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SECRETARIA ADMINISTRATIVA
SUPERVISORA Loretta Passaro
SECRETÁRIA Selma Pereira Conceição
ASSISTENTE ADMINISTRATIVO Agnaldo Marins Teixeira
CONSELHO DIRETOR
PRESIDENTE Alexandre Kahtalian
SECRETÁRIA Nisara Lovanda Pinheiro
TESOUREIRA Maria Inês Pinto MacCulloch
VOGAL EFETIVO Rosa Sender Lang
VOGAL ASSOCIADO Maria Aparecida Duarte Barbosa
COMISSÃO CIENTÍFICA
DIRETORA Veronica Portella Nunes
MEMBROS Isis de Souza Figueiredo
Sandra Maria Martins Pereira
Thereza Christina Rosa Pegado Ribeiro
Vanja Rodrigues Mattos
Editorial ........................................................................................5
Freudam-se ................................................................................. 31
Marcelo Madureira
ARTIGOS
Psicanálise e Neurociência.
Uma Perspectiva Interdisciplinar e Evolucionária. .................. 35
Ernesto La Porta
O autismo psicogênico,
a personalidade autista e o trauma .......................................... 119
Sebastião Abrão Salim
MONOGRAFIA
AMOR TRANSFERENCIAL:
Alcebíades e Sócrates X Analista e Analisando ....................... 167
Isis de Souza Figueiredo
RESENHAS
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ESPECIAL:
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que era o que Freud pretendia. E assim foram outros seguidores, e, entre
os comedidos e os ousados, aconteceram as divisões diversas. Essas
divisões são hoje patentes, e, aqui no Rio, essas divisões aconteceram a
partir deste local, ao qual estou voltando depois de doze anos de ausência,
e onde se formaram quase todos os analistas que criaram outras sociedades,
dentro e fora da IPA. É interessante como a Sociedade Psicanalítica do
Rio de Janeiro formou os analistas de dentro e de fora da IPA. Muitas
sociedades fora da IPA têm membros da Rio de Janeiro, formados aqui. E
brilhantes. E muitas sociedades da IPA têm membros formados aqui.
Então, me parece que isso é inerente à luta humana no seu processo de
civilização. É interessante observar como isso é profeticamente adiantado
por Freud para o desenvolvimento da psicanálise. Não há possibilidade
de ser diferente. E compete a nós, dentro de um processo civilizado, facilitar
a divergência, sem estimular a divisão. Esse é o propósito pelo qual estou
aqui presente, depois de longa ausência, e com muito prazer, ao lado do
presidente Alexandre Kahtalian, cuja eleição admirei. Ele é o presidente
da sociedade à qual eu pertencia, o que representa um dos melhores
esforços dessa sociedade no sentido do seu soerguimento, no sentido da
sua renovação. Sempre o parabenizo por sua eleição, que representa um
fato muito importante para nós, que saímos e fundamos a APERJ, a
Associação Psicanalítica do Estado do Rio de Janeiro, a Rio-4. Há uma
modificação positiva e é isso que nos traz aqui.
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demanda, antigamente ela era por sintomas, quer dizer, o indivíduo tinha
uma problemática sintomatológica. Alguém, um amigo, médico ou parente
dizia: ‘bom, você tem que procurar um psicanalista, porque a coisa não
está boa para o teu lado’. Hoje em dia, o que a gente observa muito nos
consultórios psicanalíticos é que a demanda é que passou a ser a procura,
ou seja, não é mais o sintoma. O indivíduo vai ao consultório demandar.
Demandar o quê? Algo que ele está vivendo intensamente nos dias de
hoje, que é a falta do sentimento de ser. Então, o indivíduo, muitas vezes,
vai ao consultório para que, realmente, o analista o ajude a encontrar a
sua essência. Isso tem provocado um grande aumento daquilo que a gente
tem chamado de ‘depressão vazia’, a depressão sem objeto. A grande
procura hoje é de natureza mais depressiva, mas é depressiva do self, é da
ausência de construções interiores que garantam esse sentimento de ser.
Então, eu acho que temos que estar atentos, porque a demanda mudou e
eu não sei se os analistas estão preocupados com isso, mas deveriam estar,
porque isso tem trazido novos enfoques de atuação em relação ao trabalho
analítico. Acho que a psicanálise vive de crises. Ela pode estar em uma
crise de modelo quanto a aspectos da prática analítica, ou da técnica.
Técnica é uma coisa que você faz para mudar alguma coisa. Prefiro usar o
termo prática. Em relação à prática psicanalítica, muitas coisas têm surgido
ultimamente, tais como, o modelo de associação livre. Hoje, ele coteja
com outro tipo de modelo, por exemplo, o que seria da introspecção e da
empatia. Seria uma outra maneira de abordar ou de fazer com que a
circulação de idéias possa ocorrer. São coisas novas que têm acontecido:
tipos de transferência que não são mais aqueles que a gente via. Quando
se fala em pesquisa, trata-se de um campo muito grande a explorar. É na
pesquisa que muita coisa pode ser descoberta. E isso é uma área ainda
muito complicada dentro da IPA. O setor de pesquisa dá muita confusão
ainda, porque você tem que estabelecer critérios para a pesquisa em
psicanálise. É uma coisa muito complicada. Ainda não é algo muito
estabelecido. Podemos mais tarde discutir a pesquisa baseada em
evidências na medicina, assim como as relações da psicanálise com outras
áreas, com outros tipos de psicoterapia. Acho que a psicanálise tem o seu
lugar e embora esteja passando por um momento de turbulência, está
viva, está ativa. É uma coisa da qual a gente deve se orgulhar, em função
disso. Gostaria de falar ainda sobre as formações feitas fora do nosso
ambiente. Existe um mercado informal de formações. Acho que nós, da
IPA, devemos defender a nossa. Não vou dizer que não existam outras
formações que mereçam ser qualificadas como boas, mas acho que é nosso
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hostilizado, era mal visto. Se não era francamente hostilizado, era pelo
menos mal visto. Era tido como alguém de dupla identidade: é psicanalista,
mas trabalha na Universidade; faz um trabalho conjunto ali, que não é
psicanálise. Começaram as brigas internas sobre o que é psicanálise e sobre
quem é mais psicanalista do que o outro. Havia a idéia, em termos de
mercado, de que bastava entrar para uma sociedade que seu consultório
estava garantido. Você não precisava fazer uma extensão universitária,
você não precisava conhecer mais nada: você entrava na sociedade e fazia
sua vida nela. Era isso que era bem visto. Havia uma trajetória dentro da
sociedade e, se você fosse bem, mostrasse seu pensamento, se fosse bem
aceito, você então estava com a sua vida feita. Essa é a época do
adoecimento, quando nós passamos, como instituição psicanalítica, a
desprezar os demais campos do saber. Isso trouxe conseqüências muito
graves, porque, por exemplo, fez com que várias pessoas, vários analistas
das sociedades da IPA, abandonassem as universidades, criando
verdadeiras lacunas que foram preenchidas por outros analistas de outras
formações. Os analistas da IPA se retiraram e passamos a pagar um preço
por esse distanciamento, que foi conseqüência da idéia errada de que nós
não precisávamos de nada e de ninguém. Hoje temos uma rara
oportunidade de pensar essas questões de uma maneira mais saudável.
Quando se fala em crise, talvez se esteja falando de uma reavaliação da
nossa posição no mercado. Por exemplo, na época dessas grandes
dificuldades, surgiu também a idéia de que o analista precisava conhecer
uma área específica do saber psicanalítico. Tínhamos os analistas
bionianos, que não falavam com os kleinianos, que não falavam com os
freudianos. E aí a doença foi generalizada. De tal forma que hoje nós
entendemos que um bom analista tem que conhecer mais do que o antigo
analista dessa época acreditava que precisava conhecer. A formação da
IPA avançou no sentido da saúde, porque hoje, na nossa formação, exige-
se que a pessoa conheça pelo menos três escolas principais, além de Freud.
Temos que conhecer os outros autores, as principais descobertas. É um
momento em que o analista que conhece mais, estuda mais e tem um
círculo de relações com outras áreas do saber, está em melhores condições
de ter também uma boa clínica, um bom consultório, como acontece com
todos os outros profissionais da área de saúde, grupo ao qual nós
pertencemos. Se isso é uma crise, talvez seja uma crise saudável sob o
ponto de vista de uma certa humildade, porque voltamos a ter que
conversar com nossos pares, que conviver com nossos limites. Acho que
hoje nós temos uma oportunidade. Está nas nossas mãos essa possibilidade
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de refazer relações que foram rompidas, rompidas por nós, e que, claro,
levaram a repercussões nos nossos pares. Do ponto de vista das nossas
sociedades, vivemos um longo período de graves conflitos, também com
graves conseqüências, com muitas dificuldades. Muita energia gasta mais
em brigas do que em construção, um problema que estamos tendo uma
oportunidade histórica de começar a resolver. Não é resolver de maneira
ingênua, achando que nós vamos superar a existência dos eternos conflitos
humanos, mas a expectativa de que a gente possa olhar para os conflitos
com mais tolerância e com mais sabedoria, podendo aprender com eles.
