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Catalogação-na-Fonte
Câmara Brasileira do Livro, SP
Bibliografia.
C D D -155.9
78-1126
Psicologia
ambiental
Environmcntal Psychology
Tradução:
Código 6018
P refácio ............................................................................................. XI
sociais ..................... 65
IX
Prefácio
XI
Como acontece com qualquer novo campo de pesquisa, existe
uma certa dúvida com relação aos objetos de estudo considerados
próprios do campo da psicologia ambiental. Conforme se tomará
evidente no decorrer do texto, a definição do assunto em questão
está longe de ser precisa e o que um pesquisador considera apro
priado para a psicologia ambiental poderá não parecer o mesmo
para outro investigador. Entretanto, certos tipos de relaciona
mento homem-ambiente foram objeto de mais atenção do que outros
e a maioria dos pesquisadores certamente concordaria em que os
tipos de relacionamentos discutidos neste livro constituem áreas de
investigação particularmente relevantes para psicólogos do ambiente.
Foi dispensada considerável atenção aos efeitos do ambiente
construído (como sejam cômodos, prédios, edifícios públicos e ci
dades) sobre o comportamento. O ambiente natural e seus efeitos
sobre o comportamento foram também pesquisados, embora em es
cala mais limitada. Todavia, tipicamente as relações que receberam
a maior atenção foram aquelas de caráter negativo — por exemplo,
os efeitos da poluição ou da superpopulação sobre o comportamento.
Entretanto, as relações positivas, como sejam muitos tipos de rela
cionamentos que o homem tem com o seu ambiente natural, foram
também estudadas e muitas delas são discutidas no presente livro.
Desejamos externar nosso agradecimento à equipe da Brooks/
Cole Publishing Company e às seguintes pessoas, por suas valiosas
revisões em nosso manuscrito: Evan Brown, da Universidade de
Nebraska, Carolyn Toepfer, do Slippery Rock State College, Robert
Sommer, da Universidade da Califórnia, em Davis, e Edward L.
Walker, da Universidade de Michigan.
Norman W. Heimstra
Leslie H. McFarling
XII
Capítulo 1
Introdução
1
nipulaçõcs ambientais para o homem. À medida que progredirem
estes estudos, aumentará nossa capacidade de predizer e controlar
essas conseqüências. Saberemos quais os resultados decorrentes de
uma manipulação ambiental específica e compreenderemos as conse-
qüências de alterações ambientais” (pág. 3).
Preocupar-nos-emos tanto com a relação entre o homem e seu
ambiente físico quanto com os efeitos de manipulações ambientais
sobre o homem. Grande parte da pesquisa levada a efeito nesta
área tem sido classificada sob o título de Psicologia ambiental, em
bora, conforme veremos, as áreas-problema que constituem esta dis
ciplina não estejam claramente definidas.
L
O ambiente físico
3
ainda um grande número de parques nacionais e áreas virgens como
sendo naturais e têm sido desenvolvidas algumas pesquisas sobre a
relação existente entre o comportamento e estes tipos de ambiente.
Os pesquisadores têm-se interessado também por outro tipo de am
biente natural, ou geográfico, que inclui clima, solo e danos naturais,
tais como enchentes, terremotos e furacões, os quais, sem nenhuma
exceção, influenciam o comportamento.
Cumpre ressaltar que o uso do termo “ambiente natural” neste
sentido difere um tanto da maneira como é frequentemente utilizado
por psicólogos. Estes podem usar o termo simplesmente para refe
rir-se a uma situação ou condição que não tenha sofrido modificação
pelo experimentador. Desta forma, um psicólogo que estudasse o
comportamento de crianças em idade escolar em uma classe relataria
que seu comportamento foi observado em ambiente natural.
Para estudar as relações entre o comportamento humano e as
muitas facetas do ambiente físico, o cientista comportamental de
fronta-se com uma tarefa desafiadora. É difícil, quando não impos
sível, isolar uma faceta do ambiente e estudar seus efeitos sobre o
comportamento sem que, pelo menos até certo ponto, outros aspec
tos do ambiente venham a modificar o comportamento. Por exem
plo, suponhamos que um pesquisador esteja interessado na relação
entre a forma de uma sala e o comportamento dos seus ocupantes.
Ele poderia planejar seu estudo de diversas maneiras e poderiam
estar envolvidos vários tipos de comportamento. Além disso, a sala
representa apenas uma unidade de um edifício, mas há diversas ou
tras características de edifícios que influenciam o comportamento. O
edifício, por sua vez, poderia ser elemento de um complexo entre
vários outros, com o complexo constituindo-se numa parte da vizi
nhança. A vizinhança é parte duma cidade, na qual se observam
clima quente ou frio e um potencial de dados naturais, como en
chentes ou terremotos. O ambiente pode ser composto de subsiste-
mas — condições climáticas, cidades, edificações, etc. — , todos eles
relacionando-se e influindo no comportamento. Por conseguinte, é
difícil isolar um destes componentes ou subsistemas e determinar a
relação entre o mesmo e o comportamento humano. Conforme ve
remos nos capítulos adiante, este constitui o problema maior da
pesquisa da psicologia ambiental.
Comportamento humano
4
físico. Conforme Craik frisa (1970), “enquanto o ambiente físico
diário constitui o seu tema unificante, a matéria objeto da psicologia
ambiental é o comportamento humano conjorme o mesmo se rela
ciona, por exemplo, com formações rochosas, ruas da cidade e can
tos de salas propriamente ditos” (pág. 13). Desta forma, embora
o psicólogo ambiental possa gastar grande parte de sen tempo e es
forço descrevendo e definindo características do ambiente físico, seu
objetivo último consiste em relacionar estas características com o
comportamento humano.
Quando falamos de comportamento humano, referimo-nos, na
turalmente, a uma faixa quase que ilimitada de atividades. Con
forme Skinner afirma (1953):
“O comportamento é um assunto difícil, não por ser inacessível,
mas porque é extremamente complexo. Dado que é um processo e
não uma coisa, o mesmo não pode ser facilmente retido para obser
vação. É mutável, fluido e efêmero e, por esta razão, apresenta
grandes exigências técnicas que ultrapassam a energia dos cientistas”
(pág. 15).
Conforme veremos, devido à natureza das relações entre o com
portamento e o ambiente físico, as questões feitas aos psicólogos
ambientais são freqüentemente mais severas do que as feitas a outros
cientistas do comportamento.
Comportamento, então, é qualquer forma de atividade obser
vável, seja diretamente ou com o auxílio de instrumentos. São ne
cessários equipamentos altamente aperfeiçoados para observar al
gumas espécies de comportamento — alterações elétricas no cé
rebro, por exemplo. Podem ser usados diversos tipos de testes para
se detectar processos mentais e psicológicos. Há outros tipos de
comportamentos que são manifestos e basta ao pesquisador anotar
o que ouve ou vê. O que se deve ter em mente é que o comporta
mento varia de formas muito sutis de atividade até atividades mani
festas, que são facilmente observáveis.
Posteriormente, neste capítulo, serão discutidas as espécies de
comportamento que têm sido de interesse específico para os psicó
logos ambientais, juntamente com os métodos usados para medir o
comportamento.
5
(1970) distinguiu três formas deste relacionamento e, nesta seção,
vamos focalizá-las mais detalhadamente.
Wohlwill ressalta que o comportamento ocorre num contexto
específico de ambiente. Este contexto impõe restrições fundamentais
sobre as espécies de comportamento que nele podem ocorrer e “fre-
qüentemente serve para determinar, num sentido mais positivo, as
pectos ou padrões particulares do comportamento de um indivíduo”
(pág. 304). Por exemplo, o comportamento apresentado por uma
pessoa que viva numa fazenda ou numa pequena cidade difere con
sideravelmente daquele de um habitante de cidade grande. Um
tipo de relação, então, consiste em que o ambiente determina a classe
de comportamento que nele pode ocorrer.
No segundo tipo de relação, determinadas qualidades associa
das a um ambiente particular podem ter um amplo efeito sobre o
comportamento e a personalidade do indivíduo. Wohlwill cita como
exemplos “a habitual brutalidade do típico motorista de ônibus na
cidade de Nova York em seu trabalho [e] o proverbial ‘motorista
maluco’ de Manhattan”. Sugere ele que, pelo menos na medida em
que se mantenham verdadeiros tais estereótipos, “parece plausível
relacioná-los com as condições de stress e tensão às quais esses in
divíduos ficam sujeitos em sua batalha diária com o tráfego urbano
e o congestionamento” (pág. 304). Este tipo de relação pode tam
bém explicar diferenças registradas entre as incidências de moléstias
mentais e várias desordens físicas, bem como a apatia do espectador
em face da violência, em ambientes urbanos e rurais.
O terceiro tipo de relação é aquele em que o ambiente serve
como força motivadora.
“Os indivíduos evidenciam atitudes, valores, convicções e rea
ções afetivas, mais ou menos fortemente definidas, com relação a seu
ambiente. . .. Desenvolvem diversas formas de ajustamento e adap
tação às condições ambientais. Diante de certas situações ambientais
mostram reações temporárias ou permanentes de aproximação e de
fuga ou esquiva, variando em toda uma gama de possíveis situações,
desde a recreação e o turismo até a migração para os subúrbios ou
outros pontos do país” (pág. 304).
Assim, este último tipo de relação tem três importantes facetas:
(1) reações afetivas e “atitudinais” diante de características ambien
tais, (2) reações de aproximação e esquiva diante de atributos do
ambiente, e (3) adaptação às qualidades ambientais. Conforme
ressalta Wohlwill (pág. 305), estes tipos de relacionamento não só
6
estão diretamente ligados a muitos problemas atuais do ambiente,
como podem ser analisados, também, em termos de princípios ou
hipóteses existentes em psicologia.
Grande parte da pesquisa realizada por psicólogos ambientais
tem tratado do primeiro tipo destas relações, o ambiente como uma
fonte de afeto e atitudes. Conforme veremos nos capítulos seguintes,
o ambiente físico pode instigar fortes sentimentos e atitudes, tanto
positivos como negativos. Pode também resultar num comporta
mento de aproximação ou de esquiva. Desta forma, uma pessoa
pode mudar-se de uma área de que não goste por alguma razão —
clima frio ou superpopulação, por exemplo — para uma região que
ache mais atraente. Este tipo de comportamento acha-se também
envolvido quando uma pessoa escolhe um local para férias e não
outro, prefere um local e não outro para construir, e assim por
diante. Este aspecto da relação comportamento-ambiente começa
agora a ser investigado.
A questão de como uma pessoa se adapta a seu ambiente físico
é também de considerável interesse para os psicólogos ambientais.
Sabemos que o homem é capaz de se adaptar, tanto comportamental
como fisiologicamente, a uma ampla série de ambientes. Embora
grande parte da pesquisa nesta área tenha sido realizada em labo
ratório, tratando da adaptação à temperatura, luz, etc., o homem
adapta-se também à vida nos guetos, ao ruído das aeronaves a jato,
ao tráfego, à poluição e a outras características do ambiente físico.
Discutiremos este processo de adaptação em diversos pontos do texto,
uma vez que o mesmo leva a uma série de perguntas intrigantes
para o pesquisador que estude o homem em relação com seu am
biente físico.
Embora não seja discutida em detalhes neste texto, a antítese
do efeito do ambiente sobre o comportamento é, naturalmente, o
efeito do homem sobre o ambiente. Desta forma, ao invés de estudar
os efeitos da poluição do ar sobre o comportamento, poderiamos
optar pelo estudo do tipo de comportamento que ocorre em situação
de poluição do ar. Quando definimos psicologia ambiental como o
estudo das relações entre o comportamento e o ambiente físico, de
vemos ter em mente que tais relações são como uma rua de mão
dupla: o ambiente físico influencia o comportamento do homem, mas
o homem modifica também seu ambiente físico.
Temos procurado definir “Psicologia ambiental” e discutir al
guns tipos de relações existentes entre o comportamento humano e
o ambiente. No restante deste capítulo, analisaremos como os psi
cólogos ambientais estudam tais relações.
7
MÉTODOS DE PESQUISA EM PSICOLOGIA AMBIENTAL
O método experimental
8
indivíduos seriam solicitados a revisar um artigo que contivesse uma
série de erros tipográficos. Uma tabela com o material concluído e
o número de erros não observados serviria como medida de concen
tração, ou seja, a variável dependente. Se o desempenho dos indi
víduos na tarefa de revisão diferisse sob as diversas condições de
ruído, o investigador usaria um teste estatístico para determinar se
as diferenças foram devidas somente ao acaso ou se foram estatisti
camente significativas.
O método experimental é usado geralmente em estudos de la
boratório, uma vez que esses estudos podem ser conduzidos em con
dições cuidadosamente controladas. Conforme se verá, em laborató
rios têm sido efetuadas relativamente poucas pesquisas em psicologia
ambiental. O método experimental, entretanto, pode ser usado em
experiência de campo em muitos contextos naturais, tais como uma
escola, uma cidade e uma floresta ou área deserta.
Embora a situação experimental num estudo de campo freqüen-
temente não possa ser tão rigorosamente controlada como no labo-
tório, o estudo de campo tem diversas virtudes que o tornam um
método útil para os pesquisadores interessados nos efeitos do am
biente, construído ou natural, sobre o comportamento. Uma van
tagem importante do estudo de campo está no fato de que o contexto
é muito mais realista do que no laboratório. Este realismo geral
mente torna mais válidas as generalizações das descobertas da pes
quisa. Finalmente, muitas espécies de comportamento, variando de
reações relativamente simples até complexos processos sociais que
são difíceis de estudar no laboratório, podem ser estudados no campo.
Por exemplo, no laboratório seria difícil determinar os efeitos da
dimensão ou do desenho de uma sala de aula sobre o aprendizado,
mas podem ser estudados segundo um enfoque de campo.
9
vão desde um bloco e um lápis para o registro de observações até
sofisticados sistemas fotográficos ou de vídeo-teipes. O observador
poderá estar oculto dos sujeitos que desejava observar, ou poderá tor
nar-se efetivamente um membro do grupo cujo comportamento es
teja interessado em observar. Como em outros métodos, o compor
tamento estudado segundo esta norma pode variar desde simples res
postas motoras até tipos sofisticados de comportamento social. A
característica importante, naturalmente, reside no fato de que o ob
servador não tenta, de forma alguma, influenciar ou controlar o
comportamento.
Este método é popular, junto a investigadores, em muitas áreas
diferentes. Por exemplo, muitas coisas que sabemos sobre o com
portamento animal, particularmente sobre o que ocorre fora de um
laboratório, têm sido obtidas por pesquisadores que observam os
animais em seus habitats naturais. Os psicólogos têm estudado
freqüentemente o comportamento de crianças segundo técnicas de
observação naturalística. Este enfoque tem sido usado muitas vezes
para analisar o comportamento em situações específicas, tais como
em pequenas cidades, áreas urbanas, escolas ou outras instituições.
Para estudar o comportamento humano que ocorre naturalmente
nestes e em outros tipos de situações, os psicólogos interessados nesta
espécie de pesquisa (freqüentemente designada “psicologia ecológi
ca” ) devem usualmente apoiar-se em alguma forma de técnica de
observação naturalística.
O método de testagem
10
acerca de um problema ambiental, tal como a poluição do ar ou da
água. Para obter este tipo de informações, o pesquisador usa de
maneira específica um método especial de teste chamado pesquisa de
levantamento.
Estamos frequentemente expostos a informações colhidas por
levantamentos; de fato, antes de uma eleição, o público é bombar
deado com os resultados de uma espécie de pesquisa de levantamen
to: o voto da opinião pública. Em pesquisa de levantamento, o
investigador tenta de forma sistemática obter dados de uma popu
lação (mais especificamente, amostras de uma população) a fim de
avaliar alguma característica da mesma.
Realizar um levantamento de forma que os resultados sejam
significativos é um processo complexo que não podemos discutir em
detalhes. Diversos aspectos do processo revestem-se, entretanto, de
especial importância. Um deles consiste no fato de que somente em
raras ocasiões uma população pode ser estudada em sua totalidade
por um investigador. Consequentemente, na maioria dos estudos o
pesquisador escolhe amostras de uma população e, destas amostras,
tenta inferir características. O modo como a amostra é selecionada
é decisivo. Há uma série de métodos para selecionar a amostra a
ser utilizada num levantamento e o investigador deverá utilizar um
processo correto, se desejar que as generalizações de suas descober
tas, com base na amostra, para aplicação na população, sejam vá
lidas.
Outra característica decisiva da pesquisa de levantamento é a
elaboração de questões da entrevista. É relativamente simples ob
ter quase qualquer tipo de resposta de uma pessoa, se a questão
é formulada de uma forma particular. Por exemplo, possivelmente
todas as pessoas a quem se perguntasse “A fumaça incomoda você?”
provavelmente responderíam pela afirmativa, de forma que o pes
quisador podería tirar a conclusão de que a fumaça é realmente uma
questão de grande importância para as pessoas que entrevistou. Po-
der-se-ia obter uma resposta muito diferente se a pergunta fosse “O
que você considera ser o mais sério problema ambiental nesta área?”.
O instrumento da entrevista deve ser elaborado de forma a obter
aquilo em que o investigador está interessado, bem como evitar a
distorção ou a dissimulação das respostas. Muitas vezes isto é difícil
de conseguir.
Muito mais podería ser dito acerca dos métodos que são comu-
mente usados pelos pesquisadores para estudar o comportamento, em
muitos campos diferentes. Entretanto, no restante deste capítulo,
11
trataremos da muneira como estes métodos são usados pelos psicó
logos ambientais, em seu trabalho, e analisaremos alguns dos pro
blemas com que se defrontam.
Variáveis independentes
12
exaustiva. Ao invés disso, mencionaremos brevemente alguns tipos
dc variáveis que têm sido estudadas, muitas das quais serão consi
deradas mais detalhadamente em capítulos posteriores.
Durante muitos anos, os pesquisadores têm-se mostrado inte
ressadas na maneira como aspectos do ambiente construído influen
ciam determinados tipos de comportamento. Por exemplo, psicólo
gos e engenheiros têm estudado sistematicamente o efeito, sobre a
eficiência no trabalho e o conforto, de variáveis tais como a ilumi
nação, níveis de ruído, aquecimento, ventilação e desenho e posição
de máquinas. Embora estudos como estes possam ser considerados
como de pesquisa ambiental, relacionam-se mais apropriadamente
com estudos da psicologia industrial ou de engenharia e não serão
discutidos com nenhum pormenor neste texto.
Arquitetos, engenheiros, planejadores urbanos, cientistas do
comportamento e outros interessaram-se recentemente pelas variáveis
do ambiente construído que influenciam o comportamento e, desta
forma, estão tentando agora levar em consideração o “fator humano”.
Entre as variáveis que podem influenciar o comportamento estão o
tamanho e a disposição de salas e de passagens, o número e tamanho
de janelas e portas, bem como a disposição do mobiliário; iluminação
interior, temperatura e ruído; plano da comunidade, instalações re
creativas e acomodações para compras, além dos meios de transporte,
inclusive localização e rapidez de transporte público, espaço para
estacionamento e disposição das ruas (McCormick, 1970, pág. 575).
Do mesmo modo, numerosos aspectos do ambiente natural po
dem afetar o comportamento. Entre estes estão as características
físicas de um ambiente natural, como a presença ou ausência de
árvores, montanhas, rios ou lagos. Características como a acessibi
lidade, possível caráter inóspito, custos e muitas outras são também
variáveis que devem ser consideradas. Clima e incidentes naturais
negativos como enchentes, secas e terremotos são outras caracterís
ticas do ambiente natural que podem influenciar o comportamento.
À medida que o nível de tecnologia em nossa sociedade aumen
tou, também a deterioração do ambiente se acentuou. Desta forma,
a poluição do ar e da água, a poluição sonora e a violação da paisa
gem tornaram-se itens prioritários de discussão para um grande nú
mero de pessoas. Estas características do ambiente constituem, as
sim, outra importante categoria de variáveis independentes que têm
efeito sobre o comportamento.
As variáveis independentes que relacionamos podem ser consi
deradas como influências físicas sobre o comportamento, não resul
tantes do convívio social. Entretanto, é importante ter em mente
13
que, quando uma pessoa está exposta a estas variáveis, geralmente
não está isolada, mas na companhia de outras pessoas. Consequen
temente, o indivíduo não somente reage a estas variáveis como tam
bém se relaciona com outros indivíduos, podendo esta alteração mo
dificar os efeitos das variáveis ambientais. Em muitos casos, a
condição social existente pode ser uma variável ambiental importante.
Por exemplo, uma variável de particular interesse para os pesquisa
dores são os efeitos dos vários graus de densidade populacional sobre
o comportamento. Consideraremos esta variável, com alguns deta
lhes, num capítulo posterior.
Deve-se ter claro, assim, que uma ampla variedade de carac
terísticas ambientais pode servir como variáveis independentes. De
ve-se também ter em mente que as mesmas não constituem variáveis
perfeitas, facilmente quantificáveis, prontamente controladas e ma
nipuladas que se prestem a um oportuno esboço experimental de
projetos de pesquisa.
14
Em muitos outros tipos de estudo de psicologia ambiental, en
tretanto, a apresentação da característica ambiental aos indivíduos
constitui uma preocupação importante para o pesquisador. Além
disso, a forma pela qual é apresentada é decisiva para o êxito da
investigação. Os métodos exatos a serem utilizados dependerão, na
turalmente, da variável ou das variáveis específicas com que o in
vestigador esteja tratando, e não podemos descrever todas as pos
síveis abordagens. Entretanto, conforme ressalta Craik (1970),
certos métodos de apresentação de características ambientais abran
gem, com algumas modificações, muitos dos enfoques usados por
psicólogos ambientais; estas técnicas gerais serão aqui discutidas.
Quando se refere à característica ambiental que deve ser apre
sentada a um indivíduo, Craik usa o termo “contexto ambiental”
(págs. 65-66). Um evento ambiental pode incluir virtualmente to
das as variáveis independentes que discutimos nesta seção. Assim,
uma sala, um edifício, uma clareira de floresta, uma rua apinhada
de gente e uma atmosfera fumacenta, são todos exemplos de con
textos ambientais. Craik discute três métodos gerais segundo os
quais os contextos ambientais podem ser apresentados aos indiví
duos: apresentação direta, representação e apresentação imaginária.
15
lí
Variáveis dependentes
16
psicologia ambiental seja um campo novo, os pesquisadores já es
tudaram uniu série de comportamentos.
Em alguns estudos, estas variáveis envolvem claras reações
comportamcntais. O movimento através de uma sala serviu como
variável dependente em um estudo sobre os efeitos da cor da sala.
Em outros estudos, a variável dependente foi o número de pessoas
que visitaram um certo parque nacional. O tempo de reação, a de
tecção de sinais que aparecem raramente, a irritação dos olhos co
mo função do nível de fumaça e o desempenho de uma tarefa sob
condições de superpopulação constituem somente algumas das va
riáveis utilizadas. De modo específico, a medição destas variáveis
é relativamente direta, não suscitando grandes problemas para o
investigador.
A maior parte do trabalho em psicologia ambiental envolve va
riáveis mais difíceis de se tratar do que as do tipo acima descrito.
Freqüentemente, o pesquisador trata do que uma pessoa sente so
bre uma dada característica ambiental, ao invés de como a carac
terística afeta seu comportamento manifesto. Uma vez que senti
mentos, julgamentos e reações similares são mais difíceis de serem
medidos de forma confiável do que tempo de reação, locomoção e
outras variáveis dependentes deste tipo, e posto que os mesmos são
tão comuns em pesquisa ambiental, vamos considerá-los com alguns
detalhes.
Há diversos modos de provocar e registrar estes tipos de
reações ao contexto ambiental. Craik categoriza estas reações como
“reações descritivas, reações globais, reações inferenciais, reações
atitudinais e reações p r e f e r e n c i a i s Embora todas estas tenham
sido usadas em pesquisa ambiental, algumas são mais comuns que
as outras e serão enfatizadas na discussão logo a seguir.
Reações descritivas
17
1,7
usam cm seu lugar uma técnica de descrição padronizada. Os nu
merosos formulários descritivos padronizados incluem escalas de
avaliação c listas de verificação de adjetivos.
Escalas de avaliação. Embora existam escalas de avaliação de
várias formas, todas têm determinadas características em comum.
Especificamente, apresentam-se ao indivíduo diversas categorias das
quais o mesmo seleciona aquela que julga melhor caracterizar o
contexto ambiental ou a característica do contexto. As categorias
recebem normalmente números, que podem ser diretamente utiliza
dos em análises estatísticas. Se um pesquisador desejasse medir, por
exemplo, reações diante da poluição do ar, poderia pedir a seus in
divíduos que selecionassem, na escala indicada abaixo, a categoria
que melhor descrevesse seus sentimentos sobre a poluição do ar. As
respostas dos indivíduos a uma série de tais escalas de avaliação,
cada uma com diferentes categorias descritivas, dariam ao pesqui
sador um quadro relativamente amplo do sentimento de seus indi
víduos acerca da poluição do ar.
18
Sala A
Agradável __ __ 2L __ __ __ __ Desagradável
Confortável __ __ __ __ 2L __ __ Desconfortável
Sala A
Sim N ão
Agradável X
Confortável X
X
Favorável
Fria X
Grande X
Coerente X
19
pio, o fato de ver um rio de montanha pode fazer uma pessoa sen
tir-se feliz; se o rio foi poluído, a pessoa poderá sentir-se triste.
Uma forma de lista de verificação de adjetivos desenvolvida para
capacitar as pessoas a descreverem seu estado de ânimo em forma
quantificável é a de Nowlis (1965): Mood Adjective Check List
(MACL) — Lista de Verificação de Adjetivos de Estados de Âni
mo. A MACL consiste em um grupo de adjetivos que descrevem
oito fatores de estados de ânimo, tais como ansiedade, fadiga,
agressão e concentração. Para cada um desses adjetivos, um indi
víduo classifica como está se sentindo no momento, numa escala de
quatro pontos, como a que vemos abaixo. O indivíduo em questão
assinala “MM”, no caso de sentir-se definitivamente relaxado no
momento; “M”, no caso de estar ligeiramente relaxado; se não
puder decidir; e “Não”, se definitivamente não se sentir relaxado.
A análise das reações (que poderão ser designadas por números)
oferece ao experimentador uma visão geral do estado de ânimo do
indivíduo.
Relaxado MM * M ? Não
Reações globais
20
I
Reações injerenciais
21
Embora estes enfoques e outros semelhantes acarretem algumas
dificuldades em termos de quantificação e análise, podem indicar ao
investigador uma dimensão de comportamento que é importante
para uma melhor compreensão dos relacionamentos homem-am-
biente.
Reações “atitudinais”
22
Reações preferenciais
23
Amostras c populações
24
Características dos indivíduos
25
Capítulo 2
27
homem e ambiente construído ao nível relativamente simples das
salas c seus acessórios, para depois abordarmos sistemas homem-
ambiente mais complexos, tais como casas, grandes edifícios e ins
talações c instituições sociais.
ê importante ter em mente que, embora cada nível do am
biente construído venha a ser discutido como se fosse uma entidade
em si, é sempre um componente de algum sistema maior. Conforme
é mostrado na fig. 2-1, embora possamos estar interessados nas carac
terísticas físicas de uma sala, que influenciem o comportamento da
pessoa que nela estiver, a mesma não passa de uma sala num edi
fício específico de um bairro duma cidade numa região geográfica
— neste caso, a costa ocidental. Cada um destes subsistemas (o
edifício, o bairro, a cidade e a região geográfica) possui caracterís
ticas físicas únicas que podem influenciar o comportamento do in
divíduo na sala. Além disso, estas mesmas características físicas
afetam outras pessoas em cada nível do sistema e, desta forma, po
dem promover comportamento social que envolva a pessoa em con
sideração.
Figura 2-1 U m exemplo dos níveis de ambiente físico que podem afetar o
comportamento.
28
SALAS
29
sua função. Ambas as categorias de projeto físico contêm variáveis
independentes que exercem considerável influência sobre o compor
tamento. Uma das variáveis pertencentes à última categoria é a cor.
Cor
i
Características da cor
A luz colorida tem três dimensões: luminosidade, tonalidade e
saturação. A luminosidade é a intensidade da cor e a tonalidade é
simplesmente a cor de um objeto ou o comprimento de onda no
espectro de cores que predomina na composição da cor. A saturação
é a quantidade de branco presente em qualquer cor; quanto mais
saturada estiver, menos branco conterá. O vermelho, por exemplo,
é mais saturado que o rosa.
Na especificação de cores compostas de pigmentos, ao invés
de luz mantém-se, de preferência, o termo “tonalidade”, mas o ter
mo “chroma” é freqiientemente substituto de “saturação” e a di
mensão de valor é acrescentada. Valor é “o grau de aclaramento
da cor com relação a uma escala branco-para preto” (Woodson e
Conover, 1966, págs. 2-211). Uma vez que uma ou mais destas di
mensões podem variar no planejamento de disposições de cores para
a sala, os projetistas têm bastante liberdade para tentar produzir rea
ções subjetivas desejadas nas pessoas que usam as salas.
30
florestas sugerem temperaturas frias, ao passo que amarelos, verme
lhos c laranja fazem lembrar o sol ou o fogo. Estes tipos de asso
ciações levaram à hipótese tonalidade-calor aparentemente intuitiva
de “que um ambiente que tenha freqüências de luz dominantes para
o lado vermelho do espectro visível é quente e de que aquele onde
dominam freqüências para o azul é frio” (Bennett e Rey, 1972,
pág. 149).
Estes autores testaram uma extensão lógica da hipótese tona
lidade-calor: o calor percebido originário da cor de uma sala e a
temperatura real da sala podem atuar conjuntamente para afetar de
maneira diferencial o conforto térmico dos ocupantes da mesma. A
sala usada para investigação foi uma câmara ambiental, uma sala
com controles precisos sobre umidade e temperatura. A tempera
tura na câmara foi alterada, fazendo-se circular fluido frio ou quente
através de serpentinas conectadas às paredes, que eram de alumínio.
A cor, que é outra variável independente, foi controlada, exigin-
do-se que cada pessoa usasse sucessivamente óculos vermelhos, azuis
e claros. Sob cada condição de cor, a temperatura da parede foi
aumentada para 39°C e, depois, diminuída para 15°C. Solicitou-se às
pessoas, que foram sentadas próximas às paredes, que classificassem
periodicamente suas sensações de conforto térmico. As leituras de
temperatura foram obtidas nos pontos em que as pessoas mudaram
de uma condição de conforto térmico para outra — por exemplo,
de “ligeiramente quente” para “quente” — em cada uma das con
dições de cores. A análise dos pesquisadores revelou que, quanto a
conforto térmico, o vermelho não afetou as sensações das pessoas
de modo diferente daquele das condições azul ou clara. Bennett e
Rey sugeriram que a hipótese tonalidade-calor é somente intelectual,
uma crença arraigada de que certas cores tornam as salas mais quen
tes do que as outras.
Foi obtida prova deste efeito intelectual também por Berry
(1961), numa investigação semelhante. As pessoas deste estudo fo
ram colocadas numa sala sob diferentes cores de iluminação e, en
quanto o experimentador aumentava a temperatura do ar na sala,
solicitava que relatassem quando a sentissem muito quente. Embora
não fossem descobertas quaisquer diferenças entre as cores e o ponto
em que os indivíduos declararam uma sensação de desconforto, os
participantes indicaram que as cores mais quentes (usualmente âm
bar e amarelo) conduziam mais calor do que as cores frias (verde
e azul).
Estes dois estudos ilustram um ponto importante. Embora não
se tenha podido estabelecer nenhum efeito comportamental da cor
31
da sala sobre o conforto térmico, as pessoas dos estudos mantiveram
ainda a percepção cognitiva de variação de calor à medida que as
cores eram alteradas. Por isso, na seleção de cores para uma sala,
este efeito de percepção de cores pode ser tão importante quanto as
indicações comportamentais reais de confoTto.
A cor afeta a percepção não somente do calor de uma sala
mas também de qualidades, tais como o seu espaço, a complexidade
e o status social. Acking e Küller (1967, 1972) solicitaram a pes
soas que classificassem slides coloridos de salas numa extensa lista
de adjetivos que pudessem descrever o ambiente. As classificações
foram usadas por uma equipe de arquitetos e psicólogos para sele
cionar um conjunto de adjetivos que melhor descrevessem o con
forto, status social, complexidade, unidade e “fechamento” de uma
sala. Usando a lista resultante de classificação, os participantes da
segunda investigação avaliaram slides de esboços de salas nos quais
as cores das paredes e alguns detalhes da sala variavam. Verifi
cou-se que a avaliação social das salas variava em função da lumi
nosidade; à medida que o escuro da cor da sala e seus detalhes au
mentavam, os indivíduos achavam as salas mais ricas ou caras.
Também a dimensão de valor influenciou a percepção do espaço de
uma sala. À medida que as cores da sala se tornavam mais leves,
as salas eram geralmente julgadas mais espaçosas. Também o efeito
de amplitude foi conseguido, aumentando-se a intensidade cromática
dos detalhes da sala, enquanto se deixava a cor das paredes relati
vamente fraca em termos de saturação. Evidenciou-se, também, que
o julgamento da complexidade da sala depende da força cromática
das tonalidades e que as cores de sala mais saturadas recebem clas
sificações de maior complexidade. A classificação do conforto da
sala variava de indivíduo para indivíduo, sem qualquer estabeleci
mento de preferências firmes de cores.
Até este ponto, nossa discussão de cores como uma variável
independente tratou dos efeitos de dimensões diferentes de cores so
bre as percepções de uma sala. Embora as percepções de uma pes
soa quanto a valor ou sensação de espaço possam ser consideradas
um tipo de comportamento, são difíceis de ser medidas. Outra for
ma de estudar os efeitos de cores consiste na tentativa de unir a
percepção que uma pessoa tenha de uma sala a um comportamento
que seja mais observável, ou pelo menos mais passível de avaliações
objetivas. Entretanto, tais medidas de comportamento tornam-se
progressivamente difíceis de ser obtidas à medida que a relação ho-
mem-ambiente se tom a mais natural.
Na Environment Research Foundation, em Kansas, foi de
senvolvido um engenhoso dispositivo que mede comportamento “lo-
32
cncionul” c indica como o mesmo é afetado por características am
bientais. Este dispositivo registrou o comportamento Iocacional de
pessoas não previamente alertadas, numa sala do museu da Univer- .
sidade de Kansas. O dispositivo designado hodômetro (hodos é um
termo grego para curso, caminho) consiste em uma rede de termi
nais eletrônicos achatados, semelhantes aos usados para portas auto
máticas. Os terminais são dispostos no solo, cobertos por um car
pete e ligados a contadores colocados numa sala lateral que fica
oculta às pessoas que visitam a sala do museu. O número de lugares
a que os visitantes vão na sala, o tempo que passam num dado lugar
e outros tipos de comportamento podem ser, assim, medidos. Bet-
chel (1967) usou este hodômetro para estabelecer correlações entre
comportamento Iocacional e preferência de quadros em exposições
de arte.
De interesse mais imediato, entretanto, é o estudo feito por
Srivastava e Peel (1968), que usaram o hodômetro para medir o
comportamento exploratório de visitantes de salas de museu. Em
cada uma das duas condições de estudo, as cores do carpete que
ocultava os terminais e a cor das paredes foram alteradas. Quando
as paredes e o carpete eram bege-claro, as pessoas exploravam me
nos (usavam menos o espaço de chão disponível) do que quando
eram de cor chocolate. As pessoas nesta última condição davam
mais passos, cobriam aproximadamente duas vezes a área e passa
vam menos tempo na sala.
Esta seção deu pelo menos uma visão preliminar dos efeitos da
percepção de cores sobre outras forma de comportamento. Infeliz-
mente, os estudos aqui apresentados não representam sequer um pe
queno aspecto da pesquisa realizada neste particular; constituem, po
rém, a maior parte da pesquisa relatada. Além de dar informações
importantes sobre os relacionamentos homem-ambiente, tais estudos
sobre eliciação de sensações e idéias sugerem futuras diretrizes de
pesquisa. O estudo feito por Srivastava e Peel sugere que a cor nas
salas não deve ser desconsiderada ou relegada a funções puramente
estéticas, nas considerações de futuros projetos.
Conforto ambiental *
33
aspectos, conhecidos como de conforto ambiental, são o ruído, a
temperatura, a iluminação e o odor. Tradicionalmente, têm sido
alvo de mais consideração em discussões sobre ambientes de traba
lho, tais como escritórios e fábricas, ou sobre ambientes especiais,
como o caso de hospitais. O conceito de ruído como fator ambien
tal de stress será abordado com detalhes num capítulo posterior,
como o serão os aspectos de conforto ambiental referentes a escri
tórios e edifícios com finalidades especiais. Entretanto, algumas de
clarações sobre os efeitos do conforto ambiental sobre as percepções
das pessoas quanto às salas podem servir para conscientização de
sua existência no esquema de qualquer ambiente de uma sala.
Um conforto ambiental aceitável constitui requisito prévio para
a satisfação estética. De acordo com Fitch (1965), “o processo
estético somente começa a operar ao máximo, ou seja, como facul
dade unicamente humana, quando o impacto sobre o corpo de todas
as forças ambientais é mantido dentTo de limites toleráveis. . . . Uma
temperatura de 45°C ou um nível sonoro de 120 decibéis podem
tornar inabitável a mais bela sala” (págs. 707-708). Desta forma,
não só devem ser aceitáveis todas as condições ambientais, como não
se deve permitir que qualquer estímulo domine os demais, mesmo
que tal estímulo possa ser tolerável. Se o estímulo for extremo, pode
resultar numa sobrecarga sensorial, o que constitui um fator de
stress para o indivíduo. O conceito do ambiente como criador de
stress será examinado em profundidade em capítulo posterior. Em
bora os exemplos apresentados neste capítulo tratem da poluição,
superpopulação e outras características do ambiente físico causadoras
de stress, deve-se ter em mente que os aspectos de conforto am
biental de uma sala, causadores de stress, podem provocar muitos
comportamentos do mesmo tipo. Mesmo não causando stress,
uma quantidade excessiva de um ou mais aspectos de conforto am
biental numa sala pode fazer com que o indivíduo a perceba como
desagradável, o que pode levar a um comportamento mais ativo —
evitando a sala no futuro, por exemplo.
