando aos 60 anos de
idade menos de 3% da população”.

Com moradias precárias, sem condições sanitárias adequadas, sem


assistência médica, com uma má alimentação... Olhemos para a
audiência de Jesus, por exemplo: Jesus, com seus trinta e poucos
anos de idade, era mais velho do que 80% de sua audiência. Uma
audiência doente, desnutrida e com uma expectativa de mais 10
anos de vida, se tanto!

Douglas E. Oakman, em um estudo sobre as condições de vida dos


camponeses palestinos da época de Jesus, mostra que a violência
que sofriam era brutal. Fraudes, roubos, trabalhos forçados,
endividamento, perda da terra através da manipulação das dívidas
atingiam a muitos. Existia uma violência epidêmica na Palestina.

5. A TENSÃO JUDAICA AUMENTA

Quando Ventídio Cumano (48-52 d.C.) é procurador, acontece


violenta revolta dos judeus durante a festa da Páscoa, por causa de
um ultraje cometido por um soldado romano. Cumano reprime o
tumulto e vinte mil judeus perdem a vida.

No tempo de seu sucessor Antônio Félix (52-60 d.C.) a tensão

185
HISTÓRIA DE ISRAEL

aumenta perigosamente. É no seu tempo que surge o grupo dos


sicários, assim chamados por usarem em suas ações uma adaga
curva e curta chamada “sica”. Sua tática é provocar tumultos e
desestabilizar o governo através de assassinatos inesperados de
personagens importantes. Escondem a sica sob as vestes e
misturados na multidão eliminam não só romanos, mas também
quem colabora com a ocupação estrangeira. Um dos assassinados
neste tempo pelos sicários é o sumo sacerdote Jônatas.

Outros grupos tentam despertar no povo os sentimentos


messiânicos, proclamando-se profetas e fazendo promessas
utópicas. Tais grupos são duramente reprimidos pelos romanos
através de grandes matanças. Félix manda crucificar inúmeros
zelotes durante o seu mandato[17].

Outro procurador terrivelmente corrupto e repressor é Lucéio Albino


(62-64 d.C.). Seu sucessor Géssio Floro (64-66 d.C.) consegue
então jogar a gota d’água para que o ódio acumulado pelos judeus
derrame.

Quando, após muitas arbitrariedades, Géssio Floro requisita 17


talentos do tesouro do Templo, a revolução estoura. Os judeus
escarnecem do procurador, fazendo uma coleta para o “pobrezinho”
Floro.

Resultado: Floro entrega para os seus soldados uma parte de


Jerusalém, para que seja saqueada e crucifica alguns homens
importantes da comunidade judaica. O povo, em supremo desprezo,
não reage diante do saque, e o desprezo é vingado: há uma
carnificina geral.

6. A REVOLTA DOS JUDEUS

186
HISTÓRIA DE ISRAEL

Então, os revolucionários chefiados por Eleazar, filho do sumo


sacerdote, ocupam o Templo e a fortaleza Antônia. Agripa II tenta
conter a revolta e não consegue. Céstio Galo, legado da Síria, ataca
com uma legião, mas é rechaçado com pesadas perdas, assim como
antes Floro teve que se retirar para Cesaréia ao ser derrotado. É a
guerra definitiva.

Começam os preparativos para o que der e vier. A Galileia é


entregue ao sacerdote fariseu Josefo, o nosso conhecido historiador
Flávio Josefo. Josefo fortifica várias cidades e se prepara. Também
as fortalezas de Massada e Heródion são ocupadas pelos rebeldes.

7. GENERAL VESPASIANO

O Imperador Nero confia então a Palestina a um experiente general:


Vespasiano. Em companhia de seu filho Tito, Vespasiano ataca a
Galileia na primavera de 67 com 10 legiões (60 mil soldados, sem
contar as tropas auxiliares, o que duplica este número). Conquistam
facilmente o território, mas a fortaleza de Jotapata só cai após 47
tentativas de assalto. Josefo é aprisionado e muito bem tratado. Até
o outono a Galileia está nas mãos dos romanos, que então podem
hibernar tranquilamente.

Na primavera de 68 Vespasiano ocupa sucessivamente a Peréia, a


costa, as montanhas da Judéia, a Iduméia e a Samaria. Está para
atacar Jerusalém quando Nero se suicida.

Vespasiano espera se definir a situação em Roma. Três Imperadores


passam pelo trono, mas nenhum permanece. Finalmente Vespasiano
é aclamado Imperador no dia primeiro de julho de 69 e marcha para
Roma, deixando a guerra sob o comando de Tito.

187
HISTÓRIA DE ISRAEL

8. GENERAL TITO E A DESTRUIÇÃO DO TEMPLO DE


JERUSALÉM

Tito cerca Jerusalém pouco antes da Páscoa de 70, com quatro


legiões (24 mil soldados). A cidade está repleta de peregrinos. Uma
cidade com cerca de 30 mil habitantes fixos. Mas nesta época
ultrapassava os 180 mil.

Tito ocupa o setor norte da cidade, abre um fosso ao seu redor para
que ninguém escape e em julho de 70 toma a fortaleza Antônia, um
dos redutos rebeldes. Como os muros do Templo não cedem, Tito o
incendeia. É agosto de 70. Toda a construção é consumida pelas
chamas, mas os rebeldes conseguem se refugiar no palácio de
Herodes.

Em setembro de 70 também o palácio cai. Os chefes rebeldes, João


de Gíscala, zelote, e Simão Bargiora, sicário, são aprisionados e
levados triunfalmente para Roma. A cidade é saqueada e os
habitantes assassinados, vendidos ou condenados a trabalhos
públicos.

9. OUTRAS FORTALEZAS AINDA RESISTEM

Estão ainda de pé três fortificações rebeldes: Heródion, Massada e


Maqueronte, defendidas pelos sicários e zelotes. Heródion e
Maqueronte caem logo, mas Massada resiste um ano de cerco.
Quando finalmente é tomada, os rebeldes incendeiam-na e se
suicidam em massa para não caírem em mãos romanas.

Vespasiano manda cunhar moedas sobre as quais estão um soldado


romano, uma mulher de luto e uma palmeira simbolizando Israel. A
inscrição dizia: Judaea capta. Em Roma, o arco do triunfo de Tito, de
pé ainda hoje, celebra a vitória romana. A Judéia é separada da Síria

188
HISTÓRIA DE ISRAEL

e torna-se uma província imperial, dirigida por um governador que


mora em Cesaréia.

10. A REVOLTA DE SIMEÃO BAR-KOSIBAH

Quando reina Adriano (117-138 d.C.), há ainda nova revolta judaica.


É que o Imperador, em giro pelo Oriente, decide reconstruir
Jerusalém com o nome de Aelia Capitolina e manda fazer um templo
dedicado a Júpiter no mesmo local onde existira o Templo de
Salomão.

Simeão Bar-Kosibah é o chefe desta nova revolta, começada em


131 d.C. Ele é chamado também de Bar-Kokhba (filho da estrela),
numa interpretação messiânica de Nm 24.17, feita por Rabi Aqiba.

