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Introdução
1. Teoria e prática
Além disso, na Europa, muito mais sem dúvida do que nos Estados
Unidos, possuímos condições materiais muito pouco satisfatórias nas
universidades. Elas encontram-se superpovoadas. Milhares de estudantes
são obrigados a ouvir os seus professores através de sistemas de escuta.
Não podem falar com o professor ou ter com ele quaisquer contactos,
trocas normais de opiniões ou diálogos. As condições de alojamento e de
alimentação são também más. Factores suplementares alimentam a
energia da revolta estudantil. No entanto, devo insistir no facto de que tua
principal razão da revolta persistiria mesmo se tais condições materiais
fossem melhoradas. A estrutura autoritária da Universidade e o conteúdo
inadequado do ensino recebido, pelo menos no domínio das ciências
sociais, são muito mais causas do descontentamento do que o são as
condições materiais.
Também neste caso não é uma observação teórica que nos cai do céu.
É uma lição da experiência prática. O movimento estudantil europeu, pelo
menos a sua ala revolucionária, atravessou muitas experiências em
praticamente todos os países da Europa Ocidental. Esquematicamente, o
movimento estudantil começou por enfrentar problemas respeitantes à
Universidade e muito depressa ultrapassou os limites da Universidade.
Desenvolveu-se colocando uma série de questões sociais e políticas gerais
que não estavam directamente ligadas ao que se passava na
Universidade. O que se passou em Columbia, em que a questão da
opressão da comunidade negra foi posta pelos «estudantes rebeldes»,
assemelha-se ao que ocorreu no movimento estudantil europeu, pelo
menos entre os elementos mais avançados que se mostravam muito
sensíveis aos problemas dos sectores mais explorados do sistema
capitalista mundial.
Existem ainda uma razão mais importante pela qual uma tal
organização-partido é necessária. Porque sem ela, nenhuma unidade de
acção permanente com a classe operária industrial, no sentido mais amplo
do termo, pode ser adquirida. Enquanto marxista, continua convencido de
que, sem a acção da classe operária, e impossível derrubar a sociedade
burguesa e construir uma sociedade socialista (Palmas).
Ainda aqui, de uma forma notável, nós vemos como a experiência dos
movimentos estudantis, primeiro na Alemanha, e depois em França e em
Itália, chegaram na prática a esta conclusão teórica. Os mesmos tipos de
discussões que têm agora lugar nos Estados Unidos sobre a importância
ou não da classe operária industrial para a acção revolucionária foram
travadas há um ano, ou mesmo há seis meses, em países como a
Alemanha e a Itália.
Nanterre foi um dos primeiros campus fora da cidade, ali onde antes
era praticamente um terreno vazio. Levava-se muito tempo para chegar à
Nanterre. Havia aí um outro simbolismo também : a universidade foi
construída no meio de favelas de trabalhadores argelinos, de onde
partiram as manifestações contra a guerra da Argélia e em apoio à
independência do seu país, as quais tiveram cem mortos em Paris em
1961. Este tipo de campus hoje se generalizou, mas, naquela época, foi
um dos primeiros a ter estas características de um pólo universitário fora
da cidade, onde os estudantes não iam somente para estudar. Era um
lugar de vida. Passávamos ali o dia inteiro. Todas as reivindicações
relativas à questão universitária, aos problemas de formação, e ainda
sobre a vida cotidiana e a sexualidade encontravam-se lá.
O que, por sua vez, evoluiu muito rápido foi o canto de vitória do
capitalismo liberal, já no “dia seguinte” em 1989. George Bush pai
prometeu, naquela ocasião de encerramento da Guerra Fria, um planeta
próspero e pacificado, mas se passou justamente o contrário. É a guerra
permanente. É a catástrofe ecológica e climática. Diante isto, o discurso
liberal e capitalista perdeu muito rapidamente sua legitimidade : “Isto não
funciona, isto não está melhor, mas sim pior”. Há, de um lado, uma perda
de legitimidade do sistema, porém, do outro, não há ainda uma
alternativa.
Esta irrupção violenta das lutas de massas – uma greve geral de dez
milhões de trabalhadores com ocupações de fábricas; extensão do
movimento a múltiplas franjas periféricas do proletariado e das classes
médias (tanto “velhas” como “novas”) – seria incompreensível se não
existisse um descontentamento profundo e irreprimível entre os
trabalhadores, provado pela realidade cotidiana da existência proletária.
Aqueles que se deixavam cegar pela elevação do nível de vida durante os
últimos quinze anos não compreendiam que é precisamente no auge das
forças produtivas (de “expansão econômica” acelerada) que o proletariado
adquire novas necessidades, ampliando-se ainda mais a defasagem entre
as necessidades e o poder aquisitivo2. Tampouco compreendiam que, à
medida que sobe o nível de vida, de qualificação técnica e de cultura dos
trabalhadores, a ausência de igualdade e de liberdade sociais nos lugares
de trabalho, e a alienação acentuada no seio do processo de produção não
podem deixar de pesar de forma mais intensa e insuportável sobre o
proletariado.