Daí resulta que nós, os presidentes das quatro sociedades do Rio de Janeiro
estamos trabalhando juntos. Já combinamos que todos os eventos
nacionais e internacionais serão feitos em conjunto, divulgamos entre nós
toda a nossa atividade científica. Nós temos uma logomarca das quatro
sociedades. E estamos começando a aprender que o que foi divisão, que
teve um desdobramento histórico talvez não desejado no primeiro
momento, pode hoje ser entendido como uma vantagem, porque o Rio de
Janeiro hoje abriga um terço das sociedades de psicanálise do Brasil. São
doze sociedades e nós somos quatro. Um evento nosso começa com o apoio
de quatro sociedades componentes. Graças a isso, nós estamos agora, no
final do ano, fazendo um evento também de comemoração dos cento e
cinqüenta anos de Freud, com o Projeto Capsa, que convida analistas de
outras regiões para a nossa, e nós podemos convidar três pessoas, porque
somos quatro sociedades. Então é hora de a gente aprender a restabelecer
as nossas relações e transformar o que foi um resultado inicialmente
desvantajoso em um resultado que pode se voltar a nosso favor, que pode
resultar em uma outra forma de se apresentar para a nossa sociedade e
para a comunidade em geral, e que pode facilitar o intercâmbio, como já
vem acontecendo entre nós, psicanalistas da IPA. E voltar a entender aquilo
que nos une, porque todos nós somos analistas da IPA, como um selo de
qualidade, que é o que nós precisamos. E aí eu concordo com o Alexandre,
que precisamos defender a nossa formação. Nós temos um selo de qualidade,
sabemos que tipo de formação é essa que nós oferecemos e isso precisa
ficar mais claro para o público em geral. Fazemos eventos com uma
seriedade e com uma qualidade, que fazem parte da nossa tradição. E a
gente vem estabelecendo entre nós essa relação mais harmônica.
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que guarda, até certo ponto, uma grande afinidade com algumas questões
que a psicanálise levantou há muito tempo, apesar de uma sistemática
diferente da nossa. Agora podemos encontrar um par para dialogar de
uma maneira mais franca, mais próxima, e que nos recebe também porque
nós temos as teorias que eles precisam para as pesquisas que fazem. Então,
são parcerias. Essa, por exemplo, é uma parceria moderna, atual, que
aponta para o futuro, e que é muito interessante para o saber psicanalítico.
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presidentes no ano que vem, para que não deixem esmorecer esta iniciativa,
buscar o encontro. Claro, nós temos muitas arestas, temos muitas feridas
abertas ainda, mas vejam o que nós já conseguimos. Nós nunca
imaginamos, até pouco tempo atrás, que pudéssemos fazer eventos juntos,
como fizemos e vamos continuar a fazer. Sei que existem críticas, e os
meus críticos estão aí. Não importa, sempre haverá crítica. Nós temos é
que continuar essa batalha iniciada no ano passado. E está havendo um
movimento muito grande também com a Fepal. A Fepal está muito
mobilizada, particularmente, nesse sentido de trocas. Não podemos perder
essa oportunidade de nos entrosar cada vez mais com os outros latino-
americanos, quer dizer, não é só no Rio de Janeiro. Durante o Congresso
Internacional nos reunimos, presidentes brasileiros, surgindo dali a idéia
de conversarmos sobre nossas instituições, assim como queremos também
fazer com a América Latina, conhecermo-nos mutuamente. No Brasil, as
diversas formações são diferentes em muitos aspectos. E, a partir dessas
percepções, nos interessamos por trocar informações sobre nossos modelos
de formação, para nos conhecermos melhor. Queremos conhecer não só
como é a formação na França, na Inglaterra, mas também as de nosso
país. Por ultimo, gostaria de dizer que considero importante estimular
este movimento entre nós do Rio de Janeiro para reforçar a psicanálise
no nosso estado, para unir forças, porque nós perdemos espaço.
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Sobre a prevenção da
transmissão transgeracional
da guerra, do ódio e da violência:
uma perspectiva psicanalítica*
Cláudio Laks Eizirik**
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Freudam-se
Marcelo Madureira*
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ARTIGOS
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Psicanálise e Neurociência.
Uma Perspectiva Interdisciplinar
e Evolucionária.
Ernesto La Porta*
Resumo
O trabalho aborda o tema de uma forma interdisciplinar e
evolucionária. Parte de conceitos sobre um ego incipiente em suas
relações com mecanismos primitivos de introjeção e projeção. Estes
foram formando um mundo interno com seus objetos internos e
um mundo externo com seus objetos externos. Isso no decurso da
evolução formou os órgãos dos sentidos e um órgão de percepção
sensorial – a consciência como “núcleo do ego” em suas conexões
com o córtex cerebral. Tópicos diversos são abordados com referên-
cia à relação cérebro mente, através da plasticidade cerebral, da
neurogênese e do aprendizado, formando interconexões encefálicas
através de sinapses e circuitos utilizáveis pelo ego de maneira
inconsciente e, também consciente, em suas múltiplas relações.
O trabalho destaca trechos da obra de Freud Sobre Afasia e suas
conseqüências sobre a Psicanálise.
Abstract
The work boards the theme (subject) in an interdisciplinary and
evolutionary way. Part of the concepts is about an incipient ego
in his relations with primitive mechanisms of introjections and
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por lesões orgânicas, mas como pode ocorrer nas parafasias, em momentos
de fadiga ou em certos estados emocionais.
Freud considerou que a linguagem no inconsciente está organizada em
forma de condensação e deslocamento, o que Lacan assinalou estar o
inconsciente estruturado em termos de linguagem, como metáfora e
metonímia. Esta linguagem se expressa na livre associação de idéias, em
forma de sonhos, lapsos da fala, sentimentos, emoções, falsas concepções,
condensadas e deslocadas em forma de conglomerados referindo-se não
apenas ao reprimido, mas ao inato. Tudo como um arquivo vivo exigindo
interpretação, buscando comunicação, como a esfinge no caminho de
Tébas ameaçando: decifra-me ou te devoro. Por esta razão percebe-se
que a hermenêutica é uma necessidade vital, uma exigência do inconsciente
para a liberdade e para a vida.
A análise da metáfora situa-se numa encruzilhada entre duas disci-
plinas: a retórica e a poética que, no dizer de Paul Ricoeur, têm dois fins
distintos: a persuasão no discurso oral e a mimese das ações humanas na
poesia trágica. Bem metaforisar, dizia Aristóteles, é perceber o semelhante
entre a identidade e diferença, destacando o papel da imaginação
produtora, que consiste perceber o semelhante no diferente e hermenêutica
como a emergência de um novo sentido. E o ponto mais importante desta
relação entre metáfora, inconsciente e a arte de psicanalisar, isto é,
entender a fala do inconsciente, é a referência à verdade ao ser captada
pela consciência, o insigth espontâneo ou decorrente de interpretação do
analista.
Mas Lacan ao considerar a metonímia também como linguagem do
inconsciente estava, outrossim, se referindo à importância do conteúdo e
continente, do signo ao significante, do físico ao psíquico, do modelo à
coisa, o que juntamente com a metáfora formam um todo procurando
comunicação.
Um outro aspecto de máxima importância, nesta monografia, diz
respeito à expressão concomitante, que consiste num paralelismo entre o
cérebro e o psíquico, considerado, por Freud, apenas como uma relação
de contigüidade, um processo paralelo ao fisiológico (a dependent
concomitant). Freud cita em inglês a expressão concomitante dependente
de Huglings Jackson, neurologista inglês, a quem Freud sentia-se muito
ligado. Freud define o correspondente fisiológico como algo da natureza
de um processo, a partir do qual se difunde por todo o córtex cerebral, ao
longo de vias particulares. Acrescenta que esta condição, permanece, no
córtex encefálico como uma modificação, com a possibilidade de
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Masoquismo mortífero e
masoquismo guardião da vida:
resumo e comentários da obra de
Benno Rosenberg*
Juan Eduardo Tesone**
Resumo
Neste artigo o autor resume e comenta aspectos clínicos e teóricos
dos conceitos de masoquismo mortífero e masoquismo guardião da
vida, na obra de Benno Rosenberg. Para tanto, parte do aprofun-
damento da noção de masoquismo erógeno primário e discorre sobre
a posição especial que o masoquismo ocupa em relação às pulsões,
bem como sobre a intensa ligação com a prática clínica.
Abstract
In this article the author comments and summing up clinic aspects
and theoretical of the concepts of fatal masochism and the
masochism guardian of life in the work of Benno Rosenberg. He
begins in profound understanding of the notion of primary erotic
masochism and he coments about the special position that
masochism is in relation to instincts, in addition of the intense
conection with the clinical practice.
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princípio do prazer. Esta modificação não pode ser feita se não inferimos
o que chamamos de mistura ou intrincação, a ligação da pulsão de morte
pela libido.
Sabemos que a intrincação pulsional depende do objeto. E também
que a intrincação – desintrincação das pulsões mudará na vida de um
sujeito em função dos avatares da vida, mudando consequentemente o
funcionamento do princípio do prazer.
A reivindicação de prazer e as condições do mesmo variam na psicose
e na neurose. À diferença da psicose, os neuróticos conseguem suportar a
tensão da excitação sem que a mesma seja traumática. Há muito para se
pensar em certas patologias como as toxicomanias ou os comportamentos
adictos em geral. Esta relativização do princípio do prazer em função dos
indivíduos, dos momentos e das situações, dão uma base e um objetivo ao
tratamento psicanalítico. Podemos dizer que busca-se uma mudança na
definição qualitativa do princípio do prazer, em sua reivindicação do prazer,
na urgência da satisfação; o masoquismo e o princípio do prazer são
conseqüência da intrincação das pulsões, dessa fusão-aliança pulsional
primária. São as duas caras, os dois aspectos de um mesmo momento
psíquico.