As condições ambientais requeridas para satisfação e valoriza
ção podem variar de sala para sala, uma vez que constituem uma
função da finalidade para a qual a sala foi projetada. Desta forma,
dependendo da finalidade de uma determinada sala, diferentes as
pectos de conforto ambiental podem ser manipulados para produzir
uma atmosfera que, por sua vez, irá despertar o estado comporta-
mental desejado em seus ocupantes. Os exemplos seguintes de salas
comuns, juntamente com um exame de seus aspectos de conforto
ambiental e o comportamento desejado, constituem ilustrações.
34
Numa discoteca, são altamente manipuladas duas condições
ambientais: iluminação e som. A música e outras fontes de som fre
quentemente alcançam um nível mantido em geral em mais de 100
decibéis. Embora o nível de iluminação seja frequentemente bas
tante baixo, as luzes podem estar em lugares incomuns — por exem
plo, sob um piso de plexiglass — e poderão ser programadas em
seqüências de jlashes ou piscadelas, numa tentativa de produzir uma
experiência de excitação visual. Além disso, a temperatura, em es
tabelecimentos desta espécie, é provavelmente mais elevada do que
a que os ocupantes considerariam agradável em outras situações.
No gabinete de um dentista, a luz e o som são usualmente ma
nipulados para auxiliarem a criação de uma atmosfera agradável.
Os níveis sonoros são muito mais baixos do que numa discoteca,
embora seja desejável música suave. A iluminação, por outro lado,
é de um nível mais alto, não só devido às necessidades do dentista
para o seu trabalho, mas também porque a sala assim parece mais
alegre. Tais recursos auxiliam a criar um ambiente que é vantajoso
tanto para o cliente como para o dentista. Do ponto de vista do
dentista, quanto mais agradável a atmosfera de seu gabinete, maior
a possibilidade de uma impressão favorável no paciente. A impres
são que o paciente recebe pode influenciar a sua volta ou a refe
rência que ele fará a seus amigos. O paciente aprecia um consultório
agradável e acolhedor, enquanto estiver esperando ou sob trata
mento.
Obviamente, outras condições estão também atuando nestas
duas situações e, entre as que mais influem, podem estar as condi
ções sociais. Os relacionamentos sociais e a maneira como são afe
tados por diversos aspectos de uma sala serão discutidos posterior
mente neste capítulo.
Tamanho e forma
35
aspectos do ambiente da sala, tais como a cor, condições ambientais
e disposição do mobiliário.
A razão principal da carência de pesquisa quanto ao efeito da
forma de uma sala sobre o comportamento é a nossa quase total
falta de variedades de formas. Em sua grande maioria, as salas ame
ricanas são retangulares; é difícil Iembrarmo-nos de uma sala que
não seja formada de ângulos de 90°. Somente em arquitetura futu-
rística e em outras culturas — o iglu na cultura esquimó e o tepee
na cultura indígena, por exemplo — há salas de forma diferente.
De fato, a sala retangular é tão comum que nos sentimos inclinados
a acreditar que uma sala em particular seja retangular, mesmo que a
disposição dos objetos que estejam na sala nos diga que não. ItteJson
e Kilpatrick (1951) apresentam excelente exemplo deste fenômeno,
que ocorre numa sala distorcida:
“ . . . o piso inclina-se para a direita do observador, a parede
de trás recua da direita para a esquerda e as janelas são de tama
nhos diferentes e trapezoidais na forma. Quando um observador
olha para esta sala com um olho só a partir de um determinado pon
to, a sala aparece como se o piso fosse plano, a parede de trás como
se estivesse em ângulo reto com a linha de visão e as janelas como
se fossem retangulares e do mesmo tamanho. Presumivelmente o
observador escolhe esta aparência particular ao invés de alguma ou
tra devido a conceitos e formas preestabelecidas que traz para a
ocasião” (pág. 55).
A importância deste estudo para a psicologia ambiental reside
no fato de que a percepção do examinador da sala distorcida é in
fluenciada por sua experiência prévia com salas. Infelizmente, têm
sido relatadas poucas pesquisas sobre os diferentes efeitos comporta-
mentais das diversas formas de salas. Ittelson e Kilpatrick, em seu
estudo, sugerem que as descobertas em tal área seriam de conside
rável interesse.
O tamanho da maioria das salas é determinado por sua função.
De forma geral, o tamanho de uma sala é o mínimo requerido para
servir à sua função. Por exemplo, se a função de uma sala de aula
consiste em abrigar trinta pessoas, é pouco provável que a mesma
possa acomodar confortavelmente um grupo de cinqüenta. Quanto
a este aspecto, considerações de ordem econômica têm prioridade
sobre possíveis benefícios de ordem psicológica de maior amplitude.
Uma vez que o tamanho depende, em larga escala, da função
da sala, o efeito do tamanho sobre o comportamento pode ser con
36
siderado como uma interação com outras variáveis independentes,
tais como o número de pessoas em uma sala. Neste contexto, o ta
manho torna-se importante como um possível determinante do com
portamento. Por exemplo, a presença de muitas pessoas numa sala
pode torná-la apinhada, o que pode acarretar conseqüências com-
portamentais (a superocupação é discutida no cap. 6). Desta
forma, o tamanho pode ser visto como um total de espaço dispo
nível para cada pessoa em uma sala. Discutir-se-ão posteriormente
neste capítulo os diferentes modos pelos quais as pessoas utilizam o
espaço para assegurar privacidade, para afirmar propriedade ou sta-
tus, bem como para influenciar o relacionamento social.
37
dc alguém de sc sentar. Ao mesmo tempo, uma cadeira pode ser
projetada para influenciar o comportamento. Sommer (1969) relata
que um desenhista de móveis dinamarquês foi contratado para de
senhar uma cadeira que se tornaria tão desconfortável, após um curto
período de tempo, que um ocupante dela seria forçado a levantar-se.
Este desenho foi encomendado por proprietários de restaurantes que
não desejavam que seus fregueses prolongassem o café. Sommer
(1969) descreve também considerações semelhantes referentes aos
desenhos das disposições de assentos de um aeroporto típico:
“Na maioria dos terminais, é praticamente impossível duas pes
soas sentarem-se para conversar confortavelmente por qualquer pe
ríodo de tempo. As cadeiras ou são dispostas juntas e colocadas
em fileiras em estilo de teatro, de frente para o balcão de passagens,
ou de costas uma para a outra e, mesmo que estejam de frente uma
para a outra, situam-se a distâncias tais que é impossível uma conversa
confortável. O motivo para tal disposição é o mesmo que em hotéis
e outros lugares comerciais — levar as pessoas para fora das áreas
de espera e encaminhá-las para bares e lojas, onde gastarão dinhei
ro” (pág. 121-122).
Se o objetivo das acomodações para se sentar, nos aeroportos,
realmente consiste em desencorajar o relacionamento social e pro
piciar ganhos financeiros, a disposição é altamente apropriada. Nu
ma série de experiências, Sommer (1959, 1962) investigou as pre
ferências quanto a assentos para pessoas envolvidas em conversações.
No primeiro estudo, pares de indivíduos foram solicitados a senta-
rem-se em dois sofás numa sala de estar e a discutirem um determi
nado assunto. Os sofás foram colocados frente a frente, a distâncias
variáveis segundo as condições experimentais. Sommer descobriu
que, até uma distância de cerca de um metro entre os sofás, seus
pares de indivíduos preferiam sentar-se frente a frente. Quando a
distância era maior, preferiam sentar-se no mesmo sofá.
Usando as descobertas desta experiência, Sommer efetuou um
segundo estudo, em que os sofás foram substituídos por quatro ca
deiras, de forma a permitir maior variação na distância lado a lado.
As situações experimentais foram feitas de forma que a distância en
tre cadeiras situadas lado a lado e de frente poderíam variar desde
33 cm até 1,70 m. Novamente, foi dado a pares de indivíduos
um assunto para discussão, sendo-lhes determinada uma disposição
das cadeiras. Como no estudo anterior, os indivíduos preferiram, de
forma geral, sentar-se frente a frente se a distância fosse igual oü
inferior à distância lado a lado (ver fig. 2-2). Ao interpretar estas
38
Figura 2-2 A pesquisa indica que a disposição das cadeiras influencia a escolha
de assentos de duas pessoas que desejam conversar. As pessoas preferem sen
tar-se de frente enquanto conversam, se as cadeiras forem suficientemente
próximas, na forma como se acha na parte superior da ilustração. Se a dis
tância que separa as cadeiras for muito grande para uma conversação confor
tável, como na parte inferior da ilustração, as pessoas sentar-se-ão lado a lado.
\
39
tensificar o nível de discussão em classe. Os pesquisadores defron
tam-se então com uma série de variáveis independentes. Se o nível
de discussão em classe demonstrar haver aumentado, foi isso devido
à nova técnica de ensino ou foi possivelmente por causa da dispo
sição do mobiliário de uma forma mais útil para o relacionamento
aluno-professor? É muito rara a pesquisa que se tenha orientado no
sentido de responder a este tipo de pergunta.
Entretanto, Sommer (1969) e Richardson (1967) penetram um
pouco na questão das condições físicas da sala e dos comportamen
tos do aluno. Richardson defende o ponto de vista de que a dis
posição física tradicional da sala de aula — carteiras de alunos em
filas retas, de frente paia o professor — pode não ser a melhor for
ma de promover envolvimento e satisfação do aluno. Cita uma série
de razões: (1) os alunos podem não ser capazes de ver o professor
ou o que este está fazendo porque outros alunos podem, inadverti-
damente, bloquear sua visão; (2) muitos alunos podem estar tão
distantes do professor que se sentem isolados da aula e do assunto
em questão; (3) os alunos têm dificuldade de ver e ouvir outros
alunos. Se uma pessoa na fila da frente responde a uma questão,
sua voz pode não chegar aos alunos do fundo da sala. Além disso,
fica difícil para o aluno da frente perceber a reação da classe à sua
resposta. Os alunos no fundo da sala, que responderem a uma ques
tão, também não podem ver e ouvir as reações de seus colegas de
classe; (4) o papel dominador do professor é acentuado pelo uso
de mobiliário diferente daquele usado pelos alunos e pela distância
entre os alunos e o professor; (5) a disposição fila a fila inibe os
tipos de aula baseados em “ação”.
Richardson oferece diversas alternativas para a disposição tra
dicional do mobiliário da sala de aulas, alternativas estas que enco
rajariam a participação na aula. Uma sugestão é dispor as carteiras
em um ou mais círculos ou semicírculos. Salienta, também, que a
substituição de carteiras por grandes mesas possibilitaria a unidade e
a cooperação em aula. Embora as opiniões de Richardson derivas
sem de observações e não representassem mais do que evidência ane-
dótica, suas idéias básicas são apoiadas por Sommer (1969), que
investigou as disposições de assentos, propriedades das salas e a par
ticipação em aula.
Sommer utilizou seis salas em seu estudo. Quatro tinham a dis
posição tradicional de filas retas. Duas destas salas eram laborató
rios para estudantes, contendo o equipamento usual, além de mesas
fixas. As outras duas salas tradicionais diferiam numa outra di
mensão: uma era sem janelas e. uma parede da outra era envidra-
40
çatla. As restantes eram salas para seminários, com mesas formando
um quadrado numa das salas e nos três lados, na outra. A obser
vação de alunos durante as aulas regulares indicou que,-nas dispo
sições em fila reta, participava nas discussões em aula um número
médio maior de alunos por sessão. Entretanto, o número absoluto
de afirmações por questão era mais elevado nas aulas que eram da
das nas salas para seminários. Sommer relata também que os alunos
declararam não gostar de ter suas aulas nos laboratórios e nas salas
sem janelas. Os resultados desta investigação sugerem que as carac
terísticas físicas de uma sala de aula são determinantes importantes
do comportamento que nela ocorre.
41
Alguns fatores individuais, como a necessidade inerente de pri
vacidade, não são tão facilmente influenciados por experiências an
teriores. Estas sào variáveis mais universais, que determinam certos
aspectos dc comportamento social em aproximadamente todos os
contextos sócio-ambientais. Duas destas variáveis são a necessidade
dc estabelecimento de território e a necessidade de preservação de
espaço pessoal.
Espaço pessoal
42
As Unhas que ligaram estes pontos foram determinadas como fron
teiras da zona pessoal do indivíduo. Mediante comparação do ta
manho médio destes pontos para os dois grupos de indivíduos, os
pesquisadores descobriram que os pacientes esquizofrênicos possuíam
uma zona maior de espaço pessoal do que os indivíduos não pa
cientes.
Muitas das idéias que os norte-americanos têm sobre o povo de
outros países ou culturas derivam de diferenças quanto às necessi
dades de espaço pessoal. Os estereótipos comuns do distante inglês
e do afoito ou agressivo latino-americano podem ter surgido dos re
lacionamentos pessoais dos norte-americanos com nativos desses paí
ses. Por exemplo, um norte-americano poderá ficar perplexo ao
conversar com um latino-americano, pois a necessidade deste de estar
muito próximo para realizar uma conversação confortável pode violar
seriamente as fronteiras espaciais do norte-americano. Se esta si
tuação for repetida uma série de vezes, o norte-americano poderá
chegar facilmente à conclusão de que os latino-americanos são agres
sivos (Hall, 1966).
O espaço pessoal varia também em função da situação social.
O limite para amigos íntimos difere daquele imposto para estranhos,
como difere entre membros do sexo oposto e membros do mesmo
sexo. As necessidades de espaço pessoal revelaram-se variadas em
situações de agrupamento de pessoas, embora a natureza da multi
dão possa também ser de considerável importância. Se a razão para
a formação de um grupo ou multidão for comum — por exemplo,
viajar no metrô ou esperar numa fila — , os limites pessoais fatal
mente desmoronam. As pessoas aceitam a situação e permanecem
em pé muito próximas umas das outras, mostrando pouco descon
forto à presença de outro indivíduo que seria, de outra forma, con
siderada excessivamente próxima. Entretanto, esta adaptação espa
cial resulta no desencorajamento de relacionamento social entre os
membros do grupo. Quando uma situação de superpopulação resulta
de espaço limitado, ocorre o mesmo tipo de comportamento. Em
investigações em que foram simuladas as condições em abrigos de
emergência, por exemplo, os indivíduos tiveram gradualmente mais
cuidado em se movimentar no abrigo, além de mover-se apenas
quando necessário (J. W. Altman, 1960).
Infelizmente, o estudo detalhado do espaço pessoal deve esperar
pelo desenvolvimento de métodos de mensuração mais apurados,
a menos que a situação experimental possa ser altamente controlada,
como o foi na investigação feita por Horowitz e seus colaboradores.
43
Em situações sociais menos rígidas, podemos somente tirar conclu
sões com base cm simples observação.
Territorialidade
45
RESIDÊNCIA
46
aumentados ou diminuídos pelos novos materiais e seus componen
tes? A aparência da casa, praticamente idêntica à de todas as demais
casas do conjunto, terá efeitos comportamentais? Estas e outras
perguntas necessitam de respostas antes que qualquer tipo de habi
tação seja executado em larga escala.
Questões igualmente relevantes podem ser levantadas acerca dos
efeitos de habitações coletivas sobre o comportamento.
Tais questões são particularmente importantes em face do cres
cimento populacional de nossas cidades e devido à diminuição de
terrenos adjacentes disponíveis. Além disso, os crescentes progra
mas de renovação urbana envolvem a mudança de muitas pessoas
para grandes complexos habitacionais de que seus ocupantes fre-
qüentemente não gostam e que parecem encorajar o comportamento
anti-social. Todas estas considerações devem ser observadas durante
a discussão a seguir.
47
paço revelou-se prejudicial às relações familiares e às atividades em
habitações coletivas.
Michelson (1970) fornece provas evidentes, com base num le
vantamento, de que o estilo de vida desejado determina, até certo
ponto, a busca de espaço para a família. Afirma ele que um grande
número de famílias que se m udaram de cidades para subúrbios in
dicaram que a razão primordial de sua mudança foi fugir dos rela
cionamentos intensos com outros parentes, além do círculo familiar
imediato. Aparentemente, estas pessoas viram o ambiente da habi
tação suburbana para uma só família como o meio de mudar sua
ênfase das atividades de uma grande família para as de uma família
“nuclear”. Desta forma, o espaço proporcionado pela habitação para
uma só família, bem como a distância de seus parentes, serviu como
fonte de satisfação em seu novo estilo de vida.
Outro fator que pode ser parcialmente responsável pela escolha
de habitações para uma só família é o papel típico do homem no
ambiente doméstico como m antenedor das instalações físicas e fac-
tótum geral do lugar. A prova da importância do espaço na exe
cução deste papel é de novo dada indiretamente, ressaltando-se os
aspectos negativos das habitações coletivas:
“Quando um homem mora em habitação coletiva, especialmente
quando é cercado por todos os lados por outros proprietários, não
pode executar qualquer atividade ruidosa dentro de sua própria casa
sem provocar seus vizinhos — a menos que haja adequado isola
mento acústico, o que é uma adaptação cara. Não poderá ele, de
forma alguma, ampliar o interior de sua casa sem provocar indig
nação do proprietário, ou até provavelmente ser vítima de uma ação
legal.
Mas em que outro lugar pode ele fazer isto? O espaço privado
externo oferece uma saída adequada. O homem que acabou de con
cluir um trabalho ativo e permanece conversando com seu vizinho,
com os pés na cerca divisória, constitui um sonho dos americanos.
Todavia, a maioria das habitações coletivas, especialmente altos con
juntos de apartamentos, não têm qualquer espaço aberto privado
para tais finalidades” (Michelson, 1970, pág. 81).
Michelson cita também Kumove (1966), que realizou um estudo
comparativo entre altos prédios de apartamentos e casas de cidades.
Um visitante informal em um arranha-céu não vê homem algum, em
geral, ao passo que em complexos de casas na cidade, onde cada
unidade tem acesso direto ao nível do solo, os homens podem ser
vistos numa série de atividades, a maioria das quais recreativas.
48
KumoVc sentiu que estas atividades auxiliam o homem a executar o
papel social que lhe é prescrito.
Embora tais variáveis sociológicas influenciem a escolha de uma
casa, variáveis individuais estão também envolvidas. O desejo de
habitações para uma só família e o espaço que as mesmas propor
cionam podem ser considerados como uma extensão da necessidade
de território. A posse de uma casa e do terreno pode satisfazer a
necessidade de exercer influência territorial. Uma vantagem adicio
nal da posse de território na forma de propriedade de uma casa pode
ser uma redução na tensão social que pode existir quando a forma
de posse do espaço for ambígua, como no caso de áreas públicas
usadas para atividade familiares. Esta concepção apóia-se, até certo
ponto, nos estudos anteriormente citados de Sommer.
O estudo de Michelson investigou também as relações existentes
entre os valores dos indivíduos e seus julgamentos sobre diferentes
tipos de habitações. Dos resultados de um inventário-padrão pro
jetado para determinar a estrutura de valores de uma pessoa, Mi
chelson obteve medidas da cooperadvidade, expressão, dependência
do grupo, individualismo e propensão para atividades de seus com
ponentes. Solicitou-se a cada um deles que classificasse fotografias
de quatro tipos diferentes de casas, variando desde habitações fa
miliares individuais até altos prédios de apartamentos, nas mesmas
classes de dimensões de valores usadas no inventário. Solicitou-se
também a cada indivíduo uma planta esquemática de seu ambiente
ideal, inclusive a posição de sua casa ideal em relação às casas da
vizinhança e aos estabelecimentos comerciais. Destes esquemas, e
das reações às fotografias, Michelson tentou extrair relações existen
tes entre a estrutura de valor do indivíduo e sua preferência quanto
à habitação. Por exemplo, se uma pessoa atribuísse valor a ativi
dades de grupo, qual tipo de ambiente habitacional parecer-lhe-ia o
ideal para isso? Embora os resultados gerais de Michelson não fos
sem conclusivos, resultaram na emergência de uma série de relações
potenciais. Em geral, os indivíduos que em seus esboços expressa
ram preferência por terrenos de grandes proporções tinham um alto
grau de individualismo. Além disso, a habitação de uma só família
foi considerada pelos indivíduos como altamente relacionada à busca
de atividades familiares, muito mais do que em qualquer outro tipo
de casas apresentado. E mais: independentemente de seus indivíduos
expressarem um desejo por terreno grande ou pequeno em seus es
quemas, eles frisaram de maneira significativa que a finalidade
do mesmo era a de proporcionar atividades familiares e individuais
que sentiam não serem possíveis numa área pública. As descobertas
49
desta investigação forneceram alguma indicação da importância da
habitação para uma só família nos tipos de comportamento gerados
pelo espaço.
50
autores ressaltaram, entretanto, que as relações reveladas por seu
estudo poderiam ser devidas à homogeneidade social.
Levando em conta este fator, Yoshioka e Athanasiou (1971)
entrevistaram 300 residentes de habitações para uma só família, es
colhidas numa série de locais diferentemente planejados. Os indi
víduos variavam consideravelmente em termos de renda e ocupação,
de forma que algumas relações descobertas, referentes ao ambiente
residencial e o comportamento social, poderão ser interpretadas com
mais confiança do que no caso do estudo feito por Festinger e seus
colaboradores. Os indivíduos foram indagados acerca dos estilos de
vida, atitudes e antecedentes sociais, educacionais e ocupacionais de
suas famílias. Solicitou-se também a cada indivíduo que fizesse um
mapa de sua área residencial, incluindo a localização de amigos que
freqüentasse de maneira regular ou ocasional.
Entre a série de relações descobertas estava o fato de que a
distância até a casa dos amigos era uma função do plano particular
do local. Geralmente, as famílias residentes em vilas ou ruas sem
saída moravam mais próximas de seus amigos do que os indivíduos
residentes em outras ruas. Os autores sugerem que duas caracterís
ticas da disposição residencial podem contribuir para este padrão de
relacionamento social. A primeira é que a densidade populacional
mais baixa da rua normal pode exigir que seus residentes andem
mais para satisfazer às suas necessidades de relacionamento social.
A segunda sugestão é que uma rua principal pode atuar como uma
barreira para o contato social, o que não ocorre com a vila.
Outros investigadores apresentam prova de mais uma caracte
rística do ambiente residencial que influencia o comportamento so
cial: a colocação das portas. Caplow e Forman (1950), num estudo
acerca de habitação em universidades, observaram que as amizades
tinham mais possibilidades de se desenvolver entre residentes de casa
cujas portas se abrissem para uma calçada comum. Esta descoberta
referia-se também a portas que estivessem próximas umas das ou
tras, mesmo que se abrissem para calçadas diferentes. Assim, a
orientação das portas, além do espaço público compartilhado, mos
trou afetar os padrões de amizade.
Um dos estudos mais significativos sobre o ambiente residencial
e o comportamento é apresentado por Whyte (1956) que efetuou
um levantamento de uma parte de um novo subúrbio de crescimento
rápido, ao sul de Chicago. Os residentes deste subúrbio eram, de
forma geral, homogêneos; a maioria deles consistia de jovens em
posições gerenciais ou profissionais e com grande mobilidade tanto
51
cm stutus social quanto em termos de localização de residências.
Desta forma, o subúrbio ficou sujeito a uma rotação anual substan
cial de residentes. Whyte estava interessado em saber se determina
das atividades sociais estavam relacionadas à localização das casas,
umas com relação às outras, ou a características dos residentes.
Conforme se poderia esperar da pesquisa anteriormente discutida,
descobriu que as pessoas que residiam próximas umas das outras es
tavam ligadas às mesmas atividades sociais. Por exemplo, as pessoas
que moravam em portas contíguas ou próximas umas das outras en
contravam-se regularmente para jogar bridge. Três anos mais tarde,
Whyte retornou à área e novamente estudou seus moradores. Des
cobriu que, embora muitas famílias se tivessem mudado e a natureza
de algumas atividades tivesse sido alterada, grande parte dos mora
dores das mesmas casas ou locais estava ainda envolvida socialmente,
independentemente da identidade das pessoas lá residentes na pri
meira ocasião. Whyte concluiu que a distância casa a casa e a orien
tação das casas influenciou significativamente a retenção dos padrões
de relacionamento social, mesmo quando da mudança dos indivíduos
envolvidos.
Da pesquisa até agora discutida, obtivemos uma idéia das carac
terísticas ambientais importantes da habitação de uma só família,
especialmente do espaço que a mesma proporciona para atividades
privadas da família e o atendimento à necessidade territorial. Os
resultados destes estudos indicaram ainda a importância da distância
entre as casas, a localização relativa das mesmas e a orientação de
suas portas na determinação da formação de amizade e de relacio
namento social. Grande parte da pesquisa revela também que os
moradores estão altamente satisfeitos com suas habitações.
Em bora os mesmos conceitos de privacidade, espaço, dispo
sição de residências e orientação dos componentes das habitações
tenham sido considerados em pesquisas nas habitações coletivas, os
resultados freqüentemente revelam insatisfação dos moradores ou
comportamento anti-social. Antes de discutirmos as possíveis razões
para as diferenças relatadas sobre satisfação e comportamento dos
moradores em habitações individuais e coletivas, entretanto, deve ser
notado um ponto importante. O status sócio-econômico dos mora
dores das habitações é freqüentemente muito diferente daquele dos
moradores de habitações coletivas. Os indivíduos típicos dos estudos
em habitações coletivas vivem em em preendimentos habitacionais pú
blicos. Estas pessoas passam geralmente por privações econômicas,
ficam freqüentemente expostas a preconceitos raciais ou étnicos e, em
geral, moram em tais locais por uma questão de necessidade e não
52
de escolha. Sem dúvida, estes fatores, bem como aspectos físicos do
ambiente, influenciam significativamente o comportamento.
Habitações coletivas
53
Figura 2-3 O primeiro e o segundo andares de um a unidade em B raydon
Road. As divisões comuns podem ser uma fonte de aborrecim ento entre v izi
nhos. De Living in Towrts, Leo Kuper (e d .). Copyright 1953 por T h e C resset
Press. Reimpresso com permissão do editor, Barrie & Jenluns, L td., "Londres.
54
ruído cm nível mínimo. Entretanto, o fato de assim proceder im
plicava frequentemente cm restringir as brincadeiras normais de
crianças, manter os rádios, televisores e instrumentos musicais em
nível muito baixo e apressar as tarefas diárias de limpeza, se o vi
zinho estivesse dormindo. Kuper expressa preocupação com os pos-
55
sívcis efeitos a longo prazo de tul comportamento forçado sobre o
desenvolvimento de relações intcrfamiliares saudáveis.
A violação de privacidade, em Braydon Road, não ficou restrita
à dimensão auditiva. A disposição das portas entre os edifícios pro
vocava considerável aborrecimento numa série de moradores. Em
bora a disposição de portas laterais encorajasse relações sociais entre
os moradores das unidades, um morador de uma unidade podia fa
cilmente ver o interior da próxima, se ambas as portas estivessem
abertas. Ainda mais prejudicial à privacidade era a disposição dos
edifícios nos becos sem saída. Qualquer pessoa que entrasse ou
saísse de qualquer casa podia ser vista pelos demais. Os moradores
declararam também que era difícil olhar para fora de sua sala de
estar ou da janela de seu quarto sem inadvertidamente olhar o in
terior das unidades que estivessem do outro lado da área.-
56
O utra falha citada refere-se às cercas situadas entre os quintais
e jardins de cada casa. Cercas sólidas teriam assegurado conside
rável privacidade a cada família em seus quintais, mas estas cercas
eram pouco mais que simbólicas, consistindo somente em fios de
arame. Em suma, a privacidade em Braydon Road era altamente
desejada, mas escassa.
Se confiássemos unicam ente nas descobertas da pesquisa pTe-
viam ente citada sobre habitações para uma só família, poderiamos
presum ir que um a série de características ambientais do complexo de
B raydon R oad seria propícia à criação de amizade e relacionamento
social saudáveis.
A colocação de portas, os becos sem saída e as linhas infor
mais de dem arcação dos quintais aumentavam, todos, o contato vi
sual entre m oradores, o que é considerado por alguns como fator de
aum ento de relacionam ento social (Michelson, 1970). Entretanto,
K uper nota que, em bora os vizinhos com uma parede em comum
estivessem fisicamente mais próximos, havia muito pouco relaciona
m ento social entre conjuntos destes vizinhos. Uma razão para esta
situação pode ser o considerável contato involuntário entre os con
juntos de vizinhos, o que pode resultar em mútua esquiva. Outra
possível razão é a disposição das portas de cada unidade. Como se
pode ver na fig. 2-4, as entradas principais das duas unidades de
cada edifício estão em pontas opostas da estrutura. Em termos de
relacionam ento social, esta distância (mencionada por alguns inves
tigadores com o distância fundam ental) é efetivamente muito maior
do que a distância física que separa os dois apartamentos.
M esm o que seja ignorada a violação múltipla de privacidade,
esta característica do ambiente tendería a desencorajar interação so
cial dentro dos edifícios. Por outro lado, esta mesma disposição de
' nortas laterais provê máximo contato de vizinhos entre as estruturas.
E n treian w , H*»nendendo da natureza do relacionamento existente en
tre os vizinhos, esta cuw j a^ H e wnortas podería estimular conver
sação amigavel ou um a confrontação nossm.- _ ~u«aruniL ambos
os tipos d e com portam ento em Braydon Road.
57
çôes. Um número substancial de pessoas residentes em projetos ha
bitacionais públicos são objeto de assistência de instituições benefi
centes. A ausência de pais é comum, de forma que muitas mães
precisam sacrificar a supervisão em tempo integral de seus filhos
para ganhar a vida. Muitos complexos são administrados por bran
cos, embora os proprietários sejam de outras raças, situações estas
que contribuem para tensões raciais.
Outro fator que pode ter um efeito indesejável sobre o compor
tamento reside no fato de que a habitação pública é, de forma geral,
construída com um objetivo: prover acomodações de baixo custo
para o maior número possível de famílias. Conseqüentemente, para
o construtor, o espaço é usualmente um fator de investimento, tanto
dentro dos edifícios como em volta deles. Este ambiente habitacio
nal de alta densidade e de orçamento restrito combina-se com as
características dos moradores em complexos, para produzir um qua
dro sem paralelos favorável a reações adversas.
Conforme será discutido num capítulo posterior, os moradores
de favelas freqüentemente as defendem fielmente como sendo lu
gares adequados para viver, embora os programas de renovação ur
bana tenham, com freqüência, resultado em extinção das mesmas e
na construção de complexos habitacionais para substituí-las. Uma
questão decisiva consiste em saber se os projetos habitacionais pú
blicos proporcionam mais satisfação aos moradores do que o faziam
as vizinhanças de favelas. Geralmente, verificou-se que se dá o
contrário.
Lewis (1970) relata uma entrevista com uma mulher que se
mudou de uma área favelada para uma habitação pública, por su
gestão de seu orientador social. Embora a pessoa externasse satis
fação geral com seu apartamento, expressava insatisfação quanto às
demais pessoas que moravam no conjunto, temor pela segurança de
suas crianças, desejo de relacionamento informal mantido na ™»iha
favela e arrependimento por ter-se mudado.
Relatos maí* ue levantamento de moradores são apre-
—-vuaus por Yancey (1972) e Hollingshead e Rogler (1963).
Yancey Telata os resultados de uma pesquisa feita junto a moradores
de Pruitt-Igoe, um grande complexo habitacional público em St.
Louis, e de uma favela próxima, acerca de sua satisfação com di
versos aspectos de seus ocupantes. Setenta e oito por cento do$
moradores de Pruitt-Igoe indicaram satisfação geral com seus apar
tamentos, ao passo que 55% dos habitantes das favelas sentiram o
mesmo com relação às suas casas. Entretanto, quando indagados
se estavam satisfeitos com a vizinhança, 74% dos moradores da fa-
58
vela responderam afirmativamente, em contraste com os 53% dos
moradores de Pruitt-Igoe que se externaram. As razões citadas com
mais freqüência como causadoras da insatisfação do complexo habi
tacional público eram a impossibilidade de observar as atividades
das crianças, desconfiança das demais pessoas residentes nos edifícios
e o medo de serem assaltadas ou roubadas fora do apartamento.
As descobertas de Rogler e Hollingshead corroboram as de
Yancey. Comparando-se favelas e habitações públicas em Porto
Rico, descobriram que 7% dos homens nas habitações públicas con-
sideravam-nas local adequado para o estabelecimento de uma famí
lia, ao passo que 38% dos habitantes de favelas declararam que sua
área era adequada para esta finalidade. A proporção dos moradores
em habitação pública que expressaram satisfação geral com sua si
tuação era de aproximadamente 25% , em contraste com mais de
60% dos moradores nas favelas. Estas são descobertas típicas da
pesquisa sobre a satisfação dos moradores em habitações públicas.
De acordo com a pesquisa atual, a disposição física de habi
tações públicas contribui significativamente para a insatisfação dos
moradores. Esta conclusão se baseia em dois fatores. O primeiro
é que as características físicas dos edifícios não fomentam relações
sociais entre os moradores ou atividades familiares normais —
cadeiras de crianças, por exemplo. O segundo fator é o resu
do primeiro: devido ao desencorajamento inadvertido oe relaciona
mentos informais-de grupo pela sua^disposição, certos tipos de habi
tações públicas promovem uma quantidade desproporcional de com
portamento indesejável. O restante deste capítulo centralizar-se-á
sobre a contribuição de pesquisas quanto a esta conclusão.
Uma estrutura típica em habitação pública é o prédio alto de
apartamentos. Este tipo de estrutura parece ter o maior número de
características de projeto que produzem insatisfação e medo nos mo
radores. Uma destas características é a altura do edifício propria
mente dita. Mães de crianças, em prédios altos, estão sempre
prontas a expressar sua preocupação com a falta de controle sobre
o paradeiro e as atividades de seus filhos (ver fig. 2-6). Yancey
(1972) relata a resposta de uma mãe a perguntas acerca de sua sa
tisfação quanto a morar em um prédio alto:
“Bem, não gosto de ficar aqui em cima como agora. O pro
blema é que não posso ver as crianças. Elas simplesmente estão
muito longe. Se uma delas se machuca, precisa ir ao banheiro, ou
qualquer outra coisa, está simplesmente muito longe. E não se pode
ver lá fora. Nós não temos varanda” (pág. 131).
59
^ Segundo opinião de mães residentes em edifícios de apartamentos
vicilãnría^ ^ ureS’ j ®*tuaÇao da foto de cim a é de preferência geral Para a
vigiiancia das brincadeuas dos filhos.
ii
60
k
61
I
63
lamentos próximos mas, também, a oportunidade de vigilância in
formal. Conscqücntcmcntc, as escadas são notórias pela frequência
de atos criminosos. Esta situação é também notada por Yancey
(1972) que relata que os moradores de prédios altos, em seu estudo,
expressaram grande medo de utilizar as escadas. Ainda mais óbvio,
entretanto, é o isolamento de que dispõe um delinqüente em um ele
vador fechado.
Outra característica física de habitações públicas, discutida por
Newman, é o tamanho do hall. É bom lembrar que uma ocorrência
comum em unidades habitacionais públicas é o corredor de dupla
utilização, que pode às vezes servir a até vinte famílias. Newman for
mulou a hipótese de que os corredores que servem a pequeno nú
mero de apartamentos tenderíam a inibir comportamento criminoso
devido a um possível alto grau de vigilância informal e ao estabele
cimento de comportamento territorial. Reciprocamente, a falta des
tes tipos de comportamentos em corredores maiores aumentaria o
crime. A hipótese se confirma, quando os índices de criminalidade
são computados para diferentes tipos de passagens; são relatados
menos crimes em corredores que levam a cinco apartamentos ou
menos.
Newman sugere que os complexos de grande porte (os que con
têm mil unidades habitacionais ou mais), compostos de prédios altos,
revelaram ter a pior taxa geral de crimes, não só devido aos pro
blemas das estruturas propriamente ditas, mas também à disposição
do projeto. Prédios altos requerem, como é natural, muito menos
terreno do que prédios mais baixos, para um mesmo número de uni
dades habitacionais. Consequentemente, os complexos de prédios
altos têm, freqüentemente, grandes áreas abertas entre os edifícios.
Estas áreas não são facilmente observáveis pelos moradores dos edi
fícios, os quais não sentem, geralmente, qualquer ligação com o solo.
Os edifícios mais baixos, por outro lado, são tidos como melhores
definidores de áreas de controle informal dos moradores e promovem
sentimentos de responsabilidade destes, no tocante a territórios par
ticulares em volta de seus edifícios.
Infelizmente, um estudo mais completo da pesquisa relatada por
Newman não é possível neste livro. Entretanto, os pontos discutidos
neste capítulo indicam o papel que os aspectos do ambiente físico
podem exercer, fomentando ou inibindo determinados tipos de com
portamento.
64
Capítulo 3
O ambiente construído:
edifícios e instituições sociais
65
tório pode ser uma variável independente importante a se considerar.
Embora o pesquisador possa estar interessado na aparência estética
geral dc uma disposição particular de cores para os empregados, há
mais probabilidade de o mesmo estar interessado em seu efeito sobre
a produtividade do trabalho. Além disso, os tipos de comportamento
que lhe dariam conhecimento sobre satisfação estética e eficiência no
trabalho diferiríam acentuadamente. Em um hospital, entretanto, a
cor seria provavelmente considerada mais sob o aspecto estético por
sua contribuição para uma atmosfera agradável e minoração do des
conforto e insatisfação desnecessária ao paciente. Em instituições
penais, a cor pode ser usada para dar aos internos uma fonte de
variação ambiental.
A última diferença refere-se à variedade de pessoas envolvidas
nestes sistemas maiores e suas variáveis necessidades numa estrutura
particular. As duas categorias principais, nos sistemas discutidos
neste capítulo, são clientes, pacientes ou internos, por um lado e o
quadro de funcionário ou empregados, por outro. As necessidades
destes duas categorias são freqüentemente quase opostas. Além disso,
segmentos diferentes da mesma categoria podem ter diferentes neces
sidades.
