Вы находитесь на странице: 1из 12

Este texto foi publicado no Jus no endereço

https://jus.com.br/artigos/66224
Para ver outras publicações como esta, acesse https://jus.com.br

A justiça negocial no direito penal.


Juizados especiais criminais e colaboração premiada

A justiça negocial no direito penal. Juizados especiais criminais e


colaboração premiada

Thiago Vinícius Pondian Caravelo

Publicado em 05/2018. Elaborado em 05/2018.

Transação Penal e Colaboração Premiada são exemplos de


aplicação da Justiça negocial na esfera penal. Discute-se,
todavia, se a utilização de institutos como estes são benéficos à
persecução criminal e até que ponto.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso objetiva a exposição e análise do método


negocial de aplicação da justiça criminal, iniciando por sua origem e suas
ramificações no direito prático, transitando pelas instituições dos juizados
especiais e métodos alternativos de cumprimento das sanções penais.

O direito criminal é um ramo jurídico que tem como prioridade o respeito aos
direitos e garantias fundamentais do indivíduo e, dessa forma, possui a
necessidade constante de valorizá-los na aplicação prática das normas penais.
Assim, diante desta prioridade, bem como do excesso de processos que permeiam
o judiciário, é que se faz necessário utilizar de métodos que simplifiquem a
aplicação do direito, tornando-o efetivo e eficaz. Um destes é o modo de
negociação da justiça criminal, o qual permite acordos e disposições acerca da
penalização do indivíduo.

O instituto da negociação é aplicado por diversos países há algum tempo, como na


Alemanha e nos Estados Unidos, sem impedimentos às negociações sobre as
penas a serem cumpridas. No Brasil, o caráter negocial da justiça criminal se
iniciou com a criação dos juizados especiais, onde se fazem presentes métodos
como a suspensão condicional e a transação penal, diferentemente da simples
aplicação objetiva do direito positivado de outrora.

Portanto, passa-se a analisar e expor sobre a justiça criminal negocial e sua


aplicação fática no ordenamento jurídico, através da exposição de benefícios e
consequências, bem como da apresentação de suas ramificações, principalmente
no que diz respeito à colaboração premiada e sua importância atual. O primeiro
capítulo disporá acerca da gênese da justiça negocial no ordenamento jurídico
brasileiro e de suas ramificações, iniciando pelos juizados especiais, sua criação e
aplicação prática na atualidade.

No segundo capítulo, será apresentada a lei 9.099/95 como primeira forma de


regulamentação efetiva da justiça negocial, visto que, anteriormente, havia
somente a previsão pelo ordenamento jurídico, sem lei específica que
possibilitasse o real exercício das práticas negociativas. O segundo capítulo dispõe
ainda sobre essas diversas formas de aplicação da justiça negocial no processo
criminal, quais sejam a transação penal, a suspensão condicional do processo e as
penas alternativas, bem como a colaboração premiada.

Por fim, o terceiro capítulo tratará do instituto da colaboração premiada e sua


importância na atualidade sócio-política do país, as modernizações trazidas em
conjunto com sua aplicação e seus efeitos no âmbito da justiça criminal.

2. A JUSTIÇA NEGOCIAL NO BRASIL E OS JUIZADOS


ESPECIAIS CRIMINAIS

No decorrer do desenvolvimento histórico do direito e da evolução temporal da


justiça, sempre houve distanciamento entre povo e poder judiciário, e este, por sua
vez, apresentava certo abastamento com relação aos outros poderes
constitucionais. No entanto, diante das exponenciais necessidades jurídicas da
população, bem como da maior interação entre povo e direito por meio da
globalização, fez-se necessário buscar maneiras de aproximar o cidadão do
ordenamento jurídico, facilitar o acesso ao judiciário e cumprir efetivamente o que
os princípios constitucionais, norteadores do direito contemporâneo, pregam para
seu exercício justo na sociedade.