Os rebeldes ocupam Jerusalém e algumas fortalezas espalhadas


pelo território judaico. Depois de muita luta, um enviado especial de
Adriano, Júlio Severo, consegue dominar a revolta, vendendo, em
seguida, os rebeldes como escravos. É o ano 135 d.C.

Jerusalém torna-se, então, Colonia Aelia Capitolina e o templo a


Júpiter é levantado no local do antigo Templo dos judeus, além dos
outros templos construídos na cidade.

Aos judeus Jerusalém foi proibida, sob pena de morte. A Judéia


torna-se parte da província Síria-Palestina.

11. A SOBREVIVÊNCIA

Embora o Templo tivesse sido destruído e Jerusalém completamente


queimada, os judeus e o judaísmo sobreviveram a seu fatídico
encontro com Roma. O organismo legislativo e judiciário supremo, o
Sanhedrin (sucessor da Knesset Haguedolá) reuniu-se em Iavne (70

189
HISTÓRIA DE ISRAEL

d.C.) e, mais tarde, em Tiberíades. Sem a estrutura unificadora do


estado e do Templo, a pequena comunidade judaica remanescente
recuperou-se gradualmente, reforçada de vez em quando pela volta
de exilados. A vida institucional e comunal se renovou, os sacerdotes
foram substituídos por rabinos e a sinagoga tornou-se o centro das
comunidades judaicas, conforme se evidencia pelos remanescentes
de sinagogas encontradas em Cafarnaum, Korazin, Baram, Gamla e
outros locais. A Halachá (lei religiosa judaica) tornou-se o elo comum
entre os judeus e foi transmitida de geração a geração.

12. A HALCHÁ

A Halachá é o corpo de leis que tem guiado a vida judaica em todo o


mundo desde os tempos pós-bíblicos. Ela trata das obrigações
religiosas dos judeus, tanto em suas relações interpessoais quanto
em suas observâncias rituais, abrangendo praticamente todos os
aspectos do comportamento humano - nascimento e casamento,
alegria e tristeza, agricultura e comércio, ética e teologia.

Enraizada na Bíblia, a autoridade da Halachá é baseada no Talmud,


o corpo de leis e saber judaicos (completado c.400 d.C.), que
compreende a Mishná, primeira compilação escrita da Lei Oral
(codificada c.210 E.C.) e a Guemará, uma elaboração da Mishná. A
fim de oferecer orientação na observância da Halachá, compilações
concisas e sistematicamente ordenadas foram redigidas por eruditos
religiosos, a partir dos séculos I e II. Uma das mais autorizadas
destas codificações é o Shulchan Aruch, escrito por Joseph Caro em
Safed (Tzfat) no século XVI.

190
HISTÓRIA DE ISRAEL

191
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 21

O DOMÍNIO ESTRANGEIRO (1)

O DOMÍNIO BIZANTINO, ÁRABE, CRUZADOS,


MAMELUCO E OTOMANO

A. O DOMÍNIO BIZANTINO – 313 - 636

No final do século IV, após a conversão do imperador Constantino ao


cristianismo (313) e a fundação do Império Bizantino, a Terra de Israel
se tornara um país predominantemente cristão. Foram construídas
igrejas nos lugares santos cristãos de Jerusalém, Belém e da Galiléia,
e fundaram-se mosteiros em várias partes do país. Os judeus estavam
privados de sua relativa autonomia anterior, assim como do direito de
ocupar postos públicos; também lhes era proibida a entrada em
Jerusalém, com excessão de um dia por ano (Tishá beAv - dia 9 de
Av), quando podiam prantear a destruição do Templo.

A invasão persa de 614 contou com o auxílio dos judeus, animados


pela esperança messiânica da libertação. Em gratidão por sua ajuda,
eles receberam o governo de Jerusalém; esse interlúdio, porém, durou
apenas três anos. Subseqüentemente, o exército bizantino recuperou o
domínio da cidade (629), e os habitantes judeus foram novamente
expulsos.

192
HISTÓRIA DE ISRAEL

B. O DOMÍNIO ÁRABE – 636 - 1099

A conquista do país pelos árabes ocorreu quatro anos após a morte do


profeta Maomé (632) e durou mais de quatro séculos, sob o governo de
califas estabelecidos primeiramente em Damasco, depois em Bagdá e
no Egito. No início do domínio muçulmano, os judeus novamente se
instalaram em Jerusalém, e a comunidade judaica recebeu o
costumeiro status de proteção concedido aos não-muçulmanos sob
domínio islâmico, que lhes garantia a vida, as propriedades e a
liberdade de culto, em troca do pagamento de taxas especiais e
impostos territoriais.

Contudo, a introdução subseqüente de restrições contra os não-


muçulmanos (717) afetou a vida pública dos judeus, assim como sua
observância religiosa e seu status legal. A imposição de pesados
impostos sobre as terras agrícolas levou muitos judeus a mudar-se das
áreas rurais para as cidades, onde sua situação pouco melhorou; a
crescente discriminação social e econômica forçou muitos outros a
abandonar o país. Pelo final do século XI, a comunidade judaica da
Terra de Israel havia diminuído consideravelmente, tendo perdido
também parte de sua coesão organizacional e religiosa.

C. OS CRUZADOS – 1099 - 1291

Nos 200 anos seguintes, o país foi dominado pelos cruzados que,
atendendo a um apelo do Papa Urbano II, partiram da Europa para
recuperar a Terra Santa das mãos dos "infiéis". Em julho de 1099, após
um cerco de cinco semanas, os cavaleiros da Primeira Cruzada e seu
exército de plebeus capturaram Jerusalém, massacrando a maioria de
seus habitantes não-cristãos. Entrincheirados em suas sinagogas, os

193
HISTÓRIA DE ISRAEL

judeus defenderam seu quarteirão, mas foram queimados vivos ou


vendidos como escravos. Nas poucas décadas que se sucederam, os
cruzados estenderam seu poder sobre o restante do país, em parte
através de tratados e acordos, mas sobretudo em conseqüência de
sangrentas conquistas militares. O Reino Latino dos Cruzados
constituía-se de uma minoria conquistadora, confinada em cidades e
castelos fortificados.

Quando os cruzados abriram as rotas de transporte da Europa, a


peregrinação à Terra Santa tornou-se popular; ao mesmo tempo, um
crescente número de judeus procurava retornar à sua pátria.
Documentos da época revelam que um grupo de 300 rabinos da
França e Inglaterra chegou ao país, instalando-se em Acre (Aco) e em
Jerusalém.

Após a derrota dos cruzados pelo exército muçulmano de Saladino


(1187), os judeus passaram a gozar novamente de uma certa dose de
liberdade, inclusive o direito de viver em Jerusalém. Embora os
cruzados conseguissem ainda manter sua presença no país após a
morte de Saladino (1193), ela se limitava a uma rede de castelos
fortificados. O domínio cruzado sobre o país chegou ao fim com a
derrota final frente aos mamelucos (1291), uma casta militar
muçulmana que conquistara o poder no Egito.