Desta forma, é projetado um sistema particular para abrigar pes
soas ligadas ao atendimento dos objetivos do sistema. A extensão
em que estes esforços foram bem sucedidos e as características físicas
que se revelaram importantes na determinação do sucesso ou falha
constituem os tópicos do presente capítulo.
ESCRITÓRIOS
66
atenção em termos de pesquisa e interesse gerencial, durante muitos
anos. Até recentemente, entretanto, as relações existentes entre as
características físicas dos ambientes do escritório e o desempenho no
trabalho receberam relativamente pouca atenção por parte dos pes
quisadores. Uma possível razão disso pode ser que, se os outros
fatores mencionados forem providenciados, o ambiente físico poderá
ter tão pouco efeito sobre o desempenho do trabalho que sua consi
deração não é economicamente viável. Não obstante, o pequeno po
rém crescente grupo de pesquisas sobre equipamento, disposição e
acomodações de escritório, condições ambientais e satisfação geral dos
empregados sugere que estes fatores merecem outras pesquisas e
maior ênfase nos projetos.
Equipamento e disposição
67
braços, nos inclinar-sc para a frente e quando sentado normalmente
na cadeira. Os pesquisadores tomaram também medidas detalhadas
do íingulo de assento da cadeira, largura, altura e curvatura e ano
taram o tipo de cadeira e seu estofamento. Das classificações obtidas,
determinaram eles quais características contribuíam para maior con
forto c incorporaram-nas em uma recomendação de projetos, indicada
na fig. 3-1. Se os desenhistas e fornecedores de equipamentos de
escritórios usarem estes tipos de padrões para as dimensões de con
forto da mobília, poderão aumentar a eficiência dos trabalhadores.
Outro fator do ambiente de trabalho do indivíduo é a disposição
dos equipamentos. Embora muito pouco tenha mudado neste setor,
propôs-se que a adoção de diferentes disposições podem favorecer as
diferentes atividades de trabalho e, conseqüentemente, aumentar a efi-
68
ciência geral. Propst (1966) propôs um escritório que denominou
“Escritório de Ação”, cujos móveis e disposição cie considerou favo
ráveis para uma maior eficiência, atividade e criatividade. As figs.
3-2, 3-3 e 3-4 apresentam exemplos de escritórios que ele considerou
apropriados para um gerente de fábrica, um especialista em pesquisa
e um médico. Fucigna (1967) tentou avaliar a eficiência do Escri
tório de Ação. Conforme ressalta Fucigna, a série de características
do Escritório de Ação que propiciam e levam ao desempenho máximo
são estas:
69
Figura 3-3 U m Escritório de A ção para um especialista em pesquisa. De R.
L. Propst, The action office, Human Factors, 1966, 5 (4 ) : 299-306. Repro
duzida com permissão da Hum an Factors Society.
70
Figura 3-4 U m Escritório de Ação para um médico. D e R. L. Propst, The
action Office, Human Factors, 1966, 5 (4 ): 299-306. Reproduzida com per
missão da Human Factors Society.
71
tomado mais tempo num escritório convencional. Embora a eficiên
cia não tivesse sido melhorada, muitos indivíduos declararam gostar
da organização do Escritório de Ação, de sua disponibilidade de infor
mações, funcionalidade e conveniência física. Fucigna conclui que,
embora a estrutura do escritório não afete as atividades, não deve
ser ignorada a. percepção dos trabalhadores sobre o Escritório de
Ação como sendo mais eficiente e conveniente.
Conforto ambiental
72
seria quente demais. Ambas as pesquisas relatam alguma insatisfa
ção entre os empregados com o sistema de ar condicionado. Embora
as temperaturas fornecidas por estes sistemas fossem satisfatórias, as
queixas sobre as correntes de ar provocadas pelos sistemas eram fre-
qüentes mesmo em alguns casos em que as medidas obtidas pelos
investigadores indicaram que o movimento de ar estava dentro da
faixa de conforto. Outras queixas foram dirigidas contra a grande
diferença existente entre as temperaturas interna e externa durante o
verão e a necessidade de manter as janelas fechadas durante os
meses mais quentes. As atitudes expressas nessas pesquisas podem
ser consideradas como estados comportamentais.
Infelizmente, entretanto, nada pode ser dito sobre os efeitos des
sas dimensões de condições ambientais sobre a eficiência do empre
gado, porque não foram obtidas quaisquer medidas de desempenho.
A questão de iluminação em ambientes de escritório resultou em
alguma controvérsia mesmo quando os padrões de níveis de luz e o
total de brilho (reflexos de luz em superfícies de trabalho, paredes e
tetos) são bem estabelecidos e podem ser encontrados em qualquer
escritório. A discussão é sobre vantagens e desvantagens da luz na
tural ou artificial. Os resultados de uma investigação (Wells, 1965)
indicam que os empregados consideram uma característica importante
do escritório a luz que penetra pelas janelas. Wells obteve estima
tivas do pessoal em um grande edifício de escritórios sobre a porcen
tagem de luz disponível em suas mesas que era fornecida através das
janelas.
Descobriu que, quanto mais longe as pessoas estivessem sentadas
das janelas, mais tendiam a superestimar a proporção de luz natural
de que dispunham. Wells mostra também que, quando os sujeitos
eram questionados sobre a qualidade da luz natural comparada à luz
artificial, aproximadamente 70% declararam que a luz natural era
melhor para o trabalho do que a luz artificial.
Essa preocupação pela luz natural num escritório parece ter
pouca relação com as condições reais de iluminação; parece ser con-
seqüência de um desejo psicológico por janela. Wells relata que qua
se 9 entre 10 pessoas nos escritórios sentiam ser importante que lhes
fosse permitido olhar para fora do edifício, independentemente da
qualidade da luz artificial. Manning (1965) relata uma evidência
gritante obtida de entrevistas, de que as pessoas não desejam neces
sariamente uma vista agradável; desejam simplesmente olhar para
fora.
A aparente necessidade de janelas em escritórios não é particular
mente surpreendente. Lembre-se, dos capítulos anteriores, que os
ir> * S T f '
! : l. i o r £ .
alunos do estudo de Sommer não gostavam das salas sem janelas.
Além disso, grandes edifícios quase sempre têm janelas, mesmo que
sejam caras e tornem o isolamento e a ventilação mais difíceis do
que em edifícios sem janelas. Assim, a redução de custo é freqüente-
mente sacrificada pela simples necessidade de janelas para se olhar
para o exterior. Esta decisão de projeto constitui, naturalmente, um
contraste marcante face a outras decisões que encontramos em nos
sas discussões acerca do ambiente construído.
Nossa discussão relativa ao ruído como variável independente
no ambiente de escritório deve começar com uma restrição. A maio
ria das pesquisas recentes sobre ambientes de escritório, que incluem
aspectos de ruído, foi feita em grandes escritórios de planta aberta.
Estes escritórios são muito diferentes dos tipos pequenos e mais pes
soais, que têm somente uns poucos ocupantes. As características dos
escritórios de planta aberta provavelmente determinam os tipos de
sons que são definitivamente rotulados como ruídos e se estes ruídos
são ou não considerados incômodos. Os mesmos sons poderão não
sê-lo (ou sê-lo mais ainda) em pequenos escritórios. Esta ressalva
deve ser considerada durante nossa discussão.
Dois fatos importantes surgem das investigações sobre o ruído
em grandes escritórios. O primeiro é que, geralmente, os índices de
ruídos estão muito próximos dos padrões aceitáveis, nos escritórios
estudados.
Em sua investigação de diversos grandes escritórios, Nemecek e
Grandjean (1973) referem níveis de ruído de fundo que variam de
47 a 52 decibéis, com os níveis mais altos de ruído (definidos como
“picos freqüentes” do nível de ruído) chegando à faixa de 56 a 64
decibéis. Estes níveis acham-se bem dentro dos limites considerados
aceitáveis pelos engenheiros projetistas. Todavia, quando os em
pregados foram indagados sobre se eram perturbados pelo ruído nes
tes escritórios, 35% indicaram que o eram “ grandem ente” , com 45%
adicionais declarando que se sentiam ligeiramente incomodados pelos
ruídos de diversos tipos. Q uando estas pessoas foram ainda inda
gadas quanto à fonte específica de sua queixa, quase metade relacio
nou a conversação como o irritante principal e especificaram que o
seu conteúdo, e não a sua intensidade, era o fator do incômodo. Esta
controvérsia é um contraste bastante surpreendente face às listas
usuais de fontes de ruídos em escritórios, como máquinas de escrever,
perfuradoras, telefones e assim por diante.
As razões tornar-se-ão mais evidentes quando discutirmos o
conceito de grandes escritórios de planta aberta.
74
O escritório de planta aberta
75
acomodações. Após um período de tempo no novo escritório, os
empregados fizeram novas avaliações com as escalas de adjetivos de
classificação c foram também entrevistados pessoalmente.
As comparações das classificações do escritório antigo e as do
novo revelaram algumas descobertas bastante surpreendentes. Causou
grande surpresa o fato de que o projeto de planta aberta não foi
julgado como sendo mais funcional ou eficiente do que a disposição
antiga. Em um nível mais pessoal, a maioria dos funcionários
declarou que a privacidade havia declinado, tanto em dimensões
visuais como acústicas; o ruído de conversações foi freqüentemente
citado como incômodo e na nova disposição aberta foi julgada como
substancialmente redutora da privacidade e segurança. Por outro
lado, os funcionários julgaram, de forma geral, que seu novo escri
tório era mais apto a levar às relações sociais e como tendo mais
estímulo estético do que o antigo. Entretanto, o aumento da coesão
de grupo resultante da maior sociabilidade não foi considerado fator
de aumento significativo de eficiência.
Nemecek e Grandjean (1973), em sua pesquisa de escritórios
na Suíça, deram a diversas centenas de empregados, em quinze escri
tórios de planta aberta, questionários para ouvir suas opiniões sobre
as-condições de trabalho. Os resultados dos questionários revelaram
que os grandes escritórios envolvidos na pesquisa tinham vantagens
e desvantagens. Mais freqüentemente citadas como principais des
vantagens estavam a dificuldade de concentração no trabalho e as
interrupções nas conversações confidenciais. Quando indagados
sobre a sua capacidade de concentração nestes escritórios, em com
paração com os escritórios que haviam ocupado anteriormente, mais
da metade dos indivíduos indicou ser ela mais afetada nos grandes
escritórios. Entretanto, esta resposta foi tida como resultado do
número de pessoas presentes nos antigos escritórios. As pessoas que
haviam trabalhado anteriormente sozinhas ou com poucas pessoas
eram as que mais se perturbavam no escritório de planta aberta. As
razões para esta perturbação (máquinas de escritório, telefones, trá
fego de escritório) sugerem que estas pessoas eram mais distraídas no
seu trabalho do que atrapalhadas devido à falta de privacidade. O
sentimento de invasão de privacidade era mais refletido nas respostas
do pessoal da administração, que se queixava de poderem ser casual
mente ouvidas suas conversações confidenciais, sentindo-se, assim,
algo atrapalhados no desempenho de suas funções.
Quanto ao lado positivo, os empregados de funções ocupacionais
mais inferiores indicaram que os escritórios de planta aberta promo
viam mais atividade social do que as antigas disposições. O pessoal
76
administrativo indicou que foi melhorada a comunicação relativa ao
trabalho.
Nas classificações médias gerais de trabalho, 63% sentiram que
seu trabalho era realizado com menos esforço e mais eficiência. Esta
descoberta é importante do ponto de vista de atitudes dos funcionários
em face dos seus trabalhos. Poder-se-ia especular se um sentimento
de eficiência melhorada promovería maior satisfação. Entretanto, esta
possibilidade ainda poderá ser empiricamente testada. Uma nota
final sobre as atitudes dos funcionários em face dos escritórios de
planta aberta é que a maioria das pessoas inicialmente insatisfeitas
com os escritórios declararam que se haviam ajustado suficientemente
às suas novas condições ambientais de trabalho para sentirem satis
fação geral.
HOSPITAIS
77
especialidade dos médicos, das funções das enfermeiras, e assim por
diante. Dc forma semelhante, nos estágios de diagnósticos, trata
mento c convalescença cada subcategoria de pacientes ou funcionários
pode ter necessidades ambientais diferentes daquelas de outras subca-
tegorias. Conforme veremos, estas necessidades são freqüentemente
conflitantes, resultando em situações de tensão para uma ou mais
das pessoas envolvidas.
Uma prática corrente no projeto de hospitais tem sido a de tentar
elevar ao máximo a eficiência médica pessoal pela manipulação do
ambiente. Está implícito neste esforço um aumento do bem-estar
do paciente (Ronco, 1972). As ramificações psicológicas de tal
prática serão discutidas mais adiante; examinaremos no momento
algumas das pesquisas sobre o comportamento do pessoal médico em
diferentes tipos de disposições hospitalares e seus efeitos sobre a
eficiência.
Um problema controverso e atual entre projetistas de hospitais e
o pessoal médico refere-se aos méritos e falhas das diferentes dispo
sições de alas em aspectos como custo, aproveitamento da mão-de-
obra e satisfação do paciente. Em sua comparação de diversas alas
hospitalares, Lippert (1971) utilizou o movimento das enfermeiras
pelas enfermarias como variável dependente. A movimentação foi
considerada como um importante fator de avaliação do projeto das
alas, uma vez que uma parte substancial do tempo de uma enfermeira
é tomada na movimentação; além disso, houve enfermarias que cita
ram a movimentação excessiva como fonte de insatisfação. Ao de
senvolver sua mensuração, Lippert construiu o que chamou de “mo
delo de percurso”. No modelo, um percurso foi definido como a
movimentação feita por uma enfermeira de seu posto para visitar um
paciente e o seu retom o até o posto. As diversas paradas de trajeto
para troca de roupas brancas ou outros artigos foram consideradas
“paradas para serviço” e foram incluídas como parte do percurso.
Desta forma, uma enfermeira pode deixar o posto, verificar o estado
de um paciente, proceder a uma parada para serviços, atender dois
outros pacientes e retornar ao seu posto.
Lippert aplicou seu modelo a quatro alas de hospitais, sendo
três retangualres e uma circular (ver fig. 3-5) e tentou aferir medidas
relativas da eficiência de cada uma. Duas medidas de eficiência
obtidas da aplicação do modelo de percurso foram a medida de para
das de serviço em cada paciente e o número médio de pacientes
visitados por percurso. Lippert sugere que o desenho mais eficiente
de ala é o que permite um número maior de pacientes visitados por
percurso, com o menor número de paradas para serviços. A tabela
3-1 mostra os resultados comparativos das medições.
78
■WV
79
entretanto, usaram padrões de percurso diferentes nestas duas enfer
marias, embora as diferenças não fossem suficientemente grandes
para fornecer muitas informações sobre eficiência comparativa. Não
obstante, o método de Lippert teve sucesso, porque refletiu os dife
rentes efeitos comportamentais das diferentes alas.
Como em outras situações ambientais, as normas sociais e de
organização em hospitais atuam com características do ambiente físico
para produzir comportamento previsível. De fato, as distinções de
status rigidamente mantidas entre médicos, residentes, internos, estu
dantes de medicina, enfermeiras registradas, enfermeiras de cirurgia,
atendentes e pacientes acham-se firmemente arraigadas na estrutura
social de qualquer hospital. Um indivíduo que ocupe qualquer
uma das ditas posições mantém um papel comportamental bastante
rígido. Entretanto, este papel (e portanto o comportamento) pode
alterar-se com o local em que a pessoa se encontre no hospital.
80
o médico antendente cra, sabidamente, a pessoa dotada de autoridade
inquestionável. Os pesquisadores notaram, entretanto, que os rela
cionamentos entre os médicos e as enfermeiras eram mais informais
em locais onde o papel de cada pessoa era ambíguo — por exemplo,
nos corredores. Outros locais onde se refletia o status, em termos
físicos e comportamentais, eram as salas privativas para residentes e
médicos praticantes. Embora ambas as salas servissem à mesma
função, havia duas que diferiam substancialmente quanto a caracte
rísticas interiores. Além disso, os residentes e internos hesitavam
em usar a sala privativa dos médicos, embora estivessem autorizados
a usá-la a qualquer hora. Assim, ficou evidente aos investigadores
que alguma coisa além das características do ambiente da sala estava
produzindo o comportamento que observaram.
Mencionamos anteriormente que o aspecto de projeto mais
importante para hospitais é o de facilitar as atividades do pessoal
médico, o que, por sua vez, é tido como meio de provar satisfação e
bem-estar ao paciente. Em outras palavras, consideram-se atendidas
as necessidades do paciente mediante o preenchimento dos requisitos
do pessoal médico. Entretanto, em algumas situações, as necessi
dades do paciente e as do quadro de funcionários são conflitantes, de
forma que um deve ser favorecido em detrimento do outro. Fitch
(1965) descreve tal situação na sala de operações:
“O cirurgião e sua equipe terão seu período de maior stress
durante a cirurgia. Nesta situação, seus requisitos serão opostos aos
do paciente. Onde este último requer ar quente e úmido (e medidas
anti-explosivas requerem umidades ainda mais altas), a equipe, sob
tensão nervosa, deveria estar, idealmente, em atmosfera de ar fresco
e seco.
“Mas, uma vez que o stress é de duração limitada, ao passo que
qualquer carga adicional pode ser desastrosa para o paciente, o am
biente termo-atmosférico da sala é usualmente projetado em favor
deste último. A equipe transpira e sofre, recuperando-se mais tarde”
(pág. 713).
Embora neste caso a decisão seja tomada em favor do paciente,
para proteger seu bem-estar físico, em detrimento do conforto da
equipe, Ronco (1972) ressalta que as considerações de ordem psico
lógica que envolvem os pacientes são freqüentemente rejeitadas em
favor do aumento da eficiência da equipe. O resultado de tais deci
sões é o confinamento físico e psicológico do paciente. Devido às
condições de superocupação de hospitais, os pacientes são freqüen
temente desencorajados a movimentar-se pelas suas salas ou enfer-
81
marias, mesmo que suas doenças ou ferimentos sejam de tal ordem
que possibilitem agir desta maneira.
Ronco nota também que os corredores são freqüentemente tão
pouco atraentes que os pacientes evitam passar pelos mesmos e, se
o fazem, é de forma rígida, para evitar infringir a privacidade de
outros pacientes, olhando-os inadvertidamente pelas portas abertas.
Além disso, os pacientes têm pouco controle sobre a mobília de
seus quartos e não lhes é permitido dispor as coisas da maneira
que desejariam.
A falta de privacidade é ainda outro resultado de projeto para
a função e não para a necessidade do paciente. Ronco cita um
estudo feito por Jaco (1 9 6 7 ), que investigou as reações psicológicas
de uma unidade radial de enfermaria. Muitos pacientes relataram
uma falta de privacidade, presumivelmente devido à possibilidade de
a enfermeira olhar diretam ente para seus quartos, a partir do seu
posto. A falta de privacidade fica expressamente evidente durante
as horas de visita. Sem quaisquer áreas privadas para visitação, a
m aior parte dos relacionam ento paciente-visitante se dá em volta da
cama do paciente e é testem unhada por outros. Conforme declara
R onco, esta situação é pouco favorável a conversações francas ou
confidenciais em grandes enferm arias de múltiplos pacientes.
Obviamente, é funcional e financeiram ente impossível a qualquer
hospital fornecer o conforto de um a casa. Todavia, ignorar as ne
cessidades dos pacientes e negar-lhes a oportunidade de pelo menos
se aproxim arem de diversas atividades normais pode tomar mais
grave seu desconforto, o que, p o r sua vez, pode resultar em necessi
dade de m aiores cuidados. Assim, quaisquer efeitos comportamentais
de projetos de hospitais que visem apenas funcionalidade, sem levar
em conta as necessidades do paciente, serão provavelmente deletérios.
IN ST IT U IÇ Õ E S SO C IA IS
82
i
físicas dessas instituições podem facilitar ou retardar o processo de
reabilitação.
Tanto as instituições psiquiátricas como as penais oferecem uma
oportunidade única para a investigação dos efeitos de ambiente físico
sobre as pessoas que nelas estão. Qualquer uma delas pode ser con
siderada um microcosmo, quase livre de quaisquer influências ou
controles externos. Embora os quadros de funcionários de ambas
as instituições tenham contato diário com o “mundo real”, os internos
ou pacientes estão confinados num único ambiente físico e compor-
tamental. Por isso, com exceção de visitas ocasionais de família ou
de amigos ou de experiências anteriores à instituição, a influência de
variáveis externas é desprezível. Este isolamento permite a formação
de relacionamentos estáveis homem-ambiente, tornando mais fácil a
sua observação. Entretanto, devido à natureza das instituições e as
razões pelas quais seus internos nelas se acham, qualquer tentativa de
generalização dos resultados de uma investigação seria vista, quando
muito, com ceticismo. Não obstante, quaisquer laços estabelecidos
entre as características físicas do ambiente institucional e o compor
tamento de seus ocupantes podem revelar-se extremamente valiosos
para os projetos que visem uma máxima reabilitação.
Instituições psiquiátricas
83
Ittclson, P roshansky e R ivlin (1 9 7 2 ), G um p e James (1970); e
B arton, M ishkin e Spivack (1 9 7 1 ).
E m b o ra a fin alidade principal do estudo de Ittelson e seus cola
boradores fosse a de ob serv ar a estabilidade de padrões de compor
tam ento entre unidades psiquiátricas, o relatório dá também informa
ções sobre os aspectos físicos das enferm arias e suas relações poten
ciais com o com p o rtam ento. Os investigadores escolheram enfer
m arias de unidades psiquiátricas de três hospitais. Estas enfermarias
variavam substancialm ente em tam anho (ta n to em termos gerais como
em suas subdivisões) e aparência, bem com o quanto à população de
pacientes.
A prim eira enferm aria consistia em um a ex-enfermaria médica
convertida em psiquiátrica, num hospital geral. Assim, mantinha a
aparência de hospital, com corredores azulejados, fortes iluminação e
grande atividade. Os quartos eram de três ou seis ocupantes e
abertos p ara os corredores, perm itindo observação direta. Além de
um a sala p ara uso geral diário, esta enferm aria continha um solário
p ara uso dos pacientes.
D uas outras enferm arias eram de um a instituição psiquiátrica
estadual. E ste hospital era um exem plo das instalações estaduais de
saúde m ental, no sentido de que funcionava sob rígidas aperturas
financeiras. A m bas as enferm arias eram utilitárias em estruturas e
acessórios. C ada um a continha alguns quartos particulares e uma
m istura de quartos de três, seis ou vinte cam as, ou tipo dormitório.
Devido a diferenças na política adm inistrativa, as enfermarias diferiam
bastante num aspecto. U m a delas evidenciava a cooperação dos
pacientes na m anutenção d a lim peza e na decoração atraente. A
outra tinha um a atm osfera consideravelm ente mais melancólica.
A q u arta enferm aria era a de um hospital particular. Os inves
tigadores relatam que esta parecia m ais um atraente hotel do que uma
enferm aria psiquiátrica. Os esquem as de cores eram agradáveis e os
acessórios bem dispostos. T odos os quartos tinham uma ou duas
cam as e portas que não deixavam entrever qualquer atividade nos
corredores.
P ara observar e registrar a variedade de comportamentos que
ocorria nestas enferm arias, os investigadores desenvolveram uma
técnica cham ada “ m apeam ento com portam ental”. Para construir
um m apa de cada enferm aria, foram colocados observadores treinados
em locais específicos da m esm a. E m intervalos de tempos predeter
minados, cada observador registrava os tipos de comportamento que
ocorriam em sua área e o núm ero e características das pessoas nela
84
envolvidas. Por exemplo, num intervalo de tempo, um observador
na sala de uso diário poderia registrar que seis pacientes do sexo
masculino, duas pacientes e um atendente de enfermaria estavam
vendo televisão; quatro pacientes do sexo masculino estavam jogando
cartas; três pacientes do sexo feminino estavam lendo e um paciente
do sexo masculino estava dormindo em sua cadeira. Assim, a com
binação de todos os dados dos observadores, num intervalo de tempo,
fornece uma descrição exata do comportamento que ocorre em toda
a enfermaria. De forma semelhante, a combinação dos dados de
todos os observadores em todos os intervalos de tempo estabelecem
os padrões de comportamento dos pacientes e do quadro de atendentes
da enfermaria. Tais mapas comportamentais das atividades normais
do dia foram construídos para cada enfermaria para longos períodos.
Para uma apresentação significativa, os investigadores dividiram
os locais de comportamento em duas categorias principais — quartos
e salas de uso público. Os lugares considerados como salas de uso
público incluem os corredores, salas de uso diário, salas de alimenta
ção e o solário, no hospital da cidade. Também o comportamento
foi dividido em categorias de acordo com o tipo de atividades, tipos e
quantidade de encontros sociais envolvidos. Estas categorias são:
isolado-passivo (sentado ou deitado sozinho em sua cama, acordado
ou dormindo); ativo (encargos pessoais, leitura e recreação indi
vidual) e social (pacientes relacionado-se com outros pacientes,
visitantes ou quadro de atendentes). A análise dos dados nestas
categorias revelou diferenças entre as enfermarias bem como acen
tuadas diferenças nos tipos de comportamento como função do
local.
A comparação das atividades gerais nas quatro enfermarias reve
lou que no hospital particular ocorria mais freqüentemente um com
portamento ativo ou social do que passivo. Nas enfermarias esta
duais ou convertidas da cidade, predominava o comportamento iso
lado-passivo. Nos locais de uso público das enfermarias, o compor
tamento no hospital particular foi novamente muito mais ativo ou
social do que o isolado-passivo. O comportamento nas enfermarias
estaduais e da cidade, por outro lado, foi distribuído Telativamente
por igual entre todas as categorias comportamentais. Entretanto, os
pesquisadores sentiram que estas diferenças estavam mais relaciona
das com diferenças das populações de pacientes e políticas adminis
trativas do que com diferenças do ambiente físico.
As descobertas mais intrigantes do estudo são as acentuadas
diferenças comportamentais observadas nos quartos de cada uma das
alas psiquiátricas, diferenças estas que os investigadores logo perce-
85
beram. Embora prevalecesse o comportamento isolado-passivo em
todos os quartos de todas as alas, a porcentagem dos pacientes do
hospital particular que exibia este tipo de comportamento era menor
do que a dos pacientes das enfermarias estaduais e da cidade, Esta
diferença foi logo atribuída à presença de quartos de apenas uma ou
duas camas na instituição particular. Os pesquisadores descobriram
então que a porcentagem do comportamento isolado-passivo em quar-
tos aumentou em todas as quatro enfermarias com o número de camas
por quarto e, conseqüentemente, com o tamanho do quarto. À pri
meira vista, poder-se-ia presumir que estes resultados seriam previsí
veis; quanto maior o quarto, mais pessoas o ocupariam e se entrega
riam a um comportamento isolado-passivo, a qualquer hora. Entre
tanto, a taxa de utilização dos quartos não aumentou em tamanho
suficiente para que possamos incluí-la como fator ligado às diferenças.
Os autores interpretam esta descoberta como segue:
“... O paciente, nos quartos menores, experimenta toda uma
série de possíveis comportamentos aberta para si, sente-se livre para
escolher entre toda uma gama de opções e, de fato, escolhe mais ou
menos igualmente entre todas as possibilidades. Isto ocorre (muito)
dramaticamente nos quartos pequenos de hospitais particulares, onde
o comportamento é igualmente distribuído em todas as categorias.
Em contraste, o paciente dos quartos maiores é muito mais
suscetível a um comportamento isolado-passivo do que qualquer outra
coisa e em geral passará deitado em sua cama, seja adormecido ou
desperto, de dois terços a três quartos do tempo que estiver no
quarto. Parece que o mesmo vê a gama de opções comportamentais
à sua escolha como severamente limitada e pode ser constrangido a
escolher o comportamento isolado-passivo em relação a qualquer
outro” (pág. 103).
Desta forma, se o relacionamento social em enfermarias psiquiá
tricas é desejável e acelera a reabilitação, então para os projetistas
este estudo implica que os quartos menores podem ser preferíveis.
No capítulo anterior, discutimos o trabalho de Sommer (1969),
que estabeleceu relações entre a disposição do mobiliário em salas de
aula e a atividade da classe e que mostrou que as pessoas que
desejam conversar têm fortes preferências à disposição e distância
entre as cadeiras. A pesquisa de Sommer comprova, também, que a
disposição de mobiliário e acessórios em instalação de instituições
psiquiátricas é importante na determinação da extensão dos encontros
sociais entre pacientes. Ressalta ele que a disposição de cadeiras
nas salas de instituições psiquiátricas não difere daquela dos terminais
de aeroportos.
86
Como característica no caso, as cadeiras ficam em filas retas ao
longo das paredes e, no centro da sala, de costas umas para as outras,
com a distância entre as cadeiras centrais e as que estão ao longo da
paredes excedendo em muito o limite estabelecido para conversação
confortável. As razões para esta disposição são facilidade de manu
tenção, aparência de limpeza e a tradição implícita do aspecto que as
instituições devem aparentar.
Sommer relata que, numa investigação de tal disposição de enfer
maria numa instituição do Canadá, seus observadores registraram
tanto comunicações sociais unilaterais (cumprimentos ou perguntas
dirigidas por um paciente a outro, por exemplo) como recíprocas,
durando de dois segundos para mais. Estes dados foram coletados
para uso como “linha de base” para comparações posteriores com
dados reunidos sob diferentes condições. Ao final d o . período da
“linha de base”, diversas mesas quadradas foram levadas para o
interior da sala de estar e as cadeiras ao longo das paredes foram
recolocadas ao lado das mesas. Esta nova disposição provocou resis
tência por parte do pessoal de manutenção e outros, os quais se
queixaram que a mesma era prejudicial às suas atividades. Alguma
resistência inicial partiu também da parte dos pacientes. Depois de
ter-lhes sido dado algum tempo para adaptação à nova disposição, os
observadores registraram novamente o número de comunicações e
descobriram que tanto as unilaterais como as recíprocas haviam au
mentado.
Os resultados desta investigação, acrescidos das descobertas de
Ittelson e seus colaboradores, fornecem informações importantes a
administradores e planejadores no campo de projetos de instituições.
Embora a pesquisa seja exploratória e uma série de outras variáveis
possam ter influenciado os resultados, pelo menos já se tem uma
base para alternativas quanto às disposições atualmente existentes
em enfermarias psiquiátricas.
87
Num estudo acerca das relações entre as necessidades dos pa
cientes c os projetos de instituições, Osmond (1970) cita as anorma
lidades nas percepções de um esquizofrênico — visuais, auditivas, de
tempo e as próprias — e oferece sugestões para projetos institucionais
que possam auxiliar ou, pelo menos, não agravar essas distorções.
Experiências de privação sensorial têm indicado que uma falta de
alteração na estimulação visual pode fazer com que pessoas normais
experimentem alucinações visuais. Embora não tão extremas nas
experiências, condições algo análogas existem na maioria dos hospitais
psiquiátricos; esquemas uniformes de cores, geralmente pardacentos e
tristes, ou paredes, pisos e tetos áridos oferecem ao paciente estímulos
visuais com mínimas alterações. Embora não tenhamos evidência
empírica que prove que o estímulo visual reduzido nas instituições
provoque alucinações, a alteração visual ao sair de uma instituição
para o mundo exterior tem sido uma fonte de confusão e trauma
para uma série de pessoas (Wildeblood, 1959).
Conforme mencionado no cap. 2, a autopercepção distorcida de
esquizofrênicos resulta numa ampliação de suas necessidades de es
paço pessoal (Horowitz, Duff & Stratton, 1964). Esta necessidade
exagerada de espaço pessoal, em combinação com um desejo do
paciente de ter um lugar para se esconder, leva Osmond a sugerir
que os projetistas devem prever espaços privados nos desenhos ou,
pelo menos, reduzir o potencial de contatos pessoais não desejados.
Estes requisitos podem ser atendidos de uma série de formas diferen
tes. quartos de ocupação única, enfermarias pequenas, pequenos re
cantos e tratamentos dos espaços da instituição para que sejam con
fortáveis e favoreçam a reclusão.
Outras incapacidades dos pacientes que requerem consideração
por parte dos projetistas são a tendência para rápidas alterações de
estado de ânimo e a dificuldade de tomar decisões. Osmond declara
que pequenos grupos que tenham tido oportunidade de formar rela
cionamentos compreensíveis são mais resistentes a mudanças de
estado de espírito do que os grupos maiores, menos coesos. Assim,
pequenas enfermarias e quartos podem servir novamente para uma
finalidade útil. Para aliviar as dificuldades da tomada de decisões,
Osmond advoga a redução de situações ambíguas (junções de cor
redores longos e não marcados, grandes halls de refeitórios e dormi
tórios, por exemplo) mediante o uso de unidades menores destes
exemplos, reduzindo o número de alternativas presentes em cada
situação de decisão.
Em todo o seu artigo, Osmond sustenta que a mudança de deter
minadas características ora comuns às instituições (estimulação visual
88
reduzida, por exemplo) c a adoção de outras características (espaço
privado) podem facilitar os esforços de reabilitação. Estes esforços
podem também ser auxiliados se as instituições forem projetadas de
forma a requerer o mínimo de adaptação por parte de novos pacientes,
reduzindo assim as situações potenciais de stress.
Instituições penais
89
atividades privadas com o leitura, escrita c estudo, sem ser perturbado
por colegas dc cela. Jê igualmcntc desejável agrupar-se internos, de
acordo com o estágio do projeto de reabilitação. Esta concepção
resultou na com partim entalização usada em diversas penitenciárias
mais recentes.
Num estudo realizado sobre o uso de celas separadas como
dissuasoras de influências crim inogênicas, G laser (1972) efetuou um
levantam ento de atividades de internos em celas individuais e em
dormitórios, em cinco instituições. Coletou dados sobre o número
de horas que cada interno passava em atividades rotineiras, tais como
trabalhar, comer, dorm ir, conversar com colegas prisioneiros, recrea
ções, leitura. E m bora as instituições diferissem quanto à política
adm inistrativa e aos program as de tratam ento, o tempo passado na
leitura e em com er era seguram ente m aior para os ocupantes de celas
individuais. G laser atribui o m aior tem po passado em comer à
necessidade dos internos de celas individuais de se socializarem ou
de fugirem ao isolam ento de sua cela. Os resultados desta pesquisa
sugerem que, em bora os ocupantes de celas individuais tenham mais
privacidade, estes não a aproveitam como poderíam.
Glaser obteve tam bém os mesmos tipos de inform ação em relação
a unidades separadas de habitação num a prisão. As unidades de
habitação foram organizadas de acordo com diferentes estágios do
processo de reabilitação e, desta form a, variavam em características
físicas e na política adm inistrativa e na vigilância vigentes sobre seus
internos. Basicam ente, as unidades na base do sistema do procedi
m ento consistiam em dorm itórios, cada um com um encarregado de
vigilância. À m edida que um interno avançava na escala de proce
dimento, seu am biente físico era alterado, assim como a vigilância. A
prim eira alteração significativa era do dorm itório para uma sala única
não fechada, as unidades de “boa conduta” . D aí para a frente, o
quarto do interno aum entava em tam anho e na unidade de “ótima
conduta” a luz estava à sua disposição a qualquer hora. Associado às
alterações do am biente estava o decréscim o de vigilância que na uni
dade de “ótim a conduta” praticam ente não existia.
E m bora a análise de G laser sobre as atividades nestas unidades
reflita pouca influência de suas características físicas sobre o compor
tam ento dos prisioneiros, algum as de suas descobertas podem fornecer
bases para futuras decisões nos projetos de instituições penais. Uma
descoberta bastante inesperada leva a questionar o sucesso do sistema
de procedim ento. A análise de G laser do trabalho e das atividades
recreativas dos internos nas unidades de habitação revelou que o
tempo de trabalho aum entava, ao passo que o tempo de recreação
90
diminuía, até que os prisioneiros chegassem às duas unidades de
“ótima conduta”.
Aí, então, a tendência inverte-se, com as atividades recreativas
ocupando substancialmente mais tempo do que em outras unidades e
o tempo gasto no trabalho proporcionalmente diminuído. Além
disso, a “qualidade intelectual” das atividades de recreação pareceu
diminuir nas duas unidades de ótima conduta. Os registros de ma
trícula e de graduação nos cursos por correspondência feitos pelos
prisioneiros indicou também a participação em cursos de uma forma
dramaticamente reduzida, nas duas unidades de ótima conduta. Gla-
ser concluiu então que “as unidades de honra com base na conduta
podem freqüentemente contribuir mais para o conforto dos internos e
do pessoal administrativo do que para a reabilitação dos prisioneiros”
(pág. 112).
91
I
92
i
Capítulo 4
A VIDA N A CIDADE
93
raria satisfatório ou insatisfatório. Devido a esta heterogencidade,
os pesquisadores que realizam estudos ambientais em área urbana
devem tomar o cuidado de apontar as características das pessoas cm
estudo.
Algumas características de ambientes urbanos que têm efeito so
bre a maioria dos habitantes da cidade, infelizmente, constituem aspec
tos negativos dos mesmos c, assim, resultaram no que se tornou co
nhecido como crise urbana. A complexidade da crise urbana é con-
vincentementc analisada por Arthur Naftalin (1970), cujos antece
dentes incluem não somente um doutoramento em ciências políticas
mas, também, oito anos como prefeito de Minneapolis. Diz ele:
“O assunto é tão extenso, abrangente e profundo, afetando-nos
de tantas formas diferentes, que veio a englobar todas as coisas,
para todas as pessoas. Envolve ao mesmo tempo interesses go
vernamentais, econômicos, sociais, psicológicos, tecnológicos, morais
e filosóficos e refere-se a todos os aspectos da vida na comunidade e
do comportamento individual: relações humanas, cumprimento da lei,
habitação, sanidade, serviços de saúde, distribuição de renda, educa
ção — enumere-os e você terá uma parte apenas da crise urbana.