Diante disso, o direito brasileiro passou a adotar formas de desburocratização do


acesso à justiça e do exercício do direito, adequando-se aos moldes de países que
priorizam a solução consensual de conflitos e as diversas formas de negociação da
sanção punitiva. Nações mais desenvolvidas, como os Estados Unidos, já utilizam
da justiça negocial e tem efeitos positivos resultantes de sua aplicação. Portanto, o
Brasil, seguindo o exemplo dos EUA e dos demais países, apresenta uma gradual
implantação dessa forma de justiça, em atividades colaborativas entre os poderes
Executivo, Legislativo e, principalmente, Judiciário.
Na aplicação do direito penal, principalmente, busca-se difundir a ideia de que a
restrição de liberdade como sanção punitiva não é a única forma de garantir a
convivência harmônica na sociedade, a ressocialização do indivíduo e a intenção
educacional da pena. Dessa forma, os juristas contemporâneos apresentam o
entendimento de que o direito e a lei em si, quando descumpridos, podem
fornecer ao praticante do delito, quando merecidas, formas de diminuição ou
conversão da pena mediante o cumprimento de determinados requisitos de
colaboração com as investigações, potencial ofensivo baixo da infração,
primariedade de condenação, entre outros, a serem elencados mais adiante.

Apesar de compreender que o Estado deve sanar toda e qualquer infração penal
pelo uso da ação penal e seus desdobramentos, passou-se a entender que quando
se trata de infrações de menor potencial ofensivo, a simples solução consensual se
faz mais vantajosa. Deste modo, o Poder Judiciário pode atender com prioridade
as infrações penais mais graves, as quais exigem maior esforço para se solucionar.

Posto isto, pode-se observar que a justiça brasileira buscava uma facilitação do
processo, fazendo-o mais simples, rápido, eficiente, democrático e também mais
próximo da sociedade, tornando o procedimento mais curto.

Sobre este tema, dispõe Ada pelegrini:

O poder político (Legislativo e Executivo), dando uma reviravolta na sua


clássica política criminal fundada na "crença" dissuasória da pena severa
(déterrance), corajosa e auspiciosamente, está disposto a testar uma nova
via reativa ao delito de pequena e média gravidade, pondo em prática um
dos mais avançados programas de "despenalização" do mundo (que não
se confunde com "descriminalizaçâo") (GRINOVER, 2005, p. 48).

Dessa forma, os juizados especiais aparecem como a primeira medida tomada pelo
ordenamento jurídico nacional, a fim de cumprir os objetivos de
desburocratização do poder judiciário, os quais se encontram previstos desde 1988
na Carta Magna brasileira em seu artigo 98, I, porém, sem regulamentação
própria.

Assim, os juizados surgem como um modo de encurtamento da distância entre a


justiça e os indivíduos, os quais, por diversas vezes, não conseguiam ser atendidos.
Da mesma maneira, são apresentados à sociedade como formas de
democratização dos processos cíveis e criminais, através de métodos mais céleres e
simplificados de acesso ao judiciário e à resolução de conflitos de forma amigável.
Desde que apresentados os requisitos, os conflitos mais simples passam a ser de
competência dos juizados especiais.

Os juizados especiais criminais englobam as causas em que a pena a ser cumprida


seja inferior a 2 anos, bem como casos que se enquadrem como contravenções
penais e crimes mais simples, na busca da aplicação de sanções punitivas que não
sejam restritivas de liberdade e que consigam reparar o dano sofrido pela vítima,
como multas e penas restritivas de direitos. Ressalta-se que, na hipótese de
necessidade de restrição de liberdade, esta pode ser determinada pelo Juiz.

O juizado criminal, ou “JECRIM”, tem por finalidade a solução do processo


criminal de forma célere, resultando na reparação do dano causado, quando
possível, e na prevenção de excessos da justiça, bem como na apresentação de
outras formas punitivas ao infrator da norma jurídica penal, de forma que objetiva
a desburocratização do processo criminal, o desabarrotamento do poder judiciário
e, por consequência, uma menor população carcerária, observados os problemas
de superlotação prisional no país.

