Вы находитесь на странице: 1из 55

Prevenção da violência

p r e ve n ç ã o
sexual e da violência pelo
parceiro íntimo contra a
mulher
Ação e produção de evidência

Organização
Mundial da Saúde
ESCRITORIO REGIONAL PARA AS Americas
Prevenção da violência
sexual e da violência pelo
parceiro íntimo contra a
mulher
Ação e produção
de evidência

Organização
Mundial da Saúde
ESCRITORIO REGIONAL PARA AS Americas
iii

Conteúdo
Edição original em inglês:
Preventing intimate partner and sexual violence against women:
taking action and generating evidence
© Organização Mundial da Saúde, 2010
ISBN 978 92 4 156400 7
Agradecimentos v

Dados em Publicação para Catalogação na Biblioteca da OPAS


Resumo 1

Organização Mundial da Saúde.


Prefácio 3
Prevenção da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo contra a mulher:
ação e produção de evidência
Introdução 5
Os custos ocultos da violência sexual e da violência pelo
1. Maus-tratos conjugais – prevenção e controle . 2. Violência – prevenção e controle.
3. Parceiros sexuais . 4. Medição de risco . 5. Mulheres maltratadas . 6. Delitos sexuais – prevenção e controle. I. Organiza- parceiro íntimo 5
ção Mundial da Saúde.
Abordagem da saúde pública à prevenção 6
ISBN 978-92-75-71635-9 (NLM classification: HV 6625)
Uma perspectiva ao longo da vida 8
© Organização Mundial da Saúde, 2012. Todos os direitos reservados.
Qual o propósito do presente documento? 8
A Organização Pan-Americana da Saúde aceita pedidos de permissão para reprodução de suas publicações, parcial ou
integralmente. Os pedidos e consultas devem ser enviados para Editorial Services, Area of Knowledge Management Quem deve utilizar o presente documento? 9
and Communications (KMC), Panamerican Health Organization, Washington, D.C., Estados Unidos (correio eletrônico:
pubrights@paho.org). Mensagens-chave 10
As publicações da Organização Pan-Americana da Saúde contam com a proteção de direitos autorais segundo os disposi- CAPÍTULO 1 Natureza, magnitude e ­consequências da violência sexual e
tivos do Protocolo 2 da Convenção Universal de Direitos Autorais.
da violência pelo parceiro íntimo 11
As designações empregadas e a apresentação do material na presente publicação não implicam a expressão de uma opin-
ião por parte da Organização Pan-Americana da Saúde no que se refere à situação de um país, território, cidade ou área ou 1.1 O que é violência sexual e violência pelo parceiro íntimo? 11
de suas autoridades ou no que se refere à delimitação de seus limites ou fronteiras.
1.2 Qual é a prevalência da violência sexual e da violência pelo parceiro
A menção de companhias específicas ou dos produtos de determinados fabricantes não significa que sejam apoiados ou
recomendados pela Organização Pan-Americana da Saúde em detrimento de outros de natureza semelhante que não íntimo? 12
tenham sido mencionados. Salvo erros e omissões, o nome dos produtos patenteados é distinguido pela inicial maiúscula.
1.3 Quais são as consequências da violência sexual e da violência pelo
Todas as precauções razoáveis foram tomadas pela Organização Pan-Americana da Saúde para confirmar as informações
contidas na presente publicação. No entanto, o material publicado é distribuído sem garantias de qualquer tipo, sejam
parceiro íntimo? 14
elas explícitas ou implícitas. A responsabilidade pela interpretação e uso do material cabe ao leitor. Em nenhuma hipótese
1.4 Mensagens-chave 17
a Organização Pan-Americana da Saúde deverá ser responsabilizada por danos resultantes do uso do referido material.
A tradução do original em inglês e publicação em língua portuguesa foi realizada pela Organização Pan-Americana da CAPÍTULO 2 Fatores de risco e de proteção da violência sexual e da violência
Saúde, Representação em Brasil, por meio do apoio do Programa de Cooperação Internacional em Saúde da OPAS/OMS pelo parceiro íntimo 18
no Brasil e Ministério da Saúde – Termo de Cooperação no. 41
Tradução: B&C Revisão de Textos Ltda – ME 2.1 O modelo ecológico da violência 18
Revisão da tradução: Alessandra Guedes, Área de Desenvolvimento Sustentável e Saúde Ambiental da OPAS em Washing- 2.2 Identificação dos fatores de risco 19
ton, DC; Roberta de Freitas Santos, Unidade Técnica de Política de Recursos Humanos em Saúde, e Rossana Estevam Lima,
Unidade Técnica de Gestão do Conhecimento e Comunicação, Representação da OPAS/OMS no Brasil; Regina Ungerer, 2.3 Fatores de risco relacionados com a violência pelo parceiro
coordenadora da rede ePORTUGUÊSe, da Organização Mundial da Saúde.
íntimo e a violência sexual 20
Revisão técnica: Lilia Blima Schraiber e Ana Flavia d’Oliveira, Universidade de São Paulo.
2.4 Fatores de risco relacionados com a violência pelo parceiro
íntimo 26
2.5 Fatores de risco relacionados com a violência sexual 29
2.6 Fatores de proteção para a violência pelo parceiro íntimo e
para a violência sexual 31
2.7 Normas de gênero e desigualdade 31
2.8 Mensagens-chave 32
CAPÍTULO 3 Estratégias de prevenção primária baseadas em evidências 34
3.1 Introdução 34
3.2 Avaliação das evidências para as diferentes abordagens de
prevenção 36
iv PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER
v

3.3 Tabelas-síntese de estratégias e programas de prevenção


primária 38 Agradecimentos
3.4 Durante a infância e o início da adolescência 41
3.5 Durante a adolescência e no início da vida adulta 44
3.6 Durante a vida adulta 47
3.7 Todas as etapas da vida 51
3.8 Mensagens-chave 57
CAPÍTULO 4 Melhorando o planejamento e a valiação do programa 58
4.1 Passo 1: Como começar 58 O presente documento foi redigido por Alexander Butchart, Claudia Garcia-Moreno, e
Christopher Mikton, da Organização Mundial da Saúde, e baseia-se em um projeto ini-
4.2 Passo 2: Definir e descrever a natureza do problema 62 cial produzido por Joanna Nurse, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres
4.3 Passo 3: Identificar programas potencialmente eficazes 66 e do Departamento de Saúde do Reino Unido, e Damian Basher do Departamento de
Saúde do Reino Unido. Natalia Diaz-Granados, da Universidade McMaster, elaborou o
4.4 Passo 4: Desenvolver políticas e estratégias 67
Capítulo 2: Fatores de risco e de proteção da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo,
4.5 Passo 5: Criar um plano de ação para garantir a provisão das enquanto Joanne Klevens e Linda Anne Valle do Centro de Controle e Prevenção de
atividades 68 Doenças dos Estados Unidos contribuíram com o Capítulo 4: Melhorando o planeja-
4.6 Passo 6: Avaliar e compartilhar o aprendizado 70 mento e a avaliação do programa. O documento foi editado por Tony Waddell.

4.7 Mensagens-chave 75 O documento beneficiou-se sobremaneira de comentários e sugestões providenciados


pelos seguintes pares revisores: Linda Dahlberg, Kathryn Graham, Rachel Jewkes,
Prioridades para futuras pesquisas e conclusões 76 Holly Johnson, Julia Kim, Karen Lang, Charlotte Watts e Alys Willman.
Prioridades para futuras pesquisas 76 Os fundamentos conceituais para o presente documento foram delineados em uma
Conclusões 77 consulta de especialistas em maio de 2007 sobre a prevenção primária da violência
sexual e da violência pelo parceiro íntimo e a monografia para a reunião preparada por
Bibliografia 79
Alison Harvey, Claudia Garcia-Moreno e Alexander Butchart. Participaram da con-
ANEXOS sulta: Mark Bellis, Pimpawun Boonmongkon, David Brown, Carme Clavel-Arcas, Jane
ANEXO A: Definições operacionais 91 Cottingham, Pamela Cox, Isabelle De Zoysa, Jane Ferguson, Vangie Foshee, Kathryn
Graham, Henrica Jansen, Holly Johnson, Faith Kasiva, Jackson Katz, Karen Lang, Lori
ANEXO B: Atividades de prevenção que podem ser usadas para Michau, Adepeju Aderemi Olukoya, Judith Ann Polsky, Jamela Saleh Al-Raiby, Susan
a avaliação do processo e as potenciais fontes de informação a Blair Timberlake, Bernice Van Bronkhorst e Charlotte Watts.
respeito dessas atividades 94
O desenvolvimento e a publicação do presente documento foi viabilizado pelo generoso
apoio financeiro do Governo da Bélgica e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças
dos Estados Unidos.
A tradução do original em inglês e publicação em língua portuguesa foi possível por
meio do apoio do Programa de Cooperação Internacional em Saúde da OPAS/OMS no
Brasil e Ministério da Saúde - Termo de Cooperação no. 41
Tradução: B&C Revisão de Textos Ltda - ME
Revisão da tradução: Alessandra Guedes, Área de Desenvolvimento Sustentável e Saúde
Ambiental da OPAS em Washington, DC; Roberta de Freitas Santos, Unidade Téc-
nica de Política de Recursos Humanos em Saúde, e Rossana Estevam Lima, Unidade
Técnica de Gestão do Conhecimento e Comunicação, Representação da OPAS/OMS
no Brasil; Regina Ungerer, coordenadora da rede ePORTUGUÊSe, da Organização
Mundial da Saúde.
Revisão técnica: Lilia Blima Schraiber e Ana Flavia d’Oliveira, Universidade de São
Paulo.
1

Resumo

A violência sexual e a violência praticada pelo parceiro íntimo afetam uma grande pro-
porção da população – sendo mulheres a maioria que vivencia diretamente essas violên-
cias e a maioria que as perpetram, homens. O dano que elas causam pode durar uma
vida inteira e abrange gerações, com efeitos adversos sérios na saúde, na educação e no
trabalho. A prevenção primária desse tipo de violência, portanto, salvará vidas e dinhei-
ro – investimentos realizados agora, para acabar com a violência sexual e a praticada
pelo parceiro íntimo antes que ocorram, protegerá o bem-estar físico, mental e econô-
mico e o desenvolvimento de indivíduos, famílias, comunidades e sociedades.
O presente documento objetiva providenciar informações suficientes aos formuladores
de políticas e planejadores para desenvolverem programas de prevenção, orientados por
dados e baseados em evidências, contra a violência sexual e a praticada pelo parceiro
íntimo, sendo dividido nos capítulos que seguem:
l Capítulo 1: delineia a natureza, magnitude e as consequências da violência sexual e
da praticada pelo parceiro íntimo na tipologia mais ampla da violência.
l Capítulo 2: identifica os fatores de risco e de proteção para esses tipos de violência e
a importância de abordar os fatores de risco e de proteção nos esforços de prevenção.
l Capítulo 3: resume a base da evidência científica para as estratégias de prevenção
primária e descreve os programas de eficácia comprovada, os que são apoiados em
evidência emergente e os que poderiam ser potencialmente eficazes mas que ainda
precisam ter seu impacto suficientemente avaliado.
l Capítulo 4: apresenta uma estrutura de seis passos para a ação, a geração de evidên-
cias e o compartilhamento de resultados.
Na seção final são delineadas várias prioridades de pesquisas futuras e apresentada uma
série de conclusões-chave.
A prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo baseada em evidên-
cias está ainda em seus primórdios e há muito que se fazer. No momento, apenas uma
estratégia possui evidências para a sua eficácia – e essa se refere apenas à violência pelo
parceiro íntimo. A referida estratégia é o uso de programas baseados nas escolas para a
prevenção da violência em relacionamentos de namoro. As evidências estão emergindo,
contudo, da eficácia de uma série de outras estratégias para a prevenção da violência
sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, incluindo programas de micro-financia-
mento para mulheres em combinação com a educação em igualdade de gênero; esforços
para reduzir o acesso ao álcool e seu uso nocivo; e mudança das normas sociais e cul-
turais. Muitas outras estratégias parecem potentes, quer em bases teóricas ou porque
2 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER
3

Prefácio
objetivam fatores de riscos conhecidos, porém, a maioria delas não foi implementada
sistematicamente e muito menos avaliada.
A abordagem da saúde pública quanto à prevenção, adotada no presente documento,
destina-se à complementação de abordagens baseadas na justiça criminal. A aborda-
gem conta com o uso de dados populacionais para descrever o problema, seu impacto
e fatores de risco e de proteção associados, enquanto aproveita as evidências científicas
para estratégias de prevenção eficazes, promissoras e indicadas teoricamente. Parte da
abordagem é para garantir que todas as políticas e os programas incluam mecanismos
de monitoramento e avaliação embutidos. Paralelamente, tomar uma perspectiva de
ciclo de vida ajudará na identificação precoce de fatores de risco e dos melhores momen-
tos para interromper o desenvolvimento de trajetórias que rumam ao comportamento
violento, utilizando uma abordagem de prevenção primária. É preciso uma intervenção
precoce, com enfoque em grupos etários mais jovens, para uma prevenção primária A violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo são problemas sérios e muito
bem-sucedida. difundidos em todo o mundo. Além de serem violações de direitos humanos, causam
danos profundos no bem-estar físico, sexual, reprodutivo, emocional, mental e social
Embora urgente, a necessidade de se ter evidências e mais pesquisas em todas essas do indivíduo e da família. Os desfechos imediatos e a longo prazo na saúde que foram
áreas em nada se opõe à ação imediata para a prevenção de ambas as violências, pelo associados a esses tipos de violência incluem traumatismos físicos, gravidez indesejada,
parceiro íntimo e a violência sexual. Os programas que possuírem evidências dando aborto, complicações ginecológicas, infecções sexualmente transmissíveis (incluindo
bases para sua eficácia deveriam ser implementados e, onde, necessário, adaptados. Os HIV/Aids), transtorno de estresse pós-traumático, entre outros. Há também uma série
que foram promissores e os que parecem ter potencial podem também desempenhar de complicações relacionadas com a gravidez, como aborto espontâneo, trabalho de
um papel imediato – desde que grandes esforços sejam feitos para incorporar, desde o parto prematuro e baixo peso ao nascer associados com a violência durante a gravidez.
início, avaliações criteriosas de seus resultados. É apenas através da ação e da geração Além disso, comportamentos de alto risco, como tabagismo, uso nocivo de álcool e
de evidências que a violência sexual e aquela praticada pelo parceiro íntimo serão preve- drogas e sexo não seguro são significativamente mais frequentes entre as vítimas de
nidas e que o campo da prevenção primária baseada em evidências poderá amadurecer. violência sexual e aquela praticada pelo parceiro íntimo.
A carga esmagadora da violência pelo parceiro íntimo (física, sexual e emocional) e da
violência sexual é suportada pelas mulheres em mãos dos homens. Reconhecendo as
consequências em grande escala e extensas do problema, inúmeros países promulgaram
leis para criminalizar a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo, e muitos paí-
ses providenciam cada vez mais serviços legais, de saúde e sociais às mulheres que sofre-
ram abusos. Ao mesmo tempo, registraram-se marcadamente poucos esforços para a
prevenção precoce da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. Os serviços
bem elaborados e adequadamente implantados para as vítimas continuarão tendo uma
importância vital. Entretanto, a real magnitude do problema significa que a prevenção
da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo antes que ocorram será crucial
não somente para a redução da carga do sofrimento como também para a redução dos
custos humanos, econômicos e de saúde pública dessa violência a longo prazo. Tanto os
esforços de prevenção primária como os serviços que respondem ao atendimento dessas
violências devem ser bem documentados e avaliados quanto à sua eficácia.
A escassez atual de abordagens de prevenção baseada em evidências deve-se parcial-
mente ao desenvolvimento e implementação, em separado, de pesquisas e de atividades
de defesa dessa causa (advocacy). Deve-se também parcialmente ao conjunto complexo
de fatores que aumentam a probabilidade da violência realmente acontecer. Esses fatores
incluem desigualdade de gênero e normas sociais acerca da masculinidade, bem como
outros determinantes como desigualdade econômica; outros problemas comportamen-
tais (como uso nocivo de álcool); e outros tipos de violência (como abuso na infância).
Existe pouca coordenação entre programas ou agendas de pesquisa sobre abuso durante
a infância, uso nocivo de álcool e substâncias, determinantes sociais e violência sexual
4 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER
5

Introdução
e violência praticada pelo parceiro íntimo. E, no entanto, todos esses problemas afetam
regularmente famílias, previsivelmente com maior frequência em comunidades econo-
micamente desfavorecidas, nas quais, muitas vezes, existe também uma grande desi-
gualdade entre mulheres e homens.
Prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo contra a mulher: agir e
gerar evidências objetiva o fortalecimento da área de prevenção da violência sexual e da
praticada pelo parceiro íntimo para que os esforços de prevenção possam complementar
programas de saúde, legais e outros de oferta de serviços que respondam ao problema.
As políticas e os programas de prevenção primária devem ser proativos, baseados nas
melhores evidências disponíveis e focados nas causas básicas do problema, incluindo
a desigualdade de gênero, para que, em primeiro lugar, um número sempre menor de
mulheres seja afetado por essas violências.
Os custos ocultos da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo
O presente documento está também construído em torno de uma perspectiva de ciclo
de vida que reconhece o quanto as experiências infantis, incluindo as da primeira infân- Devido à natureza da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, sua ocorrência
cia, influenciam a probabilidade de alguém se tornar um perpetrador ou uma vítima de e impactos são frequentemente “ocultos”, resultando em uma significativa subestimação
violência. Oferece-se uma revisão dos achados científicos mais recentes sobre estraté- do nível real do dano causado. Contudo, pesquisas baseadas em população revelam que
gias de prevenção eficazes, promissoras e teoricamente viáveis, bem como um modelo essas formas de violência são comuns. Por exemplo, o estudo multipaíses da OMS sobre
de saúde pública utilizado para ressaltar os passos necessários para abordar os deter- a saúde da mulher e a violência doméstica contra a mulher (Garcia-Moreno et al., 2005)
minantes subjacentes nos planos individual, familiar, comunitário e social. É também indicou que 15 a 71% das mulheres sofrem violência física e/ou sexual por um parceiro
extremamente importante que os esforços futuros na abordagem da violência sexual e íntimo em algum momento de suas vidas. Pesquisas também mostram que a violência
da praticada pelo parceiro íntimo sejam elaborados e conduzidos com o objetivo explíci- sexual e aquela praticada pelo parceiro íntimo levam a uma vasta gama de problemas
to de ampliar a base de evidência científica a respeito da magnitude, das consequências físicos, mentais e de saúde sexual a curto e longo prazo (Heise & Garcia-Moreno, 2002;
e da capacidade preventiva desses problemas. Isso pode ser alcançado, por exemplo, Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). De fato, a magnitude de resultados pobres em saú-
através da integração, desde o princípio, da avaliação dos resultados com os projetos de de decorrentes de violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo é comparável (e em
prevenção. alguns casos excede) àquela associada a muitos outros fatores de risco mais conhecidos.
Por exemplo, um estudo que utilizava a metodologia da carga de doenças, em Victoria,
Refletindo a importância global de prevenção da violência sexual e da praticada pelo
Austrália, estimava que, em mulheres da faixa etária de 18 a 44 anos, a violência pelo
parceiro íntimo, o presente documento é uma publicação conjunta da Organização
parceiro íntimo representava 7% da carga total de doenças. Essa violência era um fator de
Mundial da Saúde e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Junte-se,
risco bem maior que outros tradicionalmente incluídos, como alta pressão arterial, uso de
então, a nós na ampliação do número, da qualidade e da eficácia de programas de pre-
tabaco e aumento do peso corporal (Vos et al., 2006).
venção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo em todas as sociedades
do mundo. Isso contribuirá para a melhora em segurança, bem-estar e felicidade pesso- A violência pelo parceiro íntimo produz muito frequentemente impactos negativos no
al de meninas, meninos, mulheres e homens, por toda parte. bem-estar emocional e social de toda a família, com efeitos adversos nas competências
parentais e nos resultados educacionais e laborais. Algumas crianças oriundas de domi-
Etienne Krug
cílios onde existe violência pelo parceiro íntimo podem apresentar altas taxas de proble-
Diretor, Departamento da OMS de Prevenção de e Incapacidade por Violência e Trau-
mas comportamentais e emocionais, os quais podem resultar em maiores dificuldades
matismos
com educação e emprego, muitas vezes levando a abandono escolar precoce, delinquên-
Michael Mbizvo cia juvenil e gravidez precoce (Anda et al., 2001; Dube et al., 2002).
Diretor (interino), Departamento da OMS de Saúde Reprodutiva e Pesquisa
A violência pelo parceiro íntimo tem também um impacto econômico adverso. No Rei-
no Unido, por exemplo, uma análise estimou que o seu custo anual para a economia na
Inglaterra e no País de Gales era de aproximadamente £22,9 bilhões (Walby, 2004).
Outro estudo nos Estados Unidos (Arias & Corso, 2005) olhou para as diferenças de
sexo na utilização de serviços para o tratamento de traumatismos causados pela violên-
cia praticada por um parceiro. Em comparação com os homens:
l As mulheres foram mais propensas a relatarem a violência física praticada pelo par-
ceiro íntimo e que resultou em traumatismos;
l Uma maior proporção de mulheres relatou a procura de serviços de saúde mental em
decorrência de sofrer violência praticada pelo parceiro íntimo, declarando, em média,
mais consultas;
6 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER INTRODUÇÃO
7

l As mulheres eram mais propensas a relatarem a utilização de serviços de emergência, de pública é uma abordagem guiada pela ciência, de base populacional, interdisciplinar
de hospitalização e médicos; e e intersetorial com base no modelo ecológico que enfatiza a prevenção primária.
l As mulheres eram mais propensas a tirarem uma folga do trabalho ou do cuidado de Em vez de se focar em indivíduos, a abordagem da saúde pública objetiva providenciar
crianças ou tarefas domésticas em decorrência de seus traumatismos. o máximo benefício para o maior número de pessoas e providenciar uma melhor aten-
ção e segurança a populações inteiras. A abordagem da saúde pública é interdisciplinar,
Além disso, o custo médio por pessoa para a mulher sofrendo pelo menos uma ocorrên-
inspirando-se em muitas disciplinas, incluindo epidemiologia, sociologia, psicologia,
cia de violência praticada pelo parceiro íntimo foi mais que o dobro daquele do homem.
criminologia, educação e economia. Devido ao fato de que a violência sexual e a prati-
Os custos globais para a sociedade são ainda maiores quando contabilizamos os custos
cada pelo parceiro íntimo englobam problemas multifacetados, a abordagem da saúde
dos indivíduos que não alcançam seu pleno potencial produtivo.
pública enfatiza uma resposta multissetorial. Foi repetidamente comprovado que os
esforços cooperativos de diversos setores como saúde, educação, previdência social e
Abordagem da saúde pública à prevenção justiça criminal são frequentemente necessários para resolver o que são usualmente
presumidos serem puros problemas “criminais” ou “médicos”. A abordagem da saúde
Foram adotadas abordagens e perspectivas diferentes – porém sobrepostas e em grande
pública considera que a violência, em vez de ser o resultado de um único fator, é o resul-
medida complementares – para entender a violência sexual e a praticada pelo parceiro
tado de fatores de risco e causas múltiplos interagindo em quatro de níveis articulados
íntimo. Por exemplo, a perspectiva de gênero enfatiza o patriarcado, as relações de
e hierarquizados de circunscrição (individual, relação estreita/família, comunidade e
poder hierárquico e as construções de masculinidade e feminilidade como propulsores
sociedade como um todo).
predominantes e generalizados do problema. Esses se baseiam no controle das mulheres
e resultam em desigualdade estrutural de gênero. Da perspectiva da saúde pública, as estratégias de prevenção podem ser classificadas em
3 tipos (Dahlberg & Krug, 2002):
A abordagem dos direitos humanos baseia-se nas obrigações dos Estados de respeitar,
proteger e cumprir os direitos humanos e, portanto, de prevenir, erradicar e punir a vio- l Prevenção primária – abordagens que objetivam a prevenção da violência antes
lência contra mulheres e meninas. Ela reconhece a violência contra as mulheres como que ocorra.
uma violação de muitos direitos humanos: os direitos à vida, à liberdade, à autonomia l Prevenção secundária – abordagens que enfocam respostas mais imediatas à vio-
e segurança da pessoa; os direitos de igualdade e não discriminação; o direito de estar lência, como atenção pré-hospitalar, serviços de emergência ou tratamento de infec-
livre de tortura e tratamentos ou punições cruéis, desumanos e degradantes; o direito à ções sexualmente transmitidas decorrentes de estupro.
privacidade; e o direito ao mais alto padrão de saúde possível. Esses direitos estão con-
sagrados em tratados internacionais e regionais e constituições e leis nacionais, que esti- l Prevenção terciária – abordagens que enfocam cuidados de longo prazo relaciona-
pulam as obrigações dos Estados, e incluem mecanismos para a responsabilização dos dos com a violência, como reabilitação e reintegração, e tentam diminuir o trauma ou
Estados. Por exemplo, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discri- reduzir a incapacidade a longo prazo, relacionada com a violência.
minação contra as Mulheres (CEDAW) exige que os países signatários da Convenção Uma abordagem de saúde pública enfatiza a prevenção primária da violência sexual e
tomem todas as medidas adequadas para pôr fim à violência contra as mulheres, assim da praticada pelo parceiro íntimo, isso é, impedir que ela aconteça. Até recentemente,
como a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra essa abordagem foi relativamente negligenciada nessa área, sendo que a maioria dos
a Mulher (Convenção de Belém do Pará, 1994), a única convenção regional abordando recursos foram direcionados à prevenção secundária e terciária. Talvez o elemento
especificamente essa violência. mais crítico de uma abordagem de saúde pública na prevenção seja a capacidade de
A abordagem da justiça criminal vê como sua tarefa principal responder à violência identificar as causas subjacentes em vez de focar nos “sintomas” mais visíveis. Isso
sexual e à praticada pelo parceiro íntimo, depois de sua ocorrência, através do cumpri- permite o desenvolvimento e teste de abordagens eficazes para tratar das causas sub-
mento da lei e garantindo que “a justiça seja feita”. Trata-se de identificar adequada- jacentes e assim melhorar a saúde.
mente os autores da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, determinando A abordagem da saúde pública é um processo sistemático e baseado em evidências
a culpa e garantindo que eles sejam devidamente condenados. Para prevenir e responder envolvendo os seguintes quatro passos:
à violência sexual e à praticada pelo parceiro íntimo, a abordagem da justiça criminal se
1. Definir o problema, conceitual e numericamente, utilizando estatísticas que des-
baseia fundamentalmente na dissuasão, no encarceramento e na punição e reabilitação
crevam com precisão a natureza e a escala da violência, as características dos mais
dos agressores.
afetados, a distribuição geográfica dos episódios e as consequências da exposição a
A abordagem da saúde pública1 adotada no presente documento baseia-se em outras tais violências (Capítulo 1).
abordagens e perspectivas, particularmente a perspectiva do gênero. Conforme descrito
2. Investigar a razão da ocorrência do problema, determinando suas causas e
no Relatório Mundial sobre Violência e Saúde (Krug et al., 2002), a abordagem da saú-
correlatos, os fatores que aumentam ou diminuem o risco de sua ocorrência (fatores
de risco e de proteção) e os fatores que poderiam ser modificáveis através da inter-
A Saúde Pública é “a ciência e arte de prevenir doenças, prolongar a vida e promover a saúde através
1
venção (Capítulo 2).
de esforços organizados e escolhas informadas da sociedade, das organizações públicas e privadas, das
comunidades e dos indivíduos” (Winslow, 1920).
8 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER INTRODUÇÃO
9

3. Explorar maneiras de prevenir o problema, utilizando as supracitadas infor- l melhorar a saúde, o bem-estar e a produtividade de indivíduos, comunidades e socie-
mações e elaborando, monitorando e avaliando rigorosamente a eficácia dos progra- dades;
mas por meio de avaliações de resultados (Capítulos 3 e 4).
l ajudar a reduzir as desigualdades baseadas no gênero, na medida em que a violência
4. Disseminar informações sobre a eficácia dos programas e ampliar a escala de sexual e a praticada pelo parceiro íntimo – ou sua ameaça – contribuem para a manu-
programas com eficácia comprovada. As abordagens de prevenção de violência sexu- tenção dessas desigualdades;
al e da praticada pelo parceiro íntimo, quer dirigidas a indivíduos ou comunidades
l reduzir o comportamento antissocial, ofensivo e outras formas de violências interpes-
inteiras, devem ter sua eficácia devidamente avaliada e seus resultados compartilha-
soais que podem resultar do testemunho de violência praticada pelo parceiro íntimo,
dos (seção 4.6). Esse passo inclui também adaptar os programas aos âmbitos locais e
enquanto criança; e
sujeitá-los a uma rigorosa reavaliação para garantir a sua eficácia no novo contexto.
l reduzir custos e consequências econômicas e sociais, diretos e indiretos, relacionados
com essas formas de violências.
Uma perspectiva ao longo da vida Considerando que – conforme acima indicado – a carga esmagadora da violência sexu-
O presente documento analisa as causas, consequências e a prevenção de violência al e da praticada pelo parceiro íntimo é sofrida pelas mulheres nas mãos dos homens,
sexual e da violência pelo parceiro íntimo ao longo da vida como perspectiva baseada o presente documento foca a violência sexual e aquela praticada pelo parceiro íntimo
no entendimento de que influências cedo na vida podem agir como fatores de risco contra a mulher. Apesar de achados (principalmente dos Estados Unidos), baseados
nos comportamentos relacionados com a saúde ou problemas de saúde em momentos em autorrelatos, mostrarem que homens e mulheres perpetram violência como par-
posteriores (Davey Smith, 2000). Para efeitos de entender e prevenir a violência sexu- ceiros íntimos com taxas aproximadamente iguais (Archer, 2000, 2006; Currie, 1998;
al e a praticada pelo parceiro íntimo, o ciclo da vida é dividido em: primeira infância Strauss, 1998, 2009), as mulheres são super-representadas em termos de óbitos e trau-
(0-4 anos); infância e primeiros anos de adolescência (5-14 anos); adolescência e pri- matismos graves decorrentes da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo,
meiros anos de vida adulta (15-25 anos); vida adulta (26 anos e acima); e todas as ida- bem como nas populações de sala de emergência e clínicas (Anderson, 2005; Archer
des. Cada uma dessas etapas de vida representa uma fase especial no desenvolvimento 2000, 2006; Strauss 1999, 2009). Os achados de simetria sexual dizem essencialmente
de riscos e uma oportunidade única de atingir plenamente fatores de risco específicos. respeito a formas menos graves de violência praticada pelo parceiro íntimo e parecem
Portanto, a adoção dessa perspectiva ‘ao longo da vida’ ajuda a identificar tanto os se aplicar principalmente a países ocidentais de alta renda (Archer, 2006). Além disso,
fatores de risco precoces como os melhores momentos de intervenção utilizando uma a maioria das evidências atualmente disponíveis sobre violência sexual e violência pelo
abordagem de prevenção primária. parceiro íntimo origina-se de estudos sobre como essas violências afetam as mulheres.
Por fim, o escopo do presente documento não inclui as diferenças significativas que
existem na natureza de e nos fatores de risco e estratégias de prevenção para a violência
Qual o propósito do presente documento? perpetradas por mulheres, seja a sexual, seja a praticada pela parceira íntima, e para a
O presente documento provê um marco de planejamento para o desenvolvimento de violência entre homens.
políticas e programas para a prevenção de violência sexual e a praticada pelo parceiro
Evidências sobre a natureza da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo e a
íntimo. Inspirando-se em princípios de saúde pública sólidos e apoiados por evidências
eficácia dos esforços de prevenção foram, onde possível, selecionadas apenas em estudos
disponíveis sobre fatores de risco para essas violências e sobre a eficácia dos programas
de alta qualidade – por exemplo, de análises sistemáticas e estudos em grande escala
de prevenção, ele ressalta de que modo as estratégias de prevenção, adequadas às neces-
com boas metodologias como o uso de ensaios randomizados controlados. No entanto,
sidades, capacidades e recursos de âmbitos específicos, podem ser desenvolvidas. O
a maioria dos estudos de pesquisa de alta qualidade são oriundos dos Estados Unidos
documento enfatiza a importância de integrar procedimentos de avaliação científica em
e as evidências da eficácia podem não ser sempre transferíveis diretamente para um
todas as iniciativas de prevenção para monitorar e melhorar continuamente sua eficácia,
âmbito de baixa renda. As evidências analisadas incluem também exemplos de prática
bem como de informar e ampliar a base global de evidências nessa área.
promissora de países de baixa e média renda (PBMR).
Atualmente, o volume limitado de recursos humanos e financeiros gastos na área da
violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo são direcionados a tratamento, ges-
tão e apoio às vítimas (que muitas vezes procuram os serviços somente mais tarde na Quem deve utilizar o presente documento?
vida) e detenção e prisão dos agressores. Aprender lições desde a perspectiva de saúde O presente documento destina-se a formuladores de políticas, programadores e planeja-
pública significa, contudo, que uma maior ênfase deve ser colocada agora na prevenção dores e órgãos de financiamento na saúde pública e setores relacionados, que objetivam
primária da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. O foco principal desse promover a prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo contra
documento é, portanto, o uso da abordagem de saúde pública na prevenção da violência a mulher. Embora os profissionais da saúde pública sejam um público-alvo-chave, o
sexual e da praticada pelo parceiro íntimo antes que essas ocorram, já que isso tem o documento não pressupõe nenhum conhecimento prévio em princípios de saúde públi-
potencial de: ca. Além do público principal, outras partes interessadas incluem:
10 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER
11

l os que trabalham em outros setores governamentais como a educação, bem-estar da CAPÍTULO 1


criança, assistência social, justiça criminal e departamentos que lidam com a mulher
e a igualdade de gênero;
Natureza, magnitude e
­consequências da violência sexual
l os defensores da prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo,
por exemplo, organizações não governamentais;
l

l
as autoridades locais;
os planejadores ambientais e urbanos; e
e da violência pelo parceiro íntimo
l os pesquisadores.
Pretende-se que os profissionais de saúde e outros profissionais trabalhando nesses seto-
res considerem o presente documento como fonte útil de informação sobre os esforços
do estado da ciência atual para aprimorar e fortalecer a colaboração multissetorial na 1.1 O que é violência sexual e violência pelo parceiro íntimo?
elaboração, oferta e avaliação de programas de prevenção da violência sexual e da vio-
lência praticada pelo parceiro íntimo. O presente documento adota as definições de violência pelo parceiro íntimo e de vio-
lência sexual a partir do Relatório Mundial sobre Violência e Saúde (Heise & Garcia-
-Moreno, 2002; Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). Essas definições (Caixa 1) são
Mensagens-chave agora amplamente utilizadas e providenciam um marco conceitual útil. Contudo, preci-
sam ser operacionalizadas para monitorar o progresso e demonstrar o quanto a magni-
n A violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo pode afetar a todos – embora haja uma forte tude do problema se modifica na resposta a esforços de prevenção específicos. Para mais
tendência de gênero, sendo as mulheres a maioria dos que as vivenciam e os homens, a maioria dos informações sobre a utilização das definições operacionais, ver o Anexo A.
que as perpetram; todos podem ajudar em suas prevenções e trabalhar juntos para impedir a conti-
nuação da violência através das gerações.
n O dano causado por esses tipos de violência pode durar uma vida inteira e ampliar-se através CAIXA 1
das gerações, com efeitos adversos graves na saúde, educação, no trabalho, no crime e no bem-
-estar econômico de indivíduos, famílias, comunidades e sociedades. Definição de termos
n A prevenção primária da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo pode salvar vidas e n Violência do parceiro íntimo – comportamento dentro uma relação íntima que causa dano
dinheiro – o investimento para detê-las antes que ocorram é crucial, já que isso protegerá e promo- físico, sexual ou psicológico, incluindo atos de agressão física, coerção sexual, abuso psicológico e
verá o bem-estar de indivíduos, famílias, comunidades e sociedades. comportamentos controladores.

n O presente documento adota uma abordagem de saúde pública que se inspira em perspectivas Essa definição cobre violência pelos cônjuges e parceiros atuais e passados.
de gênero, dos direitos humanos e da justiça criminal sobre a prevenção. A prevenção baseia-se na n Violência sexual – qualquer ato sexual, tentativas de obter um ato sexual, comentários ou
utilização de dados populacionais para descrever o problema, seu impacto e seus fatores de risco e insinuações sexuais não desejados, atos de tráfico ou dirigidos contra a sexualidade de uma pessoa
de proteção e aproveita a evidência científica sobre estratégias de prevenção comprovadas, promis- usando coerção, por qualquer pessoa, independente de sua relação com a vítima, em qualquer
soras e teoricamente indicadas, ao mesmo tempo em que insta a que todas as políticas e programas contexto, porém não limitado à penetração da vulva ou ânus com o pênis, outra parte do corpo ou
incluam mecanismos internos de monitoramento e avaliação. objeto – contudo, a definição de estupro pode variar em vários países.
n Tomar uma perspectiva ao longo da vida permite identificar fatores de risco precoces e os me-
lhores momentos para intervir, utilizando uma abordagem de prevenção primária. É preciso uma in- Fonte: Heise & Garcia-Moreno (2002); Jewkes, Sen & Garcia-Moreno (2002)
tervenção precoce, que se foque nos grupos etários mais jovens, para se ter uma prevenção primária
bem-sucedida.
A violência pelo parceiro íntimo ocorre principalmente a partir da adolescência e dos
n Utilizar evidências do que já funcionou aumentará a probabilidade de os esforços de prevenção primeiros anos da vida adulta, muito frequentemente no âmbito do casamento ou coa-
serem bem-sucedidos. bitação, e inclui muitas vezes abuso físico, sexual e emocional, bem como comporta-
n A incorporação de avaliações dos resultados nas intervenções de prevenção primária é crucial mentos controladores. A violência sexual pode ocorrer em qualquer idade – incluindo
na geração de evidências adicionais. durante a infância – e pode ser perpetrada por pais, provedores de cuidados, conhecidos
e estranhos, bem como parceiros íntimos. Ambas as formas de violência são na maioria
perpetradas pelos homens contra meninas e mulheres, contudo o abuso sexual de crian-
ças masculinas é também comum. A violência pelo parceiro íntimo pode ser também
perpetrada por mulheres contra homens e pode ocorrer no âmbito de relações com o
mesmo sexo.
12 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 1: NATUREZA, MAGNITUDE E CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO
PARCEIRO ÍNTIMO
13