Qual é o significado desta solidariedade profunda entre o masoquismo
e o princípio do prazer? Segundo a primeira definição que identificava o
princípio do prazer e o princípio de Nirvana, o princípio do prazer conduzia
à realização dos objetivos da pulsão de morte; o prazer como redução à
zero da tensão da excitação torna-se paradoxalmente equivalente à
extinção, à autodestruição, à morte. A influência do masoquismo sobre a
concepção do princípio do prazer faz com que esta aspiração autodes-
truidora ao prazer absoluto seja evitada e que o princípio do prazer seja
vivido de maneira mais relativizada.
Dizer que Freud modifica o princípio do prazer em função do paradoxo
inerente ao masoquismo não seria dizer: o prazer masoquista transforma
o modelo de prazer?
B.R. tem a ousadia de pensar isto, e sua afirmação não está em desacor-
do com a teoria psicanalítica. Em todo caso nos ajuda a repensar as
patologias de adicção e a busca do absoluto que as caracteriza, em parti-
cular as toxicomanias. Claro que esta afirmação requer outros desdobra-
mentos.
O prazer converte-se em uma combinação de prazer e de desprazer
que inclui uma dose variável, mas inevitável de masoquismo. Esse prazer-
desprazer, que é o prazer, é variável; em certos momentos se aproxima
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1
Vol XII, pg. 224
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Masoquismo e coexcitação
Desde “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905) 2 até “O
problema econômico do masoquismo” (1924), Freud resume sua teoria da
coexcitação: “talvez no organismo não ocorra nada de certa importância
que não ceda seus componentes à excitação da pulsão sexual. Assim sendo,
2
Vol VII, pg. 109
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N. do T. tradução livre da citação de Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade.
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Masoquismo e objeto
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Vol. XIV, pg. 123 : “Um masoquismo primário, não derivado do sadismo na forma que
descrevi, não parece ser encontrado.” [Em trabalhos posteriores - ver O problema econômico
do masoquismo - me posicionei a favor de uma concepção oposta em relação a problemas
da vida pulsional]”.
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tudo isso se traduz pelo fato de que sem intrincação pulsional primária
(masoquismo erógeno), a lei de funcionamento da pulsão de morte
(princípio de Nirvana) tende a excluir toda excitação da matéria orgânica
fazendo com que ela regrida ao estado inorgânico.
Mas o masoquismo, assegurando a possibilidade de excitação, não é
somente guardião da vida, é também guardião da vida psíquica: a perma-
nência do núcleo masoquista primário no ego garante a temporalidade
– continuidade psíquica assegurando a continuidade da excitação e
impedindo, por um lado, a necessidade de descarga imediata, e, por outro
lado, pela presença de um mínimo de excitação conservada no interior
da descarga, e evita que esta seja (como a descarga imediata) um ponto
de descontinuidade, uma ruptura na vida psíquica. Da mesma maneira,
a presença da excitação no seio da satisfação alucinatória do desejo faz
esta necessária, como inclusive na vida fantasmática que se desprende da
mesma. Pelo contrário, é nos momentos de vazio interior, de ruptura
ameaçadora da vida fantasmática, que o sujeito sente a necessidade de
um sofrimento masoquistamente investido (masoquismo secundário) para
restabelecer o guardião de sua continuidade psíquica.
O que é o masoquismo mortífero? Benno Rosenberg propõe cinco
definições complementares:
1 – Uma primeira resposta que se possa tentar, é dizer que é um
masoquismo por demais “ bem - sucedido”. Isto quer dizer que o sujeito
investe masoquistamente todo sofrimento, toda dor, praticamente todo o
território do desprazer. Todos conhecemos o caso de alguns psicóticos
que dizem não sentir certas dores, inclusive, às vezes, como conseqüência
de auto-mutilações. Trata-se para eles, não só de transformar em agradável
a excitação, mas de encontrar prazer exclusivamente (ou quase) na vivência
da excitação por um investimento maior da mesma. O corolário desta
atitude é que a descarga como satisfação objetal torna-se supérflua, e em
última instância impossível.
2 – O masoquismo mortífero se define então, e é sua segunda definição,
como prazer da excitação em detrimento do prazer da descarga, como
satisfação objetal. Contrariamente ao masoquismo mortífero, o maso-
quismo guardião da vida, ainda que assegure a aceitabilidade necessária
da excitação, não impede a satisfação libidinal objetal (descarga) como
ponto culminante do prazer. À medida que esse deslizamento da satisfação
(descarga) objetal à excitação se produz, passamos do masoquismo
guardião da vida ao masoquismo mortífero, verdadeiro masoquismo
patológico.
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E. e J. Kestemberg, “ La faim et le corps”, Paris, PUF, 1972.
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63
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Resumo
A autora inspira-se nos referenciais da poesia, filosofia e da
psicanálise para tecer reflexões sobre o sentido e repercussões da
apreensão da beleza na constituição e sustentação de nosso
sentimento de eu.
Abstract
The search of the beauty as search of psychic equilibrium
The author inspires herself in the reference of poetry, philosophy
and psychoanalysis, to make reflections about the significance and
repercussion of the apprehension of beauty in the constitution and
hold of our feeling of self.
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(1975) mais tarde escreveu outro trabalho sobre o papel do espelho para a
criança, sendo entretanto o espelho representado pelo olhar da mãe e da
família como também do ambiente, responsáveis pelo sentimento de
aceitação da criança, da confirmação de estar crescendo, se desenvolvendo.
A criança se olharia no olhar-espelho da mãe e se sentiria amada - ou não.
Ao longo de nossa vida, procuramos captar no olhar do outro, dirigido a
nós, aprovação, elogios, uma pista de que estamos sendo vistos como
saudáveis, adequados e se possível, belos. Na história, veremos o homem
vestido das mais diversas formas, não apenas para se defender do frio,
como também para proteger a visão de seus órgãos sexuais, e também de
realçá-los sem mostrá-los completamente, como no caso das mulheres.
Adereços nos primitivos, buscavam um destaque de sua figura, com penas
de pássaros, dentes de animais, etc, e posteriormente sedas, rendas, jóias
e outros como símbolos de poder no homem civilizado.
Também aqui haveria uma dialética de buscar ser admirado, baseada
numa pressuposição ou projeção de busca do belo.
Agora meus comentários sobre a parte mais subjetiva, sobre a
apreensão do belo, sobre o que nos movimenta em direção à beleza, numa
visão psicanalítica.
Entrando um pouco mais na questão: um aspecto é querer ser admirado,
aceito; outro é precisar do belo.
Freud, (1930) em Mal-estar na Civilização, afirma que a valorização da
beleza é uma das características principais da sociedade civilizada e que a
fruição da beleza seria uma sublimação da atração sexual; a beleza seria
resultante da transposição da libido para objetos não-sexuais e a excitação
sexual se tornaria dessexualizada como prazer estético. Para Freud, a beleza
não seria algo em si, mas envolveria um processo subjetivo em que nossa
experiência de mundo estaria idealizada. Por esse ângulo, o objeto é sentido
como belo, não porque seja belo, mas porque se tornou um objeto
secundário de desejos eróticos. A sublimação é alcançada através da função
simbólica. Ainda numa perspectiva da psicanálise clássica, o sentido da
beleza nos alcançaria através de uma função defensiva, pelo caminho da
reparação ou negação das fantasias de castração. Talvez pudéssemos
visualizar na Vênus de Milo (a bela estátua de mulher com os braços
decepados, do período helenístico) um símbolo de beleza que remete à
incompletude, à castração.
Rank (1932 apud Hagman, 2004 ) escreveria que “no sentido da beleza
há um sentimento de totalidade, prazer, redução da ansiedade e a
experiência de fusão com o objeto que é sentido como perfeito e ideal”.
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Sachs (1942 apud Hagman, 2004) considerou a beleza como uma das
formas mais elevadas de experiência humana, sendo expressão de forças
internas de vida e de morte. Para ele, a atividade mental criativa reagindo
à beleza, produzindo beleza, corresponde à forma mais elevada da vida
psíquica, onde id, ego e superego estão ajustados.
O quadro O grito, de Edward Munch (1893) revela, a meu ver, compo-
sições múltiplas dessas instâncias esquematizadas por Freud (1923),
levando-nos à apreensão de dor extrema, horror, trevas e luz, luz corres-
pondendo mais à nossa apreensão do sentido, à captação do sofrimento
humano descrito em cores vivas, o feio e o bonito expressados de maneira
pictórica. Sob a ótica da teoria das pulsões, pulsão de vida, pulsão de morte,
tecendo entrelaçamentos.
Outra contribuição importante na compreensão psicanalítica de nossa
necessidade de beleza, surgiu de autores da escola kleiniana, entre os quais
Hanna Segal, Harris Williams, e outros como D. Meltzer que citarei a seguir.
Tomarei o conceito de projeção, expandido por essa escola, para
pensarmos um pouco mais.
Falando em projeção, necessariamente falamos de cisão ou divisão,
onde um determinado aspecto ou conjunto de sentimentos, percepções,
etc, são separados em agradáveis e desagradáveis, feios e bonitos e então
o belo é projetado e buscado; o feio é negado, desprezado, ignorado.
Continuando essa noção, utilizamos outro conceito, o da idealização, pelo
qual conferimos ao objeto qualidades maravilhosas de perfeição. A beleza
corresponde a uma idealização. Essa idealização ajuda-nos a construir
nosso ego ideal, porém a sua utilização exagerada pode afastar-nos da
realidade. Em certa proporção, precisamos estar em contato com alguém
ou algo sentido como ideal
Buscamos o belo como o contrário do feio que carregamos dentro de
nós: nossa culpa pelo que estragamos ao redor ou dentro de nós, conse-
qüência de nossos impulsos ou desejos destrutivos, nosso ódio, nossa inveja
do outro, nossa rivalidade, nosso sempre presente egoísmo. A fruição do
belo funciona como um lenitivo, um bálsamo para nossas aflições e
frustrações diante do viver. Aqui se agregaria um conceito desenvolvido
por Klein, que é o conceito de reparação que significa restaurar, na fantasia,
danos feitos a figuras queridas, notadamente da infância. Produzo algo
belo para reparar o mal que fiz, para reconciliar-me com aqueles que
maltratei, na realidade ou na fantasia.