A demora no julgamento de ações criminais causada pelo excesso de demandas no


judiciário, além de prejudicar a reparação de inúmeros danos causados, faz com
que, às vezes, a vítima de um crime nem ao menos procure a justiça criminal,
deixando grande parte dos autores de crimes de menor potencial ofensivo
impunes por falta de estrutura do poder judiciário, que não consegue analisar e
julgar todos os casos em tempo hábil. Como disposto por Beccaria:

Às vezes, a gente se abstém de punir um delito pouco importante, quando


o ofendido perdoa. É um ato de benevolência, mas um ato contrário ao
bem público. Um particular pode bem não exigir a reparação do mal que
se lhe fêz; mas o perdão que êle concede não pode destruir a necessidade
do exemplo. O Direito de punir não pertence a nenhum cidadão em
particular; pertence às leis, que são o órgão da vontade de todos. Um
cidadão ofendido pode renunciar à sua porção dêsse direito, mas não tem
nenhum poder sobre a dos outros. (BECCARIA, 1959, p. 85).

Nestes termos, mesmo que haja abstenção do indivíduo prejudicado ante o


descumprimento da norma jurídica, cível ou criminal, o Estado, detentor do poder
de punir, não pode se abster diante destas situações. A inércia do Estado faz com
que este deixe de exercer todo o caráter da norma jurídica como meio de
manutenção da ordem e, portanto, o processo penal e seus procedimentos deixam
de surtir efeito.

O processo penal tem por objetivo aplicar a norma penal, existente como forma
punitiva, preventiva e ressocializadora. Neste sentido, a característica punitiva
garante que a norma irá aplicar ao cidadão a consequência por sua atividade
contrária ao ordenamento jurídico, funcionando de maneira preventiva para que
os demais tenham o “exemplo” do que ocorre quando há este descumprimento do
que é disposto. Enquanto a função ressocializadora do processo penal se dá por
meio do cumprimento da pena disposta pela norma, no objetivo de reinserir o
indivíduo de conduta indevida na sociedade a qual ele pertencia.

Deste modo, os juizados especiais criminais passam a garantir este exercício


correto das características da norma jurídica e de suas funções, pois em momento
algum o crime deixa de ser punido, apenas são apresentadas outras formas de
punição, alternativas àquelas que nem sempre eram efetivas ou que chegavam ao
seu objetivo. Portanto, o crime, ainda que de menor potencial ofensivo, tem sua
devida punição, ficando reiterada a prevenção de novas infrações à lei e o
indivíduo ainda consegue se reinserir mais facilmente na sociedade.

A fim de regulamentar os juizados especiais e iniciar uma nova fase no


ordenamento jurídico brasileiro, surge a Lei 9.099/95, dispondo e detalhando
procedimentos e providências acerca dos juizados, embasada expressamente nos
princípios constitucionais.

3. LEI 9.099/95 E AS FORMAS DE JUSTIÇA NEGOCIAL

As inovações trazidas ao processo penal brasileiro pela lei 9.099/95 modificaram o


modo pelo qual se via o sistema de aplicação da lei penal, dispondo sobre métodos
de negociação e democratização da justiça criminal. A referida lei dispôs sobre os
Juizados Especiais Criminais e apresentou ainda dispositivos como a suspensão
condicional do processo, a transação penal e a composição dos danos na esfera
cível.

Nas palavras de Luiz Flávio Gomes,

Muitas vítimas, que jamais conseguiram qualquer reparação no processo


de conhecimento clássico, saem agora dos Juizados Criminais com
indenização. Permitiu-se a aproximação entre o infrator e a vítima. O
sistema de Administração de Justiça está gastando menos para a
resolução desses conflitos menores. E atua com certa rapidez. Reduziu-se
a frequente prescrição nas infrações menores. As primeiras vantagens do
novo sistema são facilmente constatáveis. (GOMES, 1999, p. 175).

Neste sentido, a lei 9.099/95 insere no ordenamento jurídico brasileiro situações


as quais deveriam ser dispostas pelo código processual penal, dispositivo
promulgado em 1941. Levando em consideração que um código já surge obsoleto,
observado todo o processo para sua criação, era de extrema necessidade a criação
de métodos atualizados e modernos que acompanhassem o desenvolvimento da
sociedade, e não permanecessem estagnados enquanto essa se modifica.