D. O DOMÍNIO MAMELUCO – 1291 - 1516

Sob o domínio mameluco, o país tornou-se uma província atrasada,


cuja sede de governo era em Damasco. Acre, Jafa (Iafo) e outros
portos foram destruídos por temor a novas cruzadas, e o comércio,
tanto marítimo quanto terrestre, foi interrompido. No final da Idade
Média, os centros urbanos do país estavam virtualmente em ruínas, a

194
HISTÓRIA DE ISRAEL

maior parte de Jerusalém estava abandonada e a pequena


comunidade judaica vivia à míngua. O período de decadência sob os
mamelucos foi obscurecido ainda por revoltas políticas e econômicas,
epidemias, devastação por gafanhotos e terríveis terremotos.

E. O DOMÍNIO OTOMANO – 1517 - 1917

Após a conquista otomana, em 1517, o país foi dividido em quatro


distritos, ligados administrativamente à província de Damasco; a sede
do governo era em Istambul. No começo da era otomana, cerca de
1000 famílias judias viviam na Terra de Israel, em Jerusalém, Nablus
(Sichem), Hebron, Gaza, Safed (Tzfat) e algumas aldeias da Galiléia. A
comunidade se compunha de descendentes de judeus que nunca
haviam deixado o país, e de imigrantes da África do Norte e da Europa.

Um governo eficiente, até a morte do sultão Suleiman, o Magnífico


(1566), trouxe melhorias e estimulou a imigração judaica. Alguns dos
recém-chegados se estabeleceram em Jerusalém, mas a maioria se
dirigiu a Safed onde, nos meados do século XVI, a população judaica
chegava a 10.000 pessoas; a cidade se tornara um próspero centro
têxtil, e foco de intensa atividade intelectual. O estudo da Cabala (o
misticismo judaico) floresceu durante este período, e novos
esclarecimentos da lei judaica, codificados no Shulchan Aruch,
espalharam-se por toda a Diáspora, desde as casas de estudo de
Safed.

À proporção que o governo otomano declinava e perdia sua eficiência,


o país foi caindo de novo em estado de abandono geral. No final do
século XVIII, a maior parte das terras pertencia a proprietários
ausentes, que as arrendavam a agricultores empobrecidos pelos
impostos, elevados e arbitrários. As grandes florestas da Galiléia e do

195
HISTÓRIA DE ISRAEL

monte Carmel estavam desnudas; pântanos e desertos invadiam as


terras produtivas.

O século XIX testemunhou os primeiros sinais de que o atraso


medieval cedia lugar ao progresso. Várias potências ocidentais
procuravam alcançar posições na região, freqüentemente através de
atividades missionárias. Eruditos ingleses, franceses e americanos
iniciavam estudos de arqueologia bíblica; a Inglaterra, a França, a
Rússia, a Áustria e os Estados Unidos abriram consulados em
Jerusalém. Foram inauguradas rotas marítimas regulares entre a Terra
de Israel e a Europa, instaladas conexões postais e telegráficas e
construída a primeira estrada, entre Jerusalém e Iafo. O renascimento
do país como a encruzilhada comercial de três continentes acelerou-se
com a abertura do Canal de Suez.

Conseqüentemente, a situação dos judeus do país foi melhorando, e a


população judaica aumentou consideravelmente. Em meados do
século, a superpopulação dentro das muralhas de Jerusalém levou os
judeus a construir o primeiro bairro fora dos muros (1860) e, durante os
vinte e cinco anos seguintes, mais outros sete, formando o núcleo da
Cidade Nova. Por volta de 1880, os judeus já constituíam a maioria da
população de Jerusalém. Terras agrícolas eram compradas em todo o
país; novas colônias rurais se estabeleciam; e o hebraico, durante
muitos séculos restrito à liturgia e à literatura, era revivido. O cenário
estava pronto para a criação do movimento sionista.

Sionismo - o movimento de libertação nacional do povo judeu - é uma


palavra derivada de 'Sion', o sinônimo tradicional de Jerusalém e da
Terra de Israel. O ideal do sionismo - a redenção do povo judeu em sua
pátria ancestral - está enraizado na contínua espera pelo retorno e na
profunda ligação à Terra de Israel, que foi sempre parte inerente da
existência judaica na Diáspora através dos séculos.

196
HISTÓRIA DE ISRAEL

O sionismo político surgiu em conseqüência da contínua opressão e


perseguição dos judeus na Europa Oriental e da desilusão com a
emancipação na Europa Ocidental, que não pusera fim à discriminação
nem levara à integração dos judeus nas sociedades locais. Sua
expressão formal foi o estabelecimento da Organização Sionista
(1897), durante o Primeiro Congresso Sionista, reunido por Teodoro
Herzl em Basiléia, na Suíça. O programa do movimento sionista
continha elementos ideológicos e práticos para a promoção do retorno
dos judeus à sua terra, do renascimento social, cultural, econômico e
político da vida nacional judaica, procurando também alcançar o
reconhecimento internacional para o lar nacional do povo judeu em sua
pátria histórica, onde os judeus não fossem perseguidos e pudessem
desenvolver suas vidas e identidade.

197
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 22

O DOMÍNIO ESTRANGEIRO (2)

O DOMÍNIO BRITÂNICO

A. O DOMÍNIO BRITÂNICO – 1918 - 1948

Em julho de 1922, a Liga das Nações confiou à Grã-Bretanha o


Mandato sobre a Palestina (nome pelo qual o país era designado na
época). Reconhecendo "a ligação histórica do povo judeu com a
Palestina", recomendava que a Grã-Bretanha facilitasse o
estabelecimento de um lar nacional judaico na Palestina-Eretz Israel
(Terra de Israel). Dois meses depois, em setembro de 1922, o
Conselho da Liga das Nações e a Grã-Bretanha decidiram que as
estipulações destinadas ao estabelecimento deste lar nacional judaico
não seriam aplicadas à região situada a leste do Rio Jordão, cuja área
constituía os três quartos do território do Mandato - e que mais tarde
tornou-se o Reino Hashemita da Jordânia.

1. A IMIGRAÇÃO

Motivadas pelo sionismo e encorajadas pela "simpatia para com as


aspirações sionistas dos judeus", expressas pela Inglaterra, através
do Ministro de Relações Exteriores Lord Balfour (1917), chegaram

198
HISTÓRIA DE ISRAEL

ao país, entre 1919 e 1939, sucessivas levas de imigrantes, cada


uma das quais trouxe sua contribuição específica ao
desenvolvimento da comunidade judaica. Cerca de 35.000 judeus
chegaram entre 1919 e 1923, sobretudo da Rússia, e tiveram
influência marcante sobre o caráter e a organização da sociedade
nos anos seguintes. Estes pioneiros lançaram os fundamentos de
uma infra-estrutura social e econômica abrangente, desenvolveram a
agricultura, estabeleceram formas de assentamento rural comunal
singulares - o kibutz e o moshav - e forneceram a mão-de-obra para
a construção de moradias e estradas. A onda seguinte, entre 1924 e
1932, trouxe uns 60.000 judeus, sobretudo da Polônia, e contribuiu
para o desenvolvimento e enriquecimento da vida urbana.