1.2 Qual é a prevalência da violência sexual e da violência pelo parceiro nas um agressor foi mencionado, normalmente um conhecido ou um estranho. Na Áfri-
íntimo? ca do Sul, uma pesquisa em 1.300 mulheres em três províncias mostrou que o primeiro
episódio de estupro foi perpetrado em 42,5% dos casos por um estranho, 20,8% por um
A prevalência de violência sexual e a prevalência da violência pelo parceiro íntimo
conhecido, 9,4% por alguém da escola, 8,5% por um parente, 7,5% por um parceiro e
podem ser medidas por referência à vitimização e à perpetração. Devido à pequena
11,3% por outros (Jewkes et al., 1999).
proporção de casos registrados em estatísticas coletadas rotineiramente de unidades
de assistência às vítimas e da polícia, tanto a vitimização como a perpetração são mais Informações sobre a Pesquisa Nacional sobre a Violência Contra a Mulher nos Esta-
precisamente medidas por meio de pesquisas populacionais baseadas em autorrelatos dos Unidos (Tjaden & Thoennes, 2006) mostra que a maioria das vítimas de estupro
(o Capítulo 4 do presente documento aborda mais detalhadamente a coleta de dados). nos Estados Unidos conhece seu estuprador. Entre todas as vítimas do sexo feminino
Até o momento, poucas pesquisas populacionais fora dos Estados Unidos mediram a identificadas pela pesquisa, 16,7% foram estupradas por um estranho e 43% de todas as
perpetração da violência pelo parceiro íntimo e da violência sexual (porém, ver Jewkes vítimas do sexo feminino foram estupradas pelo parceiro íntimo atual ou por um antigo
et al. 2009; Philpart et al., 2009), e a comparabilidade de seus achados não é clara. Além parceiro íntimo.
disso, baixas taxas de divulgação podem comprometer os achados de pesquisas popu-
lacionais sobre perpetração. O presente capítulo foca, portanto, os achados de vitimi- TABELA 1
zação, que são mais disponíveis internacionalmente, mais comparáveis e provavelmente Violência física e sexual contra a mulher praticada por um parceiro íntimo
menos sujeitos a baixas taxas de divulgação. Localidade Violência física Violência sexual
Violência física ou sexual
ou ambos
O estudo multipaíses da OMS sobre a saúde da mulher e a violência doméstica contra a Alguma Vez (%) Atual (%) Alguma Vez (%) Atual (%) Alguma Vez (%) Atual (%)
mulher (Garcia-Moreno et al., 2005) providencia uma visão abrangente dos padrões de
Bangladesh Cidade 37,7 19,0 37,4 20,2 53,4 30,2
vitimização pela violência praticada pelo parceiro íntimo e a violência sexual em contex-
Bangladesh Província 41,7 15,8 49,7 24,2 61,7 31,9
tos de baixa e média renda. Mais de 24.000 mulheres entre as idades 15 e 49 anos foram
Brasil Cidade 27,2 8,3 10,1 2,8 28,9 9,3
entrevistadas em áreas rurais e urbanas em 10 países. Seus achados principais foram:
Brasil Província 33,8 12,9 14,3 5,6 36,9 14,8
l entre 1 e 21% das entrevistadas relataram abuso sexual infantil abaixo dos 15 anos de
Etiópia Província 48,7 29,0 58,6 44,4 70,9 53,7
idade;
Japão Cidade 12,9 3,1 6,2 1,3 15,4 3,8
l o abuso físico praticado por um parceiro em algum momento na vida até os 49 anos Namíbia Cidade 30,6 15,9 16,5 9,1 35,9 19,5
de idade foi relatado por 13-61% das entrevistadas em todos os locais do estudo;
Peru Cidade 48,6 16,9 22,5 7,1 51,2 19,2
l a violência sexual praticada por um parceiro em algum momento na vida até os 49 Peru Província 61,0 24,8 46,7 22,9 69,0 34,2
anos de idade foi relatado por 6-59% das entrevistadas; e Samoa 40,5 17,9 19,5 11,5 46,1 22,4
l a violência sexual praticada por um não parceiro a qualquer momento após os 15 anos Sérvia & Montenegro Cidade 22,8 3,2 6,3 1,1 23,7 3,7
e até os 49 anos de idade foi relatada por 0,3-11,5% das entrevistadas. Tailândia Cidade 22,9 7,9 29,9 17,1 41,1 21,3
Tabela 1: Resume as prevalências relatadas de violência pelo parceiro íntimo contra as Tailândia Província 33,8 13,4 28,9 15,6 47,4 22,9
mulheres nos países do estudo. Esses achados indicam que a violência física e sexual Tanzânia Cidade 32,9 14,8 23,0 12,8 41,3 21,5
ocorrem juntas e de modo frequente no contexto de relações de parceiros íntimos e Tanzânia Província 46,7 18,7 30,7 18,3 55,9 29,1
salientam as diferenças na prevalência tanto nos países, como entre eles. As taxas de
violência física e/ou sexual praticada por um parceiro íntimo variou entre 15% no Japão Fonte: Garcia-Moreno et al. (2005)

e aproximadamente 70% na Etiópia e no Peru, com a maioria das localidades relatando


Prevalência na adolescência
taxas entre 29 e 62%.
No estudo multipaíses da OMS sobre a saúde da mulher e a violência doméstica contra a
O estudo também identificou que os níveis relatados de violência sexual praticada por mulher, 3-24% das mulheres relataram que sua primeira experiência sexual foi forçada e
não parceiros a partir de 15 anos de idade variaram entre abaixo de 1% na Etiópia e que para a maioria das respondentes isso ocorreu durante a adolescência (Garcia-Moreno
em Bangladesh (onde a maioria das mulheres são casadas até os 15 anos de idade) até et al., 2005). Em 10 dos 15 contextos investigados, acima de 5% das mulheres relataram
10-12% no Peru, em Samoa e na zona urbana da Tanzânia. Na maioria dos casos, ape- que sua primeira experiência sexual foi forçada, com mais de 14% informando que a pri-
meira relação sexual foi forçada em Bangladesh, na Etiópia, Peru (província) e Tanzânia.
Maus-tratos infantis – refere-se ao mau tratamento físico e emocional, ao abuso sexual, ao abandono
1

e tratamento negligenciado de crianças, bem como sua exploração comercial ou outra forma de exploração. Um estudo nigeriano identificou que 45% das pessoas do sexo feminino e 32% das pes-
Ocorre em muitos locais diferentes. Os perpetradores de maus-tratos infantis podem ser pais e outros membros soas do sexo masculino com faixa etária de 12-21 anos relataram terem tido uma relação
da família; provedores de cuidados; amigos; conhecidos; estranhos; outras figuras de autoridade – como profes- sexual forçada (Slap, 2003). Na África do Sul, uma pesquisa em 280.000 alunos mostrou
sores, soldados, policiais e membros do clero; empregadores; trabalhadores em saúde; e outras crianças (WHO-
ISPCAN, 2006).
que, até os 15 anos de idade, aproximadamente 9% de meninas e meninos relataram sexo
forçado no último ano, aumentando para 13% das pessoas do sexo masculino e 16% das
Para obter esse guia, favor visitar a página: www.who.int/violence_injury_prevention/violence/­activities/
2

child_maltreatment/en/index.html
pessoas do sexo feminino até os 19 anos de idade (CIETafrica, 2002).
14 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 1: NATUREZA, MAGNITUDE E CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO
PARCEIRO ÍNTIMO
15

Revisão de estudos norte-americanos conclui que as prevalências de violência física e sexual ocorrendo nas idades mais jovens – em particular, abuso sexual da criança – pode afetar
ocorrida em namoros1 ao longo da vida, no último ano e atual variam significativamente nos aquele indivíduo e sua família pelo resto de suas vidas. Isso pode levar a consequências
estudos – variando entre 9 a 49% (Glass et al., 2003). Isso torna prematuras as conclusões em muitas esferas da vida, incluindo subdesempenho educacional e econômico, práticas
sobre as prevalências de violência ocorrida em namoros de adolescentes (Hickman, Jaycox sexuais não seguras, capacidade reduzida de vínculo na paternidade, aumento de adoção
& Aronoff, 2004). No campo internacional, são poucos os estudos populacionais sobre vio- de comportamentos de risco para a saúde (como o uso nocivo de álcool e entorpecentes) e
lência no namoro, porém, eles sugerem que isso afeta uma proporção substancial da popu- a perpetração de violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo.
lação jovem. Por exemplo, um estudo sul-africano (Swart, 2002) em 928 pessoas do sexo
Comportamentos de risco para a saúde e desfechos relacionados com a violência
masculino e feminino na faixa etária de 13-23 anos mostrou que 42% das pessoas do sexo
sexual durante a infância e a adolescência
feminino e 38% do sexo masculino relataram terem sido vítimas de violência física ocorrida
no namoro em algum momento em suas vidas. Na Etiópia, quase 16% dos 1.378 estudantes História de abuso sexual durante a infância e a adolescência foi consistentemente comprova-
do sexo masculino relataram ter abusado fisicamente de uma parceira íntima ou uma não da de relacionar-se significativamente com o aumento de riscos em saúde e comportamen-
parceira, e 16,9% relataram ter perpetrado atos de violência sexual (Philpart et al., 2009). tos de riscos para a saúde em pessoas do sexo masculino e feminino (Mangioloi, 2009). A
maioria desses foi identificada como fatores de risco para a vitimização e a perpetração da
Prevalência na vida adulta violência sexual na vida adulta (ver Capítulo 2 para uma discussão completa sobre os fatores
Estudos populacionais de vários países indicam que 10-69% de mulheres na faixa etária de risco e de proteção para a violência sexual e a violência pelo parceiro íntimo). Por exem-
de 15-49 anos sofrem abuso físico praticado pelo parceiro íntimo pelo menos uma vez plo, uma meta-análise da prevalência de abuso sexual da criança e suas consequências para
em sua vida (Heise, Ellsberg & Gottemoeller, 1999; Heise & Garcia-Moreno, 2002) a saúde ao longo da vida mostrou que o abuso sexual da criança contribui significativamente
enquanto 6-47% de mulheres relatam tentativa ou realização de sexo forçado praticada para depressão, uso e dependência de álcool e drogas, síndrome do pânico, síndrome do
pelo parceiro íntimo ao longo de suas vidas (Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). O estresse pós-traumático e tentativas de suicídio (Andrews et al., 2004). Mais recentemente,
estudo multipaíses da OMS sobre a saúde da mulher e a violência doméstica contra a um estudo em 20.000 de alunos na faixa etária 13-15 anos de idade na Namíbia, Suazilân-
mulher identificou que entre 6% e 59% das mulheres relataram sofrer violência sexual dia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue (Brown et al., 2009) identificou que 23% relataram terem
praticada pelo parceiro íntimo ao longo de suas vidas, com os valores para a maioria das sofrido violência sexual (forçados fisicamente a ter uma relação sexual) em algum momento
localidades variando entre 10% e 50% (Garcia-Moreno et al., 2005). de suas vidas. Tais experiências foram moderada e até fortemente relacionadas com saúde
mental precária, ideação suicida, uso de cigarros, mau uso de álcool ou drogas, múltiplos
Pesquisas populacionais em países de alta renda (PAR) mostram que uma proporção sig-
parceiros sexuais e uma história de infecção sexualmente transmitida.
nificativa de homens também relata sofrer abuso físico por parte de uma parceira íntima
(ver, por exemplo, Mirrlees-Black, 1999), embora não com as mesmas consequências físicas Em uma pesquisa na Suazilândia que examinou a prevalência e as circunstâncias da
e emocionais que em mulheres. Estudos que solicitaram mais detalhes sobre a violência violência sexual contra meninas, em torno de 33% das respondentes relataram ter sofri-
praticada pelo parceiro íntimo na relação homem-mulher identificaram geralmente que os do um episódio de violência sexual antes dos 18 anos de idade. A violência sexual foi
homens sofreram violência com menos frequência, eram menos propensos a sofrerem danos associada a um aumento significativo de probabilidade de ter se sentido deprimida
pela violência perpetrada pelas mulheres e não relataram viver com medo de sua parceira. alguma vez, de ter pensamentos suicidas, tentativas de suicídio, gravidez não desejada,
Além disso, uma proporção da violência sofrida pelos parceiros íntimos pode ser o resultado complicações de gravidez ou abortos espontâneos, doenças sexualmente transmitidas,
direto da tentativa por parte das mulheres de se defenderem (Williams et al., 2008). dificuldades em dormir e consumo de álcool. A violência sexual durante a infância não
foi, contudo, associada a um aumento na probabilidade das mulheres relatarem violên-
Enquanto a maioria das pesquisas focou na violência praticada pelo parceiro íntimo nas
cia sexual na faixa de 18-24 anos de idade (Reza et al., 2009).
relações heterossexuais, estudos mostraram que ela ocorre nas relações entre o mesmo
sexo. Alguns achados sugerem que as taxas de violência praticada pelo parceiro íntimo Além disso, a iniciação sexual forçada, a violência praticada pelo parceiro íntimo e/ou
nas relações de mesmo sexo são similares àquelas das relações heterossexuais (Shipway, a violência sexual parecem aumentar o risco de gravidez durante os primeiros anos da
2004), enquanto outros indicam taxas mais altas de violência em relações de mesmo adolescência. Constatou-se, na África do Sul, que as adolescentes grávidas eram duas
sexo. Isso pode ser causado por níveis mais altos de estresse decorrentes de preconceito vezes mais propensas a terem um histórico de iniciação sexual forçada que adolescentes
social e altas taxas de uso nocivo de álcool e substâncias relatadas nas relações de mesmo não grávidas (Jewkes et al., 2001). Achados similares foram também relatados nos Esta-
sexo. Além disso, muitas pessoas que estão em relações violentas de mesmo sexo podem dos Unidos (Silverman, Raj & Clements, 2004).
não buscar ajuda por medo de serem discriminadas (Shipway, 2004).
Comportamentos de risco para a saúde e resultados associados à violência prati-
1.3 Quais são as consequências da violência sexual e da violência pelo cada pelo parceiro íntimo e/ou violência sexual durante a vida adulta
parceiro íntimo?1 A violência sexual e aquela praticada pelo parceiro íntimo contra a mulher na vida adulta
A violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo têm um impacto significativo nos podem levar diretamente a traumatismo grave, incapacidade ou óbito. Podem também
indivíduos, nas famílias, comunidades e na sociedade. Em nível individual, a violência
A maioria dos estudos que informam as seções seguintes são transversais, e é difícil ter certeza sobre a
1

Violência no namoro refere-se à ocorrência de violência física e sexual no contexto de um “relacionamento


1
natureza e direção da interação entre a violência praticada pelo parceiro íntimo e a violência sexual e
de namoro”. O termo “relacionamento de namoro” não se refere, na Europa e nos Estados Unidos, nem seus comportamentos de risco para a saúde e desfechos associados. Por exemplo, o aumento de consu-
a casamento e nem a uma relação de coabitação de longo prazo que ocorra durante a adolescência ou nos mo de bebida alcoólica aumenta o risco de sofrer ou perpetrar violência sexual – mas ao mesmo tempo
primeiros anos da vida adulta. Varia de primeiros encontros casuais a parcerias sexuais de maior prazo. ter anteriormente sofrido violência sexual aumenta potencialmente o risco de beber.
Na Ásia e outras partes do mundo, onde o casamento frequentemente ocorre em idade mais jovem, o
fenômeno de violência no namoro é rara e a violência praticada pelo parceiro íntimo começa mais cedo.
16 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 1: NATUREZA, MAGNITUDE E CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO
PARCEIRO ÍNTIMO
17

levar indiretamente a uma variedade de problemas de saúde, como mudanças fisiológicas são predicadas sobre o controle das mulheres e que prezam a força e dureza masculina
induzidas pelo estresse, uso de substâncias e falta de controle de fertilidade e autonomia (Jewkes & Morrell, 2010). Esses ideais se traduzem imediatamente em comportamentos
pessoal como se observa em relações abusivas. Comparadas a seus pares que não sofreram sexualmente de risco, predação sexual e outros atos de violência contra a mulher, bem
abusos, as mulheres que sofreram abusos têm taxas mais altas de gravidez não desejada e como em comportamentos que aumentam o risco de contrair o vírus HIV. A exposi-
abortos, infecções sexualmente transmitidas, incluindo HIV, e transtornos mentais, como ção à violência, incluindo o comportamento controlador do parceiro, está associada a
depressão, ansiedade e transtornos do sono e alimentares. Quando essa violência ocorre um comportamento sexual de alto risco (como parceiros múltiplos e simultâneos); um
durante a gravidez, é associada a eventos adversos de gravidez – como abortos espon- número maior de parceiros; níveis mais baixos de uso de preservativos; aumento de
tâneos, bebês prematuros e natimortos (Ahmed, Koenig & Stephenson, 2006; Asling- uso de substâncias e de sexo em estado de intoxicação; e aumento de sexo transacional
-Monemi, Tabassum & Persson, 2008; Boy & Salihu, 2004; Campbell, 2002; Campbell e prática da troca de sexo por dinheiro. As evidências emergentes na Índia e na África
et al., 2008; Dunkle et al., 2004; Plichta & Falik, 2001; e Vos et al., 2006). do Sul indicam que os homens que perpetram a violência são mais propensos a serem
infectados pelo vírus HIV (Decker et al., 2009; Jewkes et al., 2009).
A violência praticada pelo parceiro íntimo afeta não somente a mulher envolvida, como
pode provocar danos na saúde e no bem-estar das crianças na família. Isso se deve, em 1.4 Mensagens-chave
parte, ao aumento das taxas de depressão e estresse traumático em mães que sofreram
abusos, bem como aos efeitos destrutivos da violência praticada pelo parceiro íntimo na Prevalência
qualidade de suas capacidades de afeto e paternidade. Uma análise de estudos que exa- n A prevalência de violência praticada pelo parceiro íntimo notificada por meninas e mulheres
minam a presença de maus-tratos infantis e de violência praticada pelo parceiro íntimo varia marcadamente entre e nos países, com tendência de taxas maiores em países de alta renda.
mostrou que ambos ocorreram durante o mesmo período em 45-70% dos estudos (Holt, n Em algumas partes do mundo, particularmente onde os jovens podem ter relações fora do
Buckley & Whelan, 2008). Na maioria desses casos, uma criança testemunhando a vio- casamento, é frequente a ocorrência de “violência no namoro”.
n A violência sexual afeta as crianças de ambos os sexos, particularmente as mulheres.
lência praticada pelo parceiro íntimo pareceu preceder os maus-tratos subsequentes de
crianças por membros da família (McGuigan & Pratt, 2001). Estudos mostraram que Consequências
as crianças de mães que sofreram abusos têm taxas mais baixas de imunidade e taxas n A violência sexual – particularmente durante a infância – está associada a um aumento de com-
mais altas de doenças diarreicas, e são mais propensas a falecer antes dos cincos anos de portamentos de risco para a saúde – incluindo tabagismo, uso nocivo de drogas e álcool e compor-
idade (Asling-Monemi, Tabassum & Persson, 2008; Silverman et al., 2009). tamentos sexuais de risco.
n O abuso sexual e experiências adversas durante a infância podem causar desigualdades em
Achados de uma série de análises mostram que o fato de testemunhar a violência pra- saúde por toda a vida através do aumento de comportamentos de risco.
ticada pelo parceiro íntimo pode também afetar negativamente o desenvolvimento n A violência praticada pelo parceiro íntimo prejudica a saúde física e mental das mulheres e suas
normal de crianças no seio da família. Por exemplo, uma meta-análise concluiu que crianças – mulheres que sofreram violência praticada pelo parceiro íntimo são mais propensas a
a exposição das crianças à violência entre os pais é significativamente correlata com apresentar um quadro precário ou muito precário de saúde, de sofrimento emocional e de tentativas
problemas infantis nas áreas do funcionamento social, emocional, comportamental, de suicídio; e suas crianças tendem a ter desfechos em saúde e educacionais mais precários.
cognitivo da saúde geral (Kitzmann et al., 2003). Contudo, nem todas as crianças são n A violência praticada pelo parceiro íntimo durante a gravidez aumenta a probabilidade de abor-
afetadas de maneira similar, e uma porcentagem significativa de crianças em algumas to, aborto espontâneo, natimortos, bebês prematuros e baixo peso ao nascer.
análises de estudos mostrou que não havia nenhum problema de desenvolvimento ape- n A violência pelo parceiro íntimo e a violência sexual são associadas a um aumento da vulnerabi-
sar de presenciar violência repetida (Edelson, 1999; Wolfe et al., 2003). Isso sugere que lidade ao vírus HIV.
cada criança vivenciará a violência praticada pelo parceiro íntimo de uma forma única, n As crianças que crescem em famílias nas quais existe violência pelo parceiro íntimo sofrem uma
série de distúrbios comportamentais e emocionais que podem estar associadas à perpetração ou à
dependendo de uma série de fatores. É muito provável que esses fatores incluam a possi-
vivência de violência mais tarde na vida.
bilidade de ter havido ou não abuso físico da criança, o sexo e a idade da criança, o tem-
po decorrido desde a exposição à violência e a relação da criança com os adultos no lar.
Estudos de vários países identificaram que as mulheres soropositivas relatam taxas mais
altas de violência praticada pelo parceiro íntimo (Dunkle et al., 2004; Maman et al., 2000)
e há cada vez mais evidências de que o risco de HIV está vinculado à exposição ao longo
de toda a vida e de forma complexa à violência (Campbell et al., 2008). O estupro é a causa
potencial de infecção direta pelo vírus HIV para algumas mulheres, no entanto, até mesmo
em contextos de alta prevalência, o baixo risco de transmissão do vírus HIV durante um
único ato sexual torna improvável que o estupro resulte em uma proporção substancial de
casos de HIV em nível de população. A violência e a desigualdade de gênero são mais pro-
pensos a ampliar o risco de HIV através de vias indiretas, incluindo relações cronicamente
abusivas em que as mulheres são constantemente expostas ao mesmo indivíduo e são inca-
pazes de negociar o uso de preservativos para o sexo seguro (OMS/UNAIDS, 2010).
A pesquisa qualitativa sugere que as interseções do vírus HIV/Aids, da desigualdade de
gênero e a violência baseada em gênero podem envolver noções de masculinidade que
18 CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
19

CAPÍTULO 2 O modelo ecológico organiza os fatores de risco de acordo com quatro níveis de influ-
ência, como segue:
Fatores de risco e de proteção da l Individual: inclui fatores biológicos e de histórico pessoal que podem aumentar a

violência sexual e da violência


probabilidade de um indivíduo se tornar uma vítima ou um perpetrador de violência.
l Relacional: inclui fatores que aumentam o risco resultantes de relacionamentos com

pelo parceiro íntimo pares, parceiros íntimos e membros familiares. Esses são o círculo social mais próxi-
mo à pessoa e podem moldar seu comportamento e os tipos de experiências.
l Comunitário: refere-se a contextos comunitários, nos quais estão contidas relações
sociais – como as escolas, os locais de trabalho e as vizinhanças – e busca identificar
as características desses ambientes que são associadas a pessoas que se tornam víti-
mas ou perpetradores de violência sexual e violência pelo parceiro íntimo.
2.1 O modelo ecológico da violência l Social: inclui os fatores mais amplos e em nível macrossocial que influenciam a vio-
Conforme observado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, 2004) dos lência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo, tais como desigualdade de gênero,
Estados Unidos, é crucial entender as circunstâncias e os fatores de risco e de proteção sistemas de crenças religiosas ou culturais, normas sociais e políticas econômicas ou
que influenciam a ocorrência da violência sexual para poder preveni-la. Vários modelos sociais que criam ou sustentam lacunas e tensões entre grupos de pessoas.
teóricos tentam descrever os fatores de risco e de proteção da violência sexual e da pratica- A construção desse tipo de modelo oferece um marco para o entendimento da interação
da pelo parceiro íntimo, inclusive os que se baseiam em conceitos biológicos, psicológicos, complexa de todos os fatores que influenciam a violência sexual e violência pelo parceiro
culturais e de igualdade de gênero. Cada um desses modelos contribui para um melhor íntimo e pode, portanto, providenciar pontos-chave para a prevenção e a intervenção
entendimento da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo e ajuda a construir (Dahlberg & Krug, 2002).
programas que objetivam a redução de fatores de risco modificáveis e o fortalecimento dos
fatores de proteção. Os fatores de risco aumentam a probabilidade de alguém se tornar O modelo ecológico sustenta também uma abordagem de saúde pública abrangente, a
a vítima ou o perpetrador de violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, e sua qual não somente trata do risco de um indivíduo se tornar a vítima ou o perpetrador de
redução deve, portanto, ser um objetivo-chave dos esforços de prevenção, bem como um violência, como também das normas, das crenças e dos sistemas sociais e econômicos
conceito integral nos esforços de monitoramento e avaliação de programas. Da mesma que criam as condições favoráveis para a ocorrência da violência sexual e da praticada
forma que os fatores de proteção, que são uma margem de segurança contra o risco de pelo parceiro íntimo. Na essência da abordagem está a forte ênfase sobre as interações
alguém se tornar uma vítima e/ou perpetrador de violência sexual e violência pelo par- múltiplas e dinâmicas entre os fatores de risco nos e entre os seus vários níveis. Por
ceiro íntimo, podem precisar de promoção – inclusive através de intervenções estruturais exemplo, as desigualdades estruturais entre homem e mulher, as construções sociais
ou de outra natureza para alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento da mulher. da masculinidade e as normas de gênero são fatores de risco para violência sexual e a
praticada pelo parceiro íntimo que poderiam se situar primariamente no nível social do
No presente documento, a OMS escolheu o uso do “modelo ecológico” (Figura 1) con- modelo. Contudo, eles também se manifestam claramente em outros níveis – por exem-
forme apresentado no relatório mundial sobre violência e saúde (Dahlberg & Krug, plo, no comunitário e no relacional – e são mais propensos a serem vinculados a outros
2002) porque permite a inclusão de fatores de risco e de proteção a partir de vários fatores de risco, como o fato de presenciar violência entre os pais e o abuso de álcool por
domínios de influência. Portanto, existindo evidências de modelos psicológicos sobre parte dos perpetradores do sexo masculino.
fatores de risco individuais e de modelos de gênero sobre fatores de risco sociais, elas
poderão ser incorporadas no mesmo modelo ecológico. A utilização do modelo ecológico ajuda também a promover o desenvolvimento de polí-
ticas e programas intersetoriais de prevenção ao ressaltar os vínculos e as interações
FIGURA 1
entre os vários níveis e fatores. Como resultado, ao se elaborar abordagens abrangentes
O modelo ecológico
para prevenir a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo, a incorporação de
estratégias eficazes nos principais programas vigentes, tratando essas questões, aumen-
tará sua relevância e sustentabilidade.
A percepção de como esses fatores de riscos se reúnem e influenciam padrões de com-
portamento em todo o curso da vida providencia insights nos pontos-chave em que as
Social Comunitário Relacional Individual intervenções deveriam ser implementadas para quebrar o ciclo (Capítulo 3).
2.2 Identificação dos fatores de risco
A identificação de fatores de risco é de suma importância para informar estratégias e
programas que visam melhorias ou proteção contra riscos – e até mesmo orientar a polí-
tica de prevenção. As causas de violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo são
melhor investigadas através do uso de estudos longitudinais. Esses estudos localizam
20 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
21

pessoas ao longo do tempo para documentar suas experiências nesses tipos de violência TABELA 2
e como essas experiências se relacionam com outros fatores em várias etapas de suas Fatores de risco para violência praticada pelo parceiro e para violência sexual
vidas. Infelizmente, poucos estudos desse tipo existem – então a maioria das informa- Perpetração pelo homem Vitimização da mulher
ções nessa seção origina-se de estudos populacionais transversais. Esses conseguem
NÍVEL INDIVIDUAL
providenciar um retrato fiel da frequência com que algo ocorre e seus fatores associados,
DEMOGRAFIA DEMOGRAFIA
porém, normalmente não conseguem informar se a associação observada de fato “cau- • Baixa renda • Juventude
sou” certo resultado. • Baixo nível de escolaridade • Baixo nível de escolaridade
• Estado civil: separada/divorciada
Esse capítulo se inspira em duas fontes principais de informação, a primeira são os
EXPOSIÇÃO A MAUS-TRATOS INFANTIS EXPOSIÇÃO A MAUS-TRATOS INFANTIS
capítulos do Relatório Mundial sobre Violência e Saúde referentes à violência praticada • Abuso sexual • Violência intraparental
pelo parceiro íntimo (Heise & Garcia-Moreno, 2002) e à violência sexual (Jewkes, Sen • Violência intraparental
& Garcia-Moreno, 2002), que analisaram a literatura até o ano de 2002; a segunda é TRANSTORNO MENTAL TRANSTORNO MENTAL
uma análise sistemática da literatura revisada por pares e mais recente, sobre os fatores • Personalidade antissocial • Depressão
de risco e de proteção associados à perpetração ou à experiência de violência praticada USO DE SUBSTÂNCIAS USO DE SUBSTÂNCIAS
pelo parceiro íntimo, de violência sexual ou ambos. • Uso nocivo de álcool • Uso nocivo de álcool
• Uso ilícito de drogas • Uso ilícito de drogas
A maioria da literatura provém de países de alta renda (PAR), e não fica claro se os fato- • Aceitação da violência • Aceitação da violência
res identificados nos PAR também se aplicam a países de baixa e média renda (PBMR)
NÍVEL RELACIONAL
devido a diferenças nas economias, ecologias, histórias, políticas e culturas. Qualquer
• Parceiros múltiplos/infidelidade
estudo inicial dos PBMR identificando fatores associados à violência praticada pelo • Baixa resistência à pressão de pares
parceiro íntimo e/ou violência sexual foi também incluído nessa análise de literatura
NÍVEL COMUNITÁRIO
mais recente.
• Sanções comunitárias fracas • Sanções comunitárias fracas
Como resultado desse processo, mais de 50 fatores de risco foram identificados para a • Pobreza • Pobreza
violência praticada pelo parceiro íntimo e/ou violência sexual – principalmente no nível NÍVEL SOCIAL
individual e relacional/familiar. A escassez de fatores de risco que foram identificados • Normas de gênero e sociais tradicionais que • Normas de gênero e sociais tradicionais que
nos níveis comunitário e social deve-se provavelmente mais à falta de pesquisas sobre toleram a violência toleram a violência
fatores de risco relativos a esses níveis do que à verdadeira ausência de fatores de risco.
15 anos de idade, embora isso possa refletir certo viés de relato. Por exemplo, algumas
2.3 Fatores de risco relacionados com a violência pelo parceiro íntimo e a
formas de violência sexual são estreitamente associadas às idades mais jovens, em par-
violência sexual
ticular a violência que ocorre nas escolas e colégios e o tráfico de mulheres para explo-
A Tabela 2 lista os fatores de risco identificados para a perpetração por parte dos homens ração sexual. Já para a perpetração de violência sexual pelos homens, é menos claro
e a vivência por parte das mulheres de violência sexual e de violência pelo parceiro ínti- que a juventude seja um fator de risco. Na África do Sul, achados sugeriram um efeito
mo. Os fatores de risco estão organizados de acordo com os níveis individual, relacional, geracional, em que homens na faixa etária de 20-40 anos eram mais propensos a terem
comunitário e social do modelo ecológico mostrado na Figura 1. Alguns desses fatores cometido estupro que outros homens mais jovens ou mais velhos (Jewkes et al., 2009).
de risco podem ser modificados (por exemplo, o uso nocivo de álcool) enquanto que
outros, não (por exemplo, sexo e idade). Os fatores que têm o mais forte efeito ou são Educação
consistentemente identificados nos estudos são ressaltados em negrito na tabela. A relação entre o nível de escolaridade individual e a violência praticada pelo parceiro íntimo
e a violência sexual é complexa. Contudo, nos estudos, o baixo nível de escolaridade é o fator
mais consistente relacionado com a perpetração e a experiência da violência sexual prati-
Fatores do nível individual
cada pelo parceiro íntimo e a da violência sexual (Ackerson et al., 2008; Boy & Kulczycki,
Juventude 2008; Boyle et al., 2009; Brown et al., 2006; Chan, 2009; Dalal, Rahman & Jansson, 2009;
A juventude parece ser um fator de risco tanto para ser um perpetrador ou uma vítima Gage, 2006; Jeyaseelan et al., 2004; Johnson & Das, 2009; Koenig et al., 2006; Martin, Taft
de violência pelo parceiro íntimo, bem como de violência sexual. A juventude foi con- & Resick, 2007; Tang & Lai, 2008). Por exemplo, mulheres que relatam baixos níveis de
sistentemente identificada como fator de risco para homens cometerem violência contra instrução (fundamental ou nenhum) têm de 2 a 5 vezes mais risco de sofrerem violência
parceiras (Black et al., 2001) e para mulheres sofrerem violência praticada por parceiro praticada pelo parceiro íntimo que mulheres com alto nível de escolaridade (Ackerson et
íntimo (Harwell & Spence, 2000; Romans et al., 2007; Vest et al., 2002). Observou- al., 2008; Boy & Kulczycki, 2008; Dalal, Rahman & Jansson, 2009; Koenig et al., 2004;
-se que as mulheres jovens têm mais risco de sofrer estupro que mulheres mais velhas Martin, Taft & Resick, 2007; Tang & Lai, 2008). Similarmente, estudos identificaram que
(Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). De acordo com dados de sistemas da justiça e pessoas do sexo masculino com baixo nível de escolaridade eram de 1,2 a 4,1 vezes mais
centros para crises por estupros no Chile, Malásia, México, Papua Nova Guiné, Peru propensas a perpetrar violência praticada pelo parceiro íntimo que homens com um nível
e Estados Unidos, entre um a dois terços de todas as vítimas de agressão sexual têm até mais alto de instrução (Ackerson et al., 2008; Dalal, Rahman & Jansson, 2009).
22 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
23

Contudo, seria prematuro presumir que a relação entre o nível de escolaridade e a Uso nocivo de álcool
violência praticada pelo parceiro íntimo seja a mesma, independentemente do tipo de
O uso nocivo de álcool e uso ilícito de drogas são outros fatores de risco comumente citados
violência praticada pelo parceiro íntimo em questão. Em contraste com os estudos men-
associados à experiência e à perpetração de violência praticada pelo parceiro íntimo e de
cionados acima, que incluíram a violência física em sua definição de violência pelo par-
violência sexual (ver, por exemplo, Graham et al., 2008). Embora vários estudos tenham
ceiro íntimo, Flake (2005) identificou que as mulheres com um alto nível de instrução
encontrado uma associação entre a violência praticada pelo parceiro íntimo ou a violência
estavam em grande risco de sofrer violência sexual praticada pelo parceiro íntimo. Mais
sexual e o uso ilícito de drogas, a maioria da literatura focou-se na relação entre o uso nocivo
pesquisas são necessárias sobre como o nível de escolaridade está associado a vários
de álcool e a violência praticada pelo parceiro íntimo ou a violência sexual. O uso nocivo de
tipos de violência praticada pelo parceiro íntimo.
álcool foi fortemente associado à perpetração da violência praticada pelo parceiro íntimo em
Apesar da escassez de evidências, foi também indicada uma relação entre o nível mais várias análises, que incluíram estudos de PBMR (Abrahams et al., 2004; Dalal, Rahman &
baixo de instrução de pessoas do sexo feminino e sua experiência de violência sexual. Jansson, 2009; Flake, 2005; Gage, 2006; Gil-Gonzalez et al., 2006; Johnson & Das, 2009;
Um estudo (Brown et al., 2006) mostrou que mulheres com ensino fundamental ou Koenig et al., 2004; Marshall, Panuzio & Taft, 2005; Martin, Taft & Resick, 2007; Ramiro,
nenhum nível de educação eram duas vezes mais propensas a sofrer violência praticada Hassan & Peedicayil, 2004; Tang & Lai, 2008; Testa, 2004). Uma análise sistemática reu-
por um não parceiro, em comparação com mulheres que possuem o nível de ensino niu os desfechos de 11 estudos e identificou que o uso nocivo de álcool era associado a um
médio ou superior. aumento, em 4,6 vezes, do risco de exposição à violência praticada pelo parceiro íntimo, em
comparação com o uso leve ou não uso de álcool (Gil-Gonzalez et al., 2006). Duas análises
Exposição a maus-tratos infantis narrativas concluíram que existe uma associação entre o uso nocivo de álcool e a perpetra-
ção de violência sexual (Abbey et al., 2004; Testa, 2004). Estudos intersetoriais de vários
Um fator consistentemente citado nos estudos como sendo um fator de risco tanto para PBMR relatam que homens praticando o mau uso de álcool são de 1,6 a 4,8 vezes mais
a experiência e a perpetração de violência praticada pelo parceiro íntimo quanto para propensos a perpetrarem violência praticada pelo parceiro íntimo (Abrahams et al., 2004;
a violência sexual, foi maus-tratos infantis. Uma análise sistemática bem conduzida Dalal, Rahman & Jansson, 2009; Flake, 2005; Gage, 2006; Johnson & Das, 2009; Koenig
resumiu evidências de 10 estudos para mostrar que a exposição à violência durante a et al., 2004; Ramiro, Hassan & Peedicayil, 2004).
infância aumentava, de 3 a 4 vezes, a probabilidade da perpetração de violência pratica-
da pelo parceiro íntimo entre os homens em comparação com homens sem exposição à Contudo, esses achados devem ser interpretados com cautela, uma vez que as evidências
violência durante a infância (Gil-Gonzalez et al., 2007). para a relação causal entre o uso nocivo de álcool e a violência é fraco (Gil-Gonzalez et al.,
2006). O papel do uso de álcool na experiência de violência praticada pelo parceiro íntimo
Outra meta-análise identificou que a exposição a qualquer tipo de abuso sexual durante e de violência sexual é menos claro. Várias análises narrativas observaram uma relação
a infância (porém, não tão somente o abuso físico) aumentava, em mais de três vezes, fraca ou nenhuma relação entre o uso de álcool e a experiência de violência praticada pelo
a perpetração de violência contra as mulheres por parte do sexo masculino (Jesper- parceiro íntimo ou de violência sexual (Abbey et al., 2004; Gutierres & Van Puymbroeck,
sen, Lalumiere & Seto, 2009). Uma série de estudos iniciais nos PBMR observou que 2006; Söchting, Fairbrother & Koch, 2004; Tang & Lai, 2008; Testa, 2004).
a exposição à violência durante a infância (particularmente, violência intraparental e
abuso sexual) era positivamente associada à experiência, pelas mulheres, de violên- Aceitação da violência
cia praticada pelo parceiro íntimo e de violência sexual (Martin, Taft & Resick, 2007; As atitudes de homens e mulheres diante da violência são fortemente correlatas à exposi-
Söchting, Fairbrother & Koch, 2004; Vung & Krantz, 2009). Essa exposição à violência ção à violência praticada pelo parceiro e a violência sexual – ambas em termos de vitimi-
durante a infância pode aumentar a probabilidade de aceitação da violência como víti- zação e de perpetração. Análises e estudos, incluindo vários de PBMR, identificaram uma
ma e perpetrador em parcerias futuras e situações de alto risco. forte associação entre as atitudes diante da violência e a exposição à violência praticada
pelo parceiro íntimo ou a violência sexual (Abrahams et al., 2004;Boyle et al., 2009; Gage,
Personalidade antissocial 2006; Jewkes et al., 2006; Johnson & Das, 2009; Tang & Lai, 2008). Os homens que acre-
ditam que é aceitável espancar suas esposas têm duas vezes mais risco de serem perpetra-
Vários estudos examinaram as características da personalidade e sua relação com a dores de violência praticada pelo parceiro íntimo (Abramson, 2004). Esse risco aumentou
perpetração de violência praticada pelo parceiro íntimo e de violência sexual. Três aná- com o aumento da aceitação da violência. Os homens que acreditam que é sempre aceitá-
lises narrativas (duas de países de alta renda e outra de um país de renda média) rela- vel espancar suas esposas têm quatro vezes mais risco de perpetrarem violência praticada
taram uma associação consistente entre os transtornos de personalidade antissocial e pelo parceiro íntimo, em comparação com as duas vezes dos que acreditam ser às vezes
características relacionadas (como impulsividade e falta de empatia) e a perpetração de aceitável espancar suas esposas (Johnson & Das, 2009). A aceitação da violência por parte
violência praticada pelo parceiro íntimo ou violência sexual. Esses estudos sugerem que das mulheres é também associada positivamente à experiência de violência praticada pelo
os perpetradores com essas características são mais propensos a ignorarem as normas parceiro íntimo (Boyle et al., 2009; Uthman, Lawoko & Moradi, 2009). A aceitação da
sociais e tem tendências de se tornarem agressivos e impulsivos, resultando na perpe- violência praticada pelo parceiro íntimo por parte de homens e mulheres, as atitudes dos
tração de violência praticada pelo parceiro íntimo e de violência sexual (Abbey et al., homens diante das mulheres – considerando-as inferiores, os papéis restritivos de gênero e
2004; Chan, 2009; Marshall, Panuzio & Taft, 2005). Mais estudos são necessários para os valores patriarcais dominantes podem todos perpetuar a ocorrência de violência. Essas
apoiar empiricamente a relação causal entre os transtornos de personalidade e a perpe- atitudes podem ser transferidas de geração em geração através dos processos de aprendi-
tração de violência praticada pelo parceiro íntimo e/ou de violência sexual. zado, a mídia, as escolas e o fato de presenciar e vivenciar a violência ao longo da vida – e
podem, portanto, ser modificadas.
24 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
25

