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A SIGNIFICAÇÃO DO SILÊNCIO EM QUANDO AS MÁQUINAS

PARAM, DE PLÍNIO MARCOS

Pós-graduanda: Alzinéia Monteiro de Oliveira


Orientador: Dr. Agnaldo Rodrigues da Silva

A proposta de estudo é proveniente de uma leitura da peça Quando as Máquinas


Param (1978), de Plínio Marcos. O autor destaca-se como um dramaturgo, que desvela as
condições mais desumanas que permeiam a humanidade. Não é novidade para os leitores
assíduos do autor, a sua escrita demarcada por jargões chulos, resultado dos cenários
suburbanos em que ocorrem as ações das personagens, no entanto, quando este leitor se
depara com a peça Quando as Máquinas Param (1978), percebe a mudança dessa linguagem,
uma vez que Plínio Marcos passa a utilizar menos desses jargões, causando efeito não pelo
impacto da fala das personagens, mas pelos comportamentos delas.
A obra em estudo é pertencente ao gênero dramático, sendo assim, de modo geral,
espera-se que o enfoque esteja nos diálogos e nas ações. Porém, mais que as falas, nos
debruçaremos sobre aquilo que não é dito verbalmente, mas é demarcado por comportamentos
e reflexões que ficam sugeridos no decorrer do texto. Partido da ideia da configuração do
silêncio presente na peça, destacamos alguns aspectos: a recorrência do final de cada ato; a
dupla significação do silêncio no texto, seja por uma perspectiva filosófica, seja por um viés
sociológico, os quais se aglutinam e compõe a construção textual da peça e por fim o seu
contexto de produção.
Quando as Máquinas Param (1978), apresenta uma repetição que consideramos como
significativa. Ela é composta por cinco atos, todos com desfechos semelhantes. Zé e Nina
encontram-se no quarto, lugar de intimidade do casal, após um breve diálogo, conforme
expresso pela didascália, as luzes se apagam. Às vezes há um murmúrio de uma das
personagens; em outras, na maioria das vezes nada mais ocorre, e assim termina-se o ato.
Os ambientes de todos os finais dos atos ocorrem sempre no quarto, exceto no último.
É nesse espaço que pode ser dito qualquer coisa que as personagens podem assumir sua real
identidade, sem que seja necessário expor algo que não são, porém é também nesse espaço
que elas questionam a condição de existência, por exemplo: “Eu só não me entrego porque
você sempre acredita. Isso me joga pra frente paca. Poxa, Nina, como você é positiva. Você é
bacana pra chuchu.” (MARCOS, 1978, p.72). Mas, por outro lado,concluem que nada podem
fazer para mudar essa condição.
Nina, a esposa e dona de casa, tem como refúgio da realidade as radionovelas. No
decorrer de suas atribuições diárias, pausa para ouvir a novela e imaginar sua vida como das
personagens: “Nina _Poxa, Zé será que nem minha novela vou poder escutar mais. Zé _ Pode.
Mas não precisa chorar. Nina _Que vou fazer? Eles falam cada coisa bonita! Eu gostaria que
você falasse assim para mim.” (MARCOS, 1978, p.78). Mas após desligar o rádio, volta para
sua rotina e afazeres, num comportamento de aceitação de que a vida de ficção representada
na radionovela está distante da que vive.
Quando Nina desliga o rádio, após instantes de fuga da realidade propiciada pela
imaginação advinda da radionovela, há um breve momento de silêncio e contemplação, que
pode ser interpretado por uma perspectiva sociológica do silêncio, em que o ser cala-se pela
condição de não ter nada a dizer, ou fazer para que sua realidade se transforme. É uma tensão
entre a vida interior e a vida social. Conforme as palavras de Lucien Goldmann (1976) “a
ruptura total entre a essência e a aparência, entre a vida interior e a vida social [...]” (p.17). O
choque existente entre a vida de Nina e a das personagens que ouve na novela resulta nessa
ruptura, uma vida vivida que jamais será como a da imaginada.
Por outro lado, Zé ao refletir as circunstâncias de sua vida, está sempre questionando e
inconformado pelos fatos que lhe ocorrem, “Zé _ Não fica bem é eu não ter onde trabalhar.
Isso é que não fica bem. E me arranjar uma viração ninguém quer. (Pausa.) Escuta, Nina a
vida não está sopa. Se a gente não se espalha um pouco, acaba endoidando.” (MARCOS,
1978, p. 64). Mais adiante: “ Zé _ Eu estou cansado de dar jeito, Nina. Precisava era acertar a
nossa vida de uma vez. (MARCOS, 1978, p.69). Enquanto Nina, se conforma com condição
de vida, convicta que melhores dias virão, Zé reconhece a subalternização, mas está sempre
buscando meios que os tire da miserabilidade.
Se considerarmos a perspectiva filosófica da configuração do silêncio, mencionado
por Madalena Machado (2017), em que a crítica literária cita Bachelard ao expressar que as
personagens se calam para pensar mais naquilo que são, mas que buscam compreender o
motivo de sua existência e o que os impulsiona para viverem como vivem. Esse silêncio está
configurado na personagem de Zé. Nas suas falas, há com muita frequência uma demarcação
grafada que expressa uma pausa, seguida da continuidade de sua fala, ou uma longa pausa,
que acentua seu pensamento, vejamos:

Zé _Falam por falar, mas são boa gente. Todos eles. Tem uns aí que jogam
direitinho. Podem até ir para frente e pegar um time bom. O carvãozinho é
um. Como joga o diabo do crioulinho. Nanico daquele jeito e dribla paca.
Vai longe.

Nina (sorrindo) _ Deus queira.

Zé _ Tomara. (pausa grande).

Nina _ Tá pensando em quê, Zé?

Zé _ Nessa molecada. Eles passam o dia na rua. Os que não derem sorte com
a bola estão lascados! Que nem eu. (MARCOS, 1968, p. 65).

As pausas como uma frequente repetição, mais acentuada na fala de Zé, expressam sua
profunda angústia, em saber as chances mínimas de transmutação da realidade, de
desemprego, da ausência de lar, da incapacidade de propiciar condições dignas de vida para a
esposa.
Se observados os diálogos e como eles estão estruturados no decorrer do texto é permissível
afirmar que Nina é a configuração do silenciar e Zé do vociferar, pois Zé é aquele que sempre
se questiona, e se analisado suas falas, nota-se, que elas são mais extensas, se comparadas
com as falas de Nina, as quais muitas delas têm mais de 10 linhas. Esse fator de construção da
forma demarca e caracteriza as personagens, além de expor a relação de forma e conteúdo
proposto por Antonio Candido (2000).

Focalizemos o fluxo exercido pelos valores sociais, ideologias e sistema de


comunicação, que nela se transmudam em conteúdo e forma, discerníveis
apenas logicamente, pois na realidade decorrem do impulso criador
comunidade inseparável. Aceita, porém, a divisão, lembremos que os valores
e ideologias contribuem principalmente para o conteúdo, enquanto as
modalidades de comunicação influem mais na forma. (CANDIDO, 2000,
p.30).

Ao correlacionar o exposto pelo crítico com a interpretação feita anteriormente, pode-