Estes imigrantes se estabeleceram principalmente em Tel Aviv, Haifa


e Jerusalém, onde criaram pequenos negócios, firmas de construção
e indústrias leves. A última grande onda imigratória anterior à 2a
Guerra Mundial ocorreu na década de 30, após a ascenção de Hitler
ao poder, e compôs-se de cerca de 165.000 pessoas. Estes recém-
chegados, muitos dos quais eram profissionais e acadêmicos,
representaram o primeiro grande influxo proveniente da Europa
Central e Ocidental. Por sua educação, habilidades e experiência,
eles elevaram os padrões comerciais, refinaram as condições
urbanas e rurais e ampliaram a vida cultural da comunidade.

2. A ADMINISTRAÇÃO

As autoridades mandatórias britânicas concederam às comunidades


judaica e árabe o direito de gerirem seus próprios assuntos internos.
Utilizando-se deste direito, a comunidade judaica, conhecida como o
ishuv, elegeu em 1920 um órgão governamental autônomo, baseado
em representação partidária, que se reunia anualmente para

199
HISTÓRIA DE ISRAEL

avaliação das atividades e a eleição do Conselho Nacional (Vaad


Leumi), responsável pela implementação de sua política e
programas. Este conselho desenvolveu e manteve uma rede
nacional de serviços educacionais, religiosos, sociais e de saúde,
financiada por recursos locais e por fundos angariados pelo
judaísmo mundial. Em 1922, conforme estipulado pelo Mandato, foi
constituída a "Agência Judaica", para representar o povo judeu
diante das autoridades britânicas, governos estrangeiros e
organizações internacionais.

3. O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Durante as três décadas do mandato, a agricultura expandiu-se,


foram criadas fábricas e construíram-se estradas; as águas do Rio
Jordão foram represadas para a produção de energia elétrica; e o
potencial mineral do Mar Morto passou a ser explorado. Em 1920 foi
fundada a Histadrut (Federação Geral de Trabalhadores), para
promover o bem-estar dos trabalhadores e criar empregos, através
do estabelecimento de empresas de propriedade cooperativa no
setor industrial, assim como de serviços de comercialização para as
colônias agrícolas comunais.

4. A CULTURA

Aos poucos, ia surgindo uma vida cultural específica da comunidade


judaica na Terra de Israel. A arte, a música e a dança
desenvolveram-se gradualmente, com o estabelecimento de escolas
profissionais e estúdios. Criaram-se galerias e salas de espetáculos
onde se apresentavam exposições e espetáculos, freqüentadas por
um público exigente. A estréia de uma nova peça, o lançamento de

200
HISTÓRIA DE ISRAEL

um novo livro ou a retrospectiva de um pintor local eram comentados


pela imprensa e tornavam-se o tema de animadas discussões nos
cafés e reuniões sociais.

5. A LÍNGUA HEBRAICA

Foi reconhecido como uma das três línguas oficiais do país, ao lado
do inglês e árabe, e era usado em documentos, moedas e selos,
assim como nas transmissões radiofônicas. A atividade editorial
proliferou, e o país tornou-se o centro mundial da atividade literária
em hebraico. Teatros de vários gêneros abriam suas portas a
audiências entusiásticas, e apareceram as primeiras peças originais
hebraicas.

6. A OPOSIÇÃO ÁRABE E AS RESTRIÇÕES BRITÂNICAS

O renascimento nacional judaico e os esforços da comunidade por


reconstruir o país encontraram forte oposição por parte dos
nacionalistas árabes. Seu ressentimento explodiu em períodos de
intensa violência (1920, 1921, 1929, 1936-39), quando os
transportes judeus eram molestados, campos e florestas incendiados
e a população judaica era atacada sem motivo.

As tentativas do movimento sionista de chegar a um diálogo com os


árabes foram infrutíferas, e o nacionalismo árabe e judeu se
polarizaram em situação explosiva. Reconhecendo os objetivos
opostos dos dois movimentos nacionais, a Grã-Bretanha
recomendou (1937) que o país fosse dividido em dois estados, um
árabe e um judeu. A liderança judaica aceitou a idéia da partilha e
encarregou a Agência Judaica de negociar com o governo britânico,
num esforço de reformular alguns aspectos da proposta. Os árabes

201
HISTÓRIA DE ISRAEL

eram absolutamente contra qualquer plano de partilha.

7. OS MOVIMENTOS CLANDESTINOS

Três movimentos clandestinos judeus operaram durante o período


do Mandato Britânico. O maior era a Haganá, fundado em 1920 pela
comunidade judaica como milícia de auto-defesa para garantir a
segurança da população judaica. A partir dos meados da década de
30, ela também passou a retaliar os ataques árabes e a responder
às restrições britânicas contra a imigração judaica com
demonstrações de massa e atos de sabotagem. O Etzel, criado em
1931, rejeitou as restrições auto-impostas pela Haganá e iniciou
ações independentes contra objetivos árabes e ingleses. O menor e
mais militante dos grupos, o Lechi, surgiu em 1940, e sua linha era
sobretudo anti-britânica. Os três grupos foram dissolvidos em maio
de 1948, com a criação das Forças de Defesa de Israel.

Atos de violência contínuos e em grande escala levaram a Grã-


Bretanha a publicar o Livro Branco (maio de 1939), que impunha
drásticas restrições à imigração judaica, embora tal restrição
significasse negar ao judaísmo europeu um refúgio à perseguição
nazista. O início da 2a Guerra Mundial, pouco depois, levou David
Ben-Gurion, mais tarde o primeiro chefe de governo israelense, a
declarar: "Lutaremos na guerra como se não houvera o Livro Branco,
e combateremos o Livro Branco como se não houvesse guerra."

8. VOLUNTÁRIOS JUDEUS NA 2ª GUERRA MUNDIAL

Mais de 26.000 homens e mulheres da comunidade judaica do país


uniram-se às forças britânicas como voluntários no combate à
Alemanha nazista e seus aliados do Eixo, servindo no exército,

202
HISTÓRIA DE ISRAEL

marinha e aeronáutica. Em setembro de 1944, após prolongados


esforços da Agência Judaica no país e do movimento sionista no
exterior pelo reconhecimento da participação dos judeus da
Palestina no esforço de guerra, foi constituída a Brigada Judaica,
unidade militar independente das forças britânicas, com bandeira e
emblema próprios. Formada por cerca de 5.000 homens, a Brigada
atuou no Egito, no norte da Itália e no noroeste da Europa. Após a
vitória dos aliados na Europa (1945), muitos de seus membros
uniram-se ao movimento de "imigração ilegal", para trazer
sobreviventes do Holocausto à Terra de Israel.

B. O HOLOCAUSTO

Durante a 2a Guerra Mundial (1939-1945), o regime nazista executou,


deliberada e sistematicamente, seu plano-mestre de liquidação da
comunidade judaica da Europa; durante este período foram
assasinados 6 milhões de judeus, entre os quais 1,5 milhão de
crianças. À proporção que as tropas nazistas varriam a Europa, os
judeus eram perseguidos selvagemente, submetidos a torturas e
humilhações inconcebíveis e fechados em guetos, onde tentativas de
resistência armada trouxeram em conseqüência medidas ainda mais
drásticas. Dos guetos eles eram transportados aos campos de
concentração onde alguns afortunados eram submetidos a trabalhos
forçados, e a maioria era assassinada em fuzilamentos em massa ou
nas câmaras de gás. Somente uns poucos escaparam. Alguns fugiram
para outros países, outros uniram-se aos partisanos e alguns foram
escondidos por não-judeus, que o fizeram arriscando suas próprias
vidas. Em conseqüência, de uma população de quase 9 milhões, que
constituíra no passado a maior e mais vibrante comunidade judaica do
mundo, sobreviveu apenas um terço, incluindo aqueles que haviam

203
HISTÓRIA DE ISRAEL

deixado a Europa antes da guerra.