Fatores do nível relacional Pobreza


Parceiros múltiplos Estudos oriundos de uma ampla gama de âmbitos mostram que, embora a violência prati-
Homens que relatam parcerias sexuais múltiplas são também mais propensos a perpetra- cada pelo parceiro íntimo e a violência sexual abranjam todos os grupos socioeconômicos,
rem violência como parceiro íntimo e violência sexual. Parcerias múltiplas e infidelidade as mulheres vivendo na pobreza são afetadas desproporcionalmente (Heise & Garcia-
(conforme percebidas pelas parceiras) foram também associadas tanto à perpetração como -Moreno, 2002; Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). Não fica clara a razão pela qual
à experiência de violência praticada pelo parceiro íntimo (Abrahams et al., 2004; Chan, a pobreza aumenta o risco dessas formas de violência – se é por causa da baixa renda em
2009; Dalal, Rahman & Jansson, 2009; Jewkes et al., 2006; Johnson & Das, 2009; Koenig si ou por outros fatores relacionados com a pobreza, como superpopulação ou desespero.
et al., 2004; Tang & Lai, 2008; Vung & Krantz, 2009). Todos os estudos observaram uma Para alguns homens, viver na pobreza pode produzir estresse, frustração e um sentido
forte relação entre a infidelidade percebida pelas mulheres ou as parcerias sexuais múlti- de inadequação de ter fracassado em seu papel cultural esperado de provedor. A pobreza
plas de seus parceiros e a violência praticada pelo parceiro íntimo ou a violência sexual. As pode providenciar material pronto para desavenças maritais ou dificultar o afastamen-
estimativas variaram entre 1,5 vezes (Índia) até 17,1 vezes (África do Sul) maior risco de to das mulheres de relacionamentos violentos ou insatisfatórios. Sejam quais forem os
perpetração de violência praticada pelo parceiro íntimo e de violência sexual, e 1,5 vezes mecanismos precisos, é provável que a pobreza funcione como “marcador” para uma
(Uganda) até 2,4 vezes (Vietnã) maior risco de sofrer violência praticada pelo parceiro ínti- variedade de condições sociais que se combinam para aumentar os riscos enfrentados
mo (Jewkes et al., 2006; Koenig et al., 2004; Vung & Krantz, 2009). Acredita-se que esses pelas mulheres. Mulheres e meninas pobres podem estar mais em situação de risco de
homens podem buscar parcerias sexuais múltiplas como fonte de status e autoestima, rela- estupro no decorrer de suas tarefas cotidianas que aquelas que têm uma melhor condição
cionando-se impessoalmente com suas parceiras e sem o devido vínculo emocional (Jewkes de vida, por exemplo, quando voltam tarde à noite do trabalho para o lar ou trabalham
et al., 2006). Também, esses homens são mais propensos a adotarem comportamentos de nos campos ou coletam madeira sozinhas. As crianças de mulheres pobres podem ter um
risco nas parcerias sexuais múltiplas ao recusarem o uso de preservativos – assim expondo- nível menor de supervisão quando não estão na escola, uma vez que suas mães podem
-se e expondo seus parceiros a um maior risco de infecção pelo vírus HIV. Na maioria das estar trabalhando e sem condições para pagar creches. Mesmo as crianças podem estar
localidades cobertas pelo estudo multipaíses da OMS sobre a saúde da mulher e a violência trabalhando e, portanto, estar vulneráveis à exploração sexual. A pobreza força muitas
doméstica contra as mulheres (Garcia-Moreno et al., 2005), as mulheres cujo parceiro ou mulheres e meninas a ocupações que possuem um risco relativamente alto de violência
parceiro mais recente era violento, eram mais propensas a relatarem pelo menos uma recusa sexual, especialmente no sexo como profissão. Cria também pressões enormes de encon-
de usar preservativos que mulheres em relações não violentas. trar ou manter empregos, seguir atividades comerciais e, em caso de estarem estudando,
obter boas notas – todas tornando-as vulneráveis à coerção sexual pelos que lhes podem
Fatores do nível comunitário prometer essas coisas (Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002).
Sanções comunitárias fracas contra a violência pelo parceiro íntimo e a violência Fatores do nível social
sexual
Normas de gênero e sociais tradicionais que toleram a violência
O Relatório Mundial sobre Violência e Saúde observa que os níveis globais de abuso na
comunidade dependem da resposta dessa comunidade à violência praticada pelo par- Pesquisas em diferentes culturas revelaram uma série de fatores sociais e culturais que
ceiro (Heise & Garcia-Moreno, 2002). Em um estudo comparativo de 16 sociedades podem dar origem a níveis mais altos de violência. Por exemplo, Levinson (1989) uti-
com altas e baixas taxas de violência praticada pelo parceiro íntimo, Counts, Brown & lizou a análise estatística de dados etnográficos codificados, de 90 sociedades, para
Campbell (1992) identificaram que as sociedades com níveis mais baixos de violência examinar os padrões culturais de espancamento de esposas – explorando os fatores que
praticada pelo parceiro íntimo eram aquelas que adotavam sanções comunitárias contra distinguem consistentemente sociedades onde o espancamento de esposas é comum, de
ela e onde as mulheres que sofreram abuso tinham acesso à proteção – seja na forma de sociedades onde essa prática é rara ou ausente. Essa análise indicou que o espancamen-
abrigo ou de apoio familiar. As sanções comunitárias, ou proibições, podem ter a forma to de esposas ocorre mais frequentemente em sociedades onde os homens possuem o
de sanções legais formais ou de pressão moral para a intervenção de vizinhos no caso poder econômico e de decisão no lar, onde as mulheres não têm fácil acesso ao divórcio
de espancamento de uma mulher. O marco “sanções e proteção” sugere a hipótese de e onde os adultos recorrem rotineiramente à violência para resolverem seus conflitos.
que a violência praticada pelo parceiro íntimo será maior em sociedades onde o status da Outro forte indicador nesse estudo sobre a frequência de espancamento de esposas
mulher está em transição. Não há necessidade de aplicar a autoridade masculina onde a foi a ausência de grupos de trabalho composto apenas por mulheres. Sugeriu-se que a
mulher possui um status muito baixo. presença de grupos de trabalho femininos oferece proteção contra o espancamento de
esposas porque proporcionam às mulheres uma fonte estável de apoio social e indepen-
Por outro lado, onde a mulher tem um status elevado, elas teriam alcançado coletiva- dência econômica de seus cônjuges e suas famílias.
mente poder suficiente para modificar os papéis de gênero. Assim, a violência praticada
pelo parceiro íntimo é normalmente maior no ponto de transição, que é o caso na maio- Uma das teorias mais comuns para explicar a perpetração e a experiência de violência
ria dos PBMR. praticada pelo parceiro íntimo e a violência sexual é a manutenção do patriarcado ou
domínio masculino no âmbito da sociedade (Taft, 2009). As normas patriarcais e de
A probabilidade de violência sexual está relacionada com quanto as crenças na superio- domínio masculino refletem a desigualdade e iniquidade de gênero em nível social e
ridade masculina e o direito do homem ao sexo são enraizados em uma comunidade, legitimam a violência praticada pelo parceiro íntimo e a violência sexual perpetradas
a tolerância geral da agressão sexual na comunidade e a força das sanções, se houver, pelos homens (Russo & Pirlott, 2006). Embora estejam situadas em nível social, essas
contra os agressores (Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). normas atuam nos níveis comunitário, relacional e individual. Acredita-se que as nor-
26 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
27

mas sociais relacionadas a gênero contribuem para a violência contra as mulheres e a parceiro íntimo. Homens com um histórico de comportamento abusivo e violento eram
iniquidade de gênero e outras iniquidades, por meio da criação de hierarquias de poder mais propensos a mostrarem esse comportamento em suas parcerias íntimas futuras,
nas quais os homens são vistos como econômica e religiosamente superiores pela socie- especialmente durante a gravidez e o período pós-natal (Chan, 2009; Jewkes et al., 2006;
dade, possuindo um status social mais alto em comparação com as mulheres – que são Martin, Taft & Resick, 2007; Söchting, Fairbrother & Koch, 2004; Tang & Lai, 2008).
por vezes vistas como um fardo (Ali & Bustamante-Gavino, 2008).
TABELA 3
Assim, os homens são socializados de modo a acreditar que são superiores às mulhe- Fatores de risco para a violência praticada pelo parceiro íntimoa
res, que devem dominar suas parceiras e endossar papéis de gênero tradicionais (Taft,
Perpetração pelo homem Vitimização da mulher
2009). A subordinação e submissão são, portanto, consideradas normais, esperadas e,
NÍVEL Individual
em alguns casos, atrativas para os homens (Russo & Pirlott, 2006). Mulheres com mais
DEMOGRAFIA DEMOGRAFIA
competência ou educação são frequentemente estigmatizadas ou detestadas pela socie- • Juventude • Juventude
dade. Essa desigualdade de gênero e a dominação masculina reduzem as oportunidades • Baixo status socioeconômico/nível de renda • Baixo status socioeconômico/nível de renda
de mulheres de se envolverem na tomada de decisões em todos os níveis, diminuem os • Baixo nível de escolaridade • Baixo nível de escolaridade
recursos disponíveis para as mulheres e aumentam a aceitação do uso de violência con- • Desemprego • Estado civil: separada/divorciada
• Gravidez
tra as mulheres. Além disso, elas contribuem para as iniquidades baseadas em gênero na
EXPOSIÇÃO A MAUS-TRATOS INFANTIS EXPOSIÇÃO A MAUS-TRATOS INFANTIS
saúde e no acesso à atenção em saúde, nas oportunidades de emprego e promoção, nos • Violência intraparental • Violência intraparental
níveis de renda, na participação e representação política e na educação. Desse modo, • Abuso sexual • Abuso sexual
as intervenções macrossociais, ampliadoras dos apoios e recursos estruturais que dimi- • Abuso físico
nuem a desigualdade de gênero – assim como as intervenções para reduzir a desigual-
dade de gênero nos níveis comunitário e individual, podem ajudar a reduzir a violência TRANSTORNO MENTAL TRANSTORNO MENTAL
• Personalidade antissocial • Depressão
praticada pelo parceiro íntimo e a violência sexual (Smith Fawzi et al., 2005).
USO DE SUBSTÂNCIAS USO DE SUBSTÂNCIAS
Resumindo, há necessidade de mais pesquisas para identificar fatores modificáveis que • Uso nocivo de álcool • Uso nocivo de álcool
podem influenciar a perpetração ou a experiência de violência praticada pelo parceiro • Uso ilícito de drogas • Uso ilícito de drogas
íntimo e a violência sexual, tanto em nível comunitário como em nível social. Os fatores • Aceitação da violência • Aceitação da violência
potenciais de nível comunitário incluem a educação, a disponibilidade e a acessibilidade • Histórico de prática de abuso • Exposição anterior ao abuso/vitimização
de recursos e facilidade de uso de recursos comunitários. Os fatores importantes de NÍVEL RELACIONAL
nível social incluem as normas de gênero e outros fatores estruturantes que apoiam a • Disparidade educacional • Disparidade educacional
desigualdade de gênero e a violência. • Parceiros múltiplos/infidelidade • Número de crianças
2.4 Fatores de risco relacionados com a violência pelo parceiro íntimo QUALIDADE DA RELAÇÃO QUALIDADE DA RELAÇÃO
• Insatisfação conjugal/discórdia • Insatisfação conjugal/discórdia
A maioria dos fatores relacionados com a perpetração e a experiência da violência pelo • Contendas de papéis do gênero
parceiro íntimo identificados até o momento situam-se no nível individual, seguidos por • Duração do casamento
aqueles dos níveis relacional e comunitário; poucos foram identificados no nível social NÍVEL COMUNITÁRIO
(Tabela 3). Os fatores que são mais forte e consistentemente relacionados com a violên- • Aceitação dos papéis tradicionais de gênero • Aceitação dos papéis tradicionais de gênero
cia pelo parceiro íntimo estão evidenciados em negrito na tabela, e os que não foram já CARACTERÍSTICAS DA VIZINHANÇA CARACTERÍSTICAS DA VIZINHANÇA
discutidos na Seção 2.3 (Tabela 2) são examinados a seguir. • Alta proporção de pobreza • Alta proporção de pobreza
• Alta proporção de desemprego • Alta proporção de desemprego
Fatores do nível individual • Alta proporção de analfabetismo masculino • Alta proporção de analfabetismo masculino
Histórico de vitimização ou de perpetração de violência • Aceitação da violência • Aceitação da violência
• Alta proporção de domicílios usando punição • Baixa proporção de mulheres com alto nível de
Mulheres que sofreram anteriormente abusos por parceiros íntimos ou por outros que não corporal autonomia
os parceiros íntimos, durante a vida adulta, são mais propensas a vivenciarem violência • Baixa proporção de mulheres com alto nível de
escolaridade
praticada pelo parceiro íntimo no futuro, em comparação com aquelas sem exposição
• Sanções comunitárias fracas • Sanções comunitárias fracas
à violência. Por exemplo, um estudo na Índia mostrou que as mulheres que relataram
violência anterior praticada por outros que não o parceiro íntimo foram 3,8 vezes mais NÍVEL SOCIAL
propensas a relatarem violência pelo parceiro íntimo do que aquelas sem exposição à • Regulamentação do divórcio pelo governo
violência (Boyle et al., 2009). Um análise narrativa também identificou que a exposi- • Ausência de legislação sobre a violência praticada
ção anterior ao abuso pode contribuir para a vitimização futura, ao mudar a atitude da pelo parceiro íntimo no âmbito do casamento

mulher ante à violência, ao diminuir a sua habilidade de reconhecer o risco, ao abaixar a • Lei protetora do casamento
sua autoestima, ao aumentar a sua culpa, vergonha e constrangimento e ao reduzir a sua • Normas de gênero tradicionais e normas sociais • Normas de gênero tradicionais e normas sociais
que toleram a violência que toleram a violência
assertividade sexual (Söchting, Fairbrother & Koch, 2004). Similarmente, um histórico
de perpetração entre os homens foi um forte fator de risco para a violência praticada pelo
a
Alguns desses fatores são também fatores para a violência sexual (ver Tabela 2 sobre os fatores de risco da violência
sexual e da violência pelo parceiro íntimo).
28 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
29

Um estudo de alta qualidade relatou que os homens sul-africanos com um histórico de a razão mais comum confirmada por homens e mulheres na justificativa da violência
prática de abuso eram três vezes mais propensos a terem perpetrado violência contra praticada pelo parceiro íntimo, seguida por “sair sem informar o cônjuge” e “revidando
suas parceiras íntimas (Jewkes et al., 2006). na discussão com o cônjuge”. O estudo multipaíses da OMS sobre a saúde da mulher
e a violência doméstica contra a mulher (Garcia-Moreno et al., 2005) observou que
Fatores do nível relacional
a porcentagem de mulheres que concordaram com uma ou mais justificativas para o
Disparidade educacional “espancamento de esposa” variou entre 6% a mais de 65%. A suspeita de infidelidade da
As disparidades do nível de escolaridade entre os parceiros do sexo masculino e femi- mulher foi a justificativa que teve mais consenso. Em todos os países, exceto a Tailândia,
nino podem resultar em taxas mais altas de violência praticada pelo parceiro íntimo a aceitação de que o espancamento da esposa poderia ser justificado era significativa-
(Ackerson et al., 2008; Chan, 2009). Os homens podem usar da violência para tomar o mente maior entre as mulheres que sofreram violência sexual ou física praticada pelo
poder em uma relação na qual o nível de instrução das mulheres é mais alto. Ackerson parceiro íntimo (ou ambas) do que em mulheres que nunca sofreram essa violência. O
et al. (2008) observaram que as mulheres indianas com um nível de escolaridade mais aumento da riqueza, o nível de escolaridade, a urbanização, o acesso à mídia e a tomada
alto que seu parceiro eram mais propensas a sofrerem violência física praticada pelo de decisão em conjunto foram todos associados a uma redução dos níveis de justificação
parceiro íntimo. Xu et al. (2005) identificaram uma relação similar entre conquistas de da violência praticada pelos parceiros íntimos contra as mulheres, na maioria dos paí-
instrução diferentes entre parceiros e qualquer tipo de violência praticada pelo parceiro ses. Embora a força das associações entre esses fatores e a violência pelo parceiro íntimo
íntimo na China. precisa ainda ser validada, elas permanecem alvos potenciais para o desenvolvimento de
programas em nível de comunidade.
Qualidade da relação/satisfação conjugal
As parcerias com satisfação conjugal baixa, desentendimentos contínuos e alto índice 2.5 Fatores de risco relacionados com a violência sexual
de discórdia conjugal são mais propensas a serem associadas à violência praticada pelo A maioria dos fatores associados à perpetração e à experiência da violência sexual foi
parceiro íntimo em comparação com aquelas que não apresentam esses aspectos. A identificada no nível individual (Tabela 4). Os fatores para os quais foi apontado o mais
ausência de satisfação conjugal e a discórdia conjugal são fortemente correlacionados à forte efeito ou os que são mais consistentemente apontados estão ressaltados em negrito
ocorrência tanto da perpetração como da experiência de violência praticada pelo par- na tabela. Muitos dos fatores de risco relacionados como fortes fatores de risco da vio-
ceiro íntimo (Morrison, Ellsberg & Bott, 2007; Stith et al., 2004; Tang & Lai, 2008). lência sexual já foram discutidos nas seções anteriores, sugerindo que poucos deles são
Os desentendimentos ocorrem muitas vezes sobre os papéis de gênero, o controle nas específicos da violência sexual.
relações com status díspares (por exemplo, na renda, na educação ou na idade) e sobre Honra familiar e pureza sexual
atos sexuais ou suas recusas. A violência é perpetrada contra um parceiro como forma
de lidar com o conflito e resolver o desentendimento. Além disso, o risco de vitimização As respostas das famílias à violência sexual que culpam as mulheres, sem punir os
da mulher pode ser ampliado em situações nas quais as mulheres iniciam uma argu- homens, e que, em vez disso, se concentram na restauração da honra familiar “perdi-
mentação ou quando revidam. da”, criam um ambiente onde o estupro pode ocorrer com impunidade. Embora essas
famílias tentem frequentemente proteger suas mulheres do estupro e possam também
Fatores dos níveis comunitário e social impor a contracepção às suas filhas para prevenir sinais visíveis em caso de estupro,
Poucos estudos analisaram os fatores dos níveis comunitário e social para a violência raramente existe muita pressão social para controlar os homens jovens ou persuadi-los
praticada pelo parceiro íntimo, especialmente nos PBMR. No entanto, estudos recentes de que o sexo coercivo é errado. Pelo contrário, em alguns países, há, muitas vezes, um
(Ackerson et al., 2008; Boyle et al., 2009; Gage, 2005; Koenig et al., 2004; Koenig et al., apoio a membros das famílias no sentido de fazer o que for necessário – inclusive assas-
2006) mostram que vários fatores, em nível da vizinhança, são associados às mais altas sinar a vítima – para aliviar a “vergonha” associada com um estupro ou outra transgres-
taxas de violência pelo parceiro íntimo, tais como: são sexual (Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002).
l menor proporção de mulheres com alto nível de escolaridade; Ideologias do direito masculino ao sexo
l maior nível de pobreza da vizinhança; A violência sexual cometida pelos homens é em grande medida enraizada em ideologias
do direito masculino ao sexo. Esses sistemas de crença dão às mulheres poucas opções
l maior taxa de desemprego da vizinhança;
legítimas de recusar as investidas sexuais. Assim, muitos homens simplesmente excluem
l maior proporção de analfabetismo masculino e feminino; a possibilidade de que suas investidas sexuais com relação a uma mulher possam ser
l maior proporção de indivíduos com uma visão positiva sobre a violência; rejeitadas ou que uma mulher tenha o direito de tomar uma decisão autônoma sobre a
participação no sexo. Em muitas culturas, tanto homens como mulheres consideram o
l menor proporção de mulheres com alto nível de autonomia; e casamento como acarretando uma obrigação da mulher de estar sexualmente disponível
l maior proporção de domicílios usando punição corporal. praticamente sem limites, ainda que o sexo possa ser culturalmente proibido em certos
momentos, como depois do parto ou durante a menstruação. As normas sociais sobre o
Um estudo em 17 países subsaarianos mostrou que a violência praticada pelo parceiro
uso da violência como meio para alcançar objetivos têm sido fortemente associadas com
íntimo contra a mulher era amplamente aceita em certas circunstâncias por homens e
a prevalência de estupro. O estupro é mais comum nas sociedades em que a ideologia de
mulheres em todos os países estudados (Uthman, Lawoko & Moradi, 2009), sendo as
superioridade masculina é forte, enfatizando o domínio, a força física e a honra mascu-
mulheres mais propensas a justificá-la que os homens. “Negligência de crianças” foi
30 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
31

TABELA 4 ção ou de redução da violência sexual é também refletido na ênfase no treinamento de


Fatores de risco para a violência sexuala policiais e uma alocação adequada de recursos policiais para o problema, na prioridade
Perpetração pelo homem Vitimização da mulher
dada à investigação de casos de agressão sexual e nos recursos disponibilizados para
apoiar as vítimas e providenciar serviços médico-legais. Entretanto, a taxa de condena-
NÍVEL INDIVIDUAL
ção para casos de violência sexual é mínima até em países possuindo as melhores leis.
DEMOGRAFIA DEMOGRAFIA
• Baixo status socioeconômico/nível de renda • Juventude No outro extremo da escala há países com abordagens muito mais fracas para a questão,
• Baixo nível de escolaridade em que não é permitida a condenação de um suposto agressor com base nas evidências
• Mulheres separadas/divorciadas e solteiras
apenas da mulher, em que certas formas ou contextos de violência sexual são especi-
• Participação em gangues • Exposição precoce à atividade sexual
ficamente excluídos da definição legal e em que as vítimas de estupro são fortemente
EXPOSIÇÃO A MAUS-TRATOS INFANTIS EXPOSIÇÃO A MAUS-TRATOS INFANTIS dissuadidas de levar a questão a juízo, pelo medo de serem punidas por entrar com uma
• Abuso sexual • Violência intraparental
• Abuso físico • Abuso sexual
ação referente a um caso de estupro “não comprovado” (Jewkes, Sen & Garcia-Moreno,
• Violência intraparental 2002).
TRANSTORNO MENTAL TRANSTORNO MENTAL 2.6 Fatores de proteção para a violência pelo parceiro íntimo e para a
• Personalidade antissocial • Depressão
violência sexual
USO DE SUBSTÂNCIAS USO DE SUBSTÂNCIAS
• Uso nocivo de álcool • Uso nocivo de álcool A maioria das pesquisas sobre a perpetração e a experiência de violência praticada pelo
• Uso ilícito de drogas • Uso ilícito de drogas parceiro íntimo e de violência sexual focou em fatores associados a uma maior probabi-
• Prior victimization lidade de violência praticada pelo parceiro íntimo e/ou violência sexual (fatores de risco)
NÍVEL RELACIONAL em vez de fatores que reduzam ou protejam contra o risco (fatores de proteção). Contu-
• Parceiros múltiplos/infidelidade • Parceiros múltiplos do, vários estudos mostraram que as mulheres possuindo um nível de escolaridade mais
• Baixa resistência à pressão de pares alto (ensino médio ou superior) eram de 20 a 55% menos propensas a serem vítimas de
• Honra familiar e pureza sexual
violência praticada pelo parceiro íntimo ou de violência sexual, em comparação com
mulheres possuindo um nível mais baixo de escolaridade (Brown et al., 2006; Fehringer
NÍVEL COMUNITÁRIO
& Hindin, 2009; Flake, 2005). Similarmente, os homens com um nível de instrução
• Sanções comunitárias fracas • Sanções comunitárias fracas
mais alto eram 40% menos propensos a perpetrarem a violência contra suas parceiras
• Pobreza • Pobreza
íntimas, em comparação com homens com um nível mais baixo de instrução (Johnson
NÍVEL SOCIAL & Das, 2009). A duração do casamento de mais de 15 anos foi identificada como um
• Normas de gênero tradicionais e normas sociais • Normas de gênero tradicionais e normas sociais fator de proteção potencial contra a perpetração de violência pelo parceiro íntimo em
que toleram a violência que toleram a violência
Bangladesh (Johnson & Das, 2009). Outros fatores que podem reduzir ou proteger
• Ideologias do direito masculino ao sexo • Ideologias do direito masculino ao sexo contra o risco incluem:
• Sanções legais fracas • Sanções legais fracas
l ter-se beneficiado de uma parentalidade saudável enquanto criança (proteção para a
a
Alguns desses fatores são também fatores para a violência sexual (ver Tabela 2 sobre os fatores de risco da violência
sexual e da praticada pelo parceiro íntimo). violência pelo parceiro íntimo e a violência sexual);
l ter o apoio da própria família (violência pelo parceiro íntimo);
lina. Os países que possuem uma cultura de violência, ou nos quais um conflito violento l viver em uma família estendida / estrutura familiar (violência pelo parceiro íntimo);
está acontecendo, experimentam um aumento de outras formas de violência, inclusive
da violência sexual (Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). l pertencer a uma associação; e

Sanções legais fracas l capacidade da mulher de reconhecer o risco (violência sexual)


(Ellsberg et al. 1999; Gidicyz et al., 2006; Schwartz et al., 2006).
Os fatores que operam em nível social e que influenciam a violência sexual incluem leis
e políticas nacionais relacionadas com a igualdade de gênero em geral, e mais especifi- No entanto, há necessidade de mais pesquisas científicas sobre os fatores de proteção.
camente com a violência sexual e a violência pelo parceiro íntimo, bem como normas 2.7 Normas de gênero e desigualdade
relacionadas com o uso da violência. Embora os vários fatores operem principalmente
A desigualdade e a iniquidade de gênero são fatores do nível social que permanecem
em nível local (em famílias, escolas, locais de trabalho e comunidades), há também
significativamente subpesquisados em termos de sua associação com a violência pelo
influências de leis e normas operando em nível nacional e até internacional.
parceiro íntimo e a violência sexual. No entanto, dois fatores de risco parecem ser for-
Há variações consideráveis entre os países em suas abordagens da legislação sobre vio- temente associados com essas violências – a posição desigual das mulheres em certas
lência sexual. Alguns países têm legislação e procedimentos legais de grande alcance, relações e na sociedade (que está regida por ideologias da superioridade masculina); e
com uma ampla definição de estupro, que inclui estupro conjugal, multas pesadas para o uso normativo da violência para a resolução de conflitos (e durante as lutas políticas).
os condenados e uma forte resposta de apoio às vitimas. Um compromisso de preven- Esses fatores se expressam por meio de papéis de gênero distintos e hierárquicos, de
32 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 2: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
33

noções de direito masculino ao sexo, do baixo valor social e poder da mulher e de ideias n As sanções legais fracas sobre a violência sexual enviam mensagem de que essa violência é
de masculinidade vinculadas ao controle ou ao exercício de “disciplinar” a mulher. Eles, perdoada, e podem até excluir certas formas de violência sexual das definições legais.
por sua vez, são vinculados a fatores tais como baixos níveis de escolaridade entre as As implicações da prevenção
mulheres, poucos papéis públicos para as mulheres, falta de apoio familiar, social e legal
n Fatores de risco e de proteção diferentes podem operar em vários países e contextos. Portanto,
às mulheres e falta de poder econômico para as mulheres (Jewkes, 2002). é importante identificar e depois abordar, em cada âmbito, os fatores de risco mais fortemente as-
Para uma prevenção eficaz da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo, tor- sociados à violência pelo parceiro íntimo e à violência sexual.
na-se imprescindível esclarecer de que maneira as normas de gênero e a desigualda- n Os esforços de prevenção primária devem focar grupos etários mais jovens.
de e iniquidade de gênero são relacionadas com essas violências. É necessário haver
n A prevenção de todas as formas de violência e abuso, especialmente maus-tratos infantis, ajuda-
um conhecimento aprofundado baseado em evidências empíricas sólidas sobre como
rá a reduzir os níveis de violência sexual e de violência pelo parceiro íntimo.
as normas de gênero e a desigualdade e iniquidade de gênero operam como causas
ou como fatores de risco e de proteção para a violência sexual e a violência pelo par- n A redução do consumo global de álcool em uma população pode ajudar a diminuir o uso nocivo
ceiro íntimo, em vários contextos socioculturais. Adquirir esse conhecimento deveria de álcool e também a perpetração e a experiência de violência sexual e da praticada pelo parceiro
ser uma prioridade máxima de pesquisas sobre os fatores de risco e de proteção para a íntimo.
violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo. n Existem vários fatores modificáveis associados com a violência pelo parceiro íntimo que podem
ser alvos de medidas de prevenção primária, como a redução da aceitação da violência, aumentar o
2.8 Mensagens-chave acesso da mulher à educação, a mudança de leis que discriminam as mulheres e a implementação
de mais políticas de equidade de gênero. Embora alcançar esses fatores muito provavelmente dimi-
Fatores de risco e de proteção
nua a violência sexual, faltam atualmente as evidências necessárias.
Violência sexual e violência pelo parceiro íntimo
n Homens e mulheres com baixos níveis de escolaridade têm, respectivamente, um maior risco de
perpetrar violência contra sua parceira e de sofrer violência pelo parceiro.
n A exposição a maus-tratos infantis é fortemente associada à:
— perpetração da violência sexual e da violência contra a parceira íntima por parte dos homens;
e
— experiência de violência sexual e de violência pelo parceiro íntimo por parte das mulheres.
n Um transtorno de personalidade antissocial é um forte fator de risco para a perpetração de vio-
lência sexual e de violência pelo parceiro íntimo.
n O uso nocivo de álcool é frequentemente associado à perpetração de violência sexual e à prati-
cada pelo parceiro íntimo.
n As pessoas do sexo masculino que possuem parceiros múltiplos ou sob suspeita de infidelidade
por parte de seus parceiros são mais propensas a perpetrarem violência sexual e violência contra a
parceira íntima.
n As atitudes que são condescendentes com a violência são fortemente associadas à perpetração
e à experiência de violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo.

Fatores de risco específicos da violência praticada pelo parceiro íntimo


n Histórico de violência enquanto perpetrador ou vítima é um forte fator de risco para a futura
violência pelo parceiro íntimo.
n A discórdia e insatisfação conjugal são fortemente associadas à perpetração e à experiência de
violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo.

