A ignorância de um editorial, por José Manuel Fernandes
O director do Público, José Manuel Fernandes, decide hoje dedicar
o seu editorial ao manifesto que 51 cidadãos subscreveram, e que reproduzo no post anterior. Fá-lo de maneira torpe, iletrada economicamente, sem o mínimo de civilidade ou rigor. Um péssimo serviço jornalístico. Dentro da linha a que o Público nos vem habituando desde que o seu director assumiu a tarefa de misturar isenção e as suas cores partidárias do momento. Que falsidades contém o seu editorial? 1) Diz ele que entre os signatários do primeiro manifesto estão "os mais prestigiados economistas portugueses". Ora tomando por referência, a influência mundial de um Luís Cabral, de um Pedro Portugal, de um Alfredo Marvão Pereira, de um Pedro Pitta Barros - chego rapidamente à conclusão que não foi um critério académico que levou JMF a considerar estarem aqui os "28 melhores". Apesar de nesses 28 se incluir gente que prezo como Sérgio Rebelo, a quem não conheço nenhum outro tipo de trabalho que não académico. Ou seja, JMFernandes usa dois pesos e duas medidas. Eles têm os melhores economistas portugueses, onde eu incluiria sem dúvida o Sérgio Rebelo, mas não têm os melhores naquilo em que o Sérgio Rebelo se destaca: no trabalho académico. No manifesto alternativo, há Professores Catedráticos de Economia com obra vasta. Outros que não sendo catedráticos ainda, vão fazendo umas coisinhas influentes. Contrariamente ao que que julga a pequena visão de José Manuel Fernandes, Francisco Louçã ou José Reis não chegaram a professores catedráticos pela ideologia. Felizmente, se esse critério existe no jornalismo, não é assim na academia. Ambos têm uma lista de publicações de referência internacional [e estou apenas a dar dois exemplos!!], com impacto no pensamento económico mundial. Fica a primeira dúvida. Porque estão nos 28 os melhores economistas portugueses? O que permite a José Manuel Fernandes excluir Álvaro Aguiar, Fernando Teixeira dos Santos, Pedro Carneiro, Ricardo Reis, Fernando Branco, Hélder Vasconcelos, entre tantos outros? O que lhe permite excluir João César das Neves ou António Borges? E dos que citei acima, não conheço a ideologia da maioria. Estou a falar só de académicos? Onde está naquela lista a nata da gestão empresarial portuguesa? Em suma, um director de jornal deve, a bem da sua sanidade, perceber que os mais mediáticos economistas portugueses não são necessariamente os melhores. E que não lhe cabe ele, um ignorante na matéria, fazer esse julgamento! 2) O problema específico de José Manuel Fernandes com a crítica que surgiu em alguma blogosfera ao facto de ser uma lista de ex- governadores do Banco de Portugal e ex-ministros é algo que ele terá de lidar com a sua psiquiatra, se tiver. Porque não é culpa deles nem de ninguém, que assim a olho haja 10 ex-ministros naquela lista. E quando se parte num documento para o diagnóstico da situação como faziam os signatários, é legítimo perguntar, quem teve culpa nessa miserável situação que descrevem. Eu asseguro que não fui. 3) Diz José Manuel Fernandes, com um desprezo que roça o ridículo que "abundam no novo documento sociológos, politólogos, gógrafos e há até um psicólogo social e um engenheiro agrónomo". Caro José Manuel Fernandes, instrua-se. Que o Engº Belmiro tenha a dirigir um jornal que já foi de referência uma pessoa inculta, é um problema dele. O seu problema é ser essa pessoa inculta. Porque se sequer lesse o jornal porque é responsável, tinha visto na passada Quarta Feira uma crónica na última página assinada pelo Rui Tavares, onde se diz, o que eu como economista subscrevo, que a discussão dos problemas da sociedade (admitirá que o desemprego é um problema social?) não é monopólio dos economistas. Porque, sabe, nós não somos uns supra iluminados Sábios de Sião que olhem para o mundo com as receitas milagrosas na mão. A economia, caro José Manuel Fernandes, é uma ciência social. E enquanto tal lida com a interacção de seres humanos. Essa interacção tem componentes que nenhum teorema neoclássico (sabe o que é?) pode explicar. Lembre-se do cartaz com a foto do Nixon e da pergunta que o acompanhava: "Compraria um carro a este homem?". A economia é por definição multidisciplinar. Se mesmo assim não entende, faça umas continhas. Estão ali para cima de 35 economistas. Na outra lista, por alto estavam 27. Quanto aos politólogos que abundam eu encontro 2. Por acaso, ambos universitários, e pelo menos um deles, uma pessoa que escreve e muito bem no jornal que dirige. Imagino que não tenha capacidade para o ler. Mas até a contar o José Manuel Fernandes tem alguns problemas: é que, sabe, eu conto mais que um Engenheiro Agrónomo! Tem alguma coisa contra a opinião destas pessoas? Sabia que há doutoramentos em Economia Agrária? Sabia que desde Janeiro de 2009, o European Forest Institute conta na sua direcção científica com um dos mais prestigiados economistas portugueses? Ou o seu problema é achar que as questões ambientais lato sensu são desprezíveis? 4) Finalmente, José Manuel Fernandes, você acha que no que toca a economistas, o documento é subscrito apenas por gente "que vai da ala esquerda do PS ao Bloco de Esquerda". Presumo que por oposição à "pluralidade" do documento anterior! E diz: "Louçã é mesmo um dos subscritores!" Ó homem demita-se! Você não sabe os méritos científicos do Francisco Louçã porque vê nele o inimigo a abater. Não sabe que ele é foi aluno e co-autor de Christopher Freeman, um dos mais brilhantes economistas do século XX. Não sabe a obra do Louçã sobre Schumpeter e ciclos económicos, sobre caos e complexidade. Caro José Manuel Fernandes, dos fundamentos económicos do manifesto eu falarei a seguir. Mas no seu lugar, eu tirava um longo repouso. Ênfase em LONGO!
Publicada por Carlos Santos em 16:30
Etiquetas: editorial, José Manuel Fernandes, Público
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Domingo, 28 de Junho de 2009
O Cheerleader João Galamba
Em teoria, José Manuel Fernandes é o director do Público. Na prática,
comporta-se como candidato a líder de facção. No seu editorial de sábado, começa por criticar aquilo que considera serem ataques ad hominem aos 28. Mas no resto do artigo, JMF faz exactamente aquilo que aponta aos outros: o que escreve sobre o novo manifesto não é mais do que um ataque aos subscritores do novo manifesto — manifesto, esse, ao qual o seu jornal, para além do seu editorial, não dedica uma linha. Contradição? Não. A um cheerleader não se pede coerência. Nem o mínimo de isenção.
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MENTIRA DO DIA D'O JUMENTO
Ao mesmo tempo que Manuela Ferreira Leite prepara o seu programa eleitoral os famosos assessores de Belém (os tais que ultimamente anda desaparecidos para desgosto do presidente que cada vez que abre a boca tem a sorte de não entrarem moscas) estão a redesenhar o conceito de cooperação estratégica entre presidência e primeiro-ministro. O Jumento divulga aquele será o novo esboço do que será o novo ambiente de trabalho nas reuniões de quinta-feira entre presidente e primeiro-ministro.
JUMENTO DO DIA
Cavaco Silva, presidente da República
A tentativa mais ou menos descarada de Cavaco Silva de
favorecer o PSD tem-no levado a sucessivas asneiras e, acima de tudo, a deixar de ser definitivamente o presidente de todos os portugueses para assumir o papel de presidente oficioso do seu partido. A decisão de marcar as eleições legislativas a 27 de Setembro, o que é uma derrota política clara de Cavaco, é o culminar de uma semana de intervenções desastrosas, começando com a famosa interpretação das sondagens a favor de eleições simultâneas feitas no estrangeiro até à interferência inaceitável em negócios privados.
Com a decisão de marcar as eleições a 27 de Setembro Cavaco
está a recuar no seu apoio militante ao PSD o que mostra que percebeu que a sua estratégia foi tão evidente que só poderia levar a uma grave crise institucional. Uma coisa é o PSD ganhar eleições, outra é ganhá-las graças as intervenções do presidente da República. É a diferença entre a democracia e a ditadura de Boliqueime.