Após a guerra, os britânicos intensificaram suas restrições ao número


de judeus que tinham permissão de entrar e se estabelecer no país. A
comunidade judaica reagiu, instituindo uma ampla rede de atividades
de "imigração ilegal", para salvar os sobreviventes do Holocausto.
Entre 1945 e 1948, cerca de 85.000 judeus ingressaram no país,
através de rotas secretas e muitas vezes perigosas, apesar do bloqueio
naval britânico e do patrulhamento nas fronteiras para interceptar os
refugiados antes que eles chegassem ao país. Os que eram
capturados eram internados em campos de detenção na ilha de Chipre.

204
HISTÓRIA DE ISRAEL

205
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 23

O ESTADO DE ISRAEL (1)

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL

A. A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL

A inabilidade da Grã-Bretanha em conciliar as exigências opostas das


comunidades judaica e árabe levou o governo inglês a requerer que a
"Questão da Palestina" fosse inscrita na agenda da Assembléia Geral
das Nações Unidas (abril de 1947). Em conseqüência, foi constituído
um comitê especial para preparar propostas relativas ao futuro do país.
Em 29 de novembro de 1947, a Assembléia votou pela adoção da
recomendação do comitê propondo a partilha do país em dois estados,
um judeu e outro árabe. A comunidade judaica aceitou o plano; os
árabes o rejeitaram.

1. A OPOSIÇÃO ÁRABE

Após a decisão da ONU, os militantes árabes locais, ajudados por


forças voluntárias irregulares dos países árabes, desfecharam
violentos ataques contra a comunidade judaica, num esforço por
frustrar a resolução da partilha e impedir o estabelecimento do
estado judeu. Após vários revezes, as organizações de defesa

206
HISTÓRIA DE ISRAEL

judaicas expulsaram a maior parte das forças atacantes, tomando


posse de toda a área que tinha sido destinada ao estado judeu.

Em 14 de maio de 1948, data em que o Mandato Britânico terminou,


a população judaica na Terra de Israel era de 650.000 pessoas,
formando uma comunidade organizada, com instituições políticas,
sociais e econômicas bem desenvolvidas - de fato, uma nação em
todos os sentidos, e um estado ao qual só faltava o nome.

2. A DECLARAÇÃO DO ESTABELCIMENTO DO ESTADO DE


ISRAEL

A Declaração do Estabelecimento do Estado de Israel, assinada em


14 de maio de 1948 pelos membros do Conselho Nacional,
representantes da comunidade judaica no país e do movimento
sionista mundial, constitui o credo da nação. Ela inclui referências
aos imperativos históricos do renascimento de Israel; as diretrizes
de um estado judeu democrático, baseado em liberdade, justiça e
paz, conforme a visão dos profetas bíblicos; e um apelo por relações
pacíficas com os estados árabes vizinhos, para o benefício de toda
a região.

O texto da Declaração:

" Eretz Israel (a Terra de Israel) foi a terra natal do povo judeu.
Aqui tomou forma sua identidade espiritual, religiosa e política.
Foi aqui que, pela primeira vez, os judeus se constituíram em
estado, criaram valores culturais de significação nacional e
universal e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros.

...os judeus se empenharam, de geração em geração, no ideal


de se restabelecerem em sua antiga pátria... fizeram florescer
os desertos, reviveram a língua hebraica, construíram cidades

207
HISTÓRIA DE ISRAEL

e povoados e criaram uma comunidade próspera, controlando


sua própria economia e cultura, procurando a paz mas
sabendo como se defender...

O Estado de Israel estará aberto à imigração judaica


fomentará o desenvolvimento do país em benefício de todos
os seus habitantes; basear-se-á nos princípios de liberdade,
justiça e paz, conforme concebido pelos profetas de Israel;
assegurará completa igualdade de direitos sociais e políticos a
todos os seus habitantes, sem distinção de religião, raça ou
sexo; garantirá a liberdade de culto, consciência, língua,
educação e cultura, protegerá os Lugares Santos de todas as
religiões; e se manterá fiel aos princípios da Carta das Nações
Unidas.

Estendemos nossa mão a todos os estados vizinhos e a seus


povos, com o propósito de paz e boa vizinhança, na
esperança do estabelecimento de laços de cooperação e
ajuda mútua com o povo judeu soberano estabelecido em sua
própria terra."

Os Signatários da Declaração:

Os 37 signatários da Declaração de Independência de Israel foram


membros do Conselho Provisório de Estado, os líderes do Estado
em formação, representando suas comunidades. O mais velho tinha
82 anos; e o mais jovem, 29. Dois eram mulheres; três foram
primeiro-ministros; um foi presidente; e 14 foram ministros do
governo.

3. A BANDEIRA DO ESTADO DE ISRAEL

208
HISTÓRIA DE ISRAEL

A bandeira do Estado de Israel é inspirada no desenho do xale de


orações judaico (talit), com uma Estrela de David (Maguen David)
azul.

4. A MENORÁ

O emblema oficial do Estado de


Israel é um candelabro (menorá),
cuja forma teria sua origem na
planta de sete galhos moriá,
conhecida desde a antigüidade. Os
ramos de oliveira dos dois lados
representam o anseio de Israel por
paz.

A menorá de ouro era um dos principais objetos de


culto no Templo do Rei Salomão, em Jerusalém. Através dos
tempos, ela tornou-se um símbolo da herança e tradição judaica, em
sem número de lugares e com grande variedade de formas.

5. O HINO NACIONAL - HATIKVÁ

Enquanto no fundo do coração


Palpitar uma alma judaica,
E em direção ao Oriente
O olhar voltar-se a Sion,
Nossa esperança ainda não
estará perdida,
Esperança de dois mil anos:
De ser um povo livre em nossa

209
HISTÓRIA DE ISRAEL

terra,
A terra de Sion e Jerusalém.

B. GUERRA EM BUSCA DE PAZ

Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a vitória sobre o império


Otomano, os britânicos passaram a controlar a região da Palestina ou
Terra Santa. Na mesma época, o movimento sionista ganha força e,
em 1917, é divulgada a Declaração de Balfour, que defende a criação
de um Estado judeu na região.

Após uma série de conflitos entre árabes, judeus e ingleses, as Nações


Unidas aprovam - com forte apoio norte-americano - a criação de um
Estado judeu e o fim do mandato dos britânicos na região é marcado
para 14 de maio de 1948.

1. DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA

No mesmo dia, os dois principais líderes judeus, Chaim Weizmann


(principal figura da Organização Sionista Mundial) e David Ben-
Gurion anunciam a Declaração de Independência do Estado de
Israel. Os regimes árabes não aceitaram a criação de Israel como
proposto pela ONU - os judeus, que eram minoria da população da
região, controlavam praticamente todo o território.