“ . . . Envolve a totalidade de nosso ambiente físico: congestiona
mento e poluição crescente, a destruição de nossos recursos naturais,
especialmente em nossa terra, a falta crítica de habitação adequada,
a falha de preservação do espaço aberto, os crescentes problemas de
abastecimento de água, esgotos e tratamento do lixo, a frustrante
explosão de tecnologia que introduziu a velocidade, o movimento e
a mudança num ritmo que confunde e desconcerta quase todos.
“Quanto ao lado social da crise, não se resume somente numa
questão de pobreza, embora este seja certamente seu elemento mais
crítico. Envolve uma estrutura mutante de valores que está alte
rando fundamentalmente a natureza da vida em família e o padrão
geral de relacionamento humano. Envolve também um aumento
alarmante do uso de álcool e drogas e tensões cada vez maiores que
derivam da crescente insegurança e de nossa incapacidade em con
trolar ou nos pôr a salvo das hostilidades. Envolve um enfraqueci
mento geral de nossas instituições principais de controle social, espe
cialmente a família e a educação” (pág. 108-109).
Estes fatores, entre outros, contribuem para a crise urbana e
têm impacto profundo sobre a vida de milhões de habitantes das
cidades. Não obstante, sabemos pouco sobre as reações comporta-
mentais associadas aos problemas urbanos. Os psicólogos ambien
tais investigaram somente alguns destes problemas, de forma que, na
maioria dos casos, podemos apenas especular sobre os efeitos de um
aspecto particular da crise urbana sobre o comportamento.
94
Conquanto tenhamos poucos dados que liguem um problema
urbano específico a tipos específicos de comportamento, dispomos
de dados que mostram que os problemas associados à crise urbana
contribuem grandemente para a insatisfação das pessoas que vivem
na cidade. Os resultados de pesquisas diferem de acordo com as
características do segmento particular da população urbana tomado
como amostra, mas quase todos relacionam os mesmos atributos am
bientais como contribuintes importantes para a insatisfação com a
vida na cidade. Alta densidade populacional, que leva à falta de
espaço, consta da maioria das relações, assim como o crime, agres
são e violência, habitações pobres e, virtualmente, todos os demais
problemas urbanos relacionados por Naftalin. Desta forma, não
é particularmente difícil a determinação dos fatores que contribuem
significativamente para a insatisfação com a vida na cidade; mais
difícil é a investigação dos fatores que contribuem para a satisfação
com a mesma.
95
, IN S T IT U T O c.
I O T Ê C A - r-'
Ao tentar determinar os aspectos satisfatórios de um ambiente
microrresidcncial, os pesquisadores se concentraram, cm geral: (1)
nas características físicas das residências c áreas circundantes; (2)
nos intercâmbios sociais dos habitantes. Na verdade, não é possível
separar as duas áreas de modo efetivo; as características físicas deter
minam, cm grande parte, os tipos de relacionamento social. Em
capítulos anteriores, discutimos uma série de estudos que demons
traram a importância de tais fatores físicos, como localização de por
tas c janelas, na determinação de padrões de amizade e de relacio
namento sociais entre residentes de diversos tipos de agrupamentos
habitacionais. Foi discutida, também, a importância do espaço pes
soal e da privacidade na determinação do nível de satisfação ou insa
tisfação. Embora não venhamos a considerar estes fatores aqui,
deve-se ter em mente que representam fontes importantes de satisfa
ção com a vida urbana. Discutiremos, nesta seção, estudos que tra
tam das características das proximidades das residências urbanas
consideradas satisfatórias por duas populações marcantemente dife
rentes: uma composta de residentes em áreas suburbanas, de renda
elevada, e a outra, de residentes numa área favelada.
Nos últimos anos, muita atenção tem sido dada às favelas urba
nas e aos problemas a elas associados. Os residentes destas áreas
têm chamado a atenção não somente por demonstrações de desor
dens mas, também, por se tomarem muito mais eloqüentes, fazendo-
se ouvir a nível de governo local e nacional. O resultado foi uma
série de programas governamentais de ação, como, por exemplo, de
renovação urbana. Embora os fundos para estes e outros programas
estivessem sendo retirados, quando da redação deste trabalho, é pos
sível a continuação da preocupação com as áreas faveladas e o com
portamento de seus residentes.
Infelizmente, os dados disponíveis não apresentam um quadro
muito claro das áreas faveladas e de suas populações. Uma razão,
naturalmente, é que não há duas áreas faveladas semelhantes. Con
forme ressaltam Fried e Gleicher (1972):
“As áreas faveladas apresentam, indubitavelmente, muitas varia
ções: tanto diferenças de uma favela para outra como heterogenei-
dade dentro de cada área favelada urbana. Começaram a aparecer,
entretanto, no corpo crescente da literatura, certas características
consistentes e comuns a várias áreas faveladas. Empresta-se muita
96
ênfase ao fato de que os estudos sistemáticos disponíveis sobre áreas
faveladas indicam serem estas compostas por uma faixa muito ampla
da classe operária, variando de operários altamente especializados até
membros não-trabalhadores, ou trabalhadores esporádicos da classe
‘trabalhadora’. Além disso, mesmo em nossas piores favelas, é pro
vável que somente uma minoria dos habitantes (embora, algumas
vezes, uma minoria mais ou menos abrangente e visível) seja afdgida
por uma ou outra forma de patologia social” (pág. 137-138).
Tendo-se em mente, então, que há diferenças importantes entre
áreas faveladas e que as descobertas dos estudos de uma área podem
não ser completamente aplicáveis às demais, consideremos o estudo
realizado por Fried e Gleicher (1972), relativo aos residentes da
parte oeste de Boston (West End). Os dados desta investigação
incluíram somente as casas em que havia uma mulher com idade entre
20 e 65 anos. Cinqüenta e cinco por cento dos moradores da amos
tra haviam nascido na área ou lá residiam há pelo menos 20 anos.
Os autores relatam que houve uma acentuada estabilidade residen
cial e que a maioria dos moradores mudou poucas vezes de residência
e, se o fizeram, foi para outra dentro do próprio West End. Esta
descoberta, naturalmente, é contrária à idéia comumente aceita de
que uma área favelada tem uma população altamente transitória.
Fried e Gleicher descobriram também que contrariamente à visão
popular dos sentimentos dos habitantes de favelas sobre a área em
que vivem, 75 por cento dos indivíduos da amostra gostavam de
morar no local, ao passo que somente 10 por cento declararam não
gostar.
Ao explorar as razões para esta alta taxa de satisfação, surgiram
dois fatores principais. Um é que a área física tem um considerável
significado de extensão do lar e diversas partes dela são delineadas
e estruturadas com base num sentimento de pertinência. Em outras
palavras, a área local em volta da unidade habitacional é conside
rada parte integrante do lar. A força do sentimento de pertencer
a uma área, ou seja, um sentimento de “bairrismo”, aqui encarado
sem as costumeiras conotações negativas, foi um fator importante
na determinação do fato de os moradores gostarem ou não de resi
dir ali.
O segundo fator é que a área residencial fornece uma estrutura
para um conjunto vasto e intrincado de vínculos sociais, que são im
portante fonte de satisfação. Fried e Gleicher encontraram uma
forte associação entre a satisfação dos indagados com o fato de morar
em West End e os relacionamentos sociais que haviam estabelecido.
O estudo revelou uma série de relacionamentos sociais, mas os laços
97
dc parentesco (que envolvem as famílias nucleares de ambos os côn
juges) pareceram ser de importância ainda maior do que os relacio
namentos com vizinhos. “Quanto mais extensos forem estes laços
dc parentesco disponíveis em meio à área local, maior será a pro
porção dos que demonstram um sentimento positivo com relação ao
West End” (pág. 144). Entretanto, Fried e Gleicher enfatizam
que a falta destes tipos de relacionamentos não acarreta necessaria
mente sentimentos negativos para com a área.
Em muitos casos, moradores sem fortes vínculos sociais rela
taram sentimentos muito positivos sobre o West End, de forma que
devem existir fontes alternativas de satisfação para algumas pessoas.
Este estudo revelou também a importância do espaço físico e
os usos especiais da área feitos pelos moradores. Uma discussão
completa destes fatores envolver-nos-ia novamente com conceitos de
espaço pessoal, privacidade, territorialidade, e assim por diante.
Basicamente, entretanto, nas áreas de classes operárias como o West
End, o lar é visualizado como toda a área local, e não somente como
a casa. Os limites entre a unidade habitacional e seu ambiente ime
diato são usualmente muito mais “permeáveis” em áreas faveladas do
que nas áreas de classe média. Numa favela, uma grande parte da
atividade ocorre fora de casa: crianças brincam nas ruas, mulheres
saem às ruas para conversar com amigas, as famílias se reúnem em
escadas e conversam com vizinhos, as esquinas das ruas servem como
locais de encontro para contatos sociais, e assim por diante. O am
biente externo, de certa forma, torna-se uma extensão da casa. Fried
e Gleicher declaram:
“Em conjunção com a ênfase nos relacionamentos sociais locais,
esta concepção e uso do espaço físico local dão uma força particular
aos sentimentos de compromisso e pertinência à área residencial.
É claramente visível que não só a unidade habitacional é significativa,
mas também uma região local mais ampla, que partilha estes fortes
sentimentos de envolvimento e identidade. Não é surpreendente, por
tanto, que o ‘lar’ não seja meramente um apartamento ou uma casa,
mas, sim, uma área local, em que alguns dos aspectos mais signifi
cativos da vida são experimentados” (pág. 151).
Aparentemente, assim, a vida numa área favelada fornece tantas
fontes de satisfação que uma alta porcentagem dos moradores gosta
de residir nela. Este fato tem implicações importantes, particular
mente para os projetos de renovação urbana. Tem-se presumido,
tipicamente, que a alteração das características físicas das áreas fave
ladas, através de novas casas, ou a redistribuição dos moradores
98
beneficiam não só estes últimos mas também a cidade, como um todo.
Talvez sim; sabemos ainda muito pouco sobre as consequências com-
portamentais de se morar numa favela. Entretanto, sabemos pouco
também sobre os efeitos comportamentais de mudança radicais nas
características físicas de favelas ou sobre mudanças forçadas. Parece,
ainda, que a área local provê estruturas para uma extensa integração
social, que os habitantes das favelas acham altamente satisfatória.
Os programas que deslocam pessoas e destroem os relacionamentos
sociais podem ter efeitos negativos superiores aos benefícios espe
rados.
* B. A. degree. (N . do T .)
99
os entrevistados das íircas de menor densidade populacional — as
mais calmas c as que fornecem maior privacidade — expressaram
um alto grau de satisfação com as mesmas. A falta de ruído pareceu
ser a variável mais importante no aspecto referente à densidade de
população. A acessibilidade de instalações não foi considerada como
altamente associada com a satisfação com a vizinhança, embora a
proximidade de playgroimds tenha sido importante para as famílias
com crianças.
A compatibilidade social foi uma fonte de satisfação com a
vizinhança, exatamente como o foi no estudo das favelas. Entre
tanto, Zehner descobriu que seus entrevistados sentiram ser mais im
portante ter vizinhos considerados compatíveis do que vizinhos com
quem mantivessem freqüente relacionamento social.
O apoio da vizinhança foi o fator mais altamente relacionado
com a satisfação, nas comunidades estudadas. Esta variável teve
um coeficiente de correlação de 56, amizade de 44 e similaridade de
vizinhos da ordem de 36. A densidade da área, relacionada com o
nível de ruído, teve uma correlação de 34. Os fatores menos rela
cionados com satisfação com a vizinhança foram os que envolvem
acessibilidade às várias instalações da comunidade.
Os estudos de Fried e Gleicher e de Zehner, bem como diversos
outros que não foram citados, indicam que uma porcentagem signi
ficativa de habitantes da cidade declara-se satisfeita com sua vida.
Estes estudos isolaram diversas características do ambiente urbano
que servem de fontes de satisfação. Deve-se ter em mente, entre
tanto, que outras características do ambiente urbano são tidas como
ameaçadoras (algumas destas serão discutidas no cap. 6). Possi
velmente, as pesquisas realizadas para determinar as fontes de satis
fação com a vida na cidade não levam suficientemente em conta, nas
questões indagadas aos entrevistados, os aspectos insatisfatórios da
vida na cidade. O fato de que diversas pesquisas revelam uma alta
porcentagem de habitantes da cidade, que declaram que o que mais
gostariam de fazer seria mudarem-se para áreas mais próximas às
zonas rurais, pode indicar que os mesmos não estão tão satisfeitos
com a vida na cidade como se podería presumir.
A imagem da cidade
100
rcssam-sc mais cspecificamentc na imagem que as cidades dão aos
seus habitantes ou visitantes e elaboraram técnicas engenhosas para
estudar essas imagens. Estes métodos estão, tipicamente, baseados
na premissa de que os habitantes de uma cidade adquirem um “mapa
cognitivo” da mesma e que este mapa resulta tanto das características
pessoais do indivíduo quanto das características físicas da cidade.
O problema, então, para o investigador, consiste em desenvolver
meios de “ler” os mapas, característicos de cada um dos habitantes.
Discutiremos, nesta seção, diversos processos desenvolvidos e usados
por pesquisadores neles interessados.
A atmosfera urbana
101
lugar, a impressão de uma pessoa sobre uma dada cidade dependerá
de seu padrão de comparações. Um parisiense que esteja visitando
Nova York poderá ler uma impressão de uma cidade frenética; para
um nativo de Tóquio, Nova York poderá parecer relativamente calma.
Em segundo lugar, a impressão de uma cidade é afetada pela situação
do examinador. Um turista, um recém-chegado, um antigo habitante
e alguém que esteja retornando à cidade, após uma longa ausência,
terão todos diferentes impressões. Finalmente, uma pessoa vem a
uma cidade com idéias e expectativas preconcebidas sobre a mesma.
Embora tais “pré-concepções” possam não ser exatas, contribuem
para formar uma impressão da cidade.
Milgram (1970b) descreve também um estudo por ele realizado
relativo à “atmosfera das grandes cidades”. Foram desenvolvidos
questionários e aplicados em sessenta pessoas familiarizadas com
pelo menos duas entre três cidades: Londres, Paris e Nova York.
Os questionários foram feitos para eliciar descrições da cidade e, em
geral, revelar o caráter das mesmas. Por exemplo, um dos itens
do questionário pedia que os entrevistados relacionassem diversos
adjetivos que julgassem aplicáveis a uma determinada cidade. A
análise destes adjetivos mostrou que Nova York eliciou mais descri
ções relativas às suas qualidades físicas, ritmo e impacto emocional
do que Paris ou-Londres. No caso de Londres, os entrevistados
colocaram maior ênfase nos relacionamentos sociais do que nos por
menores físicos. No caso de Paris, os entrevistados distribuíram-se
mais ou menos igualmente quanto à enfatização dos relacionamentos
com os habitantes ou com os atributos físicos da cidade.
Outra forma de estudar as impressões criadas por uma cidade
é exemplificada pela pesquisa de Lynch (1960).
Os estudos de Lynch
102
entrevistada sobre a imagem que tinham do ambiente urbano em que
viviam. No segundo método, observadores treinados procederam a
um estudo de campo preliminar e sistemático de cada cidade. Usan
do informações que provaram ser significativas nas análises de estu-
dos-piloto, esses observadores mapearam a presença de elementos
ambientais, sua visibilidade, a força ou fragilidade de sua imagens, e
assim por diante. Este estudo permitiu a comparação dos dados das
entrevistas com os dados das análises de campo.
As entrevistas foram extensas, levando cada uma cerca de uma
hora e meia, e foram gravadas em fita. Segundo Lynch, os entre
vistados estavam altamente interessados nas entrevistas e, frequente
mente, mostraram emoção. Os indivduos foram solicitados a:
1. Relatar o que lhes vem à mente quando pensam em sua
cidade e dar uma descrição da mesma.
2. Desenhar um mapa rápido da área central da cidade, como
se estivessem esquematizando para um estranho a locali
zação de algum ponto.
3. Descrever detalhadamente seus trajetos de casa para o tra
balho. Foi-lhes também solicitado que fizessem o mesmo
para um percurso imaginário ao longo de uma rota forne
cida pelo entrevistador. Suas reações emocionais face a
cada percurso foram pedidas junto com a descrição física.
4. Dar os elementos que considerassem como característicos
da área central da cidade.
103
suas imagens de uma cidade. Orlas são os “elementos lineares não
usados ou considerados como passagens pelos observadores’’. Po
dem ser praias, segmentos de ferrovias, limites de desenvolvimento,
c assim por diante; servem para separar uma região de outra ou
para relacionar e unir duas regiões. As orlas constituem também
importantes características de organização de uma cidade, para mui
tos observadores. Distritos são as “seções de médias para grandes
áreas da cidade, concebidas como tendo extensão bidimensional, em
que o observador mentalmente ‘ingressa’ e que são reconhecíveis
como tendo algum caráter comum de identificação”. Pontos nodais
são áreas importantes ou estratégicas em que uma pessoa pode entrar
e que são focos dos quais ou para os quais está seguindo. Estas
áreas são junções, locais de parada dos transportes, cruzamentos ou
convergências de passagens, e assim por diante. Podem ser tam
bém pontos de reunião, ou áreas fechadas. Como sugere Lynch,
“alguns destes pontos nodais são o foco e a síntese de um distrito,
sobre o qual a sua influência se irradia e do qual permanece como
um símbolo”. Imagens de uma cidade quase sempre têm pontos
nodais que, em alguns casos, são as características dominantes da
imagem. Finalmente, marcos são, como os pontos nodais, pontos de
referência. Entretanto, os marcos são tipicamente objetos físicos e
não áreas. Exemplos de demarcação são torres, sinais e lojas (págs.
47-48).
A análise das imagens mostrou também que os elementos acima
discutidos não existiam isolados; tipicamente, distritos eram estru
turados com os pontos nodais, definidos por orlas, penetrados de
várias formas por passagens e freqüentemente tinham uma série de
marcos distribuídos por toda parte. Conforme ressalta Lynch, entre
tanto, embora seu método permita a coleta de dados adequados sobre
elementos simples, o mesmo não fornece muitas informações sobre
as suas inter-relações, padrões, seqüências e quadros totais. Enfa
tiza ele que outros métodos devem ser desenvolvidos para se estudar
estes aspectos vitais das imagens de cidades.
Com algumas modificações, uma técnica semelhante à que foi
usada por Lynch pode tom ar possível a determinação da imagem
de uma cidade, de uma forma bastante exata. Por exemplo, quando
os habitantes são solicitados a relatar o que lhes vem à mente quando
pensam em suas cidades e a dar uma ampla descrição das mesmas.
“Alguns indivíduos podem descrever características de superpo
pulação, favelas, poluição, determinados edifícios que acham atraen
tes ou repulsivos, o desenho das ruas ou o comércio, e assim por
diante. Algumas características, tais como certos edifícios, parques
e praças da cidade, podem ser encaradas favoravelmente por muitos
104
dos habitantes, ao passo que outras características podem ser quase
que uniformemente vistas com desagrado. Algumas características
resultariam em imagens fortes; outras poderíam ser notadas somente
por uns poucos indivíduos.
Quando as informações obtidas por uma série de entrevistas fo
rem combinadas, o pesquisador terá uma visão bastante ampla da
imagem que os ocupantes têm da cidade” (Heimstra & McDonald,
1973, pág. 47).
105
Somando a porcentagem de respostas corretas para todas as
cenas em um bairro e dividindo esta cifra pelo número de cenas,
Milgram determinou o “índice de reconhecimento” , ou média do dis
trito. As médias dos distritos foram as seguintes:
M anhattan 64,12 por cento
Queens 39,64
Brooklyn 35,79
Staten Island 26,00
Bronx 25,96
Ao considerar estes resultados, o leitor deve ter em mente que
as cenas usadas não foram selecionadas segundo a probabilidade
com que seriam reconhecidas, mas, sim, selecionadas ao acaso.
Milgram descobriu também diferenças substanciais, de acordo
com o bairro, na proporção de cenas colocadas na vizinhança correta.
A proporção de cenas de M anhattan colocadas na vizinhança correta
foi três vezes maior do que aquelas de Brooklyn ou Queens, e cinco
vezes maior do que as de Bronx ou Staten Island. Foi descoberto
um padrão similar na identificação de localização de ruas.
Desta forma, conforme declara Milgram:
“A cidade de Nova York, como um espaço psicológico, é muito
irregular. Não está absolutamente claro que metrópoles como Lon
dres, Paris, Tóquio e Moscou tenham texturas psicológicas compa-
ravelmente desiguais. Seria altamente interessante construir um
mapa psicológico similar de outras cidades do mundo para se deter
minar o grau de sucesso com que cada cidade, em todas as suas par
tes, comunica ao habitante um senso específico de lugar que lhe per
mita localizar-se, acalmar o pânico de desorientação e construir uma
imagem articulada dela como um todo” (pág. 2 00).
Entre outros estudos recentes de imagens de cidades está o de
Rand (1969), que utilizou um enfoque similar ao de Lynch. Rand
entrevistou pilotos de avião e motoristas de táxi e descobriu que as
imagens da cidade obtidas por ambos os grupos eram acentuada-
mente diferentes. Em outro estudo, Rozelle e Bazer (1972) entre
vistaram habitantes de Houston, Texas, para determinar como em
prestavam significado e valor a elementos de suas cidades, pergun
tando-lhes o que nelas consideravam im portante, como as viam e
como delas se lembravam. Cada tipo de questão levou a uma
resposta. Rozelle e Bazer concluíram que tais questões verbais po
dem eliciar o mesmo tipo de informações que os mapas de Lynch,
com maior flexibilidade.
106
Estudos com o uso de técnicas fotográficas incluem os de Honik-
man (1972), que mostrou aos seus indivíduos fotografias para deter
minar a relação entre a avaliação qualitativa e as características físi
cas de um contexto ambiental, e o de Kaplan e Wendt (1972), que
estudaram as preferências ambientais urbanas por meio de uma série
de slides. As conclusões destes estudos e de outros semelhantes têm
importantes implicações para o projeto urbano mas, infelizmente,
tem-se feito pouco uso das mesmas. Conforme ressaltam Bell,
Randall e Roeder (1973) na discussão do trabalho de Lynch:
“O trabalho original de Kevin Lynch tem tido um efeito signifi
cativo sobre os planejadores somente por causa da utilidade de seus
métodos analíticos como ferramenta de descrição. Lynch obteve
sucesso porque tem sido a leitura exigida a todos os estudantes de
projetos na última década e devido ao valor do seu trabalho na cria
ção de uma estrutura em que as observações pessoais podem ser co
locadas. Isto é uma ferramenta para percepção visual, mas não uma
metodologia de projeto” (pág. 22).
107
um fator visto como nrncoça pela maioria dos habitantes da cidade,
com pronunciados efeitos sobre seu comportamento, uma discussão
deste tópico ultrapassa a finalidade deste livro. Restringiremos nos
sa discussão a diversos tópicos de interesse mais direto para os psico-
lógos ambientais.
Ê fato recente um maior interesse existente no possível caráter
patológico do comportamento quotidiano dos habitantes das cidades.
Os numerosos artigos acerca deste comportamento — frequentemente
baseados em não mais do que observação casual — sugerem que os
habitantes urbanos não se preocupam, que perdem espontaneidade,
isolam-se atrás de uma fachada crítica, que existe um estado perene
de desconfiança e reserva, e assim por diante. Conforme veremos
posteriormente neste capítulo, tais conclusões são freqüentemente
resultados da comparação do comportamento de habitantes de cida
des com o de habitantes de áreas rurais. Entretanto, o que deve ser
questionado é a interpretação do comportamento de habitantes da
cidade como patológico. Michelson (1970) ressalta, ao discutir
comportamentos de habitantes de cidades e a tendência dos obser
vadores a classificá-los como patológica:
“Ao glorificar a postura presumidamente aberta, confiante e
espontânea de pessoas residentes em áreas não urbanas, considera-se
como prejudicial aquilo que pode simplesmente ser um padrão dife
rente, nas cidades. Prejudicial ele pode ser, tanto encarado absolu
tamente quanto em relação a determinadas circunstâncias, mas clas
sificá-lo como patológico é, apesar da ressalva, uma decisão valo-
rativa, que pode dizer tanto sobre os classificados como sobre os clas-
sificadores” (pág. 149).
Independentemente de serem tais padrões comportamentais pa
tológicos ou não, as pesquisas têm mostrado uma relação entre certas
características do ambiente urbano e a doença mental, males cardía
cos ou hipertensão. Uma característica tida como associada a estes
tipos de patologia é a alta densidade populacional, que leva a uma
experiência de falta de espaço. A falta de espaço e as pesquisas
relacionadas com este tópico serão discutidas em detalhes no capí
tulo 6; consideremos aqui, brevemente, a superpopulação como fa
tor de patologia.
Há imensa quantidade de pareceres de especialistas sobre os
efeitos da falta de espaço, bem como de artigos sobre seus muitos
e prováveis efeitos adversos. Estes artigos, geralmente, são escassa
mente documentados ou baseados em dados de estudos com animais,
dados correlacionais ou pareceres. Zlutnick e Altman (1972) exa-
108
■
109
Lauwc, 1959; c Hollingshcatl c Redlich, 1958). Entretanto, Srole
(1972) questiona a perspectiva de que uma área urbana densamente
habitada seja necessariamente menos “mentalmente saudável”. Revc
as pesquisas nesta área e ressalta que as diferenças existentes entre
as cifras sobre saúde mental urbana e rural frequentemente não se
revestem de significação estatística e podem ser explicadas com base
em fatores outros que não a densidade populacional. Srole conclui
que os dados disponíveis sugerem;
“ 1. Para crianças, em determinadas combinações especiais de
condições, tanto as favelas metropolitanas quanto as rurais,
são mais psicopatogênicas do que as vizinhanças não fave
ladas adjacentes.
2. Para adultos que buscam uma mudança de ambiente, a
metrópole é, em geral, muito mais terapêutica do que uma
cidade pequena” (pág. 583).
110
mente recolocados por programas de renovação urbana, mas que
há relativamente poucas informações sobre os efeitos da mudança.
Os pesquisadores descobriram, entretanto, que as pessoas forçadas
a mudar de áreas às quais estavam profundamente ligadas são
levadas com freqüência ao que foi denominado uma “síndrome de
tristeza”, que pode resultar em crises de choro e doenças psicosso-
máticas, tais como desordens intestinais, vômitos e náuseas. Muitas
pessoas não sentem, naturalmente, qualquer ligação com a área em
que moram; de fato, alguns moradores de favelas demonstraram
franca aceitação da demolição da área em que habitavam com vista
à renovação urbana.
A melhor síntese para nossa breve descrição da cidade como
uma fonte de patologia é que se sabe muito pouco sobre a relação
existente entre as diversas condições físicas do ambiente urbano e
a patologia comportamental ou física. Conforme declara Michelson
(1970), a busca de causas convencionais para a patologia, tais como
as condições de habitação, alta densidade de população, ruído e tipos
de casas tem resultados incertos, devido a: (1) efeitos documentados
muito limitados; (2) ambigüidade das referências físicas; (3) a saliên
cia de variáveis intervenientes e (4) a falta de definição precisa de
patologias dependentes. Mas tais causas permanecem potencialmente
significativas (pág. 167). Fica para futuras pesquisas a determina
ção do real grau de significância que tem a relação entre o ambiente
urbano e a patologia.
111
0 conceito de sobrecarga de sistema
112
7. Descentralização, um caso especial tlc canais múltiplos.
8. Fuga, seja deixando a situação ou tomando outras medidas
que impeçam a entrada de outras informações” (pág. 93).
113
iMsrrrl .,A
do um habitante da cidade desencoraja outras pessoas a
iniciarem contato m ediante o uso de um a expressão não
amistosa.
5. Diminuição da intensidade das entradas. A pessoa que
reage desta form a estabelece ‘dispositivos de filtragem’,
para evitar o desenvolvim ento de envolvimentos profundos
ou duradouros com outras pessoas.
6. Criação de instituições especializadas. Os habitantes da
cidade desenvolvem diversos tipos de instituições para ‘ab
sorver entradas que de outra form a colocariam o indivíduo
em com plicações’. U m exem plo disso temo-lo nas insti
tuições de beneficência, que tratam das necessidades de
indivíduos que ‘criariam de outra form a um exército de
mendicantes que im portunariam continuam ente o pedes
tre’ ” (pág. 1 462).
Em bora não seja grande o núm ero de estudos que tratam espe
cificamente do com portam ento de habitantes urbanos, os que existem
envolvem uma série de abordagens técnicas. E m alguns estudos,
foi comparado o com portam ento de habitantes de diferentes cidades
(Feldman, 1968; Zimbardo, 1 9 6 9 ); em outrps como os de Altman,
Levine, Nadien e Villena (citados por M ilgram, 1970b), foi compa
rado o comportamento de habitantes de áreas mais rurais. Diversas
outras investigações representam estudos de determ inados aspectos de
comportamento considerados característicos dos habitantes urbanos.
Latané e Darley (1 9 6 9 ), por exemplo, estudaram a intervenção de
espectadores num a série de diferentes condições, enquanto Mann
(1970) investigou o conjunto típico de norm as sociais e procedi
mentos comportamentais associados às filas de espera.
114
Todos os estudos acima serão discutidos nesta seção. Entre
tanto, muitas outras investigações descritas em outras partes deste
livro poderiam ser também adequadamente consideradas aqui. Por
exemplo, os estudos que tratam dos efeitos da alta densidade popu
lacional sobre o comportamento, discutidos no cap. 6, são relevantes,
como o são diversos estudos discutidos nos capítulos anteriores. O
leitor deverá ter em mente que o ponto no texto onde é discutido um
determinado assunto constitui uma decisão algo arbitrária por parte
dos autores e não significa que o estudo não seja igualmente rele
vante em outra parte do livro. Por exemplo, embora possa ser con
veniente discutir um determinado relacionamento comportamento-
ambiente sob o título de “habitações coletivas”, o fato de estas habi
tações se localizarem, provavelmente, numa área urbana e de o com
portamento de seus habitantes ser afetado pelo ambiente urbano
justificaria a discussão do mesmo relacionamento sob o título de “o
comportamento de habitantes de cidades”. Desta forma, grande
parte da pesquisa em psicologia ambiental está direta ou indireta
mente relacionada com o comportamento de habitantes urbanos, em
bora não seja usualmente classificada como tal.
115
pequenas cidades, explicaram que haviam perdido o endereço de um
amigo que morava perto c solicitaram o uso do telefone. Os inves
tigadores fizeram cem solicitações na metrópole e sessenta em peque
nas cidades.
Os investigadores tiveram êxito muito maior em ser admitidos
nas pequenas cidades do que na metrópole. Embora as pesquisa
doras fossem admitidas com maior frequência do que os dois inves
tigadores, tanto nas grandes como nas pequenas cidades, todos os
quatro foram pelo menos duas vezes mais bem-sucedidos em ganhar
acesso às casas nas pequenas cidades do que na metrópole. Além de
registrar o número de admissões, os investigadores observaram dife
renças qualitativas no comportamento de moradores rurais e urbanos.
Relataram que os habitantes das cidades pequenas foram muito mais
amistosos e menos desconfiados do que os moradores da metrópole,
os quais, mesmo quando permitiam acesso dos investigadores, pare
ciam desconfiados e pouco à vontade.
O outro estudo não publicado, feito por McKenna e Morgenthau
(1969), foi realizado, em parte, para comparar a disposição de habi
tantes de metrópoles quanto à concessão de favores a estranhos, em
comparação com a dos moradores de pequenas cidades. Os favores
solicitados exigiam pequena parcela de tempo e causavam algum
incômodo mas, diferentemente das solicitações feitas no outro estudo,
não podiam de forma alguma ser encarados como qualquer ameaça
pessoal. Os pesquisadores telefonaram para um certo número de
pessoas residentes em Chicago, Nova York, Filadélfia e em 37 peque
nas cidades dos mesmos Estados das três metrópoles. Metade das
chamadas foi para donas-de-casa e outra metade para vendedoras
de lojas de trajes femininos. O investigador telefonou e apresentou-se
como alguém que estivesse chamando por telefonema interurbano e
que, por engano, havia ligado àquela pessoa. O investigador come
çou a pedir informações sobre vários assuntos e então disse: “Queira
aguardar um instante”, e reteve a ligação. Depois de aproximada
mente um minuto, pegou o telefone e pediu mais informações. Atri
buiu-se uma nota às pessoas indagadas com base no grau de colabo
ração que haviam prestado.
Os resultados dos estudos indicaram que as donas-de-casa eram
menos solícitas do que as vendedoras, tanto nas metrópoles quanto
nas pequenas cidades. Milgram (1970a) ressalta, entretanto, que
“o nível absoluto de cooperação das pessoas residentes nas me
trópoles foi bastante elevado e não está de acordo com o estereótipo
do habitante urbano indiferente, egocêntrico e pouco disposto a au
xiliar estranhos” (pág. 1465).
116
Os resultados destes dois estudos podem ser discutidos segundo
o .conceito de sobrecarga de sistema de Milgram. Uma razão pos
sível para o reduzido envolvimento social dos habitantes urbanos
considerados nestes estudos é a necessidade de reduzir a sobrecarga
do sistema. Milgram ressalta que “a última adaptação para um am
biente social em sobrecarga consiste em desconsiderar totalmente as
necessidades, interesses e solicitações daqueles que a pessoa não con
sidere importantes para a satisfação de suas necessidades pessoais. .
(pág. 1462). Um exemplo deste tipo de adaptação é o fato de cida
dãos estranhos deixarem de auxiliar uma pessoa em perigo. Uma
adaptação semelhante pode servir em situações menos urgentes, con
forme ilustrado neste estudo de Altman e seus colaboradores, em
que muitos habitantes de cidade deixam de socorrer um estranho à
sua porta. O estudo de McKenna e Morgenthau revela também
comportamento adaptativo em que a cooperação com o solicitante era
uma questão de responsabilidade social.
Milgram (1970b) enfatiza que dispomos de muito pouca do
cumentação objetiva sobre as diferenças entre habitantes urbanos e
de pequenas cidades. Entretanto, seu conceito de sobrecarga urba
na fornece uma estrutura teórica para posteriores estudos sobre tais
diferenças. Declara ele:
“O conceito de sobrecarga ajuda a explicar uma ampla varie
dade de contraste entre o comportamento da metrópole e o das pe
quenas cidades: (1) as diferenças na determinação de tarefas (a
tendência dos habitantes urbanos de tratar com os demais em termos
altamente segmentados, funcionais; o tempo e serviços restritos ofere
cidos aos clientes pelo pessoal de vendas); (2) a evolução de normas
urbanas bastante diferentes dos valores tradicionais das pequenas
cidades (tais como aceitação de não envolvimento, impessoalidade
e indiferença na vida urbana); (3) conseqüências nos processos cog
nitivos dos habitantes urbanos (incapacidade de identificar a maioria
das pessoas vistas diariamente; embotamento em face de estímulos
sensoriais; desenvolvimento de uma atitude de alheamento diante de
comportamento estranho ou extravagante; seletividade em reagir às
exigências hum anas); e (4) competição muito maior, por recursos
escassos, na cidade (o movimento do metrô, a luta pelos táxis, os
engarrafamentos de tráfego, a permanência em filas de espera de
serviços). Eu diria que os contrastes entre os comportamentos da
cidade e os rurais refletem, provavelmente, reações de tais pessoas
a situações muito diferentes, ao invés de diferenças intrínsecas entre
‘personalidades rurais’ e ‘metropolitanas’. A cidade é uma situação
à qual os indivíduos reagem de forma adaptativa” (pág. 161-162).
117
Há, naturalmente, outros estudos que, por uma ou outra razão,
tetn comparado o comportamento de pessoas que moram em áreas
urbanas c rurais. Por exemplo, Martin e Heimstra (1973) testaram
crianças em áreas rurais e urbanas quanto à percepção de perigo,
para determinar o grau de risco percebido numa série de cenas repre
sentando diferentes graus de perigo — uma criança segurando uma
arma, carregando uma arma, engolindo uma aspirina, e assim por
diante. Crianças residentes em áreas rurais e urbanas percebiam
diferentes graus de perigo para as cenas.
Por exemplo, as crianças de áreas rurais viam mais perigo que
suas companheiras das metrópoles nas cenas com armas, cenas de
rua ou que mostravam diversos tipos de dispositivos elétricos. Ou
tros estudos, que os investigadores não consideravam propriamente
como pesquisas de psicologia ambiental, são também importantes
aqui, tais como os estudos que mostram diferentes índices de uso
de narcóticos, alcoolismo, suicídio e doença mental entre as áreas
rurais e urbanas.
118
ros, cobram a mais ou tomam percursos mais longos, a fim de obte
rem tarifas mais altas.
Feidman descobriu que mais de 3.000 indivíduos nos cinco
experimentos mostraram diferenças substanciais no tratamento de
compatriotas e de estranhos. No experimento de indagação da
direção a tomar, tanto os indivíduos de Paris como os de Atenas
deram ajuda com maior freqüência aos pedidos de cidadãos com
patriotas do que aos de estrangeiros; em Boston houve pouca dife
rença. No experimento em que se solicitava aos indivíduos que
remetessem uma carta a um estranho, não houve grandes diferenças
no modo como eram tratados os compatriotas e os estrangeiros em
Boston e Atenas. Surpreendentemente, em vista do estereótipo
americano do comportamento parisiense, os indivíduos parisienses
trataram os estranhos de forma significativamente melhor do que os
seus próprios compatriotas. Além disso, os parisienses foram signi
ficativamente mais honestos em resistir à tentação de reclamar
desonestamente o dinheiro e, novamente, houve menos probabili
dade de procederem à falsa reclamação no caso de estar envolvido
um estrangeiro do que quando estava envolvido um compatriota.
Entretanto, o estereótipo do motorista parisiense de táxi típico
provou ser verdadeiro: cobraram a mais dos estrangeiros e com
maior freqüência do que de seus compatriotas. Tal não ocorreu nas
cidades de Boston ou Atenas.
Podemos apenas brevemente resumir os resultados do estudo
de Feidman. O artigo original contém muito mais dados sobre os
comportamentos dos habitantes das três cidades e bem que merece
ser lido por toda pessoa interessada neste tipo de pesquisa.