se afirmar que a forma está configurada, por exemplo, na estrutura das falas das personagens,
em que Zé têm falas mais longos e de teor de profunda reflexão, Nina falas curtas e de senso
de conformidade. Essa forma pode ser observada, também na marcação de pausa expressa no
texto, enquanto o conteúdo está no que Zé e Nina expressam.
Num terceiro plano, mas não menos significativo, destacamos o contexto de produção
da obra, pois isso deixou marcas no texto. Sua primeira publicação foi em 1963, intitulada
Enquanto os Navios Atracam, e em 1967 Plínio retira uma personagem e altera o nome da
peça para Quando as Máquinas Param, essa mudança dá uma nova roupagem para o texto.
A crise política e econômica no cenário brasileiro das décadas de 1960 a 1980
pertence à construção do texto cênico em estudo, seja nas falas, seja no contexto geral. Zé
percebe que sua falta de perspectiva e oportunidade é influenciada pelo sistema político
vigente. “Nina _Que está havendo? Zé _O quê? Esse Governo.” (MARCOS, 1978, p. 66). Zé
é ciente da crise econômica instaurada no país. “[...] O pior que tudo quanto é fábrica está
mandando gente embora. Só a Fipam mandou mil ontem. E dizem que vão mandar mais na
semana que vem”. (MARCOS, 1978, p. 66).
A questão não está na crise em si, mas nos efeitos e sequelas que ela deixa. As
personagens vivem numa angústia constante, sem saber se terão o alimento sobre a mesa no
dia seguinte, sem poder pagar o aluguel e qualquer momento serem despejados, sem poderem
ter momentos mínimos de prazer e lazer. Os fatores econômicos, sociais e políticos sugam até
o último fôlego de esperança. Zé, que tanto sonhava em ser pai, quando isso ocorre, tudo que
pensa é na única coisa que propiciará a seu futuro (a) filho (o): a miserabilidade.
Esses fatores externos citados pertencem à obra. É o que Candido (2000) menciona
como o externo como componente do interno. “Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o
social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha
um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, o interno. (CANDIDO,
2000, p.4). Ao tecer a obra, o autor busca nos fatores dispersos nas relações humanas as vezes
de seu tempo, ora além dele e cuidadosamente resultará em arte/literatura.
É de senso comum que, no período da década de sessenta a oitenta, o Brasil passava
por um período de censura e autoritarismo político. Plínio Marcos, quando presenteia seu
público com Quando as Máquinas Param (1978), de modo muito sutil deixa sugestiva a
interpretação dessa censura em sua obra, quando coloca no desfecho dos atos dessa peça, as
luzes se apagam, ou as luzes se apagam lentamente. Nada mais,além disso, é dito. A falta de
luz induz o período de obscuridade política que o país perpassava, afetando também a
produção artística e cultural do país, conforme o expresso por Anatol Rosenfeld:

O uso corporal, a linguagem cifrada ou transmutada para meios visuais ou


auditivos substituírem a linguagem verbal, a própria produção cênica
buscando vias alternativas seja para produtos mais econômicos, seja para
sala e ambiente convencionais. Mesmo a cenografia buscou adaptar-se aos
novos tempos, sóbrios, econômicos e dispersivos. (ROSENFELD, 1997, p.
15).

Os fatores de natureza política, social e econômica, como já mencionados, tenderam a


influenciar em todos os aspectos humanos e nas suas relações, no modo de vida da população,
na produção artística, nos pensamentos e movimentos ideológicos, foi de fato um período de
efervescência nacional.

Referências

BOURDIEU, Pierre. “As categorias históricas das percepçõesartísticas”In: As regras da arte


gêneros e estruturas do campo literário. Trad. Maria Lúcia Machado. 2. ed. São Paulo:
Companhia das letras, 1996.

CANDIDO, Antonio. A personagem de ficção.2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1968.

CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade.8.ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000.

GOLDMANN, Lucien. A sociologia do romance. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Paz e terra,
1976.

MACHADO, Madalena. “Caminhos do silêncio. In: Tríade poética na obra de Ricardo


Dicke. Curitiba: Appris, 2017.

MAGALDI, Sábato. Panorama do teatro brasileiro. São Paulo: EDIPE, 1962.

MARCOS, Plínio. Navalha na carne, Quando as máquinas param. São Paulo: Global editora
e distribuidora Ltda, 1978.

MARCOS, Plínio O abajur lilás.São Paulo: Brasiliense, 1975.

MARCOS, Plínio. Histórias das quebradas do mundaréu. São Paulo: Mirian Paglia Editora
de Cultura, 2004.

REZENDE, Maria José de. A ditadura militar no Brasil: repressão e pretensão de


legitimidade 1964-1984.Londrina: UEL, 2001.

ROSENFELD, Anatol. Teatro moderno.São Paulo: Perspectiva, 1997.

ROSENFELD, Anatol. Teatro em crise. São Paulo: Perspectiva, 2014.

ROSENFELD, Anatol. Primas do Teatro. São Paulo: Perspectiva, Editora da Universidade de


São Paulo e Editora da Universidade de Campinas, 1993.

SCHWARTZ, Jorge; SOSNOWSKI, Saul. Brasil o trânsito da memória. São Paulo:


Universidade de São Paulo, 1994.

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