2. A PRIMEIRA GUERRA ENTRE ÁRABES E ISRAELENSES

Os principais líderes da região se uniram em uma guerra contra o


novo país com o objetivo de destruí-lo. A Guerra de 1948-49 foi a
primeira de muitas que Israel viria a enfrentar.

210
HISTÓRIA DE ISRAEL

Mas os árabes, que começaram a guerra com certa vantagem, não


atingiram seu objetivo. Com apoio norte-americano, os israelenses
conseguiram conter a invasão de seus vizinhos e ainda
conquistaram territórios ao norte e, principalmente, ao sul.

3. OS REFUGIADOS PALESTINOS

Esta primeira guerra criou um dos mais complicados problemas para


a paz na região: um imenso número de palestinos refugiados. Já na
época eles eram mais de 300 mil. Os palestinos, árabes que viviam
na região antes da criação do Estado de Israel, ficaram sem uma
nação. Muitos fugiram para o Líbano, ao norte, para Gaza, ao sul,
ou para a Jordânia, a leste, região hoje conhecida como Margem
Ocidental.

4. A DIVISÃO DA PALESTINA

Em 14 de maio de 1948, uma resolução da ONU dividiu o território


da Palestina entre árabes e judeus, criando o Estado de Israel.
Todos os regimes árabes da época rejeitaram a criação de Israel, e
prometaram destruir o novo Estado judeu. Era o começo do conflito
que já dura mais de 50 anos. Após vários anos de guerra, em 1967,
Israel invadiu e tomou a Margem Ocidental (controlado pela
Jordânia), incluindo a cidade de Jerusalém, as colinas de Golã (que
pertenciam à Síria), e a Faixa de Gaza (Egito). A bem-sucedida
invasão, que durou apenas seis dias, criou uma enorme quantidade
de refugiados palestinos, que viviam nas áreas invadidas.

5. O SURGIMENTO DE GRUPOS TERRORISTAS

211
HISTÓRIA DE ISRAEL

A partir da década de 70 começaram a surgir importantes grupos


terroristas, como o Hamas e o Hezbollah, que, segundo Israel, têm o
financiamento e a colaboração de países como Líbano, Irã e Síria.
Com a finalidade de se proteger de ataques terroristas contra o
norte de seu território, Israel invadiu o Líbano, para onde os grupos
terroristas fugiram depois de terem sido expulsos pela Jordânia.
Desde então, as tropas israelenses ocupam uma faixa de 15 km no
sul do país.

6. O ASSASSINATO DE YITZAK RABIN

Em 1993, o então primeiro-ministro israelense Yitzak Rabin


(assassinado em 1995 por um extremista judeu) e o líder palestino,
Iasser Arafat, fecharam o primeiro acordo que daria o controle da
Margem Ocidental e da Faixa de Gaza aos palestinos. Conhecido
como o Acordo de Oslo, é a base para o processo de paz discutido
entre Israel e a Autoridade Palestina.

As conversas sobre o processo de paz foram interrompidas por


Israel em 1997, após a explosão de uma bomba em um mercado de
Jerusalém que matou várias pessoas. Em janeiro de 1998, o
presidente norte-americano, Bill Clinton, recebeu na Casa Branca
Iasser Arafat e Benjamim Netanyahu. Era o recomeço da conversas
sobre o processo de paz entre palestinos e israelenses, que foram
retomadas nesta semana em Camp David.

C. AS GUERRAS ÁRABES - ISRAELENSES

1. A CRISE DE SUEZ EM 1956

212
HISTÓRIA DE ISRAEL

Em 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionaliza o


canal e impede a passagem de navios israelenses, originando um
conflito internacional. Com o apoio da França e do Reino Unido,
tropas israelenses invadem o Egito em outubro de 1956. Apesar da
derrota militar egípcia, a intervenção da ONU e as pressões dos
EUA e da União Soviética garantem o controle do Egito sobre o
canal, com a obrigatoriedade de mantê-lo aberto à navegação
mundial.

2. A GUERRA DOS SEIS DIAS

Conflito armado entre Israel e a frente árabe, formada por Egito,


Jordânia e Síria, e apoiada pelo Iraque, Kuweit, Arábia Saudita,
Argélia e Sudão. O crescimento das tensões árabe-israelenses, em
meados de 1967, leva ambos os lados a mobiliza suas tropas. Sem
esperar que a guerra chegue às suas fronteiras, os israelenses,
fortemente armados pelos EUA, tomam a iniciativa do ataque. O
pretexto é a intensificação do terrorismo palestino no país e o
bloqueio do Golfo de Ácaba pelo Egito – passagem vital para os
navios de Israel. O plano traçado pelo Estado-Maior israelense,
chefiado pelo general Moshe Dayan (1915-1981), começa a ser
posto em prática às 8 horas da manhã do dia 5 de junho de 1967,
quando os caças israelenses atacam nove campos de pouso e
aniquilam a força aérea egípcia no chão.

Ao mesmo tempo, forças blindadas israelenses investem contra a


Faixa de Gaza e o norte do Sinai. A Jordânia abre fogo em
Jerusalém e a Síria intervém no conflito. Mas, no terceiro dia de luta,
o Sinai inteiro já está sob o controle de Israel. Nas próximas 72
horas, os israelenses impõem uma derrota devastadora aos
adversários, controlando também a Cisjordânia, o setor oriental de

213
HISTÓRIA DE ISRAEL

Jerusalém e as Colinas de Golã , na Síria. A resolução da ONU de


devolver os territórios ocupados é rejeitada por Israel. Como
resultado da guerra, aumenta o número de refugiados palestinos na
Jordânia e no Egito. Síria e Egito estreitam ainda mais as relações
com a URSS, renovam seu arsenal de blindados e aviões, e
conseguem a instalação de novos mísseis perto do Canal de Suez.

3. A GUERRA DO YOM KIPPUR - 1973

Quarto conflito armado entre Israel e os países árabes vizinhos.


Tem início com o ataque da Síria e do Egito às posições israelenses
no Sinai e nas Colinas de Golã , em 6 de outubro de 1973, dia em
que os judeus comemoram o Yom Kippur (Dia do Perdão), feriado
religioso. Os árabes tentam recuperar as áreas perdidas para Israel
na Guerra dos Seis Dias (1967), além de responder aos
bombardeios israelenses na Síria e no Líbano, em busca das bases
militares da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). A
guerra dura 19 dias e é concluída sob intervenção das potências
mundiais.

Os sírios, ajudados por tropas jordanianas e iraquianas, avançam ao


norte em direção a Golã , enquanto as forças egípcias invadem pelo
sudoeste, a partir do Canal de Suez . Obrigam os israelenses a
abandonar as suas linhas de defesa em Bar-Lev e os campos
petrolíferos de Balayim, ocupando toda a área do Canal, de Port
Said a Suez . Mas o contra-ataque de Israel força o recuo dos
egípcios e sírios. Damasco é bombardeada e os blindados
israelenses obrigam as forças sírias a retroceder até as linhas
demarcadas pela guerra de 1967. No Sinai, cerca de 200 tanques e
10 mil soldados de Israel cruzam o Canal, destruindo instalações de
artilharia e bases de lançamento egípcias na margem oeste. Essa

214
HISTÓRIA DE ISRAEL

manobra militar de Israel isola o Exército adversário na margem


leste do deserto.

