Вы находитесь на странице: 1из 7

DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL Nº 20861/08


APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO
APELADO 1: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
APELADO 2: ESTADO DO RIO DE JANEIRO
APELADO 3:121 PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA
RELATORA: DES. CÉLIA MARIA VIDAL MELIGA PESSOA
CLASSIFICAÇÃO REGIMENTAL Nº 1

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TOMBAMENTO


DO COLÉGIO MARISTA SÃO JOSÉ. DEMOLIÇÃO DE PRÉ-
DIOS SECUNDÁRIOS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA,
QUE BEM APRECIOU AS PECULIARIDADES DO TOMBA-
MENTO, MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
Tombamento declarado por ato legislativo estadual. Vício formal
de iniciativa, uma vez que o tombamento, por interferir na pro-
priedade, exige a observância da ampla defesa, sendo, portan-
to, ato administrativo da autoridade competente, e não função
abstrata da lei. Logo, como o ato legislativo é via inadequada
para o ato de tombamento, correta a sentença ao concluir que
as citadas leis estaduais não poderiam produzir efeito. Decretos
municipais de tombamento. Processo administrativo que traz es-
tudo histórico e embasa o decreto que tombou o aludido colégio,
a indicar que apenas ao prédio principal foi reconhecida impor-
tância para a história da arquitetura. Prova pericial em igual sen-
tido. Segundo decreto que tão-somente especificou o objeto do
tombamento, adequando-o ao teor do processo administrativo, e
não praticou destombamento algum. Correta a sentença ao con-
cluir que ele não está eivado de vício algum, eis que apenas su-
priu omissão contida no decreto de tombamento originário. De-
molição dos prédios secundários que não pode ser tida como i-
lícita, haja vista que sobre eles não paira qualquer restrição. Li-
cenças para construir. Prova pericial que analisou pontualmente
os processos administrativos. Nítida regularidade de seu defe-
rimento. Atendimento das exigências legais. Direito subjetivo do
interessado, que deve ser respeitado não só pela Administração
Pública, como também pelo Judiciário. Também correta a sen-
tença ao concluir pelo descabimento da invalidação do ato vin-
culado em apreço. Inexigibilidade de estudo de impacto de vizi-
nhança em razão de ainda não ter sido editada a lei municipal
definidora dos empreendimentos que o exigirão, conforme dis-
posto no art. 36 do Estatuto da Cidade (Lei nº 10257/01).
DESPROVIMENTO DO RECURSO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível


de nº 20861/08, em que figuram como apelante MINISTÉRIO PÚBLICO, sendo
apelado 1 MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, apelado 2 ESTADO DO RIO DE
JANEIRO e apelado 3 121 PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA,

A C O R D A M os Desembargadores da Décima Oitava Câ-


mara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
_________________________, em negar provimento ao recurso, nos termos do
voto da Des. Relatora.

Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público


em face de Município do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro e 121 Partici-
pações e Empreendimentos Ltda, versando sobre a legalidade do tombamento,
do destombamento e da demolição dos prédios onde se situava a antigo externato
São José, posteriormente Colégio Marista São José, bem como das licenças para
construir deferidas ao 3º réu.

A pretensão exordial consiste na condenação do segundo réu


a reconstruir o bem demolido, na condenação de todos os réus a pagar indeniza-
ção decorrente do período em que a população ficou privada de contemplar o
bem ilegalmente demolido e na declaração de ilegalidade das licenças de constru-
ir deferidas ao 3º réu.

