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Um dia, eu já tinha
bastante idade, no saguão
de um lugar público, um
homem se aproximou de
mim. Apresentou-se e
disse: “Eu a conheço
desde sempre. Todo
mundo diz que você era
bonita quando jovem;
venho lhe dizer que, por
mim, eu a acho agora
ainda mais bonita do que
quando jovem; gostava
menos do seu rosto de
moça do que do rosto que
você tem agora,
devastado”.
(Marguerite
Duras, O Amante)
4 Ibidem, p. 15.
16 | O Si-Mesmo e o Outro: ensaios sobre Paul Ricœur
5 Ibidem, p. 30-31.
Fabio Caprio Leite de Castro (Org.) | 17
14 Ibidem, p. 383-384.
28 | O Si-Mesmo e o Outro: ensaios sobre Paul Ricœur
15 Ibidem, p. 470.
30 | O Si-Mesmo e o Outro: ensaios sobre Paul Ricœur
modo que cada parte é solidária com o todo, numa estrutura que não
tem um centro fixo, nem se deixa analisar por uma mera “somatória”
de suas partes. De fato, a unidade do texto poético é um princípio
filosófico que pode ser retraçado desde a estética aristotélica até a
estética modernista, passando, é claro, pela estética idealista alemã. Para
esses e outros temas, recomendo a leitura de Mukarovsky (1948),
Barthes (1963 e 1981) e Todorov (1984).
20 RICŒUR, Paul. Do texto à acção. Ensaios de hermenêutica II, op.cit.
34 | O Si-Mesmo e o Outro: ensaios sobre Paul Ricœur
31 Ibidem, p. 197.
32 Ibidem, p. 204.
33ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Edson Bini. 2ª ed.
Bauru: Edipro, 2007, p. 240.
Fabio Caprio Leite de Castro (Org.) | 57
toca aos bens e ao sexo. Assim, por exemplo, não pode ser
perfeita uma amizade entre homem e mulher, pois está
permeada pelo interesse sexual, por um interesse
meramente “acidental”, da mesma forma que é imperfeita a
amizade entre sujeitos de diferentes posses, pois
eventualmente a amizade se desfaz no interesse pessoal. Por
isso, quando se trata da amizade em Aristóteles – inclusive
como protótipo do Estado –, é preciso compreender que
há já uma clivagem social que instaura a condição de
igualdade sem a qual o sentimento puro não pode vicejar.
Nesse sentido, recorrer a Aristóteles é circunscrever um
espaço muito exíguo para a estima de si, uma vez que a
igualdade de que nos fala a Ética a Nicômaco é, como se vê,
bastante rara.
Dessa forma, a necessidade de uma partilha mais
justa que instaura a lógica da caridade e das instâncias boas
em Ricœur aponta para não para a igualdade nas
instituições, mas para uma desigualdade inerente entre os
sujeitos no âmbito social, desigualdade que, no limite,
reflete-se numa disparidade de capacidades de apreciação
crítica do si-mesmo na esfera pública. Isso nos leva a
entender que a igualdade não é um pressuposto das
instâncias onde o sujeito se interpreta, se compreende, se
estima e renova o seu compromisso com sua identidade –
pelo contrário, ela é aquilo que no limite se estima e se
solicita, talvez por falta de uma verdadeira igualdade. A
valoração da identidade – ou, em outras palavras, a
atestação de si – dá-se num ambiente em que as
capacidades de entendimento e interpretação da identidade
narrativa plasmada pelo texto poético são distintas e
desniveladas.
O que estou sugerindo, então, é que a estima de si
segundo Ricœur é, acima de tudo, a estima de uma
condição favorável para a atestação. A incompreensão e, no
limite, a própria inimizade, respaldadas na desigualdade,
parecem ser correlatos da instância pública de afirmação do
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Referências bibliográficas