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Título
A representação e seus objetos na ciência: a relação entre objetos dinâmico e imediato no
entendimento de realismo e ciência em Peirce
Autor(es)
Flávio Augusto Queiroz e Silva, Universidade de Brasília, flavio.aqs@gmail.com
Resumo
O artigo discute realismo e ciência na filosofia de Peirce, partindo da distinção entre objetos
dinâmico e imediato, apontando que essa distinção nos permitirá contrapor o realismo peirceano
a outras posturas filosóficas, como o idealismo ou o nominalismo, o que indica a resolução
encontrada por Peirce para entender em que ordem se dá o encontro da ciência com o real.
Palavras-chaves
signo; objeto; realismo; método científico
Abstract
The article discusses realism and science in the philosophy of Peirce, from the distinction
between dynamic and immediate objects, pointing that this distinction allow us to confront
peircean realism to other philosophic theories, like idealism or nominalism, which indicates the
solution found by Peirce to understand in which terms science encounters reality.
Keywords
Sign; object; realism; scientific method
Artigo
Este trabalho procura pensar a correspondência entre realidade e representação,
lembrando que, nos termos do senso comum (e, às vezes, para além dele), as duas coisas são
postas como separadas. Minha inquietação é a de que o cenário conceitual dicotômico tem se
mostrado ineficaz na abordagem de alguns problemas; por exemplo, na ciência, se considerarmos
que toda produção teórica é uma representação dos objetos, e se toda representação for diferente
do objeto, teremos um quadro pouco satisfatório no qual todos os postulados, discussões e
conceitos não sustentam uma relação de proximidade com o real.
Proponho, então, discutir outro modo de encarar a relação entre representação e
realidade, à luz da distinção entre objeto dinâmico e objeto imediato na tríade objeto – signo –
interpretante, na semiótica de Charles S. Peirce (1834 – 1914). Essa distinção nos permite
abordar a realidade veiculada pelo signo sem negar a realidade em si mesma. Podemos, assim,
trabalhar a concepção peirceana de conhecimento científico como atividade contínua sustentada
pelo seguir incessante de dúvidas balizadas pela existência do real.
Definições de objeto
Isso nos permite ver a contribuição de Peirce a uma nova concepção de ciência
superando a de conhecimento sistematizado: é uma conversão da “vontade intelectual” não mais
como ambição de atingir a verdade final, mas como “vontade de contribuir para um processo
contínuo, a ser continuado pelos outros” (SHORT, 2007, p. 327).
No cenário do conhecimento falível, portanto, há uma tendência cada vez maior
para a aprendizagem – a mente aprende no estabelecimento progressivo de verdades e fixação de
crenças, em um regime cuja condição fundamental seja a existência de uma realidade que, como
objeto dinâmico, seja externa ao signo.
Conclusões
Este artigo procurou explorar a distinção entre objetos dinâmico e imediato para
contribuir na compreensão da visão peirceana de método científico, trabalhando também seu
realismo e o estatuto da representação.
Expusemos que o real, como interesse científico, encarna-se na figura de um
objeto dinâmico externo à própria ciência, funcionando como princípio regulador que dá ao
conhecimento sua coesão e permite a aprendizagem da mente. Ao mesmo tempo, porém, esse
mesmo real expressa-se nos objetos imediatos veiculados pela representação.
A verdade, pela própria concepção peirceana de ciência, não pode residir ou
revelar-se inteira em uma opinião. Admiti-lo seria confiná-la ao objeto imediato no signo. Ao
contrário, a verdade vai se revelando aos poucos no processo científico de descoberta e
experimentação com a realidade. É assim que a realidade (objeto dinâmico) e a realidade
representada (objeto imediato) têm uma conexão necessária que nos impele a vê-las como
interligadas. A realidade é mais do que aquilo que pode ser vislumbrado; para Peirce, “ela é
experimentada, provada, tocada, cheirada (...). Conhecer a realidade por meio de suas
representações em nenhuma medida diminui nosso contato com o real” (ANDACHT, 2010, p. 4).
Na trilha do método científico, vemos que a realidade mediada pelo signo não nos
basta; aparece em nossa experimentação com o mundo a necessidade de ampliar nossas opiniões
e hábitos de crença em uma afinidade crescente com a verdade. Assim entendemos que a
realidade representada e a realidade em si identificam-se cada vez mais, no telos (τέλος) que
constitui o ponto-limite final e ideal que traça o rumo da pesquisa, mas que é impossível
determinar.
Finalizando, aceitamos o convite de reforçar com Peirce a realidade como aquilo
que “é independente das divagações minhas ou suas” (PEIRCE apud ROBERTS, 1970, p.71),
contrapondo-nos ao nominalismo ou idealismo não só na abordagem deste problema
epistemológico, mas também no da vida:
A questão se o genus homo tem alguma existência a não ser como indivíduo é a
questão se há algo mais importante que a felicidade e aspirações individuais. Se
os homens realmente têm algo em comum, de modo que a comunidade deve ser
considerada como fim em si mesma (...) é a questão prática mais fundamental
em relação a toda instituição pública cuja constituição temos o poder de
influenciar (CP. 8.38).
Referências Bibliográficas
ANDACHT, F. Duas variantes da representação do real na cultura midiática: o exorbitante Big
Brother Brasil e o circunspeto Edifício Master. In: Compós 2004 – Encontro da Associação Brasileira de
Programas de Pós-graduação em Comunicação, 2004, São Bernardo do Campo.
ANDACHT, F. On the integration of the differentiated: a Peircean outlook on Latin American identity.
Semeiosis: transdisciplinary journal of semiotics. Disponível em: <http://www.semeiosis.com.br/on-the-
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SHORT, T. Peirce’s theory of signs. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2007.