A sentença julgou improcedente o pedido, deixando de con-


denar ao pagamento de custas judiciais e honorários advocatícios por força do art.
18 da Lei nº 7347/85. Fundou-se em que o tombamento decorrente das leis esta-
duais nº 3317/99 e nº 3452/00 não produziu efeito, dado o vício de iniciativa a
contaminar o referido ato legislativo, reconhecido pelo próprio Estado do Rio de
Janeiro, haja vista que o tombamento de um imóvel só pode ser realizado pelo
Poder Executivo, e não pelo Legislativo, em razão de sua natureza jurídica emi-
nentemente administrativa. Fulcrou-se em que, no âmbito municipal, o segundo
decreto (nº 19342/00) apenas supriu omissão contida no decreto de tombamento
originário, que, de forma genérica, aludiu apenas ao endereço do imóvel, deixan-
do de detalhar com precisão o objeto das limitações impostas, as quais estavam
desde o início especificadas no PA 12/001.236/97, ou seja, que o tombamento era
restrito ao prédio principal. Concluiu que os imóveis demolidos não estavam a-
brangidos pela aludida limitação administrativa. Rechaçou o pleito de declaração
de nulidade da licença para construir porque sua concessão foi deferida regular-
mente por todos os órgãos técnicos competentes através de processos adminis-
trativos regulares, após o cumprimento das exigências legais, o que a caracteriza
como ato vinculado. Pautou-se em prova documental e pericial (fls.716/723).

2
Inconformado, o Ministério Público apela, sustentando que o
tombamento estadual decorreu da lei estadual nº 3317/99, de autoria do Deputa-
do Carlos Dias, que tombou, in verbis, “o antigo externato São José, posteriormente
Colégio Marista São José, situado na Rua Barão de Mesquita, nº 164, Tijuca” e que na es-
fera municipal o tombamento decorreu do Decreto nº 19010/2000, assinado pelo
prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Aduz que ambas as instâncias administrati-
vas, sem qualquer razão ou motivo legitimador, procederam à revisão dos atos
normativos.

Assevera que o destombamento realizado pelo Estado do Rio


de Janeiro decorreu da Lei estadual nº 3452/99, que reduziu o objeto do tomba-
mento a apenas o prédio principal do colégio, sob a justificativa de ser o prédio
mais antigo do complexo. Explana que o destombamento realizado pelo ente mu-
nicipal se deu sob a alegação de que o decreto de tombamento continha incorre-
ções, dentre elas a ausência de delimitação do objeto a apenas o prédio principal.
Afirma que a manobra utilizada pelos entes públicos se prestou a viabilizar a cons-
trução dos prédios multifamiliares no local onde havia os prédios demolidos. Alega
que a lei estadual que instituiu o tombamento não padece de inconstitucionalidade
formal por vício de iniciativa, eis que não há reserva da administração nesta seara
e que a adoção de atos administrativos pelo Legislativo não fere a separação dos
poderes. Insiste que a instituição de tombamento pelo legislativo não ofende o or-
denamento jurídico pátrio. Afirma haver ilegalidades no destombamento estadual,
uma vez que a lei faz menção a alguns imóveis que possuem estilo neoclássico,
mas apenas mantém o tombamento do prédio principal, possibilitando a demoli-
ção de prédios de inquestionável valor cultural. Assevera que o destombamento
ocorreu em agosto de 2000, quando o imóvel já pertencia (desde agosto de 1999)
à terceira apelada. Argumenta que a Lei estadual nº 509/81 só permite o destom-
bamento quando houver erro de fato quanto à sua causa determinante ou por exi-
gência indeclinável do desenvolvimento econômico social do Estado. Aduz ter ha-
vido desvio de poder consistente na edição de lei que não atende ao interesse
público.

Afirma que o Decreto nº 19342/2000, sob o pretexto de que o


Decreto nº 19010/2000 continha incorreções, reduziu o tombamento ao prédio
principal sem qualquer motivação legal. Alega que tal ato objetivou tão-somente
retirar o manto protetor do patrimônio histórico e cultural e inobservou o art. 6º,
incisos I e II, da Lei municipal nº 928/86, que permite o destombamento apenas
quando se provar que resultou de erro de fato quanto à sua causa determinante
ou por exigência indeclinável do desenvolvimento econômico-social do município.