Não obstante, com a promulgação da Lei 9.099/95, os conflitos na seara


Processual Penal e Cível passaram a ser visto por um novo ângulo, no intuito de
trazer à Justiça criminal maior celeridade e informalidade à prestação
jurisdicional, no que diz respeito às infrações menos gravosas. Este dispositivo
legal busca ainda por fim à prescrição e a decorrente extinção da punibilidade em
razão da morosidade dos processos, utilizando-se, para tal, do chamado rito
sumaríssimo.
A Lei 9.099/95, nas palavras de LOPES JR (2016), além de dispor acerca dos
Juizados Especiais Criminais, criou três novos institutos que vieram modernizar o
sistema Processual Penal brasileiro, sendo eles a composição dos danos civis, a
transação penal e a suspensão condicional do processo. Esta norma passou
a abranger também a questão da vítima, ponto este deixado de lado pelos juristas
e pelo ordenamento jurídico, visto que, até então era posta em segundo plano no
sistema processual penal e, após a Lei 9.099/95 passou, com o rito sumaríssimo, a
ser sujeito ativo na solução dos conflitos.

Ante o exposto, observa-se que, diante da criação da Lei 9.099/95, a criação dos
Juizados Especiais se tornou competência da União e das Unidades Federativas,
visto que o artigo 93 do dispositivo legal apresenta que “lei estadual disporá sobre
o Sistema de Juizados Cíveis e Criminais, sua organização, composição e
competência”. Consequentemente, as matérias relativas à competência,
procedimento e organização judiciária dependem da edição de lei que as
regulamentará.

A Lei dos Juizados Especiais (9.099/95) dispõe ainda, em seu art. 89, a respeito
da suspensão condicional do processo, conhecida como sursis, que possui sua
previsão primordial pelo Código Penal de 1940, em seu artigo 77.

Este método pode ser aplicado tanto aos casos de infrações de menor potencial
ofensivo quanto às demais, desde que cumpridos os requisitos necessários.
Portanto, o instituto do sursis abrange diversos tipos penais, resultando em um
modo de justiça negocial caracterizado pelo desenvolvido originário a partir da lei
dos juizados especiais e que surte efeitos extensivos, além do rol do que deve
dispor.

A suspensão pode ser requerida a qualquer momento no trâmite do processo,


havendo ainda a possibilidade de proposição em conjunto com a denúncia, a qual,
se aceita pelo juiz, possibilitará ao julgador a decisão acerca da suspensão do
processo e início das investigações, através da produção de provas e
estabelecimentos de condições ao réu.

Tais condições configuram o sursis, por meio do qual o Réu terá seu direito de
liberdade levemente cerceado, comparado à restrição que poderia resultar de uma
pena de reclusão em regime fechado. O efeito danoso causado em decorrência da
conduta do réu deverá ser reparado por este, a menos que seja indisponível. O
indivíduo ficará também impedido de se ausentar da Comarca sem autorização
judicial que lhe permita, bem como não poderá frequentar certos locais e deverá
apresentar mensalmente ao judiciário satisfação sobre seus atos.

Ante a hipótese de descumprimento destes requisitos e condições, o processo


retornará à ativa, no ponto em que parou quando foi suspenso, e será analisado
sem nova concessão do benefício. Ressalta-se que o juiz pode dispor sobre novas
condições e requisitos necessários para a suspensão condicional, desde que
justificadas pelas necessidades do caso, observado que o responsável pelo
andamento das suspensões é o próprio magistrado.

Nas situações em que o acusado não aceitar as propostas de suspensão


condicional, o processo tramitará normalmente, e, assim que se encerrar o prazo
definido para o sursis será extinta a punibilidade em relação ao réu.

A lei 9.099/95 também apresentou em seu conteúdo o instituto da transação


penal, a qual é aplicada em delitos de ação penal privada, por meio da qual é
realizado um acordo entre o autor do delito e o Ministério Público, na tentativa de
aplicar medidas alternativas à restrição de liberdade. Nos casos de ação penal
pública incondicionada, o Ministério Público pode realizar a propositura do
acordo diretamente.

Na transação penal o réu tem a seu dispor o direito subjetivo de atender aos
requisitos necessários para a transação penal, sendo decidido pelo Ministério
Público sobre de que forma será o exercício desse direito. No lugar de ocorrer o
cerceamento direto da liberdade do indivíduo, surge a possibilidade de que este
cumpra sua pena através da restrição de direitos ou aplicação de multas, sem a
necessidade de ajuizamento de mais um processo para as filas do poder judiciário.