Outra investigação comparando o comportamento de habitan
tes de diferentes cidades é o de Zimbardo (1969). Providenciou
que um automóvel fosse deixado durante 64 horas próximo ao
campus de Bronx, da Universidade de Nova York, e que fosse dei
tado outro carro próximo ao campus da Universidade Stanford, em
Paio Alto, Califórnia, durante o mesmo número de horas. Em
imbos os casos, os investigadores removeram as chapas dos carros
j deixaram os capôs abertos. Os carros foram continuamente
rigiados durante as 64 horas e foram batidas fotografias em diversas
Dcasiões. Zimbardo declara:
“O que aconteceu em Nova York foi inacreditável! Em dez
ninutos o Oldsmobile 1959 recebeu seus primeiros depredadores
— um pai, uma mãe e um filho de oito anos. A mãe parecia
rigiar, enquanto o filho auxiliava o pai a vasculhar o cofre, o porta-
119
luvas e o motor. Trouxe para ele as ferramentas necessárias para
remover a bateria e o radiador. Tempo total de contato destruidor:
sete minutos” (pag. 287).
Ao final das primeiras 26 horas, o carro havia sido privado de
tudo o que tivesse valor. Começou então uma destruição desor
denada, em menos de três dias, o que restou foi um amontoado dis
forme e inútil de metal. Muitas das pessoas envolvidas nos “con
tatos” eram adultos bem vestidos e respeitáveis. “Em um contraste
surpreendente, o carro de Paio Alto não só permaneceu intocado
como foi alvo de uma atenção notável: quando começou a chover,
uma pessoa que passava pelo local abaixou o capô para que o
motor não se molhasse” (pág. 290).
Os estudos mencionados visaram principalmente a comparação
do comportamento de habitantes urbanos com aquele dos habitantes
de áreas rurais, ou com a comparação de comportamento de habi
tantes de diferentes cidades. Outros estudos representam investigações
de um tipo especial de comportamento que se julga associado com
a vida urbana. Ao concluir este capítulo, consideraremos dois estu
dos deste tipo — um que trata da intervenção de espectadores e
outro que se refere a comportamento em filas de espera.
120
vamente os indivíduos do estudo, embora não tivessem consciência
disso) diante de diversos tipos de “emergências”. Por exemplo,
num estudo, os indivíduos estavam num supermercado onde pensa
vam estar prestando auxílio a uma pesquisa. Foram colocados
numa sala sob uma série de condições. Alguns estavam sós; alguns
foram reunidos a mais uma ou duas pessoas. Os demais eram ami
gos ou estranhos, em experiência ou não, e assim por diante.
Logo depois de o indivíduo entrar na sala, ocorria um forte
barulho de coisas se quebrando na sala adjacente, juntamente com
gritos e gemidos como os de alguém que se tivesse machucado. A
variável dependente neste estudo era se o sujeito iria ou não auxiliar
a pessoa “ferida” e, se o fizesse, quanto tempo levaria para agir.
Quando os indivíduos estavam sós na sala, 70 por cento deles inter
vieram. Entretanto, sob todas as condições em que mais de uma
pessoa estava presente, a porcentagem dos que participaram caiu
sensivelmente. Outros estudos com envolvimento de falsas emer
gências e a intervenção de espectadores tiveram os mesmos resul
tados. A conclusão geral tirada destas investigações é que, quanto
maior o número de espectadores, menor a probabilidade de que
algum deles intervenha numa emergência.
Uma característica da vida na cidade é o gasto de uma parcela
considerável de tempo em filas de qualquer espécie. Embora os
responsáveis por vários serviços e operações tenham reconhecido há
algum tempo que as filas são ineficientes e consomem tempo e te
nham realizado pesquisas no sentido de reduzir e acelerar todos os
tipos de filas de espera, somente há pouco os psicólogos interessa
ram-se no comportamento de pessoas forçadas a esperar em filas.
Mann (1970) e seus colaboradores investigaram o conjunto
especial de normas sociais e métodos comportamentais associados
às filas de espera. Em experiências de campo, estudaram uma
série de filas para a compra de ingressos para jogos de futebol,
divertimentos e outros. Em outros estudos, formaram suas próprias
filas experimentalmente, em bibliotecas e em outras situações.
Consideraram uma série de aspectos das filas de espera: estrutura
social, o “furar” fila e outros tipos de comportamentos. Os pes
quisadores descobriram que a estrutura social de uma fila de espera
centra-se na preservação de um direito da pessoa de deixar a fila
momentaneamente sem perder seu lugar. Caso a mesma não siga
um protocolo claramente definido ao sair, poderá ser impedida de
retomar. Mann ressalta que saídas com ausências breves de uma
fila dão-se segundo dois processos universalmente reconhecidos:
121
“Uma técnica é o sistema de turnos, no qual a pessoa toma
parte 11a fila como integrante de um pequeno grupo, cumprindo seu
turno ao passar uma hora na fila para cada três horas fora. . . . Uma
segunda técnica para sair um pouco é designada especialmente para
pessoas no final da fila, que tenham vindo sozinhas. Estas
guardam 0 lugar, deixando algum objeto de propriedade pessoal,
tal como uma caixa etiquetada, uma cadeira de dobrar, ou saco de
dormir. De fato, durante as horas iniciais de espera em fi l a. . . a
fila consistia de uma parte de pessoas para duas partes de objetos
inanimados” (pág. 392).
Embora os furadores de fila violem a norm a básica da mesma,
raramente se usa violência física para punir ou expulsar o violador.
Curiosamente, o campo de ação favorito do furador de fila é a parte
de trás da mesma, e não a da frente.
1
Outra forma interessante de comportamento foi notada em
algumas filas. Quando é sabido que há um número limitado de
lugares disponíveis (100 entradas para um jogo de futebol, por
exemplo), geralmente muito mais de 100 pessoas permanecem em
fila. Num estudo, Mann pediu a cada décima pessoa de uma fila
que estimasse quantas pessoas estavam à sua frente. Até 0 ponto
em que os ingressos estavam provavelmente esgotados, a pessoa
tendia a superestimar o número à sua frente. Em outras palavras,
se houvesse 100 entradas à disposição, as pessoas até mais ou menos
0 número 100 da fila estimariam haver mais gente à sua frente do
que realmente havia. Até 0 ponto crítico de 100, a disposição dos
espectadores começava a se alterar e as pessoas constantemente
subestimaram 0 número de pessoas à sua frente. Os investigadores
chamaram este fenômeno de hipótese de atendimento de desejo.
Os pesquisadores descobriram também que, quanto mais longa a
fila, mais forte era a sua força de atração e que uma fila que
crescia rapidamente tendia a atrair espectadores.
RESUMO
122
associadas com a vida urbana, mesmo nas áreas faveladas. Por
exemplo, muitos moradores dessas áreas têm um forte sentimento de
pertinência. A área física que circunda suas casas é tida como
parte integrante delas e serve como base para um vasto conjunto de
vínculos sociais. Tais vínculos sociais e o senso de pertinência são
fatores importantes para que os moradores das favelas tenham sen
timentos positivos ou não em relação ao fato de morarem nelas. A
satisfação com a própria residência em áreas suburbanas é determi
nada por outros fatores. Entre eles estão: boas instalações físicas;
boas escolas; vizinhos amistosos; relativa segurança contra crimes;
acesso a lojas, empregos, e assim por diante; boa qualidade ambien
tal e pouco congestionamento de tráfego.
Os pesquisadores interessaram-se também em saber como é
que os moradores de uma cidade realmente a vêem — no tipo
de imagem formada em cada relacionamento habitante-cidade.
Duas técnicas populares para a diagramação destas imagens de
uma cidade consistem em pedir aos moradores que construam mapas
mentais, desenhando efetivamente um mapa da cidade, e solicitar-
lhes a visualização e possível identificação de cenas da mesma.
Estes mapas mentais revelaram que elementos físicos de uma cidade
podem ser convenientemente classificados em cinco tipos, relacio
nados por Lynch (1960): passagens, orlas, distritos, pontos nodais
e marcos. As técnicas de mapeamento desta espécie levaram
também a uma melhor compreensão da maneira como as pessoas
vêem as cidades em que vivem.
Muitos investigadores têm tratado dos efeitos que a vida nas
cidades pode ter sobfe o comportamento e a saúde. Estudos reve
lam uma relação entre determinadas características do ambiente
urbano, tais como alta densidade populacional e patologias, como
doenças mentais, problemas cardíacos e hipertensão. Entretanto,
Srole (1972), numa revisão geral da literatura sobre esta área, ques
tiona se estas relações estão tão firmemente embasadas quanto
parecem.
Outros estudos compararam o comportamento de moradores
urbanos com o de habitantes em áreas mais rurais, para determinar
a natureza e a amplitude de quaisquer possíveis diferenças. Embora
o habitante típico da cidade seja geralmente considerado uma pessoa
que não se preocupa com os demais, com pouca espontaneidade,
com uma visão calculista da vida diária, e assim por diante, é
difícil estudar sistematicamente estes tipos de comportamento. Os
estudos até agora efetuados indicam que há diferenças no compor
tamento entre os moradores urbanos e rurais, mas não há qualquer
123
base para a rotulaçílo de um ou outro tipo de comportamento como
sendo mais ou menos “normal”. Embora esta área careça de refe
rencial teórico, Milgram (1970a) tentou explicar o comportamento
de habitantes urbanos em termos de sobrecarga de sistema, onde a
vida na cidade é vista como uma convivência contínua com sobre
carga de entrada. De acordo com esta teoria, grande parte do
comportamento de habitantes urbanos pode ser considerada como
ura comportamento adaptativo, destinado a reduzir a sobrecarga.
Têm sido feitas, também, comparações entre o comportamento
de moradores em diferentes cidades. Demonstrou-se que há dife
renças, entre cidades, quanto à maneira como os moradores tratam
os estranhos em assuntos como prestação de assistência e na hones
tidade de seus contatos. De igual modo, o comportamento de habi
tantes de diversas cidades pode diferir consideravelmente na forma
como os mesmos tratam a propriedade de outra pessoa, tal como
um automóvel. Num estudo realizado, um carro deixado em Nova
York foi praticamente destruído pelos moradores dentro de 24 horas,
ao passo que um carro deixado em circunstâncias parecidas em Paio
Alto permaneceu intocado.
Embora não tenha sido feita tentativa no sentido de estudar de
maneira exaustiva os ambientes urbanos e o comportamento humano,
os estudos apresentados neste capítulo representam o tipo de pes
quisa que está sendo realizada por psicólogos ambientais nesta área.
Deve ficar claro que ainda sabemos muito pouco sobre os efeitos de
vida numa cidade. Com efeito, muito do que “sabemos” está ba
seado em especulação e não na pesquisa empírica. O número de
estudos neste campo está aumentado, mas, considerando-se os vários
milhões de pessoas que moram em cidades, um número muito maior
de pesquisa deve certamente ser ainda empreendido.
124
Capítulo 5
125
relacionamentos, em geral, como agrupáveis em duas categorias:
relacionamentos temporários e permanentes, Por exemplo, uma
visita a um parque nacional ou área virgem, ou a um parque regional
ou área de recreação representaria para muitas pessoas um relaciona
mento temporário; para os guardas do parque e outras pessoas
associadas às áreas em questão, estaria envolvido um relacionamento
mais permanente. Conforme veremos, estes relacionamentos tem
porários são intensamente procurados por muitos indivíduos, sendo
por eles encarados como fontes de satisfação ou prazer. Veremos,
entretanto, que a motivação que leva milhões de pessoas, anual
mente, a esta busca de ambiente natural não é claramente entendida
e pode ser muito complexa.
Todos nós relacionamo-nos com o ambiente natural numa base
mais permanente, embora a natureza e a intensidade deste relaciona
mento variem de acordo com a circunstância individual. Moramos
em regiões geográficas que podem ser caracterizadas por calor ou
frio extremos, aridez ou enchentes freqüentes, furacões, tufões ou
terremotos, ou por combinações destes elementos. Cada região tem
também características distintas de terreno, como sejam montanhas,
planícies ou desertos.
Embora as relações entre estes terrenos e as características cli
máticas e o comportamento não tenham sido claramente demons
tradas, muitos psicólogos ambientais presumem que tais relações
efetivamente existem. Discutiremos posteriormente, com detalhes,
neste capítulo, estes relacionamentos permanentes. Por ora, trata
remos de um dos tipos mais importantes de relacionamento tempo
rário homem-ambiente natural: recreação ao ar livre.
RECREAÇÃO AO A R LIVR E
126
Numa mcdidn extrema, pode deixar continuar o uso das áreas, sem
interferir no seu ritmo crescente; numa outra atitude pode restringi-
lo scvcramcnlc. Nenhuma das opções é viável, de forma que a ação
administrativa deve colocar-se em algum ponto entre esses dois ex
tremos. Para tomar as suas decisões, a administração deverá dispor
de informações consideráveis sobre as características dos usuários,
inclusive suas motivações para frequentarem a área e as exigências
que fazem e os tipos de relacionamentos estabelecidos numa área
em particular, que lhes proporcionam satisfação máxima. Embora
os pesquisadores tenham tentado colher informações sobre estes tipos
de características de usuários, é necessário saber muito mais para
que se possa tomar decisões sobre a administração de parques e
áreas virgens, com certa segurança.
A outra razão para o aumento de interesse sobre o compor
tamento e a recreação ao ar livre é a quantidade sempre crescente de
tempo de lazer de que muitos segmentos de nossa sociedade dispõem.
Algumas organizações já instituíram a semana de trabalho de quatro
dias e uma semana de trabalho mais curta tornou-se um ponto
importante de negociação em muitos contratos trabalhistas. Em
bora o tempo total de lazer possa aumentar por muitas outras razões
(redução da idade de aposentadoria, por exemplo), milhões de pes
soas parecem ter agora mais tempo de lazer do que nunca e podem
vir a tê-lo em quantidade ainda maior em futuro próximo.
Há uma estreita relação, naturalmente, entre lazer e recreação,
seja dentro de casa ou ao ar livre. À medida que aumenta o
tempo de lazer, os que preferem alguma forma de recreação ao ar
livre aumentarão a procura das alternativas existentes e novas ins
talações de muitos tipos terão que ser construídas. Estão sendo
realizadas algumas pesquisas sobre o comportamento dos usuários
destas instalações, pesquisas estas que, como se espera, oferecerão
informações úteis aos administradores das áreas existentes e aos
projetistas de novas áreas.
127
zidn c sem muiíus características físicas; o fácil acesso é seu requi
sito primário. Mais distantes estão as áreas de uso intermediário:
principalmcntc projetadas para uso c recreação durante todo o
dia, geralmcntc a menos dc uma hora de viagem para a maioria dos
usuários c situadas nos melhores locais disponíveis, apresentam
muito mais flexibilidade cm localização c qualidade dc recursos ne
cessários. No outro extremo estão as áreas csscncialmcnte baseadas
em suas riquezas, cujas soberbas c originais características físicas ou
históricas tornam-nas desejáveis, apesar dc uma localização freqüen-
temente inconveniente para a maioria dos usuários. As primeiras
visam o lazer diário ou estão melhor adaptadas para o mesmo, ao
passo que as segundas destinam-se ao lazer dos fins de semana e as
terceiras são para as férias” (pág. 253).
Neste capítulo, nosso interesse se voltará principalmente para o
último tipo de área, aquela que Clawson caracteriza como baseada
em seus próprios recursos. Deste tipo fazem parte os parques
nacionais e as regiões naturais, que são importantes fontes de rela
cionamento com o ambiente natural para milhões de pessoas, a cada
ano. Entretanto, conforme veremos, os demais tipos de áreas são
também importantes; para muitos, as áreas orientadas para usuários
e as intermediárias constituem as fontes principais de relacionamento
temporário com o ambiente natural.
128
cilmcntc coligldos. Por exemplo: o pessoal administrativo está inte
ressado cm saber quais fatores associados aos usuários e aos ambien
tes são mais importantes em determinar se a experiência com a
recreação ao ar livre 6 satisfatória ou insatisfatória. Dessa forma,
diversas investigações têm sido realizadas visando a determinação
das características de áreas virgens que devem ser consideradas as
pectos críticos da “experiência em áreas virgens”. Neste tipo de es
tudo, o pesquisador deve isolar diversos estados afetivos dos usuá
rios — estados de ânimo e sentimentos, atitudes, experiências esté
ticas, etc. — e relacioná-los com as características físicas da área
virgem.
O método de pesquisa predominante neste tipo de estudo é a
entrevista ou a aplicação de questionários aos usuários da área de
recreação, seja enquanto os mesmos lá estão ou imediatamente após
terem saído. Embora os instrumentos de pesquisa variem, depen
dendo dos objetivos do estudo, muitos são projetados para eliciar
as atitudes ou sentimentos dos indagados acerca de sua experiência
de recreação. Outras técnicas têm sido também utilizadas com algum
grau de êxito. Craik (1972), por exemplo, desenvolveu uma lista
de verificação de adjetivos relativos à paisagem, que foi usada pelos
indivíduos para descrever um grande número de diferentes tipos de
paisagens. Outros pesquisadores têm utilizado diversos tipos de
representações de uma área, tais como um mapa (Lucas, 1964), na
tentativa de determinar as exigências percebidas pelos usuários
quanto a uma área virgem. Em geral, entretanto, o levantamento
tem sido o principal método usado em pesquisa, neste campo.
129
“Simples projeções não mostram a história toda. Os usuários
dc áreas virgens tendem a ser desproporcionalmente provenientes
dos grupos de alto rendimento monetário, das categorias profissio
nais média-alta e alta, de áreas urbanas, e estudantes dos cursos
universitários ou de pós-graduação. Além disso, estas características
aplicam-se a uma proporção francamente crescente da população.
Se existe, na verdade, alguma relação casual entre quaisquer destas
variáveis ou todas e o uso de áreas virgens, então a sua possibilidade
de expansão, no futuro, aumenta ainda mais” (pág. 90).
Devido ao tremendo aumento do uso de parques nacionais e
de áreas naturais, as pessoas responsáveis pela sua administração
têm-se defrontado com uma série de decisões cruciais. O ponto
nodal do problema é a questão de quantas alterações, que visem à
acomodação de mais visitantes, podem ser feitas nestas áreas sem
que se altere a “experiência em área virgem” que visam. A neces
sidade, por parte das administrações, de mais informações que ofe-
çam base para as decisões levou a pesquisas sobre as características
dos usuários das áreas, características do ambiente natural que lhes
são importantes e a relacionamentos entre o homem e o ambiente
natural que ocorrem nestes tipos de áreas. Discutiremos nesta seção
algumas destas pesquisas.
130
dc visitantes entrevistados, 68% tinham, no mínimo, instrução
superior. Naturalmcnte esta porcentagem é muito maior que a en
contrada no todo da população. A descoberta de McDonald e
Clark é semelhante à de Gilligan (1962), que relata que cerca de
80% do total dos visitantes de uma área virgem tem formação uni
versitária e 27% algum curso de pós-graduação.
131
Motivações dos usuários
132
das áreas tlc camping poderão ser uma fonte mais significativa de
stress do que as associadas à cidades. Cada vez mais os visitantes
se queixam do congestionamento nas áreas de recreação e, embora
as administrações estejam tentando aliviar esta situação, a tarefa é
difícil, se não impossível. Se a visita à área de recreação se torna
uma questão de fuga de uma condição provocadora de stress para
outra condição igualmente provocadora, a popularidade dos parques
e regiões naturais poderá declinar. Além de sugerir que as áreas
de recreação servem como meio de fuga ao stress, Driver sugere
algumas outras razões pelas quais as pessoas visitam estas áreas:
“As atividades recreacionais oferecem oportunidades interes
santes e às vezes únicas para a satisfação de outras necessidades
humanas. Entre estas estariam: desenvolver, manter ou proteger
a auto-imagem (esta necessidade parece particularmente verdadeira
para as pessoas mais idosas que selecionam tipos de recreação que
resguardem ou realcem sua imagem de ‘idade’); reter, desenvolver
ou mais simplesmente filiar-se a identidades sociais; ganhar estima,
incluindo a redução do conflito de tarefas; exibir, aplicar, desen
volver ou obter habilidades; exercitar técnicas, por exemplo, em
barcos a motor, trenós de neve ou na caça; satisfação dos impulsos
exploratórios e de curiosidade; engajamento numa auto-suficiência
criativa; ou obtenção de algum grau satisfatório de solidão ou do
mínio de outros estados individuais de necessidades ou problemas”
(pág. 237).
O exposto acima representa uma lista substancial de necessi
dades que podem ser atendidas por uma visita a um parque nacional
ou a uma área virgem. Conforme enfatizamos, entretanto, a ques
tão exata do porquê de as pessoas visitarem estas áreas em número
tão elevado permanece ainda em aberto. Embora a pesquisa desti
nada a descobrir as motivações de usuários apresente ao investigador
uma série de problemas, é um campo importante que requer um
estudo muito mais sistemático, antes que possamos ter uma resposta
satisfatória.
133
seus relacionamentos com o ambiente natural? Respostas a estas
perguntas são de considerável importância para as pessoas ligadas às
administrações na tomada de decisões sobre o fornecimento de um
tipo particular de experiência recreacional.
Tem-se realizado uma série de estudos para responder a estas
questões. Um dos estudos mais abrangentes foi realizado por
Stankey (1972), que examinou as atitudes de usuários de áreas
virgens diante das características de áreas consideradas importantes.
Entrevistou mais de 600 visitantes de quatro áreas virgens: Bob
Marshall Wilderness, em Montana, Bridger Wilderness, Wioming,
High Uintas Primitive Area, em Utah, e Boundary Waters Canoe
Area, em Minnesota.
Solicitou-se a cada entrevistado que classificasse 14 itens ou
declarações, no contexto de área virgem, numa escala de cinco
pontos que ia de ‘‘muito indesejável” até “muito desejável”. Por
exemplo, o item isolamento — não ver muitas outras pessoas exceto
as de seu próprio grupo — poderia ser classificado “muito desejável”
e ser-lhe-ia dado um total de 5 pontos na escala. As respostas
foram classificadas de forma que o indivíduo com atitudes muito
fortemente puristas quanto ao conceito de área virgem teria uma
classificação alta, e as pessoas com atitudes menos radicais seriam
classificadas abaixo. A faixa possível de totais de classificação ia
de 14 a 70. Com base em suas classificações, os indagados foram
classificados em quatro grupos: puristas radicais, puristas moderados,
neutros e não puristas. Embora as comparações fossem feitas entre
as respostas dos diversos grupos, Stankey considerou os puristas
radicais (classificações entre 60 e 70 na escala) como os usuários
mais importantes para as decisões administrativas das áreas virgens.
Não podemos resumir todas as conclusões desse estudo. Conside
raremos, com alguns detalhes apenas, uma das mais importantes ca
racterísticas de áreas indicadas pelos usuários — a característica do
isolamento.
Quando os entrevistados foram indagados sobre a importância
do isolamento como característica de área natural, 82% da amostra
geral responderam de forma positiva, enquanto 96% dos puristas
o consideraram uma característica altamente desejável. Desta for
ma, esta característica de área virgem pareceria muito importante
ao^ usuários. A atitude em face do isolamento é, entretanto, mais
complexa do que se poderia imaginar. Numa análise de fatores
importantes na gênese dos sentimentos de solidão, Stankey ressalta
que, se uma pessoa a deseja verdadeiramente, pode esperar encon
trá-la viajando sozinha em áreas virgens. Entretanto, no estudo,
134
somente 2% dos indagados estavam viajando sós. O isolamento,
mesmo concebido por um purista, envolve aparentemente uma si
tuação na qual o contato com outros grupos é mínimo; o relaciona
mento com membros do próprio grupo não interfere com o senti
mento de solidão. (Efetivamente, para muitas pessoas, o relaciona
mento social com membros de outros grupos ao redor de uma
fogueira, acampando, ou em outras circunstâncias, parece ser tam
bém uma parte importante e positiva da experiência em áreas virgens,
embora somente 1 entre 10 puristas considerasse o relacionamento
social como uma parte importante de experiência.)
Perguntou-se aos visitantes se por acaso se incomodavam: (1)
com o encontro com muitas pessoas na trilha e (2) por não encon
trar ninguém o dia todo. Cerca de 25% dos indagados, que não os
puristas, indicaram que gostavam de encontrar outras pessoas, mas
somente 10% dos puristas opinaram desta forma. Cerca de 3 entre
4 dos puristas declararam que gostariam de não encontrar ninguém
o dia todo, ao passo que somente 3% dos mesmos indicaram que
encontros não os incomodariam.
Poucos ou nenhum encontro, desta forma, parecem constituir
uma dimensão importante, para os puristas, da experiência em áreas
virgens. Entretanto, outros fatores associados à solidão são tão
importantes quanto a freqüência de encontros. Por exemplo, Lucas
(1964) descobriu que canoeiros sentiam sua solidão mais ameaçada
quando encontravam um único barco a motor do que quando en
contravam diversas outras canoas. Os usuários de áreas virgens são,
também, tipicamente mais perturbados por grandes grupos de pessoas
do que por pequenos grupos. O local do encontro constitui outra
variável importante. Por exemplo, tanto os puristas quanto os não
puristas parecem preferir encontros em trilhas aos encontros nos
arredores de seus campos; a maioria de ambos os grupos concorda
em que o local de campismo em áreas naturais deva permitir com
pleta solidão. Quando os entrevistados da pesquisa de Stankey
foram solicitados a considerar uma situação em que diversos outros
grupos chegassem após ter sido estabelecido o acampamento, a
maioria dos puristas indicou que isto os incomodaria. Muitos deles
declararam que tentariam descobrir outra área para acampar ou dei
xariam o local imediatamente.
Outro aspecto de solidão que não envolve efetivamente encon
tros, mas é também importante, é a evidência de uso anterior de uma
área natural por outros visitantes. Duas óbvias indicações de uso
anterior são a desordem ou a deterioração do local de camping.
Não surpreende que os puristas no estudo de Stankey expressassem
135
forte insatisfação com os locais de catnping que indicassem mau uso,
ou ao encontrarem desordem na área.
Num estudo algo semelhante desenvolvido por Shafer e Mietz
(1972), foram selecionadas cinco declarações tidas como repre
sentativas do que um indivíduo pode apreciar mais numa expe
riência de contato com área natural. As declarações descreviam as
qualidades da experiência recreacional — físicas, emocionais, esté
ticas, educacionais e sociais. Assim, uma experiência física envol
veu a oportunidade de exercício e esforço que estimulavam o corpo;
uma experiência emocional foi identificada por reações físicas tais
como a emoção de experimentar novas sensações e de explorar
regiões naturais, e assim por diante.
Cada uma das cinco afirmações sobre os valores de áreas
virgens foi impressa em cartões separados, dispostos em jogos de 2
em todas as combinações possíveis para um total de 10 conjuntos.
Um total de 76 excursionistas, de duas áreas, foram solicitados a sele
cionar, em cada conjunto, a afirmação que descrevesse o valor que
lhes fosse mais importante. Os resultados indicaram que as expe
riências estéticas eram as mais importantes, com as experiências
emocionais ocupando o segundo lugar. Estas eram cerca de dez ve
zes mais importantes do que os valores sociais, que vieram por úl
timo. . As. experiências físicas estavam em terceiro e as educacionais
em quarto lugar na classificação.
Os resultados deste estudo sugerem que os mais críticos atribu
tos de uma área virgem são os que resultam da experiência estética.
Embora seja difícil fazer uma distinção entre experiência estética e
emocional (ambas classificando-se em alto grau como requisitos),
tem sido sugerido que, pelo menos no contexto de área virgem, as
experiências emocionais são identificadas por reações físicas, enquan
to as experiências estéticas estão mais relacionadas com a apreciação
mental. Obviamente, estas experiências acham-se intimamente liga
das e podem ocorrer durante a mesma atividade recreacional. Desta
forma, pode-se ter uma experiência emocional quando uma truta-
arco-íris morde a isca e, simultaneamente, sentir satisfação estética
pelos aspectos circundantes.
Sabe-se muito pouco sobre as características de um ambiente
natural que resultam em resposta estética. Litton (1972) tentou
definir as dimensões estéticas da paisagem e estabelecer “critérios es
téticos” apropriados. Considera unidade, vivacidade e variedade
como critérios básicos e enfatiza que estes não são discretos mas, sim,
envolventes. De acordo com Litton, “unidade é a qualidade da tota
lidade, na qual todas as partes se relacionam não meramente como
136
uma montagem, mns como uma unidade harmônica distinta” (pág.
284), ao passo que "vivacidade é a qualidade da paisagem que lhe dá
distinção c a torna visualmentc surpreendente” (pág. 285). " Varie
dade pode ser definida como um índice de quantos objetos e relações
diferentes são encontrados numa paisagem” (pág. 286). Craik
(1972) avaliou a objetividade destas dimensões, desenvolvendo uma
escala de classificação e obtendo, de uma série de indivíduos, classi
ficações de diversas paisagens. Conclui ele: “Os resultados desta
avaliação da objetividade de um sistema de dimensões paisagísticas
são encorajadores” (pág. 306). A importância da experiência esté
tica para o usuário de áreas naturais parece justificar consideravel
mente mais pesquisas sobre este aspecto.
Outros fatores envolvidos na determinação de ser ou não uma
área indicada como virgem foram examinados em estudos desenvol
vidos por Muriam e Amons (1968) e Lucas (1964). No primeiro
estudo, 108 indivíduos foram entrevistados em três áreas selvagens de
Montana, que diferiam consideravelmente em isolamento e acesso.
Os pesquisadores identificaram, entre os indivíduos, basicamente dois
tipos de usuários temporários — um grupo formado por excursionis
tas e cavaleiros e outro por campistas de beira de estrada. Quando
solicitados a definir o que consideravam uma área selvagem, os
excursionistas e cavaleiros citaram critérios como não desenvolvi
mento da área natural, dificuldade de acesso, pouca quantidade de
pessoas e ausência de melhoramentos trazidos pela civilização. Os
excursionistas entrevistados na área maior e mais acessível (Glacier
National Park) foram muito específicos ao declarar que uma pessoa
tinha que estar ao menos a cinco quilômetros da estrada mais próxima
ou de uma trilha usual de turismo para que se considerasse numa
área virgem. Para os campistas, o caráter “natural” começa no
limite da área de camping.
No estudo de Lucas, foram pesquisados os usuários de uma área
natural ao norte de Minnesota. Ao saírem dela, os entrevistados vi
ram um mapa da mesma e foram solicitados a indicar onde haviam
estado e a traçar o limite entre o que considerassem área virgem e
área não virgem. Geralmente, os usuários ligados a atividades mais
puristas (andar de canoa, por exemplo) indicaram uma área muito
menor do que os usuários mais casuais (usuários de barcos a motor
e campistas de fins de semana, por exemplo).
Implicações dos requisitos indicados para administração de áreas
naturais. Vimos que diversas características de um parque ou duma
área virgem são importantes na determinação de esses locais serem
ou não indicados como naturais pelos usuários. Um exemplo de tal
137
característica é o sentimento de solidão. No estudo de Stankey, a
solidão foi muito valorizada por puristas ou por não puristas. De
igual modo, no estudo de Shafer e Mietz, os indagados classificaram
a experiência social como o menos importante dos valores de uma
área natural. Evidências indiretas de alta utilização de uma área,
tais como desordem e deterioração de locais de camping, tendem
também a resultar em insatisfação. Estas descobertas têm implica
ções importantes para as administrações.
Ê evidente que o ambiente virgem desejado deveria apresentar
pouco uso. Através de projetos, esquemas e outras modificações, é
possível que o uso total de algumas áreas virgens seja mantido nos
níveis atuais e a maioria dos usuários possa ter, ao menos, uma expe
riência satisfatória de solidão. É possível, entretanto, que limitações
de uso tenham, eventualmente, que ser impostas para que se conserve
essa possibilidade. Poder-se-ia argumentar que o problema da ma
nutenção da possibilidade do sentimento de solidão não é tão sério
como parece ser, porque a sensação de solidão se alterará à medida
que aumentar a população. Stankey ressalta:
“Um argumento padrão para não fazer uso das atitudes do visi
tante como meio de formulação de estratégias administrativas em
áreas virgens é considerar que as atitudes do público quanto ao que
constitui solidão, primitivismo ou ‘natureza’, tornar-se-ão menos dis-
criminativas à medida que aumentarem a população, a densidade de
mográfica, etc. A idéia de que as opiniões sobre o que é uma “área
virgem pura” serão menos rígidas no futuro pode ser um exemplo
clássico de profecia que se realiza. Se orientarmos a administração
de áreas naturais em tom o de diretrizes que visem a acomodação
gradual a menores exigências, quase que certamente atrairemos uma
clientela que, com o tempo, terá para si uma concepção menos exi
gente de área virgem” (págs. 113-114).
Naturalmente, muitas outras características de áreas virgens pa
recem contribuir para a satisfação geral dos usuários, sendo, assim,
importantes para as decisões administrativas. Por exempo, a ausên
cia de aspectos construídos pelo homem (excetuando-se as trilhas)
parece ser uma delas. Se uma área tem estradas e trilhas, muitos
usuários sentirão que estas devem ser restritas a andarilhos ou prati
cantes de equitação, sendo vetada a passagem de qualquer veículo
motorizado. Muitos outros destes requisitos dos aspectos físicos de
uma área parecem ser importantes para os usuários. Mesmo o ta
manho desta é importante. Se uma área não é suficientemente gran
de (mesmo que atenda à maior parte dos demais requisitos), não
será tão satisfatória quanto outra de m aior tamanho. Os requisitos
138
dependem também do tipo de área silvestre envolvido. Assim, em
áreas onde o motivo central das atividades mais importantes é a água,
os puristas usam canoas e, se dependesse deles, baniríam todos os
barcos a motor. Obviamente, as características de uma área, que
contribuirão em maior grau para uma experiência estética ou emo
cional, dependem das características pessoais do usuário.
Não obstante, algumas características específicas, tidas como
satisfatórias do ponto de vista estético, foram determinadas por Sha-
fer e Mietz em suas entrevistas com os campistas das duas áreas vir
gens que inspecionaram (ver fig. 5-1). Os campistas sentiam que
a satisfação cênica mais forte era obtida em trilhas que:
“ (1) incluam grandes afloramentos de rochas onde os campis
tas possam observar a paisagem circundante; (2) passem através de
caminhos naturais em florestas onde haja diversidade de iluminação,
cor, temperatura e âmbito máximo de visão da floresta; e (3) sigam
correntes de água, sempre que possível, de forma que as quedas de
água e águas correntes sejam parte da beleza natural ao longo da
trilha” (pág. 214).
“Os campistas relataram também que as áreas florestais que
apresentam uma mistura de pinheiros com vidoeiros brancos parecem
esteticamente mais atraentes do que as áreas que tenham apenas pi
nheiros, mas que, em outras ocasiões, áreas puras de vegetação an
tiga e majestosa podem ser mais desejáveis. Do ponto de vista esté
tico, as trilhas devem localizar-se em aclives que evitem erosão pela
água ou por demasiado uso. De forma geral, os entrevistados dese
javam, acima de tudo, variação na paisagem da trilha” (pág. 214).
Diferenças individuais nos requisitos indicados. Evidentemente,
todos os estudos que analisamos sobre preferências percebidas de
usuários de parques e áreas virgens indicaram serem estas conside
ravelmente diferentes para cada indivíduo. Assim, um tipo de usuá
rio poderá se incomodar ao encontrar outro andarilho numa trilha
ao passo que outro tipo poderá encarar favoravelmente tal contato
social. O fato de que os usuários percebem praticamente todas as
características dessas áreas de maneira diferente e, também, diferen
temente respondem a elas torna-se óbvio mediante os estudos de
Stankey, já que este autor pôde classificar os usuários em vários tipos
distintos, de acordo com respostas aos itens sobre características de
uma área virgem.
Sabe-se relativamente pouco, entretanto, sobre no que se baseiam
as diferenças em tais requisitos. É relativamente seguro afirmar que
estas diferenças são devidas aos antecedentes e experiências anteriores
139
Figura 5-1 Os exploradores de áreas selvagens preferem cam inhos com gran
des picos rochosos, atravessam clareiras naturais em florestas e seguem o curso
de regatos que têm cachoeiras e corredeiras. F o to Abril Press.
dos usuários, mas isto não nos diz m uita coisa. Por exemplo, que
tipos de experiências anteriores são im portantes para fazer com que
uma pessoa seja ou não purista em suas atitudes face a uma área vir
gem? Os fatores de personalidade estão relacionados com os requi
sitos indicados de tais áreas?
Um estudo que fornece algumas respostas é o de Cicchetti
(1972). Através de técnicas estatísticas sofisticadas, o autor tentou
140
analisar u relação cnlrc as preferências e padrões comportamentais
dc usuários de áreas virgens c fatores como (1) idade, sexo, renda e
educação c (2) experiência residencial e recreacional na infância.
Usando a tubcla purista de Stankey, Cicchetti conseguiu relacionar
unia série destas variáveis para as classificações puristas dos usuários.
Os detalhes deste estudo são muito técnicos para serem discutidos na
íntegra, mas mencionaremos algumas das relações que ele estabe
leceu.
Cicchetti descobriu que, quanto mais velha fosse uma pessoa, ao
visitar pela primeira vez uma área virgem, mais tenderia sua classifi
cação ao extremo purista. Uma relação direta também foi encon
trada para a variável educação; para cada ano de educação além do
8.° grau, o índice de purismo aumentava cerca de 0,65 pontos. Pa
rece, assim, que quanto maior for a idade ou a instrução de um indi
víduo, mais pura e oculta será a experiência em área natural
de que necessitará. Em alguns casos, foram também encontradas
relações entre outras variáveis. Por exemplo: na área de Bridger, os
visitantes do sexo masculino tendiam a classificar-se como mais pu
ristas do que os do sexo feminino. A forma de habitação e as
experiências de recreação na infância foram também consideradas
como fatores de influência na determinação do purismo dos visitan
tes. De um modo geral, aqueles que tinham crescido em cidades
pequenas ou em áreas rurais obtiveram índices de purismo mais bai
xos do que os que haviam crescido em áreas urbanas. Cicchetti
sugere que residir em áreas rurais leva ao desenvolvimento de uma
visão utilitária da natureza, ou seja, as árvores ou outros recursos
das áreas virgens são valiosos e devem ser explorados. Os usuários
que disseram ter excursionado freqüentemente quando crianças,
classificaram-se mais alto na escala de purismo do que os que decla
raram não o terem feito. Outros tipos de experiências na infância,
como o campismo, tiveram também efeito positivo na classificação.