3
Argumenta que, como os atos de destombamento são nulos,
e como as licenças de demolição e construção decorreram de tais atos, também
são nulas. Aponta a necessidade de aplicação do Estatuto da Cidade (Lei nº
10257/2001) em razão de o bairro da Tijuca possuir alta densidade populacional,
insistindo que o art. 37 da citada lei institui o estudo de impacto de vizinhança co-
mo instrumento hábil a evitar o crescimento urbano desorganizado, o qual não foi
realizado na espécie. Alega que a concessão da licença para construir viola o art.
222, p.ú., do Plano Diretor do Rio de Janeiro, que prevê que as edificações em
lotes resultantes de remembramento observarão os parâmetros urbanísticos esta-
belecidos para cada lote original. Aduz haver possibilidade jurídica do pedido for-
mulado na exordial.

Contra-razões do Estado do Rio de Janeiro, a fls.780/793, em


prestígio da sentença.

Contra-razões de 121 Participações e Empreendimentos Ltda,


a fls. 785/804, em prestígio da sentença.

Parecer da Procuradoria de Justiça, a fls.810/815, pelo provi-


mento do recurso de apelação, prestigiando o recurso interposto pela Promotoria
da Justiça.

Recurso tempestivo e isento de custas (certidão fls.762).

É O RELATÓRIO.

Volta-se o recurso contra sentença de improcedência proferi-


da em ação civil pública que vinculava pretensão de anulação de destombamento
e de licença c/c indenizatória, fundada em que o ato de tombamento praticado pe-
lo ente estatal padece de vício de iniciativa, o ato municipal de redução do objeto
do tombamento é válido porque apenas suprimiu omissão do ato anterior, ade-
quando a restrição às limitações impostas no devido processo administrativo, e a
concessão das licenças, ato administrativo vinculado, obedeceu aos requisitos le-
gais.

Improcede a insistência do Ministério Público, haja vista que a


sentença, que bem apreciou as peculiaridades do tombamento do Colégio Marista
São José, merece ser mantida por seus próprios fundamentos.

4
No que pertine ao ato legislativo estadual (Lei estadual nº
3452/00) que tombou o bem em questão, padece de vício formal de iniciativa.

Isso porque o ato de tombamento, por interferir na proprieda-


de, exige a observância da ampla defesa, o que somente pode ocorrer em sede
administrativa, uma vez que o trâmite do projeto de lei não permite a prática do
contraditório.

A ilustrar a questão, trago à baila a lição de Hely Lopes Meire-


les, in Direito Administrativo Brasileiro, Ed. Malheiros, 25ª edição, p.525, in verbis:
“A norma nacional sobre tombamento é o Dec.-Lei 25, de 30.11.37, complementado por dis-
posições de outros diplomas legais, mas o tombamento em si é ato administrativo da auto-
ridade competente, e não função abstrata da lei, que estabelece apenas as regras para sua
efetivação. O tombamento realiza-se através de procedimento administrativo vinculado, que
conduz ao ato final de inscrição do bem num dos Livros do Tombo. Nesse procedimento de-
ve ser notificado o proprietário do bem a ser tombado, dando-se-lhe oportunidade de defesa,
na forma da lei. Nulo será o tombamento efetivado sem o atendimento das imposições legais
e regulamentares, pois que, acarretando restrições ao exercício do direito de propriedade,
há que observar o devido processo legal para sua formalização, e essa nulidade pode ser
pronunciada pelo Judiciário, na ação cabível, em que serão apreciadas tanto a legalidade
dos motivos quanto a regularidade do procedimento administrativo em exame.” (grifos
nossos).

Desse modo, como o ato legislativo é via inadequada para o


ato de tombamento, correta a sentença ao concluir que as citadas leis estaduais
não poderiam produzir efeito, haja vista que o tombamento de um imóvel só pode
ser realizado pelo Poder Executivo.

No tocante ao Decreto municipal nº 19342/00, que alterou o


Decreto nº 19010/2000 (documentos apensado por linha) não resta melhor sorte
ao recorrente.