Fatores de risco específicos da violência sexual


n As crenças de honra familiar e pureza sexual são associadas a uma falta de pressão social para
persuadir os jovens homens de que o sexo coercivo é errado.
n A violência sexual cometida pelos homens é em grande medida enraizada em ideologias de
direito masculino ao sexo. Esses sistemas de crença proporcionam poucas opções legítimas para
recusar investidas sexuais.
34 CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
35

CAPÍTULO 3 de serviços ultrapassariam até a capacidade dos países com os melhores recursos. Um
problema dessa monta requer um especial foco na prevenção primária.
Estratégias de prevenção primária As ações dirigidas à fonte do problema podem objetivar os fatores de risco em todos os qua-
tro níveis do modelo ecológico apresentado no Capítulo 2. É particularmente importante
baseadas em evidências abordar o nível social ou externo do modelo para reduzir a violência sexual e a praticada
pelo parceiro íntimo na população. Tais medidas incluem legislação nacional e políticas de
apoio visando os fatores sociais e econômicos – como níveis de renda, pobreza e privação
econômica, perfis de empregos masculinos e femininos, acesso da mulher à atenção em saú-
de, propriedade, educação e participação e representação política. Alguns argumentam, até,
3.1 Introdução
que os programas visando a redução da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo
A violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo não são inevitáveis – suas taxas que não aumentem a equidade do sexo masculino e feminino acabarão por não conseguir
variam ao longo do tempo e entre os lugares devido à uma variedade de fatores sociais, a redução da violência contra a mulher. No entanto, embora muitas estratégias envolvendo
culturais, econômicos e outros. Conforme delineado no Capítulo 1, isso pode resultar em reformas legais e educacional e oportunidades de emprego tenham sido implementadas
diferenças substanciais na prevalência de violência sexual e da praticada pelo parceiro para aumentar a igualdade de gênero, poucas foram avaliadas em seu impacto sobre a vio-
íntimo entre os países e nas diversas regiões e comunidades de um mesmo país. Mais lência sexual e aquela praticada pelo parceiro íntimo, tornando a avaliação dessas estratégias
importante ainda, essa variação mostra que tais violências podem ser reduzidas por meio uma prioridade. Qualquer estratégia integral de prevenção da violência sexual e violência
de programas e políticas bem elaborados e eficazes. De acordo com o discutido no Capí- pelo parceiro íntimo deve abordar esses fatores socioculturais e econômicos por meio de
tulo 2, existem fatores importantes relacionados tanto com a perpetração como com a viti- mudanças legislativas e políticas e da implementação de programas conexos.
mização – como exposição a maus-tratos infantis, presenciar violência parental, atitudes
Criação de um ambiente de não tolerância
de aceitação da violência e o uso nocivo de álcool – que podem ser abordados.
A abordagem de fatores de risco relativos à sociedade pode aumentar a probabilidade de
No momento, as evidências sobre a eficácia das estratégias de prevenção primária da vio-
reduções bem-sucedidas e sustentáveis da violência sexual e da praticada pelo parceiro
lência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo são limitadas, com a maioria esmagadora
íntimo. Por exemplo, quando a lei permite ao marido disciplinar fisicamente a esposa,
de dados oriundos de PAR – principalmente os Estados Unidos. Consequentemente, as
a implementação de um programa de prevenção da violência praticada pelo parceiro
principais prioridades no momento nesse campo incluem a adaptação de programas efi-
íntimo tem um impacto muito pequeno. A legislação nacional e as políticas de apoio
cazes em locais de alta renda para aqueles de baixa renda; a continuação da avaliação e
devem, portanto, ser estabelecidas para garantir às mulheres igualdade de direitos na
o refinamento daqueles que já iniciaram a produção de evidências; e o desenvolvimento
participação política, na educação, no trabalho, na previdência social e um padrão de
e teste das estratégias que parecem ter um potencial, especialmente para o uso em con-
vida adequado. As mulheres devem ter a capacidade de entrar e sair de um casamento,
textos de poucos recursos, com uma criteriosa avaliação de sua eficácia. Paralelamente, a
de obter crédito financeiro e de ser proprietárias e administrar propriedades. As leis e
escassez de evidências em todos os países significa que a sua geração e a incorporação de
as políticas que discriminam as mulheres devem ser modificadas e toda nova legislação
procedimentos bem elaborados de avaliação dos resultados nos programas de prevenção
ou política deve ser examinada no que diz respeito ao seu impacto em homens e mulhe-
primária são prioridades máximas em todos os lugares. Isso permitirá garantir que os
res. A legislação e as políticas que abordam as desigualdades socioeconômicas podem
esforços realizados nessa área sejam ancorados em uma sólida base de evidências. Além
reduzir outras formas de violência interpessoal que, por sua vez, ajudarão a redução da
disso, os formuladores de programas deveriam ser incentivados a explicitar a base de seus
violência sexual e daquela praticada pelo parceiro íntimo.
programas em marcos teóricos e modelos de mudança comportamental existentes para
permitir a identificação dos mecanismos subjacentes e tornar mais fácil a sua replicação. A legislação e as políticas que tratam as desigualdades socioeconômicas mais amplas
podem ter uma contribuição vital para o empoderamento da mulher e a melhora de seu
A maioria das estratégias avaliadas visando à prevenção da violência sexual e da pratica-
status na sociedade, para a criação de mudanças culturais ao mudar as normas, as atitu-
da pelo parceiro íntimo tinha como objetivo fatores de risco proximais – principalmente
des e crenças que apoiam a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo e para a
nos níveis individual e relacional do modelo ecológico.
criação de um clima de não tolerância para esses tipos de violência.
A necessidade de ação dirigida às raízes do problema
Os direitos humanos de meninas e mulheres devem ser respeitados, protegidos e efetivados
No âmbito da saúde pública, prevenção primária significa a redução do número de como parte da garantia do bem-estar e dos direitos de todos na sociedade. Como primeiro
casos novos de violência sexual e violência pelo parceiro íntimo por meio da abordagem passo nessa direção, os governos devem honrar seus compromissos implementando as legis-
dos fatores associados à ocorrência dessas violências pela primeira vez. Portanto, a pre- lações internacionais e os instrumentos de direitos humanos, conforme a seguir:
venção primária baseia-se na identificação dos determinantes ”da raiz” do problema e
l Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as
a subsequente ação para abordá-los. O impacto de programas abrangentes, integrais e
Mulheres (1979).
com alta cobertura pode então ser mensurado comparando as taxas populacionais acer-
l Convenção sobre os Direitos da Criança (1991).
ca da ocorrência dessas violências, tanto as vivenciadas quanto as perpetradas. Dada
a prevalência ao longo da vida da violência pelo parceiro íntimo mostrada na Tabela l Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher (1993).
1 (Capítulo 1), as centenas de milhões de mulheres, em todo o mundo, que necessitam l Declaração e Plataforma de Ação de Beijing (1995).
36 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
37

l Declaração do Milênio (2000). Embora os “depoimentos” não sejam uma base sólida para a avaliação da eficácia de um
l Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a programa, eles podem trazer conhecimentos quanto à sua operação e se os participan-
Mulher (Convenção de Belém do Pará, 1994). tes o consideram valioso. No entanto, as abordagens baseadas em depoimentos podem
gastar recursos e capacidades importantes em programas que sejam ineficazes ou que
Os sistemas da legislação e da justiça criminal devem estar funcionando para lidar com
possam até tornar a situação pior (Dahlberg & Butchart, 2005). Foram propostos vários
casos de violência sexual e daquela praticada pelo parceiro íntimo após o evento. Esses sis-
critérios para avaliar mais sistematicamente a eficácia dos diversos programas. Os crité-
temas devem ter por objetivo ajudar a prevenção de violência ulterior, facilitar a reabilitação
rios mais rigorosos envolvem a avaliação do programa utilizando projetos experimentais
e garantir o acesso à justiça - por exemplo, através do fornecimento de unidades policiais
ou quase experimentais; evidências de efeitos significativos de prevenção; evidências de
especializadas, ordens de restrição e equipes intersetoriais de resposta à agressão sexual. A
efeitos sustentados e a replicação independente dos resultados em novos estudos.
proteção legal contra a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo ajuda, potencial-
mente, a fortalecer normas sociais não violentas, ao enviar a mensagem de que tais atos não Apesar da ênfase e da visibilidade dos esforços de promoção da igualdade de gênero
serão tolerados. As medidas para criminalizar o abuso praticado pelos parceiros íntimos e prevenção da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo, uma quantidade
e ampliar a definição de estupro foram fundamentais para trazer à tona essas questões, exígua dos programas analisados no presente capítulo atendem a todos esses critérios,
dissipando a noção de que essa violência é um assunto familiar e particular. Foram, a esse enquanto que outros não foram submetidos a nenhum tipo de avaliação científica. A
respeito, muito importantes na mudança de normas sociais (Heise & Garcia-Moreno, 2002; avaliação científica rigorosa de programas de prevenção da violência sexual e da prati-
Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002). No entanto, evidências sobre o valor de dissuasão da cada pelo parceiro íntimo são mais raros nos PBMR. Portanto, deve-se considerar que
detenção em casos de violência praticada pelo parceiro íntimo mostram que isso pode não a prevenção dessas violências está em suas etapas primordiais, em termos de ter estabe-
ser mais eficaz na redução da violência que outras respostas da polícia, como a emissão de lecido uma base de evidências para as estratégias de prevenção primária, programas e
avisos e citações, fornecimento de aconselhamento ou separação de casais (Fagan & Bro- políticas. A base limitada de evidências para a prevenção da violência sexual e da prati-
wne 1994; Garner, Fagan & Maxwell, 1995). Alguns estudos mostraram um aumento do cada pelo parceiro íntimo possui três implicações importantes para o presente capítulo.
abuso após detenção, especialmente por homens desempregados e aqueles vivendo em áreas Em primeiro lugar, esse capítulo extrapola, quando relevante, da base mais consistente
pobres (Fagan & Browne 1994; Garner, Fagan & Maxwell, 1995). Medidas legais protetivas de evidências relacionada à prevenção de maus-tratos infantis e violência juvenil, porém,
podem ser úteis, porém, a sua execução é desigual e há evidências de que tenham pouco assinala claramente que tais extrapolações são especulativas. Contudo, muito pode ser
efeito nos homens com ficha criminal grave (Heise & Garcia-Moreno, 2002). Nos casos aprendido da literatura sobre a prevenção de maus-tratos infantis e violência juvenil.
de estupro, as reformas relacionadas com a admissibilidade de evidências e a dispensa do Em segundo lugar, esse capítulo descreve os programas de prevenção primária que têm
requerimento de confirmação das alegações das vítimas foram úteis; no entanto, são ignora- potencial de serem eficazes, tanto por sua ancoragem teórica, quanto pelo conhecimen-
das em muitas cortes em todo o mundo (Du Mont & Parnis, 2000; Jewkes, Sen & Garcia- to dos fatores de risco – mesmo que nenhuma ou poucas evidências existam para sus-
-Moreno, 2002). Atualmente, em geral, ainda faltam suficientes evidências sobre o efeito tentá-los ou que, em alguns casos, não tenham ainda sido amplamente implementados.
dissuasivo das respostas do sistema da justiça criminal no que se refere à violência sexual e Um esforço é feito nesse processo para chamar a atenção para as teorias, os princípios
à praticada pelo parceiro íntimo (Dahlberg & Butchart, 2005). e mecanismos subjacentes nos quais os programas são baseados. Contudo, note-se que
O desmonte das construções hierárquicas da masculinidade e feminilidade baseadas no uma base teórica e uma sólida consistência com fatores de risco identificados não garan-
controle das mulheres e a eliminação dos fatores estruturais que apoiam essas desigualda- tem o sucesso de um programa.
des provavelmente podem dar uma contribuição significativa na prevenção da violência Em terceiro lugar, o capítulo inclui programas desenvolvidos em âmbitos de PBMR sob
sexual e da violência pelo parceiro íntimo. Esses são, contudo, objetivos a longo prazo. As a condição de que tenham evidências (mesmo se forem fracas) ou que estejam atual-
estratégias, almejando alcançar esses objetivos, devem ser complementadas por medidas mente em um processo de serem avaliados, de que pareçam ter potencial em termos de
com efeitos mais imediatos, baseadas nas evidências apresentadas no presente capítulo. bases teóricas ou de que abordem fatores de risco conhecidos. Os critérios de inclusão
são elaborados, por um lado, para evitar o estabelecimento de um parâmetro de padrões
3.2 Avaliação das evidências para as diferentes abordagens de metodológicos muito altos – que levaria à exclusão de muitos dos programas desenvol-
prevenção vidos em contextos de baixos recursos, alegando que não têm evidências ou que têm
Da perspectiva da saúde pública, uma pergunta fundamental é: “Os programas de pre- evidências de baixa qualidade. Por outro lado, estabelecer um parâmetro muito baixo
venção da violência sexual e daquela praticada pelo parceiro íntimo funcionam?” Ou seja, correria o risco de endossar programas que não sejam sustentados por evidências. No
“Há certos programas ou estratégias eficazes na prevenção ou redução da violência sexual entanto, as limitações das evidências apresentadas estão claramente definidas e a neces-
e da praticada pelo parceiro íntimo?” A eficácia pode somente ser demonstrada através de sidade de estudos rigorosos de avaliação de resultados é enfatizada.
projetos de pesquisa rigorosos, como ensaios randomizados-controlados. Esses estudos Embora esteja em seus estágios iniciais, há razões sólidas para acreditar que essa área está
tipicamente comparam os resultados de um grupo experimental (que recebe o programa) preparada para se expandir rapidamente nos próximos anos. Alguns programas demons-
com um grupo de controle ou comparação (o mais equivalente possível ao grupo experi- traram-se eficazes segundo avaliações rigorosas de resultados, as evidências começam a
mental, mas que não recebe o programa). Uma grande preocupação é a de poder excluir surgir para sustentar a eficácia de muitos outros e sugestões para potenciais estratégias
explicações alternativas para quaisquer mudanças observadas no resultado para ter cer- têm proliferado. Além disso, foram relatados métodos experimentais e testados para o
teza de que as mudanças ocorreram devido ao programa e não por causa de algum outro desenvolvimento de programas e políticas de prevenção primária baseados em evidências
fator. Essa questão é discutida mais adiante na seção 4.6 do presente documento. para outros tipos de violência interpessoal (por exemplo, Flay et al., 2005; Mzarek & Hag-
38 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
39

gerty, 1994; Olds, Sadler & Kitzman, 2007). O campo de prevenção de violência sexual Conforme mostrado na Tabela 5, há, no momento, apenas uma estratégia para a preven-
e da praticada pelo parceiro íntimo baseada em evidências precisa agora de abertura para ção da violência praticada pelo parceiro íntimo que pode ser classificada como “eficaz”
abordagens promissoras e ideias inovadoras em todas as etapas do ciclo da vida. na prevenção da violência atual. Trata-se de programas nas escolas para a prevenção
3.3 Tabelas-síntese de estratégias e programas de prevenção primária1 da violência nos relacionamentos de namoro. Contudo, apenas três desses programas
– descritos mais abaixo – têm se demonstrado eficazes, e esses achados não podem ser
A Tabela 5 faz um resumo das evidências da eficácia das estratégias para a prevenção da
extrapolados para outros programas baseados em escolas, utilizando uma abordagem,
violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo para as quais há disponibilidade de
um conteúdo ou uma intensidade diferente. Não há, na atualidade, programas corres-
algumas evidências. As estratégias são agrupadas de acordo com a etapa da vida. Uma
pondentes avaliados como eficazes contra a violência sexual.
distinção importante deve ser feita entre uma estratégia e um programa específico. Embo-
ra programas específicos possam ter se demonstrado eficazes, isso não implica de forma A Tabela 6 lista aquelas estratégias para as quais não há, no momento, evidências; ou
alguma que todos os outros programas categorizados sob a mesma estratégia sejam tam- há evidências bem fracas, mas que tem potencial com base na teoria ou em fatores de
bém eficazes. Por exemplo, o Nurse Family Partnership (“Parceria Enfermeiros-Famí- risco conhecidos; ou ainda, há avaliações de resultados que são metodologicamente de
lia”), desenvolvido nos EUA, é um programa de visita domiciliar que se demonstrou qualidade inferior; inclui também algumas estratégias promissoras cuja avaliação está
eficaz na prevenção de maus-tratos infantis. Contudo, é o único programa no contexto em andamento.
dentro da ampla estratégia de visita domiciliar (que inclui uma infinidade de diversos Todas as estratégias analisadas foram organizadas de acordo com as principais etapas da
programas) sustentado por evidências sólidas de sua eficácia (MacMillan et al., 2009). vida. Quando as estratégias são relevantes para mais de uma etapa da vida, foram catego-
As estratégias estão classificadas de acordo com a sua eficácia na prevenção da violência rizadas na etapa em que são mais frequentemente realizadas. As estratégias relevantes a
pelo parceiro íntimo e da violência sexual da seguinte forma: todas as etapas da vida são descritas por último. Em contraste com as definições formais
• Eficazes: estratégias que incluem um ou mais programas que têm se demonstrado da seção 1.1 e devido à forma de organização dos programas, considera-se aqui que a
eficazes; o termo eficaz refere-se a ser sustentado por múltiplos estudos bem dese- violência pelo parceiro íntimo inclui instâncias de violência sexual ocorrendo dentro da
nhados mostrando a prevenção da perpetração e/ou experiência de violência sexual parceria íntima, enquanto a violência sexual é aqui utilizada para referir-se à violência
e/ou pelo parceiro íntimo. sexual ocorrendo fora das parcerias íntimas (isso é, perpetrada por amigos, conhecidos ou
• Evidências emergentes: estratégias que incluem um ou mais programas para os estranhos). Pode-se considerar que a violência no namoro incorpora ambas as possibili-
quais as evidências estão surgindo; o termo evidências emergentes refere-se a ser dades, uma vez que parceiros de namoro podem variar de pouco mais que conhecidos até
sustentado por um estudo bem elaborado mostrando a prevenção da perpetração e/ parceiros mais íntimos. Contudo, para efeitos de conveniência, na Tabela 5 e na Tabela 6,
ou experiência de violência sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo ou estudos a violência no namoro é classificada na categoria violência pelo parceiro íntimo.
mostrando mudanças positivas no conhecimento, nas atitudes e crenças relaciona-
das com a violência pelo parceiro íntimo e/ou violência sexual. CAIXA 2
? Eficácia não clara: estratégias que incluem um ou mais programas de eficácia
não clara devido a evidências não suficientes ou evidências divergentes. Mensuração de resultados para estimar a eficácia
X Evidências de ineficácia emergentes: estratégias que incluem um ou mais pro- A eficácia de um programa pode ser avaliada em termos de três tipos diferentes de
gramas para os quais as evidências de ineficácia estão surgindo; o termo evidências resultados – cada um dos quais pode ser medido em intervalos diferentes após o programa:
emergentes refere-se a ser sustentado por um estudo bem elaborado mostrando a 1. Mudanças no conhecimento, nas atitudes e crenças relacionadas com a violência
falta de prevenção da perpetração e/ou experiência de violência sexual e/ou prati- praticada pelo parceiro íntimo. Esse é o mais fraco dos três resultados porque mudanças
cada pelo parceiro íntimo ou estudos mostrando uma ausência de mudanças no no conhecimento, nas atitudes e crenças não levam necessariamente a mudanças no
conhecimento, nas atitudes e crenças relacionadas com a violência pelo parceiro comportamento de violência. Nesse respeito, até programas bem-sucedidos nessa
íntimo e/ou violência sexual. área não podem ser presumidos eficazes na prevenção da violência sexual ou da
praticada pelo parceiro íntimo atual sem pesquisas posteriores demonstrando reduções
X Ineficazes: estratégias que incluem um ou mais programas que têm se demons-
correspondentes no comportamento violento.
trado ineficazes; o termo ineficaz refere-se a ser sustentado por múltiplos estudos
bem desenhados mostrando a falta de prevenção da perpetração e/ou experiência 2. Reduções na perpetração da violência sexual ou da praticada pelo parceiro íntimo.
violência sexual e/ou pelo parceiro íntimo. 3. Reduções na experiência da violência sexual ou da praticada pelo parceiro íntimo.
XX Provavelmente nocivos: estratégias que incluem pelo menos um estudo bem A violência pelo parceiro íntimo não é uma construção única e pode apresentar-se de
desenhado mostrando o aumento da perpetração e/ou experiência de violência várias formas, incluindo violência física, sexual e psicológica. Apesar disso, as avaliações
sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo ou mudanças negativas no conhecimen- dos resultados geralmente não examinam a eficácia em relação a esses diversos tipos
to, nas atitudes e crenças relacionadas com a violência pelo parceiro íntimo e/ou de violência – e também nem os programas são geralmente elaborados para abordar,
violência sexual. particularmente, tipos específicos de violência. É possível que os programas considerados
eficazes ou promissores possam assim sê-los apenas para certas formas de violência
Uma vez que o desenvolvimento de estratégias de prevenção não espelhou a identificação de fatores de
1
praticada pelo parceiro íntimo. (Whitaker, Baker & Arias, 2007).
risco e de proteção, a organização desse capítulo não é paralela àquela do Capítulo 2. No entanto, os
fatores de risco identificados anteriormente são ressaltados no presente capítulo.
40 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
41

TABELA 5 TABELA 6
Estratégias de prevenção primária para a violência praticada pelo parceiro íntimo e Estratégias com potencial de prevenção primária da violência praticada pelo parceiro
para a violência sexual para as quais algumas evidências são disponíveis íntimo e da violência sexual
VIOLÊNCIA
VIOLÊNCIA ESTRATÉGIAS
ESTRATÉGIAS PRATICADA PELO
SEXUAL DURANTE A INFÂNCIA E O INÍCIO DA ADOLESCÊNCIA
PARCEIRO ÍNTIMO
DURANTE A PRIMEIRA INFÂNCIA, A INFÂNCIA E OS PRIMEIROS ANOS DA ADOLESCÊNCIA Programas de visita domiciliar para a prevenção de maus-tratos infantis
Intervenções para crianças e adolescentes sujeitos a maus-tratos infantis e/ Educação dos pais para a prevenção de maus-tratos infantis
• ?
ou expostos à violência pelo parceiro íntimo Melhora da saúde mental materna
Treinamento nas escolas para ajudar as crianças a reconhecerem e Identificação e tratamento de transtornos emocionais e de conduta
? •
evitarem potenciais situações sexualmente abusivas
Desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais nas escolas
DURANTE A ADOLESCÊNCIA E OS PRIMEIROS ANOS DA VIDA ADULTA
Programas de prevenção do “bullying”
Programas nas escolas para a prevenção da violência em relações de namoro • NA
DURANTE A ADOLESCÊNCIA E O INÍCIO DA VIDA ADULTA
Programas de prevenção da violência sexual para populações escolares e
NA ? Programas com diversos componentes de prevenção da violência nas escolas
colegiais
DURANTE A VIDA ADULTA
Programas de conscientização e conhecimento do estupro para populações
NA X
escolares e colegiais Programa com diversos componentes nas Forças Aéreas dos Estados Unidos para prevenção do suicídio
Educação (ao invés de treinamento de habilidades) em estratégias de Abordagens participativas e de empoderamento para lidar com a desigualdade de gênero – SASA!
NA X
autodefesa para populações escolares e colegiais
Programas de prevenção do estupro com estratégias de enfrentamento NA XX
3.4 Durante a infância e o início da adolescência
DURANTE A VIDA ADULTA
Programas de visita domiciliar e educação dos pais para a prevenção dos maus-
Abordagens participativas e de empoderamento e para a abordagem da
desigualdade de gênero: treinamento sobre microcrédito e igualdade de gênero
• ? tratos infantis
Abordagens participativas e de empoderamento e para a resolução da Conforme observado em seções anteriores, a história dos maus-tratos infantis aumenta
desigualdade de gênero: treinamento das capacidades de comunicação e • ? consideravelmente o risco de um indivíduo se tornar perpetrador ou vítima de violência
relacionamento (p.e. Caminho das Pedras)
praticada pelo parceiro íntimo e de violência sexual. Portanto, é razoável pressupor que
Programas de visita domiciliar com componente de violência praticada pelo
? ? a prevenção de maus-tratos infantis pode reduzir a incidência subsequente de violência
parceiro íntimo
sexual ou da praticada pelo parceiro íntimo (Foshee, Reyes & Wyckoff., 2009). Contu-
TODAS AS ETAPAS DA VIDA
do, faltam ainda evidências diretas sobre o efeito desses programas nos níveis da violên-
Redução do acesso e do uso nocivo de álcool • ?
cia pratica pelo parceiro íntimo.
Mudança das normas sociais e culturais de gênero através do uso da teoria
? • No entanto, em termos gerais, a redução do risco das várias formas de maus-tratos
das normas sociais
Mudança das normas sociais e culturais de gênero através de campanhas de infantis analisadas na publicação “Preventing child maltreatment: a guide to taking action
• ?
conscientização da mídia and generating evidence” (WHO-ISPCAN, 2006)1 pode contribuir para a redução da
Mudança das normas sociais e culturais de gênero através de trabalho com transmissão intergeracional da violência e do abuso. As estratégias mais promissoras
• ?
homens e meninos para a prevenção de maus-tratos infantis nessa área incluem os programas de visita
• Eficazes: estratégias que incluem um ou mais programas que têm se demonstrado eficazes; o termo eficaz domiciliar e de educação dos pais (Mikton & Butchart, 2009). Contudo, nenhum dos
refere-se a ser sustentado por múltiplos estudos bem desenhados mostrando a prevenção da perpetração e/ou
experiência violência sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo; programas foi avaliado em termos de seus efeitos em longo prazo sobre a prevenção da
• Evidências emergentes: estratégias que incluem um ou mais programas para os quais as evidências estão violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo entre filhos adultos de pais que parti-
surgindo; o termo evidências emergentes refere-se a ser sustentado por um estudo bem elaborado mostrando a
prevenção da perpetração e/ou experiência de violência sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo ou estudos
ciparam nesses programas.
mostrando mudanças positivas no conhecimento, nas atitudes e crenças relacionadas com a violência praticada
pelo parceiro íntimo e/ou violência sexual;
Melhora da saúde mental materna
? Eficácia não clara: estratégias que incluem um ou mais programas de eficácia não clara devido a evidências não A depressão materna (que afeta pelo menos 1 em 10 mães) pode interferir nos processos
suficientes ou evidências divergentes;
X Evidências de ineficácia emergentes: estratégias que incluem um ou mais programas para os quais as evidências de bons vínculos e apego. Isso, por sua vez, aumenta o risco de transtornos de conduta
de ineficácia estão surgindo; o termo evidências emergentes refere-se a ser sustendo por um estudo bem elaborado persistentes em crianças (fator de risco chave da perpetração posterior de violência) na
mostrando a falta de prevenção da perpetração e/ou experiência de violência sexual e/ou praticada pelo parceiro
íntimo ou estudos mostrando uma ausência de mudanças no conhecimento, nas atitudes e crenças relacionadas
razão de até cinco vezes (Meltzer et al., 2003). As abordagens eficazes no tratamento da
com a violência praticada pelo parceiro íntimo e/ou violência sexual; depressão materna incluem detecção precoce (pré-natal e pós-natal), seguido pelo apoio
X Ineficazes: estratégias que incluem um ou mais programas que têm se demonstrado ineficazes; o termo ineficaz social e de pares, terapias psicológicas e medicação antidepressiva (National Collabora-
refere-se a ser sustentado por múltiplos estudos bem desenhados mostrando a falta de prevenção da perpetração
e/ou experiência violência sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo; ting Centre for Mental Health, 2007). Os efeitos em longo prazo em crianças de mães
XX Provavelmente nocivos: estratégias que incluem pelo menos um estudo bem desenhado mostrando o aumento da
perpetração e/ou experiência de violência sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo ou mudanças negativas no Para obter esse guia, por gentileza visitar a página seguinte: www.who.int/violence_injury_prevention/
1

conhecimento, nas atitudes e crenças relacionadas com a violência praticada pelo parceiro íntimo e/ou violência sexual. violence/activities/child_maltreatment/en/index.html
NA Não se aplica.
42 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
43

submetidas ao tratamento de depressão materna não foram avaliados em termos de seu social que abordam esses fatores em crianças e jovens adolescentes são, portanto, estratégias
envolvimento posterior em violência sexual e na praticada pelo parceiro íntimo, porém, promissoras na prevenção de violência posterior. Esses programas visam à promoção de
a abordagem parece ter certo potencial. comportamento pró-social e a fornecer habilidades sociais e emocionais como resolução de
problemas, gerenciamento da raiva, aumento da capacidade de empatia, tomada de pers-
Identificação e tratamento de transtornos emocionais e de conduta em crianças
pectiva e resolução não violenta de conflitos. Podem ser baseados tanto na população como
Os transtornos de conduta na infância e na adolescência – precursor do transtorno de dirigidos às pessoas de alto risco e são normalmente aplicados nas escolas.
personalidade antissocial – são associados a um maior risco de vivenciar ou perpetuar a
violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo. Além disso, os transtornos emocionais Embora existam fortes evidências de que esses programas possam ser eficazes na redu-
são associados à depressão e ansiedade mais tarde na vida adulta e podem aumentar ção da violência juvenil e na melhora de habilidades sociais (i.e. Lösel & Beelmann,
os riscos de depressão pós-natal e depressão materna persistente. Conforme descrito 2003), não há hoje em dia evidências de que eles possam reduzir a violência sexual no
acima, esses, por sua vez, contribuem com um aumento em até cinco vezes do risco de namoro entre os adolescentes e jovens adultos ou a violência sexual e a cometida pelo
transtornos emocionais ou de conduta em crianças de mães com uma saúde mental pre- parceiro íntimo mais tarde na vida. Não obstante, eles parecem ter potencial na preven-
cária (Meltzer et al., 2003). Poderia esperar-se, portanto, que a identificação precoce e o ção posterior da violência pelo parceiro íntimo e da violência sexual .
tratamento eficaz de transtornos de conduta e emocionais na infância e na adolescência Capacitação nas escolas para ajudar as crianças a reconhecerem e evitarem
reduzissem a ocorrência posterior de violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo. potenciais situações sexualmente abusivas
Há boas evidências sobre as relações entre o transtorno de conduta precoce e o envol- Os programas realizados nas escolas para a prevenção do abuso sexual infantil ensinan-
vimento posterior em violência tanto como vítima quanto perpetrador, e da eficácia das do as crianças a reconhecerem e evitarem potenciais situações sexualmente abusivas
intervenções para a redução do transtorno de conduta e da criminalidade juvenil. No são aplicados em muitas partes do mundo, porém, os exemplos avaliados vêm princi-
entanto, apesar de seu potencial, não há no momento evidências mostrando que a estra- palmente dos Estados Unidos.
tégia de identificação e tratamento de transtornos de conduta e emocionais na infância
Uma revisão sistemática de estudos (Mikton & Butchart, 2009) observou que, embora os
ou no início da adolescência leve a reduções da violência sexual e praticada pelo parceiro
programas escolares para a prevenção do abuso sexual infantil sejam eficazes no fortaleci-
íntimo na adolescência tardia e na vida adulta.
mento de conhecimentos e comportamentos de proteção contra esse tipo de abuso, faltam
Intervenções em crianças e adolescentes submetidos a maus-tratos infantis e/ou evidências que demonstrem que esses programas reduzem a sua ocorrência. Dois estudos
expostos à violência pelo parceiro íntimo que mediram a experiência futura de abuso sexual como desfecho relataram resultados
Conforme discutido na seção 2.3, as intervenções nessa área são particularmente divergentes (Finkelhor, Asdigian & Dziuba-Leatherman, 1995; Gibson & Leitemberg,
importantes porque as crianças e os adolescentes que foram submetidos a maus-tratos 2000). Contudo, recentes evidências de sua eficácia na prevenção de abuso sexual sub-
infantis ou expostos à violência parental tem um risco maior de se tornarem perpetra- sequente parece apoiar o uso desses programas. Futuras pesquisas sobre o impacto em
dores e vítimas de violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo. longo prazo sobre a real ocorrência de abuso sexual são necessárias (Finkelhor, 2009).

Uma meta-análise (Skowron & Reinemann, 2005) estudou 21 programas que realizaram Programas de prevenção de “bullying”
intervenções psicológicas voltadas às crianças e aos adolescentes que sofreram maus-tra- O bullying tem consequências imediatas e em longo prazo sobre perpetradores e víti-
tos infantis. Os resultados sugeriram que os tratamentos psicológicos para maus-tratos mas, incluindo isolamento social e a exacerbação do comportamento antissocial que
infantis levaram a melhoras entre os participantes: em torno de 71% das crianças tratadas pode levar ao crime juvenil e adulto (para os perpetradores) e depressão, ideação suici-
pareciam estar melhor do que aquelas não tratadas. Todas as intervenções foram projeta- da, isolamento social e baixa autoestima (para vítimas). Algumas dessas consequências
das para melhorar os resultados cognitivos, emocionais e comportamentais, sendo que 11 podem incrementar o risco de envolvimento posterior em violência sexual e/ou pelo
estudos foram considerados experimentais. Um ensaio randomizado de um desses pro- parceiro íntimo como perpetrador ou vítima. Uma série de análises concluiu que os
gramas (o Projeto de Relacionamentos de Jovens, “Youth Relationship Project” – seção programas de prevenção do bullying são eficazes na redução do bullying (Baldry & Far-
3.5) utilizou a violência de namoro de adolescentes como desfecho e identificou uma rington, 2007; Smith et al., 2004). Uma revisão sistemática e meta-análise dos progra-
redução na experiência e perpetração de abuso físico e emocional (Wolfe et al., 2003). mas baseados na escola para a redução do bullying e da vitimização (Farrington & Ttofi,
2009) mostrou que, em termos gerais, os programas de prevenção do bullying baseados
As intervenções em crianças e adolescentes submetidos a maus-tratos infantis e/ou
nas escolas são eficazes na redução tanto da prática do bullying como da vitimização por
expostos à violência pelo parceiro íntimo parecem, portanto, ser uma estratégia – apoia-
bullying. Em média, a perpetração do bullying diminuiu em 20-23% e a experiência de
da por evidências emergentes – para a prevenção de violência praticada pelo parceiro
sofrer a prática do bullying diminuiu em 17-20%.
íntimo. Seu efeito na violência sexual ainda permanece obscuro no momento.
Embora esses programas tendam a ter benefícios potenciais mais amplos, as evidências
Desenvolvimento de capacidades sociais e emocionais nas escolas
de seus efeitos sobre a experiência ou a perpetração da violência sexual e/ou da praticada
Fatores como a impulsividade, a falta de empatia e baixa capacidade social – que podem pelo parceiro íntimo mais tarde na vida são limitadas. No entanto, uma série de estudos
indicar um transtorno de conduta, o precursor do transtorno de personalidade antissocial demonstrou uma associação entre o bullying e o assédio sexual. Alguns programas de
– são fatores de risco individuais importantes na perpetração de várias formas de violência, prevenção de violência sexual nos Estados Unidos incluem componentes de prevenção
inclusive a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo. Os programas de treina- do bullying em crianças do nível fundamental e médio (Basile, Hertz & Back, 2009).
mento de habilidades cognitivas e comportamentais e os programas de desenvolvimento
44 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
45

3.5 Durante a adolescência e no início da vida adulta saúde e foi aplicado em classes separadas por sexo. Um tópico subjacente sobre habilida-
des de relacionamento saudável e não violento foi incluído nas 21 aulas, que abrangeram
Programas nas escolas para a prevenção da violência no namoro
o amplo desenvolvimento de habilidades utilizando prática gradual com os colegas para
A violência no namoro é uma forma precoce de violência praticada pelo parceiro íntimo, desenvolver estratégias positivas para lidar com pressões e resolução de conflitos sem o
ocorrendo principalmente na adolescência e no início da vida adulta e vivenciado no uso de abuso ou violência. O custo médio do treinamento e dos materiais ficou em 16
âmbito de um “relacionamento de namoro”. Os programas de prevenção da violência dólares canadenses por estudante (Wolfe et al., 2009).
no namoro foram os mais avaliados de todos os programas de prevenção de violência
O outro programa canadense realizado em escolas que foi avaliado (Wolfe et al., 2003) é
praticada pelo parceiro íntimo, com 12 avaliações de programas de prevenção da vio-
o “Youth Relationship Project” (Projeto Relações Juvenis). Esse programa comunitário
lência de namoro adolescentes, incluindo cinco ensaios randomizados (Foshee et al.,
teve como objetivo ajudar os jovens com 14-16 anos de idade que sofreram maus-tratos
2008). Direcionados às primeiras relações sexuais, em contextos onde o casamento é
infantis a desenvolverem relações saudáveis e não abusivas com os parceiros de namoro.
geralmente contraído a partir dos 20 anos de idade, esses programas se mostraram
O programa educou os participantes acerca de relações saudáveis e abusivas e os ajudou
aptos para prevenir a violência no namoro e a violência sexual. Além disso, a violência
a adquirir habilidades de resolução de conflitos e de comunicação. Um ensaio randomi-
no namoro parece ser um fator de risco para violência praticada pelo parceiro íntimo
zado controlado mostrou que o programa foi eficaz na redução de ocorrências de abuso
mais tarde na vida (Smith, White & Holland, 2003) e está relacionada com lesões e
físico e emocional e dos sintomas de sofrimento emocional em um período de 16 meses
comportamentos prejudiciais à saúde, como sexo não seguro, uso de substâncias e ten-
após o programa (Wolfe et al., 2003).
tativas de suicídio (Wolfe et al., 2009). Portanto, presume-se que a prevenção da violên-
Portanto, esses três programas realizados em escolas parecem ser eficazes para a pre-
cia no namoro pode ter caráter preventivo da violência sexual e daquela pelo parceiro
venção da violência física, sexual e emocional nas relações de namoro em adolescentes
íntimo mais tarde na vida (Foshee, Reyes & Wyckoff, 2009).
e podem também ajudar na prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro
Um programa de prevenção da violência no namoro que foi bem avaliado utilizan-
íntimo. No entanto, há uma série de precauções necessárias com relação a programas
do um desenho randomizado controlado é Safe Dates (“Namoros Seguros”). Foram
de prevenção da violência no namoro. Embora as avaliações de grande qualidade dos
observados efeitos positivos em todas as quatro avaliações publicadas (Foshee et al.,
três programas descritos acima demonstraram uma redução da violência em períodos
1998; Foshee et al., 2000; Foshee et al., 2004; Foshee et al., 2005). Foshee et al. (2005)
de acompanhamento moderadamente longos, a qualidade das avaliações da maioria dos
analisaram os efeitos de Safe Dates na prevenção ou redução de perpetração e vitimi-
outros programas foi baixa, com períodos de acompanhamento curtos, e incluíram ape-
zação ao longo do tempo utilizando quatro intervalos sequenciais de acompanhamento.
nas mudanças de conhecimentos e atitudes como resultados (para os quais foram regis-
O programa reduziu significativamente a perpetração de violência psicológica, física e
trados alguns efeitos positivos). Não se sabe ao certo se as mudanças nos conhecimentos e
sexual moderada no namoro em todos os quatro períodos de acompanhamento. O pro-
atitudes levaram a mudanças correspondentes no comportamento (Whitaker et al., 2006).
grama reduziu também a perpetração de abuso físico grave no namoro ao longo do tem-
Além disso, mais pesquisas são necessárias para avaliar a eficácia dos programas de pre-
po, porém, apenas para adolescentes que relataram no início do seguimento nenhum
venção da violência no namoro no longo prazo, quando integrados com programas de
envolvimento ou envolvimento médio anterior na perpetração física grave. Os efeitos
prevenção de outras formas de violência e quando realizados fora da América do Norte e
do programa na experiência de violência sexual no namoro ao longo do tempo foram
em contextos de escassez de recursos. Uma específica preocupação que tem sido levanta-
marginais. O Safe Dates não preveniu ou reduziu a experiência de abuso psicológico no
da sobre programas como Safe Dates é em que medida eles são culturalmente limitados à
namoro. Os efeitos do programa foram principalmente devidos a mudanças nas normas
América do Norte e, portanto, podem ter um valor menor nos PBMR.
de violência no namoro, nas normas dos papéis de gênero e no conhecimento dos ser-
viços comunitários. Observou-se que o programa pode ter tido um maior impacto na
Programas com diversos componentes de prevenção da violência realizados nas
prevenção primária do que na prevenção de novo abuso entre aqueles que possuíam um
escolas
histórico de abuso anterior (Foshee et al., 1996; 1998; 2000; 2004; 2008). Os programas compreensivos com diversos componentes são os programas de preven-
Dois programas de prevenção da violência em Ontario, Canadá, também foram ava- ção da violência baseados nas escolas mais eficazes (Adi et al., 2007; Dusenbury et al.,
liados (Wolfe et al., 2003; Wolfe et al., 2009). Uma avaliação dos resultados do “The 1997; Hahn et al., 2007). Esses programas são aplicados a todos os alunos e vão além dos
Fourth R: Skills for Youth Relationships” (O Quarto R: Habilidades para as Relações componentes usuais de educação baseada no currículo ao incluir o treinamento de pro-
Juvenis) usou um desenho randomizado comunitário e observou que, baseado na perpe- fessores no manejo do comportamento, na educação parental e na mediação por pares.
tração autodeclarada em um período de acompanhamento de dois anos e meio, as taxas Pode também haver atividades depois do período escolar e/ou envolvimento comunitá-
da violência física de namoro eram de 7,4% no grupo do programa e 9,8% no grupo de rio. Uma revisão sistemática (Hahn et al., 2007) estimou que, em média, os programas
controle – uma diferença de 2,4%. No entanto, por razões ainda não totalmente com- compreensivos com diversos componentes reduziram a violência em 15% nas escolas
preendidas, essa redução de perpetração autodeclarada foi observada em meninos (7,1% que implementaram os programas, em comparação com as que não o fizeram.
nos controles versus 2,7% em estudantes de intervenção) mas não em meninas (12,1% Os programas com diversos componentes de prevenção da violência realizados nas
versus 11,9%)1. O programa – avaliado por amostragem em 1.700 estudantes com 14-15 escolas têm focado principalmente nos resultados de bullying e violência juvenil. Con-
anos de idade de 20 escolas públicas – foi integrado no currículo de educação física e em siderando que os fatores de risco para a violência juvenil e para a violência sexual e a
praticada pelo parceiro íntimo são, até certo ponto, compartilhados, esses programas
Essas taxas de perpetração por meninos e meninas estão amplamente de acordo com os achados da
1
pareceriam ter algum potencial para prevenir essas últimas formas de violência. Não há,
simetria de sexo em agressões de parceiros autodeclaradas para jovens homens e mulheres na América
do Norte mencionada na introdução.
contudo, evidências de sua eficácia nessas áreas.
46 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
47

em uma discussão sobre estratégias de autodefesa sem ensinar as habilidades correspon-