A Lei 9.099/95, em seu caput, dispõe que são passíveis de transação penal apenas
as infrações de ação penal pública condicionada à representação e as
incondicionadas. Não há, no entanto, menção às de ação penal privada, e há uma
relativização quanto ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, visto
que, apresentados os requisitos, o Ministério Público deve propor a transação.
LOPES JR (2016), entende que a proposta do acordo para transação penal se
difere da aplicação deste, pois há a necessidade do aceite do réu.

Os requisitos necessários à propositura da transação penal estão dispostos pelo


artigo 76 da Lei 9.099/95. Portanto, vê-se que, àqueles já condenados em sentença
transitada em julgado em pena privativa de liberdade, não será cabível a proposta
de transação, como dispõe o inciso I do § 2º. Não há, portanto, causa que impeça a
propositura a quem foi condenado em pena restritiva de direito ou multa. Do
mesmo modo, no inciso II, expõe que, caso o indivíduo tenha se valido de
transação penal nos últimos 5 anos, esta não pode ser proposta novamente até o
encerramento deste lapso.

O inciso III apresenta que, verificados os antecedentes, conduta social e modo de


agir do agente, além das razões pelas quais agiu, caso estes indiquem não ser
suficiente medida restritiva de direitos ou multa imposta pela transação, esta não
será aplicada.

Neste sentido, a transação penal será ofertada por escrito, ou ainda oralmente,
consistindo na aplicação da pena imediatamente, a qual deverá ser especificada na
proposta. Presentes o acusado e seu defensor, caberá a ambos a aceitação da
medida, devendo ser formulada a proposta de forma clara e objetiva que não deixe
dúvidas acerca de sua legitimidade, apresentando ainda todos os detalhes e
informações sobre a transação e a pena a ser estipulada.

Observa-se que a transação penal não surte efeitos que configuram reincidência,
não demonstra reconhecimento de culpa do autor do fato, e faz com que este, após
infringir uma norma, cumpridos os requisitos necessários, possa cumprir pena
sem a inclusão de seu nome no rol dos culpados. A transação, portanto, além de
desabarrotar o poder judiciário, facilita a vida durante e posteriormente à
condenação do réu.

A lei 9.099/95 demonstra ainda a possibilidade de composição dos danos civis


causados pela conduta ilícita. A composição funcionará por meio de indenização à
vítima pelo autor do delito em razão de sua conduta, em substituição às penas
comuns, pois será feito acordo entre as partes e este funcionará como título
executivo judicial de cobrança de direitos, como dispões os Arts. 74 e 75 da Lei
9.099/95.

Diante das inovações da Lei 9.099/95, apesar do apoio majoritário da doutrina e,


principalmente, do poder judiciário, o dispositivo e seus institutos ainda lidam
com críticas ao seu funcionamento e à suas novidades. Doutrinadores como Aury
Lopes Junior (2016), criticam os juizados criminais no que diz respeito à ausência
de controle jurisdicional sobre a pena estipulada, bem como a tomada de
competência do Ministério Público, órgão o qual se configura como detentor do
poder acusatório no processo penal. Além de diversas críticas que dizem respeito a
uma ânsia do poder judiciário em se ver livre dos processos, de modo que passam,
com o advento da justiça negocial, a priorizar a quantidade e não a qualidade de
decisões.

Há críticas ainda que colocam a justiça negocial como um método que pressiona a
vítima a aceitar os acordos propostos e, de certo modo, abrir mão do direito que
foi prejudicado e deveria ser buscado pela justiça criminal. Em suma, a doutrina
contrária à justiça negocial prega que na busca pela celeridade processual o
ordenamento jurídico acaba por prejudicar a eficácia do modelo processual penal
instituído no país, qual seja o do método acusatório, onde figuram o Ministério
Público como acusador e buscador da penalização do indivíduo e o defensor deste
como uma prevenção de excessos da justiça. Entretanto, apesar da parcela
contrária da doutrina, a legislação penal apresenta projetos de mudança que
pretendem democratizar ainda mais o acesso e a inserção do indivíduo no poder
judiciário, dando prosseguimento ao trabalho iniciado pela Lei 9.099/95 e
concedendo mais autonomia aos seus institutos, principalmente, aos juizados.