Pressões diplomáticas dos Estados Unidos e da União Soviética


impedem o massacre das forças egípcias cercadas no Canal. O
cessar-fogo é assinado em 24 de outubro. As posições vigentes ao
final da Guerra dos Seis Dias são praticamente restabelecidas com
os acordos assinados entre Israel e Síria, em 1974, e entre
israelenses e egípcios, em 1975.

215
HISTÓRIA DE ISRAEL

CAPÍTULO 24

O ESTADO DE ISRAEL (2)

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL

A. AS PERSPECTIVAS DE PAZ NO ORIENTE MÉDIO

1. EGITO

Foi o primeiro país da região a desafiar o boicote do mundo árabe e


assinar, em 1978, um acordo de paz com Israel. Em troca da
normalização de relações, recebeu de volta a península do Sinai e
passou a ser aliado estratégico dos EUA. Atualmente, mantém uma
‘paz fria‘ com Israel: a cooperação econômica e cultural entre os
dois países é bastante limitada.

2. LÍBANO

Diz que aguarda retirada israelense sem condições do sul do país,


onde há uma faixa territorial ocupada pelo Exército de Israel, para
negociar um acordo de paz. O governo atual se diz cético em
relação ao reinício das negociações.

216
HISTÓRIA DE ISRAEL

3. SÍRIA

Damasco aceitou retomar negociações com Israel esta semana, em


Washington. Os dois países, que já se enfrentaram em três guerras
têm disputa territorial nas colinas do Golã, ponto chave no diálogo
de paz.

4. ARÁBIA SAUDIDA

Critica o governo israelense pela ‘ocupação de terras árabes‘. O


país, que é forte aliado dos EUA, poderia assinar acordo com Israel
após a resolução das negociações com os palestinos e a Síria.

5. TURQUIA

Aliada estratégia dos EUA e de Israel no Oriente Médio (os três


países fizeram recentemente manobras militares conjuntas).
Mantém relações diplomáticas e comerciais com Jerusalém e é um
dos principais destinos turísticos entre os israelenses.

6. IRAQUE

É, ao lado do Irã, um dos piores inimigos históricos de Israel.


Durante a Guerra do Golfo (1991), o ditador Saddam Hussein lançou
mísseis contra território israelense. Enquanto permanecer no poder,
as chances de um acordo de paz são pequenas.

7. IRÃ

É um dos maiores inimigos de Israel. Teerã financia os principais

217
HISTÓRIA DE ISRAEL

grupos terroristas que combatem Israel (Hamas e Hizbollah). O


processo de paz, que costuma trazer uma abertura em relação ao
Ocidente, é visto como uma ameça pelo clero conservador iraniano,
que adota discurso anti-sionista e anti-EUA para justificar uma
ameaça externa e se manter no poder.

8. JORDÂNIA

Em 1994, o rei Hussein firmou um tratado de paz com Israel, o que


possibilitou o fim da tensão e a abertura de pontos de passagem na
mais extensa fronteira israelense. Seu filho, rei Abdallah, assumiu
após sua morte, no início do ano, e mostra estar comprometido com
a paz.

9. AUTORIDADE NACIONAL PALESTINA

Desde 1993, com os Acordos de Oslo, os palestinos vêm recebendo


autonomia de governo nos territórios da faixa de Gaza e da
Cisjordânia. Israel e ANP trabalham agora num acordo definitivo,
que seria concluído até setembro de 2000, mas, infelizmente, sem
resultados.

B. O FUNDAMENTALISMO

1. O FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO

Manifesta-se em movimentos empenhados na criação de


sociedades regidas pelo Corão , o livro sagrado do islamismo , e
contrários aos modelos políticos e filosóficos ocidentais (como a
separação entre Estado e religião, a democracia e o individualismo).

218
HISTÓRIA DE ISRAEL

O fundamentalismo propaga-se entre os muçulmanos


especialmente após a Revolução Iraniana de 1979, que instala no
país um Estado teocrático, conduzido pelo líder xiita Ruhollah
Khomeini . Também é possível destacar a atuação, no Egito, do
grupo extremista Gammaat-i-Islamia, responsável por atentados
terroristas no país; da Frente Islâmica de Salvação (FIS), na Argélia,
que reivindica um país regido pelas leis do Corão; da milícia xiita
libanesa Hezbollah (Partido de Deus), diretamente envolvida no
combate com tropas israelenses instaladas no sul do Líbano; do
Hamas, nos territórios ocupados por Israel, contrário aos acordos de
paz entre palestinos e israelenses; e da milícia Taliban, que luta, no
Afeganistão, pela criação de um Estado islâmico "puro".

2. FUNDAMENTALISMO JUDAICO

Atualmente, está associado a facções religiosas radicais em Israel,


como o Eyal (Força Judaica Combatente) e o Kahane Vive. Esses
movimentos condenam o acordo de paz entre palestinos e
israelenses, que prevê a devolução dos territórios conquistados por
Israel na Guerra dos Seis Dias (1967). Para eles, a entrega de
terras bíblicas como Hebron, Jericó e Nablus, na Cisjordânia, é uma
afronta à vontade de Deus. Ela contraria a aspiração judaica do
retorno a uma Grande Israel, similar aos tempos do Rei Davi, que
por volta de 1.000 a.C. pacifica a região e transforma Jerusalém em
centro religioso. A efervescência dessas idéias leva ao assassinato,
em 1995, do primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin , mentor dos
acordos de paz, ao lado de Yasser Arafat. O assassino, Yigal Amir,
um fundamentalista pertencente ao Eyal, justifica a sua atitude
afirmando que Rabin era um "traidor do ideal judaico", por devolver
terras ocupadas aos palestinos.

219
HISTÓRIA DE ISRAEL

C. OLP – ORGANIZAÇÃO PARA LIBERTAÇÃO DA PALESTINA

A Organização para Libertação da Palestina (OLP) é um "governo no


exílio" dedicado ao objetivo de estabelecer um Estado palestino
independente no território hoje ocupado por Israel. Formada em 1964,
a OLP propôs-se coordenar e comandar o movimento nacionalista
palestino.

Politicamente, obteve muitas vitórias - desde 1964, mais de cem países


passaram a reconhecê-la como representante legítima do povo
palestino.

Um dos principais problemas da OLP tem sido uma consistente falta de


consenso com relação ao uso da força militar. O primeiro líder da
organização, Ahmad Chukeiry, era favorável a criação de um "exército
no exílio" para destruir Israel com auxílio dos exércitos de outros
Estados árabes. Mas, como a guerra de 1948-49 havia demostrado,
essa era uma posição discutível, pois implacava uma dependência de
forças não palestinas e a subordinação da OLP em termos militares.