D.Meltzer (1990) dedicou um livro inteiro ao assunto, A apreensão da
beleza.
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Resumo
Para os autores, desde a perspectiva da Teoria dos Sistemas de
Intersubjetividade desenvolvida por Stolorow, Atwood e Donna
Orange, a relação psicanalítica, pelo fato de estar assentada num
conjunto de regras tais como horários, pagamentos, normas sociais
e hierarquização entre paciente e analista, constitui uma relação
assimétrica ou do nível da lógica consciente.
Entretanto, uma vez que o sistema intersubjetivo é formado pela
interação mútua das transferências, ou seja, das atividades
organizadoras do paciente e do analista, tal relação vem a ser
também simétrica ou do nível da lógica inconsciente.
O trabalho procura destacar que o objeto da pesquisa cientifica
em psicanálise é a experiência humana e que toda experiência é
experiência subjetiva.
Abstract
The psychoanalytic relation, based in a set of rules such as time,
payments, social norms and hierarquization between patient and
analyst, constitutes an asymmetrical relation, on the level of the
conscious logic.
However, from the perspective of the Theory of Systems of
Intersubjectivity developed by Stolorow, Atwood and Donna
Orange, the intersubjective system is enhanced by the mutual
interaction of transferences, that is, of patient and analyst´s
organizing activities. Such relation becomes a symmetrical
relation, on the level of the unconscious logic.
The work looks for to detach that the object of the cientific research
in psychoanalysis is human experience and that all experience is a
subjective experience
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Contextualização
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Simetria e Assimetria
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Conclusão
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Resumo
O presente trabalho tem por objetivo uma revisão da evolução
da histeria masculina na obra de Freud. A partir do que Freud
escreveu sobre o assunto, a autora desenvolve o tema a partir de
autores contemporâneos.
Faz um questionamento sobre se a histeria masculina apresenta-
se diferente da feminina e por que esse diagnóstico parece não
estar sendo muito utilizado atualmente. Na visão da autora, a
histeria masculina ainda é um quadro diagnóstico que aparece
com bastante freqüência, porém de forma diferente dos quadros
apresentados na época de Freud.
Abstract
The goal of this paper is to revise the evolution of masculine hysteria
in Freud´s works. Based on what Freud wrote about the subject,
the author of this paper attempts to develop the male hysteria
theme based on comtemporary authors.
This paper questions if masculine hysteria is different than
feminine hysteria, and questions as well why this diagnose does
not seem to be much in use nowadays. According to the author of
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Introdução
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Revisão da Literatura
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Devemos nos lembrar que este “hoje” de Zetzel já tem 30 anos e já naquela
época existia a questão de o diagnóstico da histeria ser diferente da época
de Freud. A autora se dedica mais à histeria feminina, mas no início de
seu trabalho coloca seu ponto de vista a respeito da histeria masculina.
Para a autora, os homens analisáveis tendem a se queixar inicialmente de
problemas que sugerem uma condição obsessiva. Seus problemas se
relacionam mais ao trabalho do que relações de objeto heterossexuais.
Mas, durante o curso da análise, acabam revelando uma situação edípica
não resolvida, semelhante à das histéricas analisáveis. Portanto, esses
pacientes não podem ser descritos inicialmente como histéricos: eles
sofreram de uma neurose mista, com muitos aspectos histéricos.
Easser e Lesser (1965), assim como Zetzel (1968), excluíram de seus
artigos os pacientes masculinos, porque na sociedade ocidental a histeria
é mais freqüentemente associada às características afeminadas. Eles
sugerem que a maioria dos homens analisáveis tende a utilizar muitas
defesas obsessivas, e estas defesas são utilizadas pelas histéricas que melhor
respondem à análise.
Para Zetzel (1968), os homens histéricos que falharam em mobilizar
defesas obsessivas adequadas raramente fazem parte do grupo mais
analisável dos neuróticos masculinos. Sua análise revela uma estrutura
de caráter depressivo subjacente. Eles são tão perturbados quanto “as assim
chamadas boas histéricas”. Não costumam utilizar mecanismos histéricos
transparentes, ficando mais freqüentemente no grupo dos assim chamados
caracteres normais. São homens cuja adaptação externa ilusória foi
alcançada com apenas uma mínima consciência de sua realidade interna
e com resultantes defeitos, marcados na área da tolerância afetiva. Para a
autora, a verdadeira histérica experimentou um conflito triangular genuíno
e o histérico foi capaz de reter relações significativas de objeto com ambos
os pais. A relação pós-edípica foi menos satisfatória e mais ambivalente
do que a estabelecida no período pré-edípico.
Portanto, penso que estes autores, os que mais se sobressaem na revisão
por mim realizada quanto à histeria masculina, analisam o assunto de
forma complementar. Procurarei agora, através da seguinte vinheta,
mostrar na prática o que foi abordado na teoria; após, farei uma compreen-
são do caso, integrando-o para um melhor entendimento da histeria
masculina.
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Vinheta Clínica
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Discussão
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Mayer (1986), pois na verdade o que deseja mesmo é ternura e não amor
genital. A preocupação com o próprio corpo é uma tentativa de ser desejado
pelas mulheres, assim como seu comportamento sedutor. Sente muito
desejo, mas quando se aproxima das mulheres, assusta-se e perde a ereção
ou mesmo o desejo. Nessas horas somatiza dores de cabeça, como forma
de poder fugir da situação ansiogênica que se cria.
Para Nogueira (2000) os pacientes histéricos possuem uma base oral
primitiva, com uma estrutura fálico/genital adulta, que seria uma fachada
que, quando rompida, revelaria “a pseudomaturidade e a dependência
primitiva com características predominantes de relação dual” (p. 256).
A relação com a ex-esposa era uma reedição de seu relacionamento
com a mãe, pois ela o tratava como a um filho. Não tomava nenhuma
decisão sem pedir sua opinião. Penso que ao iniciar o tratamento, transferiu
para a analista esse papel, e, com isso, conseguiu romper o relacionamento
com a esposa. Ao mesmo tempo em que se queixa da superproteção da
mãe, tenta no tratamento repetir esse comportamento, insistindo para que
a analista dê opiniões sobre o que deve fazer. Sempre que lhe é mostrado
que quer que a analista seja como a mãe, fica muito bravo, querendo ir
embora ou faltando à seguinte sessão. Quando se sente ameaçado pela
ruptura com a analista-mãe, insiste para reduzir as sessões para uma vez
por semana, ou mesmo interromper o tratamento por um tempo.
Nogueira (2000) entende “o funcionamento da estrutura histérica,
com suas interrupções temporárias ou definitivas freqüentes das análises,
em que se verifica a supremacia da necessidade de representação sobre
o sentimento de impotência para viver e lidar com uma realidade que
precisa ser evitada a qualquer preço” (p. 253/4). Seriam pacientes que
conseguem analisar-se em capítulos, com interrupções e posteriores
retornos. “ A comunicação é estabelecida, via de regra, por meio da ação,
do gesto, do acting-out que, por sua vez, condiciona, exige uma reação
que leva muitas vezes a uma interação mais primitiva, complementada
com o acting-out contratransferencial” (p. 254).
Com relação à questão de o diagnóstico histeria não existir mais nos
dias de hoje, conforme Nogueira (2000), poderia contribuir para isso o
fato de que os psicanalistas possam partir de perspectivas teóricas
diferentes; enfatizariam um ou outro aspecto do fenômeno histérico, o
que poderia deixar a impressão falsa de patologias diferentes. “Poderão
ser resaltados a fixação fálica, sua estruturação triangular, a repressão
como defesa predominante, as amnésias lacunares, as conversões/
somatizações dos afetos e o nível edípico clássico razoavelmente
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Conclusão
Referências Bibliográficas
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Sobre a dificuldade de
exercer a função analítica
em paciente borderline
Ana Maria Ferreira Pinto*
Resumo
Este trabalho descreve algumas das dificuldades experimentadas
pelo psicanalista diante de um paciente borderline. Tento situar
a definição do termo, a descrição do modo de funcionamento deste
tipo de paciente com formas possíveis de manejo clínico, relatando
a seguir a experiência clínica com uma paciente de 31 anos.
Abstract
This article describes an experience with a borderline patient and
the difficulties that the psychoanalysts have to dare with then. We
discuss the definition of boderleine diagnosis; describe how these
patients use to behave and the peculiarities of their internal world,
with the prevalence of primary defenses.
Finally, the clinical experience will be described with some
comprehensive commentaries.
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Introdução
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Fonagy nos diz: “estados subjetivos, tais como ansiedade, podem ser
conhecidos principalmente ao serem despertados em outra pessoa.”