Já indicamos que a solidão parece ser a característica mais im
portante de uma área virgem, para os usuários. Relacionando algu
mas das variáveis acima com este valor de áreas virgens, Cicchetti
relata que os resultados de seus estudos:
“Parecem indicar que os que mais provavelmente se incomoda
rão com congestionamento são os visitantes mais idosos quando de
sua primeira visita a uma área virgem, os que tenham tido conside
rável experiência em campismo e em excursões quando crianças, os
que tenham uma visão discriminativa de áreas naturais e os que não
tenham crescido em uma pequena cidade poderão até mesmo abre-
141
viar sua viagem previamente planejada e voltar para casa” (pág.
158).
Uma fonte óbvia de diferenças individuais nas reações às carac
terísticas do ambiente natural é, naturalmente, o tipo de relaciona
mento com o ambiente que o usuário espera ou procura, Embora
este fator tenha estado implícito em nossa discussão, sua importância
não pode ser superestimada. Obviamente, se um visitante espera
encontrar outros grupos em uma área selvagem, não se perturbará
como o faria se não esperasse tais encontros. A expectativa de um
usuário, ou conjunto deles, constitui, assim, um determinante impor
tante do grau em que o mesmo ficará satisfeito ou insatisfeito com a
experiência em área virgem. Semelhantemente, o seu objetivo ao
visitar uma área determinará em grande parte a sua satisfação com
a mesma. Assim, o mesmo usuário que visitar uma determinada área
virgem, em duas ocasiões, tendo em mente dois objetivos diferentes,
poderá ficar altamente satisfeito numa visita e altamente insatisfeito
na outra. Imaginemos, por exemplo, um usuário que visite uma área,
por vários dias, na primavera, para campismo, e torne a visitá-la por
vários dias no outono, para caça ao veado. Poderá caminhar em
trilhas idênticas, mas seus requisitos serão bastante diferentes. Na
primavera, poderá considerar diversas características do terreno, do
ponto de vista estético, e achá-las muito satisfatórias. Poderá con
siderar as mesmas características durante a caça do outono como um
aborrecimento porque, por diversas razões, interferem na sua caçada.
De igual modo, poderá não ser incomodado por outros excursionis
tas na primavera, mas o encontro com outros caçadores no outono
poderá ser-lhe molesto. Ambas as viagens, no entanto, podeTão
ser satisfatórias — a da primavera, devido às experiências estéticas
(objetivo primário) e a do outono, devido ao sucesso na caça ao
veado. Para a maioria dos caçadores, embora possam preferir ca
çar em ambientes naturais onde possam gozar do cenário, o critério
dominante para o prazer de um relacionamento com o ambiente na
tural é o de obter ou não sucesso na caça.
Foi realizada uma série de outros estudos, que seguem as mes
mas linhas dos relatados nesta seção. Em bora as descobertas de to
dos estes estudos difiram de alguma forma, dependendo da área vir
gem particularmente envolvida e da finalidade da pesquisa, temos
realmente uma idéia satisfatória das percepções dos usuários sobre
as áreas virgens. À medida que aumenta o uso destas áreas, será
essencial que suas administrações utilizem estas informações, se é que
pretendem atender aos requisitos indicados por seus usuários.
142
Ncsla seção conccntramo-nos em áreas virgens e não aborda
mos os parques nacionais. Embora os requisitos para as áreas vir
gens e parques nacionais difiram um pouco, os enfoques dos estudos
de apreciação são bastante semelhantes. Além disso, as motivações
para visitas aos parques parecem-se muito com as das visitas às áreas
naturais. Conseqüentemente, ao invés de discutirmos os estudos que
focalizam o comportamento de usuários de parques, consideraremos
agora os relacionamentos do homem com o ambiente natural em
outros tipos de recreação ao ar livre.
143
Figura 5-2 U m tipo de interação com o ambiente natural, aproveitado por
milhões de pessoas, é simplesmente dirigir pelo campo. Embora em muitas
partes do país as estradas que atravessam o campo não possam ser conside
radas espaços abertos, em outras áreas, com o a da foto, as estradas oferecem
oportunidade de interação com o ambiente. F oto Abril Press.
144
Todas as utividades acima c muitas outras são fontes importan
tes dc recreação ao ar livre. Os puristas de áreas virgens poderão
zombar destes tipos de relacionamentos com o ambiente natural, mas
deve-se ter em mente que estes indivíduos representam somente uma
pequena porcentagem das pessoas que valorizam e obtêm satisfação
de qualquer um dos muitos tipos de recreação ao ar livre.
145
Requisitos apontados
A experiência de recreação
146
tizamos somente uma pequena parte de tudo o que pode ser consi
derado experiência recreativa. Ao discutir a recreação ao ar livre,
Clawson (1966) nota que esta experiência, particularmente quando
envolve áreas baseadas nos recursos naturais, tem cinco fases distin
tas. Clawson denomina a primeira destas fases como antecipação
ou fa^e de planejamento, na qual a família ou grupo decide quando
e aonde ir, o que fazer, o que levar, e assim por diante. Esta fase
pode levar alguns meses, como no caso de planejar uma longa visita a
um parque nacional ou área virgem, ou somente uns poucos minutos,
como no caso de planejar uma visita a uma área local de recreação.
Para muitas pessoas, esta fase é um tempo de agradável expectativa,
constituindo parte importante de experiência de recreação. Poder-
se-á passar horas discutindo o planejamento da viagem, a compra de
equipamentos, fazendo talvez sacrifícios financeiros para que a famí
lia ou o grupo possam realizá-la, fazendo coincidir as férias, solici-
tande-as, e assim por diante. Embora possa ainda estar longe o
momento do relacionamento efetivo com o ambiente natural, o com
portamento dos participantes já será modificado em grau considerável
durante a fase de planejamento (pág. 254).
A segunda fase da experiência de recreação é a viagem ao local.
Essa viagem poderá envolver considerável tempo e dinheiro. Muitas
pessoas acham a experiência da viagem em si uma parte agradável
e satisfatória de recreação, embora outras já não a apreciem tanto.
A terceira fase é a experiência no local, sobre o qual nos concentra
mos nas páginas anteriores. A viagem de volta é a quarta fase.
Embora os pontos extremos da viagem na ida e na volta sejam os
mesmos, o estado de ânimo e as atitudes dos viajantes poderão ser
muito diferentes nas duas viagens. Este aspecto da experiência
recreativa não tem sido objeto de estudos, mas a maioria dos leitores
concordará que seus sentimentos são muito diferentes ao voltar de
uma área de recreação ao ar livre do que ao ir para a mesma. Ao
discutir a última fase — recordação — Clawson declara: “A recor
dação é a última e possivelmente a mais importante fase da expe
riência completa. É inteiramente possível que esta fase seja mais
valorizada e aproveitada do que todas as demais em conjunto” (pág.
254).
Clawson enfatiza que a experiência toda deve ser considerada
como um conjunto fechado e que a procura de recreação ao ar livre
pode ser estudada significativamente somente em termos da expe
riência completa. Embora nos tenhamos concentrado na experiên
cia no local — e a maior parte das descobertas de pesquisas refere-se
a esta fase — , as outras fases são também importantes. Conforme
ressalta Clawson:
147
“O rccrcncionistn confrontará aquilo que obteve de satisfação
da experiência completa com as partes negativas da mesma; um toa-
lctc sujo terá tanto peso para algumas pessoas quanto o novo e belo
parque do museu” (pág. 256).
RELAC IO NA M EN TO S P E R M A N E N T E S EN T R E O
HOM EM E O A M B IE N T E N A T U R A L
148
caráter das pessoas. Assim, os deterministas ambientais argumentam
que características “nacionais” como bravura, lassidão ou crendices
podem ser determinadas por diversos fatores geográficos. Esta visão
contrasta com a dos que tendem a considerar o homem como o agen
te ativo em relacionamentos com o ambiente natural. Estes teóricos
minimizam a influência do ambiente sobre o comportamento e, ao
invés de considerar o ambiente como conformador do organismo,
imaginam o organismo como o conformador do ambiente. Muitos
psicólogos e cientistas sociais sustentam este ponto de vista; membros
das profissões ligadas a projetos têm mais probabilidade de sustentar
o primeiro ponto de vista.
Os dados disponíveis não comprovam a afirmação dos deter
ministas ambientais, uma vez que as relações entre as características
nacionais (que não são facilmente identificadas) e as características
geográficas não estão firmemente estabelecidas. Talvez os dados
mais convincentes venham de estudos antropológicos, tais como os
relatados por Barry, Child e Bacon (1959), que descobriram alguma
evidência de que o tipo de economia de subsistência determinada pelo
ambiente geográfico pode ter um efeito significativo sobre as práticas
de educação de crianças. As sociedades em que a acumulação de
alimentos e o cuidado para com suas fontes são necessários aparen
temente enfatizam o desenvolvimento de traços tais como obediência
e responsabilidade. Em sociedades baseadas na caça e pesca, por
outro lado, tendem a ser acentuadas a realização pessoal e a auto
confiança.
Muitas evidências, naturalmente, comprovam a idéia de que o
homem tem uma influência considerável sobre o ambiente físico.
Suas atividades podem resultar, e frequentemente resultam mesmo, em
danos temporários e, muitas vezes, permanentes ao ambiente geográ
fico. Conforme anteriormente mencionado, o homem e suas rela
ções com o ambiente podem ser estudados sob dois pontos de vista.
Um deles é considerar o comportamento do homem como variável
dependente e algum aspecto do ambiente físico como variável inde
pendente. Este enfoque seria o modo lógico de estudar os rela
cionamentos em questão, do ponto de vista do determinista ambien
tal. Entretanto, os relacionamentos homem-ambiente podem envol
ver também situações em que o comportamento do homem seja a
variável independente e as alterações do ambiente físico, decorrentes
de suas atividades, sejam a variável dependente. Este tipo de rela
cionamento é de maior interesse para os conservacionistas e outros
que se preocupam com mudanças que o homem provoca em seu
ambiente natural. Embora os psicólogos ambientais tratem também
149
deste problema, limitamos nossa discussão neste livro às situações
cm que o comportamento do homem é tido como influenciado pelo
ambiente natural.
150
Alguns habitantes acham-se "mais próximos à natureza” do que
outros, de forma que o ambiente natural pode ter um efeito muito
mais profundo sobre o seu comportamento.
151
Figura 5-3 Ü ambiente geográfico afeta vários indivíduos de diferentes ma
neiras. Assim, o fazendeiro, cujo m odo de vida é afetado pela seca, desen
volverá atitudes e sentimentos sobre o am biente geográfico diferentes daqueles
dos moradores das cidades. Fotos Abril Press.
152
preferência pelo sul, outra poderá procurar emprego no nordeste ou
na região central, ao passo que outra ainda poderá declarar simples
mente que preferiría cargo numa região onde tivesse acesso a mon
tanhas ou a alguma outra característica do ambiente geográfico. Al
guns indivíduos preferirão sofrer perdas econômicas para viver em um
ambiente geográfico específico.
Obviamente, a percepção da região por parte de uma pessoa é
um fator importante para se determinar se ela aí estabelecerá sua
residência ou se aí permanecerá, caso já more na mesma. A escolha
da habitação ou a decisão de migrar baseiam-se também, natural
mente, em muitas outras variáveis. Para a maioria dos indivíduos,
os fatores econômicos são mais importantes do que os fatores geográ
ficos, particularmente durante períodos de escasso mercado de traba
lho, como nos últimos anos. Desta forma, não se vêem tantas decla
rações de preferência regional em fichas de seleção de pessoal, como
acontecia alguns anos atrás, quando a oferta de trabalho era maior.
Entretanto, se interrogadas, em sua maioria as pessoas estariam pron
tas a fornecer uma lista das características do ambiente geográfico
consideradas desejáveis ou indesejáveis.
A forma como uma pessoa percebe seu ambiente geográfico
depende de uma série de fatores. O grau de dependência de uma
pessoa face ao ambiente determina, em parte, sua atitude diante de
características ambientais, tais como o clima. Como sugerimos ante
riormente, a percepção que um fazendeiro tem de uma dada região
pode ser muito diferente daquela de um habitante da cidade. De igual
modo, uma pessoa da indústria de construção, onde suas oportuni
dades de trabalho dependem freqüentemente das condições climáti
cas, é mais consciente do ambiente geográfico do que um auxiliar
de escritório. As características do ambiente, percebidas por uma
pessoa como desejáveis ou indesejáveis, dependerão em grau consi
derável, portanto, do impacto direto do ambiente geográfico sobre
suas atividades e meio de vida.
As características pessoais são também importantes na deter
minação da maneira como o ambiente é percebido. Tanto quanto
atitudes e crenças, preferências estéticas por montanhas, desertos ou
qualquer outra característica do terreno têm um papel importante
para muitas pessoas. Por exemplo, atitudes frente à superpopulação,
industrialização ou poluição podem resultar em satisfação ou insatis
fação com referência a uma determinada região.
Numerosos fatores, portanto, contribuem para a satisfação de
uma pessoa quanto a uma dada região e determinam se a migração da
153
região será renlizndn ou scrinmentc considerada. Entretanto, ao con
siderar os aspectos comportamcntais da migração, um ponto impor
tante deverá ser mantido cm mente. Wolpert (1966) assim se ex
pressa sobre a migração:
"A explicação comum para esses movimentos giram em torno
da atração oferecida por novas oportunidades econômicas e sociais,
climas ou paisagens, e da repulsa às áreas de oportunidades limitadas
ou de meios negativos. . . . Não obstante, o registro de migrações
está cheio de casos de mudanças e retornos entre ambientes seme
lhantes. Assim, hipóteses deterministas baseadas em causas econô
micas, climáticas, estéticas e outras são apenas parciais e não corres
pondem a qualquer determinismo inerente ao comportamento de mi
gração” (pág. 92).
Wolpert prossegue discutindo um modelo bastante complicado
no qual a migração é visualizada como um ajuste ao stress ambiental.
Sugere ele que, “além de forças de atração e repulsão que podem
estar latentes na decisão de migração, o acionamento de tal decisão
poderá estar freqüentemente associado a um ímpeto de stress”
(pág. 95).
Será necessário pesquisar muito mais, antes que todos os fato
res associados à satisfação com o ambiente geográfico, escolha de
residência e migração sejam entendidos. Entretanto, alguns estudos
têm sido realizados, tratando de aspectos algo mais específicos do
ambiente geográfico. Consideraremos agora as pesquisas sobre per
cepção de perigos naturais associados às diversas regiões geográficas.
154
mos, a descrição c a explicação deste comportamento são tarefas difí
ceis c foram realizadas apenas parcialmente.
Burton sugere que a tendência que as pessoas têm de permanecer
ou retornar às áreas com alta probabilidade de riscos naturais é de
vida a um conjunto complexo de fatores entremeados e que este tipo
de comportamento ocorre “às vezes como resultado de um certo con
junto de circunstâncias e, outras vezes, como resultado de um outro
conjunto, totalmente diferente do primeiro” (pág. 185). A análise
dos fatores envolvidos indica que este comportamento pode ser devi
do a qualquer um (ou a uma combinação) dos 3 fatores primários:
(1) as comparativas vantagens econômicas das áreas perigosas; (2)
a aparente falta de percepção da ameaça por parte dos indivíduos
afetados ou sua falta de interesse e (3) o que Burton designa como
problema de rigidez institucional e social. Embora nosso interesse
neste capítulo recaia sobre o segundo fator, mencionaremos breve
mente os outros dois.
As áreas ameaçadas, em muitos casos, oferecem mais vantagens
econômicas para os moradores do que as outras. Por exemplo, uma
planície onde ocorram enchentes pode ser mais fértil do que outras
áreas; pode oferecer vantagens para construção de indústrias ou para
os sistemas de transporte. Assim, a oportunidade para ganhar a
vida pode ser melhor numa área ameaçada do que em outras regiões.
Com referência ao problema da rigidez institucional ou social, Burton
sugere que frequentemente “as disposições institucionais, numa socie
dade, operam para manter as pessoas num mesmo lugar e para pro
teger interesses existentes a curto prazo, reforçando o status quo e
oferecendo meios pelos quais os indivíduos possam desembaraçar-se
de uma situação desagradável” (pág. 187). Por exemplo, em alguns
casos, as vítimas de uma catástrofe são indenizadas com a condição
de que reconstruam suas casas no mesmo local.
Burton e colaboradores (Barker e Burton, 1969; Burton, 1962,
1965, 1972; Burton e Kates, 1964; Burton, Kates, Mather e Snead,
1965; Burton, Kates e White, 1968; Golant e Burton, 1969) e ou
tros (Kates, 1962; Saarinen, 1966) interessaram-se principalmente
no segundo fator acima relacionado — a aparente falta de percepção
da ameaça ou falta de interesse por parte de indivíduos que moram
em regiões perigosas.
Estes pesquisadores, assim como outros, estudaram a forma pela
qual as pessoas percebem o perigo, sua consciência das prováveis
conseqüências do mesmo, suas atitudes e convicções frente a ele, e
as variações das reações individuais ao mesmo. Não podemos resu-
155
mir todas estas investigações, mas consideraremos diversas delas, para
ilustrar as técnicas usadas e os tipos de resultados obtidos.
Kates (1962) investigou habitantes de planícies sujeitas a en
chentes, quanto à sua forma de encarar o problema. Entrevistou
habitantes de seis cidades nas quais estavam à disposição dados abun
dantes sobre enchentes anteriores. Suas entrevistas revelaram a exis
tência de uma relação entre a experiência anterior com enchentes e
as expectativas de enchentes futuras e revelaram também que a ado
ção de medidas de proteção estava relacionada com a experiência
anterior com enchentes.
Não obstante, muitas pessoas que tinham passado anteriormente
por uma ou mais inundações declararam que não esperavam enchen
tes futuras.
Tais expectativas são baseadas em atitudes e convicções. Em
bora alguns habitantes acreditem que as enchentes são, de fato, even
tos repetitivos e que provavelmente se repetirão, poderão sentir que,
por razões especiais, não serão atingidos novamente. Outros não
encaram as enchentes como eventos repetitivos e sentem que as cir
cunstâncias são tais que suas regiões não serão novamente inundadas.
Poderão basear esta expectativa em programas de controle de en
chentes existentes ou esperadas ou em sua fé em Deus.
Assim, o interesse em estudos como os realizados por Kates é
que a compreensão de muitas pessoas quanto ao perigo das enchen
tes não corresponde à realidade. Quando uma região sofre inunda
ções por muitos anos, seria lógico que a maioria dos habitantes espe
rasse futuras enchentes, particularmente se não tivessem sido em
preendidos quaisquer programas de prevenção. Não obstante, mui
tos deles, quando interrogados, respondem não esperar novas catás
trofes.
Burton, Kates e White (1968) estudaram as respostas obtidas
em muitas entrevistas que tratavam de catástrofes naturais. Desco
briram que as respostas dadas por habitantes de áreas flageladas,
quando indagados sobre a possibilidade de repetição das catástrofes,
são de dois tipos. Algumas respostas podem ser classificadas como
“eliminadoras do perigo”, ao passo que as outras podem ser enqua
dradas na categoria das “eliminadoras da incerteza”. Cada uma
destas categorias tem duas subcategorias. As respostas da categoria
“eliminadoras do perigo” são divididas em: (1) as que negam ou
menosprezam a existência do perigo ( “não pode ocorrer aqui”) e
(2) as que negam ou menosprezam sua reincidência (“um raio nun
ca bate duas vezes no mesmo lugar” ). As respostas enquadradas
156
- ■C.-1'
Figura 5-4 A percepção de muitos tipos de riscos naturais depende de uma
série de fatores. Certamente a mesma classe de desastre natural pode criar
diferentes percepções e sentimentos. Uma enchente que prejudique colheitas e
construções mas não cause perda de vidas humanas pode ser vista de modo
bem diferente de outra com resultados semelhantes ao que mostra a ilustração.
Foto Abril Press.
157
■
nstitut A -vJ
o TECA * C ^ f
/
trofcs, amplamentc imprevisíveis e inevitáveis. Apesar disso um
grande número de pessoas mora em áreas a elas suscetíveis, podendo
ser por elas prejudicado. Os efeitos deste tipo de catástrofe natural
sobre o comportamento não têm sido estudados de forma extensa,
embora Saarinen (1966) tenha realizado uma investigação ampla
sobre as expectativas e atitudes de habitantes de regiões áridas das
grandes planícies. Selecionou seis municípios em quatro Estados
(Nebraska, Oklahoma, Kansas e Colorado) que constavam como
muito semelhantes no tocante ao índice de secas e entrevistou
uma série de pessoas em cada uma das seis áreas. Em termos de
incidêhcia efetiva de secas, os moradores de todas as áreas tendiam
a subestimar a frequência de ocorrência. Entretanto, os habitantes
das comarcas mais áridas tendiam a considerar uma maior proba
bilidade de ocorrência de secas no futuro e, mais especificamente, a
prever uma seca para o ano seguinte.
Em pesquisa mais profunda para comprovar a adaptação dos
habitantes ao seu ambiente semi-árido, Saarinen aplicou em seus
indivíduos de teste não somente os cartões-padrão do Teste de Aper-
cepção Temática (TA T), mas, também, diversos cartões TAT espe
cialmente elaborados envolvendo cenas do ambiente árido. O TAT
é um teste projetivo que exige que a pessoa componha uma história
sobre cada foto do conjunto de teste, sendo destinado a revelar a um
aplicador treinado os diversos impulsos, necessidades e conflitos que
compõem a estrutura de personalidade do indivíduo. Presume-se
que, na composição da história de cada foto, o indivíduo projetará
sua própria personalidade na situação e revelará aspectos da mesma
que podería não revelar diretamente ao aplicador. A análise das
reações dos indivíduos a esses testes envolve muitos detalhes e não
se enquadraria na finalidade deste livro. Entretanto, Saarinen efeti
vamente descobriu variações interessantes entre seus indivíduos.
Certamente este enfoque é de potencial considerável nos estudos de
reação do homem às catástrofes naturais de seu ambiente.
Em resumo, portanto, os habitantes de áreas sujeitas a catástro
fes naturais demonstram atitudes e convicções que podem parecer
bastante estranhas aos que não habitam tais regiões. Especificamente,
a ameaça de ocorrência futura de catástrofes tende a ser subestimada,
com base na probabilidade estatística de repetição do evento. Pare
ce que os habitantes constroem um sistema elaborado de convicções
e atitudes que reduz, para eles, a ameaça presente no ambiente. Deve-
se tem em mente, entretanto, que a percepção do perigo no ambiente
geográfico fica sujeita a considerável variação individual e que, até
certo ponto, pelo menos, a relevância de uma catástrofe natural (em
158
lermos de impacto direto sobre o indivíduo) c a frequência esperada
de sua ocorrência estão relacionadas com a maneira como é per
cebida.
Limitamos nossa discussão dos relacionamentos temporário e
permanente do homem com seu ambiente aos estudos de campo,
geralmente do tipo levantamento. Praticamente todas as pesquisas
mais importantes têm sido desta espécie. Entretanto, foram realiza
dos alguns estudos de laboratório destinados a examinar certos as
pectos de relacionamento do homem com seu ambiente natural. Ao
concluir este capítulo, mencionaremos brevemente algumas dessas
investigações.
PESQUISA DE LABORATÓRIO
159
verificado, ajusta-se bem ao resultado de outros estudos que tratam
mais diretam ente da relação Anim o-desem penho.
M uito do trab alh o de lab o rató rio que tem sido realizado não
trata do com portam ento, m as de outros tipos de reações ao calor.
Tem sido feita considerável q u an tid ad e de pesquisa, por exemplo,
sobre os fatores envolvidos na aclim atação ao calor. Alterações
fisiológicas, tais com o circulação sangüínea, têm sido estudadas com
detalhes. Estes tópicos, en tretan to , são mais adequadamente dis
cutidos em livros de fisiologia.
Um a série de estudos tem sido tam bém realizada sobre os efeitos
da variação do nível de frio. E studos iniciais interessavam-se pri-
m ordialm ente pelos efeitos de m ãos frias em determ inados tipos de
tarefas que envolvem destreza. C om o seria de se esperar, a destreza
dos dedos é tanto m enor q u an to m enor a sua tem peratura. Um
estudo feito p or P oulton, H itchings e B rooke (1 9 6 5 ) tratou dos
efeitos da baixa tem p eratu ra corporal sobre o desempenho. Neste
estudo, os indivíduos eram m arinheiros que m ontavam guarda numa
ponte aberta de um navio, d u ran te o inverno. C ada um dos 16 indi
víduos era solicitado a co n tro lar diversas luzes e relatar o apareci
m ento de um a luz m uito fraca que vinha a intervalos irregulares.
Q uando o indivíduo observava este sinal fraco, apertava uma grande
tecla com a palm a da m ão ou com o lado de sua m ão enluvada. No
frio ártico (q u an d o co m parado com o desem penho em clima mode
ra d o ), o desem penho piorava, levando os pesquisadores a concluir
que, com o esfriam ento do corpo, a eficiência do cérebro é prejudi
cada. O utros estudos têm tam bém indicado um decréscimo no de
sem penho de vários tipos de tarefas sob condições de frio.
C om o foi o caso na pesquisa com o calor, num erosos estudos
trataram de alterações fisiológicas d u ran te a exposição ao frio e com
a habilidade d o hom em em se aclim atar a ele. H á evidências de
que as pessoas que vivem em clim as frios produzem mais calor ao
descansar do que as pessoas dos clim as m ais quentes, e que as pessoas
que m oram em clim as frios têm um suprim ento mais farto de sangue
em suas extrem idades. O utros estudos revelaram também diversos
tipos de efeitos de aclim atação. E stes estudos, apesar de serem de
interesse p ara os psicólogos am bientais, são discutidos mais adequa
dam ente em outros tipos de textos.
160
Capítulo 6
O ambiente como fonte de ameaça
O CONCEITO DE STRESS
161
cológicos que servem como causadores de stress. Embora o orga
nismo humano possa encontrar situações que envolvam fatores físicos
de stress c stress orgAnico, 6 muito maior a probabilidade de que ele
encontre fatores psicológicos de stress. Enquanto em condições
de stress orgAnico a reação ao stress ó representada pelas alterações
físicas no sistema biológico do organismo, as reações às situações
de stress psicológico são frequentemente bastante diferentes (embora
possam tambóm ocorrer alterações físicas).
Consideremos brevemente as condições que produzem as reaçpes
de stress psicológico c a natureza de tais reações. Appley e Trum-
bull (1967) ressaltam que as condições de estímulo envolvidas no
stress psicológico “são caracterizadas como novas, intensas, de al
teração rápida, súbitas ou inesperadas, chegando às vezes ao limiar
de tolerância. Ao mesmo tempo, o déficit de estímulos, a falta
de estímulos esperados, estimulação altamente persistente e condi
ções causadoras de fadiga e tédio, entre outros, têm sido também
descritos como causadores de stress; assim, também estímulos possi
velmente alucinógenos, além de estímulos que eliciam reações con
flitantes” (pág. 5 ).
Obviamente, portanto, pode-se conceber muitas situações po
tencialmente causadoras de stress psicológico. Conforme ressalta
mos, embora haja muita discordância entre os pesquisadores neste
campo, o acima exposto tem sido utilizado por investigadores como
recurso operacional para definição e produção de stress psicológico.
Uma forma possivelmente mais simples de visualizar o com
plexo de situações de estimulação que resultam em stress psicoló
gico consiste em encontrar uma característica comum para a maioria
dessas situações. Conforme frisa Lazarus, “a análise de stress psi
cológico . . . distingue-se de outros tipos de análises de stress pela
variável ocorrente de ameaça. A ameaça implica um estado no qual
o indivíduo antecipa uma confrontação com uma condição prejudicial
de alguma espécie” (pág. 25).
Desta forma, muitos investigadores sentem que uma situação
de estímulo que envolve ameaça ou antecipação de dano futuro pode
resultar em stress psicológico. Deve-se frisar que o fato de a situa
ção ser ou não realmente prejudicial para o indivíduo é irrelevante,
uma vez que ele a perceba como ameaçadora. É também importan
te ter-se em mente que o termo “dano” não designa somente danos
físicos de alguma espécie. Uma situação pode ser considerada amea
çadora e potencialmente perigosa se envolver constrangimento, em
baraço, perda financeira, etc.
Na pesquisa sobre stress psicológico, vários tipos de reações
ou respostas têm sido usadas como índice de stress, Lazarus sugere
162
que tais variáveis dependentes se enquadram em quatro categorias
principais: relatórios de afetividade perturbada, reações motoras-
comportamentais, alterações na adequação de diversos tipos de jun
ções cognitivas e alterações fisiológicas. Os distúrbios afetivos, tais
como ansiedade, cólera e depressão são reações comuns ao stress.
bem como determinados tipos de comportamento motor, como a
tensão muscular permanentemente alta, distúrbios da fala, expres
sões faciais, postura corporal e perda de controle dos esfíncteres.
Alterações na função cognitiva são outras reações ao stress; há
“uma farta literatura a respeito dos efeitos de stress sobre a percep
ção, pensamento, julgamento, resolução de problemas, habilidades
motoras e perceptivas e adaptação social” (Lazarus, 1966, pág. 7).
Muitos tipos de medidas fisiológicas e psicofisiológicas têm sido
utilizados como índices de estado de stress. Entre estes índices
estão alterações na composição do sangue (especialmente, em se
tratando dos eosinófilos), elevações na taxa de 17 cetosteróides
na urina, alterações no funcionamento da glândula adrenal, aumentos
ou diminuições na influência de diversas glândulas, alterações na
taxa cardíaca, reação galvânica da pele (GSR), etc.
Não se deve enfatizar com exagero, entretanto, que a possibili
dade de uma situação qualquer produzir tais reações de stress de
penda muito das características da ou das pessoas envolvidas. Si
tuações percebidas por uma pessoa como ameaçadoras poderão sê-lo
de forma muito diferente por outras. Além disso, a experiência ante
rior de um indivíduo com uma dada situação determinará, em grande
parte, a sua percepção da mesma. Desta forma, com a repetida
exposição a uma situação, pode ocorrer adaptação; a situação não é
mais tida como ameaçadora como o fora antes e pode ou não ocorrer
uma reação de stress, porém consideravelmente modificada.
O fato de os indivíduos diferirem quanto aos modos segundo
os quais percebem situações específicas ou condições de estímulos
toma freqüentemente difícil a pesquisa sobre o stress psicológico.
Não se pode presumir que todos os indivíduos percebam as condi
ções de estímulo da mesma forma. E ainda: mesmo que todos os
indivíduos percebessem a situação de forma semelhante, fatores de
personalidade e experiências anteriores determinariam em grande
parte a reação de stress apresentada.
1 63
uma pessoa em situações percebidas como ameaçadoras e que, conse
quentemente, sào causadoras de stress. Tais situações podem ?cr
encontradas no lar, no trabalho, em divertimentos, em muitos rela
cionamentos sociais — de fato, em quase tedas as situações em que
o homem se relaciona com o ambiente. Uma parte significativa da
literatura de muitas áreas de psicologia trata do que pode ser con
siderado stress ambiental e das reações do homem em situações de
stress. Por exemplo, grande parte da psicologia da anormalidade
trata de reações de stress, bem como grande parte da psicologia
industrial, social e de aconselhamento de casais.
Trataremos, neste capítulo, de alguns dos fatores causadores de
stress que estão associados à nossa sociedade urbana cada vez mais
complexa.
Os muitos problemas sociais básicos que podem ser considera
dos causadores de stress incluem a falta de espaço, pobreza urbana,
deterioração educacional, serviços de saúde inadequados, crimes,
discriminação racial e muitos outros. Fatores ambientais como a
poluição do ar, da água e sonora podem também ser considerados
causadores de stress, posto que muitas pessoas os consideram uma
ameaça ou fonte potencial de danos. Estas espécies de problemas
revestem-se de especial interesse para os psicólogos ambientais. Não
podemos discuti-los todos, mas examinaremos particularmente diver
sos deles de forma a ilustrar sua complexidade e os enfoques usados
pelos investigadores para melhor entendê-los e ajudar a solucio
ná-los.
SUPERPOPULAÇÃO
164
6 o número de pessoas ou de animais que ocupam uma determinada
unidade de espaço. “Espaço” neste caso pode referir-se a uma sala,
um edifício, uma cidade ou qualquer outra unidade definível. Embo
ra seja uma definição simples de densidade de população — há quem
considere densidades internas, densidades externas, densidade social,
densidade espacial, etc. — a definição apresentada aqui é adequada
para nossas finalidades. Quando a densidade populacional alcança
um alto nível, é comum dizermos que ocorre superpopulação. Desta
forma, em algum ponto ao longo do contínuo da densidade popula
cional, presume-se a ocorrência da condição da superpopulação.
Embora seja conveniente definirmos superpopulação objetiva
mente como um nível de densidade populacional, esta condição é
mais apropriadamente concebida em termos mais subjetivos. Enfa
tizamos que a experiência passada de uma pessoa e sua personalidade
são fatores importantes na determinação de sua percepção de uma
situação específica. Assim, quando a densidade populacional au
menta e as pessoas são forçadas a viver cada vez mais próximas umas
das outras, em um determinado ponto uma pessoa sentir-se-á em
condição de superpopulação, perceberá a situação como portadora
de algum grau de ameaça e, conseqüentemente, sofrerá stress.
Entretanto, o ponto em que ocorrerá a experiência subjetiva de su
perpopulação dependerá tanto das características da pessoa envolvida
como das da situação específica. Assim, alguns indivíduos podem
não se sentir em condição de superpopulação em áreas urbanas de
densidade populacional muito alta, ao passo que outros experimentam
tal condição se encontram algumas pessoas numa área de camping
no alto de montanhas. Por outro lado, a mesma pessoa que não
sente falta de espaço na cidade, poderá experimentá-la quando, numa
viagem de campismo, for forçada a compartilhar a área de cam
ping com outros. Isto pode ocorrer mesmo quando as densidades
populacionais das duas situações forem muito diferentes.
Numa análise mais formal Zlutnick e Altman (1972) enumeram
as variáveis ligadas à superpopulação sob três grupos principais. No
primeiro grupo acham-se as variáveis situacionais, que incluem fato
res associados a um quadro especial, tais como o número de pessoas
por unidade de espaço dentro de uma sala ou residência (densidade
interna); as pessoas por unidade de espaço fora da sala ou da re
sidência, como no caso da vizinhança (densidade externa); a duração
de exposição à situação e às características do quadro, tais como o
tipo de sala, o modo como é disposto o espaço e assim por diante.
Estas e outras variáveis situacionais auxiliam a determinar se a ex
periência de superpopulação ocorrerá.
165
A segunda categoria consiste em determinantes interpessoais da
população. Uma destas variáveis de grande importância é a capa
cidade dc uma pessoa de controlar relações com outros. As pessoas
controlam relações com os demais de várias formas, desde o isolar-se
completamente numa sala para evitar relacionamento, até súbitos
comportamentos não verbais, como desviar-se ou assumir algum tipo
de postura corporal que possa desencorajar relações com os demais.
Conforme ressaltam Zlutnick e AItman: “Todo um espectro de téc
nicas é usado para controlar o ritm o dos relacionamentos com as
demais pessoas. Uma hipótese é que, quando falham tais meca
nismos de controle, especialmente em situações de alta densidade,
pode existir uma condição comumente descrita como superpopulação”
(pág. 5 2 ).
O terceiro grupo de variáveis são os fatores psicológicos. Con
forme ressaltado, a experiência passada e a personalidade de uma
pessoa são impoTtantes para determ inar se essa pessoa experimenta
falta de espaço numa situação particular. Entre os muitos fatores
adicionais que podem auxiliar a determ inar se o indivíduo em questão
sente o efeito de superpopulação, acham-se suas expectativas quanto
ao que considera uma densidade ótima numa determinada situação
e a sua capacidade perceptiva de controlar relacionamentos.
Os efeitos da superpopulação sobre o comportamento humano
têm sido relativamente pouco pesquisados. Entretanto, tem-se rea
lizado um número substancial de investigações dos efeitos da
densidade populacional sobre o com portam ento animal (particular
mente roedores) e estes estudos podem ter algumas implicações rela
tivas ao comportamento hum ano. Conseqüentemente, consideramos
com detalhes as descobertas de estudos efetuados com animais, em
bora com a ressalva de que os roedores estão muito distantes de
modelos perfeitos de seres hum anos, de form a que as generalizações
obtidas desse estudo para o com portam ento humano devem ser feitas
com muito cuidado.
166
Uma explicação corrente baseia-se no conceito de stress social.
Ê opinião unânime que, à medida que aumenta a densidade popula
cional, os animais ficam sujeitos a sempre mais contatos com outros
animais e que, em algum ponto, estes contatos sociais tornam-se
fatores de stress. Assim, a condição de alta densidade populacio
nal é considerada causadora de stress que cria diversas alterações
comportamentais e físicas nos animais.
Estas alterações podem ser dramáticas e facilmente observáveis
ou sutis e observáveis somente sob condições cuidadosamente contro
ladas. Um exemplo de reação dramática associada a densidades
populacionais altas é a migração em massa de lemingues *. Entre
tanto, o comportamento de animais sujeitos a altas densidades po
pulacionais pode também envolver comportamento mais agressivo do
que o normal, diversas formas de comportamento sexual “aberran-
te”, mães que devoram suas crias jovens e outros tipos de comporta
mento que, para os animais envolvidos, podem ser considerados não
usuais ou anormais. Podem também ocorrer alterações físicas, com
modificação de vários órgãos internos e distúrbios endócrinos. As
sim, sob condições de stress, as glândulas de adrenalina e a pituitária
aumentam e se tornam hiperativas, ao passo que as gônadas podem se
atrofiar e tornar-se hipoativas. Discutindo os efeitos dos causadoras
de stress sobre tais glândulas, Thiessen e Rodgers (1961) ressaltam:
“Se a densidade populacional fosse causadora de stress, estaria
inversamente relacionada com a atividade gonadal e, portanto, com
o comportamento reprodutivo, bem como com os outros fatores que
afetam a sobrevivência. Tais relações poderiam explicar a aparente
natureza autolimitante da densidade populacional e ajudariam a
explicar o ciclo trifásico de população.