Programas de prevenção de violência sexual para as populações escolares e
dentes não encontraram nenhuma redução no risco de agressão sexual durante o acompa-
universitárias
nhamento (Breitenbecher & Gidycz, 1998; Breitenbecher & Scarce, 2001). Os programas
Nos Estados Unidos, a maioria dos programas de prevenção primária de violência sexual de prevenção do estupro que utilizam um estilo de confronto pessoal com os participantes
por estranhos, conhecidos e parceiros de namoro “não íntimos” focaram em estudantes parecem de fato ser nocivos. Um estudo avaliando esse tipo de programa observou uma
universitários – embora tenham sido cada vez mais aplicados em estudantes das escolas maior tolerância entre os homens sobre a justificação do estupro (Fisher, 1986).
do ensino fundamental e médio. Essa abordagem possui limitações óbvias em contextos
onde poucos acessam o ensino superior. No âmbito do desenvolvimento, faz sentido edu- Uma série de outras abordagens foi tentada, mas há atualmente evidências limitadas
car os jovens no que diz respeito ao comportamento sexual adequado e não adequado no sobre a sua eficácia. Incentivar a empatia para com a vítima foi associado tanto a melho-
momento da formação de suas identidades sexuais e da definição de suas atitudes para ras como a pioras de atitudes para com a violência sexual e a aceitação dos mitos do
com parceiros românticos. No entanto, há, mais uma vez, uma grave escassez de evidên- estupro (Schewe, 2007). A educação de mulheres sobre como evitar as situações de
cias para confirmar a eficácia ou não desses programas (Schewe, 2007). alto risco (como pedir carona, abuso de álcool ou envolver-se com homens mais velhos)
resultou também em resultados inconclusivos e também tem sido associada com uma
Duas análises sistemáticas recentes nos Estados Unidos avaliaram a eficácia de pro- maior aceitação dos mitos do estupro. É fundamental que essa educação seja aplicada a
gramas de prevenção primária específicos nessa área. O primeiro desses (Morrison audiências exclusivamente femininas, de modo a evitar o incentivo à culpabilização das
et al., 2004) incluiu as populações da universidade, do ensino médio e fundamental e vítimas. Houve também resultados inconclusivos sobre a eficácia dos programas que
identificou que os programas incluíam normalmente vários componentes (na maioria enfatizam as consequências negativas da violência sexual para os homens e tentam per-
das vezes, a contestação sobre os mitos sobre estupros; informações sobre estupros por suadi-los a ver essa forma de sexo como menos gratificante do que o sexo consensual.
estranho ou no namoro; estatísticas sobre estupro; e habilidades preventivas de redução
de risco e de proteção). Dos 50 estudos analisados, sete (14%) mostraram apenas efeitos Finalmente, foram sugeridos vários programas para a prevenção de violência sexual
positivos no conhecimento e nas atitudes, porém, nenhum utilizou a experiência ou que ainda não foram nem amplamente implementados nem tampouco avaliados. Esses
perpetração de violência como resultados; quarenta (80%) relataram efeitos divergen- incluem fornecer educação universal para a prevenção do estupro e a educação dos
tes; e três (6%) indicaram que não houve nenhum efeito. Os estudos também tiveram pais sobre a prevenção da violência sexual, em todas as escolas e nos locais de trabalho;
uma série de limitações metodológicas que levaram os analistas a concluírem que a educar os professores e instrutores sobre a violência sexual e sua prevenção; mudar as
eficácia desses programas permanece obscura. Essas limitações incluíram: o uso de práticas das organizações para incluir atividades como treinamento obrigatório da pre-
conhecimento e atitude como as únicas medidas de resultados; os estudos com desenho venção da violência contra a mulher.
de maior qualidade mostraram resultados piores; os efeitos positivos dos programas 3.6 Durante a vida adulta
tendem a diminuir ao longo do tempo. Empoderamento e abordagens participativas para a redução da desigualdade de
A segunda revisão sistemática (Anderson & Whiston, 2005) examinou 69 programas gênero
educacionais para estudantes universitários sobre agressão sexual, e encontrou poucas O empoderamento é uma abordagem que permite aos indivíduos e às comunidades a
evidências sobre a eficácia desses programas na prevenção dessas agressões ou no aumen- identificação de seus próprios problemas e o desenvolvimento, por meio de métodos
to da empatia para com o estupro (reconhecimento cognitivo-emocional do trauma de participativos, de recursos, habilidades e confiança necessários para abordá-los. Essa
uma vítima de estupro) ou de conscientização do estupro. Entretanto, observou-se que os abordagem enfatiza o papel dos indivíduos e das comunidades enquanto agentes da
programas avaliados aumentam o conhecimento sobre o estupro e mudam beneficamen- mudança e prioriza a comunidade como líder e dona de todo o processo. Os programas
te as atitudes no que lhe diz respeito. A falta gritante de estudos usando diretamente os abrangentes lidam com a comunidade como um todo ou com múltiplos subgrupos da
comportamentos como resultados levou os autores a concluir que há necessidade de mais população, possuem vários componentes e são projetados para efetuar a mudança social
pesquisas utilizando esses desfechos para se chegar a conclusões definitivas. Com base ao criar um ambiente favorável para a mudança de atitudes e comportamentos indi-
nessas duas análises, a eficácia desses programas permanece indefinida. viduais e comunitários. Essas abordagens utilizam muitas vezes uma combinação de
Observou-se que o fornecimento de informações “factuais”1 como parte da abordagem avaliação participativa rápida de necessidades, educação ou capacitação, campanhas de
dos mitos de estupro parece não ter nenhum efeito nas atitudes para com o estupro ou conscientização e ação comunitária (Lankester, 1992; Morley et al, 1983). Dois exem-
sobre os níveis de empatia para com suas vítimas (Schewe, 2007). Estudos de avaliação plos de abordagens de empoderamento para a prevenção de violência praticada pelo
indicam que os programas de conscientização e conhecimento do estupro baseados no parceiro íntimo são o uso do microcrédito com treinamento sobre igualdade de gênero e o
fornecimento dessas informações raramente funcionam. Similarmente, educar as mulhe- pacote de treinamento Stepping Stones (“Trampolins”).
res sobre estratégias eficazes de autodefesa sem de fato ensinar-lhes verdadeiras habilida- Uma série de iniciativas envolvendo o microcrédito está atualmente estabelecida para
des de autodefesa mostrou-se com valor questionável e pode mesmo ser potencialmente ampliar o poder econômico e social da mulher. Essas iniciativas fornecem pequenos
nocivo em alguns contextos (Schewe, 2007). Duas avaliações de programas que focaram empréstimos para a mobilização de projetos gerando renda que podem aliviar a pobre-
za. Os programas de crédito autossuficiente e desenvolvimento rural como o Grameen
Essas informações geralmente incluem: a definição de estupro e termos legais relacionados; estatísticas
1
Bank (“Banco Grameen”) e o Comitê para o Progresso Rural do Bangladesh (BRAC)
sobre a prevalência de estupro; descrições dos perpetradores típicos e da síndrome do trauma de estu-
pro; e informações sobre os recursos disponíveis para as vítimas de estupro. visam mulheres e parecem mostrar alguma promessa de redução da violência praticada
48 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
49

pelo parceiro íntimo. Entretanto, a avaliação desses programas precisa levar em consi- O pacote de treinamento Stepping Stones1 é outra abordagem participativa promovendo
deração os relatos de credores explorando mutuários menos favorecidos com altas taxas as habilidades de comunicação e relacionamento no âmbito das comunidades. As sessões
de juros que podem aprisionar as pessoas na teia da dívida e contribuir a uma maior de capacitação são aplicadas paralelamente em grupos exclusivamente de homens e de
pobreza (Rhyne, 2001) bem como relatos de aumento da violência praticada pelo par- mulheres. Originalmente projetado para a prevenção contra a infecção pelo vírus HIV,
ceiro íntimo (Kabeer, 2001). Divergências sobre o controle de ativos e proventos recém- várias comunidades têm agora incorporado elementos de prevenção da violência. A abor-
-adquiridos, em combinação com a mudança de atitudes da mulher sobre os papéis de dagem foi utilizada em 40 PBMR da África, Ásia, Europa e América Latina. As versões
gênero tradicionais, um maior apoio social e uma maior confiança na sua própria defesa do programa já foram avaliadas em vários países (Welbourn, 2009).2 A avaliação mais
contra a autoridade masculina têm levado algumas vezes a conflitos conjugais e violên- aprofundada até o momento foi um ensaio randomizado controlado na província Eastern
cia contra a mulher perpetrada por seus parceiros (Schuler et al., 1996). O aumento da Cape, na África do Sul, com participantes entre 15 e 26 anos de idade. Esse estudo indi-
violência após a participação em programas de financiamento foi também relatada em cou que uma proporção mais baixa de homens que participaram no programa cometeu
outros contextos, pelo menos nas etapas iniciais da associação ao programa (Ahmed, violência física ou sexual contra suas parceiras nos dois anos seguintes ao programa, em
2005; Rahman, 1999). Os papéis de gênero preexistentes parecem afetar os resulta- comparação com homens do grupo de controle (Jewkes et al., 2008). Além disso, uma
dos relacionados à violência nos programas de créditos – em comunidades com papéis avaliação na Gâmbia comparou duas aldeias onde o programa foi realizado com duas
gênero rígidos, o envolvimento da mulher pode resultar em maiores níveis de violência aldeias de controle e acompanhou os casais participantes por mais de um ano. O estudo
praticada pelo parceiro íntimo, que não são observados em comunidades com papéis de identificou que, em comparação com casais que não receberam o programa, houve uma
gênero mais flexíveis (Koenig et al., 2003). As avaliações de resultados conduzidas até melhora na comunicação e uma redução de brigas entre os casais participantes. Obser-
o momento sobre programas de microcrédito isolado não foram tão rigorosas quanto vou-se também que os participantes masculinos eram mais propensos a aceitar a recusa
aquelas do programa de Intervenção com Microcrédito e componentes de Aids e Igual- da esposa de ter uma relação sexual e menos propensos a espancá-la (Paine et al., 2002).
dade de Gênero (Image) descrito na Caixa 3. SASA! é um “kit ativista” para a mobilização de comunidades na prevenção da violên-
cia contra a mulher, com foco particular na conexão ente HIV/Aids e a violência contra
CAIXA 3
a mulher.3 “Sasa” é a palavra Kiswahili para “Agora” e o kit inclui recursos práticos;
ferramentas de monitoramento e avaliação de atividades para apoiar as atividades do
Intervenção com Microcrédito para Aids e Igualdade de Gênero (Image) ativismo local, da mídia e lideranças sociais; e materiais de comunicação e treinamento.
Um dos programas mais rigorosamente avaliados e bem-sucedidos de microcrédito e de É direcionado às normas comunitárias e aos papéis de gênero tradicionais e objetiva
empoderamento da mulher até o momento tem sido a Intervenção com Microcrédito para
a mudança de conhecimento, atitudes, habilidades e comportamentos para corrigir o
Aids e Igualdade de Gênero (Image) na África do Sul. Esse programa é dirigido a mulheres
desequilíbrio de poder entre homem e mulher. Foi criado por Raising Voices (“Levan-
vivendo nos domicílios mais pobres das zonas rurais e associa um programa de microcrédito
tando Vozes”), uma organização não governamental baseada na Uganda atuando no
com sessões de capacitação e construção de habilidades sobre a prevenção da infecção pelo
vírus HIV, bem como as normas de gênero, as crenças culturais a comunicação e a violência Nordeste e no Sul da África. A Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, a
praticada pelo parceiro íntimo. Raising Voices, o Centro de Prevenção da Violência Doméstica baseado em Kampala
e a Universidade de Makerere estão atualmente conduzindo um ensaio randomizado
O programa incentiva também a participação mais ampla da comunidade, envolvendo ho-
controlado conjunto para avaliar a eficácia dessa abordagem.
mens e meninos. Objetiva melhorar as oportunidades de emprego da mulher, aumentar a sua
influência nas decisões domiciliares e sua habilidade de resolver conflitos conjugais, fortale- Há, portanto, evidências emergentes da eficácia das abordagens participativas e de
cer as suas redes sociais e reduzir a transmissão do vírus HIV. empoderamento nos PBMR na prevenção da violência praticada pelo parceiro íntimo
através do microcrédito em combinação com a capacitação sobre a igualdade de gênero
Um ensaio randomizado controlado identificou que, dois anos após a conclusão do programa,
e do pacote de treinamento Stepping Stones. Espera-se que os resultados de avaliação
as participantes relataram sofrer 55% menos atos de violência praticados pelos seus parceiros
íntimos nos últimos 12 meses que os membros do grupo de controle. Além disso, as participan-
do SASA! forneçam evidências adicionais sobre a eficácia desse tipo de programa que
tes eram mais propensas a discordar com as afirmações que permitem a violência física e sexu- parece ter um potencial para reduzir a violência praticada pelo parceiro íntimo. Há uma
al praticada em um parceiro íntimo (52% dos participantes versus 36% do grupo de controle). necessidade de replicar e ampliar esse tipo de abordagem.
Muitas outras estratégias participativas de empoderamento comunitário para a pre-
venção da violência praticada pelo parceiro íntimo podem ser valiosas, embora essas
Embora os programas de microcrédito possam operar como entidades delimitadas, Image é um tenham sido raramente implementadas como estratégias de prevenção primária ou rigo-
exemplo desse tipo de programa que também incorpora sessões de educação e oficinas de cons- rosamente avaliadas. O aconselhamento de casais foca na violência e/ou no abuso de
trução de habilidades para ajudar na mudança das normas de gênero, melhorar a comunicação substâncias, e pode ser eficaz para casais que não recorreram à violência praticada pelo
nas relações e empoderar a mulher de outras formas e tem demonstrado ser eficaz na redução da parceiro íntimo mas que podem estar em risco. Os programas familiares de promoção
violência praticada pelo parceiro íntimo (Kim et al., 2009). Image foi eficaz na redução da violência da comunicação positiva e dos relacionamentos saudáveis e de prevenção da violência
praticada pelo parceiro íntimo e no apoio à mulher por meio da educação e da construção de habi-
lidades e do envolvimento de meninos e homens e da comunidade como um todo. Isso foi alcan- 1
Ver: www.steppingstonesfeedback.org
çado sem a produção do tipo de efeitos negativos observados em outros locais onde as mudanças 2
Ver também: www.creativexchange.org/chd/case3
culturais e outras mudanças ocorreram na ausência de esforços para envolver os homens. 3
Ver: www.raisingvoices.org/sasa/index.php
50 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
51

no âmbito da família podem ser também eficazes na prevenção à violência sexual e pra- A criação de uma equipe multidisciplinar consistindo de provedores de saúde mental,
ticada pelo parceiro íntimo, tendo em conta a importância dos fatores familiares para provedores de serviços médicos e capelães que poderiam responder a eventos traumá-
seu desenvolvimento. Um programa de prevenção da violência praticada pelo parceiro ticos em nível comunitário, incluindo suicídios.
íntimo no Equador que foi implementado (porém não avaliado) consistiu na designação O programa reduziu a taxa de suicídio em 33% e as taxas violência familiar grave e
de amigos íntimos ou parentes para monitorar os recém-casados e intervir em caso de moderada em 54% e 30% respectivamente. Devido à combinação de violência praticada
conflitos sérios. Há também evidências iniciais de que a coesão social entre os mora- pelo parceiro íntimo com os maus-tratos infantis na mesma medida de desfecho, não
dores aumenta a capacidade de uma comunidade para lidar com o crime e a violência é possível determinar o efeito do programa especificamente sobre a violência praticada
(aumentando a “eficácia coletiva”) levando a reduções na prática de violência letal e pelo parceiro íntimo (Knox et al., 2003), portanto, considera-se que esse programa
não letal pelo parceiro íntimo. Essas intervenções em nível comunitário podem mudar tenha potencial, e não que seja sustentado por evidências emergentes.
beneficamente as características em nível comunitário e permitir futuras avaliações.
3.7 Todas as etapas da vida
Programas de visita domiciliar para a prevenção de violência pelo parceiro íntimo
Reduzir o acesso e o uso nocivo de álcool
Uma revisão sistemática de programas de visita domiciliar (Bilukha et al., 2005) identi-
Conforme descrito na seção 2.3, o uso nocivo de álcool está associado à perpetração
ficou apenas um estudo de avaliação (Eckenrode, 2000, nos Estados Unidos) que ana-
da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo. Pode-se ter como hipótese que a
lisou o efeito da visita domiciliar nos níveis de violência praticada pelo parceiro íntimo.
redução do acesso ao álcool e do seu uso nocivo levará a reduções da violência sexual
Não foi encontrada nenhuma diferença significativa na incidência dessa violência entre
e praticada pelo parceiro íntimo. Entretanto, a relação entre o uso nocivo de álcool e
o programa e os grupos de controle.
a violência é complexa – nem todos que consomem álcool estão, de maneira igual, em
Um projeto quinquenal (2007-2012) financiado pelo Centro de Controle e Prevenção maior risco de cometer violência, e a violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo
de Doenças dos Estados Unidos que está em andamento, desenvolverá, testará e ava- pode ocorrer em altas taxas nas culturas onde o uso do álcool é tabu. Além disso, não
liará um programa para a redução da violência praticada pelo parceiro íntimo entre as há acordo entre os especialistas sobre a possibilidade ou não de considerar o álcool como
mulheres de baixa renda cadastradas no Nurse Family Partnership (“Parceria Enfer- “causa” da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo ou se seria melhor descrito
meiros-Família”) durante a gravidez e os primeiros dois anos de pós-parto. O Nur- como fator moderador ou contributivo. Contudo, parece claro que as crenças individu-
se Family Partnership é um programa de visita domiciliar de eficácia comprovada na ais e societais de que o álcool causa agressão podem levar à expectativa de um compor-
redução de maus-tratos infantis. Os objetivos principais são desenvolver um modelo tamento violento quando os indivíduos estão sobre a influência do álcool, e ao álcool ser
para um programa domiciliar de prevenção de violência praticada pelo parceiro íntimo usado como uma desculpa para perdoar essa violência. Até o momento, as pesquisas
para mães cadastradas em risco de sofrer essa violência; testar a viabilidade e aceita- focando a prevenção da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo relacionada
bilidade do programa; e comparar, através de um estudo randomizado controlado, a com o álcool são escassas. Há, porém, algumas evidências emergentes sugerindo que as
eficácia dessa abordagem com a do Nurse Family Partnership sem esse componente. estratégias a seguir objetivando a redução do consumo de álcool possam ser eficazes na
Uma avaliação do Hawaii Healthy Start Program (“Programa de Início Saudável do prevenção da violência praticada pelo parceiro íntimo.
Hawaii”) – um programa de visita domiciliar para primeira infância – identificou que,
Reduzir a disponibilidade de álcool: Na Austrália, a intervenção comunitária
quando comparada a um grupo controle, a participação das mães era associada a uma
que incluiu a restrição aos horários de venda de álcool em uma cidade reduziu o
redução de perpetração e experiência de violência praticada pelo parceiro íntimo. O
número de vítimas de violência doméstica se apresentando nos hospitais (Douglas,
efeito persistiu pelos primeiros três anos da vida de uma criança, com pequenas redu-
1998). Na Groenlândia, um sistema de racionamento de álcool baseado em cupons,
ções na perpetração e experiência da violência materna praticada pelo parceiro íntimo
implementado nos anos 1980, que dava o direito aos adultos a álcool equivalente a 72
no acompanhamento quando a criança tinha sete e nove anos de idade (Bair-Merrit et
cervejas mensais observou uma redução em 58% do número de ocorrências policiais
al., 2010). Pode-se concluir, portanto, que as evidências de eficácia desses programas
referentes a brigas domésticas (Room et al, 2003).
permanece ainda indefinida.
Programa das Forças Aéreas dos Estados Unidos (USAF) com diversos Regulação dos preços do álcool: Aumentar o preço do álcool é um meio eficaz
componentes para a prevenção do suicídio de reduzir, em geral, a violência relacionada com o álcool (Chaloupka, Grossman
& Saffer, 2002). Embora haja uma escassez de pesquisas avaliando a eficácia dessa
O presente programa visava principalmente a redução da taxa de suicídio entre os fun-
abordagem na redução da violência praticada pelo parceiro íntimo, um estudo utili-
cionários da USAF, porém, mostrou-se capaz de reduzir a “violência familiar” que
zando uma modelagem econômica estimou que, nos Estados Unidos, um aumento
incluía a violência praticada pelo parceiro íntimo e maus-tratos infantis. O programa
de 1% no preço do álcool pode diminuir em quase 5% a probabilidade da violência
baseava-se em:
praticada pelo parceiro íntimo em mulheres (Markowitz, 2000).
A plena participação da liderança da USAF para garantir o apoio de todo o serviço.
Tratamento para transtornos decorrentes do uso de álcool: Nos Estados Uni-
A incorporação da prevenção do suicídio na educação profissional militar.
dos, o tratamento da dependência do álcool entre os homens diminuiu consideravel-
A educação da comunidade e a capacitação do pessoal militar para a identificação
mente a violência praticada pelo parceiro íntimo, tanto do marido contra a mulher
de fatores de risco, o fornecimento de intervenção adequada e o encaminhamento de
como da mulher contra o marido, 6 a 12 meses mais tarde (Stuart et al., 2003), suge-
indivíduos em risco potencial de suicídio.
rindo que esse tratamento pode também ser uma medida de prevenção primária eficaz.
52 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
53

A violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo pode também ser reduzida através dades para o tratamento ou rastreamento de álcool. Como alternativa, seria mais benéfico
de programas de prevenção primária para diminuir os agravos mais gerais causados desenvolver nesses países o papel dos trabalhadores de atenção primária em saúde ou dos
pelo álcool (Anderson, Chisholm & Fuhr, 2009). As abordagens cuja eficácia é bem médicos generalistas ou de família na identificação e diminuição do uso nocivo de álcool.
sustentada por evidências incluem: Embora as evidências da eficácia das medidas de redução do acesso e do uso nocivo de
Diminuir a disponibilidade do álcool: Isso pode ser alcançado através da intro- álcool estejam apenas começando a surgir e que haja ainda grande falta de estudos de boa
dução políticas de idade mínima para a compra e da redução da densidade de locais qualidade mostrando seus impactos na violência sexual e na praticada pelo parceiro ínti-
de venda de álcool e dos horários e dias para a venda de álcool. Essa abordagem mo, os programas relacionados com o álcool para a prevenção da violência praticada pelo
mostrou ser capaz de levar à redução problemas relacionados com o álcool, inclusive parceiro íntimo e da violência sexual parecem ser promissores. A forte associação entre o
homicídios e agressões (Duailibi et al., 2007). álcool e a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo sugere que as intervenções de
Banir a propaganda do álcool: O álcool é comercializado através de propagandas prevenção primária na redução dos agravos causados pelo álcool poderiam ser potencial-
cada vez mais sofisticadas nos grandes veículos de mídia, vinculando as marcas de bebi- mente eficazes. As abordagens de prevenção da violência sexual e da praticada pelo par-
das alcoólicas com esportes e atividades culturais; através de patrocínios e merchandising; ceiro íntimo relacionada com o álcool deveriam também tratar da aceitabilidade social da
e através de marketing direto pela internet, podcasts e celulares. As mais fortes evidências bebida excessiva como fator mitigador na violência, alterando as crenças normativas sobre
do vínculo entre a propaganda e o consumo de álcool originam-se nos estudos longitudi- a masculinidade e o consumo pesado de álcool. Ainda existe uma necessidade urgente de
nais sobre os efeitos das várias formas de comercialização do álcool – incluindo exposição mais pesquisas para avaliar a eficácia dessas abordagens na redução da violência sexual e
à propaganda de álcool na mídia tradicional e promoção na forma de conteúdo nos filmes da praticada pelo parceiro íntimo, especialmente nos PBMR.
e merchandise de marcas de bebidas alcoólicas – na iniciação do consumo de álcool na Mudança das normas sociais e culturais de gênero que apoiam a violência sexual
juventude e nos padrões de consumo de álcool na juventude de maior risco (Anderson e a praticada pelo parceiro íntimo
et al., 2009). No entanto, na atualidade, não há evidências mostrando que essas medidas As normas culturais e sociais de gênero são as regras ou as “expectativas de comporta-
reduzem a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo. mento” que regulam os papéis e as relações de homens e mulheres dentro de um espe-
Intervenções dirigidas individualmente a consumidores de álcool que estão já cífico grupo cultural ou social. Muitas vezes não ditas, essas normas definem o que é
em risco: Essas incluem rastreamento e intervenções breves. O rastreamento de álcool considerado comportamento adequado, governam o que é ou não é aceitável e moldam
(como AUDIT; Babor et al., 2001) e intervenções breves em âmbitos de atenção primária as interações entre homens e mulheres. Os indivíduos são dissuadidos de violar essas
em saúde mostraram ser eficazes na redução dos níveis da intensidade do consumo em normas por meio da ameaça da desaprovação social ou da punição, ou por causa de sen-
PBMR e PAR (Room et al., 2003). No entanto, seu efeito direto na violência praticada timentos de culpa ou vergonha pela transgressão de normas internalizadas de conduta.
pelo parceiro íntimo relacionada com o álcool não foi mensurada. As evidências indicam As normas sociais e culturais de gênero tornam, muitas vezes, as mulheres vulneráveis à
que os bebedores de álcool podem reduzir seu consumo em até 20% após uma breve violência praticada pelo parceiro íntimo, põem mulheres e meninas em um risco maior
intervenção, e que os bebedores mais pesados que recebem essa intervenção são duas de violência sexual e permitem ou apoiam a aceitabilidade da violência (Caixa 4).
vezes mais propensos a reduzirem seu consumo de álcool que os bebedores que não rece-
bem nenhuma intervenção. As intervenções breves incluem o fornecimento oportuno de CAIXA 4
aconselhamento e informações nos contextos da saúde ou justiça criminal (normalmente
durante 5-10 minutos), mas pode também se estender para várias sessões de aconselha- Exemplos de normas sociais e culturais que apoiam a violência contra
mento ou entrevista motivacional (FPH, 2008; Sheehan, 2008). a mulher
A educação sobre o álcool realizada nas escolas parece não reduzir os agravos, porém os n Um homem tem o direito de afirmar o seu poder sobre a mulher e é considerado
programas educacionais e de informação pública (apesar de, mais uma vez, parecerem socialmente superior – por exemplo, Índia (Mitra & Singh, 2007); Nigéria (Ilaka, 2005); e
Gana (Amoakohene, 2004).
ineficazes na redução dos agravos relacionados com o álcool) podem ampliar a atenção
n Um homem tem o direito de disciplinar uma mulher em caso de comportamento
dada ao álcool nas agendas públicas e políticas (Anderson et al., 2009).
“incorreto” – por exemplo, Índia (Go et al., 2003); Nigéria (Adegoke & Oladeji, 2008); e
Como na maioria dos programas de prevenção primária da violência sexual e daquela prati- China (Liu & Chan, 1999).
cada pelo parceiro íntimo, os programas reduzindo o acesso e o uso nocivo de álcool foram n A violência física é uma forma aceitável de resolver conflitos em uma relação – por
principalmente conduzidos e avaliados nos PAR e pouco se sabe sobre sua adequação ou exemplo, Estados Unidos (Champion & Durant, 2001).
eficácia fora desses países. Para muitos PBMR, programas como esforços para o fortaleci- n A violência praticada pelo parceiro íntimo é um assunto “tabu” – por exemplo, África do
mento e a ampliação do licenciamento de postos exclusivos de venda poderiam ser de gran- Sul (Fox et al., 2007).
de valor na redução da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo relacionada com n O divórcio é vergonhoso – por exemplo, Paquistão (Hussain & Khan, 2008).
o álcool. Em muitas sociedades em desenvolvimento, uma grande proporção da produção n O sexo é um direito do homem no casamento – por exemplo, Paquistão (Hussain &
e venda de álcool ocorre, na atualidade, em mercados informais não regulamentados. Um Khan, 2008).
n A atividade sexual (inclusive estupro) é uma marca da masculinidade – por exemplo,
estudo em São Paulo, Brasil, (Laranjeira & Hinkly, 2002) observou que apenas 35% dos
África do Sul (Petersen, Bhana & McKay, 2005).
postos de venda pesquisados tinham alguma forma de licença e que os fornecedores de álco-
n As meninas são responsáveis pelo controle dos impulsos sexuais dos homens – por
ol (licenciados ou não) enfrentavam poucas restrições aparentes de comercialização. Além
exemplo, África do Sul (Ilika, 2005; Petersen, Bhana & McKay, 2005).
disso, há bem menos unidades de saúde especializadas nos PBMR, reduzindo as oportuni-
54 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
55

Os esforços para mudar as normas sociais que apoiam a violência sexual e a praticada humanos da mulher e sobre o papel do homem de pôr fim à violência contra a mulher); o
pelo parceiro íntimo são, portanto, um elemento-chave na prevenção primária dessas fornecimento de informações precisas; a dissipação dos mitos e estereótipos sobre a vio-
formas de violência. Foram adotadas, embora raramente avaliadas, em todo o mundo lência praticada pelo parceiro íntimo e a violência sexual; e a mudança da opinião pública.
abordagens para romper o silêncio que muitas vezes existe em torno da violência sexual Essas campanhas têm o potencial de alcançar um grande número de pessoas.
e da praticada pelo parceiro íntimo, para tentar subsidiar e influenciar atitudes e normas Um exemplo de campanha de sensibilização através da mídia é Soul City (“Cidade da
sociais sobre a aceitabilidade da violência e para construir uma vontade política para Alma”) na África do Sul.1 Esse projeto multimídia de promoção de saúde e mudança
lidar com o problema. A utilização de achados de pesquisas para a ação política e social aborda uma variedade de questões de saúde e desenvolvimento, fornece informações
tem se mostrado promissora em chamar a atenção e conscientizar sobre o problema e e objetiva a mudança das normas sociais, das atitudes e da prática. Está dirigido a
em contribuir à formação de reformas e políticas (por exemplo, ver Ellsberg, Liljestrand indivíduos, comunidades e ao ambiente sociopolítico. Um de seus componentes visa à
& Winkwist, 1997). As três abordagens principais que, na atualidade, servem para a mudança das atitudes e normas que apoiam a violência sexual e a praticada pelo par-
mudança das normas sociais e culturais que apoiam a violência sexual e a praticada ceiro íntimo. Essa intervenção multiníveis foi lançada durante seis meses e consistiu em
pelo parceiro íntimo são: a teoria das normas sociais (isso é, corrigindo os equívocos de uma série de transmissões de televisão e rádio, materiais impressos e um disque ajuda.
que o uso dessa violência é um comportamento normativo altamente prevalente entre os Em parceria com uma coalizão nacional de prevenção da violência pelo parceiro íntimo,
pares); as campanhas midiáticas de conscientização; e o trabalho com homens e meni- uma campanha de promoção foi também dirigida ao governo nacional, com a finalida-
nos. Muitas vezes várias abordagens são utilizadas em um programa. de de conseguir a implementação da Lei de Violência Doméstica de 1998. A estratégia
A teoria das normas sociais pressupõe que as pessoas têm percepções equivocadas sobre objetivou o impacto em diversos níveis, desde conhecimento, atitudes, autoeficácia e
as atitudes e os comportamentos de outras pessoas. A prevalência de comportamentos comportamento individuais até diálogo comunitário, mudança de normas sociais e cria-
de risco (como o uso pesado de álcool ou a tolerância de comportamento violento) é ção de um ambiente legal e social favorável para a mudança. Uma avaliação indepen-
normalmente superestimada, ao passo que os comportamentos de proteção são normal- dente do programa incluiu pesquisas nacionais antes e depois da intervenção, grupos
mente subestimados. Isso afeta o comportamento de duas formas: (i) incrementando e focais e entrevistas aprofundadas com membros do público-alvo e atores em vários
justificando comportamentos de risco; e (ii) aumentando a probabilidade de um indiví- níveis. Mostrou que o programa havia facilitado a implementação da Lei de Violência
duo permanecer calado a respeito de qualquer desconforto causado por comportamen- Doméstica de 1998, havia impactado nas normas e crenças sociais problemáticas (como
tos de risco (fortalecendo assim a tolerância social). A abordagem das normas sociais aquela que diz que a violência praticada pelo parceiro íntimo é assunto particular) e teve
busca corrigir esses equívocos, gerando uma compreensão mais realística das atuais uma melhora nos níveis de conhecimento sobre onde buscar ajuda. Foram também rea-
normas comportamentais e reduzindo dessa maneira o comportamento de risco. lizadas tentativas de medição de seu impacto no comportamento violento, porém, não
Nos Estados Unidos, a abordagem das normas sociais foi aplicada ao problema da vio- houve dados suficientes para determinar isso com precisão (Usdin et al., 2005).
lência sexual entre estudantes universitários. Entre esses estudantes, os homens parece- Como o projeto Soul City indica, estão surgindo evidências de que as campanhas midi-
ram subestimar tanto a importância que a maioria dos homens e das mulheres atribui áticas, em combinação com outras oportunidades educacionais, podem mudar o conhe-
ao consentimento para o sexo como a boa vontade da maioria deles para intervir contra cimento, as atitudes e as crenças relacionadas com a violência sexual e praticada pelo
a agressão sexual (Fabiano et al., 2003). Embora as evidências sejam limitadas, foram parceiro íntimo. Embora boas campanhas possam aumentar o conhecimento e a cons-
relatados alguns resultados positivos. Em uma universidade dos Estados Unidos, o pro- cientização, influenciar as percepções e as atitudes e promover a vontade política para a
jeto A Man Respects a Woman (“Um Homem Respeita uma Mulher”) visou à redução ação, as evidências de sua eficácia na mudança de comportamento permanecem ainda
da agressão sexual contra a mulher, o aumento de percepções precisas de normas não insuficientes (Whitaker, Baker,& Arias, 2007).
coercivas de comportamento sexual e a redução dos comportamentos coercivos autor- Trabalho com homens e meninos: tem havido uma crescente tendência em focar esfor-
relatados pelos homens. O projeto usou uma campanha de marketing de normas sociais ços para mudar as normas sociais e culturais em adolescentes do sexo masculino ou
visando os homens, uma apresentação teatral abordando as questões de socialização e a meninos utilizando programas universais ou direcionados aplicados através de uma
educação masculina entre pares. A avaliação da campanha dois anos após a sua imple- série de mecanismos, incluindo iniciativas baseadas nas escolas, mobilização comuni-
mentação observou que os homens tinham percepções mais precisas dos comportamen- tária e campanhas de conscientização pública. Os objetivos normalmente incluem a
tos de outros homens, bem como melhores atitudes e crenças sobre o abuso sexual. Por ampliação do conhecimento individual, a mudança de atitudes para com as normas de
exemplo, uma porcentagem menor de homens acreditava que o estudante masculino gênero e a violência e a mudança das normas sociais no que diz respeito à masculinida-
médio tinha relações sexuais quando sua parceira estava drogada ou alcoolizada; que de, ao poder, ao gênero e à violência. Alguns programas também objetivam desenvolver
não pararia a atividade sexual quando solicitado, se já estivesse sexualmente excitado; a capacidade e a confiança de meninos e jovens homens para levantar a voz e intervir
e que, querendo tocar alguém de forma sexual, tentaria e veria sua reação. No entanto, contra a violência, buscando a mudança do clima social onde essa ocorre (Katz, 2006).
a porcentagem de homens relatando que têm relação sexual quando a sua parceira está A falta de envolvimento de homens e meninos na prevenção pode resultar no tipo de
drogada ou alcoolizada aumentou (Bruce, 2002). efeitos negativos observados em alguns contextos onde as mudanças culturais e outras
As campanhas midiáticas de sensibilização são uma abordagem comum de prevenção mudanças aconteceram na ausência de esforços para envolvê-los (Caixa 5).
primária da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. Os objetivos da campa-
nha podem incluir a conscientização pública (por exemplo, sobre a extensão do problema,
www.soulcity.org.za
1
sobre a violência pelo parceiro íntimo e a violência sexual enquanto violações dos direitos
56 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 3: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
57