É significativo, além disso, que a crise de 1968 não tenha sido produzida
num país com estruturas “envelhecidas”, no qual dominasse um
“laissez-faire” arcaico, senão, pelo contrário, no país típico do
neocapitalismo, aquele cujo “plano” era mencionado como o exemplo mais
bem-sucedido do neocapitalismo, aquele que dispõe do setor
nacionalizado mais dinâmico, cuja “independência” relativa ao setor
privado sugeria a alguns, inclusive, a definição de “setor capitalista de
Estado”. A impotência que demonstrou o neocapitalismo para comprimir
largamente as contradições sociais adquire por isto uma importância ainda
mais universal.
O papel de detonador do movimento estudantil é produto direto da
incapacidade do neocapitalismo para satisfazer, em algum nível, as
necessidades da massa dos jovens que afluem à Universidade, tanto pela
elevação do nível de vida médio como pelas necessidades de reprodução
ampliada de uma mão-de-obra cada vez mais qualificada, como resultado
da Terceira Revolução Industrial. Esta incapacidade manifesta-se no nível
da infraestrutura material (edifícios, laboratórios, moradia, restaurante,
bolsas), no nível da estrutura autoritária da Universidade, no nível do
conteúdo do ensino universitário, no nível da orientação, das saídas para
os universitários e para aqueles aos quais o sistema obriga a interromper
antes de concluir seus estudos universitários. A crise da Universidade
burguesa, que foi a causa imediata da explosão do maio de 1968, deve
ser entendida como um aspecto da crise do neocapitalismo e da sociedade
burguesa em seu conjunto.
Desde o início dos anos 60, temos reagido contra estas teses
esquemáticas, referindo-nos a um tipo distinto de revolução possível e
provável na Europa Ocidental. Permitiremos recordar-nos o que
escrevíamos a este respeito no princípio de 1965:
Este tipo de explosão era tão menos imprevisível que houve algumas
impressões antecipadas dele em duas ocasiões: em dezembro de 1960 –
janeiro de 1961 na Bélgica e em junho-julho de 1965 na Grécia. Depois
dos acontecimentos de maio de 1968, não cabe dúvida de que será sob
esta forma – uma greve de massas que transborda os objetivos
reivindicativos e os marcos institucionais “normais” da sociedade e do
Estado capitalistas – que se produzirão as crises revolucionárias possíveis
no Ocidente (a menos que sobrevenha outra modificação radical da
situação econômica ou uma guerra mundial).
Cabe, além disso, apresentar esta pergunta: se é certo que tudo o que
desejavam os trabalhadores era um aumento importante dos salários. Por
que entraram espontaneamente na via das ocupações de fábrica? Os
trabalhadores franceses desenvolveram distintos movimentos por
aumentos salariais durante os últimos vinte anos. Nunca estes
movimentos tiveram uma amplitude comparável à de maio de 68, nunca
suas formas de ação se aproximaram às de maio de 1968. Com a
ocupação de fábricas, lançando-se à rua às dezenas e às vezes às
centenas de milhares; erguendo bandeiras vermelhas nas empresas;
expandindo para todas as partes palavras-de-ordem como “Com dez anos,
já basta”, “Fábricas para os operários”, “Poder operário”, “Poder para os
trabalhadores”, a massa dos grevistas expressava aspirações que
transbordaram amplamente as reivindicações puramente salariais16.
Mas existe uma prova ainda muito mais convincente de que também os
trabalhadores queriam ir além de uma simples campanha rotineira “por
salários e boas eleições”. Trata-se de seu comportamento em todas as
partes em que tiveram oportunidade de expressar-se livremente, em que
a tela burocrática rachou e caiu, em que puderam desenvolver-se
iniciativas a partir da base. Estamos longe de ter um inventário completo
destas experiências, mas sua lista já é impressionante:
Quando esta lista esteja completa, como poderá ser discutido o que
expressa a tendência espontânea da classe operária a tomar nas mãos
sua própria sorte e a reorganizar a sociedade segundo suas convicções e
seu ideal? São estas manifestações de uma greve puramente
reivindicativa, de uma greve “qualquer” ou de uma greve cuja amplitude e
cuja lógica empurravam as próprias massas a transbordar as
reivindicações imediatas20?
Mas, ainda que seja certo que maio de 1968 permitiu verificar mais uma
vez a ausência de uma direção revolucionária adequada e as
consequências inevitáveis que disto se depreendem para o êxito do
ascenso revolucionário, por outro lado a experiência permite também
vislumbrar – pela primeira vez no Ocidente em mais de 30 anos – as
dimensões reais do problema e suas vias de solução. O que faltou em
maio de 1968 para que se produzisse uma primeira incursão decisiva em
direção à dualidade do poder – para que a França conhecesse, guardadas
as proporções, seu Fevereiro de 1917 – foi uma organização
revolucionária não mais numerosa nas empresas do que era nas
universidades. Nesse momento preciso, e nestes lugares, alguns núcleos
reduzidos de operários, articulados, armados de um programa e de uma
análise política correta e capazes de fazerem-se ouvir, teriam bastado
para impedir a dispersão dos grevistas, para impor nas principais fábricas
do país a ocupação de massas e a eleição democrática dos comitês de
greve. Isto não teria sido, desde já, nem a insurreição nem a tomada do
poder. Mas teria sido virada uma página decisiva da história da França e
da Europa. Todos aqueles que acreditam ser possível e necessário o
socialismo devem atuar para que seja virada da próxima vez.