Para explicitar a dificuldade no manejo técnico, cito algumas situações
como exemplo. Parecia não adiantar, por exemplo, lhe mostrar que cada
episódio desses, que entendi como enactements, que parece vir de encontro
à definição de identificação concordante de Racker, era carregado de
muitos significados, preciosos para o nosso trabalho e que, portanto, na
medida em que eram compreendidos, não a afastavam de mim, pelo
contrário, permitiam que nós nos aproximássemos mais e, ao contrário
do que ela parecia sentir, não me destruíam. A cada enactment, partes
dissociadas de seu self eram atualizadas na “cena analítica” através de
mim, permitindo algum resgate de seu mundo interno, quando podíamos
entendê-lo a contento. Voltando a Racker, na identificação concordante,
o analista funciona como o próprio self do analisando. Cabe observar que
de um modo geral são os meus sentimentos que estão em questão e é só
no que ela está ligada. Tento muito lhe mostrar isso. Na medida em que
ela não é ou não se sente capaz de sentir seus próprios sentimentos, espera
que eu os sinta por ela. Eu, certamente, posso fazê-lo, em sua concepção.
Isto gera um desconforto constante em suas sessões, onde sentimentos
desagradáveis meus são mobilizados praticamente o tempo inteiro. Muitas
vezes, estes sentimentos não são facilmente identificáveis, mas os que
consigo identificar vão da angústia, ao medo, ao ódio, etc...
Tenho certeza também que ao longo do tempo este comportamento
foi se modificando, claro que às custas da compreensão que conseguíamos
obter. Ela foi permitindo se deixar penetrar por mim, embora com muita
dificuldade e começou a aceitar o que eu dizia e repetia “ad infinitum”.
Uma outra dificuldade era no momento final das sessões. Suas sessões
nunca podiam terminar na hora certa: ela continuava deitada, chorando
feito uma criança e dizendo: “Não adianta que eu não vou embora!” Tentei
me utilizar todas as interpretações que fui capaz de pensar: mostrar que
estaríamos juntas no dia seguinte ou na sessão seguinte; que conseguirmos
nos separar era parte do tratamento. Que “mandá-la embora”, como ela
dizia, não era um sinal de desinteresse de minha parte por sua dor, ao
contrário, era tentar trazê-la para a vida real, onde ela precisava aprender a
viver. Que aos poucos ela iria perceber que nossa relação duraria para além
do horário das sessões; que ela aprenderia a me carregar dentro de si, assim
como ela ficava dentro de mim, mesmo depois de ir embora, e tantas outras
interpretações no mesmo sentido. O que ficava evidente era a angústia de
separação, pois esta era vivida por Sônia como perda de parte de si mesma.
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Ela parecia tentar fazer sua sessão perdurar, tornando toda e qualquer
compreensão que exigisse dela um pouco de abstração um desastre. Crises
de comoção diante do que eu dizia (e digo) eram uma constante,
contaminadas por muita angústia e o sentimento de abandono. Na medida
em que utilizo a palavra, parece que, aos seus olhos, me distancio dela,
pois estou abandonando sua forma básica de comunicação, que é a
identificação projetiva, e ao estabelecer a compreensão através da palavra,
eu estaria promovendo uma separação psíquica, o que, neste momento,
era algo insuportável para ela.
Paralelamente surge então um outro material que poderia me fazer
acreditar que ela estaria sendo grata, mas que talvez, na verdade, consis-
tisse em um tipo idealizado de transferência. Ela me dizia repetidamente
que nunca recebeu por parte de nenhum parente seu o que recebeu de
mim ali, daí não querer ir embora.
Nesta altura de sua análise, parece que Sônia, como defesa, procura
manter a ilusão onipotente de fusão. Fica então durante grandes períodos
me olhando profundamente dentro dos olhos, o que costuma ser sentido
por mim contratransferencialmente como invasão e controle. Ficava de
bruços, atenta a qualquer gesto ou expressão diferente, ao que ela iria
atribuir um valor pessoal e me interpelar de forma desconcertante, do
tipo: “porque você olhou para baixo agora? Por que você riu quando falou
isso? Por que você descruzou as pernas? Que cara é essa? Não gostou do
que eu disse? Já sei... pela sua cara você não concorda com o que eu
disse...”. Diante de suas interpelações, muitas vezes me pego respondendo
objetivamente a algumas de suas perguntas, embora não quisesse fazê-lo.
Por exemplo: ela costuma me perguntar se eu uso todos os presentes que
ela me deu. Sônia costuma me trazer presentes toda a vez em que viaja, e
também em meu aniversário, que ela habilmente descobriu quando era,
assim como descobriu vários dados de minha vida pessoal, apesar de minha
secretária ser orientada no sentido da maior discrição possível. Ela ia
entrando, vasculhando minha vida fora dali. Eu entendi que o melhor a
fazer naqueles momentos era aceitar seus presentes e esperar que algum
sentido surgisse para eles. Eu sorrio e então ela insiste incisiva: “usa ou
não usa?” Ao que então eu acabo respondendo: “é... quase todos!” Ela:
“Quase? Não gostei...”. São coisas como essas, que me fazem sentir
arrependida, como se tivesse caído em sua armadilha. Parece ser esse um
exemplo típico de identificação complementar, descrito por Racker.
É precisamente em níveis de regressão como os do paciente fronteiriço
“que se produz a identificação projetiva do analista, onde a identificação
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Conclusão
Enfim, esta é uma síntese deste caso clínico, que tem exigido de mim
muito estudo e interlocução. Penso que estes pacientes exigem do analista
uma disposição interna muito grande. Relembro Figueiredo quando diz que
a intensidade das contraidentificações põe à prova a capacidade de rêverie
e a resistência egóica do analista, que tende a ser capturado pela intensidade
dos afetos e pela força das fantasias. E ele continua: “e, no entanto, o
necessário é deixar-se enlouquecer e recuperar a sanidade, isto é, a capaci-
dade de admitir, metabolizar, continuar contendo, elaborando, até que um
certo nível de ordem afetiva e esclarecimento possa ocorrer internamente,
antes que o material venha a ser devolvido”. E ele continua: “e no entanto,
o necessário é deixar-se enlouquecer e recuperar a sanidade, isto é, a
capacidade de admitir, metabolizar, continuar contendo, elaborando, até
que um certo nível de ordem afetiva e esclarecimento possa ocorrer interna-
mente, antes que o material venha a ser devolvido.” (Figueiredo, L.C. 2003)
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Referencias Bibliográficas
FIGUEIREDO, L.C. O caso-limite e as sabotagens do prazer.In: Elementos para
a clínica Contemporânea. São Paulo: Escuta, 2003. p.77-109.
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Psicanálise (2002), XVI, p. 89-109.
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O autismo psicogênico,
a personalidade autista e o trauma
Sebastião Abrão Salim*
Resumo
O autismo psicogênico é uma entidade clínica de difícil enten-
dimento e tratamento. Entre os autores psicanalíticos Tustin
sobressai com seus estudos sobre a percepção sensória auto-gerada
pelo recém-nascido e o bebê. Segundo ela, ambos utilizam a saliva,
as fezes, a urina, a língua, os dedos, os punhos e as mãos para
gerar estas sensações, mais em contato com sua pele. Constituem
um tipo de defesa psíquica para o apaziguamento da angústia
resultante do trauma de separação da mãe. Confere um sentimento
de coesão física e psíquica semelhante àquele experimentado por
nós quando pressionamos uma chave na palma da mão.
Ela denominou o apego a essa defesa de “barreira autista” que afeta
a capacidade do recém-nascido ou do bebê para a empatia. Para ela,
constitui-se no fator responsável pela etiologia do autismo psicogênico.
Ogden desenvolveu estes estudos e sistematizou a posição autista-
contígua, anterior à posição esquizoparanóide, e a posição
depressiva de Klein, com psicopatologia especifica.
Meus estudos sobre o trauma a partir do DSM-IV como um evento
que produz em sua vítima ou testemunha uma noção de morte
aproximou-me da Neurobiologia e da importância da memória
implícita para a Psicanálise.
Esta articulação parece contribuir para um melhor esclarecimento
da etiologia do autismo psicogênico ao relacioná-lo à angústia de
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Abstract
The psychogenic autism is a clinical entity of difficult
comprehension and treatment.
Among psychoanalytical authors, Tustin had a relevant position
with their studies on auto-generated sensorial perceptions by the
newborn and the baby.
According to her the just-been born baby uses instinctively his or
her own saliva, excrements, piss, hair, language, fingers, fists and
hands to generate these sensations, chiefly with his or her own
skin. They afford a psychic defense to diminish the resultant anxiety
of the mother’s separation trauma. They activate feelings of physic
and psychic cohesion similar to that experimented by ourselves
when we press a key in the hand.
She named the attachment to this defense as “autistic barriers”
that affect the capacity of the newborn or the baby to empathy. To
her it is responsible psychic autism etiology.
Ogden developed these studies and conceived the autistic-
contiguous position, anterior to Klein’s squizoparanoid position,
and the depressive position with a specific psychopathology.
My studies on trauma conceived by the DSM-IV as “an event that
produces in their victims or witnesses a notion of death” became
me near the Neurobiology and the importance of the implicit
memory to Psychoanalysis.
This articulation seems to contribute to a better understanding of
psychogenic autism etiology by adding it to a death anxiety and to
the instinctively attachment to the “autistic barriers” as psychic
defense due to a fetal trauma.
I extend these appreciations to autistic psychopathology in adult
and young patients with whom I work with a theorical and
technical referential revised.
I consider unfinished these studies but it is pertinent to continue them.