4. O PAPEL DA COLABORAÇÃO PREMIADA NA JUSTIÇA


NEGOCIAL BRASILEIRA
Diante das inovações jurídicas acerca da negocialidade punitiva, surge a
Colaboração Premiada, aplicável a crimes praticados por meio de concurso de
agentes, conhecida também como “delação premiada”. Este método é mais uma
das formas de justiça negocial no direito penal brasileiro, pela qual um dos
agentes em concurso na prática do crime auxilia na investigação do delito e dos
demais agentes partícipes, em troca de redução e alteração em sua pena.

A delação premiada é um instituto de natureza penal que surgiu frente a difícil


solução dos crimes praticados em concurso de agentes (art. 159, §4°, do Código
Penal). Sua função existe desde os primórdios dos agrupamentos humanos, como
se via na Idade Média frente à Inquisição, contudo, veio a se destacar com o
aprimoramento da criminalidade e consequentemente do Direito Penal.

Este instituto surge diante da ineficaz atividade do Estado no que diz respeito aos
crimes realizados por entidades e organizações criminosas. Sem meios para
proceder à investigação, o poder público opta por abrir mão de parte de seu dever
punitivo em face da resolução do caso como um todo e penalização de todos os
envolvidos.

O réu colaborador ganha a chance de receber uma recompensa, qual seja, a


redução de sua pena ou até o perdão pelo crime cometido. Entretanto, deve
delatar seus comparsas de crimes para ajudar na solução daquela. Dado o perdão
judicial, fica extinta a punibilidade do réu.

Ressalta-se, entretanto, que somente a delação não basta para o benefício do réu,
devendo esta surtir efeitos que realmente façam a diferença e auxiliem na
investigação do delito em si e dos demais sujeitos envolvidos. Este método
funciona como uma forma de incentivar a confissão espontânea, e, assim, o
depoimento de um dos agentes criminosos poderá motivar os demais a proceder
da mesma maneira, fazendo com que o delito seja resolvido de forma mais célere e
facilitada do que por meio de uma investigação judicial completa.

A colaboração possui finalidade de prova testemunhal, e não confessional,


observado que a atenuação dada em face de confissão espontânea atinge somente
o indivíduo que confessou. Há pautadas divergências entre o instituto da confissão
e o da colaboração premiada, visto que a primeira é uma circunstância atenuante,
enquanto a segunda é uma causa de diminuição de pena.

O dispositivo da colaboração tem sua possibilidade de aplicação em diversas


formas de crimes com concurso de agentes, como nos da Lei de Drogas, Crime
organizado, lavagem de dinheiro, entre outros, onde a testemunha de alguém que
participou ativamente do fato tem o poder de mudar o curso das investigações e
evitar tanto a impunidade quanto a excessividade punitiva. Esse procedimento de
justiça negocial abrange, inclusive, métodos de proteção à testemunha
colaboradora, e necessita de determinados requisitos para que seja validada, ou
seja, não basta apenas o simples depoimento.
Assim sendo, o legislador apontou parâmetros para que a delação possa ser
considerada na diminuição ou extinção da pena. Primeiramente, um dos
requisitos é a própria autoincriminação do delator, bem como, a identificação das
demais pessoas envolvidas, sendo elas coautoras ou partícipes.

Outro ponto importante se faz na localização da vítima com vida. Isto deverá ser
observado em crimes que envolvem pessoas e patrimônio, como é o caso da
extorsão mediante sequestro (art. 159 CP) e, além disso, deverá se recuperar
totalmente ou parcialmente o produto do crime.

O julgador deverá levar em consideração no momento da aplicação da pena, as


atenuantes de um terço a dois terços concernentes à delação, o nível da
colaboração emprestada e o quão ela foi eficiente para interromper a situação
delitiva.

A colaboração premiada, até então pouco estudada, ganhou seu destaque no


cenário atual da justiça brasileira, no qual o país enfrenta uma crise política
e econômica, fomentada pelos inúmeros casos de corrupção descobertos através
das operações especiais da polícia federal. Os casos de corrupção ativa e passiva
que surgem a cada dia nos noticiários brasileiros possuem uma gama gigantesca
de indivíduos políticos entranhados nas investigações.