Sob condições de baixa densidade populacional e outras cir
cunstâncias favoráveis, a atividade gonadal e reprodutiva seria alta,
resultando numa expansão de população. A crescente densidade
populacional, atuando como um crescente causador de stress, redu-
ziria eventualmente a reprodução até o ponto em que as mortes se
igualassem aos nascimentos. A população alcançaria equilíbrio na
quele ponto e entraria na segunda fase do ciclo de população. Tal
estabilidade seria mantida até que a população ficasse sujeita a um
causador adicional de stress, como seja o aumento da luz do dia ou
do frio, decorrentes de alteração sazonal. O causador adicional de
stress podería destruir o equilíbrio e precipitar um declínio mais ou
menos rápido da população, em parte pelos seus efeitos sobre o ín-
167
dicc dc rep ro d u ção , cm p arte p o r outros efeitos letais decorrentes
do au m en to dc strc ss” (págs. 441 c 4 4 2 ).
N ão ten tarem o s resu m ir todos os estudos deste campo. Descre
verem os, ao invés disso, diversas investigações que são representati
vas dos en fo q u es u sados pelos pesquisadores no estudo dos efeitos
do au m en to de p o p u la ç ã o so b re os anim ais. Em geral, estes estudos
são ou estu d o s de cam p o , em que o investigador tenta estudar os
an im ais sob co n d ições n a tu ra is ou aproxim adam ente naturais, ou
estu d o s de la b o ra tó rio , nos q uais os anim ais são pesquisados sob
condições cu id a d o sa m e n te co n tro lad a s.
Estudos de campo
168
tudo isso em contínua superabundância de alimentos e incomum dis
ponibilidade de espaço para abrigo” (pág. 141),
Embora Calhoun não relate quaisquer alterações físicas nos ratos
à medida que sua população crescia até atingir seu nível máximo de
mais ou menos 150 indivíduos, outros estudos demonstram que há
uma relação definida entre a densidade populacional e a atuação das
supra-renais em populações naturais de ratos, na Noruega. Christian
e Davis (1956), por exemplo, estudaram ratos de 21 quarteirões da
cidade de Baltimore. Ressaltam que “cada quarteirão da cidade é
efetivamente uma ilha e seus ratos formam uma unidade distinta de
população, uma vez que a imigração e emigração de ratos é insigni
ficante ou inexiste” (pág. 476). Em todos os quarteirões estudados
houve disponibilidade de alimentos em abundância (em latas de
lixo) e de abrigos adequados.
No início da investigação, dispunha-se de quantidade conside
rável de informação — proveniente dos estudos anteriores — sobre
as características populacionais dos diversos quarteirões. Estes da
dos e outros, coletados de ratoeiras, permitiram aos investigadores o
estágio de ciclo populacional de cada um dos quarteirões. Estes
estágios ilustrados na fig. 6-1 foram denominados: estágio estacioná
rio baixo, crescente baixo, crescente alto, estacionário alto e decres
cente.
Desta forma, se um estudo longitudinal tivesse sido realizado
num só quarteirão, dever-se-ia esperar que sua população de ratos
seguisse cada um dos estágios mostrados na fig. 6-1. No estudo de
Christian e Davis, entretanto, foi selecionada para estudo uma série
de quarteirões, determinando-se em qual estágio estavam os ratos
de cada um.
Foram apanhados e mortos ratos de todos os quarteirões, tendo
sido determinados os pesos de uma série de órgãos. Embora o
peso da glândula supra-renal fosse o de principal interesse, os pesos
das glândulas do timo, tireóide e pituitária foram também medidos.
Não se constatou nenhuma alteração nos pesos do timo, pituitária e
tireóide. Entretanto, foi descoberto um aumento progressivo nos
pesos das glândulas supra-renais, com início no estágio crescente
baixo, progredindo até os estágios crescentes alto e estacionário alto,
encerrando-se com um aumento geral de 18% no peso das supra-
renais dos ratos das populações em estágio. Na medida em que o
peso dessas glândulas correlaciona-se com sua atividade, os resultados
desta investigação indicam que o stress aumenta na medida que pro
gride o ciclo da população. Uma vez que havia ampla disponibili
dade de alimentos, parece que fatores sociais, e não puramente bio-
169
Estágios do crescimento demográfico
População
Estudos de laboratório
170
das ou controladas, têm confirmado as descobertas de campo de que
a densidade populacional elevada é causadora de stress. Desco
briu-se, nestas investigações, que as glândulas supra-renais aumen
tam proporcionalmente com a densidade populacional; pode-se notar,
também, alterações em outros órgãos. Um dos estudos que mos
tram relação entre o tamanho da população e o tamanho da glândula
supra-renal é o de Christian (1955). Colocou camundongos des-
mamados em grupos de 1, 4, 6, 8, 16 e 32, durante uma semana.
Os animais foram então mortos e suas glândulas supra-renais
pesadas. Os pesos da glândula indicaram uma relação linear ao
logaritmo do tamanho da população em todos os casos, exceto no do
grupo de 32 ratos, nos quais o peso da supra-renal diminuiu. Tni-
cialmente, Christian interpretou sua descoberta como um resultado
de uma “deterioração da estrutura social”, até este tamanho de
grupo, representativa de alguma diminuição do stress. Entretanto,
um trabalho posterior desenvolvido por Christian indicou que o de
créscimo do peso da supra-renal a este nível da população era re
sultante de uma perda de lipídios das células corticais da glân
dula, o que indica intensa ativação do córtex adrenal. Assim, a
tendência de proporcionalidade entre os aumentos da atividade supra-
renal e da densidade populacional revelou-se verdadeira, para to
dos os limites de estudo.
Quando a densidade populacional atinge determinado nível,
indubitavelmente ocorrem alterações fisiológicas que refletem uma
situação de stress no animal. Entretanto, conforme indicamos, as
reações de stress podem refletir-se também em alterações no com
portamento. Embora haja número consideravelmente maior de pes
quisas sobre os tipos físicos das reações de stress que resultam de
alta densidade populacional, um estudo clássico por Calhoun (1962)
revela grande parte das alterações comportamentais que podem estar
associadas neste tipo de fator de stress. Calhoun dividiu uma sala
de aproximadamente 3x4 metros em quatro espaços, conforme in
dicado na fig. 6-2. Cada um dos espaços era uma completa uni
dade habitacional para ratos, incluindo um frasco com água, um
cocho com alimentos e uma toca artificial elevada, acessível por
uma escada em espiral. Os espaços eram separados por divisões
eletrificadas com rampas construídas sobre elas, de forma que os
ratos tinham acesso a todos os espaços. O comportamento dos
ratos foi observado através de uma janela no teto da armação. A
população de ratos foi mantida constante em 80 ratos, deixando-se
nos espaços ratos jovens em quantidade suficiente apenas para subs
tituir os mais velhos que haviam morrido.
171
Figura 6-2 Visão superior do arranjo de celas usado por Calhoun para estu
dar superpopulação em ratos. Notar que as rampas são conectadas com todas
as celas, menos com as celas 1 e 4. Extraído de Heimstra, N . W. e McDonald
A. L., Psychology and contemporary problems, Monterey, Calif.: Brooks/Cole
1973.
Conforme pode ser visto na fig. 6-2, não havia rampa entre os
espaços 1 e 4. Estes espaços eram alcançados por somente uma
rampa cada um, ao passo que os espaços 2 e 3 eram atingidos por
duas rampas cada. Assim, devido ao número de rampas que in
gressavam nos espaços, os números 1 e 4 podiam ser considerados
espaços finais e os 2 e 3, espaços médios. Devido ao número de
rampas disponíveis, e por outras razões, os espaços 2 e 3 tinham den
sidade populacional mais alta que os espaços 1 e 4. Os membros
fêmeas da população tendiam a distribuir-se quase que igualmente
nos quatro espaços, ao passo que os animais machos concentravam-
se nos espaços 2 e 3. Os espaços 1 e 4 continham, cada um, um
macho dominante que toleraria apenas alguns machos a mais, que
respeitassem seu domínio. O amontoamento de animais em núme
ros desusadamente grandes, conforme ocorria nos espaços 2 e 3, é
chamado desmoronamento comportamental. Conforme ressalta Ca
lhoun, “as conotações doentias do termo não são acidentais: um
desmoronamento comportamental efetivamente atua de forma a agra
var todas as formas de patologia encontradas num grupo” (pág. 144).
172
Formas extravagantes de comportamento começaram a se de
senvolver muito rapidamente, em especial entre os animais em des
moronamento comportamental. Tanto o comportamento dos ratos
machos como o das fêmeas veio a ser afetado. Estas tornaram-se
menos hábeis na construção de ninhos e eventualmente pararam de
vez com essa atividade. Além disso, ao invés de transportar seus
filhotes de um lugar para outro, que é o comportamento normal, as
fêmeas simplesmente apanhavam-nos e deixavam-nos cair em dife
rentes lugares no cercado. Durante os períodos de cio, as ratas
eram quase continuamente perseguidas por bandos de machos. A
taxa de mortalidade entre estas fêmeas, durante a gravidez e o parto,
era muito elevada.
Uma série de tipos de comportamento foi exibida pelos ratos
machos. Os machos agressivos, dominantes, eram os mais normais,
mas, algumas vezes, também estes animais ficavam frenéticos e ata
cavam as fêmeas, os jovens e os machos submissos. Alguns dos
machos não dominantes revelaram comportamento homossexual por
não poderem discriminar entre parceiros sexuais apropriados e im
próprios. Outros machos tornaram-se completamente passivos, mo-
vendo-se através do cercado, ignorando outros ratos e sendo, por
sua vez, ignorados. Embora fossem gordos e lisos, sem quaisquer
cicatrizes, sua desorientação social era quase completa.
Possivelmente o tipo mais estranho de comportamento foi de
monstrado pelos ratos machos que Calhoun denominou “prova
dores”. Estes ratos, que sempre moravam nos cercados médios,
eram hiperativos e hipersexuais. Estavam sempre na expectativa
de uma fêmea no cio e, caso não pudessem achar uma em seu pró
prio cercado, permaneciam à espera no topo de uma rampa que
levasse a outro cercado. Estes animais eram também homossexuais
e alguns eram canibais.
Marsden (1972) descreveu outro estudo efetuado no laborató
rio de Calhoun que é um tanto parecido com o estudo anterior.
Nesta investigação, foram introduzidos 8 camundongos naquilo que
Marsden, com base em seu critério de fornecimento de alimentos e
de acomodações, descreve como “uma utopia potencial para ratos”.
Quatro camundongos eram machos e quatro fêmeas. A “utopia”
foi observada atentamente à medida que a população de camundon
gos aumentava, excedendo o que era considerado uma população
ótima, e se aproximava do máximo. No decorrer desta evolução
“resultaram processos que implicaram na emergência de tipos de
animais progressivamente mais divergentes, desviando-se fortemente
do comportamento ideal que deveria ter um camundongo — ou seja,
173
um macho ocupante e defensor de seu espaço pessoal e procriador
de sua espécie, c a fêmea como apoio e proteção de jovens saudá
veis” (pág. 9).
Os padrões anormais de comportamento foram primeiramente
vistos em camundongos machos. Os machos que tinham sido ex
pulsos de seus cercados usuais moravam agora em espaço aberto, em
grandes grupos de indivíduos semelhantes. Moviam-se até onde
havia alimento e água, mas voltavam então aos seus grupos. O
comportamento normal de camundongos desapareceu e estes retira-
ram-se quase que totalmente de suas relações sociais normais.
Os machos expulsos, agrupados no piso, foram os primeiros di
vergentes a emergir à medida que aumentava a densidade popula
cional. Um segundo tipo apareceu imediatamente após. Estes
eram machos expulsos solitários, que viviam sós no piso, na base
dos cochos de comida ou no topo dos mesmos. Havia também
um terceiro tipo de machos devoradores que Marsden denominou
“os bonitos”, uma vez que eram gordos, macios e de boa aparência
e tinham poucas feridas, se não nenhuma. Moravam nos cercados
mas não participavam de atividades de sexo ou competição de terri
tório. Estes camundongos pareciam estar realmente menos envol
vidos em atividades sociais do que quaisquer dos grupos ou dos ex
pulsos solitários. Aparentemente, este tipo não tinha stress; testes
de enzimas das supra-renais indicaram que os “bonitos” tinham nível
mais baixo de enzimas que os camundongos expulsos.
A população de camundongos atingiu um máximo de cerca de
2.000, o que era metade do máximo teórico mas um valor bem aci
ma do que era considerado ótimo. Quando o número de camun
dongos chegou por volta de 2.000, a população começou a diminuir
sensivelmente. De fato, enquanto este capítulo estava sendo escri
to, Calhoun acabava de relatar que o último camundongo de sua
“utopia” para ratos tinha morrido.
Fica claro, a partir destes e de diversos outros estudos que não
analisamos, que a pressão social exercida pela alta densidade popu
lacional resultará em alterações drásticas de comportamento bem
como em reações de stress manifestadas por alterações fisiológicas
no animal.
174
outras que não a variável indepbndentc que sc crê poder afetar os in
divíduos cm estudo. Embora esses esforços constituam um proce
dimento experimental necessário, levam os estudos para além do
mundo real, onde numerosas variáveis atuam em conjunto e afetam
o organismo. Desta forma, sabemos que uma alta densidade po
pulacional é um fator de stress e causa uma série de reações. O
que acontece, entretanto, em situações de alta densidade populacio
nal, quando são adicionados outros fatores de stress?
Relativamente pouca pesquisa tem sido feita sobre os efeitos
da densidade populacional em combinação com outros fatores de
stress. Entretanto, para ilustrar os efeitos dramáticos que as com
binações de fatores de stress podem exercer, vamos abordar breve
mente a pesquisa em que os fatores sociais de stress associados à
densidade populacional são combinados com fatores químicos de
stress.
O sulfato de anfetamina é um estimulante do sistema nervoso
central que começou a ser usado por um número significativo de
pessoas, devido às suas propriedades de alteração do estado de
ânimo. Além deste uso ilícito, a droga passou a ser amplamente
utilizada no tratamento de determinados tipos de desordens compor-
tamentais em crianças. Quando administrada a um indivíduo de
pesquisa, como seja um camundongo ou um rato, a mesma o levará,
geralmente, à hiperatividade e a outras alterações comportamentais.
Alguns anos atrás, descobriu-se que a anfetamina era muito
mais letal para camundongos reunidos em grupos de 3 ou 4 do que
para animais isolados. Por exemplo, um LD 50 (dose letal para
50% dos indivíduos) podería ser de cerca de 125 mg/kg para ca
mundongos que são tratados com a droga e colocados em isolamen
to. Entretanto, o LD 50 para camundongos tratados e colocados
em grupo é de somente 10 mg/kg.
Se injetássemos nos sujeitos 50 mg/kg de anfetamina e os co
locássemos em isolamento, observaríamos uma série de efeitos com
portamentais. A maioria dos camundongos tornar-se-ia hiperativa;
alguns desenvolveríam comportamento estranho, como morder a ar
mação da gaiola ou mover rapidamente cabeça para a frente e
para trás. Em geral, seria fácil ver que estes camundongos se
comportam diferentemente dos camundongos não tratados. Muito
poucos morreríam, entretanto. Por outro lado, se déssemos a uma
série de camundongos 50 mg por quilo e os colocássemos em grupos
de 4 em pequenas jaulas, as alterações comportamentais mostradas
por este grupo em comparação com grupos de controle não medi
cado seriam gritantes. Quase que imediatamente os camundongos
175
começariam a dcbatcr-sc em volta dc suas jaulas a uma velocidade
tremenda. Ocasionalmente, quando se encontrassem, adotariam
uma postura defensiva, ficando sobre suas patas traseiras e man
tendo as patas dianteiras em posição de boxe. Quase que imedia-
tamente a corrida seria retomada. Dentro de poucos minutos, to
dos os camundongos tratados com anfetaminas na condição de grupo
entrariam em convulsões e morreríam.
A letalidade desta combinação de densidade populacional e an-
fetamina pode inclusive ser aumentada pela adição de outros fatores
de stress. Por exemplo, camundongos em grupos morrerão com
uma dosagem ainda menor de anfetamina se for adicionado o calor
como fator de stress numa sala de testes com alta temperatura. Ou
tras variáveis diminuem a letalidade. Um estudo feito por Mast e
Heimstra (1962) indicou, por exemplo, que a experiência social an
terior modificará a taxa de óbitos de camundongos tratados por an
fetamina quando colocados em condições de grupo. Os camun
dongos criados em condições de grupo, quando tratados com a droga,
têm uma taxa de mortalidade inferior à dos camundongos criados
em isolamento. Obviamente, assim, muitos fatores modificarão os
efeitos de stress da densidade populacional.
Com base nas descobertas dos estudos de densidade populacio
nal com animais somos, logicamente, tentados a fazer predições de
mau agouro sobre a eventual sorte dos seres humanos, se as pres
sões populacionais se tornarem demasiada altas. Conforme ressal
tamos, entretanto, os roedores estão muito longe de um modelo per
feito do ser humano e quaisquer generalizações a partir de descober
tas de estudos de animais para o comportamento de seres humanos
deverão ser feitas com grande cautela. Clough (1965) ressalta:
“Como se pode esperar, as idéias propostas para explicar os
ciclos animais — especialmente a descoberta de que a vida em con
dição de superpopulação pode ter profundos efeitos fisiológicos —
estão sendo usadas agora para se discutir os problemas da popula
ção humana. Mas, no meu ponto de vista, há muitas diferenças bá
sicas para que se leve a sério grande parte desta especulação. Por
um lado, historicamente, as populações humanas têm mostrado so
mente crescimentos equilibrados através de milhares de anos — ou
nenhuma alteração significativa, no caso de alguns povos isolados.
Nunca houve o crescimento e o decréscimo regulares, a curto prazo,
que se constatam na população de roedores. Por outro lado, em
bora seja provavelmente verdade que os seres humanos que super-
povoam os centros urbanos sejam atormentados por determinadas
doenças mentais e físicas de civilização, suas taxas de nascimento
176
mio ficam grandcmcntc inibidas (c mesmo não o ficam, absoluta-
mcnle) nem aumentam as suas taxas de mortalidade. De fato, as
taxas de nascimento são comparativamente altas nos povos que vi
vem nas condições mais pobres de nutrição, habitação e, talvez mes
mo, em condições de opressão emocional e mental” (págs. 204-205).
177
X* i N S T i r i : " .
r *-l C I O T Ç _ • • -
Smith c Haythorn (1972) usaram 56 homens alistados na Ma
rinha como indivíduos num estudo dos efeitos do isolamento a longo
prazo sobre o comportamento. Os indivíduos foram isolados em
grupos de 2 ou 3 durante 21 dias. Embora a variável independen
te principal neste estudo fosse o tamanho do grupo, os investigado
res estavam também interessados numa série de outras variáveis, in
clusive a quantidade de espaço disponível. Assim, alguns dos gru
pos foram testados sob condições de isolamento e confinamento que
permitiam espaço utilizável de aproximadamente 20 metros cúbicos
por homem, ao passo que outros grupos foram confinados em salas
de teste com pouco mais de 50 metros cúbicos por homem. O pro
jeto envolveu, então, grupos de dois homens sob condições de mais
e menos espaço disponível e grupos de três homens, sob as mesmas
condições. As variáveis dependentes foram muitas, tanto de ordem
fisiológica como psicológica.
Entre as medidas psicológicas estavam divèrsos testes projetados
para medir stress, ansiedade e aversão. A medida de stress indicou
que os grupos eram altamente semelhantes durante os primeiros 9
dias de confinamento. Entretanto, durante o restante de tempo, a
população pareceu ter efeito maior sobre os grupos de três homens
do que sobre os de dois. Os primeiros, na condição de menor es
paço, apresentaram o grau mais alto de stress e, na condição de maior
espaço, exibiram o grau mais baixo. Os grupos de 2 homens clas
sificaram-se entre esses extremos. Medidas do grau de ansiedade
mostraram que os grupos de 2 homens, sob ambas as condições de
espaço, e os grupos de 3 homens, sob a condição de menor espaço,
eram quase equivalentes, mas, nos grupos de 3 homens sob con
dição de maior espaço, o nível de ansiedade era consideravelmente
menor. Uma descoberta surpreendente deste estudo é que se revelou
maior hostilidade aos parceiros pelos indivíduos dos grupos em con
dição de maior espaço do que pelos dos outros grupos.
Uma investigação feita por Baxter e Deanovich (1970) foi pro
jetada para determinar as propriedades de incitação à ansiedade ori
undas da quantidade imprópria de espaço. Os indivíduos deste es
tudo eram 48 mulheres voluntárias, de uma classe de psicologia.
Foram testadas sob duas condições. Em condição de falta de espaço,
o indivíduo sentava-se numa cadeira e a experimentadora (outra
mulher) colocava a sua cadeira muito próxima dele. Em condição
de espaço suficiente, a experimentadora colocava sua cadeira na
ponta de uma mesa, a alguma distância da cadeira da pessoa em es
tudo.
Foi apresentado aos indivíduos o teste “faça a história de um
quadro”, consistindo em 8 quadros contendo duas figuras de bonecas
178
c acompanhados por uma breve narrativa descrevendo cada um.
Solicitou-se aos indivíduos classificarem o grau de ansiedade sentida
pelas bonecas nas diferentes situações. Os resultados indicaram que
as pessoas colocadas na situação de falta de espaço projetavam mais
ansiedade em suas classificações das cenas do que as pessoas colo
cadas em situação de disponibilidade de espaço. Os efeitos toma
ram-se mais pronunciados durante a última metade do período ex
perimental.
Griffith e Veitch (1971) investigaram os efeitos de condições de
calor e falta de espaço sobre o comportamento. Testaram indiví
duos numa câmara ambiental sob condições de temperatura normal
e elevada. Testaram-nos, também, sob diferentes densidades popu
lacionais (grupos pequenos ou grandes de indivíduos, reunidos numa
sala de testes). Foram usadas diversas medidas de comportamento.
Sob as condições de alta temperatura e alta densidade populacional,
os indivíduos solicitados a avaliar um estranho, por intermédio de
respostas a um questionário, indicaram maior antipatia por ele do
que os indivíduos testados em outras condições.
O estado de ânimo dos indivíduos foi também considerado como
afetado negativamente pelas condições de temperatura e de alta den
sidade populacional.
Estudos como os acima relatados sugerem que a quantidade de
espaço disponível afeta a sensibilidade das pessoas. Entretanto, é
difícil inferir-se, com base em tais estudos, como essa quantidade de
espaço pode afetar os comportamentos abertos. Os estudos de la
boratório não têm constatado, em geral, diferenças de desempenho
entre indivíduos expostos a diversos graus de quantidade de espaço.
Por exemplo, Freedman (1971) e seus colaboradores deram a seus
indivíduos uma série de tarefas intelectuais variáveis em complexi
dade a serem cumpridas, e que tomavam diversas horas para serem
concluídas. As tarefas foram executadas sob diferentes condições
de quantidade de espaço e os resultados não revelaram quaisquer
diferenças de desempenho, em nenhuma das tarefas, que pudessem
ser atribuídas à aglomeração.
179
dc alta densidade populacional, em que se experimenta falta de es
paço, a maioria destas predições baseia-se em pesquisas realizadas
com roedores. Os estudos revelaram que estes animais, quando su
jeitos a condições de alta densidade de população, demonstram alte
rações substanciais do comportamento, bem como alterações fisioló
gicas que indicam estarem sendo sujeitos a altos níveis de stress.
Outros estudos indicaram que as populações de roedores são auto-
limitantes; quando uma determinada densidade populacional é atin
gida, a população nivela-se e passa a diminuir — supostamente de
vido a fatores sociais de stress que interferem no comportamento
reprodutor. Embora sejamos tentados a generalizar tais descobertas
para os seres humanos — e muitas dessas generalizações foram fei
tas — não há qualquer indicação de que a superpopulação tenha
realmente efeitos similares ao nível humano.
Conforme ressaltamos no cap. 4, a superpopulação tem sido
também apontada como causa de doenças físicas e mentais. Dados
comprobatórios de tais afirmações têm sido caracteristicamente obti
dos em investigações nas quais certo índice de densidade popu
lacional é correlacionado com um índice de problemas de saúde
mental ou de frequência de determinada condição física, como sejam
doenças cardíacas ou hipertensão. Uma série de estudos tem indi
cado correlações que sugerem a existência de uma relação entre estas
variáveis. Entretanto, é difícil tentar estabelecer fatores causais com
dados correlacionais, de forma que não podemos estar certos de que
a densidade da população causa, em si, uma taxa mais elevada de
distúrbios mentais ou físicos. Srole (1972) questionou o ponto de
vista de que a urbanização leva a taxas mais elevadas de distúrbios
de saúde mental e desordens físicas como os problemas cardíacos.
Apresenta um argumento impressionante pelo fato de que efetiva
mente não existem diferenças entre as áreas de alta e baixa densidade
populacional na incidência de transtornos mentais e físicos, comu-
mente associados com as áreas de alta densidade.
São raros os estudos controlados de laboratório dos efeitos
da superpopulação sobre o comportamento humano. Os poucos que
foram realizados sugerem que a aglomeração pode afetar a sensibi
lidade de uma pessoa, produzindo um aumento de ansiedade e in
fluenciando outros estados afetivos. Há, entretanto, poucos dados
de laboratório que sugiram que a aglomeração acarrete quaisquer
alterações significativas no desempenho de tarefas intelectuais ou de
outros tipos.
Podería parecer, então, que, embora haja considerável especula
ção sobre os possíveis efeitos negativos da aglomeração sobre o com
portamento humano, estão faltando dados que comprovem as espé-
180
culaçõcs. Obvinmcnle, precisamos realizar muito mais pesquisas,
tanto de campo como de laboratório, antes de podermos ter conhe
cimentos fundamentais das alterações do comportamento humano que
possam resultar da aglomeração.
181
ro sempre crescente de psicólogos, sociólogos e outros cientistas
coinportamentais estão se envolvendo nas pesquisas sobre poluição.
Tem sido feita relativamente pouca pesquisa sobre os efeitos com-
portamentais da poluição. Grande parte do trabalho feito tratou
das atitudes face à poluição e dos efeitos da poluição sobre os vários
estados afetivos.
Há, naturalmente, muitas espécies diferentes de poluição, todas
elas capazes de causar fortes sentimentos negativos em diversas pes
soas. Algumas espécies de poluição, devido à óbvia ameaça à saúde,
resultarão numa reação na maioria das pessoas envolvidas, tão logo
elas se conscientizem de que existe um perigo. Desta forma, uma
liberação acidental de gás venenoso ou de algum outro poluente pe
rigoso atrairía uma reação imediata das pessoas das vizinhanças.
Na ocasião em que este livro estava sendo escrito, foi descoberta
uma quantidade desusadamente elevada de bactérias na água de beber
de um grande reservatório municipal de Eastem Seaboard. A rea
ção, neste caso, face à poluição da água, foi imediata e forte.
Nesta seção, entretanto, trataremos daqueles poluentes que po
dem ser designados como “crônicos”, aqueles a que as pessoas fi
cam expostas durante longos períodos. A maioria dos tipos de
poluição do ar são deste tipo, como o é a poluição da água. A po
luição sonora tornou-se também um problema crônico em muitas
áreas, como também a poluição por pesticidas. Estes tipos de polui
ção não têm, geralmente, um impacto imediato e dramático sobre o
indivíduo. Normalmente, não se percebe nenhuma ameaça imedia
ta à saúde e o problema é encarado como um aborrecimento, ao invés
de uma ameaça física. Muitas pessoas nem se perturbam e pare
cem adaptar-se rapidamente, tanto psicológica como biologicamente
ao ambiente poluído. Conforme será posteriormente ressaltado, a
reação do homem à poluição é um fenômeno psicológico complexo
de difícil explicação.
Poluição do ar e da água
1 82
sente realmente que alguma coisa deve ser feita sobre o caso. Con
forme veremos, isto não ocorre.
Embora praticamente não tenha sido feita nenhuma pesquisa
em torno dos efeitos da poluição sobre o comportamento, uma série
de estudos tem tentado determinar as atitudes e sentimentos das
pessoas face à poluição. A maioria destas pesquisas tem sido feita
em regiões onde ocorre alto nível de poluição e onde se chamou a
atenção do público para a sua existência mediante repetidas cobertu
ras dos meios de comunicação.
Algumas descobertas interessantes se evidenciaram nestes estu
dos. Conforme foi ressaltado no capítulo sobre os métodos de pes
quisa comportamental, os resultados obtidos das pesquisas e levan
tamentos dependem em grande parte de como as questões são ela
boradas. Por exemplo, se um pesquisador indagasse aos seus in
divíduos “Você acha que a poluição do ar é um problema primordial
para a saúde?”, poderia esperar uma porcentagem muito alta de
respostas positivas. Por outro lado, se a questão fosse formulada
em termos de “O que você considera um problema primordial de
saúde neste local?”, a resposta seria provavelmente bastante diferen
te. De fato, uma descoberta comum das pesquisas de opinião pú
blica sobre a poluição do ar é que muito poucas pessoas se queixam
espontaneamente dela, mesmo que residam em áreas onde ocorra
em níveis extremamente altos. Assim, em diversas pesquisas rea
lizadas em áreas com sérios problemas de poluição do ar, quando se
perguntou se a área podia ser considerada um lugar saudável para
se morar, uma alta porcentagem dos indagados respondeu que sim.
Entretanto, quando indivíduos indagados nesta mesma área foram
consultados sobre se eram incomodados pela fumaça, uma porcen
tagem significativa respondeu afirmativamente.
Desta forma, se o instrumento de pesquisa for formulado de
uma maneira específica, a maioria das pessoas indicará que consi
dera a poluição como uma ameaça à saúde no pior dos casos, ou um
aborrecimento no melhor.
Poder-se-ia presumir que um efeito da poluição sobre o com
portamento seria o desenvolvimento de uma atitude tipo “vamos fazer
alguma coisa sobre isto” no ânimo do público. Vimos tal desenvolvi
mento em relativamente poucos indivíduos; estes mostraram-se elo-
qüentes e assumiram larga responsabilidade nos programas de ação
que foram implantados. Entretanto, a maioria dos indivíduos não
faz nada, mesmo quando expressa interesse sobre a poluição, quan
do consultados. Por quê?
183
Figura 6-3 ' Há muitos tipos e graus de poluição e as reações de uma pessoa
dependerão do tipo e grau a que seja exposta. Embora uma pessoa venha a
ter reações negativas ao ver um rio coberto por espuma de sabão, como na
foto superior, suas reações serão, provavelmente, muito mais fortes se for
exposta à visão de milhares de peixes mortos por produtos químicos em um
rio. Fotos Abril Press.
184
Há provavelmente uinu série de razões para a falta de reação
por parte da maioria do público. Muitas pessoas carecem de co
nhecimentos sobre a natureza da poluição e têm somente um vago
conhecimento dos seus possíveis efeitos prejudiciais. Embora a fal
ta de conhecimento não signifique que não possam ser desenvolvidas
firmes posições frente ao problema (de fato, alguns dos mais deci
didos iniciadores de campanha antipoluição parecem saber muito
pouco sobre ele), geralmente é difícil combater com eficácia algo
de que pouco se sabe.
Mesmo que uma pessoa na realidade sinta intensamente que
algo deve ser feito sobre a poluição, o que pode ela fazer? A maio
ria das pessoas não tem idéia alguma sobre a quem apresentar quei
xas ou, caso tenham, muitas sentem que a sua queixa não resultará
em nada. Se uma pessoa percebe que sua posível função na reso
lução de um problema de poluição não terá nenhum efeito, prova
velmente não envidará esforço algum neste sentido.
Possivelmente, uma das principais razões pelas quais o público
tende a não fazer nada sobre os problemas de poluição é que a
resolução dos problemas implicará certamente em algum custo.
Temos poluição porque dependemos de uma tecnologia altamente
complexa e, qualquer alteração na tecnologia que possa reduzir a
poluição, está fadada a resultar em alguma alteração drástica em
nosso estilo de vida. A maioria das pessoas parece encarar a luta
contra a poluição dentro de um padrão custo-lucro. Se o lucro
parece grande e o custo reduzido, parece haver uma tendência para
se tentar fazer alguma coisa sobre o problema da poluição.
Assim, se uma fonte de poluição é diagnosticada numa indús
tria especial e o fechamento ou modificação da indústria vier a ter
pouco impacto econômico sobre a região, as atitudes das pessoas,
que moram nesta região, face à poluição causada pela indústria ten
de a ser negativa. Por outro lado, se o fechamento da indústria
resultar em perda de muitos empregos e num sério impacto sobre
a economia, as atitudes das pessoas da região face aos problemas
de poluição serão provavelmente muito diferentes. Em outras pa
lavras, o custo parece ser consideravelmente maior do que o lucro
auferido. Embora o custo seja, com freqüência, medido em termos
financeiros — impostos elevados, por exemplo — poderá, em alguns
casos, ser tal que as pessoas sejam envolvidas de uma forma muito
direta.
Os resultados de diversas pesquisas permitem afirmar com se
gurança que muitos têm interesse ou, pelo menos, expressam ter in
teresse no problema da poluição. Embora esse interesse nem sem-
185
prc seja traduzido cm ação de qualquer tipo, pode-se observar, oca-
sionalmcntc, formas de comportamento que podem ser motivadas
por atitudes face à poluição. Um exemplo é a série de demonstra
ções com finalidade declarada de chamar a atenção para os proble
mas de poluição. Um acontecimento importante é que na Califórnia,
atualmente, a emigração é maior do que a imigração; muitos daqueles
que emigram declaram que sua principal razão para a mudança é
a poluição do ar.
Outras formas de comportamento podem ser resultado direto da
poluição, mas são difíceis de ser identificadas. Obviamente, se um
alto nível de poluição resulta em perigos físicos de algum tipo, tais
como queimaduras nos olhos ou dificuldade de respiração, ocorre
rão alterações comportamentais associadas, que poderão ser consi
deradas como de responsabilidade da poluição. Se a colheita agrí
cola de alguém ou de outras propriedades forem danificadas, pode
mos esperar algumas alterações de comportamento. Tornou-se ha
bitual alguns moradores de áreas com alta taxa de poluição do ar
fugirem ocasionalmente da fumaça nos fins de semana.
Assim, a poluição pode estar modificando, em certo grau, o
comportamento recreativo, embora seja bastante provável que, se a
fumaça não estivesse presente, haveria outras razões para a fuga.
Possivelmente, a conclusão mais segura a que se pode chegar
no momento sobre os efeitos da poluição sobre o comportamento é
que não sabemos como o comportamento é afetado. Como já res
saltamos, os cientistas comportamentais estão começando a interes
sar-se nesta área e existem no momento muito poucos dados de
apoio para quaisquer conclusões.
Embora se disponha de algumas informações sobre as atitudes
face à poluição e sobre as reações comportamentais gerais, tais como
demonstrações públicas e emigração, a poluição provavelmente in
fluencia o comportamento com uma série de formas mais sutis. Pro-
valvelmente teremos que utilizar diferentes abordagens para estudar
o problema e podermos compreender essas modificações sutis. A
pesquisa de laboratório, na qual uma variável particular associada
com a poluição pode ser estudada com alguns detalhes, enquanto
outras variáveis são controladas, pode ser uma de tais abordagens.
Um exemplo de tal estudo de laboratório é o realizado por
Swan (1970), que utilizou como indivíduos da pesquisa uma série
de alunos de escola secundária residentes em Detroit. Todos os
indivíduos assistiram à apresentação de uma série de slides mos
trando diferentes ambientes urbanos, sendo-lhes perguntado qual o
problema ambiental que observavam em cada slide. A finalidade
1 86
principal do estudo era a de avaliar a consciência perceptiva da po
luição do ar.
Para se atingir esse objetivo, cada série de slides apresentava
um contínuo de qualidade de ar visível, variando de relativamente
limpo até altamente poluído. O número de slides no contínuo que
o indivíduo reconhecesse como mostrando indicador do problema de
poluição do ar foi usado como uma medida de sua consciência per
ceptiva da qualidade do ar. Swan descobriu que a consciência per
ceptiva da poluição era significativamente menor para alunos de
antecedentes sócio-econômicos baixos. Em nível hipotético, levan
tou a possibilidade de que tais alunos tivessem menos chance de
sair da cidade e ver as cores naturais do céu, vindo a aceitar a
atmosfera poluída castanho-azulada como normal. Esta conclusão
levanta uma questão interessante, com implicações para a pesquisa.
Conforme ressalta Swan, “é difícil determinar se as pessoas são efe
tivamente conscientes, perceptivamente, do ar poluído de seu am
biente, ou se tendem mais a basearem suas reações em pesquisas de
opinião pública sobre o enfoque do problema pelos meios de co
municação” (pág. 68). É de considerável importância para a in
terpretação dos dados de pesquisas de atitudes sabermos se as rea
ções estão baseadas em percepções diretas ou em informações obti
das pelos meios de comunicação.
Outros tipos de estudos de laboratório podem contribuir com
informações importantes sobre os efeitos da poluição sobre o com
portamento.
Realizaram-se estudos com diversos tipos de animais, por exem
plo, nos quais estes foram expostos a níveis extremamente altos de
poluição do ar, sendo então determinados os efeitos desta polui
ção sobre o seu comportamento e saúde em geral. É difícil, natu
ralmente, realizar estudos desta espécie com seres humanos, embo
ra seja possível, em situações de laboratório, estudar os efeitos de
alguns aspectos de poluição sobre uma pessoa. Assim, num estu
do relatado por Jones (1972), criou-se smog no laboratório e deter
minaram-se os efeitos de diversos componentes da fumaça sobre os
olhos. Os indivíduos usavam máscaras nos olhos, através das quais
era introduzida a fumaça. Usou-se o método psicofísico de limites,
com as pessoas sendo expostas a concentrações cada vez mais fortes
de fumaça durante uma série de experiências. O ponto em que a
pessoa indicou irritação nos olhos foi considerado o limiar para uma
determinada concentração e tipo de smog. Usando esta técnica, Jo
nes descobriu que a presença de hidrocarbonetos no smog é o melhor
prenúncio isolado de irritação dos olhos e que o formaldeído situa-se
logo em seguida.