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Introdução
Meu trabalho clínico atual com jovens e adultos tem sido marcado pelas
contribuições de Tustin sobre o autismo psicogênico e as barreiras autistas
em pacientes psiconeuróticos. Isto porque a considero como a psicanalista
que mais contribuiu com nossos conhecimentos neste enigmático e
complexo campo da psicopatologia. Ela a estudou durante anos em crianças
autistas e em jovens e adultos. Reuniu estes estudos em seu livro Barreiras
autistas em pacientes neuróticos (1990), no qual aborda a sintomatologia
e a etiologia relacionada à adesão aos denominados “objetos autistas” e às
“formas autistas”. Segundo ela, estes são elementos corporais de natureza
dura ou macia respectivamente, que o recém nascido utiliza para a auto-
geração de percepção sensória capaz de o serenar devido à promoção do
sentimento de coesão física diante da ansiedade da separação traumática
da mãe, esta um elemento etiológico. Essa defesa, no entanto, segundo
ela “parece afetar a capacidade do indivíduo (pelo apego aos mesmos)
para a empatia, e, portanto, para relações com as pessoas”. Ela denominou
este apego de “barreira autista”, outro elemento responsável pela etiologia
do autismo psicogênico, fato que ela ilustra com material clínico seu e de
superviões ministradas.
Tustin afirmou que “o elemento decisivo para o seu estudo do autismo
psicogênico foi seu perfil pessoal marcado por elementos autísticos”.
Contudo, não podemos deixar de ressaltar seu currículo invejável.
Analisou-se com Bion e fez supervisões com Rosenfeld e Meltzer. A
formação em análise de crianças teve como orientadores Bick e Bowlby.
Conviveu com Winnicott, Aulagnier, Chasseguet-Smirgel, McDougall,
Grodstein, Balint e outros importantes psicanalistas. A vida pessoal foi
marcada pela presença constante do marido, um cientista inovador na
Física que balanceava seus vôos psicanalíticos.
Talvez o mais significativo seguidor seja Ogden (1989b), que
sistematizou a posição autista-contígua baseando-se em seus estudos,
enriquecedora contribuição teórico-técnica para a Psicanálise, pouco
considerada pelos psicanalistas.
No presente trabalho tenho o objetivo de acrescentar a esses estudos a
contribuição da Neurobiologia sobre a memória implícita, da ultra-
sonografia fetal e do conceito de trauma definido no DSM-IV (1994) como
um evento que promove na vítima ou testemunha uma consciência de
morte. O exame da percepção sensória sob este vértice, permitiu-me com
certa consistência estender os estudos de Tustin e Ogden ao período fetal
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Outra contribuição clínica de inegável valor feita por Tustin (1990), inicia-
se com uma observação da colega Sydney Klein: “No curso de uma revisão
periódica do progresso de minha prática clínica e particularmente das formas
de comunicação habituais de meus pacientes, tomei consciência de que eu
os considerava inicialmente como sendo apenas moderadamente neuróticos,
alguns dos quais eram também candidatos à análise, revelavam durante o
curso do tratamento fenômenos familiares de crianças autistas. Esses
pacientes eram altamente inteligentes, esforçados, bem sucedidos... que
vieram para análise ostensivamente por razões profissionais ou devido a
uma falha em manter uma relação satisfatória com um marido ou esposa...”.
Mais adiante, diz Tustin: “Certos pacientes neuróticos têm muito em
comum com as crianças autistas (Klein, S, 1980; Tustin, 1978)”. Cita, ainda,
o trabalho de supervisão com uma colega: “Em nosso trabalho, juntas,
tornou-se claro que Mary (vinte anos) tinha uma cápsula de autismo que
estava interferindo em suas relações com as pessoas e também afetando
seu trabalho”.
Em outro momento cita mais uma vez Sydney Klein: “Quanto mais
cedo o analista perceber a existência desta parte oculta do paciente, menor
é o perigo de a análise tornar-se um diálogo intelectual interminável e
sem sentido, e maiores as possibilidades de o paciente alcançar um
equilíbrio relativamente estável. Embora o analista tenha que passar por
grandes ansiedades com o paciente, acredito que, no fim, os, resultados
valem a pena... O autismo se manifesta através de um apego bastante
desesperado e tenaz ao analista como a única fonte de vida, acompanhado
por um sentimento intruso subjacente de desconfiança”.
Finaliza assim: “O relato da Sra. Spensley (uma supervisionanda) desta
paciente me fez perceber o valor do entendimento derivado do trabalho
clínico com autismo psicogênico de se fazerem diagnósticos mais precisos,
de modo que menos pacientes percam seu tempo em lugares inadequados
e recebam tratamentos impróprios”.
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por Freud (1920), jamais deixado de ser buscado. Tustin o intuiu quando
disse: “As formas “primordiais” (primeiras-meu) parecem emanar de
ritmos e respostas auto-eróticas na raiz de nossa “existência.” O registro
desse estado fisiológico equilibrado, regular e contínuo é feito pela memória
implícita incipiente, presente logo após a fecundação (Kandel, 2003).
Aquela se enriquece ao longo da vida com mais recursos autonômos de
defesa, inclusive através do sonho, que teria a função de transformar em
memória implícita ou de longa duração o aprendizado de curta duração
ocorrido durante o dia (Sidarta, 2003). Também Winnicott (1975), ao
dizer: “A elaboração imaginativa da função deve ser considerada existente
em todos os níveis de proximidade do funcionamento físico propriamente
dito... refere-se à fantasia quase-física, àquela que está menos ao alcance
da consciência”.
A homeostase é o estado ótimo. Uma mudança no seu equilíbrio por
um trauma gera a noção subjetiva de morte ou descontinuidade. Para tentar
apaziguar o mal-estar resultante, a vítima do trauma se retrai ao estado
anterior, movimento que denomino desconexão com retraimento autista,
onde ocorre a desaceleração dos ritmos biológicos com a vantagem
biológica de consumo menor de oxigênio pelas células, que possibilita
prolongar a vida. Estudos recentes mostram que é possível prolongar a
preservação de órgãos para transplantes, mediante a diminuição do
consumo de oxigênio pela célula por meio do método da suspensão
animada, induzida pelo uso de sulfato de hidrogênio (Eric, 2005).
O trauma fetal é produzido por doenças neo-natais, infecções da mãe,
traumatismos físicos anteriores ao nascimento, traumatismo do parto e
outros eventos.
O recém-nascido portador de um trauma apresenta movimentos
motores lentos, tem dificuldade para pegar o mamilo e outras manifes-
tações próprias do estado de imobilidade. O caos instituído só cessa quando
é adequadamente cuidado, como Winnicott ( 1971) acentuou com o
conceito físico de holding e de “mãe suficientemente boa”. Por razões ainda
indefinidas pode apresentar um estado oposto de excitação, irritabilidade
e hiperatividade, já discutido em outro trabalho meu (Salim, 2004b).
Tustin afirmava que muitas crianças autistas tinham mães dedicadas e
que não se podia relacionar o autismo psicogênico a elas, deixando bem
entendido como apontei em negrito, que havia razões anteriores ao
nascimento, possivelmente o trauma sentido como morte.
A importância desse trauma precoce e seus desdobramentos futuros é
demonstrada pelas experiências de Harlow (1958) e Levine (1962) com
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Caso A
L estava com quatorze anos quando foi hospitalizada porque agredia
fisicamente a mãe, fugia de casa, ateava fogo em objetos caseiros e tentou
auto-extermínio com psicotrópicos. Alternava essas ações violentas com
períodos de apatia, sonolência e sintomas de anorexia nervosa. Nos estudos
encontrava-se atrasada em relação à sua idade cronológica. Ao exame no
hospital verifiquei que não havia alterações cognitivas, estava emagrecida,
tinha o olhar desviado e movimentos ritimados de enrolar os cabelos com
o dedo e balanceios do corpo e das pernas. Disse-me que havia sido
maltratada pela mãe desde pequena e jurou que infernizaria sua vida. Ainda
no hospital, constatei pela papeleta médica os diagnósticos de esquizo-
frenia ou de transtorno do humor bipolar. Os psiquiatras não conseguiam
determinar o diagnóstico e nem a prescrição medicamentosa, sempre
mudada.
Meu diagnóstico foi de psicopatologia autista associada com
hiperatividade alternada com imobilidade. Após alguns encontros senti
em L confiança em mim e solicitei sua alta para início da análise em
consultório.
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dizado na escola, fato que provocava constantes atritos entre ela e a mãe.
Eu a compreendia porque o aprendizado da criança com barreira autista
só se desenvolve dentro de uma linha estabelecida por ela mesma. Há
muita dificuldade para aprender o que lhe é ensinado por terceiros.
Qualquer mudança na forma de ser ou de como ordena os objetos pode
ser sentida como fatal. Assim, fracassou quando tentou entrar para um
coral, para fazer ginástica olímpica e hipismo, todas tentativas de se
revitalizar, como aquelas relacionadas ao atear fogo em objetos de casa.
Foi preciso fazer com que a mãe compreendesse que L tinha seus
arranjos próprios e a importância de respeitá-los. Era nestas ocasiões que
L gritava e agredia para se sentir viva e se manter viva.
Em uma sessão mais atual, narrou-me seu entendimento sobre sua
agressividade e sua tendência para a imobilidade e a insuficiência. Disse-
me que se identificava com uma personagem da Internet cujo poder
aumentava por meio de pontos que ia somando em um jogo. Esta
identificação a mantinha mais animada, mas compreendeu que precisava
agir de modo mais moderado porque não se agüentaria na exaltação por
toda a vida. L entendeu tais movimentos antagônicos como a razão para
seus médicos a estigmatizarem como paciente bipolar ou esquizofrênica.
Sua capacidade para este insight mostrava que estávamos no caminho certo.