CAIXA 5 Uma campanha na Nova Gales do Sul na Austrália – Violência contra a mulher: isso é
contra todas as regras1 – teve como alvo homens entre 21 e 29 anos de idade e objetivou
A repercussão na Nicarágua demonstra a necessidade de envolver influenciar as suas atitudes. As celebridades esportivas divulgaram a mensagem de que a
também os homens violência contra a mulher é inaceitável e que um homem másculo não é um homem vio-
lento. Procurou-se também melhorar a capacidade da comunidade de abordar e enfrentar
Desde 2000, a Nicarágua tem sido pioneira em uma série de iniciativas para proteger as
mulheres contra a violência doméstica. Essas incluem: a violência contra a mulher. Uma pesquisa pós-campanha indicou que a campanha alcan-
çou alguns resultados positivos: 83% dos entrevistados relatou que a mensagem da cam-
n uma rede de delegacias para as mulheres (Delegacia da Mulher) onde as mulheres que panha foi que a violência contra a mulher “não é legal” e 59% deles podiam se lembrar do
sofreram abusos podem receber apoio psicológico, social e legal;
lema da campanha. Entretanto, 91% do grupo-alvo relatou que esse não é um assunto que
n um ministério para assuntos familiares (Minha Família) que, entre outras responsabilidades eles falariam com seus pares, independentemente da campanha.
garante a disponibilidade de abrigo para mulheres e crianças sofrendo violência doméstica; e
Da mesma forma, nos Estados Unidos, a iniciativa “Os homens podem interromper o
n reforma do programa nacional de saúde reprodutiva para abordar o abuso sexual e do
estupro”2 conduz uma campanha de educação pública para homens e meninos com a
gênero.
mensagem: “a minha força não é para machucar”. Essa campanha ocorre em conjunto
Durante o mesmo período, os grupos da sociedade civil fizeram uma campanha para pro- com os clubes Men of Strength (MOST – “Homens de Força”) – um programa de
mover os direitos da mulher e empoderá-la para se opor ao abuso doméstico. Com esses prevenção primária que fornece aos jovens homens na faixa etária correspondente ao
esforços, a frequência relatada de violência praticada pelo parceiro íntimo e de violência se- ensino médio um espaço estruturado e favorável para aprender sobre a masculinidade
xual contra a mulher aumentou dramaticamente. Quanto mais promoção e conscientização,
saudável e a redefinição da força masculina.
maior a probabilidade de a mulher relatar a violência perpetrada contra ela. Por exemplo, o
número de casos relatados de violência sexual recebido pela Delegacia da Mulher subiu de Embora os programas para alterar as normas sociais e culturais estejam entre os mais visí-
4.174 (janeiro até junho de 2003) para 8.376 (janeiro até junho de 2004). veis de todas as estratégias de prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro
Pesquisadores da Universidade Centro Americana e do Instituto de Estudos de Gênero di- íntimo, eles permanecem sendo dos menos avaliados. Até mesmo quando as avaliações
zem que uma série de fatores explicam esse aumento – a crescente conscientização entre têm sido realizadas, essas normalmente mensuraram mudanças em atitudes e crenças em
as mulheres de que as tradições culturais que promovem a violência não mais são aceitáveis vez das próprias ocorrências de comportamentos violentos, tornando difícil tirar conclu-
sob a lei internacional e a Lei de Violência Doméstica da Nicarágua; e uma maior notificação sões firmes sobre sua eficácia na efetiva prevenção da violência sexual e da praticada pelo
de casos quando as mulheres são incentivadas a denunciar. No entanto, como as mulheres parceiro íntimo. Não obstante, surgem algumas evidências apoiando o uso dos três tipos
nicaraguenses têm se oposto mais ativamente à hegemonia masculina, os conflitos domésti- de programas analisados acima na mudança das normas sociais e culturais que permitem
cos têm também aumentado e mais homens têm feito uso de violência contra suas parceiras. a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo. No entanto, esses programas ainda
Esses achados sugerem que as respostas à violência praticada pelo parceiro íntimo não de- devem ser multiplicados em maior escala e avaliados mais rigorosamente.
vem focar exclusivamente as mulheres, mas também visar os homens para a prevenção des- 3.8 Mensagens-chave
se tipo de repercussão (Schopper, Lormand & Waxweiler, 2006).
Para alcançar mudanças populacionais, é importante abordar os fatores relativos à sociedade na
prevenção primária da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. As abordagens incluem
Uma revisão dos programas que trabalham com homens e meninos na prevenção da
a promulgação de leis e o desenvolvimento de políticas de apoio que protejam a mulher; o tratamen-
violência contra a mulher (Barker, Ricardo & Nascimento, 2007) incluiu 13 programas
to da discriminação contra a mulher; e o apoio a mudanças na cultura da violência – atuando assim
de prevenção primária, cinco dos quais foram implementados nos PBMR. Quatro des-
como um alicerce para um trabalho de prevenção posterior.
ses programas foram considerados “eficazes” pelos revisores; seis “promissores” e três Não há atualmente estratégias com eficácia comprovada para a prevenção da violência sexual
“indefinidos”. Por exemplo, uma campanha considerada eficaz de mobilização de alcance fora das relações de parceiro íntimo ou de namoro. Apenas uma estratégia se demonstrou eficaz
comunitário na Nicarágua foi chamada de “Violência contra a mulher: um desastre que na prevenção da violência praticada pelo parceiro íntimo, a saber, os programas de prevenção da
podemos prevenir como homens” (Solórzano, Abaunza & Molina, 2000). Essa teve como violência no âmbito de relações de namoro para adolescentes baseados nas escolas – e esses ainda
alvo homens entre os 20 e 39 anos de idade afetados pelo Furação Mitch. As mensagens precisam ser avaliados para seu uso em locais com menos recursos.
principais da campanha falavam sobre a capacidade e responsabilidade do homem na pre- Embora seja muito cedo para considerá-las comprovadas, estão surgindo evidências sobre a efi-
venção ou redução da violência contra as suas parceiras. “Construindo a masculinidade cácia de muitas outras estratégias para a prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro
sem recorrer à violência praticada pelo parceiro íntimo” foi um programa de educação em íntimo, particularmente o uso do microcrédito com capacitação sobre a igualdade de gênero e de pro-
grupo visando homens nos distritos periurbanos de Manágua, Nicarágua (Welsh, 1997). gramas que promovam as habilidades de comunicação e relacionamento no âmbito da comunidade.
No entanto, o efeito do programa não ficou claro em virtude da fragilidade da avaliação O desenvolvimento da base de evidências para os programas de prevenção primária da violência
sexual e da praticada pelo parceiro íntimo está ainda nos seus primórdios. Mas há muitas razões
dos resultados. De fato, a qualidade metodológica da maioria das avaliações de resultados
para acreditar que as avaliações rigorosas sobre resultados de programas existentes e o desenvolvi-
foi baixa e as medidas de desfechos consistiram em mudanças de atitudes e taxas autorefe-
mento de novos programas baseados em teorias sólidas e fatores de risco conhecidos levarão a uma
ridas de violência baseada no gênero, muitas vezes utilizando apenas pequenas amostras.
rápida expansão nos próximos anos.

http://lawlink.nsw.gov.au/lawlink/vaw/ll_vaw.nsf/vwPrint1/vaw_vaw_iaatrcampaign
1
http://lawlink.nsw.gov.au/lawlink/vaw/ll_vaw.nsf/vwPrint1/vaw_vaw_iaatrcampaign
1

www.mencanstoprape.org
2
58 CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
59

CAPÍTULO 4 FIGURA 2
Passos para a implementação de políticas e programas de prevenção da violência
Melhorando o planejamento e a sexual e da praticada pelo parceiro íntimo

valiação do programa PASSO 1: COMO COMEÇAR


n Identificar parceiros-chave e desenvolver regimes de trabalho em parceria
n Desenvolver uma visão compartilhada em todas as áreas sobre como prevenir a
violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo
n Desenvolver habilidades e capacidade de liderança e promoção

PASSO 2: DEFINIR E DESCREVER A NATUREZA DO PROBLEMA


n Definir a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo e descrever o tamanho e a
O presente capítulo é baseado em um enquadre teórico de seis passos mostrado na Figu- natureza de cada problema
ra 2 para a implementação de políticas e programas de prevenção da violência sexual e n Desenvolver a capacidade de avaliar as necessidades de saúde e os impactos na saúde
da praticada pelo parceiro íntimo.
4.1 Passo 1: Como começar PASSO 3: IDENTIFICAR PROGRAMAS POTENCIALMENTE EFICAZES
Identificar parceiros-chave e desenvolver formas de trabalho em parceria n Identificar programas potencialmente eficazes referentes à natureza do problema e à
base de evidências para a prevenção
Uma parceria envolve vários setores e agências trabalhando em colaboração para proverr,
de forma coordenada, programas de prevenção da violência sexual e da praticada pelo
parceiro íntimo. Os programas geralmente perpassam as áreas de atividade de diversos
PASSO 4: DESENVOLVER POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS
setores e organizações, podendo ser em grande escala e/ou multicomponentes, funcionan- n Acordar uma estrutura para o desenvolvimento conjunto de políticas e estratégias, bem
do frequentemente por períodos prolongados. Como resultado, a prevenção eficaz preci- como priorizar programas eficazes
sará de um planejamento de conjunto de ações, e um compartilhamento de financiamento
ou outros recursos de acordo com as forças e habilidades de cada parceiro.
É importante conhecer as diversas atividades e prioridades dos vários setores traba- PASSO 5: CRIAR UM PLANO DE AÇÃO PARA GARANTIR A PROVISÃO DAS ATIVIDADES
lhando para a prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, bem n Acordar um processo e cronograma para a implementação
n Acordar e definir os papéis e as responsabilidades dos parceiros
como definir, de forma clara, papéis e contribuições. O trabalho em parceria para a n Desenvolver habilidades profissionais, realizar treinamentos adicionais e estabelecer
prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo tem muitos bene- redes eficazes
fícios e melhorará a compreensão de como essa violência afeta diversos setores e de
como cada setor pode contribuir com sua prevenção.
Muitas das soluções potenciais reconhecidas dependem de boas parcerias de trabalho PASSO 6: AVALIAR E COMPARTILHAR O APRENDIZADO
n Planejar e implementar uma avaliação adequada
porque a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo afeta as pessoas em todas n Aprender – e depois compartilhar as evidências e as práticas promissoras
as etapas da vida. O estabelecimento de práticas de trabalho conjuntas e a garantia de
que os diversos elementos estão bem colocados desde o início para uma colaboração
Os fatores que podem aumentar a probabilidade de sucesso nessa área são o desenvol-
constante ajudarão a aumentar a propriedade e o envolvimento na questão, bem como
vimento de visões e objetivos compartilhados, de liderança clara e papéis bem estabele-
ajudarão a assegurar que as abordagens tomadas sejam abrangentes e sustentáveis. Con-
cidos como parte de uma estratégia e de um plano de ação conjuntos que reúnam todos
sequentemente, todas as formas mencionadas no presente capítulo deveriam ser condu-
os parceiros e agregue outros potenciais.
zidas na forma de uma parceria de todas as agências-chave que podem incluir:
Desenvolver uma visão compartilhada em todos as áreas sobre como prevenir a
l a área da saúde (Caixa 6);
violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo
l os que trabalham com crianças e jovens, incluindo a área da educação; A criação de um ambiente de prevenção precisará de uma visão clara e compartilhada
l a área da polícia e da justiça criminal; sobre como os programas de prevenção podem impedir a ocorrência da violência sexual
e da praticada pelo parceiro íntimo. A prevenção primária envolverá necessariamen-
l o governo local;
te diversos setores e novas formas de trabalho conjunto. Como parte disso, uma boa
l as comunidades; e “declaração de visão da situação” pode influenciar as pessoas nos vários setores e incen-
l as organizações não governamentais. tivar a sua participação, e deve ser:
l criada por um grupo representativo de pessoas experientes de áreas, organizações e
grupos e/ou populações-chave afetados;
60 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
61

CAIXA 6 sexual e da praticada pelo parceiro íntimo e é frequentemente necessária onde há uma
liderança insuficiente e/ou pouca ou nenhuma ação sendo tomada. A defesa da causa
O papel da área da saúde na prevenção primária (advocacy) pode ser realizada por uma série de indivíduos e setores, inclusive grupos
comunitários voluntários e organizações governamentais e não governamentais.
A área de saúde desempenha um papel-chave na criação do ambiente de prevenção
primária ao: As campanhas de defesa da causa (advocacy) patrocinadas pelo governo podem informar
n compartilhar o conhecimento e sensibilizar sobre os agravos agudos e em longo prazo as pessoas sobre a magnitude, os determinantes e as consequências da violência sexual e da
na saúde causados pela violência sexual e pela praticada pelo parceiro íntimo; praticada pelo parceiro íntimo em seus países e sobre como esses podem ser prevenidos.
n sensibilizar sobre os impactos mais amplos na saúde da violência sexual e da Podem também corrigir equívocos públicos sobre as causas e a prevenibilidade dessa vio-
praticada pelo parceiro íntimo no desenvolvimento de crianças e adultos, bem como no lência. As campanhas de informação podem então acompanhar os esforços de prevenção,
funcionamento de famílias e comunidades; e ressaltando, por exemplo, a inaceitabilidade da violência contra a mulher, a importância
n aplicar e compartilhar habilidades de saúde pública, incluindo o conhecimento dos das leis na redução do uso e no uso nocivo de álcool ou a necessidade de garantir os direitos
padrões e dos fatores de risco e de proteção para a violência sexual e a praticada pelo da mulher à propriedade e herança. O lançamento de novas políticas, novos programas e a
parceiro íntimo; a avaliação crítica das evidências; o foco na população como um todo;
divulgação de achados de pesquisas ou novas publicações sobre a violência sexual e a pra-
habilidades de avaliação; e trabalho em parceria.
ticada pelo parceiro íntimo fornece frequentemente uma boa oportunidade para governos
conduzirem esforços de defesa da causa (advocacy). Os achados de pesquisa podem ser
l uma declaração de um futuro compartilhada por todos; traduzidos em simples figuras e gráfico de pizza e utilizados no desenvolvimento de men-
sagens de promoção para diversos públicos-alvo. Parcerias entre pesquisadores e pessoas
l uma declaração dos benefícios para todos os que participam; envolvidas com a defesa da causa (advocacy) podem ser úteis nesse caso.
l fácil de comunicar e entender; As campanhas de defesa da causa (advocacy) podem ser construídas em torno de even-
l facilmente lembrada pelo maior número de pessoas; tos de grande importância no calendário global, como o Dia Internacional para a Eli-
minação da Violência contra a Mulher (25 de novembro) e a Campanha 16 Dias de
l verificável em termos de saber quando foi alcançada; e
Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres1 (25 de novembro – 10 de dezem-
l analisada para conferir se está estrategicamente alinhada com as políticas relevantes. bro). O envolvimento de figuras públicas proeminentes e da mídia local e nacional em
campanhas construídas em torno desses eventos pode aumentar o seu impacto. A defesa
Desenvolver habilidades e capacidade de liderança e promoção
da causa (advocacy) pode ganhar mais força utilizando dados locais, em combinação
As habilidades de liderança são essenciais para apoiar os que tornarão realidade a visão com acordos internacionais como resoluções das Nações Unidas sobre a eliminação da
compartilhada para a prevenção da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo. violência contra a mulher, convenções de direitos humanos, as resoluções da Assembleia
Uma boa liderança pode também ajudar a sustentar a contínua apropriação de um pro- Mundial da Saúde e dos Comitês Regionais da OMS sobre a prevenção da violência.
grama por todas as áreas e organizações. É fundamental que os programas sejam con-
tinuados o bastante para alcançar as mudanças comportamentais necessárias para a Outra abordagem para aumentar os esforços para a prevenção da violência sexual e da
redução das taxas da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. As habilida- praticada pelo parceiro íntimo é identificar e cultivar uma figura de liderança na área de
des de liderança incluem: negócios, política ou vida comunitária que demonstrou ter um forte e autêntico interes-
se em defender a prevenção dessa violência. Para ser eficaz, esse defensor deve:
l ter fortes habilidades interpessoais e de comunicação;
l explicar claramente os benefícios da prevenção da violência sexual e da praticada pelo
l ter habilidade de adaptar pontos de vista múltiplos e trabalhar de forma colaborativa
parceiro íntimo e incentivar a colaboração de outras pessoas para lograr isso;
nos vários setores com necessidades e interesses diferentes e, por vezes, concorrentes;
l ter credibilidade ou autoridade em nível nacional, regional e local;
l ter habilidade de se adaptar a necessidades emergentes e novas;
l manter boas relações com as pessoas nas diversas organizações, áreas e setores; e
l manter o foco no alcance realísta dos resultados; e
l trabalhar colaborativamente com todos os setores compartilhando o objetivo de pre-
l ajudar as pessoas a buscar e compartilhar soluções criativas.
venção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo.
A violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo frequentemente afeta despropor-
As organizações não governamentais desempenham também um papel importante de
cionalmente pessoas menos favorecidas e vulneráveis que, devido à natureza da vio-
advocacy para ajudar na prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro ínti-
lência e à sua relativa falta de poder na sociedade, podem encontrar dificuldades em se
mo. Seu foco pode variar e incluir, por exemplo, pressionar o governo a adotar legislação
manifestar. A defesa da causa envolve o trabalho com e em nome daqueles que sofrem
e políticas novas. Muitas organizações não governamentais sensibilizam também em
a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo para desafiar a aceitabilidade social
nível comunitário e podem executar programas educacionais para apoiar esse trabalho.
e cultural dessas formas de violência e promover a sua prevenção.
Advogar pela causa (Advocacy) pode ser definido como a sensibilização sobre uma ques-
tão com o propósito de afetar as políticas, os programas e os recursos que lhes são
dedicados. É um componente fundamental de esforços para a prevenção da violência www.cwgl.rutgers.edu/16days/home.html
1
62 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
63

4.2 Passo 2: Definir e descrever a natureza do problema O estabelecimento da exata natureza e extensão da violência sexual e da praticada pelo
parceiro íntimo em um contexto específico requer a complementação das definições
Definir a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo e descrever o tamanho
conceituais fornecidas no Capítulo 1 do presente documento com as definições opera-
e a natureza de cada problema
cionais. Uma definição operacional é uma especificação clara, concisa e detalhada do
Faltam informações sobre a violência sexual praticada pelo parceiro íntimo em muitas conceito em foco que torna possível a sua mensuração. Isso ajuda a garantir que diversas
partes do mundo. Como resultado, políticas e planos para abordar essa violência são pessoas em vários locais e em diferentes momentos possam medir o mesmo fenômeno,
frequentemente realizados na base de informações exíguas. Por exemplo, as políticas precisamente definido. Mais informações sobre o desenvolvimento e uso das definições
são às vezes criadas respondendo a caso isolados que geram um interesse público e operacionais são fornecidas no Anexo A.
político significativo ou se baseiam em questões que recebem muita atenção da mídia.
Vários tipos de dados são necessários para produzir informações para diversos propósi-
Entretanto, a elaboração de políticas dessa maneira pode resultar em planos mal orien-
tos, incluindo: a descrição da magnitude e o impacto da violência sexual e da praticada
tados focando nos sintomas em vez das causas subjacentes e que, consequentemente,
pelo parceiro íntimo; a compreensão dos fatores de risco envolvidos; e a determinação
não tenham nenhum impacto no problema. Os mitos e equívocos sobre os fatores de
da eficácia dos programas de prevenção. A Tabela 7 lista uma série de categorias de
risco, as características das vítimas e dos perpetradores e os efeitos prováveis dessa vio-
dados junto com as fontes potenciais desses dados e o tipo de informações que podem
lência podem também existir. É somente através da obtenção de informações precisas e
normalmente ser coletadas para cada categoria.
da substituição das conjecturas pelos fatos que esses equívocos podem ser dissipados. O
estudo sobre a frequência e as razões da ocorrência de um problema de saúde em grupos Conforme mostrado na Tabela 7, as fontes potenciais de dados abrangem desde regis-
específicos de pessoas é conhecido como “epidemiologia”, e as informações epidemio- tros individuais, de organizações ou instituições passando por registros de programas
lógicas são fundamentais para o planejamento e a avaliação de estratégias de prevenção locais, comunitários ou governamentais até pesquisas de base populacional, surveys e
da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo (Caixa 7). estudos específicos. Quase todas essas fontes contêm informações demográficas básicas
(como idade e sexo). Algumas fontes (como registros médicos, registros policiais, cer-
Idealmente, a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo será definida por rela-
tidões de óbito e relatórios mortuários) incluem informações específicas ao evento vio-
tórios epidemiológicos conceituados e outros relatórios baseados em estatísticas regular-
lento ou traumatismo. Dados de unidades de emergência, por exemplo, podem fornecer
mente atualizadas sobre a natureza, a extensão e as consequências dos problemas, bem
informações sobre a natureza de um traumatismo, como foi experimentado, e onde e
como suas causas subjacentes e seus fatores de risco. Esses relatórios providenciarão a
como o acidente ocorreu (embora muitas vezes não sobre o perpetrador envolvido). Os
base para a elaboração de esforços de prevenção e uma linha de base para a medição
dados coletados pela polícia podem incluir informações sobre a relação entre a vítima
da eficácia da prevenção. A coleta de dados deverá ser conduzida com contribuições de
e o perpetrador, se houve envolvimento de arma, bem como outras circunstâncias rela-
especialistas, incluindo epidemiologistas, estatísticos e cientistas sociais.
cionadas com o evento. Pesquisas populacionais e estudos específicos podem fornecer
CAIXA 7 informações detalhadas sobre a vítima ou o perpetrador, seus históricos, atitudes, com-
portamentos e possíveis envolvimentos anteriores com a violência. Essas fontes podem
Quais os benefícios das informações epidemiológicas precisas? também fornecer uma estimativa mais verdadeira sobre a prevalência da violência em
As informações epidemiológicas precisas sobre a violência praticada pelo parceiro íntimo e comparação com os registros do que é notificado à polícia ou outras agências.
a violência sexual, bem como suas causas e consequências, podem contribuir diretamente à A maioria das vítimas de violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo não procura
prevenção dessas formas de violência: ajuda. Traumatismos e outros problemas físicos e de saúde mental decorrentes desses tipos
n tornando visível e providenciando uma descrição quantitativa de um problema que, por de violência são automedicados ou tratados com profissionais de atenção primária em saúde
várias razões culturais e sociais, poderia permanecer oculto; e outros profissionais como farmacêuticos – sem necessariamente o conhecimento da causa
n providenciando dados em progresso e sistemáticos sobre a incidência, as causas e as subjacente. Pesquisas de base populacional em larga escala são, portanto, outra fonte muito
consequências da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo em nível local, regional e importante de dados, uma vez que fornecem um retrato mais completo da ocorrência e
nacional; consequências da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. Em alguns contextos,
n sugerindo estratégias de prevenção baseadas nos fatores de risco de perpetração e uma abordagem tem sido a de estabelecer parcerias internacionais com instituições acadê-
experiência da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo identificados em estudos
micas e organizações não governamentais para obter financiamento para uma pesquisa
epidemiológicos;
de base populacional ou estudo no país, embora os esforços para envolver os governos em
n possibilitando a identificação precoce de tendências emergentes e áreas problemáticas
pesquisas de base populacional nacionais ou em regiões do país estejam também em anda-
referentes à violência sexual e à praticada pelo parceiro íntimo para o estabelecimento de
programas de prevenção adequados; mento. No entanto, em muitos países, a descrição precisa da natureza do problema perma-
n dando uma visão geral da distribuição geográfica dessa violência que possa ajudar a nece uma grande dificuldade, especialmente se houver poucos dados de rotina ou estudos
visar programas que ajudem na redução do número de novos casos e no planejamento de anteriores sobre os quais se basear. A pressão do tempo pode significar que “atalhos” devem
fornecimento de serviços futuros de apoio às vítimas; ser tomados em alguns locais. Nessas situações, pode-se utilizar informações de estudos
n criando uma linha de base para a medição dos esforços de prevenção; e internacionais em contextos similares. Por exemplo, resultados obtidos de países compará-
n monitorando as mudanças da prevalência e das características da violência sexual e da veis no estudo multipaíses da OMS sobre a saúde da mulher e a violência doméstica contra
praticada pelo parceiro íntimo, bem como seus fatores de riscos relacionados, ao longo do a mulher (Garcia-Moreno et al., 2005), nas Pesquisas de Demografia e Saúde ou em outros
tempo. estudos apresentados no Capítulo 1 do presente documento podem ser utilizados.
64 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
65

TABELA 7 são sujeitos a mudanças nas políticas de notificação e tendem a sub-representar uma
Fontes potenciais de dados e informações por categoria de dados questão quando comparada aos achados de pesquisas populacionais representativas.
Categoria de dados Fontes potenciais de dados Exemplos de informações coletadas l As técnicas de avaliação rápida1 são métodos de baixo custo utilizados para des-
Mortalidade Certidões de óbito; registros de Características individuais; causa de óbito; e crever a natureza de um problema e podem ser rapidamente implementadas em um
estatísticas vitais; e relatórios de hora, lugar e localização do óbito contexto local. Envolvem normalmente uma combinação de métodos – por exemplo,
necrotérios e médicos legistas entrevistas com os principais atores; grupos focais; exercícios de mapeamento; e coleta
Morbidade e Registros hospitalares, clínicos Informações sobre doença, traumatismos e e análise de dados disponíveis em unidades de saúde, organizações não governamen-
relacionados com e médicos saúde física ou mental; e sobre as circunstâncias
tais e autoridades locais (Palmer, 1999). Toda a abordagem pode ser completada em
a saúde e gravidade do traumatismo
2-3 meses e os resultados fornecidos à comunidade para incentivar a ação local e sub-
Atitudes, crenças Pesquisas; grupos focais; e a Informações sobre atitudes, crenças e práticas;
e práticas mídia a experiência e a perpetração da violência; sidiar o planejamento.
autorreferidas exposição à violência na comunidade e no lar; e Para promover o investimento na prevenção, subsidiar a elaboração de políticas e pro-
comportamentos de risco gramas de prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo e moni-
Baseados na Registros demográficos; e Contagens populacionais; níveis de renda; níveis torar os efeitos desses programas, é extremamente útil a produção de informações nas
comunidade registros de governos locais educacionais; e taxas de desemprego
seguintes áreas:
Dados criminais Registros policiais; registros Tipo de crime; características dos criminosos e
judiciários; registros de passagens das vítimas; e circunstâncias do evento l A prevalência e a incidência da violência sexual e da praticada pelo parceiro ínti-
prisionais; e laboratórios criminais mo – como comumente afetam a população e suas tendências ao longo do tempo.
Socioeconômicos Registros institucionais ou de Gastos com a saúde; utilização de serviços; l A distribuição dessa violência – por exemplo, por idade, sexo, situação econômica,
serviços; e estudos especiais acesso à atenção em saúde; custos de contexto e local.
tratamentos; renda pessoal e domiciliar; e
l As consequências para a saúde – mortalidade: o número de óbitos relacionados
distribuição da renda
com a violência sexual ou praticada pelo parceiro íntimo. Os dados podem ser utili-
Políticos ou Registros governamentais e Informações sobre leis e decretos; e sobre
legislativos legislativos políticas e práticas institucionais
zados para monitorar as mudanças ao longo do tempo na violência fatal, identificar os
indivíduos e os grupos em alto risco de morte por essa violência e para comparação
Adaptado de: Dahlberg & Krug (2002)
dentro do país e entre os países. Morbidade/desfechos de saúde: dados sobre doenças,
Desenvolver a capacidade de avaliar as necessidades da saúde e os impactos na saúde traumatismos e outras condições de saúde decorrentes do fato de ser vítima da vio-
A maioria dos países carece de informações rotineiras disponíveis sobre a violência lência sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo; e sobre o seu impacto na capacidade
sexual e a praticada pelo parceiro íntimo. Quando esse é o caso existem várias opções: de trabalhar e realizar atividades básicas da vida.
l Fatores de risco – em nível individual, por exemplo, sexo, ser jovem, histórico de
l As pesquisas voltadas especificamente à violência sexual e à praticada pelo parceiro
maus-tratos, mau uso de álcool e comportamentos de conduta antissociais; em nível de
íntimo fornecem os dados mais confiáveis e aprofundados, uma vez que elas coletam
relacionamentos, por exemplo, parceiros múltiplos/infidelidade e satisfação/discórdia
informações sobre a prevalência e a frequência, o impacto na saúde, fatores contextuais e
conjugal; em nível comunitário, por exemplo, relacionados com as características da
sobre fatores de risco e de proteção. Entretanto, elas são caras e não são fáceis de repetir.
população e os níveis de renda, educação e desemprego; e em nível da sociedade, por
A integração de um módulo sobre violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo em
exemplo, normas sociais relacionadas com as relações de gênero e a aceitabilidade da
sistemas de coleta de informações de pesquisas existentes para permitir coleta sustentá-
violência e leis e políticas relacionadas com a violência.
vel e contínua de dados é uma alternativa útil, porém, deve-se considerar a garantia dos
l Fatores de proteção – por exemplo, frequência escolar, voluntariado e ação comu-
padrões éticos e de segurança (Ellsberg & Heise, 2005). Contudo, é preciso ter cuidado,
nitária e envolvimento em atividades de grupo. Isso pode incluir o mapeamento de
uma vez que a integração desses módulos em pesquisas muito amplas em saúde pode
serviços e políticas eficazes de prevenção.
resultar em subestimações do problema. Não é recomendável acrescentar apenas um
l Dados criminais – sobre as características e circunstâncias de eventos violentos e
pequeno número de perguntas sobre a violência, uma vez que isso tem mostrado condu-
criminosos violentos que são conhecidos pela polícia; sobre o progresso de casos nos
zir a subestimações e outros resultados equivocados. Se uma nova pesquisa estiver sendo
tribunais; e sobre a proporção de eventos que terminam em condenação.
desenvolvida, é importante obter aconselhamento especializado e considerar plenamente
l Dados econômicos – relacionados com o custo do tratamento e da assistência
as questões de segurança, confidencialidade ética e outras questões. A OMS desenvolveu
social; o custo econômico para os sistemas de atenção em saúde; e a economia possí-
orientações sobre as considerações éticas e de segurança na pesquisa sobre a violência
vel decorrente de programas de prevenção.
praticada pelo parceiro íntimo (OMS, 2001). Um manual de pesquisa sobre a violência
l Políticas e legislação – incluindo a implementação de políticas; a promulgação
contra a mulher para pesquisadores e ativistas está também disponível e fornece dicas
e fiscalização de leis que tratem de fatores de risco experimentados pela população
práticas sobre a implementação de estudos de base populacional e outros estudos sobre a
(como o mau uso de álcool).
violência contra a mulher (WHO/PATH, 2005).
l Os dados de registro que dependem de notificações profissionais ou públicas (por
exemplo, dados hospitalares ou policiais) são uma fonte potencial de informação em Para mais informações, incluindo recursos gratuitos e exemplos de técnicas de avaliação rápida, ver:
1

The Managers Electronic Resource Centre (“Centro de Recursos Eletrônicos para Gestores”) – parte
curso e foram utilizados para monitorar as tendências de abuso infantil nos Estados do Management Services for Health (“Serviços de Gestão em Saúde”) no endereço: http://erc.msh.org/
Unidos. Entretanto, é preciso ter cuidado ao interpretar esses dados, uma vez que mainpage.cfm?file=2.1.1b.htm&module=chs&language=English
66 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
67

A informação disponível será essencial para o planejamento dos passos seguintes. Con- ção; e execução de pré-testes ou ensaios. As respostas às perguntas acima mencionadas
siderando que os recursos são limitados, os dados podem ajudar a decidir sobre grupos podem então informar a teoria subjacente do programa, seus objetivos, suas atividades
prioritários (por exemplo, demonstrando quem possui mais fatores de riscos para per- e a implementação do programa em si. Envolver-se na avaliação formativa pode ser uma
petração) e sobre os pontos potenciais para iniciar as ações. Essas decisões serão base, maneira altamente prática e custo-efetiva de garantir a qualidade, a viabilidade e a rele-
por sua vez, para o próximo passo, a identificação de intervenções. vância de uma abordagem de prevenção antes de empenhar recursos em larga escala.
4.3 Passo 3: Identificar programas potencialmente eficazes Os diversos setores poderão então trabalhar em parceria para identificar quais os pro-
Identificar programas potencialmente eficazes referentes à natureza do problema gramas mais apropriados para a sua área, e aquelas abordagens que poderiam ser pos-
e à base de evidências para a prevenção teriormente desenvolvidas para maximizar seu impacto de prevenção. Considerando
os setores listados acima na seção 4.1, uma típica distribuição das áreas de atividade
No Capítulo 3, apresentou-se um resumo das evidências da eficácia de uma ampla série
poderia então ser:
de programas. Conforme observado, a maioria dessas evidências origina-se dos PAR, e,
portanto, é importante que os formuladores de políticas e planejadores decidam o que l A área da saúde – saúde mental materna, maternidade e paternidade, tratamento do
seria mais relevante e eficaz em seu próprio contexto, baseados pelo dados disponíveis. uso abusivo de álcool.
Evidências da eficácia em um local da alta renda podem, por exemplo, considerar o l Os que trabalham com crianças e jovens, incluindo a área da educação –
acesso a recursos e infraestrutura que não seriam disponíveis em um contexto de baixa habilidades de prevenção da violência e do abuso para crianças e jovens, desenvol-
renda, e portanto todos os programas deverão ser adaptados ao contexto local. Além vimento de habilidades sociais e emocionais, intervenção precoce para transtornos
disso, alguns programas que são frequentemente implementados (como programas de emocionais e de conduta.
educação sobre estupro) mostraram ser ineficazes.
l A polícia e a justiça criminal – elaboração e garantia de cumprimento da legisla-
Considerando os escassos recursos disponíveis para abordar a violência sexual e a pra-
ção.
ticada pelo parceiro íntimo, o planejamento cuidadoso dos programas é fundamental.
A implementação também deve ser realizada passo por passo, ser rigorosamente moni- l Governo local – redução do acesso ao álcool e programas de redução da pobreza.
torada e acontecer em uma escala suficiente e por um período suficientemente longo l Comunidades e organizações não governamentais – mudança das normas cul-
para permitir a documentação e avaliação das mudanças efetuadas. A capacidade de turais, projetos de microcrédito e programas de educação.
planejar, monitorar e avaliar os programas deverá ser desenvolvida para garantir que
isso aconteça. 4.4 Passo 4: Desenvolver políticas e estratégias
Há consideráveis vantagens na realização de um processo de “avaliação formativa” Acordar uma estrutura para o desenvolvimento conjunto de políticas e estratégias
antes da seleção e implementação de programas específicos. Esse processo permite uma e priorização de programas eficazes
melhor compreensão das necessidades e dos recursos disponíveis em um âmbito par- Ao trabalhar em parceria, deverão ser feitos esforços para incorporar os resultados dos
ticular, bem como direciona a melhor abordagem a adotar. Em combinação com um três passos anteriores desse enquadre teórico nas políticas e estratégias de prevenção da
conhecimento dos fatores risco, esse processo permite orientar a seleção e o desenvol- violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. O desenvolvimento dessas políticas
vimento de atividades de prevenção (tais como se seria melhor o uso de campanha da e estratégias será mais fácil onde houver uma clara liderança alimentando o processo, e
mídia, desenvolvimento de programas ou outra estratégia de prevenção). onde o regime de trabalho é desenvolvido em uma parceria significativa com todos os
Uma vez identificado o programa, as questões mais amplas que devem ser abordadas atores principais descritos no Passo 1. O desenvolvimento de uma política e estratégia
incluirão normalmente as seguintes perguntas: conjunta envolveria então os seguintes passos sequenciais (ver também: Schopper, Lor-
l As necessidades percebidas pela comunidades serão atendidas? mand & Waxweiler, 2006):

l As abordagens culturais e idiomáticas selecionadas são respeitosas em relação ao l Acordar uma visão compartilhada e um marco teórico abrangente para a prevenção
público previsto? da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo – por exemplo, promoção de
l Os recursos são utilizados da maneira mais eficaz para realizar atividades que alcan- relacionamentos iguais e saudáveis.
cem as metas para prevenção? l Estabelecer claramente a natureza e importância do problema – por exemplo, quan-
l O programa pode ser melhorado? tas pessoas são afetadas, sua idade, sexo, fatores de risco e o impacto nos indivíduos
l Existem formas para tornar o programa mais eficaz? (inclusive na sua saúde e educação) e nas famílias, comunidades e na economia.

l Como poderia ser a resposta das pessoas aos esforços de prevenção? l Priorizar programas eficazes – trabalhar com todos os parceiros para identificar um
l Como poderão as pessoas possivelmente mudar e se beneficiar desses esforços? pequeno conjunto de programas prioritários para uma ação posterior, selecionados
por sua adequação em um contexto particular.
l Qual o efeito real que o programa poderá ter na prevenção da violência sexual e da
praticada pelo parceiro íntimo? l Assegurar que a política leve a programas e ações – por exemplo, ganhando o aval de
As fontes de informação poderão incluir estatísticas regionais ou nacionais; pesquisas todos os parceiros, estabelecendo prioridades claras e alcançando um sólido acordo
populacionais ou questionários; grupos focais, entrevistas ou reuniões de consolida- sobre os passos a seguir.
68 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
69