A leitura do processo administrativo nº 12/001.236/97, que


traz estudo histórico e embasa o primeiro decreto que tombou o prédio do aludido
colégio, indica que, quanto ao imóvel situado à Rua Barão de Mesquita, 146, ape-
nas ao prédio principal foi reconhecida importância para a história da arquitetura,
hábil a justificar o tombamento, como se infere do seguinte trecho do estudo que o
instrui: “Para o externato foi construído o prédio na Rua Barão de Mesquita, 146 e para o
internato foi construído o prédio na Rua Conde de Bonfim, 1067 (...) As linhas arquitetônicas
de ambos os prédios foram projetadas pelo Irmão Marista Mário Otaviano (...) O prédio origi-
nal tem a forma de um quadrado, com dois pavimentos e pátio central. Seu estilo apresenta
características típicas do chamado neoclássico (...) No eixo central da fachada principal (...)
A cobertura do prédio, em telha cerâmica(...). No início da década de 70 vários acréscimos

5
foram feitos ao projeto original de 1928. Foram construídos então: (...).” (documentos a-
pensados por linha).

No mesmo sentido é o teor do laudo pericial, em cuja conclu-


são consta: “A única edificação considerada importante pelos órgãos responsáveis pela
preservação dos bens de valor histórico, arquitetônico e cultural, é o prédio principal, em
forma de quadrado, com um pátio central. Segundo os pareceres técnicos acostados aos
autos, dos estudiosos, arquitetos e historiadores, as edificações demolidas eram modestas,
mesmo sendo do período neoclássico, não possuindo ornamentos importantes. O prédio
principal foi tombado por ser representativo em termos arquitetônicos, históricos e afetivos
para o bairro. (...) Muitas construções antigas não têm qualquer importância histórica e ar-
quitetônica, como no caso dos prédios demolidos, segundo o parecer dos órgãos responsá-
veis pelos tombamento. Todas as edificações foram devidamente analisadas e demolidas
com autorização” (fls.656/657).

Logo, como o segundo decreto (nº 19342/00) tão-somente es-


pecificou o objeto do tombamento, adequando-o ao teor do processo administrati-
vo que apreciou o tema, e não praticando destombamento algum, correta a sen-
tença ao concluir que ele não está eivado de vício algum, eis que apenas supriu
omissão contida no decreto de tombamento originário, que, de forma genérica,
aludiu apenas ao endereço do imóvel, deixando de detalhar com precisão o objeto
das limitações impostas, as quais estavam desde o início especificadas no PA
12/001.236/97, ou seja, que o tombamento era restrito ao prédio principal.

Desse modo, não pairando sobre os prédios qualquer restri-


ção, a demolição não pode ser tida como ilícita.

Com relação às licenças para construir, a prova pericial, a


fls.653/656, analisou pontualmente os processos administrativos que as precede-
ram, restando nítida a regularidade de seu deferimento, cabendo transcrever aqui
a seguinte conclusão da expert: “De acordo com a minuciosa análise dos Autos, parece-
res técnicos, andamento de processos municipais, plantas, fotografias, relatórios etc, esta
perita conclui, em relação aos processos administrativos que em todos os procedimentos
foram obedecidos os trâmites normais e cumpridas as exigências do Município, tanto que os
projetos forma aprovados e licenciados” (fls. 656).

Assim, verificado, in casu, o atendimento das exigências le-


gais, o direito subjetivo do interessado deve ser respeitado não só pela Adminis-
tração Pública, como também pelo Judiciário, motivo pelo qual também correta a
sentença ao concluir pelo descabimento da invalidação do ato vinculado em apre-
ço.

6
Por fim, a inexigibilidade de estudo de impacto de vizinhança
decorre do fato de ainda não haver sido editada a lei municipal definidora dos em-
preendimentos que dependerão do prévio estudo, conforme disposto no art. 36 do
Estatuto da Cidade (Lei nº 10257/01).

Por tais razões, pelos mesmos fundamentos apontados na


sentença, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO.

Rio de Janeiro, de de 2008.

DES. CÉLIA MARIA VIDAL MELIGA PESSOA


RELATORA

Вам также может понравиться