187
IN STITU TO ■o ;;'
. -v
v » > U l _ I O T £ C A — c rr .
Tratam os principalm ente, nesta seção, da poluição do ar. Mui
to do que foi dito sobre este tipo de poluição é também aplicável
ao problema de poluição da água. Pesquisas indicaram que as pes
soas têm interesse a respeito da poluição da água, mas, como no caso
da poluição do ar, a m aioria não sabe ao certo o que pode fazer sobre
o problema. H á fortes reações por parte de alguns indivíduos e
grupos, o que tem levado a Agência de Proteção Ambiental a en
vidar esforços no sentido de fazer alguma coisa para sanar o pro
blema. E ntretanto, m uito pouca pesquisa acerca dos efeitos da po
luição da água sobre o com portam ento tem sido efetuada.
Poluição sonora
188
—. numerosas outras fontes, que vão da máquina de lavar aos equi
pamentos de construção, aparecem todo ano. Uma segunda razão
pela qual a poluição sonora está se agravando é que as alterações
demográficas estão levando a maior parte da população a expor-se a
fonves de ruídos. À medida que sempre mais pessoas se movem
para regiões urbanas, aumentam as densidades populacionais, que
por sua vez aumentam significativamente o número de pessoas ex
postas à poluição sonora.
A poluição sonora promete permanecer como um problema
sério. Temos poluição sonora porque é mais barato produzir pro
dutos ruidosos por meios ruidosos do que produtos silenciosos por
meios silenciosos. Desta forma, os produtores de ruído perdem in
centivo econômico para diminuir sua produção do mesmo. O público
americano é geralmente inconsciente da natureza e da magnitude do
problema da poluição sonora. Embora existam atualmente alguns
esforços do governo para reduzi-la, não estarão próximos de qual
quer forma real de solução até que o público se conscientize e exija
ação.
A natureza do som
189
Exfensâo do ondo
190
As dimensões físicas e psicológicas do som não são mais com
plexas do que as acima descritas. Por exemplo, uma alteração em
intensidade poderá produzir também uma alteração percebida na fre-
qiiência, e uma alteração na freqüência poderá resultar numa alte
ração na intensidade percebida. Além disso, encontramos raramente
os tons puros ilustrados na figura 6-4. Normalmente, os tons são
complexos e compostos de uma série de freqüências. Esta mistura de
freqüências leva a uma terceira dimensão psicológica dos sons, de
nominada timbre ou qualidade tonal. A faixa de intensidade sonora
à qual o homem reage é tão grande que a intensidade é medida
numa escala muito ampla, chamada escala decibel.
O decibel é uma relação que indica a diferença de intensidade
relativa entre dois sons. Entretanto, esta relação somente tem signi
ficado se todas as pessoas usarem o mesmo valor de referência.
O valor de referência selecionado é .0002 dinas por cm2 (o dina é
uma unidade de pressão), que é provavelmente a alteração mais baixa
na pressão à qual o ouvido é sensível. Deve-se também ter em
mente que a escala de decibel é uma escala logarítmica, o que signi
fica que, se um som é 100 decibéis mais intenso do que outro, será
10 bilhões de vezes mais poderoso. Os níveis de pressão sonora
(decibéis) de uma série de sons estão indicados na fig. 6-5. Nesta
escala, o limiar da dor é alcançado em algum ponto por volta de
125-135 decibéis. Em outras palavras, a pressão sonora por volta
deste nível faz efetivamente com que uma pessoa experimente uma
sensação dolorosa.
191
Ruídos comuns
Nível de pressão Fontes de ruído
cm decibéis *
130 -
Motor a jato a 75 pés
120 “
110 -
Metrô
100 -
90
Motor de 10 cavalos a 50 pés
80
Conversa a 3 pés
60
50 Auto silencioso
30
Sussurro a 5 pés
20
10
Figura 6-5 Níveis de pressão de som para uma série de sons diferentes. De
Heimstra, N . W. e Ellingstad. V . S., Human behavior: A sysíems approach,
Monterey, Calif.: B rooks/C ole, 1972.
192
temente, não é o som em si que 6 indesejável mas a informação que
o som carrega. Por exemplo, se fôssemos acordados durante a noite
por um som que reconhecéssemos como indicativo de um intruso,
a informação, e não o som, seria indesejável. Assim, não conside
raríamos estes sons como um ruído na forma em que consideramos
outros tipos de sons indesejados, numa situação particular. As
pessoas julgam bastante freqüentemente estes últimos tipos de sons
como indesejados, inoportunos ou condenáveis e são estes tipos de
sons que provocam a poluição sonora.
Entre as características físicas de um som que resulta no fato
da percepção do mesmo como ruído, a intensidade parece ser a mais
importante. Entretanto, a freqiiência é também um fator; sons de
elevada altura mais provavelmente podem vir a ser considerados in
desejáveis ao contrário daqueles de baixa. De igual modo, um som
intermitente é usualmente considerado indesejável com mais frequên
cia do que um som contínuo, de mesma freqiiência e intensidade.
A duração, os aumentos e diminuições de intensidade, o conteúdo do
espectro e outras características físicas são também associados ao
grau de ruído percebido de um determinado som.
Como é de se esperar, uma série de fatores situacionais são
importantes na determinação da percepção de um som como ruído.
Seria impossível relacionarmos todos os fatores situacionais, mas
podemos proceder a algumas generalizações. Quando um som in
terfere em alguma atividade em andamento, o som tem de ser per
cebido como indesejado, mesmo que as suas características físicas
possam ser tais que não implicariam normalmente em reconhecimento
do mesmo como ruído. Quando algum som interfere com a comu
nicação pela fala, por exemplo, há uma alta possibilidade de ser
considerado indesejado. Quando o sono é perturbado por um som,
este tem ainda maior probabilidade de ser considerado indesejado.
Os sons podem interferir na concentração de uma pessoa, no seu
descanso, trabalho, e assim por diante. Em geral, quando um som
interfere em alguma atividade, torna-se ruído.
A personalidade do indivíduo e sua experiência anterior atuam
também com a situação e com as características do som para de
terminar se o mesmo será considerado indesejado. Pesquisas indi
cam, por exemplo, que introvertidos e extrovertidos reagem aos sons
de forma diferente. Há alguma evidência de que as queixas a res
peito de ruídos provêm desproporcionalmente de pessoas neuróticas
e que os indivíduos que são mais aborrecidos pelo barulho podem
ter dificuldades de ajustamento pessoal.
193
As atitudes, avaliados pela experiência anterior do indivíduo,
desempenham um papel im portante no nível percebido de ruído. A
atitude do ouvinte perante um a fonte de som é crítica na determina
ção da percepção do som com o ruído. D esta forma, o som de um
cortador de gram a do vizinho poderá não incom odar uma pessoa, ao
passo que o som de um a m otocicleta incom odará.
Obviamente, então, se um som é ou não percebido como inde-
sejado c, consequentem ente, com o ruído, é assunto de definição
complexa que depende de um a série de variáveis que foram justa
mente m encionadas nesta seção. Os engenheiros estão sendo cada
vez mais consultados para predizer se o som de uma peça de equi
pamento, uma nova rodovia ou um novo aeroporto será percebido
como ruído pelas pessoas a eles expostas. Tais predições, no melhor
dos casos, são freqüentem ente tím idas suposições, uma vez que não
há dados disponíveis necessários para que as predições sejam feitas
com um alto grau de exatidão.
194
que estão envolvidas muitas variáveis. Como no caso da poluição
do ar, uma porcentagem significativa de pessoas em uma comunidade
exposta a altos níveis de ruídos indicará que consideram o ruído como
um problema. Os mesmos apontarão, geralmente, como uma das
razões o fato de que o ruído interfere nas conversações, no sono,
e assim por diante, É característico, entretanto, que não tentarão
fazer qualquer coisa sobre o problema a menos que o ruído seja
muito alto. Se o nível do ruído alcançar 90 decibéis, ou por volta
disto, muitas das pessoas reagirão violentamente através de queixas,
ameaças e ação.
Têm sido relativamente numerosas as investigações de atitudes
da comunidade para com o ruído e os fatores que as modificarão.
Como se podería esperar, quando a fonte de ruídos é um fator eco
nômico primordial na comunidade, as atitudes face ao ruído são
mais favoráveis do que em caso contrário. Muitos outros fatores
situacionais e pessoais, tais como o tipo de distúrbio desenvolvido
pelo ruído e quando o ruído ocorre, determinarão atitudes face à
poluição sonora. A pesquisa sugere também que podem ser esta
belecidas atitudes mais favoráveis face ao ruído, algumas vezes por
métodos bastante simples. Por exemplo, cartas aos cidadãos expli
cando uma fonte de ruídos e discutindo sua necessidade revelaram
ser, em um estudo, elemento de redução significativa da porcentagem
de pessoas que consideravam o ruído como uma inconveniência.
Descobertas semelhantes foram relatadas nas proximidades de bases
aéreas militares quando o público foi conscientizado da importância
da base e dos esforços que estão sendo feitos pelos pilotos para con
forto e segurança dos cidadãos.
Embora estudos demonstrem que os membros de uma comuni
dade têm freqüentemente atitudes negativas para com a poluição
sonora, estas atitudes são raramente traduzidas em ação. Talvez
a melhor conclusão sobre a reação da comunidade ao ruído é que
essa reação é muito reduzida. Embora leiamos ou ouçamos ocasio
nalmente sobre um grupo que toma medidas legais contra alguma
fonte de ruído, tal como um aeroporto ou uma indústria, conside
rando-se a magnitude do problema, as reações são certamente mí
nimas.
Os efeitos dos ruídos sobre o desempenho. Um grande número
de estudos tem tratado dos efeitos do ruído sobre o desempenho de
diversos tipos de tarefas, mas as descobertas são ambíguas. Os
resultados de algumas investigações demonstram que o ruído tem
um efeito prejudicial sobre o desempenho, outros estudos não mos
tram nenhum efeito e outros revelam ainda que o ruído facilita o
195
desempenho. O que se tornou evidente é que os efeitos do ruído so
bre o desempenho dependem das características do ruído, da tarefa c
do indivíduo. A freqüência e a intensidade do ruído, bem como ou
tras características físicas, ajudam a determinar os efeitos do ruído so
bre o comportamento. A intermitência aparece como uma variável
física particularmente im portante; em diversos estudos em nosso la
boratório (W arner e Heimstra, 1971, 1972, 1973), o ruído intermi
tente com uma relação liga-desliga de 30% (1,5 segundo ligado,
3,5 segundos desligados) facilitou o desempenho de uma série de
tarefas.
Variáveis de desempenho im portantes na determinação dos efei
tos do ruído incluem fatores sobre como é difícil a tarefa, se a mesma
requer estado constante de alerta, se é largamente psicomotora ou
principalmente mental e quanto tempo demora sua execução. As
variáveis pessoais incluem tanto fatores transitórios como relativa
mente permanentes. O estado de ânimo ou motivação de uma pessoa
numa dada ocasião é um determinante importante dos efeitos do
ruído, como o são a personalidade, idade, sexo e atitudes. A previ
sibilidade do ruído e a possibilidade ou impossibilidade de uma
pessoa controlar seu término influenciam o nível de aborrecimento
por ele causado e seu efeito sobre o comportamento (Reim, Glass e
Singer, 1972; Glass e Singer, 1972). Entretanto, todas as variáveis
associadas com o ruído, a tarefa e a pessoa interagem segundo for
mas imprevisíveis e torna-se difícil precisar exatamente os efeitos do
ruído sobre o desempenho.
Ruído e saúde. Uma longa exposição a um ruído de alta in
tensidade resulta efetivamente em perda de audição. Porque este
fato foi bem estabelecido, o governo tem disposto padrões de per
missão a exposições a ruídos. Por exemplo, sob estes padrões, o nível
máximo de som permitido para um trabalho de 8 horas por dia é de
90 decibéis. Uma pessoa poderá ficar exposta a 100 decibéis so
mente duas horas por dia e a 110 decibéis somente meia hora. Em
bora a maioria das pessoas esteja protegida, ao menos enquanto tra
balha, fica frequentemente exposta a níveis de ruído que excedem os
limites permissíveis de exposição em outras situações. Por exemplo,
em discotecas e em concertos de rock, a música é freqüentemente exe
cutada por longos períodos em níveis que chegam por volta de 110
db e às vezes até 120 db. Diversos estudos têm indicado que as
pessoas que passam grande parte do tempo ouvindo música nestas
situações sofrem de danos tem porários ou permanentes de audição.
Foram apresentados relatos de que a longa exposição ao ruído
poderá resultar em problem as de saúde mental para algumas pessoas,
196
mas esta conclusíío não eslá bem documentada. Há também algu
ma evidência de que poderá haver diferenças de saúde entre grupos
sujeitos a diferentes exposições ao ruído. Um estudo europeu relata
correlações existentes entre irregularidades cardiovasculares e expo
sição ocupacional a ruído intenso; e um estudo realizado na Rússia
descobriu que os adultos que moram próximos a aeroportos tinham
uma taxa de morbidez mais elevada do que as pessoas que moravam
a alguma distância do mesmo. Outros estudos dos europeus sugerem
que a longa exposição a ruídos poderá ainda ter outros efeitos sobre
a saúde.
Nos Estados Unidos, a opinião predominante entre peritos em
ruídos é de que a tolerância do homem ao barulho é alta e que é
possível a adaptação às condições atuais do ruído sem efeitos físicos
danosos. Esta opinião tem sido contestada, entretanto, por pesqui
sadores do Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos. Anti-
gaglia e Cohen (1970) declaram:
“Não há qualquer dúvida de que o Tuído e o som podem causar
alterações fisiológicas. A questão é saber se as exposições repeti
tivas aos mesmos, a longo prazo, podem induzir a alterações físicas
que sejam eventualmente degeneradoras da saúde de uma pessoa.
A posição dos peritos dos Estados Unidos de que o ruído não tem
quaisquer efeitos danosos é difícil de ser defendida, neste momento,
em vista da falta de um estudo sistemático e de dados objetivos nesta
área. Por exemplo, nunca foram empreendidas pesquisas epidemio-
lógicas relacionadas com a incidência de dores agudas e crônicas em
diferentes grupos de trabalho neste país, e as mesmas tomaram-se
gravemente urgentes. Tais informações poderíam corroborar ou
refutar as descobertas da literatura européia que.. . sugerem asso
ciações claras entre o ruído e os efeitos adversos à saúde.”
197
mudam da área ou níio procedem a qualquer outra ação que possa
aliviar o problema.
Conforme ressaltam Maloney e Ward (1973), ao discutir sua
pesquisa nesta área, “a maioria das pessoas declara estar disposta
a fazer muita coisa para auxiliar a refrear a poluição e seus proble
mas c que se acham bastante emocionalmente impelidas a isto mas,
na verdade, fazem efetivamente pouca coisa a respeito e sabem ainda
menos” (pág. 585). Grande parte do estudo sobre os efeitos com-
portamentais da poluição têm sido pesquisas de comunidades para
determinar a porcentagem de pessoas que são incomodadas por um
determinado poluente. A obtenção de dados deste tipo é relativa-
mente simples, mas não nos diz muito sobre os efeitos comporta-
mentais da poluição. Se as pessoas são de fato incomodadas, entre
tanto, é provavelmente seguro dizer-se que seu comportamento foi
modificado de alguma forma, talvez sutilmente, de maneiras difíceis
de se medir. Poderiamos perguntar: Quais alterações no estilo de
vida ocorrem quando há exposição crônica à poluição? Os relacio
namentos sociais, tanto dentro como fora dos grupos familiares,
alteram-se de alguma forma? O estado afetivo de uma pessoa é de
alguma forma alterado? Estas questões e muitas outras permane
cem sem resposta.
Um ponto tomou-se óbvio, através da pesquisa nesta área. Caso
se queira achar respostas significativas às questões levantadas sobre
a poluição e o comportamento, haverá a necessidade de técnicas so
fisticadas de pesquisa. É claro que o relacionamento comporta-
mento-poluição é extremamente complexo, sendo influenciado por
muitas variáveis. As características físicas do poluente, a situação
em que a pessoa fica exposta ao mesmo e as características da pró
pria pessoa interagem, todas, de forma complexa, para determinar
exatamente que efeitos comportamentais ocorrem. Estamos longe
do ponto em que poderemos predizer os efeitos de um poluente sobre
o comportamento.
Não enfatizamos, neste capítulo, os possíveis efeitos prejudiciais
dos diversos tipos de poluição sobre a saúde. Se a poluição efe
tivamente afeta a saúde, então é óbvio que ocorrerão também efeitos
comportamentais. Desta forma, uma pessoa cuja audição tenha sido
permanentemente prejudicada pela exposição a ruídos elevados com-
portar-se-á de forma algo diferente do que fazia antes de ter ocorrido
esse dano. Entretanto, à parte a perda de audição demonstrada,
causada por ruídos, há ainda uma pergunta que preocupa muitos
investigadores: Quais os efeitos da poluição do ar e sonora sobre a
saúde?
1 98
Uma conclusão que pode ser tirada da pesquisa sobre a poluição
e comportamento é aquela com que o leitor já está bastante familia
rizado: são necessárias mais pesquisas. Embora um número cres
cente de cientistas comportamentais esteja começando a estudar este
assunto, considerando-se a magnitude do problema, este número é in
significante. A soma de dinheiro disponível para pesquisa no campo
é também mínima. Oxalá alguém tentasse rever a literatura sobre
poluição e comportamento dentro de cinco anos a partir de agora,
e então havería mais dados a considerar a este respeito. Certamente,
entretanto, na proporção em que a pesquisa está sendo realizada no
momento, não há qualquer garantia neste sentido.
ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE
199
luz que não seria detectada antes da adaptação é facilmente detectada
após a mesma ter ocorrido. Entretanto, no caso de adaptação
cutânea, os receptores tornam-se menos eficientes.
Desta forma, enquanto um indivíduo pode sentir um suéter em
seu corpo quando o veste pela primeira vez, em pouco tempo não o
sentirá mais. O paladar e o olfato adaptam-se também rapidamente.
A maior parte das pesquisas sobre adaptação tem envolvido di
mensões simples de intensidade sensorial, tais como claridade da luz,
temperatura e odor, e tem sido realizada sob condições de laborató
rio cuidadosamente controladas. A adaptação ao ambiente do
mundo real é, indubitavelmente, muito mais complexa, devido às
características multidimensionais dos estímulos envolvidos. Quando
se tenta generalizar com base nas conclusões de estudos de labora
tório para a adaptação ao mundo rea), uma questão levantada por
Wohlwill (1970) deverá ser sempre lembrada: “Como são consi
derados os atributos de estímulos, tais como complexidade, incon
gruência, ambigüidade, ou o caráter multidimensional de experiên
cias rotineiras, como aquelas a que está sujeito um usuário do metTÔ
de Nova York ou das freeways de Los Angeles?” (pág. 307). Em
bora saibamos que o homem é dotado de uma excelente fisiologia
adaptativa e que efetivamente se adapta a muitos tipos de ambientes
construídos e naturais, há muitas questões sobre este processo às
quais ainda não há respostas.
«
Uma questão trata das características ou dimensões dos estí
mulos que são importantes no processo de adaptação. A intensida
de do estímulo é, naturalmente, uma dimensão importante e tem
sido de interesse para os planificadores, durante algum tempo, con
forme indicado pelas suas tentativas de fornecerem níveis especifi
cados de ruído e iluminação. Wohlwill (1966) ressalta outras
dimensões de estímulo, que podem ser de importância: complexidade,
variação, seu caráter inesperado e incongruência. Mas como um
pesquisador determina e manipula dimensões como o caráter ines
perado e a complexidade, para estudar a adaptação aos mesmos? Por
ser tão difícil esta tarefa, não dispomos de muitas informações sobre
estes aspectos do ambiente físico e sobre a adaptação a eles.
Outra questão-chave trata dos limites de adaptabilidade. Tanto
o senso comum quanto alguns dados empíricos indicam que há limi
tes mas, até agora, sabemos relativamente pouco sobre os mesmos
ou sobre o comportamento a ser esperado quando os limites são
atingidos. Presume-se geralmente que há um nível ótimo de esti
m ulação'ao longo das dimensões de estímulos acima Telacionadas e
que estímulos em grau muito baixo ou muito elevado podem ter
200
efeitos prejudiciais. De fato, as pesquisas de privação sensorial, em
que os indivíduos são deliberadamente privados de grande parte de
sua experiência sensorial normal, têm demonstrado que, sob estas
condições, ocorrem alucinações e outros efeitos comportamentais.
Caracteristicamente, entretanto, as condições ambientais são tais que
ocorre estimulação excessiva, ao invés de estímulo em pouca inten
sidade. Quando estes limites excessivos são atingidos pode ocorrer,
em alguns casos, doença física ou mental. Em outras situações, há
probabilidade de ocorrerem efeitos mais sutis — nervosismo, irrita
bilidade, e assim por diante. Indubitavelmente existem acentuadas
diferenças individuais em nível de tolerância à estimulação, mas,
novamente, sabe-se relativamente pouco sobre este tópico.
Uma última questão é aquela dos efeitos da adaptação a longo
prazo. Wohlwill (1966) indaga: “Quais são os efeitos a longo
prazo da exposição a um dado ambiente caracterizado por um nível
especial de intensidade, complexidade, incongruência, etc., de esti
mulação?” (pág. 36).
Prossegue, então, com a questão de “se, a despeito da capaci
dade individual de adaptação a uma faixa surpreendentemente ampla
de condições ambientais, a exposição prolongada aos ambientes de
estímulos, chegando por exemplo aos extremos das dimensões de
complexidade ou intensidade, não obstante pode não deixar sua
marca”. Este tipo de exposição tem provavelmente uma série de
efeitos comportamentais. Lembremos, por exemplo, nossa discussão
sobre sobrecarga de sistema, experimentada por pessoas que moram
em cidades, e as reações adaptativas que se supõe desenvolver, para
redução da sobrecarga. De acordo com a teoria de sobrecarga do
sistema, muitos dos tipos de comportamento tidos como caracterís
ticos de habitantes urbanos podem ser considerados reações adapta
tivas que se desenvolveram devido a longa exposição a estimulação
excessiva.
Por conseguinte, a adaptação ao ambiente constitui um processo
que realmente ocorre, mas sobre o qual pouco sabemos. Uma vez
que a adaptação pode resultar numa ampla gama de comportamentos,
este assunto deveria ser um campo importante de pesquisa para os
interessados nas relações comportamento-ambiente. Embora vários
pesquisadores estejam começando a dedicar alguma atenção ao pro
blema, questões como as acima mencionadas ainda não têm respostas.
201
Epílogo
Psicologia ambiental:
e agora, que rumo vai tomar?
203
O aumento no nível de pesquisa cm psicologia ambiental de
penderá de uma série de fatores, que vão desde necessidade de maio
res fundos até a alteração das atitudes atuais dos psicólogos em
relação á pesquisa deste tipo. Toda pesquisa é onerosa e as pes
quisas no campo da psicologia ambiental não constituem uma ex
ceção. Embora os programas atuais de pesquisa em muitas áreas
sofram cortes nos fundos a eles destinados, estes programas ainda
são, em muitos casos, viáveis. A maioria das áreas de pesquisa em
psicologia ambienta], entretanto, nunca teve apoio financeiro adequa
do e a pesquisa atual tem concessões e contratos insuficientes, de
forma que é difícil para os investigadores da área a continuação dos
programas de pesquisa que existiram por algum tempo; e os novos
pesquisadores são desencorajados a ingressar neste campo. A menos
que haja disponibilidade de verbas adicionais, não veremos em fu-v
turo próximo um aumento sensível das pesquisas relacionadas com
o campo de psicologia ambiental.
A concessão de verbas é um fator crítico, mas a pesquisa ocupa
também mão-de-obra e relativamente poucos psicólogos acham-se
agora interessados em psicologia ambiental. Conforme ressalta Craik
(1973): “À luz do número de equipes atualmente em pesquisa, ao
longo do ponto de contato comportamento-ambiente, toma-se evi
dente que o campo poderia suportar um aumento significativo na
mão-de-obra de pesquisa, embora ainda perdure o seu status de cam
po de comportamento subexplorado” (pág. 412). Isto poderá ser
alterado, caso se tomem as providências necessárias para sanar o
problema de concessão de verbas.
Poderemos ver, entretanto, mais psicólogos ocupando-se da
área de psicologia ambiental. Em primeiro lugar existe agora a
disponibilidade de programas de treinamento graduados, para que os
alunos obtenham títulos avançados. Embora estes programas sejam
raros e preparem apenas alguns alunos, uma tendência geral em mui
tos deles poderá resultar em números substanciais de graduados que
possam contribuir para o campo de psicologia ambiental. Os pro
gramas graduados reconhecem, sempre mais, que o treinamento tra
dicional não tem preparado os alunos para as situações do mundo
real — para a pesquisa relativa aos problemas que pressionam a
sociedade moderna. Deverão ser apresentados aos alunos métodos
de pesquisa que não o estrito enfoque experimental, onde uma entre
todas as variáveis é controlada; igualmente, deverão ser alteradas as
atitudes para com as pesquisas voltadas para a resolução de pro
blemas do mundo real. A “pesquisa aplicada” não é mais uma área
para alunos que não poderíam dedicar-se à pesquisa “pura” ou “bá
sica”. Deverá haver, em futuro próximo, mais graduados interessa
dos na realização de pesquisas em psicologia ambiental.
204
Serão utilizadas as descobertas das pesquisas? A resposta cen
traliza-se nos relacionamentos de três grupos: os pesquisadores em
psicologia ambiental, os usuários potenciais das descobertas das pes
quisas (arquitetos, planejadores, entidades governamentais) e os
usuários últimos do ambiente, o público em geral.
Existe, atualmente, um problema para os que tomam decisões
quanto a problemas ambientais. Se desejam considerar os efeitos
comportamentais de suas decisões, os dados comportamentais para
um planejamento inteligente provavelmente não existam. Entretan
to, Ward e Grant (7970) apontam:
“Nota-se que outro problema grave tem sido o fato de que o
planejador não tem sabido quais os tipos de dados de que necessita
em primeiro lugar, independentemente de existirem ou não. Um ter
ceiro problema, o maior de todos, é que, se o planejador sabe qual
tipo de dados seria útil e se, como tem ocorrido cada vez mais nos
últimos anos, sabe da disponibilidade dos dados, não sabe como in
corporá-los em seu processo de tomada de decisões” (pág. 2).
A solução destes problemas define áreas adicionais de respon
sabilidade para futuros cientistas do comportamento, em pesquisa
ambiental. Em primeiro lugar, o pesquisador deverá auxiliar os
planejadores ambientais a determinar quais informações se aplicam
ao problema. Por exemplo, os planejadores necessitarão de medidas
de atitudes ou medidas de atividade? Quais atitudes ou atividades
representam efeitos de decisão de planejamento? Estes tipos de
questões exigem respostas antes da coleta de dados. Em segundo
lugar, o pesquisador não deverá somente projetar suas investigações
para responder a perguntas pertinentes; deverá também transformar
suas descobertas em instrumento inteligível para os planejadores. O
pesquisador deverá apresentar também mais do que observações in-
cidentais ou resultados de manipulações estatísticas de dados para in
fluenciar pessoas no planejamento ou administração ambientais.
Finalmente, o pesquisador deverá difundir suas descobertas entre os
que possam necessitar de suas informações.
Além de cooperar com as pessoas que tomam decisões em assun
tos ambientais, na formulação de novos métodos de planejamento e
administração baseados em resultados de pesquisa, o futuro pesqui
sador ambiental deverá atuar como defensor ou representante dos
últimos usuários das instalações ambientais e pré-construídas exis
tentes. No momento, os planejadores e administradores não são res
ponsabilizados pelos efeitos comportamentais que suas decisões pos
sam ter. Portanto, o cientista do comportamento envolvido em
205
^ INSTITUTO- : • r- .C O L O G U
«IILIOTECA — r t - O r A O <j A ç g ^
pcsqulsu ambiental deverá fornecer informações básicas aos que
tomam decisões sobre o sucesso ou falha comportamental de seus
projetos. Esta exigência poderá ser rigorosamente atendida median
te rígida avaliação dos ambientais existentes; por exemplo, projetos
habitacionais públicos, parques, desenvolvimentos de subúrbios, sis
temas de transporte na cidade — para determinar as necessidades e
desejos dos consumidores ambientais. Estas informações, por sua
vez, deverão ser comunicadas aos que tomam decisões. Finalmente,
a aceitação pública de tais investigações de pesquisa aumentará, à
medida que o público mais se conscientizar da influência que o am
biente tem sobre a vida diária.
A atitude do público em geral perante o ambiente e os problemas
ambientais influenciarão o futuro desenvolvimento da psicologia am
biental. Este campo atingiu seu estágio atual devido ao interesse
do público pela deterioração do ambiente físico, por problemas de
população e outros, abordados neste livro. Tal interesse e atenção,
entretanto, poderão mudar abruptamente e, se isso acontecer, dimi
nuirá o apoio a todas as ciências ambientais, inclusive a psicologia
ambiental. O público parece sentir os esforços voltados para a pro
teção do ambiente como válidos, enquanto não houver impacto
significativo sobre o seu próprio comportamento. Os esforços de
entidades governamentais terão efeitos pronunciados sobre o com
portamento; entretanto, se tais efeitos forem por demais dramáticos,
os “ambientalistas” poderão ser condenados, ao invés de aplaudidos.
Para onde vai a psicologia ambiental, de agora em diante? Não
respondemos a esta questão. Ressaltamos, entretanto, o que deverá
acontecer se o campo vier a expandir-se significativamente daqui a
alguns anos.
A concessão de verbas, a mão-de-obra, a aplicação das desco
bertas das pesquisas e a atitude pública são fatores decisivos. A
psicologia ambiental deu e dará contribuições para auxiliar a resolver
alguns dos problemas que atualmente pressionam a sociedade. O
reconhecimento crescente deste fato resultará em um forte desenvol
vimento do campo.
206
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214
Índice
215
coletivas, hnbitnçõcs escritórios
— ntividndc social nas 61-62 — iluminação em 73
— crime nas 61-64 — janelas em 73
— patologia nas 110 — privacidade nos 76
— privncidndc nas 53-57 — protótipo 75
comportnmcntnl, desmoronamento — ruído nos 74
176 espaço defensável
comportamento — crime e 62-64
— como uma variável dependente — definição de 62
16-23 espaço pessoal
— definição de 5 — definição de 42
— de furar fila 122 — diferenças culturais 42
contexto ambiental — diferenças individuais 42
— apresentação do 14-15 espectadores, intervenção de 120-122
— definição de 15 experiência estética
— imaginário 16, 102 — critério para áreas naturais 136-
— representação do 103, 106-107 139
conversação e a disposição do mo — usuário de áreas naturais 137
biliário 37-39
cor Habitação
— da sala e comportamento aberto — atividade social 51-52
32 — coletiva 53-64
— influência da cor de uma sala — individual 47-53
na percepção da temperatura do — insatisfação 57-61
ambiente 30-31 — material estrutural 53
— na percepção de salas 30-33 — privacidade 47-49, 53-57
crime — território 49-50
— e áreas das unidades habitacio hipótese tonalidade-calor 31
nais 64 hodômetro 33
— e densidade de população 109
— e unidades habitacionais públicas Iluminação, em escritórios 73-74
61-64 individual, habitação familiar
— influência da altura das constru — atividade social 51
ções no 62 — privacidade 47-48
— influência do hall 64 — território 48-50
— nas cidades 107 — valor à 47-49
— poços de escadas e elevadores instituições de doentes mentais
63 — atividade social 83-87
crise urbana 94-95 — disposição do mobiliário 86-87
— privação sensorial 88
Determinismo ambiental 148-149 — privacidade 88
diferencial semântico 18 isolamento, importância dada ao 134
distância fundamental 57
Janelas
Educação — importância em escritórios 72-74
— pesquisadores ambientais 204 — importância em salas de aula 41
— usuários de parques 130 jardinagem 143-144
enchentes, como uma catástrofe na
Lista de Verificação de Adjetivos de
tural 156-157
Estados de Ânimo (MACL) 20
escritório de ação 69-72
escritório de planta aberta Mapa cognitivo
— comparado a escritórios conven — componentes do 103-104
cionais 75-76 — definição de 101
— condições de trabalho no 76-77 mapeamento cognitivo
— descrição do 75 — como uma reação global 21
216
— uso da técnica do 103-106 — ruído 188-197
materiais estruturais, influôncia na população, crescimento da, estágios
privacidade 53 do 170
meio ambiente — densidade de, definição de 164-
— escritórios 71-74 165
— hospitais 81 -------estudos de campo com ani
— poluição do 181-188 mais 167-170
— ruído no 188-197 -------estudos de laboratório com
— salas 33-35 animais 167-170, 174
mobiliário, arranjo do ------- fatores de stress adicionais
— atividade social em enfermarias 174-176
mentais 87 -------reações comportamentais dos
— escritórios 67-72 animais 172-173
— pesquisa básica 37-38 -------reações físicas dos animais
— planejamento do 67-68 167-170
— salas de aula 39-40 ------- stress social 166-170
— ver superpopulação
Papel dos pesquisadores ambientais portas, colocação das
205 — influência na amizade 51-52
parques, ver recreação ao ar livre — influência na privacidade 53-56
percepção de catástrofes naturais privação sensória em instituições psi
156-157 quiátricas 88
pesquisa, métodos de privacidade
— abordagem ecológica 80-81 — em habitações coletivas 53-57
— apresentação das variáveis inde — em habitações familiares indivi
pendentes 14-16 duais 47-48
— estudos de campo 8-9 — em hospitais 82
— estudos de laboratório 159-160 — em instituições penais 89
— hodômetro 33 — em instituições psiquiátricas 88
— interações no ambiente humano psicologia ambiental
natural 128-129 — considerações para o futuro 203-
— lista de verificação de objetivos 206
129 — definição 2
— mapeamento cognitivo 101, 102- — história 1-2
107
— método experimental 8-9 Reações
— método de observação naturalís- — fisiológicas a ambientes naturais
tica 9-10 159-160
— método de testagem 10-12 — globais, como uma medida de
— pesquisa de levantamento 11, 23- pendente 20-21
25, 129 — inferenciais, como uma medida
— seleção de indivíduos 23-25 dependente 21-22
— técnica de mapeamento compor- — preferenciais, como medidas de
tamental 84-85 pendentes 23
recreação ao ar livre
— teste de Apercepção Temática
— ambientes naturais simulados
158 143-148
poluição — áreas virgens e parques 129-143
— como uma ameaça ao ambiente — características do usuário 130-
182 143
— consciência da poluição do ar — como meio de fuga ao stress
186 132-133
— do ar e da água 181-188 — fases da 146-148
— fatores de, influenciando atitudes — necessidades do usuário 133
183-185 — requisitos do usuário da 133-137
217
— superpopulação 133 — poluição 181-197
— tipos dc 127-128 — ameaça de 162-163
ruído — problemas sociais como causa
— definição dc 188, 192-193 de 164
— c desempenho humano 195-196 — reações ao 163
— cm escritórios 74 — superpopulação de animais 166-
— c patologia nas cidades 110 177
— c saúde 196-197 — superpopulação humana 177-
— fatores físicos na percepção 193 180
•— fatores situacionais na percepção superpopulação
do 193 — áreas de recreação e 133
— nos subúrbios 100 — definição 164
— reação da comunidade ao 100 — e doença mental 110
— efeitos nas cidades 177-179
Salas — investigações de laboratório 177
— conforto ambiental e comporta — variáveis envolvidas na percep
mento 33-35 ção da 165
— cor e comportamento 30-33 — ver também população, densida
— defesa do território nas 44-45 de de
— forma e percepção 36
— forma e territorialidade 45 Temperatura
— mobiliário, como determinante de — aglomeração e 179
comportamento 37-41 — de escritórios 72
— tamanho e comportamento 35 — de salas 30-31
salas de aula territorialidade, definição 44-45
— disposição das, como um deter território
minante comportamental 39-41 — defesa em salas 45-46
— janelas nas 40-41 — em favelas urbanas 98
satisfação
— em habitações coletivas 62
— áreas virgens e parques 133-138
— em habitações familiares indivi
— e moradores de favelas 96-98 duais 48-49
— e moradores de subúrbios 99-100
Teste de Apercepção Temática 21
— e usuários de áreas selvagens
142 Unidades habitacionais públicas
— e vida na cidade 95-100 — atividade social 61
secas 158 — crime 61-64
sistema, sobrecarga de — insatisfação 57-61
— definição 112 — privacidade 53-60
— diferenças entre comportamento usuários de parques, ocupações dos
urbano e rural 115-118 130
— mecanismos adaptativos 113
— reação ao 112-114 Variáveis dependentes
som — em ambientes construídos 92
— características do 189-190 — tipos de 17-20
— mensuração do 191 variáveis independentes
stress — definição de 12
— calor 160 — no ambiente construído 92
— causa de 161-162 — tipos de 13
— estado de 161 viajar (movimentar-se)
— fatores múltiplos de 174 — atividade ao ar livre 147-148
— frio 160 — em hospitais 78
— migração humana 155 — recreação ao ar livre 147
218
O tema central desta obra é o relacionamento entre
o ambiente físico e o comportamento humano,
comportamento é profundamente moldado pelo
mbiente — tanto pelo ambiente “construído”
uanto pelo ambiente “natural”. Um conhecimento
ada vez mais completo dos efeitos desta
ontínua influência é necessário para compreender
s causas do agir humano e planejar um ambiente
ais adequado às aspirações do homem para
ma vida melhor.
«p.u.
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