Minha compreensão de que L apresentava uma psicopatologia autística
foi confirmada pelo relato da mãe sobre traumas precoces, como gestação
conturbada pelas brigas com o esposo, do qual veio a se separar, o parto
demorado e a insuficiência de L para pegar o mamilo apesar de sua
insistência. Nasceu com os pés tortos e precisou do uso precoce de bota
corretiva com a qual se sentia bastante incomodada. Seus sintomas eram
respostas biológicas ao trauma, como aquelas da caça diante do predador,
associados à sua formação superegóica severa pelo tratamento sempre
corretivo da mãe. A angústia básica de L é resultante do medo de morrer
ou de ficar louca e de sua insuficiência para corresponder às cobranças da
mãe e sua competência para atividades próprias de sua idade. Meu trabalho
tem consistido em lhe proporcionar um setting confiável e um trabalho
interpretativo sobre suas exigências superegóicas.
Caso B
Trata-se de uma menina autista de seis anos, personagem do filme O
enigma das cartas. Este começa com a tomada da cena do caule de uma
árvore antiga com destaque para a casca espessa. Logo surgem vários
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Caso C
M é um analisando adulto, filho de mãe desvitalizada, de olhos
chupados e fundos, e de pai epiléptico que assustava toda a família com
crises convulsivas e gritos. Havia grande carência de recursos materiais.
Lembra-se com enfase do episódio aos dois anos de idade, quando só
dormia depois que cobria a cabeça e o corpo todo com uma colcha,
comportamento que se prolongou até os sete anos. A colcha tinha a função
de uma segunda pele (Bick, 1968, 1986), importante contribuição para o
entendimento da psicopatologia autista. Tem a ver com o sentimento de
desproteção oriundo do desamparo inicial e com a perda do sentimento
de coesão física e psíquica, como certos pacientes que se trancam e fazem
do seu quarto fechado a sua segunda pele, pessoas que se fecham em suas
convicções, pessoas que ouvem e lêm obsessivamente todos os noticiários
da televisão e dos jornais e outros. Um verdadeiro manto psíquico.
M iniciou a análise com quatro sessões semanais devido ao exibicionis-
mo compulsivo acompanhado de outros desvios sexuais pelos quais fora,
algumas vezes, detido pela polícia. Relatava mal estar físico generalizado
com idéias de auto-extermínio, desespero, sensação de vazio interno
inexplicável, visão distorcida do corpo e isolamento acentuado das pessoas.
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Caso D
R está com 43 anos e em análise há treze anos. Procurou-me devido ao
desassossego produzido por vozes que o ameaçavam e o subestimavam.
Admitia que fossem vozes de espíritos que vinham de fora ordenadas pelo
pai da ex-noiva como represália pelo término do noivado. Vivia dentro do
quarto, de onde só saía para vir à análise. Depois de dois anos de análise
com duas sessões semanais aceitou minha interpretação de que eram vozes
emanadas do seu interior, fato que mudou o rumo da análise. Foi
aposentado com o diagnóstico de esquizofrenia paranóide.
Hoje, ainda, ouve expressões ou palavras que surgem de forma
inesperada com conteúdos de advertência ou de desmerecimento, mais
espaçadas e atenuadas em intensidade, sobre as quais fala nas sessões em
busca de entendimento. Recuperou o convívio com os familiares, embora
passe a maior parte do tempo dentro do quarto ao qual ninguém mais tem
acesso. Este funciona como sua segunda pele e deve ser mantido limpo e
arrumado só por ele, de acordo com seu ordenamento. Nunca faltou a
sessões. Vem para as mesmas dirigindo seu carro e controla adequada-
mente o dinheiro da aposentadoria e do pagamento das sessões.
No início era difícil atendê-lo devido ao seu imobilismo e à sua lentidão.
Provocava-me sonolência e em algumas sessões esta era percebida por
ele. Sua fala desconexa e enigmática transmitia conteúdo segmentado e
confuso, difícil de entender, e possuía modulação lenta.
Tempos depois, de posse de novo referencial teórico e técnico, comecei
a ter entendimentos que me auxiliaram a estar com ele de forma mais
ativa, fato que tem contribuído para recuperação clínica surpreendente.
Observei que quando interferia na sua fala sem sintonia com ele, reagia
de forma irritada. Fui aprendendo com ele que era melhor deixá-lo solto
para compreender as vozes e as expressões auditivas que ouvia. Ele tinha
um jeito próprio de se organizar psiquicamente, como a menina do filme
com os cubos. Cada palavra, ainda hoje, deve de ter significado preciso.
Desde esse entendimento, permito-me ficar sem compreender seu
discurso, agora mais encadeado, sem me sentir esvaziado, insuficiente e
sonolento. O mesmo acontece quando vai estacionar o carro. Só o
estaciona do lado direito da rua, obrigando-o a seguidas voltas pelos
quarteirões vizinhos e caminhadas extenuantes devido à irregularidade
da topografia das mesmas. Quando eu lhe disse que havia um estacio-
namento barato e próximo ao consultório, advertiu-me para não interferir
nesta questão.
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Considerações finais
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Kandel, E. (2003). A biologia e o futuro da psicanálise: um novo referencial intelectual
para a psiquiatria revisitado. Rev. Psiquiat. Grande do Sul., 25 (1): 139-165.
137
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138
SEÇÃO TEMÁTICA:
A CRIATIVIDADE
E O ENVELHECER
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A criatividade e o envelhecimento
Wilson de Lyra Chebabi*
Resumo
O autor expõe reflexões sobre o envelhecimento, no sentido de que
as modificações do corpo não correspondem necessariamente a
um processo degenerativo. Ao contrário, a velhice estabelece as
condições para que se reveja a própria história. E, aliando
envelhecimento com criatividade, se pode descobrir o que há de
ganho nas inevitáveis perdas pelas quais a passagem do tempo
nos leva a sofrer.
Abstract
The author exposes reflections about the ageing in the sense of that
the modifications of body do not correspond necessarily to a
degenerative process. To the contrary, the senility establishes the
conditions for reappraising the own history. And, allying ageing
with creativity we can discover what there is as profit through the
inevitable loses by which the passage of the time makes us to suffer.
O fato de ter sido convidado para fazer parte desta mesa, aos meus setenta
e quatro anos, precisando usar bengala e carregando o luto da perda dos
que já se foram, constitui um rico aporte ao tema que nos foi proposto.
141
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Criatividade e Envelhecimento
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Da criatividade e do envelhecer*
Marialzira Perestrello**
Resumo
A autora, acompanhada de analistas e não analistas, considera a
criatividade um patrimônio universal da humanidade e faz a
diferença entre criatividade e criação (artística, cientifica,
tecnológica etc). Cita idéias de Winnicott, Maslow, Rollo May e
outros e dá exemplos de pessoas muito idosas em plena criativi-
dade e com excelentes produções.
Abstract
The author in accordance with psychoanalysts and not-analysts
considers the Creativity as an universal patrimony of the human
being and shows the difference between the Creativity and the
Creation (artistic, scientific, technological etc). She quotes the ideas
from Winnicott, Maslow, Rolo May and others and gives examples
of aged persons very creative and with excellent works.
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existirá uma nova etapa. Pode-se preparar para os entes queridos uma
recordação positiva algo de afeição, de exemplo. Por vezes, deixar uma
obra para os colegas e discípulos. De certo modo, mesmo mortos, podere-
mos permanecer vivos, para alguns.
No envelhecer há perdas e ganhos. Em geral fala-se das perdas. No
livro editado por Dulcinéia Monteiro (“Dimensões do envelhecer”), escrevi
capitulo sobre meu envelhecer, em que falo também nos ganhos.
Sabemos que há sempre algum orgão ou sistema mais atingido, mais
debilitado; porém é necessário relembrar que, no setor psicológico, a única
diminuição necessariamente esperada é a de um certo tipo de memória;
as outras funções mentais não necessitam ser atingidas. A vida espiritual
e intelectual poderá permanecer ilesa, sempre que não surja uma enfer-
midade. (Então, repito: neste caso tratar-se-á de uma doença, e não da
velhice-em-si).
Desejo trazer exemplos concretos de pessoas com mais de 70 e 80 anos
em plena atividade e excelente produção, e assim poder contradizer o
significado de velho como inútil, ultrapassado, obsoleto. Entre os antigos,
o grande teatrólogo grego Sófocles escreveu seu Édipo – Rei com 70 anos
e, quando perto dos 90, os filhos quiseram interditá-lo pela idade, Sófocles
para provar sua integridade mental escreveu a emocionante peça Édipo
em Colono.
Conta-se que Bertrand Russel quando o navio em que viajava encalhou
perto do porto, nadou até a terra e ainda proferiu a conferência que estava
programada. O filosofo e o matemático estava com 74 anos!
Schweitzer recebeu o premio Nobel da Paz com 77 anos. Chaplin
produziu um filme aos 77 anos. E outros e outros existiram, em plena
atividade.
Citarei, agora, exemplos excepcionais de plena criatividade com
cerca de 80 anos ou mais. Entre cientistas: Planck e Sabin. Entre artistas
e músicos: Miguel Angelo e sobretudo Titiano pintando até mais de 90
anos! Picasso com cerca de 90. Verdi compôs o Falstaff com 80. Entre
escritores: o poeta argentino Borges, já cego, ditava seus textos com 80
anos. Victor Hugo, Churchil e nosso Freud escreveram importantes
trabalhos após os 80.
E last but not least o nosso grande Oscar Niemeyer, para mim, um
genial arquiteto-escultor. Seu Museu de Arte Contemporânea em Niterói,
considerado uma das maravilhas do mundo, foi projetado após os 80 anos!
Voltando a nós, simples mortais: a professora de Lingua francesa:
Raymonde de Vasconcellos (que não conheço pessoalmente mas entrevistei
148
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pelo telefone), com 100 anos – acreditem – ainda continua a lecionar para
um grupo de 9 alunos, que funciona há 9 anos. Aos 70 anos escreveu Mon
Brésil et moi, e, com mais de 90, publicou Polifonia – contos realistas e
surrealistas ( com textos antigos e atuais).