Esse processo sequencial de elaboração de uma política e estratégia específica para a l Cronograma: especificar um cronograma para o gerenciamento de todos os passos
prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo ajudará também no necessários para alcançar os objetivos do programa (por exemplo, capacitação de
envolvimento de vários setores e a sensibilização sobre as questões entre aqueles que funcionários antes que eles forneçam habilidades de cuidado dos filhos às mães).
tomam as decisões e o público geral. Adicionalmente, os esforços serão potencialmente l Definir papéis e responsabilidades e identificar os recursos e habilidades
muito mais poderosos se as áreas de atividade relevantes forem integradas em políticas e necessários: nomear um líder em cada área que terá a responsabilidade de assegurar
estratégias mais amplas (por exemplo, na saúde materna ou mental, uso de álcool, edu- a provisão de cada programa recomendado e assegurar-se de que eles tenham a capaci-
cação, crime, desenvolvimento econômico e planejamento urbano). O grau em que um dade e as habilidades para fazê-lo. Os vários parceiros terão diferentes recursos e capa-
programa pode incorporar essas áreas principais de forma viável é um dos princípios cidades que podem ser necessárias em diversas etapas do projeto. É importante acordar
orientadores que devem ser considerados e acordados pelos parceiros principais como quem fornecerá qual contribuição e em qual momento. Por exemplo, os funcionários
parte do processo de priorização. (Caixa 8). do setor saúde podem capacitar os funcionários do setor educação a ensinar habilidades
4.5 Passo 5: Criar um plano de ação para garantir a provisão das de prevenção da violência, ao passo que os agentes da comunidade local poderão ser
atividades responsáveis por assegurar que as crianças vulneráveis assistam aos eventos.
Acordar um processo e cronograma para a implementação l Planejar a divulgação: é importante acordar um plano para a divulgação do pro-
gresso e dos benefícios esperados do programa. Isso pode ser alcançado através do
Após o desenvolvimento de políticas e uma estratégia acordada, será necessário formu-
uso da mídia, reuniões comunitárias ou encontros com indivíduos-chave (por exem-
lar um plano de ação – mais uma vez, idealmente em parceria com outros setores. Um
plo, líderes comunitários).
plano de ação fornece detalhes sobre como usar o programa identificado na estratégia.
l Envolver a comunidade: o envolvimento comunitário enfatiza o papel dos indiví-
Algumas estratégias contêm um plano de ação no final do relatório escrito. As seguintes
duos e das comunidades como agentes de mudança em vez de recipientes passivos de
áreas sugeridas poderiam ser úteis se adaptadas para o desenvolvimento de um plano de
programas. Ele também põe a prioridade em assegurar o engajamento e influência da
ação conforme o contexto e âmbito local:
comunidade no processo de mudança. Todos os programas podem se beneficiar sig-
nificativamente do maior apoio e receptividade à mudança que resulta de um envol-
vimento comunitário bem-sucedido.
CAIXA 8
Acordar e definir os papéis e as responsabilidades dos parceiros
Fatores a serem considerados na priorização de programas A identificação clara de quem assumirá o papel de liderança, e a coordenação dos papéis
e das responsabilidades específicos de cada setor e organização envolvidos facilitará
n Qual o tamanho da população que se beneficiará do programa?
sobremaneira a implementação de estratégias e programas acordados. Cada setor deve-
n Qual o nível estimado de ganhos em saúde nessa população depois do programa – em rá desempenhar a sua parte em um esforço coordenado de modo a assegurar a sinergia e
curto, médio e longo prazos? evitar prejudicar inadvertidamente os esforços de outros parceiros. Isso também reque-
n Quais seriam os ganhos mais amplos da intervenção – como melhora na educação, rerá a identificação dos recursos e habilidades necessários para garantir uma efetiva
sociais ou econômicos? implementação.
n Quão viável é a integração do programa nos serviços já existentes (por exemplo, para Desenvolver habilidades profissionais, realizar treinamentos adicionais e
a identificação e manejo da depressão materna como parte dos serviços existentes de estabelecer redes efetivas
cuidado pré-natal)?
A capacitação pode ser um dos elementos que precisem ser incorporados para o desen-
n Quais os custos aproximados de implementação do programa baseado na capacidade e volvimento das habilidades necessárias . Em geral há necessidade de desenvolver capaci-
nos recursos atuais? dades para a prevenção da violência sexual e praticada pelo parceiro íntimo através, por
n Há algum agravo potencial causado pela implementação do programa? exemplo, da inclusão dessas questões nos currículos de enfermeiros, doutores e profis-
sionais de saúde pública, bem como treinamento em serviço de profissionais de saúde.
n A agência executora possui a capacidade necessária? Caso contrário, pode ser
Além disso, pode haver uma necessidade, por exemplo, de habilidades técnicas para
construída?
realizar pesquisas e estabelecer sistemas de vigilância, ou para o trabalho de promoção
n A comunidade está pronta para o programa ou há necessidade de alguns passos para e liderança, incluindo habilidades de captação de recursos, mídia e comunicação.
melhorar a prontidão da comunidade?
Será provavelmente preciso de capacitação para implementar quaisquer das estratégias
n Existem barreiras financeiras ou culturais ou outros obstáculos para a implementação discutidas no Capítulo 3 que forem selecionadas para a prevenção da violência sexual
do programa, e quão fácil seria superá-los? e da praticada pelo parceiro íntimo. Onde for viável, as organizações deveriam apoiar
n Existem oportunidades que poderiam facilitar a implementação do programa? Por a capacitação junto com outros parceiros, por exemplo, através de visitas de intercâm-
exemplo, uma nova política, financiamento ou recursos disponíveis em uma área de bio, tutoria e colaboração com outras instituições. Esses intercâmbios técnicos podem
atividade particular. acelerar a absorção das melhores práticas, permitir a formulação de agendas políticas e
criar redes efetivas, bem como articular os profissionais a potenciais recursos técnicos
e outras formas de apoio.
70 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
71

4.6 Passo 6: Avaliar e compartilhar o aprendizado Independentemente do grau de estabelecimento do programa, o primeiro passo para
avaliar se ele está sendo implementado da forma esperada é identificar os componen-
Planejar e implementar uma avaliação adequada
tes-chave (por exemplo, áreas críticas de conteúdo ou atividades necessárias para a
O monitoramento e a avaliação – e a disseminação dos resultados – são os componentes- implementação de um currículo de prevenção, mudanças esperadas nas políticas, ou
-chave da abordagem da saúde pública na prevenção da violência sexual e da pratica- condução de uma campanha midiática). O segundo passo é desenvolver critérios para
da pelo parceiro íntimo delineada na Introdução do presente documento. Ambos são julgamento do grau de implementação desses componentes. Em muitos casos, esses
necessários para promover o planejamento e a implementação de programas baseados critérios já teriam sido discutidos como parte do processo de estabelecimento de prio-
em evidências, e a avaliação de programa é chave para o seu incremento. As avaliações ridades – conforme delineado na seção 4.5. Por fim, as informações deverão ser coleta-
de programa podem ser elaboradas para responder a vários tipos de perguntas – que das para monitorar e documentar cada componente no intuito de monitorar o grau de
podem variar de acordo com a abordagem adotada e a fase alcançada. Ainda que a implementação em comparação com o plano proposto.
incorporação da avaliação como parte integrante de um programa permita um constan-
O Anexo B fornece exemplos dos tipos de elementos que podem ser considerados duran-
te monitoramento e ajustes conforme a necessidade, diversos tipos de avaliações podem
te o processo de avaliação dos diversos tipos de atividades de prevenção, e lista algumas
ser mais adequados em diferentes etapas à medida em que diferentes questões surjam.
das fontes potenciais dessas informações. Em última análise, os métodos de avaliação
Os componentes da avaliação podem então ser adicionados ou modificados conforme
do processo selecionados deverão ser selecionados a partir do tipo de programa e das
a evolução do programa. Esses componentes podem ser divididos nas três principais
perguntas a serem respondidas – e do grau de confiança necessário para os resultados,
categorias de avaliação seguintes:
bem como dos recursos disponíveis e do nível de especialização solicitado pelas diversas
l Avaliação de processo para documentar a probabilidade de um programa ser (ou abordagens de avaliação.
estar sendo) implementado conforme planejado. Avaliação dos resultados – os resultados finais que as abordagens de prevenção da
l Avaliação de resultados para determinar a probabilidade de um programa ter o violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo buscam alcançar são a redução na
efeito esperado sobre a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo (ou seus perpetração desses tipos de violência, ou a redução nos danos ou impactos na saúde
fatores de risco e proteção). ou nos óbitos causados por essas violências. No entanto, a avaliação dessas mudanças
l Avaliação econômica para identificar os recursos necessários para conduzir, repli- em longo prazo pode ser difícil e dispendiosa. Essas mudanças demandam tempo para
car ou ampliar os programas, e para avaliar os custos e benefícios, determinando se serem observadas, exigindo que os dados sejam coletados durante longos períodos. Isso
os benefícios de um programa são maiores que seus custos. é especialmente verdadeiro quando o comportamento ou desfecho de interesse ocorre
relativamente raramente. Um objetivo mais realista para muitos programas de preven-
A avaliação de processo avalia os elementos específicos de um programa (como con-
ção pode, portanto, ser a mudança dos fatores de risco que contribuem às violências
teúdos, atividades de capacitação ou apoio prático) para descobrir se está sendo rea-
(Capítulo 2) com o objetivo final de prevenir o comportamento violento. Sejam quais
lizado de acordo com o planejado e identificar lacunas entre o previsto e o realmente
forem os resultados selecionados, eles deveriam ser baseados na teoria subjacente da
realizado. Ela pode, por exemplo, identificar se um programa está alcançando o público
abordagem de prevenção; nos objetivos do programa; na medida em que o programa
esperado, descrever o que é fornecido (e como) e avaliar as percepções do público e dos
e suas atividades são completamente implementados; e nos recursos disponíveis para a
participantes e seus níveis de satisfação com o programa. A avaliação de processo pode
sua avaliação.
também documentar as realizações do programa.
A avaliação de resultados busca especificamente determinar se um programa teve êxito
São coletadas informações tanto sobre o que está funcionando bem como sobre o que pre-
em realizar as mudanças esperadas (por exemplo, nos fatores de risco, comportamen-
cisa ser redefinido. Assim, os desafios e barreiras podem ser identificados conforme vão
tos, ou nos níveis de traumatismos, doenças e óbitos). A preocupação principal ao ela-
surgindo, para permitir melhores respostas futuras, ou para documentar aqueles que não
borar uma avaliação de resultado é assegurar que quaisquer explanações alternativas
puderem ser superados. Se um programa eventualmente for considerado como bem-suce-
para as mudanças observadas sejam eliminadas, para que se tenha certeza de que essas
dido na prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, a documentação
mudanças decorreram do programa e não de algum outro fator. Isso permitirá garantir
exata do que está acontecendo pode então permitir a continuação dessa abordagem da mes-
que os recursos não sejam desperdiçados em programas ineficazes ou menos eficazes.
ma forma. Isso também aumenta a probabilidade de outros grupos alcançarem um êxito
similar no caso de o programa ser utilizado em outro local. Em caso de êxito limitado ou Uma maneira de abordar isso é coletar dados sobre o(s) desfecho(s) que interessa(m) em
nenhum êxito, a avaliação de processo permitirá determinar se isso pode atribuído a proble- intervalos de tempo múltiplos antes e após (e por vezes durante) a implementação, para
mas na forma de implementação do programa. Isso reduzirá sobremaneira o risco de des- ver em que ponto as mudanças ocorrem (“desenho de série temporal”). Essa aborda-
cartar um programa potencialmente eficaz apenas por causa de questões de implementação. gem é frequentemente utilizada para avaliar programas comunitários amplos, tais como
mudanças de políticas. Os dados coletados originam-se muitas vezes de fontes em nível
Em relação a programas novos, a avaliação de processo pode ser útil ao focar em aspectos
comunitário, como pesquisas populacionais, ou de registros realizados na comunidade,
de implementação e provisão de componentes de programa. Em programas mais esta-
como as informações coletadas rotineiramente nos sistemas de vigilância ou de monito-
belecidos, a avaliação poderia focar em verificar se os procedimentos esperados estão ou
ramento (ver a seção 4.2 para uma discussão completa de fontes potenciais de dados).
não sendo realizados de maneira otimizada. Em programas em andamento, a avaliação
do processo pode ser incorporada como uma parte da rotina das atividades cotidianas, de Outra abordagem é o uso de grupos “experimentais” e de “controle” como parte de um
modo que o programa pode ser continuamente monitorado e analisado. A frequência do “ensaio controlado” onde o grupo experimental recebe o programa e o grupo controle
monitoramento pode ser ajustada conforme as necessidades e os recursos mudem. não o recebe. Embora as diferenças entre os dois grupos possam ainda decorrer, ao longo
72 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
73

do tempo, de outros eventos ocorrendo simultaneamente (como outras atividades de pre- CAIXA 9
venção, mudanças de política ou eventos comunitários), o uso de grupo(s) controle permi-
tirá descartar essa possibilidade. Entretanto, isso dependerá de ambos os grupos estarem Melhorando a base de evidências através do incremento da avaliação
igualmente expostos a eventos externos e outras atividades, e torna-se, portanto, necessá-
Preocupado com o lapso entre a descoberta de programas eficazes e a sua ampla adoção, o
rio o monitoramento do grau ao qual cada grupo foi exposto às influências externas.
Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos decidiu buscar programas de
É também possível que o programa possa “contaminar” o grupo controle e distorcer prevenção da violência sexual com comprovada viabilidade para o mundo real para construir
os resultados. Por exemplo, os estudantes que fazem parte de um programa podem uma base de evidências cientificas para as intervenções adotadas. Em primeiro lugar, os progra-
compartilhar as informações que receberam com estudantes do grupo controle ou, ain- mas existentes foram identificados com base em documentos publicados ou inéditos, buscas
da, uma comunidade que é controle pode ser exposta a uma campanha midiática ou na web e entrevistas com especialistas, profissionais e agências de programas. As informações
legislação. Esses efeitos podem ser minimizados selecionando um grupo de controle disponíveis publicamente sobre cada programa foram complementadas por entrevistas telefô-
que seja geograficamente distante do (ou de alguma forma tenha menor probabilidade nicas estruturadas para a compilação das descrições resumidas de cada programa identificado.
de interagir com o) grupo experimental. Por exemplo, é menos provável que estudantes Após edital aberto para financiamento, foram selecionados quatro programas, cada um de-
les fornecido em um formato multissessão, baseados em seu foco em perpetração por ho-
interajam com estudantes de escolas distantes do que com estudantes em outra classe da
mens uma primeira vez, experiência prévia em avaliação, compromisso com a utilização da
mesma escola ou de uma escola diferente do mesmo bairro.
avaliação para a melhora do programa, e sua capacidade de comprometer os funcionários
A coleta de dados imediatamente após a conclusão do programa ou pouco depois forne- para o processo de avaliação. Um avaliador externo serviu então de facilitador, capacitador
cerá informações sobre seus efeitos imediatos. A coleta de dados de “acompanhamento” e instrutor para auxiliar os atores do programa no projeto e na condução de suas próprias
em um intervalo (ou intervalos) após a coleta dos dados imediatos pós-programa pode avaliações. O processo utilizou os princípios de empoderamento para construir a capacidade
ajudar a determinar se as mudanças são mantidas ou diminuem uma vez que o progra- de avaliação entre os programas e gerar informações sobre as atividades programáticas. Os
ma termina. Os dados de acompanhamento podem também fornecer informações sobre programas participantes relataram subsequentemente melhoras na sua capacidade de ava-
mudanças posteriores que não eram evidentes imediatamente após o programa (por liação, na medida e na sofisticação de suas práticas e uma melhor lotação de recursos dedi-
vezes chamados de “efeitos latentes”). A decisão de coletar dados de acompanhamento cados à avaliação. Foram então fornecidos inúmeros exemplos de aplicação bem-sucedidas
será guiada pelas perguntas a serem respondidas. A capacidade do programa de coletar dos achados da avaliação nos esforços de aprimoramento de programas.
informações em longo prazo dos participantes e a disponibilidade de recursos para ava- Para mais informações, por gentileza consultar:
liação devem ser consideradas desde o início do processo. www.cdc.gov/ncipc/delta/
Devido à grande limitação nas evidências sobre programas eficazes ou promissores de www.cdc.gov/ncipc/DELTA/DELTA_AAG.pdf
prevenção primária da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, a inclusão
da avaliação de resultados no planejamento da avaliação pode fornecer informações resultados poderão ser também úteis nas diversas fases. Contudo, independentemente
valiosas e muito necessárias. As avaliações para a melhora dos programa precisam de da abordagem escolhida, a incorporação rotineira de coleta de dados dos resultados
certa capacidade técnica, porém, podem ser realizadas utilizando fontes existentes de que vão sendo conseguidos será necessária para monitorar a eficácia continuada do
informações acima mencionadas. Entretanto, uma rigorosa avaliação de resultados para programa. Por exemplo, ao se iniciar uma nova estratégia, a coleta de dados dos parti-
construir uma base de evidências para a prevenção precisa de competência científica cipantes antes e depois da implementação do programa pode ajudar a determinar se a
desde o início da fase de planejamento para assegurar: abordagem parece ser promissora. Indícios positivos incluem mudanças que pareçam
l a seleção adequada dos objetivos de prevenção; estar na direção certa, são de magnitude suficiente, ou são similares ou melhores que
l a preparação de um modelo lógico1; e outros programas que objetivam os mesmos resultados. Os achados podem então ser
utilizados para melhorar o programa. Mais tarde, um estudo tipo ensaio controlado (ou
l a escolha correta do projeto de pesquisa, de população(ões) para o estudo, resultados,
ensaio randomizado controlado) pode ser utilizado para fornecer mais evidências de
fontes de dados e métodos de análise.
que o programa estava de fato contribuindo às mudanças desejadas, construindo assim
Como resultado, faz-se necessária uma parceria com uma instituição acadêmica ou de a base de evidências sobre prevenção primária.
pesquisa com a devida capacidade. A Caixa 9 descreve como uma agência de saúde públi-
A avaliação econômica é um método sistemático de avaliação do impacto de estratégias,
ca contatou uma organização popular para melhorar a base de evidências para um pro-
políticas e programas sobre resultados e custos (Haddix, Teustch & Corso, 2003). Ela pode
grama particular de prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo.
ajudar a identificar e compreender a utilização dos recursos por um programa, determinar o
Em última análise, a seleção da abordagem de avaliação de resultados será guiada pelas que é viável considerando os recursos disponíveis, permitir um uso mais eficaz dos recursos
perguntas a serem respondidas e o grau de certeza necessário na atribuição dos efeitos e planejar ou priorizar atividades em caso de redução ou retirada dos recursos. Além disso,
observados ao programa. Os benefícios de cada abordagem deverão ser ponderados em administradores, agências financiadoras e o público estão cada vez mais preocupados com
relação aos obstáculos práticos e financeiros do programa. Vários tipos de avaliação de a relação entre custos e benefícios dos programas. A avaliação econômica pode ajudar a
demonstrar que um programa merece investimentos. Por exemplo, profissionais na área de
violência juvenil foram capazes de dizer aos responsáveis pelas políticas que um programa
Ver: CDC Evaluation Working Group: www.cdc.gov/eval/resources.htm#logic%20model and Centre
1

for Health Services and Policy Research (CHSPR): A Results-Based Logic Model for Primary Health baseado em visitas domiciliares de enfermeiros custa US$ 6.142 por família. Entretanto, a
Care: www.chspr.ubc.ca/files/publications/2004/chspr04-19.pdf redução em 16% do risco de envolvimento dos jovens em violência e crime gera uma econo-
74 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER CAPÍTULO 4: MELHORANDO O PLANEJAMENTO E A VALIAÇÃO DO PROGRAMA
75

mia em torno de US$ 4.600 por participante no programa para o contribuinte e US$ 8.100 l Assessoria de imprensa – utilizada para informar aos repórteres sobre uma opor-
para as vítimas potenciais (Aos, Miller & Drake, 2006). Essas análises de custo-benefício tunidade para fotografias ou outro evento.
requerem que a eficácia de um programa tenha sido previamente determinada. A avaliação l Cartas ao Editor – para especialistas, compartilhando um ponto de vista especí-
econômica é normalmente realizada por pesquisadores e precisa de perícia metodológica. fico; cada jornal e outro meio de comunicação terão diretrizes disponíveis em sua
Aprender – e depois compartilhar as evidências e as práticas promissoras página web sobre o processo de submissões e o tamanho solicitado.
l Opinião-Editorial – alguns jornais aceitam editoriais de opinião de convidados
Os parceiros interessados em receber os resultados das avaliações de programas de
prevenção devem ser identificados nas etapas preparatórias dos programas. Duran- (“op-eds”) e as páginas web da mídia devem outra vez ser conferidas para detalhes.
l Kit de imprensa – deve ser simples e incluir fichas técnicas em uma página, folhetos
te a implementação e avaliação do programa outros parceiros podem também tê-lo
conhecido e demonstrado interesse nele. A apresentação dos resultados da avaliação e mapas; deve-se considerar a disponibilização virtual do kit de imprensa.
aos diversos públicos pode angariar um apoio mais amplo dos tomadores de decisão e A novas inovações da mídia como blogs e Twitter podem também ser úteis para a dissemi-
da comunidade para um programa e para o objetivo maior de prevenção da violência. nação de mensagens de prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo.
O compartilhamento das evidências que apoiam o uso de certo programa com outros A internet está se tornando cada vez mais uma fonte de informação atualizada. Um breve
parceiros pode construir competências e melhorar a prática. O escopo, grau de detalhe aviso pode ser postado na página web de um programa ou agência relevante, fornecendo
e método de divulgar os resultados de avaliação variarão a depender do interesse e das o link para o(s) relatório(s) completo(s). A colaboração com colegas no compartilhamento
necessidades dos diferentes públicos. dos links para os vários programas e relatórios pode ser uma opção valiosa.
O público interno, como funcionários, voluntários, a diretoria e outros atores estreita- O compartilhamento do programa e dos achados da avaliação tanto dentro do país
mente envolvidos no programa estarão familiarizados com os objetivos e as expectativas como entre os países é um elemento importante para o desenvolvimento e dissemi-
da avaliação e poderão, por isso, requerer informações detalhadas. Nesse caso, uma nação dos conhecimentos e das habilidades necessários para a prevenção da violência
apresentação verbal (acompanhada de material visual para ilustrar os pontos princi- sexual e da praticada pelo parceiro íntimo. As redes precisam de uma boa coordenação
pais ou para resumir os dados) que permita a discussão dos achados, e interpretações para conectar as pessoas cujas atividades de prevenção podem ser disseminadas por
e aplicações alternativas pode ser muito útil. O compartilhamento e a discussão dos uma série de setores públicos e privados. As redes podem também ser estabelecidas
resultados com o público interno promovem investimento no programa e no processo para atender a necessidades locais, e essas também podem se conectar entre diferentes
de avaliação. Para evitar o mau uso dos resultados da avaliação, vale lembrar aos atores setores para um intercâmbio mais eficiente de informações sobre planejamento e ação.
dos acordos prévios sobre o propósito da avaliação e sobre como os resultados e reco- Como os achados da avaliação serão compartilhados – e com quem – dependerá do foco
mendações seriam compartilhados e utilizados para ao melhoria do programa. de um programa e do contexto da comunidade ou do país. Um ponto-chave, em todos
os casos, é ser sucinto e claro e adequar devidamente a informação para cada público.
Apresentações breves também podem ser adequadas para diversos públicos externos,
como legisladores e agências de financiamento. Entretanto, esses públicos frequente- 4.7 Mensagens-chave
mente solicitam um relatório escrito com a descrição do(s) objetivo(s), racionalidade,
Os seguintes passos são fundamentais para a implementação de programas e políticas de
atividades, desenho da avaliação e achados do programa, se possível complementados prevenção:
por comentários ou falas, relato de casos ou gráficos. Relatórios sucintos e claros têm Passo 1: Como começar
maior chance de serem lidos. Dependendo do público, um resumo executivo ou folheto Identificar parceiros-chave e desenvolver parcerias
breve pode ser suficiente, com os indivíduos interessados sendo referidos a um relatório Desenvolver uma visão compartilhada
mais longo e detalhado. Desenvolver habilidades e capacidade de liderança e promoção
Comunicar os achados à mídia – e através dela ao grande público – pode requerer uma Passo 2: Definir e descrever a natureza do problema
abordagem levemente diferente. Trabalhar com a mídia não é complicado, mas certa- Definir a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo
mente requer planejamento. Em primeiro lugar, é necessário procurar contatos com Descrever o tamanho e a natureza de cada problema
Desenvolver a capacidade de avaliar as necessidades da saúde e os impactos na saúde
jornais, TV e rádio na comunidade para começar a construir relações e para estabelecer
Passo 3: Identificar programas potencialmente eficazes referentes à
o grupo como fonte especializada de informações sobre a violência sexual e a pratica-
natureza do problema e à base de evidências para a prevenção
da pelo parceiro íntimo. Informações úteis, novas, oportunas e precisas capturarão a Passo 4: Desenvolver políticas e estratégias
atenção de um repórter. Por exemplo, ofereça estatísticas locais se possível, ou mostre Acordar uma estrutura para o desenvolvimento conjunto de políticas e estratégias
como novos serviços poderiam ajudar na redução da violência sexual e da praticada Priorizar programas eficazes
pelo parceiro íntimo, beneficiando a comunidade. Desenvolva uma lista de contatos nos Passo 5: Criar um plano de ação para garantir a provisão das atividades
veículos de comunicação (utilizando a internet ou lista telefônica) e depois determine o Acordar um processo e cronograma para a implementação
melhor método para alcançar repórteres com as informações disponíveis. Exemplos de Acordar e definir os papéis e as responsabilidades dos parceiros
produtos para divulgação junto a jornais, TV e rádio incluem: Desenvolver habilidades profissionais, realizar treinamentos adicionais e estabelecer redes eficazes
l Comunicado de imprensa – para informações novas e oportunas; os achados prin- Passo 6: Avaliar e compartilhar o aprendizado
Planejar e implementar uma avaliação adequada
cipais são apresentados no início, seguidos por informações descritivas de apoio; e
Aprender – e depois compartilhar as evidências e as práticas promissoras
deve ser de fácil formatação para envio por meio eletrônico.
76 PRIORIDADES DE PESQUISAS FUTURAS E CONCLUSÕES
77

Prioridades para futuras


vidade ajudará então os formuladores de políticas a decidir quais programas priorizar
de acordo com seus efeitos positivos em diferentes idades e vários contextos.

pesquisas e conclusões l Avaliações de diferentes políticas – por exemplo, aquelas que combinam uma varie-
dade de programas – em termos de sua viabilidade, seu custo e seus resultados acele-
rarão muito o seu desenvolvimento e implementação em outros locais.
l Embora na maioria das regiões existam algumas evidências sobre a prevalência, as
consequências e os fatores de riscos tanto para a violência sexual como para a pratica-
da pelo parceiro íntimo, ainda se precisa de mais. Particularmente, precisa-se de mui-
to mais evidências sobre os fatores de risco nos níveis comunitário e social, como por
exemplo, as normas de gênero e a desigualdade de gênero; o impacto dessas violências
no desenvolvimento da criança; e as consequências na saúde, por meio de estudos
longitudinais, especialmente nos PBMR; e consequencias na área da educação e da
Prioridades para futuras pesquisas
economia.
Pesquisas para construir a base das evidências direcionadas a suprir a falta atual de
Questões metodológicas
informações sobre programas eficazes de prevenção primária são necessárias com
urgência. Os maiores obstáculos nas pesquisas nessa área são as escalas extensas tempo- l Os formuladores de programas devem ser incentivados a basearem seus programas
rais e os altos custos para a produção de resultados. No entanto, será difícil desenvolver, em estruturas teóricas claramente articuladas para permitir a identificação dos meca-
sem essas pesquisas, novas políticas que sejam tanto eficazes como custo-efetivas. A nismos subjacentes e tornar a replicação mais fácil.
coleta de dados sobre a prevalência e as consequências para a saúde da violência sexual l Determinar se as mudanças no conhecimento, nas atitudes, nas crenças e nas inten-
e da praticada pelo parceiro íntimo será importante nos locais onde esses dados não são ções de comportamento resultam de fato em redução dos níveis da violência sexual e
disponíveis. Poderá ser útil para sensibilizar sobre a existência e o impacto dessas ques- da praticada pelo parceiro íntimo é uma necessidade urgente. As avaliações de resul-
tões relativamente ocultas e fornecer informações de base que podem ser eventualmente tados têm muitas vezes confiado nessas medidas ao invés de medirem os efeitos de um
utilizadas para monitoramento. Para fortalecer a base de evidências e apoiar o desenvol- programa nos níveis reais de violências.
vimento de diretrizes e recomendações urgentemente necessárias, é preciso abordar de
l Os períodos de acompanhamento deveriam ser mais longos, de modo a garantir que
forma prioritária as seguintes áreas:
quaisquer efeitos benéficos não se enfraqueçam.
l Avaliar programas promissores e continuar a desenvolver e testar programas poten-
l Deve-se realizar esforços para construir a capacidade de pesquisa e trabalho cola-
ciais – especialmente nos PBMR onde as taxas de violência praticada pelos parceiros
íntimos são frequentemente altas. borativo – inclusive com agências nacionais e internacionais – no intuito de apoiar
pesquisas locais e identificar as prioridades para os vários tipos de contextos.
l Priorizar programas e avaliações que focam grupos etários mais jovens, uma vez que
as evidências sugerem claramente que isso poderia ser uma abordagem mais eficaz de Conclusões
prevenção primária. A prevenção baseada em evidências, da violência sexual e da praticada pelo parceiro
íntimo, está em seus primórdios e há ainda muito por ser realizado. No momento, ape-
l Considerar novos locais para programas de prevenção primária. No momento, há
nas uma abordagem possui evidências apoiando a sua eficácia – e essa refere-se apenas
um número desproporcional de intervenções que estão sendo projetadas para apli-
à violência pelo parceiro íntimo. A referida abordagem é o uso de programas nas escolas
cação nas escolas e nas universidades. No entanto, os indivíduos com maior risco
para a prevenção da violência no âmbito das relações de namoro. No entanto, surgem
de sofrer violência sexual e/ou praticada pelo parceiro íntimo podem não estar mais
evidências com relação à eficácia de uma série de outras abordagens de prevenção da
frequentando a escola ou podem encontrar dificuldades em participar de atividades
violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, incluindo programas de micro-
baseadas nas escolas. Dever-se-ia dar uma maior consideração ao uso de outros locais
crédito para mulheres em combinação com a educação sobre a igualdade de gênero,
e âmbitos, como: o lar, a atenção em saúde e as organizações comunitárias (incluindo
esforços para reduzir o acesso e o uso abusivo de álcool e mudanças nas normas sociais
as religiosas) entre outros.
e culturais. Diversas outras abordagens parecem ter potencial, seja pela base teórica ou
l Uma vez determinada a eficácia de um programa, obter mais informações sobre o cus- porque visam fatores de risco conhecidos; porém, muitas dessas nunca foram imple-
to-efetividade relativo e os benefícios sociais e emocionais mais amplos de programas mentadas sistematicamente – muito menos avaliadas.
específicos em diversos contextos. As informações que esses estudos podem fornecer
O declínio na violência praticada pelo parceiro íntimo observado nos Estados Unidos
são fundamentais para convencer os formuladores de políticas sobre a importância de
desde meados dos anos 1970 têm sido atribuídos aos efeitos cumulativos das interven-
se investir em programas de prevenção primária. Idealmente, essas avaliações sobre
ções de prevenção visando não apenas à violência pelo parceiro íntimo como também
o custo-efetividade deveriam também examinar o custo-efetividade e os benefícios
aos maus-tratos infantis (Smithey & Straus, 2004). No entanto, faltam evidências
relativos de programas de prevenção da violência sexual e da praticada pelo parceiro
diretas sólidas para essa afirmação e esse declínio pode ser devido a outras mudanças
íntimo nas principais fases da vida. A disponibilidade de evidências sobre custo-efeti-
78 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER
79

Bibliografia
econômicas, culturais e sociais. Isso ressalta a necessidade urgente de gerar evidências
sobre a eficácia das intervenções de prevenção primária da violência sexual e da prati-
cada pelo parceiro íntimo. A possibilidade de efeitos de rebote quando da implemen-
tação de certos programas – como observado nos programas de microcrédito para as
mulheres na ausência de educação sobre a igualdade de gênero – demonstra ainda mais
a complexidade que deve ser compreendida e abordada para que se evite efeitos nocivos
inadvertidos de abordagens bem-intencionadas.
A maioria da base de evidências atual sobre a prevalência, os fatores de risco e de pro-
teção, consequências para a saúde e as evidências sobre a eficácia originou-se dos PAR,
especialmente os Estados Unidos. Se as pesquisas futuras devem subsidiar de forma sig-
nificativa a prática e a política, é preciso agora conhecer consideravelmente mais sobre a
eficácia da prevenção em outros locais, particularmente nos PBMR. Também é preciso
construir uma melhor base de evidências sobre as variações encontradas em contextos Abbey A et al. (2004). Sexual assault and alcohol consumption: what do we know about
culturais e religiosos diferentes e nas áreas rurais e urbanas. As instituições de pesqui- their relationship and what types of research are still needed? Aggression and Violent
sa nos PAR podem trabalhar em conjunto com os PBMR em programas de pesquisa Behavior, 9(3):271–303.
conjuntos que poderão compartilhar tanto os custos como os benefícios das pesquisas. Abrahams N et al. (2004). Sexual violence against intimate partners in Cape Town:
Há necessidade particularmente de pesquisas para identificar e desenvolver abordagens prevalence and risk factors reported by men. Bulletin of the World Health Organization,
que sejam mais viáveis e custo-efetivas e que reduzam significativamente os fatores 82(5):330–337.
de risco da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo; a gravidade de suas Ackerson LK et al. (2008). Effects of individual and proximate educational context
consequencias; e a frequência de sua ocorrência. Essas pesquisas deveriam abranger on intimate partner violence: A population-based study of women in India. American
uma série de vários contextos e graus de integração com outros serviços. A maioria dos Journal of Public Health, 98(3):507–514.
programas que foram avaliados até o momento foram implementados de forma relati-
Adegoke TG, Oladeji D (2008). Community norms and cultural attitudes and beliefs
vamente limitada – contudo, na prática, pode muitas vezes ser mais fácil incorporar as
factors influencing violence against women of reproductive age in Nigeria. European
atividades em estruturas de prestação já existentes, por exemplo, programas de saúde
Journal of Scientific Research, 20:265–273.
mental e de maternidade e paternidade integrados nos programas de saúde materna em
curso. Programas de habilidades nas escolas também podem ser melhores se conecta- Adi Y et al. (2007). Systematic review of the effectiveness of interventions to promote
dos a programas de promoção da saúde mais abrangentes, por exemplo, para abordar mental wellbeing in children in primary education. Report 1: universal approaches
a saúde sexual e reprodutiva, a saúde mental ou o uso abusivo de álcool e drogas, espe- (non-violence related outcomes). London, National Institute for Health and Clinical
cialmente entre adolescentes. Excellence.
Embora premente, a necessidade de se ter evidências e mais pesquisas em todas essas Ahmed SM (2005). Intimate partner violence against women: experiences from a
áreas não impede de maneira alguma a ação imediata para a prevenção da violência woman-focused development programme in Matlab, Bangladesh. Journal of Health,
praticada pelo parceiro íntimo e da violência sexual em todos os países. Os programas Population and Nutrition, 23(1):95–101.
que tiverem evidências apoiando a sua eficácia devem ser implementados e, onde neces- Ahmed S, Koenig MA, Stephenson R (2006). Effects of domestic violence on perinatal
sário, adaptados. Os que mostraram ser promissórios ou parecem ter potencial podem and early-childhood mortality: evidence from north India. American Journal of Public
também desempenhar um papel imediato – com a realização de árduos esforços para Health, 96(8):1423–1428.
incorporar, desde o início, avaliações rigorosas de resultados. Somente a ação e a gera- doi:10.2105/AJPH.2005.066316 PMID:16809594
ção de evidências podem prevenir a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo,
bem como permitir o amadurecimento exitoso da área de prevenção primária baseada Ali PA, Bustamante-Gavino MI (2008). Violence against women in Pakistan: a frame­
em evidências para essas violências. work for Analysis. Journal Pakistan Medical Association, 58(4):198–203.
Amoakohene MI (2004). Violence against women in Ghana: a look at women’s
perceptions and review of policy and social responses. Social Science and Medicine,
59:2373–2385.
Anda RF et al. (2001). Abused boys, battered mothers, and male involvement in teen
pregnancy. Pediatrics, 107(2):e19.
Anderson KL (2005). Theorizing gender in intimate partner violence Research. Sex
Roles, 52(11/12):853–865.
80 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER BIBLIOGRAFIA
81

Anderson, LA, Whiston SC (2005). Sexual assault education programs: a meta-analytic Boy A, Salihu HM (2004). Intimate partner violence and birth outcomes: a systematic
examination of their effectiveness. Psychology of Women Quarterly, 29:374–388. review. International Journal of Fertility and Women’s Medicine, 49:159–164.
Anderson P, Chisholm D, Fuhr DC (2009). Effectiveness and cost-effectiveness Boyle MH et al. (2009). Community influences on intimate partner violence in India:
of policies and programmes to reduce the harm caused by alcohol. The Lancet, women’s education, attitudes towards mistreatment and standards of living. Social
373(9682):2234–2246. Science and Medicine, 69(5):691–697.
Andrews G et al. (2004). Child sexual abuse. In: Ezzati M et al., eds. Comparative Breitenbecher KH, Gidycz CA (1998). Empirical evaluation of a program designed
quantification of health risks: global and regional burden of disease attributable to selected to reduce the risk of multiple sexual victimization. Journal of Interpersonal Violence,
major risk factors. Volume 2. Geneva, World Health Organization. 13:472–488.
Aos S, Miller M, Drake E (2006). Evidence-based public policy options to reduce Future Breitenbecher KH, Scarce M (2001). An evaluation of the effectiveness of a sexual
Prison Construction, Criminal Justice Costs, and Crime Rates. Available at: www.wsipp. assault education program focusing on psychological barriers to resistance. Journal of
wa.gov/rptfiles/06-10-1201.pdf Interpersonal Violence, 16:387–407.
Archer J (2000). Sex differences in aggression between heterosexual partners: a meta- Brown L et al. (2006). Sexual violence in Lesotho. Studies in Family Planning, 37(4):269–
analytic review. Psychological Bulletin, 126:651–680. 280.
Archer J (2006). Cross cultural differences in physical aggression between partners: a Brown DW et al. (2009). Exposure to physical and sexual violence and adverse health
social role analysis. Personality and Social Psychology Review, 10(2):133–153. behaviours in African children: results from the Global School-based Student Health
Survey. Bulletin of the World Health Organization, 87(6):447–455.
Arias I, Corso P (2005). Average cost per person victimized by an intimate partner of
the opposite gender: a comparison of men and women. Violence and Victims, 20(4):379– Bruce S (2002). The “A Man” campaign: marketing social norms to men to prevent sexual
391. assault. The report on social norms. Working paper number 5, July 2002. Little Falls (NJ),
PaperClip Communications.
Asling-Monemi K, Tabassum NR, Persson LA (2008). Violence against women and the
risk of under-five mortality: analysis of community-based data from rural Bangladesh. Campbell JC (2002). Health consequences of intimate partner violence. The Lancet,
Acta Paediatrica, 97:226–232. 359:1331–1336.
doi:10.1111/j.1651-2227.2007.00597.x PMID:18254912 doi:10.1016/S0140-6736(02)08336-8 PMID:11965295
Babor TF et al. (2001). AUDIT, the alcohol use disorders identification test: guidelines for Campbell JC et al. (2008). The intersection of intimate partner violence against
use in primary care, 2nd Edition. Geneva, World Health Organization. women and HIV/Aids: a review. International Journal of Injury Control and Safety
Promotion, 15:221–231.
Baldry, AC, Farrington DP (2007). Effectiveness of programs to prevent school bullying.
doi:10.1080/17457300802423224 PMID:19051085
Victims and Offenders, 2(2):183–204.
CDC (2004). Sexual violence prevention: beginning the dialogue. Centers for Disease
Bair-Merritt MH et al. (2010). Reducing maternal intimate partner violence after
Control and Prevention.
the birth of a child: a randomized controlled trial of the Hawaii Healthy Start Home
Visitation Program. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, 164(1):16–23. Chaloupka FJ, Grossman M, Saffer H (2002). The effects of price on alcohol
consumption and alcohol-related problems. Alcohol Research and Health, 26(I):22–34.
Barker G, Ricardo C, Nascimento M (2007). Engaging men and boys in changing gender-
based inequity in health: evidence from programme interventions. Geneva, World Health Champion HL, Durant RH (2001). Exposure to violence and victimization and the use
Organization. of violence by adolescents in the United States. Minerva Pediatrics, 53:189–197.
Basile KC, Hertz MF, Back SE (2007). Intimate partner violence and sexual violence Chan KL (2009). Sexual violence against women and children in Chinese societies.
victimization assessment instruments for use in healthcare settings: Version 1. National Trauma Violence & Abuse, 10(1):69–85.
Center for Injury Prevention and Control, Atlanta (GA), Centers for Disease Control
CIETafrica (2002). Sexual violence and HIV/Aids: executive report on the 2002 survey.
and Prevention.
Project report PR-ZA-hn2-02. Available at: www.ciet.org/en/documents/projects_
Bilukha O et al. (2005). The effectiveness of early childhood home visitation in preventing library_docs/2006316174822.pdf (accessed 11 November 2009).
violence: a systematic review. American Journal of Preventive Medicine, 28:11–39.
Counts DA, Brown J, Campbell J (1992). Sanctions and sanctuary: cultural perspectives on
Black DA et al. (1999). Partner, child abuse risk factors literature review. National Network the beating of wives. Boulder (CO), Westview Press.
of Family Resiliency, National Network for Health. Available at: www.nnh.org/risk
Currie DH (1998). Violent men or violent women: whose definition counts? In RK
Boy A, Kulczycki A (2008). What we know about intimate partner violence in the Bergen, ed. Issues in intimate violence, pp. 97–111. Thousand Oaks (CA), Sage.
Middle East and North Africa. Violence Against Women, 14(1):53–70.
82 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER BIBLIOGRAFIA
83