Já em 1965 a organização Al Fatah (Luta), de Yasser Arafat, executara


pequenas ações-relâmpagos contra Israel, indicando o potencial da
guerra de guerrilhas. Após o esmagador fracasso da Guerra dos Seis
Dias, em junho de 1967, a guerrilha passou a ser a estratégia preferida
dos palestinos. Arafat acabaria eleito presidente da OLP em fevereiro
de 1969, mas não foi capaz de unificar o movimento em torno de uma
diretriz única.

Georges Habache, outro líder palestino, havia preferido adotar o


terrorismo e fundara a Frente Popular para a Libertação da Palestina
(FPLP) em 1968. A partir daí, surgiram vários grupos dissidentes, cada
um mais extremista que o anterior e todos teoricamente subordinados à

220
HISTÓRIA DE ISRAEL

OLP. É o caso, entre outros, do Saiqa (Vanguardas de Guerra de


Libertação Popular, fundado em 1968 e apoiado pela Síria) e da Frente
de Libertação Árabe (FLA, criada em 1969 por Abd al-Wahhab al-
Kayyali, sob orientação do governo do Iraque).

Apesar da existência de uma grande massa de refugiados


predominantemente pró-OLP, entre os quais poderiam ser
arregimentados guerrilheiros, os palestinos não tinham as vantagens
de contar com bases seguras e inexpurgáveis. No início dos anos 60,
esse problema ainda não era muito sério - campos de refugiados na
faixa de Gaza, na margem ocidental (esquerda) do Jordão e no Líbano
ofereciam bases próximas às fronteiras israelenses - mas a partir de
1967 os palestinos foram gradativamente rechaçados. Na Guerra dos
Seis Dias, os israelenses capturaram o Sinai, a margem ocidental do
Jordão e as colinas de Golã, obrigando a OLP a se retirar para o
interior do Egito, Jordânia e Síria. Isso reduziu o impacto de suas
ações, pois eles precisavam percorrer várias distâncias em terreno
hostil para atingir alvos preferenciais em pleno território de Israel.

Momentos de grande tensão foram criados entre os palestinos e os


territórios que os abrigavam. À medida que os Estados Árabes
hospedeiros sofriam os efeitos das retaliações israelenses em resposta
a ataques dos palestinos e enfrentavam o surgimento de enclaves
controlados pela OLP dentro de seu próprio território, o movimento foi
perdendo apoio. Em 1970, o rei Hussein expulsou a OLP de suas
bases a leste do rio Jordão, enquanto o Egito e a Síria começaram a
impor um rigoroso controle sobre as populações palestinas abrigadas
em suas fronteiras. Uma mudança da OLP para bases no sul do Líbano
permitiu aos guerrilheiros reconquistar um certo grau de eficiência, mas
a subseqüente guerra civil naquele país (1975-76), seguida por uma
invasão israelense (1982), veio a enfraquecê-los ainda mais. Em fins

221
HISTÓRIA DE ISRAEL

de 1983, uma verdadeira guerra foi travada no norte do Líbano entre os


partidários de Arafat e de outras organizações palestinas filiadas à OLP
(principalmente o Saiqa, controlado pelos sírios). Arafat sobreviveu,
explorando a força política da OLP, mas os sírios assumiram a
estratégia palestina. Com isso destruíram a iniciativa militar da OLP e
subordinaram suas aspirações àquelas de um mundo árabe mais
amplo.

Hoje, a OLP controla várias áreas administradas pela Autoridade


Nacional Palestina, da qual Arafat é presidente, eleito pela maioria dos
palestinos.

D. PRINCIPAIS OBSTÁCULOS PARA A PAZ NA PALESTINA

1. JERUSALÉM

Israel conquistou Jerusalém Oriental e a Cisjordânia na Guerra dos


Seis Dias, em 1967. Tradicionalmente afirma que Jerusalém é sua
capital eterna e indivisível. Na cúpula de Camp David, pela primeira
vez, um governante seu aceitou negociar alguma forma de
soberania compartilhada na cidade. Os palestinos reivindicam a
parte oriental da cidade como capital de seu futuro Estado.

2. OS ASSENTAMENTOS JUDEUS

Mais de 170 mil judeus vivem em assentamentos nos territórios


ocupados por Israel na Cisjordânia e na faixa de Gaza. O premiê
Ehud Barak diz querer manter os assen-tamentos sob soberania
israelense. Os palestinos afirmam que os assentamentos devem
deixar os territórios.

222
HISTÓRIA DE ISRAEL

3. ÁGUA

Israel reivindica controle total dos recursos hídricos, incluindo os


lençóis subterrâneos na Cisjordânia, cuja administração é
reivindicada pelos palestinos.

4. REFUGIADOS PALESTINOS

Há mais de 3,5 milhões de refugiados palestinos em países da


região. Israel rechaça a idéia de permitir a volta de todos eles a seu
território. Nas negociações, discute-se a autorização do retorno de
pequena parte deles, em casos de reunificação familiar, e o
pagamento de indenização aos outros refugiados.

5. FRONTEIRAS E SEGURANÇA

223
HISTÓRIA DE ISRAEL

A Autoridade Nacional Palestina quer uma Palestina independente,


com poderes soberanos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental
e faixa de Gaza. Diz que as fronteiras em relação a Israel devem
voltar ao que eram antes de junho de 67. Israel diz que não voltará
às fronteiras de 67.

E. ENTENDENDO A CRISE ATUAL

Em 28 de setembro de 2000, Ariel Sharon, líder da oposição


israelense, fez uma visita à Esplanada das Mesquitas, local mais
sagrado de Jerusalém para palestinos e judeus (que o chamam de
Monte do Templo), provocando protestos palestinos.

224
HISTÓRIA DE ISRAEL

1. OS PROTESTOS

No dia seguinte à visita, forças israelenses reprimiram violentamente


protestos palestinos na esplanada, deixando pelo menos quatro
mortos Desde então, novos protestos de palestinos em Gaza e
Cisjordânia e de árabes israelenses dentro de Israel já fizeram cerca
de cem mortes, a quase totalidade palestina ou árabe israelense. Na
quinta-feira, helicópteros de Israel bombardearam centros palestinos
após o linchamento de soldados israelenses. Foi o maior ataque à
Autoridade Nacional Palestina.

2. OS ANTECEDENTES

Após décadas de disputa, Israel e palestinos iniciam um processo


de paz em 1993, com os acordos de Oslo (Noruega).

Israel retirou-se de boa parte dos centros urbanos palestinos em


Gaza e Cisjordânia, dando autonomia administrativa aos palestinos,
mas mantendo encraves protegidos em cidades como Hebron, Gaza
e Nablus.

Oslo previa um acordo final até maio de 99, prazo adiado devido à
falta de avanço nos temas mais polêmicos: soberania sobre
Jerusalém e retorno de ou compensação a refugiados palestinos
que deixaram ou foram expulsos de suas casas desde a criação do
Estado de Israel (1948).

Em julho, reuniram-se em Camp David para tentar chegar a um


acordo final. Israel ofereceu pela primeira vez soberania aos
palestinos em certas áreas de Jerusalém Oriental, mas Arafat
afirmou que não poderia abrir mão de soberania plena nos locais
sagrados de Jerusalém.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

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