Eu, própria, após os 80 anos iniciei o estudo de alemão e já consigo
traduzir, sem dicionário, algumas estrofes de R.M.Rilke, meu tão admirado
poeta. Só me incluo aqui para mostrar-lhes que ainda se pode ter a
capacidade de — com bastante idade – aprender algo novo, com surpresa
e entusiasmo.
Um preconceito muito comum é: estou velha nada posso fazer de novo...
Para meus companheiros de velhice e para os jovens que menosprezam
os velhos, digo-lhes: podemos sim. Poderemos continuar criativos em
muita coisa: fazer novos amigos, se já perdemos os antigos, descobrir
modos de encontrá-los, de recebê-los, de conviver com eles. Há uma certa
criatividade em criar e cultivar amizades. Já aposentados, com menos
obrigações impostas pelo exterior, temos mais tempo para apreciar e gozar
a Natureza, para ouvir música. Aqueles que se dedicam a algo artístico
terão mais tempo disponível. Há idosos que se reúnem para receber laivos
de cultura geral, musical; há os que estão se iniciando na informática; os
que se dedicam a atividades comunitárias. Há os que pintam, escrevem...
Mas desejo frisar: que tudo isto não seja visado apenas por obrigação;
para ter de se ocupar, para fugir do tédio, para suprir a sensação de vazio.
Que este ocupar-se não seja (empregando uma gíria) para tapar buracos...
E sim: uma maneira de enriquecimento interno, de um ocupar-se com
satisfação, num encontrando-se. Numa atitude mais de dirigir-se para e
não num fugir de algo.
Para finalizar, repito o que disse em Ribeirão Preto: não é por um ato
de vontade que teremos grandes insights e seremos criativos. Se para uma
pesquisa, um estudo, um determinado trabalho, nós nos deixarmos levar
pelos pensamentos não conhecidos e estabelecidos; se pudermos flutuar
e boiar, em vez de nadar com perfeição e com atitude competitiva; se
deixarmos nossas idéias fluírem livremente; se nos permitirmos um pouco
da 3ª loucura de Platão, se nos permitirmos improvisar, talvez surjam
idéias novas (não que as procuremos voluntariamente). E, por vezes,
poderemos até ser originais.
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Envelhecimento
Maria da Paz Manhães*
Resumo
A autora discute aspectos emocionais e sociais relacionados ao
envelhecimento. A título de ilustração, tece breves comentários
sobre obras artísticas que tratam desse tema. Cita algumas grandes
tragédias do teatro, de Sófocles e de Shakespeare; filmes
cinematográficos, como “Morangos Silvestres”, de Ingmar
Bergman; e poemas, como um de Olavo Bilac.
Abstract
The author discusses social and emotional aspects related to ageing.
As illustrations, she makes brief comments about artistic works
that approach that subject. She quotes some great tragedies of
theater, by Sophocles and Shakespeare; cinematographic movies,
like one by Ingmar Bergman; and poems, like one by Olavo Bilac
Introdução
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Um pouco de história
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“Quem o conselho te dá
de doar todas as tuas terras
põe aqui ao lado meu,
e o dele toma; não errais;
Verás logo, lado a lado
O doce bobo e o amarguroso;
Um aqui, sarapintado,
O outro aí mesmo, achacoso”.
(...)
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“Que não seja eterno, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto
dure” (Vinicius de Moraes) – como muitas coisas na vida, há certos pontos
no aspecto da velhice que só podem ser encarados em uma visão mani-
queísta. A decisão do velho de realizar determinadas coisas, apoiada pela
experiência, só pode ser comparada ao atrevimento do jovem, que se joga
na vida alimentado por uma convicção.
Velhos e Velhas
1
MANHÃES, M. (1996) – Prisma Psicanálise na Cultura.
2
Ver essa poesia no item adiante, A hora da poesia.
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Prática psicanalítica
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A hora da Poesia
Velhas Árvores
Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918)
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Envelhecer
Bastos Tigre
Velho Convicto
J. Jorge P. Pina – 10/8/2003
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Considerações Finais
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Agradecimentos
Agradeço a meus alunos e amigos, que sempre me apóiam e estimulam:
Dra. Eronides Borges da Fonseca
Dr. Adolpho Hoirisch
Dr. Antônio M. Barata
Dr. Wilson Amendoeira
Referências Bibliográficas
SHAKESPEARE, William. MacBeth. Rio: Ediouro,
____. Rei Lear. Rio: Ediouro,
____. Timon de Atenas. Rio: Ediouro,
SÓFOCLES. Édipo em Colona.
ALVES, Rubem. As cores do crepúsculo.
____. A estética do envelhecer.
MANHÃES, M. P. (2001). Complexo de Édipo tardio na mulher.
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Você é um envelhescente?*
Mário Prata**
* A palavra “envelhescência” foi usada pela primeira vez nesta crônica, publicada no jornal
“O Estado de São Paulo”, em 1994.
**Mário Prata é escritor.
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MONOGRAFIA
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AMOR TRANSFERENCIAL:
Alcebíades e Sócrates X
Analista e Analisando
Isis de Souza Figueiredo*
Resumo
Esse trabalho é um estudo sobre o amor transferencial, devido a
sua importância para a técnica psicanalítica. Através de um
paralelo no diálogo entre Alcebíades e Sócrates, no “Banquete” de
Platão, com o que se passa entre analista e analisando.
“A figura de Sócrates, com efeito, faz emergir uma nova relação,
não tanto com a verdade, mas com o desejo, pela primeira vez na
história ocidental, o desejo do outro é colocado em posição de objeto.
Há toda uma temática que, quando Sócrates formula nada saber
sobre o que concerne ao desejo, atinge o estatuto do sujeito. O desejo
não é posto por Sócrates em posição de subjetividade original, mas
em posição de objeto. Pois bem-é também do desejo como objeto
que se trata em Freud” (Cottet, 1990).
Baseado num breve resumo do que trata o “Banquete”, o presente
trabalho tem como objetivo enfocar a relação Alcebíades/Sócrates
dentro da ótica psicanalítica e foi apresentado como monografia
de conclusão do curso de formação do Instituto de Ensino da
Psicanálise da SPRJ.
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O banquete de Platão
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Conclusão
Quando se fala do amor, não se sabe do que se fala e quanto mais se
fala dele, menos se sabe a seu respeito, é a primeira lição a se tirar do
Banquete de Platão.
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Referências Bibliográficas
André, Serge. “O que quer uma mulher?”, Editora Jorge Zahar, Rio de Janeiro,
1987.
Bataille, Laurence. “O Umbigo do Sonho Por Uma prática da Psicanálise”,Editora
Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1988.
Cottet, Serge. “Freud e o Desejo do Psicanalista”, Editora Jorge Zahar, Rio de
Janeiro, 1989.
Freud, Sigmund. “Sobre a Dinâmica da Transferência”, 1912.
______. “Recomendaçõs aos Médicos Que Exercem a Psicanálise”, 1912.
______. “Sobre o Início do Tratamento”, 1913.
______. “Observações Sobre o Amor de Transferência”, 1914.
In Obras Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, Rio de Janeiro, 1977.
Platão. “Diálogos”, Editora Cultrix, São Paulo, 1958.
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RESENHAS
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Nietzsche e o Nascimento
da Psicanálise
Autor: Márcio Amaral
* Psicólogo, mestrando em Psicologia Clínica na PUC-Rio,. e poeta, autor dos livros “Sublime
Fel”, “Pequenas Conchinhas” e “Mentirinhas de Amar”.
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1
“Oh! Pequenos escravos / Sacudam suas correntes.” (Chanson des Petits Esclaves).
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Linguagem e Construção
do Pensamento
Organizador: José Renato Avzaradel
Editora: Casa do Psicólogo, São Paulo, 2006
Resenhado por:
Alice Tigre e Adriana Gang Nudelman*
Atualmente, notamos que muitos dos pacientes que chegam aos nossos
consultórios possuem dificuldade para expressar e compreender aquilo
que sentem. Não conseguem construir símbolos ou metáforas, geralmente
nos mostrando um amplo esvaziamento de sentido. Tais pacientes
impõem-se como um desafio à clínica psicanalítica tradicional, tornando
prioritária a elaboração de novas ferramentas para conseguirmos nos
aproximar daqueles que em sofrimento nos procuram.
É neste cenário que o livro “Linguagem e Construção do Pensamento”,
organizado e concebido por José Renato Avzaradel, mostra-se bem vindo.
Nos seus onze artigos, José Renato Avzaradel e seus colaboradores
buscam abrir caminhos para a compreensão da gênese do pensamento,
investigando como ele ocorre. Para tanto, os autores percorrem as conexões
existentes entre sentido, significado e suas transformações; afeto, imagem
e linguagem pictórica; ideograma e formação do significado. Estas
conexões são examinadas sob a luz de diferentes perspectivas psicanalíticas
bem como pela filosofia e pela lingüística, o que ilustra o enfoque multidis-
ciplinar do livro, que possibilita um olhar mais amplo e uma aproximação
mais consistente sobre o tema.
Segundo Danilo Marcondes, a concepção básica da filosofia analítica é
que a filosofia deve se realizar por meio da análise da linguagem.
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Resenhado por:
José Iencarelli Filho
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• Estrutura do artigo
Os artigos inéditos, comunicações breves, artigos de revisão e de atualização,
devem ter um súmario em português e em inglês na primeira página do artigo.
As referências bibliográficas devem se adequar as normas da ABNT para
publicação de artigos científicos.
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