Dahlberg LL, Butchart A (2005). State of the science: violence prevention efforts in Fabiano P et al. (2003). Engaging men as social justice allies in ending violence against
developing and developed countries. International Journal of Injury Control and Safety women: evidence for a social norms approach. Journal of American College Health,
Promotion, 12(2):93–104. 52:105–112.
Dahlberg LL, Krug EG (2002). Violence – a global public health problem. In: Krug Fagan J, Browne A (1994). Violence between spouses and intimates: physical
EG et al., eds. World report on violence and health, pp. 3–21. Geneva, World Health aggression between women and men in intimate relationships. In Reiss AJ, Roth JA,
Organization. eds. Understanding and preventing violence: panel on the understanding and control of
violent behavior. Volume 3: Social Influences, pp. 115–292. Washington DC, National
Dalal K, Rahman F, Jansson B (2009). Wife abuse in rural Bangladesh. Journal of
Academy Press.
Biosocial Science, 41(5):561–573.
Farrington DP, Ttofi MM (2009). School-based programs to reduce bullying and
Davey Smith G (2000). Learning to live with complexity: ethnicity, socioeconomic
victimization. Campbell Systematic Reviews. Oslo: Campbell Collaboration.
position and health in Britain and the United States. American Journal of Public Health,
90:1694–1698. Fehringer JA, Hindin MJ (2009). Like parent, like child: Intergenerational transmission
of partner violence in Cebu, the Philippines. Journal of Adolescent Health, 44(4):363–371.
Decker MR et al. (2009). Intimate partner violence functions as both a risk marker
and risk factor for women’s HIV infection: findings from Indian husband–wife dyads. Finkelhor D (2009). The prevention of childhood sexual abuse. The Future of Children,
Journal of Acquired Immune Deficiency Syndrome, 51:593–600. 19(2):169–194.
Douglas M (1998). Restriction of the hours of sale of alcohol in a small community: a Finkelhor D, Asdigian N, Dziuba-Leatherman J (1995). The effectiveness of
beneficial impact. Australian and New Zealand Journal of Public Health, 22:714–719. victimization prevention instruction: an evaluation of children’s responses to actual
threats and assaults. Child Abuse & Neglect, 19:141–153.
Du Mont J, Parnis D (2000). Sexual assault and legal resolution: querying the medical
collection of forensic evidence. Medicine and Law, 19:779–792. Fisher GJ (1986). College student attitudes toward forcible date rape: changes after
taking a human sexuality course. Journal of Sex Education and Therapy, 12:42–46.
Duailibi S et al. (2007). The effect of restricting opening hours on alcohol-related
violence. American Journal of Public Health, 97:2276–2280. Flake DF (2005). Individual, family, and community risk markers for domestic violence
in Peru. Violence Against Women, 11(3):353–373.
Dube SR et al. (2002). Exposure to abuse, neglect, and household dysfunction among
adults who witnessed intimate partner violence as children: implications for health and Flay BR et al. (2005). Standards of evidence: criteria for efficacy, effectiveness and
social services. Violence and Victims, 17(1):3–17. dissemination. Prevention Science, 6:151–175.
Dunkle KL et al. (2004). Gender-based violence, relationship power, and risk of HIV Foshee VA et al. (1996). The Safe Dates Project: theoretical basis, evaluation design,
infection in women attending antenatal clinics in South Africa. The Lancet, 363:1415– and selected baseline findings. American Journal of Preventive Medicine 12(5):39–47.
1421.
Foshee VA et al. (1998). An evaluation of Safe Dates, an adolescent dating violence
doi:10.1016/S0140-6736(04)16098-4 PMID:15121402
prevention program. American Journal of Public Health, 88(1):45–50.
Dusenbury L et al. (1997). Nine critical elements of promising violence prevention
Foshee VA et al. (2000). The Safe Dates program: 1-year follow-up results. American
programs. Journal of School Health, 67:409–414.
Journal of Public Health, 90(10):1619–1622.
Eckenrode J (2000). What works in nurse home visiting programs. In: Alexander G,
Foshee VA et al. (2004). Assessing the long-term effects of the Safe Dates program
Curtis PA, Kluger MP, eds. What works in child welfare, pp. 35–43. Washington DC,
and a booster in preventing and reducing adolescent dating violence victimization and
Child Welfare League of America.
perpetration. American Journal of Public Health, 94(4):619–624.
Edleson J (1999). Children’s witnessing of adult domestic violence. Journal of Interpersonal
Foshee VA et al. (2005). Assessing the effects of the dating violence prevention program
Violence, 14:839–870.
“Safe Dates” using random coefficient regression modeling. Prevention Science, 6: 245–
Ellsberg M, Heise L (2005). Researching violence against women: a practical guide for 258.
researchers and activists. Washington DC, United States; and World Health Organization,
Foshee VA et al. (2008). What accounts for demographic differences in trajectories of
PATH. Available at: www.path.org/files/GBV_rvaw_front.pdf
adolescent dating violence? An examination of intrapersonal and contextual mediators.
Ellsberg M et al. (1999). Domestic violence and emotional distress: results from a Journal of Adolescent Health, 42(6):596–604.
population based study. American Psychologist, 54:30–36.
Foshee VA, Reyes ML, Wyckoff S (2009). Approaches to preventing psychological,
Ellsberg M, Liljestrand J, Winkwist A (1997). The Nicaraguan network of women physical, and sexual partner abuse. In O’Leary D, Woodin E, eds. Psychological and
against violence: using research and action for change. Reproductive Health Matters, physical aggression in couples: Causes and Interventions, pp. 165–190. Washington DC,
5(10):82–92. American Psychological Association.
Fox AM et al. (2007). In their own voices: a qualitative study of women’s risk for intimate
84 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER BIBLIOGRAFIA
85

partner violence and HIV in South Africa. Violence Against Women, 13:583–602. & Abuse, 5(2):123–142.
FPH (2008). Alcohol and Public Health. Faculty of Public Health Position Statement, Holt S, Buckley H, Whelan S (2008). The impact of exposure to domestic violence on
UK Faculty of Public Health. Available at: www.fph.org.uk children and young people. Child Abuse & Neglect, 32:797–810.
Gage AJ (2005). Women’s experience of intimate partner violence in Haiti. Social Hussain R, Khan A (2008). Women’s perceptions and experiences of sexual violence
Science and Medicine, 61(2):343–364. in marital relationships and its effect on reproductive health. Health Care for Women
International, 29:468–483.
Garcia-Moreno C et al. (2005). WHO Multi-Country study on women’s health and
domestic violence against women. Geneva, World Health Organization. Ilika AL (2005). Women’s perception of partner violence in a rural Igbo community.
African Journal of Reproductive Health, 9:77–88.
Garner J, Fagan J, Maxwell C (1995). Published findings from the spouse assault
replication program: a critical review. Journal of Quantitative Criminology, 11:3–28. Jespersen AF, Lalumiere ML, Seto MC (2009). Sexual abuse history among adult sex
offenders and non-sex offenders: a meta-analysis. Child Abuse & Neglect, 33(3):179–192.
Gibson LE, Leitemberg H (2000). Child sexual abuse prevention programs: do they
decrease the occurrence of child sexual abuse? Child Abuse & Neglect, 24:1115–1125. Jewkes R (2002). Intimate partner violence: causes and prevention. The Lancet, 359
(9315):1423–1429.
Gil-Gonzalez D et al. (2006). Alcohol and intimate partner violence: do we have enough
information to act? European Journal of Public Health, 16(3):278–284. Jewkes R, Morrell R (2010). Gender and sexuality: emerging perspectives from the
heterosexual epidemic in South Africa and implications for HIV risk and prevention.
Gil-Gonzalez D et al. (2008). Childhood experiences of violence in perpetrators as a
Journal of the International Aids Society, 13:6.
risk factor of intimate partner violence: a systematic review. Journal of Public Health,
30(1):14–22. Jewkes R, Sen P, Garcia-Moreno C (2002). Sexual violence. In: Krug EG et al., eds.
World report on violence and health, pp. 149–181. Geneva, World Health Organization.
Glass N et al. (2003). Adolescent dating violence: prevalence, risk factors, health
outcomes, and implications for clinical practice. Journal of Obstetric, Gynecologic, & Jewkes R et al. (1999). He must give me money he mustn’t beat me. Violence against women
Neonatal Nursing, 32(2):227–238. in three South African Provinces. Medical Research Council Technical Report, Medical
Research Council, Pretoria.
Go VF et al. (2003). Crossing the threshold: engendered definitions of socially acceptable
domestic violence in Chennai, India. Culture, Health and Sexuality, 5:393–408. Jewkes R et al. (2001). Relationship dynamics and teenage pregnancy in South Africa.
Social Science and Medicine, 52 (5):733–744.
Graham K et al., eds. (2008). Unhappy hours: alcohol and partner aggression in the
Americas. Washington DC, Pan American Health Organization. Jewkes R et al. (2006). Rape perpetration by young, rural South African men: prevalence,
patterns and risk factors. Social Science and Medicine, 63(11):2949–2961.
Gutierres SE, Van Puymbroeck C (2006). Childhood and adult violence in the lives of
women who misuse substances. Aggression and Violent Behavior, 11(5):497–513. Jewkes R et al. (2008). Impact of stepping stones on incidence of HIV and HSV-2
and sexual behaviour in rural South Africa: cluster randomised controlled trial. British
Haddix AC, Teustch SM, Corso PS (2003). Prevention effectiveness: a guide to decision
Medical Journal, 337: 383–387.
analysis and economic evaluation. New York, Oxford University Press.
Jewkes R et al. (2009) Understanding men’s health and use of violence: interface of rape and
Hahn RA et al. (2007). Effectiveness of universal school-based programs to prevent
HIV in South Africa. Medical Research Council Technical Report, Medical Research
violent and aggressive behavior: a systematic review. American Journal of Preventive
Council, Pretoria.
Medicine 33(2):S114–S129.
Jeyaseelan L et al. (2004). World studies of abuse in the family environment – risk
Harwell TS, Spence MR (2000). Population surveillance for physical violence among
factors for physical intimate partner violence. International Journal of Injury Control and
adult men and women, Montana 1998. American Journal of Preventive Medicine, 19(4):
Safety Promotion, 11(2):117–124.
321–324.
Johnson KB, Das MB (2009). Spousal violence in Bangladesh as reported by men:
Heise L (1998). Violence against women: An integrated, ecological framework. Violence
prevalence and risk factors. Journal of Interpersonal Violence, 24(6):977–995.
Against Women, 4:262–490.
Kabeer N (2001). Conflicts over credit: Re-evaluating the empowerment potential of
Heise L, Ellsberg M, Gottemoeller M (1999). Ending violence against women. (Population
loans to women in rural Bangladesh. World Development, 29(1):63–84.
Reports, Series L, No. 11). Baltimore (MD), Johns Hopkins University School of Public
Health, Center for Communications Programs. Katz J (2006). The Macho paradox: why some men hurt women and how all men can help.
Napierville (IL), Sourcebooks.
Heise L, Garcia-Moreno C (2002). Violence by intimate partners. In: Krug EG et al.,
eds. World report on violence and health, pp. 87–121. Geneva, World Health Organization. Kim J et al. (2009). Assessing the incremental effects of combining economic and health
interventions: the Image study in South Africa. Bulletin of the World Health Organization,
Hickman LJ, Jaycox LH, Aronoff J (2004). Dating violence among adolescents:
87(11):824–832.
prevalence, gender distribution, and prevention program effectiveness. Trauma Violence
86 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER BIBLIOGRAFIA
87

Kitzmann KM et al. (2003). Child witnesses to domestic violence: a meta-analytic Mercy JA et al. (2002). Youth violence. In: Krug EG et al., eds. World report on violence
review. Journal of Consultative Clinical Psychology, 71(2):339–352. and health, pp. 23–56. Geneva, World Health Organization.
Knox KL et al. (2003). Risk of suicide and related adverse outcomes after exposure Mikton C, Butchart A (2009). Child maltreatment prevention: a systematic review of
to a suicide prevention programme in the US Air Force: cohort study. British Medical reviews. Bulletin of the World Health Organization, 87(5):353–361.
Journal, 327:1376–1381.
Mirrlees-Black C (1999). Domestic violence: findings from a new British Crime Survey
Koenig MA, Saifuddin A, Mian Bazle H, and Khorshed Alam Mozumder ABM (2003) self-completion questionnaire. Home Office Research Study 191. London, Home Office.
Women’s status and domestic violence in rural Bangladesh: individual- and community- Available at: www.homeoffice.gov.uk/rds/pdfs/hors191.pdf
level effects. Demography, 40(2):269–288.
Mitra A, Singh P (2007). Human capital attainment and gender empowerment: the
Koenig MA et al. (2004). Coercive sex in rural Uganda: prevalence and associated risk Kerala paradox. Social Science Quarterly, 88:1227–1242.
factors. Social Science and Medicine, 58(4):787–798.
Morrison A, Ellsberg M, Bott S (2007). Addressing gender-based violence: a critical
Koenig MA et al. (2006). Individual and contextual determinants of domestic violence review of interventions. The World Bank Observer, 22(1):25–51.
in north India. American Journal of Public Health, 96(1):132–138.
Morrison S et al. (2004). An evidence-based review of sexual assault preventive intervention
Krug EG et al. (2002). Eds. World report on violence and health. Geneva, World Health programs. Department of Justice. Available at: www.ncjrs.gov/pdffiles1/nij/grants/207262.
Organization. pdf
Lankester T (1992). Setting up community health programmes: a practical manual for use in National Collaborating Centre for Mental Health (2007). Antenatal and postnatal mental
developing countries. London, Macmillan Press. health. NICE Clinical Guideline no 45. NICE, London.
Laranjeira R, Hinkly D (2002). Evaluation of alcohol outlet density and its relation with Olds DL, Sadler L, Kitzman H (2007). Programs for parents of infants and toddlers:
violence. Revista de Saúde Pública, 36(4):455–461. recent evidence from randomized trials. Journal of Child Psychology and Psychiatry,
48:355–391.
Last JM (2001). A dictionary of epidemiology, 4th Edition, International Epidemiological
Association. New York, Oxford University Press. Paine K et al. (2002). Before we were sleeping, now we are awake: preliminary evaluation
of the Stepping Stones sexual health programme in The Gambia. African Journal of Aids
Levinson D (1989). Family violence in cross-cultural perspective. Thousand Oaks (CA),
Research, 1(1):39–40.
Sage.
Palmer CA (1999). Rapid appraisal of needs in reproductive health care in southern
Liu M, Chan C (1999). Enduring violence and staying in marriage. Stories of battered
Sudan: qualitative study. British Medical Journal, 319:743–748.
women in rural China. Violence Against Women, 5:1469–1492.
Petersen I, Bhana A, McKay M (2005). Sexual violence and youth in South Africa: the
Lösel F, Beelmann A. (2003). Effects of child skills training in preventing antisocial
need for community based prevention interventions. Child Abuse & Neglect, 29:1233–
behaviour: a systematic review of randomized evaluations. Annals of the American
1248.
Academy of Political and Social Science, 587:84–109.
Philpart et al. (2009). Prevalence and risk factors of gender-based violence committed
Maman S et al. (2000). The intersection of HIV and violence: directions for future
by male college students in Awassa, Ethiopia. Violence and Victims, 24(1):122–136.
research and interventions. Social Science and Medicine, 50(4):459–478.
Plichta SB, Falik M (2001). Prevalence of violence and its implications for women’s
Mangioloi R (2009). The impact of child sexual abuse on health: a systematic review of
health. Women’s Health Issues, 11:244–258.
reviews. Clinical Psychology Review, 29(7):647–657.
doi:10.1016/S1049-3867(01)00085-8 PMID:11336864
Markowitz S (2000). The price of alcohol, wife abuse, and husband abuse. Southern
Rahman A (1999). Women and microcredit in rural Bangladesh: anthropological study of the
Economic Journal, 67:279–303.
rhetoric and realities of Grameen Bank lending. Boulder (CO), Westview Press.
Marshall AD, Panuzio J, Taft CT (2005). Intimate partner violence among military
Ramiro LS, Hassan F, Peedicayil A (2004). Risk markers of severe psychological
veterans and active duty servicemen. Clinical Psychology Review, 25(7):862–876.
violence against women: a WorldSAFE multi-country study. International Journal of
Martin EK, Taft CT, Resick PA (2007). A review of marital rape. Aggression and Violent Injury Control and Safety Promotion, 11(2):131–137.
Behavior, 12(3):329–347.
Reza A et al. (2009). Sexual violence and its health consequences for female children in
McGuigan WM, Pratt CC (2001). The Predictive impact of domestic violence on three Swaziland: a cluster survey study. The Lancet, 373(9679):1966–1972.
types of child maltreatment. Child Abuse & Neglect, 25:869–883.
Rhyne E (2001). Mainstreaming microfinance: how lending to the poor began, grew, and
Meltzer H et al. (2003). Persistence, onset, risk factors and outcomes of childhood mental came of age in Bolivia. Green Haven (CT), Kumarian Press.
disorders. Office for National Statistics. HMSO, London.
Romans S et al. (2007). Who is most at risk for intimate partner violence? A Canadian
population-based study. Journal of Interpersonal Violence, 22:1495–1514.
88 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER BIBLIOGRAFIA
89

Room R et al. (2003). Alcohol in developing societies: a public health approach. Helsinki Solórzano I, Abaunza H, Molina C (2000). Evaluación de impacto de la campaña
and Geneva, Finnish Foundation for Alcohol Studies and World Health Organization. contra las mujeres un desastre que los hombres si podemos evitar [Impact evaluation
of the campaign violence against women: a disaster we can prevent as men]. Managua,
Russo NF, Pirlott A (2006). Gender-based violence: concepts, methods, and findings.
CANTERA.
Annals of the New York Academy of Science, 1087:178–205.
Stith SM et al. (2004). Intimate partner physical abuse perpetration and victimization
Schewe PA (2007). Interventions to prevent sexual violence. In: Doll L et al., eds.
risk factors: a meta-analytic review. Aggression and Violent Behavior, 10(1):65–98.
Handbook of injury and violence prevention, pp.183–201. New York (NY), Springer.
Straus MA (1999). The controversy over domestic violence by women: a methodological,
Schopper D, Lormand J-D, Waxweiler R (2006). Developing policies to prevent injuries and
theoretical, and sociology of science analysis. In Arriaga X, Oskamp S, eds. Violence in
violence: guidelines for policy-makers and planners. Geneva, World Health Organization.
intimate relationships, pp. 17–44. Thousand Oaks (CA), Sage.
Available at: www.who.int/violence_injury_prevention/publications/39919_oms_br_2.
pdf Straus MA (2009). Gender symmetry in partner violence: the evidence and the
implications for primary prevention and treatment. In Lutzker JR, Whitaker DJ, eds.
Schuler SR et al. (1996). Credit programs, patriarchy and men’s violence against women
Prevention of partner violence. Washington DC, American Psychological Association.
in rural Bangladesh. Social Science and Medicine, 43(12):1729–1742.
Stuart GL et al. (2003). Reductions in marital violence following treatment for alcohol
Schwartz JP et al. (2006). Unhealthy parenting and potential mediators as contributing
dependence. Journal of Interpersonal Violence, 18:1113–1131.
factors to future intimate violence: a review of the literature. Trauma Violence & Abuse,
7(3):206–221. Swart LA et al. (2002). Violence in adolescents’ romantic relationships: findings
from a survey amongst school-going youth in a South African community. Journal of
Sheehan D (2008). Alcohol, health and wider social impact. SE Regional Public Health
Adolescence, 25(4):385–395.
Group Information Series. Department of Health, England.
Taft CT et al. (2009). Intimate partner violence against African American women: an
Shipway L (2004). Domestic violence: a handbook for health professionals. London,
examination of the socio-cultural context. Aggression and Violent Behavior, 14:50–58.
Routledge.
Tang CS, Lai BP (2008). A review of empirical literature on the prevalence and risk
Silverman JG, Raj A, Clements K (2004). Dating violence and associated sexual risk
markers of male-on-female intimate partner violence in contemporary China, 1987–
and pregnancy among adolescent girls in the United States. Pediatrics, 114(2):e220–
2006. Aggression and Violent Behavior, 13(1):10–28.
e225.
Testa M (2004). The role of substance use in male-to-female physical and sexual
Silverman JG et al. (2009). Maternal experiences of intimate partner violence and child
violence: a brief review and recommendations for future research. Journal of Interpersonal
morbidity in Bangladesh: evidence from a national Bangladeshi sample. Archives of
Violence, 19(12):1494–1505.
Pediatrics & Adolescent Medicine, 163(8):768–770.
Tjaden P, Thoennes N (2006). Extent, nature, and consequences of rape victimization:
Skowron EA, Reinemann DHS (2005). Psychological interventions for child
findings from the National Violence Against Women Survey. Washington DC, US
maltreatment: A meta-analysis. Psychotherapy: Theory, Research, Practice, and Training,
Department of Justice. Available at: www.ojp.usdoj.gov/nij/pubs-sum/210346.htm
42:52–71.
Usdin S et al. (2005). Achieving social change on gender-based violence: a report on the
Slap GB et al. (2003). Sexual behaviour of adolescents in Nigeria: cross sectional survey
impact evaluation of Soul City’s fourth series. Social Science and Medicine, 61(11):2434–
of secondary school students. British Medical Journal, 326(7379):15.
2445.
Smith JD et al. (2004). The effectiveness of whole-school antibullying programs: a
Uthman OA, Lawoko S, Moradi T (2009). Factors associated with attitudes towards
synthesis of evaluation research. School Psychology Review, 33:548–561.
intimate partner violence against women: a comparative analysis of 17 sub-Saharan
Smith PH, White JW, Holland LJ (2003). A longitudinal perspective on dating countries. BMC International Health and Human Rights, 9:14.
violence among adolescent and college-age women. American Journal of Public Health,
Vest JR et al. (2002). Multistate analysis of factors associated with intimate partner
93(7):1104–1109.
violence. American Journal of Preventive Medicine, 22(3):156–164.
Smith Fawzi MC et al. (2005). Factors associated with forced sex among women
Vos T et al. (2006). Measuring the impact of intimate partner violence on the health of
accessing health services in rural Haiti: implications for the prevention of HIV infection
women in Victoria, Australia. Bulletin of the World Health Organization, 84(9):739–744.
and other sexually transmitted diseases. Social Science and Medicine, 60:679–689.
Vung ND, Krantz G (2009). Childhood experiences of interparental violence as a risk
Smithey M, Straus MA (2004). Primary prevention of intimate partner violence. In
factor for intimate partner violence: a population-based study from northern Vietnam.
Kury H, Obergfell-Fuchs J, eds. Crime prevention – new approaches, pp. 239–276. Mainz,
Journal of Epidemiology and Community Health, 63:708–714.
Weisser Ring Gemeinnutzige Verlags-GmbH.
Walby S (2004). The cost of domestic violence. Women and Equality Unit, DTI. London.
Söchting I, Fairbrother N, Koch WJ (2004). Sexual assault of women: Prevention efforts
Available at: www.lancs.ac.uk/fass/sociology/papers/walby-costdomesticviolence.pdf
and risk factors. Violence Against Women, 10(1):73–93.
90 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER
91

Welbourn A (2009). Stepping Stones – list of surveys and reports to 2006 and some ANEXO A
quotes from Stepping Stones users around the world. Some brief notes prepared for
the UNAIDS pre-Think Tank Meeting on Evaluation Strategies for Prevention
Interventions, Geneva. Available at: www.steppingstonesfeedback.org/resources/22/
Definições operacionais
Welbourn_Quotes_UNAIDS_Presentation_2009.pdf
Welsh P (1997). Hacia una masculinidad sin violencia en las relaciones de pareja
[Towards masculinity without partner violence]. Managua, CANTERA.
Whitaker DJ et al. (2006). A critical review of interventions for the primary prevention
of perpetration of partner violence. Aggression and Violent Behavior, 11:151–166.
Whitaker DJ, Baker CK, Arias I (2007). Interventions to prevent intimate partner
violence. In: Doll L et al., eds. Handbook of injury and violence prevention, pp.203–223.
New York (NY), Springer. Para medir a magnitude da violência sexual e da praticada pelo parceiro íntimo, é
importante basear as definições operacionais em comportamentos específicos. Isso per-
Winslow CEA (1920). The untilled fields of public health. Science, 51(1306):23–33.
mite evitar interpretações subjetivas e obter a comparabilidade entre locais. As defini-
WHO-ISPCAN (2006). Preventing child maltreatment: a guide to taking action and ções operacionais são necessárias para as pesquisas epidemiológicas populacionais e
generating evidence. Available at: www.who.int/violence_injury_prevention/violence/ para o monitoramento de casos que se apresentem nas unidades de saúde, na polícia ou
activities/child_maltreatment/en/index.html em outros serviços.
WHO (2001). Putting women first: ethical and safety recommendations for research Pesquisas populacionais
on domestic violence against women. Geneva, World Health Organization. Available at:
Nos inquéritos populacionais sobre a violência sexual e a praticada pelo parceiro íntimo,
www.who.int/gender/violence/en/womenfirtseng.pdf
pergunta-se aos respondentes, a partir de uma lista de atos específicos, se eles sofreram
WHO/UNAIDS (2010). Addressing violence against women and HIV/Aids: What works? algum tipo de abuso. Pesquisas mostraram que as perguntas específicas ao comporta-
Geneva, World Health Organization. Available at www.who.int.reproductivehealth/ mento – como, por exemplo, “você foi alguma vez forçado a ter uma relação sexual con-
topics/violence. tra a sua vontade?” – produzem taxas mais altas de resposta positivas que perguntas do
Williams JR et al. (2008). Female perpetration of violence in heterosexual intimate tipo “você sofreu algum tipo de abuso ou foi estuprado?”. Elas permitem também uma
relationships: adolescence though adulthood. Trauma Violence & Abuse, 9(4):227–249. avaliação da gravidade concernente. Acompanhar perguntas que investigam a repetição
e a duração desses comportamentos permite aos pesquisadores uma melhor avaliação da
Wolfe DA et al. (2003). The effects of children’s exposure to domestic violence: a meta- frequência do abuso. Os atos físicos que são mais que tapas, empurrões ou arremessos de
analysis and critique. Clinical Child and Family Psychology Review, 6(3):171–187. objetos contra uma pessoa são geralmente definidos em estudos como “violência grave”,
Wolfe DA et al. (2003). Dating violence prevention with at-risk youth: a controlled embora alguns observadores tenham algumas reservas quanto à definição da gravidade
outcome evaluation. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 71(2):279–291. apenas de acordo com o ato. Uma série de ferramentas práticas foi desenvolvida (Basile,
Hertz & Back, 2007) para permitir a identificação da experiência de abuso sofrida pela
Wolfe DA et al. (2009). A school-based program to prevent adolescent dating violence: a
vítima e o comportamento do perpetrador, por meio de questionários padronizados e
cluster randomized trial. Archives of Paediatrics & Adolescent Medicine, 163(8):692–699.
validados, desenhados para estudos transversais. A Caixa 10 mostra as definições opera-
Xu X et al. (2005). Prevalence of and risk factors for intimate partner violence in China. cionais utilizadas no estudo multipaíses da OMS sobre a saúde da mulher e a violência
American Journal of Public Health, 95:78–85. doméstica contra a mulher (Garcia-Moreno et al., 2005). O instrumento da OMS possui
um conjunto de perguntas principais que foram utilizadas em muitos países de forma
comparável, com a introdução de variações de acordo com as necessidades locais, em
alguns países. O conjunto de perguntas principais e as variações relacionadas com a vio-
lência doméstica podem ser acessados em: www.who.int/gender/violence/who_multicoun-
try_study/en/. Perguntas similares, especificando comportamentos, podem ser elaboradas
para o abuso físico e sexual praticado por agressores que não sejam parceiros íntimos.
Esses dados quantitativos devem ser complementados por dados qualitativos que podem
ajudar a contextualizar e ter um melhor entendimento sobre a violência.
Monitoramento baseado nos serviços e os códigos da CID-10
Para efeitos de vigilância e monitoramento da utilização de serviços, são necessárias
definições-padrão para relatos de casos. A classificação internacional padrão de diag-
nóstico, para todas as finalidades epidemiológicas gerais e muitos outros propósitos de
92 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SEXUAL E DA VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO CONTRA A MULHER ANEXO A. DEFINIÇÕES OPERACIONAIS
93

CAIXA 10 gestão da saúde é o Código Internacional de Doenças (CID), décima edição (sendo a
11ª revisão atualmente em andamento).
Definições operacionais utilizadas na medição de violência física e A maioria dos países emitiram diretrizes oficiais para codificação e notificação, base-
sexual, abuso emocional e comportamentos controladores praticados adas na 9ª ou 10ª edição da CID. Contudo, as diretrizes para a classificação de casos
pelo parceiro íntimo de violência praticada pelo parceiro íntimo e de violência sexual podem ser utilizadas
Violência física praticada pelo parceiro íntimo somente em um número limitado de unidades e, ainda assim, de uma forma bem sele-
Violência moderada: tiva – a codificação decorrente pode, portanto, não ser confiável. Em tais casos, pro-
n Deu-lhe tapas ou jogou algo nela que poderia machucá-la
vavelmente seria útil estabelecer um grupo de trabalho para melhorar a classificação e
desenvolver um conjunto de diretrizes acordadas sobre como atribuir códigos CID aos
n Empurrou-a ou deu-lhe um tranco/chacoallhão ou (em duas localidades) teve seu casos conhecidos e suspeitos de violência pelo parceiro íntimo e de violência sexual.
cabelo puxado
A atribuição de códigos a um caso é realizada somente após cuidados médicos terem
Violência grave:
sido fornecidos por profissionais médicos que fizeram o melhor possível para chegar a
n Machucou-a com um soco ou com algum objeto uma conclusão definitiva sobre as causas externas do problema apresentado. A classifi-
n Deu-lhe um chute, arrastão ou surrou cação da causa de óbito baseia-se geralmente nos relatórios do médico legista e achados
n Estrangulou ou queimou-a de propósito
de inquéritos. Para os casos não fatais, a classificação da causa do traumatismo é geral-
mente baseada nas informações contidas nos registros de alta de pacientes internados e
n O agressor ameaçou usar ou usou de fato arma de fogo, faca ou outra arma contra ela atendimento em unidades de emergência.
Violência sexual praticada pelo parceiro íntimo Os dois componentes principais de uma classificação CID são a natureza da condição
n Foi forçada fisicamente a manter relação sexual quando não queria apresentada (por exemplo, hemorragia subdural traumática) e sua causa externa. As
n Teve relação sexual porque estava com medo do que seu parceiro poderia fazer informações sobre a relação do agressor com a vítima são frequentemente omitidas na
notificação, tornando, por exemplo, a documentação de traumatismos causados pelo
n Foi forçada a uma prática sexual degradante ou humilhante
parceiro íntimo particularmente desafiadora.
Atos emocionalmente abusivos praticados pelo parceiro íntimo
A violência praticada pelo parceiro íntimo e a violência sexual podem ter uma ampla
n Foi insultada ou a fez se sentir mal sobre si mesma
gama de consequências para a saúde (Capítulo 1). Embora seja possível identificar algu-
n Foi depreciada ou humilhada diante de outras pessoas mas condições apresentadas que são mais sugestivas de violência praticada pelo parcei-
n O agressor fez coisas para assustá-la ou intimidá-la de propósito, por exemplo, pela ro íntimo e de violência sexual que outras, é por meio da alocação de uma causa externa
maneira de olhar para ela, por gritar ou quebrar coisas – ou Código-E – que um caso individual é classificado como conhecido ou suspeito de
violência pelo parceiro íntimo ou de violência sexual.
n O agressor ameaçou machucar alguém querido
Comportamentos controladores praticados pelo parceiro íntimo Os códigos CID-10 para agressão são X85–Y09 e incluem:
n Tentou impedi-la de ver amigos l YO5: Agressão sexual através de força física, inclui (tentativa de) estupro e (tentativa
de) sodomia;
n Tentou restringir seus contatos com a família
n Insistiu em querer saber onde estava a todo momento l Y06: Negligência e abandono, inclusive pelo cônjuge ou parceiro, por parente, por
conhecido ou amigo, por pessoas especificadas e não especificadas; e
n Ignorou-a e a tratou com indiferença
l Y07: Outras síndromes de maus-tratos, incluindo crueldade mental, abuso físico,
n Ficava irritado caso ela falasse com outro homem
abuso sexual, tortura: pelo cônjuge ou parceiro, por parente, por conhecido ou ami-
n Suspeitava frequentemente de infidelidade go, pelas autoridades oficiais, por pessoas especificadas, por pessoas não especifica-
n Esperava que ela pedisse permissão para procurar assistência médica para si mesma das, excluindo negligência e abandono e agressão sexual por meio de força física.
Os que atribuem códigos CID e redigem certificados de óbito devem ser incentivados a
Fonte: Garcia-Moreno et al. (2005) documentar a relação entre o agressor e a vítima, se conhecida.
94

ANEXO B
Atividades de prevenção que podem ser
usadas para a avaliação do processo e
as potenciais fontes de informação a
respeito dessas atividades
Atividade Potenciais fontes de informação
ADVOGAR EM PROL DO DESENVOLVIMENTO OU MELHORA DA LEGISLAÇÃO SOBRE A VIOLÊNCIA
SEXUAL OU PRATICADA PELO PARCEIRO ÍNTIMO
• Número de cartas enviadas • Arquivos de cartas
• Número de pessoas contatadas • Registros de contatos telefônicos e em pessoa
• Reuniões de informação pública realizadas e • Calendários
número de participantes • Registros e arquivos
• Comunicados à imprensa elaborados/divulgados
CAMPANHA DE INFORMAÇÃO PÚBLICA
• Mensagens elaboradas e testadas • Arquivos e resultados do grupo focais
• Assinantes/ouvintes/espectadores quando cada • Relatórios de instituição
mensagem foi divulgada
• Número de vezes que a mensagem foi executada • Relatórios de instituição
• Comunicados à imprensa distribuídos/captados • Registro e busca da mídia
pela imprensa
• Entrevistas/debates solicitados • Registro
• Pessoas expostas e relembrando a informação • Pesquisas comunitárias
CONSTRUÇÃO DE COALIZÃO
• Grupos/agências/comunidades/pessoas • Registro
contadas
• Reuniões realizadas e participação de membros • Calendários e atas de reuniões
• Número/tipo de ações geradas/implementadas • Atas de reuniões
• Interações entre os membros da coalizão • Pesquisas e entrevistas
PROGRAMA DE MICROCRÉDITO
• Número de solicitações • Formulários pré-elaborados de coleta de dados
• Número, tamanho, local e tipo de negócio de
empréstimos aprovados
• Número de empréstimos quitados
Curriculum
• Qualificações e treinamento de funcionários • Arquivos e registros de contratação
• Atividades de recrutamento e cobertura • Observação
• Consultas recebidas e como os requerentes • Registro e pesquisas de conscientização
ouviram • Registros telefônicos
• Números/demografia dos matriculados, • Formulários de matriculas e fichas de participação
participantes e desistentes • Pesquisa de acompanhamento de desistentes /
• Diferenças entre os não participantes, os não participantes
desistentes e a população-alvo • Registro de funcionários/relatórios
• Obstáculos na participação • Observação
• Número de sessões/módulos realizados • Pesquisa
• Cobertura de tempo dedicado a áreas de • Observação ou pesquisa
conteúdo-chave em cada sessão • Pesquisa ou entrevista
• Qualidade da realização • Pesquisa ou entrevista
• Satisfação/recomendações para melhora de • Pesquisa ou entrevista
participantes
• Memória dos participantes com relação às
mensagens
• Satisfação dos funcionários com relação ao
programa e outros funcionários e recomendações
para melhora
Para mais informações, por gentileza contatar:

Departamento de Prevenção de e Incapacidade por Violência e Traumatismos


Organização Mundial da Saúde
Avenue Appia 20, CH-1211, Genebra, Suíça
Tel +41-22-791-2064
Fax +41-22-791-4489
E-mail: violenceprevention@who.int
www.who.int/violence_injury_prevention

Departamento de Prevenção de Saúde Reprodutiva e Pesquisa


Organização Mundial da Saúde
Avenue Appia 20, CH-1211, Genebra, Suíça
Tel +41-22-791-4136
Fax +41-22-791-4171
E-mail: reproductivehealth@who.int
ww.who.int/reproductivehealth

ISBN: 978-92-75-716359

Organização
Mundial da Saúde
ESCRITORIO REGIONAL PARA AS Americas 9 789275 716359

Вам также может понравиться