Este método de justiça negocial foi o meio encontrado pela justiça para agilizar
esses processos e dar mais efetividade a eles, por meio do qual os entes
responsáveis pelos atos de corrupção delatam seus comparsas, muitas vezes
pessoas de cargos importantes no cenário político nacional, bem como prestam
informações relevantes acerca da realização das atividades ilícitas, em busca de
atenuação da pena a lhes ser atribuída. Além dos requisitos que possibilitam a
diminuição da pena do delator, outro ponto de essencial importância é o perdão
judicial.

No entanto, em casos como o que o país vive, atualmente é que se pode verificar
um dos defeitos desse instituto negocial, pois diante de condições atrativas para
redução da pena, as delações que surgem nem sempre são confiáveis, ou ajudam
na resolução do processo, podendo ainda prejudicar cada vez mais seu trâmite.
Diante disso, é necessário que haja imparcialidade total do julgador acerca destas
ações, e cautela para com as provas testemunhais produzidas pelas inúmeras
colaborações apresentadas.

5. CONCLUSÃO

Este trabalho objetivou dispor acerca do instituto da justiça negocial e suas


ramificações no ordenamento jurídico brasileiro, com ênfase na colaboração
premiada e em sua importância no cenário sócio-político atual do país.
As diferentes formas de negociação do cumprimento da pena na justiça criminal
são difundidas como solução ao abarrotamento do poder judiciário, na tentativa
de dar cumprimento ao princípio da celeridade processual. Entretanto, o grande
óbice desta tarefa é manter o respeito e a integridade adquiridos até hoje pelo
poder judiciário, em respeito aos demais princípios, como do acesso à justiça e,
principalmente, da dignidade da pessoa humana.

Parte da doutrina entende que, em uma incansável busca por modernização e


celeridade, algumas das vezes a justiça acaba por deixar de lado direitos e
garantias fundamentais, como do contraditório e da ampla defesa, o que não pode
ocorrer para que o sistema negocial seja realmente efetivo, devendo ser
encontrado um equilíbrio em sua aplicação.

O início da justiça negocial no Brasil se dá pela criação dos Juizados Especiais,


possibilitando a transação das penas e uma forma de julgamento mais célere que
seja benéfica à vítima e ao autor, na busca de sempre observar as disposições da
Constituição Federal e das garantias fundamentais do indivíduo.

Observa-se, neste sentido, que os métodos de justiça negocial buscam espaço na


aplicação do direito em todo o mundo, conquistando seu lugar na doutrina e
legislação brasileira. Entretanto, é necessário o estudo de todas as formas de
aplicação e seus possíveis impactos em relação a direitos os quais já se encontram
resguardados ao povo. Portanto, a aplicação da negocialidade através dos juizados
especiais barganha a transação penal e, principalmente, a colaboração premiada,
devendo ser realizada gradativamente e em observância direta aos ditames
constitucionais, evitando os excessos e a impunidade.

A colaboração premiada, por sua vez, é, atualmente, o método mais eivado de


publicidade e atenção midiática, diante do cenário atual do país e, portanto, abre
portas para um estudo maior acerca das suas disposições doutrinárias,
jurisprudenciais e práticas. Afinal, é através deste ramo da justiça negocial
criminal que pessoas consideradas inatingíveis juridicamente, passam a cumprir
suas devidas penas de formas alternativas, bem como colaboram para a resolução
dos crimes cometidos em qualquer esfera social ou política, sem distinção de
classe, em uma forma de aplicação jurídica jamais vista no país, pautada no real
respeito ao princípio da igualdade.

RERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Atena, 1959.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de
Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira).
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei n° 9.099 de 1995. Institui a Lei dos Juizados Especiais. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 02 mai.
2018.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.


Decreto- Lei no 2.848, 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>.
Acesso em: 02 mai. 2018.

GRINOVER, Ada Pelegrini. GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais


Criminais – comentários à lei 9.099/95. 5. ed. São Paulo.: Revista dos
Tribunais. 2005. 475 p.

LOPES Jr., Aury. Direito Processual Penal. 13. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016.

Autor
Thiago Thiago Vinícius Pondian Caravelo
Vinícius
Pondian
Caravelo

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de
prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos
são divulgados na Revista Jus Navigandi.

Вам также может понравиться